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GUIA CLÍNICO

LABORATORIAL
2021

PLACAS OCLUSAIS
ESTABILIZADORAS
IMPRESSAS
Um guia criado para auxiliar dentistas e
laboratórios que buscam resultados de excelência

Laboratório de Prótese Dentária


O que considerar no fluxo digital para placas impressas?
Qual a diferença entre uma placa tradicional e uma impressa?
O que muda para o paciente?
Diante desse mundo novo, específico das placas impressas, criamos em parceria com o Dr.
Glauber Rama esse guia, para auxiliar todos os dentistas e laboratórios que buscam resultados
de sucesso nesse tipo de serviço. Embora concebido originalmente pelo Dr. Glauber, esse
documento traz à tona questões do dia a dia vivenciadas no LOP, que mesmo obtendo um alto
índice de sucesso, entende o desafio que é planejar e instalar um dispositivo oral como esse.
CONCEITUAÇÃO
DO DISPOSITIVO

Dispositivos estabilizadores inter-oclusais (tam- Nesse cenário devemos também observar que
bém conhecidos como as boas e velhas esses movimentos parafuncionais podem
“placas miorrelaxantes”) são artefatos, prefe- ocorrer não apenas nos momentos de incons-
rencialmente rígidos, com retenção dentária em ciência (durante o sono), mas também em
uma das arcadas, cujo objetivo principal é outros hábitos rotineiros do dia a dia que
promover o afastamento dentário interoclusal e merecem atenção e cuidado. Um adequado
proteção mecânica dos músculos, articulações diagnóstico faz-se necessário para a melhor
e dentes contra os hábitos parafuncionais. conduta individual para cada caso.

Os dentes em condições fisiológicas Dentre as várias características possíveis, um


normais/ideais, basicamente deveriam se tocar dispositivo estabilizador oclusal ideal deve, na
em apenas dois momentos de nossa rotina maior parte dos cenários:
diária: • Ser rígido;
• no momento da mastigação e, • Ser confeccionado em relação cêntrica, para
• no momento da deglutição. melhor posicionamento articular e equilíbrio
muscular (não obrigatório! Em casos de
Fora desses dois momentos pontuais, basica- pacientes com boa estabilidade oclusal e
mente, deveríamos quando em repouso ter pequenas discrepâncias entre relação cêntrica
nossos dentes espaçados entre si de 2 a 4 e máxima intercuspidação habitual (MIH), esta
mm. Milímetros estes correspondentes ao última pode ser escolhida pela maior facilidade
espaço funcional livre (EFL). Sendo assim, de confecção e ajuste);
qualquer toque dentário fora dos momentos • Ter superfície plana, permitindo liberdade de
fisiológicos de mastigação e deglutição podem movimento mandibular;
ser considerados parafuncionais, com conse- • Possuir guias de desoclusão (anterior e cani-
quências importantes para toda a musculatura nos) efetivas;
de cabeça e pescoço, articulações temporo- • Possuir espessura adequada para resistên-
mandibulares (ATMs) e também dentes/estru- cia mecânica, porém sem gerar desconforto
turas de suporte periodontal. durante o uso pelo paciente.
Como se comporta
mecanicamente uma resina
para impressão 3D?
Para se entender melhor algumas das orientações e características de uma
placa oclusal estabilizadora impressa em 3D, é importante salientar algumas
questões mecânicas acerca do comportamento geral de resinas para essa aplicação.

As resinas para impressão 3D possuem características mecânicas, principalmente no que tange sua resis-
tência flexural, muito mais semelhantes às resinas compostas odontológicas do que às resinas acrílicas.
O bom exemplo para se elucidar esse fato é se imaginar um bastão da espessura e comprimento de uma
caneta Bic feito nas 3 diferentes resinas: acrílica, composta e impressa 3D.

Ao tentar flexionar o bastão de resina acrílica (ilustração abaixo), este irá flexionar consideravelmente até o
momento que sua deformação irá exceder o limite de resistência flexural e o mesmo irá se partir. Ao se fazer
o mesmo com o bastão de resina composta, a força necessária para flexioná-lo será maior, porém este
sofrerá uma pequena flexão e logo partirá. Ao se fazer o mesmo para o bastão de resina impressa, o com-
portamento será um intermediário de ambos esses materiais, porém bem mais semelhante ao da resina
composta citado acima.

O que isso significa na prática? Uma resina com menor resistência flexural torna-se um material mais sensí-
vel a básculas e desadaptações, culminando com fraturas precoces indesejadas. Entretanto, na ausência
desse cenário, são materiais ainda mais resistentes mecanicamente (ao desgaste e à compressão) do que
as resinas acrílicas convencionais.
Logo, no cenário elucidado Além disso, é fundamental que estas
possuam uma espessura mínima
neste guia para placas necessária (em torno de 1.8 a 2.0 mm
oclusais estabilizadoras im- em média na porção mais delgada, não
havendo invasão do espaço funcional
pressas, é fundamental ga- livre) para que elas consigam exercer
rantir que estas possuam suas propriedades mecânicas de forma
assentamento 100% pas- correta.
sivo em boca, com adapta- Do ponto de vista laboratorial, existem
ção o mais perfeita possí- técnicas e cuidados nos processos de
design e manufatura para garantir esse
vel, para que apenas dessa tipo de condição. Entretanto o que nós
forma elas consigam per- cirurgiões-dentistas devemos fazer
formar a contento. clinicamente para poder oferecer mo-
delos (analógicos ou digitais) e registros
fiéis para nosso laboratório poder traba-
lhar com a qualidade necessária?
Pré-requisitos para
Modelos (arcadas) advindos de moldagem convencional;
Partindo do pressuposto de cenários em fluxo analógico-digitais, ou seja, onde o cirurgião-dentista irá

o fluxo de trabalho
moldar o paciente e realizar os registros de forma analógica para digitalização laboratorial, alguns crité-
rios de moldagem merecem atenção. Recomenda-se para a arcada de trabalho (onde a placa irá se
assentar) que os moldes obtidos sejam realizados preferencialmente em silicone de adição bem mani-

via impressão 3D
pulada / proporcionada (sugestão pela técnica de impressão única), com tempo de trabalho respeitado
antes do saque em boca e envio para laboratório para vazamento, seguindo os tempos e proporções
necessárias.
Para arcada antagonista um alginato de boa qualidade pode ser indicado porém respeitando-se a
proporção correta, proteção do material contra sinérise/embebição (o que pode alterar o mesmo
Modelos (arcadas) advindos de

1 moldagem convencional
Partindo do pressuposto de cenários em fluxo analógico-digitais, ou
seja, onde o cirurgião-dentista irá moldar o paciente e realizar os regis-
tros de forma analógica para digitalização laboratorial, alguns critérios
de moldagem merecem atenção. Recomenda-se para a arcada de
trabalho (onde a placa irá se assentar) que os moldes obtidos sejam
realizados preferencialmente em silicone de adição bem manipulada /
proporcionada (sugestão pela técnica de impressão única), com tempo
de trabalho respeitado antes do saque em boca e envio para laborató-
rio para vazamento, seguindo os tempos e proporções necessárias.

Para arcada antagonista um alginato de boa qualidade pode ser indica-


do porém respeitando-se a proporção correta, proteção do material
contra sinérise/embebição (o que pode alterar o mesmo dimensional-
mente) e vazamento imediato, se possível.

Modelos (arcadas) advindos de

2 escaneamento intra-oral
Para escaneamentos intra-orais, o recomendado é que a técnica de
escaneamento para arcadas totais para o sistema em específico seja
feita da forma correta, minimizando as possíveis alterações dimensionais
no perímetro do arco. Geralmente são técnicas que contemplam esca-
neamento linear (ou seja, iniciando pela oclusal de um dos molares indo
até o molar do arco oposto, rotacionando para vestibular (ou lingual) e
indo até o lado oposto e finalizando rotacionando para lingual (ou vesti-
bular) indo até o lado oposto. Para a arcada superior é desejável (caso
opte-se por não escanear o palato todo) que pelo menos 1/3 da gengi-
va da parte palatina seja registrada digitalmente pelo escaneamento.
2.1 Registros oclusais e espessuras mínimas

Como salientado em seções anteriores, o objeti-


vo do registro é propiciar o espaço necessário
para a espessura mínima da placa ao mesmo
que tempo que, nos casos determinados esco-
lhidos, faça-se a desprogramação oclusal do
paciente para melhor registro em RC.

Para tal, a sugestão dá-se pelo uso de um


desprogramador oclusal (JIG de Lucia / Leaf
Gauges / Desprogramador de Kois), um disposi-
tivo rígido/batente anterior que irá temporaria-
mente eliminar os contatos oclusais habituais do JIG de Lucia
paciente para que possamos realizar seu registro
da forma correta.

Cabem aqui algumas ressalvas quanto ao tipo do Nesse cenário, porém, recomenda-se ainda assim a
registro, se em relação cêntrica (RC) ou máxima utilização do batente anterior apenas para fins de
intercuspidação habitual (MIH). desoclusão posterior de precisão em boca, evitan-
do-se a realização de forma arbitrária no pino do
Classicamente recorre-se ao uso do registro na RC articulador sendo que esse processo não possui a
por propiciar uma melhor posição articular na mesma fidelidade que um registro in loco.
relação côndilo-fossa do paciente, propiciando
descompressão nervosa, relaxamento, melhora na No cenário virtual isso acaba sendo ainda mais
sintomatologia e equilíbrio muscular entre os mús- importante. A alteração da desoclusão mediante
culos de abertura e fechamento da mandíbula, uma alteração do pino do articulador em software de
vez que a placa estará com seus contatos ajusta- CAD é ainda mais crítica, visto que esse processo
dos estabilizando essa posição. pode implicar em diferenças significativas de resul-
tado, sendo completamente arbitrário e não especí-
Contudo, caso o paciente naturalmente já possua fico para cada caso. Sendo assim, é de suma
uma estabilidade oclusal favorável ou uma MIH que importância que a desoclusão já seja fornecida e
seja muito próxima à sua RC, o registro pode ser aferida pelo próprio registro de escaneamento, até
feito em MIH sem grandes problemas. para que o próprio cirurgião dentista tenha condi-
ções de checar se o registro realizado está dentro
dos padrões ideais citados neste guia.
!
Um adendo especial ao articulador virtual (módulo do software de
desenho) que nos auxilia e muito nos movimentos de protrusão e laterali-
dades, que inclusive se confirmam nas chegadas em boca. Entretanto,
essa ferramenta oferece baixa capacidade de reproduzir o cenário em
boca, quando é necessário realizar aumento do espaço funcional livre.
Por isso a importância de um dispositivo que determine esse espaço antes
do escaneamento, não dependendo do articulador virtual para isso.

Por fim, a segunda função desse batente anterior é


promover a desoclusão necessária na porção mais
delgada da placa que, para placas impressas, deve
situar entre 1.8 a 2.0mm.

Apesar de muitos cirurgiões-dentistas e técnicos opta-


rem por aumentar essa espessura visando aumento
da resistência dessas placas à fratura, deve-se salien-
tar que em boa parte dos cenários esse aumento
pode interferir no espaço funcional livre e até mesmo
na dimensão vertical do paciente, com consequências
importantes e até mesmo piora nos sintomas.

Registro no Scanner
em desoclusão Dessa forma, em casos de escaneamento intra-oral o
registro interoclusal bilateral deverá ser realizado com o
batente anterior/desprogramador em boca, fazendo
com que os modelos virtualmente fiquem espaçados
entre si, registrados em RC ou MIH de acordo com o
que foi escolhido pelo profissional e com a desoclusão
necessária (1.8 a 2.0 mm) conforme salientado acima.
A Instalação do Dispositivo
Sequência clínica de verificação de assentamento
Com o dispositivo em mãos, a primeira fase de fase (principalmente em casos de escaneamento
checagem na instalação de uma placa impressa intra-oral trabalhados com a técnica de escanea-
em 3D (e talvez a mais fundamental para sua mento correta para arcadas totais). Pacientes que
longevidade) é a checagem da inserção passiva retornam em consultas subsequentes com relato
em boca, sem grande atrito com os dentes do de dentes doloridos pela placa estar assentando
paciente e, principalmente, sem básculas visíveis. A justa demais merecem atenção! Além do descon-
placa deve assentar perfeitamente na superfície forto, para placas impressas essa tensão de inser-
oclusal/incisal da arcada do paciente e, geralmen- ção/remoção pode ser um dos fatores para sua
te, ajustes não costumam ser necessários nessa fratura precoce.

Sequência clínica de ajustes cêntricos (oclusão cêntrica)

Após checagem da passividade de inserção, o próximo passo consiste na checagem dos contatos oclu-
sais (cêntricos ou habituais, a depender do registro realizado). Idealmente a placa oclusal estabilizadora
deve contemplar contatos oclusais simultâneos e estáveis tanto na região anterior quanto posterior, sem
presença de cavidades e endentações na mesma.

Quanto maior o número de contatos dispersos de forma equilibrada ao longo da placa, melhores serão
suas propriedades de estabilização. Para esse ajuste sugere-se o uso de um carbono de alta precisão (20
micrometros), com checagem bilateral simultânea para que se minimize os riscos do paciente projetar a
mandíbula para o lado testado. Idealmente, também, almeja-se contatos ligeiramente mais fortes nos
elementos posteriores do que na região anterior (mas ambos devem estar presentes).
Sequência clínica de ajustes excêntricos
(guias de desoclusão anterior e caninos)
Com os ajustes oclusais cêntricos/habituais verificados, o próximo passo é ajustar as guias de deso-
clusão anterior e caninos. Para as guias de lateralidade, estas idealmente devem acontecer na região
dos caninos com contato apenas destes, do lado de trabalho e desoclusão total no lado de balanceio.

Para a guia anterior, deve-se haver uma rampa de desoclusão também guiada pelos caninos poden-
do haver também toque dos incisivos, porém estes em menor grau, também com completa desoclu-
são posterior ao final do movimento de protrusão. Para o ajuste sugere-se também o uso de um
carbono de alta precisão (20 micrometros) da forma que, com o carbono posicionado, o paciente
realize o movimento. No dispositivo será marcado todo o percurso da rampa de desoclusão avaliada,
podendo ser ajustado para que as interferências nesse movimento sejam as menores possíveis.

LATERALIDADE DIREITA PROTRUSÃO LATERALIDADE ESQUERDA

Imagens em boca realizando a sequência de checagem de protrusão e lateralidades. Nos


desenhos logo acima, as mesmas checagens, mas ainda no plano digital, antes da impressão.

Repolimento clínico do dispositivo


Após os devidos ajustes, para melhor lisura superficial sugere-se sequência clínica de repoli-
mento do dispositivo. Borrachas para resina acrílica impregnadas com carbeto de silício
seguidas de roda de feltro com pasta de polimento costumam ser eficientes para tal.
Critérios finais para a
Placa Estabilizadora

1 2
Ela deve estar perfeitamente Em RC, todas as cúspides
encaixada nos dentes superiores, vestibulares e bordos incisais
com total estabilidade e retenção inferiores devem fazer contato
quando contatada pelos dentes com as superfícies planas e com
inferiores e quando checada força igual.
através da palpação digital.

3 4
Durante o movimento protrusivo, Em qualquer movimento lateral,
os caninos inferiores devem con- somente o canino inferior deve
tatar a placa com força igual. Os exibir contato laterotrusivo
incisivos inferiores também podem na placa.
contatá-la, mas não com uma
força maior do que os caninos.

5 6
Os dentes posteriores inferiores A superfície oclusal da placa deve
devem contatar a placa de forma ser o mais plana possível, sem
ligeiramente mais forte o que os marcas para as cúspides
dentes anteriores durante o inferiores.
fechamento.
Critérios finais para a
Placa Estabilizadora

7 8
A placa oclusal deve ser polida Atenção aos ajustes gerando
para que não irrite os tecidos desgastes excessivos. Garantir
moles adjacentes. sempre pelo menos 1,8mm de
espessura mínima.

9
Idealmente com o paciente em
45 graus no registro, evitar
escaneamentos com o paciente
deitado ou mesmo sentado.
Orientações gerais quanto
ao uso e higienização
1 2
O paciente deverá ser instruído a O uso do dispositivo dependerá do
observar nos próximos dias sobre o tipo e frequência do hábito parafun-
conforto de uso. Como salientado cional do paciente. Não há uma
acima, qualquer sinal de “aperto” ou contra-indicação para o “excesso”
desequilíbrio nos contatos oclusais de uso. Pode ser usada para dormir,
deve ser informado ao profissional mas também em momentos diurnos
para que novos ajustes sejam onde o hábito parafuncional não
realizados. Caso a placa esteja com consegue ser controlado (academia,
pouca retenção, o paciente também trânsito, em frente ao computador,
deve relatar ao profissional para que vendo um filme, entre outros).
um reembasamento possa ser
indicado.

3 4
A placa deverá ser higienizada após Protocolos de higienização química
seu uso com uma escova de cerdas com pastilhas efervescentes à base
maciais/ultramacias, podendo usar de peróxido de hidrogênio (Corega
uma pequena quantidade de creme TABS ou similar) também podem
dental de baixa abrasividade e água. ser indicados 2 a 3 vezes na
Após higienização o dispositivo, semana.
depois de seco, deve ser guardado
em recipiente de proteção
apropriado.
Protocolos de retorno
e controle periódico
do paciente
Para placas impressas idealmente sugere-se que o
paciente retorne após 5 a 7 dias para novos ajustes
interoclusais cêntricos e excêntricos, além de uma
checagem da percepção do paciente frente ao trata-
mento. Em caso de dor muscular/articular, muitas
vezes nesse prazo pode-se observar moderada ou
até mesmo total remissão dos sintomas. Novos retor-
nos podem ser programados para 15 e 30 dias após
instalação, se necessário.

Após alta total do paciente, sugere-se que o mesmo


seja informado de trazer consigo o dispositivo em
suas consultas de retorno periódico para manutenção.
Nestas consultas sugere-se nova checagem dos ajus-
tes cêntricos e excêntricos, checagem da espessura
da placa em suas porções mais delgadas e checagem
do padrão de higienização e desgaste da mesma.

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