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Oceanografia Física Descritiva

Aluna: Lígia Carolina Alcântara Pinotti Data: 10/12/2020

Acústica Submarina - Propagação do Som na Água do Mar

Fenômeno ondulatório mecânico que se manifesta somente na presença de matéria como


meio, o som, assim como a luz, depende da densidade do meio onde está sendo propagado. Quando
uma onda de luz ou de som deixa um meio de determinada densidade – tal como o ar – e entre em
outro meio de densidade diferente – como a água – com um ângulo diferente do de 90°, ela será
desviada da sua direção original de propagação, sofrendo refração (ARAUJO, 2017).
Caso esta mudança de meio ocorra em um ângulo reto (90°), será então alterada a
velocidade de propagação, não se alterando a sua direção: tal comportamento ocorre devido ao fato
que as ondas viajam com velocidades diferentes em meios distintos. Em específico no caso do som, a
velocidade de propagação aumenta quando este atravessa de para meios mais densos (ARAUJO,
2017).
O som é uma onda compressiva; sendo assim, a velocidade do som depende da compressão
do meio onde se propaga: quanto mais compressível for o meio, para dada densidade, mais lenta
será a velocidade. No contexto dos oceanos, que apresenta variações de densidades em função de
temperatura, salinidade e pressão, a água do mar é menos compressível quando ela é quente - ou
seja, nas correntes de superfície, e menos compressiva a altas pressões - como nas massas de águas
mais profundas (CIRANO, 2014).
De acordo com Möller Jr e Aseff (2015, p. 129), ao tratar sobre o cálculo da velocidade de
propagação do som na água do mar:
Começando pela salinidade, um aumento desta significa um aumento de densidade
e, também, do coeficiente de compressibilidade. Se esses dois termos forem tratados de
forma separada, a diminuição de velocidade causada pelo aumento de densidade é menor do
que o aumento causado pela diminuição da compressibilidade.
Como conclusão, a velocidade do som é diretamente proporcional à salinidade. Para
a variação de uma unidade de sal, a velocidade do som aumenta em 1,3 m/s. Temperatura e
densidade têm uma relação inversa e com isso a velocidade do som é diretamente
proporcional à temperatura, numa razão de 3 m/s por grau de temperatura. A temperatura
é, portanto, o fator mais importante no controle da velocidade do som. Isso é válido,
sobretudo, na camada superior do oceano, que engloba a termoclina.
Da mesma forma que a salinidade, o efeito da pressão na compressibilidade da água
do mar é mais importante do que sobre a densidade, e a velocidade do som vai aumentar em
1,8 m/s a cada 100 m de profundidade. A pressão começa a ser dominante no perfil de
velocidade do som a partir da base da termoclina, quando o efeito da temperatura é
reduzido.

Desta forma, as ondas sonoras percorrem distâncias muito mais longas na água do que as
ondas luminosas, sendo esta a principal razão de muitos animais marinhos usarem o som - e não a
luz - para se direcionar nos seus deslocamentos nos oceanos. “A velocidade do som em uma água de
salinidade 35‰ (ppt = partes por mil) é aproximadamente 1.500 m/s, quase 5x mais do que sua
velocidade no ar” (ARAUJO, 2017).
A velocidade média do som na água do mar é da ordem de 1.500 m/s, sendo a variação
vertical para uma região de média latitude conforme exemplificada na figura 1 (MÖLLER JR; ASEFF,
2015, p. 130).
Profundidade

Figura 1 - Perfil vertical da velocidade do som em função das camadas observadas na distribuição de temperatura em
profundidade (ARAUJO, 2017).

De forma sucinta, compreende-se então que o som se propaga rapidamente nas águas rasas e
quentes, e na camada de mistura, onde as características da água são muito homogêneas, a
velocidade do som aumenta com a profundidade em função apenas do efeito da pressão. Abaixo da
camada de mistura, a velocidade do som começa a decrescer com a profundidade, em função do
gradiente de temperatura, eventualmente atingindo um mínimo a cerca de 1000 m de profundidade
(base da termoclina principal). Abaixo desta, a velocidade do sol aumenta novamente, ocorrendo a
compensação da baixa temperatura com o aumento da pressão, uma vez que nesta profundidade,
tanto a temperatura quanto a salinidade permanecem praticamente constantes ao longo do
gradiente de pressão (ARAUJO, 2017).
A região da coluna d’água que apresenta as menores velocidades de propagação do som é
denominada de canal SOFAR (Sound Fixing and Ranging). Esta camada compreende a profundidade
na qual a velocidade do som atinge seu mínimo, sendo a camada onde se costuma fazer a
transmissão do som (MÖLLER JR; ASEFF, 2015).
Nesta, a refração ocorrida quando as ondas sonoras atravessam para as camadas adjacentes
(de maior velocidade de propagação) tende a manter a energia sonora dentro desta camada, ou seja,
as ondas sonoras tendem a ser “redirecionadas” para a camada de menor velocidade, permanecendo
nessa zona (figura 2). Ondas emitidas em baixas frequências podem viajar por distâncias
consideráveis (milhares de quilômetros) ao longo do SOFAR, permitindo por ex. detectar-se a
localização de submarinos (CIRANO, 2014).
Alcance

Figura 2- Condições simultâneas para a ocorrência do SOFAR (MÖLLER JR; ASEFF, 2015, p. 131).

Em regiões de baixas e médias latitudes, o canal SOFAR é profundo, devido ao gradiente de


temperatura em função da profundidade; em altas latitudes, como a temperatura é baixa na
superfície, pode ocorrer um mínimo superficial na velocidade do som, chamado duto superficial.
(CIRANO, 2014; ARAUJO, 2017).

Acústica de Raios e Diagrama de Raios


De acordo com Reinas (1993, p. 49), sobre a acústica de raios:
Os raios acústicos são representações do caminho que a frente de onda (sonora)
percorre a partir da fonte, no caso, em ambiente marinho. São linhas perpendiculares a esta
frente de onda que definem a direção do fluxo de energia. De uma maneira simples, a
quantidade de raios com separação constante é um indicativo da intensidade acústica, ou
seja, para ondas planas, quanto mais espaçados, carregam menos energia.

Dadas as suas características de variações de parâmetros, os oceanos são um meio não


homogêneo, o que implica em um comportamento específico para a propagação dos raios sonoros,
pois tais variações se refletirão tanto nos ângulos quanto nas trajetórias: “neste caso, para a mesma
fonte irradiando uniformemente, os raios apenas partem com igual angulação, mas a medida que se
distanciam da fonte, haverá diferentes razões de propagação nas diferentes direções” (REINAS,
1993, p. 49). De forma que haverão centros de curvaturas variáveis ao longo do caminho de
propagação dos raios (figura 3).

Figura 3 - Representação da Frente de Onda por Acústica de Raios, com curvaturas variáveis (REINAS, 1993, p. 50).

O diagrama de raios é uma ferramenta gráfica utilizada para que se possam identificar os
caminhos que percorrem as frentes de ondas, bem como calcular as intensidades parciais de
conjuntos de raios para que se possa obter o campo sonoro total de determinada propagação em
uma determinada região na qual se registre um gradiente de velocidade do som (REINAS, 1993,
p.51).
Essencialmente, o diagrama de raios ilustra velocidade do som em função da profundidade
de propagação, considerando-se igualmente a profundidade da fonte. Desta forma, pode-se observar
graficamente os comportamentos diferentes em função das tantas possibilidades de combinações de
condições oceânicas (figura 4).

Figura 4 - Diagramas de raios de som para duas situações: (a) a partir de uma fonte rasa para um perfil de velocidade
do som que aumenta com a profundidade ao longo da camada de mistura e depois diminui; (b) a partir de uma fonte
sonora próxima do mínimo de velocidade no canal de som para um perfil típico de velocidade de som no oceano aberto
(TALLEY et. al., 2011, p. 52).

Referências
ARAUJO, T. G. Oceanografia Física. Paulo Afonso. 09 mai. 2017. 47 slides. Apresentação em Power-point.

CIRANO, M. Propriedades físicas da água do mar. Salvador. 08 abr. 2014. 79 slides. Apresentação em
Power-point.

MÖLLER JR, O. O.; ASEFF, C. R. C. Propriedades físicas da água do mar. In: CASTELLO, J. P; KRUG, L. C.
(Org.). Introdução às Ciências do Mar. Pelotas: Ed. Textos, 2015. P. 112-139.

REINAS, J. Estudo de modelos de propagação sonora no oceano para cálculo da perda de transmissão a
longa distância em lâmina de águas rasas. 1993. 128 f. Dissertação (Mestrado em Engenharia Mecânica) –
Centro Tecnológico, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis (SC), 1993. Disponível em:
https://repositorio.ufsc.br/xmlui/bitstream/handle/123456789/157812/95665.pdf. Acesso em: 08 dez. 2020.

TALLEY, L.; PICKARD, G.; EMERY, W.; SWIFT, J. Physical Properties of Seawater In: TALLEY, L. (Ed.)
Descriptive Physical Oceanography. 6th ed. Amsterdam: Elsevier, 2011. P. 29-65.

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