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MA 446/ MM446 GRUPOS E REPRESENTAÇÕES

1. Grupos e subgrupos
Definição Seja G um conjunto não vazio com uma operação binária
G×G→G
que envia um elemento (a, b) ∈ G × G para ab ∈ G. Dizemos que G é um GRUPO
se satisfaz as seguintes propriedades :
1. (associatividade)
(ab)c = a(bc)
para cada a, b, c ∈ G;
2. (elemento neutro) existe um elemento e ∈ G tal que
ea = ae = a
para cada a ∈ G. O elemento neutro e é denotado também por 1G ;
3. (existência de inversa) para cada a ∈ G existe um elemento b ∈ G tal que
ab = ba = e
−1
O elemento b é denotado por a .
Exemplos de grupos
1) Z é um grupo com respeito a operação +. Aqui o elemento neutro é 0. Para
cada a, b ∈ Z temos que a + b, −b ∈ Z.
2) Consideramos Q∗ = Q \ {0}. Observamos que Q∗ é um grupo com respeito
a operação produto. Aqui o elemento neutro é 1. Produto e inversa multiplicativa
de números racionais é um número racional.
3) Seja X um conjunto e
G = P erm(X) = {ϕ : X → X | ϕ é uma bijeção}.
Tal
ϕ é chamado de permutação de X
G é um grupo com respeito a operação composição i.e.
αβ(x) = α(β(x)) para cada x ∈ X
Se α, β são permutações de X então αβ também é uma permutação. Aqui o el-
emento neutro é a identidade de X denotada por idX . Para α ∈ G temos que
α−1 ∈ G e
α−1 (i) = j se e somente se α(j) = i
No caso X é conjunto finito {1, 2, . . . , n} este grupo é denotado por Sn e é
chamado grupo simétrico.
1
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4) GLn (R) é o conjunto de todas matrizes n × n com coeficientes reais e deter-


minante não 0 i.e.
GLn (R) = {A ∈ Mn (R) | det(A) 6= 0}
é um grupo com respeito a operação produto de matrizes. Aqui o elemento neutro
é a matriz identidade In . Se A, B ∈ GLn (R) temos
1
det(AB) = det(A)det(B) 6= 0, det(A−1 ) = 6= 0
det(A)
e portanto AB ∈ GLn (R) e A−1 ∈ GLn (R). Sabemos que produto de matrizes é
associativo.
Lemma 1.1. Seja G um grupo.
a) Sejam e1 , e2 ∈ G tais que para cada a ∈ G
ae1 = e1 a = a, ae2 = e2 a = a
Então e1 = e2 . Em particular o elemento neutro e ∈ G é único.
b) Seja a, b1 , b2 ∈ G tais que
ab1 = b1 a = e = ab2 = b2 a = e
Então b1 = b2 . Em particular a inversa multiplicativa a−1 é única.
c) (a−1 )−1 = a para cada a ∈ G;
d) (ab)−1 = b−1 a−1 para cada a, b ∈ G.
Proof. a) e1 = e1 e2 = e2 ;
b) b2 = eb2 = (b1 a)b2 = b1 (ab2 ) = b1 e = b1 ;
c) Pela definição de inversa
aa−1 = e = a−1 a
Então para c = a−1 temos que
ac = e = ca
Então a é a inversa multiplicativa de c;
d)
ab(b−1 a−1 ) = a(bb−1 )a−1 = aea−1 = aa−1 = e
Também
(b−1 a−1 )ab = b−1 (a−1 a)b = b−1 eb = b−1 b = e
Assim para c = ab temos que
c(b−1 a−1 ) = e = (b−1 a−1 )c =⇒ b−1 a−1 = c−1


Definição Seja G um grupo e a ∈ G. Para n um número inteiro positivo


definimos
a1 = a, an = a(an−1 ) para n ≥ 1
Para n inteiro negativo definimos
an = (a−1 )−n
Também defiimos
a0 = 1G
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Exercı́cio Seja G um grupo, a ∈ G e z1 , z2 ∈ Z. Então


az1 az2 = az1 +z2
Também
(az1 )z2 = az1 z2
Definição Seja G um grupo,H um subconjunto não vazio de G. Dizemos que
H é um SUBGRUPO de G
se H é um grupo com respeito as operações em G.

Lemma 1.2. Seja G um grupo,H um subconjunto não vazio de G. Então H é um


subgrupo de G se e somente se para cada a, b ∈ H temos que ab−1 ∈ H.
Proof. 1) Suponha que H é um subgrupo de G. Então H é fechado por inversa
multiplicativa, em particular b−1 ∈ H. Também H é fechado por produto, assim
ab−1 ∈ H.
2) Suponha que para cada a, b ∈ H temos que
ab−1 ∈ H, portanto 1G = bb−1 ∈ H, b−1 = 1G b−1 ∈ H
Como a, b−1 ∈ H temos que
ab = a(b−1 )−1 ∈ H
Assim provamos que H é fechado por inversa e produto. Então a operação produto
em G induz operação produto em H e as regras de grupo em H valem pois valem
em G. Observamos que 1H = 1G . 

Exemplos
1) Seja G o grupo Z com respeito a operação +. Seja n ∈ Z. Então nZ é um
subgrupo de G.
2) Seja G = S3 . Denotamos por (i1 i2 i3 ) a permutação que envia i1 para i2 , i2
para i3 , i3 para i1 . Vamos mostrar que
H = {1G , (1 2 3), (1 3 2)}
é um subgrupo de G. Recordamos que a operação aqui é a composição de per-
mutações i.e. se α, β ∈ S3 então
αβ(i) = α(β(i))
Vamos mostrar que
(1 2 3)(1 2 3) = (1 3 2)
Realmente para α = (1 2 3) temos
α2 (1) = α(α(1)) = α(2) = 3
α2 (2) = α(α(2)) = α(3) = 1
α2 (3) = α(α(3)) = α(1) = 2
Portanto
(1 2 3)(1 2 3) = α2 = (1 3 2)
Seja β = (1 3 2). Então
αβ(1) = α(β(1)) = α(3) = 1
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αβ(2) = α(β(2)) = α(1) = 2


αβ(3) = α(β(3)) = α(2) = 3
portanto αβ é a identidade i.e.
(1 2 3)(1 3 2) = αβ = 1S3
Assim
β −1 = (1 3 2)−1 = (1 2 3) = α, α−1 = (1 2 3)−1 = (1 3 2) = β
e
α3 = αα2 = (1 2 3)(1 3 2) = 1S3
Observamos que
(1 3 2)2 = β 2 = (α2 )2 = α4 = α3 α = 1S3 α = α = (1 2 3)
Assim mostramos que H é fechado por inversa e produto, assim H é um subgrupo
de G.
3) Seja G um grupo. Definimos o centro de G por
Z(G) = {a ∈ G | ag = ga para cada g ∈ G}
Vamos verificar que Z(G) é um subgrupo de G.
Sejam a, b ∈ Z(G), g ∈ G. Então bg = gb e portanto
g = (b−1 b)g = b−1 (bg) = b−1 gb
Multiplicando a direita com b−1 temos
gb−1 = b−1 g.
Recordamos que como a ∈ Z(G) temos que ag = ga, assim
(ab−1 )g = a(b−1 g) = a(gb−1 ) = (ag)b−1 = (ga)b−1 = g(ab−1 )
Portanto
ab−1 ∈ Z(G)
Definição Um grupo G de dito ABELIANO se para cada a, b ∈ G temos
ab = ba
Num grupo abeliano a notação produto pode ser escrita como soma e neste caso
ab é trocado por a + b.
Essa notação é dita notação ADITIVA. Em notação aditiva o
elemento neutro é escrito como 0G ou simplismente 0,

a inversa b−1 é denotada por − b

o elemento ab−1 é denotado por a − b.

Para z ∈ Z o elemento az em notação aditiva é za.


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Lemma 1.3. Sejam G = Z o grupo com operação + e H um subgrupo de G. Então


existe um número inteiro n ≥ 0 tal que H = nZ.
Proof. Usamos notação aditiva. Aquo o elemento neutro de G é 0.
Como H é um subgrupo temos que o elemento neutro pertence a H i.e. 0 ∈ H.
Se H = {0} definimos n = 0.
Se H 6= {0} existe g ∈ H \ {0}. Se g < 0 como H é subgrupo temos que a inversa
−g ∈ H e −g > 0 i.e. H contem um elemento inteiro positivo. Seja
n = min{k | k inteiro positivo tal que k ∈ H} ∈ H
Como H é subgrupo, se h ∈ H temos que hZ ⊆ H. Portanto
nZ ⊆ H
Seja h um elemento arbitrário de H. Então usando o algoritmo de Euclide
existem resto r ∈ Z e quociente q ∈ Z
h = qn + r, tais que 0 ≤ r ≤ n − 1
Então como qn ∈ Zn ⊆ H, h ∈ H e H é fechado por diferença então
r = h − qn ∈ H
Se r > 0 isto contradiz a minimalidade de n. Portanto r = 0 e h = qn ∈ nZ. Assim
H ⊆ nZ
. 

Ordem de elemento

Definição Sejam G um grupo e g ∈ G. A ordem do elemento g é a cardinali-


dade do conjunto
{g z |z ∈ Z}
A ordem de g é denotada por |g|.
Exemplos 1) seja G = S3 e α = (1 2 3). Já vimos que
α3 = 1S3 , β = α2 = (1 3 2) 6= α
Se z ∈ Z usando algoritmo de Euclide na divisão por 3 existem quociente q ∈ Z e
resto r ∈ Z tais que
z = 3q + r, onde 0 ≤ r ≤ 2
Então
αz = α3q+r = α3q αr = (α3 )q αr = (1S3 )q αr = 1S3 αr = αr
Portanto
{αz |z ∈ Z} = {1S3 = α0 , α, α2 }
Assim
|α| = 3
2) Seja G um grupo arbitrário. Então
{(1G )z | z ∈ Z} = {1G }
Portanto
|1G | = 1
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3) Seja G = Z o grupo com respeito a operação +. Aqui usamos notação aditiva.


O elemento neutro aqui é 0. Seja g ∈ G \ {0}. Então o conjunto
{zg | z ∈ Z}
é sempre infinito, portanto
|g| = ∞
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2. Mais sobre ordem de elemento de grupo, conjunto gerador


Theorem 2.1. Sejam G um grupo e g ∈ G. Então as seguintes condições são
equivalentes:
a) |g| < ∞;
b) existe número inteiro positivo m tal que g m = 1G .
Quando g tem ordem finita
|g| = min{m > 0 | g m = 1G }
e
{g z |z ∈ Z} = {g r | 0 ≤ r ≤ |g| − 1}
Proof. a) implica b). Suponha que |g| < ∞. Então o conjunto
{g z | z ∈ Z} é finito
Então existem números inteiros positivos m1 < m2 tais que
g m1 = g m2 ,
portanto para m = m2 − m1 temos
g m = g m2 −m1 = g m2 g −m1
Deixamos como exercı́cio mostrar que em grupo geral
(g z1 )z2 = g z1 z2 para quaisquer z1 , z2 ∈ Z
Então
g m2 g −m1 = g m2 (g m1 )−1 = g m2 (g m2 )−1 = 1G
b) implica a). Seja
n = min{m > 0 | g m = 1G }
Portanto
g n = 1G
Se z ∈ Z usando algoritmo de Euclide na divisão por n existem quociente q ∈ Z e
resto r ∈ Z tais que
z = nq + r, onde 0 ≤ r ≤ n − 1
Então
g z = g nq+r = g nq g r = (g n )q g r = (1G )q g r = 1G g r = g r
Portanto
{g z | z ∈ Z} = {g r | 0 ≤ r ≤ n − 1}
Vamos mostrar agora que
g r1 6= g r2 se 0 ≤ r1 < r2 ≤ n − 1
Isto implica que a cardinalidade de {g r | 0 ≤ r ≤ n − 1} é exatamente n e portanto
|g| = n
Suponha o contrário g r1 = g r2 . Então
1G = g r2 (g r1 )−1 = g r2 g −r1 = g r2 −r1
Observamos que para
n0 = r2 − r1
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obtemos
g n0 = 1G , e 0 < n0 < n
Isso contradiz a definição de n.

Corollary 2.2. Seja G um grupo e g ∈ G tal que |g| < ∞.
a) Se k ∈ Z e g k = 1G então |g|/k i.e. |g| é um divisor de k.
b) Se k ∈ Z e |g|/k então g k = 1G .
c) Se z ∈ Z então
|g|
|g z | =
M DC(|g|, z)
Proof. a) Seja n = |g|. Usando algoritmo de Euclide na divisão por n existem
quociente q ∈ Z e resto r ∈ Z tais que
k = nq + r, onde 0 ≤ r ≤ n − 1
Então como feito antes
1G = g k = g nq+r = g nq g r = (g n )q g r = (1G )q αr = 1G g r = g r
Recordamos que n é o menor número inteiro positivo tal que g n = 1G , portanto
r = 0 i.e. n é divisor de k.
b) Escrevemos k = |g|m para um m ∈ Z Então
g k = g |g|m = (g |g| )m = (1G )m = 1G
c) Observamos que para n = |g| temos
(g z )n = g zn = (g n )z = (1G )z = 1G
Então |g z | < ∞.
Seja |g z | = m. Então
m = min{k ∈ Z | k > 0, (g z )k = 1G }
i.e.
g zm = 1G
e m é menor posivel entre os números inteiros positivos com essa propriedade.
Agora por a), b) g zm = 1G é equivalente a
(2.1) |g| divide zm
e m é menor posivel entre os números inteiros positivos com essa propriedade.
Seja
d = M DC(|g|, z)
Então (2.1) é equivalente a
|g| z
(2.2) divide ( )m
d d
Observamos que
|g| z
M DC( , )=1
d d
Portanto (2.2) é equivalente a
|g|
divide m
d
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Como por definição d > 0, |g| > 0 e m é menor posı́vel concluimos que
|g|
=m
d

Exemplo Seja G = Sn o grupo simétrico i.e. os elementos são permutações do
conjunto {1, 2, . . . , n}. Escrevemos
(i1 i2 . . . ik )
para g ∈ G tal que
g(ij ) = ij+1 onde ik+1 = i1 e g(s) = s se s ∈ {1, 2, . . . , n} \ {i1 , . . . , ik }
Queremos calcular a ordem do g = (i1 i2 . . . ik ). Como
g(i1 ) = i2 , g(i2 ) = i3 , . . . , g(ik−1 ) = ik , se 1 ≤ z ≤ k − 1 então g z (i1 ) = i1+z 6= i1
portanto |g| =
6 z. Assim
|g| ≥ k
Mas
g k (i1 ) = i1 , g k (i2 ) = i2 , . . . , g k (ik ) = ik
também como g é a identidade sobre {1, 2, . . . , n} \ {i1 , . . . , ik } deduzimos que g k é
a identidade de {1, 2, . . . , n} i.e.
g k = 1Sn , portanto |g| = k

Definição Seja G um grupo e S um subconjunto de G. Dizemos que um sub-


grupo H de G é gerado por S se H é o menor subgrupo de G que contem S. Este
subgrupo H é denotado por hSi. Dizemos que S é um conjunto gerador de G.
Um grupo G é dito grupo CÍCLICO se G = hgi para algum elemento g.
Theorem 2.3. Seja G um grupo e S um subconjunto de G. Então
hSi = {g1z1 . . . gkzk | g1 , . . . , gk ∈ S, k ≥ 1, z1 , . . . , zk ∈ {±1}}
Em particular para o subgrupo cı́clico hgi temos
hgi = {g z | z ∈ Z}
Proof. Seja
M = {g1z1 . . . gkzk | g1 , . . . , gk ∈ S, k ≥ 1, z1 , . . . , zk ∈ {±1}}
Vamos mostrar primeiro que
M é um subgrupo de G
Sejam a, b ∈ M . Assim
a = az11 . . . azkk , b = bc11 . . . bcss
onde
a1 , . . . , ak , b1 , . . . , bs ∈ S, z1 , . . . , zk , c1 , . . . , cs ∈ {±1}
Precisamos mostrar que ab−1 ∈ M . Então
b−1 = (bc11 . . . bcss )−1 = (bcss )−1 . . . (bc11 )−1 = b−c
s
s
. . . b−c
1 ,
1

ab−1 = az11 . . . azkk b−c


s
s
. . . b−c
1
1
∈M
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Assim M é um subgrupo de G. Observamos que se s ∈ S temos que s = s1 ∈ M


i.e.
S⊆M
i.e.
M é um subgrupo de G que contem S
Seja K um subgrupo de G que contem S. Então se
g1 , . . . , gk ∈ S ⊆ K, k ≥ 1, z1 , . . . , zk ∈ {±1},
temos que
g1z1 . . . gkzk ∈ K,
portanto

M ⊆K
Assim provamos que M é o menor subgrupo de G que contem o subconjunto S. 
Lemma 2.4. Sejam G um grupo e {Ki } um conjunto de subgrupos de G. Então
K = ∩i Ki é um subgrupo de G.
Proof. Sejam a, b ∈ K. Precisamos mostrar que
ab−1 ∈ K
Como
a, b ∈ K ⊆ Ki e Ki é um subgrupo de G
obtemos que
ab−1 ∈ Ki para cada i
Portanto
ab−1 ∈ ∩i Ki = K

Lemma 2.5. Seja G um grupo, S um subconjunto não vazio de G e H o subgrupo
de G gerado por S. Então H é a interseção de todos os subgrupos de G que contem
S.
Proof. Seja
Y = {K | K é um subgrupo de G que contem S}
Agora
N = ∩K∈Y K é um subgrupo de G que contem S
portanto
N ∈ Y e N ⊆ K para cada K ∈ Y
Portanto N é o menor subgrupo de G que contém S i.e.
H=N


Definição Seja G um grupo. Sejam g, h ∈ G. Definimos


[g, h] = g −1 h−1 gh
O subgrupo comutador de G é denotado por G0 e é o subgrupo de G gerado pelo
conjunto
{[g, h] | g, h ∈ G}
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Lemma 2.6. Seja G um grupo. Então G é um grupo abeliano se e somente se


G0 = {1G }.
Proof. 1) Suponha que G é abeliano. Então

[g, h] = g −1 h−1 gh = g −1 h−1 hg = g −1 g = 1G


Portanto neste caso o subgrupo comutador G0 é gerado por {1G }. Portanto G0 =
{1G }.
2) Suponha que G0 = {1G }. Então para cada g, h ∈ G temos que
[g, h] ∈ G0 = {1G }
Portanto
1G = [g, h] = g −1 h−1 gh
Assim
hg = hg1G = hg(g −1 h−1 gh) = h(gg −1 )h−1 gh = hh−1 gh = (hh−1 )gh = gh


Classes laterais

Definição Sejam G um grupo, g ∈ G e H um subgrupo de G.


Uma CLASSE LATERAL ( a direita) DE H EM G COM REPRESENTANTE
g é
Hg = {hg | h ∈ H}
Em geral uma classe lateral é um subconjunto de G e não precisa ser um sub-
grupo. Mas em casos especı́ficos como g ∈ H temos que Hg = H é um subgrupo
de G.
Exemplo Sejam
G = GLn (R) = {A ∈ Mn (R) | det(A) 6= 0},

H = SLn (R) = {A ∈ Mn (R) | det(A) = 1}


Então H é fechado por produto e inversa, então H é um subgrupo de G. Vamos
mostrar que
g0 ∈ Hg se e somente se det(g0 ) = det(g)
1. Se g0 = hg onde h ∈ H então
det(g0 ) = det(hg) = det(h)det(g) = 1det(g) = det(g)
2. Se det(g0 ) = det(g)
det(g0 g −1 ) = det(g)det(g0 )−1 = 1
portanto h = g0 g −1 ∈ H e assim
g0 = g0 g −1 g = hg ∈ Hg
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Lemma 2.7. Sejam G um grupo, H um subgrupo de G e g1 , g2 ∈ G. Então as


seguintes condições são equivalentes:
a) Hg1 = Hg2 ,
b) g1 g2−1 ∈ H,
c) g2 g1−1 ∈ H,
d) Hg1 ∩ Hg2 6= ∅.
Proof. a) implica d) é obvio;
d) implica c) Seja g ∈ Hg1 ∩ Hg2 . Então existem h1 , h2 ∈ H tais que
h1 g1 = g = h2 g2
Portanto
h−1 −1 −1 −1 −1 −1 −1 −1
2 h1 = h2 h1 g1 g1 = h2 (h1 g1 )g1 = h2 h2 g2 g1 = g2 g1

i.e.
g2 g1−1 = h−1
2 h1 ∈ H
A última igualdade vale pois H é um subgrupo de G.
c) implica b)
(g2 g1−1 )−1 = (g1−1 )−1 g2−1 = g1 g2−1
Como g2 g1−1 ∈ H temos que (g2 g1−1 )−1 ∈ H, portanto
g1 g2−1 = (g2 g1−1 )−1 ∈ H
b) implica a) Como g2 g1−1 = h ∈ H multiplicando a direita com g1 temos que
g2 = hg1
Portanto
Hg2 = Hhg1
Agora como H é fechado por produto
Hh ⊆ H
Como h−1 ∈ H e usando de novo que H é fechado por produto temos
Hh−1 ⊆ H
Multiplicando a direita com h obtemos
H ⊆ Hh
Portanto
Hh = H, assim Hg2 = Hhg1 = (Hh)g1 = Hg1

Corollary 2.8. Sejam G um grupo e H um subgrupo de G. Então G é uma união
disjunta de suas classes laterais a direira de H em G.
Proof. Segue da equivalência de a) e d) no Lema 2.7. 

Definição Sejam G um grupo, g ∈ G e H um subgrupo de G.


Uma CLASSE LATERAL ( a esquerda) DE H EM G COM REPRESENTANTE
g é
gH = {gh | h ∈ H}
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Lemma 2.9. Sejam G um grupo, H um subgrupo de G e g1 , g2 ∈ G. Então as


seguintes condições são equivalentes:
a) g1 H = g2 H,
b) g2−1 g1 ∈ H,
c) g1−1 g2 ∈ H,
d) g1 H ∩ g2 H 6= ∅.
Proof. A demonstração é semelhante a demonstração do Lema 2.7 
Corollary 2.10. Sejam G um grupo e H um subgrupo de G. Então G é uma união
disjunta de suas classes laterais a esquerda de H em G.
Proof. Segue da equivalencia de a) e d) no Lema 2.9. 
Lemma 2.11. Sejam G um grupo e H um subgrupo de G. Então existe uma
bijeção
θ : {Hg | g ∈ G} → {gH | g ∈ G}
dada por
θ(Hg) = g −1 H
Em particular o número de classes laterais a direita de H em G é igual ao
número de classes laterais a esquerda de H em G.
Proof. 1) Primeiro vamos mostrar que θ é bem definida i.e. não depende da escolha
do representante g da classe lateral Hg. Suponha que
Hg = Hg0
então
gg0−1 ∈ H portanto g0 g −1 = (g0−1 )−1 g −1 = (gg0−1 )−1 ∈ H.
Precisamos mostrar que
g −1 H = θ(Hg) = θ(Hg0 ) = g0−1 H
i.e. precisamos mostrar que g −1 H = g0−1 H. Isso é equivalente com
(g0−1 )−1 g −1 ∈ H
Mas
(g0−1 )−1 g −1 = g0 g −1
2) Mostramos agora que θ é uma bijeção construindo a inversa dela
µ : {gH | g ∈ G} → {Hg | g ∈ G}
definida por
µ(gH) = Hg −1
Precisamos mostrar que µ é bem-definida mas isso é feito como em parte 1).
3) Agora é fácil verificar que θ ◦ µ e µ ◦ θ são identidades.
µ ◦ θ(Hg) = µ(θ(Hg)) = µ(g −1 H) = H(g −1 )−1 = Hg,
θ ◦ µ(gH) = θ(µ(gH)) = θ(Hg −1 ) = (g −1 )−1 H = gH.

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3. Teorema de Lagrange, subgrupos normais e grupo quociente


Lemma 3.1. Sejam G um grupo, H um subgrupo de G e g ∈ G. Então os conjuntos
H, Hg e gH têm a mesma cardinalidade.
Proof. Definimos a aplicação
ν : H → Hg
dada por ν(h) = hg. Vamos verificar que ν é uma bijeção.
1) Se
ν(h1 ) = ν(h2 )
então
h1 g = h2 g
Portanto multiplicando a direita com g −1 temos que
h1 = h1 gg −1 = h2 gg −1 = h2
Entõ ν é injetivo.
2) Vamos mostrar que ν é sobrejetivo. Se t ∈ Hg então
t = hg para algum h ∈ H.
Então
t = ν(h)

3) Como ν é uma bijeção deduzimos que Hg e H tem a mesma cardinalidade i.e.


|H| = |Hg|
Deixamos como exercı́cio mostrar que
|gH| = |H|


Definição Sejam G um grupo e H um subgrupo. Então o ÍNDICE de H em G


é o número de classes laterais a direita de H em G. Este número é igual ao número
de classes laterais a esquerda de H em G e é denotado por [G : H].
Definição A ordem de um grupo G é a cardinalidade de G como conjunto. A
ordem de G é denotada por |G|.
Exemplo Seja Sn o grupo simétrico. Vamos mostrar que a ordem de Sn é
|Sn | = n!. Precisamos contar todas as permutações
ϕ : X → X, onde X = {1, 2, . . . , n}
Para ϕ(1) ∈ X temos n possibilidades,
para ϕ(2) ∈ X \ {ϕ(1)} temos n − 1 possibilidades,
...
para ϕ(i) ∈ X \ {ϕ(1), , . . . , ϕ(i − 1)} temos n − (i − 1) = n + 1 − i possibilidades,
...
para ϕ(n) ∈ X \ {ϕ(1), . . . , ϕ(n − 1)} temos n − (n − 1) = 1 possibilidade.
Em TOTAL temos 1.2...(n − 1)n = n! possibilidades i.e.
|Sn | = n!
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Theorem 3.2. (Lagrange) Sejam G um grupo FINITO e H um subgrupo. Então


|G| = |H|[G : H]
Proof. Sabemos que G é uma união disjunta de classes laterais a direita de H em
G i.e.
G = ∪1≤i≤k Hgi
onde a união é disjunta. Assim
[G : H] = k
e como |Hgi | = |H| temos que
X X
|G| = |Hgi | = |H| = |H|k = |H|[G : H]
1≤i≤k 1≤i≤k


Corollary 3.3. Sejam G um grupo finito e g ∈ G. Então |g| divide |G|.
Proof. Observamos que por definição
|g| = |{g z | z ∈ Z}| = |hgi|
Assim podemos aplicar o Teorema de Lagrange para H = hgi e
|g| = |H| é divisor de |G| = |H|[G : H]

Corollary 3.4. (Euler) Seja n ≥ 2 um número inteiro e a ∈ Z tal que M DC(a, n) =
1. Então
aϕ(n) ≡ 1 ( mod n ),
onde
ϕ(n) = |{m | 1 ≤ m < n, M DC(m, n) = 1}|
é a função de Euler.
Proof. Consideramos
G = {m | 1 ≤ m < n, M DC(m, n) = 1}
Vamos definir a seguinte operação produto em G: sejam a, b ∈ G e z = ab o produto
de a e b em Z. Como a, b ∈ G temos que
M DC(a, n) = 1 = M DC(b, n)
e portanto
M DC(z, n) = 1
onde z é produto de a e b em Z. Agora definimos uma operação binária
G×G→G
que envia (a, b) para
c0 ∈ G, onde c0 ≡ z ( mod n)
Então G é um grupo com respeito a essa operação :
1) se a, b, c ∈ G então
(ab)c = g1 ∈ G
e
a(bc) = g2 ∈ G
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onde se m = abc é o produto em Z dos inteiros a, b, c então


g1 ≡ m ( mod n), g2 ≡ m ( mod n)
Portanto n é divisor de g1 − g2 em Z mas como 1 ≤ g1 , g2 < n deduzimos que
g1 = g2
.
2) o elemento neutro dessa operaçõ binária é 1
3) se a ∈ G então pelo Lema de Bezout existem inteiros z1 , z2 ∈ Z tais que
az1 + nz2 = M DC(a, n) = 1.
Portanto
az1 ≡ 1 ( mod n).
Seja b ∈ G tal que
b ≡ z1 ( mod n)
Então para o produto c0 = ab em G temos que
c0 ≡ 1 ( mod n)
Mas como c0 , 1 ∈ G deduzimos que c0 = 1.
Por construção
|G| = ϕ(n)
Seja a ∈ G. Pelo Teorema de Lagrange
|a| divide |G| = ϕ(n)
Então por Corolário 2.2
aϕ(n) = 1G em G
i.e.
aϕ(n) ≡ 1 ( mod n)

Corollary 3.5. Seja G um grupo finito com |G| primo. Então G é um grupo
cı́clico.
Proof. Seja g ∈ G \ {1G }. Seja
H = hgi = {g z | z ∈ Z} ⊆ G
Então H é um subgrupo de G e pelo teorema de Lagrange
|H| é um divisor de |G| = primo
Observamos que 1G , g ∈ H, portanto |H| > 1. Como |G| é um número primo
obtemos que
|H| = |G|
portano G = H i.e. G é um grupo cı́clico. 
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Proposition 3.6. Sejam G um grupo e K, H subgrupos de G tais que K ⊆ H.


Então
[G : K] = [G : H][H : K]
Proof. Ecrevemos G como união disjunta e H como união disjunta
G = ∪i∈I Hgi , H = ∪j∈J Khj
Portanto
[G : H] = |I|, [H : K] = |J|
Substituindo temos
G = ∪i∈I Hgi = ∪i∈I (∪j∈J Khj )gi = ∪i∈I,j∈J Khj gi
Vamos mostrar que a última união é disjunta. Realmente se
Khj1 gi1 = Khj2 gi2
para alguns i1 , i2 ∈ I, j1 , j2 ∈ J então como
Khj1 ⊆ H, Khj2 ⊆ H
temos que
∅=6 Khj1 gi1 = Khj2 gi2 ⊆ Hgi1 ∩ Hgi2
Mas duas classes laterais a direita de H em G são iguais ou não se interceptam.
Portanto
Hgi1 = Hgi2
e assim i1 = i2 Como
Khj1 gi1 = Khj2 gi2
multiplicando a direita com gi1 = gi−1
−1
2
temos que
Khj1 = Khj2
Mas isso implica que j1 = j2 .
Portanto
G = ∪(i,j)∈I×J Khj gi
é uma união disjunta de classes laterais a direita de K em G e
[G : K] = |I × J| = |I||J| = [G : H][H : K]


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