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�JuncrJ-te e a- J:,ua

Direitos Reservados
ABADIA DE SANTA :MARIA
Rua São Carlos do Pinhal, 414
SÃo PAULO - Z.C. 3 - CAPrrAL
Apresentação
ALCEU AMOROSO LIMA,

Glória Régi já é hoje um pseudônimo transparente. . . Mal es­


conde, através de sua invocação ao único Rei que podemos amar e
obedecer de todo coração e sem restrições, a portadora de um
grande no1ne de nossa gente e de nossas letras, que a discreção
monástica, porém, nos obriga a conservar em segrêdo. O segrêdo de
Polichinelo . .
As crianças, porém, conhecem Glória Régi como Glória Rég1
inesm.o. . a autora de muitos livros que lhes têm encantado os
lazeres.
E aqui está mais um. Mais um em que a graça da narrativa não
vai apenas encher alguns minutos vadios dos seus leitores infantis.
Vai também, sem que êles dêem pela coisa, deixando no fundo
de cada tenro coração de leitor, - e só as crianças sabem ler de
todo coração, com tôda a alma, entregando-se apaixonadamente à
leitura - um germe de vida e um raio de luz. Nem, os pequenos
leitores podem avaliar o que ingerem no momento da leitura. Nós
é que sabemos o mal que um livro pode fazer. O mal do livro bem
escrito, interessante, mas de idéias perniciosas. O mal do livro de
boas idéias, sentimentos puros, mas cacête, mal escrito, não interes­
srzndo o pequeno leitor, ávido de aventuras interessantes e de pa­
lavras que o divirtam.
Juntar as duas coisas - o interêsse da leitura, com a pureza
do conteúdo - eis o ideal da literatura infantil.
Benvindos sejam, pois, os autores, e principalmente as autoras,
que sabem falar às crianças e, divertindo-as plantarem em seus co­
rações em disponibilidade os germes da vida bem, vivida. E a vida
bem vivida é a que vivemos em Nosso Senhor Jesus Cristo, como se
lê nas linhas e nas entrelinhas de mais esta • de Glória Régi.
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Coelhilo e o Sol
A noite havia passado, levando consigo o seu manto negro
bordado a ouro.
AURORA. O céu reveste-se de côr cinzenta - cinzento azulado
- e enfeita-se de tiras rosas, roxas, vermelhas.
Aparece o Sol. O Sol, o amigo de todos, que brilha igualmente
para os bons e para os maus.
Quem o manda assim brilhar? - Deusl
• • •
Relógio em punho, Coelhito Troque-Toque saiu da toca mais
cedo que de costume. Quer marcar no despertador a hora certa
ao levantar do Sol.
Primavera! Nosso coelhito respirava o ar fresquinho da madru­
gada. E, enquanto, você dormia na sua cama macia, o animalzinho
cheirava as flôres, corria na relva e lambia as fôlhas cheias de
orvalho.
- Bom dia, meu amigo Sol. Como és rico e formoso! Quem
te deu êsses raios brilhantes?
No silêncio da alta madrugada, responde o astro-rei:
- Bom dia, Coelhito, também és bonito e engraçadinho. Olha
aqui para mim, meu bichinho, e corre à beira do rio para veres a
tua beleza nas águas.
Troque-Troque levanta a cabecinha (a cabecita), fixa um mo­
mento o olhar no Sol e dispara bosque adentro.
Não mais se lembrava do relógio em punho e que desejava
marcar a hora exata do despertar do astro luminoso, nesta manhã
de Primavera. Curioso, queria conhecer a sua graciosa figura ...
• • •
Chegando à beira do rio, Coelhito umedece a língua e admira-se
nas águas cristalinas.
- Como sou bonito! Viste, ó Sol, meus olhos vermelhos,
minhas orelhas compridas, minhas graciosas patinhas? Quem me
fêz assim tão engraçadinho? Quem me deu, ó Sol, êste rico capote
de pelúcia branca? Fala-me, ó amigo, e dize-me Quem deu tanta
coisa boa para os bichinhos?
O sol joga raios doirados. Ilumina a Terra, as árvores, as
montanhas e convida o coelhinho a brincar e pular. Alegria! Alegria!
Fazendo piruêtas, virando cambalhotas, Coelhito Troque-Toque
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bate desastradamente com a cabeça nas costas de dama Tartaruga
que, por nli, passava de mansinho.
O blchote se levnntn e esfregando a cabeça dolorida, diz para
si mesmo:
- Up�! qunse quebrei minhas ricas orelhas! Puxa. Upa! Quase
as esmaguei. Mas Quem lhe deu uma casca tão dura para lhe
servir de nrmndura e lhe esconder a horrível feiúra?
Dirigindo-se à tartaruga:
-- Desculpe-me, donazinha, não sabia que estavas acordada e
andando assim tão cedo pelo mato. Para onde vais? Onde arran­
jaste esta boa capa que te preserva do sol e também te serve de
guarda-chuva?
- Madruguei para ver se chego a tempo à feira - responde
;1 viandante. Ando muito devagar e quando lá consigo arribar, os
senhores bichos já provaram as melhores ervas, bicaram as frutas
maduras e carregaram os legumes para as suas tocas. Chego
sempre tarde, mas, desta vez, Coelhito, pus-me a andar quando
ainda era noite, quando a lua prateava as pedras. Vou andando de
mansinho, de mansinho.
* * *
Coelhito Troque-Toque mira-se de novo nas águas do regato a
ver se é mesmo bonito. ai, que belezinha! Satisfeito com a sua
figura de orelhas compridas e esticadas, pula, dança e retoma a
conversa:
- Escuta, dona Tartaruguinha, a feira da Bicholândia não presta.
Êste povinho do mato é sabido, esconde nos buracos o que tem de
melhor e só vende drogas. Quer ir comigo ao mercado da cidade
grande? Compadre Pato e três companheiros foram lá e não mais
voltaram. Isto prova que a feira é ótima. Dizem que os bichos são
bem tratados e são até levados de carro! Que tal? Vamos! Está na
hora - conclui o coelho dando corda no relóglo e virando os pon­
teiros para diante, para trás.
- Sou vagarosa, você não me espera. . . replica a bichinha
desconfiada. ,
- Espero. É questão de paciência. Se tu quiseres levar minha
bagagem nas tuas costas largas, ficarei mais leve para correr e
brincar. Espero, sim. Esperarei tôda a vida. Vamos, minha velha, toma
a colher de pau, o facão e a panela. Aposto que chegarás antes de
mim. Vamos marcar a hora? Quem vencerá?
Você, menino, dormia ainda na sua cama macia, quando o
coelho e a tartaruga puseram-se a caminho da cidade.
• • •
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Num instante Mestre Coelho passou longe à dona Tartaruga.
Corria, corria na estrada. A bichinha, porém, ia andando, andando
devagarinho.
Troque-Toque dando uma viravolta,
Encontrou primo Coelho na horta.
Primo Coelho, parente de Troque-Toque, era chefe de um bando
de animais roedores, terríveis ladrõezinhos, que passam a vida
assaltando frutas e legumes. Inimigos dos jardineiros e chacareiros,
os coelhos tudo destruíam - o que aquêles plantavam, êstes
roubavam.
Desta vez, primo Coelho chefia um batalhão de oito bichotes:
olhos vermelhos, pêlo branco, orelhas compridas, todos iguais a
Troque-Toque - seus primos irmãos, sem dúvida - os nove reu­
nidos, pintam o sete. Tomam banho no rio, arruinam as plantações.
Jogam bola com os tomates; rolam-se por cima dos canteiros de
morangos, arremedando o chôro, os guinchos e cantos dos peque­
ninos da Bicholândia. Hurra! Viva os Nenês de nossa raça, viva! E
os travêssos coelhos viravam e rolavam por cima dos canteiros de
morangos.
Já viu, menino, coelhos da roca,
Fazerem tamanha troça?
O tempo passava. E a tartaruga não chegava.
Coelhito sentou-se à beira do caminho. Orelhas caídas, lamen­
tava a perda da panela de barro, e da colher de pau.
- Não posso viver sem minha colherinha! . exclamava fu-
rioso, pêlo arrepiado e sacudindo no ar duas patas. - Quis trepar na
árvore, porém, em vão se esforçava. - Hei de ser coelho tôda a
vida? Bate com a patinha no chão e diz:
- Quero ser gato. Quero. Quero. Quero!.
Se eu fôsse gato ou macaco, treparia naquele coqueiro para
avistar na estrada a dona Vagarozinha, sinhá dona Devagar, senho­
rita Passo a Passo. Mas, não sou gato, nem macaco. Desejo,
então ser ave para voar bem alto.
Sendo eu passarinho havia de voar e traria a minha panela, meu
facão e minha colher de pau. Mas . Mas., sou coelho e não vou
deixar de ser coelho branco de orelhas compridas e patinhas a fazer
inveja aos ratos e camundongos.
Meu pai era coelho. Eu também quero ser coelho. O nosso
Coelhlto coloca duas patinhas na cintura e inclina a cabeça para o
lado, revira os olhos e exclama:
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- Ah! meu povo do mato, vocês já viram como sou branco e
9racloso?
Tenho o pêlo todo branquinho.
Sim, senhores, sou coelhinho!
* • *
Troque-Toque Estava impaciente. Sentia fome. Sentia sêde.
Choramingava:
- Ai! de mim. Como fazer mingau?
Sem a minha colher de pau? Manhoso continuava:
- Ai! de mim. Como fazer comida? Se ela demora tôda a vida!
Ouem disse que a tartaruga chegava? Na estrada não se via
rnstro da bichinha. Coelhito dava corda no relógio. Adiantava os
ponteiros. Os minutos lhe pareciam horas. Uma, duas, três,.
cinco!
- Sol, ó Sol, que horas são? Já vem a tarde e a noite com a
Lua? Ou nas nuvens te escondeste, amigo, para me fazer um pouco
de sombra?
O astro sorria porque Coelhito enganava-se. O seu relógio
sempre andava inteiramente descontrolado. Eram, apenas, seis
horas da manhã.
Interpelando de novo o Sol, o coelho ergue a cabeça e levanta
uma das patinhas:
- Sol, ó Sol, que aparece de dia e se esconde à noite, dize-me:
Quem toma conta dos bichinhos da floresta e os alimenta todos os
dias? És muito quente? Tens fogo para secar a água e não deixar
a lama manchar meu manto de pelúcia branca?
As perguntas se sucedem..
- Do Alto cai chuva, orvalho, neve e tu não te molhas? Não
perdes o brilho, o esplendor? Brincas com a Lua e as estrêlas? ó
Sol, és dono dos bosques?
Os bosques com suas cascatas, rios cheios de peixinhos, feras,
pássaros, insetos, mil e um bichinhos?
És rico, grande, poderoso. És o rei da criação?
Fala, ó Solr Responde ao teu coelhinho branco. Quem te criou
e te conserva com tanta luz e tanta beleza?
D EU 81

Levantando e baixando as orelhas, subindo e descendo as


sobrancelhas, abrindo e fechando os olhos, os primos coelhos per­
guntam uns aos outros:
_ Onde está? Onde ficou? Que fim levou dona Tartaruga com
a panela, o facão e a colher de pau de Troque-Toque?
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Enquan to os nove travêssos roíam nabos e cenouras, uma car­
roça parou em frente da horta.
Seu Antunes, quitandeiro, coloca um cêsto no chão e dirige-se
às plantações.
Pobre homem, quanta coisa encontra estragada!
Os animais daninhos pouco se Importam com o prejuízo cau­
sado ao verdureiro. Não têm Juízo para isso. Admiram e examinam
a carroça. De repente, descobrem a tartaruga cômodamente repim­
pada no alto do carro. Os coelhos fazem uma barulhada . Parece
que pegaram ladrão.
- Pega, pega, olhe a donazinhal Que espertalhona! Bicho-papão,
onde está a panela, o facão e a colher do chefe de nosso batalhão?
Passa tudo para cá! E já, dona Tartaruga!
A pobre da bichinha estica o pescoço, põe a cabeça para fora.
Encolhe de novo a cabeça, escondendo-a sob a casca, mas, não
entende a linguagem do bando revoltado.
- Ah! Ah! Estás na janela? Vejam só! Vais ao Mercado? Como
arranjaste o carro? Fica sabendo que nós também vamos, senhorita
Passo a Passo.
Assim que o seu Antunes joga as primeiras verduras no cêsto,
Coelhito grita, relógio em punho:
- Está na hora! Vamos! Um, dois e. três!
Assustados, quatro coelhos fogem espavoridos. Zigue-Zugue.
Um grande atropêlo, Zigue-Zugue, alvoroçados, aos empurrões,
querendo entrar todos ao mesmo tempo, os cinco peraltas enfiam-se
entre os repolhos, couves e espinafres. Assim irão para o mercado.
Dentro do cêsto, a briga aumenta. Multiplicam-se os chutes,
os tapas, arranhões e puxões de orelhas, arrancando-se punhados
de pêlos. Teriam se matado, se a mão vigorosa do Seu Antunes
não erguesse o cêsto, levando-os para o carro.
A sensação de serem arrebatados de repente pelos ares amansa
os terríveis primos roedores.
Acalmam-se os lindos coelhinhos,
E no fundo da carroça, ficam bem quietinhos.
O Seu Antunes sacode o chicote. Os burros puxam a carroça.
A tartaruga e os cinco coelhos vão rodando pela estrada.
Troque-Toque olha para o relógio. Não consegue ver a hora.
Sacudido pelo carro, cambaleia de sono. Deita-se em cima dos pés
de .alface e das couves tronchudas. Couve manteiga! E. . dorme.
Puxa! que cama gostosa! Que travesseiro delicioso! Coelhito
não trocaria aquêle colchãozinho verde pelas camas macias dos
meninos ricos.

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Acorda. Roe um pouco do travesseirinho de alface e indaga·
- Sol, ó Sol! Quem pintou o capim verde e o tomate ver m elh ,
Quem pintou o rabanete roxo e a batata pardacenta? Por queº·
nabo ficou branco e a cenoura alaranjada? Que maravilhoso tr:
balho! És tu, ó Sol, que puxas da terra a rosa, o cravo, a vio leta e
lhes dá o perfume?
És o rei dos campos, dominas o mar e moras :;cima da mon­
tanha? Os teus raios doirados iluminam tôda a Terra?
Fala, meu amigo, meu grande amigo, não gostas mais do teu
Coelhito?
Quem te criou? E, quem maior do que o mais belo dos astros
- governa e sustenta o mundo inteiro?
D EU S!
* • *
A carroça chega ao mercado.
Que barulho, que algazarra!
Troque-Toque fica atordoado. O barulho aumenta. Buzinas de
automóveis, alto-falantes. Gente a tagarelar e berrar. É de se ficar
maluco! Onde está o silêncio do mato, o sossêgo da floresta?
E a liberdade? No campo a bicharada corre, brinca, pula. Mas,
aqui ..
Os animaizinhos espiam através das grêtas do cêsto. Cena de
arrepiar! Os olhos se arregalam, as orelhas dos nossos coelhinhos
se esticam tôdas ao mesmo tempo, será possível? Nunca viram
coisa igual.
Coelhos na gaiola. Galinhas amontoadas num jacá. Cão acor­
rentado e com o pescoço esfolado. Macaco de cinto de couro e
seguro ao poste por corrente de ferro.
E Compadre Pato? Ah! coitado. Não valeu a pena ter vindo de
carro. Amarrado a um canto das barracas, vê os companheiros de­
penados e sem cabeça! Não la:rdará a ser vendido e jogado na
panela.
É isto a feira tão falada na Blcholândia? Que sorte os espera?
Os lindos coelhinhos brancos também ficarão prêsos na gaiola?
Fujam, bichinhos, a tôda pre ssa!
Logo que o verdureiro se desembaraça do cêsto, po ndo:> no
o
chão, Troque-Toque, coelhos e coelhinhos · sem "querer saber d

mercado da cidade grande, disparam . Fogem para o mato, delxan
u
à dona Tartaruga o relógio, a faca, a panela e . a colher de pa .
a
Como conseguiram escapa r da feira? Não o sabemos. Andar m
o dia inteiro.

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Adormecido estava você na sua cama macia, de colchão de mola,
quando os cinco coelhos encontraram um cantinho onde passaram
a noite.
Ai que vida boa! que vida boa, sossegada! ... Que capinzlnho
cheiroso! Que delícia o barulho das águas da cascata! - repetem
os coelhinhos nas suas tocas.
Troque-Toque pergunta radiante:
- Sol, ó Sol!
Quem te criou?
Quem dá às flôres tanta formosura?
Quem faz as árvores para os passarinhos?
E as florestas para os bichinhos?
Responde, responde, belo e querido Sol!
DEUS! CRIADOR E SOBERANO SENHOR DO UNIVERSO.

BOA NOITE, SOL - A LUA VEM CHEGANDO. - .

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Brincote e a Lua
Estamos na fazenda do Rio Belo. Quiz fazer uma surpresa aos

sobrinhos . e erta manh-a, tomo um ba stão
• • ' atra vesso o pomar e vou
à p ro cur a d e um carn e1rin h o. Depo i s de muito andar, encontro,
. .
fina 1 me n t e, um cor d e1ro muito novinh o, todo branqu·mo h . Uma gra­
cinha. um nnco
b. .
' M eto-o com a mamã na camioneta e levo
-os
para casa.
As crianç�s recebem-me com palmas e grande algazarra.
_ _
- T,t,a, ele deve chamar-se BRINCO!
- Brinco, BRINCOTE! - declaram as meninas.

Brinco torna-se o brinquedo predileto da gurizada. É um encanto.


Cabecinha abaulada, olhos pardos e meigos, lã crêspa e sedosa.
Quando à tarde, volta para o curral, a despedida é interminável.
- Mé! Mé! - bala o bichinho.
- Ah! Êle está dizendo adeus - resmunga Maurício. Êste
cordeiro é diferente dos outros. Tem saudades da gente. Êle está
chorando. . . Quer dormir conosco. Mamãe, você deixa Brincote
dormir no meu quarto? Eu arranjo um curralzinho para êle.
Eram tantos os agrados das crianças, que os demais bichos da
Fazenda do Rio Belo ficaram enciumados. Começaram a implicar
com o carneirinho tão mimado pela petizada.
O burro punha-se a cismar. O cavalo batia com a pata no chão.
O boi coiceava ao vento e a vaca espumava: "Birrento! Birrento!"
Diziam à moda dêles:
- Carneiro desajeitado! Cabeça abaulada! Um laço de fita no
pescoço. Que caipira! Teimoso! Se a mãe diz: Mé! êle imita-lhe
o balido e diz: Mé! Mé! e bate a pata no terreiro. Vamos educá-lo
e
à nossa moda. Você vai levar a breca. ó, Sr Memé, venha cá
vamos ver!
- Até onde irá a teimosia do pequeno? - que
ixava-se um
touro virando o chifre ameaçador.
o precisamos de tro­
- E a música que êle faz de noite! Nã
c um bicharoco
vador nem de alvoradas. Que desafinação! - retru ava
curral. em vez de
embezerrado - Você já viu? Você já viu? No
unir-se aos pr!� 05
deitar-se perto da mãe ou, como é costume, re
Brincote apoia 8
para ouvir a vovó ovelha contar estórias da onça,
.
cabeça na tábua do cercado e fica olh ando para a Lua
lS
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- Êste pequeno fica sem nariz - dizia tio Bode ao voltar tarde
da noite. - Olhe, pirralho, se você não tomar cuidado o morcêgo
chupa-lhe o pescoço e os miolos.
- Isso acaba mal, acaba mal - repetia Mestre Cabrito que
sempre chegava atrasado em casa, pois não dispensava a voltinha
pelo tanque de rapadura para tomar um galinho de garapa com os
amigos.
Na verdade, Brincote pouco ouvia as queixas e agouros do
Mestre Cabrito Curucu e do tio Bode Mereré. Permanecia até alta
noite admirando a beleza da Lua e não tomava parte no balido no­
turno dos parentes. Sempre fugia dos coristas dirigidos pela avó,
Dona Ovelha Rebolante.

José Maria, Luís, Maurício e as meninas da Fazenda do Rio Belo


não podiam imaginar o que se estava passando, ali, pertinho, na
Bicholândia do sítio das Três Mangueiras. Quando souberam, riram
de chorar e choraram de tanto rir. Impagável! Era mesmo impa­
gável! Quem lhes contou o fato foi o Riquinho - moleque do sítio
- negrinho esperto com estudos especializados sôbre a linguagem
e costumes dos animais.
Na Bicholândia, terra de patos e macacos, de bodes e coelhos,
na Bicholândia, não há mais sossêgo. São brigas e mais brigas.
Desde que o cachorro contou que subiu no foguete e foi à Lua
todos os bichos querem fazer o mesmo.
Na imaginação do moleque, a onça, o javali e a pantera já an-
daram rondando pela vila. Não conseguiram bilhete de ingresso.
Rosnaram. Urraram. Grunhiram. E voltaram para a floresta.
"Bicho mau não sobe" - declarou-lhes o Sr. Bode Bilheteiro do
Clube dos Lunáticos.
Entretanto, os animais mansos e pequeninos não se aquietam.
Estão nervosos, agitadíssimos. Na Bicholândia não há mais família,
tocas confortáveis, com bom colchão de capim e água fresquinha
tirada das fontes. Agora é só arranha-céu sôbre arranha-céu. Mo­
radas estreitas, úmidas, sem sol, construídas nas
cavidades •
altos rochedos, uma em cima da outra, pois cada bicho deseja ver
o foguete em primeiro lugar. Come-se um churrasco às pressas,
um bocado de milho socado e sai-se correndo. A toca é só para
dormir. Não se pára mais em casa. Os filhotes ficam abandonados.
Criam-se como podem. Pai, mãe, babás, tios e tias vivem nas praças
e nas estradas à espera dos foguetes. Naquelas paragens a vida
tornou-se intolerável.

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Outro dia o bode Mereré conversava com um pato cinzento:
- O Cachorro e duas macacas já estiveram na Lua. Os donos
d�s fo�uete� deram-lhes regime e passagem de graça. O gato Félix
nao foi aceito. É bôbo demais. Só sabe hipnotizar passarinhos e
c�çar ratos. Uma das macacas morreu depois de ter feito boa
viagem; a outra não fala nada, só imita os gestos dos habitantes da
Lua. Fêz um sucesso! Mas voltou logo, lá não havia bananas. O
mais esperto foi o primo do Tação. Mora na Europa. Oh! cão da­
nadinho! Farejou, farejou e descobriu que os selemitas andam
descalços. Não têm unhas. Os pés são arredondados e possuem
um só dedo: o dedão!
- Quá! quá! quá! Como soube isso, Senhor Mereré? indaga
o pato bamboleando mais do que nunca e desejoso de viajar no
foguete.
- Psiu! É segrêdo. Não fale disso a ninguém, ouviu? São
estórias que se contam entre nós, no clube dos lunáticos.
- Que clube é êste? Posso ser sócio? Poderei viajar no
foguete?
- Pois não. As condições são as seguintes:
1.º) Ser bicho. Bicho pequeno e bem educado. Domesticado!
2.º) Ser lunático, isto é, ter mania de querer ir à lua.
3.º) Sujeitar-se a regime rigoroso. Guardar silêncio e. . ter
paciência de ser chamado. Isso leva semanas, meses e anos. E
às vêzes.. até nunca!
Tendo estas condições o Sr. Pato pode pertencer ao clube dos
lunáticos, ser candidato a entrar no foguete e ir visitar o satélite.
Posso tomar o seu nome?
- Pif Marué da Lagoa do Bambuzal.
- Bonito nome. Onde o arranjou?
- Herdei de meu pai que se chama Pif Paf.
- Hum. hum .. Está bem, Sr. Pif Marué. Qual a sua idade?
O pêso? A profissão?
As perguntas do Mereré bufa o Pato Marué da Lagôa. Roxo
de raiva, pescoço vermelho, penas arrepiadas, olhos arregalados,
passa famosa descompostura no bilheteiro �ndiscre�o;_ _ ,
- Bode malcri ado, bicho sem educaç ao, espec1 e de glutao
ruminante chifrudo! Não sabe que essas perguntas não se fazem?
Com tôda calma o bode replica:
- Se não quer responder, dirija-se aos donos do foguete,
à
essa.
gente chique lá da cidade. Será servido mais depr _ , .
me pega m, j ogam-me na pane la. E entao . Serei
_ Nunca! Se
Fico aqui.
servido mais depressa .. não é? Não sou bôbo.

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Virando as costas ao bilheteiro, o pato cinzento encontra-se
com seu amigo, Dr. Coelhito, com quem trava conversa:
- Bom dia, compadre. Vossemêce ! sócio do clube dos luná­
ticos? Quer arranjar-me um lugarzinho no próximo foguete? Meu
pai chama-se Pif-Paf e eu Pif Marué da Lagoa do Bambuzal. Nas�i
há cento e trinta dias. Sou cozinheiro de forno e fogão. Quanto
ao pêso, não tem importância, jejuo oito dias. Deixo-me até em­
palhar, se quiserem. Agüento tudo, contanto que entre no foguet•!.
- Olhe, Pif - o pato arregala os olhos. Olhe, Pif para se:­
empalhado é preciso morrer Passar pela faca e virar cadáver. Você
quer?
- Ouero nada! Retiro o que disse. Não sou bôbo, eu! Bam­
boleio para a direita e para a esquerda. Mas no foguete saberei
manter equilíbrio perfeito. Pode contar comigo, meu caro coelhi­
to; do passeio à Lua trar-lhe-ei pratinhos gostosos. Pastéis torrados
nas vales lunares e aves de nuvens cacadas nos montes serve
• 1

amigo?
- Olhe, Pif, escute um segrêdo. Todo o mundo já sabe.
Mas é segrêdo. Bico calado, ouviu?
O coelho sacode a pasta que carrega debaixo do braço, endi­
reita os óculos pretos, empina as orelhas, mastiga um capinzinho
e com ares importantes recomenda mais uma vez.
- Bico calado! É segrêdo. Cuidado com o carneirinho Brin­
co. Êle é lunático. Tem a mania de querer ir à Lua e acaba indo.
Se ainda não viajou, é porque não conseguiu fugir A avó Dona­
Ovelha Rebolante o vigia. Ela é formidável. Seus dentes e seus
olhos pegam tudo. A ovelha devora o neto com os olhos, enquanto
os dentes ruminam o capim .
O pato, acariciando o pêlo do coelho, solta estrondosa garga­
lhada: Ouá. quá. quá! É isso mesmo. Hoje em dia, é moda.
Todos querem conhecer o satélite . Quem não foi à Lua, não vale
nada. Jogam-lhe em cheio no focinho: "Cale-se, ignorante, você
nunca estêve na Lua! E. e. e. escute, será que a Dona Re­
bolante quererá viajar também? Não deixe, Coelhito, tão velha e
gorda. Ela fará despencar o satélite.
• • •
O pato Pif Marué, sempre bamboleando, abrindo e fechando o
bico chato, continua a conversa:
- Coelhito, já reparou como o ganso Pinguito está elegante
e vaidoso? É o melhor sócio do clube. Arranjou excelentes botas
de couro de canguru e um chapéu de fôlha de palmeira. Faz dieta
rigorosa e a todo momento, medindo o corpo, vai mirar-se no lago·

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Aporto u uravota o o colarinho, estica o pescoço o mais que pode
u vor se omagroceu.
Em souuida, PlnçJuito convida um colega gorducho para trepar
,in gnnnorro Qual dos dois o mais leve? É claro que o gordo desce
e perde e o magro sobe. Satlsfeitíssmo, vai o magricela enco­
lhendo as penas o acariciando os quadris. Pingo só come doze
vüzcs por dia. Não há dúvida que pretende viajar no foguete, você
não acha?
,__ Certamente, certamente - responde o coelho. - Ah, meu
velho, n Blcholândia virou às avessas. No tempo do meu tio avô
não era assim. Mas, agora, os bichos alvoroçados só falam em
Lua, foguetes e discos voadores, ou então em regimes e juventude.
Todos querem ficar magros, leves e jovens. Na Europa, a comadre
rapôsa estava para morrer de velha. Encontrou um pote cheio de
mel da rainha, prontinho para o laboratório. A bichinha estende
a pata. Enfia o focinho pontiagudo na garrafa. Lambe o mel e
esvazia o pote de uma só vez! A gulosa toma em seguida uns
comprimidos e. Tá! ficou jovem da noite para o dia. O pêlo
branco vira cinzento e depois torna-se ruço e macio. Um sucesso!
E a voraz da rapôsa continua a fazer suas malandrices.
O pato Pif Marué dobra as risadas: Quá.. quá ... quá . ..
Quá. quá. quá. . !
E você não soube? Nesse momento, Dona Águia Real atra­
vessava os ares. Rindo-se da astuta, disse-lhe: Bobinha, só agora
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descobriu isso? Pois fique sabendo que a águia sempre conheceu


a arte de renovar a sua juventude. De tempos em tempos, troca
branco vira cinzento e depois torna-se ruço e macio. Um sucesso!
riem-se os filhotes da Dona Águia fazendo caçoada da comadre
rapôsa. - Adeus, compadre. Ouá. quá ... quá. Passe bem.
Quá. quá! Cuidado, Dr. Coelhito, no clube dos lunáticos há briga
todos os dias. Cuidado com a Rádio-Patrulha.
- Êles brigam porque todos querem subir, e se não se apres­
sarem, não encontrarão mais lugar na Lua.
- Adeus, Pif Marué da Lagoa do Bambuzal.
* * *
Mal o coelho acabara de falar que um rôlo terrível rebenta no
campo do clube. Ouvindo soltar foguetes de São João os animais
desvairados correm ao campo. Todos querem comprar passagem.
Voam tapas e rabanadas. Multiplicam-se as unhadas, sôcos, em­
purrões e chifradas. Diante dêsse grosso perequê, o bode Mereré
fecha a bilheteria.
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Chega a rádio-patrulha. Salve-se quem puder • Ouv
. em-se apitos
0 gui• ne 1 10s, u 1 vos e miados. Zurra o asno . Muge O boi. S
ilva a
serpente lá nas motas. - Tenho todos os direitos - c 1 am
. . a a gi-
r.. afa. Meu pes c oço c omprido foi feito sob medida para entra
r no
foguete.
Um momento de silêncio e a embrulhada re começ
- Au, au! Miau! Ué! lã-lã! UI! HI! Quite-quite! Uá-
Uaá' A b' c h _
rnda dispara numa impagável debandada. Alguns vão· para� nªo
xadrês.
Não ficam presos muito tempo. Os estômagos est
ão vazios e
os guardas pouc o dispostos a pro c urar alimento para esfomeados
cujo número e apetite cres c e com as horas. Serão soltos mas 0
chefão impõe c astigo após o "sabonete" ou sarabanda d� praxe.
-- "Quando um não quer, dois não brigam. Bi cho mau não entra
no foguete. A gente da cidade só gosta de bic ho manso e domes­
ticado. Vejam, meus bi c hos, c omo é manso o cordeiro, maternal
a galinha e a pomba não tem fel!"
- Sim, Sinhô. Sim, Sinhô!, respondem os culpados meneando
as cabeças. A briga segue-se o c astigo. Rapam-se as c abeças
dos revoltosos. Um bi c harroco mergulha os mais bravos na pis­
cina. Cada birra, um mergulho a mais. Duas c egonhas com seus
bicos compridos mantêm na água os briguentos.
Livres da c adeia os bichos não se emendam. Assim que ou­
vem qualquer barulhinho de automóvel ou de avião, correm de nôvo
ao c ampo na esperança de viajar no foguete.
Pif Marué, c oitado, retira-se do c ampo após mil trambolhões.
Depenado, todo ma c hu c ado e pisado, c acareja:
- Quá .. quá. .. quá!. Ser empalhado ou virar guisado?
Absolutamente, não! Não e não! Nada disso, nada disso. Imagi­
nem vo c ês: em ric o prato de porcelana, eu ensopado com
batatas. . . A dona Batatinha Pi c ada tenha pa ciên cia e arranje outro
par. Não que ..e ..ro! Não consinto. Sou p�to _ cinzento, filho d�
meu pai, Pif-Paf, e. e.. irmão dos meus 1�mao� �aflnho e Puf1-
nho. Retiro-me do c lube e volto à lagoa da minha infancla, rodeada
e
de bambus verdes e montanhas azuis. Nada de foguetes
uzal.
"sputiniki" Prefiro a outra Lua que ilumina a Lagoa do Ba��
dehc10s0s
Ouá! ... quá!... quá! ... quá! ... quá!... quá!. Banhos
as, nadando,
tomo eu, Pif Marué, todo garboso, deslizo nas águ
nadando horas a fio, em noites de luar.
• • •

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Enquanto no curral os bichos dormem, Brinco, cabecinha apoiada
na cêrca, conversa com a Lua em linguagem muda, secreta, que
ninguém entende:
- Lua, Lua! - bala o cordeirinho - por que você é tão bo­
nita? Quem a criou? É você que me torna todo branquinho e ilumina
a estrada durante a noite escura? É você que levanta as ondas do
mar? Diga-me, dona Lua, você viaja entre as nuvens? Lua, Luinha,
vejo lá no alto luzes douradas que piscam, piscam e tremem É
como se abrissem e fechassem portas e janelas. Êsses pontos
brilhantes a trepidar no firmamento negro são pequenas casas.
chalêzinhos de ouro? Quem mora lá? Os anõezinhos dourados, ou
anõezinhos da floresta, amigos da Branca de Neve?
As crianças da Fazenda do Rio Belo, adormecidas em suas camas
acolchoadas, não suspeitavam que Brincote não se tinha ido deitar
Admirava a Lua. até que cambaleando de sono caía aos pés da
cama e sonhava com as brancas nuvens e os chalés de ouro.
Ao amanhecer, a petizada corria ao curral para buscar o cor­
deiro. Mas, nem sempre o encontravam. Brinco havia fugido e
saltava nos prados à procura de sua amiga.
- Mé! Mé! - balava o cordeiro. E o seu balir era triste e
choroso. A Lua desaparecera. Escondera-se por detrás das nuvens.
* * *

A dona vovó ovelha criara gerações e gerações de netos. Ela


não permitia que um dos seus netinhos fôsse diferente dos outros.
O que um carneiro fazia, todos faziam. Um se lembrava de atra­
vessar o rio, todos tinham de atravessar o rio. Um passava pela
ponte verde? O rebanho em fila precisava passar pela ponte verde.
E agora como pode ela admitir que Brinco, o cordeiro mais nôvo,
seja diferente dos primos? Isto é que não! Obediência!
Enfezada, embezerrada com a fuga do netinho, a velha dona
Rebolante, para amedrontar os outros netos, deixa de contar-lhes,
esta noite, a estória da onça e repete aos pequerruchos, recostados
ao seu lado, a famosa fábula do lôbo e o cordeiro. O cordeirinho,
coitado, que fo� devorado pelo lôbo na floresta.
A vovó ovelha narra a fábula com voz tão formidável que arre­
pia a lã de todos os carneiros do curral. Diz-lhes:
- Meus netos, vocês vão ver. A mesma coisa vai acontecer
com o primo Brincote, que fugiu e até esta hora não voltou ao
aprisco.
Os primos faziam roda no curral. Não cantavam como era
costume:
"Carneirinho, carneirão. neirão. . . neirão.
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Olhai pro céu, olhai pro chão. pro chão. pro chão. pro
chão."
Sacudindo, porém, as cabeças, balavam:
- Mé! Isto é!
Voz estridente e compassada, por demais desafinada, a vovó,
sacudindo o penteado crêspo, sentenciava:
"Brincote não tem razão
Por dar assim o cavaco
De se meter na prisão
De não sair do buraco"
M e. ,,
,, M e.
Assim é! Assim é! berrava pela noite a dentro a carneirada.
Quem podia dormir? Os bichos velhos e rabujentos estavam
furibundos com o concêrto fora de hora. Quase arrebentavam de
raiva. Era só o que faltava! Trabalhavam o dia inteiro. Alguns em
serviços pesados como puxar carroça, carregar tijolos às costas,
levar verduras para o mercado e à noite não tinham sossêgo com
a carneirada sirigaita. Faziam do pobre cordeirinho o bode expia­
tório. E:le haveria de pagar! Tá!
- Esperem um pouco - diziam os chifrudos cabritos e o bode
Mereré, torcendo as barbichas. - Assim que clarear o dia, daremos
cabo do tal Brincote, o causador de tanta desordem.
Com seus badejos fanhosos, Mereré diz:
- Êstes bichos, êstes bichotes estão maníacos. Querem ver
a Lua e mais luas. Aqui por fora, Sinhá Lua é linda, não há dúvida;
mas, quem me diz que lá por dentro ela é de prata e muito bonita?
Mé é e e e! Pois sim! Pode até ser muito feia. Na Lua não
há ninguém, não. Não há água para beber nem frutas para comer.
Bicho ! bôbo, não entende. Esperem. . . Esperem. Vamos ver o
que nos dizem os homens que sobem lá por cima.
Mé é é é é!
• • •
Na madrugada seguinte, assim que se abriram as porteiras,
cavalo, boi, vaca, bezerros, cabritos, bodes e carneiros, saem à
caça do cordeiro. Disparam em desenfreado pega-pega.
As crianças, por sua vez, dão por falta do seu favorito. Não
vendo Brincote sair do curral, vão à procura do querido animalzinho.
Correm, correm, à disparada e afinal encontram-no dentro de
um profundo buraco.
Luís, José Maria, Maurício e as ..eteninas esforçam-se para
tirar o bichote do barranco. Não conseguem.

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As crian?as ainda pelejavam, quando aparece ª
terrivel bl-
charada, mugindo, uivando, balando furiosamente
A vovó ovelha, do�a Rebolante, velha e pes�dona ' e
.
a che gar, mas a primeira a dar ordens. Brinco nã0 qu
ª
última
er sair do
buraco?
"Vão buscar o cãozinho
Do nosso bom vizinho
Da casa do seu Melo
A vara de marmelo."

- M�, Mé! Assim é. Assim é! repetem os carneirinhos.


- VeJam, meus netos, o que vai acontecer. Ponham ouvidos
em terra. e ouçam a voz que repete o alto-falante:

"1 remos matar a vaca,


Diz rindo o açougueiro,
E com afiada faca
Mataremos o carneiro·

- Olhem, filhos e netos, a tragédia prestes a desenrolar-se!

Lá vem todo lampeiro


O filho do açougueiro
Pra dar golpe certeiro
E matar o carneiro.
Balam os carneirinhos sacudindo as cabeças:
- Mé! Mé! Assim é! Assim é!
O nosso inocente e manso cordeiro não compreende o motivo
daquela aglomeração. Sentindo fome e vendo que a Lua não o vem
buscar, quer sair do buraco. Assusta-se ao ver todos aquêles bichos
em pé de guerra. Burro, cão. boi. vaca, bezerro, bode, cabrito e
carneiros o esperam ...
por
Em dois tempos, é certo. o animalzinho será estraçalhado
aquêles brutos no auge da cólera.
petizada da
Isso aconteceria, se lá não estivesse a corajosa
a boa e
Fazenda do Rio Belo. Quem mais valente do que a crianç
perigo e da
ajuizada, a criança que recorre a Deus no momento do
aflição?
seguram o cordeiro,
Luís e José Maria pulam dentro do bUraco e
os cam aradas da
enquanto Maurício e as meninas correm a chamar
Fazenda.
Com cabos fortes e
Chegam por fim seu Néco e Seu Antão. es, e•
varas de marmelo espantam cavalo, boi, vaca, bezerro, bod
JS
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britas e a brava vovó ovelha e seus netos. Tiram Brinco do buraco
e entregam-no à criançada, a qual faz novamente alegre algazarra.
Nunca mais a Dona Rebolante e o rebanho dos carneiros viram
Brincote, o manso cordeirinho. Os meninos levaram-no para outra
Fazenda, onde até hoje, vive muito feliz, admirando a beleza da Lua.

O CORDEIRO É FIGURA DE JESUS


QUE PARA NOS SALVAR. MORREU NA CRUZ

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Depois que o homem estêve na Lua, sabemos que, de perto,
a Lua é feia. Não tem côr, parece uma imensa praia de areia
cinzenta.

Vista da Terra, é linda, deslumbrante!


Quem não a viu, em noite de luar?
Quem nunca admirou a sua beleza no jôgo prateado entre as
nuvens, nas águas do mar, dos rios, ou nas estradas do sertão?

Bendizei ao Senhor, Sol e Lua.


Bendizei ao Senhor, astro do Céu.
Louvai-o e exaltai-o para sempre!

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