Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Como os homens tinham uma inteligência e sensibilidade diferentes dos outros animais, sentiram a necessidade
de trocarem com outros homens as suas experiências e as suas emoções. Começaram a criar através de gestos
e vozes uma linguagem que facilitasse essas trocas de experiências e que pudesse beneficiá-los.
O homem é o único animal que cria, que transforma, que evolui. Como ele evolui, a sua maneira de se
comunicar com os outros homens também evolui.
As palavras vão também evoluindo. Criam-se expressões novas, usam-se velhas expressões mas com novas
significações, modifica-se a grafia das palavras.
A linguagem é viva e vai se modificando de acordo com as modificações sofridas pelo homem, porque a
linguagem é o próprio homem.
A linguagem é inseparável do homem e segue-o desde o seu nascimento até sua morte.
É através da linguagem que se conhece o pensamento de um homem, que se conhece a realidade de uma
sociedade, de um país.
Como a linguagem funciona por analogias (semelhança entre coisas diferente) ela cria, interpreta e decifra
significações.
É na linguagem que a significação se perfaz. Se o homem é a língua que fala é todo ele que
se coloca na linguagem. As frases valem pela intenção do falante, pelo que ele quis destacar
e realçar, pelo contexto da situação. (WALDECK, S. P. e SOUZA, Luís de)
A linguagem é conotativa, onde a pluralidade de sentido das coisas faz parte de sua própria existência
Marilene Chauí diz em seu livro que a linguagem nasce das emoções, particularmente do grito (medo, surpresa,
compaixão) e do riso (prazer, bem estar, felicidade). E mais adiante: Não é a fome ou a sede, mas o amor ou o
ódio, a piedade, a cólera, que aos primeiros homens lhe arrancaram as primeiras vozes..
E é nesse momento de explosão que o homem utiliza os diminutivos para poder expressar melhor as suas
emoções e as suas intenções de modo espontâneo, impulsivo e não apenas utilizá-lo como diminuição de
tamanho.
Os diminutivos nem sempre indicam diminuição de tamanho. Dependendo de como os diminutivos são
colocados no contexto, eles podem assumir as mais diversas significações e não apenas diminuição de
tamanho.
O principal morfema da Língua Portuguesa para denotar o diminutivo é “inho”(a). Os outros sufixos são:,
acho,culo, ebre, eco, ejo, ela, ete, eto, iço, im, isco, Ito, ote, ucho, ulo, únculo, usco.
Na linguagem coloquial, as formas sintéticas dos diminutivos, tanto nos substantivos, quanto nos advérbios e
adjetivos, são, na maioria das vezes utilizadas não só como diminutivos, mas também para indicar as várias
manifestações da emoção e das intenções do falante..
1)- Casinha: Dois amigos se encontram e um deles convida o amigo para conhecer a sua “casinha”
(diminutivo afetivo, de aconchego).
Na realidade, o amigo se admirou porque não era uma casinha, (no sentido de pequena), mas uma casa
grande, um casarão.
2)- Friozinho:Quando alguém diz “aquela situação me deu um ‘friozinho na barriga’”, realmente não será o
aumentativo de medo?
Nos casos em que os diminutivos se referem a comida, o tom carinhoso, afetivo, surge com muito mais
intensidade.
Gostou do cafezinho?
Algumas palavras causam desconforto, por isso usamos o eufemismo. O diminutivo se presta muito a isso:
serve para abrandar, para atenuar uma situação que, (segundo Veríssimo), “na sua forma original são
ameaçadoras demais”
Ex.: 1- Remedinho: Maria Paula já saiu toda arranhada por causa dos penduricalhos usados num top. “Era de
cristal e tinha várias pontas. Foi só fazer um movimento mais brusco que, pronto, me arranhei toda. No
intervalo tive que passar um remedinho para sarar” (Revista da TV, 9/6/02.
Remedinho, neste caso, significa tratamento de rotina, coisa simples, sem conseqüência. Já se ela usasse “um
remédio”, o machucado teria sido de maior conseqüência.
2) Operaçãozinha
Operação é uma palavra que assusta. Uma operação certamente durará horas e os resultados serão incertos.
Agora, quando se diz: “João irá fazer uma “operaçãozinha”, operaçãozinha, neste caso é uma mera
formalidade, é uma coisa banal, inconseqüente.
3) Torresminho: Podem-se passar horas comendo torresminho sem causar nenhum efeito daninho para o
nosso colesterol.
Deve-se tomar cuidado com o uso d as palavras no diminutivo, pois em determinadas situações pode haver
constrangimentos, ofender as pessoas, magoá-las.
Ex.: 1) Doutorzinho
2) Povinho
3) Vinhozinho
Lulinha Paz e Amor,, Toninho Betinho, Bruninho, Rafaelzinho, Rodriguinho, Terezinha, Joãozinho,
Ronaldinho, Rubinho, Rosinha.
Isso não quer dizer que são pequenos, mas sim que eles são muito amados.
2) Escolinha de Futebol: Não quer dizer que é uma escola pequena em tamanho, mas sim uma escola para
crianças
3) Casinha:
Ex.: 1) Terrinha:
Terrinha = Portugal
2) Baixinho:
3) Pombinhos:
4) Mosquinha morta:
Amaro era como diziam os criados uma “mosquinha morta” (O Crime do Padre Amaro. Eça de Queiroz p.23)
Atualmente: Sinal tipográfico em forma de estrela que indica uma remissão ou chamada para citação
Atualmente: beijo.
4) Casal: Vem do latim vulgar que significa cabana, choça, choupana (casa pequena e rústica).
Atualmente: par composto de macho-e-fêmea.
Existem palavras que embora utilizem o sufixo diminutivo, não tem significação de diminutivo. Elas são
meramente formais, não encerram a idéia de diminutivos, desde que colocados dentro de um contexto.
Ex.:
1) Santinho: Propaganda eleitoral impressa em formato pequeno, com foto do candidato e informações sobre
ele.
4) Pegadinha: Ciladas
As pegadinhas do Faustão.
“Não tinha dinheiro, então, fez-se uma vaquinha entre os amigos para comprar a carne para o churrasco”.
E os diminutivos sensuais? Aquelas palavras afetuosas que se usam para designar o que é agradável, e
segundo Veríssimo, “aquelas coisas tão afáveis que se deixam diminuir sem perder o sentido”, a sensualidade,
o excitante, a imaginação ao erótico.
Ex.:
3) Cuequinha: “Num autdoor..., o modelo italiano Travis Timmel, vestido apenas com uma cuequinha Calvin
Klein, vem engarrafando o trânsito de Londres. JB, 16/05/02
Quando o diminutivo sugere alguma recomendação, Isto é, dar a alguém alguma incumbência, alguma ordem,
isto não indica mais lentidão ou ligeireza da realização do fato, mas sim acentuar a recomendação, reforçar o
sentido.
Ex.:
Embora os verbos não admitam flexão de grau, quando aparecem no diminutivo, eles são usados como um
desvio gramatical, intencional, estilístico.
Os diminutivos dos verbos, dando idéia de freqüência, exprimem uma ação, uma marcha de tempo que desliza
suave e incessantemente.
Ex.: A vida vai morrendo, morrendinho (Lapa,M. Rodrigues. Est. Da Língua Portuguesa)
Ex.:
1) Pouquinho
“... os mais cínicos diriam hoje que se J.K fosse um pouquinho mais medroso, o país estaria melhor” (Joaquim
Ferreira dos Santos, JB, 23/10/02)
2) Quietinha
“Quando os homens se separam dos meninos no entanto, o medo é uma bola que dorme quietinha no fundo
das redes” (Joaquim //Ferreira dos santos, JB).
3) Igualzinho
4) Apressadinho
“Não vamos aceitar nenhuma provocação de apressadinhos que querem botar o carro na frente dos bois”
(Lula, O Globo, 11/03/03)
Apressadinhos: Neste caso, determina a circunstância de um fato, que não medem as conseqüências.
Apressadinhos: os que tem muita pressa. Apressadíssimos.
5) Lindinha
6) Cedinho
Ex.:
Casinha é o diminutivo de casa. Mas como no interior as instalações sanitárias estão no quintal em pequena
casa fechada, adquire novo sentido: banheiro.
Os diminutivos deverão ser sempre analisados dentro de um contexto pois só assim se terá a noção exata de
seu significado.
Ex.:
1) Jeitinho
2)Coisinha
“Não tive tempo de almoçar. Fui à lanchonete e comi qualquer coisinha”. Coisinha = comida.
São nos sufixos diminutivos que a descarga das emoções e das intenções se dá com maior energia (Lapa, M.
Rodrigues)
O sufixo diminutivo é um meio estilístico que torna a linguagem mais flexível e mais expressiva, refletindo os
nossos sentimentos e intenções pelas coisas e pelas pessoas.
Dia de luz
festa de sol
e o barquinho a deslizar
Um cantinho e um violão
Bibliografia
LAPA, M.R. Estilística da Língua Portuguesa. São Paulo: Martins Fontes, 1982.
MOURA, H.M. de. Significação e contexto. Uma introdução a Questões de Semântica e Pragmática. Santa
Catarina: Insular, 2000.
NASCENTES, A. Dicionário Etimológico Resumido. Rio de Janeiro: Instituto Nacional do Livro, 1966.