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�JuncrJ-te e a- J:,ua
Direitos Reservados
ABADIA DE SANTA :MARIA
Rua São Carlos do Pinhal, 414
SÃo PAULO - Z.C. 3 - CAPrrAL
Apresentação
ALCEU AMOROSO LIMA,
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Acorda. Roe um pouco do travesseirinho de alface e indaga·
- Sol, ó Sol! Quem pintou o capim verde e o tomate ver m elh ,
Quem pintou o rabanete roxo e a batata pardacenta? Por queº·
nabo ficou branco e a cenoura alaranjada? Que maravilhoso tr:
balho! És tu, ó Sol, que puxas da terra a rosa, o cravo, a vio leta e
lhes dá o perfume?
És o rei dos campos, dominas o mar e moras :;cima da mon
tanha? Os teus raios doirados iluminam tôda a Terra?
Fala, meu amigo, meu grande amigo, não gostas mais do teu
Coelhito?
Quem te criou? E, quem maior do que o mais belo dos astros
- governa e sustenta o mundo inteiro?
D EU S!
* • *
A carroça chega ao mercado.
Que barulho, que algazarra!
Troque-Toque fica atordoado. O barulho aumenta. Buzinas de
automóveis, alto-falantes. Gente a tagarelar e berrar. É de se ficar
maluco! Onde está o silêncio do mato, o sossêgo da floresta?
E a liberdade? No campo a bicharada corre, brinca, pula. Mas,
aqui ..
Os animaizinhos espiam através das grêtas do cêsto. Cena de
arrepiar! Os olhos se arregalam, as orelhas dos nossos coelhinhos
se esticam tôdas ao mesmo tempo, será possível? Nunca viram
coisa igual.
Coelhos na gaiola. Galinhas amontoadas num jacá. Cão acor
rentado e com o pescoço esfolado. Macaco de cinto de couro e
seguro ao poste por corrente de ferro.
E Compadre Pato? Ah! coitado. Não valeu a pena ter vindo de
carro. Amarrado a um canto das barracas, vê os companheiros de
penados e sem cabeça! Não la:rdará a ser vendido e jogado na
panela.
É isto a feira tão falada na Blcholândia? Que sorte os espera?
Os lindos coelhinhos brancos também ficarão prêsos na gaiola?
Fujam, bichinhos, a tôda pre ssa!
Logo que o verdureiro se desembaraça do cêsto, po ndo:> no
o
chão, Troque-Toque, coelhos e coelhinhos · sem "querer saber d
dº
mercado da cidade grande, disparam . Fogem para o mato, delxan
u
à dona Tartaruga o relógio, a faca, a panela e . a colher de pa .
a
Como conseguiram escapa r da feira? Não o sabemos. Andar m
o dia inteiro.
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Adormecido estava você na sua cama macia, de colchão de mola,
quando os cinco coelhos encontraram um cantinho onde passaram
a noite.
Ai que vida boa! que vida boa, sossegada! ... Que capinzlnho
cheiroso! Que delícia o barulho das águas da cascata! - repetem
os coelhinhos nas suas tocas.
Troque-Toque pergunta radiante:
- Sol, ó Sol!
Quem te criou?
Quem dá às flôres tanta formosura?
Quem faz as árvores para os passarinhos?
E as florestas para os bichinhos?
Responde, responde, belo e querido Sol!
DEUS! CRIADOR E SOBERANO SENHOR DO UNIVERSO.
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Brincote e a Lua
Estamos na fazenda do Rio Belo. Quiz fazer uma surpresa aos
•
sobrinhos . e erta manh-a, tomo um ba stão
• • ' atra vesso o pomar e vou
à p ro cur a d e um carn e1rin h o. Depo i s de muito andar, encontro,
. .
fina 1 me n t e, um cor d e1ro muito novinh o, todo branqu·mo h . Uma gra
cinha. um nnco
b. .
' M eto-o com a mamã na camioneta e levo
-os
para casa.
As crianç�s recebem-me com palmas e grande algazarra.
_ _
- T,t,a, ele deve chamar-se BRINCO!
- Brinco, BRINCOTE! - declaram as meninas.
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Outro dia o bode Mereré conversava com um pato cinzento:
- O Cachorro e duas macacas já estiveram na Lua. Os donos
d�s fo�uete� deram-lhes regime e passagem de graça. O gato Félix
nao foi aceito. É bôbo demais. Só sabe hipnotizar passarinhos e
c�çar ratos. Uma das macacas morreu depois de ter feito boa
viagem; a outra não fala nada, só imita os gestos dos habitantes da
Lua. Fêz um sucesso! Mas voltou logo, lá não havia bananas. O
mais esperto foi o primo do Tação. Mora na Europa. Oh! cão da
nadinho! Farejou, farejou e descobriu que os selemitas andam
descalços. Não têm unhas. Os pés são arredondados e possuem
um só dedo: o dedão!
- Quá! quá! quá! Como soube isso, Senhor Mereré? indaga
o pato bamboleando mais do que nunca e desejoso de viajar no
foguete.
- Psiu! É segrêdo. Não fale disso a ninguém, ouviu? São
estórias que se contam entre nós, no clube dos lunáticos.
- Que clube é êste? Posso ser sócio? Poderei viajar no
foguete?
- Pois não. As condições são as seguintes:
1.º) Ser bicho. Bicho pequeno e bem educado. Domesticado!
2.º) Ser lunático, isto é, ter mania de querer ir à lua.
3.º) Sujeitar-se a regime rigoroso. Guardar silêncio e. . ter
paciência de ser chamado. Isso leva semanas, meses e anos. E
às vêzes.. até nunca!
Tendo estas condições o Sr. Pato pode pertencer ao clube dos
lunáticos, ser candidato a entrar no foguete e ir visitar o satélite.
Posso tomar o seu nome?
- Pif Marué da Lagoa do Bambuzal.
- Bonito nome. Onde o arranjou?
- Herdei de meu pai que se chama Pif Paf.
- Hum. hum .. Está bem, Sr. Pif Marué. Qual a sua idade?
O pêso? A profissão?
As perguntas do Mereré bufa o Pato Marué da Lagôa. Roxo
de raiva, pescoço vermelho, penas arrepiadas, olhos arregalados,
passa famosa descompostura no bilheteiro �ndiscre�o;_ _ ,
- Bode malcri ado, bicho sem educaç ao, espec1 e de glutao
ruminante chifrudo! Não sabe que essas perguntas não se fazem?
Com tôda calma o bode replica:
- Se não quer responder, dirija-se aos donos do foguete,
à
essa.
gente chique lá da cidade. Será servido mais depr _ , .
me pega m, j ogam-me na pane la. E entao . Serei
_ Nunca! Se
Fico aqui.
servido mais depressa .. não é? Não sou bôbo.
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Virando as costas ao bilheteiro, o pato cinzento encontra-se
com seu amigo, Dr. Coelhito, com quem trava conversa:
- Bom dia, compadre. Vossemêce ! sócio do clube dos luná
ticos? Quer arranjar-me um lugarzinho no próximo foguete? Meu
pai chama-se Pif-Paf e eu Pif Marué da Lagoa do Bambuzal. Nas�i
há cento e trinta dias. Sou cozinheiro de forno e fogão. Quanto
ao pêso, não tem importância, jejuo oito dias. Deixo-me até em
palhar, se quiserem. Agüento tudo, contanto que entre no foguet•!.
- Olhe, Pif - o pato arregala os olhos. Olhe, Pif para se:
empalhado é preciso morrer Passar pela faca e virar cadáver. Você
quer?
- Ouero nada! Retiro o que disse. Não sou bôbo, eu! Bam
boleio para a direita e para a esquerda. Mas no foguete saberei
manter equilíbrio perfeito. Pode contar comigo, meu caro coelhi
to; do passeio à Lua trar-lhe-ei pratinhos gostosos. Pastéis torrados
nas vales lunares e aves de nuvens cacadas nos montes serve
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amigo?
- Olhe, Pif, escute um segrêdo. Todo o mundo já sabe.
Mas é segrêdo. Bico calado, ouviu?
O coelho sacode a pasta que carrega debaixo do braço, endi
reita os óculos pretos, empina as orelhas, mastiga um capinzinho
e com ares importantes recomenda mais uma vez.
- Bico calado! É segrêdo. Cuidado com o carneirinho Brin
co. Êle é lunático. Tem a mania de querer ir à Lua e acaba indo.
Se ainda não viajou, é porque não conseguiu fugir A avó Dona
Ovelha Rebolante o vigia. Ela é formidável. Seus dentes e seus
olhos pegam tudo. A ovelha devora o neto com os olhos, enquanto
os dentes ruminam o capim .
O pato, acariciando o pêlo do coelho, solta estrondosa garga
lhada: Ouá. quá. quá! É isso mesmo. Hoje em dia, é moda.
Todos querem conhecer o satélite . Quem não foi à Lua, não vale
nada. Jogam-lhe em cheio no focinho: "Cale-se, ignorante, você
nunca estêve na Lua! E. e. e. escute, será que a Dona Re
bolante quererá viajar também? Não deixe, Coelhito, tão velha e
gorda. Ela fará despencar o satélite.
• • •
O pato Pif Marué, sempre bamboleando, abrindo e fechando o
bico chato, continua a conversa:
- Coelhito, já reparou como o ganso Pinguito está elegante
e vaidoso? É o melhor sócio do clube. Arranjou excelentes botas
de couro de canguru e um chapéu de fôlha de palmeira. Faz dieta
rigorosa e a todo momento, medindo o corpo, vai mirar-se no lago·
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Aporto u uravota o o colarinho, estica o pescoço o mais que pode
u vor se omagroceu.
Em souuida, PlnçJuito convida um colega gorducho para trepar
,in gnnnorro Qual dos dois o mais leve? É claro que o gordo desce
e perde e o magro sobe. Satlsfeitíssmo, vai o magricela enco
lhendo as penas o acariciando os quadris. Pingo só come doze
vüzcs por dia. Não há dúvida que pretende viajar no foguete, você
não acha?
,__ Certamente, certamente - responde o coelho. - Ah, meu
velho, n Blcholândia virou às avessas. No tempo do meu tio avô
não era assim. Mas, agora, os bichos alvoroçados só falam em
Lua, foguetes e discos voadores, ou então em regimes e juventude.
Todos querem ficar magros, leves e jovens. Na Europa, a comadre
rapôsa estava para morrer de velha. Encontrou um pote cheio de
mel da rainha, prontinho para o laboratório. A bichinha estende
a pata. Enfia o focinho pontiagudo na garrafa. Lambe o mel e
esvazia o pote de uma só vez! A gulosa toma em seguida uns
comprimidos e. Tá! ficou jovem da noite para o dia. O pêlo
branco vira cinzento e depois torna-se ruço e macio. Um sucesso!
E a voraz da rapôsa continua a fazer suas malandrices.
O pato Pif Marué dobra as risadas: Quá.. quá ... quá . ..
Quá. quá. quá. . !
E você não soube? Nesse momento, Dona Águia Real atra
vessava os ares. Rindo-se da astuta, disse-lhe: Bobinha, só agora
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Enquanto no curral os bichos dormem, Brinco, cabecinha apoiada
na cêrca, conversa com a Lua em linguagem muda, secreta, que
ninguém entende:
- Lua, Lua! - bala o cordeirinho - por que você é tão bo
nita? Quem a criou? É você que me torna todo branquinho e ilumina
a estrada durante a noite escura? É você que levanta as ondas do
mar? Diga-me, dona Lua, você viaja entre as nuvens? Lua, Luinha,
vejo lá no alto luzes douradas que piscam, piscam e tremem É
como se abrissem e fechassem portas e janelas. Êsses pontos
brilhantes a trepidar no firmamento negro são pequenas casas.
chalêzinhos de ouro? Quem mora lá? Os anõezinhos dourados, ou
anõezinhos da floresta, amigos da Branca de Neve?
As crianças da Fazenda do Rio Belo, adormecidas em suas camas
acolchoadas, não suspeitavam que Brincote não se tinha ido deitar
Admirava a Lua. até que cambaleando de sono caía aos pés da
cama e sonhava com as brancas nuvens e os chalés de ouro.
Ao amanhecer, a petizada corria ao curral para buscar o cor
deiro. Mas, nem sempre o encontravam. Brinco havia fugido e
saltava nos prados à procura de sua amiga.
- Mé! Mé! - balava o cordeiro. E o seu balir era triste e
choroso. A Lua desaparecera. Escondera-se por detrás das nuvens.
* * *
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As crian?as ainda pelejavam, quando aparece ª
terrivel bl-
charada, mugindo, uivando, balando furiosamente
A vovó ovelha, do�a Rebolante, velha e pes�dona ' e
.
a che gar, mas a primeira a dar ordens. Brinco nã0 qu
ª
última
er sair do
buraco?
"Vão buscar o cãozinho
Do nosso bom vizinho
Da casa do seu Melo
A vara de marmelo."
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Depois que o homem estêve na Lua, sabemos que, de perto,
a Lua é feia. Não tem côr, parece uma imensa praia de areia
cinzenta.
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