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Curso Bíblico

AS PARÁBOLAS DE JESUS
 Existem muitos motivos para se estudar as parábolas.
Elas possuem uma bela linguagem e ocupam um lugar
privilegiado nos Evangelhos de Mateus, Marcos e Lucas.

 As parábolas de Jesus fazem parte das histórias mais


conhecidas em todo o mundo e em todo o tempo
inclusive onde a fé cristã não é assim tão forte. Mesmo
se nem todos conhecem Jesus de alguma forma já
ouviram falar das parábolas de Jesus ou tiveram
contato com seu conteúdo desconhecendo a fonte.
Nas línguas modernas existem ditos ou expressões que
são retiradas das parábolas e entraram na linguagem
comum, tais como: filho pródigo, ovelha perdida, o bom
samaritano.
 Sem nenhuma dúvida, este era o meio privilegiado de
Jesus ensinar. O Papa Bento XVI chamou as parábolas
de “coração da pregação de Jesus”.
 Mas não são tá fáceis de interpretar, os próprios
discípulos encontraram dificuldades. As vezes o
interrogaram e o próprio jesus explicou, infelizmente não
explicou todas.
 Aqui entra o trabalho da Exegese bíblica que é a
explicação dos textos sagrados. Ela deve, sobretudo,
buscar tornar a palavra de Deus, pronunciada aos
homens de muitos séculos atrás, em outra língua e em
outras circunstâncias, mas destinada a todos os povos
sem limite de tempo, possa ser compreendida também
pelos homens e mulheres de hoje.
 Lendo as parábolas percebemos que Jesus era um
mestre da arte de contar histórias.
 Elas são vivazes, interessantes e úteis. Explicam, motivam
e refletem nossa realidade cotidiana. Atraem a
atenção de quem as escuta porque estão ricas de
elementos cotidianos sem ideias abstratas.
 Nas parábolas de Jesus não existem animais que falam,
não existem conceitos filosóficos ou abstratos como se
pode ver em “parábolas do AT” ou nas parábolas
rabínicas.
 As parábolas apresentam-se com clareza e, no entanto,
dão lugar a muitas discussões porque parecem
transparentes, mas contêm em si ensinamentos muito
profundos.
Mas o que são parábolas?
Alegoria ou Parábola?

 Uma alegoria é uma comparação feita a partir de uma história ou


uma frase onde os seus elementos são confrontados
continuamente. Trata-se de duas realidades conhecidas que são
aproximadas para que se compreenda os elementos da
comparação.
 As parábolas possuem alegorias em seu interior, mas são mais ricas.
A alegoria do bom pastor (jo 10,11-18) tem a intenção de mostrar o
vínculo estreito de amor entre Jesus e cada um de nós, como a
analogia da ovelha que se perde com os eventos de nossa vida.
Mas a parábola tem como intenção expressar uma verdade, sem
dar atenção a todos os elementos da história. O coração da
parábola é sempre uma analogia, mas ela não se comporta como
a simples analogia.
 A alegoria ilustra e revela características semelhantes entre aquilo
que é comparado.
 A Parábola tem função de dialogo argumentativo. Assim, a
parábola é uma narração fictícia utilizada em vista de uma
estratégia de diálogo que age em dois momentos:
 1-) com base na lógica interna da narração (requerendo certa
avaliação);
 2-) transfere-se para a pessoa que a escuta revelando sua presença
dentro da história contada.
 Enquanto o efeito alegoria é uma explicação da realidade, o efeito
parábola é um ensinamento no qual quem escuta e se percebe
dentro da história.
Parábolas no Antigo Testamento

 Esta palavra significa provérbio, história de sabedoria, fábula,


discurso profético figurativo, poema, sentença ética.
 No AT é um recurso para se compreender as coisas difíceis que se
poderia dizer ou mesmo desmontar a reação de quem a escuta.
 As parábolas do AT não se colocam em linha com as parábolas de
Jesus porque possuem um objetivo muito direto não sendo
aplicável a todos, mas apenas a casos pontuais.
 Neste caso as parábolas do AT são meios pelos quais se pode dizer
a verdade, sem os quais nem mesmo a pessoa que escuta a
poderia descobrir. Trataremos de um exemplo de parábola no AT.
A parábola de Natã (2Sm 12,1-4)

 Ambiente
 O rei tinha seduzido Betsabea (2Sm 11,1-5) e tinha tentado camuflar
a gravidez como sendo do marido, Urias o hitita (2Sm 11,6-13).
 Não obtendo êxito fez com que Urias fosse assassinado (2Sm 11,24-
25).
 Natã vai a Davi e lhe contou a parábola.
 Esta não diz o nome dos personagens, o anonimato é comum nas
parábolas para revelar assim a identidade de quem está
escutando. Todos os elementos estão velados na história.
 Natã não tem a intenção de atacar diretamente a questão. Será
Davi que exercerá a função de juiz desta parábola.

Comunidade Canção Nova - Curso Bíblico: “As Parábolas de Jesus”. Brasília-Setembro/2016. Padre Antonio Xavier Batista
A parábola de Natã (2Sm 12,1-4)
 1O Senhor mandou a Davi o profeta Natã; este entrou em sua casa
e disse-lhe:
 Dois homens moravam na mesma cidade, um rico e outro pobre.
2O rico possuía ovelhas e bois em grande quantidade; 3o pobre,

porém, só tinha uma ovelha, pequenina, que ele comprara. Ele a


criava e ela crescia junto dele, com os seus filhos, comendo do seu
pão, bebendo do seu copo e dormindo no seu seio; era para ele
como uma filha. 4Certo dia, chegou à casa do homem rico a visita
de um estranho, e ele, não querendo tomar de suas ovelhas nem
de seus bois para aprontá-los e dar de comer ao hóspede que lhe
tinha chegado, foi e apoderou-se da ovelhinha do pobre,
preparando-a para o seu hóspede.
 5Davi, indignado contra tal homem, disse a Natã: Pela vida de
Deus! O homem que fez isso merece a morte. 6Ele restituirá sete
vezes o valor da ovelha, por ter feito isso e não ter tido compaixão.
7Natã disse então a Davi: Tu és esse homem.
A parábola de Natã (2Sm 12,1-4)
 A parábola é destinada a provocar o juízo daquele que a escuta. E
Davi o faz imediatamente.
 O narrador percebe o efeito da parábola: “Davi indignado contra
tal homem” (5). Em hebraico é no corpo que se manifestam os
sentimentos, por isso texto diz literalmente que “seu nariz se inflamou
contra tal homem”, isto é, o efeito não foi meramente racional, mas
tocou os sentimentos de Davi, tocou-o na sua dimensão afetiva
mais profunda. Tocou e o modificou.
 Após este fato, à Davi não resta que confessar seu pecado.
 O elemento de comparação aqui é a ovelha com Betsabea e Davi
com o homem rico.
 Vemos aqui que a parábola pode parecer uma arma, ou
armadilha, e de fato é. É uma arma que não mata, mas que como
a espada de dois gumes separa o bem do mal
Parábolas rabínicas

 Alguns estudiosos apontam que as parábolas de Jesus são


inspiradas nas parábolas dos rabinos judeus e por isso será
importante fazer algumas considerações sobre o assunto.
 Primeiro é difícil conectar as parábolas dos rabinos as parábolas de
Jesus, porque as parábolas rabínicas foram redigidas somente no
final do século III enquanto que a composição dos evangelhos
sinóticos (Mc, Mt e Lc) está entre os anos 65-85 d.C.
 É verdade que algumas parábolas de Jesus se assemelham as
parábolas rabínicas e vice-versa. Façamos uma comparação entre
elas.
Parábolas rabínicas

 1-) Fechadas: iniciam com uma comparação e se concluem com


a mesma comparação.
 2-) Abertas: deixam uma dupla conclusão (exemplo: se o filho se
comporta bem é premiado, se se comporta mal é punido).
 O objetivo destas parábolas é explicar a Torah.
 Quase sempre se iniciam com perguntas como: “que vos parece,
com que se poderia comparar, etc”.
 Apresentam animais e plantas que falam, um ensinamento ético e
outro da Torah.
Parábolas rabínicas

Irmãos Gêmeos
Rabbi Meir dizia, “porque a Escritura ensina: maldito o
homem que pende no madeiro (Dt 21,33)? – esta coisa
pode ser comparada a dois irmãos gêmeos. Um deles era
rei do mundo inteiro, enquanto o outro deixou o palácio
real, foi embora e se uniu a um grupo de bandidos. Depois
de certo tempo prenderam o irmão que havia se tornado
bandido e o crucificaram. Todo homem que passava
próximo a cruz dizia: “este bandido se parece com nosso
rei”. Assim foi dito “maldito o homem que pende numa
cruz”
Parábolas rabínicas

Pedras preciosas
Rabbi Abbahu respondeu: Te contarei uma parábola. A
que podemos comparar esta coisa? Pode ser comparada
a dois homens. Um deles vendia pedras preciosas
enquanto o outro vendida todo tipo de pequenos objetos.
À quem as pessoas irão? Não será ao vendedor de todo
tipo de pequenos objetos?
Parábolas rabínicas

O asno e o homem forte


Rabbi Berechiah disse uma parábola sobre um homem
que cavalgava sobre um asno. O homem robusto se
perguntava: “Quando poderei descer do asno?”. E o asno
se perguntava: “quando ele descerá das minhas costas?”.
Quando chegou a hora do homem forte descer do asno,
eu não saberia dizer qual dos dois era o mais contente.
Parábolas rabínicas
Bigamista
Rabbi Ammi e rabbi Assi estavam sentados diante de rabbi Isaac. Um
deles pediu a rabi Isaac: “Mestre, poderia nos ensinar a halakah
(palavra de Deus)?”. O outro pediu: “Mestre poderia nos ensinar a
haggadah (aplicação da palavra)?”.
Quando rabbi Isaac começava seu discurso sobre a halakah era
interrompido pelo que pedia a haggadah. E quando começava seu
discurso sobre a haggadah era interrompido pelo que pedia a
halakah. E quando começava seu discurso sobre a halakah era
interrompido pelo que pedia a haggadah
Então rabi Isaac disse a eles, vou dizer-vos uma parábola. “A que
coisa compararei isto? Posso comparar a um homem que teve duas
mulheres, uma jovem e outra anciã. A mulher jovem gostava de
arrancar de sua cabeça os cabelos brancos enquanto a mulher
anciã gostava de arrancar os cabelos pretos. No final o homem ficou
careca”.
As parábolas de Jesus nos
Evangelhos: quantidade e tradições
 O número certo das parábolas é muito discutido porque
se discute se as comparações menores feitas por Jesus
poderiam ser consideradas parábolas. Alguns apontam
53, 32, 41, 29, 42, 49 e 22.
 Algumas parábolas encontram-se nos 3 evangelhos,
outras em 2 e algumas são próprias de cada um. Isso
normal uma vez que cada evangelista serviu-se da
parte da tradição que lhe era mais útil.
As características das parábolas
de Jesus
 As parábolas de Jesus são simples: Não apresentam, quase nunca,
mais que dois personagens ou grupos na mesma cena. Isto ajuda a
prestar mais atenção aquilo que é realmente importante;
 As parábolas tratam sobretudo de homens: Quase todas as
parábolas possuem como protagonistas homens. Talvez a única
excessão seja a parábola do grão de mostarda que cresce
sozinho;
 São histórias fictícias retiradas da vida cotidiana da Palestina do
século I: As parábolas são retiradas da vida cotidiana, mas
possuem sempre um elemento pseudo-real, um elemento que
provoca um choque em quem escuta;
As características das parábolas
de Jesus
 Provocam e convidam quem escuta a formular respostas: Envolve
quem escuta convidando a encontra uma solução ou propor uma
saída para a situação nela apresentada. Quase que incoraja a
emitir um julgamento sobre aquilo que se escuta. As vezes
apresenta uma pergunta intrínseca ou convida a encontrar qual é
a verdadeira tensão;
 Existe um elemento de inversão da sorte dos personagens: Não são
todas as parábola a apresentar esse item, mas é comum na
maioria delas;
 Apresentam Deus a partir da compreensão humana: Rei, patrão,
dono da vinha, pastor, a mulher que limpa a casa. Assim o Reino
de Deus é o assunto principal das parábolas
As características das parábolas
de Jesus
 As parábolas de Jesus se distanciam muito das
parábolas rabínicas. Não é de se estranhar que
não exista registro concreto de parábolas em
nenhuma outra cultura e ou momento anterior
a Jesus, por isso pode-se intuir que o próprio
Jesus é o autor desta maneira peculiar de
ensinar. Ele mesmo seria o autor do falar em
parábolas.
Interpretação das Parábolas de Jesus
Santo Agostinho interpreta a parábola do bom samaritano:
O homem que descia de Jerusalém representa Adão e, por
conseguinte toda a humanidade. Jerusalém representa a cidade
celeste da qual Adão foi banido, enquanto que Jericó representa a
sua mortalidade. Os ladrões são o diabo e seus anjos que desprivam
o homem de sua imortalidade. As feridas são os pecados do homem
que precisam ser perdoados. Agostinho diz que o homem foi
deixado meio morto porque a corrupção do pecado não tocou sua
alma. O sacerdote e o levita representam o AT incapazes de salvar.
O Samaritano é Jesus. A cura das feridas é a remissão dos pecados.
O óleo e o vinho são os dons do Espírito Santo. O albergue é a Igreja,
onde os peregrinos encontram abrigo. A promessa do Samaritano de
voltar é a ressurreição do Senhor. O homem do albergue é o
apóstolo Paulo.

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