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Velocidade das ondas sonoras

utilizadas pelo SONAR (Propriedades


das ondas sonoras aquáticas)
A acústica subaquática é o estudo da propagação de ondas sonoras no oceano, em oposição às
ondas eletromagnéticas. No ambiente marinho, empregamos o SONAR em vez de radar,
comunicação acústica em vez de rádio e obtenção de imagens acústicas ao invés de imagens por
micro-ondas ou ópticas. Ela engloba a análise da disseminação do som na água, o encobrimento
do sinal devido a fenómenos interferentes e a aplicação de técnicas de processamento para
extrair informações úteis.

Devido à influência significativa do ambiente aquático na propagação do som e,


consequentemente, no desempenho do SONAR, foram desenvolvidos métodos acústicos para
mapear e estudar o oceano. À medida que o SONAR ativo se tornou uma solução para detetar
submarinos silenciosos, surgiu a necessidade de compreender os efeitos do som sobre os
mamíferos marinhos. Em prol disso, métodos acústicos foram desenvolvidos comercialmente
para encontrar e contar peixes, bem como para mapear o fundo oceânico, esta última técnica
tendo aplicações tanto comerciais quanto militares.

1. Velocidade do som na água

Áreas de águas menos profundas, como as encontradas em plataformas continentais e


encostas, não possuem profundidade suficiente para que o termo de profundidade-
pressão tenha um efeito significativo. Portanto, durante o inverno, o perfil tende a ser
uniforme em termos de velocidade do som devido à mistura de água, enquanto no verão,
o perfil apresenta uma velocidade do som mais alta perto da superfície devido ao
aquecimento.

A estrutura da velocidade do som influencia a forma como o som interage com as


fronteiras. O oceano é limitado acima pelo ar, que age como um refletor perfeito. No
entanto, a superfície do mar frequentemente é áspera, fazendo com que o som se
disperse em direções diferentes do ângulo de reflexão "especular". O fundo do oceano
geralmente possui uma estrutura complexa, áspera e camadas que suporta ondas
elásticas. As suas propriedades geoacústicas são resumidas em termos de perfis de
densidade, velocidade de compressão, velocidade de cisalhamento e atenuação. As duas
interfaces básicas, a interface ar/mar e a interface mar/fundo, podem ser consideradas
como as margens de um guia de ondas acústicas, cujo índice de refração interno é
determinado pelos parâmetros oceanográficos fundamentais. Abaixo demonstrado na
FIGURA 1 estão os perfis que refletem as tendências de que a velocidade do som varia
diretamente com a temperatura e a pressão hidrostática. A mistura próxima à superfície
pode levar a uma velocidade do som quase constante nessa região. Em águas polares, a
região mais fria está na superfície.
FIGURA 1 - PERFIS GENÉRICOS DE VELOCIDADE DO SOM.

A velocidade do som na água do oceano é determinada pela temperatura, salinidade e


pressão ambiente. Como a pressão ambiente varia com a profundidade, é comum
descrever a velocidade do som (c) em metros por segundo (m/s) como uma fórmula
empírica que depende da temperatura (T) em graus Celsius, da salinidade (S) em partes
por mil e da profundidade (z) em metros, como exemplo:

c=1449.2+4.6T−0.055T2 +0.00029T3 + 1.34−0.01T S−35 +0.016z.

Numa estação mais quente (ou parte mais quente do dia), a temperatura aumenta perto
da superfície e, portanto, a velocidade do som aumenta em direção à superfície do mar.
Em regiões não polares, onde a mistura próxima à superfície devido à atividade do
vento e das ondas é importante, uma camada mista de temperatura quase constante é
frequentemente formada. Nessa camada isotérmica, a velocidade do som aumenta com a
profundidade devido ao aumento da pressão ambiente. Isso corresponde à região do
canal de som na superfície. Abaixo da camada mista está a termoclina, onde a
temperatura e, portanto, a velocidade do som diminuem com a profundidade. Abaixo da
termoclina, a temperatura é constante e a velocidade do som aumenta devido ao
aumento da pressão ambiente. Portanto, entre a região isotérmica profunda e a camada
mista, há uma profundidade de velocidade do som mínima conhecida como o eixo do
canal de som profundo. No entanto, em regiões polares, a água é mais fria perto da
superfície, de modo que a velocidade do som mínima ocorre na superfície.
FIGURA 2 - PERFIS GENÉRICOS DE VELOCIDADE DO SOM NO INVERNO E VERÃO

2. Propagação sonora em meios aquáticos

A energia por unidade de tempo emitida por uma fonte sonora espalha-se por uma área
maior à medida que a distância aumenta. A intensidade é o fluxo de energia por unidade
de área, o que se traduz em fluxo de energia por unidade de tempo através de uma
unidade de área. O exemplo mais simples de perda geométrica é o espalhamento
esférico para uma fonte pontual no espaço livre, onde a área aumenta como r², sendo r a
distância em relação à fonte. Portanto, o espalhamento esférico resulta numa diminuição
da intensidade proporcional a r⁻². Como a intensidade é proporcional ao quadrado da
amplitude de pressão, as flutuações na pressão induzidas pelo som, p, diminuem como
r⁻¹. Para a propagação independente da distância, isto é, onde os raios são refratados ou
refletidos de volta para a direção horizontal, não há perda associada à dimensão vertical.
Nesse caso, a superfície de espalhamento é a área do cilindro cujo eixo está na direção
vertical, passando pela fonte, 2πrH, onde H é a profundidade do duto (guia de ondas) e é
constante. A perda geométrica na zona de espelhamento de Lloyd no campo próximo
requer a consideração de feixes interferentes a partir de trajetórias diretas e refletidas na
superfície. Em resumo, as leis de espalhamento geométrico para o campo de pressão
(lembrando que a intensidade é proporcional ao quadrado da pressão) são:

- Perda de espalhamento esférico: p ∝ r⁻¹


- Perda de espalhamento cilíndrico: p ∝ r⁻¹/2
- Perda de espelhamento de Lloyd: p ∝ r⁻².

3. Atenuação

A atenuação manifesta-se através de um decaimento exponencial do campo sonoro.


Quando A0 representa a amplitude média quadrática do campo sonoro a uma distância
de uma unidade a partir da fonte, a atenuação causa a redução da amplitude à medida
que a distância ao longo da trajetória, r, aumenta:

 A= A0exp(-ar)

4. Dispersão e Reverberação

A dispersão, provocada por superfícies irregulares ou variações no volume, é um


mecanismo que causa perda (atenuação), interferência reverberante e flutuações.
Na maioria das situações, o que nos interessa em aplicações de sonar ou comunicações é
a parte média ou coerente (ou especular) do campo acústico. A dispersão faz com que
uma parte desse campo acústico se torne imprevisível. A dispersão devido à
irregularidade na superfície, afastando-se da "direção especular", pode ser vista como
uma diminuição na intensidade do campo acústico médio, e geralmente aumenta à
medida que a frequência aumenta. Uma fórmula frequentemente usada para descrever a
refletividade de uma fronteira áspera é:

R(θ) é o coeficiente de reflexão da superfície lisa, e Γ é um parâmetro que descreve a


rugosidade da superfície, onde Γ≡2kσsinθ, com k sendo calculado como 2π dividido
pelo comprimento de onda acústico (λ) e σ representando a altura média da rugosidade.

A reverberação é a dispersão do som, e a força da dispersão na superfície, no fundo ou


no volume é chamada de Ss,b,v. Isso é uma simplificação do processo de produção de
reverberação e é definido como a razão, em decibéis, entre a intensidade do som
espalhado por unidade de área ou volume (Iscat) em relação à intensidade da onda plana
incidente (Iinc).
A força de dispersão no volume é tipicamente transformada em uma força de dispersão
na superfície ao calcular SV como a força de dispersão no volume média dentro de uma
camada específica em uma profundidade dada; a força de dispersão na superfície
correspondente é então determinada a partir da seguinte fórmula:

Ss = Sv + 10logH

onde H é a espessura da camada. A força de dispersão colunar ou integrada é definida


como o caso em que H é a profundidade total da água.

A dispersão no volume normalmente diminui à medida que a profundidade aumenta,


com uma taxa de cerca de 5 dB a cada 300 metros, exceto na camada de dispersão
profunda. Para frequências inferiores a 10 kHz, os principais agentes de dispersão são
os peixes que possuem bexigas natatórias preenchidas com ar. Acima de 20 kHz, os
agentes de dispersão são principalmente zooplâncton ou animais menores que se
alimentam de fitoplâncton e fazem parte da cadeia biológica associada. A camada de
dispersão profunda (DSL) encontra-se em profundidades diferentes durante o dia e a
noite, com mudanças mais acentuadas ao amanhecer e ao entardecer.

5. SONAR

O sonar, uma abreviação de "Sound Navigation and Ranging" (Navegação e Alcance


por Som), é um sistema que emprega ondas sonoras para identificar e localizar objetos
debaixo d'água. A sua funcionalidade é baseada na emissão de impulsos sonoros que
viajam através da água e, ao encontrarem objetos subaquáticos, parte dessas ondas é
refletida de volta para um dispositivo chamado transdutor do sonar. Medindo o tempo
que os sons levam para viajar até os objetos e retornar, o sistema calcula a distância até
eles.

É amplamente utilizado, para desempenhar papéis cruciais, incluindo a deteção de


embarcações e submarinos, mapeamento dos leitos marinhos, localização de cardumes
de peixes e investigações científicas nos oceanos. Existem várias variantes de sonar,
como sonar de varredura lateral, sonar multifeixe e sonar de imagem, cada uma
adaptada para atender a objetivos específicos.

Em resumo, o sonar é uma ferramenta essencial que possibilita a exploração e


navegação em ambientes aquáticos por meio do uso de ondas sonoras.

6. SONAR Passivo e Ativo para Deteção de Submarinos

Esta ferramenta essencial (SONAR) é recorrentemente e maioritariamente usada para a


deteção de submarinos. As imagens abaixo apresentadas ilustram a deteção ativa e
passiva pelo realizada pelo SONAR.
Passivo: O submarino à direita tenta detetar sons (azuis) do outro submarino usando um
conjunto rebocado (antena). Esses sons são distorcidos pelo ambiente de águas rasas e
estão imersos em ruídos da superfície oceânica (verde) e ruídos de embarcações na
superfície (vermelho).

Ativo: O navio à direita emite um pulso (vermelho), e um eco (azul), distorcido pelo
ambiente de águas rasas, é refletido de volta para o sonar do navio, que tenta distingui-
lo da reverberação dispersa (amarela) e do ruído oceânico (verde).

Traduzindo em poucas palavras: O sonar passivo visa detetar submarinos por meio da
captura de sons emitidos por eles, enquanto o sonar ativo envolve o envio de sinais de
pulso para, em seguida, receber e interpretar os ecos retornados, considerando o
ambiente submarino raso, onde a distorção e interferência são comuns.
Referências

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