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2014
Aos nossos alunos.
SUMÁRIO
Capa
Folha de rosto
Dedicatória
Apresentação
Expediente
Capítulo 2
Capítulo 3
DESPESAS PÚBLICAS
3.1 Considerações gerais
3.2 Classificações
3.2.1 Despesas ordinárias e extraordinárias
3.2.2 Despesas orçamentárias e extraorçamentárias
3.2.3 Despesas correntes e despesas de capital
3.2.3.1 Despesas correntes
3.2.3.2 Despesas de capital
3.3 Estágios da despesa pública
3.3.1 Empenho
3.3.2 Liquidação
3.3.3 Ordenamento
3.3.4 Pagamento
3.3.4.1 Regime de adiantamento de despesa
3.4 Despesas públicas na Lei de Responsabilidade Fiscal
3.4.1 Requisitos para geração de despesas
3.4.1.1 Criação, expansão e aperfeiçoamento da ação governamental
3.4.1.2 Despesas obrigatórias de caráter continuado
3.4.2 Despesas de pessoal
3.4.2.1 Conceito de despesa com pessoal
3.4.2.2 Limites globais e específicos de gasto com pessoal
3.4.2.3 Respeito aos limites com despesa de pessoal
3.4.3 Despesas com seguridade social – Art. 24 da LRF
3.4.4 Transferência voluntária – Art. 25 da LRF
3.4.5 Destinação de recursos públicos para o setor privado – Art. 26
da LRF
Capítulo 4
RECEITAS PÚBLICAS
4.1 Considerações gerais
4.2 Evolução histórica e métodos de obtenção das receitas públicas
4.3 Classificações
4.3.1 Receitas originárias e derivadas
4.3.2 Ingressos e receitas públicas
4.3.3 Classificação legal das receitas públicas – Lei nº 4.320/1964
4.3.3.1 Receitas orçamentárias e extraorçamentárias
4.3.3.2 Receitas correntes e receitas de capital
4.4 Estágios da receita pública
4.4.1 Previsão
4.4.2 Lançamento
4.4.3 Arrecadação (recolhimento)
4.5 Receitas públicas na Lei de Responsabilidade Fiscal
4.6 Repartição das receitas tributárias entre os entes federativos
4.6.1 Repartição das receitas tributárias da União em prol dos
Estados e Distrito Federal
4.6.1.1 Imposto sobre a renda retido na fonte
4.6.1.2 Imposto residual de competência federal
4.6.1.3 IPI – Exportação
4.6.1.4 Cide Combustíveis
4.6.1.5 IOF Ouro
4.6.1.6 Fundo de Participação dos Estados e Distrito Federal (FPE)
4.6.2 Repartição das receitas tributárias da União em prol dos
Municípios
4.6.2.1 Imposto sobre a renda retido na fonte
4.6.2.2 Imposto Territorial Rural
4.6.2.3 IOF Ouro
4.6.2.4 Fundo de Participação dos Municípios (FPM)
4.6.2.4.1 FPM Capitais
4.6.2.4.2 FPM Interior
4.6.2.4.3 FPM Reserva
4.6.3 Repartição das receitas tributárias dos Estados em prol de seus
Municípios
4.6.3.1 Cotas-partes do ICMS
4.6.3.2 Repartição da parcela do IPI recebida pelos Estados
4.6.3.3 Repartição do IPVA
4.6.3.4 Repartição da Cide Combustíveis
4.6.4 Fundos de desenvolvimento regional
4.6.5 FUNDEB e cotas da contribuição do salário-educação
4.6.6 Demais regras constitucionais sobre o tema
4.7 Participações governamentais e compensações financeiras pela
exploração de recursos naturais
4.7.1 Previsão constitucional e natureza jurídica
4.7.2 Espécies de participação no resultado da exploração de
recursos naturais
4.7.3 Exploração e produção de petróleo e gás natural – Regime
regulador misto. Regime de concessão e regime de partilha da
produção
4.7.4 Participações governamentais na exploração de petróleo e gás
natural
4.7.4.1 Bônus de assinatura
4.7.4.2 Pagamentos pela ocupação/retenção de área
4.7.4.3 Royalties nos contratos sob o regime de concessão. Base de
cálculo e alíquota, divisão de sua arrecadação entre os entes
federativos e restrições quanto à sua destinação
4.7.4.4 Nova regra de destinação obrigatória dos royalties para a
educação e para a saúde públicas (Lei nº 12.858/2013)
4.7.4.5 Participações especiais. Normas de apuração e divisão de sua
arrecadação entre os entes federativos
4.7.4.6 As distorções da divisão dos royalties segundo as Leis nº
7.990 e nº 9.478 e seu agravamento com a exploração dos recursos
do pré-sal
4.7.4.7 Nova divisão dos royalties e participações especiais entre os
entes federativos (Lei nº 12.734/2012). Veto presidencial derrubado
no Congresso e medida cautelar deferida pelo Supremo Tribunal
Federal, suspendendo os efeitos da nova divisão
4.7.4.8 Royalties nos contratos de partilha da produção. Vácuo
legislativo atual quanto às regras para sua divisão entre os entes
federativos
4.7.5 Compensação financeira pela exploração de recursos minerais
(CFEM)
Capítulo 5
CRÉDITO PÚBLICO
5.1 Considerações gerais
5.2 Sistema de crédito público
5.3 Crédito público no Brasil
5.4 Considerações sobre endividamento público e classificação da
dívida pública
5.4.1 Dívida fundada e dívida flutuante
5.4.1.1 Precatórios judiciais
5.4.1.2 Restos a pagar
5.4.1.3 Serviços da dívida a pagar
5.4.1.4 Depósitos e débitos de tesouraria
5.4.2 Dívida mobiliária e dívida contratual
5.4.3 Dívida interna e dívida externa
5.5 Crédito público na Lei de Responsabilidade Fiscal
Capítulo 6
ORÇAMENTO PÚBLICO
6.1 Considerações gerais
6.2 Leis orçamentárias
6.2.1 Natureza jurídica
6.2.1.1 Orçamento autorizativo e orçamento impositivo
6.2.2 Plano Plurianual (PPA)
6.2.3 Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO)
6.2.4 Lei Orçamentária Anual (LOA)
6.2.4.1 Elaboração da lei orçamentária
6.2.4.1.1 Veto absoluto impeditivo de despesas autorizadas no
orçamento
6.3 Princípios orçamentários
6.3.1 Princípio da unidade
6.3.1.1 Fundos especiais
6.3.2 Princípio da universalidade
6.3.3 Princípio da exclusividade
6.3.4 Princípio da anualidade
6.3.5 Princípio da vedação de estorno
6.3.6 Princípio da programação
6.3.7 Princípio da clareza
6.3.8 Princípio da publicidade
6.3.9 Princípio do equilíbrio orçamentário
6.3.10 Princípio da não afetação
6.3.10.1 Repartição do produto de arrecadação de impostos
6.3.10.2 Ações e serviços públicos de saúde
6.3.10.3 Manutenção e desenvolvimento do ensino
6.3.10.4 Realização de atividades da administração tributária
6.3.10.5 Prestação de garantias às operações de créditos por
antecipação de receita
6.3.10.6 Prestação de garantia ou contragarantia à União por parte
dos Estados e Municípios
6.3.10.7 Programa de apoio à inclusão e promoção pessoal
6.3.10.8 Fundo estadual de fomento à cultura
6.3.10.9 Desvinculação da Receita da União (DRU)
Capítulo 7
Capítulo 2
Divisão do tributo em espécies
2.1 Apontamentos para a divisão do tributo em espécies
2.2 A insuficiência do fato gerador como baliza única para a divisão
do tributo em espécies
2.2.1 A legitimidade do poder de tributar na conjuntura do Estado
Democrático de Direito e a importância da destinação constitucional
2.2.2 A importância assumida pela destinação constitucional do
produto da arrecadação
2.3 Interdependência entre ingressos e gastos públicos – Noção
básica para a definição das espécies tributárias
2.4 As funções constitucionais específicas dos tributos
2.4.1 Os distintos objetivos buscados pelo legislador com a
imposição dos tributos
2.5 Redução do tributo a espécies
2.5.1 A identificação da espécie por meio da análise da norma
tributária
Capítulo 3
TÍTULO II – O DIREITO
TRIBUTÁRIO NA CONSTITUIÇÃO
FEDERAL
Capítulo 1
Competência tributária
1.1 Características da competência tributária
1.2 Outorga e repartição das competências tributárias
1.3 Regras para o exercício das competências tributárias
1.4 Observância da lei complementar de normas gerais como
condição prévia ao exercício da competência tributária
Capítulo 2
Legislação tributária
1.1 Fontes formais do direito tributário
1.2 Regulamentação da reserva de lei em matéria tributária – Art. 97
do CTN
1.3 O art. 98 do CTN e os tratados internacionais para evitar a dupla
tributação da renda e do capital
1.3.1 Noções introdutórias sobre o direito dos tratados
1.3.2 Os tratados internacionais e sua relação com o direito interno –
Jurisprudência tradicional do STF e sua recente alteração
1.3.3 A recente mudança jurisprudencial no que diz respeito ao
status hierárquico dos tratados sobre direitos humanos
1.3.4 O artigo 98 do Código Tributário Nacional e a jurisprudência
do STF
1.4 Normas complementares e proteção da confiança do contribuinte
1.5 Vigência e aplicação da legislação tributária
1.5.1 Aplicação imediata da legislação a fatos geradores futuros e
pendentes – A regra do art. 105 do CTN e suas possíveis
compreensões
1.5.2 Aplicação retroativa da lei sancionadora mais benigna (art.
106, II, do CTN)
1.5.3 Aplicação retroativa de lei expressamente interpretativa (art.
106, I, do CTN) e o caso da LC nº 118/2005
1.6 Interpretação e integração do direito e da legislação tributária
1.6.1 Em que consiste o ato de interpretar e aplicar o direito?
1.6.2 O direito tributário deve ser interpretado como qualquer outro
ramo do direito?
1.6.3 Análise das normas do CTN sobre interpretação e integração
do direito tributário – Arts. 108 a 112
Capítulo 2
A relação jurídico-tributária
2.1 Obrigação tributária
2.2 Fato gerador da obrigação tributária
2.2.1 Modalidades de fato gerador
2.2.2 Dissimulação da ocorrência do fato gerador – A norma do art.
116, parágrafo único, do CTN e o combate aos planejamentos
tributários abusivos no direito brasileiro
2.2.2.1 Os conceitos de elisão, evasão e elusão tributária
2.2.2.2 Elusão tributária, normas gerais, fraude à lei e abuso do
direito
2.2.2.3 Breve síntese sobre a evolução histórica do combate à elusão
tributária no Brasil – Do Anteprojeto de Código Tributário Nacional
à LC nº 104/2001
2.2.2.4 O conceito amplo e causalista de simulação como a efetiva
norma geral antielusão em vigor no ordenamento brasileiro
2.2.2.5 Conclusão
2.2.3 Fato gerador da obrigação tributária e atos ilícitos
2.3 Sujeição ativa
2.4 Sujeição passiva – Contribuinte e responsável
2.4.1 Sujeição passiva direta
2.4.1.1 Contribuinte
2.4.1.2 Responsável por substituição
2.4.2 Sujeição passiva indireta
2.4.2.1 Responsabilidade dos sucessores
2.4.2.2 Responsabilidade de terceiros
2.4.2.3 O artigo 135 do Código Tributário Nacional e sua
interpretação/aplicação pelo Superior Tribunal de Justiça
2.4.3 Convenções particulares e sujeição passiva
2.5 Solidariedade
2.6 Responsabilidade por infração
2.6.1 Exclusão da responsabilidade – Denúncia espontânea e seus
efeitos
Capítulo 3
Crédito tributário
3.1 Constituição do crédito tributário – A figura do lançamento
3.1.1 Antecipação do pagamento e lançamento por homologação
3.1.2 Formalização do crédito tributário pelo próprio contribuinte
3.1.3 Outros aspectos do lançamento
3.1.4 Revisão/alteração do lançamento
3.1.4.1 Alteração do critério jurídico do lançamento
3.2 Suspensão da exigibilidade do crédito tributário
3.2.1 Moratória
3.2.2 Depósito do montante integral
3.2.3 Reclamações e recursos administrativos, nos termos das leis
reguladoras do processo tributário administrativo
3.2.4 Concessão de medida liminar ou tutela antecipada em ações
judiciais
3.2.5 Parcelamento
3.3 Extinção do crédito tributário
3.3.1 Pagamento
3.3.1.1 Consignação em pagamento
3.3.1.2 Pagamento indevido e a sua restituição
3.3.1.2.1 Restituição de tributos indiretos
3.3.1.2.2 Prazo para pleitear a devolução do indébito
3.3.2 Compensação
3.3.3 Transação
3.3.4 Remissão
3.3.5 Decadência e prescrição
3.3.6 Outras hipóteses de extinção do crédito tributário
3.4 Exclusão do crédito tributário
3.4.1 Isenção
3.4.2 Anistia
3.5 Garantias do crédito tributário
3.5.1 Preeminências
3.5.2 Criação de garantias específicas
Capítulo 4
Administração tributária
4.1 Fiscalização
4.2 Dívida ativa
4.3 Certidões negativas
Referências
Ficha catalográfica
Sobre os Autores
APRESENTAÇÃO
Conselho Editorial
Adilson Abreu Dallari
Alécia Paolucci Nogueira Bicalho
Alexandre Coutinho Pagliarini
André Ramos Tavares
Carlos Ayres Britto
Carlos Mário da Silva Velloso
Cármen Lúcia Antunes Rocha
Cesar Augusto Guimarães Pereira
Clovis Beznos
Cristiana Fortini
Dinorá Adelaide Musetti Grotti
Diogo de Figueiredo Moreira Neto
Egon Bockmann Moreira
Emerson Gabardo
Fabrício Motta
Fernando Rossi
Flávio Henrique Unes Pereira
Floriano de Azevedo Marques Neto
Gustavo Justino de Oliveira
Inês Virgínia Prado Soares
Jorge Ulisses Jacoby Fernandes
Juarez Freitas
Luciano Ferraz
Lúcio Delfino
Marcia Carla Pereira Ribeiro
Márcio Cammarosano
Marcos Ehrhardt Jr.
Maria Sylvia Zanella Di Pietro
Ney José de Freitas
Oswaldo Othon de Pontes Saraiva Filho
Paulo Modesto
Romeu Felipe Bacellar Filho
Sérgio Guerra
DIREITO FINANCEIRO E
FINANÇAS PÚBLICAS
CAPÍTULO 1
ESTADO E ATIVIDADE
FINANCEIRA
DESPESAS PÚBLICAS
3.2 Classificações
As despesas públicas podem ser classificadas por diversos
critérios. Neste estudo, basta alusão aos critérios encontrados nas
disposições legislativas que tratam quem mais comumente se dedica
ao tema.
3.3.1 Empenho
O empenho é ato administrativo emanado da autoridade
competente que cria para o Estado obrigação de pagamento,
pendente ou não de implemento de condição (art. 58 da Lei nº
4.320/64). A referida norma deve ser interpretada cum grano salis,
uma vez que, em verdade, o empenho não cria de per se a obrigação
de pagamento, mas garante que a despesa a ser efetuada pelo Poder
Público contará com a necessária cobertura orçamentária.
Empenhada a despesa, não existe ainda obrigação de pagamento,
senão o registro contábil orçamentário da baixa, no respectivo item
orçamentário, da quantia necessária à satisfação do débito.
Logo, o empenho é um ato de certificação, isto é, de
reconhecimento da obrigação assumida pelo Poder Público. Não
gera impacto na relação obrigacional travada entre o Estado e o
particular, uma vez que não tem, por si só, aptidão de criar,
modificar ou extinguir a obrigação assumida.
Nos termos da jurisprudência do STJ, a despesa pública deve ser
sempre antecedida de empenho (art. 60 da Lei nº 4.320/64), que é o
ato contábil-financeiro pelo qual se destaca uma parcela ou a
totalidade da disponibilidade orçamentária para atender à despesa
que se pretende realizar. Após o empenho, a Administração firma o
contrato de aquisição de serviço ou de fornecimento de bens. O
empenho não cria obrigação de pagamento. O Estado não pode
pagar por serviço não prestado ou por mercadoria não entregue
apenas porque houve empenho da despesa. Por outro lado, é
impossível iniciar o prazo prescricional de cobrança a partir do
empenho, pela simples razão de que o contrato ainda não foi
adimplido.75
O empenho encerra função acautelatória, uma vez que destaca e
reserva, na dotação orçamentária própria, uma quantia para o
pagamento futuro de obrigações específicas, assumidas pelo poder
público por meio de lei, contratos e instrumentos congêneres. Além
disso, o empenho serve de base para a liquidação da despesa e
contribui para assegurar a validade dos contratos, convênios e outros
ajustes financeiros, mediante sua indicação obrigatória em uma das
cláusulas essenciais desses termos.
A partir da análise dos arts. 59 e 60 da Lei nº 4.320/64, é
possível extrair as seguintes regras relativas ao empenho: a) o
empenho da despesa não poderá exceder o limite da dotação
orçamentária concedida; b) é vedada a realização de despesa sem
prévio empenho.
Verifica-se, portanto, a necessidade de que o empenho seja
prévio à realização da despesa, conforme determina o art. 60 da Lei
nº 4.302/64. É comum o entendimento de que a despesa realizada
sem prévio empenho é irregular e de responsabilidade do ordenador.
Esta orientação deve ser entendida com cautela, porque a
ausência do prévio empenho, embora possa ser considerada
irregularidade administrativa, nem sempre levará à responsabilidade
civil do agente público, se comprovado que o dispêndio reverteu em
benefício do Poder Público.
Nesse sentido, a Primeira Turma do STJ possui precedentes no
sentido de que considerar-se-á mera irregularidade administrativa (e
não ato de improbidade administrativa) a realização de pagamentos,
sem a efetivação dos prévios respectivos empenhos, se a
contraprestação em favor do Poder Público tiver sido cumprida.76
O empenho pode ser de três tipos: a) empenho ordinário, b)
empenho global e c) empenho por estimativa. O primeiro volta-se
para a cobertura das despesas com montante previamente conhecido
e cujo pagamento deva ocorrer de uma só vez. O empenho global
busca o atendimento das despesas com montante previamente
conhecido, mas de pagamento parcelado e protraído no tempo. O
empenho por estimativa tem como escopo acolher despesas de valor
não previamente identificado.
Nos termos do art. 61 da Lei nº 4.320/64, para cada empenho é
emitido um documento denominado “nota de empenho”, que
indicará o nome do credor, a especificação e a importância da
despesa, bem como a dedução desta do saldo da dotação própria.
Em regra, para cada empenho deve ser gerada a respectiva nota.
Admite-se que a legislação específica preveja hipóteses de dispensa
da emissão da nota de empenho, nos termos do art. 60, §1º, da Lei nº
4.320/64.
Caldas Furtado explicita que, em termos práticos, não há
dispensa de emissão de nota de empenho, pois os entes políticos
utilizam sistemas informatizados na administração financeira e
orçamentária (SIAF no âmbito federal) que empregam a nota de
empenho como instrumento necessário para o cumprimento da
ordem de empenho. Trata-se tão somente da dispensa da confecção
do documento nota de empenho, e não da realização do empenho
em si, uma vez que os referidos atos não se confundem.77
O dever de emissão de nota de empenho não é absoluto,
comportando as hipóteses de dispensa, como as do art. 4º do
Decreto-Lei nº 1.875/81: a) despesas relativas a pessoal e encargos;
b) contribuição para o PASEP; c) amortização, juros e serviços de
empréstimos e financiamentos obtidos; d) despesas relativas a
consumo de água e energia elétrica, utilização de serviços de
telefone, postais e telégrafos e outros que vierem a ser definidos por
atos normativos próprios; e) despesas provenientes de transferência
por força de mandamento das Constituições Federal, Estaduais e de
Leis Orgânicas de Municípios, e da execução de convênios, acordos
e ajustes, entre entidades de direito privado das quais façam parte
como acionistas.
A jurisprudência pátria reconhece que a nota de empenho
encerra natureza jurídica de título extrajudicial, dotada de liquidez,
certeza e exigibilidade, consubstanciando, portanto, documento
idôneo para fundamentar ação de execução contra o poder público,78
uma vez que suficiente para comprovar a existência da dívida, ou
seja, o inadimplemento do poder público.79
Por outro lado, o mesmo Tribunal reconhece que em hipóteses
de contratação irregular (v.g, contratação direta sem procedimento
licitatório) ou de ausência de emissão de nota de empenho, se o
particular lograr êxito em comprovar o adimplemento do objeto da
licitação, há o dever de o poder público honrar com suas obrigações
pecuniárias, em homenagem aos princípios da boa-fé, da confiança
legítima e da vedação do enriquecimento ilícito.80
O TJMG, na mesma linha, decidiu que, uma vez comprovada a
prestação de serviço por parte de particular, decorrente de
contratação regular com o Poder Público, não se pode alegar
irregularidade ou falta de empenho, nem mesmo inobservância da
Lei de Responsabilidade Fiscal, para se furtar ao seu pagamento,
sob pena de enriquecimento ilícito do Estado.81
O empenho é, por fim, o ato que marca o pertencimento de dada
despesa ao exercício financeiro, pois o art. 35, II, da Lei nº 4.320/64,
ao adotar o regime contábil da competência para a despesa pública,
prevê que pertencem ao exercício as despesas nele legalmente
empenhadas.
3.3.2 Liquidação
O passo seguinte no procedimento da despesa pública é a
liquidação. O pagamento da despesa só será efetuado quando
ordenado após sua regular liquidação, dispõe o art. 62 da Lei nº
4.320/64. A liquidação consiste na verificação do direito adquirido
pelo credor, tendo por base os títulos e documentos comprobatórios
do respectivo crédito (art. 63 da Lei nº 4.320/64). Essa verificação
visa a apurar a origem e o objeto do que se deve pagar, a
importância exata a pagar e a quem se deve pagar em ordem a
extinguir a respectiva obrigação.
A liquidação da despesa por fornecimentos feitos ou serviços
prestados terá por base: a) o contrato, ajuste ou acordo respectivo; b)
a nota de empenho; c) os comprovantes da entrega de material ou da
prestação efetiva do serviço (art. 63, §2º, da Lei nº 4.320/64).
A fase de liquidação de despesa é o momento em que a
Administração verificará o adimplemento da obrigação assumida
pelo poder público. Em se tratando de contratos administrativos, a
etapa de liquidação está conectada a disposições da Lei nº 8.666/93,
que tratam do recebimento dos objetos contratuais, especialmente as
normas dos arts. 73 e 76.
A jurisprudência do TCU entende que “a liquidação da despesa
não é mera formalidade, mas ato destinado a avaliar se as cláusulas
contratuais foram cumpridas, gerando, assim, a obrigação de
pagamento para a Administração. Compete ao gestor impedir a
liquidação das despesas com base em notas fiscais inidôneas, cuja
emissão não tenha sido autorizada pelo fisco”.82
No âmbito do STJ existe posicionamento no sentido de que,
somente a partir da liquidação, o interessado pode exigir o
pagamento na forma do contrato firmado. Caso a Administração não
pague o débito no vencimento contratado, surge para o particular o
direito à cobrança e, portanto, o termo inicial do prazo prescricional,
conforme o princípio da actio nata.83 Já o STF compreende que
notas de empenho de despesa, quando desacompanhadas da
comprovação de sua liquidação, não são documentos hábeis para
demonstrar ter havido efetivo pagamento da dívida.84
3.3.3 Ordenamento
A terceira etapa do procedimento administrativo da despesa
pública é o ordenamento, que, em linhas gerais, corresponde ao
despacho da autoridade competente, determinando o pagamento dos
valores correspondentes à despesa (art. 64 da Lei nº 4.320/64). Esta
autoridade é designada legalmente como ordenador de despesas.
O ordenador de despesa é toda e qualquer autoridade de cujos
atos resultem emissão de empenho, autorização de pagamento,
suprimento ou dispêndio de recursos da União ou pela qual esta
responda (art. 80, §1º, do Decreto-Lei nº 200/67), podendo ser
responsabilizado pelos prejuízos que vier a causar à Fazenda (art. 90
do Decreto-Lei nº 200/67 e art. 39, caput, do Decreto nº
93.872/86).85
Dispõe o art. 80, caput, do Decreto-Lei nº 200/67 que os órgãos
de contabilidade inscreverão como responsável todo ordenador da
despesa, o qual só poderá ser exonerado de sua responsabilidade
após julgadas regulares suas contas pelo Tribunal de Contas. É
dizer: somente após a regular prestação e aprovação das contas do
ordenador (contas de gestão) é que tem a liberação respectiva em
face do tesouro.
Discute-se muito a questão da delegação de competência para os
ordenamentos de despesas e a extensão da responsabilidade da
autoridade delegante. Não há dúvida de que se trata de competência
delegável, porquanto este ato administrativo não se vê alcançado
pelas exceções à regra da delegabilidade prevista no art. 13 da Lei nº
9.784/99.
Com efeito, segundo orientação do TCU, na esteira da
dinamização das ações empreendidas pela Administração Pública, a
delegação de competência situa-se como instrumento primordial de
descentralização administrativa, com o objetivo de assegurar maior
rapidez e objetividade às decisões, situando-as na proximidade dos
fatos, pessoas e problemas a resolver, conforme orienta o art. 11 do
Decreto-Lei nº 200/67 e os arts. 12 a 14 da Lei nº 9.784/99.86
Se a competência é formalmente delegada, o agente delegado é
que passa a ser o responsável pelo ordenamento e sua regularidade,
não se podendo cogitar da possibilidade de responsabilização
automática da autoridade delegante. Pretender responsabilizar a
autoridade delegante pelos atos praticados do subalterno, sem que
deles tenha tido ciência, além de ilógico é desumano, à medida que
cria às autoridades superiores um dever infinito e onipresente de
vigilância dos atos do subalterno, praticamente aniquilando a lógica
do processo de delegação de competências.
Nestes casos, deve prevalecer a disciplina do art. 80, §2º, do
Decreto-Lei nº 200/67, segundo o qual o ordenador de despesa,
salvo conivência, não é responsável por prejuízos causados à
Fazenda Nacional decorrentes de atos praticados por agente
subordinado que exorbitar das ordens recebidas. A orientação serve
também para as demais esferas da Federação.
O TCU registra precedentes contraditórios sobre o assunto. No
Acórdão nº 1929/2006, o Plenário entendeu que o ordenador natural
“não se afasta por completo da gestão da empresa, continua ligado
ao dever legal e constitucional de observar se os contratos sob a sua
gestão foram realizados dentro dos normativos jurídicos
relacionados à matéria”. E para a configuração da responsabilidade
do ordenador, conclui ser bastante que haja: a) culpa strcito sensu,
que é a culpa in vigilando e culpa in eligendo (inobservância do
dever de vigiar outrem e má escolha dos subordinados); b) nexo de
causalidade entre a conduta e o fato ilícito, que se configura pela
conduta do ordenador em não observar corretamente os seus
subordinados, os quais realizaram atos que são apontados como
contrários aos princípios norteadores da licitação. A seguir-se esta
orientação, é de se questionar como a inobservância do dever de
vigiar alguém pode configurar — a um só, e ao mesmo tempo — o
elemento anímico (culpa) e o nexo de causalidade para efeito de
responsabilização.
Nesse sentido, bem mais lógica e razoável é a orientação
constante do Acórdão nº 1619/2004-Plenário, do TCU. Segundo
este, trilhar o caminho em que se responsabiliza o gestor máximo,
indiscriminadamente por todas as ações praticadas pelos
funcionários hierarquicamente inferiores, das quais não teve ciência
ou não deveria ter, além de contrariar as modernas tendências de
organização gerencial em que se privilegiam a descentralização de
atividades e a segregação de funções, pode gerar situações
desarrazoadas em que o representante maior da entidade seja
convocado a responder por atos os mais comezinhos praticados por
um subordinado.
Entendeu o TCU, neste último caso, que, se não houver provas
de que o gestor compactuou por ação ou omissão no dever
expressamente a ele cometido, não seria razoável aplicar-lhe a
sanção. Isto porque é necessário que se estabeleça a culpa do
dirigente e o nexo causal entre a violação de norma legal e o ato por
ele praticado, com base no plexo de suas atribuições, a fim que, com
segurança, o Tribunal possa responsabilizá-lo. É esta a orientação
que deve vigorar, pautada pelos princípios da individualização das
condutas e proporcionalidade, além de decorrer do simples bom
senso.
3.3.4 Pagamento
Depois da observância das etapas do empenho, liquidação e
ordenamento, segue-se o pagamento da despesa, conforme estatui o
art. 62 da Lei nº 4.320/64. O pagamento consiste na entrega de
recursos ao credor, mediante ordem bancária, após a regular
liquidação. Somente ocorre quando a obrigação é líquida e certa. A
Administração fica obrigada a efetuar o pagamento de despesas que
realizar nos prazos indicados na lei, no contrato ou instrumento
equivalente.
Quando se trata de obrigações contratuais e congêneres, é
necessário que o instrumento de ajuste estabeleça e defina
claramente: a) os critérios de pagamento; b) a periodicidade do
reajustamento de preços; c) os critérios de compensação financeira
entre a data do adimplemento das obrigações e a do efetivo
pagamento.
Os prazos máximos para pagamento são os seguintes: a) para
valores iguais ou inferiores a R$8.000,00, até 05 dias úteis (art. 5º,
§3º, da Lei nº 8.666/93); b) para valores superiores, até 30 dias (art.
40, XIV, “a”, da Lei nº 8.666/93).
Os prazos de pagamento previstos no contrato deverão ser
cumpridos rigorosamente, sob pena de a Administração ter que
atualizar monetariamente os valores devidos, independe de previsão
contratual e de pagar juros de mora.87
Convém anotar que a realização de pagamento antecipado não é
usual e autorizada pela lei, exceto em casos excepcionais, com as
devidas cautelas e garantias em favor da Administração, nos termos
do art. 15 da Lei nº 8.666/93. Prevalece o entendimento de que o
pagamento antecipado em contratações públicas somente é possível
no caso de expressa previsão no edital e no contrato.88 Todavia, a
existência do pagamento antecipado sem prejuízos para a
Administração constituirá mera irregularidade administrativa, sem
qualquer pecha de improbidade administrativa, a exemplo da
despesa efetivada sem empenho prévio.
No caso de obras e serviços de engenharia, o pagamento das
etapas, que vem definido no cronograma físico-financeiro, deve ter
sequência lógica, a fim de evitar que se pague uma etapa sem que a
anterior tenha sido concluída, por se caracterizar antecipação de
pagamento.
Os valores correspondentes a multas ou indenizações devidas
pelo contratado, nos termos definidos no contrato, poderão ser
deduzidos do montante a pagar. Além disso, segundo a
jurisprudência do TCU, a efetuação do pagamento está condicionada
à verificação de algumas exigências, tais como regularidade de
contratado com a seguridade social,89 FGTS e Fazenda Pública.90
Contudo, o STJ considerou ilegal a imposição de sobreditos
condicionantes quando o objeto contratual tenha sido executado em
favor da Administração Pública.91
Saliente-se, ainda, que, em regra, o pagamento deve observar a
ordem cronológica da exigibilidade dos créditos, conforme dita o
art. 5º, caput, da Lei nº 8.666/93, sendo que a inobservância da
referida ordem configura crime tipificado no art. 92 do mesmo
diploma legal. Com relação a este tema, o TCU tem aplicado multa
ao servidor que viola a ordem dos pagamentos do crédito.92
RECEITAS PÚBLICAS
4.3 Classificações
4.3.1 Receitas originárias e derivadas
A classificação mais difundida entre os financistas — e que
deriva da doutrina alemã — distingue as receitas ordinárias em dois
grandes grupos: a) receitas originárias, de economia privada ou de
direito privado; b) receitas derivadas, de economia pública ou de
direito Público.
As receitas originárias compreendem rendas provenientes da
exploração dos bens, recursos naturais ou empresas do Estado
(comerciais ou industriais) e são obtidas à semelhança das receitas
dos particulares, mediante instrumentos de natureza contratual,
despidos de compulsoriedade (por isso a designação de receitas de
economia privada ou de direito privado). Mesmo quando advindas
da exploração de atividades econômicas em regime de privilégio ou
monopólio, as receitas auferidas são consideradas originárias. Os
preços públicos (tarifas), as compensações financeiras pela
exploração de minérios e recursos hídricos e os royalties de petróleo
e gás, por exemplo, pertencem a tal categorização.
As receitas derivadas correspondem a rendas arrecadadas
coativamente dos particulares, mediante constrangimento legal. É o
que sucede com os tributos (impostos, taxas, contribuições de
melhoria, empréstimos compulsórios, contribuições)120 e com as
penas pecuniárias e com o confisco. Englobam-se, ainda, neste
grupo, embora submetidas ao âmbito dos tratados internacionais, as
reparações de guerra.
4.4.1 Previsão
A etapa da previsão da receita relaciona-se com a lei
orçamentária. Ditas previsões devem considerar estimativas seguras
e confiáveis, com base no comportamento das receitas nos
exercícios anteriores, em ordem a que a proposta orçamentária
elaborada pelo Poder Executivo não seja uma mera ficção.
Bem por isso, o art. 12 da LRF dispõe que as previsões de
receita no orçamento observarão as normas técnicas e legais,
considerarão os efeitos das alterações na legislação, da variação do
índice de preços, do crescimento econômico ou de qualquer outro
fator relevante, e serão acompanhadas de demonstrativos de sua
evolução, nos últimos três anos, da projeção para os dois anos
seguintes àquele a que se referirem, e da metodologia de cálculo e
premissas utilizadas.
A incumbência de efetivar a correta previsão das receitas na
proposta de lei orçamentária é do Poder Executivo. Qualquer
reestimativa de receita por parte do Poder Legislativo só será
admitida se comprovado erro ou omissão de ordem técnica ou legal
(art. 11, §2º, LRF).
O objetivo central, neste caso, é o de evitar que haja
superestimativas de receitas de parte de qualquer dos Poderes do
Estado, notadamente para que a estimativa no orçamento não seja
fictícia, ampliando ou mitigando a relativa liberdade que possui o
Poder Executivo na execução das despesas, as quais sempre
correspondem em números às despesas nele previstas.
Aprovada, promulgada e publicada a lei orçamentária, tem-se,
portanto, o estágio da previsão da receita orçamentária, que seguirá
a escrituração contábil editada pelos atos normativos da STN. Uma
vez prevista a receita, caberá ao Poder Executivo, no prazo de que
trata o art. 8º da LRF, desdobrar as respectivas previsões em metas
bimestrais de arrecadação, com a especificação, em separado,
quando cabível, das medidas de combate à evasão e à sonegação, da
quantidade e valores de ações ajuizadas para cobrança da dívida
ativa, bem como da evolução do montante dos créditos tributários
passíveis de cobrança administrativa (art. 13 da LRF).
A frustração da receita estimada pode levar o Poder Executivo a
ter que adotar o procedimento denominado de limitação de empenho
(art. 9º da LRF), a fim de evitar que novos procedimentos de
despesa sejam iniciados, garantindo o equilíbrio entre ingressos e
saídas, observando sempre a harmonia e a independência dos
poderes.
4.4.2 Lançamento
A etapa do lançamento — que se trata procedimento
administrativo que identifica e individualiza o contribuinte ou
devedor do Estado — é típico da arrecadação tributária, mas se
aplica também a outros casos de arrecadação. Segundo Kohama,
será objeto de lançamento: a) impostos diretos e outras receitas com
vencimentos determinados em leis especiais, regulamentos ou
contratos, mediante relação nominal do contribuinte; b) aluguéis,
arrendamentos, foros e quaisquer prestações periódicas relativas a
bens patrimoniais do Estado, mediante relação organizada à vista
dos respectivos contratos, títulos ou da própria escrituração, que
deverá ser remetida aos agentes encarregados da cobrança; c)
serviços industriais do Estado, a débito de outras administrações ou
de terceiros, cuja importância não tenha sido imediatamente
arrecadada após a prestação dos serviços; d) todas as outras rendas,
taxas ou proventos que decorram de direitos preexistentes dos
Estados contra terceiros ou que possam originar-se de direito novo
prescrito em leis, regulamentos ou contratos aprovados ou
concluídos no decurso do ano financeiro.126
CRÉDITO PÚBLICO
ORÇAMENTO PÚBLICO
CONTROLE EXTERNO E
INTERNO DAS FINANÇAS
PÚBLICAS
CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO.
CONTROLE EXTERNO DA ADMINISTRAÇÃO
PÚBLICA. ATOS PRATICADOS POR PREFEITO,
NO EXERCÍCIO DE FUNÇÃO
ADMINISTRATIVA E GESTORA DE RECURSOS
PÚBLICOS. JULGAMENTO PELO TRIBUNAL
DE CONTAS. NÃO SUJEIÇÃO AO DECISUM DA
CÂMARA MUNICIPAL. COMPETÊNCIAS
DIVERSAS. EXEGESE DOS ARTS. 31 E 71 DA
CONSTITUIÇÃO FEDERAL.
Os arts. 70 a 75 da Lex Legum deixam ver que o
controle externo — contábil, financeiro,
orçamentário, operacional e patrimonial — da
administração pública é tarefa atribuída ao Poder
Legislativo e ao Tribunal de Contas. O primeiro,
quando atua nesta seara, o faz com o auxílio do
segundo que, por sua vez, detém competências que
lhe são próprias e exclusivas e que para serem
exercitadas independem da interveniência do
Legislativo.
O conteúdo das contas globais prestadas pelo Chefe
do Executivo é diverso do conteúdo das contas dos
administradores e gestores de recurso público. As
primeiras demonstram o retrato da situação das
finanças da unidade federativa (União, Estados, DF e
Municípios). Revelam o cumprir do orçamento, dos
planos de governo, dos programas governamentais,
demonstram os níveis de endividamento, o atender
aos limites de gasto mínimo e máximo previstos no
ordenamento para saúde, educação, gastos com
pessoal. Consubstanciam-se, enfim, nos Balanços
Gerais prescritos pela Lei 4.320/64. Por isso, é que se
submetem ao parecer prévio do Tribunal de Contas e
ao julgamento pelo Parlamento (art. 71, I c./c. 49, IX
da CF/88). As segundas — contas de administradores
e gestores públicos, dizem respeito ao dever de
prestar (contas) de todos aqueles que lidam com
recursos públicos, captam receitas, ordenam despesas
(art. 70, parágrafo único da CF/88). Submetem-se a
julgamento direto pelos Tribunais de Contas,
podendo gerar imputação de débito e multa (art. 71,
II e §3º da CF/88). Destarte, se o Prefeito Municipal
assume a dupla função, política e administrativa,
respectivamente, a tarefa de executar orçamento e o
encargo de captar receitas e ordenar despesas,
submete-se a duplo julgamento. Um político perante
o Parlamento precedido de parecer prévio; o outro
técnico a cargo da Corte de Contas. Inexistente, in
casu, prova de que o Prefeito não era o responsável
direto pelos atos de administração e gestão de
recursos públicos inquinados, deve prevalecer, por
força ao art. 19, inc. II, da Constituição, a presunção
de veracidade e legitimidade do ato administrativo da
Corte de Contas dos Municípios de Goiás. Recurso
ordinário desprovido.230
DIREITO TRIBUTÁRIO
TÍTULO I
NOÇÕES GERAIS
CAPÍTULO 1
DEFINIÇÃO DE TRIBUTO E
PODER DE TRIBUTAR
DIVISÃO DO TRIBUTO EM
ESPÉCIES
NORMA TRIBUTÁRIA
HIPÓTESE DE INCIDÊNCIA MANDAMENTO
ASPECTOS ASPECTOS
PESSOAL –
MATERIAL – Descrição do fato. Descrição dos
Ex.: Perceber renda sujeitos ativo e
passivo
QUANTITATIVO –
TEMPORAL – Quando o fato
Descrição da base
será considerado perfeito e
de cálculo,
acabado. Ex.: renda percebida
alíquota ou valor
durante o exercício financeiro
fixo
OPERACIONAL –
ESPACIAL – Limites de Indicações de
validade da norma como, quando e
onde pagar
FINALÍSTICO –
PESSOAL – Descrição das Indicação do
pessoas com capacidade para destino a ser dado
a realização da hipótese ao produto da
arrecadação
a) Impostos
TRIBUTOS FINALÍSTICOS
a) Taxas a) Contribuições
b) Contribuições de
b) Empréstimos
Melhoria (custo da
Compulsórios
obra)
3.1 Impostos
Os impostos são tributos destinados ao financiamento difuso da
máquina estatal. Por meio desta figura tributária, pode o poder
público tributar determinados sinais de capacidade contributiva
apresentados pelo contribuinte (fato gerador não vinculado) e
aplicar o produto arrecadado no custeio do gasto público geral, uma
vez que, como visto, o art. 167, IV, da CF/88 veda a vinculação dos
impostos a órgão, fundos ou despesas específicas.308 Destaca-se,
pois, sua grande importância para a Administração Pública. Isto
porque sua imposição se legitima independentemente de uma
atuação estatal diretamente relacionada ao contribuinte obrigado,
não havendo qualquer obrigação de aplicação do produto da
arrecadação no interesse (referibilidade direta) específico do
contribuinte.
Assim, é o imposto a espécie tributária que permite ao legislador
maior discricionariedade impositiva. Em vista disto, a Constituição
Federal delimita exaustivamente a competência legislativa para sua
instituição entre as pessoas políticas, União (art. 153), Estados (art.
155) e Municípios (art. 156), reservando, por fim, para a primeira,
as competências residual e extraordinária (art. 154, I e II).
Pelo fato de o imposto não guardar relação com qualquer
atividade estatal específica, o Poder Público goza de ampla
liberdade para a eleição dos gastos públicos que financiará com o
produto de sua arrecadação, ressalvados casos excepcionais de
vinculação antes mencionados.
Esta liberdade tem sua razão de ser na evolução do conceito de
Estado e, por conseguinte, de gasto público. Como anteriormente
salientado, a imposição tributária sempre vai estar legitimada pela
cobertura de um gasto ou finalidade pública. Entretanto, dentro da
cada vez mais complexa estruturação estatal, os gastos públicos
tendem a se multiplicar, tornando impossível, na maioria dos casos,
vincular um ingresso a um gasto público específico. Desta forma,
toda a construção histórica, relativa ao controle e, por suposto, à
legitimação da imposição em função de uma necessidade específica,
foi reformulada para se adaptar à nova realidade, vale dizer, o
imposto se reveste de legitimidade ante a existência de um gasto
público geral.
Por toda a maleabilidade e não afetação específica do produto de
sua arrecadação, os impostos constituem fundamental fonte de
ingressos para o Estado, destinando-se principalmente à manutenção
da máquina administrativa ordinária estatal.
3.2 Taxas
Taxas são tributos destinados a permitir que o Poder Público
possa se remunerar pela prestação direta de serviços ao contribuinte,
ou pela fiscalização de atividades desenvolvidas por este mesmo
contribuinte. Desta forma, os limites para a imposição e arrecadação
já nascem pré-definidos. O fato gerador do tributo é, portanto,
condicionado pelo poder público; ou seja, inexiste à ausência de
uma atuação estatal.
Neste sentido, o custo do serviço prestado ou da fiscalização
realizada é, a um só tempo, condição da exação e limite para a sua
quantificação. Qualquer exigência que exceda os custos da atividade
estatal torna-se ilegítima, pois implicará em transmutar um tributo
finalístico por excelência em um tributo fiscal. Assim, a base de
cálculo deve sempre espelhar os custos com a prestação do serviço
ou com a atividade de fiscalização, sendo, pois, até mesmo
desnecessária a ressalva no sentido de que “as taxas não poderão ter
base de cálculo própria de imposto” (art. 145, §2º, da Constituição
Federal de 1988).
As taxas podem ser instituídas ora em razão do exercício regular
do Poder de Polícia, ora em razão da prestação de serviços públicos
específicos e divisíveis. Como Poder de Polícia considera-se “a
atividade da administração pública que, limitando ou disciplinando
direito, interesse ou liberdade, regula a prática de ato ou abstenção
de fato, em razão de interesse público concernente à segurança, à
higiene, à ordem, aos costumes, à disciplina da produção e do
mercado, ao exercício de atividades econômicas dependentes de
concessão ou autorização do Poder Público, à tranquilidade pública
ou ao respeito à propriedade e aos direitos individuais ou coletivos”
(art. 78 do CTN). O Poder de Polícia será exercido de forma regular
quando desempenhado por Autoridade Pública competente, nos
limites da lei.
Quanto às taxas de serviço, deve ser observado que nem todo
serviço prestado pode dar ensejo à sua instituição. Os serviços
prestados devem ser, na dicção do legislador constituinte e
complementar, específicos e divisíveis. É dizer, devem ser passíveis
de utilização em separado por parte do contribuinte. Destarte, há
serviços que em razão de sua natureza devem ser custeados por
meio da arrecadação fiscal e não por meio da tributação específica.
Para ilustrar, temos o exemplo das taxas de iluminação pública.
Como se verá no tópico seguinte, elas foram julgadas
inconstitucionais, de forma reiterada, justamente por não traduzirem
um serviço específico e divisível.
Finalmente, outro ponto a se destacar dentro do perfil genérico
das taxas é que se permite sua instituição mesmo nos casos em que o
serviço público seja apenas colocado à disposição do contribuinte,
desde que específico e divisível e de utilização compulsória, não
sendo requisito necessário a efetiva utilização por parte do usuário.
Não obstante, no caso das taxas de polícia, não se admite
“fiscalização potencial”, sendo, pois, sua instituição válida apenas
como decorrência de efetiva atuação do Poder Público frente ao
administrado.
O DIREITO TRIBUTÁRIO NA
CONSTITUIÇÃO FEDERAL
CAPÍTULO 1
COMPETÊNCIA TRIBUTÁRIA
LIMITAÇÕES
CONSTITUCIONAIS DO PODER
DE TRIBUTAR
2.3 Irretroatividade
A Constituição veda, em seu art. 150, III, “a”, que a norma que
institui ou majora tributos tenha caráter retroativo, ou seja, alcance
fatos ou situações ocorridos antes do início da vigência da norma.
Essa regra traduz a exigência mais básica e intuitiva da segurança
jurídica, que seria letra morta se um fato ocorrido hoje pudesse ser
considerado como fato gerador de um tributo instituído amanhã,
ainda que tal instituição se desse mediante lei.
Exatamente porque representa uma exigência irrenunciável do
Estado de Direito e da segurança jurídica, a irretroatividade prevista
no art. 150, III, “a”, da Constituição é norma que não comporta
qualquer exceção. Nem mesmo os tributos criados para atender a
situações de emergência, como calamidade pública, guerra externa
ou sua iminência (cf. art. 148, I, e 154, II, da Constituição), podem
eleger como fatos geradores situações ocorridas antes do início da
vigência da lei que os instituir ou aumentar.
Não se trata de uma regra que determine que em todo e qualquer
caso a norma tributária está impedida de determinar efeitos
retroativos. Normas tributárias que extingam tributos, ou os
minorem, podem alcançar situações pretéritas, desde que assim se
determine inequivocamente no conteúdo da norma.
Um exemplo de criação de tributo com caráter retroativo é o
caso do empréstimo compulsório instituído em 1983 pelo Decreto-
Lei nº 2.047. Em julho de 1983, criou-se um empréstimo
compulsório tendo como fato gerador a obtenção de determinados
rendimentos no ano de 1982. O caso foi levado ao STF, que no RE
nº 111.954 (Pleno, Rel. Min. Oscar Corrêa, DJ, 24 jun. 1988)
declarou a inconstitucionalidade da exação, pelo fato de esta ter sido
criada retroativamente sobre fatos ocorridos no ano anterior. Mesmo
não havendo na ordem constitucional então em vigor um dispositivo
expresso e específico vedando a retroatividade da norma criadora de
tributos, a exação foi declarada inconstitucional por unanimidade.
Em seu voto, o Ministro Célio Borja destacou: “alcançou-se fato
pretérito, já exaurido no tempo, para sujeitá-lo a um dever jurídico
que inexistia no momento da sua ocorrência”.
2.4 Anterioridade
Além do respeito à irretroatividade, a instituição ou aumento de
tributo deve obedecer, em regra, a outra vedação ligada à segurança
jurídica: a anterioridade da lei tributária. O propósito básico da
anterioridade tributária (nem sempre realizado em sua plenitude) é o
de garantir ao contribuinte que haja um razoável período de tempo
entre a criação ou aumento legal de determinado tributo e sua
incidência concreta sobre os fatos, evitando-se assim, além da
retroatividade da cobrança, a surpresa do contribuinte. A
anterioridade da lei tributária, ao contrário da irretroatividade,
possui na Constituição de 1988 diversos regimes próprios
(anterioridade anual, anterioridade nonagesimal, anterioridade
mista) e admite também diversas exceções (como ocorre, por
exemplo, no caso dos tributos emergenciais como o empréstimo
compulsório de emergência e o imposto extraordinário de guerra —
arts. 148, I, e 154, II, da Constituição).
2.8 Imunidades
As imunidades são normas constitucionais que delimitam
negativamente a própria competência tributária dos entes políticos
da federação. Diferenciam-se com clareza das isenções, pois essas
supõem a existência e o exercício concreto de uma competência
tributária pelo legislador infraconstitucional.
As imunidades previstas no art. 150, VI, da Constituição se
referem somente à espécie tributária imposto e são tidas pela
jurisprudência do STF como verdadeiras cláusulas pétreas, não
podendo ser suprimidas ou restringidas nem mesmo pelo
constituinte derivado (vide ADI nº 939, DJ, 18 mar. 1994). O
fundamento dessas imunidades do art. 150, VI, da Constituição,
chamadas imunidades genéricas, é a proteção da própria federação
(no caso da imunidade recíproca prevista no art. 150, VI, “a”) e de
determinadas liberdades fundamentais dos cidadãos (liberdade de
crença, liberdade de expressão da atividade intelectual etc.) frente ao
poder de tributar do Estado.
Além dessas imunidades a impostos previstas no art. 150, VI, da
Constituição, há outras normas de imunidade espalhadas pelo texto
constitucional, referindo-se ora a impostos específicos (p.ex. o art.
155, §2º, X, “a”), ora a contribuições (p.ex. o art. 149, §2º, I), ora a
taxas (art. 5º, XXXIV). Em algumas ocasiões, o STF se pronunciou
no sentido de que essas imunidades situadas fora do art. 150, VI, da
Constituição não constituem cláusulas pétreas, podendo ser
alteradas ou revogadas por emenda constitucional, como foi o caso
da revogação do art. 153, §2º, II, da Constituição pela EC nº
20/1998 (vide RE nº 372.600, DJ, 23 abr. 2004).
Outra diferença entre as imunidades do art. 150, VI, da
Constituição e as demais imunidades espalhadas pelo texto
constitucional é que, em relação às primeiras, o STF revela forte
tendência de interpretá-las ampliativamente, de modo a “maximizar-
lhes o potencial de efetividade” (vide RE nº 237.718, DJ, 06 set.
2001), ao passo que em relação às segundas há manifestações
hesitantes, ora se afirmando que as imunidades não merecem
interpretação nem restritiva, nem ampliativa, cabendo ao intérprete
“ser fiel ao sentido e à extensão da norma” (vide voto da Ministra
Ellen Gracie no RE nº 564.413, DJ, 06 dez. 2010), ora se afirmando
abertamente que imunidade é “exceção” e por isso cabe “interpretar
os preceitos regedores de forma estrita” (vide ementa oficial do RE
nº 564.413).
NORMAS GERAIS DE
DIREITO TRIBUTÁRIO NO
CÓDIGO TRIBUTÁRIO
NACIONAL
LEGISLAÇÃO TRIBUTÁRIA
A RELAÇÃO JURÍDICO-
TRIBUTÁRIA
NORMA TRIBUTÁRIA
HIPÓTESE DE INCIDÊNCIA MANDAMENTO
ASPECTOS ASPECTOS
PESSOAL –
MATERIAL – Descrição do fato. Descrição dos
Ex.: Perceber renda sujeitos ativo e
passivo
QUANTITATIVO –
TEMPORAL – Quando o fato
Descrição da base
será considerado perfeito e
de cálculo,
acabado. Ex.: renda percebida
alíquota ou valor
durante o exercício financeiro
fixo
OPERACIONAL –
ESPACIAL – Limites de Indicações de
validade da norma como, quando e
onde pagar
FINALÍSTICO –
PESSOAL – Descrição das Indicação do
pessoas com capacidade para destino a ser dado
a realização da hipótese ao produto da
arrecadação
2.2.2.5 Conclusão
A norma do art. 116, parágrafo único, do CTN não se refere a
casos de simulação-sonegação, em que o contribuinte pratica o fato
gerador do tributo e procura esconder tal realidade do fisco,
mediante subterfúgios como falsificações, declarações falsas,
registro de escrituras indicando valores divergentes dos realmente
praticados nos atos e negócios jurídicos, etc.
A norma do art. 116, parágrafo único se refere à prática do que
chamamos elusão tributária, em que os atos e negócios engendrados
pelas partes, apesar de formalmente regulares, mostram-se abusivos
ou artificiosos, já que sua formalização manipula e distorce os
institutos e as normas jurídicas em vigor, em busca de vantagens
econômicas indevidas.
2.2.3 Fato gerador da obrigação tributária e atos
ilícitos
O tributo, sendo o sustentáculo material do aparato estatal, dos
serviços públicos e das políticas públicas, naturalmente não poderia
ter como hipótese de incidência um fato ilícito. Isto seria um
contrassenso. A ordem jurídica não poderia ter como sua mais
importante fonte de financiamento algo que dependesse da
ocorrência de ilicitudes.
Daí o art. 3º do CTN explicitar que o tributo não tem natureza
sancionatória; se algo constitui sanção pela prática de ilícito, tributo
não é. O legislador, ao criar a norma que contém a hipótese de
incidência de um tributo, não poderá prever aí a ocorrência de uma
ilicitude. Caso o faça, não estará criando um tributo, e sim uma
sanção pecuniária.
O art. 118 do CTN, ao dispor que “a definição legal do fato
gerador é interpretada abstraindo-se da validade jurídica dos atos
efetivamente praticados” ou “da natureza do seu objeto ou dos seus
efeitos”, não supõe qualquer contradição com aquela nota do
conceito de tributo (não constituir sanção por ato ilícito). Vejamos o
exemplo do imposto sobre a renda. Seu fato gerador (auferir renda)
nada tem de ilícito. Se esse fato gerador ocorre concretamente,
nasce a obrigação tributária, independentemente de uma possível
ilicitude dos atos cuja prática redundaram no auferimento da renda.
O mesmo se diga em relação ao imposto sobre prestação de
serviços, num caso em que o serviço foi prestado por uma pessoa
sem a habilitação legal necessária para tanto.
Mas há casos em que a invalidade de determinado ato jurídico
atinge o próprio âmago do fato gerador do tributo. Imagine-se que
um imóvel é doado de “A” para “B”, recolhendo-se o imposto
respectivo. Passados alguns meses, a doação é declarada nula por
uma autoridade judicial, retornando o imóvel para o patrimônio do
pretenso doador. Neste caso, não há como sustentar que a invalidade
jurídica da doação seja algo circunstancial, e por isso mesmo deva
ser abstraída da análise sobre a efetiva incidência do tributo.
Em conclusão: não se pode aplicar o art. 118 do CTN de forma
açodada e irrefletida. A aplicação desse dispositivo somente tem
lugar quando a pretensa ilicitude ou invalidade ou ineficácia de
determinada conduta apresenta uma relação meramente
circunstancial com a configuração do fato gerador. Não se deve
esquecer que o próprio art. 118 do CTN se afirma expressamente
como uma norma relativa à interpretação da definição legal do fato
gerador de cada tributo (“Art. 118. A definição legal do fato gerador
é interpretada...”).
2.4.1.1 Contribuinte
O contribuinte, como seja, a pessoa que realiza o fato gerador
tributário, é o sujeito passivo por excelência da obrigação tributária.
Isso porque, conforme já demonstrado, quando da outorga pela
Constituição Federal das competências tributárias, elegeu o
constituinte determinados fatos ou situações passíveis de ser objeto
da legislação impositiva. Nada mais natural que a pessoa que realiza
ditos fatos ou se encontre presente em determinadas situações seja
alçado à condição de sujeito passivo do tributo. Destarte, somente
pela eleição do contribuinte como sujeito passivo da obrigação
estar-se-ia tributando de forma segura o destinatário implicitamente
referido na norma constitucional atribuidora de competência. Deve,
portanto, ser esta a regra geral.
2.4.1.2 Responsável por substituição
Defrontamo-nos aqui com a segunda hipótese de sujeição
passiva direta, ou seja, o responsável por substituição. É de se notar
que embora o sujeito passivo previsto pela norma não realize o fato
gerador, a obrigação tributária surge diretamente para a pessoa que
substitui o contribuinte. Nestes casos, por razões de praticidade e
economicidade, prefere o legislador exigir o tributo de pessoa alheia
à realização do fato gerador. Há duas hipóteses de substituição
tributária, denominadas “para trás” e “para frente”. Na primeira, a
lei atribui ao sujeito passivo a responsabilidade pelo recolhimento
de tributo cujo fato gerador ocorreu no passado. É o caso, v.g., de se
eleger o industrial como substituto pelo recolhimento dos tributos
incidentes na aquisição de insumos. Neste caso, falando-se do
ICMS, o tributo incidiria na transferência pelo fornecedor do
insumo à indústria. Não obstante, prefere o legislador concentrar a
exigência em um único sujeito passivo (industrial) tornando-o
responsável por substituição pelo pagamento do tributo que em tese
seria devido pelo fornecedor, posto ter sido ele a pessoa que praticou
o fato gerador.
Na segunda hipótese, substituição tributária “para frente”, a
regra se altera, atribuindo a lei ao substituto o dever de recolher
tributo devido em razão de fato gerador que provavelmente irá
ocorrer no futuro. Nesta hipótese, há que se fazer maiores
considerações, posto que a exigência de tributo sobre fato gerador
futuro importa em presumir a ocorrência do mesmo. Em Direito
Tributário sabemos quão sensível é o tema das presunções fiscais,
visto que em geral ferem de morte o princípio da capacidade
contributiva. Muito se questionou sobre a possibilidade da
instituição da substituição tributária “para frente”, posto que
implicaria, na prática, a exigência de tributo sem a prévia ocorrência
do fato gerador. É o exemplo da substituição tributária prevista no
âmbito do ICMS para o comércio de veículos automotores. Pela
sistemática vigente, a montadora é alçada à condição de responsável
por substituição pelo tributo devido pela concessionária, cujo fato
gerador ocorre quando da venda do veículo por esta ao consumidor
final. Assim, a montadora recolhe antecipadamente o ICMS que
supostamente seria devido quando da transferência da propriedade
do veículo pela concessionária ao adquirente do produto
(consumidor final). Ora, in casu, estar-se-ia a exigir o tributo antes
mesmo da ocorrência do fato gerador. Haveria, pois, a
concessionária que suportar o ônus tributário (que naturalmente lhe
é transferido pela montadora) antes de realizar o fato gerador (venda
do veículo), fato este que demonstraria e faria surgir a sua
capacidade para contribuir.
Não por outras razões, tornou-se a substituição tributária “para
frente” objeto de inúmeras críticas doutrinárias e questionamentos
judiciais. Seguindo-se a prática corrente no Direito brasileiro e,
diga-se de passagem, lamentável, procurou-se por meio de emenda à
Constituição legitimar a sistemática em comento, acrescentando o
§7º ao texto do art. 150. Confira-se:
2.5 Solidariedade
Para garantir o adequado cumprimento da obrigação tributária,
dispõe o Código Tributário Nacional, em Seção específica, sobre a
solidariedade e seus efeitos. De início, determina o legislador:
CRÉDITO TRIBUTÁRIO
3.2.1 Moratória
Das hipóteses suprarreferidas, apenas a moratória é de iniciativa
dos Poderes Legislativo ou Executivo, podendo ser concedida nos
termos estabelecidos nos artigos 152 a 155. Confira-se:
3.2.5 Parcelamento
Finalmente, como última hipótese de suspensão do crédito
tributário, inserida pela LC nº 104/00, está o parcelamento. Neste
caso, havendo autorização legal do parcelamento do crédito e
estando o sujeito passivo cumprindo seus termos, ocorre a
suspensão da exigibilidade quanto às importâncias vincendas.
A LC nº 104/00 inseriu o art. 155-A ao CTN, o qual dispõe que
o parcelamento será concedido na forma e condição estabelecidas
em lei específica. É dizer: o contribuinte não tem direito a postular
parcelamento em forma distinta da prevista em lei e, por outro lado,
é vedado à administração tributária, para a concessão do
parcelamento, fazer exigências não previstas pelo legislador. Ao
exigir lei específica, buscou o CTN coibir pedidos de parcelamento
tendo como base a previsão de normas gerais contida no CTN ou,
ainda, leis diversas daquelas editadas pelo poder legislativo da
pessoa jurídica de Direito Público competente para instituição do
tributo que será parcelado. De todas as formas, pelo parágrafo
segundo do art. 155A, o legislador complementar dispôs
expressamente que “aplicam-se, subsidiariamente, ao parcelamento
as disposições desta Lei, relativas a moratória”.
Uma das condições que usualmente consta nas leis que
concedem parcelamento é a confissão irrevogável e irretratável do
tributo a ser parcelado. Nesse contexto, questão relevante a ser
examinada é: se o tributo confessado for posteriormente declarado
inconstitucional pelo STF, pode o contribuinte requerer a restituição
dos valores pagos no bojo do parcelamento? Quando há mera
confissão de dívida, não é obstado ao contribuinte o direito de
questionar judicialmente a obrigação tributária, no que se refere aos
seus aspectos jurídicos, como, por exemplo, a legitimidade da
norma instituidora do tributo (pois a força vinculante estará restrita à
situação de fato). Esse entendimento encontra-se pacificado
atualmente pela jurisprudência do STJ, tendo a questão já sido
submetida à sistemática dos recursos repetitivos.483 Nessa linha,
tem-se permitido, em diversos julgados, questionamentos com
efeitos retrospectivos, pugnando pela anulação e repetição de
valores incluídos em parcelamento.
O parágrafo primeiro do art. 155-A dispõe que, salvo disposição
de lei em contrário, o parcelamento do crédito tributário não exclui a
incidência de multa e juros. O objetivo da norma foi solucionar, de
vez, discussão antiga entre Fisco e Contribuintes sobre a
possibilidade de se realizar denúncia espontânea, com o afastamento
das penalidades, por meio de parcelamento do tributo denunciado. A
norma acaba por abarcar também outras situações, que não raras
vezes ocorrem no cotidiano tributário, como, por exemplo, o
parcelamento do tributo após se cessar determinada causa que
suspendia sua exigibilidade. É o caso, por exemplo, de quando o
contribuinte obtém liminar suspendendo a exigibilidade do tributo
que depois vem a ser cassada. Nesta hipótese, para efetuar o
parcelamento (ao invés do pagamento integral do tributo), o
acréscimo de multa poderá ser exigido pela autoridade fiscal.
Finalmente, com a edição da Lei Complementar nº 118/05,
foram acrescidos os parágrafos terceiro e quarto do art. 155-A,
prevendo que “lei específica disporá sobre as condições de
parcelamento dos créditos tributários do devedor em recuperação
judicial” e, ainda, que a sua inexistência “importa na aplicação das
leis gerais de parcelamento do ente da Federação ao devedor em
recuperação judicial, não podendo, neste caso, ser o prazo de
parcelamento inferior ao concedido pela lei federal específica”.
3.3.1 Pagamento
O pagamento em dinheiro é a modalidade natural de extinção de
uma obrigação tributária.484 Deverá ser efetuado nos termos
previstos no aspecto operacional contido no mandamento da norma.
Vale deixar registrado que a Lei Complementar nº 104/01 inseriu o
inciso XI ao art. 156, permitindo a extinção do crédito tributário por
meio da dação em pagamento em bens imóveis, na forma e
condições estabelecidas em lei do ente tributante.485
Caso o sujeito passivo não adimpla sua obrigação tributária a
tempo e modo, qualquer que seja o motivo que o tenha levado a tal,
deverá efetuar o pagamento do tributo acrescido de juros de mora e
das penalidades cabíveis (art. 161).
Neste caso, o art. 157 do CTN deixou consignado que “a
imposição de penalidade não ilide o pagamento integral do crédito
tributário”. Ou seja, o objetivo da penalidade não é compensar o não
recolhimento do crédito tributário. A penalidade não substitui o
crédito tributário devido, tampouco constitui uma alternativa à sua
liquidação, devendo o contribuinte efetuar o pagamento de ambos
necessariamente. Este dispositivo do CTN tem por objetivo
diferenciar o tratamento tributário em relação à regra geral de direito
civil, atualmente prevista no art. 410 do Código Civil Brasileiro de
2002, no sentido de que “quando se estipular a cláusula penal para o
caso de total inadimplemento da obrigação, esta converter-se-á em
alternativa a benefício do credor”.
O mesmo se dá em relação ao art. 158 do CTN,486 que
determina que o pagamento de um crédito não importa em
presunção de pagamento, quando parcial, das prestações em que se
decomponha e, quando total, de outros créditos referentes ao mesmo
ou a outros tributos. Nesse caso, o CTN também buscou prever uma
regra específica para o crédito tributário, diferente daquela prescrita
para as obrigações civis em geral. É que, no âmbito privado, quando
o pagamento for feito em quotas periódicas, a quitação da última
estabelece, até prova em contrário, a presunção de estarem solvidas
as anteriores (art. 322 do CCB). Em decorrência, há, em favor do
devedor que quitou a última prestação, a presunção de que as
anteriores também estão adimplidas. Todavia, em Direito Tributário,
a recíproca não é verdadeira, pois o contribuinte que pagou a última
parcela deverá fazer prova de que efetuou o pagamento das
obrigações pretéritas, não sendo suficiente demonstração de que
quitou a última.
No tocante ao local do pagamento, a regra do Direito Tributário
também se difere daquela do Direito Civil. Para esse, regra geral, o
pagamento é quérable (é o credor que deve ir cobrar o crédito no
domicílio do devedor e, ainda, provar que o mesmo se negou à
prestação para constituí-lo em mora). No Direito Tributário, o art.
159 do CTN487 previu que, salvo quando a legislação tributária
dispuser em contrário, o local do pagamento é a repartição
competente do domicílio fiscal do sujeito passivo; ou seja,
pagamento portable (é o sujeito passivo que tem que comparecer à
repartição pública para pagar o crédito tributário).
O art. 160 do CTN determina que “quando a legislação tributária
não fixar o tempo do pagamento, o vencimento do crédito ocorre 30
(trinta) dias depois da data em que se considera o sujeito passivo
notificado do lançamento”.488 Trata-se de uma regra supletiva, para
o caso de omissão do legislador da pessoa jurídica de direito público
competente (para instituir a exação) em regulamentar a matéria.
Note-se que o legislador complementar utilizou a expressão
“legislação tributária” e não “lei”, o que levou nossos Tribunais
Superiores489 a adotarem posicionamento no sentido de que a
alteração do prazo para vencimento da obrigação tributária pode ser
feito por ato infralegal da Administração Pública, no exercício de
sua atividade regulamentadora. Contudo, sendo fixado um prazo em
lei, ele não pode ser alterado pelo Decreto regulamentador, tendo em
conta a hierarquia dos diplomas envolvidos.
Como visto, nos termos do art. 161 do CTN, o crédito tributário
não integralmente pago no vencimento é acrescido de juros de mora
e das penalidades cabíveis. O parágrafo primeiro do referido
dispositivo fixa como regra que os juros de mora serão calculados à
taxa de um por cento ao mês, se o legislador tributário não dispuser
de modo diverso. Ressalva-se, ainda, que não haverá mora na
hipótese de a obrigação tributária ter sido submetida a consulta
formulada à Administração Tributária, dentro do prazo legal para o
pagamento do crédito (art. 161, §2º).
Ponto interessante a destacar é no que toca ao instituto da
imputação de pagamento. É que, pela redação do Código Civil,
artigo 352, “a pessoa obrigada, por dois ou mais débitos da mesma
natureza, a um só credor, tem o direito de indicar a qual deles
oferece pagamento, se todos forem líquidos e vencidos”. Em Direito
Tributário, a regra é diametralmente oposta, posto ser o Fisco a
determinar qual o crédito pretende receber, nos termos do art. 163
do CTN:
3.3.2 Compensação
O art. 170 do CTN, ao tratar da compensação como modalidade
de extinção do crédito tributário, assim dispõe:
3.3.3 Transação
Acerca da transação, estatui o CTN:
3.3.4 Remissão
Art. 172 – A lei pode autorizar a autoridade
administrativa a conceder, por despacho
fundamentado, remissão total ou parcial do crédito
tributário, atendendo:
I – à situação econômica do sujeito passivo;
II – ao erro ou ignorância escusáveis do sujeito
passivo, quanto a matéria de fato;
III – a diminuta importância do crédito tributário;
IV – a considerações de equidade, em relação com as
características pessoais ou materiais do caso;
V – a condições peculiares a determinada região do
território da entidade tributante.
Parágrafo único. O despacho referido neste artigo
não gera direito adquirido, aplicando-se, quando
cabível, o disposto no art. 155.
3.4.1 Isenção
Nos modernos sistemas tributários, procura-se alargar ao
máximo o universo de contribuintes previstos pela norma tributária
e, ao mesmo tempo, levar em consideração critérios distintivos
específicos em relação a eles ou a atividades que desenvolvam. Tal
tendência pode ser traduzida pela consagração indistinta de dois
princípios básicos: universalidade (generalidade) e pessoalidade.
A aplicação in concreto dos referidos princípios é viabilizada
pela norma de isenção, sempre mediante lei específica, visto que por
meio desta poderá o legislador ajustar a norma impositiva geral às
peculiaridades do caso concreto. Isto porque, uma vez previsto todo
o universo de contribuintes, pode o legislador, sobrevindo especial
conjuntura, isentar determinado conjunto do pagamento do tributo
sem necessidade de alteração da norma geral.510 A existência da
técnica de isenção vem permitir a consideração do contribuinte (ou
seu comportamento) em particular, sem comprometer a necessária
generalidade da legislação. Dito de outra forma “a isenção se
apresenta nos atuais sistemas tributários como elemento idôneo e até
indispensável para discriminar entre as inumeráveis situações de
fato que podem ser previstas pelo fato gerador do tributo,
amplamente definido. A excessiva uniformização de tratamento em
todo âmbito do fato gerador impediria seguramente a imposição do
tributo segundo os princípios de justiça, dificultando a existência de
uma necessária pessoalidade”.511
Isto posto, cabe agora indagar sobre a natureza jurídica da
isenção tributária e responder se ela obsta ou não a ocorrência do
fato gerador e o consequente surgimento da obrigação tributária. A
distinção assume relevância prática, visto que condicionará
diretamente os efeitos da revogação do benefício fiscal.
Parte da doutrina, que podemos reputar como tradicional, tende
a considerar a isenção como expressão meramente negativa do
tributo, ou seja, como mera dispensa do pagamento devido. Para
estes doutrinadores, o fenômeno só se justificaria logicamente ante a
ocorrência, em um primeiro momento, do fato gerador; uma vez
configurado o crédito tributário, o mesmo não seria exigível em
virtude da isenção. Na ilustração de Fábio Fanucchi,512 a isenção é
impeditiva do lançamento e não do fato gerador. A concepção
tradicional da ideia de isenção, como mera dispensa legal de tributo
devido, teve inicialmente grande aceitação, vinculando a posição de
juristas pátrios como Amílcar de Araújo Falcão, Ruy Barbosa
Nogueira e Rubens Gomes de Souza, para quem: “Isenção é o favor
fiscal concedido por lei, que consiste em dispensar o pagamento de
um tributo devido [...]. [...] na isenção o tributo é devido porque
existe a obrigação, mas a lei dispensa seu pagamento [...] porque é
claro que só se pode dispensar um pagamento que seja efetivamente
devido”.513
Nicola D’Amati514 dá os primeiros subsídios para uma nova
teoria da isenção, criticando a posição inicial na qual a isenção
aparece como mera negação do imposto. Na linha de D’Amati,
começam a surgir novas alternativas doutrinárias sobre o tema,515
tendo como ponto comum o estudo autônomo da norma de isenção,
cujo corolário é a afirmação da inexistência de uma prévia
obrigação tributária (para posterior incidência da norma), pelo fato
de não se realizar o pressuposto fático da obrigação tributária.
No Brasil, as primeiras reações contra a posição doutrinária
tradicional vieram pelas mãos, entre outras, de Souto Maior Borges,
Bernardo Ribeiro de Moraes e Becker.516 A partir de então, a
isenção passou a ser encarada como excludente da obrigação
tributária, ou seja, a regra de isenção incide para que não incida a
norma de tributação. Desta posição inicial, evoluíram, outrossim,
três correntes doutrinárias que, pela importância, merecem ser
destacadas.
Isenção como excludente da tipicidade – Esta posição é
defendida por Misabel Derzi517 e Sacha Calmon,518 que, sem
embargo de afirmarem a inexistência de obrigação tributária com a
isenção, justificam-na não pela incidência de uma regra de isenção
no lugar da de tributação (Becker), mas por ausência de tipicidade.
Para os juristas mineiros, a norma de tributação não incide sobre
fatos isentos por não estarem eles previstos pela mesma. Contudo,
ao explicarem tecnicamente o fenômeno, diferem os dois autores.
Para Sacha Calmon, os efeitos da isenção dizem respeito apenas à
hipótese de incidência, vale dizer, os fatos tributáveis se
conjugariam com as previsões isencionais para compor a hipótese da
norma jurídica de tributação. Misabel Derzi, por outro lado, afirma
que a hipótese não tem conteúdo descritivo autônomo,
independentemente do sentido jurídico que lhe prescreve a
consequência. Assim sendo, os efeitos da regra de isenção podem se
dar tanto na hipótese como na consequência.
Isenção como fato impeditivo – Parte da doutrina afirma ser a
isenção um fato impeditivo autônomo, não interferindo na estrutura
da norma de tributação. Destarte, existe total independência entre
pressuposto e tributabilidade, é dizer, a isenção, apesar de não
interferir na hipótese de incidência, impede o surgimento do dever
tributário. Assim, a isenção “dá-se quando, não obstante se ter
verificado o fato tributário em todos os seus elementos, a eficácia
constitutiva deste é paralisada originalmente pela ocorrência de
outro fato a que a lei atribui assim eficácia impeditiva”.519
Regra de isenção como modificadora da norma de tributação –
Tal alternativa é proposta por Paulo de Barros Carvalho, e seu cerne
está precisamente na distinção feita entre regras de estrutura
(incidem diretamente sobre a regra de comportamento) e regras de
comportamento (visam à conduta da pessoa). Seriam as normas de
tributação regras de comportamento e as de isenção regras de
estrutura. Destarte, a regra jurídica de isenção incidirá sobre a
norma de tributação, modificando-a pela supressão de determinado
fato de seu campo de incidência. Vale dizer, “guardando a sua
autonomia normativa, a regra de isenção investe contra um ou mais
dos critérios de norma padrão de incidência, mutilando-os
parcialmente [...] o que o preceito de isenção faz é subtrair parcela
do campo de abrangência do critério do antecedente ou do
conseguinte”.520
O Código Tributário Nacional, em seu art. 175, dispõe que a
isenção é excludente do crédito tributário. Portanto, observamos que
esse diploma legal não tomou posição ostensiva na controvérsia
inicial, uma vez que podemos justificar a exclusão do crédito pela
não ocorrência da obrigação ou pela mera dispensa de seu
cumprimento. A discussão é, desta forma, remetida ao campo
doutrinário.
A nosso ver, a isenção impede o surgimento da obrigação
tributária por atuar como uma regra desjuridicizante. Como é de
conhecimento comum, da análise do ordenamento jurídico positivo,
regras e normas podem ser inferidas, sendo que as primeiras
incidem diretamente sobre as segundas. Destarte, a regra de isenção
vai incidir diretamente sobre a norma de tributação, desjuridicizando
elementos tanto da hipótese como da consequência. Existe uma
norma anterior, juridicizante, delimitando certos fatos como capazes
de produzir efeitos jurídicos. Em um segundo momento, existindo
regra de isenção, esta irá incidir sobre a norma de tributação,
desjuridicizando fatos anteriormente aptos a produzir efeitos
jurídicos tributários.
Assim, a partir da edição de uma regra de isenção, não há se
falar em surgimento de obrigação tributária, pela simples razão de
que os atos (fatos) agora isentos não mais se subsumem à hipótese
de incidência da norma de tributação. Vigendo uma isenção, os atos
(fatos) por ela previstos deixam de ser jurígenos para fins de
tributação. Esta é uma afirmação básica, pois nos permite concluir
que a revogação da isenção equivale à instituição de novo tributo,
somente possível em virtude de lei e com atenção ao princípio da
anterioridade e/ou garantia nonagesimal.521
É importante notar, quando considerada a remissão constante no
artigo 178 do CTN,522 que a mesma é insuficiente para a garantia
dos contribuintes, posto referir-se tão somente a impostos e, mesmo
assim, àqueles incidentes sobre o patrimônio ou a renda. Destarte, a
consagração do entendimento segundo o qual a revogação de uma
isenção se equipara à instituição de tributo novo (o fato isento se
encontrava fora do universo tributável), é garantia essencial para o
administrado. É que, na instituição de tributo novo, estão os
contribuintes amparados pelos princípios já estudados, garantindo-
se, pois, todos os postulados neles traduzidos.523
A isenção pode ainda ser concedida de forma condicionada ou
incondicionada. Não há que se confundir isenção condicionada com
isenção por prazo certo, muito embora, como regra geral, as
isenções condicionadas sejam concedidas por prazo determinado.
Tal assertiva deve ser considerada quando do exame da
possibilidade de sua revogação, ou, como demonstrado, quando do
exame da reinstituição do tributo. Isto porque a isenção não gera
direito adquirido, podendo ser revogada a qualquer tempo, mesmo
se concedida por prazo certo. A única hipótese em que a isenção não
pode ser modificada ou revogada se dá quando sua concessão tenha
se operado mediante condição e, cumulativamente, tenha sido
concedida por prazo certo.
Como visto, o artigo 178 do CTN é expresso em vedar ao
legislador ordinário revogar isenções concedidas por prazo certo e
mediante o preenchimento de determinadas condições.524 Tal regra
tem por escopo preservar a segurança jurídica das relações
estabelecidas bilateralmente entre o contribuinte-beneficiário e o
Fisco, de modo a garantir que lei posterior não altere a situação
concretizada no passado, ou seja, não prejudique o direito adquirido
do contribuinte. Nesta linha, o Supremo Tribunal Federal já se
pronunciou diversas vezes sobre a irrevogabilidade dos incentivos
fiscais concedidos por prazo certo e sob condição onerosa, devido à
inviolabilidade do direito adquirido do contribuinte, mesmo em face
da superveniência de nova ordem constitucional, tendo inclusive
sumulado a matéria por meio do Enunciado nº 544: “Isenções
tributárias concedidas, sob condição onerosa, não podem ser
livremente suprimidas”.
As isenções também podem ser gerais ou específicas. A isenção
de caráter específico atinge apenas determinadas pessoas ou
situações que preencham os requisitos estabelecidos na lei, sendo
efetivada por despacho da autoridade administrativa. Ao tratar da
isenção específica, o CTN assim dispõe:
3.4.2 Anistia
A anistia é o perdão das penalidades incidentes em razão do não
cumprimento da obrigação tributária, seja ela principal ou acessória.
Dada a relevância muitas vezes atingida pelas penalidades fiscais,
sua dispensa assume grande importância dentro da política fiscal dos
Poderes Públicos. Pode ser instituída em caráter geral ou parcial,
sempre por meio de lei específica, nos termos a seguir disciplinados
pelo legislador complementar:
3.5.1 Preeminências
Ao crédito tributário são atribuídos privilégios e, ao Fisco,
preferências. Assim, por meio de privilégios, a lei confere ao crédito
a qualidade de ser extinto antes de outros e, por meio de
preferências, a lei confere ao Fisco o direito de receber antes de
outros credores. Confiram-se os dispositivos legais.
ADMINISTRAÇÃO TRIBUTÁRIA
4.1 Fiscalização
O poder de fiscalização por parte da Autoridade Administrativa
deflui naturalmente da competência outorgada aos Poderes Públicos
para a instituição e exigência de tributos. Neste sentido, pretendeu o
legislador complementar regulamentar a competência e os poderes
da Autoridade Fiscal em matéria de fiscalização e sua aplicação aos
sujeitos passivos regularmente obrigados.
Entretanto, cabe a ressalva de que devem ser sempre respeitados
os direitos e garantias fundamentais do cidadão. De fato, encontra-se
nos dispositivos de regência da matéria, tanto na Constituição
Federal como na Legislação Complementar, certa tensão entre os
poderes da fiscalização e os direitos individuais do cidadão. A letra
do Texto Constitucional (art. 145, §1º) bem ilustra dita tensão, uma
vez que, a par de autorizar à Administração Tributária identificar o
patrimônio, os rendimentos e as atividades econômicas do
Contribuinte, impõe a necessidade de observância da legalidade e
dos direitos por ela garantidos (Constituição) ao cidadão. A seu
turno, o artigo 195 do Código Tributário Nacional estatui as
seguintes prerrogativas à Autoridade Fiscal:
Luciano Ferraz
Doutor e mestre em Direito Administrativo pela UFMG.
Professor dos cursos de graduação e pós-graduação da
UFMG e da PUC Minas. Advogado e consultor. Membro da
Comissão Nacional de Estudos Constitucionais da OAB. Foi
professor convidado da pós-graduação da USP. Controlador-
Geral do Município de Belo Horizonte. Procurador Chefe da
AGU junto à UFMG e servidor de carreira do Tribunal de
Contas do Estado de Minas Gerais.