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Eduardo Viveiros de Castro: Formado em ciências sociais pela PUC-Rio, concluiu em 1977

o mestrado em antropologia social no Museu Nacional e em 1984 o doutorado, na mesma


instituição

Apresentação de Philippe Descola

Estrutura ou sentimento: a relação com o animal na Amazônia

Nascido em Paris, em 1949.

Formado em filosofia, fez seu doutorado em antropologia na École Pratique des Hautes
Études, sob a orientação de Claude Lévi-Strauss, com uma tese baseada em seu trabalho
de campo entre os Achuar da Amazônia equatoriana, entre 1976 e 1979.

Atuou a partir de 1987 na École des Hautes Études en Sciences Sociales e, em 2000 foi
nomeado para uma cátedra de antropologia no Collège de France. Suas pesquisas
investigam os modos de socialização da natureza, a formação das noções de “natureza” e
“cultura” e as diferentes ontologias que daí derivam. É autor de obras como La nature
domestique (1986), Les lances du crépuscule (1993), Par-delà nature et culture (2005) e
La composition des mondes (2014).

O texto foca em analisar duas ontologias, naturalismo e animismo, e como elas se relacionam
com os animais, ou não-humanos.

O escrito se inicia com a reflexão em torno da violência exercida contra os animais, seguindo
opiniões públicas ocidentais.

Reprovação

Diminuição com a familiaridade com as vítimas (exemplo aikeuara)

Escala de valor -> mamíferos

Exemplo: Gado de corte, pequenos e grandes animais de caça, os touros das touradas, as
cobaias de laboratório entre outros...

Deep ecology (Europa e EUA) - um movimento que considera todos os componentes do meio
natural como sujeitos de direitos homólogos aos humanos

O Descola vai falar que esse movimento tem, digamos, uma veia de antropocentrismo. Pois,
dos “selvagens”, espera-se que sejam filhos da natureza, um pouco daquela visão do bom
selvagem. De um Amazônia virgem

“Tais convergências rapidamente encontram seus limites, especialmente quando certas formas
locais de caça ferem a sensibilidade de militantes ecológicos pouco inclinados a encarar com
indulgência os particularismos culturais que prejudicarem o bem-estar dos animais” (p. 24)

Isso vai gerar uma t/ensão entre movimentos ecologistas e “minorias tribais”
“O antropocentrismo moderno, com efeito, é amplamente inconsciente e não combina com a
idéia de que nosso ambiente é em grande parte antrópico, mesmo em regiões do mundo que
parecem, como a Amazônia, ter conservado sua virgindade (Balée, 1993)”

É possível ver, pelos trabalhos do arqueólogo Eduardo Neves, que a Amazônia foi largamente
povoada e cultivada. Ou seja, uma floresta antropizada.

Mov. Ecológicos e Ameríndios possuem interesses que se assemelham, mas suas respectivas
atitudes com relação à natureza são totalmente diferentes (p. 25).

Diferença entre naturalismo e animismo: - “Diferentemente do dualismo moderno que


distribui humanos e não-humanos em dois domínios ontológicos mais ou menos estanques, as
cosmologias amazônicas estabelecem uma diferença de grau, não de natureza, entre os
homens, as plantas e os animais”. (p. 25)

Achuar – plantas e animais com alma e isso implica em consciência e intencionalidade. Troca
de mensagem.

Esses seres também interferem ou dão sentido ao seu viver

“A harmonia conjugal, um bom entendimento com parentes e vizinhos, o sucesso na caça, a


fabricação de uma cerâmica bonita ou um curare eficaz, uma roça com plantas variadas e
viçosas, tudo isso depende das relações de convivência que os achuar conseguirem estabelece
com uma variedade grande de interlocutores humanos e não-humanos, sucitando-lhes
disposições favoráveis(..)” (26)

Relacionar com os ribeirinhos (panema, mau-olhado, quebranto)

“Na medida em que a categoria das “pessoas” engloba espíritos, plantas e animais, todos
dotados de uma alma, essa cosmologia não diferencia os humanos e os não-humanos; ela
somente introduz uma escala de ordenação segundo os níveis de troca de informação tidos
como possíveis” (p. 26).

Os achuar no topo da pirâmide

Comunicação com os Jivaros mais ou menos inteligíveis.

Difícil para quem não a tem como língua materna

Mas como então eles se comunicam com os não-humanos? Essa comunicação vem através de
sonho ou pelo uso de plantas alucinógenas. (ex: ayahuasca, comunidades ayahuasqueiras –
inclusive urbanas).

Animais e plantas se aproximam ou são em sua totalidade mais pessoas completas do que
humanos que não falam a língua dos Achuar.

Também foi possível perceber que existem categorias de integração social entre os Achuar

- Os que respeitam as regras matrimoniais; (ex: mandioca e tucano);


- Os promíscuos. ex: cão e guariba; (Falar do cão na aldeia kayapó);

- Os solitários: Almas que vagam ou grandes predadores. Ex: Jaguar ou a sucuri (mas que são
seres que auxiliam os xamãs”;

Os animais são interlocutores, não vivem em um plano ontológico diferente

Mesmo plano ontológico

Exemplo interessante de morte dos animais:

“A morte dos animais e sua preparação não é dissimulada em recintos afastados da visão dos
profanos, como ocorre entre nós atualmente, e todo mundo na Amazônia é familiarizado
desde a mais tenra idade com aqueles corpos ainda quentes que se vão esfolar, estripar e
cortar para cozinhar” (29) exemplo aikeuara.

Então o Descola sucinta alguns questionamentos bem interessantes

- Como esses povos podem então conciliar a violência que exercem cotidianamente contra os
animais com a ideia de que esses seres são, de algum modo, humanos disfarçados?

- Como matar e alimentar-se de quase-semelhantes sem que tal incorporação do vivo pelo vivo
apareça como uma forma de canibalismo?

O dilema era respondido em grande parte por termos morais “o caçador se empenharia em
todos os tipos de compensações simbólicas para aliviar sua má consciência e precaver-se das
consequências que seu ato não poderia deixar de acarretar” (p. 30)

Entretanto, Descola vai aprofundar esse debate para além das questões morais, ele reconhece
que existe uma ética entre os povos indígenas: que é não matar mais animais além do
necessário, comportar-se com respeito para com a caça, não fazê-lo sofrer à toa etc. Vários
deles oferecem ainda contrapartidas rituais aos animais ou aos espíritos que os representam
ex. tabaco, comida... (falar do exemplo do Combu).

Interditos; descontaminação; Vingança

“Se o animal de caça sente algum motivo para se vingar, então os ameríndios têm uma
consciência bastante clara de que a sorte que lhe impõem não é inteiramente normal. (p. 32)
Ex: panema/ ribeirinho.

Só que existem ritos e regras que vão se modificando com o tempo, não estamos falando de
sistemas fechados. “relaxamento tem limites, e a idéia de consumir certas espécies continua a
suscitar uma sincera repugnância” (p. 34).

“Fundamentar a relação com os animais caçados na generalização de um dilema moral é


proibir-se de compreender as modalidades muito diversas que a relação entre caçadores e
presas pode assumir na Amazônia”
Pq? São relações pessoas a pessoa, são relações sociais

Para Descolar, perceber os animais como afins, força os animais a estarem categorizados na
dicotomia Consanguinidade Vs. Afinidade, o que ele chama de operadores lógicos.

Consanguinidade

Afinidade

Caça – animais de estimação – inimigos – crianças cativas – afins consanguíneos

Todavia, no âmbito desse quadro muito geral, coexistem vários sistemas de relações mais
particularizados: Reciprocidade; Predação; Dádiva.

Reciprocidade – Ex: Desana, do noroeste amazônico

Quantidade finita, existe o retorno das almas dos defuntos ao senhor dos animais que as
converte em caça.

Predação – Ex: Jivaro, não oferecem nenhuma compensação pela vida da caça.

Os excessos são punidos com represálias

Dádiva – Ex: Aruanque, dos andes peruano.

“Depois de o caçador ter-lhe pedido sua “roupa”, o pássaro voluntariamente oferece seu
invólucro carnal à flecha, preservando seu duplo imaterial que se reencarna imediatamente
em um corpo idêntico”

“Deve-se admitir que matar um animal que eu creio que vá reencarnar imediatamente, não é
matar, mas ser o agente de uma metamorfose; igualmente, matar um animal que eu creio
poder substituir ao fim por almas humanas, é menos matar do que aceitar o adiantamento de
um vida.”

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