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Estudos em Ciências Forenses

Book · November 2021


DOI: 10.29327/547247

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134 authors, including:

Keslly Cuchinski Tatiana KLAUS Sansonowicz


Universidade Luterana do Brasil Grupo Hospitalar Conceição
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Geórgia Savicki Schneider José Aderval Aragão


Universidade Luterana do Brasil Universidade Federal de Sergipe
8 PUBLICATIONS 1 CITATION 202 PUBLICATIONS 570 CITATIONS

SEE PROFILE SEE PROFILE

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ORGANIZADORES
GUILHERME BARROSO L. DE FREITAS
ROBERTA DA SILVA
Estudos em Ciências Forenses

Organizadores
Guilherme Barroso L. De Freitas
Roberta da Silva

2021
2021 by Editora Pasteur
Copyright © Editora Pasteur

Editor Chefe:

Dr Guilherme Barroso Langoni de Freitas

Corpo Editorial:

Dr. Alaércio Aparecido de Oliveira Dr Guilherme Barroso L de Freitas


Dra. Aldenora Maria X Rodrigues Dra. Hanan Khaled Sleiman
Bruna Milla Kaminski MSc. Juliane Cristina de A Paganini
Dr. Daniel Brustolin Ludwig Dr. Lucas Villas Boas Hoelz
Dr. Durinézio José de Almeida MSc. Lyslian Joelma Alves Moreira
Dr. Everton Dias D’Andréa Dra. Márcia Astrês Fernandes
Dr. Fábio Solon Tajra Dr. Otávio Luiz Gusso Maioli
Francisco Tiago dos S Silva Júnior Dr. Paulo Alex Bezerra Sales
Dra. Gabriela Dantas Carvalho MSc. Raul Sousa Andreza
Dr. Geison Eduardo Cambri Dra. Teresa Leal
MSc. Guilherme Augusto G. Martins

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


(Editora Pasteur, PR, Brasil)

FR862c FREITAS, Guilherme Barroso Langoni de.


Estudos em Ciências Forenses
/ Guilherme Barroso Langoni de Freitas - Irati: Pasteur, 2021.
1 livro digital; 183 p.; ed. I; il.

Modo de acesso: Internet


ISBN 978-65-867-0081-7
https://doi.org/10.29327/547247
1. Medicina 2. Ciências Forenses 3. Ciências da Saúde
I. Título.

CDD 610
CDU 601/618
PREFÁCIO

Este livro apresenta a produção científica de graduandos e


graduados de cursos da área da saúde que atuam direta ou
indiretamente com temas articulados às ciências forenses.
Essa produção demonstra o aumento do interesse dos
profissionais da saúde na área que tende a se consolidar por
meio de uma atuação interprofissional e intersetorial.
É clara a tendência e a necessidade de desenvolvimento da
ciência forense no Brasil, pois vivenciamos altas
prevalências e incidências de situações forenses das mais
diversas, que afetam negativamente a qualidade de vida da
população e impactam os sistemas de saúde, de assistência
social, de segurança pública e jurídico.
O fortalecimento da área forense deve se dá de forma
organizada e embasada em evidências científicas. Um livro
que objetiva demonstrar a produção científica da área da
saúde articulada a forense deve ser reconhecida e servir como
referência às outras áreas do conhecimento que juntas
possibilitam a atuação forense no Brasil.

Drª Rafaella Queiroga Souto


Enfermeira. Especialista em Enfermagem Forense.
Mestre em Saúde Pública. Doutora em Ciências da Saúde.
Pós-doutora em Enfermagem.
Professora efetiva do Departamento de Enfermagem em
Saúde Coletiva da Universidade Federal da Paraíba.
CAPÍTULO 01
MASSACRE DE SUZANO – REVISÃO DE LITERATURA PELA ÓPTICA DA
MEDICINA LEGAL ...................................................................................................... 1

CAPÍTULO 02
RELAÇÃO ENTRE CRIMES SEXUAIS E TRANSTORNOS MENTAIS NA
ÓPTICA DA PSIQUIATRIA FORENSE .................................................................. 9

CAPÍTULO 03
LEVANTAMENTO MORFOMÉTRICO DE OSSADAS HUMANAS..................18

CAPÍTULO 04
TRAUMA ANORRETAL EM VÍTIMA DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA DURANTE
A PANDEMIA DA COVID-19: RELATO DE CASO.................................................29

CAPÍTULO 05
A DOAÇÃO DE CORPOS PARA O ENSINO DA ANATOMIA HUMANA:
REVISÃO DE LITERATURA......................................................................................35

CAPÍTULO 06
UTILIZAÇÃO MORFOMETRICA DOS PONTOS NÁSIO, FRONTOZIGOMÁTICO
ORBITAL E FORA-ME INFRAORBITAL PARA DETERMINAÇÃO DO SEXO....40

CAPÍTULO 07
CIÊNCIA FORENSE: IDENTIFICAÇÃO DE PESSOAS DESAPARECIDAS E
OSSADAS ATRAVÉS DE TÉCNICAS MOLECULARES.........................................49

CAPÍTULO 08
PRÁTICAS AVANÇADAS E ENFERMAGEM FORENSE ALIADAS AO
COMBATE À VIOLÊNCIA SEXUAL CONTRA A MULHER.................................58

CAPÍTULO 09
MEDICAMENTOS UTILIZADOS PARA HOMICÍDIO POR ENVENENAMENTO
.......................................................................................................................................72

CAPÍTULO 10
ENFERMAGEM FORENSE NA EMERGÊNCIA HOSPITALAR COM FOCO NA
VIOLÊNCIA DOMÉSTI-CA: UMA REVISÃO NARRATIVA DA LITERATURA..82

CAPÍTULO 11
COCAÍNA: A NECESSIDADE CONTÍNUA DE ESTUDOS DOS TESTES RÁPIDOS
REAGENTES AOS ANALITOS DA DROGA............................................................93
CAPÍTULO 12
ATUAÇÃO DO ENFERMEIRO FORENSE FRENTE À VIOLÊNCIA DOMÉSTICA
.....................................................................................................................................107

CAPÍTULO 13
ATUAÇÃO DO ENFERMEIRO FORENSE NA COLETA E PRESERVAÇÃO DE
VESTIGIOS EM VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA SEXUAL..........................................121

CAPÍTULO 14
A MEDICINA LEGAL E A TAFONOMIA FORENSE.............................................130

CAPÍTULO 15
VIOLÊNCIA CONJUGAL ASSOCIADA A TRANSTORNOS PSIQUIÁTRICOS:
ANÁLISE DE PRONTUÁ-RIOS................................................................................138

CAPÍTULO 16
EFEITOS DO “BOA NOITE CINDERELA”............................................................. 149

CAPÍTULO 17
CONHECIMENTO DO DIMORFISMO SEXUAL BASEADO EM ESTRUTURAS
ÓSSEAS......................................................................................................................161

CAPÍTULO 18
A UTILIZAÇÃO DE PLATAFORMAS DIGITAIS COMO VEÍCULO DE ENSINO À
ENFERMAGEM FORENSE......................................................................................173

CAPÍTULO 19
O ENSINO DA ENFERMAGEM FORENSE COMO APORTE DE GARANTIA NA
PRESERVAÇÃO DE VESTÍGIOS E COLETAS EM CENAS DE CRIME..............177

ÍNDICE REMISSIVO.............................................................................................. 183


CAPÍTULO 06
UTILIZAÇÃO MORFOMETRICA
DOS PONTOS NÁSIO,
FRONTOZIGOMÁTICO
ORBITAL E FORAME
INFRAORBITAL PARA
DETERMINAÇÃO DO SEXO

JOSÉ ADERVAL ARAGÃO¹


LÚCIO FLÁVIO MAYNART DA COSTA SANTOS²
FELIPE MATHEUS SANT’ANNA ARAGÃO³
IAPUNIRA CATARINA SANT’ANNA ARAGÃO³
PAÔLA CARDOSO³
PEDRO HENRIQUE ADÁRIO MARASSI³
BÁRBARA COSTA LOURENÇO4
FRANCISCO PRADO REIS5

1Docente – Departamento de Morfologia da Universidade Federal de Sergipe.


2Discente – Estudante de Medicina da Universidade Federal de Sergipe.
3Discente – Estudante de Medicina do Centro Universitário de Volta Redonda.
4Discente – Estudante de Medicina da Faculdade de Ciências Médicas de Três Rios.
5Docente – Departamento de Medicina da Universidade Tiradentes.

Palavras-chave: Medicina legal, Antropologia Forense; Biometria; Análise para Determinação


do Sexo; Medida da Idade pelo Esqueleto.

40 | P á g i n a
Capítulo 6
Estudos em Ciências Forenses

1. INTRODUÇÃO (KIMMERLE, ROSS & SLICE, 2008). Uma


identificação do sexo feita a partir de um osso
O processo de identificação de cadáveres, a adulto, torna-se muito confiável se o esqueleto
partir de exames periciais do segmento cefálico completo estiver disponível para análise
ou de partes dele, tem sido de significante (LIMA, SILVA, & JÚNIOR, 2016). O pro-
importância para o esclarecimento de fatos de blema é que, na maioria dos cenários, apenas
interesse jurídico-social (JÚNIOR et al., 2013). algumas partes do esqueleto são recuperadas
É considerada uma das mais importantes (NIJAGUNAPPA & BIDARKO-TIMATH,
funções do perito médico e odontolegal, além 2016). Por esse motivo, tornou-se importante
de ser uma atividade complexa e vasta, no que desenvolver estudos específicos para diferentes
se refere às metodologias necessárias para partes ósseas do corpo humano.
realizá-la. Por esse motivo, é muito importante Dentre as partes mais estudadas, o crânio é
não confundir o processo de identificação com a segunda porção do esqueleto que mais se di-
o reconhecimento (JÚNIOR et al., 2015). ferencia entre os sexos, depois da pelve. É im-
A identificação é uma avaliação pericial portante salientar que essa diferenciação não é
baseada em metodologias científicas, que visa tão confiável antes do período da puberdade,
caracterizar um indivíduo, seja por meios pois o corpo humano ainda pode sofrer altera-
morfológicos ou morfométricos. Enquanto que ções, decorrentes dos hormônios e fatores am-
o reconhecimento trata-se de um procedimento bientais (LIMA, SILVA, & JÚNIOR, 2016).
empírico, baseado apenas em conhecimento O exame do dimorfismo sexual através do
prévio, cuja base de sustentação é unicamente crânio, tem sido objeto de numerosos estudos
testemunhal (FREITAS et al., 2016). morfológicos e craniométricos e bons resulta-
Morfologicamente, em geral, os crânios dos têm sido obtidos (JÚNIOR et al., 2013;
masculinos possuem estruturas mais grosseiras LIMA, SILVA, & JÚNIOR, 2016;
e ásperas, pelo fato de as inserções musculares NASCIMENTO et al., 2019).
serem mais fortes. Dentre essas estruturas, po- O objetivo deste estudo foi de analisar a uti-
dem ser citadas: a glabela, processos mastoides, lização dos pontos násio, frontozigomático or-
rebordo orbitário, extensão zigomática e rugo- bital e forame infraorbital na estimativa do sexo
sidade supra-orbital (JÚNIOR et al., 2010). e idade em crânios secos de adultos humanos.
Morfometricamente, os crânios masculinos
são, em geral, maiores que os femininos, rela- 2. MÉTODO
tando-se algumas características como a distân-
cia entre os forames condilares do osso occipi- Foram utilizados 234 crânios secos, sendo
tal (JÚNIOR et al., 2013) e diâmetro anteropos- 139 do sexo masculino e 95 do feminino, todos
terior e transverso do forame magno, além da com idade e sexo conhecidos. Os crânios foram
capacidade craniana (RADHA-KRISHNA et obtidos de acordo com a lei Nº 8501 de 1992,
al., 2012). que trata do uso de cadáveres não reclamados
A estimativa do sexo é um dos quatro pila- para uso em estudos e pesquisas. Estes crânios
res do protocolo antropológico, que consiste da pertencem ao acervo do Centro de Estudo e Pes-
análise métrica e avaliação visual das caracte- quisa em Anatomia e Antropologia Forense da
rísticas do esqueleto, do crânio ou da pelve Universidade Tiradentes, em Aracaju - Sergipe.

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Capítulo 6
Estudos em Ciências Forenses

Foram incluídos na pesquisa todos os crânios de 95% de confiança, além de curvas ROC (Recei-
indivíduos com idade acima de 20 anos, e ex- ver Operating Curve) e estimada área abaixo da
cluídos aqueles que apresentavam qualquer tipo curva ROC e seus respectivos intervalos com
de dano, ou variações anatômicas relacionadas 95% de confiança. Foi estimado o efeito com-
à região do estudo. Foram realizadas as medidas binado das medidas por meio de regressão lo-
das distâncias entre os pontos násio e forame in- gística. Foram calculadas correlações de Spear-
fraorbital (FIO); násio e sutura frontozigomá- man para avaliar o poder preditivo das medidas
tica orbital (ZO) e FIO e ZO, a partir das quais do crânio e a idade. O software utilizado foi o
calculou-se uma área triangular (AT) formada R Core Team 2020 (Versão 4.0.4) e o nível de
por esses pontos. Todas as medidas foram obti- significância adotado foi de 5%.
das utilizando um paquímetro digital de preci-
são de 0,05mm. 3. RESULTADOS
A análise estatística foi a seguinte: as variá-
veis contínuas foram descritas por meio de mé- Dos 237 crânios analisados, três foram ex-
dia, mediana, desvio padrão e intervalo inter- cluídos por conta da idade, um possuindo 11
quartil. A hipótese de aderência das variáveis anos, e dois com idade de 18 anos. A partir dos
contínuas e a distribuição normal foi testada por 234 crânios restantes, foram realizadas estatís-
meio do teste de Shapiro-Wilks. Uma vez que ticas descritivas das variáveis, através do cál-
essa não foi verificada, a hipótese de igualdade culo da média, mediana, desvio padrão e inter-
de medianas foi testada por meio do teste de valo interquartil. Os valores de média e medi-
Mann-Whitney. Na análise de acurácia diag- ana foram maiores nos homens do que nas mu-
nóstica, foram estabelecidos pontos de corte por lheres, com exceção da distância do FIO até
meio do índice de Youden, que busca determi- ZO, que apresentou igualdade entre os sexos.
nar pontos com máxima sensibilidade e especi- Concomitantemente, o teste de Mann-Whitney
ficidade. Para caracterizar estes pontos foram indicou que a variável mais distinta entre os se-
estimados: sensibilidade, especificidade, valor xos foi a distância entre o násio e a ZO, sendo p
preditivo positivo e negativo, razão de chances < 0,001 (Tabela 6.1).
diagnósticas e seus respectivos intervalos com

Tabela 6.1 Descrição e comparação das medidas cefalométricas entre os sexos

Feminino Masculino

Média (DP) Mediana (IIQ) Média (DP) Mediana (IIQ) p-valor


FIO-ZO 35,4 (3,5) 36,2 (34,1-37,5) 35,7 (3,3) 36,3 (34,3-37,7) 0,556
FIO-Násio 42,3 (3,9) 42,3 (40,3-45,2) 44,0 (4,2) 44,3 (41,5-47,1) 0,001
ZO-Násio 50,1 (3,3) 50,6 (48,6-52,3) 51,9 (3,8) 52,2 (50,0-54,7) <0,001
Área do Triân-
738,0 (116,0) 753,9 (677,1-814,6) 775,3 (122,8) 785,6 (721,6-856,7) 0,011
gulo

Legenda: DP – Desvio Padrão. IIQ – Intervalo Interquartil. Teste de Mann-Whitney.

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Capítulo 6
Estudos em Ciências Forenses

Os valores estatisticamente descritos foram tificados pontos de máxima sensibilidade e es-


então submetidos a uma análise de acurácia di- pecificidade, sendo calculados o valor preditivo
agnóstica, na tentativa de estimar o sexo e a positivo (VPP) e o valor preditivo negativo
idade a partir deles. Para cada variável foi cons- (VPN), que indicam a capacidade de identificar
truído um gráfico da curva ROC, cuja área um crânio como sendo do sexo masculino ou
abaixo da curva indica a capacidade que a vari- feminino, respectivamente. Os resultados mos-
ável possui de predizer o sexo de um crânio des- tram a distância ZO - násio como a variável
conhecido. Os resultados obtidos foram os se- mais discriminativa entre os sexos, sendo o seu
guintes: distância FIO - ZO (52,3%), distância VPP = 74,5% e o seu VPN = 53,1%. Ao passo
FIO - násio (62,6%), distância ZO - násio (66%) em que também é constatado um melhor de-
e área do Triângulo (59,8%), apontando a dis- sempenho das variáveis na estimativa do sexo
tância ZO - násio como a melhor variável para nos crânios masculinos do que nos femininos,
esse método, como indica a Figura 6.1. Além como está expresso na Tabela 6.2.
disso, por meio do teste de Youden, foram iden-

Figura 6.1 Desempenho das variáveis por meio do gráfico da curva ROC

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Capítulo 6
Estudos em Ciências Forenses

Tabela 6.2 Desempenho das variáveis na estimativa do sexo, por meio da AUC, VPP e VPN
Área do
Masculino/Feminino FIO-ZO FIO-Násio ZO-Násio Efeito combinado
Triângulo
Ponto de corte (cm) 37,1 43,0 51,9 796,57 0,651
AUC 0,52 0,63 0,66 0,60 0,67
(IC95%) (0,45-0,60) (0,55-0,70) (0,59-0,73) (0,53-0,67) (0,60-0,74)
Sensibilidade (%) 35,2 64,0 56,8 46,1 56,1
Especificidade (%) 71,6 56,8 71,7 71,6 72,6
VPP (%) 64,5 68,5 74,5 70,3 75,0
VPN (%) 43,0 51,9 53,1 47,5 53,1
RCD 1,37 2,34 3,32 2,15 2,67
(IC95%) (0,78-2,41) (1,37-4,00) (1,90-5,79) (1,23-3,75) (1,54-4,68)
Youden 0,068 0,209 0,284 0,176 0,287

Legenda: AUC – Área abaixo da curva. IC95% – Intervalo com 95% de confiança. VPP – Valor preditivo positivo. VPN – Valor
preditivo negativo. RCD – Razão de Chance Diagnóstica. IC95% - Intervalo com 95% de Confiança.

Visando melhorar o desempenho das variá- Tabela 6.4 Desempenho do efeito combinado
veis na estimativa do sexo, combinou-se o mé- na estimativa do sexo
todo de regressão logística com o cálculo da Masculino/Feminino Efeito combinado
Ponto de corte (cm) 0,651
curva ROC, a partir da construção de uma equa-
AUC 0,67
ção característica, demonstrada na Tabela 6.3. (IC95%) (0,60-0,74)
As medidas foram avaliadas e comparadas com Sensibilidade (%) 56,1
Especificidade (%) 72,6
os pontos de corte. Valores acima do ponto de VPP (%) 75,0
corte combinado, indicam que o crânio é do VPN (%) 53,1
RCD 2,67
sexo masculino. Caso contrário, indica que o
(IC95%) (1,54-4,68)
crânio é do sexo feminino. A análise diagnós- Youden 0,287
tica combinada da variável ZO - násio apresen- Legenda: AUC – Área abaixo da curva. IC95% – Inter-
valo com 95% de confiança. VPP – Valor preditivo positivo.
tou o melhor desempenho, resultando em um VPN – Valor preditivo negativo. RCD – Razão de Chance Di-
valor preditivo positivo de 75% e um valor pre- agnóstica. IC95% - Intervalo com 95% de Confiança.
ditivo negativo de 53,1%, verificando-se uma Além disso, também foi calculada a área
ligeira melhoria do desempenho para crânios abaixo da curva para o efeito combinado, que
masculinos, enquanto que para crânios femini- resultou em uma capacidade preditiva de 67%,
nos não houve diferença, como se vê na Tabela indicando um aumento de 1 ponto percentual,
6.4. como demonstrado na Figura 6.2.

Tabela 6.3 Equação característica


Área do Pontos de
Condição Intercepto FIO-ZO FIO-Násio ZO-Násio
Triângulo corte
≥ -0,12982 0,46622 1,02308 0,02826
-0,26994 0,6515769
< 0 0 0 0

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Capítulo 6
Estudos em Ciências Forenses

Figura 6.2 Avaliação do efeito combinado na curva ROC

As variáveis não apresentaram correlação tornando inviável estimá-la, como representa a


com a idade, pois apresentaram-se dispersas, Figura 6.3.

Figura 6.3 Correlação entre as medidas e idade

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Capítulo 6
Estudos em Ciências Forenses

4. DISCUSSÃO A partir dessas medidas, conduziu-se uma


estatística descritiva, observando-se que as me-
A estimativa do sexo é um dos quatro pila- didas tendem a ser maiores no sexo masculino
res do protocolo utilizado na antropologia, além do que no feminino, o que está de acordo com
de, dentre os diferentes parâmetros, ser consi- os estudos realizados por MOODLEY et al.
derada o principal critério para estabelecer a (2019) e FREITAS et al. (2016), onde constata-
singularidade de um indivíduo. A identificação ram a influência do dimorfismo sexual nas dis-
do sexo pode ser feita a partir da análise visual tâncias entre os pontos cefalométricos descri-
do esqueleto, do crânio ou da pelve tos.
(KIMMERLE et al., 2008; SIVA-KUMAR et Com relação a aplicação das variáveis em
al., 2020). métodos para a predição do sexo, os pontos de
Dentre as partes do esqueleto que possibili- corte foram estabelecidos pelo índice de You-
tam esse estudo, o crânio é a segunda melhor den, visando obter a melhor sensibilidade e es-
porção para realizar a estimativa do sexo em um pecificidade das medidas, que indicou a variá-
cadáver adulto, logo após a pelve. Visto isso, vel ZO - násio como a mais adequada. Os resul-
quando se deseja discriminar o sexo de um ca- tados obtidos por meio da curva ROC (66%),
dáver por intermédio da porção cefálica, exis- valor preditivo positivo para homens (74,5%) e
tem dois métodos disponíveis: o qualitativo ou valor preditivo negativo para mulheres
morfológico e o quantitativo ou morfométrico (53,1%), indicam que o uso das medidas descri-
(JUNIOR et al., 2010). tas teve significância na identificação do sexo.
A maioria dos estudos relacionados à inves- Além disso, é possível observar melhores índi-
tigação do sexo que utilizam a porção cefálica ces no sexo masculino do que no sexo feminino,
do crânio, são de caráter morfológico, sendo diferente do que aconteceu no estudo de
bastante estudadas as características como: FREITAS et al. (2016), que utilizaram as mes-
seios frontais, dentes, glabela, forma do mento, mas variáveis e relataram um índice de acertos
processos mastoides e articulação frontonasal. de 60,43% para o sexo masculino e 64,89%
Todavia, com relação as variáveis quantitativas, para feminino.
visando melhorar a segurança de critérios na Também foi realizada a regressão logística,
hora de identificar o sexo, são utilizadas medi- combinada com o cálculo da curva ROC, ge-
das entre pontos pré-estabelecidos rando um efeito combinado que forneceu um
(NASCIMENTO et al., 2019). VPP para o sexo masculino de 75% e um VPN
No presente estudo, optou-se pelo método para o feminino de 53,1%, que pode ser compa-
quantitativo, pois fornecem valores matemáti- rado com os resultados de NIDUGALA et al.
cos que são analisados estatisticamente, o que, (2013), estudando 80 crânios de uma população
portanto, contribui para a minimização de erros sul indiana, usando a amplitude bizigomática,
de origem observacional, de interpretação pes- obteve um valor de 62,5% para o sexo mascu-
soal e deformações anatômicas. Dessa forma, lino e 75% para o feminino em cálculos de fun-
foram mensuradas as distâncias entre os pontos ção discriminante. Já LIMA, SILVA, &
násio e FIO, násio e ZO e FIO e ZO, bem como JÚNIOR (2016), em seu estudo, obteve um re-
também a área do triângulo formado por elas. sultado de 71,3%, por meio de regressão logís-
tica na predição do sexo.

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Capítulo 6
Estudos em Ciências Forenses

Em relação à predição da idade, as medidas 5. CONCLUSÃO


do presente estudo não apresentaram correla-
ção, o que impossibilitou a realização da regres- A partir dos resultados encontrados, é pos-
são linear múltipla. JÚNIOR et al. (2013) tam- sível concluir que existe uma diferença entre os
bém não obteve um valor de significância a par- sexos quanto ao tamanho das medidas, sendo
tir do estudo de distâncias interforaminais, em maiores no sexo masculino do que no feminino,
160 crânios secos de adultos, sendo o valor de com exceção, apenas, da distância entre o FIO
p = 0,1121. Contudo, a partir do estudo de ossos e a ZO, que foi igual entre os sexos. Já a distân-
occipitais, NASCIMENTO et al., 2019 estabe- cia entre os pontos násio e ZO obteve o melhor
leceram uma equação que apresentou signifi- desempenho na predição do sexo, sendo de 75%
cância na predição da idade, utilizando como para homens e 53,1% para mulheres. O que in-
variáveis a distância entre os forames condila- dica, também, a viabilidade das variáveis traba-
res e uma área triangular formada pelos dois fo- lhadas nesse estudo para estimar com precisão
rames condilares e o básio, sendo o valor de p o sexo de um cadáver desconhecido. Além
= 0,0105. disso, tendo em vista os métodos estatísticos
Dessa forma, os resultados obtidos por meio utilizados, os crânios masculinos demonstraram
dos métodos estatísticos permitem inferir que um melhor desempenho nessa tarefa, sendo que
os pontos cefalométricos, násio, FIO, ZO e a outros estudos que tomaram mão da análise dis-
área triangular formada, são potencialmente ca- criminante, obtiveram o melhor desempenho no
pazes de estimar com sucesso o sexo de indiví- sexo feminino. Por fim, não havendo correlação
duos desconhecidos, bem como as suas distân- entre a idade e as variáveis abordadas, não foi
cias apresentam diferenças entre os sexos. To- possível estimá-la e, portanto, recomenda-se a
davia, não apresentaram correlação com a utilização de outros pontos que já estão descri-
idade, o que impossibilitou a sua estimativa, po- tos na literatura.
dendo ser utilizados outros pontos descritos na
literatura para realização dessa atividade.

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Capítulo 6
Estudos em Ciências Forenses

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

FREITAS, B. et al. Utilização dos pontos násio, MOODLEY, M. et al. The Morphometry and
frontozigomático orbital e forame infraorbital na Morphology of the Foramen Magnum In Age And Sex
estimativa do sexo e idade em crânios secos de adultos. Determination Within The South African Black
Anais 2016: 18ª Semana de Pesquisa da Universidade Population Utilizing Computer Tomography (CT) Scans.
Tiradentes. “A prática interdisciplinar alimentado a International Journal of Morphology, vol. 37, n. 1, p.
Ciência”. n. 18, p. 1-4, 2016. [Apresentado no 18ª 251-257, 2019.
Semana de Pesquisa da Universidade Tiradentes; 2016
Out 24-28; Aracaju, BR]. NASCIMENTO, B et al. Investigação do Sexo e Idade
através de Mensurações em Ossos Occipitais de Crânios
JÚNIOR, E. et al. Investigação do sexo através de uma Secos de Adultos. Brazilian Journal of Forensic
área triangular facial formada pela interseção dos pontos: Sciences, Medical Law and Bioethics, vol. 8, n. 4, p.
forame infraorbital direito, esquerdo e o próstio, em 178-187, 2019.
crânios secos de adultos. Revista de Ciências Médicas e
Biológicas, v. 9, Supl 1, p. 8-12, 2010. NIDUGALA, H. et al. Sexual dimorphism of the
craniofacial region in a South Indian population.
JÚNIOR, E. et al. Investigação do sexo e idade por meio Singapore Medical Journal, vol. 54, n. 8, p. 458-462,
de mensurações interforames em crânios secos de 2013.
adultos. Revista de Ciências Médicas e Biológicas, v.
12, n. 1, p. 55-56, 2013. NIJAGUNAPPA, N & BIDARKOTIMATH, S.
Determination of sex using morphometry of foramen
JUNIOR, E. et al. Estimativa do sexo e idade por meio magnum in south indian population. Journal of
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