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EQUIPE

EDITOR CHEFE SUPORTE


Arno Alcântara Alessandra Figueiredo Pelegati
Márcia Corrêa de Oliveira
REDAÇÃO E CONCEPÇÃO Rayana Mayolino
Marcela Saint Martin Douglas Pelegati
Marra Signorelli
Raíssa Prioste FINANCEIRO
William Rossatto
REVISÃO Joline Pupim
Cristina Alcântara Douglas Pelegati

DIREÇÃO DE CRIAÇÃO COORDENAÇÃO DE PROJETOS


Matheus Bazzo Arno Alcântara
Italo Marsili
DESIGN E DIAGRAMAÇÃO Matheus Bazzo
Jonatas Olimpio
Vicente Pessôa O CARA QUE NUNCA DORME
Weverson Ramos Douglas Pelegati

ILUSTRAÇÃO DA CAPA
André Martins

TRANSCRITORES
Edilson Gomes da Silva Jr
Rafael Muzzulon

Material exclusivo para assinantes do Guerrilha Way.

Transcrição das lives realizadas no Instagram do Dr. Italo Marsili.


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ENTENDA O
SEU MATERIAL
1. O Caderno de Ativação ajudará você a incorporar
e a colocar em prática o conteúdo de uma das
fabulosas lives. É um material para FAZER.

2. No LIVES você encontrará transcrições, resumos


e uma visão geral das lives selecionadas para a
semana. É um material para se CONSULTAR.

3. Se quiser imprimir, utilize a versão PB, mais


econômica.

4. Imprima e pendure o seu PENDURE ISTO.

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A SEMANA NUMA TACADA SÓ _______________ 5

O PONTO CENTRAL _______________________ 6

SEU AUTOCONHECIMENTO É
AUTOCONTEMPLAÇÃO NARCISISTA __________ 9

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A SEMANA
NUMA TACADA SÓ
LIVE #103
SEU AUTOCONHECIMENTO É AUTOCONTEMPLA-
ÇÃO NARCISISTA
Pare de se rotular em uma pretensa busca por autoco-
nhecimento: aja e seja um foco de luz na sua vida e na
vida dos outros!

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O PONTO CENTRAL
R E S U M O D A S E M A N A

LIVE #103

SEU AUTOCONHECIMENTO É AUTOCON-


TEMPLAÇÃO NARCISISTA
Está em voga colar um rótulo na própria testa e a isso cha-
mar de “autoconhecimento”, do tipo “Meu defeito é ser pre-
guiçoso”, ou então “Já sou madura”. Existe um paradoxo aqui:
a pessoa que fala com muita precisão sobre si prova que não
se conhece e que busca uma autoimagem falseada, seja se
desmerecendo ou se exaltando. Saia dessa autocontemplação
narcisista! A natureza humana é justamente não se cristalizar,
porque quando fazemos isso, perdemos a chance de ser um
foco de luz para nós e para os outros.

A possibilidade de ser essa fonte de luz não vem de um auto-


juízo, mas sim de uma conversa com o observador onisciente,
o único que realmente nos conhece e pode nos julgar. Agindo,
ou seja, cumprindo seu dever de estado, você fica ocupado
demais sendo quem precisa ser para buscar uma autoimagem.
Nossa vida se torna digna quando, a partir deste centro lumi-
noso que conversa com o observador onisciente, conseguimos
declarar “Eu não me conheço, então agirei com amor, com es-
forço, dentro do meu dever.”

Se até aqui você tem agido mal, às vezes até causando dano
a alguém, peça desculpas com toda a contrição do seu cora-
ção – sabendo que a pessoa não precisa te desculpar – e pas-
se a agir desde esse centro luminoso. Lute para não ser mais
essa pessoa daninha, ame e sirva aos demais, dê esmola para

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mendigos, cumpra seu trabalho do jeito mais certo, cumpra
suas responsabilidades religiosas e familiares. Não cole rótu-
los, nem para cima, nem para baixo: aja.

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LIVE #103
SEU AUTOCONHECIMENTO É AU-
TOCONTEMPLAÇÃO NARCISISTA
Hoje falaremos sobre uma ratoeira, uma armadilha: a
gaiola do autoconhecimento. Acho que é um tema bas-
tante oportuno, vou pegar o gancho a partir de uma
resposta que dei nos stories. Não me lembro de quem
perguntou e nem me lembro direito da pergunta, mas
dei uma resposta que era profunda e óbvia. O conteúdo
dela era mais ou menos o seguinte: não importa o que
aconteceu, honre seu pai e sua mãe se eles estiverem
doentes, inválidos, se forem para a bancarrota, se esti-
verem passando por dificuldades financeiras. Honre-os
sempre, etc., aquele papo de sempre sobre o dever dos
filhos com os pais.

Uma pessoa pegou e respondeu de forma muito simpá-


tica e educada, dizendo: “Vejo que o que você fala é so-
bretudo para adolescentes; obrigada por seu trabalho,
mas não estou mais nessa fase” e tal. É sobre isso o que
quero falar, é um ponto sobre autoconhecimento.

Nesta vida, somos empurrados a todo instante a usar de


rótulos e enfiá-los na nossa cabeça: “Sou maduro”, “Sou
imaturo”, “Já cresci”, “Ainda não cresci, “Já conheço”, “Ain-
da não conheço”. A pessoa que deu essa resposta ao
story, no final das contas, estava se sentindo muito supe-
rior a uma grande parte da minha audiência, dizendo “O
que você faz é para adolescentes, não é para mim”.

Temos um grande problema aqui, meu amor, porque a


verdade é que se começarmos a nos olhar com esses

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critérios muito claros de qualidade, do tipo “Eu sou um
preguiçoso”, “Sou muito valente”, ou “Sou muito honesto”,
escaparemos da realidade.

Eu sempre morro de rir quando ouço alguém falar “Eu?


Eu sou incapaz de julgar alguém, sou incapaz de fazer
o mal, sou incapaz de matar.” Meu filho, você é muito
engraçado, porque não se conhece minimamente. Veja
o paradoxo, é a aparente virtude do autoconhecimen-
to: quanto mais você tenta se qualificar e falar sobre si,
mais você não está procurando se conhecer, mas sim
procurando uma autoimagem de você. Você ainda está
num processo contemplativo daquilo que você acha que
é. Quanto mais você se olha e procura uma autoimagem,
menos você se conhece. O ser humano, no máximo, pode
ser aquele sujeito que fala com um observador oniscien-
te.

Muitos identificam a busca por uma autoimagem como


uma busca por autoconhecimento, mas a pessoa que de-
clara “Eu sou um pai de família respeitável”, “Eu sou uma
pessoa muito inteligente”, “Eu sou bastante corajoso”, “Eu
já não sou adolescente”, “Eu sou...”, ainda está num pro-
cesso de autocontemplação narcisista. Ela está olhando
para si com autoexaltação ou autopiedade, como essa
moça da resposta, que estava com uma super exaltação
sobre si própria, do tipo “Longe de mim ser esses adoles-
centezinhos”.

Ou o contrário, ela está se olhando com um puta olhar


acusatório, do tipo “Sou um bosta, um crápula, não faço
bem o que quero, mas o mal que não quero”, “Não con-
sigo ligar para a minha mãe, nem cuidar bem dos meus

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filhos...” Cara, pare com isso pra já. Você não é nem uma
coisa, nem outra, a verdade é essa. Você é ora uma coi-
sa, ora outra, porque a natureza humana, dos viajantes,
deste homo viator, é essa. Homo viator não é “homem
viado”, é o sujeito que está viajando, caminhando por
este mundo.

Nossa natureza é justamente a de não se cristalizar, e


isso é a maravilha do ser humano. Sempre que começa-
mos a olhar muito para nós mesmos com esse olhar de
autoexaltação superiorizante, ou com uma autopiedade
muito grande, perdemos a única força possível ao ser
humano, que é a de ser um foco de luz na nossa própria
vida e na vida dos outros.

Nós somos um foco de luz, é o máximo que podemos ser,


e esse foco vem desde um lugar que não é pensamento,
que não é juízo, que não é autopiedade. Conhecer-se, no
final das contas, não é conhecer-se. Não é dizer “Agora já
me conheço, vou escrever um pouco sobre mim.” Não é
isso, meu filho! Conhecer-se é conversar com o observa-
dor onisciente, ou seja, com aquele que de fato te criou,
que de fato te conhece. Isso é o máximo que podemos
ter de autoconhecimento neste mundo.

Quando começamos a nos rotular, começamos também


a perder o pouco autoconhecimento que temos. E isso
vale para os dois lados, tanto para o que se exalta quan-
to para o que fica “Sou um coitadinho, sou humildezi-
nho.” É humildezinho o caramba! Você é humilde às ve-
zes, e às vezes é o contrário de humildade. É como essa
moça que fez a pergunta: às vezes ela é madura, às vezes
é uma retardada imatura. E tanto faz ser um ou outro, é

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irrelevante! Quando o sujeito vem com esse papo para
cima de mim, a primeira coisa que direi a ele, com todo
o carinho do mundo, é “Meu filho, pare. Você não sabe
nem quem é, porque, em primeiro lugar, você é brasi-
leiro, e aqui nesta terra, estamos sempre tão cheios de
sensações, tão exasperados, que ninguém sabe direito
quem é.”

Na verdade mesmo, quando busca o autoconhecimento,


você está buscando uma autoimagem. O autoconheci-
mento é o inverso disso, é uma declaração assim: “Ainda
não sei o que será de mim. Não sei exatamente onde
estou.” Esta é a nossa única chance neste mundo, e é
porque falamos com o um observador onisciente que
temos um foco de iluminação na nossa personalidade,
que vem desse mesmo observador. Somente isso é pos-
sível ao homem para que ele se autoconheça.

Há meia dúzia de coisinhas que saberemos sobre nós, e


o resto não saberemos nunca. O máximo que você pode
fazer é parar de ser um objeto para a sua autocontem-
plação, seja ela positiva ou negativa. Realmente não me
interessa, não ligo se você está cheio de pena ou super
seguro de si. Qualquer um dos dois é uma palhaçada
sem fim e sem tamanho.

Você nunca sabe o que está sendo neste momento, mas


você pode ser essa pessoa que conversa com o observa-
dor onisciente, que tem um foco de luz na sua consciên-
cia, que tenta iluminar-se, iluminar aqueles domínios da
própria alma e agir. Fazer uma ação no mundo.

Você deixará, então, de ser um objeto, um quadro que

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colocou na parede para ficar se contemplando e falan-
do “Essa parte é muito preguiçoso, mas também é muito
valente”, ou “É, é um sujeito que não vale nada, mas que
por outro lado faz caridade e dá dinheiro para o orfana-
to.” Pare com isso! Não é nem uma coisa, nem outra! O
máximo que você pode ser é um sujeito agente.

Agindo, você deixa de ter problemas pessoais, deixa de


olhar para si, deixa, pela primeira vez, de se apiedar e de
exaltar -- e esses são os dois posicionamentos que lesam
a possibilidade de ação humana. Ela sempre estará lesa-
da, atrofiada, impotente, quando você se diminuir ou se
exaltar.

E, ora, o que são essas malditas técnicas de autoconheci-


mento de hoje? São sempre isso! É, das duas, uma: ou te
jogam para baixo, ou fazem você se autoexasperar para
cima. E a verdade é que você não é uma coisa, nem a ou-
tra. O máximo que você pode ser é aquele sujeito que vai
declarar: “Eu não sei quem sou ainda, e o máximo que
posso dizer sobre mim é que preciso agir.”

E a ação não é um mexer de braços, um chacoalhar inte-


rior. Ação é cumprir seu dever, cumprir o que você deve
fazer. Aqui eu volto para o ponto de sempre: quando nos
fixamos a uma autoimagem, fugimos do nosso dever.
Se você começa a querer buscar uma autoimagem, um
“autoconhecimento” o tempo inteiro, você foge ao cum-
primento do seu dever de estado. Este é meu alerta so-
bre esses assuntos de autoconhecimento. Se você fica
se exaltando ou se diminuindo, pronto, já fugiu ao seu
dever de estado, porque ele não é uma coisa, nem outra,
mas sim cumprir o que tem de ser cumprido, sem ficar

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olhando se você é um bosta ou uma maravilha.

Se você começar a se perguntar se é um bosta ou um ma-


ravilhoso, dará uma merda sem fim, sempre. A formação
da autoimagem está entre uma das coisas mais dani-
nhas, prejudiciais e paralisantes. Por que é que você está
insatisfeito, paralisado, ou se achando o gostosão? Você
cairá do cavalo daqui a dois minutos, caramba. Pare com
isso agora.

A grande questão da vida é não olhar para si durante


muito tempo. Se você fizer isso, não encontrará nada.
Pior, encontrará falsidade ou podridão, são as duas coi-
sas possíveis, porque você ainda está viajando, ainda
não sabe o que acontecerá com a sua vida.

Autoimagem é vaidade, e a vaidade possui uma dupla


face, faz duas coisas contigo: pode te jogar para cima ou
para baixo, porque somos tão idiotas que podemos nos
envaidecer tanto por “sermos muito bons” quanto por
“sermos uns bostinhas”. E a verdade é que tanto faz.

Imagine, por exemplo, que você se tornou mãe. Se come-


çar a olhar muito para si, falando “Entrou um filho na mi-
nha vida, mas não sei ser mãe! Será que serei uma boa
mãe? Será que saberei cuidar bem do meu filho?”, você
ficará mais perdida que nunca. Minha querida, você pa-
riu uma criatura, uma criança. Pare de pensar em si só
por um minutinho e comece a olhar para a porra do mo-
leque que nasceu! Aja, seja um sujeito agente. Entendeu
agora o que eu quis dizer quando falei para você parar
de se contemplar na parede, como se fosse um retrato?

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Me dá nos nervos o sujeito que, no trabalho, começa a
pensar “Mas será que esta é a minha vocação? Será que
eu nasci para isso? Será que eu levo jeito? Será que me
valorizam?”, é tudo eu, minha, me, meu Deus! Assim você
irá se deprimir e se tornará um sujeito paralisado, por-
que quando o nosso olho vira para dentro, é o que acon-
tece, nós paralisamos.

Já quando nosso olho vira para fora a partir deste nú-


cleo luminoso (que é aquele que fala com o observador
onisciente), pela primeira vez, ganhamos força. Não é
uma força transformadora, não é uma força da Natureza,
não nos tornamos o Napoleão Bonaparte. Tornamo-nos
Joana, Pedro, Leonardo, Italo. Tornamo-nos a pessoa que
precisávamos nos tornar, e, curiosamente, as coisas co-
meçam a se integrar na sua personalidade e você fica
até um sujeito mais digno, mais excelente, melhorzinho.
Você até pára de ser um problema para si -- mas isso só
acontece quando perdemos esse fetiche da autoimagem.

Quando você perde esse fetiche, acontece uma coisa:


você passa a olhar para fora desde esse lugar que bri-
lha na sua consciência, no seu coração, e começa a agir.
Pronto, veja que coisa maravilha. Você vira, pela primei-
ra vez, um ser humano, e deixa de ser um cinzeiro, uma
caneca, um objeto um retrato na parede. O ser humano
não foi feito para ser um retrato na parede. Fomos feitos
para agir no mundo com o amor que podemos carregar
no peito, e ele vem dessa conversa, desse diálogo franco
com o observador onisciente. Ele é importante pois so-
mente esse observador sabe quem somos. Somos trapa-
ceiros, mas também valentes, mas também ladrões, mas
também... Veja só que recorte maluco estou fazendo!

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Quando aquela moça, então, fala “Muito bom seu tra-
balho, mas não sou adolescente”, ela está se exaltado.
Ela paralisou, ela está se observando como um retrato
na parede, porque o que ela disse é francamente uma
imbecilidade. Eu não falo para adolescentes -- ela não
está vendo o que falo, ela está se vendo. Ela não está
vendo o que estou falando ou o efeito que acontece na
maior parte das pessoas que me seguem, ela não está
vendo a transformação, o renascer, ela está se olhando,
se olhando e se olhando. Assim ela vai paralisar -- aliás,
ela já está paralisada, num fetiche da autoimagem: “Eu
não sou adolescente.” Beleza, você se julgou, emitiu um
bom juízo sobre si própria, e no imediato momento no
qual fez isso, paralisou, porque só Um julga. Só o obser-
vador onisciente pode te julgar, minha filha, ninguém
mais pode, nem você.

O que você pode fazer é calar a boca, parar de meter


rótulas na sua vida (sejam eles positivos ou negativos) e
encontrar esse centro luminoso da tua consciência, do
teu coração, e passar a agir a partir dali cumprindo seu
dever, recolhendo informações no mundo que podem
integrar-se nesse mesmo centro agente.

Quando, lá atrás, eu falei, em uma live importantíssima,


“Pare com isso de autoconhecimento, vou te dizer já por
que você não presta, são apenas sete coisas: as sete bos-
tas interiores., eu estava falando sério. E posso ir além:
todos vocês têm isso, e eu também. Isso é tudo o que há
sobre autoconhecimento, pronto e acabou, próximo pa-
rágrafo.

Se você paralisa se observando, anunciando “Sou muito

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preguiçoso, então preciso usar remédios contra a pre-
guiça”, ou “Sou muito avarento, preciso achar ferramen-
tas contra isso”, você vai paralisar, meu filho. Não é assim
que funciona. Você já sabe que é avarento, já sabe que é
preguiçoso -- e sabe como é que você sabe? Ora, é por-
que eu você somos, caramba! Que diferença fez saber?

O que podemos fazer com a nossa vida é dar a ela uma


dignidade, e ela não é digna quando ficamos nos au-
tocontemplando, já que não somos objeto suficiente de
contemplação. A vida do ser humano se torna digna
quando saímos de nós a partir deste centro luminoso,
que conversa com o observador onisciente e consegue
declarar para si “Eu não me conheço, e é justamente por
isso que vou agir com amor, com dedicação, com esfor-
ço, e fazer com que as coisas aconteçam dentro do que
é o meu dever.”

Alguém aqui perguntou: “Italo, e se você fez algo real-


mente ruim para alguém no passado e isso esteja te afe-
tando até agora? Estou tentando realmente servir, mas a
culpa é algo sempre presente.” Minha filha, todos já fize-
ram merda com alguém no passado. Isso é inescapável
-- você é um ser humano, eu também, e todos também,
independentemente da escala.

Você peça desculpas para a pessoa, com toda a verdade


do seu coração. Daí então, duas coisas podem acontecer:
a pessoa pode te desculpar e pronto, acabou a história,
ou ela pode não te desculpar, e acabou a história tam-
bém. Como você fez merda com a pessoa, ela pode não
querer te dar o perdão, e fim. Essa é a história da vida. Se
fiz uma grande cagada para alguém, se pedi desculpa

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ou uma duas vezes e a pessoa não me desculpou, bem,
que pena, ela não me desculpou, veja como foi grave o
que fiz. Acabou. Você continua agindo.

Ou você pretende pegar este evento único da sua vida


e contar sua história a partir dessa podridão que você
causou na vida de alguém? É isso que você acha que é a
vida humana? Mas é claro que não. Você defraudou al-
guém, traiu alguém, matou alguém, fez uma merda sem
fim para alguém? Beleza, peça desculpas, mas com o co-
ração. E preste atenção nisso: não seja essa pessoa vai-
dosa, soberba, que acha que, porque pediu desculpas,
a outra tem a obrigação de desculpar. Ninguém tem a
obrigação de perdoar, meu amor.

Se você, então, fez uma cagada, peça desculpas com


toda a contrição do seu coração, sabendo que a pessoa
não precisa te desculpar. Esse é o segredo da vida. Ela
não precisa te desculpar, você carregará o peso da mer-
da que fez e não obteve perdão, e pronto, acabou, é só
isso, nada mais acontecerá. Sem esse papo de “Mas tam-
bém, não me desculpar é problema dela e não meu, sou
superior, pedi desculpas”. Que mané superior? Você é
inferior, fez uma burrada para alguém que era inocente.
Você é um bosta e eu também sou, todas as merdas que
fizemos na vida são isso.

Peça desculpas, e pode até contar com que a outra pes-


soa seja uma pessoa boa que vai te desculpar. É impor-
tantíssimo para as pessoas que elas saibam que nos arre-
pendemos das merdas que fizemos. É muito importante,
então obviamente, por obrigação, pediremos desculpas.
E nem venham com esse papo de “Então de quê adianta

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pedir desculpa, se ela não precisa desculpar??”, porque
adianta muito, se não, às vezes a pessoa fica presa na
maldade que você fez, então o pedido de desculpa livra
os dois (mas nem sempre).

É sempre uma soberba enorme achar que, só porque


você pediu desculpas, a pessoa tem que te desculpar. É
claro que não. Ela pode não te desculpar e pronto, você
continuará agindo desde esse centro luminoso, vai agir e
lutar por não ser mais essa pessoa escrota que fez o mal
que fez no passado. E não é “agir” para “Ohhh, reparar o
mundo daquele grande mal que você fez lá atrás”. Não
conte sua história a partir dessa ocorrência. Isso tam-
bém é autoimagem, é querer ser uma pessoa limpinha.
Deixe-me te contar: você não é uma pessoa limpinha.

Outra coisa: essa coisa ruim que você fez é só a que você
lembra, porque você fez um monte de outras coisas até
piores das quais nem se lembra, ou porque o outro não
foi tão afetado, ou porque ele não demonstrou que foi
tão afetado. Então não faz qualquer diferença, fazemos
coisas ruins o tempo todo, eu você, todo o mundo.

Se a pessoa não te perdoou, bem, você não merece mes-


mo... Deus já te perdoou, a outra pessoa não, beleza. Fez
merda? Vai arcar com esse peso para o resto da vida,
é simplesmente isso que vai acontecer. Não se coloque
nenhum rótulo, “Ah, eu sou o pior dos pecadores.” Nao é.
Você é um vulgarzinho igual a mim. Você por acaso co-
meteu algum genocídio, você lá é Hitler ou Stalin? Claro
que não, é um bostinha vulgar como eu. Somos merdi-
nhas que fazem merdinhas o tempo todo.

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A diferença é que você pode ser um merdinha que cola
esse rótulo de merdinha na cara, ou pode ser um sujeito
que entende que é um merdinha, e entende que é isso
desde sempre, e encontra esse centro luminoso dentro
do seu peito e age com amor a partir dali. Você faz seu
dever, cumpre suas tarefas, ama os outros, serve aos de-
mais, dá esmola para o mendigo, cumpre seu trabalho
do jeito mais certo, cumpre suas responsabilidades re-
ligiosas e familiares. Não cole rótulos, nem para cima,
nem para baixo. Aja
Aja..

Francamente, se você chega a declarar que é o pior dos


pecadores, que é um bosta, que é um indigno, então você
não serve para nada, porque já deveria saber disso des-
te os 7 anos de idade. Eu vejo muita gente se achando
superior porque conseguiu declarar que não é uma pes-
soa boa. Parabéns, hein, campeão! Está só com algumas
décadas de atraso.

Sabendo disso, dane-se, agora vamos air no mundo do


modo mais luminoso, amoroso, serviçal, intenso e cons-
tante possível. Olhe para fora, para agir nos outros, pare
de olhar para si, caramba. Novidade: você é um bosta, eu
também, já deveríamos saber disso desde os 7 anos, en-
tão não faz diferença nenhuma. Se já sabe, pronto, aca-
bou, não tem que se escandalizar. Tente agir um pou-
co pedindo perdão por seus erros, pedindo iluminação
para que seus atos sejam mais ou menos bons, e conti-
nue agindo, agindo e agindo.

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@italomarsili
italomarsili.com.br

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