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Introdução

Guia para entender as Parábolas de Jesus 1


Introdução

Conceitos, propósito, classificações e regras


de interpretação: descubra como compreender
profundamente as Parábolas de Jesus

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Introdução
Se você já leu o Novo Testamento provavelmente já percebeu que
Jesus gostava muito de ensinar utilizando parábolas. Muitas delas são
impactantes, transmitem lições profundas mesmo utilizando situações
do cotidiano da época. Por um lado, são histórias simples, mas que
ainda desafiam muitos estudiosos no mundo.

Mas o que você acha:


Jesus usou parábolas simplesmente como um instrumento
lúdico de ensino? Ou, além disso, foram utilizadas com
uma sequência lógica, constituindo em si uma teologia? E
que teologia podemos identificar se estudarmos de forma
sistemática, cronológica e progressiva?

O verdadeiro desafio é compreender a teologia que está por trás das


parábolas! Para isso, vamos conceituar o uso delas neste e-book, a fim de
dar o primeiro passo para compreendê-las profundamente.

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Conceito de Parábola
Estima-se que um terço do ensino de Jesus foi realizado por meio de parábolas.
Em Marcos 4:11, Cristo diz que através das parábolas é “dado conhecer o mistério
do Reino de Deus.”
Para estudarmos o conceito de parábolas, vamos conferir algumas definições de
estudiosos.

“ Parábola, comparação, alegoria; provérbio, aforismo, figura. Uma narrativa fictícia,


mas que concorde com as leis e costumes da vida, na qual os deveres humanos
ou as coisas de Deus, especialmente a natureza e história do Reino de Deus,
estão figuradas.” (THAYER, 1994, p. 479)

“ São faíscas de um pensamento vivo e concreto, que iluminam por um momento o


conhecimento e dão uma intuição momentânea, que não precisa de explicação.”
(KONINGS, 1977, p. 9)

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“ Parábola é uma narração, mais ou menos extensa, de um acontecimento
imaginário do qual, por comparação, se deduz uma lição moral ou religiosa.
Etimologicamente, o nome parabolê corresponde ao verbo paraballô, que
literalmente significa pôr ao lado, comparar.” (MARTÍNEZ, 1984, p. 451)

Dodd (1974, p. 31) acredita que a parábola tem caráter argumentativo e provoca
o leitor a refletir sobre os acontecimentos. É uma história que muitas vezes,
mesmo sem uma explicação moral, já impacta as pessoas, fazendo com que elas
pensem, julguem e respondam as questões levantadas.

Parábola: fábula, alegoria ou mito?

“ A parábola difere da fábula ao mover-se no mundo espiritual, nunca


transgredindo a ordem existente das coisas naturais. Difere do mito, pois
neste existe uma mescla inconsciente entre o profundo significado e o
símbolo; difere do provérbio porque se estende mais e é figurativa não
somente por acidente, mas por necessidade; difere da alegoria porque
compara uma coisa com outra sem transferir as propriedades de uma a
outra, como faz a alegoria.” (TRENCH, 1987, p. 9)

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O uso das Parábolas
Aristóteles usou parábolas para tentar convencer as pessoas, já Platão as usava para
ensinar princípios de justiça. Porém, as parábolas tiveram um intuito mais abrangente
no mundo hebreu do que no grego, que preza por ideias com mais lógica, ou seja, no
Ocidente o ensino é comum por meio de discursos, e no Oriente ocorre por meio de
símbolos. Jesus usou discursos e sermões, mas também aderiu ao uso de parábolas.

Jesus criou as parábolas? Não, por mais que Jesus tenha se utilizado de parábolas,
tornando-se um grande disseminador destas, elas já existiam no Antigo Testamento.

Na Septuaginta - também conhecida como LXX, a mais antiga versão da Bíblia hebraica
traduzida para o grego - parabolê é sinônimo do substantivo mârshâl ou do verbo
mâshal. Como substantivo, significa ditado. Os rabinos também usavam este método de
ensino, mas suas parábolas só se assemelham às de Jesus no formato.

Os rabinos usavam parábolas para explicar a Lei, os versículos das Escrituras ou uma
doutrina, ou seja, para falar de questões que haviam sido estabelecidas, enquanto Cristo
utilizava as parábolas para ensinar novas verdades.

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Propósito das Parábolas
Há duas reações principais perante as Parábolas de Jesus:

01 Rejeição:
as pessoas se voltam contra o ensinamento (Marcos 3:6; 12:12);

02 Transformação:
as pessoas aprendem o ensinamento, passam a enxergar que
podem mudar de vida e seguir Jesus.

Em Marcos 4:12, Jesus diz: “aos de fora, tudo se ensina por meio de
parábolas, para que vendo, vejam, e não percebam; e, ouvindo, ouçam,
e não entendam; para que não se convertam, e lhes sejam perdoados os
pecados.” Possivelmente, isso se trata das pessoas que demonstraram
incredulidade e endureceram o coração perante os ensinamentos. Dessa
forma, não conseguem extrair a lição das parábolas, mesmo que as
escutem.

Zuck (1994, p. 229) aponta que, ao usar parábolas, Cristo não estava
interessado em provocar o ensino de coisas profundas e místicas, mas sim
em levar as pessoas a decisões de arrependimento, esperança, fé e amor.

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Características das Parábolas
As parábolas contadas por Jesus podem ter as seguintes características:

- Cotidiano: podem conter elementos como natureza (sementes, semeador, etc.),


costumes familiares, entre outras questões que faziam parte do dia a dia das
pessoas da época em que Jesus viveu na Terra.

- Suspense: as Parábolas de Jesus geralmente possuem um ponto que provoca os


ouvintes a pensarem o que acontecerá, quais atitudes os personagens terão, por
exemplo.

- Conflitos: há inúmeros conflitos nas parábolas, como os homens que trabalham


apenas uma hora do dia e outros que trabalham o dia todo (Mateus 20:1-16).

- Tríades: algumas parábolas são compostas por três personagens ou elementos


principais, como a parábola do filho pródigo (pai, filho mais novo e filho mais velho,
em Lucas 15:11-32).

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- Inversão: a parábola apresenta alguma vantagem no início ao ponto de vista que será
desfavorecido. Dessa forma, Jesus fala com o interlocutor e sua maneira de enxergar
as coisas. Ao se sentir compreendido, o ouvinte se deixa conduzir pela história sem
dificuldade. Posteriormente, um novo e melhor ponto de vista surge.

- Ênfase final: o mais importante das Parábolas de Jesus sempre surge no final.

- Discurso direto: nas parábolas, Jesus falava o que os personagens diziam.

- Perguntas retóricas: usadas para confrontar o ouvinte e fazê-lo refletir sobre o assunto
tratado sem esperar uma resposta direta.

- Hipérbole: as histórias que parecem ser situações comuns no início revelam algo
surpreendente e fora do comum no final.

- Exagero: por mais que as histórias retratem o cotidiano, algumas apresentam detalhes
exagerados. Por exemplo, dez mil talentos é uma soma astronômica de dinheiro (Mateus
18:24).

- Detalhes irrelevantes: as parábolas não contêm muitos detalhes, por isso há o


princípio de nunca questionar o que a parábola não responde para se manter livre de
interpretações erradas.

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Classificação das Parábolas
As parábolas contadas por Jesus podem ser agrupadas e classificadas de diversos
modos. Por isso, vamos utilizar classificações de diferentes autores.

John Drane (1982, p. 119 - 124) classifica as parábolas de Cristo em quatro temas:
1. A sociedade e o soberano: parábolas que revelam o caráter de Deus;
2. A sociedade e o indivíduo: parábolas sobre as atitudes dos homens para entrar no
Reino de Deus;
3. A sociedade e a comunidade: parábolas sobre a relação do povo de Deus com o
mundo;
4. A sociedade e o futuro: parábolas sobre o Reino futuro.

Camargo (1970, p. 25) aponta três ciclos:


1. Desenvolvimento do Reino de Deus;
2. Realização de atos de misericórdia do Reino;
3. Cumprimento de atos de julgamento do Reino.

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Colin Brown (1200, p. 1574 - 1575), no Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento,
classifica as parábolas conforme suas distribuições:
1. Parábolas do Sermão da Montanha;
2. Parábolas do ministério na Galileia;
3. Parábolas no caminho a Jerusalém;
4. Parábolas do ministério na Judeia;
5. Parábolas do ministério final em Jerusalém.

Roy Zuck (1994, p. 243) divide as parábolas em relação ao Reino:


1. O progresso do Reino;
2. O conflito entre a concepção de Jesus e a dos fariseus a respeito do Reino;
3. A graça e os pecadores no Reino;
4. As características dos cidadãos do Reino;
5. A rejeição do Rei e de seu Reino;
6. O julgamento dos que rejeitaram o Rei e/ou recompensa para os que o aceitam;
7. A vigilância e a prontidão para a vinda do Rei.

O Prof. Dr. Clainton Kunz, em seu livro “As Parábolas de Jesus e seu Ensino sobre o Reino de Deus”,
propõe uma classificação de ordem cronológica em três grupos:
1. Inauguração do Reino: 14 parábolas que tratam de como o Reino de Deus foi implantado neste mundo;
2. Dimensão do Reino: outro grupo de 14 parábolas que tratam de como o ser humano pode entrar no
Reino de Deus;
3. Consumação do Reino: mais 14 parábolas que tratam das coisas a respeito do Reino de Deus que ainda
estão por vir.

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Regras de Interpretação
É necessário sempre pensar no que Jesus quis dizer, não no que as pessoas querem ouvir. Para
aumentar seu poder de compreensão das parábolas, seguem alguns critérios relevantes para
auxiliar a interpretação:

- RESPEITO E BUSCA À VERDADE: é fundamental estabelecer um profundo comprometimento


com a verdade. É preciso evitar que preconceitos interfiram na interpretação e levem a
resultados falhos;
- CONTEXTO: é necessário estudar o contexto histórico da parábola, considerando questões
sociais, religiosas, políticas e geográficas;
- FUNDO CULTURAL: Parábolas são histórias a respeito de pessoas que viveram em determinado
tempo e lugar, então é necessário analisar a base cultural que essas pessoas possuíam;
- EXEGESE: este é um dos pontos mais importantes! É essencial analisar o texto original e não
somente qualquer versão traduzida;
- TIPO DE LITERATURA: deve-se analisar a estrutura literária e gramatical da parábola;
- VERDADE CENTRAL: foco em procurar a verdade centrada no que Jesus buscou ensinar ao
contar a parábola.

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CAMARGO, Sátilas do Amaral. Ensinos de Jesus através de suas parábolas. 2. ed. São Paulo: Metodista,
1970.
Introdução
BROWN, Colin; COENEN, lothar (edit). Dicionário internacional de teologia do Novo Testamento.
Tradução de Gordon Chown. São Paulo: Vida Nova, 2000.

DODD, C. H. AS PARÁBOLAS DEL Reino. Tradução de Alfonso de La Fuente. Madrid: Cristiandad, 1974.

DRANE, John. Jesus: sua vida e seu evangelho para o homem de hoje. Tradução de Alexandre
Macintyre. 2. ed. São Paulo: Paulinas. 1982.

KONINGS, Johan. Jesus nos Evangelhos Sinópticos. Petrópolis: Vozes, 1977.

KUNZ, Claiton. As Parábolas de Jesus e seu ensino sobre o Reino de Deus. Curitiba: A.D. Santos
Editora, 2014.
Referências

MARTÍNEZ, José M. Hermenéutica Bíblica. Terrasa (Barcelona): CLIE, 1984.

THAYER, Joseph Henry. Greek-English Lexion of the New Testament. Grand Rapids, Michigan:
Zondervan: 1974.

TRENCH, Richard Chevenix. Notas sobre las parábolas de nuestro Señor. Tradução de Alejandro
Aracena y Guilhermo Serrano. Grand Rapids, Michigan: TELL, 1987.

ZUCK, Roy B. A interpretação bíblica: meios de descobrir a verdade da Bíblia. Tradução de César
Bueno Vieira. São Paulo: Vida Nova, 1994.

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