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Rudolf Steiner

A Ciência Oculta
Esboço de uma cosmovisão supra-sensorial

4ª edição

Tr adução:
Rudolf Lanz
Jacira Cardoso

1
Not a à quar t a edi ção br asi l ei r a

Decorridos quinze anos da primeira edição dest e livro em port uguês, pareceu-nos
oport uno proceder a uma det alhada reelaboração da t radução, remanescent e dos
primeiros esf orços para propiciar ao público leit or brasileiro o cont at o com a vast a e sig-
nif icat iva obra de Rudolf St einer. Tendo sido est e o t ít ulo inaugural de nossas publicações,
coube-lhe t ambém ref let ir a primeira e dif ícil t ent at iva de vert er para o nosso idioma a
linguagem reveladora da Ant roposof ia, que t ambém em seu idioma original — o alemão —
decorre em inusit adas e complexas const ruções lingüíst icas. Após os incont áveis t ít ulos
subseqüent es que hoj e int egram nossa j á razoável produção edit orial, cremos ser boa hora
para conf erir à quart a edição dest e t ext o o cunho de uma longa experiência adquirida no
t rabalho com as sucessivas t raduções das obras do Aut or. Uma f ormulação mais f luent e,
uma t erminologia j á unif icada para cert as expressões exclusivas da conceit uação
ant roposóf ica, not as explicat ivas de f at os ou nomes est ranhos à nossa época ou universo
cult ural, são result ados que buscamos of erecer nest a nova versão ora apresent ada.
Três out ros procediment os vêm acrescent ar-se ao j á expost o: o primeiro é a
subst it uição de palavras ou expressões de acordo com a t rigésíma edição revist a do
original em alemão (1989), cuj as modif icações relat ivas a edições ant eriores consignamos,
para ef eit o inf ormat ivo, em not as de rodapé; o segundo é a subdivisão de cert os
parágraf os excessivament e longos, bem como dos dois maiores capít ulos do livro — assim
est rut urados pelo Aut or — nos pont os onde nos pareceu aceit ável f azê-lo para f acilit ar e
balizar a leit ura; e o t erceiro é o acréscimo, no f inal do livro, de um quadro sinópt ico das
hierarquias espirit uais mencionadas no capít ulo ‘ A evolução do Universo e o homem.
E assim uma vez mais, cônscios de nossa grande responsabilidade, e conf orme
expressou o t radut or em nossa primeira edição, “ colocamos A Ci ênci a Ocul t a nas mãos dos
que, por seu dest ino, serão seus leit ores” .

A edi t or a

Obser vações pr el i mi nar es à pr i mei r a edi ção [ do or i gi nal ]

Quem publica um livro como est e deve ser capaz de imaginar com serenidade t oda
espécie de crít ica possível, na at ualidade, às suas exposições. Poderia acont ecer, por
exemplo, de alguém começar a ler a present e explicação dest e ou daquele assunt o, j á
t endo sobre ele idéias concebidas segundo os result ados da invest igação cient íf ica, e
chegar à seguint e conclusão: “ É surpreendent e como t ais af irmações são possíveis em
nossa época. A f orma como o aut or manej a os conceit os mais simples das Ciências Nat urais
revela um ignorância inconcebível, mesmo das noções mais element ares. Ele emprega
conceit os, como por exemplo o de ‘ calor’ , de um modo t ípico de quem não t eve cont at o
algum com as concepções da Física cont emporânea. Bast aria alguém conhecer rudiment os
dessa ciência para demonst rar-lhe que suas t eorias nem ao menos merecem a qualif icação
de dilent at ismo, mas soment e a de ignorância absolut a. ” Muit os out ros j ulgament os desse
t ipo poderiam ser cit ados. Mas t ambém se poderia chegar, segundo as declarações acima,
a uma conclusão como a seguint e: “ Quem leu algumas páginas dest e livro poderá,
conf orme seu t emperament o, colocá-lo de lado com um sorriso ou indignação e dizer: ‘ É
realment e est ranho a que aberrações pode conduzir, hoj e em dia, um modo equivocado
de pensar. O melhor será arquivar est as considerações ent re muit as out ras curiosidades

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com que nos deparamos hoj e em dia’ . ”
Ora, o que dirá o aut or dest e livro diant e da possibilidade de real ment e sof re t al
cít ica? Não deverá simplesment e, a part ir de seu pont o de vist a, considerar o crít ico um
leit or incompet ent e ou desprovido de boa vont ade para chegar a um j uízo compreensivo?
A isso cabe a seguint e respost a: ― Não, absolut ament e ― o autor nem sempre faz isso.
Ele pode muit o bem imaginar que seu crít ico sej a uma personalidade muit o int eligent e,
at é mesmo um cient ist a capaz, que f orme seus j uízos de maneira bast ant e conscienciosa
― pois ele próprio, o aut or, est á em condições de colocar-se ment alment e no lugar desse
crít ico e compreender os mot ivos que o levariam a t al j ulgament o.
Para t ornar realment e compreensível o que desej amos comunicar, j ulgamos
necessário algo que a nós mesmos parece descabido no geral, mas que j ust ament e nest e
livro encont ra mot ivo imperioso: f alar sobre um assunt o pessoal. Em verdade, nesse
sent ido nada será expost o que não se relacione com a decisão de escrever est a obra. O
que aqui se diz não t eria, cert ament e, qualquer razão de ser se cont ivesse apenas um
carát er pessoal. Est e livro deve cont er exposições a que t odo ser humano possa t er acesso,
e de uma f orma a ser evit ado, na medida do possível, qualquer mat iz pessoal. Port ant o,
nesse sent ido o element o pessoal não deve ser considerado; só cabe relacioná-lo com a
int enção de esclarecer como o aut or pode achar compreensível a mencionada crít ica às
suas exposições e, mesmo assim, escrever est a obra. Na verdade, haveria uma
possibilidade de t ornar supérf lua a exposição de t al aspect o pessoal: ressalt ar t odos os
pormenores que evidenciassem como, na realidade, a exposição cont ida nest e livro
coincide com t odos os progressos da ciência cont emporânea. Para isso, no ent ant o, seriam
necessários muit os volumes int rodut órios; e como essa é uma t aref a inexeqüível no
moment o, parece-nos necessário dizer por quais circunst âncias pessoais nos sent imos
aut orizados a considerar, de maneira sat isf at ória, t al coincidência como possível.
Cert ament e nunca nos t eríamos propost o publicar o que, por exemplo, expomos
nest e livro acerca dos processos calóricos, caso não pudéssemos af irmar o seguint e: há
mais de t rint a anos, t ivemos condições de dedicar-nos a um est udo da Física em seus
diversos âmbit os. No domínio dos f enômenos calóricos, nessa época ocupavam o pont o
cent ral as explicações relat ivas à chamada ‘ t eoria mecânica do calor’ . E essa ‘ t eoria
mecânica do calor’ nos int eressou de modo especial. A evolução hist órica das int erpret a-
ções pert inent es ao assunt o, ligada ent ão a nomes como Julius Robert Mayer, Helmholt z,
Joule, Cl ausius, et c. 1 , f ez part e de nossos cont ínuos est udos. Com isso criamos, nessa
época, a base e a possibilidade suf icient es para cont inuar acompanhando de pert o, at é
hoj e, t odos os ef et ivos progressos no domínio da t eoria do calor, sem encont rar quaisquer
dif iculdades ao t ent ar penet rar em t udo o que a ciência realiza nesse campo. Se
t ivéssemos de const at ar nossa incapacidade para f azê-lo, isso seria uma razão para nos
abst ermos de dizer ou escrever os assunt os expost os no livro. Nós nos impusemos
realment e o lema de dizer ou escrever, no âmbit o da Ciência Espirit ual , soment e aquilo a
cuj o respeit o t ambém soubéssemos f alar sat isf at oriament e no sent ido da ciência at ual.
Com isso não desej amos, em absolut o, exprimir algo que sej a uma exigência genérica
para t odos os homens. Toda pessoa pode, com razão, sent ir-se impelida a comunicar e
publicar aquilo que est ej a af eit o ao seu próprio discerniment o, seu sadio sent ido da
verdade e seu sent iment o, mesmo ignorando o pont o de vist a da ciência cont emporânea
sobre o assunt o. Só que o aut or dest e livro pref ere mant er-se na at it ude ref erida acima.

1
Julius Robert von Mayer (1814—1878), médico e f ísico, descobridor da lei da conservação da energia;
Hermann von Helmholz (1821—1894) t eórico pioneiro da medicina, anat omist a, f isiólogo e f isico; James
Prescot t Joule (1818—1889), f isico inglês que det erminou, ent re out ras coisas, a quant idade de calor produzido
pelo t rabalho mecânico; Rudolf Emanuel Clausius (1822—1910), f ísico, f undador da t eoria mecânica do calor.
(N. E. orig. )

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Ele poderia, por exemplo, não t er escrit o as poucas linhas relat ivas ao sist ema glandular
ou ao sist ema nervoso humano, aqui cont idas, se não est ivesse em condições de procurar
dissert ar sobre esses t emas da mesma f orma como o f aria um nat uralist a cont emporâneo,
do pont o de vist a cient íf ico.
Port ant o, embora sej a possível j ulgar que quem f ala de ‘ calor’ , do modo como ocorre
aqui, ignore os princípios da Física at ual, é cert o que est e aut or se considera plenament e
aut orizado a proceder como f ez por que realment e se esf orçou em conhecer a pesquisa
cont emporânea, e porque t eria desist ido de seu int ent o se est a lhe f osse est ranha. Ele
sabe o quant o o mot ivo de seu mencionado lema pode f acilment e ser conf undido com
imodést ia. No ent ant o, com ref erência a est e l ivro é necessário dizer t ais coisas, para que
nossos verdadeiros mot ivos não se conf undam com out ros mot ivos int eirament e diversos —
sendo que essa conf usão poderia ser muit o pior do que a da imodést ia.
Ora, t ambém de um pont o de vist a f ilosóf ico seria possível um j ulgament o,
f ormulado da seguint e maneira: “ Quem ler est e livro como f ilósof o pergunt ará a si
próprio: ‘ Será que o aut or ignorou t odo o t rabalho gnosiol ógico de nossa época? Não t erá
percebido que exist iu um Kant 2 e que, segundo est e, é f ilosof icament e inadmissível dizer
t al t ipo de coisas?’ “ E assim se poderia prosseguir nessa direção. Porém a crít ica t ambém
poderia concluir dest e modo: “ Para um f il ósof o, t ais disparat es sem sent ido crít ico,
ingênuos e leigos são insuport áveis, e aprof undar-se neles seria perda de t empo. ”
Pelo mesmo mot ivo cit ado acima, apesar de t odos os mal -ent endidos que possamos
acarret ar, t ambém aqui pref erimos apresent ar algo pessoal. Nosso est udo de Kant t eve
início aos dezesseis anos; e hoj e realment e acredit amos poder j ulgar bem obj et ivament e,
do pont o de vist a de Kant , t odo o cont eúdo do present e livro. Ainda sob esse aspect o,
t eríamos t ido mot ivo para deixar de escrevê-lo caso ignorássemos o que impele um f ilósof o
a considerá-lo ingênuo ao aplicar o crit ério da at ualidade. Cont udo, sabemos muit o bem
como, no sent ido de Kant , aqui se t ranscendem t odos os limit es de um conheciment o
possível; podemos imaginar como Herbart 3 consideraria ist o um ‘ realismo ingênuo’ que não
chegou à ‘ elaboração dos conceit os’ , et c. , et c. ; é possível at é sabermos como o
pragmat ismo moderno de um James4 , de um Schiller 5 , et c. t eria considerado ult rapassada
[ aqui] a medida das “ verdadeiras represent ações ment ais que podemos t ornar próprias,
valorizar, pôr em vigor e verif icar” . 6 Alguém pode saber t udo isso e, mesmo assim, ou
j ust ament e por causa di sso, pode considerar-se aut orizado a escrever as present es
explanações. O aut or dest e livro se ocupou com as corrent es do pensament o f ilosóf ico em
seus livros Er kennt ni st heor i e der Goet heschen Wel t anschauung [ Gnosiologia da cosmovisão
goet hiana] 7 , Ver dade e ci ênci a 8 , A f i l osof i a da l i ber dade 9 , Goet hes Wel t anschauung [ A
cosmovisão goet hiana] 10 , Wel t -und Lebensanschauungen i m neunzehnt en Jahr hunder t
[ Concepções do mundo e da vida no século XIX] 11 e Di e Rät sel der Phi l osophi e [ Os enigmas

2
Immanuel Kant (1724—1804), f ilósof o. (N. E. )
3
Johann Friedrich Herbart (1776—1841), f ilósof o e inf luent e pedagogo. (N. E. orig. )
4
William James (1842—1910), americano; psicólogo, f ilósof o e psicólogo da religião, f undador do
pragmat ismo. (N. E. orig. )
5
Ferdinand Canning Scot t Schiller (. 1864—1937), f ilósof o inglês, ligou o pragmat ismo ao humanismo. (N. E.
orig. )
6
Alguém pode at é mesmo t er-se dedicado seriament e ao est udo da f ilosof ia do ‘ Como se’ [ Al s ob, de Hans
Vaihinger (1852—1933)] , ao bergsonisnio [ escola f ilosóf ica de Henri Bergson (1859—1941)] e à ‘ Crít ica da
linguagem [ Kr i t i k der Spr ache, de Frit z Maut hner (1849—1923)] . (N. A. —4. ed. orig. , 1913. )
7
Ed. bras. sob o t ít ulo Linhas básicas para uma t eoria do conheciment o na cosmovisão de Göet he, t rad. Bruno
Callegaro (São Paulo: Ant roposóf ica, 1986). (N. E. )
8
Ed. bras. t rad. Rudolf Lanz (São Paulo: Ant roposóf ica, 1985). (N. E. )
9
Ed. bras. t rad. Alcides Grandisoli (2. ed. São Paulo: Ant roposóf ica, 1988). (N. E. )
10
1. ed. 1897. At ualment e GA-Nr. 6 [ 8. ed. Dornach: Rudolf St einer Verlag, 1990] . (N. E. orig. )
11
1. ed. 2 vol. (1900—1901). Ed. ampliada sob o t ít ulo Die Rät sel der Phi l osophi e in i hr er Geschi cht e al s
Umr i ss dar gest el l t , 2 vols. (1914). At ualment e GA-Nr. 18 [ 9. ed. Dornach: Rudolf St einer Verlag, 1985] . (N. E.

4
da Filosof ia] . 12
Muit os t ipos de crít icas possíveis ainda poderiam ser cit ados. Pode t ambém exist ir
alguém que, t endo lido uma de nossas primeiras obras — por exemplo, Wel t - und
Lebensanschauungen i m neunzehnt en Jahr hunder t ou nosso pequeno livro Haeckel und
sei ne Gegner [ Haeckel e seus oponent es] 13 —, diga a si mesmo: “ É verdadeirament e
inconcebível que a mesma pessoa t enha escrit o esses livros e t ambém, além da j á
publicada obra Teosof i a 14 , agora est a. Como é possível , de um lado, t omar a def esa de
Haeckel 15 e, de out ro, dar uma bof et ada no ‘ monismo’ sadio decorrent e de suas pesquisas?
Seria compreensível que o aut or dest a Ci ênci a Ocul t a arremet esse cont ra Haeckel ‘ a f erro
e a f ogo’ ; mas que o t enha def endido e at é lhe dedicado sua obra Wel t - und
Lebensanschauungen i m neunzehnt en Jahr hunder t é, segurament e, a coisa mais
monst ruosa que alguém possa imaginar. Haeckel t eria declinado dessa dedicat ória com
inconf undível aversão se soubesse que um dia o of erent e escreveria um disparat e como o
que cont ém est a Ci ênci a Ocul t a, com seu dualismo mais do que grosseiro. ”
Ora, nós opinamos que é possível compreender muit o bem Haeckel sem precisar
acredit ar que sua compreensão só sej a viável quando se qualif ica como absurdo t udo o que
não decorra de suas concepções e hipót eses. Além disso, somos da opinião de que não se
chega à compreensão de Haeckel combat endo-o ‘ a f erro e a f ogo’ , e sim est udando o que
ele proporcionou à ciência. E acredit amos ainda menos na razão daqueles cont ra os quais
def endemos o grande nat uralist a em seu livro Haeckel und sei ne Gegner . Realment e,
quando t ranscendemos as premissas de Haeckel e est abelecemos uma concepção espirit ual
do Universo ao lado da concepção merament e nat uralist a de Haeckel, ist o não signif ica
que compart ilhemos da opinião de seus oponent es. Quem se esf orçar em ver o assunt o
corret ament e j á poderá perceber a concordância ent re nossos escrit os ant eriores e os
at uais.
Também nos parece t ot alment e compreensível que algum crít ico considere, sem mais
nem menos, o cont eúdo dest e livro como ef usões de uma f ant asia exalt ada ou como um
j ogo visionário de conceit os. No ent ant o, o que cabe dizer a esse respeit o est á cont ido no
próprio livro. Nele se evidencia como o pensament o racional pode e deve ser, em t ot al
medida, a pedra-de-t oque do que f oi expost o. Soment e quem examinar est e cont eúdo
racionalment e, do mesmo modo como cost uma analisar obj et ivament e os f at os da Ciência
Nat ural, poderá decidir o que diz a razão em t al análise.
Após t ant os coment ários sobre as pessoas que à primeira vist a poderiam repudiar est e
livro, sej a-nos permit ido dizer al gumas palavras acerca das que t êm mot ivos para aprová-
lo. Para elas, o essencial est á cont ido no primeiro capít ul o, ‘ O carát er da Ciência Ocult a’ ;
porém aqui devemos acrescent ar algo mais. Embora o livro se ocupe com pesquisas não
verif icáveis pelo int elect o ligado ao mundo sensório, nada se expõe que não possa ser
comprovado pela razão imparcial e pelo sent ido sadio da verdade de qualquer pessoa
dispost a a f azer uso de t ais f aculdades. Est e aut or af irma sem rodeios: ele pref ere
sobret udo leit ores que não aceit em o present e cont eúdo com uma f é cega, e sim que se
esf orcem para comprová-lo valendo-se dos conheciment os da própria alma e das
experiências da própria vida. 16 Ele gost aria de t er principalment e leit ores pr ecavi dos, que

orig. )
12
Obra mencionada a part ir da 7. ed. orig. , 1920. [ V. n. 11. ] (N. E. orig. )
13
1. ed. 1900. At ualment e em Met hodi sche Gr undl agen der Ant hr oposophi e 1884— 1901, GA-Nr. 30 [ 3. ed.
Dornach: Rudolf St einer Verlag, 1989] . (N. E. orig. )
14
Ed. brasileira t rad. Daniel Brilhant e de Brit o (5. ed. São Paulo: Ant roposóf ica, 1996). (N. E. )
15
Ernst Haeckel (1834—1919), cient ist a nat ural cont inuador da t eoria evolucionist a de Darwin. (N. E. )
16
Ref erimo-nos não apenas à comprovação cient íf ico-espirit ual pelos mét odos de invest igação supra-sensível,
mas principalment e à comprovação i nt ei r ament e possível por meio do pensament o e do senso comum sadios e
imparciais. [ NA. — 4. ed. orig. , 1913. ]

5
só reconheçam argument os com j ust if icação lógica. Sabe que seu livro não t eria qual quer
valor se cont asse apenas com a f é cega, sendo út il soment e na medida em que possa
j ust if icar-se ant e um crit ério imparcial. A f é cega pode conf undir muit o f acilment e a
insensat ez e a superst ição com a verdade. Algumas pessoas que de bom grado se sat is-
f azem com a simples crença no ‘ supra-sensível’ acharão que nest e livro se exige demais da
at ividade pensant e. Cont udo, as comunicações f eit as aqui não pret endem apenas
comunicar algo; a exposição f oi el abor ada de um modo adequado a uma observação
conscienciosa desse domínio específ ico da vida; pois t rat a-se do domínio onde as coisas
mais elevadas e o charlat anismo l eviano, bem como o conheciment o e a superst ição,
t ocam-se muit o f acilment e na vida real, e onde, principalment e, podem t ambém ser
muit o f acilment e conf undidos.
Quem est á f amiliarizado com a pesquisa supra-sensível not ará muit o bem, ao ler est e
livro, que se procurou mant er com precisão os limit es ent re o que se pode e deve
comunicar at ualment e, do âmbit o dos conheciment os supra-sensíveis, e o que só se deverá
expor mais t arde, ou ao menos de out ra f orma.

Dezembro de 1909
Rudol f St ei ner

Observações preliminares à quart a edição [ do original]

Quem decide expor result ados cient íf ico-espirit uais da f orma como est es são
descrit os nest e livro deve, ant es de mais nada, cont ar com o f at o de t al f orma ser
considerada inviável em círculos mais amplos. Com ef eit o, as exposições seguint es relat am
f at os dos quais o pensament o supost ament e exat o de nossa época af irma que
‘ provavelment e permanecem indet ermináveis para a int eligência humana’ . Quem conhece
e sabe avaliar as razões que induzem muit as pessoas sérias a af irmar t al impossibilidade
gost aria de f azer, sempre de novo, a t ent at iva de most rar em quais mal-ent endidos se
baseia a crença de que o conheciment o humano sej a incapaz de penet rar nos mundos
supra-sensíveis.
Ora, nisso se subent endem dois aspect os. Em primeiro lugar, nenhuma alma humana,
após madura ref lexão, poderá negar incessant ement e que suas mais import ant es
indagações sobre o sent ido e o signif icado da vida deveriam permanecer sem respost a caso
não houvesse um acesso a mundos superiores. Teoricament e, alguém pode enganar a si
próprio sobre esse assunt o; porém a prof undeza da vida anímica não acompanha essa
ilusão. Quem não quiser dar ouvidos a essas prof undezas da alma rej eit ará, nat uralment e,
explicações sobre os mundos supra-sensíveis. Não obst ant e, exist em pessoas — cuj o
número real ment e não é pequeno — para as quais é impossível f azer-se de surdas diant e
das exigências dessas prof undezas. Elas sent em-se impelidas a bat er sem cessar nas port as
onde se encerra algo que, na opinião dos demais, é ‘ inconcebível’ .
Em segundo lugar, não se deve em absolut o menosprezar as explicações do
‘ pensament o exat o’ . Quem se ocupa delas saberá dist inguir quando levá-las a sério. O
aut or dest e livro não gost aria de ser considerado alguém que passa ao largo do imenso
t rabalho int elect ual dedicado a det erminar os limit es do int elect o humano. Esse t rabalho
int elect ual não pode ser simplesment e descart ado com algumas f rases sobre ‘ sabedoria
acadêmica’ e semelhant es. Em muit os casos, ele t em sua f ont e num verdadeiro esf orço do
conheciment o e em aut ênt ica perspicácia.
Bem, muit a coisa ainda deve ser admit ida: t êm sido apresent adas razões pelas quais

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o conheciment o at ualment e válido como cient íf ico não pode penet rar nos mundos supra-
sensíveis, e essas razões são, em cer t o sent i do, i r r ef ut ávei s.
Pelo f at o de isso ser reconhecido sem delongas pelo próprio escrit or dest e livro, a
muit os pode parecer est ranho que, apesar disso, el e decida dar explicações relat ivas aos
mundos superiores. De f at o, parece quase cont radit ório al guém admit ir em cer t o sent i do
as razões para a incognoscibilidade desses mundos e, não obst ant e, f alar sobre eles.
E no ent ant o t al procediment o é possível, podendo-se ao mesmo t empo compreender
que pareça uma cont radição. De f at o, nem t odos est ão dispost os a admit ir as experiências
que alguém f az ao se aproximar com o int elect o humano da região supra-sensorial. Ent ão
f ica evident e que as provas desse int elect o podem muit o bem ser i r r ef ut ávei s; e que,
apesar de sua i r r ef ut abi l i dade, elas não precisam ser decisivas para a realidade. Em lugar
de t odas as explicações t eóricas, t ent emos aqui proporcionar um ent endiment o por meio
de uma comparação. O f at o de as comparações não serem comprobat órias em si é algo
que t em de ser admit ido sem demora; porém isso não impede de elas t ornarem muit as
vezes compreensível o que se desej a expressar.
A at ividade cognit iva humana, t al como at ua na vida cot idiana e na ciência comum, é
realment e const it uída de f orma a não poder penet rar nos mundos superiores. Ist o pode ser
provado de maneira irref ut ável; só que para cert a modalidade da vida anímica essa prova
não possui mais valor do que aquela que alguém quisesse f azer para most rar que o olho
nat ural do homem, com sua capacidade visual, não pode alcançar as pequenas células de
um ser vivo ou a const it uição de longínquos corpos celest es. No ent ant o, a prova de que a
capacidade visual comum t em de det er-se diant e das células nada decide cont ra a
pesquisa das células. Por que ent ão a prova de que a capacidade cognit iva comum t em de
det er-se diant e dos mundos supra-sensíveis deveria decidir cont ra a possibilidade de
pesquisa desses mundos?
Pode-se imaginar a sensação que essa comparação deve provocar em algumas
pessoas. Pode-se at é compreender que se duvide da possibilidade de alguém t er a mínima
idéia de t oda a seriedade do mencionado t rabalho int elect ual def ront ando-o munido
apenas de t al comparação. No ent ant o, o aut or dest as l inhas não só est á compenet rado
dessa seriedade como t ambém opina que esse t rabalho int elect ual f igura ent re as mais
nobres realizações da humanidade. Demonst rar que a capacidade visual humana não pode
alcançar as células sem inst rument os adequados seria, cert ament e, uma t ent at iva
supérf lua; t ornar-se, em at ividade pensant e rigorosa, conscient e da nat ureza do pensar,
esse sim é um t rabalho espirit ual necessário, O f at o de quem se dedica a t al t rabalho não
perceber que a realidade pode cont radizê-l o é t ot alment e compreensível. Do mesmo
modo como as observações preliminares a est e livro não podem ser o local para det alhar
as muit as ‘ obj eções’ às primeiras edições — advindas de pessoas dest it uídas de qualquer
compreensão do nosso obj et ivo, ou que nos dirigem at aques pessoais inverídicos —,
t ambém cumpre ressal t ar que só pode at ribuir a est e livro um menosprezo pelo sério
t rabalho int elect ual cient íf ico quem desej e f echar-se ao car át er das explanações.
A at ividade cognit iva humana pode ser f ort alecida, revigorada, do mesmo modo como
se pode f ort alecer a capacidade visual do ol ho. Só que os meios para o f ort aleciment o do
conhecer são de nat ureza int eirament e espirit ual; t rat a-se de procediment os int eriores,
purament e anímicos. Eles consist em naquilo que nest e livro é descrit o como medit ação,
concent ração (cont emplação). A vida anímica comum est á ligada aos inst rument os do cor-
po; a vida anímica f ort alecida se libert a deles. Exist em ment alidades cont emporâneas
para as quais t al af irmat iva deve parecer t ot alment e absurda, não passando de il usão. De
seu pont o de vist a, elas acharão f ácil comprovar como ‘ t oda a vida anímica’ est á ligada ao
sist ema nervoso. Quem compart ilha do pont o de vist a da elaboração dest e livro

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compreende int eirament e t ais comprovações; e compreende as pessoas que af irmam ser
mera superf icialidade af irmar a exist ência de uma vida anímica independent e do corpo —
aquelas que est ão perf eit ament e convencidas de que para essas experiências anímicas
exist e uma conexão com a vida dos nervos, conexão que o ‘ dilet ant ismo cient íf ico-
espirit ual’ é incapaz de descobrir.
Aqui se cont rapõem t ão asperament e, ao cont eúdo dest e livro, cert os — aliás,
t ot alment e compreensíveis — hábit os de pensarnent o, que com muit os deles uma
conciliação f ica at ualment e inviável. Diant e disso, cabe expressar o desej o de que na
at ualidade as pessoas não at ribuam mais, na vida espirit ual, a caract eríst ica de f ant ást ica
e visionária a t oda orient ação de pesquisa que se af ast e t erminant ement e da sua própria.
De out ro lado, porém, exist e at ualment e o f at o de o t ipo de pesquisa supra-sensível
expost o nest e livro ser compreendido por um cert o número de pessoas; essas pessoas se
dão cont a de que o sent ido da vida não se revela em palavreados genéricos sobre a alma,
o sel f , et c. , só podendo result ar da verdadeira compreensão dos result ados da pesquisa
supra-sensível. Não é por imodést ia, mas por grat a sat isf ação, que sent imos a necessidade
de publicar est a quart a edição após um lapso de t empo relat ivament e curt o.
Para conf irmar que não se t rat a de imodést ia, declaramos sent ir plenament e o
quant o est a nova edição t ambém carece de corresponder ao que realment e deveria ser um
‘ esboço de uma cosmovisão supra-sensorial’ . Mais uma vez se reelaborou t odo o cont eúdo
para a nova edição; f oram int roduzidas muit as complement ações em passagens
import ant es, e houve um esf orço por novos esclareciment os. Cont udo, em numerosas
passagens sent imos quão rudiment ares se most ram os meios de expressão disponíveis
f rent e ao que a pesquisa espirit ual revela. Assim, mal pôde ser most rado um caminho para
se chegar às represent ações ment ais do que, nest e livro, corresponde à evolução de
Sat urno, do Sol, da Lua. Um import ant e pont o de vist a, t ambém nesse domínio, f oi
sucint ament e reelaborado. Cont udo, as vivências com relação a essas coisas divergem
t ant o de t odas as vivências do mundo sensível que a exposição gera uma lut a const ant e
em busca de uma expressão razoavelment e sat isf at ória. Quem quiser aprof undar-se na
t ent at iva f eit a nest a exposição t alvez not e que, na impossibilidade de dizer cert as coisas
f ace à aridez das palavras, f ez-se um esf orço quant o à manei r a de explanar. Est a dif ere,
por exempl o, no caso da evolução sat urnina, da evolução solar, et c.
Muit os complement os e ampliações que consideramos import ant es f oram f eit os, na
nova edição, para a segunda part e do livro, ref erent e ao ‘ conheciment os dos mundos
superiores’ . Foi nossa int enção descrever clarament e a nat ureza dos processos anímicos
int eriores, por cuj o int ermédio o conheciment o se libert a de seus limit es exist ent es no
mundo sensorial e se t orna apt o a vivenciar o mundo supra-sensível. Procuramos most rar
que essa experiência, embora sej a adquirida por meios e vias int eirament e int eriores, não
t em um signif icado merament e subj et ivo para quem a adquire. Da exposição deveria
evidenciar-se que dent r o da al ma é abandonada a individualidade e a pecul iaridade
pessoal, alcançando-se uma experiência igual para t odo ser humano que conduza
corret ament e seu desenvolviment o a part ir de suas vivências subj et ivas. Soment e
concebendo o ‘ conheciment o dos mundos superiores’ com t al carát er é que se pode dis-
t ingui-lo de t odas as vivências de uma míst ica merament e subj et iva. Dest a se pode muit o
bem dizer que se t rat a mais ou menos de um assunt o pessoal do míst ico. No ent ant o, a
disciplina cient íf ico-espirit ual da al ma, no sent ido aqui expost o, esf orça-se em direção a
t ais vivências obj et ivas, cuj a verdade é reconhecida num âmbit o bem int erior e,
j ust ament e por isso, é compreendida em sua validade genérica. Eis aqui t ambém um
pont o onde a conciliação com cert os hábit os ment ais de nossa época f ica bem dif ícil.
Finalizando, gost aríamos de solicit ar que t ambém de part e dos bem-int encionados

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est as exposições possam ser consideradas pelo que são, de acordo com seu próprio
cont eúdo. Hoj e em dia, é f reqüent e a t endência a dar a est a ou aquela direção espirit ual
est e ou aquele nome ant igo. Só assim elas parecem válidas para algumas pessoas.
Cont udo, cabe pergunt ar: o que ganhariam as explicações dest e livro se as classif icassem
de ‘ rosacrucianas’ ou algo semelhant e? O import ant e é procurarmos t er uma visão dos
mundos supra-sensíveis com os meios possíveis e adequados à alma na present e época
evolut iva, e que, desse pont o de vist a, sej am observados os enigmas do dest ino e da
exist ência humana além dos limit es do nasciment o e da mort e. Não se deve t rat ar de uma
aspiração port adora dest e ou daquele nome ant igo, mas de uma aspiração rumo à
verdade.
De out ro lado, designações host is t ambém f oram ut ilizadas para a cosmovísão
expost a nest e livro. Abst raindo-se do f at o de aquelas dest inadas a f erir e desacredit ar
mais gravement e o aut or são absurdas e obj et ivament e ment irosas, t ais designações, em
sua indignidade, caract erizam-se por denegrír um esf orço t ot alment e i ndependent e em
direção à verdade, à medida que t ais pessoas não o j ulgam por si — querem apresent ar a
out ros, como j uízo, a subordinação a est a ou aquela direção, invent ada por el as ou aceit a
de modo inf undado e depois levada adiant e.
Embora t ais palavras sej am necessárias em vist a de algumas agressões à nossa
pessoa, repugna-nos alongar o assunt o nest e cont ext o.
Junho de 1913
Rudol f St ei ner

Pref ácio à sét ima edição [ do original]

Para est a nova edição de minha Ci ênci a Ocul t a, eu ref ormulei quase t ot alment e o
primeiro capít ulo, ‘ O carát er da Ciência Ocul t a’ . Acredit o que com ist o haj a menos ensej o
para os mal -ent endidos que vi surgir a part ir de sua redação ant erior. De muit os l ados eu
pude ouvir: “ Out ras ciências demonst ram; o que aqui se apresent a como ciência diz
simplesment e: a Ciência Ocult a const at a ist o ou aquilo. ” Tal preconceit o se est abelece,
nat uralment e, pelo f at o de o comprovant e do conheciment o supra-sensível não poder
impor-se pela exposição t al qual se expõem relações da realidade sensorial. Cont udo, o
f at o de t rat ar-se apenas de um preconceit o eu quis deixar mais claro, pela reelaboração
do primeiro capít ulo dest e livro, do que me parece t er conseguido em edições ant eriores.
Nas out ras part es do livro procurei, mediant e complement ações do cont eúdo,
salient ar mais cert os argument os. Por t odo o t ext o me empenhei, em inúmeras passagens,
em modif icar a redação do cont eúdo, o que me t ornou necessário repassar a leit ura do
que j á havia expost o.

Berlim, maio de 1920


Rudol f St ei ner

Pref ácio à décima sext a edição [ do original]

Agora, t ranscorridos quinze anos da primeira edição dest e livro, parece-me oport uno
dizer publicament e algo a respeit o da disposição anímica que o mot ivou.
Originalment e, era minha int enção colocar o cont eúdo essencial dest a obra como

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capít ulo f inal de meu livro Teosof i a. Ist o não ocorreu. Esse cont eúdo ainda não assumira
sua f orma def init iva em mim como o da Teosof i a, quando est a f oi publicada. Em minhas
imaginações, eu t inha diant e da minha alma o ent e espirit ual do ser humano isolado, e era
capaz de descrevê-lo; cont udo, naquela época eu ainda não visualizava da mesma f orma
as relações cósmicas que deveriam ser expost as em A Ci ênci a Ocul t a. Elas est avam
present es em det alhes, mas não como visão de conj unt o.
Resolvi, port ant o, publicar a Teosof i a com o cont eúdo que eu vislumbrara como a
essência na vida de um ser humano individual, deixando a elaboração de A Ci ênci a Ocul t a
para um f ut uro próximo, com t oda a calma.
De acordo com minha disposição anímica daquela época, o cont eúdo do livro deveria
ser dado em pensament os que, para a apresent ação do âmbit o espirit ual, f ossem
aperf eiçoament os adequados dos pensament os aplicados nas Ciências Nat urais. Pelas
‘ Observações preliminares à primeira edição’ aqui reproduzidas, pode-se const at ar o
quant o, em t udo o que ent ão escrevi sobre conheciment o espirit ual, eu me sent ia
responsável perant e as Ciências Nat urais.
Cont udo, soment e com t ais pensament os não se pode expor o que se revela à visão
supra-sensível como mundo do espírit o — pois essa revelação não cabe num mero cont eúdo
int elect ual. Quem conheceu, por experiência própria, a essência de t ais revelações sabe
que os pensament os da consciência habit ual são apropriados apenas para comunicar as
percepções sensoriais, e não para revelar o que se observa espirit ual ment e.
O cont eúdo da visão espirit ual só pode expressar-se por meio de imagens
(imaginações), at ravés das quais f alam inspirações provenient es da ent idade espirit ual
vivenciada de modo int uit ivo. (Sobre a essência da imaginação, da inspiração e da
int uição, o necessário encont ra-se nest e A Ci ênci a Ocul t a e em meu livro O conheci ment o
dos mundos super i or es.
No ent ant o, quem descreve imaginações do mundo espirit ual não pode, at ualment e,
limit ar-se apenas a apresent ar essas imaginações. Com ist o colocaria ao l ado do cont eúdo
cognit ivo de nossa época algo com um cont eúdo de consciência sem qualquer ligação com
aquele. Ele deve preencher a consciência at ual com aquilo que uma out ra consciência, ao
cont emplar o mundo espirit ual, é capaz de conhecer. Ent ão seu relat o t erá por cont eúdo
esse mundo espirit ual; porém t al cont eúdo se apresent a sob f orma de pensament os aos
quais ele t em acesso. Com isso t al cont eúdo se t ornará plenament e compreensível à
consciência comum, que pensa conf orme a at ualidade mas ainda não t em visão do mundo
espirit ual . Essa compreensão só f alt ará se a própria pessoa lhe ant epuser obst áculos —
ident if icando-se com os modernos preconceit os relat ivos aos ‘ limit es do conheciment o’ ,
criados por uma concepção errônea da nat ureza.
No conheciment o espirit ual, t udo est á imerso em ínt ima vivência anímica — não
apenas a cont emplação espirit ual em si, mas t ambém o ent endiment o das comunicações
do vident e pela consciência normal não-vident e. Não f az a menor idéia dessa int imidade
quem af irma, por dilet ant ismo, que o supost o ent endiment o não passa de aut o-sugest ão.
Ocorre, porém, que aquilo que dent ro da compreensão do mundo f ísico se esgot a apenas
em conceit os, como verdade ou erro, t orna-se vivência f rent e ao mundo espirit ual.
Quando alguém deixa seu j uízo ser invadido — mesmo só como leve sensação — pela
af irmat iva de que a visão espirit ual não pode ser compreendida pela consciência comum,
ainda não-vident e — por causa de seus limit es —, esse j uízo baseado em sensação se
ant epõe ao ent endiment o como uma nuvem escurecedora; e a pessoa realment e nada
pode ent ender. Cont udo, para a consciência imparcial não-vident e a visão será
plenament e compreensível se o vident e a int roduzir sob f orma de pensament os; ela será
compreensível como é, para um leigo, a t ela pront a de um pint or. Na verdade, seu

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ent endiment o do mundo espirit ual não ocorrerá por sent iment o art íst ico, como diant e de
uma obra de art e; será absolut ament e racional como diant e do conheciment o da nat ureza.
Para, no ent ant o, realment e possibilit ar t al ent endiment o, quem expõe visões espirit uais
deve vert ê-las corret ament e em pensament os, sem que elas percam seu carát er
imaginat ivo.
Tudo isso est ava diant e de minha al ma quando elaborei minha Ci ênci a Ocul t a.
Em 1909, sent i que com t ais premissas eu est ava em condições de redigir um livro
que, em primeiro lugar, t rouxesse vert ido em pensament os o cont eúdo de minha visão
espirit ual at é cert o grau, porém inicialment e sat isf at ório; e, em segundo lugar, pudesse
ser compreendido por qualquer pessoa pensant e que não opusesse quai squer obst ácul os à
compreensao.
Digo isso hoj e revelando, ao mesmo t empo, que naquela época (1909) a publicação
do livro me pareceu uma f açanha, pois eu sabia que não podi am t er isenção de ânimo
j ust ament e aqueles que se dedicavam prof lssionalment e à Ciência Nat ural, nem t ampouco
as inúmeras personalidades que, em seus j uízos, dependiam deles. No ent ant o, est ava
present e diant e de minha alma o f at o de, na época em que a consciência da humanidade
se havia af ast ado ao máximo do mundo espirit ual, as comunicações desse mundo espirit ual
serem uma necessidade imperiosa. Eu cont ava com a exist ência de pessoas que sent issem
ora mais, ora menos o af ast ament o da espirit ualidade como um impediment o t ão grave em
suas vidas que assimilassem com ínt ima ansiedade as comunicações do mundo espirit ual.
Os anos seguint es conf irmaram t udo isso. Tant o Teosof i a como A Ci ênci a Ocul t a, que
pressupõem leit ores com boa vont ade para enf rent ar um est ilo dif ícil, t iveram ampla
divulgação como l ivros.
Eu me esf orcei bem conscient ement e para não f azer uma exposição ‘ popular’ , e sim
uma que exigisse um aut ênt ico esf orço ment al para se penet rar no cont eúdo. Com isso
imprimi a meus livros um carát er t al que sua leit ura j á const it ui, por si, o início de uma
disciplina espirit ual ; pois o t ranqüilo e sereno esf orço ment al exigido por essa leit ura
revigora as f orças anímicas e capacit a-as a aproximar-se do mundo espirit ual.
O f at o de eu t er dado ao livro o t ít ulo A Ci ênci a Ocul t a suscit ou imediat ament e mal-
ent endidos. Segundo a obj eção de alguns, o que pret ende ser ‘ ciência’ não pode ser
‘ ocult o’ . O quant o essa obj eção f oi pouco ponderada! Como se quem públ i ca um cont eúdo
quisesse f azê-lo mant endo-o ‘ ocul t o’ . . . ! O l ivro t odo demonst ra que nada é designado
como ‘ ocult o’ — ao cont rário, t eve de ser apresent ado de f orma a t ornar-se t ão
compreensível quant o qualquer ‘ ciência’ . Ou será que, ao se usar a expressão ‘ Ciência
Nat ural’ , não se quer indicar que se t rat a de um saber sobre a nat ureza? A Ciência Ocult a
é a ciência daquilo que ocorre ‘ secret ament e’ na medida em que não é percebido lá f ora,
na nat ureza, e sim na região para onde a al ma se orient a ao dirigir seu ínt imo ao espírit o.
‘ Ciência Ocult a’ é a ant ít ese da ‘ Ciência Nat ural’ .
Às minhas visões do mundo espirit ual t em sido repet idament e obj et ado que se t rat a
apenas de reproduções modif icadas de imagens que, nos t empos ant igos, as pessoas
f aziam desse mundo espirit ual. Argument ou-se que eu t eria lido muit as coisas; que est as
t eriam sido assimiladas por meu subconscient e e que, acredit ando serem produt os de
minha própria visão, eu t eria passado a expô-l as. Minhas descríções t eriam sido ext raídas
de dout rinas gnóst icas, de t ext os da sabedoria orient al, et c.
Ao af irmar isso, cert as pessoas t êm mant ido seus pensament os t ot alment e na
superf ície.
Meus conheciment os do âmbit o espirit ual — disso t enho plena consciência — são o
result ado de visão própria. Durant e t odo o t empo eu me cont rolei rigorosament e, t ant o
em t odos os pormenores como nas grandes visões panorâmicas, para que a mais lúcida

11
consciência acompanhasse cada passo de meu avanço clarivident e. Tal como o mat emát ico
progride de pensament o em pensament o, sem que a inconsciência, a aut o-sugest ão, et c.
desempenhe qualquer papel, assim t ambém — disse eu a mim mesmo — a visão espirit ual
deve avançar de uma imaginação obj et iva para out ra, sem que nada viva na alma a não
ser o cont eúdo espirit ual de uma consciência clarament e lúcida.
O conheciment o de que uma imaginação não é uma imagem merament e subj et iva, e
sim a reprodução pict órica de um cont eúdo espirit ual obj et ivo, é obt ido mediant e uma
vivência int erior sadia. No plano anímico-espirit ual, ist o se consegue do mesmo modo
como, no domínio da observação sensorial — em se t rat ando de um organismo saudável —,
dist inguem-se corret ament e imagens il usórias de percepções obj et ivas.
Assim, pois, eu t inha diant e de mim os resul t ados de minha visão. Inicialment e,
t rat ava-se de ‘ cont emplações’ sem nome. Para t ransmit i-las eu necessit ava de
designações verbais. Assim, só mai s t ar de eu as procurei em descrições mais ant igas do
mundo espirit ual, para poder expressar em palavras o que ainda não f ora verbalizado. Usei
essas designações verbais livrement e, de modo que só ocasionalment e al guma delas
coincide, em minha t erminologia, com seu sent ido no cont ext o onde a encont rei. De
qualquer modo, eu busquei a possibilidade de sempr e expressar-me soment e depois de o
cont eúdo t er despont ado em mim por visão própria.
Quant o às l ei t ur as ant er i or es, eu sempre soube eliminá-las durant e minha própria
pesquisa vident e, graças à disposição de consciência recém-descrit a. Pois bem, em minhas
expr essões f oram encont rados ecos de ant igas idéias. Sem aprof undar-se no cont eúdo, as
pessoas se at iveram a t ais expressões. Se eu f alei em ‘ f lores de lot o’ no corpo ast ral
humano, isso seria uma prova de que eu est aria reproduzindo dout rinas indianas, onde se
encont ra essa expressão. Já ao f al ar em ‘ corpo ast ral ’ , isso seria o result ado da leit ura de
escrit os medievais. Por t er usado as expressões ‘ Anj os’ , ‘ Arcanj os’ , et c. , eu est aria apenas
rest aurando as idéias da gnose crist ã.
Foi esse modo de pensar t ot alment e superf icial que eu encont rei, repet idas vezes,
f azendo-me oposição.
Eu gost aria de apont ar t ambém, por ocasião dest a nova edição de A Ci ênci a Ocul t a, o
seguint e f at o: o livro cont ém o esboço da Ant roposof ia como um t odo; port ant o, será
especialment e at ingido pelos mal-ent endidos a que est a se expõe.
Desde a época em que, em minha alma, as imaginações reproduzidas nest a obra
convergiram para um quadro global, eu cont inuei inint errupt ament e a desenvolver a visão
invest igat iva dos homens, da evolução hist órica da humanidade, do Cosmo, et c. ; em
pormenores, cheguei sempre a novos result ados. No ent ant o, o que apresent ei há quinze
anos como um esboço em A Ci ênci a Ocul t a não sof reu, para mim, qualquer abalo. Tudo o
que me f oi possível dizer desde ent ão aparece, ao ser inserido no lugar adequado dest e
livro, como uma ampliação do esboço f eit o naquela época.

Goet heanum [ Dornach] , 10 de j aneiro de 1925


Rudol f St ei ner

O carát er da Ciência Ocult a

Uma ant iga expressão — ‘ Ciência Ocult a’ — é at ribuída ao cont eúdo dest e livro. A
denominação pode provocar, nas pessoas de nossa época, as mais cont radit órias
sensações. Para muit as, possui algo de repulsivo; suscit a coment ários irônicos, sorriso de

12
compaixão, t alvez desprezo. Tais pessoas imaginam que um modo de pensar assim
designado só possa consist ir em sonhos ociosos, em visões f ant ást icas; que por det rás
dessa ‘ pret ensa’ ciência só possa ocult ar-se a compulsão de reat ivar t oda espécie de
superst ições — repudiadas, e com razão, por quem conheceu o ‘ verdadeiro espírit o
cient íf ico’ e o ‘ genuíno anseio por conheciment o’ . Sobre out ras pessoas, a expressão at ua
como se o sent ido implícit o lhes devesse proporcionar algo impossível de ser alcançado por
qualquer out ro caminho, onde elas se sent em at raídas, segundo sua predisposição, por um
prof undo anseio int erior de conheciment o ou pela curiosidade sublimada da alma. Ent re
t ais opiniões t ão diamet ralment e opost as, exist em t odos os mat izes possíveis de est ados
int ermediários de repúdio condicional ou aceit ação daquilo que est a ou aquela pessoa
imagina ao ouvir a designação ‘ Ciência Ocult a’ .
É inegável que, para alguns, o t ermo ‘ Ciência Ocult a’ possui uma sonoridade mágica
por parecer sat isf azer sua f at al nost algia em relação a um saber ‘ ignot o’ , mist erioso —
enf im, obscuro —, impossível de adquirir por um caminho nat ural. Isso porque muit as
pessoas não desej am sat isf azer as aspirações mais prof undas de sua alma por meio de algo
que possa ser clarament e conhecido. Sua convicção é a seguint e: além do que se pode
conhecer no mundo, deve exist ir algo mais que se subt raia à cognição. De f orma
est ranhament e paradoxal, da qual não se dão cont a, elas recusam, em seus mais
prof undos anseios de saber, o que é ‘ conhecido’ , desej ando apenas a validade de algo
considerado incognoscível por meio da pesquisa aplicada à nat ureza. Quem f ala de
‘ Ciência Ocult a’ f az bem em considerar as int erpret ações errôneas causadas por t ais
def ensores de uma ciência desse gênero — def ensores que não aspiram a um saber, mas ao
seu opost o.
Est as explanações dest inam-se a leit ores que não se deixam despoj ar de sua
imparcialidade pelo f at o de, sob diversas circunst âncias, um a expressão provocar
preconceit os. Não se t rat a aqui de um saber que em qualquer sent ido se possa considerar
‘ secret o’ , acessível apenas a alguns por circunst âncias especiais do dest ino. Faremos j us
ao uso aqui propost o da expressão se considerarmos o que Göet he t em em ment e ao
ref erir-se aos ‘ mist érios manif est os’ nos f enômenos do Universo. 17 O que permanece ‘ ocul-
t o’ , não-manif est o nesses f enômenos, ao serem eles compreendidos apenas pelos sent idos
e pelo int elect o a est es ligado, é considerado como o cont eúdo de uma f orma supra-
sensível de conheciment o. 18 Para quem considera ‘ ciência’ apenas o que se revela por
meio dos sent idos e do int elect o a serviço dest es, nat uralment e o que se subent ende aqui
como ‘ Ciência Ocult a’ não é ciência alguma. Cont udo, se quisesse compreender a si
própria, t al pessoa deveria reconhecer est ar recusando uma ‘ Ciência Ocult a’ não por um
discerniment o f undament ado, mas por um j ulgament o arbit rário oriundo de uma
sensibil idade purament e pessoal.
Para se enxergar isso, bast a considerar como a ciência surge e que signif icado t em
ela na vida humana. O surgiment o da ciência, segundo sua nat ureza, não é reconhecido

17
“Exist em t ant os mist érios manif est os porque o sent iment o dos mesmos surge na consciência de poucos, e
est es, por t emerem prej udicar a si próprios e a out ros, não deixam um esclareciment o int erior verbalizar-se. ”
Göet he a Ch. L. F. Schult z (28. 11. 1821) em Goet hes Wer ke (Weimar, 1906), t . IV, vol. 35, p. 192. (N. E. orig. )

18
Parece que a expressão ‘ Ciência Ocult a’ — t al como f oi empregada por nós em edições ant eriores — f oi
impugnada j ust ament e por se alegar que uma ciência não pode ser algo ‘ ocult o’ para quem quer que sej a.
Haveria razão nisso se o assunt o implicasse t al int enção, o que não é o caso. Assim como a ciência da nat ureza
não pode ser chamada de Ciência ‘ Nat ural’ no sent ido de pert encer ‘ pela própria nat ureza’ a cada um,
t ampouco est e aut or subent ende por ‘ Ciência Ocult a uma ciência escondida’ , e sim uma ciência relacionada
com o que, para a f orma comum de conheciment o, permanece i r r evel ado nos f enômenos do mundo — uma
ciência do ocult o’ , do ‘ mist ério manif est o’ . Cont udo, essa ciência não deve const it uir mist ério para ninguém
que busque seus conheciment os pelos caminhos adequados. (N. A. )

13
nos obj et os capt ados por ela; é reconhecido no t ipo de at ividade anímica humana que
surge no esf orço cient íf ico. O modo como a alma se comport a ao elaborar a ciência, eis o
que se deve ver. Quando se adquire o hábit o de só colocar em ação esse t ipo de at ividade
ao considerar as manif est ações dos sent idos, f acilment e se f orma a opinião de que essa
manif est ação sensória é o essencial. Ent ão se deixa de ver que um cert o comport ament o
da alma humana f oi empregado apenas para a manif est ação dos sent idos. No ent ant o,
pode-se t ranscender essa aut olimit ação arbit rária e, abst raindo da aplicação específ ica,
considerar as caract eríst icas da at ividade cient íf ica. É ist o o que se subent ende aqui ao se
dizer que o conheciment o de um cont eúdo não-sensório do mundo é ‘ cient íf ico’ . A
int eligência humana quer est ar t ão at iva j unt o a esse cont eúdo do mundo quant o o é no
caso dos cont eúdos cient íf ico-nat urais desse mesmo mundo.
A Ciência Ocult a desej a emancipar o mét odo e a at it ude invest igat iva das Ciências
Nat urais — os quais, em sua esf era, se at êm ao cont ext o e ao decorrer dos f at os sensórios
— dessa apl icação especial, porém conservando-os em sua caract eríst ica pensament al e
out ras. Ela quer f alar sobre o não-sensível do mesmo modo como as Ciências Nat urais
f alam do sensível. Enquant o a Ciência Nat ural permanece no âmbit o sensível com esse
mét odo de invest igação e essa maneira de pensar, a Ciência Ocult a desej a considerar o
t rabalho anímico j unt o à nat ureza como uma espécie de aut o-educação da alma,
aplicando os f rut os dessa educação ao âmbit o não-sensível. Ela desej a proceder de modo a
f alar não sobre os f enômenos sensíveis como t ais, e sim sobre os cont eúdos não-sensíveis
do mundo t al qual o pesquisador da nat ureza f ala sobre os sensíveis. Do procediment o
cient íf ico-nat ural ela conserva a disposição anímica inerent e a ele, ou sej a, j ust ament e o
que f az do conheciment o da nat ureza uma ciência. Por isso lhe cabe designar-se como
ciência.
Quem considerar o signif icado da Ciência Nat ural na vida humana perceberá que esse
signif icado não pode esgot ar-se com a aquisição de conheciment os sobre a nat ureza, pois
j amais t ais conheciment os podem conduzir a al go além da vivência do que a própria alma
humana não é. O element o anímico não vive naquilo que o homem conhece j unt o à
nat ureza, mas no processo cognit ivo. E em sua at ividade j unt o à nat ureza que a alma
vivencia a si própria. O que ela adquire de modo vi vaz é algo diverso do próprio saber
sobre a nat ureza; t rat a-se do aut odesenvol viment o experiment ado no conheciment o da
nat ureza. A aquisição desse aut odesenvolviment o é o que a Ciência Ocult a quer aplicar em
domínios que t ranscendem a simples nat ureza. O ocult ist a não quer negar o valor da
Ciência Nat ural, e sim reconhecê-lo at é melhor do que o próprio cient ist a nat ural. Ele
sabe que sem a exat idão de raciocínio que vigora na Ciência Nat ural não lhe seria possível
f undament ar qualquer ciência; mas sabe t ambém que, uma vez adquirida mediant e um
aut ênt ico aprof undament o no espírit o do raciocínio cient íf ico-nat ural, essa exat idão pode
ser conservada, pel a f orça da al ma, para out ros domínios.
Sem dúvida, aqui surge algo preocupant e. Na observação da nat ureza, a alma é
guiada pelo obj et o observado em medida muit o maior do que no caso dos cont eúdos não-
sensíveis do mundo. Nest e últ imo caso, el a deve possuir em grau mais elevado, a part ir de
impulsos purament e int eriores, a capacidade de conservar a essência do raciocínio
cient íf ico. Como muit as pessoas acredit am — inconscient ement e — que essa essência só
possa mant er-se pelos mét odos dos f enômenos nat urais, sent em-se inclinadas a decidir,
mediant e uma declaração dogmát ica, que t ão logo esse mét odo sej a abandonado a alma
t at eará no vácuo com seus procediment os cient íf icos. Tais pessoas não se conscient izaram
da peculiaridade desse procediment o; em geral elas f ormam seus j uízos a part ir dos erros
que necessariament e surgem quando a at it ude cient íf ica j unt o aos f enômenos da nat ureza
não est á suf icient ement e consolidada e, apesar disso, a alma humana quer ent regar-se à

14
consideração das esf eras não-sensíveis do mundo. Obviament e, disso decorre muit a
declaração não-cient íf ica sobre os cont eúdos não-sensíveis do mundo. Isso não porque t al
manif est ação não possa, por sua nat ureza, ser cient íf ica, mas porque nesse caso especial
houve f alha na aut o-educação cient íf ica ao se observar a nat ureza.
Quem desej a f alar de Ciência Ocult a deve, na verdade, em relação ao que acaba de
ser dit o, t er um sent ido at ent o para t odo t ipo de f ogo f át uo que surge ao se est ipular sem
convicção cient íf ica algo sobre os mist érios manif est os do mundo. Cont udo, não seria de
proveit o algum ref erir-nos precisament e aqui, no início de exposições ligadas à Ciência
Ocult a, a t odos os possíveis erros que levam pessoas preconceit uosas a desdenhar qualquer
pesquisa nesse sent ido simplesment e por concluírem, ant e exist ência de t ant os erros
ef et ivos, que não se j ust if ica t odo o esf orço. Como, no ent ant o, a recusa da Ciência
Ocult a por part e de cient ist as ou crít icos de ment alidade cient íf ica se baseia, em geral, no
j ulgament o arbit rário ref erido acima, e a ref erência a erros é — muit as vezes
inconscient ement e — apenas um pret ext o, por ora uma discussão com t ais oposit ores é
pouco f rut íf era. Na verdade nada os impede de levant ar a obj eção, cert ament e j ust if ica-
da, de que a priori é impossível det erminar se quem considera o out ro equivocado
realment e possui o sól ido f undament o descrit o acima. Por isso o est udioso da Ciência
Ocult a só pode apresent ar o que acredit a est ar aut orizado a dizer. O j ulgament o sobre seu
direit o de f azê-lo só pode ser f eit o por out ras pessoas, porém soment e aquelas que,
evit ando qualquer manif est ação arbit rária, sej am capazes de compreender sua maneira de
comunicar os mist érios manif est os do suceder cósmico. Na verdade, cabe-lhe most rar
como o que ele comunica se relaciona com out ras conquist as do saber e da vida, quais são
as obj eções possíveis e em que medida a real idade sensorial imediat a conf irma suas obser-
vações. Todavia, ele nunca deveria aspirar a f azer sua exposição at uar mais pel a art e de
persuadir do que por seu cont eúdo.
Pode-se ouvir f reqüent ement e, a respeit o de explicações cient íf ico-esot éricas, a
obj eção de que est as não provam o que apresent am simplesment e af irmando ist o ou
aquilo e dizendo t rat ar-se de const at ações da Ciência Ocult a. Int erpret ará mal as
explanações a seguir quem acredit ar que nelas se apresent e algo nesse sent ido. O que se
almej a aqui é f azer desenvolver, na medida de suas possibilidades, o que desabrochou na
alma durant e o conheciment o da nat ureza, chamando depois a at enção para o f at o de,
nesse desenvolviment o, a alma ir ao encont ro de f at os supra-sensíveis. Nisso se pressupõe
que t odo leit or capaz de aceit ar o cont eúdo dest e livro vá necessariament e ao encont ro
de t ais f at os. É cert o que exist e uma dif erença em relação à observação purament e
cient íf ico-nat ural no moment o em que se penet ra no âmbit o cient íf ico-espirit ual. Na
Ciência Nat ural, os f at os se apresent am no campo do mundo sensório; o cient ist a nat ural
considera a at ividade anímica como algo que se report a ao cont ext o e ao curso dos f at os
sensoriais. Já o cient ist a do espírit o deve colocar essa at ividade anímica em primeiro
plano, pois o leit or só alcança os f at os quando se apropria corret ament e dessa at ividade
anímica. Esses f at os — mesmo sendo incompreendidos — não se apresent am, como nas
Ciências Nat urais, à percepção humana at é sem a at ividade anímica; el es se manif est am a
ela muit o mais por meio da at ividade anímica. O apresent ador da Ciência Espirit ual
pressupõe, port ant o, que o leit or procure os f at os j unt o com ele. Sua apresent ação será
de modo a relat ar sobre o encont ro desses f at os, não prevalecendo arbít rio pessoal em seu
modo de f azê—lo, em sim um sent ido cient íf ico educado conf orme a Ciência Nat ural. Ele
t ambém t erá, pois, necessidade de f alar dos meios pelos quais se chega a uma observação
do não-sensorial , do supra-sensível .
Quem se dispuser a aceit ar uma exposição da Ciência Ocult a logo perceberá que por
seu int ermédio são adquiridas represent ações ment ais e idéias nunca obt idas ant es. Assim,

15
chega-se t ambém a um novo pensament o a respeit o do que ant eriorment e se ent endia
como a nat ureza da ‘ comprovação’ . Aprende-se que para a apresent ação cient íf ico-
nat ural a ‘ comprovação’ é algo que, por assim dizer, lhe é t razida de f ora. No pensar
cient íf ico-espirit ual, porém, a at ividade que na Ciência Nat ural a alma dedica à prova
reside na busca dos f at os. Não se pode descobri-los quando o caminho para eles j á não é
compr obat ór i o. Quem realment e percorre esse caminho t ambém j á vivenciou o compro-
bat ório, não sendo possível realizar coisa alguma por meio de uma prova acrescent ada de
f ora. O f at o de isso ser ignorado no carát er da Ciência Ocult a provoca muit os mal-
ent endidos.
Toda Ciência Ocult a deve brot ar de dois pensament os possíveis de arraigar-se em
qualquer ser humano. Para o ocult ist a t al como ent endido aqui, esses dois pensament os
expressam f at os possíveis de serem vivenciados quando para isso se ut ilizam os meios
corret os. Para muit as pessoas esses pensament os j á const it uem af irmações alt ament e
discut íveis, suj eit as a muit a cont enda, quando não represent am at é mesmo algo cuj a
impossibilidade se pode ‘ comprovar.
Esses dois pensament os são os seguint es: primeiro, que além do mundo visível exist e
out ro invisível, i ni ci al ment e ocul t o aos sent idos e ao int elect o ligado a est es; segundo,
que é possível ao homem, mediant e o desenvolviment o de f aculdades nele lat ent es,
penet rar nesse mundo ocult o.
“ Tal mundo ocult o não exist e” , diz um. “ O mundo percebido pelos sent idos humanos
é o único; seus enigmas poderiam ser sol ucionados a part ir dele próprio. Embora
at ualment e o homem ainda est ej a longe de poder responder a t odas as quest ões da
exist ência, logo chegará a época em que a experiência dos sent idos e a ciência nela
apoiada poderão dar as respost as. ”
“ Não se pode negar a exist ência de um mundo ocult o at rás do visível” , dizem out ros;
“ porém as f orças cognit ivas do homem não são capazes de penet rar nesse mundo. Elas
possuem limit es que lhes são int ransponíveis. Por mais que a necessidade da ‘ f é’ recorra a
t al mundo, uma verdadeira ciência, apoiada em f at os seguros, não poderia ocupar-se com
um mundo desses
Um t erceiro grupo considera uma espécie de audácia o homem querer, mediant e seu
t rabalho cognit ivo, penet rar num domínio em relação ao qual deve renunciar ao ‘ saber’ e
cont ent ar-se com a ‘ f é’ . Os part idários dessa opinião sent em que é inj ust o o f rágil ser
humano querer penet rar num mundo que só pode pert encer unicament e à vida religiosa.
Também se argument a que seria possível a t odos os homens um mesmo conheciment o
dos f at os do mundo sensível, ao passo que sobre as coisas supra-sensíveis só poderia ent rar
em quest ão a opinião pessoal de cada um, não se podendo f alar de uma cert eza universal
nesse sent ido.
Out ros af irmam muit as coisas mais.
Pode-se t er cert eza: a observação do mundo visível propõe ao homem enigmas que
j amais podem ser solucionados a part ir dos f at os desse mesmo mundo. Desse modo, por
mais que a ciência desses f at os t enha progredido, eles permanecerão insolúveis. É que,
por sua nat ureza int rínseca, os f at os visíveis apont am clarament e para um mundo ocult o.
Quem não admit e isso se f echa aos enigmas que, por t oda part e, emanam nit idament e dos
f at os do mundo sensório; nem mesmo quer admit ir cert as quest ões e enigmas,
acredit ando, port ant o, que t odas as quest ões possam ser respondidas pelos f at os
manif est os aos sent idos. 19 As pergunt as que ele quer f ormular poderão, t odas el as, ser
respondidas por f at os que, segundo ele af irma, serão descobert os no decorrer do f ut uro.
Isso é perf eit ament e admissível; mas por que deveria esperar respost as, em cert os

19
Al. si nnenf äl l i gen Tat sachen (corr. de si nnf äl l i gen Tat sachen). Cf . ed. orig. cit . (N. T. )

16
assunt os, quem não f az pergunt a alguma? Quem aspira à Ciência Ocult a diz simplesment e
que t ais quest ões lhe são óbvias por si, devendo ser reconhecidas como uma expressão
plenament e j ust if icada da alma humana. Ora, a ciência não pode ser comprimida dent ro
de limit es pelo f at o de se proibir ao homem o quest ionament o imparcial.
À opinião de que o homem possui, em seu conheciment o, limit es int ransponíveis que
o obrigam a det er-se diant e de um mundo invisível, cabe responder: sem dúvida, pela
f orma de conheciment o aí subent endida, não se pode penet rar num mundo invisível.
Quem admit e apenas esse t ipo de conheciment o não pode chegar senão à opinião de que é
vedada ao homem a ent rada num mundo superior porvent ura exist ent e. Cont udo, cabe
t ambém dizer o seguint e: sendo possível desenvolver out r o t ipo de conheciment o, est e
poderá perf eit ament e conduzir ao mundo supra-sensível. Ao se considerar essa f orma de
conheciment o como impossível, chega-se a um pont o de vist a a part ir do qual t oda alusão
ao mundo supra-sensível parece pura insensat ez. Para um j uízo imparcial, cont udo, t al
opinião não possui out ro f undament o senão o f at o de seus def ensores ignorarem aquela
out ra espécie de conheciment o. Como, no ent ant o, se pode j ulgar a respeit o de algo que
se af irma não conhecer? Um pensar imparcial deve admit ir que só se pode f alar sobr e o
que se conhece, evit ando qualquer pronunciament o sobre o que não se conhece. Tal racio-
cínio só pode reconhecer o direit o de alguém a comunicar o que t enha experiment ado,
negando-se porém a admit ir que alguém declare impossível o que não conhece ou não
quer conhecer. A ninguém pode ser negado o direit o de não se int eressar pelo mundo
supra-sensível; mas j amais poderá haver qualquer f undament o para o f at o de alguém se
j ulgar apt o a emit ir j uízos não apenas sobre o que el e é capaz de saber, mas t ambém
sobre t udo o que ‘ um ser humano’ não é capaz de saber.
Aos que j ulgam uma t emeridade penet rar no âmbit o supra-sensorial , uma observação
segundo a Ciência Ocult a pondera que isso é possível, e que seria pecar cont ra as
f aculdades out orgadas ao homem deixá-las f enecer ao invés de desenvolvê-las e ut ilizá-
las.
No ent ant o, quem acredit a qúe os pareceres sobre o mundo supra-sensível devam
pert encer int eirament e ao âmbit o pessoal das opiniões e emoções, nega algo que é
comum a t odos os seres humanos. É cert o que a compreensão dessas coisas deveria ser
encont rada por cada um, mas t ambém é f at o que t odos os seres humanos que at ingem um
pont o suf icient ement e avançado chegam não a compreensões dif erent es sobre essas
coisas, mas à mesma compreensão. A diversidade só exist e quando os homens não querem
aproximar-se das supremas verdades por um caminho cient if icament e seguro, mas pelo
caminho da arbit rariedade pessoal. Cont udo, t emos de admit ir novament e que só poderá
reconhecer a exat idão do caminho cient íf ico-espirit ual quem se dispuser a f amiliarizar-se
com suas part icularidades.
O caminho para a Ciência Ocult a pode ser encont rado, no moment o oport uno, por
qualquer pessoa que reconheça — ou apenas imagine, ou adivinhe —, a part ir do mundo
visível, a exist ência de uma realidade ocult a, e que, conscient e da pront idão das f orças
cognit ivas para o desenvolviment o, sej a compelida à sensação de que essa realidade
ocult a poderia revelar-se a ela. A uma pessoa conduzida à Ciência Ocult a por essas vivên-
cias da alma, abre-se não só a perspect iva de encont rar respost a a cert as indagações de
seu impulso cognit ivo, como t ambém aquela, t ot alment e diversa, de vencer t udo o que
lhe dif icult e e debilit e a vida. E, em cert o sent ido superior, signif ica um enf raqueciment o
da vida ou uma espécie de mort e anímica o f at o de um homem se ver obrigado a af ast ar-
se do âmbit o supra-sensível ou negá-lo. Sim — sob cert as condições, uma pessoa poderá
chegar ao desespero se perder t oda a esperança de t er uma revelação do ocult o. Essa
mort e e esse desespero, em suas múlt iplas f ormas, são ao mesmo t empo adversários

17
anímicos, int eriores, do esf orço cient íf ico-espirit ual, e surgem quando desvanece a f orça
int erior do homem. Nesse caso, t oda f orça vit al lhe deve ser administ rada de f ora, se é
que realment e ele deve recebê-la. Ent ão ele passa a perceber os obj et os, seres e
ocorrências que lhe af et am os sent idos analisando-os com o int elect o. Est es lhe causam
prazer e sof riment o; impulsionam-no para as ações de que ele é capaz. Mesmo
cont inuando nesse processo por algum t empo, ele alcançará o pont o em que morrerá
int eriorment e, pois aquilo que se pode ext rair do mundo para o homem se esgot a. Est a
não é uma af irmação oriunda da experiência pessoal de um individuo, e sim o result ado de
uma observação imparcial de t oda a vida humana. O que preserva desse esgot ament o é o
element o ocult o que repousa na prof undidade das coisas. Caso se acabe no homem a
energia para descer a essas prof undidades, a f im de sempre ext rair nova f orça vit al, no
f inal nem mesmo o ext erior das coisas se most rará mais capaz de f oment ar a vida.
De maneira alguma esse assunt o diz respeit o apenas ao ser humano individual, com
suas alegrias e dores pessoais. Just ament e por meio de considerações cient íf ico-espirit uais
verídicas o homem chega à cert eza de que, de um pont o de vist a superior, as alegrias e as
dores do indivíduo se relacionam int imament e com o bem-est ar e o inf ort únio de t odo o
Universo. Exist e aí um caminho pelo qual o homem chega à convicção de que est ará pre-
j udicando o mundo int eiro e t odos os seres nele exist ent es caso não desenvolva
adequadament e suas próprias f orças. Tornando sua vida est éril pela perda de cont at o com
o supra-sensível, o homem não só dest rói em seu ínt imo algo cuj a ext inção pode levá-lo ao
desespero, como t ambém cria, por sua f raqueza, um obst áculo à evolução de t odo o
mundo onde vive.
Ora, o ser humano pode equivocar-se. Pode ceder à crença de que não exist e um
mundo ocult o, e de que nas manif est ações aos seus sent idos e ao seu int elect o j á est á
cont ido t udo o que possa exist ir. Ent ret ant o, essa ilusão só é possível para a superf ície da
consciência, e não para sua prof undeza. O sent iment o e o desej o não se encaixam nessa
crença enganadora. De alguma maneira, eles volt arão sempre a ansiar por algo ocult o —
cuj a privação os f az lançar o homem na dúvida, na incert eza da vida e at é no desespero.
Um conheciment o que t orne o ocult o manif est o é apropriado para vencer t oda
desesperança, t oda insegurança vit al, t oda af lição — em resumo, t udo o que debilit a a
vida e a incapacit a para o necessário desempenho na t ot alidade do mundo.
Eis o admirável f rut o cognit ivo da Ciência Espirit ual: proporcionar f orça e f irmeza à
vida, e não apenas a sat isf ação do desej o de saber. A f ont e onde esses conheciment os
haurem sua f orça para o t rabalho e a conf iança para a vida é inesgot ável. Ninguém que
uma vez se t enha aproximado realment e dessa f ont e sairá, ao recorrer repet idament e a
ela, sem est ar f ort alecido.
Há pessoas que nada desej am saber de t ais conheciment os por verem algo malsão j á
no que acaba de ser dit o. Para a superf ície e o ext erior da vida, t ais pessoas t êm t oda a
razão. Elas não querem conhecer de modo at rof iado o que a vida of erece na chamada
‘ realidade’ ; vêem uma f raqueza no f at o de o homem se af ast ar dest a e procurar sua
salvação num mundo ocult o, que lhes parece f ant ást ico e imaginário. Se, em t al pesquisa
cient íf ico-espirit ual, não se quer cair em f ant asia e f raqueza mórbidas, deve-se
reconhecer a parcial j ust if icat iva de t ais obj eções; elas se baseiam num crit ério sadio — só
que est e, por não penet rar na prof undeza das coisas e sim mant er-se em sua superf ície,
não conduz a uma verdade plena, mas apenas a uma meia verdade. Se um esf orço pelo
conheciment o supra-sensível f osse f eit o no sent ido de debilit ar a vida e af ast ar os homens
da verdadeira realidade, cert ament e t ais obj eções seriam f ort es o suf icient e para abalar
as bases dessa orient ação espirit ual.
Cont udo, mesmo diant e de t ais opiniões os esf orços da Ciência Ocult a não seguiriam

18
o caminho corret o se quisessem ‘ def ender-se’ , no sent ido comum da palavra. Mesmo nesse
caso, eles só podem impor-se por seu valor reconhecível a t odo espírit o imparcial, f azendo
sent ir como a f orça vit al e a energia se int ensif icam na pessoa que os adot a no sent ido
corret o. Esses esf orços não podem conduzir à alienação e à f ant asia; eles f ort alecem o
homem a part ir das f ont es vit ais onde, segundo seu element o anímico-espirit ual, est e se
origina.
Out ros obst áculos à compreensão se colocam no caminho de algumas pessoas que se
aproximam dos esf orços da Ciência Ocult a. De f at o, é f undament alment e cert o que na
exposição da Ciência Ocult a o leit or encont ra uma descrição de vivências anímicas por
cuj o seguiment o ele poderá acercar-se dos cont eúdos supra-sensíveis do Universo. Só que
na prát ica isso t em de represent ar uma espécie de ideal. Inicialment e o leit or precisa
absorver, sob f orma de comunicações, uma grande quant idade de experiências supra-
sensíveis que ele próprio ainda não vivenciou. Isso não pode ser de out ra maneira, e
ocorrerá t ambém no caso dest e livro. Aqui será descrit o o que o Aut or acredit a saber
sobre a nat ureza do ser humano, sobre suas condições no nasciment o e na mort e e em seu
est ado incorpóreo no mundo espirit ual; além disso, será narrada a evol ução da Terra e da
humanidade. Assim sendo, poderia parecer que houvesse a premissa de cert os pret ensos
conheciment os serem apresent ados como dogmas, cuj a crença se apoiasse no principio de
aut oridade. Cont udo, não é esse o caso. Na verdade, o que pode ser conhecido dos
cont eúdos supra-sensíveis do Universo acha-se present e no aut or como cont eúdo anímico
vivo; e quando alguém se f amiliariza com esse cont eúdo anímico, essa f amiliaridade
incandesce na própria alma os impulsos que conduzem aos f at os supra-sensíveis correspon-
dent es. Ao ler conheciment os cient íf ico-espirit uais, t em-se uma vivência dif erent e
daquela provocada pela comunicação de f at os sensíveis. Quando se lêem comunicações do
mundo manif est o, lê-se algo sobr e ele; mas quando se lêem comunicações sobre o mundo
supra-sensível no sent ido corret o, penet ra-se na corrent e da exist ência espirit ual. Ao
assimilar os result ados, assimila-se ao mesmo t empo o próprio caminho int erior.
É bem verdade que, no início, muit as vezes o leit or não se dá cont a do que
subent endemos aqui. Cost uma-se imaginar a ent rada no mundo espirit ual demasiadament e
similar a uma vivência sensorial, considerando-se por demais int elect ual o que é capt ado
da leit ura sobre esse mundo. No ent ant o, pela ver dadei r a acolhida no plano do
pensament o a pessoa j á est á dent ro desse mundo, só precisando t er bem claro que, sem o
perceber, j á vivenciou o que acredit ava t er recebido apenas como uma comunicação
int elect ual. A verdadeira nat ureza dessa vivência pode ser plenament e esclarecida ao se
realizar, na prát ica, o que descreveremos na segunda e últ ima part e dest e livro como
‘ senda’ para os conheciment os supra-sensíveis. Seria f ácil supor que o corret o f osse o
cont rário: que essa senda devesse primeirament e ser descrit a. Não é esse, porém, o caso.
Para quem só f az ‘ exercícios’ a f im de penet rar no mundo supra-sensível, sem dirigir o
olhar anímico a det erminados f at os que aí ocorrem, esse mundo cont inua sendo um caos
indef inido e cont urbado. A pessoa se f amiliariza, de cert o modo, ingenuament e com esse
mundo à medida que aprende cert os f at os inerent es a ele, dando-se logo cont a de como —
abandonando a ingenuidade — ela própria chega, com plena consciência, às vivências das
quais havia obt ido inf ormações.
Aprof undando-se nas exposições da Ciência Ocult a, a pessoa se convencerá de que só
esse pode ser um caminho seguro para o conheciment o supra-sensível. Reconhecerá
t ambém ser inf undada qualquer opinião de que inicíalment e os conheciment os supra-
sensíveis at uariam, de cert a f orma, como dogmas pel o poder de sugest ão. É que o
cont eúdo desses conheciment os é adquirido numa vida anímica que lhes ret ira qualquer
f orça simplesment e sugest iva, dando à pessoa apenas a possibilidade de f alar a out ra pela

19
mesma via pela qual lhe f alam t odas as verdades que apelam ao seu crit ério sensat o. O
f at o de inicialment e a out ra não perceber como ela vive no mundo espirit ual não se deve a
uma insensat a aceit ação sugest iva, mas à sut ileza e ao carát er incomum do que f oi
vivencíado na leit ura. Assim, pela mera aceit ação das inf ormações dadas na primeira
part e dest e livro, inicialment e o leit or se t orna co-par t i ci pant e no conheciment o do
mundo superior; mediant e a real ização prát ica das at ividades anímicas, indicadas na
segunda part e, ele se t orna um conhecedor aut ônomo nesse mundo.
De acordo com o espírit o e o ver dadei r o sent ido, nenhum aut ênt ico cient ist a poderá
encont rar uma cont radição ent re sua ciência, edif icada sobre os f enômenos do mundo
sensível, e o modo como se invest iga o mundo supra-sensível. Todo cient ist a se serve de
det erminados inst rument os e mét odos. Os inst rument os, ele os conf ecciona mediant e a
elaboração daquilo que a ‘ nat ureza’ lhe apresent a. O t ipo supra-sensível de conheciment o
t ambém se serve de um inst rument o — só que esse inst rument o é o próprio homem.
Também t al inst rument o deve primeirament e ser aj ust ado para a pesquisa superior. Nele,
as capacidades e f orças concedidas pela ‘ nat ureza’ sem a at uação humana devem ser
t ransf ormadas em out ras, superiores. Com isso o próprio homem pode t ornar-se
inst rument o para a pesquisa do mundo supra-sensível.

A essência da humanidade

Ao se observar o ser humano do pont o de vist a de um conheciment o supra-sensível,


ent ra logo em vigor o que caract eriza, de modo geral, esse t ipo de conheciment o. Essa
observação baseia-se no reconheciment o, pelo observador, do ‘ mist ério manif est o’ em sua
própria ent idade. Os sent idos, bem como o int elect o que neles se apóia, são apenas uma
part e acessível do que é compreedido como ent idade humana no conheciment o supra-
sensível, ou sej a, o cor po f ísi co. Para esclarecer o conceit o desse corpo f ísico, deve-se
inicialment e dirigir a at enção ao f enômeno que se est ende como um grande enigma sobre
t oda observação da vida: a mort e, e, relacionada com ela, a chamada nat ureza inanimada
— o reino mineral, que sempre cont ém em si a mort e. Com isso nos ref erimos a f at os cuj o
esclareciment o complet o só é possível por meio do conheciment o supra-sensível, e aos
quais deve ser dedicada uma part e import ant e dest e livro. Por ora, cont udo, sugeriremos
apenas algumas idéias como orient ação.
Dent ro do mundo manif est o, o corpo humano f ísico é aquilo que o iguala ao mundo
mineral . Em cont rapart ida, não pode ser considerado como corpo f ísico aquilo que
dif erencia o homem do mineral. Para uma observação imparcial, é sobret udo import ant e o
f at o de a mort e expor a part e da nat ureza humana que, uma vez ocorrida a mort e, é
igualável ao mundo mineral. Cabe apont ar no cadáver a parcela do homem que, após a
mort e, est á suj eit a a processos encont rados no mundo mineral. Pode-se sublinhar o f at o
de que nesse membro da ent idade humana — no cadáver — est ão em at ividade as mesmas
subst âncias e f orças at uant es no âmbit o mineral; cumpre porém ressalt ar, e não menos,
que com a mort e esse corpo f ísico f ica suj eit o à decomposição. Cont udo, t ambém é j ust o
dizer o seguint e: sem dúvida, no corpo f ísico humano at uam as mesmas subst âncias e
f orças que no âmbit o mineral; porém sua at uação é colocada, durant e a vida, a serviço de
algo superior. Elas só at uam como no mundo mineral após a chegada da mort e; ent ão
ent ram em cena como devem f azê-lo segundo sua própria nat ureza, ou sej a, como
dissolvent es da f ormação corporal f ísica.
Convém, port ant o, dist inguir clarament e, no homem, ent re o manif est o e o ocult o,
pois durant e a vida um element o ocult o deve empreender uma lut a cont ínua cont ra as

20
subst âncias e f orças do element o mineral no corpo f ísico. Ao cessar essa lut a, inicia-se a
at ividade mineral.
Com isso t ocamos no pont o em que deve ent rar em cena a ciência do supra-sensível.
Ela t em de buscar o que conduz à ref erida lut a, e j ust ament e isso se ocult a à observação
dos sent idos, sendo acessível apenas à observação supra-sensorial. O modo como o homem
consegue que esse element o ‘ ocult o’ se t orne t ão manif est o quant o o são os f enômenos
sensoríais aos olhos f ísicos será abordado numa part e post erior dest e livro. Aqui, porém,
será descrit o o que se revela à observação supra-sensível .
Já dissemos que as comunicações sobre o caminho que conduz à visão superior só
podem t er valor para o homem quando primeirament e est e se f amiliarizou, pela simples
narrat iva, com as revelações da pesquisa supra-sensorial . É que nesse domínio é
j ust ament e possível compr eender t ambém o que ainda não se obser va. Aliás, o bom
caminho para a cont emplação é o que part e da compreensão.
Embora o element o ocult o que, no corpo f ísico, lut a cont ra a decomposição sej a
observável apenas pela percepção superior, seus ef ei t os são clarament e discerníveis para
o j ulgament o limit ado ao manif est o. Tais ef eit os exprimem-se na f or ma ou f igura onde
est ão int egradas, durant e a vida, as subst âncias e f orças minerais do corpo f ísico. Ocorrida
a mort e, essa f orma desaparece pouco a pouco e o corpo f ísico convert e-se numa part e do
mundo mineral rest ant e. Cont udo, a visão supra-sensorial pode observar, como membro
independent e da ent idade humana, aquilo que durant e a vida impede as subst âncias e
f orças f ísicas de seguirem seu próprio caminho, que conduz à dissolução do corpo f ísiéo.
Denominemos esse membro independent e como ‘ corpo et érico’ ou ‘ corpo vit al’ .
Para que não surj am mal-ent endidos logo de início, cumpre considerar aspect os
relat ivos a essas designações de um segundo membro da ent idade humana. A palavra
‘ ét er’ é empregada aqui num sent ido dif erent e daquele usado pela Física at ual. Est a de-
signa, por exemplo, como ét er o veículo da luz. Aqui, no ent ant o, o t ermo deverá ser
limit ado ao sent ido mencionado acima, sendo empregado para designar o que é acessível à
visão superior, dando-se a conhecer à observação sensorial apenas em seus ef eit os, ou
sej a, por sua propriedade de conf erir det erminada f orma ou f igura às subst âncias e f orças
minerais exist ent es no corpo f ísico. Tampouco a palavra ‘ corpo’ deve ser mal-ent endida.
Para designar as coisas superiores da exist ência, t emos de usar j ust ament e os vocábulos
da linguagem comum — e, para a observação dos sent idos, est es expressam apenas o
aspect o sensorial. No sent ido sensorial, nat uralment e o ‘ corpo et éríco’ nada t em de
corporal, por mais sut il que se possa imaginá-l o. 20
Tendo chegado, na descrição do supra-sensível, à menção do ‘ corpo et érico’ ou
‘ corpo vit al’ , alcançamos o pont o em que essa descrição encont ra a oposição de várias
corrent es da opinião cont emporânea. A evolução do espírit o humano l evou nossa época a
considerar não-cient íf ica a ref erência a t al membro da ent idade humana. A concepção
mat erialist a chegou ao pont o de não ver no corpo vivo senão uma combinação de
subst âncias e f orças f ísicas, t al como est as se encont ram t ambém no chamado corpo ina-
nimado, mineral. A única dif erença é que no ser vivo a combinação é mais complexa do
que no inanimado.
Também na ciência comum se prof essavam, não muit o t empo at rás, out ros pont os de
vist a. Quem ler os livros de muit os cient ist as sérios da primeira met ade do século XIX verá
como t ambém ‘ aut ênt icos nat uralist as’ est avam cônscios de exist ir no corpo vivo al go mais
do que no mineral inanimado. Falava-se de uma ‘ energia vit al’ . Na verdade, essa ‘ energia
vit al’ não era apresent ada t al qual o que acabamos de caract erizar como ‘ corpo vit al’ ;

20
O f at o de que com a designação ‘ corpo et érico’ , ‘ corpo vit al’ não se pret ende renovar o ant igo conceit o
cient íf ico-nat ural de ‘ energia vit al’ , há muit o superado, j á f oi explicado por nós no livro Teosof i a

21
mas a essa idéia est ava subj acent e um pressent iment o de que algo semelhant e exist ia.
Concebia-se essa ‘ energia vit al’ como se est a se j unt asse, no corpo vivo, às subst âncias e
f orças f ísicas do mesmo modo como a f orça magnét ica do ímã se j unt a ao f erro. Ent ão
veio o t empo em que essa ‘ energia vit al’ f oi af ast ada do ideário da ciência. Para t odos os
âmbit os se consideravam suf icient es as causas f ísicas e químicas.
At ualment e ocorreu, ent re muit os pensadores nat uralist as, cert o recuo a esse
respeit o. De muit os lados se t em admit ido que a aceit ação de algo semelhant e à ‘ f orça
vit al’ não é, af inal , loucura alguma. No ent ant o, mesmo o ‘ cient ist a’ que admit a isso não
quererá comungar do pont o de vist a expost o aqui a respeit o do ‘ corpo vit al’ . Via de regra,
ent rar em polêmica com t ais opiniões, com base no conheciment o supra-sensível, não
levaria a lugar algum. O obj et o desse conheciment o deveria ser, muit o mais, admit ir que a
ment alidade mat erialist a é uma necessária conseqüência do grande progresso cient íf ico de
nossa época. Esse progresso consist e num imenso aperf eiçoament o dos meios de
observação sensorial. E é inerent e ao ser humano o f at o de ele, no âmbit o da evolução,
levar cert as capacidades, em det riment o de out ras, a um cert o grau de aperf eiçoament o.
A observação sensorial exat a, que de modo t ão signif icat ivo f oi desenvolvida pela Ciência
Nat ural, t eve de relegar ao segundo plano o cult ivo das capacidades humanas que
conduzem aos ‘ mundos ocult os’ . Porém chegou novament e a época em que esse cult ivo é
necessário. E o ocult o não é reconhecido pelo f at o de se combat erem j ulgament os que,
pela negação desse ocult o, se apresent am com seqüência lógica, mas pelo f at o de se
f ocalizar esse ocult o corret ament e. Ent ão el e será reconhecido por aqueles ‘ cuj a hora é
chegada’ .
Foi necessário dizer ist o simplesment e para que não se supusesse ignorância dos
pont os de vist a das Ciências Nat urais ao f alarmos aqui de um ‘ corpo et érico’ , que em
cert os círculos deve parecer t ot alment e f ant ást ico.
Esse corpo et érico é, port ant o, um segundo membro da ent idade humana. O
conheciment o supra-sensível lhe at ribui um grau de realidade superior ao do corpo f ísico.
Uma descrição de como ele se manif est a à percepção supra-sensível só poderá ser f eit a
nas part es subseqüent es dest e livro, quando se f risará em que sent ido t ais descríções
devem ser consideradas. Por hora bast ará salient ar que o corpo et érico permeia
complet ament e o corpo f ísico, devendo ser vist o como uma espécie de arquit et o dest e
últ imo. Todos os órgãos são mant idos em sua f orma e est rut ura pelas corrent es e
moviment os do corpo et érico. 21 Ao coração f ísico subj az um ‘ coração et érico’ , ao cérebro
f ísico um ‘ cérebro et érico’ , et c. O corpo et érico é est rut urado como o corpo f ísico, sendo
porém mais complexo; t udo nele est á em vivo int erf luxo, enquant o no corpo f ísico exist em
part es bem delimit adas.
Pois bem: esse corpo et érico, o homem o possui em comum com o veget al, assim
como possui o corpo f ísico em comum com o mineral. Tudo o que é vivo possui seu corpo
et érico.
Do corpo et érico a observação supra-sensível ascende a out ro membro da ent idade
humana. Para a f ormação de uma imagem desse membro, ela recorre ao f enômeno do
sono, t al como, no caso do corpo et érico, aludiu à mort e.
Toda ação humana, no âmbit o manif est o, baseia-se na at ividade do est ado de vigília.
Porém essa at ividade só é possível quando o homem procura no sono a recuperação das
f orças esgot adas. A at uação e o pensar desaparecem no sono; t oda dor e t odo prazer
submergem em relação à vida conscient e. Como que procedent es de f ont es ocult as,
mist eriosas, as f orças conscient es do homem emergem, ao despert ar, da inconsciência do

21
V. , do Aut or, A f i si ol ogi a ocul t a — os ór gãos como si st ema cósmi co i nt er i or , t rad. Sonia Set zer, 5. conf . (2.
ed. São Paulo: Ant roposóf ica, 1996). (N. E. )

22
sono. E a mesma consciência que, ao adormecermos, submerge em prof undidades
obscuras e reaparece ao despert armos. Aquilo que repet idament e despert a a vida,
ret irando-a do est ado de inconsciência, é, no sent ido do conheciment o supra-sensível, o
t erceiro membro da ent idade humana. Pode-se denominá-lo ‘ corpo ast ral’ .
Assim como o corpo f ísico é incapaz de mant er sua f orma por meio das subst âncias e
f orças minerais que cont ém, precisando para isso ser permeado pelo corpo et érico,
t ampouco as f orças do corpo et érico podem, por si próprias, iluminar-se com a luz da
consciência. Um corpo et érico abandonado a si próprio t eria de permanecer
cont inuament e em est ado de sono. Em out ras palavras: ele poderia mant er, no corpo
f ísico, apenas um grau de exist ência veget at iva. Um corpo et érico em est ado de vigília é
iluminado por um corpo ast ral. Para a observação sensorial, desaparece a at uação desse
corpo ast ral quando o homem mergulha no sono. Para a observação supra-sensível, ele
cont inua exist indo; só que aparece separado ou ret irado do corpo et érico. A observação
sensorial não t em cont at o com o próprio corpo ast ral , mas apenas com seus ef eit os no
âmbit o manif est o. Ora, est es não est ão imediat ament e present es durant e o sono. No
mesmo sent ido em que o homem t em seu corpo f ísico em comum com os minerais e seu
corpo et érico com as pl ant as, em seu corpo ast ral ele é da mesma espécie que os animais.
As plant as est ão num est ado permanent e de sono. Quem não j ulgar com exat idão
essas coisas poderá f acilment e comet er o erro de at ribuir t ambém às plant as uma espécie
de consciência, t al como a possuem os animais e o homem quando despert os. Isso só pode
acont ecer a quem t enha um conceit o inexat o da consciência. Ent ão essa pessoa af irma
que, ao se provocar na plant a um est ímulo ext erior, ela realiza alguns moviment os, como
o animal. Fala-se da sensi bi l i dade de cert as plant as que, por exemplo, cont raem suas
f olhas sob a ação de coisas ext ernas. O demonst rat ivo da consciência não é o f at o de um
ser reagir a uma ação com cert a reação, e sim o f at o de o ser vivenciar em seu int erior
algo que venha acrescent ar-se como element o novo à simples reação. Do cont rário,
poderíamos f alar de consciência quando um pedaço de f erro se dilat asse sob a ação do
calor. Só exist e consciência quando o ser experiment a, por exemplo, uma dor sob a
inf luência do calor.
O quart o membro que o conheciment o supra-sensível at ribui à ent idade humana j á
não é compart ilhado com o mundo manif est o em redor do homem. Trat a-se j ust ament e do
que o dif erencia dos demais seres — algo que o t orna ápice de t oda a Criação circundant e.
O conheciment o supra-sensível dá uma idéia desse membro adicional da ent idade humana
indicando que t ambém no âmbit o das vivências de vigília exist e mais uma dif erença
essencial. Essa dif erença se evidencia de imediat o à observação de que, em est ado de
vigília, de um lado o homem se encont ra cont inuament e no cent ro de vivências que t êm
necessar i ament e de ir e vir e, de out ro, t ambém t em vivências em que isso não ocorre.
Tal f at o ressalt a especialment e ao se compararem as experiências do homem com as do
animal . O animal experiment a com grande regularidade as inf luências do mundo ext erior
e, sob a inf luência do calor e do f rio, adquire consciência da dor e do prazer 22 , bem como,
sob cert os processos regulares que ocorrem em seu corpo, adquire consciência da f ome e
da sede. A vida do homem não se esgot a em t ais experiências, pois ele pode desenvolver
cobiças e desej os que t ranscendem t udo isso.
Trat ando-se do animal, sempre é possível — desde que se invest igue suf icient ement e
— descobrir onde, dent ro ou f ora do corpo, exist e o mot ivo det erminant e de uma ação ou
sensação. No caso do homem, isso não ocorre de maneira alguma. Ele pode criar desej os e

22
Al. “ . . . und wi r d si ch [ . . . ] unt er dem Ei nf l üsse der Wär me and Käl t e des [ corr. de Käl t e, des [ corr. de Kält e,
des] Schmer zes und der Lust [ . . . ] bewusst . ” Cf . ed. orig. cit . (N. T. )

23
apet it es para cuj a origem não haj a suf icient es mot ivos nem dent ro nem f ora de seu corpo.
A t udo o que incide nesse domínio deve-se at ribuir uma f ont e especial. Essa f ont e pode ser
vist a, segundo a ciência supra-sensível, no ‘ eu’ do homem. O ‘ eu’ pode, port ant o, ser
considerado o quart o membro da ent idade humana.
Se o corpo ast ral est ivesse abandonado a si mesmo, ocorreriam nel e sensações de
prazer e dor, f ome e sede; o que não ocorreria, porém, é a sensação de exist ir em t udo
isso al go per manent e. Não é esse algo permanent e que aqui é designado como eu, mas
aquilo que vivencia essa permanência. Nesse campo é preciso f ormular os conceit os com
t oda a nit idez, para que não surj am equívocos. Com a conscient ização de que há algo
permanent e e durável no int ercâmbio das vivências int eriores, começa a despont ar o
‘ sent iment o do eu’ . Não é o f at o de um ser sent ir, por exemplo, f ome que se pode
conf erir-lhe o sent iment o do eu. A f ome se inst ala quando os renovados mot ivos para ela
se f azem valer no ser em quest ão; ent ão el e se precipit a sobre o aliment o j ust ament e
pelo ensej o dos mot ivos renovados. O sent iment o do eu só surge quando não apenas se
impõem esses renovados mot ivos para a busca do aliment o, mas quando da prévia
sat isf ação da f ome result ou um prazer e a consciência desse prazer permaneceu, de modo
que não soment e a pr esent e vivência da f ome, mas a vivência passada do prazer suscit am
o impulso para o aliment o.
Assim como o corpo f ísico se desint egra quando o corpo et érico não o mant ém, e
assim como o corpo et érico imerge na inconsciência quando o corpo ast ral não o ilumina, o
corpo ast ral t eria de deixar repet idament e o passado cair no esqueci ment o se est e não
f osse t ransport ado ao present e pelo eu. O que a mort e é para o corpo f ísico e o sono para
o corpo et érico, a mesma coisa é o esqueci ment o para o corpo ast ral. Pode-se t ambém
dizer que ao corpo et érico pert ence a vi da, ao ast ral a consci ênci a e ao eu a r ecor dação.
Mais f acilment e do que at ribuir consciência às plant as, pode-se incidir no erro de
f alar em recordação no caso do animal. É muit o nat ural pensar em recordação quando o
cão reconhece seu dono, que ele t alvez não vej a há longo t empo. Na realidade, porém,
esse reconheciment o não depende de recordação, e sim de algo complet ament e diverso. O
cão sent e uma cert a at ração por seu dono, a qual result a da nat ureza dest e. Essa nat ureza
causa prazer ao cão na presença do dono; e a cada vez que essa presença ocorre, é mot ivo
para uma renovação prazer. A recordação, porém, só exist e quando um ser não t em
apenas sensações provocadas pelas vivências at uais, mas ainda conserva aquelas do pas-
sado. Poderíamos at é mesmo admit ir ist o e, no ent ant o, cair no erro de af irmar que o cão
t em recordação, dizendo, por exemplo, que o cão ent rist ece quando o dono o abandona, e
que port ant o guarda a lembrança dele. Também esse é um j ulgament o incorret o. O
convívio com o dono t raz para o cão a necessidade de sua presença, e assim est e passa a
sent ir a ausência da mesma f orma como sent e a f ome. Quem não f izer est as dist inções não
alcançará clareza sobre as verdadeiras correlações da vida.
Em razão de cert os preconceit os será obj et ado, cont ra est a exposição, que af inal não
se pode saber se no animal exist e ou não algo semel hant e à recordação humana. Tal
obj eção, porém, repousa numa observação inexperient e. Quem realment e é capaz de
observar, de maneira sensat a, como o animal se comport a em rel ação às suas vivências,
percebe a dif erença ent re esse comport ament o e o do homem. Ent ão t erá bem claro que o
animal se comport a de um modo correspondent e à ausência de recordação. Para a
observação supra-sensível, isso é absolut ament e claro. No ent ant o, o que dessa
observação supra-sensorial vem imediat ament e à consciência pode ser reconhecido em
seus ef ei t os nesse âmbit o t ambém pela percepção sensorial e sua compenet ração pelo
pensar. Ao se dizer que o homem sabe de sua recordação pela observação anímica
int erior, que no ent ant o ele não pode const at ar no caso do animal, t al af irmação est á

24
f undada num erro f at ídico. O que o homem t em a dizer sobre sua capacidade de
recordação não pode, em absolut o, ser deduzido de uma observação anímica int erior, mas
apenas do que ele experiment a consigo mesmo em suas rel ações com as coisas e processos
do mundo ext erior. Essas experiências, sej a consi go, com out ra pessoa e t ambém com os
animais, ele f az exat ament e da mesma maneira. Trat a-se apenas de uma ilusão que of usca
o homem quando ele pensa j ulgar a exist ência da recordação apenas pela observação
int erior.
O subst rat o da recordação pode ser denominado int imament e; j á o j uízo sobre esse
subst rat o é adquirido, inclusive para a própria pessoa, pela visão das relações do mundo
ext erior. E o homem pode j ulgar essas relações t ant o em si mesmo como nos animais. Com
respeit o a essas coisas, nossa psicologia comum sof re por suas idéias t ot alment e
def icient es, inexat as e em alt o grau ilusórias em conseqüência de erros de observação.
Para o eu, a recordação e o esqueciment o signif icam algo absolut ament e semelhant e
ao que os est ados de vigília e sono signif icam para o corpo ast ral . Assim como o sono f az
as preocupações e at ribulações do dia desaparecer no nada, o esqueciment o est ende um
véu sobre as más experiências da vida, apagando assim uma part e do passado. E do mesmo
modo como o sono é necessário para que as f orças vit ais exaust as sej am revigoradas, o
homem precisa eliminar da recordação cert as part es de seu passado se quiser enf rent ar
novas experiências de maneira livre e despreconcebida. Cont udo, é j ust ament e do
esqueciment o que lhe advém o f ort aleciment o para a percepção do novo. Pensemos em
f at os como o aprendizado da escrit a: t odos os det alhes que a criança t em de at ravessar
para aprender a escrever são esquecidos. O que permanece é a capacidade de escrever.
Como poderia o homem escrever se, a cada vez que pegasse a canet a, lhe despont assem
na alma, como recordação, t odas as vivências pelas quais ele passou ao aprender a
escrit a?
Ora, a recordação se manif est a em vários graus. Sua f orma mais element ar j á ocorre
quando o homem percebe um obj et o e depois, af ast ando-se dele, é capaz de despert ar
novament e a r epr esent ação ment al desse mesmo obj et o. O homem elaborou essa
represent ação ment al enquant o percebia o obj et o. Ent ão se desenvolveu um processo
ent re seu corpo ast ral e seu eu; o corpo ast ral t ornou conscient e a impressão ext erior do
obj et o. Cont udo, o conheciment o do obj et o só duraria enquant o est e est ivesse pr esent e,
caso o eu não o assimilasse e o incorporasse.
Nest e pont o, a percepção supra-sensível dist ingue ent re o corporal e o anímico. Fala-
se de cor po ast r al ao se considerar a f ormação do conheciment o de um obj et o present e.
Porém o que conf ere duração ao conheciment o é denominado al ma. Ao mesmo t empo,
pelo que f oi dit o se vê quão est reit a, no homem, é a relação do corpo ast ral com a part e
da alma que conf ere duração ao conheciment o. Ambos são, por assim dizer, unidos num só
membro da ent idade humana. Por isso se pode designar t ambém essa união como corpo
ast ral. Querendo-se uma nomenclat ura exat a, pode-se designar o corpo ast ral do homem
como cor po aními co, e a al ma, na medida em que est á unida a ele, como al ma da
sensação.
O eu ascende a um grau superior de sua nat ureza quando dirige sua at ividade àquil o
que ele, pelo conheciment o das coisas, t ornou sua propriedade. Est a é a at ividade pela
qual o eu se desliga cada vez mais dos obj et os da percepção para at uar no que lhe é
próprio. A part e da alma relacionada com isso pode ser chamada de al ma do i nt el ect o ou
da índol e. Tant o a alma da sensação como a alma do int elect o t êm como caract eríst ica
operar com o que assimilaram graças às impressões dos obj et os percebidos pelos sent idos,
conservando isso na recordação. Nisso a alma est á complet ament e ent regue a algo que,
para ela, é ext erior. Ora, el a recebeu de f ora t ambém aquilo que t ransf orma em sua

25
propriedade por meio da recordação; no ent ant o pode t ranscender t udo isso, pois não é
apenas alma da sensação ou da índole.
A percepção supra-sensível f orma mais f acilment e uma idéia dessa t ranscendência
quando f ocaliza um f at o simples, bast ando apreciá-lo em seu signif icado abrangent e.
Trat a-se do f at o de em t oda a abrangência da linguagem só exist ir um nome que, por sua
nat ureza, se dist ingue de t odos os demais: é j ust ament e o nome ‘ eu’ . Qualquer out ro
nome pode ser dado por qual quer pessoa ao obj et o ou ser que lhe corresponda. O ‘ eu’ ,
como designação para um ser, só t em sent ido quando esse ser o apl ica a si próprio. Nunca
a palavra ‘ eu’ pode dirigir-se de f ora ao ouvido de um homem como designação para ele;
apenas o próprio ser pode apl icá-l o a si mesmo. “ Eu sou um eu apenas para mim; para
t odos os demais eu sou um ‘ t u’ , e cada out ro é um ‘ t u’ para mim. ” Esse f at o é a expressão
ext erior de uma verdade prof undament e signif icat iva. A verdadeira essência do eu é
independent e de t udo o que sej a ext erior; por i sso seu nome t ampouco pode ser chamado
de part e alguma do ext erior. As conf issões religiosas que souberam mant er
conscient ement e suas relações com a visão Supra-sensível chamam, port ant o, a
designação ‘ eu’ de ‘ o impronunciável nome de Deus’ . Ora, é j ust ament e ao indicado
acima que se alude ao empregar essa expressão. Nada de ext erior t em acesso àparcela da
alma humana que aqui f ocalizamos. Aqui, t rat a-se do ‘ secret o sant uário’ da alma. Apenas
um ser da mesma nat ureza da alma t em acesso a ele. “ O Deus que habit a no homem f ala
quando a alma se reconhece como eu. ” Assim como a alma da sensação e a alma do
int elect o vivem no mundo ext erior, um t erceiro membro da alma imerge no divino quando
est a se eleva à percepção de sua própria essência.
A est e respeit o, poderia f acilment e surgir o mal-ent endido de que t ais concepções
est ivessem considerando i dênt i cos Deus e o eu. No ent ant o, elas não af irmam em absolut o
que o eu sej a Deus, mas apenas que é da mesma espécie e nat ureza do Divino. Porvent ura
se pret ende que a got a d’ água ret irada do mar sej a o mar, ao dizer que ela é da mesma
essência ou subst ância que o mar? Querendo-se usar uma comparação, pode-se dizer que o
eu se relaciona com o Divino do mesmo modo como a got a d’ água com o oceano. O homem
pode encont rar em si um element o divino porque seu ser primordial f oi ext raído do Divino.
Port ant o, por meio dest e o homem adquire um t erceiro membro anímico, um
conheciment o int erior de si mesmo, do mesmo modo como por meio do corpo ast ral
adquire um conheciment o do mundo ext erior. Por conseguint e, a Ciência Ocult a pode
denominar esse t erceiro membro da alma t ambém como al ma da consci ênci a.
Assim, no sent ido Ciência Espirit ual a part e anímica do homem compõe-se de t rês
membros: alma da sensação, alma do int elect o e alma da consciência — do mesmo modo
como a part e corpórea consist e em t rês membros: corpo f ísico, corpo et érico e corpo
ast ral.
Erros psicológicos de observação, semelhant es àqueles j á mencionados quant o ao
j ulgament o da capacidade de recordação, t ambém dif icult am o corret o ent endiment o da
nat ureza do eu. Muit o do que se acredit a compreender é t omado como ref ut ação ao
argument o apresent ado acima, quando na verdade represent a uma conf irmação. Tal é o
caso, por exemplo, das observações que Eduard von Hart mann f az respeit o do eu nas págs.
55 e 56 de seu Gr undr i ss der Psychol ogi e: 23

A pr ior i , a aut oconsciência é mais ant iga do que a palavra ‘ eu’ . Os pronomes pessoais
são um produt o bast ant e post erior da evolução lingüíst ica, possuindo para a linguagem

23
Eduard von Hart mann (1842—1906), Syst em der Phi l osophi e i m Gr undr i ss, vol. III: Gr undr i ss der Psychol ogi e
(Bad Sachsa, 1908), p. 55 s. (N. E. orig. )

26
apenas o valor de abreviações. A palavra ‘ eu’ é um breve subst it ut o 24 para o nome
próprio de quem f ala, porém um subst it ut o que cada qual usa por si, sej a qual f or o
nome próprio que os out ros lhe at ribuam. A aut oconsciência pode at ingir alt o grau de
desenvolviment o t ant o em animais como em pessoas surdas-mudas incult as, mesmo sem
ligação com um nome próprio. A consciência do nome próprio pode subst it uir t ot alment e
a f alt a de emprego do eu. Com est a consideração elimina-se o nimbo mágico com o qual,
para muit os, se revest e a palavrinha ‘ eu’ ; est a não pode f azer o mínimo acréscimo ao
conceit o de aut oconsciência; ao cont rário, recebe exclusivament e dela t odo o seu
cont eúdo.

Pode-se concordar int eirament e com t ais opiniões; e t ambém com a inconveniência
de se conf erir à palavra ‘ eu’ a condição de nimbo mágico, o que só pode pert urbar a
consideração ponderada do assunt o. Cont udo, para a essência de uma coi sa não édecisivo
o modo como paulat inament e se originou a designação verbal dessa coisa. O import ant e é
j ust ament e que, na aut oconsciência, a verdadeira nat ureza do eu “ é mais ant iga do que a
palavra ‘ eu’ “ ; e que o homem t enha necessidade de usar essa palavrinha ligada às
peculiarídades exclusivament e suas para designar aquilo que, no mundo ext erior, ele
vivencia de modo dif erent e do animal. Assim como se pode saber pouco da nat ureza do
t riângulo pela demonst ração de como a pal avra ‘ t riângulo’ se f ormou, igual ment e t em
pouca decisão sobre a nat ureza do eu o que é possível saber a respeit o de como surgiu o
emprego do ‘ eu’ na evol ução da l i nguagem.
É só na al ma da consciência que se revela a verdadeira nat ureza do eu. Ora,
enquant o na sensação e no int elect o a alma se abandona a out ra coisa, como alma da
consciência ela capt a sua própria nat ureza. Por isso esse eu t ampouco pode ser percebido
pela alma da consciência, a não ser por meio de cert a at ividade int erior. As
represent ações ment ais de obj et os ext eriores são f ormadas à medida que esses obj et os
aparecem e desaparecem; e essas represent ações ment ais cont inuam a agir no int elect o
por sua própria f orça. No ent ant o, se quiser perceber a si próprio, o eu não pode
simplesment e ent r egar -se a si mesmo; ele precisa primeiro ext rair sua essência de suas
próprias prof undezas para t er consciência dela. É com a percepção do eu — com a aut o-
ref lexão — que se inicia uma at ividade int erior do eu. Mediant e essa at ividade, a
percepção do eu na alma da consciência signif ica algo t ot alment e diverso da observação
de t udo o que é t ransmit ido pelos t rês membros corporais e pelos out ros dois membros da
alma. A f orça que revela o eu na alma da consciência é idênt ica àquela que se manif est a
em t odo o rest o do Universo. Só que ela não se manif est a no corpo e nos membros
inf eriores da alma de f orma imediat a, e sim gradat ivament e em seus ef eit os. A
manif est ação mais inf erior é aquela por int ermédio do corpo f ísico; depois há uma
ascensão gradat iva at é o cont eúdo da alma do int elect o. Poderíamos dizer que com a
subida a cada grau cai um dos véus que envolvem a realidade ocult a. Naquilo que
preenche a alma da consciência, essa realidade ocult a penet ra, sem envolt órios, no mais
ínt imo t emplo da alma. Cont udo, aí ela se revela apenas como uma got a d’ água do mar da
espirit ualidade que t udo impregna. Porém aqui o homem deve inicialment e capt ar essa
espirit ual idade; deve reconhecê-la em si próprio, para ent ão poder descobri-l a t ambém
em suas manif est ações.
Aquilo que penet ra na alma da consciência como uma got a é o que a Ciência Ocult a
chama de espír i t o. Assim, pois, a alma da consciência est á unida ao espírit o, o element o
ocul t o em t udo o que é manif est o. Ora, se o homem quiser capt ar o espírit o em t oda e
qualquer manif est ação, deve f azê-lo da mesma maneira como capt a o eu na alma da
consciência; deve dirigir ao mundo manif est o a at ividade que o conduziu à percepção

24
No original de von Hart mann const a” . . . é um subst it ut o mais breve. . . ” . (N. E. orig. )

27
desse eu. Porém com isso ele evolui para níveis mais alt os de sua ent idade, acrescent ando
algo de novo aos membros corporais e anímicos.
O próximo passo consist e em conquist ar, por esf orço próprio, o que est á ocult o nos
membros inf eriores da alma. Isso ocorre mediant e o t rabalho exercido pelo eu em sua
alma. O envolviment o do homem nesse t rabalho f ica visível ao se comparar alguém
int eirament e ent regue aos apet it es inf eriores e aos chamados prazeres sensuais com um
nobre ideal ist a. Est e últ imo vem a ser uma t ransf ormação do primeiro quando aquel e
abandona suas inclinações inf eriores e se dedica a out ras, mais elevadas. Port ant o, a
par t i r do eu ele at uou sobre sua alma, enobrecendo-a e espirit ualizando-a. O eu t ornou-se
soberano dent ro da vida anímica. Esse progresso pode chegar ao pont o de impedir o acesso
de qualquer cobiça ou prazer à alma sem permissão do eu. Desse modo a alma int eira se
t orna uma manif est ação do eu, como ant es o era apenas a alma da consciência. No f undo,
t oda a vida cult ural e t oda a aspiração espirit ual da humanidade consist em num t rabalho
cuj a met a é essa soberania do eu. Todo ser humano cont emporâneo est á empenhado nesse
t rabalho — quer queira ou não, quer t enha ou não consciência desse f at o.
Mediant e esse t rabalho, porém, alcançam-se níveis superiores da ent idade humana.
Por meio dele o homem desenvolve novos membros de sua ent idade, os quais f icam
ocult os det rás daquil o que lhe é manif est o. Cont udo, o homem pode não só t ornar-se
senhor de sua alma inf luenciando-a a part ir do eu, para que ela ext raia o manif est o do
ocult o, mas t ambém pode ampliar esse t rabalho, est endendo-o ao corpo ast ral . Assim, o
eu se apodera do corpo ast ral na medida em que se une à sua ent idade ocult a. Esse corpo
ast ral conquist ado e t ransf ormado pelo eu pode ser denominado per sonal i dade espi r i t ual .
(Trat a-se do mesmo que, à imit ação da sabedoria orient al, é denominado manas. ) Na
personalidade espirit ual exist e, como que em f orma germinal, um membro superior da
ent idade humana que, no decorrer do t rabalho dessa ent idade sobre si mesma, vai
despont ando cada vez mais.
Assim como o homem conquist a seu corpo ast ral avançando at é às f orças ocult as
sit uadas at rás dest e, o mesmo ocorre com relação ao corpo et érico no decorrer da
evolução. Todavia, o t rabalho j unt o a esse corpo et érico é mais int enso do que aquele
j unt o ao corpo ast ral; pois o que se ocult a no primeiro est á envol t o em dois véus, e no
caso do corpo ast ral exist e um véu apenas.
Pode-se f ormar uma idéia da dif erença no t rabalho j unt o a cada qual dos corpos
t endo em vist a cert as alt erações possíveis de ocorrer com o ser humano no decurso de sua
evolução. Imaginemos primeiro como cert as qual idades anímicas do homem se
desenvolvem quando o eu at ua j unt o à alma — como prazeres e apet it es, alegrias e dores
podem t ransf ormar-se. Aí bast a o homem remont ar à época de sua inf ância. O que lhe
proporcionava alegria? O que lhe causava sof riment o? O que ele acrescent ou aos
conheciment os adquiridos na inf ância? Tudo isso, porém, é apenas uma expressão do
domínio que o eu alcançou sobre o corpo ast ral, pois est e é, de f at o, o veículo do prazer e
do sof riment o, da alegria e da dor.
Em comparação a isso, considere-se quão pouco cert as disposições do homem se
t ransf ormam no decorrer do t empo — por exemplo, seu t emperament o, as
part icularidades mais prof undas de seu carát er, et c. Um ser humano irascível enquant o
criança conserva, muit as vezes, cert os aspect os de irascibilidade em seu desenvol viment o
post erior at é à idade madura. Est e f at o é t ão f lagrant e que cert os pensadores negam
perempt oriament e a possibilidade de o carát er básico de uma pessoa se t ransf ormar. Eles
supõem que esse carát er se mant enha por t oda a vida, apenas variando a manif est ação
para est e ou aquele lado. Tal j uízo, porém, baseia-se numa f alha de observação.
A quem possui o sent ido para ver t ais coisas, f ica evident e que t ambém o carát er e o

28
t emperament o do homem se modif icam sob a inf luência do eu. Na verdade, t al
modif icação é lent a em relação à modif icação das qualidades acima mencionadas. A t ít ulo
de comparação, pode-se dizer que a relação ent re as duas modif icações é como a relação
de velocidade ent re o pont eiro grande e o pont eiro pequeno de um relógio. Ora, as f orças
que promovem essa modif icação do carát er ou t emperament o pert encem à região ocult a
do corpo et érico. El as são da mesma espécie que as f orças reinant es no domínio da vida,
ou sej a, as f orças de cresciment o, de aliment ação e aquelas que servem à procriação.
Sobre est es assunt os recairá uma luz corret a durant e as demais explicações dest a obra.
Port ant o, não é quando o homem simplesment e se abandona ao prazer ou ao
sof riment o, à alegria ou à dor que o eu at ua sobre o corpo ast ral, e sim quando as
caract eríst icas dessas qualidades anímicas se modif icam. Da mesma f orma, a ação at inge o
corpo et érico quando o eu dirige sua at ividade para uma modif icação de suas
peculiaridades de carát er, de seu t emperament o, et c. Também nest a últ ima alt eração
at ua t odo ser humano, quer t enha ou não consciência disso. Os mais f ort es impulsos que,
na vida comum, se empenham nessa t ransf ormação são os impulsos religiosos. Quando o
eu se deixa inf luenciar progressivament e pel os impulsos emanados da religião, est es
adquirem nele um poder que penet ra at é no corpo et éríco, t ransf ormando-o do mesmo
modo como impulsos menores promovem a t ransf ormação do corpo ast ral. Esses impulsos
menores da vida, que se aproximam do homem por meio do aprendizado, da ref lexão, da
sublimação dos sent iment os, et c. est ão suj eit os às circunst âncias cambiant es da
exist ência; j á os sent iment os religiosos imprimem ao pensar, ao sent ir e ao querer um
cunho unit ário, como que espal hando uma l uz genérica e unif orme sobre t oda a vida
anímica. Hoj e o homem pensa e sent e ist o, amanhã aquilo. A isso conduzem os mais
diversos mot ivos. Quem, no ent ant o, por seu sent iment o religioso — sej a l á qual f or —,
pressent ir algo que at ravessa t odas as mudanças, relacionará t ant o os pensament os e
sent iment os de hoj e quant o as vivências f ut uras de sua alma com essa sensação
f undament al. Port ant o, a crença religiosa possui algo de incisivo na vida anímica; suas
inf luências se int ensif icam cada vez mais no decorrer do t empo, por at uarem em cont ínua
repet ição. Com isso obt êm o poder de at uar sobre o corpo et érico.
É de maneira semelhant e que at uam sobre o homem as inf luências da verdadeira
art e. Quando, pela f orma ext erior, pela cor ou pelo som de uma obra de art e el e penet ra
com a imaginação e o sent iment o nos f undament os espirit uais dessa obra, os impulsos
assim recebidos pelo eu at uam, de f at o, at é no corpo et érico. Quando se pensa nisso em
prof undidade é que se pode avaliar a imensa import ância da art e para t odo o
desenvolviment o humano.
Com ist o indicamos apenas alguns aspect os que levam o eu a at uar sobre o corpo
et érico. Exist em muit as inf luências semelhant es na vida humana, não t ão evident es ao
olhar observador quant o os mencionados. Já por est es, no ent ant o, pode-se ver que no
homem est á ocult o out ro membro que é progressivament e elaborado pelo eu. Pode-se
considerar esse membro como o segundo no plano espirit ual, designando-o j ust ament e
como espír i t o vi t al (o mesmo que, à imit ação sabedoria orient al, se denomina buddhi ). A
expressão ‘ espírit o vit al’ é adequada por designar algo onde at uam as mesmas f orças que
at uam no ‘ corpo vit al’ ; só que quando essas f orças se manif est am como corpo vit al o eu
humano não est á at ivo. No ent ant o, ao se expressarem como espírit o vit al elas são
impregnadas pela at ividade do eu.
A evolução int elect ual do homem, bem como o ref inament o e enobreciment o de seus
sent iment os e manif est ações volit ivas, const it uem a medida da met amorf ose de seu corpo
ast ral em personalidade espirit ual; suas vivências religiosas e muit as out ras experiências
gravam-se no corpo et érico, t ransf ormando-o em espírit o vit al. No decorrer normal da

29
vida, isso se passa mais ou menos inconscient ement e; em cont rapart ida, a chamada i ni ci a-
ção do homem consist e no f at o de ele, por meio do conheciment o supra-sensível , obt er os
meios pelos quais possa t omar nas mãos, muit o conscient ement e, esse t rabalho na
personalidade espirit ual e no espírit o vit al. Sobre esses meios f alaremos em passagens
ult eriores dest e livro. Por ora import a most rar que no homem, além da alma e do corpo,
at ua t ambém o espírit o. Mais t arde t ambém se most rará como esse espírit o, em
cont raposição ao corpo t ransit ório, pert ence à part e et er na do homem.
Com o t rabalho j unt o ao corpo ast ral e ao corpo et érico, porém, a at ividade do eu
ainda não se esgot ou; ela se est ende t ambém ao corpo f ísico. Pode-se ver um indício dessa
inf luência do eu sobre o corpo f ísico quando, por f orça de cert as vivências, surgem por
exemplo o rubor ou a palidez. Aqui o eu ef et ivament e origina um processo no corpo f ísico.
Quando, graças à at ividade do eu, produzem-se no homem t ransf ormações relat ivas à sua
inf luência no corpo f ísico, o eu est á realment e unido às f orças ocult as desse corpo f ísico —
as mesmas f orças que provocam seus processos f ísicos. Cabe ent ão dizer que, por meio
dessa at ividade, o eu t rabalha j unt o ao corpo f ísico. Est a expressão não deve ser mal-
ent endida. Não cabe surgir a opinião de que esse t rabalho sej a algo rudement e mat erial .
O que no corpo f ísico parece rudement e mat erial é apenas o aspect o manif est o nele. At rás
dessa manif est ação se encont ram as f orças ocult as de seu ser, e est as são de nat ureza
espirit ual. Não é de um t rabalho sobre o el ement o mat erial — sob cuj o aspect o o corpo
f ísico se mani f est a — que se pret ende f alar aqui, e sim do t rabalho espirit ual j unt o às
f orças invisíveis que o f azem nascer e o levam à dest ruição. Na vida comum, esse t rabalho
do eu j unt o ao corpo f ísico só pode chegar com mínima clareza à consciência. Essa clareza
só advém plenament e quando, sob a inf luência do conheciment o supra-sensível, o homem
t oma conscient ement e o t rabalho nas mãos. Mas ent ão f ica bem claro que no homem
exist e um t erceiro membro espirit ual. Trat a-se daquele que, em cont raposição ao homem
f ísico, pode ser chamado de homem-espír i t o. (Na sabedoria orient al, esse ‘ homem-
espírit o’ é denominado at ma. )
Com relação ao homem-espírit o, pode-se comet er f acilment e o engano de ver no
corpo f ísico o membro inf erior do homem, f icando dif ícil aceit ar que o t rabal ho j unt o a
esse corpo f ísico deva caber ao membro mais elevado da ent idade humana. Mas é j us-
t ament e pelo f at o de o corpo f ísico esconder sob t rês véus o espírit o at uant e nele que se
requer o mais elevado t ipo de t rabalho humano para unir o eu àquilo que é seu espírit o
ocult o.
Assim, para a Ciência Ocult a o ser humano se apresent a como uma ent idade
compost a de diversos membros. De nat ureza corporal são o corpo f ísico, o corpo et érico e
o corpo ast ral; os anímicos são a alma da sensação, a alma do int elect o e a alma da
consciência. É na alma que eu dif unde sua luz. E os membros espirit uais são a
personalidade espirit ual, o espírit o vit al e o homem-espírit o. Das explicações acima se
depreende que a alma da sensação e o corpo ast ral são int imament e ligados e, em cert o
sent ido, perf azem um t odo. De maneira análoga, a alma da consciência e a personalidade
espirit ual f ormam um t odo, pois na alma da consciência resplandece o espírit o, irradiando
daí para os demais membros da nat ureza humana.
Levando t udo isso em consideração, cabe t ambém f alar da seguint e composição do
ser humano: o corpo ast ral e a alma da sensação podem ser sint et izados num único
membro, o mesmo ocorrendo com a alma da consciência e a personalidade espirit ual; a
al ma do i nt el ect o, por part icipar da nat ureza do eu e, em cert o sent ido, j á ser um eu —
embora ainda não conscient e de sua nat ureza espirit ual —, pode ser designada
simplesment e por ‘ eu’ . Têm-se ent ão set e part es do ser humano: 1) corpo f ísico; 2) corpo
et érico ou vit al; 3) corpo ast ral; 4) eu; 5) personal idade espirit ual ; 6) espírit o vit al; 7)

30
homem-espírit o.
Nem para alguém habit uado a idéias mat erialist as essa composição set enária do
homem possuiria o ‘ carát er nebulosament e mágico’ que muit as vezes lhe é at ribuído, se
ele se at ívesse exat ament e ao sent ido das explicações acima e int roduzisse de ant emão
esse ‘ carát er mágico’ no assunt o. De nenhuma out ra maneira, mas soment e do pont o de
vist a de uma f orma superior de observação do mundo, se deveria f alar desses ‘ set e’
membros do ser humano t al qual se f ala das set e cores da luz ou dos set e t ons da escala
musical (considerando-se a oit ava uma repet ição da t ônica). Tal como a luz se manif est a
em set e cores e o som em set e graus t onais, assim a nat ureza uni t ár i a do homem se
manif est a nos set e membros descrit os. Assim como o número set e não cont ém algo de
‘ superst ição’ no caso do som e da cor, t ampouco isso ocorre no caso da composição do
homem. (Cert a ocasião em que t udo isso f oi expost o verbalment e, f oi dit o que o assunt o
do número set e no caso das cores não conf eria, pois além do ‘ vermelho’ e do ‘ violet a’
exist em ainda cores que os olhos não percebem. Mesmo considerando-se isso, a
comparação com as cores é corret a, pois a ent idade humana t ambém se est ende para
além do corpo f ísico, de um lado, e para além do homem-espírit o, de out ro; só que para
os meios da observação espirit ual esses prol ongament os são ‘ espirit ualment e invisíveis’
como são invisíveis, para o olho f ísico, as cores para além do vermelho e do violet a. Est a
observação se f ez necessária pelo f at o de surgir f acilment e a opinião de que a concepção
supra-sensível não assume com exat idão o pensament o das Ciências Nat urais, sendo
dilet ant e em relação a ele. No ent ant o, quem considera corret ament e o que se disse aqui
pode const at ar que em t recho algum est e cont eúdo est á em cont radição com a aut ênt ica
Ciência Nat ural — nem quando são cit ados f at os cient íf icos a t ít ulo de ilust ração, nem
quando nos ref erimos, com nossas explanações, a uma relação diret a com a pesquisa da
nat ureza. )

Sono e mort e

Não se pode compreender a nat ureza da consciência despert a sem observar o est ado
que o homem at ravessa durant e o sono; t ampouco se pode abordar o enigma da vida sem
considerar a mort e. Para a pessoa indif erent e ao signif icado do conheciment o supra-
sensível, podem surgir dúvidas a respeit o desse conheciment o j á a part ir do modo como
est e observa o sono e a mort e. Esse conheciment o pode respeit ar os mot ivos de t ais dú-
vidas, pois nada há de incompreensível no f at o de alguém dizer que o homem f oi criado
para a vida at uant e e produt iva, sendo suas realizações baseadas na dedicação a isso; e
que o aprof undament o em est ados como o sono e a mort e só poderiam brot ar de devaneio
ocioso, não conduzindo senão a f ant asias. Pode-se f acilment e ver na reprovação de t ais
‘ f ant asias’ a expressão de uma alma saudável, e na dedicação a t al ‘ devaneio ocioso’ algo
doent io, t ípico de pessoas desprovidas de f orça e alegria de viver, incapazes de um
‘ aut ênt ico processo criador’ . Seria inj ust o t achar, a pr i or i , t al j uízo de incorret o, pois est e
cont ém cert a dose de verdade; t rat a-se de um quart o de verdade, que deve ser
complet ada pelos rest ant es t rês quart os que lhe pert encem. E só provoca desconf iança
naqueles que compreendem esse quart o, mas não suspeit am da exist ência dos out ros t rês,
quem combat e esse único quart o verdadeiro.
É preciso admit ir incondicionalment e que uma observação daquilo que o sono e a
mort e ocult am é mórbida quando conduz a um enf raqueciment o, a uma alienação da
verdadeira vida. E não se pode concordar menos que, desde t empos remot os, muit o do
que se t em chamado de Ciência Ocult a, sendo ainda hoj e prat icado sob essa denominação,

31
t raz um cunho doent io e host il à vida. No ent ant o, t al aspect o doent io não provém, em
absolut o, de um aut ênt i co conheciment o supra-sensível. A realidade dos f at os é, muit o
mais, a seguint e:
Assim como não pode est ar sempre despert o, o homem t ampouco pode dispensar, no
âmbit o global das circunst âncias da vida, o que o supra-sensível lhe pode proporcionar. A
vida cont inua no sono, e as f orças que t rabalham e criam no est ado de vigília ret iram seu
vigor e sua renovação daquilo que o sono lhes dá. O mesmo acont ece com o que o homem
pode observar no mundo manif est o. O âmbit o do mundo é mais ampl o do que o campo
dessa observação. E o que o homem conhece no plano sensível deve ser complet ado e
f ecundado pelo que ele pode saber sobre os mundos invisíveis. Um ser humano que não
buscasse repet idament e no sono o f ort aleciment o das energias despendidas conduziria sua
vida à dest ruição; do mesmo modo, uma cosmovisão não f ecundada pelo conheciment o da
realidade ocult a conduziria à desol ação.
Algo semelhant e ocorre com a ‘ mort e’ . Os seres vivos sucumbem à mort e para que
nova vida possa surgir. É j ust ament e o conheciment o do supra-sensível que espalha uma
clara luz sobre est a bela sent ença de Göet he: “ A nat ureza invent ou a mort e para t er mais
vida. ” 25 Assim como, no sent ido comum, não pode haver vida sem a mort e, não pode
exist ir qualquer conheciment o aut ênt ico do mundo visível sem a visão do supra-sensível.
Todo conheciment o do visível deve imergir sempre de novo no invisível para poder
desenvolver-se. É, port ant o, evident e que só a ciência do supra-sensível possibilit a a vida
do conheciment o do manif est o; ela nunca enf raquece a vida quando despont a em sua
f orma genuína: f ort alece-a e volt a a revigorá-la quando est a, ent regue a si mesma, se
t ornou f raca e enf erma.
Quando o homem imerge no sono, alt era-se a relação ent re os membros de sua
ent idade. A part e do homem adormecido que f ica em repouso no leit o cont ém o corpo
f ísico e o corpo et érico, mas não o corpo ast ral nem o eu. É pelo f at o de o corpo et érico
permanecer unido ao corpo f ísico durant e o sono que as f unções vit ais cont inuam — pois
no moment o em que f osse abandonado a si próprio, o corpo f ísico ent raria em
decomposição. O que, no ent ant o, est á desligado durant e o sono são as represent ações
ment ais, o sof riment o e o prazer, a alegria e a dor, assim como a capacidade de
manif est ar uma vont ade conscient e e out ros f at os da exist ência. O veículo de t udo isso é o
corpo ast ral . Para um crit ério imparcial não pode, nat ural ment e, ent rar em consideração
a opinião de que no sono o corpo ast ral, com t odos os seus prazeres e sof riment os, com
t odo o seu mundo represent at ivo e volit ivo, est á aniquilado. Ele est á exist indo j ust ament e
em out ro est ado. Para que o eu humano e o corpo ast ral não apenas sej am preenchidos
com prazer, sof riment o e t udo o mais que mencionamos, mas t ambém t enham disso uma
percepção conscient e, é necessário que o corpo ast ral est ej a ligado ao corpo f ísico e ao
corpo et érico. No est ado de vigília isso ocorre, mas não durant e o sono, quando o corpo
ast ral se ret irou, assumindo uma f orma de exist ência dif erent e daquela que caract eriza
sua união com os corpos f ísico e et érico. Ora, é a t aref a do conheciment o supra-sensível
observar essa out ra f orma da exist ência no corpo ast ral. Para a observação no mundo
ext erior, o corpo ast ral desaparece no sono; a percepção supra-sensível, por sua vez, t em
de segui-l o em sua vida at é que, ao despert ar, ele reassuma os corpos f ísico e et érico.
Como em t odos os casos em que se t rat a do conheciment o das coisas e processos
ocult os do mundo, a observação supra-sensorial é necessária para descobrir, em sua f orma

25
Lit eralment e: “ A vida é sua mais bela invenção e a mort e é seu art if ício para t er mais vida. ” Goet he, ‘ A
nat ureza’ , em Nat ur wi ssenschaf t l i che Schr i f t en [ Escrit os cient íf ico-nat urais] , edit ados e coment ados por
Rudolf St einer na Deut sche Nat i onal -Li t er at ur de Kürschner, 5 vols. (1884—1897). Reed. Dornach: Rudolf St ei-
ner Verlag, 1975, GA la—e, vol. 2, GA lb, p. 8. (N. E. orig. )

32
própria, os verdadeiros f at os do est ado de sono; t odavia, uma vez declarados os result ados
dessa observação, isso pode ser compreendido logo à primeira vist a por um pensament o
realment e imparcial, pois os processos do mundo ocult o revelam-se em seus ef eit os no
mundo visível. Quando se const at a como os result ados da observação supra-sensorial
t ornam compreensíveis os f enômenos sensoriais, t al const at ação por meio da vida const it ui
a prova que se pode exigir em t ais assunt os. Quem não desej ar ut ilizar os meios expost os
adiant e para se chegar à observação supra-sensorial, poderá f azer a seguint e experiência:
poderá admit ir provísoriament e as inf ormações do conheciment o supra-sensível e aplicá-
las aos f enômenos de sua experiência. Assim poderá descobrir que por esse meio a vida se
t orna clara e int eligível; e chegará t ant o mais a essa convicção quant o mais minuciosa e
det alhadament e observar a vida cot idiana.
Embora durant e o sono o corpo ast ral não vivencie qualquer represent ação ment al
nem experiment e prazer, sof riment o ou algo semelhant e, ele não permanece inat ivo;
j ust ament e no est ado de sono cabe-lhe uma int ensa at ividade. Trat a-se de uma at ividade
que ele deve sempre reiniciar em seqüência rít mica, depois de t er est ado at ivo em
conj unt o com os corpos f ísico e et érico. Qual um pêndulo de relógio que, depois de oscilar
para a esquerda e volt ar à posição cent ral, oscila para a direit a sob o impact o da energia
acumulada, o corpo ast ral e o eu cont ido em seu seio, depois de at uar durant e algum
t empo dent ro dos corpos f ísico e et éríco, devem, em virt ude dos result ados dessa at ivida-
de, desenvolver sua mobilidade livres do corpo f ísico, num ambient e anímico-espirit ual.
Na condição humana comum, é nesse est ado em que o corpo ast ral e o eu se
encont ram livres do corpo f ísico que penet ra a inconsciência, pois est a represent a o
opost o do est ado de consciência desenvolvido na vigília pela união com os corpos f ísico e
et érico — do mesmo modo como a oscilação do pêndulo para a direit a causa o moviment o
opost o para a esquerda. A necessidade de ent rar nessa inconsciência é sent ida pelo
element o anímico-espirit ual do homem como f adi ga. Porém essa f adiga é a expressão de
que durant e o sono o corpo ast ral e o eu se preparam para, na vigília subseqüent e, f azer
ret roceder nos corpos f ísico e et érico o que surgiu neles, enquant o libert os do element o
anímico-espirit ual, por obra de uma at ividade f ormat iva simpl esment e orgânica,
inconscient e. Essa at ividade f ormat iva inconscient e, e o que ocorre no ser humano
durant e e por int ermédio da consciência, são opost os. Trat a-se de opost os que devem
alt ernar-se em seqüência rít mica.
Soment e do corpo et érico o corpo f ísico pode receber a f orma e a est rut ura
adequadas ao ser humano. Porém essa f orma humana do corpo f ísico só pode ser recebida
de um corpo et érico ao qual, por sua vez, sej am dirigidas f orças apropriadas pelo corpo
ast ral. O corpo et érico é o plasmador, o arquit et o do corpo f ísico. Cont udo, ele só pode
realizar corret ament e sua t aref a quando o est ímulo para a maneira de f azê-lo é recebido
do corpo ast ral. É nest e que est ão os model os segundo os quais o corpo et érico conf ere ao
corpo f ísico sua f orma. Durant e o est ado de vigília, o corpo ast ral não est á preenchido por
esses model os do corpo f ísico, ou ao menos os cont ém apenas at é cert o grau, pois durant e
esse est ado despert o a alma coloca suas próprias imagens no lugar desses modelos.
Quando o homem dirige seus sent idos ao mundo ext erior, passa a f ormar em suas
represent ações ment ais, j ust ament e por meio da percepção, imagens que são reproduções
do mundo circundant e. Tais reproduções const it uem, de início, pert urbações para as
imagens que est imulam o corpo et érico à conservação do corpo f ísico. Só se o homem, por
at ividade própria, pudesse minist rar ao seu corpo ast ral as imagens capazes de dar ao
corpo et érico o est ímulo adequado, é que essa pert urbação não exist iria. Na exist ência
humana, porém, j ust ament e essa pert urbação desempenha um import ant e papel; ela se
exprime f azendo com que no est ado de vigília os model os para o corpo et érico não at uem

33
com t odo o seu vigor. O corpo ast ral real iza seu desempenho de vigíl ia dent ro do corpo
f ísico; durant e o sono, seu t rabal ho sobre ele é realizado de f ora. 26
Assim como, por exemplo, para prover-se dos meios aliment ares o corpo f ísico
precisa do mundo ext erior, de cuj a nat ureza compart ilha, algo anál ogo ocorre com o
corpo ast ral . Imagine-se um corpo f ísico humano af ast ado de seu mundo circundant e: ele
f at alment e pereceria. Ist o most ra que sem o conj unt o do ambient e f ísico sua exist ência
não é possível. De f at o, a Terra int eira t em de ser exat ament e como é para que corpos
f ísicos humanos possam exist ir sobre ela. Na verdade, esse corpo humano como um t odo é
apenas uma part e da Terra — al iás, em sent ido mais amplo, de t odo o Universo f ísico.
Nesse sent ido, ele se comport a do mesmo modo como, por exemplo, um dedo da mão em
relação ao corpo int eiro. Separe-se o dedo da mão, e est e não poderá cont inuar a ser um
dedo — ele apodrecerá. O mesmo sucederia com o corpo humano se est e f osse af ast ado do
organismo do qual é um membro — das condições vit ais que a Terra lhe of erece. Eleve-se
o homem uma quant idade suf icient e de milhas acima da superf ície t errest re, e ele
perecerá t al qual o dedo que é cort ado da mão. Se o homem prest a menos at enção a esse
f at o com relação a seu corpo f ísico do que com relação ao dedo e a rest o do corpo, isso
reside simplesment e no f at o de o dedo não poder locomover-se pelo corpo como o homem
sobre a Terra, sendo, port ant o, sua dependência mais f acil ment e visível.
Assim como o corpo f ísico est á ent rosado no mundo f ísico, ao qual pert ence, o corpo
ast ral est á ligado ao seu próprio mundo. Ora, durant e o est ado de vigília ele é arrancado
desse mundo. O que ent ão ocorre pode ser ilust rado com uma comparação:
Imagine-se um recipient e com água. Dent ro de t oda essa massa d’ água, uma got a em
separado nada represent a por si. Cont udo, t omemos uma esponj inha e com ela
absorvamos uma got a de t oda essa massa l íquida. Algo semelhant e ocorre com o corpo
ast ral do homem ao acordar. Durant e o sono, ele est á num mundo que lhe é igual. De
cert a maneira, ele é algo pert encent e a esse mundo. No moment o do acordar, os corpos
f ísico e et érico o absorvem, preenchendo-se com ele. Eles cont êm os órgãos mediant e os
quais o corpo ast ral percebe o mundo ext erior. Cont udo, para chegar a essa percepção
est e deve separar-se de seu mundo; mas é apenas desse seu mundo que ele pode receber
os modelos de que necessit a para o corpo et érico.
Assim como, por exemplo, os al iment os são f ornecidos ao corpo f ísico por seu meio
em redor, ao corpo ast ral são f ornecidas, durant e o est ado de sono, as i magens de seu
mundo circundant e. Aí ele vive de f at o no Universo, f ora dos corpos f ísico e et érico — no
mesmo Universo do qual nasceu o homem int eiro. É nesse Universo que se encont ra a
f ont e das imagens mediant e as quais o homem recebe sua f orma. Ele est á int egrado
harmoniosament e nesse mundo, e durant e a vigília se ret ira dessa harmonia abrangent e
para chegar à percepção ext erior. Durant e o sono, seu corpo ast ral se volt a novament e
para essa harmonia universal; e durant e o acordar est e t ransmit e t ant a f orça dela aos
demais corpos que pode prescindir por algum t empo da permanência na harmonia.
Durant e o sono o corpo ast ral volt a à sua pát ria, e durant e o despert ar t raz consigo f orças
revigoradas para a vida. A expressão ext erior das energias que o corpo ast ral t raz ao des-
pert ar é o bem-est ar que um sono sadio produz. As explicações ult eriores da Ciência
Ocult a most rarão que essa pát ria do corpo ast ral é mais abrangent e do que, no sent ido
mais rest rit o, a part e do ambient e f ísico pert encent e ao corpo f ísico. Enquant o o homem,
como ser f ísico, é um membro da Terra, seu corpo ast ral pert ence a mundos que incluem
out ros corpos cósmicos além da Terra. Com isso ele penet ra — o que, como j á dissemos, só
poderá ser esclarecido nas explicações ult eriores —, durant e o sono, num Universo ao qual

26
Sobre nat ureza da f adiga, vej a-se o capít ulo ‘ Part icularidades do âmbit o da Ciência Espirit ual’ , no f inal do
livro. (NA. )

34
pert encem out ros mundos além da Terra.
Deveria ser supérf luo chamar a at enção para um mal-ent endido que f acilment e se
int roduz a respeit o desses f at os; porém não é desnecessário em nossa época, em que
exist em cert as ment alidades mat erialist as. Nos círculos onde elas prevalecem pode-se
dizer, nat uralment e, que pesquisar algo como o sono só é cient íf ico segundo suas
circunst âncias f ísicas. Embora os erudit os ainda não t enham chegado a uma conclusão a
respeit o das causas f ísicas do sono, uma coisa é cert a: que se deveria considerar
det erminados processos f ísicos subj acent es a esse f enômeno. Ora, se ao menos
reconhecessem que o conheciment o supra-sensível não est á, de f orma alguma, em
cont radição com essa af irmat iva! Ele est á de acordo com t udo o que se diz desse lado, t al
como se admit e que para a const rução f ísica de uma casa deve-se colocar um t ij olo sobre
o out ro e, uma vez pront a a casa, sua f orma e est rut ura podem ser explicadas por leis
purament e mecânicas. Cont udo, para que se erga a casa é necessário o pensament o do
arquit et o. Esse pensament o não pode ser encont rado pel a simples invest igação de leis
f ísicas.
Tal como at rás das leis f ísicas que explicam a const rução da casa exist em os
pensament os de seu criador, at rás das observações incont est áveis da ciência f ísica exist e
aquilo a que se ref ere o conheciment o supra-sensível. É óbvio que essa analogia é f re-
qüent ement e apresent ada quando se quer j ust if icar um f undo espirit ual do Universo;
pode-se considerá-la t rivial. Porém nessas coisas não se t rat a da f amiliarização com cert os
conceit os, mas de at ribuir-lhes o j ust o peso para a f undament ação de um assunt o. Isso
pode ser simplesment e impedido pelo f at o de idéias cont rárias exercerem um excessivo
poder sobre o discerniment o necessário para a corret a aval iação desse peso.
Um est ado int ermediário ent re a vigília e o sono — eis o que é sonho. O que as
vivências oníricas of erecem a uma observação sensat a é o mult if ário ent ret eciment o de
um mundo de imagens, o qual, no ent ant o, t ambém abriga algo de normas e leis. Emersão
e imersão, muit as vezes em seqüências desordenadas, é o que à primeira vist a esse mundo
parece revelar. Em sua vida onírica o homem est á desligado da lei da consciência de
vigília, que o acorrent a à percepção dos sent idos e às normas de seu j uízo. Não obst ant e,
o sonho possui algo das mist eriosas leis que são est imulant es e at raent es para o
pressent iment o humano, sendo a causa mais prof unda do f at o de se gost ar de comparar
sempre com o ‘ sonhar’ aquele admirável j ogo de f ant asia subj acent e à sensibilidade
art íst ica. Bast a lembrarmos alguns sonhos caract eríst icos para ver corroborada est a
af irmação.
Uma pessoa sonha, por exemplo, est ar rechaçando um cão que invest e cont ra ela.
Uma vez despert a, ela verif ica que est ava ínconscient ement e af ast ando de si uma part e
do cobert or que se posicionara de modo não-habit ual j unt o a seu corpo e, port ant o,
causara seu desconf ort o. O que, nesse caso, a vida onírica provoca a part ir do f at o
sensorialment e percept ível? O que os sent idos perceberiam no est ado de vigília a vida do
sono deixa, de início, repousar int eirament e no inconscient e. Cont udo est a ret ém algo
essencial, ou sej a, o f at o de o homem querer af ast ar algo de si. Em t orno disso, t ece um
processo met af órico. As imagens, como t ais, são ecos da vida diurna despert a. A maneira
como são ext raídas dela possui algo de arbit rário. Cada qual t em a sensação de que o
sonho, na mesma circunst ância, poderia simular-lhe t ambém out ras imagens; porém a
sensação de que a pessoa t em de af ast ar algo seria expressa simbolicament e. O sonho cria
símbolos; el e é um simbolizador.
Também processos int eriores podem t ransf ormar-se em t ais sonhos simból icos. Uma
pessoa sonha que um incêndio crepit a a seu lado; ela vê as labaredas no sonho. Despert a e
sent e que se cobriu demais, t endo f icado com calor. A sensação de calor excessivo se

35
expressa simbolicament e na imagem.
Vivências muit o dramát icas podem desenrolar-se no sonho. Al guém sonha, por
exemplo, que est á na beira de um precipício. Vê uma criança aproximar-se correndo. O
sonho o f az vivenciar t odos os t orment os causados pela idéia de uma possível desat enção
da criança, ocasionando sua queda no abismo. Ele a vê cair e ouve o baque surdo do corpo
no f undo. Despert a e verif ica que um obj et o pendurado na parede do quart o se
desprendeu, provocando um ruído surdo ao cair. Esse simples incident e é expresso pela
vida onírica num processo que se desenrola em imagens emocionant es.
Por ora não é preciso f icar ref let indo sobre como, nest e últ imo exemplo, o inst ant e
do choque de um obj et o pode t er-se desdobrado numa série de f at os, parecendo est ender-
se por um cert o lapso de t empo; bast a considerar como o sonho t ransf orma em i magem o
que seria of erecido pela percepção sensorial despert a.
Vê-se, pois, que t ão logo se int errompe a at ividade dos sent idos, vigora no homem
um element o criador. Trat a-se do mesmo element o criador que t ambém est á present e no
sono t ot alment e livre de sonhos, represent ando o opost o do est ado anímico de vigília.
Para que se int roduza esse sono sem sonhos, o corpo ast ral precisa t er-se ret irado dos
corpos f ísico e et érico. Durant e o sonho, ele est á separado do corpo f ísico na medida em
que não possui mais ligação com seus órgãos sensoriais, mant endo, porém, ainda cert a
ligação com o corpo et érico. O f at o de os processos do corpo ast ral poderem ser
observados pict oricament e result a dessa sua ligação com o corpo et érico. No moment o em
que cessa t ambém essa ligação, as imagens submergem nas t revas da inconsciência,
advindo o sono sem sonhos. O carát er arbit rário e f reqüent ement e absurdo das imagens
oníricas deve-se ao f at o de o corpo ast ral, por causa de sua separação dos órgãos
sensoriais do corpo f ísico, não ser capaz de relacionar suas imagens com os corret os
obj et os e ocorrências do mundo ext erior.
Especialment e esclarecedora para esse caso é a observação de um sonho em que o
eu, por assim dizer, se desagrega — quando alguém, por exemplo, sonha que é aluno e não
sabe responder a uma pergunt a do prof essor, ao passo que imediat ament e depois o
próprio prof essor a responde. Não podendo ut ilizar, durant e o sonho, os órgãos
percept ivos de seu corpo f ísico, ele não consegue relacionar ambos os processos consigo
próprio, com a mesma pessoa. Port ant o, t ambém para reconhecer a si próprio como um eu
permanent e o homem precisa, de início, est ar equipado com órgãos percept ivos
ext eriores. Só t endo adquirido a f aculdade de t ornar-se conscient e de seu eu, por out ros
meios que não t ais órgãos percept ivos, é que o homem poderia perceber, além de seu
corpo f ísico, t ambém o eu perene. A consciência supra-sensível deve adquirir t ais
f aculdades, e nest e livro serão abordados, mais adiant e, os meios para isso.
Também a mort e ocorre mediant e nada mais do que uma alt eração na relação ent re
os membros do ser humano. O que a observação supra-sensível f ornece, nesse sent ido,
t ambém pode ser vist o em seus ef eit os no mundo manif est o; e o j uízo imparcial verá
conf irmadas t ambém aqui, pela observação da vida ext enor, as comunicações do
conheciment o supra-sensível. Todavia, nest e caso a manif est ação do invisível no âmbit o
visível é menos evident e, t endo-se maiores dif iculdades para sent ir t odo o peso dos f at os
que, nos acont eciment os da vida ext erior, corroboram as comunicações dos
conheciment os supra-sensíveis nesse âmbit o. Mais f acilment e ainda do que alguns t ópicos
ant eriores dest e livro, as present es comunicações podem ser consideradas produt os da
f ant asia por quem queira f echar-se ao conheciment o de como est á cont ida no plano
sensorial a clara indicação do supra-sensível.
Enquant o, na t ransição para o sono, o corpo ast ral se desvencilha apenas de sua
ligação com os corpos et érico e f ísico, que no ent ant o permanecem ligados, com o

36
advent o da mort e est es últ imos se separam. O corpo f ísico f ica abandonado às suas pró-
prias f orças, devendo, por isso, ent rar em decomposição na qualidade de cadáver. Para o
corpo et érico, porém, a mort e t raz uma sit uação em que ele nunca est ivera durant e o
t empo desde o nasciment o — excet o em cert as circunst âncias excepcionais, das quais
ainda f al aremos. É que agora ele se acha unido ao corpo ast ral sem a presença do corpo
f ísico, pois não é imediat ament e após a mort e que o corpo et érico e o corpo ast ral se
separam: eles cont inuam, por algum t empo, ligados por uma f orça cuj a exist ência é
f acilment e compreensível, j á que sem ela o corpo et érico não poderia separar-se do corpo
f ísico. Sua est reit a ligação com est e últ imo é demonst rada pelo sono, durant e o qual o
corpo ast ral não é capaz de desligar esses dois membros do ser humano. Essa f orça ent ra
em at ividade no moment o da mort e. Ela desprende o corpo et érico do corpo f ísico, de
modo que o primeiro f ica agora unido ao corpo ast ral.
A observação supra-sensível most ra que essa união após a mort e é variável ent re as
diversas pessoas. A duração limit a-se a alguns dias. Sobre esse t empo, por ora cabe aqui
f alar apenas a t ít ulo de inf ormação.
Mais t arde o corpo ast ral se desl iga t ambém de seu corpo et érico, prosseguindo
caminho sem ele. Durant e a união dos dois corpos, o homem se encont ra num est ado
mediant e o qual pode perceber as vivências de seu corpo ast ral. Enquant o o corpo f ísico
est á present e, com a separação do corpo ast ral deve iniciar-se imediat ament e, de f ora, a
t aref a de reanimar os órgãos desgast ados. Com o desligament o do corpo f ísico, cessa esse
t rabalho. No ent ant o, a f orça ut ilizada nessa t aref a enquant o o homem dormia cont inua a
exist ir depois da mort e, podendo agora apl icar-se a out ros f ins. Ela passa a ser ut ilizada
para t ornar percept íveis os processos peculiares do corpo ast ral.
Uma observação limit ada aos aspect os ext eriores da vida poderia, em t odo o caso,
dizer que t odas essas af irmações são esclarecedoras para os dot ados da visão supra-
sensível; e que para out ras pessoas não exist e qualquer possibilidades de aproximar-se de
sua verdade. Porém não se t rat a disso. O que o conheciment o supra-sensível observa,
mesmo nesse domínio dist anciado da visão comum, depoi s de encont r ado pode ser com-
preendido pelo discerniment o comum. Só que esse discerniment o precisa considerar
devidament e as correlações da vida subj acent es ao plano manif est o. Elaborar
represent ações ment ais, sent ir e querer guardam ent re si, bem como com as vivências do
homem no mundo ext erior, uma relação t al que permanecem incompreensíveis quando o
modo de sua at ividade mani f est a não é considerado expressão de out ra, não-manif est a.
Essa at ividade manif est a só se elucida para o discerniment o quando, em seu decorrer na
vida humana f ísica, é considerada como result ado daquilo que o conheciment o supra-
sensível const at a no plano não-f ísico. Diant e dessa at ividade e sem o conheciment o supra-
sensível, a pessoa se sent e como sem luz numa sala escura. Assim como os obj et os f ísicos
do ambient e só podem ser vist os na luz, aquilo que se desenrola por meio da vida anímica
humana só pode ser elucidado pelo conheciment o supra-sensível.
Durant e a ligação do homem com seu corpo f isico, o mundo ext erior ent ra na
consciência sob f orma de imagens; após a separação desse corpo, t orna-se percept ível o
que o corpo ast ral vivencia quando não est á ligado ao mundo ext erior por qualquer órgão
f ísico. De início ele não t em vivências novas. A ligação com o corpo et érico o impede de
vivenciar algo novo. O que, no ent ant o, ele possui é a r ecor dação da vida passada. O corpo
et érico, ainda present e, f az essa vida passada parecer um quadro abrangent e e cheio de
vida. Est a é a primeira vivência do homem após a mort e. Ele percebe sua vida decorrida
ent re o nasciment o e a mort e como uma seqüência de i magens desenrolada à sua f rent e.
Durant e essa vida, a recordação só exist e no est ado de vigília, quando o homem est á
ligado a seu corpo f ísico. Ela só exist e na medida em que esse corpo o permit e. Para a

37
alma, nada se perde daquilo que a impressiona na vida. Se o corpo f ísico f osse um
inst rument o perf eit o para t al, em cada inst ant e da vida deveria ser possível f azer
aparecer magicament e, diant e da alma, t odo o passado dessa vida. Com a mort e, esse
impediment o cessa. Enquant o o corpo et érico permanece conservado para o homem,
exist e uma cert a perf eição recordat iva. Est a, no ent ant o, desaparece gradualment e à
medida que o corpo et érico perde a f orma que possuía durant e sua permanência no corpo
f ísico, ao qual se assemelhava. Aliás, esse é t ambém o mot ivo por que depois de algum
t empo o corpo ast ral se separa do corpo et érico, ao qual só pode permanecer unido
enquant o est e mant ém a f orma correspondent e ao corpo f ísico.
Durant e a vida ent re o nasciment o e a mort e, uma separação do corpo et érico só
ocorre excepcionalment e e por breve t empo. Quando, por exemplo, o homem pressiona
f ort ement e um de seus membros, uma part e do corpo et érico pode separar-se do corpo
f ísico. Nesse caso, cost uma-se dizer que o membro em quest ão est á ‘ dorment e’ . A
sensação t ípica que se t em deve-se à separação do corpo et érico. (Nat uralment e uma
ment alidade mat erialist a pode, t ambém nest e caso, negar a manif est ação do invisível no
visível e dizer que t udo result a apenas do dist úrbio f ísico provocado pela pressão. ) A
observação supra-sensorial pode ver, em t al caso, como a part e correspondent e do corpo
et érico se ret ira do f ísico.
Também quando a pessoa leva um grande sust o ou algo semelhant e, pode ocorrer em
grande part e do corpo, por um lapso de t empo muit o curt o, t al separação do corpo
et érico. É esse o caso quando subit ament e o homem se vê, por algum mot ivo, pert o da
mort e — por exemplo, num af ogament o ou quando, numa excursão de alpinismo, est á na
iminência de uma queda. O relat o das pessoas que passaram por t ais sit uações aproxima-
se de f at o da verdade, podendo ser const at ado pela observação suprasensível. Elas dizem
que nessas ocasiões t oda a sua vida apareceu diant e de sua alma como num grande
panorama recordat ivo. Dos muit os exemplos que poderiam ser cit ados, mencionaremos
apenas um, procedent e de um homem para cuj a ment alidade t udo o que é dit o aqui a
respeit o de t ais assunt os deve parecer mera f ant asia. Realment e, para quem dá alguns
passos na observação supra-sensível, é sempre de grande ut ilidade conhecer os depoi-
ment os dos que consideram est a ciência uma f ant asia. A t ais depoiment os não se pode t ão
f acilment e at ribuir parcialídade do observador. (Que os est udiosos da Ciência Ocult a
possam aprender o quant o possível daqueles que consideram seus anseios absurdos, sem
precisar desconcert ar-se pelo f at o de não haver reciprocidade a esse respeit o. Na
verdade, para a observação supra-sensível t ais f at os não são necessários para comprovar a
aut ent i ci dade de seus result ados. Com est as indicações ela não quer pr ovar , e sim
ilust rar. )
O excelent e ant ropólogo criminalist a Morit z Benedikt , import ant e pesquisador em
muit os out ros domínios da ciência, relat a em suas memórias sua experiência pessoal em
que cert a vez, na iminência de af ogament o durant e um banho de rio, viu diant e de si, na
memória, t oda a sua vida num único quadro. 27
Se out ras pessoas descrevem de modo diverso as imagens vivenciadas em ocasiões
semelhant es, chegando a parecer que as mesmas t enham pouca relação com

27
Morit z Benedikt (1835—1920) descreve em sua aut obiograf ia int it ulada Aus mei nem Leben. Er i nner ungen
und Er ör t er ungen (Viena, 1906), p. 35, esse caso da seguint e maneira: “ Desde a inf ância eu adorava a água,
onde vivenciei algumas passagens que ainda permanecem em minha memória. Eu me esf orçava para ser um
nadador em plena nat ureza, e ent ão me acont eceu que, ao nadar na part e f unda do Danúbío, eu submergi. Por
sort e f ui dar numa est aca que servia de marco para os banhist as. Fazia pouco mais de meio minut o que eu
t ivera a consciência de est ar-me af ogando. Ent ão f iz a curiosa const at ação de que, nesse ínt erim, recordações
acumuladas de minha vida passaram diant e de mim com rapidez vert iginosa. Essa const at ação é conhecida da
psicologia; poucos a vivenciaram pessoalment e. Naquela época eu t inha cerca de doze anos. . . ” . (N. E. orig. )

38
acont eciment os passados, isso não cont radiz o que f oi expost o, pois as imagens que sur-
gem na sit uação t ot alment e incomum da separação do corpo f ísico não são, à primeira
vist a, compreensíveis em sua relação com a vida. No ent ant o, uma observação corret a
sempre reconhecerá essa relação. Nada impede t ampouco, por exemplo, que alguém
t enha est ado prest es a se af ogar e não t enha t ido a cit ada experiência. Cabe considerar
que isso só pode ocorrer quando o corpo et érico real ment e est á separado do corpo f ísico
mas cont inua unido ao corpo ast ral. Se, por causa do sust o, ocorre uma separação ent re o
corpo et érico e o corpo ast ral, a experiência f ica excluída, porque ent ão exist e a
inconsciência t ot al, como no sono sem sonhos.
No primeiro período após a mort e, o passado aparece condensado num quadro
recordat ivo. Após a separação do corpo et érico, o corpo ast ral f ica sozinho em sua
peregrinação post erior. Não é dif ícil compreender que no corpo ast ral cont inua exist indo
t udo o que ele adquiriu por at ividade própria durant e sua permanência no corpo f ísico. O
eu elaborou at é cert o grau a personalidade espirit ual, o espírit o vit al e o homem-espírit o.
At é o pont o em que est ão desenvolvidos, est es não recebem sua exist ência dos órgãos
present es nos corpos, e sim do eu. Esse eu é j ust ament e aquele ser que não precisa de
órgãos ext eriores para sua percepção, nem t ampouco para mant er a posse daquil o que ele
uniu a si próprio. Alguém poderia obj et ar: por que no sono não exist e qualquer percepção
desses membros desenvolvidos — personalidade espirit ual, espírit o vit al e homem-espírit o?
Ela não exist e porque ent re o nasciment o e a mort e o eu est á at ado ao corpo f ísico.
Embora durant e o sono ele est ej a, j unt ament e com o corpo ast ral, f ora do corpo f ísico,
mesmo assim permanece est reit ament e unido a est e, pois a at ividade de seu corpo ast ral
est á dirigida a esse corpo f ísico. É por isso que o eu t em suas percepções limit adas ao
mundo sensível ext erior, não podendo receber as manif est ações do mundo espirit ual em
sua f orma imediat a. Só por meio da mort e essa manif est ação se aproxima do eu, que
ent ão est á livre de sua ligação com os corpos f ísico e et érico. Para a alma pode
resplandecer um out ro mundo no moment o em que ela é arrebat ada do mundo f ísico, que
na vida acorrent a a si próprio a at ividade anímica.
Ora, exist em razões pelas quais t ampouco nesse moment o cessa, para o homem, t oda
a ligação com o mundo ext erior sensível. Na verdade, cont inuam exist indo cert os apet it es
que conservam essa ligação. Trat a-se de apet it es que o homem cria j ust ament e pelo f at o
de est ar conscient e de seu eu como quart o membro de sua ent idade. Também os apet it es
e desej os que brot am dos t rês corpos inf eriores só podem at uar no âmbit o do mundo
ext erior, cessando quando esses corpos são abandonados. A f ome é provocada pelo corpo
ext erior; el a desaparece assim que esse corpo ext erior não est á mais ligado ao eu. Se o eu
não t ivesse mais apet it es além daqueles or iundos de sua própria ent idade espirit ual,
poderia obt er, do mundo espirit ual no qual f oi inserido, plena sat isf ação com o advent o da
mort e. Porém a vida lhe deu out ras cobiças. Ela acendeu nele a ânsia por prazeres que só
podem ser sat isf eit os por órgãos f ísicos, embora eles mesmos não decorram da própria
essência desses órgãos.
Não são apenas os t rês corpos que procuram a sat isf ação de seus apet it es no mundo
f ísico; o próprio eu encont ra nesse mundo prazeres para os quais não exist e, no mundo
espirit ual, qualquer obj et o de sat isf ação. Exist em dois t ipos de desej os para o eu na vida:
os procedent es dos corpos — devendo, port ant o, ser sat isf eit os dent ro deles, mas cessando
com sua decomposição — e os que nascem da essência espirit ual do eu. Enquant o o eu est á
present e nos corpos, t ambém est es são sat isf eit os por meio dos órgãos corporais, pois nas
manif est ações dos órgãos do corpo at ua o element o espirit ual ocult o; e em t udo o que os
sent idos percebem eles acolhem, igualment e, um element o espirit ual. Esse element o
espirit ual permanece, embora de out ra f orma, present e t ambém após a mort e. Tudo o

39
que o eu busca de espirit ual dent ro do mundo sensível, ele t ambém o possui quando os
sent idos não mais est ão present es. Se a esses dois t ipos de desej os não se acrescent asse
mais um t erceiro, a mort e signif icaria apenas uma t ransição, dos desej os passíveis de
sat isf ação pelos sent idos, para aqueles que encont ram sua sat isf ação na manif est ação do
mundo espirit ual. Essa t erceira espécie de desej os são aqueles que o eu engendra durant e
sua exist ência no mundo sensorial, pois ele encont ra sua sat isf ação neles mesmo quando aí
não se manif est a o espirit ual.
Os prazeres mais inf eriores podem ser manif est ações do espírit o. A sat isf ação que a
ingest ão de aliment o proporciona a um ser f amint o é uma manif est ação do espírit o — pois
pela aliment ação realiza-se algo sem o qual , em cert o sent ido, o espírit o não poderia
encont rar seu desenvolviment o. Porém o eu pode ult rapassar o prazer necessariament e
of erecido por esse f at o. Ele pode carregar a cobiça por um aliment o saboroso, mesmo
independent ement e do benef ício prest ado ao espírit o pela al iment ação. O mesmo
acont ece com out ros obj et os do mundo sensorial. Assim, são produzidas cobiças que nunca
t eriam aparecido no mundo sensorial se a est e não houvesse sido incorporado o eu
humano. Mas t ampouco é da nat ureza espirit ual do eu que derivam t ais cobiças. O eu deve
t er prazeres sensuais enquant o vive no corpo, embora sej a de nat ureza espirit ual; pois é
no sensível que se manif est a o espírit o, e nada mais agrada ao eu como o espírit o quando,
no mundo sensível, ele se ent rega a algo iluminado pela luz espirit ual. E ele cont inuará a
desf rut ar dessa luz mesmo quando a percepção sensorial j á não f or o meio pelo qual
penet ram as irradiações do espírit o. Cont udo, no mundo espirit ual não exist e qualquer
sat isf ação para aquel es desej os que não sej am, t ambém no plano f ísico, obj et o do
espírit o. Com o advent o da mort e, cessa para esses desej os qualquer possibilidade de sa-
t isf ação. O prazer rel at ivo a uma comida saborosa só pode ser proporcionado pelos órgãos
f ísicos ut ilizados em sua ingest ão: língua, palat o, et c. Esses o homem não possui mais após
o abandono do corpo f ísico. Se, no ent ant o, o eu ainda sent e necessidade de t al prazer,
essa necessidade deve permanecer insat isf eit a. Na medida em que corresponde ao
espírit o, t al gozo só persist e enquant o os órgãos f ísicos est ão present es. Na medida,
porém, em que o eu o t enha produzido sem, com isso, servir ao espírit o, esse gozo
subsist irá para além da mort e como desej o ansioso de sat isf ação. Do que ocorre ent ão
com o homem só se pode uma idéia ao imaginar alguém sof rendo uma ardent e sede numa
região t ot alment e desprovida de água. É isso o que acont ece ao eu quando, depois da
mort e, ele conserva desej os insaciados de prazeres do mundo ext erior, não possuindo os
órgãos necessários para sat isf azê-los. Nat uralment e essa sede ardent e, cit ada como ana-
logia para a sit uação do eu após a mort e, deve ser imaginada com uma int ensif icação
desmedida, e além disso abrangendo t odas as cobiças, ainda exist ent es, para as quais não
haj a qual quer possi bi l i dade de sat isf ação.
O próximo est ado do eu consist e em libert ar-se desse vínculo com o mundo ext erior.
Nesse sent ido, o eu deve realizar em si mesmo úma purif icação e uma libert ação. Dele
devem ser eliminados t odos os desej os engendrados por ele próprio dent ro do corpo e que
não t enham qualquer direit o de cidadania no mundo espirit ual.
Tal como um obj et o é apoderado e consumido pelo f ogo, assim o descrit o mundo dos
apet it es é dissolvido e dest ruído depois da mort e. Com isso se abre uma perspect iva
daquele mundo que o conheciment o supra-sensível pode designar como ‘ f ogo devorador’
do espírit o. É consumido por esse ‘ f ogo’ t odo apet it e de nat ureza sensual, desde que esse
element o sensual não sej a uma manif est ação do espírit o.
Tais imagens que o conheciment o supra-sensível deve f ornecer desses processos
poderiam parecer desoladoras e espant osas. Pode parecer assust ador que, após a mort e,
uma esperança cuj a realização requer órgãos f ísicos se t ransf orme em desespero; que um

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desej o, real izável apenas no mundo f ísico, deva convert er-se em privação ardent e. Só se
pode t er t al opinião quando não se pondera que t odos os desej os e cobiças consumidos
após a mort e pelo ‘ f ogo devorador’ não represent am, num sent ido superior, f orças
benéf icas, mas dest ruidoras na vida. Por meio de t ais f orças o eu se liga ao mundo
sensorial com um laço mais f irme do que o necessário para assimilar desse mundo t udo o
que lhe sej a út il. Esse mundo sensorial é uma revelação do espirit ual ocult o at rás dele. O
eu nunca poderia desf rut ar do espírit o, em sua f orma manif est a apenas por meio dos
sent idos f ísicos, caso recusasse servir-se desses sent idos para f ruir do espírit o no âmbit o
f ísico.
Cont udo, o eu se af ast a da aut ênt ica realidade espirit ual no mundo na medida em
que usuf rui do mundo sensorial sem que o espírit o se manif est e nisso. Se o prazer sensorial
como expressao do espírit o signif ica el evação, desenvolviment o do eu, aquele que não é
t al expressão acarret a seu empobreciment o e desolação. Quando um apet it e dessa espécie
encont ra sat isf ação no mundo sensível, seu ef eit o desolador sobre o eu cont inua, por isso,
a exist ir — só que ant es da mort e esse ef eit o pert urbador não é percept ível ao eu. Por
isso, a sat isf ação de t ais desej os pode engendrar na vida novos desej os semelhant es, e o
ser humano nem percebe que se envolve por si mesmo num ‘ f ogo devorador’ . Só após a
mort e se t orna visível o que o envolve j á em vida e, por meio dessa visibilidade,
manif est a-se ao mesmo t empo em seus ef eit os salut ares e benf azej os. Quem ama alguém
não se sent e at raído apenas por seus at ribut os que sensibilizam os órgãos f ísicos; deles só
se pode dizer que com a mort e são subt raídos à percepção. No ent ant o, j ust ament e se
t orna visível, na pessoa amada, aquilo para cuj a percepção os órgãos f ísicos eram apenas o
meio. Aliás, a única coisa que impede essa plena visibilidade é a presença daqueles
apet it es que só podem ser sat isf eit os pelos órgãos f ísicos. Se esses apet it es não f ossem
ext irpados, a conscient e percepção do ser amado após a mort e não poderia ocorrer. Dest e
pont o de vist a, a idéia do aspect o t errível e desolador que os acont eciment os após a
mort e podem t er para o homem t ransf orma-se, como o conheciment o supra-sensível deve
most rar, em algo prof undament e grat if icant e e consolador.
As vivências imediat ament e post eriores à mort e dif erem f undament alment e, em mais
um aspect o, daquelas experiment adas durant e a vida. No decorrer da purif icação o
homem vive, por assim dizer, em ret rocesso. El e repassa t udo o que experiment ou na vida
desde o nasciment o. Principia dos acont eciment os imediat ament e precedent es à mort e,
vivenciando t udo uma vez mais at é à inf ância, em sent ido inverso. Ent ão surge diant e de
seus olhos t udo o que, de espirit ual, não f oi engendrado pela nat ureza espirit ual do eu
durant e a vida. Só que agora ele experiment a t ambém ist o em seqüência invert ida. Por
exemplo, um homem mort o aos sessent a anos e que aos quarent a, num impulso de ira,
causou a alguém uma dor corporal ou psíquica, vivenciará esse f at o novament e quando,
em sua caminhada de ret rocesso após a mort e, t iver alcançado seus quarent a anos. Só que
ent ão ele não vívenciará a sat isf ação que sent iu em vida pela agressão dirigida ao out ro,
em sim a dor que lhe causou.
Pelo que f oi dit o acima, f ica logo evident e que após a mort e só pode ser percebido
como penoso, em t al processo, algo decorrent e de uma cobiça do eu, oriunda
exclusivament e do mundo f ísico ext erior. Na verdade o eu não prej udica apenas o out ro
pela sat isf ação de t al cobiça, mas a si próprio; só que durant e a vida esse prej uízo lhe
permanece invisível. Depois da mort e, porém, t odo esse mundo pernicioso das cobiças
t orna-se visível ao eu; e ent ão o eu se sent e at raído por t odo ser e t odo obj et o que lhe
acendeu t al cobiça, para que est a sej a consumida pelo ‘ f ogo devorador’ da mesma f orma
como surgiu. Só quando, em sua caminhada ret rocessiva, o ser humano at inge o moment o
de seu nasciment o, é que as cobiças t erão at ravessado t odas o f ogo purif icador, nada

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impedindo ent ão o homem de ent regar-se int eirament e ao mundo espirit ual. Ele ascende a
um novo nível de exist ência. Assim como na mort e ele se desprendeu de seu corpo f ísico e
logo em seguida do et érico, agora se desint egra aquela part e do corpo ast ral que só pode
exist ir na consciência do mundo f ísico ext erior.
Para o conheciment o supra-sensível exist em, com isso, t rês cadáveres: o f ísico, o
et érico e o ast ral. O moment o em que est e úl t imo é despoj ado pelo homem se caract eriza
pelo f at o de o t empo da purif icação corresponder mais ou menos a um t erço do t empo
decorrido ent re o nasciment o e a mort e. Só mais t arde, quando considerarmos o decurso
da vida humana com base na Ciência Ocult a, é que poderá f icar nít ida a causa disso. Para
a observação supra-sensível, no ambient e humano exist em sempre cadáveres ast rais,
despoj ados por seres humanos que passam do est ado de purif icação para uma exist ência
superior. Isso ocorre da mesma f orma como, para a percepção f ísica, surgem cadáveres
nos lugares habit ados por homens.
Depois da purif icação, inicia-se para o eu um est ado de consciência int eirament e
novo. Enquant o ant es da mort e as percepções ext eriores t inham de af luir para ele, de
modo que a luz da consciência pudesse incidir sobre as mesmas, agora é como se de seu
int erior brot asse um mundo que at inge a consciência. Também ent re o nasciment o e a
mort e o eu vivia nesse mundo. Só que est e se revest ia das manif est ações aos sent idos; e
soment e quando o eu, prescindindo de qualquer percepção sensorial, percebe a si próprio
em seu ‘ mais sagrado ínt imo’ , é que se revela em sua aparência imediat a algo que
normal ment e só aparece sob o véu do sensorial. Assim como a percepção do eu ant es da
mort e se produz no ínt imo, t ambém é a part ir do ínt imo que o mundo espirit ual se
manif est a, em sua plenit ude, após a mort e e a purif icação. Na verdade, essa manif est ação
j á se realiza logo após o abandono do corpo et érico; porém diant e dela se coloca, qual
uma nuvem obscurant e, o mundo das cobiças ainda orient ado para o mundo ext erior. E
como se a um mundo bem-avent urado de vivências espirit uais se mist urassem as sombras
negras e demoníacas oriundas das cobiças ‘ que se consomem no f ogo’ . Al iás, agora essas
cobiças não são merament e sombras, mas ent idades reais; isso se evidencia assim que os
órgãos f ísicos est ão af ast ados do eu e est e pode, por isso mesmo, perceber o que é de
nat ureza espirit ual. É como def ormações e caricat uras daquilo que o homem conheceu
ant es, pela percepção sensorial, que essas ent idades aparecem. A observação supra-
sensível t em a dizer, sobre esse mundo do f ogo purif icador, que ele é habit ado por seres
cuj o aspect o pode ser horrendo e doloroso para a visão espirit ual; cuj o prazer parece ser a
dest ruição e cuj a paixão visa a um mal f rent e ao qual o mal do mundo sensível é
insignif icant e. O que, das ref eridas cobiças, o homem leva consigo a esse mundo parece a
t ais ent idades um aliment o, por cuj o int ermédio seus poderes sempre recebem novo
ref orço e vigor.
O quadro assim esboçado, de um mundo impercept ível aos sent idos, poderá parecer
menos inacredit ável ao homem se est e alguma vez observar, sem preconceit os, uma part e
do reino animal, O que é, para o ol har espirit ual, um lobo cruel vagando a esmo? O que se
revela na percepção que os sent idos t êm dele? Nada mais senão uma alma que vive em
apet it es e age por meio dest es. Pode-se chamar a f igura ext erior do lobo de encarnação
desses apet it es. E se o homem não t ivesse órgão algum para perceber essa f igura, mesmo
assim deveria reconhecer a exist ência do ser em quest ão se os apet it es dest e se
manif est assem invisivelment e em seus ef eit os, ou sej a, se uma f orça invisível aos olhos
andasse rondando e, por seu int ermédio, pudesse acont ecer o mesmo que acont ece por
int ermédio do lobo visível.
Ora, os seres do f ogo purif icador não exist em para a consciência sensorial, mas
soment e para a supra-sensorial; t odavia, seus ef eit os são evident es: eles consist em na

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dest ruição do eu quando est e lhes dá aliment o. Esses ef eit os f icam clarament e visíveis
quando o prazer j ust if icado se int ensif ica em descomediment o e licenciosidade; pois o que
é percept ível aos sent idos só excit aria t ambém o eu na medida em que o prazer se
f undament asse na nat ureza do eu. O animal só é impelido ao apet it e por aquilo que, no
mundo ext erior, seus t rês corpos reclamam. O homem t em prazeres mais elevados, pois a
seus t rês membros corporais se acrescent a um quart o membro, o eu. Porém quando o eu
cobiça um prazer que serve ao seu ser não para a conservação e o desenvolviment o, mas
para a dest ruição, t al cobiça não póde ser ef eit o nem da at uação de seus t rês corpos nem
de sua própria nat ureza, mas apenas daquelas ent idades que, quant o à sua verdadeira
f orma, permanecem ocult as aos sent idos mas podem, j ust ament e, aproximar-se da
nat ureza superior do eu e despert ar-lhe apet it es não relacionados como mundo sensório,
embora sat isf azíveis apenas por meio dest e. Exist em, de f at o, seres que t êm por aliment o
paíxões e cobiças piores do que t odos os apet it es animais, pois não se realizam no mundo
sensível, e sim se apoderam do espírit o e at raem-no para o campo inf erior dos sent idos. As
f iguras dessas ent idades são, port ant o, mais f eias e horrendas do que as f iguras dos
animais mais f erozes, nos quais apenas se incorporam inst int os f undament ados no
sensorial; e as f orças dest ruidoras desses seres ult rapassam em medida incomensurável
t oda a f úria devast adora que exist e no mundo animal sensorialment e percept ível. É dessa
f orma que o conheciment o supra-sensível deve ampliar a visão do homem para um mundo
de seres que, em cert o sent ido, acha-se em nível inf erior ao mundo visível dos animais
dest ruidores.
Tendo at ravessado esse mundo após a mort e, o homem encont ra-se diant e de um
mundo pleno de espirit ualidade, o qual produz nele apenas ânsias que encont ram
sat isf ação no âmbit o espirit ual. Mas t ambém aqui o homem dist ingue ent re o que pert ence
ao seu eu e aquilo que f orma o ambient e desse eu — pode-se dizer, t ambém, seu mundo
espirit ual ext erior. Cont udo, o que ele percebe desse ambient e lhe af lui da mesma
maneira como, durant e sua permanência num corpo f ísico, lhe af luia a percepção de seu
próprio eu. Enquant o, pois, na vida ent re o nasciment o e a mort e o mundo ambient e do
homem lhe f ala por int ermédio dos órgãos de seu corpo, após o abandono de t odos os
corpos a voz do novo ambient e penet ra diret ament e no ‘ mais ínt imo sant uário’ do eu.
Todo o meio ambient e do homem est á agora replet o de ent idades da mesma espécie de
seu eu, pois só um eu t em acesso a out ro. Assim como minerais, veget ais e animais
circundam o homem no mundo sensorial, compondo esse mundo, depois da mort e o
homem se acha envolt o por um mundo compost o por seres de nat ureza espirit ual.
Cont udo o homem leva consigo, para esse mundo, algo que não é seu ambient e;
t rat a-se daquilo que o eu vivenciou no mundo sensível. De início, imediat ament e depois da
mort e, enquant o o corpo et érico ainda est á ligado ao eu, a t ot alidade dessas vivências se
apresent a como um abrangent e panorama recordat ivo. O próprio corpo et érico é ent ão
despoj ado, mas algo desse panorama permanece como propriedade imperecível do eu. É
como se f osse produzido um ext rat o, uma sínt ese de t odas as vivências e experiências
ensej adas ao homem ent re o nasciment o e a mort e; e é esse algo rest ant e que é t omado.
Trat a-se do produt o espirit ual da vida, de seu f rut o. Esse produt o é de nat ureza espirit ual;
ele cont ém t udo o que de espirit ual se manif est a por meio dos sent idos, mas não t eria
podido exist ir sem a vida no mundo sensorial. Esse f rut o espirit ual do mundo sensório é
vivenciado pelo eu, após a mort e, como aquil o que agora é seu mundo int erior próprio e
com o qual ele penet ra no mundo const it uído de seres que se manif est am da mesma f orma
como soment e o próprio eu pode manif est ar-se no mais prof undo ínt imo. Tal como uma
sement e veget al — que é um ext rat o da plant a int eira — só germina quando plant ada num
out ro mundo — ou sej a, na t erra —, aquil o que o eu t raz consigo do mundo sensorial

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desabrocha agora como um germe sobre o qual at ua t odo o ambient e espirit ual que o
acolhe.
A ciência do supra-sensível só pode, na verdade, f ornecer imagens se quiser
descrever o que ocorre nesse ‘ reino dos espírit os’ ; porém essas imagens podem
apresent ar-se como uma aut ênt ica realidade para a consciência supra-sensível quando
est a invest iga os f at os correspondent es, invisíveis aos olhos f ísicos. O que aí se pret ende
descrever pode ser ilust rado mediant e analogias com o mundo dos sent idos — pois embora
sua nat ureza sej a int eirament e espirit ual, em cert o aspect o essa realidade t em se-
melhança com o mundo sensorial. Tal como, por exemplo, nest e últ imo uma cor se
manif est a quando det erminado obj et o at ua sobre o olho, do mesmo modo, no ‘ reino dos
espírit os’ , uma vivência se apresent a diant e do eu como algo cromát ico quando um ser
exerce uma ação sobre ela. Só que essa vivência se realiza de um modo apenas igualável à
percepção do eu no ínt imo, propiciada na vida ent re o nasciment o e a mort e. Não é como
se a luz at ingisse o homem do ext erior, mas como se out ro ser at uasse diret ament e sobre
o eu e o induzisse a represent ar essa at uação como uma imagem col orida. Dessa maneira,
t odos os seres do âmbit o espirit ual do eu encont ram sua expressão num mundo colorido
irradiant e. Por causa de sua origem dif erent e, essas experiências cromát icas no mundo
espirit ual t êm, obviament e, carát er diverso em relação às cores sensíveis.
Também de out ras impressões que o homem recebe do mundo sensorial deve-se dizer
algo semelhant e. A maior semelhança com as impressões do mundo sensível são os sons do
mundo espirit ual. E quant o mais o homem se f amiliariza com esse mundo, t ant o mais est e
se t orna para ele uma vida moviment ada, comparável aos sons e suas harmonias na
realidade f ísica. Só que ele não sent e os sons como algo que chega de f ora para um órgão,
mas como uma pot ência que se derrama no Universo por int ermédio de seu eu. Ele sent e o
som t al como, no mundo sensível, sent ia sua própria f ala ou cant o; só que, no mundo
espirit ual, sabe que esses sons emanados dele são ao mesmo t empo revelações de out ras
ent idades que se derramam no Universo por seu int ermédio.
Uma revelação ainda mais elevada ocorre no ‘ reino dos espírit os’ quando o som se
convert e em ‘ verbo espirit ual’ . Ent ão não apenas f lui at ravés do eu a vi da móbi l de out ro
ser espirit ual, mas esse mesmo ser comunica seu ínt imo a esse eu. Sem as barreiras que
t oda convivência acarret a no mundo sensorial , quando o eu é impregnado pel o ‘ verbo
espirit ual’ dois seres vivem int erpenet rados. E é realment e dessa nat ureza a convivência
do eu com out ros seres espirit uais após a mort e.
Diant e da consciência supra-sensível surgem t rês regiões do mundo espirit ual
comparáveis a t rês part es do mundo f ísico-sensório. A primeira região é, por assim dizer, a
‘ t erra f irme’ do mundo espirit ual ; a segunda é a ‘ região dos mares e rios” , e a t erceira é a
‘ at mosf era’ .
Aquilo que na Terra possui f ormas f ísicas, podendo ser percebido por órgãos f ísicos, é
percebido na primeira região do ‘ reino dos espírit os’ segundo sua nat ureza espirit ual. De
um crist al, por exemplo, pode-se perceber aí a f orça que modela sua f orma. Cont udo, o
que ent ão se revela aparece como o opost o do que se apresent a no mundo sensorial . O
espaço que nest e últ imo é preenchido pel a massa rochosa manif est a-se, ao olhar
espirit ual, como uma espécie de cavidade; porém em redor dessa cavidade é vist a a f orça
que modela a f orma da pedra. Uma cor que a pedra t enha no mundo f ísico aparece, no
mundo espirit ual, como a vivência da cor complement ar; port ant o, uma pedra vermelha
vist a do mundo espirit ual é vist a como esverdeada, uma pedra verde como avermelhada,
et c. Também as demais propriedades se manif est am em seus opost os. Assim como as
rochas, massas de t erra, et c. const it uem a t erra f irme — a região cont inent al — no mundo
sensível, as mencionadas f ormações const it uem a ‘ t erra f irme’ do mundo espirit ual.

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Tudo o que é vida no mundo sensível const it ui a região marít ima no plano espirit ual.
Ao olhar sensorial, a vida se manif est a em seus ef eit os nas plant as, nos animais e nos
homens; ao olhar espirit ual, a vida é um ser f luido que impregna o reino dos espírit os
como mares e rios. Melhor ainda é a analogia com a circulação do sangue no corpo — pois
enquant o no mundo sensível os mares e rios se apresent am dist ribuídos de modo irregular,
na dist ribuição da vida f luida no mundo espirit ual reina cert a regularidade, t al qual na
circulação do sangue no corpo. Mesmo essa ‘ vida f luida’ é percebida simult aneament e
como um ressoar espirit ual.
A t erceira região do plano espirit ual é sua ‘ at mosf era’ . O que se manif est a no mundo
sensível como sensação exist e, na região espirit ual, impregnando t udo do mesmo modo
como o ar na Terra. Um mar de sensação f luent e, eis o que se deve imaginar nesse
âmbit o. Sof riment o e dor, alegria e deleit e f luem, nessa região, como vent o e t empest ade
na at mosf era do mundo sensorial. Imagine-se uma bat al ha t ravada na Terra; pois bem — aí
não se ent rechocam simplesment e f iguras humanas, visíveis aos olhos f ísicos: sent iment os
se chocam cont ra sent iment os, paixões cont ra paixões; sof riment os preenchem o campo
de bat alha t ant o quant o f ormas humanas. Tudo o que aí vive de paixão, dor, alegria da
vit ória, não exist e apenas enquant o se manif est a em ef eit os f isicament e percept íveis; vem
à consciência do sent ido espirit ual como processo da at mosf era no mundo espirit ual. Tal
acont eciment o corresponde, no domínio espirit ual, a uma t orment a no mundo f ísico; e a
percepção desses acont eciment os é comparável à audição das palavras no mundo f ísico.
Por isso se diz o seguint e: assim como o ar envolve e permeia os seres t errest res, os
‘ verbos espirit uais f lut uant es’ o f azem com os seres e acont eciment os do plano espirit ual.
E ainda out ras percepções são possíveis nest e mundo espirit ual. Aqui exist e t ambém
algo comparável ao calor e à luz do plano f ísico. Aquilo que, como o calor, impregna t udo
no reino dos espírit os, é o próprio mundo dos pensament os; só que ent ão os pensament os
devem ser imaginados como seres vivos e aut ônomos. O que o homem concebe no mundo
manif est o como pensament o é como uma sombra do que exist e como ent idade pensa-
ment al no reino dos espírit os. Imaginemos o pensament o, t al como exist e no homem,
t endo sido dest acado dele e, como ent idade at iva, dot ado de vida int erior própria — ent ão
t eremos uma pálida ilust ração do que preenche a quart a região do plano espirit ual. O que
o homem percebe como pensament o em seu mundo f ísico, ent re o nasciment o e a mort e,
é apenas a revelação do mundo dos pensament os, do modo como est e pode af igurar-se por
int ermédio dos órgãos corporais. Porém t udo o que o homem cogit a em seus pensament os,
promovendo um enr i queci ment o no mundo f ísico, t em sua origem naquela região. Ent re
t ais pensament os não bast a cont ar apenas as idéias dos grandes invent ores, das pessoas
geniais; pode-se ver como a qualquer pessoa ‘ ocorrem’ idéias que ela não simplesment e
deve ao mundo ext erior mas por meio das quais ela modif ica esse mundo ext erior.
Os sent iment os e paixões, na medida em que são ocasionados pelo mundo ext erior,
devem ser localizadas na t erceira região do reino dos espírit os; t udo, porém, que possa
viver na alma humana t ornando o homem um ser criador, que at ua sobre seu ambient e
t ransf ormando-o e f ecundando-o, manif est a sua f orma primordial e essencial no quart o
domínio do mundo espirit ual.
O que exist e na quint a região é compar ável à l uz f ísica. Em sua f orma primordial, é
sabedor i a manif est a. Seres que vert em sabedoria ao seu redor, t al qual o Sol derrama luz
para os seres f ísicos, pert encem a essa região. O que é irradiado dessa sabedoria se revela
em seu verdadeiro sent ido e signif icado, para o mundo espirit ual, do mesmo modo como
um ser f ísico most ra sua cor quando iluminado pela luz.
Exist em ainda regiões mais elevadas do reino dos espírit os; elas serão descrit as num
t recho post erior dest e livro.

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É nesse mundo que, depois da mort e, o eu é imerso com o result ado que t raz consigo
da vida f ísica. Esse result ado ainda est á unido à part e do corpo ast ral não despoj ada no
f inal da purif icação. Aliás, só é despoj ada aquela part e que, depois da mort e, nut ria
af inidade com as cobiças e desej os da vida f ísica. A imersão do eu no mundo espirit ual,
j unt ament e com suas aquisições do mundo sensível, pode ser comparada ao plant io de
uma sement e em t erra f ért il. Assim como essa sement e ext rai as subst âncias e f orças de
seu meio ambient e para t ransf ormar-se numa nova plant a, o desenvolviment o e o
cresciment o são a essência do eu imerso no mundo espirit ual.
Naquilo que um órgão percebe se ocult a t ambém a f orça pela qual esse próprio órgão
é f ormado. O olho percebe a luz, mas sem a luz não exist iria olho algum. Seres que vivem
na escuridão não desenvolvem qual quer órgão visual. Assim sendo, o homem f ísico int eiro
é criado e plasmado a part ir das f orças ocult as inerent es ao que é percebido pelos
membros do corpo. O corpo f ísico é const ruído pelas f orças do mundo f ísico, o corpo
et érico pelas do mundo vit al e o corpo ast ral é modelado a part ir do mundo ast ral. Ora,
quando o eu é colocado no reino dos espírit os, vêm ao seu encont ro j ust ament e aquelas
f orças que permanecem ocult as àpercepção f ísica. O que se t orna visível na primeira
região do reino dos espírit os são as ent idades espirit uais que sempre circundam o homem
e que t ambém const ruíram seu corpo f ísico. Após a mort e, ele se encont ra j ust ament e em
meio a essas mesmas f orças plasmadoras, que agora l he most ram sua própria f orma, ant es
ocult a. Do mesmo modo, na segunda região el e se encont ra em meio às f orças das quais se
originam seu corpo et érico; na t erceira região f luem para ele os poderes dos quais se
desmembrou seu corpo ast ral. Também as regiões mais el evadas do reino dos espírit os lhe
f azem f luir o element o do qual ele f oi const ruído na vida ent re o nasciment o e a mort e.
Essas ent idades do mundo espirit ual cooperam agora com o f rut o t razido pelo homem
da vida passada, o qual agora se t orna germe. E é graças a essa cooperação que, de início,
o homem é reconst ruído como ser espirit ual. Durant e o sono, os corpos f ísico e et érico
cont inuam exist indo; é verdade que o corpo ast ral e o eu est ão f ora de ambos, mas
cont inuam ligados a eles. O que recebem de inf luências do mundo espirit ual nesse est ado
serve apenas para regenerar as f orças esgot adas durant e a vigília.
Uma vez abandonados os corpos f ísico e et érico e, após o período de purif icação,
t ambém as part es do corpo ast ral ainda ligadas ao mundo f ísico por suas cobiças, t udo o
que af lui do mundo espirit ual para o eu não será apenas para aperf eiçoar, mas t ambém
para conf erir nova f orma. E após cert o t empo, do qual f alaremos numa part e ult erior
dest e livro, agrega-se ao eu um corpo ast ral capaz de viver novament e num corpo et érico
e num corpo f ísico, conf orme o homem os possui ent re o nasciment o e a mort e. O homem
pode at ravessar novament e um nasciment o e reaparecer numa exist ência t errena
renovada, que agora agregou o f rut o da vida ant erior. At é a nova f ormação de um corpo
ast ral, o homem é t est emunha de sua própria reconst rução. Pelo f at o de os poderes do
reino dos espírit os não se revelarem por int ermédio de órgãos ext eriores, e sim a part ir do
ínt imo como o próprio eu na aut oconsciência, ele pode perceber essa revelação enquant o
seu sent ido não se dirige a um mundo percept ivo ext erior. A part ir do moment o em que o
corpo ast ral é novament e f ormado, esse sent ido se dirige, no ent ant o, para f ora. O corpo
ast ral exige novament e um corpo et érico e um corpo f ísico ext eriores, e com isso se af ast a
das revelações do ínt imo.
Por conseguint e, exist e agora um est ado int ermediário em que o homem submerge na
inconsciência. A consciência só poderá emergir novament e no mundo f ísico quando
est iverem f ormados os órgãos necessários à percepção f ísica. Nesse período, em que cessa
a consciência iluminada pela percepção int erior, o novo corpo et érico começa a agregar-se
ao corpo ast ral, e o homem pode novament e inserir-se num corpo f ísico. De ambas as

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agregações só poderia part icipar, com consciência, um eu que houvesse produzido por si
mesmo as f orças criadoras ocult as nos corpos et érico e f ísico: o espírit o vit al e o homem-
espírit o. Enquant o o homem não at ingiu esse pont o, ent idades mais adiant adas do que ele
próprio na evolução devem dirigir essa int egração. O corpo ast ral é conduzido por essas
ent idades a um casal genit or, para ser dot ado dos corpos et érico e f ísico adequados.
Ant es de se realizar a int egração do corpo et érico, algo ext raordinariament e
signif icat ivo acont ece ao ser humano prest es a ent rar em nova exist ência f ísica. Pois bem:
em sua vida ant erior, ele engendrou f orças pert urbadoras que se manif est aram, após a
mort e, na recapit ulação invert ida. Volt emos ao exemplo j á cit ado: aos quarent a anos de
sua vida ant erior, a pessoa ocasionou um sof riment o a alguém por um impulso de cólera.
Após a mort e, esse sof riment o do out ro veio ao seu encont ro como uma f orça
pert urbadora do desenvolviment o do próprio eu. E o mesmo acont ece com t odos os
acont eciment os semelhant es da vida ant erior. Durant e o ingresso na vida f ísica, esses
obst áculos à evolução se apresent am novament e diant e do eu. Assim como à chegada da
mort e uma espécie de panorama recordat ivo se apresent ou diant e do eu, surge-lhe agora
uma previsão da vida vindoura. O homem vê novament e um quadro que agora lhe most ra
t odos os obst áculos a serem removidos se ele quiser prosseguir em sua evolução. E aquil o
que é vist o desse modo convert e-se no pont o de part ida para f orças que ele deve levar
consigo para a nova vida. A imagem da dor causada por ele ao próximo t ransf orma-se
numa f orça da qual o eu, ao adent rar novament e a vida, se vale para reparar esse
sof riment o. Assim a vida ant erior at ua, port ant o, decisivament e sobre a nova vida. Os at os
dessa nova vida são causados, de cert o modo, pelos da ant erior. Essa relação causal de
uma vida ant erior com uma post erior deve ser considerada como a l ei do dest i no; exist e o
hábit o de designá-la t ambém com a expressão ‘ carma’ , em prest ada da sabedoria
orient al.
A const rução de um novo cont ext o corpóreo não é, t odavia, a única at ividade que
compet e ao homem ent re a mort e e um novo nasciment o. Enquant o essa const rução
acont ece, o homem vive f ora do mundo f ísico. Nesse ínt erim, est e últ imo segue sua
evolução. Em lapsos de t empo relat ivament e curt os, a Terra muda sua f ace. Que aspect o
apresent avam, há alguns milênios, as regiões at ualment e ocupadas pela Alemanha?
Quando o homem surge numa nova exist ência t errest re, via de regra est a não possui mais
o mesmo aspect o que na época de sua vida ant erior. Durant e sua ausência da Terra, houve
t oda espécie de t ransf ormação possível. Ora, nessa t ransf ormação da f ace da Terra at uam
t ambém f orças ocult as. Elas at uam a part ir do mesmo mundo onde o homem se encont ra
após a mort e. E ele mesmo t em de colaborar nessa ref ormulação da Terra, só que sob a
direção de ent idades superiores, enquant o não adquiriu, mediant e a geração do espírit o
vit al e do homem-espírit o, uma clara consciência das relações ent re o espirit ual e sua
expressão no f ísico; mas mesmo assim cont ribui para a t ransf ormação das condições
t errenas.
Cabe dizer que, no período ent re a mort e e um novo nasciment o, os homens
t ransf ormam a Terra de maneira t al que as condições t errest res correspondem ao que se
desenvolveu neles próprios. Quando observamos um l ugar qual quer da Terra em
det erminada época e, depois de longo t empo, em condição t ot alment e diversa, as f orças
que levaram a t al mudança residem nos seres humanos mort os. É dest a f orma que eles
t ambém est ão em cont at o com a Terra ent re a mort e e um novo nasciment o. A
consciência supra-sensível vê em t oda exist ência f ísica a manif est ação de uma realidade
espirit ual ocult a. Para a observação f ísica, as t ransf ormações da Terra devem-se à l uz
solar, às mudanças climát icas, et c. Para a observação supra-sensível , no raio luminoso que
o Sol envia à plant a pal pit a a energia dos mort os. Com essa observação vem à consciência

47
como al mas humanas planam ao redor das pl ant as, como mudam o solo e coisas seme-
lhant es. Nem só para si mesmo e para o preparo da sua própria nova exist ência t errest re é
que o homem est á volt ado após a mort e; não, aí ele é convocado para at uar
espirit ualment e sobre o mundo ext erior, t al como f oi convocado para at uar f isicament e na
vida ent re o nasciment o e a mort e.
Cont udo, não apenas a vida humana do mundo espirit ual at ua sobre as condições
t errest res; t ambém a at ividade na exist ência f ísica t em seus ef eit os no plano espirit ual.
Um exemplo pode ilust rar o que ocorre nesse sent ido:
Exist e um vínculo de amor ent re mãe e f ilho. É na at ração ent re ambos, arraigada
nas f orças do mundo sensível, que esse amor se origina. Porém ele se t ransf orma no
decorrer do t empo. O laço sensorial se convert e cada vez mais em laço espirit ual, que não
é urdido apenas para o mundo f ísico, mas t ambém para o reino dos espírit os. O mesmo
ocorre com out ros rel acionament os. Aquilo que no plano f ísico é t ecido por seres
espirit uais cont inua a exist ir no plano espirit ual. Amigos que durant e a vida f oram
int imament e ligados permanecem unidos t ambém no reino dos espírit os; após o
despoj ament o dos corpos f ísicos, eles ent ram numa ligação muit o mais ínt ima do que na
vida f isica —pois, como espírit os, relacionam-se ent re si do mesmo modo como no caso das
j á mencionadas manif est ações de seres espirit uais a out ros por meio do ínt imo. E um
vínculo criado ent re duas pessoas leva-as a unir-se t ambém numa nova exist ência. No mais
verdadeiro sent ido da palavra, cabe, port ant o, f alar num reencont ro das pessoas depois da
mort e.
O que ocorreu uma vez ao homem, do nasciment o at é à mort e e daí at é um novo
nasciment o, t orna a repet ir-se. O homem ret orna sempre à Terra quando o f rut o adquirido
numa exist ência f ísica at ingiu o amadureciment o no plano espirit ual . Cont udo, não exist e
uma repet ição sem começo e f im; originalment e o homem passou de f ormas exist enciais
dif erent es para aquelas que t ranscorrem conf orme descrevemos, e passará ainda a out ras
no f ut uro. A visão global dessas t ransições se apresent ará quando a seguir descrevermos,
no sent ido da consciência supra-sensível, a evolução do Universo em sua relação com o
homem.
Nat uralment e os processos ent re a mort e e um novo nasciment o são, para a
observação sensorial ext erior, ainda mais ocul t os do que a realidade espirit ual subj acent e
à exist ência manif est a ent re o nasciment o e a mort e. Essa observação sensorial só pode
ver os ef eit os dessa part e do mundo ocult o quando est es se manif est am na exist ência
f ísica. Cabe-lhe indagar se o homem que ingressa na vida, pelo nasciment o, t raz consigo
algo do que o conheciment o supra-sensível descreve dos processos ent re uma mort e
ant erior e o nasciment o.
Se alguém encont ra um caracol sem que nada se not e do respect ivo animal, nem por
isso deixará de reconhecer que essa casca se f ormou pela at ividade de um animal, e não
poderá acredit ar que a concha t enha sido conf igurada por f orças merament e f ísicas. Do
mesmo modo, quem observar o homem na vida e encont rar algo que não possa provir
dessa vida, poderá admit ir racional ment e a origem de t al f at o no âmbit o descrit o pela
ciência do supra-sensível, desde que com isso uma luz esclarecedora incida sobre o que,
do cont rário, é inexplicável. Assim, t ambém aí a observação sensorial e int elect ual
poderia admit ir as causas invisíveis a part ir de seus ef eit os visíveis. E a quem cont emplar a
vida sem preconceit os, a cada nova observação isso t ambém se evidenciará cada vez mais
como sendo o corret o. Trat a-se apenas de encont rar o pont o de vist a corret o para
observar os ef eit os na vida. Onde est ariam, por exemplo, os ef eit os do que o conheci-
ment o supra-sensível descreve como processos do período de purif icação? Como se
manif est a o ef eit o das vivências que, segundo a pesquisa espirit ual, o homem deve t er no

48
plano espirit ual após esse período?
Enigmas se impõem em escala suf icient e a t oda observacão séria e prof unda da
exist ência nesse campo. Vê-se, de um lado, uma pessoa nascida na miséria e penúria,
dot ada com mínimas capacidades, de modo que as condições de seu nasciment o parecem
predest iná-l a a uma exist ência paupérrima. Já out ra é cuidada, desde o primeiro moment o
de sua exist ência, por mãos e coração carinhosos; nela desabrocham brilhant es
f aculdades, preparando-a para uma vida f ecunda e sat isf at ória. Duas opiniões ant agônicas
podem vigorar diant e de t ais quest ões. Uma delas se apegará ao que os sent idos percebem
e ao ent endiment o int elect ual correspondent e. No f at o de uma pessoa t er nascido na
f elicidade e out ra na inf elicidade, essa opinião não vê problema algum; e mesmo não
desej ando recorrer à palavra ‘ acaso’ , não cogit ará em admit ir a exist ência de uma lei
condicionant e das causas para t al. Quant o às predisposições e apt idões, essa ment alidade
considerará apenas o que se ‘ herdou’ dos pais, avós e out ros ant epassados. El a se recusará
a procurar as causas em processos espirit uais que a própria pessoa t enha at ravessado
ant es de seu nasciment o — independent ement e da linha heredit ária de seus ant epassados
— e por cuj o int ermédio t enha modelado suas predisposições e apt idões.
Uma out ra ment alidade se sent irá insat isf eit a com t al concepção. Ela dirá:
“ Tampouco no mundo manif est o ocorre, em det erminado lugar ou ambient e, algo sem que
se devesse pressupor causas para a ocorrência. Mesmo que em muit os casos os homens
ainda não as t enham pesquisado, essas causas exist em. Uma f lor alpina não cresce na
planície. Em sua nat ureza exist e algo que a liga à região dos Alpes. Da mesma f orma, num
ser humano deve haver algo que o f az nascer em det erminado ambient e. Mot ivos que
repousam apenas no mundo f ísico não vêm ao caso. Para o prof undo pensador, é como se
o f at o de alguém golpear um out ro devesse ser explicado não pelo sent iment o do
primeiro, mas pelo mecanismo f ísico de sua mão. ” Igualment e insat isf eit a deve most rar-se
essa ment alidade com qualquer explicação para dons e apt idões a part ir da simples
‘ heredit ariedade’ . De seu pont o de vist a, alguém pode dizer o seguint e: “ Vej am como
cert os t alent os se t ransmit em em det erminadas f amílias. Durant e dois séculos e meio as
disposições musicais se t ransmit iram ent re os membros da f amília Bach. 28 Da f amília
Bernoulli 29 saíram oit o mat emát icos, alguns dos quais dest inados, em sua inf ância, a
prof issões int eirament e dif erent es. Porém as apt idões ‘ herdadas’ sempre os impelíram à
prof issão da f amília. Seria possível ainda demonst rar, por uma anál ise dos ascendent es,
como o t al ent o de uma personalidade j á t eria aparecido em alguns ant epassados, não
passando de uma soma de f aculdades legadas por eles. ”
Um part idário da segunda opinião não deixará, obviament e, t ais f at os de lado; no
ent ant o, est es não podem signif icar para el e o mesmo que para quem desej a apoiar suas
explicações exclusivament e em f at os sensoriais. O primeiro salient ará que as disposições
heredit árias são t ão incapazes de combinar-se espont aneament e, para f ormar a
personalidade t ot al, quant o as peças met álicas de um rel ógio são incapazes de j unt ar-se
para f ormá-lo por si mesmas. E quando lhe f or obj et ado que a cooperação dos pais poderia
muit o bem produzir a combinação das apt idões, assumindo como que o l ugar do
reloj oeiro, ele replicará: “ Reparem com imparcialidade no element o int eirament e novo
em t oda personalidade inf ant il; isso não pode provir dos pais, simplesment e porque não
exist ia neles. ”
Um pensar obscuro pode criar muit a conf usão nesse domínio, O pior acont ece quando
os port adores da primeira opinião são classif icados pelos da segunda como inimigos

28
Família musical alemã dos séculosXVll e XVIII, da qual saíram mais de cinqüent a músicos, em part e
grandement e dot ados. (N. E. orig. )
29
Dest acada f amília de mat emát icos que viveu em Basiléia (Suíça) nos séculos XVII e XVIII. (N. E. orig. )

49
daquilo que se baseia em ‘ f at os indubit áveis’ . Est es últ imos, porém, não cogit am em
absolut o de negar a veracidade ou validade de t ais f at os. Est ão absol ut ament e cônscios,
por exemplo, de que det erminado dom ou disposição espirit ual t ransmit e-se
heredit ariament e numa f amília, e de que cert as apt idões, quando somadas e combinadas
num descendent e, result am numa personalidade marcant e. Est ão int eirament e dispost os a
admit ir que o nome mais not ável rarament e se encont ra no início, e sim no f inal de uma
linhagem sangüínea. Cont udo, não se deveria l evá-los a mal por serem obrigados a t irar
disso conclusões muit o dif erent es daquelas obt idas por quem desej a permanecer no plano
sensorial concret o. A est e últ imo t ipo de pessoas cabe responder o seguint e:
Não há duvida de que uma pessoa apresent a as caract eríst icas de seus ant epassados,
pois o element o anímico-espirit ual, que penet ra na exist ência f ísica pelo nasciment o,
ext rai sua corporalidade daquil o que a heredit ariedade lhe of erece. No ent ant o, com isso
não se diz senão que um ent e t raz em si as peculiaridades do meio onde mergulhou. A
comparação a seguir cert ament e é est ranha e at é t rivial; mas a pessoa imparcial não
negará ser válido dizer que o f at o de um ser humano est ar revest ido das qualidades de
seus ant epassados at est a t ão pouco a origem dessas qualidades quant o a nat ureza de um
homem seria at est ada pelo f at o de ele est ar molhado por t er caído na água. Al ém disso,
cabe dizer t ambém: se o nome mais not ável se encont ra no f inal de uma linhagem, isso
most ra que o port ador desse nome precisou dessa linhagem sangüínea para f ormar o corpo
necessário ao desabrochar de sua personalidade t ot al. Isso, porém, absolut ament e nada
prova a respeit o da ‘ heredit ariedade’ do próprio element o pessoal; aliás, a uma lógica
sadia esse f at o prova j ust ament e o cont rário. Na verdade, se as apt idões pessoais se t rans-
mit issem, deveriam est ar no princípio da linha sangüínea e daí t ransmit ir-se aos
descendent es. Mas j á que se encont ram no f inal, isso é j ust ament e prova de que não se
t ransmit em.
Ora, não deve ser post o em dúvida que, ao f al arem de uma causa espirit ual na vida,
cert as pessoas cont ribuem não menos para a conf usão. É f reqüent e elas f alarem de modo
demasiadament e geral e vago. Sem dúvida, dizer que a soma das caract eríst icas herdadas
f ormam a personalidade de um homem é comparável à af irmação de que as peças
met álicas de um relógio j unt aram-se por si próprias para f ormá-lo. Mas t ambém se deve
admit ir que muit as af irmações sobre o mundo espirit ual são como se alguém dissesse que
as peças met álicas de um relógio não podem j unt ar-se sozinhas para provocar o avanço
dos pont eiros, e que, port ant o, deve exist ir ‘ algo de espirit ual’ promovendo esse avanço.
Diant e de semelhant e af irmação, argument aria melhor quem dissesse: “ Ah, eu não f ico
cogit ando a respeit o de t ais seres ‘ míst icos’ que provocariam o avanço dos pont eiros; eu
procuro conhecer as relações mecânicas que causam esse avanço. ” Não se t rat a,
realment e, apenas de saber que at rás de um mecanismo — por exemplo, o relógio — est á
algo espirit ual (o reloj oeiro); só pode ser import ant e conhecer os pensament os que, no
espírit o do reloj oeiro, pr eceder am a const rução do relógio. Pode-se reencont rar esses
pensament os no mecanismo.
Todo simples devaneio e f ant asia a respeit o do supra-sensível t raz apenas conf usão,
pois é impróprio para cont ent ar os oposit ores. Aliás, est es t êm t oda a razão ao dizer que
t ais alusões a seres supra-sensíveis em nada est imulam a compreensão dos f at os. Sem
dúvida, t ais oposit ores podem dizer a mesma coisa cont ra as inf ormações pr eci sas da
Ciência Ocult a. Mas ent ão podem ser indicados, na vida manif est a, os ef eit os das causas
espirit uais ocult as. Pode ser dit o o seguint e: — Suponha-se est ar corret o o que a pesquisa
espirit ual pret ende t er averiguado pela observação, ou sej a, que depois da mort e o
homem t enha passado por um período de purif icação durant e o qual t enha vi venci ado
animicament e que espécie de obst áculo represent ou, para sua evolução progressiva, cert a

50
ação prat icada por ele numa vida ant erior. No decorrer dessa experiência, nasce nele o
impulso de reparar as conseqüências dessa ação. Ele t raz consigo esse impulso, para sua
nova exist ência. A presença desse impulso imprime em seu ser o t raço que lhe possibilit a
ef et uar a reparação. Observando um conj unt o de impulsos dessa espécie, t em-se uma
causa para o ambient e predest inado onde um ser humano vem a nascer.
O mesmo pode ocorrer com uma out ra hipót ese:
Suponha-se novament e como corret a a af irmação da Ciência Espirit ual de que os
f rut os de uma vida passada se incorporariam ao germe espirit ual do homem, sendo o reino
dos espírit os — onde est e se encont ra ent re a mort e e a nova vida — o âmbit o onde esses
f rut os amadureceriam para, t ransf ormados em disposições e apt idões, reaparecer numa
nova vida e plasmar a personalidade, de maneira que est a aparecesse como ef eit o das
aquisições de uma vida ant erior.
Quem elaborar essas premissas e, com elas, observar a vida sem preconceit os,
descobrirá que é possível admit ir os f at os sensoriais em sua plena signif icação e verdade
e, ao mesmo t empo, compreender t udo o que, no caso de uma simples argument ação com
base em f at os f ísicos, deve f icar para sempre incompreensível a alguém cuj a convicção
est ej a volt ada para o mundo espirit ual. 30 E principalment e desaparecerá aquele raciocínio
ilógico do t ipo ant eriorment e cit ado: pelo f at o de um nome ilust re est ar no f im da linha
genealógica, seu port ador deve t er ‘ herdado’ sua apt idão. A vida t orna-se logicament e
compreensível mediant e os f at os supra-sensoriais t ransmit idos pela Ciência Ocult a.
Quem busca escrupulosament e a verdade e, sem experiência própria no mundo
supra-sensível, quer orient ar-se corret ament e nos f at os, poderá ainda levant ar uma
obj eção de peso. Pode ser obj et ado que seria inadmissível aceit ar a exist ência de um f at o
qualquer simplesment e por assim se poder explicar algo que, do cont rário, é inexplicável.
Cert ament e t al obj eção é insignif icant e para quem conhece os f at os correspondent es por
experiência supra-sensível própria. Nas part es post eriores dest e livro, indicaremos o
caminho a ser t rilhado para se conhecer não apenas out ros f at os espirit uais aqui descrit os,
mas t ambém a lei da causalidade espirit ual como vivência própria. Para quem não quer
seguir esse caminho, no ent ant o, a obj eção acima pode t er um signif icado. E o que possa
ser dit o cont ra ele t ambém é válido para quem decidiu seguir o mencionado caminho por
si; pois quando alguém o empreende da maneira corret a, esse j á é o melhor passo inicial a
ser f eit o nesse caminho. Aliás, é absolut ament e verdade o seguint e: simplesment e pelo
f at o de se poder explicar alguma coisa que, de out ro modo, permaneceria inexplicável,
não se deveria admit ir algo cuj a exist ência se desconhece. No caso dos f at os espirit uais
mencionados, porém, a sit uação é um pouco diversa. Quando est es são admit idos, isso não
t em apenas a conseqüência int elect ual de se achar a vida mais compreensível por sua
causa; pela admissão dessas premissas no próprio pensament o, vivencia-se algo bem
dif erent e. Imagine-se o seguint e caso:
A uma pessoa sucede algo que lhe provoca emoções bem desagradáveis. Ela pode
reagir de duas maneiras a isso: pode vivenciar o incident e como algo que a af et a
sent idament e, abandonando-se a essa emoção penosa, ou t alvez at é ent regando-se
complet ament e ao sof riment o, mas t ambém pode reagir de out ra maneira, dizendo: “ Na
realidade f ui eu mesmo quem modelou, numa vida passada, a f orça que ora me coloca
diant e dest e incident e; na realidade, f ui eu quem o ocasionou. ” Ent ão pode despert ar em

30
Nest a passagem de dif ícil ent endiment o, f oi muit as vezes sugerida por leit ores a inclusão da palavra ‘ não’
depois de ‘ convicção’ [ de f orma a se ler ‘ . . . cuj a convicção não est ej a. . . ’ ] . Cont udo, desist imos dessa
alt eração porque t ant o no manuscrit o de Rudolf St einer como em t odas as edições providenciadas por ele a
palavra ‘ não’ inexist e nesse t recho. (N. E. orig. ) [ Na t radução ant erior se subent endeu, de f at o, af irmat iva
cont rária por part e do Aut or. Não rest a dúvida, porém, de que St einer se ref ere ao post ulant e da realidade
supra-sensível, a quem não bast aria uma explicação mat erialist a. (N. T. )]

51
si t odas as emoções que t al pensament o pode originar. Nat uralment e o pensament o deve
ser vivenciado com a mais perf eit a seriedade e t oda a energia possível, para t er t al conse-
qüência para a vida das sensações e dos sent iment os.
Quem conseguir isso t erá uma experiência que se f az ilust rar melhor por uma
analogia. Suponhamos que duas pessoas recebessem em mãos um bast ão de lacre. Uma
delas se ent regaria a ref lexões int elect uais acerca da ‘ essência ínt ima’ do lacre. Essas
ref lexões poderiam ser muit o int eligent es; mas se essa ‘ nat ureza ínt ima’ não se
evidenciasse por via al guma, alguém poderia t ranqüilament e obj et ar: isso não passa de
devaneio. A out ra pessoa, no ent ant o, esf rega o bast ão com um pano e comprova que est e
passa a at rair pequenos obj et os.
Exist e uma enorme dif erença ent re os pensament os concebidos pela primeira pessoa
e as ref lexões da segunda. Os pensament os da primeira não t êm qualquer conseqüência
ef et iva; os da segunda, porém, f izeram uma f orça — port ant o, algo ef et ivo — sair de sua
obscuridade.
A mesma coisa ocorre com os pensament os de uma pessoa que imagina t er
engendrado em si, no decorrer de uma vida ant erior, a f orça que a põe em presença de
um acont eciment o. Essa simples idéia est imula nela uma verdadeira energia, permit indo-
lhe enf rent ar o acont eciment o de maneira bem diversa do que se lhe f alt asse. Com isso
recai uma luz sobre a necessária nat ureza desse acont eciment o, que do cont rário ela só
poderia reconhecer como uma casualidade. E ela compreenderá imediat ament e: “ Eu t ive
o pensament o cert o, pois ele t eve a f orça de desvendar-me o f at o. ” Se alguém repet ir t ais
processos ínt imos, eles se t ransf ormarão num meio de acréscimo int erior de energia, de-
monst rando assim sua correção por sua f ecundidade. E cada vez mais essa correção se
most rará suf icient ement e vigorosa.
É num sent ido espirit ual, anímico e f ísico que t ais processos at uam de modo salut ar,
est imulando a vida em t odos os sent idos. O homem percebe que por meio desses processos
est á-se int egrando corret ament e no cont ext o da vida, ao passo que, ao considerar apenas
uma vida ent re o nasciment o e a mort e, est á se ent regando a um delírio. O homem f ica
animicament e mais f ort e por meio do ref erido conheciment o.
Na verdade, t al prova purament e int erior da causalidade espirit ual só pode ser obt ida
por cada um em sua vida int erior. Porém t oda pessoa pode obt ê-la. Quem não a
experiment ou não pode j ulgar sua f orça comprobat ória; mas quem o f ez não t erá mais
qualquer dúvida. Não é de admirar que sej a assim, pois algo t ão absolut ament e
relacionado com o cerne da ent idade, da personalidade humana, só pode, nat uralment e,
ser suf icient ement e provado na mais ínt ima vivência. Por out ro lado, não se pode obj et ar
que essa quest ão, por corresponder a t al vivência ínt ima, deveria ser de f oro pessoal, não
podendo ser obj et o de uma ciência espirit ual. É óbvio que cada um deve passar pessoal-
ment e por essa vivência, t al como cada um deve compreender pessoalment e a prova de
um t eorema mat emát ico. No ent ant o, o caminho que conduz a essa experiência e válido
para t odos os homens t ant o quant o o é o mét odo para comprovar um t eorema
mat emát ico.
Não cabe negar que — abst raindo-se, nat uralment e, das observações supra-sensoriais
— a recém-cit ada prova, obt ida pelo poder energét ico dos respect ivos pensament os, é a
única que resist e a qualquer lógica imparcial. Quaisquer out ras ponderações são,
cert ament e, import ant es; porém sempre cont erão algo em que os oposit ores encont rarão
um pont o f raco. Não obst ant e, quem t iver adot ado uma visão suf icient ement e imparcial j á
verá na possibilidade e ef et ividade da educação, no caso do homem, algo que cont ém uma
f orça comprobat ória e lógica para o f at o de um ser espirit ual lut ar pela exist ência no
envolt ório corporal. Comparando o animal com o homem, dirá que no primeiro as qualida-

52
des e capacidades caract eríst icas aparecem, com o nasciment o, como algo det erminado
em si mesmo, most rando clarament e como est á predet erminado pela heredit ariedade e
desabrocha ao cont at o com o mundo ambient e. Observe-se como desde o nasciment o o
pint ainho se desempenha em cert as sit uações vit ais de modo det erminado. Porém no
homem, por meio da educação, ent ra em cont at o com sua vida int erior algo que pode
exist ir sem qualquer conexão com uma herança; e ele pode ser capaz de assimilar os
ef eit os de t ais inf luências ext eriores. O educador sabe que, ao encont ro de t ais inf luências
do int erior do homem, devem ser enviadas f orças; se isso não ocorresse, t oda escolaridade
e t oda educação seriam insignif icant es. Para o educador imparcial, exist e uma delimit ação
bem def inida ent re as disposições herdadas e aquelas energias int eriores do homem que
t ransparecem at ravés dessas disposições e procedem de vidas ant eriores.
Segurament e, para t ais coisas não se podem aduzir provas ‘ de peso’ como se f az para
cert os f at os f ísicos por meio da balança; mas é por isso que essas coisas const it uem
j ust ament e as int imidades da vida. E para quem possui o senso adequado, essas provas
impalpáveis t ambém são comprobat órias — t alvez ainda mais comprobat órias do que a
realidade t angível. O f at o de se poder adest rar animais — que chegam, port ant o, a
adquirir qualidades e capacidades por meio da educação — não é obj eção alguma para
quem sabe enxergar o essencial. Ora, abst raindo-se do f at o de que em t odo lugar do
mundo exist em est ados t ransit ários, os result ados do adest rament o de um animal não se
int egram absolut ament e em seu ser individual, como no caso do homem. Chega-se at é
mesmo a ressalt ar que apt idões adquiridas por animais domést icos, pelo convívio com o
homem, se t ransmit em por heredit ariedade — ou sej a, at uam na espécie, e não no
indivíduo. Darwin descreve como cert os cães t ransport am obj et os sem nunca t er vist o ou
aprendido t ais at os. Quem desej aria af irmar o mesmo da educação humana?
Ora, exist em pensadores que, por suas observações, superam a opinião de que o ser
humano t eria sido est rut urado do ext erior por f orças purament e heredit árias. Eles se
elevam à idéia de que um ser espirit ual, uma individualidade, precede a exist ência
corporal e a modela. Muit os deles, porém, não encont ram possibilidade de ent ender que
exist em vidas t errenas consecut ivas e que, na exist ência int ermediária ent re as vidas, os
f rut os das vidas ant eriores sej am f orças co-plasmadoras. Cit emos um desses pensadores.
Immanuel Hermann Ficht e 31 , f ilho do grande Ficht e, apresent a em sua ‘ Ant ropologia’ 32 (p.
528) a passagem seguint e, que resume suas considerações:

Os pais não são os progenit ores no pleno sent ido da palavra: eles proporcionam a mat éria
orgânica, e não apenas est a, mas ao mesmo t empo aquele element o int ermediário,
sensório-emocional que se manif est a no t emperament o, na índole específ ica, em cert as
part icularidades dos inst int os, et c. , cuj a origem comum se nos manif est ou como sendo a
‘ f ant asia’ , no amplo sent ido indicado por nós. Em t odos esses element os da
personalidade, são inequívocas a peculiar mist ura e combinação das almas dos pais;
port ant o, é perf eit ament e j ust if icado considerá-los como simples produt o da procriação,
sobret udo se decidíssemos conceber a procriação como um verdadeiro processo anímico.
Cont udo, j ust ament e aqui f alt a o verdadeiro cent ro da personalidade, pois a uma
observação mais penet rant e se revela que mesmo essas caract eríst icas emocionais não
passam de um envolt ório ou i nst r ument al cont endo as verdadeiras f aculdades espirit uais,
ideais do homem, sendo apropriado para f avorecer ou obst ruir a evolução delas, mas
absolut ament e incapaz de engendrá-las por si.

Mais adiant e, diz (p. 532):

31
Immanuel Hermann Ficht e (1796—1879), f ilósof o, edit or da obra de seu pai, Johann Got t lieb Ficht e. (N. E.
orig. )
32
Ant hr opol ogi e (Leipzig, 1860). (N. E. orig. )

53
Toda pessoa preexist e segundo seu prot ót ipo espirit ual, pois considerado espirit ualment e
nenhum indivíduo é igual a out ro, da mesma f orma como não o são as espécies animais.

Esses pensament os chegam apenas a admit ir uma essência espirit ual dent ro da
organização corporal do homem. Mas como as f orças f ormat ivas aí post uladas não derivam
de causas sit uadas em vidas ant eriores, a cada vez que uma personalidade surge deveria
emanar uma ent idade espirit ual de um f undament o divino primordial. Nessa hipót ese,
porém, não haveria qualquer possibilidade de explicar o parent esco exist ent e ent re as
apt idões surgidas do ínt imo da personalidade e t udo o que, no decorrer da vida, converge
do mundo ambient e para esse cent ro int erior. O ínt imo do homem, que para cada
indivíduo se origina de um f undament o primordial divino, f icaria t ot alment e alheio a t udo
o que lhe adviesse durant e a vida t errena. Só não seria o caso — e realment e não é —
quando o ínt imo humano j á t ivesse sido ligado ao element o ext erior por não est ar vivendo
nele pela primeira vez. O educador sem preconceit os pode convencer-se clarament e do
seguint e: “ Dos result ados de vidas t errenas ant eriores est ou of erecendo a meu aluno algo
que, embora sej a alheio às suas apt idões herdadas, f az surgir nele a sensação de t er est a-
do present e ao t rabal ho do qual procedem t ais result ados. Só as sucessivas vidas t errenas,
em combinação com os f at os do âmbit o espirit ual ent re elas, expost os pela pesquisa do
espírit o — apenas isso t udo pode dar uma explicação sat isf at ória da vida da humanidade
at ual observada sob t odos os aspect os. ” Aqui é dit o expressament e ‘ humanidade at ual’ ,
pois a pesquisa espirit ual most ra que na verdade o ciclo das vidas t errenas t eve um início,
e que naquela época exist iam circunst âncias dif erent es das at uais para a ent rada do ser
espirit ual humano em seu envolt ório corporal . Nos capít ulos seguint es remont aremos a
esse est ado primordial do ser humano. Depois que com isso, pelos result ados da Ciência
Ocult a, t iver sido most rado como esse ser humano recebeu sua f orma at ual em conexão
com a evolução da Terra, será indicado mais exat ament e como o núcleo espirit ual do
homem penet ra nos envolt órios corporais, a part ir de mundos supra-sensoriais, e como se
f orma a lei da causalidade, o ‘ dest ino humano’ .

A evolução do Universo e o homem

As considerações ant eriores most raram que a ent idade humana se compõe de quat ro
membros: o corpo f ísico, o corpo et érico, o corpo ast ral e o port ador do eu. O eu at ua
dent ro dos t rês out ros membros, t ransf ormando-os. Mediant e t al t ransf ormação nascem,
num nível inf erior, a al ma da sensação, a alma do int elect o e a alma da consciência; num
nível mais elevado da exist ência humana, f ormam-se a personalidade espirit ual , o espírit o
vit al e o homem-espírit o. Esses membros da nat ureza humana se encont ram nas mais
variadas relações com a t ot alidade do Universo, a cuj a evolução est á ligada a deles
próprios. É observando essa evolução que se adquire uma compreensão dos mais prof undos
enigmas da ent idade humana.
É claro que, nos mais diversos sent idos, a vida humana se relaciona com o ambient e,
com o local onde se desenvolve. Ora, j á a ciência ext erior se viu compelida a reconhecer,
pelos f at os ao seu alcance, que a própria Terra, esse domicílio do homem no sent ido mais
amplo, passou por uma evolução. Essa ciência apont a est ágios, na exist ência t errest re,
dent ro dos quais ainda não exist ia em nosso pl anet a um ser humano com sua f orma at ual.
Ela most ra como a humanidade, a part ir de est ados cul t urais rudiment ares, pouco a pouco
se desenvol veu para as condições at uais. Port ant o, t ambém essa ciência chega à opinião

54
de que exist e uma conexão ent re a evolução do homem e a de seu corpo celest e, a Terra.
A Ciência Espirit ual 33 observa essa conexão por meio daquele conheciment o cuj os
f at os são percebidos por órgãos espirit uais. El a acompanha o homem ret rospect ívament e
em sua evolução, f icando-lhe evident e que o verdadeiro ser int erior do homem percorreu
uma série de vidas na Terra. E assim a pesquisa espirit ual chega a um pont o, sit uado num
passado muit o remot o, em que pela primeira vez esse ser int erior do homem surgiu numa
vida ext erior, no sent ido at ual. Foi nessa primeira encarnação t errest re que o eu começou
a at uar nos t rês corpos — o f ísico, o et érico e o ast ral —, levando consigo, para a vida
seguint e, os f rut os dessa at uação.
Remont ando com a observação ret rospect iva at é o ref erido pont o, verif icaremos que
o eu se encont ra diant e de um est ágio t errest re em que os t rês corpos — o f ísico, o et érico
e o ast ral — j á est ão desenvolvidos e j á possuem uma cert a correlação. O eu se une pela
primeira vez à ent idade compost a por esses t rês corpos, passando a part icipar de seu
desenvolviment o post erior. Ant es disso, esses t rês corpos dest it uídos do eu humano
haviam evoluído at é o grau em que esse eu os encont rou.
A Ciência Espirit ual deve, cont udo, ret roceder ainda mais com sua pesquisa se quiser
responder às seguint es pergunt as: — Como os t rês corpos alcançaram um grau de
desenvolviment o que os capacit ou a receber um eu? Como esse próprio eu veio a exist ir, e
como adquiriu a capacidade de at uar nesses corpos?
Responder a essas pergunt as só é possível quando se acompanha a própria evolução
do planet a Terra no sent ido cient íf ico-espirit ual. É graças a t al pesquisa que se chega ao
início dest e planet a t errest re. O modo de observação baseado apenas nos f at os dos
sent idos f ísicos não pode chegar a conclusões que t enham algo a ver com essa origem da
Terra. Cert a t eoria que se ut iliza de t ais conclusões post ula que t oda a subst ância
t errest re se f ormou a part ir de uma nebulosa primordial. Não pode ser t aref a dest e livro
ent rar nos det alhes de t ais idéias, pois para a pesquisa espirit ual import a considerar não
apenas os processos mat eriais da evolução t errest re, mas principal ment e as causas espiri-
t uais subj acent es à mat éria.
Quando se t em à f rent e um homem que ergue uma das mãos, esse erguer das mãos
pode mot ivar duas f ormas de observação: pode-se invest igar o mecanismo do braço e do
rest o do organismo, querendo descrever o processo em seu aspect o purament e f ísico, mas
t ambém se pode concent rar o olhar espirit ual naquilo que se passa na alma do homem e
ensej a o erguer da mão. De modo análogo, o pesquisador exercit ado na percepção
espirit ual vê processos espirit uais at rás de t odos os processos do mundo f ísico-sensorial.
Para ele, t odas as t ransf ormações na subst ância do planet a t errest re são manif est ações de
f orças espirit uais, sit uadas det rás da mat éria.
Quando, no ent ant o, essa observação espirit ual remont a cada vez mais longe na vida
da Terra, chega a um pont o da evolução em que out rora t oda subst ância mat erial
começou a exist ir. Essa subst ância mat erial evoluiu do espirit ual, at é ent ão o único
element o exist ent e. É pela observação espirit ual que se percebe o espírit o, vendo-se
t ambém como, numa seqüência post erior, est e como que se condensa parcialment e em
mat éria. Tem-se um processo que — num plano mais elevado — ocorre como se
observássemos um recipient e com água no qual pouco a pouco se f ormassem, por um
resf riament o primorosament e conduzido, pedaços de gelo. Do mesmo modo como aqui se
vê o que era soment e água condensar-se e t ransf ormar-se em gelo, pela observação
espirit ual pode-se acompanhar como de cert o modo, a part ir de um element o ant es
purament e espirit ual, se condensam obj et os, processos e seres mat eriais.

33
Como se pode depreender do t ext o, a expressão ‘ Ciência Espirit ual’ é ut ilizada aqui no mesmo sent ido de
‘ conheciment o supra-sensorial’ . (N. A. )

55
Assim evoluiu o planet a t errest re f ísico, a part ir de uma ent idade cósmica espirit ual;
e t udo o que se relaciona mat erial ment e com o planet a t errest re condensou-se daquilo
que ant es lhe est ava espirit ualment e ligado. Cont udo, não se deve imaginar que t odo
element o espirit ual se haj a convert ido em mat éria; nest a, t êm-se sempre apenas porções
t ransf ormadas da subst ância espirit ual primordial. Aí o espírit o cont inua sendo, mesmo
durant e o período evolut ivo mat erial, o aut ênt ico princípio diret or e condut or.
Evident ement e, a ment alidade que desej a at er-se apenas aos processos f ísico-
sensoriais — e ao que o int elect o é capaz de concluir desses processos — nada consegue
revelar sobre o element o espirit ual em quest ão. Suponhamos que pudesse exist ir um ser
dot ado apenas de sent idos capazes de perceber o gelo, mas não o est ado mais sut il da
água, da qual o gel o se f ormou por resf riament o. Para esse ser, a água não exist iria; ele só
perceberia algo de sua exist ência se uma part e dela se t ransf ormasse em gelo. Do mesmo
modo, a realidade espirit ual sit uada at rás dos processos t errest res permanece ocult a a
quem só considera válidos os f at os exist ent es para os sent idos f ísicos. E mesmo que,
part indo dos f at os f ísicos percebidos at ualment e, t al pessoa t ire conclusões corret as sobre
est ados ant eriores do planet a Terra, ela só chegará ao pont o evolut ivo onde o element o
espirit ual precedent e se condensou parcialment e na subst ância mat erial. Tal modo de
observação percebe t ão pouco esse element o espirit ual precedent e quant o o element o
espirit ual invisível que, t ambém at ualment e, vigora por det rás da mat éria.
Só nos últ imos capít ulos dest e livro poderão ser abordados os caminhos pelos quais o
homem adquire a capacidade de ver ret rospect ivament e, em percepção espirit ual, os
est ados primordiais da Terra aqui ref eridos. Por ora será apenas mencionado que, para a
pesquisa espirit ual, nem mesmo os f at os de um passado remot íssímo est ão desaparecidos.
Quando um ser alcança uma exist ência mat erial, com sua mort e corporal essa
mat éria desaparece. Não ‘ desaparecem’ do mesmo modo as f orças espirit uais que
originaram esse element o corporal. Elas deixam seus vest ígios, suas exat as reproduções no
f undament o espirit ual do mundo. E quem f or capaz de, at ravés do mundo visível, elevar
sua percepção at é o invisível, chegará f inalment e a t er diant e de si algo comparável a um
grandioso panorama espirit ual onde est ão regist rados t odos os processos ant eriores do
mundo. Pode-se denominar esses vest ígios indeléveis de t odo f at o espirit ual como ‘ Crônica
do Akasha’ , uma vez que se designa por ent idade do Akasha o subst rat o espirit ual
permanent e do suceder universal , em cont raposição às f ormas t ransit órias desse suceder.
Ora, aqui t ambém deve ser dit o que as pesquisas nos domínios supra-sensíveis da
exist ência só podem ser realizadas com o auxílio da percepção espirit ual — port ant o, no
domínio aqui considerado, só mediant e a leit ura da ‘ Crônica do Akasha’ . Cont udo,
t ambém aqui é válido o que f oi dit o para caso semelhant e em passagem ant erior dest e
livro: os f at os supra-sensíveis só podem ser pesqui sados por meio da percepção supra-
sensível; mas, uma vez invest igados e revelados pela ciência do supra-sensível, podem ser
compr eendi dos pelo raciocínio comum, desde que realment e imparcial.
A seguir serão comunicados os est ados evolut ivos da Terra, no sent ido do
conheciment o supra-sensível. Serão acompanhadas as t ransf ormações do nosso pl anet a at é
o est ado at ual da vida. Ora, se alguém observar o que at ualment e lhe apresent a a mera
percepção sensória, e depois assimilar o que diz o conheciment o supra-sensível sobre a
evolução desse est ado at ual desde o passado remot o, poderá concluir, mediant e um
pensar real ment e imparcial, o seguint e: primeiro, é perf eit ament e lógico o que o
conheciment o supra-sensível relat a; segundo, eu poderei compreender que as coisas
t enham evoluído at é o est ágio em que se me apresent am se considerar verdadeiro o que a
pesquisa supra-sensorial comunica. Nat ural ment e, com o t ermo ‘ lógico’ não se
subent ende, nest e cont ext o, a impossibilidade de ocorrerem erros de lógica em alguma

56
exposição de pesquisa supra-sensível. Também aqui o ‘ lógico’ cabe apenas no sent ido em
que é empregado na vida comum do mundo f ísico. Tal como aí a exposição l ógica
represent a uma exigência, embora o narrador individual de um domínio f act ual possa
incorrer em erros de l ógica, o mesmo ocorre na pesquisa supra-sensível. Há mesmo a pos-
sibilidade de um pesquisador capaz de t er percepções em domínios supra-sensíveis
incorrer em erros na exposição lógica e ser corrigido por out ra pessoa, incapaz dessa
percepção mas dot ada de raciocínio saudável . No f undo, porém, nada se pode obj et ar
cont ra a lógica empregada na pesquisa supra-sensível; e nem mesmo se deveria t er
necessidade de ressalt ar que cont ra os próprios f at os nada se pode argument ar por meras
razões lógicas. Assim como no mundo f ísico j amais se pode comprovar logicament e se uma
baleia exist e ou não, e sim vê-la com os próprios olhos, t ambém os f at os supra-sensíveis só
podem ser conhecidos pela percepção espirit ual.
Nunca é demais, porém, salient ar que para o observador dos domínios supra-sensíveis
exist e uma necessidade de, ant es de t ent ar acercar-se desses domínios pela percepção
própria, f ormar primeirament e uma opinião graças à mencionada lógica, e não menos
graças ao reconheciment o de como o mundo sensorialment e manif est o parece
compreensível sob t odos os aspect os quando se pressupõe est arem corret as as inf ormações
da Ciência Ocult a. Qualquer vivência do mundo superior permanece sendo um inseguro —
e at é perigoso — t at ear quando o descrit o caminho preparat ório é desprezado. Por isso,
nest e livro será comunicado primeiro o aspect o f act ual supra-sensível da evolução
t errest re, ant es de se f alar propriament e no caminho do conheciment o supra-sensível.
Também se deve levar int eirament e em cont a que quem se ident if ica
int elect ualment e com as comunicações do conheciment o supra-sensorial não est á, em
absolut o, na mesma sit uação de alguém que ouve uma descrição de um processo f ísico
sem ser capaz de vê-lo por si. Ora, o puro pensar j á const it ui uma at ividade supra-
sensorial em si. Como element o sensorial, não pode conduzir por si próprio a f enômenos
supra-sensíveis. No ent ant o, quando se dirige esse pensar aos processos supra-sensoriais
relat ados pela observação superior, ele se int roduz por si pr ópr i o no mundo supra-
sensível. Aliás, um dos melhores caminhos para uma percepção pessoal dos domínios
supra-sensíveis é int egrar-se no mundo superior pela ref lexão a respeit o das comunicações
da Ciência Ocult a. Tal ingresso est á, na verdade, ligado à maior clareza. Por isso, t ambém
cert a corrent e da pesquisa cient íf ico-espirit ual considera esse t ipo de pensar como o mais
sólido primeiro degrau de qualquer educação esot érica.
Também deve parecer t ot alment e compreensível que nest a obra não se indique, com
relação a t odos os det alhes da evolução t errest re percebida em espírit o, como a realidade
supra-sensível é conf irmada no plano manif est o. Tampouco f oi essa a int enção ao
dizermos que o ocult o pode sempre ser comprovado em seus ef eit os manif est os. Tínhamos
muit o mais em ment e most rar que t udo o que vem ao encont ro do homem pode, a cada
passo, t ornar-se luminoso e compreensível para ele quando sobre os f at os manif est os
incide o esclareciment o possibilit ado pela Ciência Espirit ual. Só em alguns t rechos
caract eríst icos, nas considerações a seguir, f azemos ref erência a conf irmações do ocult o
por meio do manif est o, a f im de most rar como na vida prát ica, bast ando querer, é possível
f azê-lo em t odos os âmbi t os.

As encarnações planet árias

Pelo acompanhament o ret rospect ivo da evol ução t errest re, no sent ido da pesquisa
cient íf ico-espirit ual acima descrit a, chega-se a um est ado espirit ual do nosso planet a.

57
Prosseguindo, porém, at é mais longe nesse ret rospect o, verif ica-se que ant eriorment e
esse est ado espirit ual j á havia passado por uma espécie de incorporação. Encont ra-se,
port ant o, um est ado planet ário f ísico ant erior, que mais t arde se espirit ualizou e depois,
em virt ude de uma nova mat erialização, convert eu-se em nosso planet a Terra. Com isso a
Terra se apresent a como a reencarnação de um planet a ant iqüíssimo. Porém a Ciência
Espirit ual pode ret roceder ainda mais, encont rando ent ão t odo o processo repet ido mais
duas vezes. A Terra at ravessou, port ant o, t rês est ados planet ários ant eriores, sempre
int ercalados por est ados int ermediários de espirit ual ização. O element o f ísico se
apresent a, sem dúvida, cada vez mais sut il à medida que avançamos no acompanhament o
ret rospect ivo da incorporação.
Frent e à exposição f eit a adiant e, é de supor a seguint e obj eção: como pode um j uízo
sadio suj eit ar-se a admit ir a hipót ese de est ados cósmicos t ão incomensuravelment e
remot os como aqueles ref eridos aqui? A isso deve ser respondido que, para quem é capaz
de ver o at ual element o ocult o nos processos sensíveis manif est os, não pode represent ar
qualquer impossibilidade a visualização t ambém de est ados evolut ivos primordiais, por
mais longínquos que sej am. Soment e para quem não admit e a realidade espirit ual ocult a
no present e é que perde qualquer sent ido a ref erência a uma evolução como a
subent endida aqui. Para quem admit e essa real idade, o est ado ant erior est á implícit o na
cont emplação do est ado at ual do mesmo modo como na cont emplação de um homem de
cinqüent a anos est á implícit a a criança de um ano. “ Sim” , pode-se dizer, “ mas nest e caso
vemos homens de cinqüent a anos e crianças de um ano, bem como de t odas as idades
int ermediárias possíveis” . Isso est á corret o, mas t ambém est á corret o relat ivament e à
evolução do element o espirit ual aqui ref erido. Quem chega a um j uízo anál ogo nesse
campo compreende t ambém que, observando-se a at ualidade de modo abrangent e —
inclusive no plano espirit ual —, j unt ament e com os est ágios exist enciais que progrediram
at é a perf eição evolut iva do present e f oram realment e conservados t ambém os est ados
evolut ivos do passado, t al qual ao lado de homens de cinqüent a anos exist em crianças de
um ano. Dent ro do suceder t erreno do present e é possível cont emplar o suceder
primordial, bast ando a pessoa t er capacidade para dist inguir os dif erent es est ados su-
cessivos da evolução.
Ora, na f orma em que se desenvolve at ualment e, o homem surge apenas na quart a
das incorporações pl anet árias caract erizadas, ou sej a, na Terra propriament e dit a. E o
essencial dessa f orma humana é o f at o de o homem ser compost o por quat ro membros: o
corpo f ísico, o corpo et érico, o corpo ast ral e o eu. No ent ant o, t al f orma não t eria podido
surgir se não houvesse sido preparada pel os f at os evolut ivos ant eriores. Essa preparação
acont eceu porque dent ro da incorporação planet ária ant erior se desenvolveram seres que
j á possuíam t rês dos quat ro component es humanos at uais, ou sej a, o corpo f ísico, o corpo
et érico e o corpo ast ral. Esses seres, que em cert o sent ido poderiam ser chamados de
precursores do homem, ainda não possuíam um eu, mas desenvolveram os t rês out ros
membros, com suas int er-relações, at é ao pont o de est es se t ornarem maduros para, mais
t arde, acol her o eu. Com isso o precursor do homem alcançou, na incorporação pl anet ária
ant erior, cert o est ado de mat uridade de seus t rês membros. Esse est ado ent rou numa f ase
de espirit ualização. E dessa espirit ualização se originou um novo est ado planet ário f ísico —
o da Terra. Nest e est avam cont idos, como que em germe, os precursores amadurecidos do
homem. Pelo f at o de haver at ravessado a f ase da espirit ualização e reaparecido sob nova
f orma, o planet a t odo of ereceu aos germes dot ados dos corpos f ísico, et érico e ast ral ,
nele cont idos, não apenas a oport unidade de at ingir novament e o grau ant erior de
desenvolviment o, mas t ambém out ra f aculdade: a de t ranscender a si próprios —após
alcançado esse grau — pelo recebiment o do eu.

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A evolução t errest re divide-se, pois, em duas part es. Num primeiro período, a própria
Terra aparece como reencarnação do est ado planet ário ant erior. No ent ant o, graças à
espirit ualização ocorrida ent rement es, esse est ado repet it ivo alcança um nível superior ao
da encarnação precedent e; e a Terra cont ém em si os germes dos precursores humanos do
planet a ant erior, que a princípio se desenvolvem at é o nível j á alcançado ant eriorment e.
Tendo isso ocorrido, o primeiro período est á encerrado. Agora porém a Terra, graças ao
seu próprio est ado superior de evolução, pode elevar ainda mais os germes, ou sej a,
capacit á-los ao recebiment o do eu. O segundo período da evolução t errest re éaquela do
desenvolviment o do eu nos corpos f ísico, et érico e ast ral.
Assim como mediant e a evolução t errest re o homem é conduzido um grau acima, f oi
esse t ambém o caso nas encarnações planet árias ant eriores, pois j á na primeira dessas
encarnações exist ia algo do homem. Por conseguint e, para esclarecer a ent idade humana
at ual devemos remont ar, no curso de sua evolução, at é o passado mais remot o da primeira
das encarnações planet árias mencionadas.
Na pesquisa supra-sensível, pode-se denominar a primeira encarnação planet ária
como Sat urno, a segunda como Sol , a t erceira como Lua e a quart a como Terra. Cont udo,
at ent e-se rigorosament e ao f at o de que essas denominações não devem, por enquant o, ser
relacionadas com as denominações similares empregadas para designar os component es do
nosso at ual sist ema solar. Sat urno, Sol e Lua devem ser apenas nomes designat ivos de
f ormas evolut ivas passadas da Terra. A relação que esses mundos remot os t êm com os
corpos celest es do sist ema solar at ual se evidenciará no decorrer das considerações a
seguir, pois ent ão se evidenciará t ambém por que esses nomes f oram escolhidos.
Se as quat ro mencionadas encarnações planet árias são descrit as agora, isso só pode
ser f eit o de maneira esboçada, pois os processos, ent idades e seus dest inos em Sat urno,
no Sol e na Lua são t ão diversif icados quant o na própria Terra. Port ant o, na descrição
dessas circunst âncias só podem ser dest acados alguns aspect os caract eríst icos,
apropriados para ilust rar como os est ados da Terra se f ormaram a part ir dos ant eriores.
Nesse caso, t ambém se deve considerar que t ais est ados se vão t ornando cada vez menos
similares aos at uais à medida que se ret rocede no passado. No ent ant o, só cabe
caract erizá-los ut ilizando idéias emprest adas das condições t errest res at uais. Assim, por
exemplo, ao se f alar de luz, calor ou simil ares com ref erência a esses est ados ant eriores,
não se deve esquecer que, com isso, não est ão exat ament e subent endidos os element os
designados hoj e como luz e calor. Cont udo essa f orma de denominação est á corret a, pois
ao observador do supra-sensível se evidencia, j ust ament e nas f ases ant eriores da
evolução, algo de onde se originou o que at ualment e veio a ser luz, calor, et c. E quem
acompanha as descrições assim elaboradas poderá perf eit ament e deduzir, do cont ext o em
que t ais coisas f oram colocadas, as represent ações ment ais que se podem obt er das
imagens e met áf oras de f at os ocorridos num passado longínquo.
Na verdade, essa dif iculdade se t orna muit o signif icat iva para os est ados planet ários
ant eriores à encarnação lunar. Durant e est a últ ima reinavam condições que, de cert o
modo, apresent am alguma semelhança com as da Terra. Quem t ent a f azer uma descrição
dessas condições encont ra, nas analogias com o present e, cert os pont os de apoio para
expressar em idéias claras as percepções da visão supra-sensível. A sit uação é dif erent e
quando se t rat a de descrever a evolução de Sat urno e do Sol. O que ali se apresent a à
observação clarivident e é alt ament e diverso dos obj et os e ent idades que, na at ualidade,
pert encem ao ambient e da vida humana. Essa diversidade t orna ext remament e dif ícil
f azer penet rar esses f at os, correspondent es a t empos remot os, no domínio da consciência
supra-sensível. No ent ant o, como a ent idade humana at ual não pode ser compreendida
sem que se remont e at é o est ado de Sat urno, essa descrição deve ser f ornecida. E

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obviament e não poderá ser mal ent endido um t ipo de descrição que considere a exist ência
de t al dif iculdade, t endo, port ant o, em vist a que alguns dos pont os expost os deve ser mais
uma indicação, uma alusão aos event os correspondent es do que uma descrição exat a dos
mesmos.
Na verdade, poder-se-ia ver uma cont radição ent re o que é apresent ado a seguir e o
que f oi dit o sobre a cont inuidade do passado no present e. Alguém poderia opinar que em
nenhum lugar exist e, ao lado do est ado t errest re at ual, um est ado sat urnino, solar ou
lunar ant erior, nem t ampouco uma f orma humana similar à que é descrit a nest as
explicações como exist ent e no âmbit o desses est ados passados. É evident e que ao l ado dos
homens t errest res não andam homens sat urninos, solares ou lunares t al qual crianças de
t rês anos ao lado de homens de cinqüent a. No ent ant o, dent r o do homem t errest re são
percept íveis, de modo supra-sensorial, os est ados ant eriores da humanidade. Para
reconhecer isso, bast a t er alcançado a capacidade de discerniment o est endida a t odas as
sit uações da vida. Assim como ao lado do homem de cinqüent a anos exist e a criança de
t rês, ao lado do homem t erreno vivo e despert o exist e o cadáver, o homem adormecido e
o homem a sonhar. E embora essas diversas f ormas de manif est ação da ent idade humana
não se apresent em de i medi at o, do modo como são, como sendo os diversos graus evolut i-
vos, uma observação supra-sensível visualiza nelas t ais graus.

A evolução cósmica da ent idade humana

Dos quat ro membros at uais da ent idade humana, o corpo f ísico é o mais ant igo. É
t ambém aquele que, em sua espécie, alcançou a maior perf eição. A pesquisa supra-
sensível revela que esse membro do ser humano j á exist ia no decorrer da evolução
sat urf lif la. Nest a exposição se evidenciará que, na verdade, a f orma desse corpo f ísico em
Sat urno era algo complet ament e diverso do at ual corpo f ísico humano. Esse corpo f ísico
t errest re só pode conservar sua nat ureza pelo f at o de est ar em ligação com o corpo
et érico, o corpo ast ral e o eu, t al qual f oi descrit o nas part es ant eriores dest e livro. Uma
ligação dessa espécie ainda não exist ia em Sat urno. Naquela época o corpo f ísico
at ravessava seu primeiro grau evolut ivo, sem que lhe est ivessem int egrados um corpo
et érico, um corpo ast ral ou um eu. Só no decorrer da evolução sat urnína ele amadureceu
para acolher um corpo et érico. Para isso f oi necessário que Sat urno primeiro se
espirit ual izasse e depois se reincorporasse como Sol.
No âmbit o da incorporação solar desabrochou de novo, como que de um germe
remanescent e, o que em Sat urno se t ornara o corpo f ísico; e só ent ão est e pôde ser
impregnado por um corpo et érico. Em virt ude dessa agregação de um corpo et érico, o
corpo f ísico t ransf ormou seu f eit io e f oi elevado a um segundo grau de aperf eiçoament o.
Fenômeno análogo t eve lugar durant e a evolução lunar: o precursor do homem, t al
qual se desenvolvera do Sol para a Lua, int egrou a si o corpo ast ral. Com isso o corpo f ísico
se t ransf ormou pela t erceira vez, elevando-se, port ant o, ao t erceiro grau de seu
aperf eiçoament o. O corpo et érico f oi igualment e t ransf ormado, est ando agora no segundo
grau de seu aperf eiçoament o.
Na Terra, à ent idade precursora do homem — const it uída de corpo f ísico, corpo
et érico e corpo ast ral — veio int egrar-se o eu. Com isso o corpo f ísico alcançou seu quart o
grau de perf eição, o corpo et érico o t erceiro e o corpo ast ral o segundo; o eu se encont ra
apenas no primeiro grau de sua exist ência.
Se observarmos imparcialment e o ser humano, não t eremos dif iculdade em imaginar
corret ament e os diversos graus de perf eição de cada um de seus membros. Bast a
comparar, nesse sent ido, o corpo f ísico com o corpo ast ral. Na qualidade de corpo

60
anímico, evident ement e o corpo ast ral ocupa um est ágio evolut ivo mais elevado do que o
f ísico. E quando, no f ut uro, o primeiro est iver aperf eiçoado, t erá signif icado muit o mais,
para a ent idade t ot al do homem, do que o corpo f ísico at ual. No ent ant o, em sua espéci e
o corpo f ísico alcançou cert o grau superior. Consideremos a est rut ura do coração,
realizada no sent ido da mais alt a sabedoria, a maravilhosa est rut ura do cérebro, et c. , e
mesmo uma part e qualquer do esquelet o — por exemplo, a ext remidade superior do
f êmur. Aí se encont ra uma armação ou f eixe art iculado ordenadament e, compost o de
bast onet es f iníssimos. O conj unt o se dispõe de t al maneira que, com um mínimo possível
de mat éria, é obt ido o result ado mais f avorável sobre as superf ícies art iculares — por
exemplo, a dist ribuição mais racional da f ricção e, com isso, um t ipo corret o de
mobilidade.
Assim, pois, encont ram-se sábias disposições nas part es do corpo humano. E quem,
além disso, considerar a harmonia na cooperação das part es em relação ao t odo, achará
corret o f alar em perf eição desse membro da ent idade humana, segundo sua espécie. Não
import a, nest e caso, que possam aparecer f enômenos inadequados em cert as part es ou
desaj ust es na est rut ura e nas f unções. Pode-se at é chegar à conclusão de que, em cert o
sent ido, t ais desaj ust es sej am apenas o necessário l ado sombrio da sábia luz derramada
sobre t odo o organismo f ísico. Ora, compare-se com ele o corpo ast ral, port ador de prazer
e de sof riment o, de apet it es e paixões. Que insegurança reina nele quant o a prazer e
sof riment o, que apet it es e paixões insensat os se manif est am f reqüent ement e à met a
elevada do homem! Acont ece que o corpo ast ral ainda se encont ra apenas a caminho de
alcançar a harmonia e a homogeneidade int erior j á encont radas no corpo f ísico. Do mesmo
modo poderíamos most rar que, em sua espécie, o corpo et érico se most ra mais perf eit o do
que o corpo ast ral, sendo porém menos perf eit o do que o corpo f ísico. E uma observação
adequada nos revelaria igualment e que o núcleo propriament e dit o da ent idade humana, o
eu, est á at ualment e apenas no início de seu desenvolviment o. Ora, quant o o eu j á
realizou, at é hoj e, de sua t aref a no sent ido de t ransf ormar os out ros membros da ent idade
humana com o f im de t orná-l os uma manif est ação de sua própria nat ureza?
Para o conhecedor da Ciência Espirit ual , as conclusões que assim se impõem à
observação ext erior são aguçadas por out ras considerações. Poder-se-ia alegar que o corpo
f ísico é acomet ido por enf ermidades. Ora, a Ciência Espirit ual est á em condições de
demonst rar, a esse respeit o, que grande part e das enf ermidades procede das perversões e
desvios que o corpo ast ral t ransmit e ao corpo et érico e que, por meio dest e, dest roem a
harmonia, em si perf eit a, do corpo f ísico. A relação mais prof unda, que aqui só pode ser
sumariament e mencionada, bem como a verdadeira causa de muit os processos
pat ológicos, escapam à observação cient íf ica adst rit a aos processos f ísico-sensoriais. Na
maioria dos casos, essa relação é t al que os danos do corpo ast ral não ocasionam, no corpo
f ísico, f enômenos pat ológicos na mesma vida em que est es se produziram, mas apenas
numa vida ult erior. Por isso as leis aqui consideradas só t êm signif icado para quem sej a
capaz de admit ir a repet ição das vidas humanas. Mas mesmo que se quisesse ignorar
t ot alment e t ais conheciment os prof undos, a simples observação da vida humana
demonst ra que o homem se ent rega demasiadament e a prazeres e apet it es que dest roem
a harmonia do corpo f ísico. E o gozo, as cobiças e as paixões t êm sua sede não no corpo
f ísico, mas no corpo ast ral. Est e úl t imo é ainda t ão imperf eit o, em muit os aspect os, que
pode dest ruir a perf eição do corpo f ísico.
Também aqui f ique pat ent e que não se pret ende, com est as explicações, comprovar
as af irmações da Ciência Espirit ual sobre a evolução dos quat ro membros da ent idade
humana. As provas são obt idas da pesquisa espirit ual, e est a most ra que o corpo f ísico
passou por quat ro t ransf ormações para alcançar graus superiores de perf eição, sendo que

61
os out ros membros do homem, conf orme descrit o, passaram por menos. Aqui só se
pret endeu indicar que essas comunicações da pesquisa espirit ual se ref erem a f at os cuj os
ef eit os recaem sobre os graus de aperf eiçoament o — observáveis t ambém ext eriorment e —
dos corpos f ísico, et érico, et c.

A evolução sat urnina

Se quisermos f ormar uma idéia pict órica, aproximadament e real das condições
reinant es durant e a evolução de Sat urno, deveremos t er em ment e que em seu decorrer
ainda não exist iam, no essencial, quaisquer das coisas e criat uras que at ualment e
pert encem à Terra e const it uem os remos mineral, veget al e animal. Os seres desses t rês
remos só se f ormaram em periodos post eriores da evolução. Dos seres t errest res
f isicament e percept íveis hoj e só exist ia o homem, e dele apenas o corpo f ísico, conf orme
f oi descrit o. Ora, à Terra at ual pert encem não apenas os seres dos reinos mineral ,
veget al, animal e humano, mas t ambém out ros seres que não se manif est am numa
corporalídade f ísica. Tais ent idades est avam present es t ambém na evolução sat urnina,
sendo que sua at ividade no cenário de Sat urno t eve por conseqüência a evolução post erior
do homem.
Ao se dirigirem os órgãos percept ivos espirit uais não para o início ou f im, mas para a
f ase média do ciclo sat urnino, nela se evidencia um est ado que, em seu aspect o principal,
consist e apenas em ‘ calor’ . Nada de element os gasosos, líquidos ou mesmo sólidos são
encont ráveis aí. Todos esses est ados só aparecem em encarnações post eriores. Suponha-se
que um ser humano, com os órgãos sensoriais at uais, se aproximasse desse est ado de
Sat urno como observador. Nenhuma das impressões sensoriais que l he são possíveis se lhe
depararia aí, excet o a sensação de calor. Supondo-se, pois, que t al ser se aproximasse de
Sat urno, ao penet rar no espaço ocupado por est e últ imo ele not aria apenas um est ado
t érmico dif erent e do ambient e espacial rest ant e. Cont udo, não acharia essa part e do
espaço homogeneament e quent e: part es mais f rias e mais quent es se alt ernariam das mais
variadas maneiras. Seriam percebidas irradiações calóricas seguindo cert as linhas, que
nem sempre são apenas ret as; em virt ude das dif erenças t érmicas, criam-se f ormas
irregulares. O observador t eria diant e de si um ser cósmico como que art iculado em si
mesmo, manif est ando-se em est ados alt ernados e consist indo apenas em calor.
Para o homem da at ualidade deve ser dif ícil imaginar al go const it uído apenas de
calor, pois ele est á habit uado a perceber o cal or não como al go em si, mas como
qualidade t érmica dos corpos, sej am eles gasosos, líquidos ou sólidos. Principalment e a
quem sej a af eit o às idéias da Física moderna, a alusão a ‘ calor’ no sent ido acima parecerá
absurdo. Talvez t al pessoa argument e da seguint e maneira: “ Exist em corpos sólidos,
líquidos e gasosos; o calor, porém, é apenas um est ado em que uma dessas t rês f ormas se
encont ra. Quando as menores part ículas de um gás est ão em moviment o, esse moviment o
é percebido como calor. Não havendo gás, não pode haver moviment o nem, port ant o,
calor. ”
Para o pesquisador cient íf ico-espirit ual, o assunt o se apresent a de out ro modo: para
ele o calor é algo de que se f ala no mesmo sent ido em que se f ala de gás, de líquido ou de
um corpo sólido; t rat a-se apenas de uma subst ância ainda mais sut il do que o gás. E est e
últ imo não é, para ele, senão calor condensado, no mesmo sent ido em que o líquido é
vapor condensado e o corpo sólido é líquido condensado. Assim, o ocult ist a ref ere-se a
corpos calóricos do mesmo modo como f ala de corpos gaseif ormes ou vaporosos.
Bast ará apenas admit ir a exist ência de uma percepção anímica para se acompanhar o
pesquisador espirit ual nesse campo. No mundo exist ent e para os sent idos f ísicos, o calor

62
se apresent a t ot alment e como um est ado do element o sólido, líquido ou gasoso; cont udo,
esse est ado é apenas o lado ext erno do calor, ou t ambém seu ef eit o. Os f ísicos f alam
soment e desse ef eit o do calor, e não de sua nat ureza ínt ima. Tent e-se f azer t ot al
abst ração de qualquer ef eit o calórico percept ível por meio dos corpos ext eriores,
f ocalizando simplesment e a vivência int erior que se t em ao dizer “ sint o-me quent e” ,
“ sint o-me f rio” . Só est a vivência int erior possibilit a uma idéia do que f oi Sat urno em seu
período evolut ivo acima descrit o. Por mais que se percorresse t oda a ext ensão do espaço
ocupado por ele, não se encont raria um único gás capaz de exercer uma pressão, nenhum
corpo sólido ou líquido do qual se pudesse receber qualquer impressão luminosa; mas em
cada pont o do espaço se sent iria, sem qualquer impressão do ext erior: aqui exist e est e ou
aquele grau de calor.
Num corpo cósmico com t al const it uição, não exist em quaisquer condições para os
seres animais, veget ais e minerais da at ualidade. (Por isso, é quase supérf luo mencionar
que a suposição acima nunca pôde, ef et ivament e, acont ecer. Um homem at ual não pode
como t al, na qualidade de observador, def ront ar-se com o ant igo Sat urno. A explicação
serviu apenas para ilust rar. ) As ent idades das quais o conheciment o supra-sensível se t orna
cônscio, durant e a observação de Sat urno, est avam num nível evolut ivo int eirament e
dif erent e em relação aos seres t errest res at uais, percept íveis sensorialment e. A esse
conheciment o se apresent am, de início, seres que não possuíam um corpo f ísico como o
homem at ual. É preciso t ambém evit ar pensar na at ual corporalidade f ísica do homem
quando se alude aqui a ‘ corpo f ísico’ . Deve-se, muit o mais, dist inguir crit eriosament e
ent re corpo f ísico e corpo mineral. Um corpo f ísico é aquele governado pelas leis f ísicas
que se observam at ualment e no reino mineral. O corpo f ísico humano at ual não é
simplesment e governado pelas ref eridas leis f ísicas; além disso, é impregnado por subst ân-
cia mineral. No caso de Sat urno, ainda não se pode cogit ar da exist ência de t al corpo
f ísico-mineral. Ali exist e apenas uma corporal idade f ísica, governada por leis f ísicas; mas
essas leis f ísicas só se manif est am~pormeio de ef eit os calóricos. Port ant o, o corpo f ísico é
um corpo calórico sut il, t ênue, et érico. E é de t ais corpos calóricos que se const it ui t odo o
conj unt o de Sat urno. Esses corpos calóricos são os primeiros rudiment os do at ual corpo
humano f ísico-mineral. Est e se f ormou como result ado da int egração, ao primeiro, de
subst âncias gasosas, l íquidas e sólidas f ormadas apenas mais t arde.
Dent re os seres que se apresent am à consciência supra-sensível, no moment o em que
est a se def ront a com o est ado de Sat urno, e dos quais se pode dizer que sej am habit ant es
sat urninos além do homem, há, por exemplo, os que não necessit avam absolut ament e de
um corpo f ísico; o membro inf erior de sua ent idade era o corpo et érico. Por out ro lado,
eles possuíam t ambém um membro acima dos membros essenciais34 humanos. O ser huma-
no possui como membro mais elevado o homem-espírit o; esses seres possuem um membro
ainda superior, sendo que ent re o corpo et érico e o homem-espírit o eles possuem t odos os
membros j á descrit os nest a obra, encont rados t ambém no homem: o corpo ast ral, o eu, a
personalidade espirit ual e o espírit o vit al.
Assim como a Terra de hoj e est á envolt a por uma at mosf era, assim t ambém o era
Sat urno; só que essa sua ‘ at mosf era’ era de nat ureza espirit ual 35 , consist indo
ef et ivament e nos seres mencionados e ainda em out ras ent idades. Havia uma int eração
34
Component es do ser (Wesensgl i eder ). (N. T. )
35
Uma linguagem bem precisa, para expressar com exat idão a vivência int erior durant e a pesquisa espirit ual,
em vez de “ Sat urno era envolt o por uma at mosf era” deveria dizer: “ Enquant o a consciência supra-sensível se
t orna conscient e de Sat urno, apresent a-se t ambém a essa consciência uma at mosf era de Sat urno” , ou
“ apresent am-se out ros seres, dest a ou daquela nat ureza” . No ent ant o, a t ransposição para ist o ou aquilo est á
present e” é aceit ável, pois no f undo essa mesma t ransposição ocorre t ambém na f ormulação da linguagem
usual para a real vivência anímica na percepção sensorial, mas diant e das exposições a seguir se deverá t er
isso em ment e. Aliás, isso j á e f ornecido t ambém pelo cont ext o da exposição. (N. A. )

63
ent re os corpos cal óricos de Sat urno e os seres caract erizados. Est es imergiam seus
membros essenciais nos corpos calóricos f ísicos de Sat urno; e enquant o não havia qualquer
vida própria nos corpos calóricos, expressava-se neles a vida de seus vizinhos. Poder-se-ia
compará-los a espelhos; só que neles não se ref let iam as imagens dos mencionados seres
vivent es, e sim suas condições vit ais. No próprio Sat urno não se poderia descobrir qualquer
coisa viva; no ent ant o, ele at uava vivif icadorament e sobre o espaço celest e circundant e,
ref let indo para est e, como num eco, a vida que lhe era enviada. Sat urno int eiro parecia
um espelho da vida celest e. Ent idades muit o elevadas, cuj a vida Sat urno ref let ia, podem
ser denominadas ‘ Espírit os da Sabedoria’ . (Na ciência espirit ual crist ã elas levam o nome
Kyr i ot et es, ou sej a, ‘ Dominações’ . ) Sua at ividade em Sat urno não se inicia apenas com a
descrit a época mediana da evolução sat urnina. De cert a maneira, est a j á se havia
encerrado. Ant es de poderem chegar a t er consciência do ref lexo de sua própria vida a
part ir dos corpos calóricos de Sat urno, eles deviam primeiro levar esses corpos a produzir
esse ref lexo. Por isso sua at ividade começou logo após o início da evolução sat urnina.
Quando isso acont eceu, a corporalidade de Sat urno era de uma mat erialidade ainda
desordenada, incapaz de ref let ir qualquer coisa.
Ao cont emplarmos essa mat erialidade desordenada, est amos inseridos, pela
observação espirit ual , no início da evolução sat urnina. O que se pode observar aí não
apresent a, de modo al gum, o carát er calórico post erior. Querendo-se caract erizar esse
est ado, só se pode f alar de uma qualidade comparável à vont ade humana — nada mais do
que vont ade. Trat a-se, port ant o, de um est ado int eirament e anímico. Ao se explorar a
procedência dessa ‘ vont ade’ , encont ra-se sua emanação de seres subl imes, que em sua
evolução alcançaram graus quase inconcebíveis, at é a alt ura em que, t endo-se iniciado a
evolução de Sat urno, puderam f azer a ‘ vont ade’ emanar de seu próprio ser. Algum t empo
depois dessa emanação, liga-se à vont ade a at ividade dos Espírit os da Sabedoria, acima
caract erizados. Com isso, a vont ade, at é ent ão complet ament e desprovida de at ribut os,
adquire paulat inament e a propriedade de espelhar a vida no espaço celest e. Podemos
denominar esses seres que se comprazem em irradiar a vont ade, no início da evolução
sat urnina, como ‘ Espírit os da Vont ade’ . (Na ciência esot érica crist ã el es são denominados
‘ Tronos’ ).
Tendo a evolução sat urnína alcançado um cert o nível graças à cooperação ent re a
vont ade e a vida, iniciam sua at ividade out ros seres que t ambém se encont ram nas
redondezas de Sat urno. Pode-se denominá-los ‘ Espírit os do Moviment o’ (Dynami s,
‘ Virt udes’ no esot erismo crist ão). Eles não possuem nem corpo f ísico nem corpo et érico;
seu component e inf erior é o corpo ast ral. Quando os corpos sat urninos alcançaram a
f aculdade de ref let ir a vida, essa vida ref let ida pôde impregnar-se com as qualidades
sediadas nos corpos ast rais dos Espírit os do Moviment o. A conseqüência disso f oi parecer
que ext eriorizações emocionais, sent iment os e out ras f orças anímicas f ossem precipit adas
de Sat urno no espaço celest e. Sat urno int eiro parece um ser anímico manif est ando
simpat ias e ant ipat ias. Cont udo, essas ext eriorizações anímicas não são absolut ament e
suas, mas apenas os ref let idos ef eit os anímicos dos Espírit os do Moviment o.
Tendo isso perdurado t ambém por cert a época, inicia-se a at ividade de out ros seres,
denominados ‘ Espírit os da Forma’ . Também seu component e inf erior é um corpo ast ral,
porém sit uado num nível evolut ivo dif erent e do que o corpo ast ral dos Espírit os do
Moviment o. Enquant o est es comunicam à vida ref let ida apenas manif est ações sensit ivas
de nat ureza geral, o corpo ast ral dos Espírit os da Forma (Exusi ai , ‘ Pot est ades’ no esot eris-
mo crist ão) at ua de maneira que as manif est ações sensit ivas são como que precipit adas no
espaço cósmico por seres isol ados. Poder-se-ia dizer que os Espírit os do Moviment o f azem
Sat urno parecer, no t odo, um ser dot ado de alma; os Espírit os da Forma subdividem essa

64
vida em seres vit ais isolados, de modo que agora Sat urno parece um aglomerado desses
seres anímicos. Para f ormar uma idéia, imagine-se uma amora ou f ramboesa, const it uída
de pequenas bagas isoladas. Do mesmo modo, ao conhecedor supra-sensível Sat urno se
apresent a, no descrit o período evolut ivo, compost o por seres sat urnínos individuais, que
no ent ant o não possuem vida nem alma próprias, ref let indo a vida e a al ma de seus
habit ant es.
Nesse est ado sat urnino int erf erem ent ão seres cuj o component e inf erior t ambém é
um corpo ast ral, porém t ão desenvolvido por eles que at ua como um eu humano at ual. Por
int ermédio desses seres, o eu cont empla Sat urno da perif eria e t ransmit e sua própria
essência aos seres vit ais individuais sat urninos. Assim, de Sat urno é enviado para o espaço
cósmico algo semelhant e ao ef eit o da personalidade humana no at ual âmbit o de vida. Se-
j am chamados ‘ Espírit os da Personalidade’ (Ar chai , ‘ Arqueus’ no esot erismo crist ão) os
seres que provocam t al f at o. Eles t ransmit em a aparência do carát er de personalidade às
part ículas corporais de Sat urno. Cont udo, em Sat urno não exist e propriament e a
personalidade, mas apenas algo como sua imagem ref lexa, a casca da personalidade. Uma
personalidade ef et iva é possuída pelos Espírit os da Personalidade, na perif eria de Sat urno.
Just ament e pelo f at o de esses Espírit os da Personalidade f azerem sua essência ser
ref let ida pelos corpos sat urninos, da maneira descrit a, éque a est es é t ransmit ida aquel a
sut il subst ancíalidade aqui designada ant es como ‘ calor’ . Não exist e, em t odo o Sat urno,
qual quer int erioridade; mas os Espírit os da Personal idade reconhecem a imagem de sua
própria int erioridade na medida em que essa imagem af lui para eles de Sat urno como
calor.
Quando t udo isso acont ece, os Espírit os da Personal idade est ão no nível em que o
homem se encont ra at ualment e, e ent ão perf azem sua época humana. Caso se queira
visualizar esse f at o imparcialment e, é preciso imaginar que um ser possa ser ‘ homem’ não
simplesment e sob a f orma que o homem possui hoj e. Os Espírit os da Personal idade são
‘ homens’ em Sat urno. Eles possuem como component e inf erior não o corpo f ísico, mas o
corpo ast ral j unt o com o eu. Por conseguint e, não podem expressar as vivências desse
corpo ast ral num corpo f ísico e num corpo et érico, como o homem at ual; porém não
apenasposst t em um eu, mas t ambém sabem dele, pois o calor de Sat urno lhes t ransmit e
ref lexivament e a consciência desse eu. Eles são j ust ament e ‘ homens’ em condições
dif erent es das t errest res.
No decorrer do t empo, seguem-se na evolução de Sat urno f at os de nat ureza dif erent e
daqueles ocorridos at é aqui. Enquant o at é aqui t udo era ref lexo de vida e sensação
ext eriores, inicia-se agora uma espécie de vida int erior. No mundo de Sat urno começa,
aqui e ali, uma vida luminosa que ora se acende, ora se apaga. Um t rêmulo cint il ar surge
nest e e naquele lugar, e em out ros algo semelhant e a relâmpagos oscilant es. Os corpos
calóricos de Sat urno começam a cint ilar, a resplandecer e at é a irradiar. O f at o de t er sido
at ingido esse grau evolut ivo possibilit a a cert as ent idades o desenVolviment o de uma
at uação. Trat a-se daquelas que podem ser designadas como ‘ Espírit os do Fogo’
(Ar changel oi , ‘ Arcanj os’ no esot erismo crist ão). Essas ent idades possuem realment e um
corpo ast ral, mas no mencionado nível de sua evolução não podem dar-lhe qualquer
impulso; elas não poderiam despert ar qualquer sent iment o, qualquer sensação se não
f ossem capazes de at uar sobre os corpos calóricos que alcançaram o descrit o grau
sat urnino. Essa at uação lhes dá a possibilidade de reconhecer sua própria exist ência no
ef eit o que produzem. Elas não poderiam dizer “ eu exist o” , mas algo como “ meu ambient e
me permit e exist ir” . São capazes de perceber, e na verdade suas percepções consist em
nos mencionados ef eit os luminosos em Sat urno. Est es const it uem, de cert o modo, seu eu,
e isso lhes proporciona uma modalidade especial de consciência que se pode chamar de

65
consciência imagét ica 36 , comparável à consciência onírica humana; só que se deve pensar
num grau de int ensidade muit o superior ao dos sonhos humanos, não se t rat ando de
imagens oníricas oscílant es e desprovidas de essência, mas daquelas que se encont ram
numa ef et iva relação com os f enômenos luminosos de Sat urno.
Nesse int ercâmbio ent re os Espírit os do Fogo e os corpos calóricos de Sat urno, são
incorporados à evolução os germes dos órgãos sensoriais humanos. Os órgãos pelos quais
at ualment e o homem percebe o mundo f ísico reluzem em seus primeiros e sut is
rudiment os et éricos. Fant omas humanos37 , que ainda nada apresent am em si a não ser os
arquét ipos l uminosos dos órgãos sensoriais, são reconhecíveis no âmbit o de Sat urno pel a
capacidade percept iva clarivident e. Esses sent idos são, port ant o, o f rut o da at ividade dos
Espírit os do Fogo; porém de seu surgiment o part icipam não apenas esses espírit os.
Simult aneament e a eles, surgem out ros seres no cenário de Sat urno — seres t ão avança-
dos, em sua evolução, que podem servir-se dos germes sensoriais para cont emplar os
processos cósmicos na vida sat urnina. Trat a-se de seres que podem ser chamados de
‘ Espírit os do Amor’ (‘ Seraf ins’ no esot erismo crist ão). Sem sua presença, os Espírit os do
Fogo não possuiriam a consciência acima descrit a. Eles cont emplam os processos de
Sat urno com uma consciência que lhes possibilit a t ransmit i-los como imagens aos Espírit os
do Fogo. Eles próprios renunciam a t odas as vant agens que pudessem t er pela
cont emplação dos processos sat urninos — a qualquer gozo, a qualquer alegria; abdicam de
t udo isso para que os Espírit os do Fogo possam t ê-lo.
A esses acont eciment os segue-se um novo período da exist ência sat urnina. Aos
f enômenos luminosos se acrescent a out ra coisa. Para muit os, pode parecer desvario
declarar o que aí se apresent a à percepção supra-sensível. No int erior de Sat urno, é como
se houvesse sensações gust at ivas ent remeadas. Doce, amargo, azedo, et c. são observados
nos mais diversos l ocais do int erior de Sat urno; e para f ora, penet rando no espaço
cósmico, t udo isso é percebido como som, como uma espécie de música.
No âmbit o desses processos, cert as ent idades encont ram novament e a possibilidade
de desenvolver uma at ividade em Sat urno. Denominemo-las ‘ Filhos do Crepúsculo ou da
Vida’ (Angel oi , ‘ Anj os’ no esot erismo crist ão). Eles ent ram num int ercâmbio com as f orças
gust at ivas oscilant es, exist ent es no int erior de Sat urno. Com isso seus corpos et éricos ou
vit ais se ent regam a uma at ividade t al que cabe designá-la como uma espécie de me-
t abolismo. Eles int roduzem vida no int erior de Sat urno, provocando processos de nut rição
e secreção. Não são eles que produzem di r et ament e esses processos; graças ao que
provocam, t ais processos surgem i ndi r et ament e. Essa vida int erior t orna possível a
aparição, no corpo cósmico, de out ros seres que podem ser chamados de ‘ Espírit os das
Harmonias’ (‘ Querubins’ no esot erismo crist ão). Eles t ransmit em aos Espírit os da
Sabedoria uma espécie nebulosa de consciência, mais obscura e apát ica do que a
consciência onírica do homem at ual — semelhant e à que acomet e o homem durant e um
sono sem sonhos. Trat a-se de um grau t ão baixo de consciência do homem que, de cert a
f orma, “ não lhe vem absolut ament e à consciência” . Apesar disso ela exist e, dif erindo da
consciência diurna segundo o grau e a nat ureza. Essa ‘ consciência dorment e sem sonhos’ é
possuída at ualment e t ambém pelas plant as. Embora não t ransmit a quaisquer percepções
de um mundo ext erior no sent ido humano, ela regula os processos vit ais e os leva à
harmonia com os processos cósmicos ext eriores. Nesse nível da evolução sat urnina os

36
Al. Bi l der bewusst sei n — ‘ consciência de imagens’ —, o que, no sent ido ant ropo-sáf ico, se dif erencia da
‘ consciência imaginat iva’ ref erent e ao primeiro dos t rês graus iniciát ico. (N. T. )
37
O neologismo ‘ f ant oma’ t raduz aqui o t ermo Phant om, que na acepção de St einer se dif erencia do usual
‘ f ant asma’ . Vide a esse respeit o do Aut or: De Jesus a Cri st o t rad. Rudolf Lanz e Gerda Hupf eld (São Paulo:
Ant roposóf ica, 1996), e Ser es el ement ar es e ser es espi r i t uai s, t rad. Sérgio Corrêa e Christ a Glass (2. ed. São
Paulo: Ant roposóf ica, 1996). (N. T. )

66
Espírit os da Sabedoria não podem perceber essa regul ação; porém os Espírit os das
Harmonias a percebem, sendo, port ant o, os verdadeiros reguladores.
Toda essa vida se desenrola nos f ant omas humanos descrit os. Ao ol har espirit ual,
port ant o, eles parecem vivif icados; no ent ant o, sua vida é apenas aparent e. Trat a-se da
vida dos Espírit os da Sabedoria, os quais, de cert o modo, se servem dos f ant omas humanos
para viver sua própria vida.
At ent e-se agora aos f ant omas humanos com vida aparent e. Durant e o descrit o
período sat urnino, eles t êm f orma t ot alment e mut ável, ora assumindo est e, ora aquele
aspect o. No curso post erior da evolução suas f ormas se t ornam mais def inidas, durando
por cert o t empo. Isso se deve ao f at o de agora eles serem impregnados pela at uação dos
espírit os que j á eram observáveis no início da evolução sat urnina — os Espírit os da Vont ade
(os Tronos). O result ado disso é que o próprio f ant oma humano aparece com uma f orma de
consciência ext remament e rudiment ar e nebulosa. Deve-se imaginar essa f orma de
consciência como sendo ainda mais reduzida do que a do sono sem sonhos. Nas circunst ân-
cias at uais, são os minerais que t êm essa consciência. Ela leva o ser int erior a uma
harmonia com o mundo ext erior f ísico. Em Sat urno são os Espírit os da Vont ade os
reguladores dessa harmonia, e com isso o homem aparece como uma reprodução da
própria vida de Sat urno. O que a vida sat urnina é em grande escala, o homem, nesse grau,
é em escala reduzida. Com isso é f ornecido o primeiro germe para algo que t ambém no
homem de hoj e ainda se encont ra em est ado germinal : o ‘ homem-espírit o’ (at ma). Para
dent ro (em Sat urno), essa vont ade humana nebulosa se manif est a à percepção supra-
sensível por meio de ef eit os comparáveis a ‘ odores’ . Para f ora, em direção ao espaço
celest e, exist e uma manif est ação como a de uma personalidade, porém não dirigida por
um eu int erior, e sim regulada do ext erior como uma máquina. Os reguladores são os
Espírit os da Vont ade.
Ao se relancear a exposição precedent e, f ica visível que a part ir do est ado mediano
da evolução sat urnina as et apas dessa evolução podem ser caract erizadas comparando-se
seus ef eit os com as impressões sensoriais da at ualidade. Dissemos que a evolução de
Sat urno se manif est a como calor, ao qual se acrescent am f enômenos luminosos, depois
f enômenos gust at ivos e sonoros; f inalment e surge algo que para o int erior de Sat urno se
manif est a como sensações olf at ivas e, para o ext erior, como um eu humano at uando
maquinalment e. O que se manif est a na evolução sat urnina ant es do est ado calórico?
Trat a-se de algo que não se pode absolut ament e comparar com o que é acessível a uma
impressão sensorial ext erior. O est ado cal órico é ant ecedido por um est ado que o homem
at ual só vívencia em seu ser int erior. Ao se ent regar a represent ações ment ais que ele
próprio f orma em sua alma, sem a int ervenção de qualquer impressão ext erior, ele possuí
em si algo que nenhum sent ido f ísico pode perceber — algo que, como percepção, só e
acessível à visão superior. Ao est ado calórico de Sat urno precedem j ust ament e mani-
f est ações que só podem exist ir para a percepção supra-sensível. Podem-se dist inguir t rês
desses est ados: calor purament e anímico, ext eriorment e impercept ível; luz purament e
espirit ual, t raduzida em t revas para o ext erior; e, f inalment e, essência espirit ual, que é
perf eit a em si mesma e não necessit a de qualquer ser ext erior para t ornar-se cônscia de
si. O cal or purament e int erior acompanha a aparição dos Espírit os do Moviment o; a luz
purament e espirit ual, a dos Espírit os da Sabedoria; a pura essência int erior est á l igada à
primeira emanação dos Espírit os da Vont ade.
Com a aparição do calor sat urnino nossa evolução sai, port ant o, da vida int erior, da
pura espirit ualidade, para ent rar pela primeira vez numa exist ência ext eriorment e
manif est a. Torna-se especialment e dif ícil, para a consciência at ual , ainda aceit ar a
af irmação de que com o est ado calórico sat urnino aparece t ambém, pela primeira vez,

67
aquilo que denominamos ‘ t empo’ . Os est ados precedent es não são, em absolut o,
t emporais; pert encem àregião que na Ciência Espirit ual se pode chamar de ‘ duração’ . Por
isso, t udo o que se relat a nest e livro sobre t ais est ados na ‘ região da duração’ deve ser
compreendido t endo-se em vist a que as expressões ref erent es a condições t emporais são
empregadas apenas como analogia, em f avor da compreensão. Para a linguagem humana,
aquilo que de cert a f orma precede o ‘ t empo’ t ambém só pode ser caract erizado com
expressões que cont enham a idéia de t empo. Por conseguint e, é preciso t er consciência de
que embora o primeiro, o segundo e o t erceiro est ados sat urninos não se t enham
desenvolvido ‘ sucessivament e’ no sent ido at ual, não se pode senão descrevê-los
sucessivament e. Out rossim, apesar de sua ‘ duração’ ou simult aneidade, sua
int erdependência é t al que pode ser comparada a uma sucessão t emporal.
Com essa al usão aos primeiros est ados evolut ivos de Sat urno, t ambém é lançada uma
luz sobre qualquer pergunt a adicional a respeit o da origem desses est ados. Nat uralment e,
do pont o de vist a purament e int elect ual é int eirament e possível, diant e de cada origem,
indagar pela ‘ origem da origem’ . Só que, diant e dos f at os, isso não é possível. Bast a
recorrermos uma analogia para compreender isso:
Se alguém encont rar vest ígios gravados num caminho, poderá pergunt ar: de onde
provêm eles? — e receber a seguint e respost a: das rodas de um carro. Poderá cont inuar
indagando: de onde vinha o carro, para onde ia? Uma respost a baseada nos f at os é
novament e possível. E ele t alvez ainda pergunt e: quem ia no carro, que int enções t inha a
pessoa que o ut ilizava, o que est ava f azendo? Cont udo, chegará a um pont o em que as
indagações cessarão devido à própria nat ureza dos f at os. Se cont inuar indagando, est ará
se af ast ando da int enção do quest ionament o original ; de cert a f orma, est ará apenas
f azendo pergunt as rot ineiras.
Em casos semelhant es ao exemplo dado, not a-se f acilment e onde os f at os
condicionam o t érmino da indagação. Frent e às grandes quest ões cósmicas, esse pont o não
e t ão f ácil de esclarecer. Cont udo, num exame apurado se descobrirá que t odas as
pergunt as relat ivas ao ‘ de onde?’ devem cessar nos est ados sat urninos descrit os acima,
pois chegou-se a um âmbit o onde os seres e processos j á não se j ust if icam pelo que os
origina, e sim por si mesmos.
Como result ado da evolução sat urnina, f ica evident e que o germe humano se
desenvolveu at é cert o grau. Ele alcançou a consciência inf erior, nebulosa, mencionada
acima. Não se deve imaginar que sua evolução se haj a iniciado apenas na últ ima f ase de
Sat urno, pois os Espírit os da Vont ade at uam at ravés de t odos os est ágios. Acont ece,
porém, que para a percepção supra-sensível o result ado se dest aca mais nit idament e no
últ imo período. De um modo geral, não há um limit e rígido ent re as at uações de cada um
dos grupos de seres. Ao dizer que primeiro at uam os Espírit os da Vont ade, depois os
Espírit os da Sabedoria, et c. , não pret endemos que eles at uem exclusivament e aí. Eles
at uam at ravés de t oda a evolução sat urnina; só que sua at ividade pode ser melhor
observada nos períodos cit ados. É como se cada t ipo de seres assumisse, nessa f ase, a
direção.
Assim, t oda a a evolução sat urnina aparece como uma reelaboração, pelos Espírit os
da Sabedoria, do Moviment o, da Forma, et c. , daquilo que emanou dos Espírit os da
Vont ade. Essas ent idades espirit uais perf azem por sua vez, elas próprias, um
desenvolviment o. Os Espírit os da Sabedoria, por exemplo, depois de t erem recebido a vida
ref let ida por Sat urno, sit uam-se num nível dif erent e do ant erior. O f rut o dessa at ividade
eleva as f aculdades de seu próprio ser. A conseqüência disso é que, t erminado esse t ipo de
at ividade, ocorre-lhes um est ado análogo ao do homem durant e o sono. A seus períodos de
at ividade em relação a Sat urno seguem-se out ros em que eles, por assim dizer, vivem em

68
out ros mundos. Sua at ividade se encont ra ent ão desviada de Sat urno. Por isso a percepção
clarivident e observa, na evolução sat urnina, um ascender e um descender; o ascender
dura at é à f ormação do est ado calórico. Ent ão se inicia, com os f enômenos luminosos, j á
um descender. E t endo os f ant omas humanos assumido f orma graças aos Espírit os da
Vont ade, os seres espirit uais t ambém vão-se ret raindo paulat inament e: a evolução
sat urnina se ext ingue em si mesma, desaparecendo como t al.
Uma espécie de período de repouso se inicia. Ao mesmo t empo, o germe humano
ent ra como que num est ado de dissolução — porém não de desapareciment o, e sim
análogo ao da sement e veget al que repousa na t erra a f im de germinar para uma nova
plant a. Assim descansa o germe humano, no seio cósmico, para um novo despert ar. E
quando é chegado o moment o de seu despert ar, t ambém as ent idades espirit uais acima
descrit as adquiriram, sob out ras condições, as f aculdades graças às quais podem cont inuar
a aperf eiçoar o germe humano. Os Espírit os da Sabedoria adquiriram em seu corpo et érico
a f aculdade de não apenas, como em Sat urno, usuf ruir da irradiação da vida; agora eles
conseguem irradiar vida de si próprios e dot ar out ros seres com ela. Os Espírit os do
Moviment o est ão agora t ão evoluídos quant o os Espírit os da Sabedoria em Sat urno: o
membro inf erior de sua ent idade era, ali, o corpo ast ral ; agora eles possuem um corpo
et érico ou vit al. De modo anál ogo, os demais seres espirit uais at ingiram um grau evolut ivo
a mais. Todos esses seres espirit uais podem, port ant o, at uar na evolução ul t erior do
germe humano dif erent ement e de como at uaram em Sat urno.
Cont udo, no f inal da evolução sat urnina o germe humano se dissolveu. Para que os
espírit os mais evoluídos possam prosseguir do pont o onde haviam parado ant eriorment e,
esse germe humano deve repet ir concisament e as et apas percorridas em Sat urno. Isso se
evidencia à f aculdade de percepção supra-sensível. O germe humano sai de sua
obscuridade e começa, por iniciat iva própria, a desenvolver-se graças às f orças que lhe f o-
ram inf undidas em Sat urno. Ele ressurge das t revas como um ser volit ivo, expõe-se à
aparência da vida, à nat ureza anímica, et c. , at é at ingir aquela manif est ação aut omát ica
de personalidade que possuía no f inal da evolução sat urnina.

A evolução solar

O segundo dos grandes períodos evolut ivos ref eridos, o ‘ grau sol ar’ , provoca a
elevação do ser humano a um est ado de consciência superior àquele alcançado em
Sat urno. Em comparação com a consciência at ual do homem, na verdade esse est ado solar
poderia ser chamado de ‘ inconsciência’ , pois equivale aproximadament e ao est ado em que
se encont ra o homem at ual durant e um sono t ot alment e sem sonhos. Ou ent ão se poderia
compará-lo t ambém ao grau inf erior de consciência onde at ualment e dormit a o nosso
mundo veget al. Para a visão supra-sensível não exist e inconsciência’ alguma, mas apenas
diversos graus de consciência. Tudo no Universo é conscient e.
No curso da evolução solar, o ser humano adquire um grau superior de consciência
pelo f at o de lhe ser int egrado o corpo et érico ou vit al. Ant es de isso acont ecer, é
necessário que se repit am os est ados sat urninos da f orma acima descrit a. Essa repet ição
t em um sent ido muit o preciso. Na verdade, t erminado o período de repouso ref erido nas
explicações precedent es, o que ant es era Sat urno emerge do ‘ sono cósmico’ como um
novo ser no Universo, como Sol. Com isso, porém, modif icaram-se as condições da
evolução. Os seres espirit uais cuj a at ividade em Sat urno f oi descrit a progrediram para
novos est ados. Cont udo, no Sol f ormado recent ement e o embrião humano aparece, de iní-
cio, t al como se t ornou no f inal da evolução sat urnina. Ele deve primeiro modif icar os

69
diversos graus evolut ivos alcançados em Sat urno, de f orma que est es se adapt em às
condições do Sol. A época solar começa, port ant o, com uma repet ição dos acont eciment os
sat urninos, embora adapt ados às condições modif icadas da vida solar.
Quando o ser humano se desenvolve a pont o de seu nível evolut ivo alcançado em
Sat urno se adapt ar às condições solares, os j á mencionados Espírit os da Sabedoria
começam a f azer af luir o corpo et érico ou vit al ao seu corpo f ísico. O elevado grau que o
homem alcança no Sol pode ser caract erizado dizendo-se que o corpo f ísico, j á exist ent e
em Sat urno como rudiment o embrionário, é elevado a um segundo grau de perf eição ao
t omar-se port ador de um corpo et érico ou vit al. Esse corpo et érico ou vit al alcança por si
mesmo, na evolução solar, o primeiro grau de seu aperf eiçoament o. Cont udo, para a
obt enção desse segundo grau de perf eição para o corpo f ísico e do primeiro grau para o
corpo et érico, é necessária ainda, no decurso post erior da vida sol ar, a int ervenção de
out ros seres espirit uais, t al qual f oi descrit o em relação ao grau sat urnino.
Quando os Espírit os da Sabedoria iniciam a inst ilação do corpo vit al , o ent e sol ar,
ant eriorment e escuro, começa a reluzir. Ao mesmo t empo, surgem no germe humano as
primeiras manif est ações de at ividade int erior; a vida se inicia. Aquil o que no caso de
Sat urno t ivemos de caract erizar como vida aparent e t orna-se, agora, vida real. A
inst ilação dura cert o t empo, após o qual se produz no germe humano uma import ant e
t ransf ormação. Ele se divide, na verdade, em duas part es. Enquant o ant eriorment e o
corpo f ísico e o corpo vit al f ormavam um t odo int imament e ligado, o corpo f ísico começa
agora a separar-se como uma part e específ ica, embora cont inue permeado pelo corpo
et érico. Agora, port ant o, est amos diant e de um ser humano dual. Uma part e é const it uída
por um corpo f ísico plasmado por um corpo et érico e a out ra é simplesment e corpo
et érico. Essa segregação decorre, porém, durant e um período de repouso da vida solar, no
qual t orna a ext inguir-se a luminosidade j á manif est a. A cisão ocorre, de cert a f orma,
durant e uma ‘ noit e cósmica’ . No ent ant o, esse int ervalo de repouso é muit o mais curt o do
que aquele ent re as evoluções sat urnina e solar, ref eridas acima.
Decorrido o período de repouso, os Espírit os da Sabedoria cont inuam laborando algum
t empo no ser humano dual, t al como haviam f eit o no ser humano unit ário. Ent ão os
Espírit os do Moviment o iniciam sua at ividade. Eles impregnam com seu próprio corpo
ast ral o corpo vit al do ser humano; assim est e adquire a f aculdade de execut ar cert os
moviment os int eriores no corpo f ísico. Trat a-se de moviment os comparáveis aos
moviment os da seiva numa plant a at ual.
O corpo sat urnino f ora const it uído de mera subst ância cal órica. Durant e a evolução
solar, essa subst ância calórica se condensa at é um est ado comparável ao at ual est ado
gasoso ou vaporoso. Trat a-se do est ado que se pode chamar de ‘ ar’ . Os primeiros sinais
desse est ado aparecem quando os Espírit os do Moviment o iniciam sua at ividade. A
consciência supra-sensível se of erece a seguint e visão: dent ro da subst ância calórica
aparece algo como delicadas f ormações, que são post as em moviment os regulares pelas
f orças do corpo vit al. Essas f ormações represent am o corpo f ísico do ser humano no nível
evolut ivo que ent ão lhe corresponde. Elas est ão int eirament e impregnadas de calor e
como que cercadas por um envolt ório calórico. Formações calóricas com f ormas aéreas
agregadas, est ando est as últ imas em moviment o regular — eis como, no sent ido f ísico,
pode-se denominar esse ser humano. Querendo-se, port ant o, mant er a j á descrit a analogia
com a plant a at ual, deve-se t er na consciência que não se t rat a de uma f ormação veget al
compact a, mas de uma f orma aérea ou gasosa 38 cuj os moviment os se poderiam comparar
aos moviment os da seiva da pl ant a at ual.

38
0 gás se manif est a à consciência supra-sensível pelo ef eit o luminoso que produz. Poderíamos, port ant o,
f alar t ambém de f ormações luminosas que se of erecem à percepção espirit ual. (N. A. )

70
A evolução prossegue desse modo descrit o. Após cert o t empo inicia-se novament e um
int ervalo de repouso, após o qual os Espírit os do Moviment o cont inuam at uando at é que à
sua at ividade vem j unt ar-se a dos Espírit os da Forma. O ef eit o disso é que as f ormações
gasosas, at é ent ão sempre mut ant es, assumem f ormas permanent es. Isso acont ece
t ambém pelo f at o de os Espírit os da Forma f azerem f luir e ref luir suas f orças para o corpo
et érico do ser humano. Ant eriorment e as f ormações gasosas, quando apenas os Espírit os
do Moviment o at uavam sobre elas, moviam-se incessant ement e, conservando sua f orma
apenas por um moment o. Agora, porém, elas assumem f ormas t emporariament e
dist inguíveis.
Novament e ocorre, depois de algum t empo, um novo int ervalo de repouso; e
novament e, f indo est a últ imo, os Espírit os da Forma ret omam sua at ividade. Logo, porém,
surgem circunst âncias complet ament e novas na evolução solar. Na verdade, é chegado o
moment o em que a evolução solar at inge seu pont o cent ral. É quando os Espírit os da
Personalidade, que em Sat urno alcançaram seu est ado humano, ascendem a um grau mais
elevado de aperf eiçoament o. Eles t ranscendem esse est ado e adquirem uma consciência
que o homem t erreno at ual, dent ro do nível normal da evolução, ainda não possui. Est e a
adquirirá quando a Terra — ou sej a, o quart o est ado evolut ivo planet ário — t iver at ingido
sua met a e ent rado no ciclo planet ário seguint e. Ent ão o homem não apenas perceberá o
que se encont ra ao seu redor t al qual o t ransmit em seus sent idos f ísicos at uais, mas será
capaz de observar em imagens os est ados anímicos dos seres que o circundam. Ele t erá
uma consciência imagét ica, conservando porém a plena aut oconsciência. Nada haverá de
onírico ou nebuloso em sua visão f igurat iva: ele perceberá o anímico sob f orma de
imagens, mas est as serão a expressão de realidades t al qual o são at ualment e as cores e os
sons f ísicos. At ualment e, o homem só pode elevar-se a t al cont emplação mediant e a
disciplina cient íf ico-espirit ual. Dessa disciplina se t rat ará em páginas post eriores dest e
livro.
Os Espírit os da Personalidade adquirem essa f aculdade de cont emplação, como seu
dom evolut ivo normal , no meio da et apa solar. E é j ust ament e por isso que se t ornam
capazes de at uar, durant e a evolução solar, sobre o corpo et érico humano recém-f ormado,
da mesma maneira como em Sat urno at uaram sobre o corpo f ísico. Assim como lá o calor
lhes ref let iu sua própria personalidade, agora as f ormações gaseif ormes lhes ref let em com
esplendor as imagens do sua consciência cont emplat iva. Eles cont emplam supra-
sensivelment e o que se passa no Sol, e esse cont emplar não é absolut ament e uma simples
observação. É como se nas imagens que emanam do Sol prevalecesse algo da energia que o
homem t erreno designa como amor. E, observando-se arnmícament e de um modo mais
preciso, encont ra-se a causa desse f enômeno: na luz irradiada pelo Sol, seres sublimes se
mesclam à sua at ividade. Trat a-se dos j á mencionados Espírit os do Amor (no esot erismo
crist ão, ‘ Seraf ins’ ). A part ir daqui, eles at uam sobre o corpo et érico ou vit al humano
j unt ament e com os Espírit os da Personal idade. Mediant e essa at ividade, o próprio corpo
et érico progride um grau em seu caminho evolut ivo. Ele adquire a f aculdade de não só
remodelar as f ormações gasosas cont idas nele, mas de reelaborá-las de modo a
manif est arem-se nelas os primeiros rudiment os de uma reprodução dos seres humanos
vivos. Dos organismos gasosos f ormados são, de cert a f orma, produzidas secreções (como
exsudat os) que assumem f ormas semelhant es às suas mat rizes.

O novo Sat urno

Para caract erizar a cont inuação da evolução solar, cabe chamar a at enção para um
f at o sumament e import ant e da evolução cósmica. É que no decorrer de uma época não

71
são, em absolut o, t odos os seres que alcançam sua met a evolut iva. Exist em aquel es que
permanecem aquém dessa met a. É que durant e a evolução sat urnína nem t odos os
Espírit os da Personalidade alcançaram o nível humano al mej ado ali para eles, conf orme
f oi descrit o. Do mesmo modo, nem t odos os corpos humanos f ísicos desenvolvidos em
Sat urno alcançaram o grau de mat uridade que os capacit asse a t ornar-se port adores, no
Sol, de um corpo et érico aut ônomo. A conseqüência disso é que no Sol exist em seres e
f ormações não adapt ados às condições sol ares. Agora, durant e a evolução solar, eles
devem recuperar o que negligenciaram em Sat urno. É por isso que, durant e a et apa solar,
pode-se observar espirit ualment e o seguint e: quando os Espírit os da Sabedoria começam a
f azer af luir o corpo et érico, o corpo solar passa, de cert a maneira, a t urvar-se, sendo
impregnado por f ormações que ef et ivament e ainda pert enceriam a Sat urno. Trat a-se de
f ormações calóricas incapazes de condensar-se adequadament e em ar: são os seres
humanos que permaneceram no nível sat urnino, não podendo t ornar-se port adores de um
corpo et érico regularment e desenvolvido.
Esses remanescent es da subst ância calórica de Sat urno art iculam-se, no Sol, em duas
part es. Uma part e é, de cert o modo, absorvida pelos corpos humanos; a part ir de ent ão,
passa a const it uir dent ro do ser humano uma espécie de nat ureza inf erior do mesmo.
Assim sendo, no Sol o ser humano assume em sua corporalidade algo que ef et ivament e
corresponde ao grau sat urnino. Ora, assim como o corpo sat urnino do homem possibilit ou
aos Espírit os da Personalidade elevar-se ao nível humano, agora essa part e sat urnina do
homem of erece, no Sol, o mesmo aos Espírit os do Fogo. Est es elevam-se ao nível humano
f azendo suas f orças f luir e ref luir nessa part e sat urnina do ser humano, t al qual f izeram os
Espírit os da Personalidade em Sat urno. Isso t ambém ocorre no período mediano da
evolução sol ar. Ent ão a part e sat urnina do ser humano se encont ra t ão amadurecida que,
com sua aj uda, os Espírit os do Fogo (Arcanj os) podem percorrer sua et apa humana.
Uma out ra part e da subst ância calórica de Sat urno se desmembra e adquire uma
exist ência independent e ao lado e no meio dos seres humanos do Sol. Essa part e f orma um
segundo reino ao lado do reino humano — um reino que desenvolve no Sol um corpo
t ot alment e aut ônomo, porém apenas f ísico, como corpo calórico. A conseqüência disso é
que os Espírit os da Personalidade plenament e desenvolvidos não podem dirigir sua
at ividade, da f orma descrit a, a qualquer corpo et éríco independent e. Acont ece que
t ambém cert os Espírit os da Personalidade permaneceram na f ase sat urnina, não t endo
alcançado aí o nível humano. Ent re eles e o segundo reino solar t ornado independent e
exist e um laço de at ração. Agora, no Sol, eles devem relacionar-se com o reino
ret ardat ário t al qual seus companheiros adiant ados f izeram com relação aos seres
humanos em Sat urno. Lá, est es t ambém haviam desenvolvido soment e o corpo f ísico. No
próprio Sol, porém, não exist e possibilidade alguma para t al t rabalho dos Espírit os da
Personalidade ret ardat ários. Por isso eles se separam do corpo solar e f ormam, f ora dele,
um corpo cósmico independent e que se dest aca, port ant o, do Sol. É a part ir dest e que os
Espírit os da Personalidade ret ardat ários at uam sobre os mencionados seres do segundo
reino solar.
Com isso surgiram duas f ormações cósmícas daquela que ant eriorment e era Sat urno.
Doravant e o Sol t em em sua proximidade um segundo corpo cósmico que represent a uma
espécie de renasciment o de Sat urno, um novo Sat urno. É desse Sat urno que emana o
carát er de personalidade para o segundo reino solar. Port ant o, dent ro desse reino se
apresent am seres que no próprio Sol não possuíam qualquer personalidade; cont udo, eles
ref let em para os Espírit os da Personalidade, no novo Sat urno, a própria personalidade
dest es. A consciência supra-sensível pode observar, ent re os seres humanos no Sol, f orças
calóricas que int erf erem na evolução solar regular e nas quais se const at a a at uação dos j á

72
descrit os espírit os do novo Sat urno.
Durant e o período mediano do ciclo solar, cumpre observar no ser humano al guns
aspect os. Ele é const it uído de um corpo f ísico e um corpo et érico. Dent ro de ambos se
desenrol a a at ividade dos Espírit os da Personalidade evoluídos, em combinação com a dos
Espírit os do Amor. Ao corpo f ísico est á mesclada uma part e da nat ureza sat urnína
ret ardat áría, na qual se desenrola a at ividade dos Espírit os do Fogo. Em t odos os ef eit os
dos Espírit os do Fogo sobre a nat ureza at rasada de Sat urno deve-se ver os precursores dos
at uais órgãos sensoriais do homem t erreno. Ant eriorment e f oi most rado como j á em
Sat urno esses Espírit os do Fogo se ocupavam, na subst ância calórica, da f ormação dos ger-
mes sensoriais. Na ação combinada ent re os Espírit os da Personalidade e os Espírit os do
Amor (os Seraf ins) são reconhecíveis os primeiros indícios dos at uais órgãos gl andulares
humanos.
No ent ant o, com o que f oi dit o acima não se esgot a a at ividade dos Espírit os da
Personalidade resident es no novo Sat urno. Est es não est endem sua at ividade simplesment e
ao chamado segundo reino solar, mas est abelecem uma espécie de conexão ent re esse
reino e os sent idos humanos. As subst âncias calóricas desse reino f luem e ref luem at ravés
dos germes sensoriais humanos, de modo que o ser humano adquire no Sol uma espécie de
percepção do reino inf erior sit uado f ora del e. Trat a-se, nat ural ment e, apenas de uma
percepção conf usa, correspondendo int eirament e à consciência sat urnina nebulosa
ref erida acima. Ela é essencialment e const it uída de diversos ef eit os calóricos.
Tudo o que se descreveu sobre a época mediana da evolução solar dura algum t empo.
Ent ão advém novament e um int ervalo de repouso, após o qual as at ividades ant eriores
prosseguem da mesma f orma, at é um moment o da evolução em que o corpo et érico
humano est á maduro o suf icient e para se iniciar um t rabalho conj unt o dos Filhos da Vida
(Anj os) e dos Espírit os da Harmonia (Querubins). À consciência supra-sensível se
apresent am, dent ro do ser humano, manif est ações comparáveis a percepções gust at ivas
que, para o ext erior, se expressam como sons. Algo semelhant e j á f oi mencionado quant o
ao ciclo sat urnino. Só que aqui, no Sol, t udo isso é mais int eriorizado no ser humano,
éint eirament e vida aut ônoma.
Os Filhos da Vida adquirem, desse modo, aquela nebulosa consciência imagét ica que
os Espírit os do Fogo haviam alcançado em Sat urno. Nisso, os Espírit os da Harmonia (os
Querubins) são seus auxiliares. São eles que, de f at o, cont emplam espirit ualment e o que
se desenrola agora dent ro da evolução solar; só que renunciam a t odos os f rut os dessa
cont emplação, à sensação das imagens plenas de sabedoria que ali surgem, int roduzindo-
as como grandiosas manif est ações mágicas na consciência oníríca dos Filhos da Vida.
Est es, por sua vez, int roduzem t ais f iguras de sua visão no corpo et érico do homem, de
modo que est e alcança graus cada vez mais elevados de evolução.
Novament e surge um int ervalo de repouso após o qual t udo emerge do ‘ sono
cósmico’ , e após cert o lapso de t empo o ser humano est á amadurecido o suf icient e para
moviment ar f orças próprias. Trat a-se das mesmas que, durant e a últ ima época do período
sat urnino, af luíram para esse ser humano por int ermédio dos Tronos. Agora esse ser
humano passa a desenvolver-se numa vida int erior, cuj a manif est ação à consciência é
comparável a uma percepção olf at iva int erna. Para o ext erior, no ent ant o, em direção ao
espaço cósmico, esse ser humano manif est a-se como uma personalidade, cont udo não
dirigida por um eu int erior. Ela parece muit o mais uma plant a at uando como
personalidade.
Já f oi dit o que no f inal da evolução sat urnina a personalidade se manif est a como uma
máquina. E assim como aí se desenvolveu o primeiro germe de algo que ainda é apenas
embrionário mesmo no homem at ual, ou sej a, o ‘ homem-espírit o’ (at ma), aqui é

73
igualment e elaborado um primeiro germe do ‘ espírit o vit al’ (buddhi ).
Decorrido al gum t empo nesse processo, inicia-se novament e um int ervalo de repouso.
Tal qual nos ant eriores casos semelhant es, após essa pausa a at ividade do ser humano
prossegue durant e cert o período. Surgem ent ão condições que se manif est am como uma
nova int ervenção dos Espírit os da Sabedoria. Por meio dela o ser humano se t orna capaz
de experiment ar os primeiros indícios de simpat ia e ant ipat ia em relação ao seu ambient e.
Não se t rat a, porém, de qualquer sensação real, mas de algo precursor da sensação — pois
a at ividade vit al int erior, que em suas manif est ações f oi caract erizada como percepções
olf at ivas, expressa-se para o ext erior como uma espécie de linguagem primit iva. Se
int eriorment e é percebido um odor simpát ico — ou t ambém um sabor, um cint ilar, et c. —,
o ser humano o ext erioriza por meio de um som. E algo semelhant e ocorre no caso de uma
percepção int erior não-simpát ica.
É realment e por meio de t odos os processos descrit os que se chega a alcançar o
verdadeiro sent ido da evolução solar para o ser humano. Est e at ingiu um grau superior de
consciência f rent e à consciência sat urnina: t rat a-se da consciência do sono.
Depois de algum t empo, chega t ambém o pont o evolut ivo em que os seres superiores
relacionados com o grau solar devem passar para out ras esf eras a f im de elaborar o que
adquiriram para si mesmos graças à sua at uação sobre o próprio ser humano. Inicia-se um
longo int ervalo de repouso, como aquele ent re a evolução sat urnina e a solar. Tudo o que
f oi aprimorado no Sol passa a um est ado comparável ao da plant a, quando suas f orças de
cresciment o repousam na sement e. Mas assim como essas f orças de cresciment o vêm
novament e para a luz do dia numa nova plant a, após o int ervalo de repouso t udo o que era
vida no Sol t ambém emerge do seio cósmico e inicia uma nova exist ência planet ária. Para
se compreender bem o sent ido de t al int ervalo de repouso, desse ‘ sono cósmico’ , bast a
dirigir o ol har espirit ual para uma das espécies de ent idades mencionadas, como por
exemplo os Espírit os da Sabedoria. Em Sat urno eles não est avam evoluídos o suf icient e
para poder f azer emanar de si um corpo et érico, t endo sido apenas preparados para isso
por meio das experiências vividas em Sat urno. Durant e a pausa, t ransf ormam em
f aculdade real o que apenas havia sido preparado neles. Assim sendo, no Sol encont ram-se
suf icient ement e evoluídos para f azer a vida emanar de si mesmos e dot ar o ser humano
com um corpo vit al próprio.

A evolução lunar

Depois do int ervalo de repouso, o que ant es era o Sol emerge novament e do ‘ sono
cósmico’ , ou sej a, volt a a ser percept ível às f orças espirit uais vident es, para as quais
ant eriorment e era observável e havia desaparecido durant e o int ervalo de repouso. Agora,
porém, no ser planet ário recém-surgido, que deve ser designado como ‘ Lua’ (não devendo
ser conf undido com seu f ragment o, o at ual sat élit e da Terra), most ra-se uma dualidade.
Em primeiro lugar, o que se havia separado durant e o ciclo solar como ‘ novo Sat urno’ est á
novament e incluído no novo ser planet ário, pois durant e o int ervalo de repouso esse
Sat urno se uniu novament e ao Sol; t udo o que se encont rava no primeiro Sat urno
reaparece logo como uma úni ca f ormação cósmica. Em segundo lugar, os corpos et érícos
humanos f ormados no Sol f oram absorvidos, durant e o int ervalo de repouso, por al go como
uma espécie de envolt ório espirit ual do planet a. Nesse moment o, port ant o, eles não
aparecem unidos aos corpos humanos f ísicos correspondent es, que a princípio se
apresent am de modo aut ônomo. É bem verdade que t razem em si t udo o que f ora
elaborado neles em Sat urno e no Sol, mas carecem de corpo et érico ou vit al. Aliás, não
podem incorporar esse corpo et érico, pois durant e o int ervalo de repouso est e passou por

74
uma evolução à qual el es ainda não est ão adapt ados.
O que ocorre no início do ciclo lunar, para possibilit ar essa adapt ação, é ínicíalment e
uma nova repet ição dos f at os sat urninos. O ser humano 39 f ísico recapit ula ent ão os níveis
da evolução sat urnina, só que sob condições complet ament e dif erent es. Em Sat urno
at uavam nele apenas as f orças de um corpo calórico, mas agora est ão present es t ambém
aquelas do corpo gaseif orme el aborado mais t arde. Est as últ imas, cont udo, não aparecem
imediat ament e no início da evolução lunar. Tudo ocorre como se o ser humano consist isse
apenas em subst ância calórica e, dent ro dela, as f orças gasosas dormit assem. Chega ent ão
um t empo em que est as se manif est am em seus primeiros indícios. E, por últ imo, na f ase
f inal da repet ição sat urnina, o ser humano j á se apresent a como durant e seu vivo est ado
solar.
Cont udo, t oda essa vida ainda se most ra como aparência. Primeirament e ocorre um
int ervalo de repouso, análogo às breves pausas durant e a evolução solar. Logo se inicia
novament e a inst ilação do corpo et érico, para o qual o corpo f ísico j á f oi amadurecido.
Essa inst ílação se processa, t al como na recapit ulação de Sat urno, em t rês épocas dist int as
ent re si. Durant e a segunda dessas épocas, o ser humano se encont ra t ão adapt ado às
novas condições lunares que os Espírit os do Moviment o podem f azer uso da f aculdade
adquirida, que consist e em f azer af l uir para o ser humano o corpo ast ral, emanado de sua
própria ent idade. Eles se prepararam para essa t aref a durant e a evolução solar, e mais
t arde, no int ervalo de repouso ent re o Sol e a Lua, t ransf ormaram essa preparação na
f aculdade j á cit ada.
Essa inst il ação dura t ambém algum t empo, ocorrendo ent ão uma das pequenas
pausas; depois disso a inst ilação prossegue, at é que os Espírit os da Forma iniciam sua
at ividade. Pelo f at o de os Espírit os do Moviment o f azerem af luir o corpo ast ral para o ser
humano, est e adquire as primeiras qualidades anímicas. Os processos que se desenvolvem
nele em virt ude da posse de um corpo et érico, e que na evolução solar ainda eram proces-
sos veget at ivos, começam a despert ar sensações de prazer ou de desagrado. No ent ant o,
esses processos cont inuam sendo apenas um f luxo e ref luxo int erior alt ernado de prazer e
desprazer, at é que os Espírit os da Forma int ervêm.
Ent ão esses sent iment os cambiant es se t ransf ormam de maneira a surgir, no ser
humano, o que se pode considerar o primeiro indício do desej o, da cobiça. O ser aspira a
uma repet ição daquilo que uma vez proporcionou prazer, procurando evit ar o que f oi
sent ido como ant ipát ico. Como, no ent ant o, os Espírit os da Forma não ent regam sua
própria nat ureza ao ser humano, mas apenas f azem suas energias af luir e ref luir, o desej o
carece de prof undidade e de aut onomia. Ele é dirigido pelos Espírit os da Forma,
apresent ando-se com um carát er inst int ivo.
Em Sat urno o corpo f ísico do ser humano era um corpo calórico; no Sol ocorreu uma
condensação em est ado gasoso ou ‘ ar’ . Ora, como durant e a evolução lunar af lui o
element o ast ral, em cert o moment o o f ísico adquire um novo grau de condensação,
at ingindo um est ado comparável ao at ual est ado líquido. Pode-se designar esse est ado
como ‘ água’ ; cont udo, não se t rat a da nossa água at ual , mas de qualquer f orma líquida de
exist ência. O corpo f ísico humano adquire ent ão, gradual ment e, uma f orma compost a por
t rês conf igurações subst anciais. A mais densa é um ‘ corpo aquoso’ at ravessado por
corrent es aéreas, sendo t udo permeado por ef eit os calóricos.
Ora, t ambém no ciclo solar nem t odas as f ormações at ingem a plena mat uridade
adequada. Por isso, na Lua se encont ram t ant o f ormações sit uadas apenas no nível
sat urnino quant o out ras que só at ingiram o nível solar. Assim surgem, ao lado do reino
humano normalment e evoluído, out ros dois remos. Um deles consist e em seres que se

39
Al. Menschenwesen (corr. de Menschenl eben). Cf . ed. orig. cit . (N. T. )

75
ret ardaram no nível sat urnino, possuindo por isso apenas um corpo f ísico, sendo esse reino
incapaz, t ambém na Lua, de ser port ador de um corpo vit al independent e; esse é o reino
lunar mais inf erior. Um segundo reino consist e em seres que se ret ardaram no nível solar,
não se t ornando por isso maduros para agregar a si, na Lua, um corpo ast ral independent e;
eles f ormam um reino int ermediário ent re o recém-mencionado e o reino humano
normalment e evoluído.
No ent ant o, ocorre t ambém algo diverso: as subst âncias com meras f orças calóricas e
aquelas com meras f orças aéreas impregnam t ambém os seres humanos. É por esse mot ivo
que, na Lua, est es t razem em si uma nat ureza sat urnina e uma solar. Com isso sobreveio à
nat ureza humana uma espécie de cisão, graças à qual, uma vez iniciada a at ividade dos
Espírit os da Forma, é provocado algo import ant íssimo no âmbit o da evolução lunar. Inicia-
se aí uma divisão no corpo cósmico lunar. Uma part e de suas subst âncias e seres se separa
dos demais: de um corpo cósmico f ormam-se dois. Num deles est abelecem sua morada
cert as ent idades superiores, ant es mais int imament e unidas ao corpo cósmico unit ário; o
out ro, por sua vez, é ocupado pelo ser humano, pelos dois remos inf eriores caract erizados
ant eriorment e e por cert as ent idades superiores que não se t ransport aram ao primeiro
corpo cósmicos. O primeiro dos dois corpos cósmicos, com os seres superiores, parece um
Sol renascido, porém mais sut il; o out ro é agora a neof ormação propriament e dit a, a
‘ ant iga Lua’ , t erceira encarnação planet ária da Terra depois das encarnações sat urnina e
solar.
Das subst âncias f ormadas na Lua o novo Sol renascido leva consigo, ao separar-se,
apenas o ‘ calor’ e o ‘ ar’ ; no que rest ou como Lua encont ra-se, além dessas duas
subst âncias, t ambém o est ado líquido. Com essa separação se consegue f azer com que as
ent idades emigradas com o novo Sol não sej am det idas, em sua evolução post erior, pelas
ent idades lunares mais densas, podendo assim prosseguir desímpedidas em seu próprio
desenvolviment o. Com isso elas adquirem uma f orça bem maior para at uar, a part ir de seu
Sol, sobre os seres lunares. Também est es adquirem, assim, novas possibilidades
evolut ivas. A eles f icaram principalment e unidos os Espírit os da Forma, que consolidaram
a nat ureza dos desej os e cobiças; est a se expressa gradualment e numa nova condensação
do corpo f ísico do ser humano. O element o ant es merament e líquido desse corpo assume
uma f orma viscosa, e de maneira análoga condensam-se t ambém as f ormações aéreas e
calóricas. Processos similares produzem-se igual ment e nos dois reinos inf eriores.
O f at o de o corpo lunar t er-se separado do corpo solar f az com que o primeiro se
relacione com o segundo do mesmo modo como out rora o f azia Sat urno com t oda a
evolução cósmica circundant e. O corpo sat urnino f ora f ormado do corpo dos Espírit os da
Vont ade (os Tronos). Sua subst ância ref let ia no espaço cósmico t odas as vivências das
mencionadas ent idades espirit uais ao seu redor; e, em virt ude dos processos seguint es,
essa ref lexão despert ou gradualment e para uma vida aut ônoma. Aliás, t oda evolução
consist e no seguint e: primeiro, uma essência independent e se separa da vida circundant e;
depois o ambient e se imprime no ent e segregado como que por ref lexo, e f inalment e esse
ent e segregado prossegue evoluindo independent ement e.
Assim, t ambém o corpo lunar se separou do corpo solar, ref let indo inicialment e a
vida dest e. Se nada mais houvesse sucedido, ocorreria o seguint e processo cósmico:
haveria um corpo solar onde cert as ent idades espirit uais, a ele adapt adas, t eriam suas
vivências nos element os calórico e aéreo; f rent e a esse corpo solar exist iria um corpo
lunar, onde out ros seres se desenvolveriam conj unt ament e com a vida calórica, aérea e
aquát ica. O progresso da incorporação sol ar para a incorporação l unar consist iria no f at o
de os seres solares t erem diant e de si sua própria vida como que ref let ida pelos processos
lunares, podendo desf rut ar dela — o que ainda l hes era impossível durant e a et apa solar.

76
Os f at os, porém, não f icaram nesse processo evolut ivo. Sucedeu algo que, para t oda
a evolução ult erior, f oi da mais prof unda import ância. Cert as ent idades, adapt adas ao
corpo lunar, apoderam-se do element o volit ivo à sua disposição (herança dos Tronos) e
com isso desenvolveram uma vida própria, que se est rut ura independent ement e da vida
solar. Ao lado das experiências da Lua, submet idas unicament e à inf luência solar, surgem
experiências lunares independent es — algo como est ados de sublevação ou rebelião cont ra
os seres sol ares. E os diversos remos surgidos no Sol e na Lua, principalment e o reino dos
ant epassados do homem, são af et ados por essa sit uação. Com isso o corpo lunar encerra
em si, espirit ual e mat erialment e, duas espécies de vida: uma est reit ament e ligada à vida
solar e out ra que ‘ divergiu’ dest a e segue um caminho independent e. Essa art iculação em
dois t ipos de vida se expressa em t odos os processos seguint es da incorporação lunar.
O que se apresent a à consciência supra-sensível, com relação a esse período
evolut ivo, pode ser caract erizado com as seguint es imagens:
Todo o conj unt o da massa lunar é f ormado por uma subst ância semiviva que se
encont ra num moviment o ora lent o, ora rápido. Não se t rat a ainda de massa mineral, no
sent ido das rochas e component es t errest res sobre os quais caminha o homem at ual.
Caberia f alar de um reino mineral-veget al; só que é preciso imaginar t odo o corpo básico
da Lua consist indo nessa subst ância mineral-veget al, do mesmo modo como at ual ment e a
Terra consist e em rochas, solo cult ivável, et c. Assim como at ualment e se amont oam
massas rochosas, t ambém se deposit avam na massa lunar part es mais sólidas, comparáveis
a est rut uras lenhosas ou a f ormações córneas. E assim como agora crescem veget ais do
solo mineral, o solo lunar era cobert o e permeado por um segundo reino, compost o por
uma espécie de animais-veget ais. Sua subst ância era mais branda do que a massa básica e
mais móvel em si. Qual um mar viscoso, esse reino se est endia sobre o out ro.
Quant o ao próprio homem, cabe designá-l o como homem-animal. Ele possuía em sua
nat ureza os component es dos out ros dois reinos. Porém sua ent idade est ava
complet ament e impregnada por um corpo et éríco e um corpo ast ral, sobre os quais at ua-
vam f orças das ent idades superiores, emanadas do Sol segregado. Assim era enobrecida
sua est rut ura. Enquant o os Espírit os da Forma lhe davam uma est rut ura que o adapt ava à
exist ência l unar, os espírit os solares f aziam del e uma ent idade que t ranscendia essa vida.
Com as f aculdades present eadas por esses espírit os, ele possuía a f orça para aperf eiçoar
sua própria nat ureza, elevando a um nível superior de evolução t udo o que guardava
af inidade com os remos inf eriores.
Vist os espirit ualment e, os processos em quest ão podem ser descrit os da seguint e
maneira:
O precursor do homem havia sido enobrecido por ent idades dissident es em relação ao
reino solar. Esse enobreciment o se est endia sobret udo ao que era vivenciado no element o
líquido. Sobre est e element o, os seres solares, soberanos nos element os calóricos e
aéreos, haviam exercido inf luência mínima. Dist o resul t ou, para o precursor do homem,
que duas espécies de ent idades passaram a at uar em sua nat ureza: uma part e dessa
nat ureza est ava int eirament e permeada pelas at ividades dos seres solares, enquant o na
out ra at uavam os seres lunares dissident es. Por esse mot ivo, a últ ima part e era mais
independent e do que a primeira. Na primeira só podiam surgir est ados de consciência em
que viviam os seres solares; na últ ima vivia uma espécie de consciência cósmica análoga à
do ciclo sat urnino, só que agora em nível mais elevado. Desse modo o ant epassado do
homem via a si próprio como uma ‘ imagem do Universo’ , enquant o sua ‘ part e solar’ se
sent ia apenas como uma ‘ imagem do Sol ’ .
Ent ão essas duas ent idades t ravaram na nat ureza humana uma espécie de lut a. Por
inf luência das ent idades solares, f irmou-se para essa lut a um acordo pelo qual a nat ureza

77
mat erial, que possibilit ava a consciência cósmica independent e, t ornou-se f rágil,
perecível. E assim, de t empos em t empos essa part e da nat ureza humana t eve de ser
eliminada. Durant e a eliminação e algum t empo depois, o ant epassado do homem era um
ser merament e dependent e da inf luência solar. Sua consciência não era aut ônoma; nela o
homem vivia int eirament e ent regue à vida solar. Depois se renovava a part e lunar
independent e. Após algum t empo, esse processo sempre se repet ia.
Assim, pois, na Lua o ant epassado do homem vivia em est ados alt ernados de
consciência mais clara e mais obscura, sendo essa alt ernância acompanhada por uma
mudança de seu ser no t ocant e à subst ância. De t empos em t empos ele se desf azia de seu
corpo lunar, ret omando-o mais t arde.
Do pont o de vist a f ísico, os reinos lunares apresent am grande variedade. Os veget ais-
minerais, os animais-veget ais e os homens-animais dif erem segundo os grupos. Ist o será
compreensível considerando-se que, devido ao ret ardament o das f ormações em cada
et apa ant erior da evolução, incorporaram-se f ormas com as mais diversas qualidades. Há
f ormações que ainda exibem as propriedades iniciais de Sat urno, out ras do período
mediano desse corpo cósmico e out ras do f inal. O mesmo ocorre em t odas as et apas
evolut ivas do Sol.
E assim como f icam para t rás as f ormações relacionadas com o corpo cósmico em
cont ínua evolução, o mesmo ocorre com cert as ent idades relacionadas com essa evolução.
Pelo desenvolviment o progressivo at é à Lua, j á surgiu uma série de graus de t ais
ent idades. Aí exist em Espírit os da Personalidade que mesmo no Sol não alcançaram seu
nível humano, enquant o out ros recuperaram a perda e ascenderam ao grau da
humanidade. Também um cert o número dos Espírit os do Fogo, os quais deveriam t er-se
t ornado homens no Sol, f icou para t rás. Tal como na evolução solar cert os Espírit os da
Personalidade ret ardat ários saíram do corpo solar e f izeram Sat urno ressurgir como um
novo corpo cósmico específ ico, ocorre t ambém que no curso da evolução lunar as
ent idades acima caract erizadas se ret iram para corpos cósmicos específ icos.
At é agora f oi abordada apenas a divisão ent re o Sol e a Lua; no ent ant o, pelos
mot ivos cit ados, t ambém out ras f ormações cósmicas se separam do corpo lunar surgido
após a grande pausa ent re o Sol e a Lua. Depois de algum t empo, observa-se um sist ema
de corpos cósmicos cuj o mais avançado part icipant e deve ser chamado, por razões óbvias,
de novo Sol. E um laço de at ração análogo ao que exist iu, na evolução solar, ent re o reino
sat urnino ret ardat ário e os Espírit os da Personalidade no novo Sat urno, f orma-se ent re
cada um desses corpos cósmicos e os seres lunares correspondent es. Levaria
demasiadament e longe seguir em det alhes t odos os corpos cósmicos emergent es. Deve ser
suf icient e t ermos indicado por que, da f ormação cósmica unit ária que no início da
evolução da humanidade aparece como Sat urno, se desprende cada vez mais uma série de
corpos cósmicos.
Depois da int ervenção dos Espírit os da Forma na Lua, a evolução prossegue durant e
algum t empo, da f orma descrit a. Depois disso ocorre novament e uma pausa, durant e a da
qual os element os mais grosseiros dos t rês reinos lunares permanecem numa espécie de
est ado de repouso; as part es mais sut is, cont udo, especialment e os corpos ast rais dos
seres humanos, separam-se dessas f ormações mais t oscas. Eles at ingem um est ado em que
as f orças superiores dos sublimes seres solares podem exercer sobre eles uma ação
part icularment e int ensa.
Depois do int ervalo de repouso, eles impregnam novament e aquelas part es do ser
humano const it uídos das subst âncias mais grosseiras. Pelo f at o de t erem assimilado
poderosas f orças no int ervalo de repouso — no est ado livre —, eles podem t ornar as
subst âncias mais grosseiras maduras para o ef eit o que, após cert o t empo, deverá ser

78
exercido sobre elas pel os Espírit os da Personalidade e pel os Espírit os do Fogo normalment e
desenvolvidos.
Ent rement es, esses Espírit os da Personalidade elevaram-se a um nível que lhes
conf ere a ‘ consciência da inspiração’ . Aí eles não só podem perceber em imagens — como
na consciência imagét ica ant erior — os est ados int eriores de out ros seres, mas t ambém,
como numa linguagem sonora espirit ual, o próprio int erior desses seres. Os Espírit os do
Fogo, por sua vez, elevaram-se ao grau de consciência que os Espírit os da Personalidade
possuíam no Sol. Ambas as espécie de espírit os podem, com isso, int erf erir na vida j á
amadurecida do ser humano. Os Espírit os da Personal idade at uam sobre o corpo ast ral e os
Espírit os do Fogo sobre o corpo et érico. Com isso, o corpo ast ral adquire o carát er da
personalidade; doravant e não só vivencia o prazer e a dor, mas t ambém os relaciona
consigo próprio. Ele ainda não alcança uma consciência complet a do eu que diga a si
mesma “ est ou aqui” , mas sent e-se apoiado e prot egido por out ras ent idades em seu redor.
Elevando at é elas seu olhar, pode dizer a si mesmo: “ Est e meu ambient e me mant ém na
exist ência. ”
Os Espírit os do Fogo at uam agora sobre o corpo et érico. Sob sua inf luência, o
moviment o das f orças nesse corpo se convert e cada vez mais numa at ividade vit al int erior.
O que aí surge encont ra uma expressão f ísica numa moviment ação humoral e em
f enômenos de cresciment o. As subst âncias gasosas se condensaram em líquidas; pode-se
f alar de uma espécie de nut rição, na medida em que o element o recebido do ext erior é
t ransf ormado e elaborado no int erior. Se imaginarmos um processo int ermediário ent re a
nut rição e a respiração no sent ido at ual, t eremos uma idéia do que ent ão acont ecia a esse
respeit o. As subst âncias nut rit ivas eram ext raídas pelo ser humano do reino das plant as-
animais. Deve-se imaginar essas plant as-animais f lut uando, sobrenadando — ou levement e
arraigadas — num element o ao seu redor, t al como os animais inf eriores at uais vivem na
água ou os animais t errest res no ar. Cont udo, esse element o não é nem água nem ar no
sent ido at ual, e sim algo int ermediário, compost o de ambos — uma espécie de vapor
espesso onde as mais variadas subst âncias se movem para lá e para cá, como que à mercê
das mais diversas corrent es. As plant as-animais parecem apenas f ormas condensadas
regulares desse element o, muit as vezes dif erenciadas, f isicament e, apenas um pouco de
seu ambient e. O processo respirat ório exist e ao lado do processo de nut rição. Não é como
na Terra, e sim como uma sucção e exalação de calor.
Para a observação supra-sensível , é como se durant e esses processos se abrissem e
novament e se f echassem cert os órgãos pelos quais penet rasse e saísse uma corrent e
calórica, e t ambém como se as subst âncias aerif ormes e aquosas f ossem int roduzidas e
expulsas. E pelo f at o de, nesse est ágio de sua evolução, o ser humano j á possuir um corpo
ast ral, essa respiração e essa nut rição são acompanhadas de sent iment os, de modo que
surge uma espécie de prazer quando são absorvidas, de f ora, subst âncias proveit osas para
a const it uição do ser humano. Desprazer é provocado quando subst âncias nocivas se
int roduzem, ou mesmo apenas chegam at é as proximidades.
Assim como, da maneira descrit a, durant e a evolução lunar o processo respirat ório
est ava próximo ao processo de nut rição, o processo ideat ivo t inha af inidade com a
reprodução. Das coisas e seres que circundavam o homem lunar não part ia um ef eit o ime-
diat o sobre qualquer dos sent idos. A represent ação ment al consist ia muit o mais no f at o de
que, pela presença de t ais coisas e seres, moviment avam-se imagens na consciência vaga,
crepuscular. Essas imagens est avam numa relação muit o mais ínt ima com a ef et iva
nat ureza do ambient e do que as percepções sensoriais at uais — que em cores, sons,
odores, parecem só most rar o aspect o ext erior dos seres.
Para t ermos um conceit o mais claro da consciência dos homens lunares, imaginemo-

79
los como que int egrados no ambient e vaporoso acima descrit o. Nesse element o vaporoso
se desenrolam os mais diversos processos. Mat érias e subst âncias ora se combinam, ora se
dissociam. Part es se condensam, out ras se ref inam. Tudo isso se passa sem que os seres
humanos o vej am ou ouçam de imediat o; cont udo, provoca imagens na consciência
humana. Essas imagens são comparáveis às da at ual consciência onírica — t al qual, por
exemplo, quando um obj et o cai ao solo e uma pessoa adormecida não percebe o processo
real, e sim uma imagem qualquer: ela sonha, por exemplo, que f oi f eit o um disparo. Só
que as imagens da consciência lunar não são arbit rárias como essas imagens oníricas; na
verdade elas são símbolos, e não reproduções exat as, mas correspondem aos processos
ext eriores. De um f enômeno ext erior def inido só procede uma imagem, igualment e bem
def inida. O homem lunar est á, por isso, em condições de orient ar seus at os segundo essas
imagens, t al como o homem de hoj e o f az segundo suas percepções. Cumpre apenas
considerar que a condut a baseada em percepções est á suj eit a ao livre-arbít rio, enquant o
as ações sob a inf luência das ref eridas imagens são execut adas como que por um vago
impulso.
Essa consciência imagét ica não é, absolut ament e, de molde a viabilizar apenas a
percepção de processos f ísicos ext eriores; por meio das imagens são represent ados
t ambém os seres espirit uais reinant es por det rás dos f at os f ísicos, bem como suas at ivi-
dades. Assim, é nas coisas do reino veget omineral que os Espírit os da Personalidade se
t ornam, de cert o modo, visíveis; por det rás e dent ro dos seres veget ominerais
manif est am-se os Espírit os do Fogo; e como seres que o homem consegue idealizar sem
est abelecer relação com algo f ísico — cont emplando-os, por assim dizer, como f ormações
anímicas et éricas — manif est am-se os Fil hos da Vida.
Embora essas represent ações ment ais da consciência lunar não f ossem reproduções,
mas apenas símbol os do ext erior, sua at uação sobre o int erior do ser humano era muit o
mais signif icat iva do que as at uais represent ações ment ais do homem t ransmit idas pela
percepção. Elas podiam colocar t odo o ser int erior em moviment o e at ividade; era de
acordo com ela que os processos int eriores se modelavam. Elas eram aut ênt icas f orças
plasmadoras. O ser humano assumia a f orma que est as lhe imprimiam, convert endo-se, por
assim dizer, numa reprodução de seus próprios processos de consciência.
Quant o mais o progresso da evolução se realiza dessa f orma, t ant o mais t em por
conseqüência o f at o de se produzir no ser humano uma t ransf ormação prof undament e
decisiva. O poder que part e das imagens da consciência perde gradualment e a f aculdade
de est ender-se sobre t oda a corporalidade humana. Est a se divide em duas part es, em
duas nat urezas. Formam-se component es suj eit os à ação plasmadora da consciência
imagét ica e que se t ornam, em alt o grau, uma reprodução da vida ideat iva no sent ido
recém-descrit o. Out ros órgãos, porém, subt raem-se a essa inf luência. Numa part e de seu
ser o homem est á, por assim dizer, excessivament e denso e det erminado por out ras leis
para poder orient ar-se segundo as imagens da consciência. Est as se subt raem à inf luência
do ser humano, submet endo-se porém a uma out ra — à própria inf luência dos sublimes
seres solares. Cont udo, a essa et apa da evolução vê-se preceder um int ervalo de repouso,
durant e o qual os espírit os solares adquirem a energia para at uar sobre os seres da Lua sob
condições complet ament e novas.
Após esse int ervalo de repouso, o ser humano est á clarament e dividido em duas
nat urezas. Uma delas est á subt raída àação independent e da consciência imagét ica;
assume uma f orma mais def inida e coloca-se sob a inf luência de f orças que, embora
procedent es do corpo lunar, só surgem aí pela inf luência dos seres solares. Essa part e do
ser humano part icipa cada vez mais da vida est imulada pelo Sol. A out ra part e eleva-se da
primeira como uma espécie de cabeça; em si é móvel, plást ica, modelando-se como

80
expressão e veículo da nebulosa vida conscient e do homem. Todavia, ambas as part es
est ão int imament e ligadas; ent re elas há um int ercâmbio de seivas; membros se est endem
de uma para dent ro da out ra.
Uma signif icat iva harmonia se est abelece pelo f at o de, no decorrer do t empo em que
t udo isso sucedeu, t er-se criado ent re o Sol e a Lua uma relação coerent e com o rumo
dessa evolução. Num t recho ant erior j á f oi rel at ado como, por f orça de sua evol ução, os
seres em progresso separam seus corpos celest es de uma massa cósmica geral. É como se
eles irradiassem as f orças segundo as quais as subst âncias se est rut uram. O Sol e a Lua se
separaram de acordo com a necessidade de est abelecer domicílios adequados para os
respect ivos seres.
Todavia, essa det erminação da mat éria e de suas f orças pelo espírit o vai bem mais
adiant e. Os próprios seres t ambém condicionam cert os moviment os dos corpos cósmicos,
det erminadas revoluções de uns em redor de out ros. Com isso esses corpos modif icam sua
posição em relação aos demais; e, modif icando-se a posição de um corpo cósmico em
relação ao out ro, modif icam-se t ambém os ef eit os de seus seres correspondent es ent re si.
Assim ocorreu com o Sol e a Lua. Pelo moviment o da Lua em t orno do Sol, os seres
humanos ora se encont ram sob a inf luência predominant e da at ividade do Sol , ora se
af ast am dessa inf luência, ent regando-se mais a si próprios. O moviment o é um result ado
da mencionada ‘ dissidência’ de cert os seres lunares e do acordo selado em t orno da lut a
originada por isso. Esse moviment o é apenas a expressão f ísica da relação de f orças
espirit uais criadas pela dissidência. O f at o de um corpo mover-se ao redor de out ro
origina, nos seres que habit am nos corpos cósmicos, os est ados alt ernados de consciência
dos quais f alamos ant eriorment e. Pode-se dizer que, al t ernadament e, a Lua dirige sua
vida ao Sol e a af ast a dele. Exist e um período solar e um período planet ário, e no decorrer
dest e últ imo os seres lunares se desenvolvem na f ace lunar cont rária ao Sol. Cont udo, no
caso da Lua se acrescent a algo além do moviment o dos corpos celest es. A consciência
supra-sensível ret rospect iva pode ver, na verdade, como os próprios seres lunares se
movem, em períodos bem regulares, em t orno de seu corpo cósmico. Assim, em cert as
épocas eles buscam os lugares onde possam abandonar-se à inf luência do Sol e, em out ras,
migram para lugares onde não f iquem suj eit os a essa inf luência e possam, de cert o modo,
ref let ir sobre si próprios.
Para complet ar o quadro represent at ivo desses processos, deve-se t ambém t er
present e que nesse período os Filhos da Vida alcançam seu nível humano. Mesmo na Lua, o
homem ainda não pode servir-Se de seus sent idos — cuj os rudiment os j á se haviam
f ormado em Sat urno — para sua própria percepção de obj et os ext eriores. Porém no nível
lunar esses sent idos se t ornam inst rument o dos Filhos da Vida, que se servem deles para
t er percepções. Assim esses sent idos, que pert encem ao corpo humano f ísico, ent ram
numa int er-relação com os Filhos da Vida. Est es últ imos não apenas se servem deles, mas
t ambém os aperf eiçoam.
Pelas relações mut áveis com o Sol ocorre agora, conf orme j á descrit o, uma
t ransf ormação nas condições de vida do próprio ser humano. As coisas sucedem de modo
t al que, a cada vez que f ica suj eit o à inf luência solar, o ser humano se abandona à vida do
Sol e a seus f enômenos mais do que a si próprio. Durant e esses períodos, ele experiment a
a imensidão e maj est ade do Universo t al qual est as se expressam no Sol, e é como se as
absorvesse. Just ament e os seres sublimes que est abeleceram sua morada no Sol at uam
ent ão sobre a Lua. Est a, por sua vez, at ua sobre o ser humano. Essa at uação, cont udo, não
se est ende à t ot alidade dest e, mas part icularment e às suas part es subt raídas à inf luência
das próprias imagens da consciência. Especialment e os corpos f ísico e vit al adquirem cert o
t amanho e conf iguração. Para isso, no ent ant o, os f enômenos da consciência se ret raem.

81
Quando, em sua vida, est á af ast ado do Sol , o ser humano se ocupa com sua própria
nat ureza. Inicia-se ent ão uma at ividade int erior, especialment e no corpo ast ral. Por out ro
lado, a f orma ext erior se t orna menos vist osa, menos aperf eiçoada.
Assim, pois, durant e a evolução lunar exist em os j á caract erizados dois est ados
alt ernados de consciência, clarament e discerníveis: um mais nebuloso, durant e o período
solar, e out ro mais claro, durant e a época em que a vida est á mais ent regue a si própria.
O primeiro est ado é, sem dúvida, mais obscuro, mas por out ro l ado é menos egoíst a; aí o
homem se consagra mais ao mundo ext erior, ao Universo ref let ido no Sol. Trat a-se de uma
alt ernância ent re os est ados de consciência, comparável t ant o à alt ernância ent re sono e
vigília no homem at ual como t ambém à sua vida ent re o nasciment o e a mort e, de um
lado, e à exist ência mais espirit ual ent re a mort e e um novo nasciment o, de out ro. O
despert ar na Lua, quando o período solar gradualment e cessa, poderia caract erizar-se
como um est ado int ermediário ent re o despert ar do homem at ual a cada manhã e seu
nasciment o. Do mesmo modo, o obscureciment o gradual da consciência ao se aproximar o
período solar é como um est ado int ermediário ent re o adormecer e o morrer. Ocorre que
uma consciência do nascer e do morrer, conf orme a possui o homem at ual, ainda não
exist ia na ant iga Lua. Era numa espécie de vida solar que o homem se ent regava ao gozo
dessa vida. Ele era, durant e esse t empo, subt raído à sua vida própria, vivendo mais
espirit ualment e.
Só nos cabe t ent ar uma descrição aproximada e comparat iva daquilo que o homem
vivenciava nesses períodos. Ele sent ia como se as f orças do Universo af luíssem para ele,
palpit assem at ravés dele. Como que embriagado pelas harmonias do Universo, das quais
compart ilhava — eis como ele se sent ia aí. Em t ais épocas seu corpo ast ral parecia libert o
do corpo f ísico, do qual t ambém uma part e do corpo vit al era ret irado. E esse conj unt o
compost o de corpo ast ral e corpo et érico era como um delicado e maravilhoso inst rument o
musical, em cuj as cordas ressoavam os mist érios do Universo. Era de acordo com as
harmonias universais que se plasmavam os membros da part e do ser humano sobre a qual a
consciência t inha apenas uma inf luência mínima, pois nessas harmonias at uavam os seres
do Sol . Assim, essa part e do homem f oi esculpida, em sua f orma, pelos sons espirit uais do
Universo. Nesse cont ext o, a alt ernância ent re o est ado mais claro de consciência e est e
mais obscuro, durant e o período solar, não era t ão radical como a que exist e, no homem
at ual, ent re a vigília e o sono t ot alment e sem sonhos. Aliás, a consciência imagét íca não
era t ão clara como a at ual consciência de vigília; por out ro lado, t ampouco a out ra
consciência era t ão obscura quant o o sono sem sonhos da at ualidade. E assim o ser
humano t inha uma espécie de consciência, embora indist int a, do j ogo de harmonias
cósmicas em seu corpo f ísico e na part e do corpo et érico que permanecera ligada ao
primeiro.
No período em que o Sol, de cert a f orma, não brilhava para o homem, as
represent ações imagét icas apareciam na consciência em lugar das harmonias. Aí reviviam,
nos corpos f ísico e et érico, especialment e os membros que est avam sob o poder imediat o
da consciência. Em compensação, as out ras part es do ser humano, sobre as quais não
at uavam as f orças plasmadoras do Sol, passavam por um processo de endureciment o e de
ressecament o. E quando se aproximava novament e o período sol ar, os corpos velhos se
desint egravam; eles se desprendiam do ser humano, e como que de um t úmulo de sua
ant iga corporalidade ressurgia o homem regenerado no int erior, embora ainda
insignif icant e sob essa f orma. Havia ocorrido uma renovação do processo vit al. Pela
at uação dos seres solares e suas harmonias, o corpo ressuscit ado se remodelava em sua
perf eição, e o processo descrit o acima se repet ia. E o homem sent ia essa renovação como
o vest ir de uma nova roupagem. O núcleo de seu ser não havia passado por um nasciment o

82
ou uma mort e aut ênt icos; havia soment e passado de uma consciência espirit ual sonora, na
qual ele est ava ent regue ao mundo ext erior, para uma consciência em que ele se consa-
grava mais ao ínt imo. Ele havia t rocado de pele. O ant igo corpo se t ornara inút il, t endo
sido despoj ado e renovado.
Com ist o t ambém f oi mais exat ament e descrit o o que, acima, caract erizamos como
uma espécie de reprodução e ressalt amos possuir af inidade com a vida ideat iva. O ser
humano produziu algo semelhant e a si mesmo, no que se ref ere a cert as part es dos corpos
f ísico e et érico. Todavia, do ser parent al não surge um ser f ilial int eirament e dif erent e, e
sim o núcleo essencial do primeiro se t ranspõe ao segundo. Ele não produz um novo ser,
mas a si próprio sob nova f orma.
É assim que o homem lunar experiment a uma alt ernância de consciência. Ao
aproximar-se o período solar, suas represent ações imagét icas se desvanecem
progressivament e, e um f eliz abandono o preenche; em seu plácido int erior ressoam as
harmonias cósmicas. Pert o do f inal desse período, animam-se as imagens no corpo ast ral ;
ele começa a t er mais sent iment os e sensações de si próprio. O homem vivencia algo como
um despert ar da bem-avent urança e da calma nas quais est ava submerso durant e a época
solar.
Cont udo, out ra import ant e vivência ocorre ent ão: com a nova clarif icação das
imagens da consciência, o homem se vê como que envolt o por uma nuvem descida do
Universo qual uma ent idade sobre ele. Ele sent e essa ent idade como algo pert encent e a
ele próprio, como uma complement ação de sua própria nat ureza. Sent e-a como aquilo que
lhe present eia sua exist ência, como seu ‘ eu’ . Essa ent idade é um dos Filhos da Vida.
Diant e dele, o homem sent e o seguint e: “ Foi nele mesmo que eu t ambém vivi enquant o,
na época solar, est ava ent regue à magnif icência do Universo; só que naquela ocasião ele
não me era visível, mas agora posso vê-lo. ” E é t ambém desse Filho da Vida que emana a
energia para a at uação que, na época dest it uída de Sol, o homem exerce sobre sua própria
corporalídade. E quando o período solar se aproxima de novo, o homem sent e como se ele
próprio est ivesse uno com o Filho da Vida. Embora t ampouco o vej a ent ão, sent e-se
int ima-ment e ligado a ele.
Na relação com os Fil hos da Vida, não ocorria de cada ser humano t er para si um
deles; t odo um grupo de homens sent ia como se t al ser lhes pert encesse. Assim, pois, na
Lua os homens viviam isolados em t ais grupos, sendo que cada grupo vivenciava num Fil ho
da Vida seu ‘ eu grupal’ comum. A dist inção ent re os grupos se af irmava principalment e
pelo f at o de os corpos et éricos possuírem uma f orma especial em cada grupo. Como, no
ent ant o, os corpos f ísicos se modelavam segundo os corpos et éricos, t ambém nos
primeiros se imprimiam as dif erenças dos segundos, e da mesma f orma os grupos humanos
individuais apareciam como muit as espécies humanas. Ao olhar para os grupos humanos
pert encent es a eles, os Filhos da Vida se viam, de cert a maneira, mul t iplicados nos seres
humanos individuais, sent indo aí sua própria ‘ egoidade’ . 40 Era como se eles se ref let issem
nos homens. Era essa t ambém a t aref a dos sent idos humanos naquela época. Já f oi
most rado que eles ainda não t ransmit iam quaisquer percepções de obj et os, mas ref let iam
a essência dos Filhos da Vida. O que os Filhos da Vida percebiam por meio dessa ref lexão
conf eria-lhes a ‘ consciência do eu’ . E o que f oi suscit ado por esse espelhament o no corpo
ast ral humano são j ust ament e as imagens da vaga e crepuscular consciência lunar.
O ef eit o dessa at ividade realizada pelo homem em reciprocidade com os Filhos da
Vida se exerceu, no corpo f ísico, sobre os rudiment os do sist ema nervoso. Os nervos se
apresent am como prolongament os dos sent idos para o int erior do corpo humano.

40
Al. Ichhei t — est ado ou qualidade de ‘ eu’ . (N. T. )

83
Pelo expost o, f ica visível como as t rês cat egorias de espírit os — os da Personalidade,
os do Fogo e os Filhos da Vida —at uam sobre o homem lunar.
Considerando-se a época principal da evol ução lunar — a época cent ral —, pode-se
dizer que os Espírit os da Personalidade implant am no corpo ast ral humano a
independência, o carát er de personalidade. A ist o deve ser at ribuído o f at o de o homem
poder volt ar-se para si mesmo e t rabalhar em sua própria f ormação nas épocas em que o
Sol, por assim dizer, não lhe aparece.
Os Espírit os do Fogo se at ivam no corpo et érico na medida em que est e imprime em
si próprio a conf iguração independent e do ser humano. Por seu int ermédio sucede o f at o
de o ser humano, depois de cada renovação de seu corpo, sent ir-se novament e o mesmo
ser. Port ant o, graças aos Espírit os do Fogo é conf erida ao corpo et érico uma espécie de
memoria.
Os Filhos da Vida at uam sobre o corpo f ísico de modo que est e possa convert er-se na
expressão do corpo ast ral t ornado independent e. Eles t ambém possibilit am que esse corpo
f ísico se t orne uma reprodução f isiognomônica 41 de seu corpo ast ral .
Em cont rapart ida, na f ormação dos corpos f ísico e et érico — na medida em que, nas
épocas solares, est es se desenvolveram independent ement e do corpo ast ral — int ervêm
ent idades espirit uais superiores, part icularment e os Espírit os da Forma e os Espírit os do
Moviment o. Sua int ervenção se ef et ua da f orma acima descrit a, a part ir do Sol.
É sob a inf luência de t ais f at os que o ser humano amadurece, para desenvolver
gradualment e em si o germe para a ‘ personalidade espirit ual’ , do mesmo modo como
desenvolveu o germe do ‘ homem-espírit o’ na segunda met ade da evolução sat urnina e do
‘ espírit o vit al’ no Sol. Com isso se modif icam t odas as condições na Lua. Em virt ude das
t ransf ormações e renovações sucessivas, os seres humanos se t ornam cada vez mais
aperf eiçoados e sut is, ganhando, cont udo, t ambém em f orças. Com isso a consciência
imagét ica se af irma cada vez mais nos períodos solares, adquirindo assim inf luência sobre
a f ormação dos corpos f ísico e et érico, o que ant es se devia apenas à ação dos seres
solares. O que ocorreu na Lua, graças aos seres humanos e aos espírit os ligados a eles,
t ornou-se cada vez mais simil ar ao que ant eriorment e f ora realizado pel o Sol e suas
ent idades superiores. Como conseqüência disso, essas ent idades solares puderam
consagrar cada vez mais suas f orças à sua própria evolução. Desse modo, após algum
t empo a Lua se t ornou madura para est ar novament e unida ao Sol.

Nova uni ão ent r e o Sol e a Lua

Observados espirit ualment e, esses processos se apresent am da seguint e maneira: os


‘ seres lunares dissident es’ f oram progressivament e dominados pelos seres solares, t endo
ent ão de submet er-se a eles de modo que suas f unções se aj ust assem às dos seres solares,
aos quais se subordinavam. Cont udo, isso só acont eceu depois de t ranscorridas grandes
épocas em que os períodos lunares se t ornavam cada vez mais curt os e os períodos solares
cada vez mais longos. Iniciou-se ent ão um novo ciclo evolut ivo, durant e o qual o Sol e a
Lua são uma única f ormação cósmíca. Aí o corpo f ísico humano se t ornou t ot alment e
et érico.
Ao dizermos que o corpo f ísico se t ornou et érico, não cabe supor que, em relação a
t ais est ados, não se possa f alar num corpo f ísico. O que f oi plasmado como corpo f ísico
durant e os períodos sat urnino, sol ar e lunar cont inua exist indo. O import ant e é reconhecer
o f ísico não apenas em sua manif est ação f ísica ext erior, pois ele t ambém pode assumir,

41
Que t raz caract eríst icas f ísicas reveladoras do carát er. (N. T. )

84
para o ext erior, a f orma do et érico e at é mesmo do ast ral. Trat a-se precisament e de
dist inguir ent re a manif est ação ext erior e a regularidade 42 int erior. Um element o f ísico
pode et erizar-se e ast ralizar-se, mant endo cont udo a regularidade f ísica. É isso o que
ocorre quando o corpo f ísico do homem j á alcançou, na Lua, cert o nível de perf eição; ele
assume f orma et érica. No ent ant o, quando a consciência supra-sensível, capaz de observar
t ais f enômenos, se dirige a um desses corpos et erif ormes, est e não lhe parece impregnado
pelas leis do et érico, mas pelas do f ísico. O f ísico f oi j ust ament e acolhido no et érico, para
aí repousar e ser cult ivado como num seio mat erno.
Mais t arde ele reaparece t ambém sob a f orma f ísica, porém num nível superior. Se os
seres humanos da Lua conservassem seu corpo f ísico com a f orma f ísica grosseira, a Lua
nunca poderia unir-se ao Sol. Assumindo a f orma et érica, o corpo f ísico adquire mais
af inidade com o corpo et érico, podendo de novo ser mais int imament e impregnado pelas
part es dos corpos et érico e ast ral que, nas épocas sol ares da evolução lunar, t iveram de
af ast ar-se dele. O homem, que durant e a separação do Sol e da Lua aparecia como um ser
duplo, t orna-se novament e uma criat ura unit ária. O f ísico t orna-se mais anímico, mas por
out ro lado o anímico f ica mais ligado ao f ísico.
Sobre esse ser humano unit ário os espírit os solares, em cuj a esf era imediat a ele
ent rou agora, podem doravant e at uar muit o dif erent ement e do que f aziam ant es, do
ext erior para a Lua. O homem est á agora num ambient e mais anímico-espirit ual . Com isso
os Espírit os da Sabedoria podem exercer uma at uação muit o signif icat iva. Eles lhe incut em
a sabedoria, alent ando-o com ela. Desse modo ele se convert e, em cert o sent ido, numa
alma independent e.
À inf luência dessas ent idades vem acrescent ar-se a dos Espírit os do Moviment o, que
exercem sua at uação part icularment e sobre o corpo ast ral, de modo que est e desenvolve
uma at ividade anímica e elabora um corpo et érico pleno de sabedoria sob a inf luência das
mencionadas ent idades. Esse corpo et érico pleno de sabedoria é o primeiro rudiment o do
que descrevemos num capít ulo ant erior como alma do int elect o no homem de hoj e,
enquant o o corpo ast ral, est imulado pelos Espírit os do Moviment o, é o germe da alma da
sensação. Como t udo isso é provocado no ser humano em seu est ado de crescent e
aut onomia, esses germes das al mas do int elect o e da sensação se manif est am como
expressão da ‘ personalidade espirit ual’ . Diant e disso, deve-se evit ar o erro de supor que
nesse período da evolução a ‘ personalidade espirit ual’ sej a algo específ ico, paralelament e
às almas do int elect o e da sensação. Est as últ imas são apenas a expressão da
‘ personalidade espirit ual’ , que signif ica a superior unidade e harmonj a ent re elas.
De especial import ância é o f at o de os Espírit os da Sabedoria t erem int erf erido nessa
época, da maneira descrit a. Na verdade eles não o f azem soment e com relação ao ser
humano, mas t ambém aos out ros remos que se desenvol veram na Lua. Durant e a nova
união ent re o Sol e a Lua, t ambém esses remos inf eriores são absorvidos pela esf era sol ar.
Tudo o que neles era f ísico vem a ser et erizado. Port ant o, doravant e se encont ram no Sol
plant as-minerais e animais-veget ais t ant o quant o seres humanos. Cont udo esses out ros
seres cont inuam submet idos às suas próprias leis, e por isso se sent em como est ranhos em
seu ambient e. Apresent am-se com uma nat ureza à qual esse ambient e é pouco adequado;
mas pelo f at o de est arem et erizados, a at uação dos Espírit os da Sabedoria pode est ender-
se t ambém a eles. Agora, t udo o que veio da Lua para o Sol est á impregnado pelas f orças
dos Espírit os da Sabedoria. Por isso, o que surge do conj unt o Sol -Lua nesse período
evolut ivo pode ser denominado ‘ Cosmo da Sabedoria’ .
Quando, depois de um int ervalo de repouso, nosso sist ema t errest re aparece como

42
Al. Geset zmät ssi gkei t — ‘ conf ormidade com a lei’ . (N. T. )

85
sucessor desse ‘ Cosmo da Sabedoria’ , t odos os seres novament e vivent es na Terra,
brot ando de seus germes lunares, manif est am-se plenos de sabedoria. Ent ão se evidencia
por que o homem t erreno, ao cont emplar os obj et os ao seu redor, pode descobrir
sabedoria na nat ureza de seu ser. Pode-se admirar a sabedoria em cada f olha veget al, em
cada osso animal ou humano, na maravilhosa est rut ura do cérebro e do coração. Se o
homem necessit a de sabedoria para compreender as coisas, ou sej a, se ext rai sabedoria
delas, isso most ra que a sabedoria reside nas coisas; pois se o homem não se esf orçasse
em compreender as coisas por meio de sábias idéias, não poderia ext rair sabedoria alguma
delas se aí não est ivesse primeirament e deposit ada essa sabedoria. Quem desej a
compreender as coisas pela sabedoria, acredit ando que elas não a t enham recebido
previa-ment e, pode t ambém acredit ar que possa t irar água de uma vasilha na qual não se
t enha colocado água ant es. Como veremos mais adiant e, a Terra é a ‘ ant iga Lua’
ressuscit ada, manif est ando-se como um organismo cheio de sabedoria porque, na época
descrit a, f oi impregnada com as f orças dos Espírit os da Sabedoria.
Parecerá bast ant e compreensível que nest a descrição das condições lunares só
t enham podido ser const at adas cert as f ormas t ransit órias da evolução. Foi necessário, por
assim dizer, det er cert as coisas no suceder dos f at os e dest acá-los para exposição.
Evident ement e est e t ipo de narração of erece apenas imagens isol adas, e por isso pode
ocorrer de se obj et ar que a evolução f act ual não sucedeu por um encadeament o de
conceit os precisos. Diant e de t al obj eção, t alvez caiba ressalt ar que a descricão f oi
int encional ment e f eit a com conceit os menos rigorosos. Ora, aqui não deve import ar t ant o
f ornecer conceit os especulat ivos e const ruções int elect uais, mas muit o mais uma
represent ação ment al daquilo que realment e pode apresent ar-se ao olhar supra-sensível
dirigido a t ais f at os. No t ocant e à evolução lunar, isso não é algo delineado de maneira t ão
exat a e det erminada como o most ram as percepções a respeit o da Terra. No caso da
época lunar se lida com um conj unt o de impressões f ugazes e mut áveis, com imagens
f lut uant es e móveis e suas t ransições. Além disso, cabe levar em cont a que se t rat a de
uma evolução at ravés de longos, l ongos períodos, dos quais apenas imagens moment âneas
podem ser ret idas durant e a exposição.
No moment o em que o corpo ast ral implant ado no ser humano o levou a evoluir a
pont o de seu corpo f ísico of erecer aos Filhos da Vida a possibilidade de alcançar o nível
humano, f oi at ingido o pont o propriament e culminant e da época lunar. Ent ão t ambém o
ser humano alcançou t udo o que, em benef ício dele próprio, de sua int erioridade, essa
época lhe pode of erecer no caminho evolut ivo. O que se segue — ou sej a, a segunda
met ade da evolução lunar — poderia, port ant o, ser designado como um ref luxo. Cont udo,
f ica visível que em relação ao ambient e do homem, como t ambém a ele próprio, isso
produz algo sumament e import ant e j ust ament e nessa época: no corpo solar-lunar
éimplant ada a sabedoria.
Já most ramos que durant e esse ref luxo f oram deposit ados os germes das almas do
int elect o e da sensação. No ent ant o, soment e no período t errest re ocorrerá o
desenvolviment o dest as e da alma da consciência, bem como o nasciment o do eu, da aut o-
consciência livre. No grau lunar, as almas do int elect o e da sensação ainda não se
manif est am como se o próprio ser humano j á se ext eriorizasse por seu int ermédio, e sim
como se elas f ossem inst rument os para os Filhos da Vida pert encent es ao homem. Se
quiséssemos caract erizar o sent iment o experiment ado, nesse sent ido, pelo homem na Lua,
deveríamos dizer que era o seguint e:
“ Em mim e at ravés de mim vive o Filho da Vida; at ravés de mim ele cont empla o
ambient e lunar, em mim ref let e sobre as coisas e seres desse mundo lunar. ” O homem
lunar se sent e eclipsado pelo Filho da Vida, comport ando-se como inst rument o desse ser

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Superior. E durant e a separação do Sol e da Lua ele sent iu, com o af ast ament o do Sol,
uma independência maior; mas com isso t ambém sent iu como se o ‘ eu, que lhe pert encia
mas se subt raía à consciência imagét íca durant e as épocas solares, se houvesse t ornado
visível para ele. Para o homem lunar, isso que se pode caract erizar como uma espécie de
alt ernância ent re os est ados de consciência lhe despert ava o seguint e sent iment o: “ No
período sol ar meu eu se af ast a comigo para regiões superiores, para seres sublimes, e
quando o Sol desaparece ele desce comigo para os mundos inf eriores. ”
À evolução lunar propriament e dit a precedeu uma preparação. Ocorreu, de cert a
f orma, uma repet ição das evoluções sat urnina e sol ar. Após a nova união ent re o Sol e a
Lua, t ambém na época de ref luxo podem-se dist inguir dois períodos dif erent es. Durant e os
mesmos se produzem condensações f ísicas at é cert o grau, de modo que os est ados
anímico-espirit uais do conj unt o Sol -Lua se alt ernam com est ados f ísicos. Em t ais épocas
f ísicas, os seres humanos, e t ambém os seres dos remos inf eriores, aparecem como se
est ivessem pré-f ormando, em conf igurações rígidas e não-aut ônomas, aquilo em que se
convert eriam mais t arde, com mais aut onomia, no período t errest re.
Pode-se, port ant o, dist inguir duas épocas preparat órias da evolução l unar e out ras
duas durant e o período decrescent e. Tais épocas podem ser denominadas ‘ ciclos’ . No
período seguint e às duas épocas preparat órias e precedent e às do ref luxo — port ant o,
quando da separação da Lua —, pode-se dist inguir t ambém t rês épocas. A mediana é a
época da humanização dos Filhos da Vida, precedida por out ra em que t odas as
circunst âncias se dirigem a esse acont eciment o capit al; segue-se ent ão mais uma, cuj a
caract eríst ica consist e na adapt ação e desenvolviment o dent ro das novas criações. Com
isso a evolução lunar mediana se divide, por sua vez, em t rês épocas, que j unt o com as
preparat órias e as duas decrescent es perf azem set e ciclos lunares.
Cabe, port ant o, dizer que o t ot al da evolução lunar decorre om set e ciclos, ent re os
quais exist em int ervalos de repouso que se repet em conf orme j á descrit o. No ent ant o, só
poderemos aproximar-nos da idéia da verdade se não pensarmos em t ransições abrupt as
ent re os períodos de at ividade e os de repouso. Por exemplo, os seres solares se ret raem
cada vez mais de sua at uação na Lua. Para el es começa um período que para f ora parece
um int erval o de repouso, enquant o na própria Lua ainda reina uma at ividade animada e
independent e. Assim, muit as vezes o período at ivo de uma espécie de seres est ende-se
sobre o int ervalo de repouso das out ras. Levando em cont a essa part icularidade, pode-se
f alar de uma ascensão e um declínio rít micos das f orças em ciclos. Aliás, pode-se
reconhecer divisões similares dent ro de cada um dos set e ciclos lunares mencionados.
Pode-se denominar t oda a evolução lunar como um grande ciclo — um ciclo planet ário — e
as set e divisões dent ro dele como ‘ pequenos’ ciclos, e as divisões dest es, por sua vez,
como ciclos menores. Essa divisão em set e vezes set e ciclos t ambém é observável na
evolução solar, est ando igualment e indicada na época sat urnina. Não obst ant e, deve-se
levar em cont a que os limit es ent re as divisões são indist int os j á no Sol, e ainda mais em
Sat urno. Esses limit es f icam cada vez mais claros à medida que a evolução avança em
direção à época t errest re.

A evolução t errest re

Terminada a evolução lunar esboçada acima, t odas as ent idades e f orças que dela
part iciparam ent ram numa f orma de exist ência mais espirit ual. Est a se encont ra num nível
muit o dif erent e, t ant o daquele do período lunar como daquele da evolução t errest re
subseqüent e. Um ser possuidor de f aculdades cognit ivas t ão elevadas que pudesse
perceber t odas as part icularidades das evoluções lunar e t errest re ainda não seria,

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necessariament e, capaz de ver t ambém o que ocorre ent re as duas evoluções. Para t al
ser, no f inal do período lunar os seres e f orças desapareceriam como que no nada, para
após um int ervalo surgir novament e da penumbra do seio cósmico. Apenas um ser dot ado
de f aculdades ainda superiores seria capaz de observar os acont eciment os espirit uais
ocorridos ent rement es.
No f inal do período int ermediário, as ent idades que part iciparam dos processos
evolut ivos em Sat urno, no Sol e na Lua surgem com novas f aculdades. Os seres superiores
ao homem adquiriram, por seus at os ant eriores, a capacidade de f azer o homem evoluir a
pont o de, no decorrer do período t errest re subseqüent e ao período l unar, poder
desenvolver em si uma espécie de consciência imediat ament e superior à consciência
imagét ica que lhe era própria no pet íodo lunar. No ent ant o, primeirament e o homem deve
ser preparado para receber o que lhe deverá ser concedido. Durant e as evoluções
sat urnina, solar e lunar ele int egrou ao seu ser os corpos f ísico, et érico e ast ral; mas est es
membros de seu ser receberam apenas as f aculdades e f orças que os capacit am a viver
para uma consciência imagét ica; f alt am-lhes ainda os órgãos e a conf iguração que lhes
possibilit em perceber um mundo de obj et os ext eriores sensoriais, t al como é adequado ao
nível t errest re. Assim como a nova plant a só desenvolve o que est á dispost o no germe
oriundo da plant a ant erior, no princípio do novo ciclo evolut ivo os t rês membros da
nat ureza humana surgem com est rut uras e órgãos t ais que só conseguem desenvolver a
consciência imagét ica. Para o desenvolviment o de um grau superior de consciência, devem
primeirament e ser preparados. Isso ocorre em t rês et apas preliminares:
Durant e a primeira et apa, o corpo f ísico é elevado a um nível que lhe permit a
assumir a t ransf ormação necessária para abrigar uma consciência obj et iva. Essa é uma
f ase preliminar da evolução t errest re, que se pode designar como uma repet ição do
período sat urnino num nível superior. É que, t al como durant e a época sat urnina, no
decorrer desse período ent idades superiores t rabalham soment e no corpo f ísico. Tendo
est e últ imo progredido suf icient ement e em sua evolução, só agora t odas as ent idades
devem passar novament e a uma f orma superior de exist ência, ant es que o corpo et érico
t ambém possa progredir. O corpo f ísico t em de ser como que ref undido, para em seu novo
desabrochar poder receber o corpo vit al mais aperf eiçoado. Depois desse período
int ermediário, consagrado a uma f orma mais elevada de exist ência, há uma espécie de
repet ição da evolução solar num nível superior, visando ao aperf eiçoament o do corpo
vit al. E novament e, após out ro int ervalo, algo semelhant e ocorre com o corpo ast ral,
numa repet ição da evolução lunar.
Dirij amos agora a at enção aos f at os evolut ivos sucedidos após o t érmino da t erceira
das repet ições descrit as. Todas as ent idades e f orças se espirit ualizaram de novo e,
durant e essa espirit ualização, ascenderam a mundos elevados, O mais inf erior dos mundos
em que ainda é possível perceber algo a seu respeit o, durant e essa época de
espirit ualização, é o mesmo em que o homem at ual permanece no período ent re a mort e e
um novo nasciment o. Trat a-se das regiões do mundo dos espírit os. Em segui da elas
cont inuam a descer gradualment e para mundos inf eriores. Ant es de se iniciar a evolução
f ísica t errest re, j á desceram a pont o de suas manif est ações mais baixas serem percept í-
veis no mundo ast ral ou anímico.
Tudo o que exist e do homem nesse período ainda possui sua f orma ast ral. Para a
compreensão desse est ágio da humanidade, deveríamos at ent ar especialment e ao f at o de
que, embora o homem j á possua ent ão os corpos f ísico, et érico e ast ral, t ant o o corpo
f ísico como o et éríco não exist em sob f orma f ísica ou et érica, e sim sob f orma ast ral. O
que caract eriza o corpo f ísico não éa f orma f ísica, e sim o f at o de ele, apesar de possuir a
f orma ast ral, cont er em si as leis f ísicas. Ele é um ser com const it uição f ísica sob f orma

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anímica. O mesmo vale para o corpo vit al.
Diant e da visão espirit ual, nesse nível da evolução a Terra aparece como um ser
cósmico const it uído int eirament e de alma e espírit o, no qual, port ant o, t ambém as f orças
f ísicas e vit ais ainda parecem anímicas. Nessa est rut ura cósmica est á cont ido, segundo a
disposição inicial, t udo o que mais t arde deverá t ransf ormar-se nas criat uras da Terra
f ísica. Essa est rut ura é luminosa; porém sua luz não é do t ipo que os olhos f ísicos
pudessem perceber, mesmo que exist issem. Ela só resplende na luz anímica para os olhos
abert os do vident e.
Nesse ser ocorre ent ão algo que se poderia chamar de condensação. O result ado
dessa condensação é que após algum t empo surge uma f orma ígnea no meio da est rut ura
anímica, como aquela de Sat urno em seu est ado mais denso. Essa f orma ígnea é permeada
pelas at uações das diversas ent idades que part icipam da evolução. É como um emergir e
imergir do e no globo ígneo t errest re, podendo-se observar isso como int eração ent re
essas ent idades e o corpo celest e. O globo ígneo t errest re não é, port ant o, algo como uma
subst ância homogênea, mas algo como um organismo impregnado de alma e espírit o. Os
seres dest inados a t ornar-se, na Terra, homens com a f orma at ual ainda se encont ram
numa condição em que part icipam em grau mínimo da imersão no corpo ígneo. Eles ainda
permanecem quase int eirament e na perif eria não-condensada — ainda est ão no seio dos
seres espirit uais superiores. Nessa et apa, ent ram em cont at o com a Terra ígnea apenas
num pont o de sua f orma anímica, e ist o f az com que o calor condense uma part e de sua
f orma ast ral . Com isso é acendida neles a vida t errest re. Port ant o, com a maior part e de
seu ser eles ainda pert encem aos mundos anímico-espirit uais; só pel o cont at o com o f ogo
t errest re é que são t ocados pelo calor vit al.
Se quiséssemos f ormar uma imagem ao mesmo t empo sensorial e supra-sensorial
desse ser humano no princípio da época t errest re f ísica, deveríamos imaginar uma f orma
anímica ovular, cont ida na perif eria t errest re e envolt a em sua superf ície inf erior por um
cálice, como o f rut o do carvalho; só que a subst ância do cálice consist e purament e em
calor ou f ogo. O envolviment o pelo calor result a não só no f at o de a vida ser inf lamada no
homem; simult aneament e, ocorre numa alt eração no corpo ast ral. Nest e se int egra o
primeiro rudiment o daquilo que mais t arde será a al ma da sensação. Port ant o, pode-se
dizer que nesse nível de sua exist ência o homem consist e em alma da sensação, corpo
ast ral, corpo vit al e corpo f ísico t ecido de f ogo. No corpo ast ral ondeiam, emergindo e
imergindo, as ent idades espirit uais que part icipam da exist ência do homem; por meio da
alma da sensação est e se sent e ligado à Terra. Nessa época ele possui, pois, uma consciên-
cia imagét ica preponderant e, na qual se manif est am os seres espirit uais em cuj o seio ele
repousa; e é apenas como um pont o dent ro dessa consciência que surge a sensação do
próprio corpo. Ele cont empla como que do alt o do mundo espirit ual sua propriedade
t errest re, a cuj o respeit o sent e: “ Isso t e pert ence. ”
A condensação da Terra progride ent ão sem cessar; com isso a caract erizada
composição do homem f ica cada vez mais nít ida. A part ir de cert o moment o da evolução,
a Terra est á condensada a pont o de apenas uma de suas part es ainda ser ígnea. Uma out ra
part e assumiu uma f orma subst ancial que podemos chamar de ‘ gás’ ou ‘ ar’ . Também com
o homem sucede uma t ransf ormação. Agora ele não é apenas t ocado pelo calor t errest re:
ao seu corpo ígneo se agrega a subst ância aérea. E t al como o calor lhe incendiou a vida, o
ar que vibra ao seu redor produz nele um ef eit o que podemos chamar de som (espirit ual).
Seu corpo vit al ressoa. Simult aneament e, separa-se do corpo ast ral uma part e que
const it uí o primeiro rudiment o daquilo que mais t arde será a al ma do int elect o.
Para se t er uma idéia do que ocorre com a alma humana nessa época, é preciso t er
present e que no corpo ígneo-aéreo da Terra ondeiam, emergindo e imergindo, seres

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superiores ao homem. Na Terra ígnea são os Espírit os da Personal idade que, a princípio,
t êm import ância para ele. E à medida que o homem é est imulado para a vida pelo calor
t errest re, sua alma da sensação diz a si própria: “ Esses são os Espírit os da Personalidade. ”
Do mesmo modo, manif est am-se no corpo aéreo os seres que mais at rás denominamos
Arcanj os (no sent ido do esot erismo crist ão). Seus ef eit os são aqueles que o homem
percebe como som quando o ar vibra em seu redor. Nesse moment o, alma do int elect o diz
a si mesma: “ Esses são os Arcanj os. ” Port ant o, o que o homem percebe nesse nível, por
sua ligação com a Terra, ainda não é um conj unt o de obj et os f ísicos — ele vive em
sensações calóricas advindas de baixo, como t ambém em sons; cont udo pressent e, nessas
corrent es calóricas e nessas vibrações sonoras, os Espírit os da Personalidade e os Arcanj os.
Na verdade não pode percebê-los diret ament e, mas apenas como que at ravés do véu do
calor e do som. Enquant o essas percepções da Terra penet ram em sua alma, nela ainda
cont inuam sempre emergindo e imergindo as imagens das ent idades superiores, em cuj o
seio ele se sent e.

A separ ação do Sol

A evolução da Terra prossegue. O progresso se manif est a novament e numa


condensação. A subst ância aquosa se ínt egra ao corpo t errest re, de modo que est e
consist e agora em t rês element os: o ígneo, o aéreo e o aquoso. Ant es de isso acont ecer,
desenrol a-se um import ant e processo: da Terra compost a de f ogo e ar se separa um ast ro
independent e, que em sua evolução post erior se convert e no Sol at ual. Ant es, a Terra e o
Sol eram um só corpo. Depois da separação do Sol , inicialment e a Terra ainda cont inua
cont endo t udo o que const it ui a Lua at ual. A separação do Sol acont ece porque ent idades
superiores não podem mais suport ar, para sua própria evolução e para o que devem f azer
pela Terra, a mat éria condensada at é o est ado líquido. Elas ext raem da massa t errest re
comum as subst âncias út eis soment e para si e af ast am-se dela a f im de est abelecer no Sol
uma nova morada. A part ir do Sol, at uam ent ão de f ora sobre a Terra. Porém o homem
necessit a, para seu progresso ult erior, de um cenário em que a subst ância cont inue a
adensar-se.
Com a incorporação da subst ância líquida na massa t errest re, ocorre t ambém uma
t ransf ormação do homem. Agora af l ui para ele não apenas o f ogo, e f lut ua à sua volt a não
apenas o ar: a subst ância líquida se incorpora a seu corpo f ísico. Ao mesmo t empo, sua
part e et érea se modif ica; agora o homem a percebe como um sut il corpo luminoso.
Ant eriorment e o homem havia sent ido corrent es calóricas da Terra subir at é ele, havia
sent ido o ar aproximando-se por meio de sons; agora t ambém impregna seu corpo ígneo-
aéreo o element o líquido, cuj o af luxo e ref luxo ele vê como aurora e crepúsculo da luz.
Mas t ambém em sua alma houve uma t ransf ormação. Aos rudiment os das al mas da
sensação e do int elect o f oi acrescent ado agora o da alma da consciência. No element o da
água at uam os Anj os; eles são t ambém os verdadeiros agent es da luz. Para o ser humano,
é como se eles lhe aparecessem na luz.
Cert as ent idades superiores, que ant eriorment e se encont ravam no próprio corpo
t errest re, at uam agora sobre est e a part ir do Sol. Com isso se modif icam t odos os ef eit os
sobre a Terra. O homem, acorrent ado à Terra, não poderia mais perceber em si as
inf luências dos seres solares se sua alma est ivesse sempre volt ada para a Terra, da qual f oi
t omado seu corpo f ísico. Surge ent ão uma alt ernância nos est ados humanos de
consciência. Em cert as épocas, os seres solares arrebat am a alma humana do corpo f ísico,
de modo que o homem ora é purament e anímico no seio dos seres solares, ora se encont ra
num est ado de união com o corpo f ísico e recebe as inf luências da Terra. Quando est á no

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corpo f ísico, as corrent es calóricas sobem at é el e. As massas aéreas ressoam ao seu redor;
a água o impregna num moviment o de f luxo e ref luxo. Quando f ora de seu corpo, o
homem é perpassado em sua alma pelas imagens dos seres superiores, em cuj o seio se
encont ra.
Nesse est ágio de sua evolução, a Terra at ravessa duas épocas dist int as. Na primeira
pode envolver as almas humanas com suas subst âncias, revest indo-as de corpos f isicos; na
out ra as al mas se ret iram del a, rest ando apenas os corpos. Junt ament e com os seres
humanos, ela se encont ra num est ado dorment e. Podese af irmar com int eira propriedade
que nessa época de um passado remot o a Terra at ravessa um período diurno e um
not urno. (Física e espacialment e, isso se expressa no f at o de, pela int eração ent re os
seres solares e t errest res, a Terra ent rar num moviment o em relação com o Sol; com isso é
provocada a alt ernância ent re os caract erizados períodos not urno e diurno. O período
diurno t ranscorre quando a superf ície t errest re, sobre a qual o homem se desenvolve, est á
volt ada para o Sol ; o período not urno, ou sej a, aquel e em que o homem l eva uma
exist ência purament e anímica, t ranscorre quando essa superf ície est á do lado cont rário ao
Sol. Cont udo, não se deve supor que naqueles t empos remot os o moviment o da Terra em
t orno do Sol j á se assemelhasse ao at ual. As condições eram complet ament e diversas. Mas
t ambém é út il pressupor, j á aqui, que os moviment os dos ast ros surgem como
conseqüência das int er-relações ent re os seres espirit uais que os habit am. Os ast ros são
colocados nessas posições e moviment os por mot ivos anímico-espirit uais, para que os
est ados espirit uais possam desenvolver-se no plano f ísico. )
Se volt ássemos o olhar para a Terra durant e seu período not urno, veríamos seu corpo
num est ado semelhant e ao cadavérico, pois em grande part e ela é const it uída pelos
corpos humanos em desagregação, cuj as al mas se encont ram numa out ra f orma de
exist ência. As art iculadas f ormações aquosas e aéreas, das quais se compunha o homem,
desagregam-se e se dissolvem no rest ant e da massa t errest re. Só aquela part e do corpo
humano que, mediant e a colaboração ent re o f ogo e a alma humana, f ormou-se a part ir do
início da evolução t errest re e cont inuou a adensar-se, cont inua a exist ir como um embrião
pouco not ável ext eriorment e Port ant o, não se deve supor que os períodos not urnos e
diurnos aqui descrit os f ossem muit o semelhant es ao que se subent ende com essas
designações na Terra at ual. Quando, ao iniciar-se o período diurno, a Terra volt a a
part icipar da inf luência solar diret a, as al mas humanas penet ram no domínio da vida
f ísica. Elas ent ram em cont at o com os ref eridos embriões e os f azem germinar, de modo
que est es assumem uma f orma ext erior semelhant e a uma reprodução do ser anímico
humano. É uma espécie de delicada f ecundação o que se passa ent ão ent re a alma humana
e o germe corporal. Ent ão as almas encarnadas desse modo começam novament e a at rair
as massas aéreas e líquidas, int egrando-as em seus corpos. Pelo corpo assim compost o, é
expelido e absorvido o ar: é o primeiro rudiment o para o post erior processo respirat ório. A
água t ambém e absorvida e expelida: inicia-se uma f orma primit iva do processo de
nut rição.
Cont udo, esses processos ainda não são percebidos como processos ext eriores. Uma
espécie de percepção ext erior só t em lugar, por meio da alma, no caso do caract erizado
t ipo de f ecundação. Aí a alma sent e vagament e seu despert ar para a exist ência f ísica ao
ent rar em cont at o com o germe que lhe é of erecido pela Terra. Ela experiment a ent ão
algo que pode expressar-se mais ou menos nas seguint es palavras: “ Est a é minha
conf iguração. ” E t al sent iment o, que se poderia denominar t ambém como um emergent e
sent iment o do eu, subsist e na alma durant e t oda a sua ligação com o corpo f ísico. Já o
processo de assimilação do ar ainda é sent ido pela alma como um f enômeno t ot alment e
anímico-espirit ual, como algo imaginat ivo. Manif est a-se sob f orma de imagens sonoras

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emergent es e imergent es, que plasmam o germe em vias de est rut uração. A alma sent e-se
t ot alment e envolt a por sons f lut uant es, sent indo t ambém como est rut ura seu próprio
corpo segundo essas f orças sonoras.
Assim, nesse est ágio aparecem f ormas humanas que, para uma consciência at ual, não
podem ser percebidas em qualquer mundo ext erior. Elas se desenvolvem como f ormas
veget ais e f lorais subst ancialment e sut is, mas que int eriorment e são móveis e, por isso,
parecem f lores esvoaçant es. E é o agradável sent iment o de sua est rut uração nessas f ormas
que o homem experiment a durant e seu período t erreno. A absorção dos el ement os
aquosos é sent ida na alma como acréscimo de f orças, como f ort aleciment o int erior.
Ext eriorment e, manif est a-se como um cresciment o da f igura humana f ísica. Com a
diminuição da inf luência solar diret a, a alma humana t ambém perde a f aculdade de domi-
nar esses processos, que pouco a pouco são abandonados. Subsist em apenas as part es que
f azem amadurecer o germe acima caract erizado. O homem, porém, abandona seu corpo e
ret orna àf orma espirit ual de exist ência. (Vist o que nem t odas as part es do corpo t errest re
são empregadas na const rução de corpos humanos, não se deve supor que em seu período
not urno a Terra consist a apenas nos cadáveres em desint egração e nos germes à espera do
despert ar. Tudo est á deposit ado em out ras est rut uras que se f ormam das subst âncias da
Terra. O que ocorre com est as será expost o mais adiant e. )
Mas o processo de condensação da subst ância t errest re prossegue. Ao element o
aquoso j unt a-se o sólido, que se pode chamar de ‘ t erroso’ . E com isso o homem começa
t ambém, durant e sua época t errest re, a int egrar em seu corpo o element o t erroso. Tão
logo se inicia essa incorporação, as f orças que a alma t raz consigo de seu período l ivre do
corpo j á não possuem a mesma pot ência de ant es. Ant eriorment e a al ma plasmava o corpo
com os element os ígneo, aéreo e aquoso em conf ormidade com os sons que ressoavam à
sua volt a e com as imagens luminosas que a circundavam. Diant e da f orma solidif icada, a
alma não pode f azer isso. Doravant e out ras pot ências int erf erem na f ormação. Naquilo
que f ica do homem, quando a alma se separa do corpo, apresent a-se agora não apenas um
germe que, pelo ret orno da al ma, é reanimado para a vida, mas uma f igura que t ambém
cont ém em si a f orça dessa vivif icação. Ao part ir, a alma não apenas deixa na Terra sua
imagem, mas t ambém implant a uma part e de seu poder vivif icant e nessa imagem. Ao
reaparecer na Terra, ela j á não pode despert ar por si essa imagem para a vida — a
vivif icação deve produzir-se na própria imagem.
Os seres espirit uais que do Sol at uam sobre a Terra mant êm agora a f orça vivif icant e
no corpo humano, mesmo quando o próprio homem não est á na Terra. Desse modo, ao
encarnar-se agora a al ma não sent e apenas os sons e as imagens luminosas f lut uant es à
sua volt a, nos quais percebe os seres imediat ament e acima del a; pela assimil ação do
element o t erroso, experiment a a inf luência de seres ainda mais elevados, que
est abeleceram seu campo de at ividade no Sol. Ant eriorment e, o homem se sent ia
pert encent e aos seres anímico-espirit uais aos quais est ava unido quando livre do corpo;
era no seio deles que seu eu ainda repousava. Agora esse eu se lhe apresent a, durant e a
encarnação f ísica, como t udo o mais que o rodeia durant e esse t empo.
Imagens aut ônomas do ser humano anímico-espirit ual est iveram na Terra daí em
diant e. Comparadas ao corpo humano at ual , eram f iguras de mat erialidade muit o sut il,
pois as part ículas t errosas só se mist uravam a elas no est ado mais t ênue —mais ou menos
como o homem at ual absorve, com seu órgão ol f at ivo, as subst âncias f inament e dispersas
de um obj et o. Os corpos humanos eram como sombras. No ent ant o, como se dist ribuíam
por t oda a Terra, est avam submet idos às inf luências dest a, as quais eram de espécies
dif erent es nas diversas part es da superf ície t errest re. Enquant o ant eriorment e as imagens
corporais correspondiam ao homem anímico que as vívif icava e, por conseguint e, eram

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essencialment e iguais por t oda a Terra, agora surge a diversidade ent re as f ormas
humanas. Com isso se preparou o que veio a ser a diversidade das raças.
Com a independência do homem corpóreo, dissolveu-se at é cert o pont o a est reit a
ligação ant erior ent re o homem t erreno e o mundo anímico-espirit ual. Daí em diant e,
quando a al ma abandonava o corpo, est e vivia como uma espécie de cont inuação da vida.

A separ ação da Lua

Se a evolução houvesse prosseguido desse modo, necessariament e a Terra se t eria


endurecido sob a inf luência de seu element o sólido. Ao conheciment o supra-sensível, em
sua observação ret rospect iva desses acont eciment os, evidencia-se como os corpos
humanos, ao serem abandonados por suas almas, endureceram cada vez mais. Depois de
algum t empo, as almas humanas que ret ornassem à Terra não encont rariam qualquer
mat erial ut ilizável, ao qual pudessem unir-se. Todas as subst âncias út eis ao homem t eriam
sido empregadas para sat urar a Terra com resíduos f ossilizados de encarnações.
Ent ão houve um acont eciment o que deu a t oda a evolução um out ro rumo. Foi
eliminado t udo o que, na subst ância sólida t errest re, pudesse cont ribuir para um
endureciment o permanent e. Nossa Lua at ual abandonou a Terra naquela época; e o que
ant es cont ribuíra, na Terra, diret ament e para a criação de f ormas permanent es, at uava
agora de maneira indiret a e at enuada a part ir da Lua. Os seres superiores, dos quais
depende essa criação de f ormas, haviam decidi do exercer sua at uação não mais do int erior
da Terra, e sim de f ora. Com isso surgiu nas est rut uras humanas corpóreas uma
dif erenciação que cabe designar como o início da separação dos sexos masculino e
f eminino. As f ormações humanas sut is que ant eriorment e habit avam a Terra geraram, pela
int eração mút ua das duas f orças — o germe e a f orça vivif icadora —, a nova f orma
humana, seu descendent e.
Agora esses descendent es se t ransf ormavam. No primeiro grupo de t ais descendent es
at uava mais a f orça germinat iva do element o anímico-espirit ual, e no out ro grupo mais a
f orça germinat iva vivif icadora. Isso f oi provocado pelo f at o de, t endo a Lua saído da Terra,
o element o t errest re t er enf raquecido seu poder. A int eração ent re as duas f orças t ornou-
se doravant e mais sut il do que quando ocorria num único corpo. Por esse mot ivo o
descendent e t ambém era mais delicado, mais t ênue. Ele apareceu na Terra num est ado
sut il, e só paulat inament e incorporou em si as part es mais sólidas.
Com isso f oi dada novament e, à al ma humana que ret ornava à Terra, a possibil idade
da união com o corpo. E verdade que ela j á não o vivif icava de f ora, pois essa vivif icação
ocorria na própria Terra; porém ela se unia a ele e promovia seu cresciment o. No ent ant o,
para esse cresciment o havia um cert o limit e. Devido à separação da Lua, o corpo humano
se t ornara f lexível por algum t empo; mas quant o mais cont inuava a crescer na Terra, mais
aument avam as f orças solidif icadoras. Por f im, a alma f oi f icando cada vez menos capaz
de part icipar da composição do corpo; est e decaía, enquant o a alma ascendia a f ormas
anímico-espirit uais de exist ência.
Pode-se acompanhar como as f orças progressivament e adquiridas pel o homem nas
evoluções sat urnina, solar e lunar part icipam gradualment e do progresso humano durant e
a descrit a est rut uração t errest re. Primeiro é o corpo ast ral — que ainda cont ém em si,
dissolvidos, t ambém os corpos vit al e f ísico —, é o corpo ast ral que é inf lamado pelo f ogo
t errest re. Depois esse corpo ast ral se art icula numa part e ast ral mais sut il — a alma da
sensação — e out ra mais element ar, et érica, que doravant e f ica em cont at o com o
element o t errest re. Com isso surge o corpo et érico ou vit al, j á pré-f ormado. E enquant o
no homem ast ral se desenvolvem a alma do int elect o e a alma da consciência, organizarn-

93
se no corpo et érico as part es mais element ares, recept ivas ao som e à luz. No moment o
em que o corpo et érico se condensa ainda mais, de modo que de corpo luminoso se t orna
um corpo Ígneo ou calórico, t ambém é chegada a et apa evolut iva em que, conf orme
expost o acima, as part es do element o t errest re sólido se int egram ao homem. Por t er-se
condensado em f ogo, o corpo et érico pode agora, mediant e as f orças do corpo f ísico
implant adas nele ant eriorment e, ligar-se às subst âncias da Terra f ísica ref inadas at é o
est ado ígneo. Cont udo, ele não poderia mais, por si só, int roduzir t ambém as subst âncias
aéreas no corpo, que ent rement es se t ornou mais denso. Ent ão int ervêm, conf orme in-
dicado acima, os seres superiores sediados no Sol, os quais lhe insuf lam o ar.
Enquant o o homem, por seu próprio passado, possui assim a energia para impregnar-
se com o f ogo t errest re, seres superiores inf undem o sopro do ar em seu corpo. Ant es da
solidif icação, o corpo vit al do homem, como recept or de sons, era o condut or da corrent e
aérea. Ele impregnava seu corpo f ísico com a vida. Agora seu corpo f ísico recebe uma vida
ext erior. O result ado disso é que essa vida se t orna independent e da part e anímica do
homem. Ent ão est e, ao abandonar a Terra, deixa nela não apenas o germe de sua f orma,
mas t ambém uma viva reprodução de si próprio. Os Espírit os da Forma permanecem agora
unidos a essa imagem; t ransmit em a vida que deles emana t ambém aos descendent es,
quando a alma est á desligada do corpo. Assim é f ormado o que se pode designar como
heredit ariedade. E quando a alma humana reaparece na Terra, sent e-se num corpo cuj a
vida f oi t ransmit ida pelos ant epassados; sent e-se j ust ament e at raída para esse corpo em
especial. Com isso se f orma algo como uma espécie de recordação do ant epassado ao qual
a alma se sent e unida. Ao longo da linha heredit ária, essa recordação segue como uma
consciência comum. O eu f lui descendent ement e at ravés das gerações.
Nesse grau da evolução durant e sua exist ência t errena, o homem se sent ia como um
ser independent e. Sent ia o f ogo int erior de seu corpo vit al ligado ao f ogo ext erior da
Terra. Podia sent ir como sendo seu eu o cal or que o percorria. Nessas corrent es calóricas
ent remeadas de vida encont ra-se o primeiro rudiment o da circulação sangüínea. Já no que
lhe af luía como ar, o homem não sent ia int eirament e seu próprio ser. Nesse ar est avam
at ivas as energias dos seres superiores j á caract erizados; porém nele havia permanecido,
dent ro do ar que o permeava, aquela parcela das f orças at uant es que j á lhe eram próprias
em virt ude das f orças et éricas f ormadas ant eriorment e. El e era senhor numa part e dessas
corrent es aéreas, e assim at uavam em sua f ormação não apenas os seres superiores, mas
t ambém ele próprio. Era de acordo com as imagens de seu corpo ast ral que ele plasmava
em si mesmo as part es aéreas. Enquant o o ar ext erior af luía desse modo para seu corpo —
o que const it uiu a base de sua respiração —, uma part e do ar no int erior se art iculava num
organismo implant ado no homem para t ornar-se a base do f ut uro sist ema nervoso.
Port ant o, era por meio do ar e do calor que o homem est ava em ligação com o mundo
ext erior da Terra.
Por out ro lado, ele nada sent ia da int rodução do element o t errest re sólido; est e
cooperava em sua encarnação na Terra, mas ele não podia perceber sua int rodução
imediat ament e, mas apenas com uma consciência obscura, na imagem das ent idades su-
periores que at uavam nesse element o. Dessa maneira ímagét ica, como expressão de seres
superiores sit uados acima dele, é que j á ant eriorment e o homem havia percebido a
int rodução dos element os t errest res líquidos. Pela condensação da f orma humana
t errest re, essas imagens experiment aram uma modif icação em sua consciência. O
element o sólido se mist urou com o líquido, e por isso t ambém essa int rodução deve ser
sent ida como ef et uada por seres superiores at uando do ext erior. O homem não pode mais
possuir em sua alma a energia para dirigir, el e próprio, essa int rodução, pois est a deve
agora servir ao seu corpo est rut urado de f ora. Ele prej udicaria a f orma desse corpo caso

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quisesse conduzir por si mesmo a int rodução.
Assim, o que ele int roduz em si a part ir do ext erior parece-lhe dirigido pelas ordens
emanadas dos seres superiores que at uam j unt o à sua f ormação corporal. O ser humano
sent e-se como um eu; possui em si a al ma do int elect o como uma parcela de seu corpo
ast ral, graças à qual experiment a int eriorment e, sob f orma de imagens, o que ocorre no
ext erior, e por cuj o int ermédio penet ra em seu delicado sist ema nervoso. Sent e-se como
um descendent e de ant epassados graças à vida f luindo at ravés de gerações. Respira e
sent e isso como a at uação dos mencionados seres superiores denominados ‘ Espírit os da
Forma’ . Também se submet e a eles no que lhe é int roduzido de f ora (para sua
aliment ação) por seu impulso. O mais obscuro é, para ele, sua origem corno indivíduo. A
esse respeit o ele sent e apenas t er experiment ado uma inf luência dos Espírit os da Forma,
manif est os nas f orças t errest res. O homem era dirigido e guiado em seu relacionament o
com o mundo ext erior, sendo ist o expresso no f at o de ele t er cert a consciência das
at ividades anímico-espirit uais que se desenrolavam por det rás de seu mundo f ísico. É bem
verdade que ele não percebe os seres espirit uais sob sua f orma própria, mas experiment a
sons, cores, et c. em sua alma, sabendo que nesse mundo de represent ações residem os
f eit os dos seres espirit uais. Ressoa at é ele o que esses seres lhe comunicam; suas
manif est ações lhe aparecem em imagens luminosas. O homem t errest re se sent e
int eriorizado ao máximo, graças às represent ações que recebe por int ermédio do
element o do f ogo ou do calor. Ele j á dist ingue ent re seu calor int erior e as corrent es
calóricas do ambient e t errest re, nas quais se manif est am os Espírit os da personalidade.
Porém o homem t em apenas urna consciência obscura do que exist e at rás das
corrent es do calor ext erno. Just ament e nessas corrent es, sent e a inf luência dos Espírit os
da Forma. Quando pot ent es ef eit os calóricos despont am nos arredores do homem, a alma
logo sent e: “ Agora f ulguram, at ravés da at mosf era t errest re, seres espirit uais dos quais
uma cent elha se dest acou e veio aquecer meu próprio int erior. ” Nos f enômenos luminosos
o homem ainda não dist ingue, do mesmo modo, o ext erior do int erior. Quando imagens
luminosas despont am no ambient e, nem sempre produzem o mesmo sent iment o na alma
do homem t errest re. Houve épocas em que ele sent ia essas imagens luminosas como algo
ext erno. Isso era depois que ele descia de seu est ado incorpóreo para a encarnação — era
o período de seu cresciment o na Terra. Ao aproximar-se a época em que o germe se
plasmava em novo homem t erreno, essas imagens empalideciam, e o homem conservava
delas apenas algo como represent ações recordat ivas int eriores. Nessas imagens luminosas
est avam cont idoS os f eit os dos Espírit os do Fogo (Arcanj os). Est es se manif est avam ao
homem como os servidores dos seres calóricos que inf undiram uma cent elha em seu
int erior. Quando suas manif est ações ext eriores se iam ext inguindo, o homem os
experiment ava em seu int erior como represent ações (recordações), sent indo-se ligado às
suas energias. E assim ocorria de f at o, pois graças ao que recebera desses seres ele era
capaz de at uar sobre a at mosf era circundant e. Ent ão, sob sua inf luência, est a começava a
resplandecer. Naquela época, as energias humanas e as da nat ureza ainda não est avam
t ão separadas ent re si quant o post eriorment e. o que ocorria na Terra ainda procedia em
alt o grau das f orças dos homens. Quem, naquele t empo, t ivesse observado de f ora da
Terra os processos nat urais que aí se desenvolviam, t eria percebido neles não apenas algo
independent e do homem, mas t ambém as at uações dos seres humanos.
Um aspect o ainda mais dif erenciado assumiam, para o homem t errest re, as
percepções sonoras. Desde o início da vida t errest re, elas f oram percebidas como sons
ext eriores. Enquant o as imagens luminosas do ext erior f oram percebidas at é a f ase
mediana da exist ência humana na Terra, os sons ext eriores ainda podiam ser percebidos
após esse período. Soment e no f inal da vida o homem t errest re deixava de ser recept ivo a

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eles, rest ando-lhe as represent ações recordat ivas desses sons. Nelas est avam cont idas as
manif est ações dos Filhos da Vida (os Anj os). Quando, no f im da vida, o homem se sent ia
int imament e ligado a essas f orças, conseguia por imit ação produzir poderosos ef eit os no
element o líquido da Terra. As águas ondeavam dent ro e sobre a Terra sob sua inf l uência.
As sensações gust at ivas só vieram a exist ir para o homem no primeiro quart o de sua
vida t errest re; e, ainda assim, pareciam à alma uma recordação das vivências durant e o
est ado incorpóreo. Enquant o o homem as experiment ava, cont inuava a solidif icação de
seu corpo pela absorção de subst âncias ext eriores. No segundo quart o da vida t errest re o
cresciment o ainda prosseguia, mas a f orma j á est ava complet ament e desenvolvida. Nessa
época, o homem só podia perceber out ros seres vivent es a seu lado por seus ef eit os
calóricos, luminosos e sonoros, pois ainda não era capaz de reproduzir, para si mesmo, a
imagem do element o sólido. Soment e do element o líquido ele recebia, no primeiro quart o
de sua vida, as descrit as sensações gust at ívas.
Uma imagem desse est ado anímico int erior do homem — eis o que represent ava sua
f orma corporal ext erior. As part es que cont inham o rudiment o da f ut ura f orma da cabeça
eram as mais perf eit ament e desenvolvidas. Os demais órgãos apareciam apenas como
apêndices, sendo sombrios e indist int os. No ent ant o, os homens t errest res eram
diversif icados em sua conf iguração. Havia aqueles cuj os apêndices eram ora mais, ora
menos desenvolvidos, segundo as condições t errest res em que viviam. Isso dif eria de
acordo com os l ocais em que o homem habit ava na Terra. Nas regiões onde os seres
humanos est avam mais engaj ados no mundo t errest re, os apêndices f icavam mais em pri-
meiro plano. Os homens que, graças ao seu desenvolviment o ant erior, est avam mais
amadurecidos no início da evolução f ísica da Terra, t endo logo no início — quando a Terra
ainda não se havia condensado at é o est ado aéreo — experiment ado o cont at o com o
element o ígneo, eram agora capazes de desenvolver com a maior perf eição os rudiment os
da cabeça. Esses homens eram, em si, os mais harmoniosos. Out ros só f icaram preparados
para o cont at o com o element o ígneo quando a Terra j á havia desenvolvido em si o ar,
sendo mais dependent es das condições ext eriores do que os primeiros.
Esses primeiros homens percebiam nit idament e os Espírit os da Forma por meio do
calor, e em sua vida t errena sent iam-se como que conservando uma lembrança de
guardarem relação com esses espírit os e de t erem sido ligados a eles no est ado
incorpóreo.
O segundo t ipo de seres humanos experiment ava a recordação do est ado incorpóreo
com pouca int ensidade; eles sent iam seu vínculo com o mundo espirit ual principalment e
pelos ef eit os luminosos dos Espírit os do Fogo (Arcanj os).
Um t erceiro t ipo de homens est ava ainda mais engaj ado na exist ência t errest re.
Trat ava-se daqueles que só puderam ent rar em cont at o com o element o ígneo quando a
Terra est ava separada do Sol e havia assimilado o element o líquido. Seu sent iment o de
ligação com o mundo espirit ual era mínimo, especialment e no início da vida t errest re. Só
quando as at uações dos Arcanj os e, part icularment e, dos Anj os se impuseram na vida
represent at iva int erior, é que eles sent iram essa ligação. Por out ro lado, no início da
época t errest re f icaram replet os de impulsos para at os possíveis de serem execut ados nas
próprias condições t errest res. Neles os órgãos apendiculares est avam part icularment e
desenvolvidos.
Quando, ant es de a Lua separar-se da Terra, as f orças lunares est avam conduzindo a
uma progressiva solidif icação nest a últ ima, acont eceu que, devido a essas f orças, ent re os
descendent es dos germes deixados pelos homens na Terra encont ravam-se alguns em que
as almas humanas regressadas do est ado incorpóreo j á não podiam encarnar-se. A
conf iguração desses descendent es est ava excessivament e solidif icada e, devido às f orças

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lunares, havia-se t ornado por demais dessemelhant e de uma f igura humana para poder
abrigar uma delas. Por conseguint e, sob t ais condições cert as almas humanas j á não
encont ravam a possibilidade de regressar à Terra. Soment e as mais maduras, as mais
vigorosas das almas podiam sent ir-se pront as para t ransf ormar o corpo humano t errest re
durant e seu cresciment o, a f im de que est e desabrochasse em f orma humana. Apenas uma
part e dos descendent es corpóreos humanos t ornaram-se port adores de homens t errest res.
Uma out ra part e pôde apenas, devido à f igura endurecida, acolher almas de nível inf erior
ao humano.
No ent ant o, uma part e das almas humanas f oi obrigada a não acompanhar a evol ução
t errest re de ent ão, sendo com isso conduzidas a out ro gênero de exist ência. Houve almas
que j á ant es de o Sol se separar da Terra não encont raram mais lugar algum nest a últ ima.
Para sua ul t erior evolução, f oram recolhidas a out ro pl anet a que, sob a direção de
ent idades cósmicas, dissociou-se da subst ância cósmica geral — subst ância que est ava
ligada à Terra no início da evolução f ísica t errest re, e da qual o Sol t ambém se
desprendera. Trat a-se do planet a cuj a expressão f ísica a ciência ext erior conhece como
‘ Júpit er’ . (Falamos aqui em ast ros, planet as e seus nomes j ust ament e no sent ido de uma
ciência mais ant iga. O modo como se subent endem as coisas f icará evident e pelo
cont ext o. Tal como a Terra f ísica é apenas a expressão f ísica de um organismo anímico-
espirit ual , o mesmo acont ece com t odos os demais ast ros. E assim como sob o nome
‘ Terra’ o observador do supra-sensível não designa simplesment e o planet a f ísico, nem sob
o nome ‘ Sol ’ simplesment e a est rel a f ísica, quando se ref ere a ‘ Júpit er’ , ‘ Mart e’ , et c. ele
subent ende correlações espirit uais mais amplas. Nat ural ment e, os ast ros modif icaram
subst ancialment e a f orma e a f unção desde as épocas aqui ref eridas — em cert o sent ido,
at é mesmo seu lugar no f irmament o. Só quem ret rocede com o olhar do conheciment o
supra-sensível at é um passado remot íssimo consegue reconhecer a relação ent re os
planet as at uais e seus predecessores. )
Foi em Júpit er que inicialment e as almas j á caract erizadas prosseguiram sua
evolução. E mais t arde, enquant o a Terra t endia cada vez mais à solidif icação, f oi
necessário criar uma out ra morada para as al mas que t iveram a possibilidade de habit ar
por algum t empo os corpos solidif icados sem, no ent ant o, poder cont inuar a f azê-l o
porque a solidif icação progredira demasiadament e. Para elas surgiu em ‘ Mart e’ um lugar
propício à sua evolução ult erior. Já quando a Terra ainda est ava ligada ao Sol e int egrara
em si os element os aéreos, havia-se evidenciado que as almas se most ravam inadequadas
para part icipar da evolução t errest re. Elas haviam t ido um cont at o muit o int enso com a
f orma corpórea t errest re. Por isso t iveram, j á naquel e t empo, de ser af ast adas da
inf luência diret a das f orças solares — est as deveriam at uar sobre elas do ext erior. Para
essas almas, ‘ Sat urno’ t ornou-se um lugar de evolução ult erior. Assim, no decorrer da
evolução t errest re o número de f ormas humanas diminuiu; surgiam f iguras que não haviam
incorporado almas humanas. Elas só podiam acolher em si corpos ast rais, t al como os
haviam acolhido os corpos f ísicos e et érícos dos homens na Lua ant iga.
Enquant o a Terra se t ornava erma de habit ant es humanos, esses seres se espalharam
nela. Final ment e, t odas as almas humanas t eriam de abandonar a Terra se, devido à
separação da Lua, não houvesse ocorrido, para as f ormas humanas que naquela época
ainda eram humanament e impregnadas por almas, a possibilidade de subt rair, durant e sua
vida t errest re, o germe humano às f orças lunares que emanavam diret ament e da Terra e
f azê-lo amadurecer em si at é poder ser expost o a essas f orças. Enquant o se desenvolvia no
int erior do homem, o germe est ava sob a inf luência dos seres que, sob a direção do mais
poderoso dent re eles, haviam separado a Lua da Terra a f im levar a evolução de ambas a
superar um pont o crít ico.

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Quando a Terra j á havia desenvolvido em si o element o aéreo, exist iam, no sent ido
da descrição acima, esses seres ast rais como remanescent es da ant iga Lua, os quais se
at rasaram mais na evolução do que as almas humanas mais inf eriores. Eles se t ornaram as
almas daquelas conf igurações que, j á ant es da separação do Sol, t iveram de ser
abandonadas pelo homem. Esses seres são os ant epassados do reino animal. No decorrer
do t empo, esses seres desenvolveram especialment e aqueles órgãos que no homem só
exist iam como apêndices. Seu corpo ast ral devia at uar sobre os corpos f ísico e et érico do
mesmo modo como ocorria no homem da ant iga Lua. Os animais assim surgidos t inham
ent ão almas que não podiam habit ar no animal individual . A alma est endia sua nat ureza
t ambém aos descendent es da f igura ancest ral. Os animais essencialment e derivados de
uma única f igura possuem uma alma conj unt a. Soment e quando, por inf luências especiais,
o descendent e se af ast a da f igura dos ant epassados, é que uma nova alma animal assume
a encarnação. Nesse sent ido cabe at ribuir aos animais, na Ciência Espirit ual, uma alma da
espécie (ou raça), ou t ambém de grupo.
Algo semelhant e ocorreu na época em que o Sol se separou da Terra. Do element o
líquido surgiram f ormas que, em sua evolução, não est avam mais adiant adas do que o
homem ant es da evolução na ant iga Lua. El as só podiam receber uma inf luência de um
element o ast ral quando est e as inf luenciava de f ora. Ist o só pôde acont ecer após o Sol se
haver ret irado da Terra. A cada vez que advinha para a Terra a época solar, o element o
ast ral do Sol est imulava essas f ormas, de maneira que est as moldavam seu corpo et érico a
part ir do element o et érico da Terra. Quando o Sol se af ast ava dest a, esse corpo et érico
volt ava a dissolver-se no corpo t errest re comum. E, como conseqüência da colaboração
ent re o element o ast ral do Sol e o element o et érico da Terra, despont aram do element o
líquido as conf igurações f ísicas que f ormaram os ant epassados do at ual reino veget al.
Na Terra, o homem se t ornou um ser anímico individual izado. Seu corpo ast ral , que
lhe havia sido inf undido na Lua pelos Espírit os do Moviment o, art iculou-se na Terra em
alma da sensação, al ma do int elect o e alma da consciência. E quando sua alma da
Consciência havia progredido o suf icient e para modelar, durant e a vida t errest re, um
corpo apropriado, os Espírit os da Forma agraciara-no com a cent elha de seu f ogo. O eu se
incandesceu nele. A cada vez que abandonava o corpo f ísico, o homem encont rava-se no
mundo espirit ual, onde ent rava em cont at o com os seres que durant e as evoluções
sat urnina, solar e lunar lhe haviam dado seus corpos f ísico, vit al e ast ral, t endo-os aperf ei-
çoado at é o nível t errest re.
Uma vez acesa a cent elha do eu na vida t errena, adveio igualment e uma modif icação
para a vida incorpórea. Ant es desse pont o evolut ivo de seu ser, o homem não possuía
qualquer independência f rent e ao mundo espirit ual. Dent ro desse mundo ele não se sent ia
como um ser individual, e sim como um membro do sublime organismo int egrado pelos
seres que lhe eram superiores. Cont udo, a ‘ experiência do eu’ na Terra repercut e t ambém
no mundo espirit ual. At é cert o pont o, doravant e o homem se sent e t ambém como uma
unidade nesse mundo, mas t ambém possui a sensação de est ar inint errupt ament e ligado a
ele. No est ado incorpóreo ele reencont ra, numa f orma mais elevada, os Espírit os da
Forma, que havia percebido em sua manif est ação na Terra graças à cent elha de seu eu.
Com a separação ent re a Lua e a Terra, t ambém surgiram no mundo espirit ual , para a
alma livre do corpo, vivências relacionadas com essa separação. Só f oi possível cont inuar a
f ormar, na Terra, f iguras humanas capazes de acolher a individualidade da alma pelo f at o
de uma part e das f orças f ormat ivas serem t ransf eridas da Terra para a Lua. Com isso a
individualidade humana ent rou na esf era dos seres lunares. E, no est ado incorpóreo, o eco
j unt o à individualidade t errest re só pôde t er ef eit o porque, t ambém com relação a esse
est ado, a alma permaneceu no âmbit o dos poderosos espírit os que haviam conduzido a

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separação da Lua. O processo se f ormou de t al modo que, imediat ament e depois de
abandonar o corpo t errest re, a alma só podia ver os sublimes seres sol ares como que num
resplendor ref let ido pelos seres lunares. Só depois de est ar suf icient ement e preparada
pela visão desse ref lexo é que a alma chegou a cont emplar os sublimes seres solares
propriament e dit os.
Também o reino mineral da Terra surgiu pela expulsão da evolução geral da
humanidade. Suas f ormações são o que f icou solidif icado quando a Lua se separou da
Terra. Por essas f ormações só se sent iu at raída aquel a parcela do element o anímico que
f icara at rasada no nível sat urnino e que, por conseguint e, só era apropriada para produzir
f ormas f ísicas.
Todos os acont eciment os narrados agora e a seguir desenvolveram-se no decurso de
períodos imensament e longos. Cont udo, aqui não podemos ent rar em pormenores
cronológicos.
Os processos descrit os apresent am a evolução da Terra pel o lado ext erior; do lado do
espírit o, ocorreu o seguint e:
As ent idades espirit uais que haviam ext raído a Lua da Terra e ligado sua exist ência à
Lua — t endo-se, port ant o, convert ido em seres t errílunares —, provocaram, por meio das
f orças que enviaram à Terra a part ir daquele corpo cósmico, cert a conf iguração da
ent idade humana. Sua at uação se exercia sobre o eu adquirido pelo homem. Era na
conj unção ent re esse eu e os corpos ast ral, et érico e f ísico que essa at uação se f azia
valer. Por meio dela nasceu no homem a possibilidade de ref let ir conscient ement e em si a
sábia conf iguração do Universo, reproduzindo-a como num ref lexo cognit ivo.
Recordemos, conf orme f oi descrit o, que no ant igo período lunar o homem, pela
separação do Sol naquela época, adquiriu em sua organização uma cert a independência,
um grau de consciência mais livre do que aquele diret ament e oriundo dos seres solares.
Essa consciência livre e independent e ressurgiu — como herança da ant iga evolução lunar
— durant e a caract erizada época da evolução t errest re. No ent ant o, j ust ament e essa
consciência pôde, por inf luência dos mencionados seres t errilunares, ser novament e
levada à harmonia com o Universo, convert endo-se numa reprodução dest e. Assim t eria
ocorrido se nenhuma out ra inf luência se houvesse impost o. Sem a mesma, o homem se
t eria t ornado um ser com uma consciência cuj o cont eúdo t eria ref let ido o mundo nas
imagens da vida cognit iva como que por necessidade da nat ureza, e não por sua livre
int ervenção. Não f oi isso o que acont eceu. Na evolução do homem int erf eriram,
j ust ament e na época da separação da Lua, cert as ent idades espirit uais que ret iveram de
sua nat ureza lunar o bast ant e para não poderem part icipar da ret irada do Sol em relação à
Terra, e t ambém para serem excluídas das inf luências dos seres que se most ravam at ivos a
part ir da Lua t errenal para a Terra. Essas ent idades com a ant iga nat ureza lunar est avam,
de cert o modo, exiladas na Terra com uma evolução irregular. Em sua nat ureza lunar
residia precisament e o que, durant e a ant iga evolução lunar, se sublevara cont ra os
espírit os solares e, naquelas circunst âncias, redundara em benef icio do homem na medida
em que o conduzira a um est ado de consciência aut ônomo e livre.
As conseqüências da peculiar evolução desses seres durant e o período t errest re
acarret aram sua conversão, durant e o ref erido período, em adversários daquel es seres
que, at uando da Lua, queriam f azer da consciência humana um necessário espelho
cognit ivo do mundo. Aquilo que na ant iga Lua aj udara o homem a alcançar um est ado
superior most rou-se cont radit ório diant e das possibilidades surgidas na evolução t errest re.
As pot ências host is haviam t razido consigo, de sua nat ureza lunar, a f orça para at uar sobre
o corpo ast ral humano, especialment e — no sent ido das exposições acima — de t orná-l o
aut ônomo. Elas exerceram essa f orça dando ao corpo ast ral cert a independência — de

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agora em diant e t ambém para o período t errest re — em cont raposição ao est ado de
consciência necessár i o (não-l ivre) provocado pelos seres da Lua t errenal .
É dif ícil expressar em linguagem corrent e como eram os ef eit os das caract erizadas
ent idades espirit uais sobre o homem nas ref eridas eras primordiais. Não devemos imaginá-
los como as at uais inf luências da nat ureza, nem t ampouco como a at uação de um homem
sobre out ro quando o primeiro, por meio de palavras, despert a no segundo f orças
int eriores de consciência pelas quais o segundo aprende a compreender algo ou é incit ado
a uma ação moral ou imoral. O cit ado ef eit o nessas eras primordiais não era uma at uação
da nat ureza, e sim uma inf luência espirit ual, porém at uando t ambém espirit ualment e e,
nessa condição, t ransmit indo-se dos elevados seres espirit uais ao homem, de acordo com o
est ado de consciência humana de ent ão. Ao se imaginar o assunt o como um ef eit o da
nat ureza, não se f ará j us à sua verdadeira essência. Se, ao cont rário, f or dit o que as
ent idades com a ant iga nat ureza lunar se aproximaram do homem a f im de conquist á-l o
‘ sedut orament e’ para suas próprias met as, est ará sendo empregada uma expressão
simbólica, válida enquant o se mant iver consciência de seu carát er alegórico, t endo
present e que det rás do símbolo exist e uma real idade espirit ual.
A at uação que os seres espirit uais est acionados no est ado lunar exerciam sobre o
homem t eve para est e uma dupla conseqüência. Sua consciência f oi, com isso, despida do
carát er de simples espelho do Universo, pois no corpo ast ral humano f oi est imulada a
possibilidade de regul ar e dominar as imagens da consciência. O homem se t ornou senhor
de seu conheciment o. Por out ro lado, o pont o de part ida dessa soberania era j ust ament e o
corpo ast ral; e o eu, que lhe era superior, veio a f icar sob sua cont ínua dependência.
Assim o homem f icou, para t odo o f ut uro, expost o à incessant e inf luência de um element o
inf erior em sua nat ureza. Ele pôde, em sua vida, descer a um nível inf erior àquele em que
os seres t errilunares o haviam colocado, dent ro do suceder universal . E para as épocas
post eriores subsist iu, sobre sua nat ureza, a incessant e inf luência dos caract erizados seres
lunares irregularment e evoluídos. Pode-se chamar esses seres lunares — ao cont rário dos
out ros que, at uando da Lua t errenal, f ormavam a consciência como espelho do Universo
mas não concediam qualquer livre-arbít rio — de espírit os lucif éricos. Est es of ereceram ao
homem a possibilidade de desenvolver em sua consciência uma at ividade livre, mas com
isso t ambém a possibilidade do erro, do mal.
A conseqüência desses processos f oi que o homem est abeleceu, com os espírit os
solares, uma relação dif erent e daquela que lhe f ora dest inada pelos espírit os t errilunares.
Est es queriam desenvolver o espelho de sua consciência de t al f orma que, em t oda a vida
anímica humana, a inf luência dos espírit os sol ares f osse o element o predominant e. Esses
processos f oram ent recort ados, t endo-se criado no ser humano o cont rast e ent re a in-
f luência do Espírit o Solar e a inf luência dos espírit os com evolução lunar irregular. Em
decorrência desse cont rast e, surgiu no homem t ambém a impossibilidade de reconhecer as
inf luências solares f ísicas como t ais; est as permaneceram, para ele, ocult as at rás das
impressões t errest res do mundo ext erior. O element o ast ral do homem, replet o dessas
impressões, f oi at raído para a esf era do eu. Esse eu, que de out ra f orma só havia not ado a
cent elha de f ogo acendida nele pelos Espírit os da Forma, e em t udo o que concernia ao
f ogo ext erior submet era-se aos mandament os desses seres, passou desde ent ão a at uar,
t ambém graças ao element o inf undido nele próprio, sobre os f enômenos calóricos ext e-
riores. Com isso est abeleceu um laço de at ração ent re ele e o f ogo t errest re, inserindo
assim o homem na mat erialidade t errest re mais prof undament e do que lhe f ora
predest inado. Enquant o ant eriorment e o homem possuía um corpo f ísico cuj as part es prin-
cipais eram const it uídas de f ogo, ar e água, e ao qual se acrescent ara algo como uma
silhuet a de subst ância t errest re, agora o corpo compost o de t erra t ornou-se mais denso. E

100
enquant o ant eriorment e o homem, mais do que um ser sut ilment e est rut urado,
encont rava-se sobre o duro solo t errest re numa espécie de moviment o f lut uant e, a part ir
de ent ão t eve de descer da ‘ perif eria t errest re’ para as part es da Terra que j á est avam
mais ou menos solidif icadas.
A possibilidade de t erem surgído esses ef eit os f ísicos das descrit as inf luências
espirit uais f ica explicada pela nat ureza dessas inf luências, ref erida acima. Não se t rat ava
de inf luências nat urais nem daquelas que at uam animicament e de pessoa para pessoa.
Est as últ imas não inserem seu ef eit o t ão prof undament e no corpóreo como as f orças
espirit uais em quest ão.
Pelo f at o de o homem se expor a inf luências do mundo ext enor, conf orme suas
próprias represent ações ment ais suj eit as a erros, e por viver segundo apet it es e paixões
que ele não deixou regular pelas inf luências espirit uais superiores, surgiu a possibilidade
de doenças. No ent ant o, um ef eit o especial da inf luência lucif érica f oi que de ent ão em
diant e o homem j á não podia sent ir sua vida t errest re individual como cont inuação da
exist ência incorpórea. A part ir daí ele recebia impressões t errest res que podiam ser
vivencíadas por meio do element o ast ral inf undido e se ligavam às f orças que dest ruíam o
corpo f ísico. O homem sent ia isso como a ext inção de sua vida t errest re. E assim surgiu a
‘ mort e’ , causada pel a própria nat ureza humana. Com isso t ocamos num signif icat ivo
mist ério da nat ureza do homem: a relação do corpo ast ral humano com as enf ermidades e
a mort e.
Para o corpo vit al humano surgiram, ent ão, circunst âncias especiais. Ele f oi int egrado
numa t al relação ent re os corpos f ísico e ast ral que, em cert o sent ido, viu-se subt raído às
f aculdades das quais o homem se havia apropriado pela inf luência lucif érica. Uma part e
desse corpo vit al permaneceu de t al maneira f ora do corpo f ísico que agora podia ser
dominada pelas ent idades superiores, e não pelo eu humano. Essas ent idades superiores
eram aquelas que, quando da separação do Sol, abandonaram a Terra para, sob a direção
de uma das mais elevadas ent re elas, assumir out ro domicílio. Se a ref erida part e do corpo
vit al t ivesse permanecido unida ao corpo ast ral, o homem t eria col ocado a seu próprio
serviço as f orças supra-sensíveis que ant eriorment e lhe pert enciam — t eria est endido a
inf luência lucif érica a essas f orças. Com isso se t eria af ast ado gradualment e dos seres
solares, e seu eu se t eria t ornado um eu purament e t errest re. Necessariament e ocorreria
que, depois da mort e do corpo f ísico (ou sej a, j á durant e sua decadência), esse eu
t errest re t eria habit ado out ro corpo f ísico, o corpo de um descendent e, sem passar por
uma ligação com ent idades espirit uais superiores num est ado incorpóreo. O homem t eria
assim chegado à consciência de seu eu, mas apenas como um ‘ eu t errest re’ . Isso f oi
evit ado graças àquele processo com o corpo vit al, provocado pelos seres t errilunares. Com
isso o eu individual propriament e dit o f oi t ão separado do simples eu t errest re que,
durant e sua vida t errena, na verdade o homem só se sent ia parcialment e como um eu
individual, ao mesmo t empo sent indo como seu eu t errest re era uma cont inuação do eu
t errest re de seus ant epassados at ravés de gerações. A alma sent ia, na vida t errena, uma
espécie de ‘ eu grupal’ est endido at é os ant epassados remot os, e o homem t inha a
sensação de ser membro do grupo. Soment e no est ado incorpóreo o eu individual podia
sent ir-se como ser individual. Porém o est ado dessa individuação era prej udicado pelo f at o
de o eu cont inuar suj eit o à recordação da consciência t errest re (eu t errest re). Isso
obscurecia a visão do mundo espirit ual, que ent re a mort e e o nasciment o começava como
que a cobrir-se com um véu, t al qual em relação à visão f ísica na Terra.
A expressão f ísica de t odas as t ransf ormações que ocorriam no mundo espirit ual,
enquant o a evolução humana at ravessava as condições descrit as, era o paulat ino equilíbrio
das int er-relações ent re o Sol, a Lua e a Terra (e, em sent ido mais amplo, t ambém ent re

101
out ros ast ros). Como uma das conseqüências ent re essas relações dest aca-se a alt ernância
ent re o dia e a noit e. (Os moviment os dos ast ros são regul ados pelos seres que os habit am.
O moviment o da Terra, que dá origem ao dia e à noit e, f oi provocado pelas int er-relações
ent re os diversos espírit os sit uados acima do homem. Do mesmo modo, t ambém o
moviment o da Lua surgiu para que, após sua separação da Terra e mediant e sua rot ação
em t orno dest a, os Espírit os da Forma pudessem at uar sobre o corpo f ísico humano da
maneira corret a e no rit mo adequado. ) Durant e o dia, o eu e o corpo ast ral do homem
at uavam nos corpos f ísico e vit al. Durant e a noit e essa at ividade cessava; ent ão o eu e o
corpo ast ral saíam dos corpos f ísico e vit al, f icando, nesse período, int eirament e no
domínio dos Filhos da Vida (Anj os), dos Espírit os do Fogo (Arcanj os), dos Espírit os da
Personalidade e dos Espírit os da Forma. Os corpos f ísico e vit al f icavam compreendidos no
campo de at ividade não só dos Espírit os da Forma como t ambém dos Espírit os do
Moviment o, dos Espírit os da Sabedoria e dos Tronos. Assim, os ef eit os nocivos que os erros
do corpo ast ral exerciam sobre o homem durant e o dia podiam ser reparados.
À medida que os homens volt avam a mult iplicar-se na Terra, j á não exist ia razão
alguma para que as al mas humanas não se encaminhassem para a encarnação em seus
descendent es. Já que agora at uavam f orças t errilunares, sob sua inf luência f ormavam-se
os corpos humanos int eirament e adequados à encarnação de almas humanas. Ent ão as
almas que ant es haviam emigrado para Mart e, Júpit er, et c. f oram conduzidas à Terra.
Com isso havia uma alma para cada descendent e humano nascido na seqüência das
gerações. Isso cont inuou durant e l ongo t empo, de maneira que a af luência das almas à
Terra correspondesse à propagação dos homens. As almas que com a mort e t errena
abandonavam o corpo conservavam, para o est ado incorpóreo, o eco da individualidade
t errest re como uma recordação. Essa recordação at uava de maneira que, logo ao nascer
novament e na Terra um corpo que lhe f osse adequado, ela se reencarnava nele. Dent ro da
descendência humana havia, por conseqüência, homens com almas oriundas do ext erior —
as quais apareciam pel a primeira vez na Terra após suas épocas primordiais — e out ros
com almas reencarnadas de f orma t errena.
Na seqüência da evolução t errest re, as almas j ovens surgidas pela primeira vez
f oram-se t ornando raras, enquant o aument ava o número das almas reencarnadas.
Cont udo, durant e muit o t empo o gênero humano consist iu nesses dois t ipos dehomens,
condicionados por t ais f at os. Na Terra, agora o homem se sent ia mais unido a seus
ant epassados por meio do eu grupal comum. A vivência do eu individual era, por isso, mais
f ort e no est ado incorpóreo ent re a mort e e um novo nasciment o. As almas que, advindas
do espaço celest e, penet ravam em corpos humanos, encont ravam-se em sit uação
dif erent e daquelas que j á t inham at rás de si uma ou mais vidas t errest res. As primeiras
t raziam para a vida t errest re f ísica, enquant o almas, soment e as condições às quais
est avam submet idas pelo mundo espirit ual superior e pelas experiências f eit as f ora do
âmbit o t errest re. As out ras haviam, elas próprias, acrescent ado condições em vidas an-
t eriores. O dest ino daquelas almas era det erminado apenas por f at os sit uados f ora das
novas condições t errest res. O das almas reencarnadas t ambém é det erminado pelo que
elas mesmas f izeram em vidas ant eriores sob condições t errest res. Com a reencarnação
surgiu, ao mesmo t empo, o carma humano individual.
Pelo f at o de o corpo vit al humano se haver subt raído à inf luência do corpo ast ral, da
maneira acima descrit a, as condições reprodut oras não ent raram no âmbit o da consciência
humana, sendo governadas pelo mundo espirit ual. Quando uma al ma devia descer ao
ambient e t errest re, despert ava no homem t erreno o impulso para a reprodução. Todo o
processo est ava, at é cert o grau, envolt o numa penumbra mist eriosa para a consciência
t errest re.

102
Mas t ambém durant e a vida t errest re se manif est avam as conseqüências dessa
separação parcial ent re o corpo vit al e o corpo f ísico. As f aculdades desse corpo vit al
podiam ser especialment e aument adas pela inf luência espirit ual. Na vida anímica, isso se
expressava num desenvolviment o especial da memória. Nesse período do homem, o
pensament o lógico aut ônomo est ava apenas em seus primórdios, enquant o a capacidade
recordat iva era quase ilimit ada. Em relação ao ext erior, o homem parecia possuir um
conheciment o diret ament e sent iment al das f orças at ivas em t udo o que era vivo. Ele podia
colocar a seu serviço as f orças da vida e da reprodução animal, e principalment e da na-
t ureza veget al. Sabia, por exemplo, ext rair da plant a aquilo que a incit a ao cresciment o e
empregá-l o do mesmo modo como at ualment e ut iliza as f orças da nat ureza inanimada,
como a f orça lat ent e no carvão de pedra que é ut il izada para pôr a máquina em
moviment o. (Mais det alhes a esse respeit o podem ser encont rados em meu pequeno livro
Unser e at l ant i schen Vor f ahr en [ Nossos ant epassados at lânt icos] . 43 )
Também a vida anímica int erior do homem se modif icou das mais diversas f ormas
devido à inf luência lucif érica. Poderíamos apont ar muit os t ipos de sent iment os e
sensações que daí se originaram, mas cit aremos apenas alguns exemplos. At é ocorrer essa
inf luência, a alma humana, em sua at uação e seu t rabalho f ormat ivo, at uava de acordo
com as int enções das ent idades espirit uais superiores. O plano de t udo o que devia ser
realizado est ava det erminado de ant emão, e na medida de seu desenvolviment o a
consciência humana podia prever a evolução f ut ura dos acont eciment os segundo esse
plano det erminado. Essa consciência prof ét ica se perdeu quando diant e da manif est ação
das ent idades espirit uais superiores se est endeu o véu das percepções t errest res,
ocult ando-se nelas as verdadeiras f orças dos seres solares. De ent ão em diant e o f ut uro se
t ornou incert o, e com isso se implant ou na al ma a possibilidade do sent iment o de t emor.
O t emor é uma conseqüência diret a do erro.
Por out ro lado t ambém se vê como, sob a inf luência lucif érica, o homem se t ornou
independent e de cert as f orças às quais, ant es, est ava involunt ariament e ent regue. A
part ir de ent ão ele pôde t omar decisões por si mesmo. A liberdade é o result ado dessa
inf luência, sendo o t emor e sent iment os semelhant es apenas conseqüência da evolução do
homem para a liberdade.
Do pont o de vist a espirit ual, o surgiment o do t emor signif ica que dent ro das f orças
t errest res, a cuj a inf luência o homem f ora submet ido pelas pot ências lucif éricas, est avam
at ivos out ros poderes que, no decorrer da evolução, haviam assumido uma irregularidade
muit o ant es dos lucif éricos. Com as f orças t errest res, o homem acolheu em seu ser as
inf luências dessas pot ências. A sent iment os que sem elas t eriam at uado de modo bem
diverso, elas deram o at ribut o do t emor. Pode-se chamar essas ent idades de arimânicas;
t rat a-se das mesmas que — no sent ido de Göet he — podem ser denominadas
mef ist of élicas.
Embora inicialment e se haj a f eit o sent ir apenas nos homens mais evoluídos, l ogo a
inf luência lucif érica se est endeu t ambém a out ros. Os descendent es dos mais adiant ados
miscigenaram-se com os menos adiant ados, caract erizados acima, e com isso a f orça
lucif érica se imiscuiu t ambém nest es últ imos. No ent ant o, o corpo vit al das al mas que
regressavam dos planet as não podia ser prot egido no mesmo grau em que o corpo vit al dos
descendent es daqueles que haviam permanecido na Terra. A prot eção dest e últ imo
provinha de um elevado Ser que dirigia o Cosmo quando o Sol se separou da Terra. No

43
Text o publicado inicialment e como capít ulo da série ‘ Da Crônica do Akasha’ (Aus der Akasha-Chr oni k) no
periódico Lúcif er-Gnosis, f undado pelo Aut or, e como edição independent e com o t ít ulo em quest ão, sob
f orma de livro, em 1908 (Berlim). At ualment e em Aus der Ahasha-Chr oni k (1904—1908), GA-Nr. 11 [ 6. ed.
Dornach: Rudolf St einer Verlag, 1986] , pp. 21—56. (N. E. orig. )
[ Capít ulo da ed. brasileira A Cr ôni ca do Akasha, t rad. Lavínia Viot t i (São Paulo: Ant roposóf ica, 1994. (N. E. )]

103
domínio aqui considerado, esse Ser aparece como o regent e no reino sol ar. Com ele
emigraram para a morada sol ar os sublimes espírit os que, por sua evolução cósmica,
haviam alcançado a mat uridade para isso.
Mas t ambém houve seres que, durant e a separação do Sol, não haviam ascendido a
t al alt ura. Eles deveriam buscar out ro cenário para si. Foi j ust ament e por meio deles que
Júpit er e out ros planet as se desprenderam da subst ância cósmica comum que inicialment e
se achava no organismo f ísico t errest re. Júpit er t ornou-se a morada desses seres que não
haviam amadurecido para o nível solar. O mais evoluído deles t ornou-se o dirigent e de
Júpit er. Assim como o dirigent e da evolução solar se t ornou o ‘ Eu Superior’ at uant e no
corpo vit al dos descendent es dos homens que haviam f icado na Terra, esse dirigent e de
Júpit er t ornou-se o ‘ Eu Superior’ que at ravessou, como uma consciência col et iva, os
homens oriundos de uma miscigenação ent re os f ilhos dos que haviam f icado na Terra e os
que, da f orma acima descrit a, haviam aparecido na Terra soment e na época do element o
aéreo, emigrando em seguida para Júpit er. No sent ido da Ciência Espirit ual, podemos
chamar esses homens de ‘ j upit erianos’ . Trat ava-se de descendent es humanos que,
naquela época remot a, j á haviam acolhido almas humanas — porém almas que, no início
do ciclo t errest re, não est avam maduras o bast ant e para part icipar do primeiro cont at o
com o f ogo. Eram almas sit uadas ent re o reino anímico humano e o reino anímico animal .
Havia ainda out ros seres que, sob a direção de um mais elevado, haviam separado
Mart e da subst ância cósmica comum, est abelecendo aí sua morada. Sob sua inf luência
adveio uma t erceira cat egoria de homens, surgidos por miscigenação: os ‘ marcianos’ . (A
part ir dest es conheciment os, uma luz incide sobre as origens da f ormação dos planet as do
nosso sist ema solar — pois t odos os ast ros dest e sist ema se originaram dos diversos graus
de mat uridade dos seres qüe os habit avam. Cont udo não podemos, nat uralment e, ent rar
aqui em t odos os pormenores das ramif icações cósmicas. )
Os homens que percebiam em seu corpo vit al a presença do elevado Ser Solar podem
ser denominados ‘ homens solares’ . O ser que vivia neles como ‘ Eu Superior’ —
nat uralment e apenas nas gerações, e não no indivíduo — é aquele que mais t arde, quando
os homens alcançaram um conheciment o conscient e a seu respeit o, f oi designado por
diversos nomes, sendo para o homem at ual o pont o onde se revela a relação que o Crist o
t em com o Cosmo.
Pode-se dist inguir ainda os ‘ homens sat urninos’ . Em seu caso, o ‘ Eu Superior’ era um
ser que, ant es da separação do Sol, t eve de abandonar a subst ância cósmica comum com
seus companheiros. Esse era um t ipo de homens que possuíam não só em seu corpo vit al,
mas t ambém em seu corpo f ísico, uma part e que permaneceu subt raída à inf luência
lucif érica.
Ora, nos t ipos humanos de um nível inf erior o corpo vit al era muit o pouco prot egido
para poder resist ir suf icient ement e às inf luências do ser lucif érico. Eles conseguiam
est ender a t al pont o a arbit rariedade da cent elha do eu exist ent e neles que provocavam
em seu ambient e poderosos ef eit os ígneos de t ipo pernicioso. A conseqüência f oi uma
f ormidável cat ást rof e t errest re. Devido a t orment as de f ogo, grande part e da Terra ent ão
habit ada f oi dest ruída e, com ela, os homens caídos em erro. Apenas a menor f ração, que
em part e permanecia int ocada pelo erro, pôde salvar-se numa região t errest re at é ent ão
prot egida da perniciosa inf luência humana. Essa morada especialment e própria para a
nova humanidade f oi a região da Terra at ualment e cobert a pelo Oceano At lânt ico. Para lá
emigrou a part e da humanidade que se havia conservado mais pura de erro. Soment e
indivíduos dispersos habit avam out ras localidades.

A época at l ânt i ca

104
No sent ido da Ciência Espirit ual, podemos chamar de At lânt ida o cont inent e ent ão
sit uado ent re os limit es at uais da Europa, Áf rica e América. (Na lit erat ura pert inent e
encont ram-se, de cert a f orma, alusões à época da evolução humana ant erior à at lânt ica.
Denomina-se época lemúrica da Terra aquela à qual se seguiu a at lânt ica. Por out ro lado,
a época em que as f orças lunares ainda não haviam produzido seus ef eit os principais pode
ser chamada de hiperbórea. Essa é ainda precedida por out ra, que coincide com os
primórdios da evolução f ísica t errest re. Na t radição bíblica, a época ant erior à
int ervenção lucif érica é descrit a como a época paradisíaca, e a descida dos homens à
Terra e sua int egração no mundo f ísico como ‘ expulsão do Paraíso’ . )
A evolução no âmbit o da At lânt ida f oi a época da verdadeira divisão em seres
humanos sat urninos, solares, j upit erianos e marcianos. Ant eriorment e haviam sido, na
verdade, desenvolvidos apenas os rudiment os para isso. Ora, a divisão ent re vigília e sono
t eve, para o ser humano, conseqüências part iculares que se manif est aram principalment e
na humanidade at lânt ica. Durant e a noit e, o corpo ast ral e o eu do homem encont ravam-
se no domínio dos seres superiores a eles, at é alcançar os Espírit os da Personalidade.
Mediant e a part e de seu corpo vit al que não est ava unida ao corpo f ísico, o homem podia
t er a percepção dos Espírit os da Sabedoria (Anj os) e dos Espírit os do Fogo (Arcanj os), pois
durant e o sono podia f icar unido à part e do corpo vit al não penet rada pelo corpo f ísico. No
ent ant o, a percepção dos Espírit os da Personalidade permanecia indef inida, j ust ament e
por causa da inf luência lucif érica. Com os Anj os e os Arcanj os, porém, t ornaram-se
igualment e visíveis ao homem, no ref erido est ado, aqueles seres que não podiam ent rar na
exist ência t errest re por se haverem at rasado no Sol ou na Lua. Eles deviam, port ant o, per-
manecer no mundo anímico-espirit ual. Cont udo o homem os at raiu, por int ermédio do ser
lucif érico, para o âmbit o de sua alma separada do corpo f ísico. Com isso, ent rou em
cont at o com seres que at uaram sobre ele maneira alt ament e t ent adora. Eles aument aram
na al ma a t endência ao erro, part icularment e ao abuso das f orças do cresciment o e da
reprodução, que em virt ude da separação ent re os corpos f ísico e vit al est avam em seu
poder.
A alguns seres humanos da época at lânt ica f oi dada a possibilidade de int egrar-se o
menos possível no mundo sensível. Graças a eles, a inf luência lucif érica se t ransf ormou de
obst áculo à evolução da humanidade em inst rument o para um progresso superior, f azendo
com que eles f icassem em condições de desenvolver, mais cedo do que f ora previst o, o
conheciment o para as coisas t errest res. Em t al sit uação, esses homens procuravam af ast ar
o erro de sua vida das represent ações ment ais e descobrir as int enções originais dos seres
espirit uais a part ir dos f enômenos do mundo visível. Eles se preservavam das inclinações e
apet it es dirigidos simplesment e ao mundo sensível, próprios do corpo ast ral, f icando cada
vez mais livres dos erros dest e últ imo. Isso produziu neles cert os est ados que só lhes
permit iu t er percepções naquela part e do corpo vit al separada do corpo f ísico, conf orme
descrit o. Nesses est ados a f aculdade percept iva do corpo f ísico f icava como que ext int a, e
est e parecia mort o. Ent ão, por int ermédio de seu corpo vit al, eles f icavam est reit ament e
ligados ao reino dos Espírit os da Forma, podendo perceber como est es são conduzidos e
governados pelo elevado ser que exercia a direção durant e a separação ent re o Sol e a
Terra e por cuj o int ermédio mais t arde se abriu aos homens a compreensão do ‘ Crist o’ .
Esses homens eram os iniciados.
Cont udo, como a individualidade humana havia, conf orme descrit o, penet rado no
domínio dos seres lunares, via de regra nem mesmo esses iniciados podiam ent rar em
cont at o imediat o com o Ser Solar: est e só podia aparecer-lhes como um espelhament o
int ermediado pelos seres lunares. Ent ão esses homens não viam diret ament e o Ser Solar, e

105
sim seu ref lexo. Eles se t ornaram os guias do rest ant e da humanidade, à qual podiam
comunicar os mist érios cont emplados. At raíam discípulos a quem ensinavam os caminhos
para alcançar o est ado que conduz à iniciação. Ao conheciment o do que ant eriorment e se
revelava por int ermédio do ‘ Crist o’ só podiam chegar os homens pert encent es ao grupo
dos homens solares, no sent ido indicado. Eles cult ivavam seu saber mist erioso, bem como
as prát icas que conduziam a ele, num local especial que aqui será chamado de Oráculo do
Crist o ou Oráculo do Sol. (Oráculo no sent ido de lugar onde se capt am as int enções dos
seres espirit uais. )
O que aqui se diz acerca do Crist o só não será int erpret ado erroneament e ao se
considerar que o conheciment o supra-sensível deve ver no apareciment o do Crist o na
Terra um f at o aludido prof et icament e pelos que, ant es de sua realização, est avam f ami-
liarizados com o sent ido da evol ução t errest re. Seria um erro pressupor, ent re esses
‘ iniciados’ e o Crist o, uma rel ação que só se t ornou possível graças a esse acont eciment o.
Porém i st o eles podiam compreender prof et icament e, t ornando compreensível a seus
discípulos o seguint e: “ Quem é t ocado pelo poder do Ser Solar vê o Crist o aproximar-se da
Terra. ”
Out ros oráculos f oram f undados pela humanidade sat urnina, marciana e j upit eriana.
Seus iniciados só podiam elevar sua cont emplação at é as ent idades que podiam revelar-se
em seus corpos vit ais como os respect ivos ‘ Eus Superiores’ . Assim surgiram adept os das
sabedorias sat urnina, j upit eriana e marciana. Além desses mét odos de iniciação havia
out ros, para homens que haviam absorvido demais da essência lucif érica para deixar uma
parcela t ão grande de seu corpo vit al f icar separada do corpo f ísico como os homens
solares. Nel es o corpo ast ral ret inha mais do corpo vit al no corpo f ísico do que no caso dos
homens solares. Eles t ampouco podiam, pelos est ados mencionados, ser levados
àrevelação prof ét ica do Crist o. Por causa de seu corpo ast ral mais inf luenciado pelo
principio lucif érico, deviam passar por uma disciplina mais severa, podendo ent ão, num
est ado menos incorpóreo do que os demais, receber não a manif est ação revelada do
próprio Crist o, mas a de out ros seres superiores.
Havia seres que, embora houvessem abandonado a Terra durant e a separação do Sol,
nem por isso se encont ravam à alt ura de part icipar por muit o t empo da evolução solar.
Após a separação ent re o Sol e a Terra, eles dest acaram do Sol um domicílio para si — o
planet a Vênus. Seu dirigent e f oi o ser que ent ão se convert eu no ‘ Eu Superior’ para os
mencionados iniciados e seus discípulos. Algo semelhant e sucedeu com o espírit o dirigent e
de Mercúrio, para out ro t ipo de homens. Assim nasceram os oráculos de Vênus e Mercúrio.
Cert o t ipo de homens que sof reram ao máximo a inf luência lucif érica só podiam
elevar-se at é um ser que, com seus adept os, f ora o mais remot ament e expulso da
evolução solar. Esse não possuía qualquer pl anet a especial no espaço cósmico, vivendo
ainda na perif eria da própria Terra, à qual se unira novament e após o regresso do Sol. Os
homens aos quais esse ser se revelava como Eu Superior podem ser chamados de adept os
do Oráculo de Vulcão. Seu olhar era mais dirigido aos f enômenos t errest res do que o dos
out ros iniciados. Foram eles que lançaram os primeiros f undament os daquilo que surgiu
ent re os homens como ciências e art es. Os iniciados de Mercúrio, em compensação,
lançaram os f undament os das coisas mais supra-sensíveis — o que f oi f eit o em grau ainda
mais elevado pelos iniciados de Vênus.
Os iniciados de Vulcão, Mercúrio e Vênus dist inguiam-se dos iniciados de Sat urno,
Júpit er e Mart e pelo f at o de est es últ imos receberem seus mist érios mais como uma
revelação oriunda de cima, de uma f orma j á pront a, enquant o os primeiros recebiam seu
saber j á mais sob f orma de pensament os próprios, de idéias. No meio sit uavam-se os
iniciados do Crist o. Eles recebiam, j unt ament e com a revelação diret a, a f aculdade de

106
revest ir seus mist érios com f ormas conceit uais humanas. Os iniciados de Sat urno, Júpit er e
Mart e deviam expressar-se mais em símbolos; os iniciados do Crist o, de Vênus, Mercúrio e
Vulcão podiam expressar-se mais em represent ações ment ais.
O que, dessa f orma, chegou à humanidade at lânt ica adveio indiret ament e, por meio
dos iniciados. Mas t ambém o rest ant e da humanidade adquiriu, por int ermédio do
princípio lucif érico, f aculdades especiais na medida em que f oi t ransf ormado em be-
nef ício, pelas ent idades cósmicas superiores, o que de out ro modo poderia t er sido f at al.
Uma dessas f aculdades é a linguagem. Ela f oi out orgada ao homem por causa da
condensação dest e na mat erialidade f ísica e pela separação de uma part e de seu corpo
vit al do corpo f ísico.
Nos t empos post eriores à separação da Lua, inicialment e o homem sent ia-se ligado a
seus ant epassados pelo eu de grupo. Porém essa consciência comum, que unia os
descendent es aos ant epassados, perdeu-se gradualment e no decorrer das gerações. Ent ão
os descendent es post eriores t inham a recordação int erior soment e at é um ant epassado
não muit o longínquo; at é os ant epassados remot os, não mais. Apenas nos est ados
semelhant es ao sono, nos quais os homens ent ravam em cont at o com o mundo espirit ual,
surgia novament e uma recordação dest e ou aquele ant epassado. Ent ão os homens se
consideravam unos com esse ant epassado que acredit avam t er reaparecido neles. Essa f oi
uma concepção errônea da reencarnação, surgida especialment e no últ imo período
at lânt ico. A verdadeira dout rina da reencarnação só podia ser experiment ada nas escolas
dos iniciados. Os iniciados viam como, em seu est ado incorpóreo, a al ma vai de encarna-
ção em encarnação; e só eles podiam comunicar a seus discípulos a verdade a t al respeit o.
Nos t empos remot os aqui ref eridos, a f orma f ísica do homem ainda era muit o
dif erent e da at ual. Essa f orma ainda era, em alt o grau, a expressão das qualidades
anímicas. O homem ainda consist ia numa mat erialidade mais sut il, mais t ênue do que a
assumida post eriorment e. Aquilo que hoj e est á solidif icado era macio, f lexível e maleável
em seus membros. Um homem mais anímico, mais espirit ualizado, possuía uma
const it uição delicada, móvel e expressiva; j á o menos evoluído espirit ualment e ost ent ava
f ormas corporais grosseiras, pesadas e pouco f lexíveis. O progresso anímico cont raía os
membros, e a est at ura mant inha-se pequena; j á o at raso anímico e o envolviment o na
sensualidade manif est ava-se numa est at ura gigant esca. Durant e o período de cresciment o
do homem, o corpo se modelava — de uma maneira que pareceria f abulosa ou at é
f ant ást ica à ment alidade at ual — conf orme o que se f ormava na alma. A perversão nos
inst int os, apet it es e paixões acarret ava um cresciment o gigant esco do element o mat erial
do homem.
A f orma humana f ísica at ual surgiu pela cont ração, condensação e enrij eciment o do
homem at lânt ico. Enquant o ant es da época at lânt ica o homem era uma reprodução f iel de
sua ent idade anímica, j ust ament e os processos da evolução at lânt ica t rouxeram em si as
causas que conduziram ao homem pós-at lânt ico, que em sua f orma f ísica é sólido e
relat ivament e pouco dependent e das qualidades anímicas. (O reino animal, quant o às suas
f ormas, solidif icou-se na Terra muit o ant es do homem. ) As leis at ualment e subj acent es à
est rut uração das f ormas nos remos da nat ureza não devem, de modo algum, ser
est endidas a passados mais remot os.
Em meados da evolução at lânt ica, uma calamidade se abat eu gradualment e sobre a
humanidade. Os segredos dos iniciados deveriam t er sido cuidadosament e resguardados
dos homens que, mediant e uma preparação, não t ivessem depurado seu corpo ast ral do
erro. Se est es t ivessem acesso ao conheciment o ocult o, às leis pelas quais os seres
superiores dirigem as f orças nat urais, iriam colocá-las a serviço de suas necessidades e
paixões desviadas. O perigo era t ant o maior quant o mais os homens, conf orme f oi dit o,

107
houvessem chegado ao domínio de seres espirit uais inf eriores, que não podiam
acompanhar a evolução t errest re regular e, port ant o, f aziam-l he oposição. Esses
inf luenciavam cont inuament e os homens, de modo a inspirar-lhes int eresses
verdadeirament e cont rários ao bem da humanidade. Cont udo, os homens possuíam ainda a
f aculdade de colocar a seu serviço as f orças de cresciment o e reprodução exist ent es na
nat ureza animal e humana.
As t ent ações advindas de seres espirit uais inf eriores subj ugavam não apenas homens
comuns, mas t ambém uma part e dos iniciados. Eles chegaram a usar as mencionadas
f orças supra-sensíveis para f ins cont rários à evolução humana. Com essa f inalidade,
procuraram adept os que não f ossem iniciados e que aplicassem os segredos dos ef eit os
nat urais supra-sensíveis num sent ido t ot alment e inf erior. A conseqüência f oi uma grande
corrupção da humanidade. O mal se dif undiu cada vez mais. E como as f orças de
cresciment o e reprodução, uma vez ext irpadas do seu solo nat ural e empregadas
independent ement e, encont ram-se numa mist eriosa relação com cert as f orças que at uam
no ar e na água, por causa dos at os humanos desencadearam-se f ormidáveis f orças
nat urais dest rut ivas. Isso conduziu à gradual dest ruição da região at lânt ica por cat ást rof es
aéreas e aquát icas. A humanidade at lânt ica t eve de emigrar na medida em que não era
ext erminada nos cat aclismos.
Naquela época, a Terra recebeu uma nova f eição por causa de t ais cat aclismos. De
um lado, a Europa, a Ásia e a Áf rica f oram progressivament e assumindo as f ormas que
possuem hoj e; de out ro lado, t ambém a América. Para esses cont inent es af luíram grandes
corrent es migrat órias. Para a época at ual, são especialment e import ant es aquelas que da
At lânt ida se dirigiram para lest e. A Europa, a Asia e a Áf rica f oram cada vez mais
ocupadas pelos descendent es dos at lant es. Di versos povos est abeleceram aí seu domicílio.
Eles est avam em diversos níveis de evolução, mas t ambém em diversos níveis de
perversão. E em seu meio emigraram t ambém os iniciados, guardiães dos mist érios dos
orácuj os. Est es f undaram, em diversas regiões, locais onde se cult ivava o cult o a Júpit er,
Vênus, et c. , t ant o no bom como no mau sent ido. Uma inf luência part icularment e nociva
f oi exercida pela t raição dos mist érios de Vul cão, pois o olhar de seus adept os est ava
volt ado principalment e para as condições t errest res. Por causa dessa t raição a
humanidade caiu sob a dependência de seres espirit uais que, devido à sua evolução
ant erior, eram inimigos de t udo o que procedesse do mundo espirit ual desenvolvido pela
separação ent re a Terra e o Sol . De acordo com sua predisposição assim surgida, eles
at uavam j ust ament e no element o que se f ormara no homem pelo f at o de est e t er, no
mundo sensível, percepções at rás das quais o espirit ual se ocult ava. A part ir de ent ão
esses seres adquiriram uma grande inf luência sobre muit os habit ant es humanos da Terra,
inf luência que se f ez valer inicialment e pela gradual ext inção da sensibilidade do homem
em relação ao espirit ual.
Como nessa época o t amanho, a f orma e a f lexibilidade do corpo f ísico humano ainda
est avam alt ament e dirigidos para as qual idades da alma, a conseqüência da ref erida
t raição manif est ou-se t ambém em t ransf ormações do gênero humano nessa direção.
Quando a perversidade humana se impunha especialment e de f orma que f orças supra-
sensíveis eram colocadas a serviço de apet it es, inst int os e paixões inf eriores, f ormaram-se
f iguras humanas disf ormes, grot escas quant o ao t amanho e à conf ormação. Essas, aliás,
não puderam mant er-se além do período at lânt ico, vindo a ext inguir-se. A humanidade
pós-at lânt ica se desenvolveu f isicament e a part ir dos ant epassados at l ânt icos nos quais j á
havia uma f orma corporal suf icient ement e consist ent e, de modo a não se renderem às
f orças anímicas cont rárias à nat ureza.
Houve cert o período na evolução at lânt ica em que, devido a leis que regiam a Terra

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e suas proximidades, impuseram-se à f orma humana as condições que a obrigaram a
adensar-se. Embora as f ormas raciais humanas que se haviam adensado ant es dessa época
pudessem cont inuar a reproduzir-se ainda por muit o t empo, as almas que nelas se
encarnavam sent iram-se pouco a pouco t ão conf inadas que as raças t iveram de ext inguir-
se. Cont udo, j ust ament e algumas dessas f ormas raciais se mant iveram ainda durant e as
épocas pós-at lânt icas; as que se conservaram suf icient ement e maleáveis duraram ainda
mais t empo, sob uma f orma modif icada. As f ormas humanas que haviam permanecido
f lexíveis além da época caract erizada t ornaram-se principalment e corpos [ adequados]
para as almas que experiment aram em alt o grau a inf luência perniciosa da j á cit ada
t raição. Elas est avam dest inadas a uma breve ext inção.
Assim, pois, desde meados da evolução at l ânt ica se impuseram, no âmbit o da
evolução humana, seres que at uavam no sent ido de levar o homem int egrar-se no mundo
f ísico-sensível de f orma não-espirit ual. Isso podia avançar a pont o de se apresent arem a
ele, em vez do aspect o real do mundo, miragens, f ant asmagorias e ilusões de t oda
espécie. O homem est ava expost o não apenas à inf luência lucif érica, mas t ambém à de
out ros seres j á ref eridos e cuj o líder pode ser chamado, segundo a designação que mais
t arde recebeu na cul t ura persa, de Arimã. (Trat a-se do mesmo ser conhecido por
Mef ist óf eles. ) Por essa inf luência, após a mort e o homem caía sob o domínio de pot ências
que o levavam a manif est ar-se apenas como um ser dedicado ao mundo sensorial
t errest re. A livre cont emplação dos processos do mundo espirit ual lhe f oi cada vez mais
subt raída. Ele t eve de sent ir-se sob o poder de Arimã e, at é cert o pont o, ser excluído da
comunhão com o mundo espirit ual.
De especial import ância era um oráculo que, em meio à decadência geral, conservara
o ant igo cult o da f orma mais pura possível. Ele f azia part e dos oráculos do Crist o, e por
esse mot ivo podia conservar não apenas o mist ério do próprio Crist o, mas t ambém os
mist érios dos out ros oráculos, pois na manif est ação do sublime Espírit o Sol ar se revelavam
t ambém os dirigent es de Sat urno, Júpit er, et c. No oráculo solar conhecia-se o segredo de
produzir, nest e ou naquele indivíduo, corpos vit ais humanos t al como os haviam possuído
os melhores iniciados de Júpit er, Mercúrio, et c. Com os meios apropriados para isso, sobre
os quais não nos est enderemos aqui, f azia-se com que as impressões dos melhores corpos
vit ais dos ant igos iniciados se conservassem e homens post eriores condizent es f ossem
impregnados com elas. Por int ermédio dos iniciados de Vênus, Mercúrio e Vulcão, t ais pro-
cessos podiam ocorrer t ambém com os corpos ast rais.
Em cert o moment o, o líder dos iniciados do Crist o se viu isolado com al guns acólit os,
aos quais só podia comunicar os mist érios do mundo em escala muit o l imit ada. Ora, esses
acólit os eram pessoas que, por disposição nat ural, haviam recebido um mínimo da
separação ent re os corpos f ísico e vit al. Tais homens eram, nesse ínt erim, sem dúvida os
melhores para o progresso ult erior da humanidade. Neles se haviam imiscuído cada vez
menos as vivências no âmbit o do est ado de sono. O mundo espirit ual f oi-se t ornando cada
vez mais inacessível para eles. Por out ro lado, t ambém lhes f alt ava a compreensão para
t udo o que se havia revelado em ant igas épocas, quando o homem não est ava em seu
corpo f ísico, mas apenas em seu corpo vit al. Os homens do círculo imediat o daquele guia
do orácul o do Crist o est avam adiant ados ao máximo quant o à união, com o corpo f ísico, da
parcela do corpo vit al ant eriorment e separada dele. Essa união se int roduzira
paulat inament e, na humanidade, como conseqüência da modif icação ocorrida com a
região at lânt ica e com a Terra em geral. Os corpos f ísico e vit al do homem coincidiam
cada vez mais. Devido a isso, as f aculdades ant eriorment e ilimit adas da memória se
perderam, t endo início a vida humana pensant e. A part e do corpo vit al unida ao corpo
f ísico t ransf ormou o cérebro f ísico no verdadeiro inst rument o do pensar, e só a part ir daí o

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homem começou real ment e a sent ir seu eu no corpo f ísico. Foi só ent ão que a
aut oconsciência despert ou. Inicial ment e isso ocorreu apenas numa pequena parcela da
humanidade, especialment e nos acólit os do dirigent e do orácul o do Crist o. As demais
massas humanas esparsas pela Europa, Asia e Áf rica conservaram, nos mais diversos graus,
os rest os dos ant igos est ados de consciência; elas possuíam, port ant o, uma experiência
imediat a do mundo supra-sensível .
Os acólit os do iniciado do Crist o eram homens com um int elect o alt ament e
desenvolvido, mas dent re t odos os homens da época eram os menos experient es no
domínio do supra-sensível. Foi com eles que aquele iniciado emigrou do oest e para o lest e,
para uma região no int erior da Asia. Ele queria prot egê-los ao máximo do cont at o com os
homens menos avançados na evolução da consciência. Educou esses adept os no sent ido
dos mist érios que lhe eram manif est os; dessa f orma, at uou part icular-ment e sobre seus
descendent es. Assim, f ormou ao seu redor um grupo de homens que haviam acolhido em
seus corações os impulsos correspondent es aos mist érios da iniciação do Crist o. Desse
séquit o, escolheu os set e melhores para que pudessem t er corpos vit ais e ast rais
adequados às reproduções dos corpos vit ais dos set e melhores iniciados at lânt icos. Educou
assim um sucessor do iniciado do Crist o, de Sat urno, de Júpit er, et c. Esses set e iniciados
t ornaram-se os mest res e guias dos homens que, na época pós-at lânt ica, povoaram o sul
da Ásia, especialment e a ant iga Indía.
Como esses grandes mest res eram ef et ivament e dot ados com reproduções dos corpos
et éricos de seus ant epassados espirit uais, o cont eúdo de seu corpo ast ral, ou sej a, seu
saber e seu conheciment o aut oconquist ados, não alcançavam o que lhes f icava velado por
seu corpo vit al. Para que t ais revelações lhes f alassem em seu ínt imo, eles deviam f azer
silenciar seu próprio saber e seu próprio conheciment o. Ent ão, a part ir e por int ermédio
deles, f alavam as elevadas ent idades que t ambém haviam f alado a seus ant epassados
espirit uais. Fora dos moment os em que essas ent idades f alavam por seu int ermédio, eles
eram pessoas simples, dot ados com os dons do ent endiment o e do coração adquiridos
espont aneament e.

A época pós-at l ânt i ca

Primeiro período: a ant iga cult ura hindu

Naquela época, vivia na Índia uma espécie humana que conservara primorosament e
uma viva recordação do ant igo est ado anímico dos at lant es, o qual possibilit ava as
experiências do mundo espirit ual. Num grande número desses homens havia t ambém uma
imensa aspiração do coração e da ment e rumo às vivências desse mundo supra-sensível.
Por uma sábia direção do dest ino, a parcela principal dessa espécie humana, const it uída
das melhores part es da população at lânt ica, chegara à Ásia Meridional. Além desse grupo
principal, out ros grupos haviam imigrado em out ras épocas. Para esse cont ext o humano o
chamado iniciado do Críst o designou como inst rut ores seus set e grandes discípulos. Eles
deram a esse povo sua sabedoria e seus preceit os. Muit os desses ant igos hindus precisavam
de uma mínima preparação para est imular em si as f aculdades mal-ext int as que
conduziam à observação do mundo supra-sensível — pois a nost algia em relação a esse
mundo era realment e a disposição dominant e da alma hindu. Tinha-se a sensação de que
nesse mundo se sit uava a pát ria original dos homens. Desse mundo eles f oram t ransf eridos
para aquele que pode propiciar a cont emplação sensorial ext erior e o int elect o a ela
ligado. Sent ia-se o mundo suprasensível como o ver dadei r o e o mundo sensível como um
engano da percepção humana, uma ilusão (maya). Por t odos os meios havia empenho em

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abrir o olhar para o mundo verdadeiro. Não havia int eresse em ir ao encont ro do mundo
sensorial ilusório, ou, quando muit o, havia apenas na medida em que est e se revelava
como o véu para o supra-sensível.
O poder que podia part ir dos set e grandes mest res para t ais homens era f ormidável.
O que podia ser revelado por seu int ermédio penet rava prof undament e nas almas hindus.
E como a posse dos corpos vit ais e ast rais t ransmit idos conf eria elevadas energias a esses
mest res, eles podiam at uar t ambém de f orma mágica sobre seus discípulos. Na verdade,
eles não ensinavam. At uavam, como que por f orças mágicas, de uma personalidade para
out ra. Surgiu assim uma cult ura complet ament e impregnada de sabedoria supra-sensível .
O cont eúdo dos livros de sabedoria dos hindus (os Vedas) não f ornece a f orma original dos
sublimes conheciment os cult ivados pelos grandes inst rut ores na mais remot a ant igüidade,
mas apenas um pál ido eco. Soment e a visão supra-sensível ret rospect iva pode descobrir
uma sabedoria primordial inédit a por det rás dessas escrit uras. Um t raço especialment e
relevant e dessa sabedoria original é a harmônica consonância das diversas sabedorias
oraculares da época at lânt ica — pois cada um dos grandes mest res podia desvendar uma
delas; e os diversos aspect os da sabedoria f ormavam uma harmonia perf eit a, pois por
det rás deles est ava a sabedoria f undament al da iniciação prof ét ica do Crist o. Na verdade,
o mest re que era sucessor espirit ual do iniciado do Crist o não expunha o que o próprio
ant ecessor podia revel ar. Est e havia permanecido nos bast idores da evolução e, por ora,
não podia t ransmit ir seu elevado minist ério a qualquer pós-at lant e.
O iniciado do Crist o pert encent e aos set e grandes mest res hindus se dist inguia do
ant ecessor pelo f at o de est e t er podido elaborar complet ament e, em represent ações
ment ais humanas, sua visão do mist ério do Crist o, enquant o o iniciado hindu do Crist o só
podia expressar um ref lexo desse mist ério em símbolos e sinais, pois sua represent ação
ment al humana não alcançava t al mist ério. No ent ant o, da união dos set e mest res
result ou, numa grandiosa imagem da sabedoria, um conheciment o do mundo supra-
sensível do qual, no ant igo orácul o at lânt ico, f ora possível revelar apenas f ragment os. As
grandes pot ências dirigent es do mundo cósmico f oram desvendadas, t endo-se f eit o
discret a alusão a um grande Espírit o Solar, ao Ser ocult o que reina sobre as ent idades
reveladas pelos set e mest res.
O que se subent ende aqui por ‘ ant igos hindus’ não coincide com o emprego usual
dessa expressão. Document os ext eriores da época aqui ref erida não exist em. O povo
comument e denominado ‘ hindu’ corresponde a um grau evolut ivo da Hist ória conf igurado
só muit o depois da ref erida época. É preciso dist inguir um primeiro período t errest re pós-
at lânt ico, no qual dominava a cul t ura ‘ índica’ , aqui caract erizada; depois se f ormou um
segundo período pós-at lânt ico, no qual se t ornou dominant e, como cult ura, aquela que é
chamada a seguir, nest e livro, de ‘ prot opersa’ ; e mais t arde ainda se desenvolveu a
cult ura egipt o-caldaica, t ambém a ser descrit a. Durant e a f ormação do segundo e do
t erceiro períodos cult urais pós-at lânt icos, t ambém a ‘ ant iga’ cult ura índíca vivenciou uma
segunda e uma t erceira épocas. E é para essa t erceira época que valem as ref erências
comument e f eit as à India ant iga. Port ant o, não cabe relacionar a present e descrição com
a ‘ Índia ant iga’ no sent ido comum.
Um out ro t raço dessa ant iga cult ura índica é aquele que post eriorment e conduziu à
divisão dos seres humanos em cast as. Os habit ant es da Índia eram descendent es de
at lant es pert encent es a diversos t ipos de homens, ist o é, homens sat urninos, j upit erianos,
et c. Pelos ensinament os supra-sensíveis, compreendeu-se não ser por acaso que uma alma
era int roduzida nest a ou naquela cast a não por acaso, e sim pelo f at o de ela própria t er-se
predest inado à mesma. Tal compreensão dos ensinament os supra-sensíveis era
especialment e f acilit ada pelo f at o de em muit os homens ser possível est imular as j á

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mencionadas recordações int eriores dos ant epassados, que no ent ant o t ambém conduziam
f acilment e a uma idéia errônea da reencarnação. Assim como na época at lânt ica só era
possível obt er a verdadeira idéia da reencarnação por int ermédio dos iniciados, na ant iga
Índia isso só podia ocorrer pelo cont at o diret o com os grandes mest res.
A idéia errônea da reencarnação, mencionada acima, encont rou a maior expansão
imaginável ent re os povos que, em conseqüência do declínio da At l ânt ida, espalharam-se
pela Europa, Asia e Af rica. E como os iniciados que se haviam ext raviado durant e a
evolução at lânt íca t ambém haviam comunicado esse mist ério aos imat uros, os homens
t enderam cada vez mais a conf undir a idéia verdadeira com a f alsa. Ent re esses homens
havia permanecido em alguns casos, como herança da época at lânt ica, uma espécie de
clarividência nebulosa. Assim como os at lant es ent ravam no domínio do mundo espirit ual
durant e o sono, seus descendent es vivenciavam esse mesmo mundo num est ado anormal
int ermediário ent re o sono e a vigília, quando l hes apareciam as imagens da ant iga época
à qual seus ant epassados haviam pert encido. Eles se consideravam reencarnações de
homens que viveram em t ais épocas. Dout rinas sobre a reencarnação, em desacordo com
as aut ênt icas idéias dos iniciados, se espalharam por t odo o ambient e t errest re.

Segundo período: a ant iga cult ura persa

Como result ado das cont ínuas migrações que se haviam dirigido do Ocident e para o
Orient e desde o início da dest ruição da At lânt ida, est abeleceu-se nas regiões da Ásia
Ocident al um povo cuj a descendência é conhecida, na Hist ória, como povo persa e
est irpes af ins. No ent ant o, o conheciment o supra-sensível t em de remont ar a períodos
muit o ant eriores ao período hist órico desses povos. Trat a-se, a princípio, de ant epassados
muit o remot os dos persas post eriores, em meio aos quais nasceu a segunda grande época
cult ural da evolução pós-at lânt ica, após a índica. Os povos dessa segunda época t inham
uma missão dif erent e daquela do povo hindu. Com suas aspirações e t endências, eles não
visavam simplesment e ao mundo supra-sensível: est avam predispost os ao mundo f ísico-
sensorial, t endo-se af eiçoado à Terra. Valorizavam as conquist as que o homem pode f azer
nela e o que pode obt er por meio das f orças t errest res. Suas f açanhas como guerreiros e
suas invenções para ext rair os t esouros da Terra relacionam-se com essa part icularidade
de seu ser. Ent re eles não havia o risco do int eiro af ast ament o da ‘ ilusão’ do f ísico-
sensível em virt ude de uma nost al gia volt ada ao mundo supra-sensível; havia, sim, o de
perder int eirament e a relação anímica com est e últ imo devido ao int eresse pelo mundo
sensível.
Os próprios orácul os, t ransplant ados do ant igo t errit ório at lânt ico, part icipavam à
sua maneira do carát er geral da população. Aí se cult ivava, dent re as f orças das quais
out rora o homem pudera apropriar-se pelas vivências do mundo supra-sensível —f orças que
ele ainda podia dominar em cert as modalidades inf eriores —, aquela que dirigia os
f enômenos nat urais de modo a servirem aos int eresses pessoais do ser humano. Esse ant igo
povo t inha ainda um grande poder no domínio de t ais f orças nat urais, que mais t arde se
ret raíram f rent e à vont ade humana. Os guardiães dos oráculos dominavam f orças
int eriores relacionadas com o f ogo e out ros element os. Pode-se chamá-los de magos. O
que eles haviam conservado como herança cognit iva e f orças supra-sensíveis de out ros
t empos era, na verdade, débil em relação à capacidade do homem num passado remot o.
Porém assumia t odas as f ormas possíveis, desde art es nobres, preocupadas apenas com a
salvação da humanidade, at é as prát icas mais condenáveis. Sobre esses homens a ent idade
lucif érica exercia um domínio peculiar: ela os havia colocado em cont at o com t udo o que
desvia o homem das int enções dos seres superiores que, não f ora a int erf erência

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lucif érica, t eriam sido os únicos a levar adiant e a evolução da humanidade.
Mesmo os membros desse povo que ainda eram dot ados com resquícios do ant igo
est ado clarivident e — do j á descrit o est ado int ermediário ent re a vigília e o sono —
sent iam-se muit o at raídos pelos seres inf eriores do mundo espirit ual. Era preciso dar a
esse povo um impulso espirit ual capaz de compensar t ais part icularidades de carát er. Da
mesma f ont e que originou a ant iga vida espirit ual hindu f oi-lhe dada, pelo guardião dos
mist érios do Orácul o Sol ar, uma direção.
O guia da cult ura espirit ual prot opersa, dado pelo guardião do Oráculo Solar ao povo
aqui f ocalizado, pode ser chamado pelo mesmo nome que a Hist ória conhece como
Zarat ust ra ou Zoroast ro. No ent ant o, convém ressalt ar que a personalidade aqui em
quest ão pert ence a uma época muit o ant erior àquela em que a Hist ória coloca o port ador
desse nome. É que aqui não se t rat a de pesquisa hist órica ext erior, e sim de Ciência
Espirit ual. E quem t iver de pensar numa época mais recent e relacionada com o port ador
do nome Zarat ust ra poderá buscar uma sint onia com a Ciência Espirit ual no f at o de est e
represent ar um sucessor do primeiro grande Zarat ust ra, t endo adot ado seu nome e at uado
no sent ido de sua dout rina.
O impulso que Zarat ust ra devia dar a seu povo consist ia em most rar-lhe como o
mundo f ísico-sensorial não é simpl esment e algo sem espírit o, apresent ando-se ao homem
quando est e se ent rega à exclusiva inf luência da ent idade lucif érica. A essa ent idade o
homem deve sua aut onomia pessoal e seu sent iment o de liberdade; no ent ant o, essa
ent idade deve at uar nele em sint onia com o ser espirit ual opost o. No caso do povo
prot opersa, o import ant e era mant er-se alert a quant o a esse segundo ser espirit ual.
Devido à sua inclinação para o mundo f ísico-sensível, ele era compelido a conf undir-se
complet ament e com os seres lucif éricos. Ora, Zarat ust ra havia recebido do guardião do
Oráculo Solar uma iniciação que lhe possibilit ava receber parcialment e as revelações dos
elevados seres solares. Em est ados especiais de sua consciência, em que lhe era inf undido
seu aprendizado, ele podia cont emplar o dirigent e dos seres solares, que t omara sob sua
prot eção o corpo vit al humano da f orma acima descrit a. Ele sabia que esse ser dirige a
evolução da humanidade, mas que só no devido t empo poderia descer do espaço cósmico
para a Terra. Para isso seria necessário que pudesse viver no corpo ast ral de um homem do
mesmo modo como at uava no corpo vit al a part ir da int erf erência do ser lucif érico. Para
t al deveria aparecer um homem que houvesse reconduzido seu corpo ast ral ao nível que,
sem Lúcif er, est e t eria alcançado em out ra época (meados da evolução at lânt ica). Sem o
advent o de Lúcif er, o homem t eria alcançado esse nível muit o ant es, porém sem
aut onomia pessoal e sem a possibilidade da liberdade. Mas a part ir de ent ão, apesar
desses at ribut os, o homem deveria chegar novament e a t al nível.
Em seus est ados de vidência prof ét ica, Zarat ust ra via ser possível, dent ro da
evolução da humanidade, a exist ência de uma personalidade com esse corpo ast ral
adequado. Porém sabia igualment e que ant es desse t empo as f orças solares espirit uais não
poderiam ser encont radas na Terra, mas que poderiam ser percebidas pela cont emplação
supra-sensível no âmbit o da part e espirit ual do Sol. Ele podia cont emplar essas f orças ao
dirigir seu olhar espirit ual para o Sol, e anunciava a seu povo a essência dessas f orças que
por ora só podiam ser encont radas no mundo espirit ual , vindo mais t arde a descer à Terra.
Essa era a anunciação do Grande Espírit o Sol ar ou Espírit o de Luz (Aura Solar, Ahur a-
Mazdao, Or muzd). Esse Espírit o de Luz se revela a Zarat ust ra e seus adept os como o
espírit o que volt a sua f ace para o homem, a part ir do mundo espirit ual, e prepara o f ut uro
dent ro da humanidade. Trat a-se do espírit o prenunciador do Crist o ant es da aparição
dest e na Terra, e que Zarat ust ra anuncia como Espírit o de Luz. Por out ro l ado, ele
apresent a em Arimã (Angr a Mai nj u) uma pot ência que, por sua inf luência sobre a vida aní-

113
mica humana, at ua de modo nef ast o quando est a se ent rega a ele unilat eralment e. Essa
pot ência não é out ra senão aquela, caract erizada acima, que desde a t raição dos segredos
de Vulcão adquirira um domínio especial sobre a Terra.
Além da mensagem do Deus de Luz, f oram anunciados por Zarat ust ra ensinament os
daquelas ent idades espirit uais que, ao sent ido purif icado do vident e, revelam-se como
companheiras do Espírit o de Luz, às quais f aziam oposição os t ent adores que se
manif est avam ao impuro rest o de clarividência conservado da época at lânt ica. Era preciso
t ornar claro ao povo prot opersa como na alma humana, enquant o vol t ada à ação e ao
esf orço no mundo f ísico-sensível, desenrola-se uma lut a ent re o poder do Deus de Luz e o
de seu adversário, e como o homem deve comport ar-sede modo que est e últ imo não o
precipit e no abismo, e sim que sua inf luência sej a dirigida para o bem pela f orça do
primeiro.

T erceiro período: a cult ura egipt o-caldaica

Um t erceiro período cult ural da época pós-at lânt ica nasceu nos povos que, por suas
migrações, haviam f inalment e conf luído na Asia Ocident al e no nort e da Af rica. Foi ent re
os cal deus, babilônios e assírios, por um lado, e os egípcios, por out ro, que essa cul t ura se
desenvolveu. Nesses povos, o int eresse pelo mundo f ísico-sensorial evoluíra
dif erent ement e do que ent re os prot opersas. El es haviam recebido, muit o mais do que os
demais povos, a disposição de espírit o que serve de base para a f aculdade do pensar, para
o dom do int elect o surgido desde o f inal do período at lânt ico. Aliás, era a missão da
humanidade pós-at lânt íca desenvolver em si as f aculdades anímicas que podiam ser
adquiridas pelas f orças int elect uais e af et ivas despert as, não movidas diret ament e pelo
mundo espirit ual, e sim surgidas pelo f at o de o homem observar o mundo sensível ,
adapt ar-se a ele e t ransf ormá-lo pelo t rabal ho. A conquist a desse mundo f ísico-sensível
por aquelas f aculdades humanas deve ser considerada como a missão da humanidade pós-
at lânt ica. De et apa em et apa, essa conquist a progride.
Na ant iga Índia, na verdade o homem, por sua const it uição anímica, j á est á orient ado
para est e mundo; porém considera-o uma ilusão, e seu espírit o est á volt ado para o mundo
suprasensível. No povo prot opersa, ao cont rário, manif est a-se o empenho em conquist ar o
mundo f ísico-sensorial; mas em grande part e isso ainda é procurado com as f orças
anímicas que rest avam como herança de uma época em que o homem podia alcançar
imediat ament e o mundo supra-sensível. Ent re os povos do t erceiro período cul t ural, a
alma j á havia perdido grande part e das f aculdades supra-sensíveis. Cabe-lhe pesquisar no
mundo ambient e sensorial as manif est ações do espirit ual, cont inuando a aprimorar-se pela
descobert a e invenção dos meios cult urais result ant es desse mundo. Foi pela pesquisa das
leis do plano espirit ual sit uado at rás do mundo f ísico-sensível que nasceram as ciências
humanas; e f oi pelo f at o de as f orças desse mundo t erem sido conhecidas e t rabalhadas
que nasceram a t écnica humana, o t rabalho art íst ico e seus inst rument os e meios.
Para o homem dos povos babilônio-caldaicos, o mundo sensível j á não era uma ilusão;
em seus remos, em mont anhas e mares, no ar e na água, ele via uma manif est ação dos
at os espirit uais das pot ências aí ocult as, cuj as leis ele procurava conhecer. Para o egípcio,
a Terra era um campo para seu t rabalho, ent regue num est ado que ele deveria, mediant e
suas próprias f aculdades int elect uais, t ransf ormar de modo a t ornar-se uma prova do
poder humano.
Da At lânt ida f oram t ransplant ados para o Egit o oráculos que procediam
part icularment e do oráculo de Mercúrio; porém havia ainda out ros, como por exemplo os
oráculos de Vênus. No cont eúdo cul t ivado ent re o povo egípcio por meio desses oráculos,

114
f oi inserido um novo germe de cult ura. Est e part iu de um grande dirigent e que havia
recebido seus ensinament os no âmbit o dos mist érios zarat ust rinos persas. (Ele era a
personalidade reencarnada de um discípulo do grande Zarat ust ra. ) Tomando por base um
nome hist órico, chamemo-lo ‘ Hermes’ . Pela assimilação dos mist érios de Zarat ust ra, ele
pôde encont rar o caminho corret o para conduzir o povo egípcio. Na vida t errest re, ent re o
nasciment o e a mort e, esse povo havia dirigido de t al modo sua at enção ao mundo f ísico-
sensorial que só conseguia cont emplar diret ament e o mundo espirit ual em medida muit o
limit ada, mas reconhecia no primeiro as leis dest e últ imo. Assim, não seria possível f alar-
lhe a respeit o do mundo espirit ual como de um plano ao qual ele t ivesse acesso durant e a
vida t errena. Em compensação, era possível most rar-l he como o homem, no est ado
incorpóreo após a mort e, vive com o mundo dos espírit os que se manif est am durant e a
vida t errena por suas marcas no reino f ísico-sensível. Hermes ensinava o seguint e: na
medida em que o homem emprega, na Terra, suas f orças para at uar segundo as int enções
das pot ências espirit uais, t orna-se apt o a reunir-se a essas pot ências após a mort e.
Part icularment e aqueles que at uaram com mais zelo nessa direção, ent re o nasciment o e a
mort e, irão reunir-se à elevada ent idade sol ar — a Osíris.
Do lado babilônio-caldaico dessa corrent e cult ural, essa orient ação do int eresse
humano para o f ísico-sensível f azia-se not ar mais do que do lado egípcio. Est udaram-se as
leis dest e mundo e, a part ir das reproduções sensoriais, cont emplaram-se os arquét ipos
espirit uais. Cont udo, em vários aspect os o povo cont inuava apegado ao mundo sensorial.
Em vez do espírit o est elar valorizava-se a est rela, e em vez de out ros seres espirit uais
colocavam-se em primeiro pl ano suas reproduções t errenas. Apenas os dirigent es
adquiriram conheciment os verdadeirament e prof undos a respeit o das leis do mundo supra-
sensível e de sua sinergia com o sensorial. Mais f ort ement e do que em qualquer out ro
lugar, produziu-se aqui um cont rast e ent re os conheciment os dos iniciados e as crenças
errôneas do povo.

Quart o período: a cult ura greco-lat ina

Condições t ot alment e diversas exist iam nas regiões da Europa Meridional e da Ásia
Ocident al, onde f loresceu a quart a época cult ural pós-at lânt ica. Pode-se chamá-la de
greco-lat ina. Para essas regiões haviam conf luído os descendent es dos homens das mais
dif erent es regiões do mundo mais ant igo. Exist iam oráculos que eram uma cont inuação dos
diversos oráculos at lânt icos. Havia homens que possuíam, como disposição nat ural , rest os
da ant iga clarividência, e out ros que podiam adquiri-la de maneira relat ivament e f ácil
mediant e disciplina adequada. Em lugares especiais, não apenas f oram conservadas as
t radições dos ant igos iniciados, como ainda surgiram sucessores dignos deles, os quais, por
sua vez, at raíam discípulos capazes de ascender a elevadas esf eras da cont emplação.
Nessa circunst ância, t ais povos cont inham em si o impulso para criar no mundo sensorial
um domínio que expressasse, no f ísico, o espirit ual de f orma perf eit a.
Ao lado de muit as out ras, a art e grega é uma conseqüência desse impulso. Bast a
penet rar com o olhar espirit ual no t empl o grego para se reconhecer como, nessa
maravilhosa obra de art e, o element o sensório-mat erial f oi t rabalhado pelo homem de ma-
neira t al que cada uma de suas part es parece uma expressão do espirit ual. O t emplo grego
é a ‘ casa do espírit o’ . Percebe-se em suas f ormas o que normalment e só é reconhecido
pelo olhar espirit ual de quem observa de modo supra-sensível. Um t emplo de Zeus (ou
Júpit er) é const ruído de f orma a represent ar, para o olhar sensorial, um digno envolt ório
daquilo que o guardião da iniciação de Zeus ou Júpit er cont emplava com o olhar
espirit ual.

115
E assim sucede com t oda a art e grega. Foi por vias mist eriosas que os t esouros de
sabedoria dos iniciados f luíram para os poet as, os art ist as e os pensadores. Nas
cosmovisões const ruídas pelos ant igos f ilósof os gregos reencont ram-se os mist érios dos
iniciados sob f orma de conceit os e idéias. E as inf luências da vida espirit ual, os mist érios
dos cent ros de iniciação asiát icos e af ricanos af luíram para esses povos e seus guias. Os
grandes mest res hindus, os acólit os de Zarat ust ra, os adept os de Hermes, haviam f ormado
seus discípulos. Est es ou seus sucessores f undaram cent ros iniciát icos onde as ant igas
sabedorias renasciam sob nova f orma. Eram os mist érios da Ant igüidade, onde se pre-
paravam neóf it os para serem conduzidos aos est ados de consciência que lhes possibilit asse
alcançar a visão do mundo espirit ual. (Mais det alhes sobre esses mist érios da Ant igüidade
encont ram-se em meu livro O cr i st i ani smo como f at o míst i co. 44 Out ros aspect os serão
expost os nos últ imos capít ulos dest e livro. ) Desses cent ros de iniciação, os t esouros de
sabedoria af luíram para aqueles que cult ivavam os mist érios espirit uais na Ásia Menor, na
Grécia e na It ália. (No mundo grego surgiram import ant es cent ros de iniciação nos
mist érios órf icos e eleusínios. Na escola f ilosóf ica de Pit ágoras cont inuaram a t er ef eit o os
grandes ensinament os e mét odos de sabedoria dos t empos ant eriores. Em ext ensas
viagens, Pit ágoras f ora iniciado nos segredos dos mais variados mist érios. )

Corrent es iniciát icas pós-at lânt icas

Na época pós-at lânt ica, a vida do homem ent re o nasciment o e a mort e cont inuou a
exercer sua inf luência sobre o est ado incorpóreo após a mort e. Quant o mais o homem
dirigia seus int eresses ao mundo f ísico-sensível, maior era a possibilidade de Arimã se
inf ilt rar na alma durant e a vida t errest re e, depois, conservar seu poder para além da
mort e. Nos povos da ant iga India esse perigo ainda era mínimo, pois durant e a vida
t errest re eles haviam sent ido o mundo f ísico-sensorial como ilusão, subt raindo-se assim ao
poder de Árimã após a mort e. O perigo era bem maior para os povos prot opersas. Na
época ent re o nasciment o e a mort e eles haviam f ocalizado com int eresse o mundo f ísico-
sensível, e t eriam sucumbido prof undament e às t ent ações de Árimã caso Zarat ust ra não
lhes houvesse indicado enf at icament e, pela dout rina do Deus de Luz, que por det rás do
mundo f ísico-sensível exist e aquele dos espírit os de luz. Na mesma medida em que
acolheram em sua alma t al universo de idéias, os homens dessa cult ura se subt raíram às
garras de Arimã na vida t errest re, e com isso t ambém na vida após a mort e, pela qual
deviam preparar-se para uma nova vida t errest re. Na vida t errest re o poder de Arimã
induz a considerar a exist ência f ísico-sensorial como sendo a única e, com isso, a obst ruir
qualquer perspect iva de um mundo espirit ual. No mundo espirit ual, esse mesmo poder
leva o homem a um complet o isolament o, à orient ação de t odos os int eresses apenas para
si mesmo. Pessoas que, ao morrer, est ão em poder de Arimã, reencarnam-se como
egoíst as.
No âmbit o da Ciência Espirit ual, at ualment e é possível descrever a vida ent re a
mort e e um novo nasciment o exat ament e como t ranscorre quando a inf luência de Arimã
f oi superada at é cert o pont o. É assim que ela f oi descrit a por nós em out ras obras e nos
primeiros capít ulos do present e livro; e é assim que deve ser descrit a ao se pret ender
ilust rar clarament e o que o homem pode experiment ar nessa f orma de exist ência, após t er
conquist ado a pura visão espirit ual daquilo que realment e exist e. At é que pont o cada qual
a experiment a, isso depende de sua vit ória sobre a inf luência arimânica. O homem est á-se
aproximando cada vez mais daquilo que ele é capaz de ser no mundo espirit ual. O modo

44
Ed. bras. em t rad. de Rudolf Lanz (2. ed. São Paulo: Ant roposóf ica, 1996). (N. E. )

116
como essa capacidade é desviada por out ras inf luências deve ser, aqui, incisivament e
f ocalizado pela observação do curso evolut ivo da humanidade.
No povo egípcio, Hermes cuidou para que os homens se preparassem, durant e a vida
t errena, para a comunhão com o Espírit o da Luz. No ent ant o, como durant e essa época os
int eresses humanos ent re o nasciment o e a mort e haviam assumido uma f orma t al que os
homens só podiam ver um mínimo at ravés do véu do mundo f ísico-sensorial, o olhar
espirit ual da alma t ambém permanecia nublado após a mort e. A percepção do mundo de
luz permanecia opaca.
O obscureciment o do mundo espirit ual depois da mort e at ingiu seu pont o culminant e
para as almas que passavam ao est ado incorpóreo procedendo de um corpo da cult ura
greco-lat ina. Na vida t errena elas haviam cult ivado ao máximo a exist ência f ísico-
sensorial, e com isso se condenaram a uma exist ência sombria após a mort e. Por
conseguint e, o grego considerava essa vida depois da mort e como uma exist ência sombria;
e não se t rat a de um simples pal avreado, e sim de uma sensação da verdade quando o
herói dessa época, volt ado à vida dos sent idos, diz: “ Mais vale ser um mendigo na Terra do
que um rei no reino das sombras. ” Isso era ainda mais acent uado ent re os povos asiát icos
que, t ambém em sua veneração e adoração, haviam dirigido seu olhar apenas às imagens
sensoriais, em vez de visar os arquét ipos espirit uais.
Uma grande part e da humanidade est ava, no período cult ural greco-lat ino, nessa
sit uação. Vê-se como a missão do homem no período pós-at lânt ico, a qual consist ia na
conquist a do mundo f ísico-sensorial, devia necessariament e levá-lo a alienar-se do mundo
espirit ual . Assim, a grandeza num domínio se relaciona necessariament e com a decadência
em out ro.
Nos mist érios, cult ivava-se a relação do homem com o mundo espirit ual . Seus
iniciados podiam, em est ados anímicos especiais, receber as revelações desse mundo. Eles
eram, em maior ou menor grau, os sucessores dos guardiães dos oráculos at lânt icos. A eles
era revelado o que est ava ocult o devido às int ervenções de Lúcif er e Árimã. Lúcif er
ocult ava ao homem algo, do mundo espirit ual, que at é a met ade da época at lânt ica af luíra
ao corpo ast ral humano sem a part icipação dest e. Se o corpo et éríco não est ivesse
parcialrnent e separado do corpo f ísico, o homem poderia t er experiment ado em si esse
domínio do mundo espirit ual como uma revelação anímica int erior. Por causa do impact o
lucif érico, isso só lhe era possível em est ados anímicos especiais, quando ent ão lhe
aparecia um mundo espirit ual com a roupagem do ast ral. Os seres correspondent es
manif est avam-se em f iguras compost as apenas dos membros superiores da nat ureza
humana, dot ados dos at ribut os ast ralment e visíveis de suas f orças espirit uais peculiares.
Figuras sobre-humanas vinham a manif est ar-se dessa maneira.
Depois do impact o de Árímã, a esse t ipo de iniciação veio j unt ar-se ainda um out ro.
Árimã ocult ou ao homem qualquer aspect o do mundo espirit ual que, sem sua int ervenção,
t eria aparecido por det rás da percepção f ísico-sensorial. Isso f oi revelado aos iniciados
pelo f at o de eles prat icarem em sua alma t odas as capacidades adquiridas desde ent ão,
pelo homem, em nível superior ao da obt enção das impressões sobre a exist ência f ísico-
sensorial. Era assim que se revelavam a eles as pot ências espirit uais sit uadas at rás das
f orças nat urais, possibilit ando-lhes f alar das ent idades espirit uais ocult as na nat ureza. A
eles se revelavam as pot ências criadoras das f orças que at uam no âmbit o nat ural inf erior
ao homem.
Aquilo que cont inuara at uando como element o de Sat urno, do Sol e da ant iga Lua,
t endo f ormado os corpos f ísico, vit al e ast ral do homem, assim como os remos mineral ,
veget al e animal, f ormava o cont eúdo de uma espécie de segredos de mist érios — aqueles
subordinados a Arimã. Aquilo que havia conduzido à alma da sensação, à alma do int elect o

117
e à alma da consciência se havia revelado numa segunda cat egoria de mist érios. No
ent ant o, o que podia apenas ser prof et izado pelos mist érios era que no decorrer dos
t empos apareceria um homem com um corpo ast ral em que, apesar de Lúcif er, o mundo
de luz do Espírit o Sol ar poderia t ornar-se conscient e at ravés do corpo vit al, sem est ados
anímicos especiais. E o corpo f ísico desse ser humano deveria ser de t al f orma que a ele se
t ornasse manif est o t odos os aspect os do mundo espirit ual possíveis de serem ocult ados por
Árimã at é a mort e f ísica. Para esse ser humano a mort e f ísica nada pode alt erar no âmbit o
da vida, ou sej a, não pode t er qualquer poder sobre ela. Num ser humano dessa espécie, o
eu se manif est a de modo que na vida f ísica est ej a igualment e cont ida a plenit ude
espirit ual . Tal ser é port ador do Espírit o de Luz, ao qual o iniciado se eleva por dois
caminhos ao ser conduzido, em est ados anímicos excepcionais, ora ao espírit o do sobre-
humano, ora à essência dos poderes da nat ureza. Ao predizer que t al ser humano
apareceria no decorrer dos t empos, os iniciados dos mist érios eram os prof et as do Crist o.
Como o mais especial prof et a nesse sent ido, surgiu, no meio de um povo que por
heredit ariedade nat ural possuía as qualidades dos povos do Orient e Próximo e, por
educação, as dout rinas dos egípcios — o povo israelit a —, uma personalidade: Moisés. A
sua alma haviam chegado t ant as inf luências da iniciação que, em est ados especiais, ela
recebia a revelação do ser que out rora, na evolução t errest re normal, assumira o papel de
modelar a consciência humana a part ir da Lua. No raio e no t rovão Moisés reconhecia não
soment e os f enômenos f ísicos, mas t ambém as manif est ações do ref erido espírit o.
Cont udo, sobre sua alma havia at uado simult aneament e a out ra cat egoria de segredos de
mist érios, e assim ele percebia, nas visões ast rais, o sobre-humano convert endo-se no
humano por meio do eu. Desse modo o ser vindouro se revelou a Moisés, por dois
caminhos, como a mais elevada f orma do eu.
E com o ‘ Crist o’ apareceu sob f orma humana o que o grande Ser Solar preparara
como o ideal da perf eição humana t errest re. Com essa revelação, t oda a sabedoria dos
mist érios t eve de assumir, em cert o sent ido, uma nova f orma. Ant es ela exist ia exclusi-
vament e para levar o homem a colocar-se num est ado anímico que lhe possibilit asse
cont emplar o reino do Espírit o Sol ar f or a da evolução t errest re. A part ir daí, a sabedoria
dos mist érios recebeu a t aref a de capacit ar o ser humano a reconhecer o Crist o f eit o
homem e, a part ir desse cent ro de t oda sabedoria, compreender o mundo nat ural e o
espirit ual.
No moment o da vida de Jesus Crist o em que seu corpo ast ral cont inha t udo o que
pode ser ocult ado pelo impact o lucif érico, t eve início sua aparição como mest re da
humanidade. A part ir desse moment o, f oi implant ada na evolução humana t errest re a
disposição para receber a sabedoria graças à qual a met a f ísico-t errest re pode ser
progressivament e alcançada. No moment o em que se consumou o event o do Gólgot a, f oi
inf undida na humanidade a out ra disposição, pela qual a inf luência de Árimã pode ser
t ransf ormada em bem. Desde ent ão, ao cruzar o umbral da mort e o homem pode levar
consigo aquilo que o libert a da solidão no mundo espirit ual. Não é só para a evol ução da
humanidade que o event o da Palest ina const it ui um pont o cent ral; ele t ambém o é para os
out ros mundos aos quais o homem pert ence. E uma vez consumado o ‘ Mist ério do
Gólgot a’ , uma vez sof rida a mort e na cruz, o Crist o apareceu no mundo onde as almas per-
manecem após a mort e e reduziu o poder de Arimã a seus limit es. Desse moment o em
diant e, a região que os gregos haviam denominado ‘ reino das sombras’ f oi abalada por um
relâmpago, most rando-se a seus seres que a luz deveria volt ar para ela. O que f ora obt ido
para o mundo f ísico pel o Mist ério do Gólgot a proj et ou sua l uz sobre o mundo espirit ual.
Assim, at é esse acont eciment o a evolução pós-at lânt ica da humanidade signif icava
uma elevação, para o mundo f ísico-sensorial, mas ao mesmo t empo uma decadência para

118
o mundo espirit ual. Tudo o que af luía para o mundo sensível emanava do que j á exist ia no
mundo espirit ual desde t empos primordiais. Desde o event o do Crist o, os homens que se
elevam ao Mist ério Críst ico podem levar consigo as conquist as do mundo f ísico para o
mundo espirit ual. Dest e elas af luem de novo ao mundo f ísico-t errest re à medida que os
homens, ao reencarnar-se, t razem consigo o que para eles signif icou o impulso do Crist o
no mundo espirit ual , ent re a mort e e um novo nasciment o.
O que af luiu para a evolução da humanidade graças ao event o críst ico at uou nela
como uma sement e. A sement e só pode amadurecer pouco a pouco. Apenas uma ínf ima
part e das prof undidades dessa nova sabedoria se int egrou, at é o present e, à exist ência
f ísica, que se encont ra apenas no início da evolução crist ã. Nos sucessivos períodos
t ranscorridos desde aquela aparição, o crist ianismo só pôde revelar sua essência ínt ima na
medida em que os homens e os povos est iveram apt os a recebê-l a e assimil á-la pel a
capacidade imaginat iva. A primeira f orma assumida por esse conheciment o pode ser
expressa como um amplo ideal de vida, que como t al se opôs às f ormas exist enciais desen-
volvidas na humanidade pós-at lânt ica.
Mais acima f oram descrit as as condições que regeram a evolução da humanidade
desde o repovoament o da Terra na época lemúrica. Nesse sent ido, animícament e os
homens devem sua origem a diversas ent idades que, advindas de out ros mundos,
encarnaram-se nos descendent es corpóreos dos ant igos habit ant es da Lemúria. As diversas
raças humanas são uma conseqüência desse f at o. E nas almas reencarnadas surgiram,
como result ado de seu carma individual, os mais diversos int eresses exist enciais.
Enquant o t udo isso cont inuava a produzir seus ef eit os, não pôde exist ir o ideal da
‘ humanidade universal’ . A humanidade part ira de uma unidade, mas a evolução t errest re
at é ent ão conduzira à desagregação. No conceit o do Crist o exist e, a princípio, um ideal
que se opõe a qualquer desagregação, pois no homem que leva o nome do Crist o vivem
t ambém as f orças do grande Ser Solar, nas quais t odo ser humano encont ra sua origem. O
povo israelit a ainda se sent ia como um povo, e o homem como membro desse povo.
Quando, de início, se concebeu como simples pensament o que em Jesus Crist o vive o
homem ideal, não at ingido pelas circunst âncias da desagregação, o crist ianismo se t ornou
o ideal da f rat ernidade ampla. Acima de t odos os int eresses e vínculos part iculares, surgiu
o sent iment o de que o mais ínt imo eu do homem t em em cada um a mesma origem. (Ao
lado de t odos os ant epassados t errest res aparece o Pai comum a t odos os homens. “ Eu e o
Pai somos Um. ” )

Quint o período: a cult ura at ual

Nos séculos IV, V e VI d. C. , preparou-se na Europa um período cult ural que se iniciou
no século XV e no qual ainda vive a at ualidade. Gradualment e est e devia subst it uir o
quart o período, ist o é, o período greco-lat ino. Trat a-se do quint o período pós-at lânt ico. Os
povos que, depois de várias migrações e dos mais diversos dest inos, t ornaram-se os
prot agonist as desse período, eram descendent es daqueles at lant es menos at ingidos pelos
acont eciment os dos quat ro períodos cult urais ant eriores. Eles não haviam penet rado nas
regiões onde lançaram raízes as cult uras correspondent es; em compensação,
desenvolveram à sua maneira as cult uras at lânt icas. Muit os dent re eles haviam conservado
em alt o grau a herança da ant iga clarividência nebulosa, peculiar ao descrit o est ado
int ermediário ent re a vigília e o sono. Tais homens conheciam o mundo espirit ual por
experiência própria e podiam comunicar a seus cont emporâneos os acont eciment os desse
mundo. Assim nasceu um universo de lendas sobre seres e processos espirit uais; o acervo
de cont os e lendas dos povos surgiu originalment e de t ais vivências espirit uais, pois a
clarividência nebulosa de muit os homens subsist iu at é uma época não muit o dist ant e da

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at ual. Havia out ros homens que, embora j á houvessem perdido a clarividência,
desenvolviam as adquiridas f acul dades relacionadas com o mundo f ísico-sensorial de
acordo com sensações e sent iment os correspondent es a essa clarividência.
Também os oráculos at lânt icos t inham aqui seus cont inuadores. Por t oda part e havia
mist érios, só que neles se cult ivava principal ment e um ocult ismo iniciát ico que conduz à
revelação daquele mundo espirit ual mant ido ocult o por Arimã. As pot ências espirit uais
sit uadas at rás das f orças da nat ureza eram aí reveladas. Nas mit ologias dos povos
europeus se encont ram resquícios do que os iniciados desses mist érios podiam revelar aos
homens; só que em verdade essas mit ologias t ambém encerram o out ro ocult ismo, embora
de f orma menos perf eit a do que os mist érios meridionais e orient ais. As ent idades sobre-
humanas t ambém eram conhecidas na Europa, mas eram vist as numa permanent e lut a
cont ra os companheiros de Lúcif er. E bem verdade que se anunciava o Deus de Luz, mas
sob uma f igura t al que não se podia af irmar que viesse a vencer Lúcif er. Em compensação,
nesses mist érios t ambém penet rava o resplendor da f igura vindoura do Crist o. Dizia-se que
seu reino revelaria o reino daquele out ro Deus de Luz. (Todas as lendas sobre o crepúsculo
dos deuses e out ras semelhant es t êm origem nesse conheciment o dos mist érios europeus. )
Foi dessas inf luências que se originou, nas almas dos homens da quint a época
cult ural, uma dualidade que ainda persist e at ualment e, evidenciando-se nas mais diversas
manif est ações da vida. A alma conservou, dos ant igos t empos, a t endência ao espirit ual de
uma maneira insuf icient ement e int ensa para poder mant er a l igação ent re o mundo
espirit ual e o mundo sensorial; conservou-a apenas como impulso do sent iment o e da
sensaçao , mas não como visão diret a do mundo supra-sensível. Por out ro lado, o olhar do
homem se volt ou cada vez mais para o mundo sensorial e seus domínios. E as f orças do
int elect o despert adas nos últ imos t empos at lânt icos, t odas as energias humanas cuj o
inst rument o é o cérebro f ísico, f oram aperf eiçoadas para o mundo sensorial, visando ao
seu conheciment o e ao seu domínio. Dois mundos, por assim dizer, desenvolveram-se na
alma humana: um volt ado para a exist ência f ísico-sensível e o out ro recept ivo à
manif est ação do espirit ual, a f im de penet rá-lo com sent iment o e emoção, embora sem o
cont emplar.
Os germes dessa dual idade anímica j á exist iam quando a dout rina do Crist o se
dif undiu pelas regiões da Europa. Os homens acolheram de coração essa mensagem do
espírit o, impregnando com ela o sent iment o e a emoção, mas não puderam est abelecer a
ligação com o que o int elect o dirigido ao mundo dos sent idos explorava na exist ência
f ísico-sensorial. O que hoj e se conhece como cont rast e ent re ciência ext erior e
conheciment o espirit ual é apenas uma conseqüência desse f at o. A míst ica crist ã (Eckhart ,
Tauler, et c. 45 ) é um result ado da impregnação do sent iment o e da emoção pelo
crist ianismo; a ciência merament e dirigida ao mundo sensorial e os ef eit os que produz na
vida são as conseqüências do out ro lado das disposições anímicas.
As conquist as no domínio da cult ura mat erial ext erior se devem int eirament e a essa
separação das t endências. Enquant o as f aculdades humanas cuj o inst rument o é o cérebro
se consagraram unilat eralment e à vida f ísica, puderam chegar à int ensif icação que
possibilit ou a ciência, a t écnica et c. da at ualidade, sendo que só ent re os povos da Europa
pôde residir a origem dessa cult ura mat erial — pois eles são os descendent es de ant e-
passados at lânt icos que só t ransf ormaram em f aculdades sua inclinação para o mundo
f ísico-sensível quando essa inclinação alcançou cert a mat uridade. Ant es disso, deixaram-
na lat ent e e viveram das heranças da clarividência at lânt ica e das comunicações dos
45
Mest re Eckart ou Eckehart (c. 1260—1327), nascido com o t ít ulo de cavaleiro em Hochheim, na Alemanha,
t ornou-se f rade dominicano e f oi o mais prof undo míst ico alemão, t endo sido perseguido pela Igrej a por sua
dout rina e seus escrit os; Johannes Tauler (c. 1300-1361), míst ico dominicano nascido em Est rasburgo, na
França, pregava a moral prát ica a part ir de uma índole imbuída do ser divino. (N. T. )

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iniciados. Enquant o ext eriorment e a cult ura espirit ual se dedicava apenas a essas
inf luências, lent ament e amadurecia o sent ido para o domínio mat erial do mundo.
Cont udo, at ualment e j á se anuncia a aurora do sext o período cult ural pós-at lânt ico —
pois, no âmbit o da evolução da humanidade, o que deve nascer em det erminada época
amadurece lent ament e na época ant erior. O que pode começar a desenvolver-se desde j á
em seus primórdios é a descobert a do laço que une os dois lados no coração do homem — a
cult ura mat erial e a vida no mundo espirit ual. Para isso é necessário que, de um lado,
sej am compreendidos os result ados da visão espirit ual e, de out ro, sej am reconhecidos,
nas observações e experiências do mundo sensível, as manif est ações do espírit o. A sext a
época cult ural promoverá o pleno desenvolviment o da harmonia ent re esses dois impulsos.
Com isso as considerações dest e livro avançaram at é o pont o de poderem passar de
uma perspect iva do passado a uma do f ut uro. Cont udo, é melhor preceder est a últ ima com
algumas considerações sobre o conheciment o dos mundos superiores e a iniciação. A
seguir, e dent ro do limit e possível no âmbit o dest a obra, a ref erida perspect iva será
resumidament e expost a.

O conheciment o dos mundos superiores


(Da iniciação)

Em seu at ual nível evolut ivo, o homem, na vida cot idiana ent re o nasciment o e a
mort e, percorre t rês est ados anímicos: a vigíl ia, o sono e, ent re ambos, o est ado onírico.
Est e últ imo ainda será abordado sucint ament e mais adiant e. Por ora consideraremos a
vida em seus dois principais est ados alt ernat ivos — a vigília e o sono.
O homem se eleva a conheciment os nos mundos superiores quando, al ém da vigília e
do sono, obt ém um t erceiro est ado anímico. Durant e a vigília, a alma est á ent regue às
impressões dos sent idos e às represent ações ment ais provocadas por el as; durant e o sono
as impressões dos sent idos silenciam, mas a alma t ambém perde a consciência — as
vivências diurnas submergem no mar do inconscient e.
Imagine-se que durant e o sono a alma pudesse alcançar uma cert a consciência,
apesar de as impressões dos sent idos, como ocorre no sono prof undo, f icarem excluídas.
Nem mesmo a l embr ança das experiências diurnas exist iriam. Será que a alma se
encont raria num vazio? Será que não poderia t er qualquer vivência? Uma respost a a essa
indagação só é possível quando se viabiliza est abelecer um est ado igual ou semelhant e a
esse; quando a alma pode vivenciar algo, mesmo inexist indo ef eit os sensoriais ou qualquer
lembrança deles. Ent ão a alma se encont raria como que adormecida em relação ao mundo
ext erior comum; cont udo não est aria dormindo, e sim como que em vigília diant e de um
mundo real.
Ora, t al est ado de consciência pode est abelecer-se quando o homem realiza as
experiências anímicas que lhe são possibilit adas pela Ciência Espirit ual. Tudo o que est a
comunica, sobre os mundos t ranscendent es ao sensorial, f oi pesquisado mediant e esse
est ado de consciência. Nas explicações precedent es, f oram f eit as cert as comunicações
sobre mundos superiores. A seguir t ambém serão abordados — na medida cabível nest e
livro — os meios para criar o est ado de consciência necessário a essa pesquisa.
É apenas num sent ido que esse est ado de consciência se assemelha ao sono: no f at o
de cessarem t odos os ef eit os sensoriais ext eriores; t ambém f icam ext int os t odos os
pensament os provocados por esses ef eit os sensoriais. Mas enquant o no sono a alma não

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possui qualquer energia para vivenciar algo conscient ement e, por meio desse est ado de
consciência ela deve conservar t al energia. Port ant o, graças a esse est ado é despert ada na
alma a f aculdade para uma vivência que, na vida comum, só pode ser provocada pelos
ef eit os sensoriais. O despert ar da alma para t al est ado superior de consciência pode ser
denominado i ni ci ação.
Os meios da iniciação conduzem o homem do est ado comum da consciência diurna
para uma at ividade anímica que o leva a servir-se de órgãos espirit uais de observação.
Esses órgãos preexist em na alma como germes, devendo ser desenvolvidos. Ora, pode
acont ecer o caso de, em cert o moment o da vida, sem qualquer preparo especial em sua
alma, uma pessoa descobrir que esses órgãos superiores se desenvolveram nela. Nesse
caso, ocorreu uma espécie de despert ar espont âneo. Com isso t al pessoa se sent irá
t ransf ormada em t odo o seu ser, ocorrendo um ilimit ado enriqueciment o de suas vivências
anímicas. E ela achará que nenhum conheciment o do mundo sensível lhe pode propor-
cionar a f elicidade, a grat if icant e at mosf era anímica e o calor int erior como aquilo que se
revela num conheciment o inacessível à visão f ísica. Força e segurança af luirão de um
mundo espirit ual para sua vont ade.
Tais casos de iniciação espont ânea exist em. Cont udo, não deveriam induzir a crer
que a única coisa acert ada sej a esperar por t al iniciação espont ânea, sem nada f azer para
conduzir a iniciação por disciplina met ódica. Não é necessário f alar aqui dessa iniciação
espont ânea, pois ela pode surgir mesmo sem observação de qualquer regra. O que será
apresent ado, isso sim, é o modo como se podem desenvolver, pela disciplina, os órgãos
percept ivos lat ent es na alma. Pessoas que não se sint am part icularment e inclinadas a
f azer, por si mesmas, algo em prol de seu desenvolviment o dirão f acilment e: “ A vida
humana est á sob a direção de pot ências espirit uais, em cuj o domínio não se deve int ervir;
deve-se esperar t ranqüilament e o moment o em que essas pot ências j ulguem oport uno
descerrar um out ro mundo para a alma. ” Tais pessoas poderão muit o bem considerar uma
espécie de ousadia, ou ent ão curiosidade il ícit a, int erf erir na sabedoria da direção
espirit ual . Personalidades que assim pensam só mudarão de opinião se uma cert a idéia
lhes produzir uma impressão suf icient ement e f ort e — se elas disserem a si próprias:
“ Aquela sábia direção me deu cert as f aculdades; ela não as conf iou a mim para que eu as
deixe ociosas, mas para servir-me delas. A sabedoria da direção consist e em t er
deposit ado em mim os germes para um est ado superior de consciência. Eu só a
compreenderei se considerar como um compromisso o f at o de vir a revelar-se ao homem
t udo o que possa ser revelado por suas f orças espirit uais. ” Tendo esse pensament o deixado
na alma uma impressão suf icient ement e int ensa, desaparecerão as mencionadas obj eções
a uma disciplina relat iva a um est ado superior de consciência.
Cert ament e ainda pode haver out ra obj eção a uma disciplina desse t ipo. Alguém
pode dizer: “ O desenvolviment o de f acul dades anímicas int eriores alcança o mais
recôndit o sant uário do homem, implicando em cert a t ransf ormação do ser humano int eiro.
Os meios para essa t ransf ormação não podem, nat ural ment e, ser criados pela própria
pessoa, pois o modo de se chegar a um mundo superior só pode ser sabido por quem
conhece por experiência própria o caminho at é lá. Recorrendo-se a t al pessoa, permit e-se
a ela uma inf luência sobre o mais recôndit o sant uário da alma. ” A quem pensa assim não
causaria especial t ranqüilidade o f at o de lhe serem of erecidos, num livro, os meios para a
conquist a de um est ado superior de consciência; pois não import a se alguém assimila algo
comunicado verbalment e ou se uma personalidade que possui o conheciment o desses
meios os apresent a num livro, e uma out ra os aproveit a. Ora, exist em pessoas que
possuem o conheciment o das regras para o desenvolviment o dos órgãos de percepção
espirit ual e opinam que não se deveria conf iar t ais regras a um livro. Em geral essas

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pessoas t ambém consideram inadmissível a comunicação de cert as verdades relat ivas ao
mundo espirit ual. Cont udo, f rent e à at ual época evolut iva da humanidade essa opinião
deve ser vist a como ant iquada. É cert o que na comunicação das ref eridas regras só se
pode chegar at é cert o pont o, pois o cont eúdo t ransmit ido leva quem o aplicar em sua
alma a conseguir, no desenvolviment o cognit ivo, encont rar o caminho ult erior. Esse
caminho prossegue ent ão de uma maneira da qual só se pode f azer uma idéia exat a t endo
passado pel as et apas ant eriores.
De t odos esses f at os podem surgir obj eções ao caminho cognit ivo espirit ual. Essas
obj eções silenciam quando se considera a essência do curso evolut ivo t raçado pela
disciplina esot érica adequada à nossa época. E desse caminho que se f alará aqui, f azendo-
se apenas curt as alusões a out ros caminhos.
A disciplina a ser descrit a aqui of erece, a quem t em vont ade necessária para seu
desenvolviment o superior, os meios para empreender a t ransf ormação de sua alma. Uma
grave ingerência na nat ureza do discípul o só ocorreria se o inst rut or prat icasse essa
t ransf ormação por meios subt raídos à consciência daquele. Tais meios, porém, não são
ut ilizados por qualquer orient ação cor r et a para o desenvolviment o espirit ual em nossa
época. Uma orient ação dessas não convert e o discípulo em inst rument o cego; ela lhe
f ornece as regras de condut a, e o discípulo as coloca em prát ica. Nesse caso, sendo
convenient e, não se ocult a a razão pela qual é dada est a ou aquela regra de condut a. A
assimilação das regras e sua aplicação por uma pessoa que busca o desenvolviment o
espirit ual não precisa ocorrer com base em conf iança cega; est a deveria f icar
int eirament e excluída em t al domínio.
Quem observar a nat ureza da alma humana na medida em que isso j á ocorre na aut o-
observação comum, sem disciplina espirit ual, poderá indagar, após a assimilação das
regras recomendadas por essa disciplina: como podem t ais regras at uar na vida anímica? E
essa indagação pode, ant es de qualquer disciplina, ser sat i sf at or i ament e respondida pelo
simples emprego imparcial do int elect o humano sadio. A pessoa pode f ormar uma idéia
corret a de seu modo de at uação ant es de ent regar-se a ela. Vi venci ar esse modo de ação é
algo que, sem dúvida, só se pode f azer durant e a disciplina; só que t ambém aí a vivência
será sempre acompanhada de sua compreensão, caso a cada et apa a ser cumprida se
aplique um crit ério sadio. E at ualment e uma ciência espirit ual verdadeira só dará à
disciplina regras f rent e às quais se f aça valer um crit ério sadio. Quem desej a dedicar-se
apenas a uma discipl ina desse t i po, não se deixando compelir, por preconceit o algum, a
uma f é cega, t erá t odos os seus escrúpulos desvanecidos. Obj eções a uma disciplina
regrada para um est ado superior de consciência não o pert urbarão.
Mesmo para alguém cuj a mat uridade int erior possa conduzi-lo, em menor ou maior
prazo, ao despert ar espont âneo dos órgãos percept ivos espirit uais, a disciplina não é
supérf lua — ao cont rário, para ele é especial ment e apropriada; pois exist em poucos casos
em que uma pessoa assim não t enha de passar, ant es da iniciação espont ânea, pelos mais
diversos at alhos t ort uosos e est éreis. A disciplina lhes poupa esses at alhos, conduzindo na
direção corret a. Quando uma t al iniciação espont ânea ocorre nessa al ma, isso indica que a
alma adquiriu a mat uridade adequada em vidas ant eriores. Ora, é f ácil acont ecer de
j ust ament e uma alma assim t er cert a vaga sensação de sua mat uridade e, com base nessa
sensação, ser ref rat ária à disciplina. Tal sensação pode realment e provocar cert o orgulho,
o que impede a conf iança numa aut ênt ica discipl ina espirit ual. Cert o est ágio do
desenvolviment o anímico pode permanecer ocult o at é cert a idade, revelando-se só ent ão;
mas a disciplina pode ser j ust ament e o meio adequado para levá-l o a manif est ar-se. Se
uma pessoa se f echar à disciplina, pode ser que sua f aculdade permaneça ocult a na vida
em quest ão e só volt e a manif est ar-se numa das vidas seguint es.

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Com respeit o à disciplina para o conheciment o supra-sensível, aqui ref erida, é
import ant e evit ar o apareciment o de cert os mal-ent endidos óbvios. Um deles pode surgir
pelo f at o de se achar que a disciplina queira t ransf ormar a pessoa, com relação ao seu
modo global de vida, num out ro ser. Só que não se t rat a de dar à pessoa prescrições gerais
para sua condut a na vida, e sim de f alar-lhe sobre prát icas anímicas que, uma vez
execut adas, lhe darão a possibilidade de observar o supra-sensível. Sobre aquela part e de
suas real izações alheias à observação do supra-sensível , essas prát icas não exercem
qualquer inf luência di r et a; a pessoa acr escent a a essas realizações o dom da observação
supra-sensível. A at ividade dessa observação é t ão dist int a das realizações comuns da vida
quant o o est ado de vigília o é do est ado de sono. Um não pode pert urbar o out ro em
mínimo grau. Quem, por exemplo, quisesse impregnar o curso ordinário da vida com
impressões da visão supra-sensível , se assemelharia a uma pessoa enf erma cuj o sono
sof resse cont ínuas int errupções nocivas. Ao livre-arbít rio da pessoa exercit ada deve ser
possível provocar o est ado da observação da realidade supra-sensível . Na verdade, a disci-
plina se relaciona i ndi r et ament e com real izações da vida na medida em que sem uma
cert a condut a ét ica é impossível , ou prej udicial, a visão do supra-sensível. Por isso, muit o
daquilo que conduz à visão do supra-sensível é, ao mesmo t empo, um meio para o
enobreciment o da condut a na vida. Por out ro l ado, pela visão no mundo supra-sensível se
vêm a conhecer elevados impulsos morais, válidos t ambém para o mundo f ísico-sensorial .
Cert as necessidades morais são conhecidas pel a primeira vez a part ir desse mundo supra-
sensível.
Um segundo mal-ent endido seria acredit ar que alguma das prát icas anímicas para o
conheciment o supra-sensível t ivesse algo a ver com alt erações no organismo f ísico. Ao
cont rário, t ais prát icas não se rel acionam em absolut o com qualquer coisa que diga
respeit o à f isiologia ou a out ro ramo das Ciências Nat urais. Trat a-se de processos
purament e anímico-espirit uais, t ão independent es de qualquer element o f ísico quant o o
próprio pensament o e a percepção sadios. Por meio de t al prát ica, na alma nada ocorre
que sej a qual i t at i vament e diverso daquilo que ocorre quando ela pensa ou j ulga de
maneira sadia. Na mesma medida em que o pensar sadio t em menor ou maior relação com
o corpo, os processos da aut ênt ica disciplina espirit ual a t êm com o conheciment o supra-
sensível. Tudo o que se relacione de out ra maneira com o homem não const it ui verdadeira
disciplina espirit ual, e sim uma caricat ura dela. É no sent ido do aqui expost o que devem
ser t omadas as explicações a seguir. Só pelo f at o de o conheciment o supra-sensível ser
algo emanado da alma humana int eira é que poderá parecer serem exigidas, para a
disciplina, coisas que t ransf ormam o homem em algo dif erent e. Na verdade, t rat a-se de
indicações sobre prát icas que of erecem à alma a possibilidade de provocar, dent ro de sua
vida, moment os em que ela possa observar o supra-sensível.

A disciplina iniciát ica

A elevação a um est ado de consciência supra-sensível só pode part ir da habit ual


consciência diurna de vigília. É nessa consciência que vive a alma ant es de sua elevação.
Pela disciplina lhe são proporcionados meios que a ret iram dessa consciência. A disciplina
aqui considerada inicialment e of erece, dent re os primeiros meios, aqueles que podem ser
designados como f unções da consciência diurna comum. Just ament e os meios mais
signif icat ivos são aqueles que consist em em f unções silenciosas da alma. Trat a-se do f at o
de a alma ent regar-se a represent ações ment ais bem det erminadas. Essas represent ações
ment ais são as que, por sua essência, exercem uma f orça despert adora sobre cert as
capacidades ocult as da alma humana. Elas dif erem das represent ações ment ais da vida

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diurna despert a, cuj a t aref a é reproduzir um obj et o ext erior. Quant o mais
verdadeirament e o f azem, mais verdadeiras são. E é inerent e à sua essência o f at o de
serem verdadeiras nesse sent ido.
Não t êm essa t aref a as represent ações ment ais às quais a alma deve ent regar-se para
a met a da disciplina espirit ual. Elas são de f eit io a não reproduzir algo ext erior, pois t êm a
propriedade de at uar sobre a alma, despert ando-a. As melhores represent ações ment ais
nesse sent ido são as si mból i cas, embora possam ser ut ilizadas t ambém out ras
represent ações, pois o que import a não é seu cont eúdo, mas simplesment e o f at o de a
alma dirigir t odas as suas energias para nada mais t er em sua consciência senão as
represent ações em quest ão. Enquant o na vida anímica comum suas f orças se dividem em
muit as direções e as represent ações ment ais se alt ernam com rapidez, na disciplina
espirit ual o que import a é a concent ração de t oda a vida anímica numa represent ação
única. Est a deve ser colocada, por livre-arbít rio, no cent ro da consciência. As
represent ações simból icas são, por isso, mais apropriadas do que as que reproduzem
obj et os ou f at os ext eriores, pois est as últ imas t êm seu pont o de apoio no mundo ext erior,
e com isso a alma t em de est ear-se menos em si mesma do que no caso das simbólicas,
f ormadas pela própria energia anímica. O essencial não é o que se represent a; import ant e
é que, pelo modo de represent ação, o element o represent ado libert a o anímico de
qualquer dependência do f ísico.
Chega-se a uma compreensão desse aprof undament o numa represent ação ment al
evocando diant e da alma o concei t o da r ecor dação. Se, por exemplo, f ixarmos o ol har
numa árvore e em seguida nos af ast armos dela, de modo que j á não a possamos ver,
poderemos despert ar de novo na alma a represent ação da árvore pel a recordação. Essa
represent ação ment al da árvore, obt ida quando est a j á não se encont ra diant e dos olhos,
é uma r ecor dação da mesma. Ora, imaginemos conservar essa recordação na alma,
deixando-a repousar, de cert o modo, sobre a represent ação ment al recordat iva;
esf orcemo-nos em eliminar, nesse caso, t odas as out ras represent ações ment ais. Ent ão a
alma f ica ímer sa na represent ação ment al recordat iva da árvore. Lidamos assim com uma
imersão da alma numa represent ação ment al; cont udo, essa represent ação ment al é a
reprodução de algo percebido pelos sent idos. Procedendo, porém, da mesma f orma com
uma represent ação ment al colocada na consciência por livre vont ade, poderemos
gradat ivament e obt er o ef eit o desej ado.
Ilust raremos um exemplo de aprof undament o int erior com uma represent ação ment al
simból ica. A princípio, deve-se primeiro const ruir na al ma essa represent ação ment al. Isso
pode suceder da seguint e maneira:
Imaginemos uma plant a — como ela se enraiza no solo, como produz f olha por f ol ha,
como desabrocha em f l or. E agora imaginemos um homem post ado ao lado dessa plant a.
Tornemos vivo em nossa alma o pensament o a respeit o de como o homem possui
qualidades e f aculdades que, f rent e às da plant a, podem ser chamadas de mais perf eit as.
Consideremos como ele, de acordo com seus sent iment os e sua vont ade, pode dirigir-se de
um lugar a out ro, enquant o a plant a est á presa ao solo. Mas t ambém ponderemos o
seguint e: sim, cert ament e o homem é mais perf eit o do que a plant a; mas em
compensação me deparo, nele, com caract eríst icas que não observo na plant a e por cuj a
ausência est a me pode parecer, em cert o sent ido, mais perf eit a do que o homem. O
homem est á preenchido por desej os e paixões, que ele segue em sua condut a. Em seu
caso, posso f alar de erros por causa de seus impulsos e paixões. No caso da plant a, vej o
como ela segue as puras leis do cresciment o f olha por f olha, e como abre impassivelment e
suas f lores aos cast os raios do sol. Posso dizer a mim mesmo: o homem t em cert a
perf eição precedent e à plant a, mas pagou por essa perf eição ao permit ir que às f orças da

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plant a em seu ser, as quais me parecem t ão puras, se acrescent em inst int os, apet it es e
paíxões. Ent ão imagino a seiva verde f luindo at ravés da plant a, sendo a expressão para as
puras leis desapaixonadas do cresciment o. Depois penso como o sangue vermelho circula
pelas veias do homem, sendo expressão para os inst int os, apet it es e paixões. Deixo t udo
isso surgir em minha al ma como um pensament o vivo.
A seguir considero como o homem é capaz de evoluir; como pode depurar e purif icar
seus inst int os e paixões mediant e suas f aculdades anímicas superiores. Imagino como,
dessa maneira, um element o inf erior é dest ruído nesses inst int os e paixões, que renascem
num nível superior. Ent ão é possível imaginar o sangue como a expressão dos inst int os e
paixões depurados e purif icados. Agora, por exemplo, dirij o o olhar espirit ual à rosa e digo
a mim mesmo: na seiva vermelha da rosa vej o a cor da seiva veget al verde t ransmut ada
em vermelho; e a rosa vermelha segue, t ant o quant o a f olha verde, as puras e
desapaixonadas leis do cresciment o. O vermelho da rosa poderá ser, para mim, o símbolo
de um sangue expressivo de inst int os e paixões depurados, que se despoj aram do
element o inf erior e, em sua pureza, igualam-se às f orças at uant es na rosa vermelha.
Procuro agora não apenas elaborar t ais pensament os em meu int elect o, mas t ambém
t orná-los vivos em meu sent iment o. Posso experiment ar uma sensação de bem-
avent urança ao represent ar ment alment e a pureza e a ausência de paixão na plant a em
cresciment o; posso produzir em mim o sent iment o de como cert as perf eições superiores
devem ser obt idas à cust a de inst int os e paixões. Isso pode t ransf ormar a bem-
avent urança, sent ida por mim ant eriorment e, num sent iment o grave; ent ão se agit a em
mim um sent iment o de alegria libert adora quando me ent rego ao pensament o do sangue
vermelho, que pode t ornar-se o port ador de puras vivências int eriores, t al como a seiva
vermelha da rosa. O import ant e é não f icar impassível diant e dos pensament os que servem
à const rução de uma represent ação ment al simbólica.
Depois de percorridos t ais pensament os e sent iment os, deve-se t ransf ormá-los na
seguint e represent ação ment al simbólica:
Imagine-se uma cruz negra; sej a ela símbol o para o element o inf erior aniquilado dos
inst int os e paixões; e no pont o onde os braços da cruz se cort am, imaginem-se set e rosas
vermelhas resplandecent es, ordenadas em círculo. Sej am essas rosas o símbol o para um
sangue que é a expressão para paixões e inst int os depurados e purif icados. 46 Uma
represent ação simbólica como essa será evocada na alma do mesmo modo como f oi
ilust rado acima no caso de uma represent ação ment al recordat iva. Tal represent ação
ment al t em uma f orça despert adora da alma quando nos ent regamos a ela em prof unda
int eriorização. Deve-se procurar excluir qualquer out ra represent ação ment al durant e o
aprof undament o. Simplesment e o símbolo caract erizado deve pairar espirit ualment e
diant e da alma, de modo t ão vivo quant o possível.
Não é sem razão que esse símbol o f oi indicado aqui não simplesment e como uma
represent ação ment al despert adora, mas t endo sido primeiro const ruído por meio de
represent ações relat ivas a plant as e ao homem. É que o ef eit o de t al símbolo depende de
est e t er sido conf igurado da maneira descrit a, ant es de o empregarmos na int eriorização.
Se o imaginarmos sem primeiro t ermos percorrido essa el aboração na própria al ma, ele
permanecerá f rio e muit o menos ef icaz do que se houvesse recebido sua f orça iluminadora

46
Não import a at é que pont o est a ou aquela concepção das Ciências Nat urais considere j ust if icados ou não os
pensament os acima — pois se t rat a do desenvolviment o de idéias sobre plant as e o homem, as quais, sem
qualquer t eoria, podem ser obt idas por meio de uma da visão simples e imediat a. Tais pensament os t ambém
possuem sua import ância ao lado das idéias t eóricas — não menos import ant es em out ro sent ido — sobre as
coisas do mundo ext erior. E aqui os pensament os não visam a expor cient if icament e um est ado de coisas, e
sim a const ruir um símbol o que se most re animicament e at ivo, sendo indif erent e quais obj eções ocorram a
est a ou aquela pessoa quant o à const rução desse símbolo. (NA. )

126
da alma mediant e preparo. Cont udo, durant e a int eriorização não se deve evocar na alma
t odos os pensament os preparat órios, mas apenas t er, em espírit o, o símbolo pairando
vivament e e, nesse caso, deixar vibrar t ambém aquel a sensação que se inst alou como
result ado dos pensament os preparat órios. Assim o símbol o se t orna um signo ao lado da
vivência da sensação, e é na demora da alma nessa vivência que reside o aspect o at uant e.
Quant o mais ela se possa demorar sem que out ra represent ação ment al pert urbadora
venha imiscuir-se, mais ef icaz será t odo o processo.
Cont udo é út il, f ora do t empo dedicado ao aprof undament o propriament e dit o,
repet ir com f reqüência a const rução da imagem por meio de pensament os e sent iment os
do t ipo descrit o acima, para que a sensação não empalideça. Quant o mais se t em
paciência com essa renovação, t ant o mais signif icado possui a imagem para a al ma. (Nas
explicações de meu livro O conheci ment o dos mundos super i or es são f ornecidos ainda
out ros exemplos de meios para a int eriorização. Especialment e ef icazes são as medit ações
ali descrit as sobre o cresciment o e o pereciment o de uma plant a, sobre as f orças criadoras
lat ent es numa sement e, sobre as f ormas de crist ais, et c. No present e livro, quisemos ilus-
t rar com um exemplo a nat ureza da medit ação. )
Um símbolo como o que aqui é descrit o não ret rat a qualquer obj et o ou ser ext erior
criado pela nat ureza; mas j ust ament e por isso possui sua f orça despert adora de f aculdades
purament e anímicas. Cert ament e alguém poderia obj et ar: “ É verdade que o ‘ t odo’ , como
símbol o, não exist e por int ermédio da nat ureza; porém t odos os det al hes f oram t omados
dela: a cor negra, as rosas, et c. Tudo isso é percebido pelos sent idos. ” Quem f or
pert urbado por t al obj eção deveria considerar que não são as reproduções das percepções
sensoriais que despert am as f aculdades anímicas superiores; esse ef eit o é provocado
simplesment e — pela manei r a de combi nar esses det alhes, e essa combinação não
reproduz algo que exist a no mundo sensorial.
Foi com um símbolo — a t ít ulo de exemplo — que quisemos ilust rar o processo da
int eriorização at iva da alma. Na disciplina espirit ual, pode-se empregar as mais variadas
imagens dessa espécie, const ruindo-as dos mais diversos modos. Pode-se t ambém indicar
cert as f rases, f órmul as, palavras isoladas, nas quais a pessoa deve aprof undar-se. Em t odo
o caso, esses meios para a int eriorização t erão como met a liberar a alma da percepção
sensorial e est imulá-la a uma at ividade em que a impressão sobre os sent idos f ísicos sej a
insignif icant e e o desabrochar das f aculdades lat ent es dent ro da al ma sej a o essencial .
Pode t rat ar-se t ambém de int eriorizações ef et uadas merament e em sent iment os,
sensações, et c. , o que se most ra part icularment e ef icaz.
Tomemos, por exemplo, o sent iment o de alegria. No curso normal da vida, a al ma
pode experiment ar alegria quando exist e uma causa ext erior para isso. Quando uma alma
dot ada de sensibil idade normal percebe como alguém realiza um at o por bondade de
coração, ela sent e sat isf ação e alegria por t al at o. Porém essa alma pode ref let ir sobre
uma ação dessa espécie e dizer a si própria: “ Um at o execut ado por bondade de coração
éum at o cuj o aut or não age em seu próprio int eresse, e sim no int eresse de seu
semelhant e. Tal ação pode ser denominada moralment e boa. ” Ora, mas a alma que
observa pode libert ar-se int eirament e da represent ação ment al do caso part icular no mun-
do ext erior, que lhe deu alegria ou prazer, e f ormar para si uma idéia abrangent e da
bondade de coração. Pode pensar, de cert o modo, como a bondade de coração nasce pelo
f at o de uma alma absorver, por assim dizer, o int eresse da out ra, convert endo-o em seu
próprio int eresse. Ent ão a alma pode comprazer-se nessa idéia moral da bondade de
coração. Essa alegria não est á ligada a est e ou aquele acont eciment o do mundo sensível,
mas a uma i déi a como t al. Procurando-se deixar essa alegria viva na alma durant e longo
t empo, isso const it ui int eriorização num sent iment o, numa sensação. Não é, pois, a idéia

127
o f at or ef icaz para o despert ar das f aculdades anímicas int eriores, e sim a prol ongada
presença, na alma, de um sent iment o não provocado por uma simples impressão ext erna
isolada.
Como o conheciment o supra-sensível é capaz de penet rar mais prof undament e na
essência das coisas do que o pensar comum, de suas experiências podem result ar
sensações que at uam em grau ainda mais elevado para o desenvolviment o das f aculdades
anímicas quando empregadas na int eriorização. Por mais que isso sej a necessário aos graus
superiores da disciplina esot érica, não se deve esquecer que a enérgica int eriorização em
sent iment os e sensações como, por exemplo, aquele caract erizado no caso da bondade de
coração, j á pode conduzir muit o longe.
Como as ent idades dos homens dif erem ent re si, t ambém são dif erent es os meios de
disciplina ef icazes para cada um. Quant o à duração do aprof undament o, deve-se t er em
cont a que o ef eit o é t ant o mais int enso quant o mais t ranqüilo e del iberado possa ser esse
aprof undament o. Cont udo, qualquer exagero nessa direção deve ser evit ado. Cert o t at o
int erior, f rut o dos próprios exercícios, pode ensinar ao discípulo em quê ele deverá det er-
se, nesse sent ido.
Via de regra, a pessoa t erá de realizar t ais exercícios em ínt imo aprof undament o
durant e muit o t empo ant es de poder perceber seu result ado por si própria. Duas coisas são
inerent es à disciplina espirit ual: a paciência e a perseverança. Quem não despert ar ambas
as qual idades em si mesmo, não f azendo cont ínuament e seus exercícios com t oda a
t ranqüilidade, de modo que a paciência e a perseverança const it uam sempre a disposição
f undament al de sua alma, não poderá alcançar muit a coisa. Pelas explicações acima, f ica
evident e que o aprof undament o int erior (medit ação) é um meio para se alcançar o
conheciment o dos mundos superiores, mas t ambém que nem t odo cont eúdo ment al
aleat ório conduz a eles, e sim apenas o que f or conf igurado da maneira descrit a.
O caminho aqui indicado conduz inicialment e ao que se pode chamar de
conheciment o i magi nat i vo. Trat a-se do primeiro grau do conheciment o superior. O
conheciment o baseado nas percepções sensoriais e em sua elaboração pelo int elect o,
ligado aos sent idos, pode — no sent ido da Ciência Espirit ual — ser chamado de
‘ conheciment o obj et ivo’ . É acima dest e que se sit uam os graus cognit ivos superiores, dos
quais o primeiro é j ust ament e o conheciment o imaginat ivo. A expressão ‘ imaginat iva’
poderia dar o que pensar a quem considerasse ‘ imaginação’ apenas uma represent ação
‘ imaginária’ , sem correspondência com qual quer coisa real. Na Ciência Espirit ual,
cont udo, o conheciment o ‘ imaginat ivo’ deve ser concebido como f rut o de um est ado de
consciência supra-sensível da alma. O que é percebido nesse est ado de consciência são
f at os e seres espirit uais aos quais os sent idos não t êm qualquer acesso. Como esse est ado
é despert ado na alma mediant e o aprof undament o em símbolos ou ‘ imaginações’ , t ambém
o mundo desse est ado superior de consciência pode ser chamado de ‘ imaginat ivo’ , bem
como seu respect ivo conheciment o. ‘ Imaginat ivo’ signif ica, port ant o, algo que é ‘ real’
num sent ido dif erent e do que o são os f at os e ent idades da percepção sensorial f ísica. O
cont eúdo das represent ações ment ais que preenchem a vivência imaginat iva não import a;
por out ro lado, import a t udo na f aculdade anímica desenvolvida durant e essa vivência.
Uma obj eção bem provável ao emprego das caract erizadas represent ações simbólicas
é que sua f ormação derivaria de um devaneio e de uma elucubração arbit rária, só
podendo, port ant o, t er result ados duvidosos. Diant e dos símbolos subj acent es à disciplina
espirit ual met ódica, t al raciocínio é inj ust if icável — pois os símbol os são escolhidos de
maneira a se abst rair complet ament e de sua relação com uma realidade sensorial ext erior,
podendo seu valor ser buscado unicament e na f orça com a qual eles agem sobre a alma
quando est a af ast a t oda a sua at enção do mundo ext erior, quando suprime t odas as

128
impressões dos sent idos e t ambém elimina t odos os pensament os que possa nut rir por
mot ivo ext erior. A melhor ilust ração do processo da medit ação ocorre por sua comparação
com o est ado de sono. Por um lado ela se assemelha a est e e, por out ro, é
diamet ralment e opost a; ela é um sonho que, f rent e à consciência diurna, represent a um
est ado superior de vigília. O import ant e é que, pela concent ração na represent ação
ment al correspondent e, a alma é obrigada a ext rair de suas próprias prof undezas energias
muit o mais pot ent es do que emprega na vida ou no conheciment o comuns. Com isso sua
mobilidade int erior é aument ada. Ela se libert a da corporalidade, t al qual durant e o sono;
cont udo não passa, como nest e últ imo, a uma inconsciência, e sim vivencia um mundo que
nunca experiment ou ant es. Seu est ado, embora pelo lado da liberação do corpo sej a
comparável ao sono, em relação à consciência diurna comum se f az designar como um
est ado el evado de vi gíl i a. Desse modo a alma experiment a a si mesma em sua verdadeira
nat ureza ínt ima e aut ônoma, enquant o na vigília diurna habit ual — devido ao
desenvolviment o mais débil de suas f orças nessa sit uação — só se t orna aut oconscient e por
meio do corpo, ou sej a, não experiment a a si mesma, percebendo-se apenas na imagem
que — como uma espécie de ref lexo — o corpo (na verdade, seus processos) esboça diant e
dela.
Os símbolos est rut urados da f orma acima descrit a ainda não correspondem,
nat uralment e, a algo real no mundo espirit ual. Eles servem para emancipar a al ma
humana da percepção sensorial e do inst rument o cerebral ao qual o int elect o est á ini-
cialment e ligado. Essa emancipação não pode acont ecer at é que a pessoa sint a: “ Agora
represent o ment alment e algo por meio de f orças para as quais nem meus sent idos nem
meu cérebro servem de inst rument o. ” A primeira experiência do homem nesse caminho é
essa emancipação em relação aos órgãos f ísicos. Ent ão el e pode dizer a si mesmo: “ Minha
consciência não se ext ingue quando deixo de lado as percepções sensoriais e o pensar
int elect ual comum; posso elevar-me acima deles e sent ir-me como um ser ao l ado do que
eu era ant es. ” Eis a primeira experiência purament e espirit ual: a observação de uma
nat ureza anímico-espirit ual do eu. Est a se desprendeu, como uma nova ident idade,
daquela que est á ligada soment e aos sent idos e ao int elect o f ísicos. Caso se houvesse
desprendido do mundo sensível e int elect ual sem o aprof undament o, a pessoa f icaria
submersa no ‘ nada’ da inconsciência. Obviament e ela j á possuía essa nat ureza anímico-
espirit ual ant es do aprof undament o, mas ainda não dispunha de qualquer inst rument o
para a observação do mundo espirit ual. Era, por assim dizer, como um corpo f ísico
desprovido de olhos para ver ou de ouvidos para ouvir. Foi só a energia empregada no
aprof undament o que produziu os órgãos anímico-espirit uais da ent idade anímico-
espirit ual , ant es não-organizada.
O que a pessoa criou para si dessa f orma é t ambém percebido em primeiro lugar. A
primeira vivência é port ant o, em cert o sent ido, a aut opercepção. É inerent e à disciplina
espirit ual o f at o de que, pela prát ica da aut o-educação, nesse pont o de seu
desenvolviment o a alma t em plena consciência de est ar percebendo a si mesma nos
mundos das imagens (imaginações) surgidas em decorrência dos exercícios descrit os. É
bem verdade que essas imagens surgem como que vivendo num novo mundo; porém a al ma
deve reconhecer que a princípio elas não passam de um ref lexo de seu próprio ser,
f ort alecido pelos exercícios. E não bast a reconhecer isso com um j uízo corret o; é preciso
t ambém t er chegado a um t al desenvolviment o da vont ade que a qualquer moment o possa
af ast ar, ext inguir novament e essas imagens da consciência. A alma deve poder mover-se
com t oda a liberdade e com plena consciência dent ro dessas imagens. Nest e pont o, isso
f az part e da verdadeira disciplina espirit ual. Se não f osse capaz disso a alma se
encont raria, no domínio das vivências espirit uais, na mesma sit uação em que est aria no

129
mundo f ísico uma al ma que, ao f ocalizar um obj et o, f icasse f ascinada por ele a pont o de
não poder mais af ast ar o olhar de sua direção.
Uma exceção a essa possibilidade de ext inção é const it uída por um grupo de
vivências imagét icas int eriores que, nesse grau da disciplina espirit ual, não deve
desaparecer. Esse grupo corresponde ao núcleo anímico próprio, e o discípulo reconhece
nessas imagens aquele element o de si mesmo que at ravessa suas repet idas vidas t errenas
como seu ser f undament al. Nesse pont o, a percepção de repet idas vidas t errenas se t orna
uma vivência real. Com relação a t odo o rest o, deve reinar a mencionada liberdade das
vivências; e soment e após haver adquirido a f aculdade de ext inção é que o prat icant e se
acerca do verdadeiro mundo espirit ual ext erior. No lugar do element o ext int o ent ra algo
dif erent e, no qual se reconhece a realidade espirit ual. A pessoa sent e-se crescer, anímica
ment e, de algo indet erminado para algo det erminado. É dessa aut opercepção que se deve
ent ão passar para a observação de um mundo ext erior anímico-espirit ual. Isso acont ece
quando se ordena a própria experiência int erior no sent ido que indicaremos a seguir.
De início, a alma do discípulo espirit ual é débil em relação a t udo o que há para ser
percebido no mundo anímico-espirit ual. Ele j á t erá de empregar uma grande energia para
ret er, durant e o aprof undament o int erior, os símbolos ou out ras represent ações ment ais
que const ruiu para si a part ir de est ímulos do mundo sensorial. Se, além disso, quiser
alcançar uma verdadeira observação num mundo superior, deverá não apenas ser capaz de
det er-se nessas represent ações: uma vez f eit o isso, deverá poder permanecer num est ado
em que não at ue sobre a alma qualquer est ímulo do mundo ext erior sensível, mas t ambém
as próprias represent ações imaginadas, acima descrit as, sej am apagadas da consciência.
Só ent ão poderá surgir nela o que se f ormou pelo aprof undament o. Trat a-se agora de
exist ir energia anímica suf icient e para que o cont eúdo assim f ormado sej a realment e
percebido de modo espirit ual, não escapando à at enção — f at o que acont ece
invariavelment e quando a energia int erior desenvolvida ainda é f raca.
O que se f orma inicialment e como organismo anímico-espirit ual, devendo ser capt ado
na aut opercepção, é delicado e f ugaz. Além disso, as pert urbações do mundo ext erior
sensível e suas repercussões na memória, por mais que a pessoa se esf orce em af ast á-las,
são grandes. Aliás, t rat a-se não só das pert urbações que se percebem, e sim, muit o mais,
daquelas que não se percebem na vida cot idiana.
Todavia, é j ust ament e pela própria nat ureza humana que se t orna possível um est ado
de t ransição nesse sent ido. O que a alma não pode realizar no est ado de vigília, devido às
pert urbações do mundo f ísico, ela consegue durant e o sono. Quem se ent regar ao
aprof undament o int erior not ará, se prest ar a devida at enção, algo part icular em seu sono.
Sent irá que durant e o sono ele ‘ não dorme t ot alment e’ , t endo sua alma moment os em
que, apesar de est ar dormindo, desenvolve cert a at ividade. Em t ais est ados, os processos
nat urais mant êm af ast adas as inf luências do mundo ext erior que, durant e a vigília, a alma
ainda não pode af ast ar por f orça própria. Uma vez, no ent ant o, que os exercícios de
concent ração t enham at uado, a alma se libert a da inconsciência durant e o sono e sent e o
mundo anímico-espirit ual. Isso pode ocorrer de duas maneiras. Pode ser que para uma
pessoa f ique bem claro, durant e o sono: “ Agora est ou num out ro mundo” ; ou t alvez ela
t enha, ao despert ar, a recordação: “ Est ive num out ro mundo” . Evident ement e, ao
primeiro caso corresponde uma energia maior do que ao segundo. Por isso est e últ imo caso
será o mais f reqüent e com relação ao principiant e na disciplina espirit ual. Pouco a pouco,
isso pode progredir a pont o de o discípulo comprovar ao despert ar: “ Durant e t odo o t empo
de sono est ive em out ro mundo, do qual emergi ao despert ar. ” Sua lembrança das
ent idades e f at os desse out ro mundo se t ornará cada vez mais def inida. Em ambos os
casos, produziu-se no discípulo o que se pode chamar de cont inuidade da consciência (a

130
cont inuidade da consciência durant e o sono). Com isso não se quer absolut ament e dizer
que o homem sempre conserva sua consciência durant e o sono. Já é uma grande conquist a
para a cont inuidade de consciência quando a pessoa, habit uada a dormir como qualquer
out ra, durant e o sono dispõe de cert os int ervalos nos quais pode cont emplar como que
conscient ement e um mundo anímico-espirit ual; ou, no est ado de vigília, pode como que
reconst it uir esses est ados t ransit órios de consciência.
Cont udo, não se deve deixar de at ent ar ao f at o de que o processo aqui descrit o deve
ser concebido apenas como um est ado de t ransição. É bom passar por esse est ado
t ransit ório com vist as à disciplina, mas não se deve absolut ament e acredit ar que desse
est ado se possa ext rair uma visão conclusiva a respeit o do mundo anímico-espirit ual .
Nesse est ado a alma est á insegura, não podendo ainda conf iar no que percebe. No
ent ant o, graças a essas vivências ela adquire cada vez mais f orça para, t ambém durant e a
vigília, mant er af ast adas de si as inf luências pert urbadoras do mundo f ísico ext erior e
int erior, alcançando a observação anímico-espirit ual quando nenhuma impressão advém
dos sent idos, quando o int elect o ligado ao cérebro f ísico silencia e t ambém est ão
af ast adas da consciência as represent ações ment ais do aprof undament o, mediant e as
quais houve apenas uma preparação para a visão espirit ual. O que é divulgado pel a Ciência
Espirit ual de uma ou de out ra f orma nunca deveria provir de uma observação anímico-
espirit ual que não houvesse sido realizada em pleno est ado de vigíl ia.
Duas vivências anímicas são import ant es no progresso da disciplina espirit ual. A
primeira é aquela que leva o homem a dizer a si próprio: “ Mesmo abst raindo de t odas as
impressões que o mundo f ísico ext erior me pode of erecer, eu não olho para o meu int erior
como para um ser do qual sej a ext int a qualquer at ividade; eu cont emplo um ser
aut oconscient e num mundo do qual nada sei enquant o me deixo est imular soment e pelas
impressões sensoriais e comuns do int elect o. ” Nesse moment o a alma t em a sensação de
t er dado à luz dent ro de si própria, conf orme descrit o acima, um novo ser como núcleo de
sua essência anímica. E esse ser possui qualidades t ot alment e diversas daquelas at é ent ão
exist ent es na alma.
A out ra vivência consist e no f at o de agora em diant e pessoa poder considerar seu ser
ant erior como um segundo ser a seu lado. Aquilo onde at é ent ão ela se sent ia encerrada se
t orna, em cert o sent ido, algo com que ela se def ront a. Ela se sent e t emporariament e f ora
do que normalment e considerava sua própria ent idade, seu ‘ eu’ . É como se, em plena
consciência, vivesse dent ro de dois ‘ eus’ . O primeiro é aquele que conheceu at é ent ão; o
out ro se encont ra acima dest e como uma ent idade recém-nascida. E a pessoa sent e como
o primeiro alcança uma cert a independência f rent e ao segundo — algo semelhant e ao
modo como o corpo humano alcança cert a independência f rent e ao primeiro eu.
Essa experiência é de grande import ância, pois f acult a ao homem saber o que
signif ica viver no mundo que ele almej a alcançar pela disciplina.
O segundo eu — o recém-nascido — pode agora ser conduzido à percepção no mundo
espirit ual. Nele pode desenvolver-se aquilo que t em, para o mundo espirit ual, a mesma
signif icação que t êm os órgãos sensórios para o mundo f ísico-sensível. Uma vez t endo essa
evolução alcançado o nível necessário, o homem não apenas se sent irá como um eu
recém-nascido, mas agora perceberá ao seu redor f at os e seres espirit uais do mesmo modo
como percebe o mundo f ísico por meio dos sent idos f ísicos. Essa é uma t er cei r a
experiência signif icat iva. Para corresponder plenament e a essa f ase da disciplina
espirit ual, o homem precisa cont ar com o f at o de que, com o f ort aleciment o das f orças
anímicas, o amor-próprio e o sent ido de si mesmo se apresent am com uma int ensidade
desconhecida na vida anímica normal. Seria um mal-ent endido acredit ar que, nesse pont o,
caberia f al ar soment e do amor-próprio comum. Nessa f ase da evolução, ele se f ort alece

131
de modo assumir semel hança com uma f orça nat ural dent ro da própria alma, e é preciso
uma vigorosa disciplina da vont ade para vencer esse f ort e egot ismo. 47 Esse egot ismo não é
como que produzido pela disciplina espirit ual; ele est á sempre present e, mas só alcança a
consciência pela vivência no espírit o.
A disciplina da vont ade deveria evoluir paralelament e à disciplina espirit ual. Exist e
no ser humano um f ort e impulso para sent ir-se f eliz num mundo que ele criou apenas para
si. E de cert a f orma é preciso poder ext inguir, da maneira mencionada, o que ant es f oi
obj et o de t ant os esf orços. No mundo imaginat ivo alcançado, a pessoa deve ext inguir a si
mesma. Por out ro lado, cont ra isso l ut am os mais poderosos impulsos do egot ismo.
Pode surgir f acilment e a crença de que os exercícios da disciplina espirit ual sej am
algo ext erior, independent e do desenvol vi ment o mor al da alma. Diant e disso se deve dizer
que a f orça moral necessária para a mencionada vit ória sobre o egot ismo não pode ser
alcançada sem que se t enha conduzido a condição moral da alma a um nível
correspondent e. O progresso na disciplina espirit ual é inimaginável sem o surgiment o
simult âneo e necessário de um progresso moral. Sem f orça moral, o mencionado t riunf o
sobre o egot ismo é impossível. Toda alegação de que a verdadeira disciplina espirit ual não
sej a ao mesmo t empo uma disciplina moral é simplesment e imprópria. Só em quem desco-
nheça t al experiência pode surgir a seguint e obj eção: “ Como é possível saber se, no caso
de se acr edi t ar t er percepções espirit uais, t rat a-se de realidades e não de meras f ant asias
(visões, alucinações, et c. )?” Acont ece que quem alcançou o caract erizado nível graças a
uma disciplina met ódica é capaz de dist inguir ent re sua pr ópr i a represent ação ment al e
uma realidade espirit ual, do mesmo modo como um homem com int elect o sadio é capaz
de dist inguir ent re a represent ação de um pedaço de f erro ardent e e a exist ência real
desse obj et o que ele t oca com a mão. A dif erença é f ornecida j ust ament e pel a
experiência sadia, e por nada mais.
Também no mundo espirit ual, a própria vida f ornece a pedra de t oque. Assim como
se sabe que no mundo sensível um pedaço imaginado de f erro — por mais ardent e que se
pense ser — não queima os dedos, o discípulo exercit ado sabe se est á vivenciando um f at o
espirit ual apenas em sua f ant asia ou se, em seus órgãos de percepção espirit ual despert os,
f at os ou ent idades r eai s causam uma impressão. As medidas que devem ser observadas
durant e a disciplina espirit ual para não se cair vít ima de ilusões serão abordadas na
exposição a seguir.
É da maior import ância que o discípulo espirit ual t enha adquirido uma disposição
anímica bem det erminada quando a consciência de um eu recém-nascido despert a nele.
Ora, por meio de seu eu o homem é o condut or de suas sensações, seus sent iment os,
represent ações ment ais, seus inst int os, desej os e paixões. Percepções e represent ações
ment ais não podem ser abandonadas a si mesmas na alma; devem ser ordenadas pela
ref lexão pensant e. É o eu que manipula essas leis do pensar e que, por meio delas,
int roduz ordem na vida das represent ações ment ais e dos pensament os. Algo semelhant e
acont ece com os desej os, os inst int os, as inclinações e as paixões. As normas ét icas
f undament ais t ornam-se os guias dessas f orças anímicas; e, graças ao j uízo moral , o eu se
t orna o guia da alma nesse domínio. Ora, quando o homem ext rai de seu eu habit ual um
Eu Superior, o primeiro se t orna, de cert a maneira, aut ônomo. Dele é subt raída t ant a
f orça vit al quant o a empregada no Eu Superior.
Suponha-se que uma pessoa ainda não t enha desenvolvido em si uma cert a habilidade
e f irmeza nas leis do pensament o e no j uízo, e queira, nesse nível, dar à luz seu Eu
Superior. Ao seu eu habit ual caberá a f aculdade de pensar na mesma medida em que ele a

47
Fort e sent iment o de si mesmo; egolat ria. (N. T. )

132
t enha desenvolvido previament e. Se a quant idade de pensament o discipl inado f or
demasiadament e pequena, surgirá no eu habit ual emancipado um pensar e um j ulgar
desordenados, conf usos e f ant asiosos. E como numa pessoa assim o eu recém-nascido só
pode ser débil, na percepção supra-sensível o eu inf erior pert urbado alcançará a
supremacia, e a pessoa não most rará equilíbrio em seu j uízo para a observação do supra-
sensível. Se houvesse desenvolvido suf icient ement e a f aculdade do pensament o lógico, ela
poderia ent regar t ranqüilament e seu eu habit ual à sua aut onomia.
No domínio da ét ica ocorre a mesma coisa. Se o homem não houver obt ido f irmeza no
j uízo moral, se não se houver t ornado suf icient ement e senhor das inclinações, inst int os e
paixões, concederá aut onomia ao seu eu habi t ual num est ado em que at uam as cit adas
f orças anímicas. Pode haver caso em que, na const at ação dos conheciment os supra-
sensíveis vivenciados, o homem não se deixe t omar por um sent ido t ão elevado da verdade
como naquilo que ele leva à consciência por int ermédio do mundo f ísico ext erior. Com um
sent ido assim f rouxo da verdade, ele poderia t omar por realidade espirit ual t odo t ipo
possível de manif est ação que não passasse de f ant asia sua. Nesse sent ido da verdade de-
vem int ervir a solidez do j uízo ét ico, a f irmeza de carát er e a prof undidade de
consciência, desenvolvidas no eu deixado para t rás ant es de o Eu Superior ent rar em
at ividade com o obj et ivo do conheciment o supra-sensível. Ist o não deve, absolut ament e,
const it uir um mot ivo de int imidação diant e da disciplina espirit ual; cont udo, deve ser
levado muit o a sério.
Quem possui a f irme vont ade para f azer t udo o que conduz o primeiro eu à segurança
int erior no exercício de suas f unções não precisa, em absolut o, recuar diant e do
desprendiment o de um segundo eu provocado pela disciplina espirit ual para o co-
nheciment o supra-sensível. Deve apenas est ar cient e de que a aut o-sugest ão t em um
grande poder sobre o homem quando se t rat a de est e se considerar um pouco
‘ amadurecido’ . Na disciplina espirit ual aqui descrit a, o homem alcança um t al desenvolvi-
ment o de sua vida pensament al que não pode incorrer no perigo de errar, como
f reqüent ement e se supõe. Esse cult ivo do pensament o f az com que t odas as necessárias
vivências int eriores se apresent em, porém sucedendo da maneira como devem ser per-
corridas pel a alma, sem se f azer acompanhar por del írios prej udiciais. Sem o cult ivo
adequado do pensament o, as vivências provocar uma f ort e insegurança na alma. O
mét odo aqui indicado f az com que as vivências se apresent em de modo que a pessoa as
conheça perf eit ament e, t al qual se conhecem as percepções do mundo f ísico numa
condição anímica sadia. Pelo cul t ivo da vida pensant e, o homem se t orna mais um
obser vador daquilo que presencia em si mesmo, ao passo que sem essa vida pensant e f ica
desat inado dent ro da experiência.
Consideram-se inerent es a uma disciplina met ódica cert as qualidades a serem
adquiridas, mediant e exercícios, por quem queira encont rar o caminho para os mundos
superiores. Trat a-se principalment e do domínio da alma sobre a direção de seus pen-
sament os, de sua vont ade e de seus sent iment os. O modo como esse domínio é obt ido por
meio de exercícios t em uma dupla f inalidade. De um lado, a alma deve ser t ão
impregnada por f irmeza, segurança e equilíbrio que possa ser capaz de conservar essas
qualidades mesmo após o nasciment o do segundo eu; de out ro lado, esse segundo eu deve
receber f orça e consist ência int erior quando est iver a caminho.
O mais necessário ao pensament o do homem, para a disciplina espirit ual, é a
obj et ividade. No mundo f ísico-sensorial , a vida é o grande mest re do eu humano nesse
sent ido. Se a alma quisesse deixar seus pensament os vagar ao acaso, deveria l ogo deixar-
se corrigir pela vida caso não quisesse ent rar em conf lit o com eles. A alma deve pensar de
acordo com o curso dos f at os da vida. Ora, quando o homem desvia sua at enção do mundo

133
f ísico-sensorial, f alt a-lhe o obrigat ório corret ivo dest e últ imo. Caso seu pensar sej a
incapaz de aut ocorreção, acabará errant e como um f ogo-f át uo. Por isso o pensar do
discípulo espirit ual deve exercit ar-se de modo a poder dar a si mesmo direção e met a.
Firmeza int erior e a f aculdade de mant er-se est rit ament e concent rado num obj et o, eis o
que o pensament o deve cult ivar para si. Por isso os correspondent es ‘ exercícios de
pensament o’ não devem aplicar-se a obj et os est ranhos e complicados, e sim àqueles sim-
ples e f amiliares. Quem conseguir durant e meses consecut ivos, ao menos por apenas cinco
minut os diários, concent rar seu pensament o num obj et o comum (por exemplo, num
alf inet e, num lápis, et c. ), eliminando durant e esse t empo qualquer pensament o não-
relacionado com esse obj et o, j á t erá f eit o muit o nessa direção. (Pode-se f ocalizar
diariament e um novo obj et o ou mant er um único obj et o durant e vários dias. ) Mesmo quem
se sint a um ‘ pensador’ , devido à sua educação cient íf ica, não deveria desprezar essa
f orma de t ornar-se ‘ maduro’ para a disciplina espirit ual — pois quando, durant e algum
t empo, dedica o pensament o a al go bem f amiliar, pode t er cert eza de est ar pensando
obj et ivament e. Quem pergunt a a si mesmo: quais são as part es que compõem um lápis?,
como se preparam os mat eriais para o lápis?, como serão agregados depois?, quando f oram
invent ados os lápis?, et c. , segurament e adapt a mais suas ponderações à realidade do que
quem ref let e sobre a origem do homem ou sobre o que é a vida. Por meio de exer cíci os
ment ai s si mpl es aprende-se mais, para uma represent ação ment al obj et iva a respeit o do
mundo das evoluções sat urnína, solar e lunar, do que por meio de idéias complicadas e
erudit as. Ora, o que import a de início não é pensar sobre ist o ou aquilo, e sim pensar
obj et i vament e por mei o de ener gi a i nt er i or . Uma vez t endo-se assimilado a obj et ividade
por um processo f ísico-sensorial de f ácil domínio, o pensar se acost uma a querer ser
t ambém obj et ivo, mesmo quando não se sent e dominado pel o mundo f ísico-sensível e suas
leis. E a pessoa se libert a do hábit o de deixar os pensament os vagar a esmo.
Assim como é soberana no mundo dos pensament os, a al ma deve vir a sê-l o t ambém
no âmbit o da vont ade. No mundo f ísico-sensível, t ambém é a vida que surge como
soberana. Ela cria est as ou aquelas necessidades para o homem, e a vont ade se sent e
est imulada a sat isf azer essas necessidades. Na disciplina superior, o homem deve
acost umar-se a obedecer est rit ament e suas próprias ordens. Quem adquire esse hábit o se
sent e cada vez menos inclinado a desej ar o insignif icant e. O lado insat isf at ório e inseguro
na vida volit iva consist e em desej ar coisas de cuj a realização não se f az uma idéia clara.
Tal insat isf ação pode levar t oda a vida af et iva à desordem quando um Eu Superior quer
desabrochar da alma. Um bom exercício é dar a si próprio, durant e meses seguidos, uma
ordem para det erminado moment o do dia: “ Hoj e, ‘ exat ament e a t al hora’ , você f ará ‘ t al
coisa’ . ” Ent ão a pessoa consegue gradualment e obrigar-se ao moment o e ao modo de
execução da t aref a, para que sua realização sej a exat ament e viável. Assim ela se eleva
acima do hábit o nocivo de dizer “ eu gost aria dist o” ou “ eu quero aquilo” sem pensar na
viabilidade da execução. Uma grande personalidade — Göet he — at ribui as seguint es
palavras a uma vident e, na segunda part e do Faust o: “ Amo aquele que desej a o
impossível. ” E o mesmo Göet he diz: “ Viver na idéia signif ica t rat ar o impossível como se
f osse possível. ” (Spr üche i n Pr osa. ) Tais sent enças não podem ser usadas como obj eções
ao que aqui dissemos, pois só pode realizar o que Göet he e a vident e (Mant o) est abelecem
quem primeiro se haj a exercit ado em desej ar o possível , para depois, por seu int enso
querer, poder lidar com o ‘ impossível’ de maneira que est e se t ransf orme no possível.
Quant o ao mundo do sent iment o, para a disciplina espirit ual a alma deve ser
conduzida a uma cert a serenidade. Para isso é preciso que a alma se t orne soberana sobre
a expressão de prazer e sof riment o, de alegria e dor. É j ust ament e f ace à aquisição dessa
qualidade que pode surgir algum preconceit o. Poder-se-ia supor que a pessoa se t ornasse

134
apát ica e indif erent e em relação ao mundo circundant e caso “ não se alegrasse com o
prazeroso nem se penalizasse com o dol oroso” . Cont udo, não se t rat a disso. Algo
prazeroso deve alegrar a alma, e al go doloroso deve penalizá-la. Só que ela deve conseguir
dominar a expr essão da alegria e da dor, do prazer e do desprazer. Esf orçando-se nesse
sent ido, logo not ará que não se t orna apát ica, e sim, ao cont rário, mais do que ant es
recept iva a t udo o que sej a agradável e doloroso à sua volt a. Sem dúvida isso exige uma
aut o-observação exat a por t empo mais longo, quando se quer adquirir a qualidade aqui
ref erida. Cumpre at ent ar ao f at o de que alguém pode part icipar plenament e do prazer ou
da dor, sem perder-se a pont o de dar expressão involunt ária ao que sent e. Não se deve
reprimir a dor j ust if icada, e sim o prant o invol unt ário; não a repugnância diant e de uma
ação má, e sim o cego arrebat ament o da cólera; não a at enção a um perigo, e sim o
inf rut íf ero ‘ amedront ar-se’ , et c.
É só por meio de t al exercício que o discípulo espirit ual consegue t er em sua índole a
calma necessária para evit ar que, ao nascer e principalment e se at ivar o Eu Superior, a
alma leve uma vida paralela, malsã ao lado dest e, como uma espécie de ‘ sósia’ .
Just ament e diant e dessas coisas, a pessoa não deveria ent regar-se a qualquer aut o-
sugest ão. Pode parecer a algumas pessoas que na vida comum elas j á possuam cert a
serenidade, não necessit ando, port ant o, desse exercício. É j ust ament e uma pessoa assim
que o necessit a em dobro. Ela pode mant er muit o bem a calma f rent e às coisas da vida
comum mas, durant e a elevação a um mundo superior, o desequilíbrio apenas reprimido
pode f azer-se valer muit o mais. É preciso t er rígorosament e em vist a que, para a
disciplina espirit ual, import a menos o que se apar ent a possuir ant es, e, muit o mais, que
se exer ci t e met odicament e o necessário. Por mais que possa parecer cont radit ória, essa
f rase est á corret a. E sej a lá o que a vida t enha proporcionado, à disciplina espirit ual
servem as qualidades que a pr ópr i a pessoa conqui st ou. Se a vida ensinou irrit abilidade a
alguém, esse alguém deveria desaprendê-l a; se, no ent ant o, a vida lhe ensinou
indif erença, pela aut o-educação ele deveria animar-se de modo que a expressão da alma
correspondesse à impressão recebida. Quem não consegue rir de coisa alguma domina t ão
pouco sua vida quant o aquele que, sem aut odomínio, é cont inuament e incit ado a rir.
Out ro meio para a f ormação do pensar e do sent ir é a aquisição da qual idade que se
pode chamar de posit ividade. Uma bela lenda nos cont a que cert a vez Jesus Crist o,
acompanhado de out ras pessoas, passa por um cão mort o. Os demais desviam os olhos da
desagradável visão. Jesus Crist o coment a, admirado, sobre a bela dent adura do animal. 48
Toda pessoa pode exercit ar-se para mant er diant e do mundo uma at it ude anímica como a
dessa lenda. O errado, o mau, o f eio j amais devem impedir a alma de encont rar o
verdadeiro, o bom e o belo onde quer que exist am. Não se deve conf undir essa
posit ividade com f alt a de senso crít ico, com o indif erent e f echar de olhos diant e do mau,
f also e medíocre. Quem admira a ‘ bela dent adura’ de um animal mort o t ambém vê o
cadáver em decomposição; porém esse cadáver não o impede de ver a bela dent adura.
Não se pode achar que o mau sej a bom nem que o errado sej a verdadeiro; mas pode-se
conseguir que o mau não impeça de ver o bom, nem o errado de ver o verdadeiro.
O pensar, em conexão com a vont ade, experiment a uma cert a mat uração quando se
procura impedir que vivências e experiências passadas roubem a recept ividade imparcial
para vivências novas. Para o discípul o espirit ual , deve perder int eirament e seu signif icado
o pensament o “ Eu nunca ouvi sobre isso, eu não acredit o nisso” . Durant e algum t empo,
ele deve j ust ament e part ir da at it ude de deixar que, em qualquer oport unidade, cada ser
e cada coisa lhe digam algo novo. De cada sopro de ar, de cada f olha de árvore, de cada

48
Ref erência a um t ext o do escrit or persa Nisami ou Nezamii (1141—1209) incluído por Göet he em sua obra
conhecida como West -Öst l i cher Díwan. (CL N. E. orig. )

135
balbucio de uma criança se pode aprender algo, quando a pessoa est á preparada para apli-
car um pont o de vist a não aplicado at é ent ão. Cert ament e será bem possível ir muit o
longe com relação a essa f aculdade. Aliás, não se deve, em cert a idade, ignorar as
experiências f eit as a respeit o das coisas. O que se experiment a no present e deve ser j ul-
gado de acordo com as experiências do passado. Ist o de um lado da balança; de out ro
lado, deve surgir para o discípul o a disposição de experiment ar sempre algo novo — e
principalment e a crença na possibilidade de as novas vivências cont radizerem as ant igas.
Com isso f oram denominadas cinco qualidades anímicas que o discípulo espirit ual t em
de adquirir numa disciplina met ódica: o domínio sobre o curso dos pensament os, o
domínio sobre os impulsos da vont ade, a serenidade diant e do prazer e da dor, a
posit ívídade no j ulgament o do mundo, a imparcialidade na concepção da vida. Quem se
haj a dedicado a exercit ar-se na aquisição dessas qualidades, durant e períodos
consecut ivos, t erá ainda necessidade de levá-las a uma sint onia harmônica na alma; t erá
de prat icá-las, por exemplo, duas a duas, t rês e uma, et c. simult aneament e, para produzir
harmonia.
Os caract erizados exercícios são indicados pelos mét odos da disciplina espirit ual
porque, quando prat icados mi nuci osament e, não apenas provocam no discípulo o ef eit o
imediat o mencionado acima, mas t êm indiret ament e ainda muit as out ras conseqüências,
necessárias no caminho para os mundos espirit uais. Quem prat icar suf icient ement e esses
exercícios se deparará, durant e seu t ranscurso, com muit as f alhas e def eit os de sua vida
anímica; e encont rará os meios j ust ament e necessários para o f ort aleciment o e a
segurança de sua vida int elect ual e af et iva, bem como de seu carát er. Cert ament e ainda
t erá necessidade de muit os out ros exercícios, conf orme suas capacidades, seu t em-
perament o e seu carát er; cont udo, elas se apresent arão quando os primeiros t iverem sido
prat icados suf icient ement e. Aliás, a pessoa not ará que, i ndi r et ament e, os exercícios
descrit os t ambém proporcionam cada vez mais result ados não at ribuídos a eles de início.
Se, por exemplo, alguém é muit o pouco aut oconf iant e, após o t empo adequado not ará
que, graças aos exercícios, a necessária aut oconf iança se inst alará. E o mesmo acont ece
com out ras qualidades anímicas. (Exercícios específ icos e mais det alhados encont ram-se
em meu livro O conheci ment o dos mundos super i or es. )
É import ant e que o discípulo espirit ual consiga int ensif icar as mencionadas
f aculdades em grau cada vez mais elevado. O domínio dos pensament os e sensações deve
ser levado ao pont o de a alma adquirir o poder de est abelecer períodos de perf eit a calma
int erior, nos quais a pessoa mant enha af ast ado de seu espírit o e de seu coração t udo o
que a vida cot idiana, ext erior, t raz consigo de alegria e sof riment o, sat isf ações e pesares,
e at é mesmo de deveres e exigências. Em t ais moment os, só deve ser admit ido na alma
aquilo que ela mesma quer admit ir no est ado de aprof undament o. Diant e disso pode
impor-se f acilment e um preconceit o. Poderia surgir a opinião de que a pessoa se alhearia
da vida e de seus deveres caso se subt raísse a est es com o coração e o espírit o, durant e
cert os períodos por dia. Na realidade, porém, isso não ocorre. Quem se ent regasse, da
maneira descrit a, a períodos de t ranqüilidade e paz int eriores receberia deles t ant a e t ão
int ensa f orça, t ambém para as t aref as da vida ext erior, que seu desempenho não só não
pioraria, mas seria cert ament e melhor.
É de grande valia, em t ais períodos, a pessoa se desprender por complet o de
pensament os relat ivos a seus assunt os part iculares, elevando-se ao que concerne não
soment e a el a, mas principalment e ao ser humano em geral. Se ela f or capaz de preencher
sua alma com as comunicações do mundo espirit ual superior, e est as prenderem seu
int eresse no mesmo grau em que uma preocupação ou assunt o pessoal, sua alma colherá
disso f rut os especiáis.

136
Quem se esf orçar, desse modo, para ordenar sua vida anímica chegará t ambém à
possibilidade de uma aut o-observação que considere os assunt os pessoais com a mesma
serenidade dedicada a assunt os alheios. Poder considerar as próprias vivências, as próprias
alegrias e t rist ezas pessoais como se f ossem de out rem, é uma boa preparação para a
disciplina espirit ual. Nesse sent ido chega-se progressívament e ao grau necessário quando
diariament e, após a j ornada de t rabalho, f az-se desf ilar diant e do espírit o as imagens das
vivências do dia. A pessoa deve cont emplar a si mesma, em imagem, dent ro de suas
vivências — port ant o, observar-se em sua vida cot idiana como que do ext erior.
Adquire-se cert a prát ica nessa aut o-observação quando se inicia com a represent ação
ment al de algumas pequenas part es da vida cot idiana. A pessoa f ica cada vez mais hábil e
dest ra nesse exame ret rospect ivo, de modo que após uma exercit ação mais longa
consegue realizá-la complet ament e em curt a f ração de t empo. Essa cont emplação
ret rospect iva das vivências t em, para a disciplina espirit ual , seu valor especial por l evar a
alma a desf azer-se do hábit o arraigado de seguir com seu pensar apenas o curso do
suceder sensorial. No pensar ret rospect ivo se elaboram represent ações ment ais, porém
não mant ídas pelo suceder sensorial. É isso o que se necessit a para a f amiliarização com o
mundo supra-sensível; assim a f aculdade represent at iva se f ort alece de maneira sadia. Por
isso, t ambém é bom f azer uma ret rospect iva ment al de out ros f at os além da vida
cot idiana, como por exemplo o desenrolar de um drama, de uma narrat iva, de uma
seqüência t onal, et c.
O i deal para o discípulo espirit ual será, cada vez mais, port ar-se diant e dos
acont eciment os da vida de modo a deixá-los aproximar-se com serenidade e t ranqüilidade
anímica int erior, j ulgando-os não segundo sua disposição anímica, mas segundo o
signif icado e o valor inerent es a eles. É j ust ament e observando esse ideal que ele criará a
base anímica para poder ent regar-se aos aprof undament os descrit os acima, a part ir de
pensament os e sensações simbólicos e out ros.
As condições aqui descrit as devem ser preenchidas, pois a vivência supra-sensível se
edif ica sobre o solo em que est amos na vida anímica comum ant es ingressarmos no mundo
supra-sensível. Toda vivência supra-sensível é duplament e dependent e do pont o de
part ida anímico em que a pessoa se encont re ant es do ingresso. Quem não est iver
dispost o, de ant emão, a f ormar um j uízo sadio como f undament o de sua disciplina
espirit ual, desenvolverá em si f aculdades supra-sensíveis que perceberão o mundo
espirit ual de modo inexat o e incorret o. De cert a maneira, seus órgãos percept ivos
espirit uais se desenvolverão incorret ament e. E assim como por meio de olhos def eit uosos
ou enf ermos não se pode ver corret ament e no mundo sensível, t ampouco se pode
perceber corret ament e por meio de órgãos espirit uais que não t enham sido desenvolvidos
com base num j uízo sadio.
Quem part e de uma disposição anímica imoral eleva-se aos mundos espirit uais de um
modo que sua visão espirit ual f ica como que at urdida, obnubilada. Diant e do mundo supra-
sensível, essa pessoa se post a como alguém que observa o mundo sensível num est ado de
at ordoament o (só que não chegará a qualquer declaração convincent e, enquant o o
observador espirit ual , mesmo at ordoado, est á bem mais despert o do que um homem na
consciência habit ual). Suas declarações vêm a ser, port ant o, enganos a respeit o do mundo
espirit ual.

O conheci ment o i magi nat i vo

A aut ent icidade inerent e ao grau cognit ivo da imaginação é obt ida quando os
aprof undament os anímicos (medit ações), descrit os acima, são suport ados pelo que se

137
pode def inir como ‘ acost umar-se a um pensar não-sensorial’ . Quando se elabora um pen-
sament o com base na observação do mundo f ísico-sensível, esse pensament o não est á livre
do sensorial. Cont udo, o homem não é rest ringido a elaborar apenas esse t ipo de
pensament o. O pensar humano não precisa t ornar-se vazio e sem cont eúdo quando não se
deixa preencher por observações sensoriais. O caminho mais seguro e mais indicado para o
discípulo chegar a esse pensament o não-sensorial consist e em t ornar propriedade de seu
pensament o os f at os do mundo superior que lhe são comunicados pela Ciência Espirit ual.
Tais f at os não podem ser observados pelos sent idos f ísicos; porém el e not ará que, para
poder compr eendê-l os, bast a-lhe t er paciência e perseverança suf icient es. Sem disciplina
não se pode pesquisar no mundo superior, e nem mesmo f azer observações nesse âmbit o;
mas mesmo sem a disciplina superior é possível compreender t udo o que os invest igadores
relat am a esse respeit o. E quando alguém argument a “ Como posso aceit ar com boa f é e
conf iança o que os pesquisadores espirit uais dizem, se eu mesmo não posso vê-l o?” , isso é
t ot alment e inf undado, pois é int eirament e possível, a part ir da mer a ref lexão, adquirir
segura convicção de que o comunicado é verídico. E se alguém não puder chegar a
convencer-se disso pel a ref lexão, não será por não ser possível ‘ crer’ em algo que não se
vê, mas simplesment e pelo f at o de ainda não se t er empregado a ref lexão de f orma
suf icient ement e imparcial, abrangent e e prof unda.
Para t er clareza nesse pont o, deve-se ponderar que, empreendendo um enérgico
esf orço int erior, o pensament o humano é capaz de compreender mais do que geralment e
presume. Em verdade, no próprio pensament o j á reside uma ent idade int erior que est á em
conexão com o mundo supra-sensível. Normalment e a alma não est á conscient e dessa
conexão, pois est á acost umada a aplicar sua f aculdade pensant e apenas ao mundo
sensorial. Por isso considera incompreensível o que lhe é comunicado pelo mundo supra-
sensorial. Isso, porém, é compreensível não apenas a um pensament o educado pela
disciplina espirit ual, mas a t odo pensar que est ej a conscient e de sua plena f orça e queira
servir-se del as.
Pelo f at o de apropriar-se inint errupt ament e do que a pesquisa espirit ual t em a dizer,
a pessoa se acost uma a um pensar que não t oma seu cont eúdo das observações sensoriais.
Ela aprende como, no int erior da alma, os pensament os se ent ret ecem e se buscam
mut uament e, mesmo que as associações ent re eles não sej am provocadas pelo poder da
observação sensorial. O essencial, nesse caso, é adquirir ciência de como o mundo do
pensament o possui vida int erior própria, e de como, ao realment e pensar, a pessoa j á se
encont ra no domínio de um mundo vivo supra-sensível . Ela diz a si mesma: “ Dent ro de
mim exist e algo que cult iva um organismo compost o de pensament os; no ent ant o, eu sou
uno com esse ‘ algo’ . ” Assim, na ent rega ao pensament o não-sensório percebe-se a
exist ência de algo essencial que af lui para nossa vida int erior, do mesmo modo como as
qualidades das coisas sensoriais nos af luem at ravés de nossos órgãos f ísicos na observação
sensorial. “ Lá f ora no espaço” , diz o observador do mundo sensível, “ há uma rosa; ela não
me é est ranha, pois se me revela por sua cor e sua f ragrância” . Ora, bast a alguém ser suf i-
cient ement e imparcial para dizer a si próprio, quando o pensament o não-sensorial
t rabalha nele: “ Est ou t endo a revelação de algo essencial que, dent ro de mim, associa um
pensament o a out ro, f ormando um organismo de pensament os. ” Exist e, porém, uma
dif erença ent re as sensações f rent e ao que o observador do mundo ext erior sensível t em à
vist a e aquilo que se revela essencial-ment e no pensament o não-sensorial. O primeiro
observador sent e-se sit uado ext eriorment e à rosa, e aquele que est á ent regue ao
pensament o não-sensorial experiment a o element o essencial que se revela nele como algo
dent r o de si — ele se sent e uno com esse element o. Quem, mais ou menos
conscient ement e, só quer admit ir como essencial aquilo que se lhe def ront a como obj et o

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ext erior, não poderá, na verdade, experiment ar o seguint e sent iment o: “ Aquilo que é
essencial em si t ambém pode revelar-se a mim pelo f at o de eu est ar ligado a ele como
numa unidade. ” Para enxergar corret ament e nesse sent ido, deve-se poder t er a seguint e
vivência int erior: deve-se aprender a dist inguir ent re as associações de idéias criadas por
arbít rio próprio e aquelas que se vivenciam int eriorment e ao se f azer silenciar esse
arbít rio pessoal. Nest e últ imo caso, pode-se dizer o seguint e: “ Permaneço complet ament e
t ranqüilo; não est abeleço qualquer associação de idéias; abandono-me àquilo que ‘ pensa
dent ro de mim’ . ” Ent ão se j ust if ica plenament e t ant o dizer “ Em mim at ua algo essencial
por si” quant o “ A rosa at ua em mim quando vej o det erminada rosa, quando percebo
det erminada f ragrância” .
Não exist e qualquer cont radição em alguém ret irar o cont eúdo para seus
pensament os das comunicações do pesquisador espirit ual. É bem verdade que os
pensament os j á exist em quando ela passa a dedicar-se a eles; porém ela não pode pensá-
los sem, em cada caso, criá-los novament e na alma. Acont ece j ust ament e que o
pesquisador do espírit o despert a, em seus ouvint es e leit ores, pensament os que est es
devem buscar primeiro em si pr ópr i os, enquant o quem descreve a realidade sensível
indica algo que ouvint es e leit ores podem observar no mundo sensorial.
(O caminho que conduz ao pensament o não-sensorial pelas comunicações da Ciência
Espirit ual é int eirament e seguro. Exist e, porém, um out ro mais seguro e principalment e
mais exat o, embora sej a, por isso, mais dif ícil para muit as pessoas. Ele est á descrit o em
meus livros Li nhas bási cas par a uma t eor i a do conheci ment o na cosmovi são de Göet he e A
f i l osof i a da l i ber dade. Essas obras t ransmit em o que o pensament o humano pode elaborar
para si quando o pensar não se ent rega às impressões do mundo ext erior f ísico-sensível, e
sim apenas a si mesmo. Ent ão ent ra em at ividade o pensament o puro — e não apenas
aquele que surge no homem com base nas recordações do plano sensível — como uma
ent idade com vida própria. Nesse sent ido, nas obras cit adas nada f oi ext raído das
comunicações próprias da Ciência Espirit ual . Cont udo, most ra-se que o pensar puro,
t rabalhando apenas em si próprio, é capaz de chegar a conclusões sobre o mundo, a vida e
o homem. Essas obras se encont ram numa et apa int ermediária muit o import ant e ent re o
conheciment o do mundo sensível e o do mundo espirit ual . Elas of erecem aquilo que o pen-
sament o pode alcançar quando se eleva acima da observação sensorial mas ainda evit a o
acesso à pesquisa espirit ual. Quem submet e t oda a sua alma ao ef eit o desses t ext os j á se
encont ra no mundo espirit ual; só que est e se lhe apresent a como mundo dos pensament os.
Quem se sent e em condições de passar por essa et apa int ermediária est á t rilhando um
caminho seguro; e com isso pode adquirir, f rent e ao mundo superior, um sent iment o que
lhe t rará os mais bel os f rut os para t odo o t empo seguint e. )

Os ór gãos do cor po ast r al

A met a do aprof undament o (medit ação) nas represent ações ment ais e sensações
simbólicas acima caract erizadas é, dit o com exat idão, a f ormação dos órgãos percept ivos
superiores dent ro do corpo ast ral do homem. A princípio eles são criados a part ir da
subst ância desse corpo ast ral. Esses novos órgãos de observação comunicam um mundo
novo, onde o homem vem a conhecer a si próprio como um novo eu. Esses órgãos novos j á
se dist inguem dos órgãos de observação do mundo f ísico-sensível pelo f at o de serem
órgãos at i vos. Enquant o os olhos e os ouvidos se comport am de modo passivo, deixando
que a luz e o som at uem sobre eles, pode-se dizer que os órgãos percept ivos anímico-
espirit uais est ão em cont ínua at ividade enquant o percebem, capt ando seus obj et os e
f at os, de cert a f orma, em plena consciência. Com isso surge o sent iment o de que o

139
processo cognit ivo anímico-espirit ual é uma união com os respect ivos f at os, é um ‘ viver
neles’ .
Pode-se denominar cada um dos órgãos anímico-espirit uais assim f ormados como
‘ f lores de lot o’ 49 , a t ít ulo de analogia com a f orma que apresent am para a consciência
supra-sensível (imaginat iva). (Obviament e deve-se t er bem claro que essa designação não
se relaciona com o assunt o mais do que a expressão ‘ asas’ ao se f alar das asas do nariz. 50 )
Mediant e t ipos bem det erminados de aprof undament o int erior, at ua-se sobre o corpo
ast ral de f orma t al que se desenvol ve um ou out ro órgão anímico-espirit ual, uma ou out ra
‘ f lor de lot o’ . Depois de t udo o que f oi expost o nest e livro, deveria ser supérf luo ressalt ar
que não se deve imaginar esses ‘ órgãos de observação’ como algo cuj a represent ação
numa imagem sensorial sej a uma reprodução de sua realidade. Esses ‘ órgãos’ são
j ust ament e supra-sensíveis, consist indo numa at ividade anímica det ermínadament e
f ormada, e exist em soment e na medida e no t empo em que essa at ividade anímica é
exercida. No caso de t ais órgãos, t rat a-se de algo t ão pouco visível no homem quant o
alguma ‘ bruma’ a envolvê-lo quando ele pensa. Quem quiser a t odo cust o represent ar o
supra-sensível como algo sensível, f at alment e incorrerá em mal-ent endidos. Apesar de
supérf lua, est a observação cabe aqui porque repet idament e se encont ram adept os do
supra-sensível que só querem t er algo sensorial em suas represent ações; e t ambém porque
sempre exist em oponent es ao conheciment o supra-sensível acredit ando que o pesquisador
do espírit o f ala de ‘ f lores de lot o’ como sendo f ormações sensoríais mais sut is.
Toda medit ação regrada, visando ao conheciment o imaginat ivo, t em seu ef eit o sobre
um ou out ro órgão. (Em meu livro O conheci ment o dos mundos super i or es são dados alguns
mét odos para medit ação e exercício que at uam sobre um ou out ro órgão. ) Uma disciplina
met ódica direciona e organiza de t al f orma os diversos exercícios do discípulo espirit ual
que os órgãos em quest ão podem desenvolver-se, simult ânea e sucessivament e, de ma-
neira adequada. Esse desenvolviment o implica em muit a paciência e perseverança por
part e do discípulo. Quem possui apenas a medida de paciência que, via de regra, é
of erecida ao homem pelas circunst âncias habit uais da vida, não alcança grande coisa; pois
demora muit o, às vezes muit íssimo t empo para os órgãos est arem desenvolvidos a pont o
de o discípulo poder ut ilizá-los para as percepções no mundo superior. Nesse moment o
acont ece para ele o que se denomina i l umi nação, em cont rast e com a pr epar ação ou
purif icação, que consist e nos exercícios para o desenvolviment o dos órgãos. (Fal a-se em
‘ purif icação’ porque, para cert o domínio da vida int erior, mediant e os exercícios
adequados o discípulo se purif ica de t udo o que provém apenas do mundo da observação
sensorial. )
Pode perf eit ament e acont ecer que, mesmo ant es da iluminação propriament e dit a, a
pessoa t enha repet idos ‘ vislumbres’ de um mundo superior. Ela deve recebê-los com
grat idão, pois est es j á podem t orná-la t est emunha do mundo espirit ual. Cont udo, não
deverá vacilar caso isso não ocorra durant e seu período preparat ório, que t al vez lhe
pareça muit o longo. Quem incorre na impaciência “ porque ainda não vê nada” não chegou
à relação adequada com o mundo superior. Só t erá compreendido est a últ ima quem
considerar os exercícios prat icados na discipl ina como uma met a em si. Na verdade, esses
exercícios const it uem o t rabalho j unt o a um element o anímico-espirit ual, ou sej a, j unt o
ao próprio corpo ast ral. E é possível ‘ sent ir’ , mesmo que nada se ‘ vej a’ : ‘ ‘ Est ou
t rabalhando de modo anímico e espirit ual. ’ ’ Só não t endo previament e det erminada
opinião sobre o que se quer ‘ ver’ é que não se experiment a esse sent iment o. Ent ão se
t oma por nada algo que, na verdade, é incomensuravelment e signif icat ivo.

49
0s ‘ chacras’ da t erminologia esot érica indiana. (N. T. )
50
No original, Lungenf l ügel — ‘ asas do pulmão’ . (N. T. )

140
No ent ant o, seria bom observar sut ilment e t udo o que se vivencia durant e os
exercícios, o qual é f undament alment e diverso de t odas as vivências no mundo sensorial.
Ent ão a pessoa j á not ará não est ar t rabalhando em seu corpo ast ral como se numa
subst ância indif erent e — nest e vive um mundo t ot alment e dist int o, do qual nada se sabe
ao longo da vida sensorial. Ent idades superiores at uam sobre o corpo ast ral t al como o
mundo ext erior f ísico-sensorial at ua sobre o corpo f ísico; e a pessoa ‘ se choca’ com a vida
superior em seu próprio corpo ast ral caso não se esquive dela. Se alguém diz
repet idament e “ Nada percebo” , isso quase sempre signif ica que imaginou a percepção
como devendo parecer assim ou assado; e como nada vê do que imaginou, diz ent ão “ Nada
vej o” .
Quem, no ent ant o, adot a a corret a at it ude int erior em relação aos exercícios da
disciplina espirit ual , t erá cada vez mais, nesses exercícios, algo que amará por vont ade
própria; mas ent ão saberá que pelo próprio f at o de exercit ar-se j á se encont ra num mundo
anímico-espirit ual, esperando com paciência e r esi gnação o que sucederá post eriorment e.
É nas seguint es palavras que essa at it ude int erior pode vir da melhor f orma à consciência
do discípulo: “ Quer o f azer t udo o que me couber em mat éria de exercícios, e sei que na
época apropriada virá ao meu encont ro o t ant o que me f or import ant e. Não anseio
impacient ement e por isso, mas est ou-me preparando para recebê-lo. ” Por out ro lado,
t ampouco caberia obj et ar: “ O discípulo deve, port ant o, t at ear no escuro por um t empo
quiçá incomensuravelment e longo, pois só poderá saber se est á no caminho cert o ao obt er
algum result ado. ” Acont ece que não é apenas o result ado do conheciment o que demonst ra
o acert o do exercício. Quando o discípulo procede corret ament e em relação aos
exercícios, a sat isf ação que ele próprio t em ao exercit ar-se lhe proporciona a cl areza de
est ar f azendo algo corret o, e não apenas o r esul t ado. A prát ica corret a no domínio da
disciplina espirit ual est á ligada a uma sat isf ação que não é apenas sat isf ação, mas
t ambém conheciment o — na verdade, o conheciment o seguint e: “ Est ou f azendo algo que,
segundo vej o, me f az avançar na t rilha corret a. ” Todo discípulo pode t er esse
conheciment o a cada inst ant e, bast ando que prest e sut ilment e at enção às suas vivências.
Se não prest ar essa at enção, ele passará ao largo de suas vivências, qual um caminhant e
ensimesmado que não vê as árvores de ambos os lados do caminho, embora pudesse vê-las
se volt asse at ent ament e o olhar em sua direção.
Não é absolut ament e desej ável acelerar a obt enção de um result ado diverso daquele
que normalment e surge dos exercícios, pois f acilment e est e poderia represent ar apenas
uma ínf ima part e do que deveria ocorrer realment e. Trat ando-se de desenvolviment o
espirit ual, um êxit o parcial é f reqüent ement e a causa de um grande at raso no êxit o t ot al.
A moviment ação ent re essas f ormas da vida espirit ual correspondent es ao result ado
parcial provoca insensibilidade em relação às inf luências das f orças que conduzem a
pont os mais elevados da evolução. E o proveit o obt ido pelo f at o de se ‘ t er dado uma
espiada’ no mundo espirit ual é apenas aparent e, pois essa visão não pode conduzir à
verdade, e sim apenas a imagens enganosas.

As percepçôes no mundo imaginat ivo

Os órgãos anímico-espirit uais — as f lores de lot o — f ormam-se de maneira que, à


consciência supra-sensível que observa o discípulo espirit ual, parecem sit uados próximo a
det erminados órgãos f ísicos. Da série desses órgãos anímicos cit aremos aqui os seguint es:
aquele percebido como que localizado ent re as sobrancelhas (a assim chamada ‘ f lor de
lot o de duas pét alas’ ); aquele na região da laringe (a ‘ f lor de lot o de dezesseis pét alas’ ); o
t erceiro, na região do coração (a ‘ f lor de lot o de doze pét alas’ ); e o quart o, na região do

141
est ômago. Out ros órgãos como esses aparecem na proximidade de out ras part es do corpo
f ísico. (As denominações ‘ de duas’ ou ‘ de dezesseis’ pét alas são possíveis porque os órgãos
em quest ão se assemelham a f lores com o correspondent e número de pét alas. )
As f lores de lot o vêm à consciência no corpo ast ral. Uma vez t endo desenvolvido uma
ou out ra, a pessoa t ambém t em consciência de possuí-la. Sent e que pode ut ilizar-se dela
e, com isso, realment e penet rar num mundo superior. As impressões recebidas desse
mundo ainda se assemelham, em muit os aspect os, às do mundo f ísico-sensível. Quem
possui o conheciment o imaginat ivo poderá ref erir-se ao novo mundo superior designando
as sensações como sendo de calor ou f rio, como percepções sonoras ou verbais, ef eit os
luminosos ou coloridos, pois é assim que as vivencia. No ent ant o, est á conscient e de que
essas percepções no mundo imaginat ivo expressam algo dif erent e do que no mundo real
sensível. Reconhece que por det rás delas não est ão causas f ísico-mat eriais, e sim anímico-
espirit uais. Quando experiment a al go como uma impressão calórica, não a at ribui, por
exemplo, a um pedaço de f erro quent e; considera-a como emanação de um processo
anímico, t al como at é agora só conhecera na int imidade de sua vida anímica. Sabe que por
det rás das percepções imaginat ivas est ão coisas e processos anímicos e espirit uais, do
mesmo modo como por det rás das percepções f ísicas est ão seres e f at os f ísico-mat eriais.
A essa semelhança ent re o mundo imaginat ivo e o mundo f ísico se acrescent a,
cont udo, uma signif icat iva dif erença. No mundo f ísico exist e algo que no mundo
imaginat ivo se apresent a de f orma complet ament e diversa. Naquele pode ser observado
um cont ínuo surgiment o e desapareciment o das coisas, uma alt ernância ent re nasciment o
e mort e. No mundo imaginat ivo, em lugar desse f enômeno ent ra uma cont ínua
t r ansf or mação de uma em out ra. No mundo f ísico se vê, por exemplo, uma plant a
f enecer. No mundo imaginat ivo, na mesma medida em que a plant a murcha evidencia-se o
surgiment o de out ra f ormação, f isicament e impercept ível, na qual progressivament e se
t ransf orma a plant a que f enece. Uma vez desaparecida a plant a, ocupa seu lugar essa
f ormação plenament e desenvolvida.
Nasciment o e mort e são idéias que perdem seu sent ido no mundo imaginat ivo. Em
seu lugar ent ra o conceit o da t r ansf or mação de um no out r o. É por esse mot ivo que são
acessíveis ao conheciment o imaginat ivo as verdades sobre a nat ureza do homem expost as,
nest e livro, no capít ul o ‘ A essência da humanidade’ . A percepção f ísico-sensorial são
acessíveis apenas os processos do corpo f ísico, os quais se desenrol am no ‘ domínio do nas-
ciment o e da mort e’ . Os out ros membros da nat ureza humana — o corpo vit al, o corpo das
sensações e o eu — est ão submet idos à lei da t ransf ormação, e sua percepção é f acult ada
ao conheciment o imaginat ivo. Quem progrediu at é est e últ imo percebe como do corpo
f ísico se desprende aquilo que cont inua a viver sob out ra f orma de exist ência após a
mort e.

O conheciment o inspirat ivo

A evolução, cont udo, não est aciona no mundo imaginat ivo. Quem pret endesse parar
nele perceberia, sem dúvida, as ent idades submet idas a t ransf ormações, mas não seria
capaz de int erpret ar os processos de t ransf ormação nem de orient ar-se nesse mundo
recém-conquist ado. O mundo imaginat ivo é uma região inquiet a; nela exist e por t oda
part e apenas mobilidade e t ransf ormação, não havendo quaisquer pont os de repouso. O
homem só at inge t ais pont os de repouso ao ult rapassar o grau imaginat ivo do
conheciment o, desenvolvendo-se at é o que se pode chamar de ‘ conheciment o por
inspiração’ .
Não é necessário, a quem busca o conheciment o do mundo supra-sensível,

142
desenvolver-se de modo a primeiro se apoderar int egralment e do conheciment o
imaginat ivo, para só ent ão avançar para a ‘ inspiração’ . Seus exercícios podem art icular-se
de maneira a f azer t ranscorrer paralelament e aquil o que conduz à imaginação e o que
conduz à inspiração. Ao f im do t empo adequado, ele penet rará num mundo superior onde
não só t erá percepções, mas t ambém poderá orient ar-se e, além disso, int erpret ar esse
mundo. Na verdade, via de regra o progresso ocorre de modo que em primeiro lugar se
apresent am ao discípulo alguns f enômenos do mundo imaginat ivo, e depois de algum
t empo ele t em a seguint e sensação: “ Agora eu t ambém começo a me orient ar. ”
O mundo da inspiração, t odavia, é algo complet ament e novo f rent e ao mundo da
simples imaginação. Por meio dest a percebe-se a t ransf ormação de um processo em out ro,
e por meio daquela conhecem-se qualidades int rínsecas de ser es que se t ransf ormam. Pela
imaginação chega-se a conhecer a ext eriorização anímica dos seres; pela inspiração
penet ra-se em seu cerne espirit ual. Vem-se principalment e a conhecer uma mult iplicidade
de ent idades espirit uais e suas int er-relações. Aliás, t ambém no mundo f ísico se lida com
uma mult iplicidade dos mais diversos seres; no mundo da inspiração, cont udo, essa
mult iplicidade possui out ro carát er. Ali cada ser est á em relação bem det erminada com
out ros, não por uma int ervenção ext erna, como no plano f ísico, mas por sua const it uição
int rínseca. Ao se observar um ser no mundo da inspiração, não aparece uma inf luência
ext erna dest e sobre um out ro, comparável à at uação dos seres f ísicos ent re si; exist e uma
int er-relação devido à const it uição int rínseca de ambos os seres. Essa relação poderá ser
comparada a uma relação no mundo f ísico se, para isso, t omarmos a int er-relação ent re os
f onemas isolados ou let ras de uma palavra. A exist ência da palavra ‘ homem’ 51 se deve à
consonância dos f onemas: h-o-m-e-m. Não ocorre um choque ou ent ão uma int erf erência
ext erior, por exemplo, do m ao e; ambos os f onemas at uam em conj unt o, em verdade
dent ro de um t odo, por sua qual idade int rínseca. Por isso, a observação no mundo da
inspiração só se compara a uma l ei t ur a; e os seres desse mundo at uam sobre o observador
como caract eres que ele deve conhecer e cuj as relações se lhe devem revelar como uma
escrit a supra-sensível . A Ciência Espirit ual t ambém pode, port ant o, t ambém denominar
analogament e o conheciment o pela inspiração como ‘ leit ura da escrit a ocult a’ .
O modo como essa ‘ escrit a ocult a’ é lida, e como se pode comunicar o result ado da
leit ura, f ica esclarecido recorrendo-se aos próprios capít ulos ant eriores dest e livro.
Primeirament e f oi descrit a a ent idade do homem, compost a por diversos element os
int egrant es. Depois f oi most rado como a ent idade cósmica em que o homem se desenvolve
at ravessa os diversos est ados — o sat urnino, o solar, o lunar e o t errest re. As percepções
que permit em conhecer, de um lado, os element os const it ut ivos do homem e, de out ro, os
consecut ivos est ados da Terra e suas t ransf ormações prévias, revelam-se ao conheciment o
imaginat ivo. No ent ant o, t ambém é necessári o conhecer as relações exist ent es ent re o
est ado sat urnino e o corpo f ísico humano, ent re o est ado solar e o corpo et érico, et c.
Deve-se most rar que o germe para o corpo f ísico humano nasceu j á durant e o est ado
sat urnino, t endo cont inuado a desenvolver-se at é sua f orma at ual durant e os est ados
solar, lunar e t errest re. Foi necessário al udir, por exemplo, às t ransf ormações que
ocorreram com o ser humano pelo f at o de o Sol se haver separado da Terra, t endo algo
similar acont ecido em relação à da Lua. Mais adiant e f oi preciso expor o que cont ribuiu
para se real izarem na humanidade as t ransf ormações expressas na época at lânt ica e nos
sucessivos períodos: hindu, prot opersa, egípcio, et c.
A descrição dessas correlações não result a da percepção imaginat iva, e sim do
conheciment o inspirat ivo da leit ura da escrit a ocult a. Para essa ‘ leit ura’ , as percepções

51
No original, Mensch. (N. T. )

143
imaginat ivas são como let ras ou f onemas. Porém essa ‘ l eit ura’ não e necessária apenas
para esclareciment os, como a recém-descrit a. Já não se poderia compreender o próprio
curso da vida humana int eira observando-a apenas por meio do conheciment o imaginat ivo.
É verdade que se poderia perceber como, com a mort e, os membros anímico-espirit uais se
desprendem daquele que permanece no mundo f ísico; mas a pessoa não compreenderia as
relações ent re aquilo que ocorre com o homem após a mort e e os est ados precedent es e
subseqüent es caso não pudesse orient ar-se dent ro do que é percebido imaginat ivament e.
Sem o conheciment o por inspiração, o mundo imaginat ivo permaneceria como uma escrit a
que se olha com at enção sem poder decif rar.
Quando o discípulo espirit ual progride da imaginação para a inspiração, logo lhe f ica
evident e o quão incorret o seria renunciar à compreensão dos grandes f enômenos cósmicos
e limit ar-se aos f at os que, de cert a f orma, t ocam ao int eresse humano mais imediat o.
Quem não é iniciado nesse assunt o poderia muit o bem dizer o seguint e: “ Parece-me
import ant e apenas int eirar-me do dest ino da alma humana após a mort e; se alguém me
inst ruir a esse respeit o, isso me será suf icient e: por que a Ciência Espirit ual me apresent a
coisas t ão remot as como est ado sat urníno, est ado solar, separação do Sol, da Lua et c. ?”
Quem, no ent ant o est iver adequadament e int roduzido nesses assunt os compreenderá que
uma noção real do que desej a saber é inat ingível sem um conheciment o daquilo que lhe
parece t ão inút il. Uma descrição dos est ados do homem após a mort e permanece
t ot alment e incompreensível e sem valor quando o homem não pode ligar-se a conceit os
ret irados daquelas coisas t ão remot as. Já a mais simples observação do conhecedor supra-
sensível t orna necessária a f amiliaridade com t ais coisas. Quando, por exempl o, uma
plant a passa do est ado f loral para o est ado de f rut o, o observador supra-sensível vê uma
t ransf ormação numa ent idade ast ral que, durant e a f lorescência, havia cobert o e
envolvido a plant a a part ir de cima, como uma nuvem. Se a f ecundação não t ivesse
ocorrido, essa ent idade ast ral t eria passado a uma f orma t ot alment e diversa daquela
assumida em conseqüência da f ecundação.
Ora, chega-se a compreender t odo o processo percebido na observação supra-sensível
quando se aprende a compreender o próprio ser por meio daquele grande processo
cósmico ocorrido com a Terra e t odos os seus habit ant es, na época da separação do Sol.
Ant es da f ecundação, a plant a est á na mesma sit uação em que a Terra ant es da separação
do Sol. Depois da f ecundação, a f lor da pl ant a se apresent a t al qual a Terra após a
separação do Sol, possuindo ainda em si as f orças l unares. Tendo-se assimilado as
represent ações ment ais obt idas da separação do Sol, percebe-se obj et ivament e o
signif icado do processo de f ecundação da plant a, concluindo que ant es da f ecundação a
plant a se encont ra num est ado solar e, depois disso, num est ado lunar. Ocorre que mesmo
o processo mais insignif icant e no mundo só pode ser compreendido quando se reconhece
nele uma imagem de grandes processos cósmicos; do cont rário ele permanece t ão
incompreensível, no t ocant e à sua essência, quant o a Madona de Raf ael para quem só
consegue ver um pequeno f ragment o azul, enquant o o rest ant e f ica encobert o.
Tudo o que sucede em relação ao homem é uma reprodução de t odos os grandes
processos cósmicos relacionados com sua exist ência. Para se compreenderem as
observações da consciência supra-sensível sobre os f enômenos ent re o nasciment o e a
mort e, e novament e ent re a mort e e um novo nasciment o, é preciso t er adquirido a
f aculdade de decif rar as observações imaginat ivas por meio das represent ações ment ais
result ant es da cont emplação dos grandes processos cósmicos. É essa cont emplação que
f ornece j ust ament e a chave para a compreensão da vida humana. Por isso, no sent ido da
Ciência Espirit ual a observação dos períodos sat urnino, solar, lunar, et c. é, ao mesmo
t empo, observação do homem.

144
O conheciment o int uit ivo

Pela inspiração chega-se a conhecer as relações ent re as ent idades do mundo


superior. Mediant e um grau ainda mais elevado do conheciment o, t orna-se possível
conhecer essas ent idades em seu próprio ínt imo. Esse grau do conheciment o pode ser
denominado conheciment o int uit ivo. (Int uição é uma palavra mal empregada, na vida
cot idiana, para uma compreensão conf usa e imprecisa de alguma coisa — para uma
espécie de ocorrência que às vezes coincide com a verdade, mas cuj a j ust if icat iva não é
comprovável de início. Nat uralment e, o que aqui se subent ende nada t em a ver com essa
espécie de ‘ int uição’ . Int uição designa aqui um conheciment o da mais suprema e luminosa
clareza, cuj a j ust if icat iva, quando o ser humano a possui, é conscient e no mais pleno
sent ido. )
Conhecer um ent e sensorial signif ica est ar f ora dele e j ulgá-lo segundo a impressão
ext erior. Conhecer um ser espirit ual pela int uição signif ica t er-se t ornado plenament e uno
com ele, t er-se unido com sua nat ureza int erior. Gradualment e, o discípulo ascende a esse
conheciment o. A imaginação leva-o a não mais experiment ar as percepções como
part icularidades ext eriores de seres, e sim reconhecer nelas emanações de algo anímico-
espirit ual; a inspiração leva-o a aprof undar-se mais no int erior dos seres: por seu
int ermédio ele aprende a compreender o que essas ent idades represent am umas para as
out ras; pela int uição ele penet ra nos próprios seres.
As próprias explicações dest e livro podem evidenciar uma vez mais que t ipo de
signif icado t em a int uição. Nos capít ulos precedent es, não apenas se abordou o modo
como t ranscorrem as evoluções sat urnina, solar, lunar, et c. , mas t ambém f oi comunicado
que cert os seres part icipam desses processos das mais diversas maneiras. Foram cit ados os
Tronos ou Espírit os da Vont ade, os Espírit os da Sabedoria, do Moviment o, et c. No caso da
evolução t errest re, f alou-se dos espírit os de Lúcif er e Arimã. A const rução do Cosmo f oi
at ribuída a ent idades que part iciparam dela. O que se pode perceber a respeit o dessas
ent idades é result ado do conheciment o int uit ivo. Est e t ambém j á é necessário quando se
quer conhecer a vida do homem.
Aquilo que se desprende da corporalidade f ísica do homem, após a mort e, passa por
diversos est ados no período subseqüent e. Os est ados imediat ament e post eriores à mort e
ainda poderiam, at é cert o pont o, ser descrit os pelo conheciment o imaginat ivo; mas o que
ocorre mais t arde, no percurso do homem ent re a mort e e um novo nasciment o, deveria
permanecer t ot alment e incompreensível à imaginação se a est a não se acrescent asse a
inspiração. Soment e a inspiração pode invest igar o que há para dizer sobre a vida do
homem na ‘ pát ria dos espírit os’ após a purif icação. Mas depois vem algo para o qual a
inspiração não é mais suf icient e — algo onde ela, de cert a f orma, perde o f io da
compreensão. Exist e uma época da evolução humana, ent re a mort e e um novo nasci-
ment o, em que o ser humano só é acessível à int uição. Cont udo, essa part e da ent idade
humana est á sempre present e no homem; e caso se pret enda compreendê-la em sua
verdadeira int erioridade, deve-se procurá-la t ambém na época ent re o nasciment o e a
mort e, por meio da int uição.
Quem quisesse conhecer o homem apenas com os meios da imaginação e da
inspiração não t eria acesso j ust ament e aos processos de sua nat ureza mais ínt ima, os
quais se desenvolvem de encarnação e encarnação. Por conseguint e, só o conheciment o
int uit ivo possibilit a uma invest igação obj et iva das vidas t errenas repet idas e do carma.
Tudo o que possa ser comunicado como verdade sobre esses processos deve provir da
pesquisa ef et uada pelo conheciment o int uit ivo. E se o homem quiser conhecer a si mesmo

145
em sua nat ureza ínt ima, só poderá f azê-l o pela int uição; est a l he possibilit a perceber o
que, nele, avança de uma vida t errest re para out ra.

Exercícios para a inspiração e a int uição

O ser humano só pode alcançar o conheciment o por inspiração e int uição mediant e
exercícios anímico-espirit uais. Est es se assemelham àqueles descrit os como
‘ aprof undament o int erior’ (medit ação) para se alcançar a imaginação. Enquant o, porém,
nos exercícios que conduzem à imaginação ocorre uma conexão com as impressões do
mundo f ísico-sensível, nesses com vist as à inspiração essa conexão deve desaparecer cada
vez mais. Para t er bem claro o que deve ocorrer aí, pensemos mais uma vez no símbolo da
rosa-cruz. Concent rando-nos nele, t emos diant e de nós uma imagem cuj os component es
são t omados de impressões do mundo sensorial: a cor negra da cruz, as rosas, et c. A
combinação dessas part es na rosa-cruz não f oi, porém, t omada do mundo f ísico-sensorial .
Ora, quando o discípulo procura f azer desaparecer int eirament e de sua consciência a cruz
negra e t ambém as rosas vermelhas como imagens de obj et os reais sensíveis, conservando
na alma apenas a at ividade espirit ual que combinou essas part es, ele possui um meio para
uma medit ação que paulat inament e o conduz à inspiração. Pergunt e-se cada qual a si
mesmo, dent ro da alma, mais ou menos o seguint e: “ O que eu f iz int eriorment e para
combinar a cruz e a rosa num símbolo? O que eu f iz (meu próprio processo anímico), isso
eu quero ret er, porém apagando de minha consciência a imagem como t al. Depois quero
sent i r em mim t udo o que minha alma f ez para produzir a imagem, mas não quero
represent ar ment alment e a imagem em si. Quero agora viver bem int eriorment e em minha
própria at ividade que criou a imagem. Não quero, port ant o, concent rar-me em imagem
alguma, mas em minha própria at ividade anímica produt ora de imagens. ” Essa
concent ração deve ser aplicada a muit os símbolos. É isso o que ent ão conduz ao conhe-
ciment o por inspiraçao.
Out ro exemplo seria o seguint e:
Concent remo-nos na represent ação ment al de uma plant a que nasce e morre.
Deixemos que se f orme na alma a imagem de uma plant a em desenvolviment o, brot ando
da sement e, desabrochando de f olha em f olha, at é chegar à f lor e ao f rut o. Depois, como
ela começa a murchar at é à decomposição t ot al. Pelo aprof undament o em t al imagem
chega-se, gradualment e, a um sent iment o do nascer e morrer para o qual a plant a j á não
passa de uma imagem. Se o exercício f or cont inuado com perseverança, desse sent iment o
poderá desenvolver-se a imaginação da t ransf ormação subj acent e ao nascer e morrer
f ísicos. Caso, porém, se queira chegar à inspiração correspondent e, deve-se f azer o exer-
cício de out ra maneira. Deve-se ment alizar a própria at ividade anímica que ext raiu da
imagem da plant a a represent ação ment al do nascer e perecer. Faça-se agora desaparecer
t ot alment e a imagem da plant a da consciência, medit ando apenas sobre o que se realizou
int eriorment e. Só por meio de t ais exercícios é possível ascender à inspiração.
De início, não será f ácil ao discípulo compreender plenament e como proceder para
t al exercício. Isso decorre do f at o de o homem, habit uado a deixar sua vida int erior ser
det erminada pelas impressões ext eriores, incorrer imediat ament e na insegurança e t ot al
vacilação quando ainda se t rat a de desenvolver uma vida anímica que t enha rej eit ado
qualquer conexão com impressões ext eriores. Numa medida ainda maior do que
relat ivament e à aquisição de imaginações, o discípulo deve t er bem claro, diant e desses
exercícios para a inspiração, que só deveria prat icá-los se, paralelament e, t omasse t odas
as medidas para assegurar e consol idar a capacidade do j uízo, a vida af et iva e o carát er.
Tomando essas precauções, t erá um duplo result ado: em primeiro lugar não poderá,

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devido aos exercícios, perder o equilíbrio de sua personalidade durant e a visão supra-
sensível; em segundo lugar, adquirirá ao mesmo t empo a f aculdade de realment e execut ar
o que se exige nesses exercícios. Frent e a eles, só dirá que são dif íceis enquant o não
houver assumido cert a disposição de ânimo, cert os sent iment os e sensações bem
def inidos.
Adquirirá rapidament e compreensão e capacidade para os exercícios quem cult ivar
na alma, com paciência e perseverança, as qual idades int eriores f avoráveis à germinação
de conheciment os supra-sensíveis. Quem est iver habit uado a f azer f reqüent es exames de
consciência, menos para especular sobre si mesmo do que, muit o mais, para ordenar e
elaborar calmament e dent ro de si as experiências f eit as na vida, ganhará muit o com isso.
Perceberá que não experiment a algo novo apenas pel o f at o de t er novas impressões e
novas vivências, mas t ambém por elaborar as ant igas dent ro de si. E quem permit ir que
suas vivências e at é mesmo suas opiniões j á f ormadas se conf ront em como se ele mesmo
não est ivesse present e com suas simpat ias e ant ipat ias, com seus int eresses e
sent iment os, preparará um t erreno especial ment e propício para as f orças cognit ivas supra-
sensíveis. Na verdade, cult ivará o que se pode denominar r i ca vi da i nt er i or . Mas o que
import a é principalment e a simet ria e o equilíbrio das f aculdades anímicas. Quando o
homem se ent rega a cert a at ividade anímica, f ica f acilment e inclinado a incorrer em
unilat eralidade. Assim, ao perceber o proveit o da medit ação int erior e da permanência em
seu próprio mundo das represent ações ment ais, ele pode adquirir uma inclinação para
f echar-se cada vez mais às impressões do mundo ext erior. Isso, porém, conduz ao
ressecament o e à aridez da vida int erior. O maior progresso éalcançado por quem,
paralelament e à f aculdade de ret rair-se em seu int erior, t ambém conserva uma ampl a
recept ividade para t odas as impressões do mundo ext erior. E, nesse caso, não bast a
simplesment e pensarmos nas dit as impressões signif icat ivas da vida; qual quer pessoa em
qual quer sit uação — mesmo ent re quat ro miseráveis paredes — poderá t er vivências
suf icient es se mant iver recept ivo o senso para t al. Não é preciso ir primeiro buscar as
vivências; elas est ão em t oda part e.
Também é de grande import ância o modo como são elaboradas as vivências na alma
humana. Alguém pode descobrir, por exempl o, que uma personalidade respeit ada por ele
ou por out ras pessoas possui est a ou aquela part icularidade que ele é f orçado a def inir
como f alha de carát er. Por t al experiência, ele pode ser levado a ref let ir em duas
direções. Pode simplesment e dizer a si mesmo: “ Agora, depois de t er descobert o isso, j á
não posso respeit ar essa pessoa da mesma maneira como ant es. ” Ou ent ão pode
quest ionar: “ Como é possível a respeit ada personalidade t er essa f alha? Como posso
ment alizar que a f alha não sej a apenas f alha, mas algo causado por sua vida, t alvez
j ust ament e por suas grandes qualidades?” Alguém que se proponha essas pergunt as t alvez
chegue à conclusão de que seu respeit o não deve diminuir um milímet ro sequer pela
const at ação da f alha. De uma conclusão como essa ele aprenderá a cada vez um aspect o
novo, acrescent ando al go à sua compreensão da vida. Ora, cert ament e seria ruim, para
quem se deixasse levar pelo lado bom dessa concepção de vida, desculpar t odas as
possíveis f alhas em pessoas ou coisas de sua simpat ia, ou at é mesmo acost umar-se a
deixar passar t udo o que f osse censurável, apenas por essa at it ude f avorecer seu
desenvolviment o int erior. Cert ament e esse não é o caso quando alguém sent e, por si
mesmo, o impulso de não apenas censurar as f alhas, mas compreendê-las — porém só
quando t al at it ude é exigida pelo próprio caso em quest ão, sendo indif erent e o que o
observador possa ganhar ou perder com ela. É int eirament e corret o dizer que não se pode
apr ender censurando uma f alha, mas apenas compreendendo-a. Quem, no ent ant o,
quisesse excluir int eirament e a reprovação pelo f at o de compreendê-la, t ampouco f aria

147
progressos. Aqui, igual ment e, não se t rat a de unilat eralidade numa ou nout ra direção, e
sim da simet ria e do equilíbrio das f orças anímicas.
Isso ocorre muit o especialment e com uma qualidade anímica de capit al import ância
para a evolução do homem: aquilo que se denomina sent iment o de vener ação. Quem
cult iva em si t al sent iment o, ou ent ão o possui de ant emão como um f eliz dom nat ural,
cont a com uma excelent e base para as f orças cognit ivas supra-sensíveis. Quem, em sua
época de inf ância ou de j uvent ude, pôde erguer com dedicada veneração os olhos para
pessoas represent at ivas de um ideal elevado, possui, no f undo de sua alma, uma condição
f avorável ao desenvolviment o do conheciment o supra-sensível. E quem, com j uízo maduro
numa f ase post erior da vida, cont empla o céu est relado e com dedicação incansável
presencia, admirado, a manif est ação de elevadas pot ências t orna-se, j ust ament e por isso,
maduro para o conheciment o dos mundos supra-sensíveis. O mesmo ocorre com quem é
capaz de venerar as f orças que governam a vida humana. E não é menos signif icat ivo
quando alguém maduro ainda é capaz de t er a mais suprema veneração por out ras pessoas
cuj o valor ele presume ou acredit a reconhecer. Só quando exist e essa veneração é que se
pode abrir a visão para os mundos superiores. Quem é incapaz de venerar j amais avançará
muit o em seu conheciment o. Para quem nada quer reconhecer no mundo, a essência das
coisas permanece ocult a.
Quem, no ent ant o, em virt ude do sent iment o de veneração e ent rega se deixa induzir
a mat ar t ot alment e em si a sadia aut oconsciência e aut oconf iança, est á pecando cont ra a
lei da simet ria e do equilíbrio. O discípulo espirit ual t rabalhará cont inuament e em si
próprio, a f im de t ornar-se cada vez mais maduro; só ent ão poderá t er conf iança em sua
própria personalidade e acredit ar que as f orças dest a crescerão progressivament e. Quem
chegar a sensações corret as nesse sent ido dirá a si próprio: “ Exist em em mim f orças
ocult as, e eu sou capaz de ext raí-las de meu int erior. Port ant o, ao ver algo que devo
venerar por est ar acima de mim, não preciso limit ar-me a venerá-lo: posso considerar-me
capaz de desenvolver em mim t udo o que me iguale a est e ou aquele element o venerado. ”
Quant o maior f or, numa pessoa, a f aculdade de dirigir a at enção a cert os processos
da vida não conf iados previament e ao j ulgament o pessoal, t ant o maior será sua
possibilidade de criar para si as bases para o desenvolviment o rumo aos mundos
espirit uais. Um exemplo pode ilust rar isso:
Uma pessoa chega a um pont o da vida em que pode execut ar ou omit ir det erminada
ação. Sua razão lhe diz: “ Faça isso. ” Cont udo, em suas sensações exist e algo inexplicável
que a det ém diant e do f at o. Ora, pode acont ecer de essa pessoa não dar qualquer at enção
a esse algo inexplicável, simplesment e realizando a ação segundo seu crit ério. Mas
t ambém pode ser que ela ceda à pressão desse algo inexplicável e se abst enha de agir. Se
cont inuar a acompanhar o assunt o, t alvez const at e que t eria ocorrido uma desgraça se
t ivesse seguido sua razão, e que sua abst enção t erá result ado em benef ício.
Uma experiência dessas pode levar o pensament o da pessoa numa direção bem
precisa. Ela poderá dizer a si mesma: “ Em mim vive algo que me orient a com mais acert o
do que o grau de discerniment o que possuo na at ualidade. Devo mant er abert o meu senso
para esse ‘ algo em mim’ , para o qual ainda não amadureci em meu discerniment o. ” É
alt ament e proveit oso para a alma quando ela dirige sua at enção a t ais casos na vida.
Ent ão lhe parece, como num pressent iment o saudável, que no homem exist e mais do que
ele pode abranger com sua razão em cert o moment o. Essa at enção t rabalha no sent ido de
uma ampliação da vida anímica. Mas t ambém aqui podem surgir novament e
unilat eralidades perigosas. Quem quisesse acost umar-se a excluir sempre seu j uízo, pelo
f at o de ‘ pressent iment os’ o impelirem a ist o ou aquil o, poderia t ornar-se um j oguet e de
t oda espécie de inst int os imprecisos. De t al hábit o para a irracionalidade e a superst ição

148
não exist e muit a dist ância.
Qualquer f orma de superst ição é nociva para o discípulo. Ele só adquire a
possibilidade de adent rar adequadament e o domínio da vida espirit ual abst endo-se
cuidadosament e de qualquer superst ição, f ant asia e devaneio. Não penet ra corret ament e
no mundo espirit ual quem se alegra em conseguir, de alguma f orma, vívenciar um
processo “ que não pode ser compreendido pela ment e humana” . A inclinação para o
‘ inexplicável’ cert ament e não f az de ninguém um discípulo. Est e deve abandonar a
pressuposição de que um míst ico sej a “ aquele que pressupõe algo inexplicável,
inexplorável no mundo” t oda vez que lhe pareça oport uno. O sent iment o corret o para o
discípulo é reconhecer em t oda part e f orças e ent idades ocult as — mas t ambém pressupor
que é possível explorar o inexplorado quando exist em as energias para isso.
Exist e uma cert a disposição de ânimo import ant e para o discípulo em cada nível de
sua evolução. Ela consist e em não orient ar seu impulso cognit ivo de maneira unilat eral ,
part indo sempre de “ Como se pode responder a est a ou aquela pergunt a?” , e sim de
“ Como desenvolver em mim est a ou aquel a f aculdade?” . Uma vez desenvolvida est a ou
aquela f aculdade graças a um pacient e t rabal ho int erior, ocorre à pessoa a respost a a
cert as pergunt as. Os discípulos espirit uais sempre desenvolverão em si essa disposição de
ânimo. Com isso serão levados a t rabalhar em si mesmos, t ornando-se cada vez mais
maduros e abst endo-se de querer f orj ar respost as para cert as pergunt as. Eles aguardarão
at é que essas respost as lhes ocorram. Quem, no ent ant o, t ambém nisso est iver habit uado
à unilat eralidade, não progredirá corret ament e. O discípulo espirit ual pode t ambém t er,
em det erminado moment o, a sensação de est ar respondendo às quest ões mais elevadas
com a medida de suas próprias f orças. Port ant o, t ambém aqui a simet ria e o equilíbrio na
disposição de ânimo desempenham um import ant e papel.
Ainda se poderiam abordar muit as out ras qualidades anímicas cuj o cult ivo e
desenvolviment o é proveit oso quando o discípulo espirit ual quer alcançar a inspiração por
meio de exercícios. Em t udo cabe ressalt ar que a simet ria e o equilíbrio são as qualidades
anímicas import ant es. Elas preparam a compreensao e a capacidade para os exercícios
descrit os, necessários para se alcançar a inspiração.
Os exercícios para a int uição exigem que o discípulo elimine de sua consciência não
apenas as imagens às quais ele se ent regou para alcançar a imaginação, mas t ambém a
vida na própria at ividade anímica onde ele se aprof undou para adquirir a inspiração.
Port ant o, ele não deve possuir lit eralment e coi sa al guma em sua alma em t ermos de
vivência ext erior ou int erior previament e conhecida. Ora, mas se após esse despoj ament o
das vivências ext eriores e int eriores nada rest asse em sua consciência, ou sej a, se a
consciência lhe desaparecesse e ele submergisse na inconsciência, nisso el e poderia
reconhecer não t er amadurecido para empreender exercícios para a int uição; e ent ão
deveria cont inuar os exercícios para a imaginação e a inspiração. Chega enf im o moment o
em que, t endo a alma eliminado as vivências int eriores e ext eriores, a consciência não
f ica vazia: após essa eliminação, nela permanece, como ef eit o, algo ao qual o discípulo
pode ent regar-se t al qual se ent regou, ant es, àquilo que deve sua exist ência a impressões
ext eriores ou int eriores. Cont udo, esse ‘ algo’ é de uma nat ureza bem especial; diant e de
t odas as experiências ant eriores, é algo realment e novo. Ao vivenciá-lo, a pessoa f ica
sabendo: “ Isso eu nunca conheci ant es. E uma percepção t al qual um som real é uma
percepção do ouvido; porém esse algo só pode penet rar em minha consciência por meio da
int uição, do mesmo modo como o som só pode penet rar na consciência at ravés do
ouvido. ” É pela int uição que se elimina o últ imo remanescent e do f ísico-sensível das
impressões recebidas pelo homem; o mundo espirit ual começa a abrir-se ao conheciment o
de uma f orma que j á nada mais possui em comum com as qualidades do mundo f ísico-

149
sensível.

A t ransformação dos corpos et érico e físico

O conheciment o imaginat ivo é alcançado mediant e a est rut uração das f lores de lot o
a part ir do corpo ast ral . Por meio dos exercícios prat icados com vist as à inspiração e à
int uição surgem, no corpo et érico ou vit al humano, cert os moviment os, f ormações e
corrent es não exist ent es ant es. São j ust ament e os órgãos graças aos quais o homem inclui,
no domínio de suas f aculdades, a ‘ leit ura da escrit a ocult a’ e o que est á acima dela. Ao
conheciment o supra-sensível, as t ransf ormações do corpo et érico de um homem que
alcançou a inspiração e a int uição apresent am-se da seguint e maneira:
Aproximadament e na região do coração f ísico, um novo cent ro t orna-se conscient e no
corpo et érico, est rut urando-se num órgão et érico. Dest e f luem, das mais diversas f ormas,
moviment os e corrent es em direção aos vários membros do corpo humano. As mais
import ant es dessas corrent es dirigem-se às f lores de lot o, at ravessando-as e a cada uma
de suas pét alas, para ent ão sair derramando-se no espaço ext erior, como raios. Quant o
mais evoluído f or o homem, t ant o maior será o espaço circundant e onde essas corrent es
são percept íveis.
Cont udo, o cent ro na região do coração não se f orma logo de início numa disciplina
met ódica, sendo ant es preparado. Em primeiro lugar surge como que um cent ro provisório
na cabeça; depois est e se desloca para a região da laringe, est abelecendo-se f inalment e
nas proximidades do coração f ísico. Caso o desenvolviment o f osse irregular, o órgão em
quest ão poderia ser f ormado imediat ament e na região cardíaca; mas nesse caso haveria o
perigo de o homem, em vez de chegar a uma visão supra-sensível t ranqüila e obj et iva,
t ornar-se um f anát ico e visionário.
Em seu desenvolviment o post erior, o discípulo adquire a f aculdade de t ornar
independent es do corpo f ísico as corrent es e est rut uras f ormadas em seu corpo et érico,
ut ilizando-as aut onomament e. Nesse caso as f lores de lot o l he servem de inst rument o para
moviment ar o corpo et érico. Porém ant es de isso acont ecer devem t er-se f ormado, em
t odo o âmbit o do corpo et érico, cert as corrent es e radiações que o envolvem como que
com uma f ina malha, t ornando-o uma ent idade encerrada em si mesma. Tendo isso
ocorrido, os moviment os e corrent es do corpo et érico podem ent rar abert ament e em
cont at o com o mundo anímico-espirit ual ext erior e ligar-se a ele, de modo que o suceder
anímico-espirit ual ext erior e o out ro, int erior (aquele no corpo et érico humano), conf luam
ent re si. Com isso é chegado o moment o em que o homem percebe conscient ement e o
mundo da inspiração. Esse conheciment o surge dif erent ement e do conheciment o relat ivo
ao mundo f ísico-sensível. Nest e o homem t em percepções at ravés dos sent idos, f ormando
idéias e conceit os sobre elas. No saber por inspiração, isso não acont ece. O que se
conhece est á imediat ament e present e, num só at o; não exist e uma ref lexão após a
percepção. O que, para o conheciment o f ísico-sensível, só é obt ido em conceit os mais
t arde, na inspiração é dado simult aneament e à percepção. Por isso a pessoa se conf undiria
com o mundo ambient e anímico-espirit ual , não podendo dist inguir-se dele, caso não
houvesse desenvolvido no corpo et érico a malha cit ada acima.
Ao serem execut ados, os exercícios para a int uição at uam não apenas sobre o corpo
et éríco, mas at é para dent ro das f orças supra-sensíveis do corpo f ísico. Cont udo, não se
deve supor que dessa f orma ocorram no corpo f ísico ef eit os acessíveis à observação
sensorial comum. Trat a-se de ef eit os que só a cognição supra-sensível é capaz de avaliar,
nada t endo a ver com o conheciment o ext er i or . Eles se apresent am como uma
conseqüência da mat uridade da consciência, quando est a é capaz de t er vivências

150
int uit ivas apesar de haver eliminado de si t odas as experiências ext eriores e int eriores
conhecidas ant es.
Ora, as experiências int uit ivas são sut is, ínt imas e delicadas; e relat ivament e a elas o
corpo f ísico humano, em seu at ual est ado evolut ivo, é grosseiro, e por isso of erece um
f ort e obst áculo ao bom êxit o dos exercícios para a int uição. Se est es f orem cont inuados
com energia e perseverança, e t ambém com a devida t ranqüilidade int erior, f inalment e
vencerão os poderosos obst áculos do corpo f ísico. O discípulo espirit ual comprova isso pelo
f at o de adquirir domínio sobre cert as manif est ações de seu corpo f ísico, ant eriorment e
subt raídas à sua consciência. Not a t ambém que durant e curt o t empo sent e a necessidade
de regular, por exemplo, a respiração (ou algo semelhant e), de modo que est a chegue a
uma espécie de sint onia ou harmonia com o que a alma realiza nos exercícios ou no
aprof undament o int erior. O ideal do desenvolviment o é que não se f aça qualquer exercício
por meio do próprio corpo f ísico — nem mesmo esses de respiração —, e que t udo o que
t iver de ocorrer com ele se produza apenas como uma conseqüência dos puros exercícios
para a int uição.

A t ransformação das forças anímicas

Ao ascender pelo caminho que conduz aos mundos cognit ivos superiores, em cert o
nível o discípulo not a que a coesão das f orças de sua personalidade assume uma f orma
dif erent e daquela que possui no mundo f ísico-sensorial. Nest e o eu provoca uma
colaboração homogênea das f orças anímicas, principalment e do pensar, do sent ir e do
querer. Nas sit uações normais da vida humana, essas t rês f orças anímicas est ão sempre em
cert a relação. Vê-se, por exempl o, um cert o obj et o no mundo ext erior. Ele agrada ou
desagrada à alma; isso signif ica que a uma cert a necessidade de represent ação do obj et o
se segue um sent iment o de prazer ou desprazer. Tant o se desej a o obj et o como se t em o
impulso de modif icá-lo num ou nout ro sent ido. Isso se t raduz da seguint e maneira:
A capacidade de desej o e a vont ade se associam numa represent ação ment al e num
sent iment o. A ocorrência dessa associação é provocada pelo f at o de o eu conj ugar
unif ormement e a represent ação ment al (pensament o), o sent iment o e a vont ade,
int roduzindo assim a ordem nas f orças da personalidade. Essa ordem sadi a seria
int errompida se o eu se most rasse impot ent e nesse sent ido — se, por exemplo, o desej o
quisesse t omar out ro caminho que não o do sent iment o ou da represent ação ment al. Não
est aria num est ado de ânimo sadio quem, embora pensando ser ist o ou aquilo corret o,
quisesse algo que não l he parecesse corret o. O mesmo ocorreria se alguém não quisesse o
que lhe agrada, e sim o que lhe desagrada.
Ora, o homem not a que no caminho para o conheciment o superior o pensar, o sent ir
e o querer separam-se de f at o, assumindo cada qual uma cert a aut onomia, e que, por
exemplo, um cert o processo pensant e j á não impele como que por si mesmo a um sent ir e
a um querer det erminados. Ocorre que ele pode perceber corret ament e algo em seu
pensar, mas para chegar a um sent iment o ou a uma decisão da vont ade necessit a de um
impul so independent e a part ir de seu int erior. O pensar, o sent ir e o querer não
cont inuam, durant e a observação supra-sensível, a ser t rês f or ças emanando do cent ro
comum da personalidade — do eu —, mas convert em-se como que em ent idades
aut ônomas, semelhant es a t rês personalidades; e agora é preciso f ort alecer ao máximo o
próprio eu, pois est e não deve simplesment e levar ordem a t rês f orças, e sim dirigir e
conduzir t rês ent idades. Porém essa divisão só deve exist ir durant e a observação supra-
sensível. E aqui f ica evident e a import ância de acompanhar os exercícios para a disciplina
superior com aqueles que dão segurança e f irmeza à capacidade de j ulgament o, à vida do
sent iment o e à vida volit iva — pois caso não se levem est es últ imos ao mundo superior,

151
logo f icará visível como o eu se most ra débil e incapaz de ser o condut or do pensar, do
sent ir e do querer. Se exist isse essa debilidade, a alma seria como que puxada por t rês
personalidades em t rês direções, e sua coesão int erna t eria de cessar. Mas quando o
desenvolviment o do discípulo t ranscorre da maneira corret a, a descrit a t ransf ormação de
f orças signif ica um verdadeiro progresso; o eu permanece o soberano acima das ent idades
aut ônomas que agora f ormam sua alma.
No decorrer post erior do desenvolviment o, o cit ado progresso cont inua. O pensar,
t ornado independent e, provoca o surgiment o de uma quart a ent idade anímico-espirit ual
que se pode denominar como uma af luência diret a, ao homem, de corrent es semelhant es
aos pensament os. O mundo t odo parece um edif ício de pensament os, post ado diant e do
observador como o mundo veget al ou animal no âmbit o f ísico-sensorial. Da mesma f orma,
o sent ir e o querer t ornados independent es provocam na al ma duas f orças que nel a at uam
como seres aut ônomos. E ainda se acrescent a uma sét ima f orça e ent idade semelhant e ao
próprio eu.
Toda essa vivência liga-se ainda a uma out ra. Ant es da ent rada no mundo supra-
sensível, o homem conhecia o pensar, o sent ir e o querer apenas como vivências anímicas
int eriores. Logo ao penet rar no mundo supra-sensível, ele percebe coisas que não
expressam algo f ísico-sensível, e sim algo anímico-espirit ual. At rás das peculiaridades do
novo mundo, por ele observadas, est ão agora ent idades anímico-espirit uais. E est as se lhe
apresent am agora como um mundo ext erior, assim como no âmbit o f ísico-sensível se
apresent aram aos sent idos as pedras, as plant as e os animais. Ora, o discípulo pode agora
perceber uma signif icat iva dif erença ent re o mundo anímico-espirit ual que se lhe
apresent a e aquele que ele est ava habit uado a perceber com seus sent idos f ísicos. Uma
plant a do mundo sensorial permanece como é, não import ando o que a alma humana sint a
ou pense sobre ela. No caso das imagens do mundo anímico-espirit ual, isso a princípio não
ocorre. El as se modif icam de acordo com o que o homem sint a ou pense. Com isso ele lhes
dá um cunho que depende de seu próprio ser.
Suponha-se que uma cert a imagem se apresent e ao homem no mundo imaginat ivo. Se
de início ele se comport ar de modo indif erent e f rent e a ela, a imagem se most rará com
cert o aspect o. No moment o, porém, em que ele sent ir prazer ou desprazer diant e da
imagem, est a modif icará sua f orma. Assim, as imagens não só expressam algo que exist e
independent ement e, f ora do homem, mas t ambém ref let em o que o próprio homem é.
Elas est ão int eirament e impregnadas pela própria ent idade do homem, a qual se est ende
como um véu sobre as [ demais] ent idades. Ent ão, embora uma ent idade real se encont re à
sua f rent e, homem vê não essa imagem, e sim sua própria produção. Assim, na verdade
ele pode t er diant e de si algo absolut ament e verdadeiro e, não obst ant e, ver algo f also.
Aliás, isso não acont ece apenas com relação ao que o homem percebe em si como sua
própria ent idade; t udo o que exist e nele int erf ere nesse mundo. Por exemplo, o homem
pode t er t endências ocult as que, devido à educação e ao carát er, não se evidenciam na
vida; é no mundo anímico-espirit ual que elas at uam, sendo que est e adquire part icular
colorido graças ao ser int egral do homem, independent ement e do quant o est e saiba ou
não desse mesmo ser.

O pequeno guardião do limiar

Para cont inuar a progredir depois dessa et apa do desenvolviment o, é necessário que
o homem aprenda a dist inguir ent re si próprio e o mundo espirit ual ext erior. Cumpre
eliminar t odos os ef eit os da própria individualidade sobre o ref erido mundo anímico-
espirit ual circundant e. Não se consegue isso a não ser adquirindo um conheciment o
daquilo que se leva para esse mundo novo. Trat a-se, port ant o, de t er primeirament e um

152
verdadeiro e prof undo aut oconheciment o para poder perceber de f orma pura o mundo
anímico-espirit ual círcundant e. Ora, é inerent e a cert os f at os da evolução humana a
circunst ância de que esse aut oconheciment o durant e a ent rada no mundo superior deve
ocorrer como um processo nat ural. No mundo f ísico-sensível habit ual , o homem
desenvolve seu eu, sua aut oconsciência. Pois bem, esse eu at ua como um cent ro de
at ração sobre t udo o que é pert inent e ao homem: t odas as suas inclinações, simpat ias,
ant ipat ias, paixões, opiniões, et c. se agrupam, por assim dizer, em redor desse eu. E esse
eu é t ambém o cent ro de at ração para o que se denomina carma do homem. Se alguém
visse esse eu despoj ado de véus, t ambém not aria que det erminados t ipos de dest ino
devem at ingi-lo ainda nest a encarnação e nas seguint es, conf orme o modo como ele t enha
vivido nas encarnações ant eriores e de acordo com o que t enha assimil ado.
É com t udo o que, desse modo, lhe é pert inent e, que o eu deve apresent ar-se como
primeira imagem à al ma humana quando est a ascende ao mundo anímico-espirit ual.
Segundo uma lei do mundo espirit ual, esse ‘ sósia’ do homem deve ser sua primeira
impressão ao penet rar naquele mundo. Pode-se t ornar f acilment e compreensível a lei
subj acent e a isso ponderando-se o seguint e:
Na vida f ísico-sensorial , o homem só percebe a si próprio na medida em que se
vivencia int eriorment e em seu pensar, sent ir e querer. Essa percepção, porém, é int erior;
ela não se coloca perant e o homem do mesmo modo como o f azem as pedras, as plant as e
os animais. Além disso, pela percepção int erior o homem só chega a conhecer-se
parcialment e; na verdade, ele cont ém em si algo que o impede de aprof undar o
aut oconheciment o. Trat a-se de um impulso para ret rabalhar imediat ament e qualquer
part icularidade que, pelo aut oconheciment o, ele deva admit ir, não quer endo ent r egar -se
a qual quer i l usão a r espei t o de si mesmo. Caso ele não obedeça a esse impulso,
simplesment e desviando a at enção da própria individualidade e cont inuando a ser como é,
obviament e t ambém se privará da possibilidade do aut oconheciment o no pont o em
quest ão. Mas caso se aprof unde em si mesmo e enf rent e sem ilusões est a ou aquela de
suas part icularidades, t ant o f icará em sit uação de melhorá-la em si como, ao cont rário,
não poderá f azê-lo na at ual circunst ância de vida. Nest e últ imo caso, sua al ma será
assalt ada por um sent iment o que se poderia designar como vergonha. É assim que at ua, de
f at o, a nat ureza sadia do homem: pelo aut oconheciment o, ela sent e muit os t ipos de
vergonha. Ora, j á na vida cot idiana esse sent iment o t em um ef eit o bem def inido. A pessoa
de pensament o sadio cuidará para que aquilo que a preenche com esse sent iment o não se
manif est e em ef eit os no ext erior, não repercut a em at os ext eriores. A vergonha é,
port ant o, uma f orça que impele o homem a encerrar algo em seu int erior e não deixá-lo
t ornar-se ext eriorment e percept ível.
Ref let indo at ent ament e, acharemos compreensível que a pesquisa espirit ual at ribua
a uma vivência int erior da alma, int imament e ligada ao sent iment o de vergonha, ainda
muit o mais ef eit os cont ínuos. Ela descobre que nas recôndit as prof undidades da alma
exist e uma espécie de vergonha ocul t a, da qual o homem não f ica conscient e na vida
f ísico-sensorial. Esse sent iment o ocult o, porém, at ua semelhant ement e ao mencionado
sent iment o de vergonha da vida cot idiana: impede que a nat ureza mais ínt ima do homem
lhe apareça numa imagem percept ível. Se não exist isse esse sent iment o, o homem
perceberia diant e de si o que ele próprio é na realidade; não experiment aria apenas
int eriorment e suas represent ações ment ais, seus sent iment os e e sua vont ade, mas os
perceberia t al qual percebe pedras, plant as e animais. Assim sendo, esse sent iment o é o
encobridor do homem perant e si próprio, e com isso é o encobridor de t odo o mundo
anímico-espirit ual — pois à medida que o homem encobre diant e de si sua própria
nat ureza int erior, t ampouco pode perceber onde deveria desenvolver os inst rument os para

153
conhecer o mundo anímico-espirit ual; ele não consegue t ransf ormar sua nat ureza para
receber os órgãos de percepção espirit ual.
Quando, no ent ant o, mediant e disciplina met ódica o homem t rabalha para adquirir
esses órgãos de percepção, surge diant e dele, como primeira impressão, o que ele próprio
é. Ele percebe seu ‘ sósia’ . Essa aut opercepção não deve ser separada da percepção do
mundo anímico-espirit ual rest ant e. Na vida cot idiana, do mundo f ísico-sensível, o
sent iment o caract erizado at ua de modo a f echar cont inuament e diant e do homem a port a
para o mundo anímico-espirit ual . Se o homem quisesse dar um único passo para penet rar
nesse mundo, esse sent iment o de vergonha imediat ament e at ivado, mas não manif est o à
consciência, ocult aria a porção do mundo anímico-espirit ual que desej a aparecer. Os
exercícios caract erizados, porém, desencobrem esse mundo. O que ocorre é que esse
sent iment o ocult o at ua como um grande benf eit or do homem, pois t udo o que, sem
disciplina cient íf ico-espirit ual, se adquire em t ermos de j uízo, vida af et iva e carát er, não
habilit am o homem a suport ar sem mais nem menos a percepção da própria nat ureza em
sua verdadeira f orma. Mediant e essa percepção, ele perderia t odo o sent iment o de si
mesmo, t oda a aut oconf iança e t oda a aut oconsciência. Para isso não ocorrer, deverão
novament e cont ribuir as providências que, ao lado dos exercícios para o conheciment o
superior, o discípulo t omará para o cult ivo de seu j uízo sadio, de seus sent iment os e de
seu carát er.
Por sua disciplina met ódica, o homem aprende, como que sem querer, t ant a coisa da
Ciência Espirit ual, e além disso lhe f icam claros t ant os meios de aut oconheciment o e
aut odomínio, que t udo isso lhe é suf icient e para encont rar vigorosament e seu ‘ sósia’ .
Acont ece que ele só vê, como imagem do mundo imaginat ivo e sob out ra f orma, aquilo
com que j á se f amiliarizou no mundo f ísico. Quem j á houver primeirament e compreendido
no mundo f ísico, por seu int elect o, a lei do carma da maneira corret a, não sof rerá
especial est remeciment o ao ver gravados na imagem de seu ‘ sósia’ os germes de seu
dest ino. Quem se houver f amiliarizado, por seu discerniment o, com a evolução do Cosmo e
da humanidade — sabendo como, num det erminado moment o dessa evolução, as f orças de
Lúcif er se impregnaram na alma humana —, não se at emorizará ao perceber que na
imagem de sua própria nat ureza est ão cont ídas essas ent idades lucif éricas, com t odos os
seus ef eit os.
Pelo expost o acima, vê-se como é necessário o homem não pret ender o acesso ao
mundo espirit ual ant es de t er compreendido cert as verdades sobre ele por seu
discerniment o normal, desenvolvido no mundo f ísico-sensível. O que é comunicado, nest e
livro, ant es das explicações sobre o ‘ conheciment o dos mundos superiores’ , o discípulo
deverá t er assimilado no decorrer de um desenvolviment o met ódico, ant es de pret ender
adent rar por si mesmo os mundos supra-sensíveis.
Numa disciplina em que não se considerasse a segurança e a f irmeza do j uízo, da vida
do sent iment o e do carát er, poderia acont ecer de o discípulo penet rar no mundo superior
ant es de possuir as necessárias capacidades int eriores para isso. Ent ão o encont ro com seu
‘ sósia’ o oprimiria e o induziria a enganos. Se, no ent ant o — o que, aliás, t ambém seria
possível —, o encont ro f osse t ot alment e evit ado e mesmo assim o homem f osse int roduzido
no mundo supra-sensível, ele t ampouco est aria em condições de conhecer esse mundo em
sua verdadeira f orma; pois lhe seria t ot alment e impossível dist inguir ent re o que ele
proj et a nas coisas e o que est as realment e são. Essa dist inção só é possível quando se
percebe a própria ent idade como uma imagem em si e, com isso, dest aca-se do ambient e
t udo o que f lui do próprio int erior.
No mundo f ísico-sensível, o ‘ sósia’ at ua na vida do homem de uma f orma t al que, por
causa do aludido sent iment o de vergonha, t orna-se invisível logo que o homem se

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aproxima do mundo anímico-espirit ual, mas com isso t ambém esconde t odo esse mundo. E
como um ‘ guardião’ que esse ‘ sósia’ se post a diant e do mundo espirit ual, a f im de vedar a
ent rada a quem ainda não est ej a preparado. Por isso ele pode ser denominado ‘ guardião
do limiar do mundo anímico-espirit ual’ .
Além de experiment ar um encont ro com o ‘ guardião do limiar’ na circunst ância
descrit a, o homem t ambém se vê em sua presença durant e a passagem pela mort e f ísica;
e ele se desvenda gradualment e no decorrer da vida ligada ao desenvolviment o anímico-
espirit ual no período ent re a mort e e um novo nasciment o. Porém aí o encont ro não pode
impressionar o homem, porque nesse plano ele f ica sabendo de mundos dif erent es do que
conhece na vida ent re o nasciment o e a mort e.
Se o homem penet rasse no mundo anímico-espirit ual sem t er passado pelo encont ro
com o ‘ guardião do limiar’ , poderia incorrer em sucessivas ilusões; pois nunca poderia
dist inguir ent re o que ele próprio leva para esse mundo e o que realment e pert ence ao
mesmo. Uma discipl ina met ódica, porém, só pode conduzir o discípulo ao âmbit o da
verdade, e não ao da il usão. Uma disciplina como essa será, por si mesma, de ordem t al
que necessariament e o encont ro deverá acont ecer um dia — sendo que est e const it ui, para
a observação de mundos supra-sensíveis, uma das imprescindíveis medidas prevent ivas
cont ra a possibilidade de ilusão e f ant asia.
Out ra das providências indispensáveis a t odo discípulo é t rabalhar cuidadosament e
em si mesmo para não t ornar-se um f ant asist a, um homem suscet ível de incorrer numa
possível sugest ão ou aut o-sugest ão. Se as indicações para a disciplina espirit ual f orem
devidament e observadas, serão simult aneament e dest ruídas as f ont es que podem conduzir
à ilusão. É óbvio que aqui não se pode f alar det alhadament e de t odos os inúmeros por-
menores a serem considerados nessas providências. Só se pode indicar o que é import ant e.
As ilusões consideradas aqui provêm de duas f ont es. Em part e, devem-se ao f at o de
colorirmos a real idade por int ermédio de nossa própria ent idade anímica. Na vida comum
do mundo f ísico-sensível essa f ont e de ilusões apresent a perigo relat ivament e pequeno,
pois aqui o mundo ext erior se imporá cada vez mais incisivament e em sua própria f orma
de observação, por mais que o observador queira col ori-lo conf orme seus desej os e
int eresses. Mas t ão logo se penet ra no mundo imaginat ivo, suas imagens são modif icadas
pelos ref eridos desej os e int eresses, t endo-se à f rent e, como uma r eal i dade, o que de
início se f ormou pessoal ment e ou ao menos se cont ribuiu para f ormar.
Ora, pel o f at o de o discípulo, graças ao encont ro com o ‘ guardião do limiar’ , vir a
conhecer t udo o que reside dent ro de si — e que ele pode, port ant o, levar consigo para o
mundo anímico-espirit ual —, essa f ont e da il usão é el iminada. E a preparação a que o
discípulo se submet e ant es do ingresso no mundo anímico-espirit ual f az com que ele se
habit ue, j á durant e a observação do mundo f ísico-sensorial, a excluir sua pessoa e deixar
as coisas e f enômenos f alar purament e por si mesmos, por sua própria nat ureza. Quem
t iver cumprido suf icient ement e essa preparação poderá esperar calmament e pelo
encont ro com o ‘ guardião do limiar’ . Por esse encont ro, f inalment e descobrirá se est á
realment e em condições de eliminar t ambém sua própria nat ureza ao def ront ar o mundo
anímico-espirit ual.
Além dessa f ont e de ilusões, exist e ainda uma out ra. Ela aparece quando uma
impressão recebida é int erpret ada erroneament e. Na vida f ísico-sensível, um exemplo
simples desse t ipo de ilusão é aquela que surge quando alguém sent ado num vagão de
t rem acr edi t a que as árvores se est ej am movendo na direção cont rária à do veículo,
enquant o na verdade é a própria pessoa que se move com o t rem. Embora exist am
inúmeros casos em que t ais ilusões no mundo f ísico-sensorial são mais dif íceis de corrigir
do que nesse exemplo, é f ácil compreender que dent ro desse mundo o homem t ambém

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encont ra os meios para eliminar esse t ipo de ilusões se, com j uízo sadio, l evar em
consideração t udo o que possa servir de esclareciment o adequado.
Evident ement e, a sit uação f ica bem diversa logo que se penet ra nas regiões supra-
sensíveis. No mundo sensorial os f at os não são modif icados pela ilusão humana, e por isso
é possível ret if icar o erro segundo os f at os, mediant e uma observação imparcial. No
mundo supra-sensível , cont udo, isso não é t ão f acilit ado. Quando queremos observar um
f enômeno supra-sensível empregando um crit ério errôneo, incorporamo-lhe esse crit ério
errôneo; e est e f ica t ão ent ret ecido ao f at o que não é possível dist ingui-lo imediat ament e
dele. Ent ão o erro não est á no homem, nem no f at o real f ora dele; o próprio erro se
t ornou part e int egrant e do f at o ext erior, não podendo, por isso, ser corrigido sim-
plesment e graças a uma observação imparcial dos f at os. Com isso é indicado o que pode
ser uma abundant e f ont e de ilusões e f ant asias para quem se aproxima do mundo supra-
sensível sem o devido preparo.
Ora, assim como o discípulo adquire a f aculdade de excluir essas ilusões, surgidas da
coloração dos f enômenos do mundo espirit ual por sua própria personalidade, ele deve
adquirir t ambém a out ra f aculdade: a de t ornar inat iva a segunda f ont e de ilusões, j á
caract erizada. Ele pode eliminar o que provém de si mesmo, uma vez t endo reconhecido a
imagem de seu próprio ‘ sósia’ ; e poderá eliminar o que const it ui uma segunda f ont e de
enganos na mencionada direção se adquirir a f aculdade de reconhecer, pelas
car act er íst i cas de um f at o do mundo supra-senslvel, se acaso se t rat a de uma realidade ou
de uma ilusão. Se as ilusões t ivessem exat ament e o mesmo aspect o que as realidades,
uma dist inção seria impossível. Porém não se t rat a disso. As ilusões dos mundos supra-
sensíveis possuem, em si mesmas, qualidades pelas quais se dist inguem das realidades; e o
que import a é o discípulo saber por quais qualidades pode ident if icar as realidades.
Nada parece mais nat ural do que um leigo em disciplina espirit ual dizer: “ Onde est á,
af inal, a possibilidade de prot eger-se da ilusão, j á que suas f ont es são t ão numerosas?” —
e, cont inuando: “ Será que exist e, af inal, algum discípulo seguro de que t odos os seus
presumíveis conheciment os superiores não consist em em ilusão e aut o-sugest ão?” . Quem
f ala assim não se dá cont a de que em t oda verdadeira disciplina espirit ual, por t odo o
modo como est a decorre, as f ont es de ilusão são obst ruídas. Em primeiro lugar o
verdadeiro discípulo adquirirá, mediant e seu preparo, conheciment os suf icient es sobre
t udo o que a ilusão e a aut o-sugest ão podem produzir, e com isso col ocar-se em condições
de prot eger-se delas. Nest e aspect o ele t em, mais do que qualquer out ra pessoa,
oport unidade de t ornar-se sensat o e crit erioso no decorrer da vida. Todas as suas
experiências o induzem a não prender-se a sugest ões e pressent iment os indef inidos. A
disciplina o t orna precavido na medida do possível. A isso se acresce que t oda verdadeira
disciplina conduz inicialment e a conceit os sobre os grandes event os cósmicos, ou sej a, a
t emas que requerem um esf orço de discerniment o, levando porém esse discerniment o a
ref inar-se e aguçar-se.
Soment e quem se recusasse a dedicar-se a domínios t ão dist ant es, rest ringindo-se a
‘ revelações’ mais próximas, poderia perder a perspicácia do j uízo sadio que lhe
proporciona segurança para dist inguir ent re o ilusório e o real. No ent ant o, isso ainda não
é o mais import ant e. O mais import ant e reside nos próprios exercícios empregados numa
disciplina espirit ual corret a. Est es devem ser organizados de maneira que, durant e a
medit ação, a consciência do discípulo abranj a exat ament e t udo o que sucede na alma.
Primeirament e será elaborado um símbolo para se produzir a imaginação. Nest e
ainda exist em represent ações de percepções ext eriores, de cuj o cont eúdo o homem não
part icipa sozinho; ele não o produz por si. Port ant o, ele pode ent regar-se a uma ilusão
quant o ao surgiment o desse cont eúdo, int erpret ando erradament e sua origem. Porém o

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discípulo af ast a esse cont eúdo de sua consciência ao ascender aos exercícios para a
inspiração. Ent ão se concent ra apenas em sua própria at ividade anímica, criadora do
símbol o. Ainda aqui é possível o erro. Pel a educação, pelo est udo, et c. , o homem se
apossou da nat ureza de sua at ividade anímica, sem poder conhecer int egralment e sua
origem. Agora, porém, o discípul o espirit ual af ast a de sua consciência t ambém essa at ivi-
dade anímica própria. Se f ica rest ando algo, nada do que se ref ira a isso deixa de ser
observável. Nisso, nada pode imiscuir-se que não possa ser j ulgado quant o ao seu
cont eúdo t ot al. Em sua int uição, port ant o, o discípulo espirit ual t em algo que lhe most ra
como uma realidade int eirament e nít ida do mundo anímico-espirit ual é const it uída. Ora,
ao aplicar as caract eríst icas da realidade anímico-espirit ual assim reconhecidas a t udo o
que se apresent e à sua observação, ele poderá dist inguir a ilusão da realidade; e poderá
est ar cert o de que, ao aplicar essas lei diant e da ilusão no mundo espirit ual, f icará t ão
preservado quant o est á, no mundo f ísico-sensível, de conf undir uma barra de f erro quent e
i magi nada com uma barra de f erro realment e abrasadora.
É óbvio que a pessoa se comport ará desse modo soment e em relação aos
conheciment os considerados como suas próprias vivências nos mundos supra-sensíveis, e
não às comunicações recebidas de out ras pessoas e compreendidas com seu int elect o f ísi-
co e seu sadio sent iment o da verdade. O discípulo espirit ual se esf orçará para t raçar um
limit e exat o ent re o que adquiriu de um ou de out ro modo. Por um lado, acolherá de boa
vont ade as comunicações sobre os mundos superiores e procurará compreendêlas
mediant e seu discerniment o. Se, no ent ant o, descrever algo como experiência pessoal ,
como uma observação f eit a por ele próprio, t erá previament e examinado se est a se lhe
apresent ou exat ament e com as caract eríst icas que ele aprendeu a perceber na int uição
iniludível .

O grande guardião do limiar

Tendo o discípulo espirit ual ult rapassado o encont ro com o j á descrit o ‘ guardião do
limiar’ , novas experiências o aguardam durant e a elevação aos mundos supra-sensíveis. De
início ele not ará que exist e uma ínt ima af inidade ent re esse ‘ guardião do limiar’ e aquela
f orça anímica revelada acima como a sét ima e que se conf igurou como uma ent idade
aut ônoma. Ora, em cert o sent ido essa sét ima ent idade nada mais é senão o próprio
‘ sósia’ , o ‘ guardião do limiar’ , impondo ao discípulo uma t aref a especial. Est e deverá
orient ar e guiar, por int ermédio de sua ident idade recém-nascida, aquilo que ele é em sua
ident idade habit ual e aquilo que se lhe manif est a em imagem. Ocorrerá uma espécie de
lut a com o ‘ sósia’ , que pret enderá cont inuament e a supremacia. Colocar-se numa relação
corret a com ele, não o deixando execut ar qualquer ação independent e da inf luência do eu
recém-nascido, t ambém f ort alece e consolida as energias do homem.
Ora, no mundo superior o aut oconheciment o não é, em cert o sent ido, o mesmo que
no mundo f ísico-sensível. Enquant o nest e últ imo o aut oconheciment o se apresent a apenas
como vivência int erior, a ident idade recém-nascida manif est a-se logo como f enômeno
anímico ext erior. A pessoa vê essa ident idade como um out ro ser diant e de si, mas não
pode percebê-lo int eirament e — pois sej a qual f or o nível alcançado no caminho para os
mundos supra-sensíveis, exist em sempre níveis mais elevados. Neles a pessoa perceberá
sempre algo mais de sua ‘ ident idade supenor’ . Port ant o, em qualquer nível est a só pode
revelar-se parcialment e ao discípulo. Cont udo, ao perceber pela primeira vez algo de sua
‘ personalidade superior’ , o homem sent e imensa t ent ação para considerá-la do pont o de
vist a adquirido no mundo f ísico-sensível. Essa t ent ação é at é benéf ica e deve surgir, para
que o desenvolviment o t ranscorra corret ament e. A pessoa deve observar o que se

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apresent a como o ‘ sosia’ , como o ‘ guardião do limiar’ , e colocá-l o diant e da ‘ ident idade
superior’ para poder not ar a dist ância ent re o que ela própria é e aquilo que deve vir a
ser.
Durant e essa observação, porém, o ‘ guardião do limiar’ começa a assumir uma f orma
t ot alment e dif erent e; ele se apresent a como uma imagem de t odos os obst ácul os que se
opõem ao desenvolviment o da ‘ ident idade superior’ . A pessoa perceberá que f ardo
signif ica carregar a ident idade habit ual. E se, graças a seu preparo, não est iver f ort alecida
o suf icient e para propor-se a não parar por ali, e sim desenvolver-se incessant ement e em
direção a ‘ ident idade superior’ , el a se paral isará e recuará diant e do que est á à f rent e.
Nesse caso est ará imersa no mundo anímico-espirit ual, mas desist irá de cont inuar a
t rabalhar em si mesma, convert endo-se em prisioneira da f igura que agora se manif est a à
alma por int ermédio do ‘ guardião do limiar’ . O signif icat ivo é que, nessa vivência, a
pessoa não t em a sensação de ser prisioneira; ela acredit ará, muit o mais, est ar sent indo
algo t ot alment e dif erent e. A f igura que o ‘ guardião do limiar’ evoca pode ser de nat ureza
a provocar, na alma do observador, a impressão de que nas imagens surgidas nesse nível
da evolução ele j á abrange t odos os mundos possíveis à sua f rent e, t endo at ingido o ápice
do conheciment o e j á não necessit ando cont inuar a esf orçar-se. Em lugar de sent ir-se
prisioneiro, ele poderá considerar-se o possuidor incomensuravelment e rico de t odos os
segredos do Universo. O f at o de se poder t er uma experiência que represent a o cont rário
do verdadeiro est ado de coisas não surpreenderá quem considerar que, ao t er essa
experiência, a pessoa j á se encont ra no mundo anímico-espirit ual, sendo uma das
part icularidades desse mundo o f at o de aí os event os se apresent arem invert idos. Nest e
livro j á se al udiu a isso quando da observação da vida após a mort e.
A f igura que se percebe nessa et apa evolut iva most ra ao discípulo algo ainda um
rouco dif erent e daquela em que lhe apareceu inicial ment e o ‘ guardião do limiar’ . Nesse
‘ sosia’ eram percept íveis t odas as qualidades que a personal idade habit ual do homem
possui como result ado da inf luência das f orças de Lúcif er. Ora, no decorrer da evolução
humana um out ro poder se int roduziu na alma humana, por inf luência de Lúcif er. Trat a-se
daquele que em capít ulos ant eriores dest e livro f oi designado como f orça de Arimã. Trat a-
se da f orça que, na exist ência f ísico-sensível, impede o homem de perceber as ent idades
anímico-espirit uais do mundo ext erior sit uadas at rás da superf ície do sensível. O que f oi
f eit o da alma humana sob inf luência dessa f orça é most rado, em imagem, pela f igura que
surge nessa vivência caract erizada.
Quem enf rent ar essa experiência com o devido preparo lhe dará sua devida
int erpret ação; e ent ão se manif est ará logo uma out ra f igura que se pode denominar
‘ grande guardião do limiar’ , em oposição ao j á mencionado ‘ pequeno guardião’ . Est e
comunica ao discípulo que ele não deve permanecer nesse nível, mas prosseguir
t rabalhando energicament e. Ele despert a no observador a consciência de que o mundo
conquist ado só se t ornará uma verdade e não se convert erá em ilusão se o t rabalho f or
prosseguido de maneira adequada.
Quem, no ent ant o, viesse a aproximar-se dessa experiência sem preparação devido a
uma disciplina inadequada, ao aproximar-se do ‘ grande guardião do limiar’ vert eria para a
alma algo comparável apenas a um ‘ sent iment o de t error imensurável’ , um ‘ medo sem
limit es’ .
Assim como o encont ro com o ‘ pequeno guardião do limiar’ permit e ao discípulo
verif icar se est á prot egido de ilusões possíveis de surgir pela int rodução de sua ent idade
no mundo supra-sensível, as vivências que f inalment e o l evam ao encont ro com o ‘ grande
guardião do limiar’ lhe permit em comprovar se ele é capaz de enf rent ar as ilusões
procedent es da segunda f ont e ant eriorment e descrit a. Se ele conseguir opor resist ência à

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f ormidável ilusão que lhe exibe o alcançado mundo das imagens como uma rica
propriedade — enquant o, na verdade, ele próprio é apenas um prisioneiro —, ent ão est ará,
no curso ult erior de seu desenvolviment o, preservado de t omar a aparência por realidade.
O ‘ guardião do limiar’ assumirá, at é cert o pont o, uma f orma individual para cada ser
humano em part icular. Aliás, o encont ro com ele corresponde j ust ament e à vivência pela
qual ésuperado o carát er pessoal das observações supra-sensíveis, sendo dada a
possibilidade de se penet rar numa região vivencíal isent a de colorido pessoal e válida para
qualquer nat ureza humana.

Microcosmo e macrocosmo

Após as descrit as vivências, o discípulo espirit ual est á apt o a dist inguir, no ambient e
anímico-espirit ual, ent re o que ele mesmo é e aquilo que est á f ora dele. Ent ão
reconhecerá como o ent endiment o do processo cósmico descrit o nest e livro é necessário
para a compreensão do próprio homem e sua vida. Aliás, só se compreende o corpo f ísico
ao reconhecer como ele f oi const ruído ao longo das evoluções sat urnina, solar, lunar e
t errest re. Compreende-se o corpo et érico ao acompanhar sua f ormação at ravés das
evoluções solar, lunar e t errest re, e assim por diant e. Mas t ambém se compreende o que
hoj e est á relacionado com a evolução t errest re ao reconhecer como t udo se f oi
desenvolvendo gradualment e. Pela disciplina espirit ual, a pessoa se coloca em condições
de descobrir a relação ent re t udo o que exist e no homem e os f at os e ent idades
correlat os, exist ent es no mundo sit uado f ora do homem. Com ef eit o, cada membro da
ent idade humana est á relacionado com t odo o mundo rest ant e. Nest e livro, porém, só f oi
possível dar indicações, esboçadas em linhas gerais.
Cont udo, é preciso considerar que durant e evolução sat urnina, por exemplo, o corpo
f ísico do homem exist ia apenas em seus primeiros rudiment os. Seus órgãos — o coração, os
pulmões, o cérebro — desenvolveram-se mais t arde, durant e os períodos solar, lunar e
t errest re, a part ir desses rudiment os. Assim, o coração, os pulmões, et c. são relacionados
com as evoluções do Sol, da Lua e da Terra. O mesmo ocorre com os membros do corpo
et énico, do corpo das sensações, da alma da sensação, et c. O homem f oi plasmado a
part ir da t ot alidade do mundo circundant e, e cada det alhe de sua const it uição
corresponde a um processo, a um ser do mundo ext erior. No nível oport uno de seu
desenvolviment o, o discípulo vem a reconhecer essa relação de seu próprio ser com o
macrocosmo. Pode-se denominar esse nível cognit ivo como percepção da correspondência
ent re o ‘ pequeno cosmo’ (microcosmo) — ou sej a, o próprio homem — e o ‘ grande cosmo’
(macrocosmo). Se o discípulo se esf orçou para alcançar esse conheciment o, pode
acont ecer-lhe uma nova vivência. Ele começa a sent ir-se part e int egrant e de t oda a
const rução cósmica, embora t enha a sensação de sua plena aut onomia. Essa sensação é
um elevar-se à t ot alidade do Cosmo, é um ident if icar-se com ele, porém sem perder a
própria ident idade. Pode-se chamar esse grau evolut ivo de ‘ ident if icação com o
macrocosmo’ . É import ant e essa ident if icação não ser considerada como se int errompesse
a consciência individual e a ent idade humana se dispersasse no Universo. Tal pensament o
seria apenas a expressão de uma opinião oriunda de um j uízo indisciplinado.

Os níveis do conheciment o superior (sínt ese)

Os níveis do conheciment o superior, no sent ido do processo iniciát ico aqui descrit o,
podem ser enumerados da seguint e f orma:

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1. O est udo da Ciência Espirit ual, no qual se emprega o discerniment o adquirido no mundo
f ísico-sensível.
2. A aquisição do conheciment o imaginat ivo.
3. A leit ura da escrit a ocul t a (correspondent e à inspiração).
4. A int egração no mundo espirit ual circundant e (correspondent e à int uição).
5. O conheciment o das rel ações ent re o microcosmo e o macrocosmo.
6. A ident if icação com o macrocosmo.
7. A vivência global das experiências ant eriores como disposição anímica básica.

Não se deve, porém, imaginar que essas et apas devam ser percorridas
sucessivament e. A disciplina pode t ranscorrer muit o mais de um modo que, conf orme a
individualidade do discípulo, um grau precedent e sej a percorrido apenas at é cert o pont o,
sendo ent ão iniciados exercícios correspondent es ao nível seguint e. Por exemplo, pode
muit o bem acont ecer que soment e alguns conheciment os imaginat ivos t enham sido
adquiridos de f orma segura, e não obst ant e se prat iquem exercícios dest inados a colocar a
inspiração, a int uição ou o conheciment o da relação ent re o microcosmo e o macrocosmo
dent ro do âmbit o da própria vivência.

A iniciação no quint o período pós-at lânt ico

Tendo passado pela vivência da int uição, o discípulo não só conhece as imagens do
mundo anímico-espirit ual, não só pode ler suas relações na ‘ escrit a ocult a’ , como t ambém
chega ao próprio conheciment o dos seres por cuj a cooperação surgiu o mundo ao qual
pert ence o ser humano. Com isso vem a conhecer a si mesmo em sua f orma como ser
espirit ual no mundo anímico-espirit ual. Ele se esf orçou por uma percepção de seu Eu
Superior, t endo not ado como deve cont inuar t rabalhando para dominar seu ‘ sosia’ , o
‘ guardião do limiar’ . Mas t ambém t eve o encont ro com o ‘ grande guardião do limiar’ ,
post ado à sua f rent e como perene incent ivador da cont inuidade do esf orço. Esse ‘ grande
guardião do limiar’ t orna-se agora o exemplo ao qual el e quer aspirar. Quando essa
sensação surge no discípulo, ele alcançou a possibilidade de saber quem ef et ivament e se
encont ra à sua f rent e como o ‘ grande guardião do limiar’ . De ent ão em diant e esse
‘ guardião’ se t ransf orma, para a percepção do discípulo, na f igura do Crist o, cuj a nat ureza
e int ervenção na evolução t errest re se dest acam de capít ulos ant eriores dest e livro. Com
isso o próprio discípulo é iniciado no august o mist ério ligado ao nome do Crist o. O Crist o se
revela a ele como o ‘ grande exemplo humano t errest re.
Tendo o Crist o sido reconhecido dessa f orma no mundo espirit ual , por meio da
int uição, t ambém se t orna compreensível o que se desenrolou hist oricament e na quart a
época pós-at lânt ica da Terra (na época greco-lat ina). O modo como, nessa época, o
elevado Ser Solar, o Ser Críst ico int erveio na evolução t errest re e cont inua at uando nessa
evolução, t orna-se, para o discípulo espirit ual, um conheciment o aut ovivenciado.
Port ant o, é uma revelação sobre o sent ido e o signif icado da evolução t errest re que o
discípulo recebe por int ermédio da int uição.
O caminho aqui descrit o para o conheciment o dos mundos supra-sensíveis é de
nat ureza t al que qualquer pessoa pode t rilhálo, sej a qual f or sua sit uação nas at uais
condições da vida. Ao se t rat ar desse caminho, deve-se t er em cont a que a met a do
conheciment o e da verdade cient íf ica é a mesma em t odas as épocas da evolução
t errest re, mas que os pont os de part ida do ser humano f oram dif erent es em dif erent es
épocas. At ualment e, ao querer seguir o caminho para as regiões supra-sensíveis, o homem

160
não pode part ir do mesmo pont o que, por exemplo, o ant igo egípcio aspirant e à iniciação.
Por isso os exercícios impost os ao discípulo da ant iga iniciação egípcia não são
diret ament e prat icáveis pelo ser humano at ual. Desde aquela época as almas humanas
passaram por diversas encarnações, e esse progresso de encarnaçao em encarnação não é
sem sent ido e import ância. As f aculdades e qualidades das almas modif icam-se de uma
encarnação para out ra. Bast a uma observação superf icial da vida humana e hist órica para
not ar que desde os séculos XII e XIII d. C. t odas as condições de vida se modif icaram em
relação às ant eriores, e que as opiniões, os sent iment os e t ambém as apt idões do homem
se t ornaram dif erent es de ant es. O caminho para o conheciment o superior aqui descrit o é
adequado às almas que se est ão encarnando na at ualidade imediat a. Ele t oma, como
pont o de part ida para o desenvolviment o espirit ual, aquele em que o homem se encont ra
no present e, em quaisquer sit uações de vida decorrent es dest e.
Com relação aos caminhos para o conheciment o superior, de época em época a
evolução progressiva conduz a humanidade a f ormas sempre novas, assim como t ambém a
vida ext erior modif ica suas conf igurações. E a cada época t ambém deve reinar uma
perf eit a sint onia ent re a vida ext erior e a iniciação.

Present e e f ut uro da evolução cósmica e humana

No sent ido da Ciência Espirit ual, não e possível conhecer algo a respeit o do present e
e do f ut uro da evolução do homem e do Universo sem compreender o passado dessa
evolução, pois o que se of erece à percepção do pesquisador espirit ual ao observar os f at os
ocult os do passado cont ém, ao mesmo t empo, t udo o que ele pode saber do present e e do
f ut uro.
Nest e livro se f alou das evoluções sat urnina, solar, lunar e t errest re. Do pont o de
vist a cient íf ico-espirit ual, não se pode compreender a evolução t errest re sem observar os
f at os das épocas evolut ivas precedent es — pois o que at ualment e se apresent a ao homem
dent ro do mundo t errest re cont ém, em cert o sent ido, os f at os das evol uções lunar, solar e
sat urnina. Os seres e as coisas que haviam part icipado da evolução lunar cont inuaram a
desenvolver-se, dando origem a t udo o que at ualment e pert ence à Terra. Porém nem t udo
o que evoluiu da Lua para a Terra é percept ível à consciência f ísico-sensível. Uma part e
do que evoluiu a part ir dessa Lua manif est a-se apenas em cert o nível da consciência
supra-sensível. Uma vez adquirido esse conheciment o, para ele nosso mundo t errest re est á
ligado a um mundo supra-sensível. Est e cont ém a part e da exist ência lunar não condensa-
da para a percepção f ísico-sensível, e a princípio a cont ém t al qual é at ual ment e, e não
como era na época da ant iga evolução lunar. Cont udo, a consciência supra-sensível pode
obt er uma imagem daquele ant igo est ado. Quando essa consciência se aprof unda na
percepção que at ualment e lhe é possível, paulat inament e se evidencia que est a se
desdobra por si mesma em duas imagens. Uma delas se apresent a como a conf iguração
que a Terra t eve durant e sua evolução lunar; a out ra imagem, porém, leva a reconhecer
nela uma conf iguração ainda germinal, que soment e no f ut uro será real no sent ido em que
a Terra é real agora.
Numa observação mais prof unda, revela-se que para essa f orma f ut ura af lui
const ant ement e o que, em cert o sent ido, result a como ef eit o dos acopt eciment os
t errest res. Nessa f orma f ut ura, port ant o, est amos diant e daquilo em que se t ransf ormará
a nossa Terra. Os ef eit os da exist ência t errest re se unirão ao que sucede no mundo
caract erizado, e disso surgirá o novo ser cósmico em que a Terra se t ransf ormará, t al qual
a Lua se t ransf ormou em Terra. Pode-se chamar essa f orma f ut ura de est ado j upit eriano.

161
Quem observar esse est ado j upit eriano numa cont emplação supra-sensível descobrirá que
no f ut uro ocorrerão necessar i ament e cert os processos, porque na part e supra-sensível do
mundo t errest re procedent e da Lua exist em seres e coisas que assumirão det erminadas
f ormas em f unção dest e ou daquele acont eciment os no âmbit o da Terra f ísico-sensível.
Port ant o, no est ado j upit eriano haverá algo j á predet erminado pela evolução lunar, e
haverá algo novo que só se est á incorporando à evolução global por meio dos processos
t errest res. É por esse mot ivo que a consciência supra-sensível pode int eirar-se um pouco
do que ocorrerá durant e o est ado j upit eriano. As ent idades e f at os que se observam nesse
campo da consciência não possuem o carát er do imagét ico-sensível; nem mesmo se apre-
sent am como sut is f ormações aéreas das quais pudessem emanar ef eit os lembrando
impressões sensoriais. Deles se recebem impressões sonoras, luminosas e calóricas
purament e espirit uais. Eles não as expressam mediant e quaisquer incorporações mat eriais;
soment e a consciência supra-sensível pode capt á-las. Cont udo, pode-se dizer que essas
ent idades possuem um ‘ corpo’ , embora percept ível apenas dent ro de seu element o
anímico — que éa manif est ação de seu ser at ual — como uma soma de r ecor dações
condensadas cont idas nele. Nest as se pode dist inguir ent re o que vivenciam agor a e o que
j á vivencíaram, e do que se lembram. Est e úl t imo cont eúdo é como al go corporal, e elas o
vivenciam t al qual o homem t errest re vivencia seu corpo.
Para um grau de percepção superior ao que acabamos de caract erizar como
necessário ao conheciment o da Lua e de Júpit er, t ornam-se percept íveis seres e coisas
supra-sensíveis apresent ando f ormas mais desenvolvidas do que j á exist ia durant e o est ado
solar, mas que at ualment e possui graus exist enciais elevados, a pont o de passar
desapercebidos a uma consciência avançada apenas at é à percepção das f ormas lunares.
Também a imagem desse mundo se divide novament e em duas, no caso de um
aprof undament o int erior. Uma delas conduz ao conheciment o do est ado solar passado, e a
out ra represent a uma f orma f ut ura da Terra, ou sej a, aquela em que a Terra se t erá
t ransf ormado quando t iverem af luído para as f ormações daquele mundo os ef eit os dos
processos t errest res ej upit erianos. O que assim se observa a respeit o desse mundo f ut uro
pode, no sent ido da Ciência Espirit ual, ser designado como est ado venusiano. De maneira
similar, a uma consciência supra-sensível ainda mais desenvolvida se apresent a um f ut uro
est ado evol ut ivo que se pode chamar de est ado vulcânico, rel acionado com o est ado
sat urnino do mesmo modo como o est ado venusiano com o sol ar e o j upit eriano com o
lunar. Assim, ao se considerar o passado, o present e e o f ut uro da evolução t errest re
pode-se f alar das evoluções de Sat urno, Sol, Lua, Terra, Júpit er, Vênus e Vulcão.
Assim como essas abrangent es circunst âncias da evolução t errest re, t ambém se
apresent am à consciência observações relat ivas a um f ut uro mais próximo. A cada imagem
do passado corresponde uma do f ut uro. No ent ant o, ao se f alar dessas coisas deve-se
insist ir em algo que é necessário considerar t ant o quant o possível . Ao querer conhecê-las,
deve-se abandonar por complet o a opinião de que a simpl es ref lexão f ilosóf ica aplicada à
realidade manif est a possa invest igar algo. Jamais essas coisas podem ou devem ser
invest igadas mediant e t al ref lexão. Quem, t endo recebido da Ciência Espirit ual
comunicações sobre est ado lunar, acredit asse que com esse t ipo de ref lexão poderia
prever o aspect o de Júpit er combinando as condições da Terra com as condições da Lua,
est aria ent regando-se a enormes ilusões. Essas condições só devem ser pesqui sadas na
medida em que a consciência supra-sensível se eleva à observação. Apenas ao ser co-
municado é que o aspect o pesquisado pode ser compreendido, mesmo sem a consciência
supra-sensível.
Frent e às comunicações sobre o f ut uro, o pesquisador espirit ual est á em sit uação
dif erent e daquela relat iva ao passado. A pr i ncípi o o homem não pode absolut ament e

162
def ront ar os acont eciment os f ut uros t ão imparcialment e quant o lhe é possível em relação
ao passado. O que ocorre no f ut uro mobil iza o sent ir e o querer humanos; o passado é
suport ado de modo muit o dif erent e. Quem observa a vida sabe que isso j á vale para a vida
cot idiana; mas at é que grau considerável isso se int ensif ica, que f ormas isso assume diant e
dos f at os ocult os da vida, são aspect os dos quais só t em conheciment o quem sabe cert as
coisas dos mundos supra-sensíveis. E com isso é dada a razão pela qual os conheciment os
sobre essas coisas est ão suj eit os a limit es bem det erminados.
Assim como a grande evolução cósmica pode ser apresent ada na seqüência de seus
est ados desde a época de Sat urno at é a de Vulcão, isso t ambém é possível para períodos
menores de t empo, como por exemplo os da evolução t errest re. Desde o f ormidável
cat aclismo que marcou o f im da ant iga civilização at lânt ica, sucederam-se na evolução da
humanidade os est ados que nest e livro denominamos como civilizações hindu ant iga,
prot opersa, egipt o-caldaica e greco-lat ina. O qui nt o período é est e em que se encont ra a
humanidade — é o pr esent e. Est e período se iniciou gradualment e durant e os séculos XII,
XIII e XIV d. C. , depois de t er sido preparado pelos séculos IV e V. Sua plena evidência se
manif est ou do século XV em diant e. O precedent e período greco-lat ino t eve seu início
aproximadament e no século VIII a. C. No f im de seu primeiro t erço t eve lugar o event o
críst ico.
A disposição anímica do homem, t odas as f aculdades humanas, t ransf ormaram-se ao
passar do período egipt o-caldaico para o período greco-l at ino. No primeiro ainda não
exist ia o que hoj e se conhece como ref lexão lógica, como concepção racional do mundo. O
que o homem assimil a agora como conheciment o, por meio do int elect o, ele recebia de
uma f orma apropriada para aquel a época: diret ament e, por uma int uição int erna e, em
cert o sent ido, supra-sensível. O homem percebia as coisas e, ao percebê-las, despont ava
na alma o conceit o, a imagem de que a alma necessit ava. Quando a f orça cognit iva é
dessa nat ureza, não apenas despont am imagens do mundo f ísico-sensível: das prof undezas
da alma ascende t ambém um cert o conheciment o de f at os e ent idades não-sensoriais.
Esse era o resíduo da ant iga e nebulosa consciência supra-sensível que out rora f ora
pat rimônio comum de t oda a humanidade. No período grego-lat ino nasceram cada vez
mais pessoas desprovidas dessas f aculdades. Em seu lugar surgiu a ref lexão int elect ual
sobre as coisas. Os homens f oram cada vez af ast ados de uma imediat a percepção onírica
do mundo anímico-espirit ual e, gradualment e, induzidos a f ormar uma imagem desse
mundo por meio de seu int elect o e seu sent iment o.
Esse est ado perdurou, em cert o sent ido, por t odo o quart o período pós-at lânt ico.
Soment e os homens que haviam conservado como herança a ant iga disposição anímica
podiam cont inuar a receber diret ament e o mundo espirit ual em sua consciência. Esses
homens, porém, eram remanescent es de uma época ant erior; a nat ureza de sua cogníção
j á não era adequada à nova época, pois as leis evolut ivas t inham por conseqüência que
uma f aculdade anímica ant iga perde seu pleno signif icado quando novas f aculdades
aparecem. A vida humana adapt a-se ent ão a essas novas f aculdades, nada mais podendo
f azer com as f aculdades ant igas.
Cont udo, havia t ambém seres humanos que começaram muit o conscient ement e a
desenvolver, ao lado das f aculdades int elect uais e af et ivas adquiridas, out ras f aculdades
superiores, que lhes t ornaram novament e possível penet rar no mundo anímico-espirit ual.
Para isso, deviam começar por proceder dif erent ement e dos discípulos dos ant igos
iniciados. Est es não precisavam levar em cont a as f aculdades anímicas desenvol vidas so-
ment e a part ir do quart o período. Foi nesse quart o período que despont aram os princípios
do t ipo de disciplina espirit ual que nest e livro f oi descrit a como sendo própria da
at ualidade. Naquele t empo, porém, ela est ava apenas nos primórdios, só podendo

163
experiment ar seu desenvolviment o propriament e dit o no quint o período (a part ir dos
séculos XII e XIII, mas sobret udo a part ir do século XV). Pessoas que procuravam, desse
modo, a el evação aos mundos supra-sensíveis podiam, por imaginação, inspiração e
int uição próprias, experiment ar algo dos domínios superiores da exist ência. Os homens
que permaneciam nas f aculdades int elect uais e sent iment ais só podiam int eirar-se do que
a ant iga clarividência sabia por int ermédio da t radição, que se t ransmit ia de geração em
geração t ant o sob f orma verbal quant o escrit a.
Também da verdadeira essência do event o críst ico a post eridade só pôde saber algo
por meio dessa t radição, quando não se elevava aos mundos supra-sensíveis. Sem dúvida
havia t ambém iniciados que ainda possuíam as f aculdades nat urais de percepção do mundo
supra-sensível e que, por sua evolução, elevavam-se a um mundo superior, embora
desconsiderassem as novas f aculdades int elect uais e af et ivas. Por seu int ermédio criou-se
uma t ransição da ant iga para a nova f orma de iniciação. Tais personalidades exist iram
t ambém nos períodos seguint es. O essencial do quart o período é j ust at ment e o f at o de,
pela exclusão da alma de um cont at o diret o com o mundo anímico-espirit ual, o homem t er
sido f ort alecido e revigorado em suas f aculdades int elect uais e emot ivas. As almas que,
nessa época, se encarnaram de modo a desenvolver em alt o grau essas novas f aculdades,
levaram depois o f rut o dessa evolução para suas encarnações no quint o período. Como
compensação para essa exclusão do mundo espirit ual, exist iam as grandiosas t radições da
sabedoria primordial — e especialment e do event o críst ico —, que pela f orça de seu
cont eúdo proporcionavam às almas um conheciment o f idedigno dos mundos superiores.
No ent ant o, t ambém sempre exist iram homens que, além das f aculdades int elect uais
e af et ivas, desenvolviam as f orças cognit ivas superiores. Cabia-lhes int eirar-se dos f at os
do mundo superior e part icularment e do mist ério do event o críst ico, por meio de um
conheciment o supra-sensível imediat o. Foi deles que f luiu para as almas dos out ros
homens t udo o que f osse compreensível e bom para elas.
A primeira dif usão do crist ianismo devia incidir, segundo o sent ido da evolução
t errest re, j ust ament e numa época em que as f orças cognit ivas não est avam desenvolvidas
em grande part e da humanidade. Por isso a f orça da t radição era t ão pot ent e naquela
época. Era necessária a mais vigorosa energia para conduzir a uma conf iança no mundo
supra-sensível os homens que não conseguiam perscrut ar esse mundo por si mesmos.
Quase sempre houve (com exceção de um curt o período no século XIII) t ambém homens
capazes de elevar-se aos mundos superiores pel a imaginação, inspiração e int uição. Esses
homens são os sucessores pós-crist ãos dos ant igos iniciados, dos guias e adept os da
sabedoria dos mist érios. Sua missão era reconhecer, por suas próprias f aculdades, aquilo
de que se havia podido t er conheciment o por meio da ant iga sabedoria dos mist érios; e a
isso ainda deviam acrescent ar o conheciment o da essência do event o críst ico.
Assim nasceu ent re esses novos iniciados um conheciment o abrangendo t udo o que
f ora obj et o da ant iga iniciação; mas no cent ro desse conheciment o resplandecia o saber
superior dos mist érios do event o críst íco. Soment e em mínima escala esse conheciment o
podia af luir para vida geral, enquant o nesse quart o período as almas humanas deviam
consolidar as f aculdades do int elect o e do sent iment o. Havia, port ant o, nessa época, uma
‘ sabedoria sumament e ocult a’ . Depois despont ou o novo período, a ser designado como o
quint o. Sua essência consist e na cont inuidade do desenvolviment o das f aculdades
int elect uais, vindo est as a f lorescer port ent osament e e prosseguir do present e para o
f ut uro. Isso se preparou lent ament e a part ir dos séculos XII e XIII, para acelerar-se cada
vez mais a part ir do século XVI at é o present e. Sob essas inf luências, a época evolut iva do
quint o período t ranscorreu de modo a ocupar-se cada vez mais do cult ivo das f orças
int elect uais, enquant o o saber f idedigno de out rora, o conheciment o t radicional, ia

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perdendo cada vez mais f orça sobre a alma humana.
Por out ro lado, t ambém se desenvolveu nessa época o que se pode considerar uma
af luência cada vez maior dos conheciment os da consciência supra-sensível moderna para
as almas humanas. Embora inicialment e de modo quase impercept ível, o ‘ saber ocult o’
f lui para a maneira de pensar dos homens desse período. É nat ural que at é o present e as
f orças do int elect o t enham uma at it ude de rej eição f rent e a esses conheciment os; só que
o que t iver de acont ecer acont ecerá de qual quer modo, apesar de t odas as rej eições
t emporárias. Segundo uma denominação simból ica, pode-se chamar o ‘ saber ocult o’ que a
humanidade assimil a por esse l ado — e que será assimil ado cada vez mais —de
conheciment o do ‘ Graal’ . Quem aprender a compreender esse símbolo em seu prof undo
signif icado, t al como é apresent ado de f orma narrat iva e lendária, descobrirá que
signif icat ivament e ele cont ém a essência do que acima denominamos conheciment o da
nova iniciação, t endo no cent ro o Mist ério do Crist o.
Os iniciados modernos podem, port ant o, ser chamados de iniciados do Graal’ . É à
‘ ciência do Graal’ que conduz o caminho para os mundos supra-sensíveis cuj as primeiras
et apas são descrit as nest e livro. Esse conheciment o t em a part icularidade de seus f at os só
poderem ser pesqui sados ao t erem sido adquiridos os meios para isso, t al como descrit os
nest e livro. Uma vez pesquisados, porém, eles podem ser compreendidos j ust ament e pelas
f aculdades anímicas desenvolvidas no quint o período. Aliás, f icará sempre mais claro que
essas f orças serão sat isf eit as em grau cada vez maior por esses conheciment os.
At ualment e nós vivemos numa época em que esses conheciment os devem ser mais
int ensament e acolhidos na consciência geral do que ant es. E est e livro desej a f azer suas
comunicações part indo desse pont o de vist a. Na medida em que a evolução da
humanidade se nut rir dos conheciment os do Graal, o impul so dado pel o event o críst ico se
t ornará cada vez mais signif icat ivo. Ao lado ext erior da evolução crist ã será cada vez mais
acrescent ado o i nt er i or . O que pode ser conhecido pela imaginação, int uição e inspiração
sobre os mundos superiores, em ligação com o mist ério críst ico, impregnará cada vez mais
a vida pensament al, emocional e volít iva do homem. O ‘ saber ocult o do Graal ’ se t ornará
manif est o, impregnando cada vez mais, como uma f orça int erna, as manif est ações
exist enciais dos homens.
No decorrer do quint o período, os conheciment os dos mundos supra-sensíveis af luirão
para consciência humana; e quando se iniciar o sext o período a humanidade poderá t er
recuperado, num nível superior, o que possuiu numa época ant erior mediant e um t ipo
ainda nebuloso de vidência não-sensorial. Cont udo, essa nova propriedade t erá uma f orma
muit o dif erent e da ant iga. O que out rora a al ma sabia dos mundos superiores não era,
nela, impregnado por sua própria capacidade int elect ual e sent iment al; ela o sabia como
dádiva inspirada. No f ut uro, ela não apenas t erá as inspirações: est as sim, el a
compreenderá, sent indo-as como a essência de seu próprio ser. Ao apropriar-se de um
conheciment o sobre est e ou aquele ser ou obj et o, por sua própria nat ureza o int elect o
achará esse conheciment o j ust if icado; quando out ro conheciment o sobre um preceit o
moral ou uma condut a humana se f izer valer, a alma dirá a si própria: “ Meu sent iment o só
se j ust if icará perant e si mesmo se eu t ambém realizar o que est iver de acordo com esse
conheciment o. ” Essa disposição anímica deverá desenvolver-se num número
suf icient ement e grande de pessoas do sext o período.
No quint o período repet e-se, de cert o modo, a cont ribuiçao do t erceiro período, o
egipt o-caldaico, para a evolução da humanidade. Naquel a época a alma ainda percebia
cert os f at os do mundo supra-sensível, mas essas f aculdades de percepção est avam
j ust ament e desaparecendo. É que as f aculdades int elect uais se preparavam para sua
evolução, e a princípio deveriam excluir o homem do mundo superior. No quint o período

165
manif est am-se novament e os f at os supra-sensíveis que no t erceiro período eram
cont emplados num est ado nebuloso de consciência, só que agora impregnadas pel as f orças
int elect uais e pessoalment e emot ivas dos homens. Elas t ambém são impregnadas por
aquilo que pode ser out orgado à alma humana pelo conheciment o do mist ério críst ico.
Com isso assumirão uma f orma t ot alment e diversa da ant erior. Enquant o nos t empos
ant igos as impressões dos mundos supra-sensíveis eram sent idas como f orças que
impulsionavam o homem a part ir de um mundo espirit ual ext erior, no qual ele não est ava
incluído, pela evolução da nova época essas impressões passam a ser sent idas como um
mundo para dent ro do qual o homem vai avançando, f irmando-se aí cada vez mais.
Ninguém deve acredit ar que a repet ição da cult ura egipt o-caldaica possa suceder de
modo que a alma simplesment e assimile o cont eúdo exist ent e naquela época, o qual f oi
t ransmit ido desde ent ão. O impulso críst ico bem compreendido at ua de modo que a alma
humana, após recebê-lo, sint a-se membro de um mundo espirit ual, passando a conhecer e
a agir como t al, ao passo que ant eriorment e est ava f ora del e.
Enquant o no quint o período o t erceiro ressurge, desse modo, para mesclar-se na
alma humana com o element o t ot alment e novo t razido pel o quart o período, algo
semelhant e ocorre no sext o relat ivament e ao segundo e no sét imo relat ivament e ao pri-
meiro, o hindu ant igo. Toda a maravilhosa sabedoria do hinduísmo ant igo, proclamada
pelos grandes inst rut ores da época, poderá exist ir novament e como verdade de vida das
almas humanas no sét imo período.
Ora, as t ransf ormações nas coisas t errest res ext eriores ao homem produzem-se de
maneira a guardar cert a relação com a própria evolução da humanidade. Transcorrido o
sét imo período, a Terra será at ingida por um cat aclismo comparável àquele ocorrido ent re
as épocas at lânt ica e pós-at lânt ica; e as post eriores condições t errest res t ransf ormadas se
desenvolverão, por sua vez, em out ros set e períodos. As almas humanas que ent ão se
encarnarem vivenciarão num nível mais elevado aquela comunhão com um mundo superior
experiment ada em nível inf erior pelos at lant es. Cont udo, só se most rarão apt os para as
condições t errest res ref ormuladas as pessoas que possuírem encarnadas em si almas
adequadament e desenvolvidas pelas inf luências do período greco-lat ino e dos seguint es —
o quint o, o sext o e o sét imo da evolução’ pós-at lânt ica. O int erior dessas almas
corresponderá ao result ado evolut ivo da Terra at é ent ão. As demais almas dever ão f icar
para t rás, enquant o ant eriorment e lhes t eria sido f acult ado criar, para si mesmas, as
condições para prosseguir j unt o. Est arão maduras para as circunst âncias seguint es ao
próximo grande cat aclismo aquel as que t iverem criado, j ust ament e na t ransição do quint o
para o sext o período pós-at lânt ico, a possibilidade de impregnar os conheciment os supra-
sensíveis com as f orças do int elect o e do sent iment o. O quint o e o sext o períodos serão,
de cert o modo, os decisivos. No sét imo, as almas que houverem al cançado a met a no
sext o período cont inuarão a desenvolver-se adequadament e; as demais, porém, en-
cont rarão muit o poucas oport unidades de recuperar o perdido sob as novas condições do
meio ambient e. Só num f ut uro ult erior ressurgirão condições que permit am isso.
Assim progríde evolução de período em período. O conheciment o supr a-sensível
observa não apenas as mudanças f ut uras das quais part icipará apenas a Terra, mas
t ambém aquelas que se desenrolam em cooperação com os corpos celest es ao seu redor.
Chegará uma época em que a evolução da Terra e da humanidade t erá progredido a pont o
de poderem unir-se novament e à Terra as f orças e ent idades separadas dest a durant e a
época lemúrica, a f im de possibilit ar o progresso dos seres t errest res. Ent ão a Lua se ligará
de novo à Terra. Isso acont ecerá porque um número suf icient e de almas humanas possuirá
a f orça int erior necessária para t ornar essas f orças lunares f rut íf eras para a evolução
subseqüent e. Será numa época em que, ao l ado da evolução superior alcançada por um

166
número adequado de al mas humanas, ocorrerá uma out ra que t erá t omado a direção do
mal. As al mas ret ardat árias t erão acumulado em seu carma t ant o erro, f ealdade e
maldade que logo f ormarão uma al iança específ ica dos maus e ext raviados, renhidament e
host il à comunidade dos seres humanos benignos.
Graças à sua evolução, a humanidade benigna dominará a ut ilização das f orças
lunares, podendo t ambém t ransf ormar a porção maligna de maneira a possibilit ar-lhe
acompanhar, como um reino t errest re especial, a evolução post erior. Graças a esse
t rabalho da humanidade benigna, após cert o período evolut ivo a Terra unida à Lua f icará
apt a a t ornar-se novament e una com o Sol (e t ambém com os demais planet as). E depois
de um int ervalo, que se apresent ará como um est ágio num mundo superior, a Terra
passará ao est ado de Júpit er. Nesse est ado não exist irá o que hoj e se denomina reino
mineral ; as f orças desse reino mineral se t erão t ransf ormado em f orças veget ais. O reino
veget al, cuj a f orma será complet ament e nova em relação à at ual, aparece no est ado
j upit eriano como o mais inf erior dos remos. Acima del e acrescent a-se o reino animal,
t ambém t ransf ormado; depois vem um reino humano apresent ando-se como descendent e
da comunidade maligna surgida na Terra, e a seguir os descendent es da comunidade
humana t errest re benigna, como um reino humano num est ágio superior. Uma grande
part e do t rabalho dest e últ imo reino humano consist e em enobrecer de t al f orma as almas
caídas na humanidade perversa que est as ainda possam encont rar o acesso ao reino
humano propriament e dit o.
O est ado de Vênus será de nat ureza t al que t ambém o reino veget al t erá
desaparecido; o reino mais inf erior será o reino animal, out ra vez t ransf ormado; acima
dest e se encont rarão t rês remos humanos com diversos graus de perf eição. Durant e esse
est ado de Vênus, a Terra cont inuará unida ao Sol; em cont rapart ida, durant e o est ado
j upit eriano a evolução chegará a um moment o em que o Sol t ornará a separar-se de
Júpit er e est e receberá a inf luência solar a part ir de f ora. Mais t arde ocorrerá novament e
uma ligação ent re o Sol e Júpit er, e a t ransf ormação evoluirá paulat inament e para o
est ado de Vênus. No decorrer dest e se desprenderá de Vênus um corpo celest e especial
cont endo t odos os seres host is à evolução, qual uma ‘ Lua incorrigível’ caminhando ao
encont ro de uma evolução com um carát er impossível de expressar, por ser ext remament e
diverso de t udo o que o homem pode vivenciar na Terra. A humanidade evoluída, porém,
cont inuará a progredir numa exist ência complet ament e espirit ualizada at é a evolução de
Vulcão, cuj a descrição exorbit a dos limit es dest e livro.
Vê-se, pois, que do ‘ conheciment o do Graal’ result a o mais alt o ideal imaginável para
a evolução humana: a espirit ual ização que o homem alcança por seu próprio t rabalho.
Ora, essa espirit ualização aparece, em últ ima inst ância, como result ado da harmonia que,
no quint o e no sext o períodos da evolução at ual, o homem est abelece ent re as adquiridas
f orças do int elect o e do sent iment o e os conheciment os dos mundos supra-sensíveis. O que
ele elabora no int erior da alma deverá t ornar-se, por si, mundo ext erior. O espírit o do
homem se eleva às grandiosas impressões de seu mundo ext erior, primeirament e
pressent indo e depois conhecendo ent idades espirit uais por det rás dessas impressões; o
coração do homem sent e a inf init a sublimidade desse plano espirit ual. Mas o homem
t ambém pode reconhecer que as vivências do int elect o, do sent iment o e do carát er em
seu int erior são germes de um mundo espirit ual vindouro.
Quem supõe que a liberdade humana é incompat ível com o prévio conheciment o e
det erminação da f ut ura conf iguração das coisas, deveria ponderar o seguint e: a l ivre
at uação do homem no f ut uro depende t ão pouco do modo como as ref eridas coisas serão
predet erminadas quant o essa liberdade depende de sua decisão de morar, dent ro de um
ano, numa casa cuj a pl ant a ele el abora agora. Ele será livre — na medida em que possa sê-

167
lo de acordo com sua nat ureza int erior — j ust ament e na casa que const ruiu para si; e será
livre em Júpit er e Vênus na medida de sua liberdade int erior, j ust ament e dent r o das
condições que lá surgirão. A liberdade não dependerá do que f oi predet erminado por cir-
cunst âncias ant eriores, e sim do que a alma t iver f eit o de si mesma.
No est ado t errest re est á cont ido o que se desenvolveu dos ant eriores est ados
sat urnino, solar e lunar. O homem t errest re encont ra ‘ sabedoria’ nos processos que se
desenvolvem ao seu redor. Essa sabedoria est á aí inerent e como result ado do que acon-
t eceu ant es. A Terra é a descendent e da ‘ ant iga Lua’ , a qual, com t udo o que lhe
pert encia, f ormou um ‘ cosmo da sabedoria’ . A Terra é agora o início de uma evolução pel a
qual se adiciona uma nova f orça a essa sabedoria. Ela leva o homem a sent ir-se membro
independent e de um mundo espirit ual. Ist o decorre do f at o de seu eu t er sido modelado
pelos Espírit os da Forma, no âmbit o da época t errest re, do mesmo modo como seu corpo
f ísico o f oi pelos Espírit os da Vont ade, em Sat urno, seu corpo et érico pelos Espírit os da
Sabedoria, no Sol , e seu corpo ast ral pelos Espírit os do Moviment o, na Lua.
É da colaboração ent re os Espírit os da Vont ade, da Sabedoria e do Moviment o que
surge o element o manif est o como sabedoria. Na sabedoria os seres e os processos
t errest res podem sint onizar com os demais seres de seu múndo graças ao t rabalho dessas
t rês classes de espírit os. Por int ermédio dos Espírit os da Forma, o homem recebe seu eu
aut ônomo. No f ut uro est e se harmonizará com os seres da Terra, de Júpit er, de Vênus e
de Vulcão, graças à f orça que se incorpora à sabedoria mediant e a evolução t errest re.
Trat a-se da f orça do amor . É no homem da Terra que essa f orça do amor deve iniciar-se; e
o ‘ cosmo da sabedoria’ est á evoluindo para um cosmo do amor .
De t udo o que o eu é capaz de desenvolver em si mesmo, deve nascer amor. O
grande ‘ exemplo do amor’ e manif est ado pelo elevado Ser Solar caract erizado ao
abordarmos a evolução do Crist o. No mais prof undo cerne da nat ureza humana f oi, com
essa evolução, semeado o germe do amor; e é daí que o amor deve f luir para dent ro de
t oda a evol ução. Assim como a sabedoria previament e f ormada se manif est a nas f orças do
mundo ext erior t errest re, nas ‘ f orças nat urais’ do present e, no f ut uro o próprio amor se
revelará em t odos os f enômenos como uma nova f orça nat ural. Eis o mist ério de t oda a
evolução f ut ura: o conheciment o, e t ambém t udo o que o homem realiza a part ir da
verdadeira compreensão da evolução, é uma semeadur a que deve amadurecer como amor .
E quant o mais f orça de amor surgir, t ant o mais impulso criador será providenciado para o
f ut uro. Naquilo que nascerá do amor residirão as int ensas energias que conduzem ao
result ado f inal da espirit ualização, descrit o acima. E quant o mais conheciment os
espirit uais af luírem para a evolução humana e t errest re, t ant o mais exist irão germes vit ais
para o f ut uro. O conheciment o espirit ual , por sua pr ópr i a nat ur eza, se t ransf orma em
amor.
Todo o processo descrit o, do período greco-lat ino at é a época at ual, most ra-nos
como deve ocorrer essa t ransf ormação e por que o i níci o da evolução se deu em direção
ao f ut uro. O que se preparou como sabedoria at ravés das evoluções sat urnina, sol ar e
lunar at ua nos corpos f ísico, et érico e ast ral do homem, manif est ando-se como ‘ sabedoria
do mundo’ ; no eu, porém, ela se int erioriza. A part ir do est ado t errest re, a ‘ sabedoria do
mundo ext erior’ convert e—se em sabedoria int erior no homem e, uma vez aí int eriorizado,
convert e-se em germe do amor . A sabedoria é a precondição do amor; o amor é o
result ado da sabedoria renascida no eu.
Quem f osse induzido, pelas explicações precedent es, à opinião de que a evolução
descrit a t raz um cunho f at alist a, t ê-la-ia compreendido mal. Quem, por exemplo,
acredit asse que nessa evolução um det erminado número de pessoas est aria condenado a
pert encer ao reino da ‘ humanidade má’ não veria como, nessa evolução, se desenvolve a

168
int er-relação ent re o mundo sensível e o mundo anímico-espirit ual. Ambos, o mundo
sensível e o anímico-espirit ual, f ormam, dent ro de cert os limit es, corrent es evolut ivas
separadas. É pelas f orças próprias da corrent e sensorial que surgem as f ormas da
‘ humanidade maligna’ . Uma necessidade, para a alma humana, de encarnar-se em t al
f orma só exist irá quando ela própria t iver criado as condições para isso. Também poderia
ocorrer que as f ormas surgidas das f orças do plano sensorial não encont rassem almas
humanas procedent es da época ant erior, por serem elas boas demais para corpos dessa
espécie. Ent ão essas f ormas deveriam ser animadas, a part ir do Cosmo, por algo dif erent e
de almas humanas ant eriores. As f ormas cit adas só serão animadas por almas humanas que
se t enham preparado para t al encarnação. Nesse domínio, o conheciment o supra-sensível
t em de dizer j ust ament e o que vê — ou sej a, que no mencionado f ut uro exist irão dois
remos humanos — um benigno e um maligno —; mas não deve deduzi r int elect ualment e,
do est ado das almas humanas at uais, um est ado f ut uro a ser produzido como que por
necessidade nat ural. O conheciment o suprasensível deve buscar a evolução das f ormas
humanas e a evolução do dest ino das almas por dois caminhos bem dist int os; e uma
conf usão ent re ambos, na cosmo visão, seria um remanescent e da concepção mat erialist a,
cuj a exist ência se cravaria de maneira preocupant e na ciência do supra-sensível.

Part icularidades do âmbit o da Ciência Espirit ual

O corpo et érico do homem

Quando membros superiores do homem são observados por meio da percepção supra-
sensível, essa percepção nunca é perf eit ament e igual a uma percepção por meio dos
sent idos ext eriores. Se o homem t oca um obj et o e t em uma sensação de cal or, cumpre
dist inguir ent re o que provém do obj et o, como que emanando dele, e o que se
experiment a na alma. A experiência anímica int erior da sensação calórica é algo dif erent e
do calor irradiado pelo obj et o. Imagine-se essa vivência anímica sozinha, sem o obj et o
ext erior. Imagine-se a vivência — mas j ust ament e anímica — de uma sensação cal órica na
alma, sem que um obj et o f ísico ext erior f osse mot ivo para isso. Se t al vivência ocorresse
simplesment e sem um mot ivo, t rat ar-se-ia de uma alucinação. O discípulo espirit ual
experiment a t ais percepções int eriores sem mot ivo f ísico, principalment e sem um mot ivo
procedent e de seu próprio corpo. Mas em cert o nível da evolução elas se apresent am de
modo que ele possa saber (conf orme j á f oi most rado, pode saber pela própria experiência)
que a percepção int erior não é uma alucinação, sendo mot ivada por uma ent idade
anímico-espirit ual de um mundo ext erior supra-sensível do mesmo modo como a sensação
calórica comum é mot ivada por um obj et o ext erior f ísico-sensível.
Assim ocorre t ambém ao se f alar de percepções cromát icas. Nesse caso, deve-se
dist inguir ent re a cor que est á no obj et o ext erior e a sensação int erior da cor na alma.
Tenhamos present e a sensação int erior que a alma experiment a ao perceber um obj et o
vermelho do mundo ext erior f ísico-sensível. Imaginemos conservar uma lembrança vívida
dessa impressão, mas af ast ando a vist a do obj et o. Tenhamos present e, como vivência
int erior, o que ainda t emos de represent ação ment al recordat iva da cor. Ent ão
dist inguiremos ent re a vivência int erior da cor e a cor ext erior. Essas vivências int eriores
dif erem, em seu cont eúdo, radicalment e das impressões sensorlais ext eriores. Elas t razem
muit o mais o cunho daquilo que é sent ido como dor e alegria do que a sensação sensorial
comum.

169
Imaginemos agora uma vivência int erior como essa, ascendendo na alma sem ser
mot ivada por um obj et o f ísico-sensível ou sua lembrança. A pessoa que possui o
conheciment o supra-sensível pode t er uma experiência assim, podendo, nesse caso, saber
que não se t rat a de uma al ucinação, e sim da expressão de uma ent idade anímico-
espirit ual . Ora, se essa ent idade anímico-espirit ual provoca a mesma impressão que um
obj et o vermelho do mundo f ísico-sensorial, pode ser chamada de vermelha. No caso de um
obj et o f ísico-sensível, em primeiro lugar ocorrerá a impressão ext erior, e só depois a
vivência cromát ica int erior; na verdadeira cont emplação supra-sensível do homem de
nossa época, isso deve ser invert ido: primeiro a vivência int erior, nebulosa como uma
simples recordação cromát ica, e em seguida uma imagem t ornando-se cada vez mais viva.
Quant o menos se at ent ar ao f at o de que o processo deve ocorrer assim, t ant o menos
se poderá dist inguir ent re uma percepção espirit ual verdadeira e uma f ant asia imaginária
(ilusão, alucinação, et c. ). O grau de int ensidade alcançado pela imagem, numa percepção
anímico-espirit ual como essa — sej a permanecendo int eirament e sombria como uma
represent ação ment al nebulosa, sej a produzindo um ef eit o int enso como um obj et o ext e-
rior —, depende int eirament e de como o prat icant e do conheciment o supra-sensível se
desenvolveu.
A impressão geral que o vident e t em do corpo et érico humano pode ser descrit a da
seguint e maneira: t endo um pesquísador do supra-sensível desenvolvido uma f orça de
vont ade t al que, f rent e a um ser humano f ísico, consiga abst rair do que o olho f ísico vê,
ele será capaz, por meio da consciência supra-sensível, de adent rar com o ol har o espaço
ocupado pelo homem f ísico. Evident ement e isso implica numa grande int ensif icação da
vont ade, não só para abst rair do que se pensa como t ambém de um obj et o post ado à
f rent e, de modo que a impressão f ísica sej a t ot alment e dissolvida. Porém essa
int ensif icação é possível, vindo a ocorrer por meio dos exercícios para o conheciment o
suprasensível. Quem prat ica o conheciment o desse modo pode t er, logo de início, a
impressão geral do corpo et érico. Em sua alma despont a a mesma sensação int erior que
ele t em ao ver uma cor como a da f lor do pessegueiro; e essa sensação se t orna vívida a
pont o de el e poder af irmar: o corpo et érico t em a cor da f lor do pessegueíro. Ent ão el e
percebe t ambém cada um dos órgãos e corrent es do corpo et érico.
Mas t ambém se pode prosseguir na descrição do corpo et érico, f ornecendo as
vivências da alma correspondent es a sensações calóricas, impressões sonoras, et c. , pois
ele não é si mpl esment e algo como um f enômeno cromát ico. No mesmo sent ido, t ambém
podem ser descrit os o corpo ast ral e os demais membros da ent idade humana. Quem levar
isso em consideração compreenderá como devem ser recebidas as descrições f eit as no
sent ido da Ciência Espirit ual.

O mundo ast ral

Enquant o se observa apenas o mundo f ísico, a Terra, enquant o hábit at do homem,


apresent a-se como um corpo cósmico separado. Quando, porém, a cognição supra-sensível
se eleva a out ros mundos, essa separação deixa de exist ir. Por isso f oi dit o que a
imaginação, ao mesmo t empo em que percebe a Terra, percebe o est ado lunar
desenvolvido at é o present e. O mundo onde se penet ra dessa maneira é de nat ureza t al
que a ele não pert ence apenas o element o supra-sensível da Terra; aí t ambém est ão
incluídos out ros corpos cósmicos, que f isicament e est ão separados do nosso planet a. O
conhecedor dos mundos supra-sensíveis observa ent ão não apenas o supra-sensível da
Terra, mas a pr i ncípi o t ambém o supra-sensível de out ros corpos cósmicos. (O f at o de se
t rat ar inicialment e de uma observação do aspect o supr a-sensível de out ros corpos

170
cósmicos deveria ser at ent ado por quem se sent isse compelido a pergunt ar por que,
ent ão, os clarivident es não comunicam como é o aspect o de Mart e, et c. Quem f ormula
essa quest ão t em em vist a, nesse caso, as circunst âncias f ísico-sensíveis. ) Por isso t ambém
se f alou, na present e exposição, sobre cert as relações ent re a evolução t errest re e
evoluções simult âneas de Sat urno, Júpít er, Mart e, et c.
Quando o corpo ast ral do homem é ret irado pel o o sono, f ica pert encendo não apenas
às condições t errenas, mas a mundos dos quais part icipam out ros domínios cósmicos
(mundos siderais). Aliás, t ambém no est ado de vigília esses mundos at uam no corpo ast ral
do homem. Por isso o nome ‘ corpo ast ral’ pode parecer j ust if icado.

Da vida do homem após a mort e

Nas explicações dest e livro, f alou-se do t empo durant e o qual, após a mort e do
homem, o corpo ast ral ainda permanece unido ao corpo et érico. Durant e esse t empo ainda
exist e uma lembrança — que pouco a pouco se empalidece — de t oda a recent e vida
passada. Esse espaço de t empo dif ere de pessoa para pessoa e depende da int ensidade da
f orça com que o corpo ast ral ret ém consigo o corpo et érico — do poder que o primeiro
exerce sobre o segundo. O conheciment o supra-sensível pode t er uma impressão desse
poder ao observar uma pessoa que, segundo sua disposição anímico-corporal , deveria est ar
adormecida mas se mant ém despert a graças à energia int erior. Ent ão f ica evident e que as
pessoas se mant êm despert as, sem sucumbir ao sono, durant e períodos dif erent es de uma
para out ra. Aproximadament e o mesmo t empo em que uma pessoa é capaz de mant er-se
despert a em caso de ext rema necessidade é o que dura, após a mort e, a recordação da
vida passada recent e, ou sej a, a união com o corpo et érico.

*
Quando o corpo et érico se separa do homem depois da mort e (vide ‘ Sono e mort e’ ),
ainda rest a dele, para t oda a evolução f ut ura do homem, algo que podemos designar como
um ext rat o ou essência do mesmo. Esse ext rat o cont ém os f rut os da vida passada, sendo o
port ador de t udo o que, durant e a evolução espirit ual do homem ent re a mort e e um novo
nasciment o, desabrocha como um germe para a vida seguint e.

A duração do t empo ent re a mort e e um novo nasciment o é det erminada pelo f at o


de, via de regra, o eu so ret ornar ao mundo f ísico-sensível quando, no ent ret empo, est e se
t ransf ormou para que algo novo possa ser vivenciado por esse eu. Enquant o est e se
encont ra nos domínios espirit uais, o hábit at t errest re se alt era. Por um lado, essa
alt eração se relaciona com as grandes mudanças no Universo — com mudanças na posição
da Terra em relação ao Sol , et c. Trat a-se, porém, de mudanças nas quais ocorrem cert as
repet ições em conexão com novas circunst âncias. Elas encont ram sua expressão ext erior,
por exemplo, no f at o de o pont o da abóbada celest e onde nasce o Sol no equinócio da
primavera descrever um círculo complet o em aproximadament e 26 mil anos. Essa posição
primaveril move-se, port ant o, no decorrer desse t empo, de uma para out ra região celest e.
No decurso da duodécima part e desse período, ist o é, em cerca de 2. 100 anos, as
condições t errest res t ransf ormaram-se o suf icient e para que a alma humana, depois de
uma encarnação ant erior, possa vivenciar al go novo na Terra. Como, no ent ant o, as
vivências do ser humano são dif erent es conf or me se t rat e de uma encarnação masculina
ou f eminina, vi a de r egr a acont ecem duas encarnações dent ro do período caract erizado:

171
uma como homem, out ra como mulher. Cont udo, essas coisas t ambém dependem das
f orças que a pessoa leva consigo da exist ência t errena ao at ravessar a mort e.
Port ant o, t odas essas indicações dadas aqui só devem ser consideradas válidas quant o
ao essencial, modif icando-se dos mais diversos modos nos pormenores. Só num aspect o a
ext ensão de t empo que o eu permanece no mundo espirit ual, no período ent re a mort e e
um novo nasciment o, depende das mencionadas condições no Universo. Sob out ro aspect o,
esse t empo depende dos est ados evolut ivos percorridos pelo homem nesse int ervalo. De-
pois de cert o período, esses est ados conduzem o eu a uma condição espirit ual que j á não
encont ra sat isf ação em sua vivência espirit ual int erior, desenvolvendo o anseio por uma
t ransf ormação de consciência que se sat isf aça no aut o-espelhament o por meio da vivência
f ísica. Da conj ugação dessa sede [ sêde] int erior por encarnação e a possibilidade,
of erecida no Cosmo, de encont rar a corporalidade adequada, é que sucede a ent rada do
homem na exist ência t errena. Pelo f at o deverem co-at uar dois element os, uma vez ela
acont ece — mesmo que a ‘ sede’ ainda não t enha at ingido t oda a sua int ensidade — pela
possibilidade de se alcançar uma encarnação aproximadament e adequada; e out ra vez —
mesmo t endo a ‘ sede’ ult rapassado sua int ensidade normal —porque na época propíuia não
havia ainda a possibilidade da encarnação. A condição geral de vida em que uma pessoa se
encont ra pelas caract eríst icas de sua nat ureza corporal est á relacionada com essas
circunst âncias.

O curso da vida humana

A vida do homem, t al como se manif est a na sucessão dos est ados ent re o nasciment o
e a mort e, só pode ser t ot alment e compreendida quando se considera não apenas o corpo
f ísico-sensível, mas t ambém as t ransf ormações que se realizam nos membros supra-
sensíveis da nat ureza humana. Essas t ransf ormações podem ser consideradas da seguint e
maneira:
O nasciment o f ísico represent a uma separação ent re o ser humano e o envolt ório
f ísico mat erno. As f orças que o embrião humano t inha em comum com o corpo mat erno
ant es do nasciment o ainda est ão present es nele, após o nasciment o, apenas como f orças
aut ônomas. Ora, na vida post erior se produzem, para a percepção supra-sensível,
acont eciment os supra-sensíveis semelhant es por ocasião do nasciment o f ísico. Na verdade,
aproximadament e at é a segunda dent ição (aos seis ou set e anos) o corpo et érico do
homem est á recobert o por um envolt ório et éríco, que é despoj ado nesse moment o da
vida. Ocorre ent ão um ‘ nasciment o’ do corpo et érico. Porém o homem cont inua recobert o
por um envolt ório ast ral, que é despoj ado na época dos doze aos dezesseis anos (na época
da puberdade). Ent ão ocorre o ‘ nasciment o’ do corpo ast ral. Mais t arde ainda nasce o eu
propriament e dit o. (Os pont os de vist a f rut íf eros para a educação, resul t ant es desses f at os
supra-sensíveis, est ão expost os em meu pequeno t ext o A educação da cr i ança segundo a
Ci ênci a Espi r i t ual . 52 Nele se encont ram mais explicações sobre o que aqui só cabe ser
ref erido. )
Depois do nasciment o do eu, o homem vive de modo a int egrar-se nas circunst âncias
do mundo e da vida, at uando nelas de acordo com os membros at ivados pelo eu: a alma da
sensação, a alma do int elect o e a alma da consciência. Chega ent ão uma época em que o
corpo et érico involui novament e, perf azendo o processo f ormat ivo cont rário àquel e de seu
desabrochar a part ir dos set e anos. Enquant o ant eriorment e o corpo ast ral se desenvolveu
f azendo primeirament e desabrochar algo que exist ia nele como germe por ocasião do

52
Ed. bras. em t rad. de Rudolf Lanz (3. ed. São Paulo: Ant roposóf ica, 1996). (N. E. )

172
nasciment o, e depois do nasciment o do eu se enriqueceu pelas experiências do mundo
ext erior, a part ir de cert o moment o ele começa a aliment ar-se espirit ualment e do próprio
corpo et érico — passa a consumir seu corpo et érico. E, no decorrer post erior da vida, o
corpo et érico t ambém começa a nut rir-se do corpo f ísico. É com esse f at o que se relaciona
a decadência do corpo f ísico na velhice.
Assim, o curso da vida humana divide-se em t rês part es: uma época em que
desabrocham o corpo f ísico e o corpo et érico, uma out ra em que vêm a desenvolver-se o
corpo ast ral e o eu e, por f im, aquela em que o corpo et érico e o corpo f ísico regridem
novament e. Ora, o corpo ast ral part icipa de t odos os processos ent re o nasciment o e a
mort e; mas pelo f at o de na verdade vir a nascer espirit ualment e apenas dos doze aos
dezesseis anos, e na últ ima época da vida dever nut rir-se das f orças dos corpos et érico e
f ísico, aquilo de que ele é capaz por suas próprias f orças é desenvolvido mais lent ament e
do que se ele não est ivesse num corpo f ísico e et érico. Depois da mort e, uma vez
desint egrados os corpos f ísico e et érico, o desenvolviment o ent ra no período de
purif icação (vide ‘ Sono e mort e’ ), que deve durar um t erço da vida ent re o nasciment o e a
mort e.

As regiões superiores do mundo espirit ual

Por meio da imaginação, da inspiração e da int uição, o conheciment o supra-sensível


eleva-se progressívament e às regiões do mundo espirit ual onde lhe são acessíveis os seres
que part icipam da evolução do mundo e da humanidade. Com isso lhe é possibilit ado
acompanhar a evolução do homem ent re a mort e e um novo nasciment o de maneira
compreensível. Ora, exist em ainda regiões mais elevadas da exist ência, às quais aqui só se
pode aludir sumariament e.
Tendo-se el evado at é à int uição, o conheciment o supra-sensível vive num mundo de
seres espirit uais. Também est es passam por evoluções. O que é concernent e à humanidade
at ual est ende-se, de cert o modo, at é o mundo da int uição. Cert ament e o homem t ambém
recebe inf luências de mundos ainda mais elevados, no decorrer de sua evolução ent re a
mort e e um novo nasciment o; porém não recebe essa inf luência diret ament e: os seres do
mundo espirit ual as conduzem at é ele. Se esses seres f orem considerados, é assim que
surge t udo o que ocorre ao homem. No ent ant o, as caract eríst icas próprias desses seres,
aquilo de que eles necessit am para si próprios a f im de conduzir a evolução humana, t udo
isso só pode ser observado por meio de um conheciment o que ult rapassa a int uição. Daí a
ref erência a mundos a serem imaginados de maneira t al que as quest ões espirit uais mais
elevadas aqui na Terra pert encem, lá, às mais inf eriores. Decisões da razão, por exemplo,
pert encem ao nível mais elevado no domínio t errest re, e as f orças do reino mineral ao
nível mais baixo. Nas regiões superiores, as decisões da razão ocupam mais ou menos o
mesmo nível que os ef eit os minerais na Terra. Acima do domínio da int uição sit ua-se a
região em que o pl ano cósmico é el aborado a part ir de causas espirit uais.

Os membros da ent idade humana

Ao ser dit o que o eu t rabalha nos membros da ent idade humana — nos corpos f ísico,
et érico e ast ral — t ransf ormando-os, em ordem inversa, em ‘ personalidade espirit ual’ ,
‘ espírit o vit al’ e ‘ homem-espírit o’ , isso se ref ere ao t rabalho do eu na ent idade humana
por meio das f aculdades mais elevadas, cuj o desenvolviment o só se iniciou no decurso dos
est ados t errest res. Cont udo essa t ransf ormação f oi precedida por out ra, num nível

173
inf erior, a qual deu origem às al mas da sensação, do int elect o e da consciência; pois
enquant o no decorrer da evolução do homem se f orma a alma da sensação, ocorrendo
t ransf ormações no corpo ast ral , a f ormação da alma do int elect o se expressa em modif ica-
ções do corpo et érico e a da alma da consciência em modif icações do corpo f ísico. Ao
discorrermos sobre a evolução t errest re, nest e livro, demos os det alhes a respeit o.
Port ant o, em cert o sent ido pode-se dizer que j á a alma da sensação se baseia num corpo
ast ral t ransf ormado; a alma do int elect o, num corpo et érico t ransf ormado; a alma da
consciência, num corpo f ísico t ransf ormado. Mas t ambém se pode dizer que esses t rês
membros anímicos são part es do corpo ast ral, pois a alma da consciência, por exemplo, só
é possível por ser uma ent idade ast ral num corpo f ísico adequado. Ela vive uma vida ast ral
num corpo f ísico adapt ado para servir-lhe de moradia.

O est ado onírico

O est ado onírico f oi, em cert o sent ido, caract erizado no capít ulo ‘ Sono e mort e’ . Ele
deve ser concebido, por um lado, como um remanescent e da ant iga consciência
imagét ica, própria do homem durant e a evolução lunar e ainda durant e grande part e da
evolução t errest re. De f at o, a evolução caminha de um modo que est ados ant eriores
int erf erem nos post eriores. Assim, nos sonhos do homem at ual vem à t ona, como um
resíduo, o que ant es era um est ado normal . Ao mesmo t empo, por out ro lado esse est ado
dif ere da ant iga consciência imagét ica, pois desde o desenvolviment o do eu est e t ambém
int erf ere nos processos do corpo ast ral que se desenvolvem no sono durant e o sonho.
Assim, no sonho se manif est a uma consciência imagét ica modif icada pela presença do eu.
No ent ant o, como o eu não exerce conscient ement e sua at ividade sobre o corpo ast ral,
durant e os sonhos nada do que pert ence ao âmbit o da vida onírica pode ser incluído no
que, em verdade, pode conduzir a um conheciment o dos mundos supra-sensíveis no
sent ido da Ciência Espirit ual. O mesmo vale para o que se designa muit as vezes como
visão, pressent iment o ou ‘ segunda visão’ (deut eroscopia). Esses f enômenos são produzidos
pelo f at o de o eu se excluir, surgindo assim resíduos de ant igos est ados de consciência. Na
Ciência Espirit ual eles não t êm qualquer ut ilidade imediat a, e o que é observado desse
modo não pode ser considerado, no verdadeiro sent ido, result ado dela.

Da aquisição de conheciment os supra-sensíveis

O caminho para a aquisição de conheciment os dos mundos supra-sensíveis,


det alhadament e descrit o nest e livro, pode denominar-se t ambém ‘ caminho cognit ivo
diret o’ . A seu lado exist e out ro, que se pode designar como ‘ caminho do sent iment o’ .
Cont udo, seria t ot alment e incorret o acredit ar que o primeiro nada t ivesse a ver com o
cult ivo do sent iment o; ele conduz, muit o mais, ao máximo aprof undament o da vida
af et iva. Cont udo, o ‘ caminho do sent iment o’ dirige-se di r et ament e ao sent iment o
simples, procurando ascender aos conheciment os a part ir dele; consist e no f at o de um
sent iment o, quando a alma se ent rega a el e durant e cert o t empo, t ransf ormar-se num
conheciment o, numa visão imaginat iva. Quando, por exempl o, durant e semanas, meses ou
períodos ainda maiores a alma se preenche t ot alment e com o sent iment o da humildade, o
cont eúdo do sent iment o se t ransf orma numa visão. Ora, percorrendo gradualment e t ais
sent iment os, pode-se encont rar um caminho para as regiões supra-sensíveis. Cont udo,
para o homem at ual, dent ro das condições normais de vida, esse caminho não’ é f ácil;
isolament o, ret ração da vida cont emporânea é, nesse caso, quase indispensável — pois o

174
que a vida cot idiana of erece em t ermos de impressões pert urba, principalment e no início,
o desenvolviment o do que a alma alcança ao aprof undar-se em det erminados sent iment os.
Por out ro lado, o caminho cognit ivo descrit o nest e livro pode ser seguido em qualquer
sit uação at ual de vida.

Observação de cert os f at os e seres do mundo espirit ual

Pode-se quest ionar se o aprof undament o int erior e os out ros meios descrít os para a
aquisição de conheciment os supra-sensíveis permit em apenas de um modo ger al a
observação do homem ent re a mort e e um novo nasciment o ou de out ros processos
espirit uais, ou se t ambém possibilit am observar processos e seres individuais bem
det erminados — por exemplo, alguém que j á t enha morrido. A isso se pode responder o
seguint e:
Quem adquire, pelos meios descrit os, a f aculdade de observar o mundo espirit ual,
pode t ambém chegar a observar det alhes que aí ocorrem; t orna-se, port ant o, apt o a
ent rar em cont at o com pessoas que est ej am vivendo no mundo espirit ual ent re a mort e e
um novo nasciment o. Cumpre, porém, considerar que no sent ido da Ciência Espirit ual isso
só deve ocorrer depois de se t er percorrido uma disciplina met ódica visando ao
conheciment o espirit ual — pois só ent ão se pode dist inguir ent re ilusão e realidade no que
concerne a acont eciment os e ent idades part iculares. Quem quiser observar det alhes
part iculares, mas sem disciplina adequada, será vít ima de muit as ilusões. Mesmo o mais
element ar — a compreensão do modo como as impressões de f at os específ i cos do mundo
supra-sensível devem ser int erpret ados — não é possível sem uma disciplina espirit ual
avançada.
A disciplina que, nos mundos superiores, conduz à observação do que é descrit o nest e
livro leva t ambém a acompanhar a vida de uma pessoa após a mort e, e não menos a
observar e compreender t odos os seres anímico-espirit uais específ icos que at uam sobre o
mundo manif est o a part ir de mundos ocult os. No ent ant o, a segura observação j ust ament e
dos det alhes só é possível com base nos conheciment os dos grandes e genéricos f at os do
mundo espirit ual rel acionados com o mundo e a humanidade, f at os que dizem respeit o a
t odo ser humano. Quem desej ar o primeiro sem querer t er conhecido o out ro incorrerá em
erro. Pert ence às experiências ligadas à observação do mundo espirit ual o f at o de a
ent rada nos cobi çados domínios da exist ência supra-sensível só ser concedida, logo de
início, a quem se esf orça — por sérios e dif íceis caminhos orient ados unicament e para
quest ões cognit ívas gerais — para alcançar a explicação do sent ido da vida. Só ao
percorrer esses caminhos com um impulso cognit ivo puro e desint eressado é que a pessoa
est á madura para observar det alhes cuj a cont emplação t eria sido, ant eriorment e, a
sat isf ação de um desej o egoíst a, mesmo est ando o pret endent e convencido de est ar
aspirando à visão do mundo espirit ual por amor, por exemplo, a uma pessoa mort a. A visão
do det alhe específ ico só é possível a quem, mediant e sério int eresse pelas generalidades
cient íf ico-espirit uais, t ambém haj a t ido a possibilidade de receber, sem qualquer desej o
egoíst a, a manif est ação do det alhe específ ico como uma verdade cient íf ica obj et iva.

Observações complement ares


Pág.
30 ss. Explicações como as que são dadas, nest e livro, sobre a capacidade recordat iva
podem muit o f acilment e ser mal-int erpret adas. Ora, a quem observar apenas os

175
processos ext eriores, não ocorrerá de imediat o a dif erença ent re o que sucede no
animal , e mesmo na pl ant a, ao surgir algo semelhant e à recordação, e o que aqui
é descrit o como recordação verdadeira no caso do ser humano. É bem verdade
que, quando um animal execut a ação pela t erceira, quart a vez, isso pode f azer o
processo ext erior se apresent ar como se exist isse a recordação e o aprendizado
ligado a est a. Aliás, seguindo o exemplo de cert os nat uralist as e seus adept os,
pode-se est ender o conceit o da recordação ou da memória ao pont o de af irmar
que, ao quebrar o ovo, o pint inho sai ciscando em busca de grãos e sabe
coordenar os moviment os da cabeça e do corpo para chegar ao seu obj et ivo. Ele
não pode t er aprendido isso dent ro do ovo, mas sabe-o graças aos milhares e
milhares de seres dos quais descende (isso é af irmado, por exemplo, por Hering).
Esse f enômeno pode ser caract erizado como algo semelhant e à memória. Porém
nunca se chegará a uma verdadeira compreensão da ent idade humana caso não se
leve em cont a o que, no homem, surge post eriorment e como o processo da
verdadeira percepção de vivências ant eriores, e não simplesment e como uma
int ervenção de est ados ant eriores no post erior. Nest e livro, essa per cepção do
passado é denominada recordação, e não simplesment e ressurgiment o — mesmo
modif icado — do ant erior no post erior. Caso se quisesse empregar a palavra
‘ recordação’ j á para os correspondent es processos nos remos veget al e animal,
seria preciso t er out ra designação ao se t rat ar dos homens. Na exposição f eit a
nest e livro, o que import a não é absolut ament e a palavra, e sim o
r econheci ment o da di f er ença quant o à compreensão da ent idade humana.
Tampouco as demonst rações de int eligência dos animais, aparent ement e t ão
elevadas, podem ser conf undidas com o que aqui é denominado r ecor dação.

36 ss. Ent re as mudanças que se produzem no corpo ast ral pela at ividade do eu e as que
se operam no corpo et érico, não exist e um limit e preciso. Um se sobrepõe ao
out ro. Quando o homem aprende algo, adquirindo assim uma cert a f aculdade de
discerniment o, ocorre uma mudança em seu corpo ast ral; mas quando esse
discerniment o modif ica de t al f orma sua disposição anímica que ele se acost uma a
t er, após o aprendizado, uma sensação dif erent e da ant erior em relação a cert o
assunt o, ocorre um a mudança no corpo et érico. Tudo o que assim se t orna
propriedade humana, de modo que o homem possa sempre recordá-l o novament e,
baseia-se numa modif icação do corpo et érico. O que vem a ser progressivament e
um t esouro permanent e da memória baseia-se no f at o de o t rabalho no corpo
ast ral t er sido t ransmit ido ao corpo et érico.

44 ss. A relação ent re o sono e o cansaço nunca é considerada em conf ormidade com os
f at os. Presume-se que o sono advenha em conseqüência do cansaço. Que essa
idéia é demasiadament e simplist a, pode evidenciá-lo o adormeciment o de ou-
vint es durant e um discurso que não lhes int eresse ou out ra sit uação semelhant e.
Quem desej ar af irmar que em t ais ocasiões a pessoa simplesment e se cansa est ará
dando uma explicação segundo um mét odo carent e da corret a seriedade
cognit iva. Ora, a observação imparcial só pode chegar à conclusão de que acordar
e dormir represent am dif erent es relações ent re a alma e o corpo, as quais, no
curso normal da vida, devem manif est ar-se numa sucessão rít mica, como a
oscilação pendular para a direit a e a esquerda. Numa t al observação imparcial ,
f ica claro que o preenchiment o da alma com as impressões do mundo ext erior
despert a nela o desej o de ingressar, após esse est ado, num out ro dif erent e, no

176
qual se ent regue ao desf rut e de sua própria corporal idade. Alt ernam-se dois
est ados anímicos: est ar ent regue às impressões ext eriores e est ar ent regue à
própria corporalidade. No primeiro est ado é inconscient ement e produzido o
desej o do segundo, que por sua vez t ranscorre na inconsciência. A expressão do
desej o de desf rut ar da própria corporalidade é o cansaço. Port ant o, deve-se
ef et ivament e dizer que a pessoa est á cansada por querer dormir, e não que quer
dormir por est ar cansada. Ora, j á que por hábit o a al ma humana pode provocar
espont aneament e em si mesma os est ados que na vida normal se apresent am por
necessidade, é possível que ao perder o int eresse por uma det erminada impressão
ext erior ela provoque em si mesma o desej o de desf rut ar de sua própria
corporalidade — ou sej a, adormeça mesmo que por sua disposição int erior não
haj a mot ivo algum para isso.

67-68 A af irmação de que os dons pessoais do homem, caso dependessem das leis da
mera ‘ heredit ariedade’ , não deveriam aparecer no f inal de uma linhagem
sanguínea, e sim em seu princípio, poderia ser f acilment e mal compreendida.
Alguém poderia dizer: “ Bem, eles poderiam não f icar evident es, pois primeiro t êm
de desenvol ver-se. ” Mas isso não const it ui qualquer obj eção, pois, ao se querer
demonst rar que algo f oi herdado de um ant ecedent e, deve-se most rar como se
encont ra novament e no descendent e aquilo que j á exist ia ant es. Caso se
evidenciasse que no início de uma linhagem sangüínea t ivesse est ado present e
algo que se reencont rasse no curso post erior, seria possível f alar de
heredit ariedade. Porém não se pode f azê-lo quando no f inal surge algo que no
início est ava ausent e. A inversão da proposição acima quis apenas most rar que a
idéia da heredit ariedade é impossível.

81 s. Em alguns capít ulos dest e livro f oi explicado como o mundo do homem e ele
próprio at ravessam est ados designados com os nomes de Sat urno, Sol, Lua, Terra,
Júpit er, Vênus e Vulcao. Também f oram indicadas as relações da evolução huma-
na com os corpos celest es exist ent es próximo à Terra chamados de Sat urno,
Júpit er, Mart e, et c. Nat uralment e est es últ imos corpos celest es t ambém
at ravessam sua evolução. Na época at ual eles alcançaram um nível t al que suas
part es f isicas se most ram à percepção como sendo o que a ast ronomia f ísica
denomina Sat urno, Júpit er, Mart e, et c. Ora, ao ser observado no sent ido
cient íf ico-espirit ual, o Sat urno at ual é, de cert a f orma, uma reencarnação do que
f oi o ant igo Sat urno. Ele surgiu porque ant es de o Sol separar-se da Terra exist iam
cert as ent idades que não puderam part icipar da separação por haverem
incorporado t ant as caract eríst icas próprias da exist ência sat urnina que sua
morada não poderia ser o lugar onde são principalment e desenvolvidas as
caract eríst icas solares. O Júpit er at ual, porém, surgiu devido à presença de seres
dot ados de qualidades que só poderão desenvolver-se no f ut uro Júpit er da
evolução geral. Para eles surgiu uma morada onde j á possam ant ecipar essa
evolução ult erior. Do mesmo modo, Mart e é um corpo celest e onde residem
ent idades cuj a part icipação na evolução lunar t ranscorreu de modo que um
progresso ult erior na Terra nada lhes poderia of erecer. Mart e é uma reencarnação
da ant iga Lua, num nível superior. O Mercúrio at ual é morada de seres sit uados à
f rent e da evolução t errest re, porém j ust ament e por t erem desenvolvido cert as
qualidades t errest res de modo superior ao que é possível na Terra. De modo
similar, o planet a Vênus at ual é uma ant ecipação prof ét ica do f ut uro est ado

177
venusiano. Por t udo isso, j ust if ica-se escolher as denominações dos est ados
ant eriores ou post eriores da Terra de acordo com seus represent ant es no
Universo. E t ot alment e óbvio que t erá muit o a obj et ar, ao que é apresent ado
aqui, quem queira submet er ao j uízo de um int elect o especializado na observação
ext erior da nat ureza o paralelismo ent re os est ados sat urnino, solar, et c. ,
visualizados de modo supra-sensível, e os corpos celest es f ísicos igualment e
denominados. Mas assim como exist e uma possibilidade de represent ar diant e da
alma, por meio da represent ação mat emát ica, o sist ema solar como imagem do
suceder crono-espacial, é possível ao conheciment o supra-sensorial impregnar a
imagem mat emát ica com cont eúdo anímico. Ent ão est a se f orma de modo a
admit ir o mencionado paralelismo. Essa impregnação com cont eúdo anímico,
porém, t ambém repousa int eirament e no post erior procediment o rigoroso da
observação cient íf ico-nat ural. Na verdade est e modo de observação ainda se
limit a, at ualment e, a procurar uma int er-relação ent re o sist ema sol ar e a Terra
segundo conceit os purament e mecânico-mat emát icos. Procedendo dessa f orma, a
Ciência Nat ural do f ut uro será compelida, por si mesma, a idéias que ampliarão o
mecânico para o anímico. Para most rar — coi sa absol ut ament e possível — que t al
ampliação j á deveria realizar-se com base nas idéias cient íf ico-nat urais da
at ualidade, seria necessário escrever um livro apropriado. Aqui só é possível f azer
alusões a esse respeit o, embora isso implique no risco de expô-las a muit os mal-
ent endidos. Apenas apar ent ement e, exist e uma f reqüent e discordância ent re a
Ciência Espirit ual e a Ciência Nat ural porque na at ualidade est a últ ima ainda não
quer, em absolut o, f ormar idéias que, na verdade, são exigidas não só pelo
conheciment o supra-sensível, mas t ambém por aquele que se limit a ao sensorial.
Um observador imparcial pode ver por t oda part e, nos result ados da observação
cient íf ico-nat ural da at ualidade, ref erências a out ros campos de observação
purament e f ísico-sensíveis que, no f ut uro, serão obj et o de invest igação
purament e cient íf ico-nat ural e most rarão que as revelações da visão supra-
sensível são plenament e conf irmadas pela observação da nat ureza, porquant o o
conheciment o supra-sensível se ref ere a um suceder cósmico supra-sensível ao
qual corresponde uma manif est ação sensível.

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Quadro sinóptico das hierarquias espirituais

Denominação Denominação crist ã t radicional


ant roposóf ica

em grego em alemão em português

Espírit os do Amor Seraphim Seraf ins

Espírit os das Harmonias Cherubim Querubins

Espírit os da Vont ade Throne Tronos

Espírit os da Sabedoria Kyriot et es Herrschaf t en Dominações

Espírit os do Moviment o Dynamis Mächt e Virt udes

Espírit os da Forma Exusiai Gewalt en Pot est ades

Espírit os da Personalidade Archai Urkräf t e Arqueus

Espírit os do Fogo Archangeloi Erzengel Arcanj os

Espírit os do Crepúsculo ou da Vida Angeloi Engel Anj os

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