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normalmente administrado usando‑se um antigo frasco Salvensen e reutilizado em tubo de borracha.

Com frequência, uma reação febril


severa resultava do uso desse tubo.
A primeira documentação de reanimação em pacientes na Segunda Guerra Mundial foi um ano após Pearl Harbor, em dezembro de 1942,
em anotações do 77° Hospital de Evacuação da África do Norte. E. D. Churchill disse que “Os feridos em combate em sua maioria
sucumbiram ou recuperaram‑se de um choque antes de os vermos. Contudo, casos posteriores vieram a nós em choque, e descobriu‑se que
alguns dos casos antigos necessitavam de transfusão sanguínea completa. Havia o bastante de plasma sanguíneo reconstituído disponível.
Porém, alguns casos estavam em sérias necessidades de sangue completo. Não tínhamos conjuntos de transfusão, apesar de serem
disponíveis nos Estados Unidos: nenhum citrato de sódio; nenhuma água destilada estéril; e nenhum doador de sangue”.
A decisão inicial de confiar em plasma em vez de sangue aparentemente foi baseada, em parte, na visão tida pelo Escritório do Cirurgião
Geral do Exército e, em parte, na opinião dos pesquisadores civis do Conselho Nacional de Pesquisa. Esses pesquisadores civis acreditavam
que, no choque, o sangue era grosso, e o nível de hematócrito era alto. Em 8 de abril de 1943, o Cirurgião Geral afirmou que nenhum sangue
seria enviado para a zona de combate. Sete meses depois, novamente recusou‑se em enviar sangue para fora pelos seguintes motivos: (1) suas
observações das salas operatórias estrangeiras o convenceram de que o plasma era adequado para a reanimação de homens feridos; (2) do
ponto de vista logístico, não era prático fazer com que o sangue coletado no local fosse mais disponibilizado do que o que vinha de hospitais
gerais na zona de combate; e (3) o espaço de transporte era muito escasso. Substâncias vasoconstritoras como epinefrina eram condenadas,
pois se acreditava que diminuíam o fluxo sanguíneo e a perfusão do tecido, já que acumulavam o sangue na porção arterial do sistema
circulatório.
Durante a Segunda Guerra Mundial, sem necessidade, esforços para fazer com que transfusões sanguíneas fossem disponibilizadas
aumentaram e levaram à instituição de bancos de sangue para transfusões. O melhor conhecimento sobre a hipovolemia e a circulação
inadequada levou ao uso de plasma como uma solução de reanimação preferencial, juntamente com a reposição de sangue completo.
Portanto, o tratamento do choque traumático melhorou muito. Acreditava‑se que a administração de sangue completo era bastante eficiente,
portanto era amplamente utilizada. Misturado com o citrato de sódio em uma razão de 6:1 para ligar o cálcio ao sangue, o que prevenia a
coagulação, funcionava bem.
Porém, independente de quais soluções fossem utilizadas – sangue, coloides ou cristaloides – o volume sanguíneo
aparentemente aumentava em apenas uma fração do que era perdido. Na época da Guerra da Coreia, reconheceu‑se que mais sangue tinha
de ser infundido para reobter‑se de maneira adequada o volume sanguíneo que era perdido. A razão para a necessidade de mais sangue era
incerta, mas acreditava‑se ser devido à hemólise, à coleta sanguínea de certos leitos capilares e à perda de fluido para os tecidos. Teve‑se
atenção considerável em elevar os pés dos pacientes em choque.

Fisiologia do choque
Sangramento
Pesquisas e experiências nos ensinaram muito sobre as respostas fisiológicas ao sangramento. O curso Advanced Trauma Life Support
(ATLS®) define quatro classes de choque (Tabela 4‑1). Em geral, essa categorização nos ajuda a localizar as respostas fisiológicas ao choque
hemorrágico, enfatizando a identificação da perda de sangue e guiando o tratamento. Acredita‑se que o choque possua três níveis (Fig. 4‑
5). Pode ser cardiogênico, com anormalidades extrínsecas (como pneumotórax hipertensivo, hemotórax ou tamponamento) ou
anormalidades intrínsecas (como falha da bomba causada por infarto, falha cardíaca, contusão, laceração cardíaca). A lesão de grandes vasos
pode causar choque se ocorrer hemorragia. Em nível dos pequenos vasos, o choque se deve à disfunção neurogênica ou à sepse.

Tabela 4­1

Classes de Choque Hemorrágico do ATLS

PARÂMETRO CLASSE I CLASSE II CLASSE III CLASSE IV


Perda de sangue (%) 0‑15 15‑30 30‑40 >40
Sistema nervoso central Um pouco ansioso Ligeiramente ansioso Ansioso ou confuso Confuso ou letárgico
Pulso (batimentos/min) <100 >100 >120 >140
Pressão arterial Normal Normal Reduzida Reduzida
Pressão de pulso Normal Reduzida Reduzida Reduzida
Frequência respiratória 14‑20/min 20‑30/min 30‑40/min >35/min
Urina (mL/h) >30 20‑30 5‑15 Insignificante
Líquido Cristaloide Cristaloide Cristaloide + sangue Cristaloide + sangue

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