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CRISTO E O EVANGELHO

Uma apresentação da fé cristã

Jeremiah Burroughs
Christopher Love
John Brown (de Wamphray)
Jonathan Edwards
Thomas Goodwin
Thomas Boston
Thomas Gouge
Joseph Alleine
William Guthrie
Samuel Rutherford

Rev. Christopher Vicente


Organizador

Editora Nadere Reformatie


Por uma reforma mais profunda

2023
Copyright © Christopher Vicente

Todos os direitos em língua portuguesa


de publicação e venda reservados pela
Editora Nadere Reformatie
59078–000, Natal, RN, Brasil.
www.editoranaderereformatie.com.br

1ª edição, 2023
ISBN: 978–65–996029–6–2

Editor: Christopher Vicente


Tradutor: Christopher Vicente
Revisor: Daniel de Medeiros Queiroz
Capa: Christopher Vicente, Arlanda Oliveira e Silton Macedo

Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida ou transmitida em qualquer for-
mato ou por quaisquer meios (eletrônico ou mecânico) sem a autorização e permissão por
escrito do editor, exceto para citações em trabalhos, artigos e afins com indicação de fonte.

Todas as citações bíblicas foram extraídas da


Versão Almeida Corrigida Fiel, 2007 (ACF 2007),
salvo indicação contrária:
ALM21 para Almeida Século XXI;
NVI para Nova Versão Internacional;
ARA para Almeida Revista e Atualizada.

ATENÇÃO

É proibida a publicação (em quaisquer formatos), a venda, a revenda ou a adul-


teração do conteúdo deste material por parte de terceiros. Ele pode ser compar-
tilhado e impresso para uso particular ou para presente livremente. Os direitos
autorais da organização, tradução e revisão pertencem à Editora Nadere Refor-
matie. Caso você queira como expressão de gratidão ofertar, nos ajudando com
publicações de novos materiais, pode fazer no pix:

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DEDICATÓRIA

Para:____________________________________________________

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Comprometo-me a orar a Deus por você, a fim de que você tenha muito
benefício por meio da leitura deste livreto. Que Cristo seja amado de
todo o seu coração e a Sua beleza contemplada com os olhos da fé; e que
Ele mesmo seja abraçado pelos braços da fé.

De: _________________________________

Data e Local: __________________________


SUMÁRIO

Prefácio — Rev. Christopher Vicente ................................................... 8


Um Resumo do Evangelho — Jeremiah Burroughs ........................... 11
Um Mapa do Estado do Homem sem Cristo — Christopher Love .. 12
Ninguém vai ao Pai senão por Cristo — John Brown (de Wamphray)19
A Excelência de Cristo — Jonathan Edwards ..................................... 22
Os Princípios da Fé — Thomas Goodwin, Philip Nye e Sidrach Simpson
.............................................................................................................. 30
Os Princípios da Religião Cristã — Thomas Gouge .......................... 33
A Essência das Verdades do Evangelho — Thomas Boston .............. 37
A Verdadeira Conversão a Cristo — Joseph Alleine .......................... 39
A Certeza de Salvação e de nosso Real Interesse em Cristo como
Salvador — William Guthrie ............................................................... 45
A Beleza e a Glória de Cristo — Samuel Rutherford ......................... 49
Apêndice .............................................................................................. 50
PREFÁCIO

O Evangelho é muito simples e, ao mesmo tempo, muito profundo.


O Evangelho diz respeito a Cristo, Seu ser (Deus-Homem) e Sua obra
como Redentor (Romanos 1.1–4). Mas, talvez, você ainda não teve ver-
dadeiro contato com Ele. Talvez, aqueles que dizem professá-lO e que
estão próximos a você tenham O obscurecido e, por isso, você tenha fe-
chado a porta de seu coração para ouvi-lO. Possa ser que você seja apenas
um adolescente querendo entender melhor aquilo que seus pais dizem
crer ou o que o seu “colega crente” da escola falou, mas não conseguiu
explicar bem. Ou ainda, talvez, você seja um senhor ou uma senhora de
idade com pouca instrução, desejoso(a) de aprender ou encorajado(a) a
tal por algum filho ou neto crente no Senhor.
Em qualquer que seja o seu caso, agora, você tem em suas mãos um
material que se esforça por lhe apresentar o Evangelho em sua essência,
de forma simples e acessível. Ele foi organizado pensando em você e no
benefício que sua alma pode ter; e pensando na glória de Deus por meio
daquilo que a leitura desse material pode trazer para a sua vida.
Se há um grupo de crentes no Senhor Jesus que conseguiu se apegar
firmemente à essência do Evangelho e apresentá-lo de forma simples foi
o destes autores listados na capa. Eles foram ministros do Evangelho, que
viveram entre os séculos XVI a XVIII. Para essa missão de lhe apresentar
o Evangelho, reuni e organizei, aqui, brevíssimos textos desses ministros.
Quando possível e necessário, acrescentei breves comentários, a fim de
lhe ajudar na leitura — eles estarão entre colchetes no corpo do texto.
Parte dos textos que selecionei foram escritos no formato de perguntas e
respostas (os chamados catecismos), um dos métodos mais simples e mais
utilizados para o ensino das verdades da Palavra de forma acessível.
Eu lhe confesso, por experiência própria: mesmo já sendo crente no
Senhor Jesus há anos, quando comecei a ler os textos desses homens, o
Cristo já abraçado por minha alma brilhou ainda mais glorioso. Eles ama-
vam Cristo e a Sua Palavra. Eles pregavam com zelo, convicção e poder o
puro e simples Evangelho de Cristo.
Então, neste livreto, você terá acesso a curtas e excelentíssimas expli-
cações sobre o que é o Evangelho, Cristo e Seus ensinamentos mais bási-
cos. São menos de 50 páginas de leitura para um universo de benefícios,
“E todo aquele que invocar o nome do SENHOR será salvo” (Joel 2.32)

para ter acesso a uma singela exposição da maior riqueza que um homem
pode ter: Cristo! Vale a pena o pequeno esforço. Eu lhe encorajo. Vá em
frente! Leia!
Uma apresentação ainda mais completa do Evangelho e das doutri-
nas bíblicas, de forma igualmente simples, você encontrará no Breve Ca-
tecismo de Westminster.1 Recomendo-o, caso você queira ler ainda mais
sobre esse Evangelho, após concluir esse material.
Oro para que este livreto lhe abra o apetite e lhe desperte a fome
para conhecer ainda mais e pessoalmente esse Cristo, aqui, apresentado.
Estou em oração por isso! Por favor, avise-me, nesta vida ou na vindoura,
se você abraçar a Cristo.2 E, caso aconteça, procure uma Igreja fiel à Pa-
lavra de Cristo, na qual você possa ser instruído, pastoreado e cuidado.

Rev. Christopher Vicente, Editor.


Ministro do Evangelho na Igreja Presbiteriana Manancial do Natal.
04 de março de 2023, Natal-RN.

1
Caso você se interesse, no apêndice, providenciei uma indicação para você.
2
Envie-nos e-mail para naderereformatiepublicacoes@gmail.com com o assunto: “Jesus se tor-
nou o meu Salvador e meu Senhor usando ‘Cristo e o Evangelho’”.

9
“Todo o Evangelho está contido em Cristo. Desviar-se de Cristo, mesmo
que seja apenas um passo, significa privar alguém do Evangelho. Visto que
Cristo é a viva e expressa imagem do Pai, não há por que nos sentirmos
surpresos com o fato de que Ele é, simplesmente, posto diante de nós
como Aquele que é tanto o objeto quanto o centro de toda a nossa fé”
(João Calvino).

“Cristo é o resumo de toda a Bíblia, profetizado, tipificado, prefigurado,


exibido, demonstrado, presente em cada folha, quase em cada linha”
(Thomas Adams).

“Cristo é o verdadeiro conteúdo, âmago, alma e escopo de todo


o conteúdo das Escrituras” (Issac Ambrose).

“O Evangelho é a mensagem do Reino de Deus que vem pela Pessoa e


Obra de Jesus de Nazaré. O Evangelho se encontra no nascimento, na vida,
na morte, na ressurreição e na ascensão de Jesus como o meio de Deus nos
salvar da morte e nos tornar membros de Seu Reino Eterno”
(Graeme Goldsworthy).

“Em essência, o Evangelho é a declaração do que Deus fez por nós em Je-
sus Cristo, e não (como muitas vezes fica implícito) do que Deus faz no
crente, embora não devamos separar as duas coisas. Esses são os fatos histó-
ricos objetivos sobre a vida de Jesus em carne e a interpretação dada por
Deus a esses fatos. [...] Os fatos dizem respeito à encarnação, à vida perfeita
de Jesus de Nazaré, e à sua morte e ressurreição” (Graeme Goldsworthy).
UM RESUMO DO EVANGELHO

Jeremiah Burroughs

O Evangelho de Cristo é as boas-novas que Deus revelou a respeito


de Cristo. Como toda a humanidade se perdeu em Adão, tornou-se filho
da ira e foi posta sob a sentença de morte, Deus [...] pensou nos filhos
dos homens e forneceu um meio de expiação para reconciliá-los Consigo
mesmo novamente.
A Segunda Pessoa da Trindade assume a natureza do homem sobre
Si e se torna o Cabeça de um segundo Pacto [o Pacto de Obras]. Sendo
acusado de pecado [sem ter nenhum], Ele responde por isso sofrendo o
que a Lei e a Justiça divina exigiam e dando-lhes [plena] satisfação por ter
guardado a Lei perfeitamente. Essa satisfação e justiça Ele oferece ao Pai
como um doce aroma de descanso para as almas que Lhes são dadas.
Agora, essa mediação de Cristo é, por determinação do Pai, pregada
aos homens de qualquer nação ou classe; oferecendo gratuitamente esta
expiação aos pecadores, exigindo que eles creiam nEle e prometendo
que, ao crerem, não apenas terão a quitação de todos os seus pecados
anteriores, mas [prometendo] também que não entrarão em condenação,
que nenhum de seus pecados ou indignidade jamais impedirá a paz de
Deus com eles. Antes, [o Evangelho promete] que, por meio Cristo, serão
recebidos no número daqueles que hão de ter a imagem de Deus, nova-
mente, para ser renovada neles; e que serão guardados pelo poder de
Deus, por meio da fé, para a salvação.
[Promete também] que alma e corpo dos crentes serão elevados à
mais alta glória possível a uma criatura, a fim de viverem para sempre
desfrutando da presença de Deus e de Cristo, na plenitude de todo o
bem. Esse é o Evangelho de Cristo. Esse é o resumo do Evangelho que é
pregado aos pecadores.
UM MAPA DO ESTADO DO HOMEM SEM CRISTO

Christopher Love

Caro leitor, o presente texto tem por finalidade lhe mostrar qual é o estado
descrito pela Bíblia do ser humano sem Cristo. Não pense que Christopher Love
busca ofender-lhe, ao expor com franqueza e clareza o que a Palavra de Deus diz
sobre nós. Assim como um médico expõe nossa doença, para que possamos enten-
der nossa necessidade do remédio, assim também Love expõe o que a Bíblia fala
sobre nós, a fim de que eu e você possamos entender nossa urgente e gritante
necessidade de Cristo e correr para Ele. Um bom médico não esconde o real estado
de seu paciente. Um bom pregador do Evangelho não esconde o estado do pecador,
para que Ele possa ir ao Supremo Médico de nossa alma, Cristo. Portanto, se
você ainda não creu em Cristo, eis o seu estado descrito com palavras claras e
precisas.

***

Mostrarei a você as oito propriedades [ou características] particulares


de um homem sem Cristo.

1. Todo homem sem Jesus Cristo é um homem vil;


2. Ele é um escravo;
3. Ele é um mendigo;
4. Ele é um homem cego;
5. Ele é um homem deformado;
6. Ele é um homem desconsolado;
7. Ele é um homem morto;
8. Ele é um homem danado.

Estas são as oito características de um homem sem Jesus Cristo.


Primeiro, todo homem sem Jesus Cristo é um homem vil. Embora
você tenha nascido do sangue de nobres e seja da descendência de prín-
cipes, se você não tem o sangue real de Jesus Cristo correndo em suas
veias, você é um homem vil.
“E todo aquele que invocar o nome do SENHOR será salvo” (Joel 2.32)

Em Daniel 11.21 e Salmo 15.4, você lê sobre pessoas vis. Tal é todo
homem sem Cristo. Ele não tem como ser diferente, porque é somente
Cristo quem pode tirar aquela baixeza em que cada um está por natu-
reza. Em Isaías 43.4, Deus diz: “Visto que foste precioso aos meus olhos,
também foste honrado”. E, em 1 Pedro 2.7, “para vós, os que credes”. É
Jesus Cristo quem coloca um diamante de honra e de glória sobre os
homens. Eles são todos homens vis que estão fora de Jesus Cristo; e assim
os são nestes três aspectos:

1. Eles vêm de uma origem vil;


2. Eles cometem ações vil;
3. Eles visam a finalidades vis.

Todo homem que está fora de Cristo vem de uma origem vil. Ele não
tem sua origem no Espírito, mas na carne. Ele não procede de Deus, que
é o Pai das luzes; mas do Diabo, que é o príncipe das trevas.
Ele é vil, porque comete ações vis. Todas as ações e serviços de um ho-
mem sem Cristo, na melhor das hipóteses, não passam de trapos imun-
dos e obras mortas [Isaías 64.6]. Um homem, em seu estado não-conver-
tido, é escravo e um burro de carga do Diabo; um trabalhador da impie-
dade, ainda cumprindo os desejos da carne e da mente, sendo entregue
a afeições vis.
Um homem vil, que está sem Cristo, visa a objetivos vis em tudo o que
faz, e isso de duas maneiras: (1) neste mundo, ele almeja fins vis em sua
audição, leitura, oração e profissão religiosa. Ele cuida de si mesmo e de
seus próprios fins em tudo o que faz; (2) todas as suas ações tendem a
fins vis em outro mundo. Assim como as ações de um homem em Cristo
tendem à salvação, as ações de um homem sem Cristo tendem à conde-
nação.
Segundo, um homem sem Cristo não é apenas um homem vil, mas
um escravo. Este Cristo diz a você em João 8.36: “Se, pois, o Filho vos
libertar, verdadeiramente sereis livres”, insinuando que, se você não tem
interesse em Cristo para libertá-lo da escravidão do pecado e de Satanás,
você é escravo de fato.
Esta servidão e escravidão, da mesma forma, consiste em três parti-
cularidades: são escravos (1) do pecado; (2) do Diabo; e (3) da Lei.

13
“Se com a tua boca confessares ao Senhor Jesus,
e em teu coração creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo” (Romanos 10.9).

1. Todo homem sem Cristo é um escravo do pecado. Em João 8:34, Jesus diz:
“Em verdade vos digo que todo aquele que comete pecado é servo
do pecado”; e em 2 Pedro 2:19: “Prometem-lhes liberdade, ao passo
que eles próprios são escravos da corrupção; pois o homem se torna
escravo daquele por quem é vencido” (ALM21). Todo homem, por
natureza, é escravo de suas concupiscências, do pecado e das criatu-
ras. Deus fez o homem [senhor] sobre todas as criaturas, mas o ho-
mem se fez escravo de todas elas.
2. Ele não está apenas em cativeiro e escravidão ao pecado, mas tam-
bém ao Diabo. Os dois últimos versículos de 2 Timóteo 2 dizem:
“instruindo com mansidão os que se opõem, se porventura Deus
lhes dará arrependimento, para conhecerem a verdade, a fim de que
se livrem das ciladas do Diabo, que são apanhados cativo por ele à
sua vontade”.
3. Ele está sujeito à Lei, isto é, não faz nada em obediência à Lei. Esta
é a grande miséria de um homem sem Cristo. Ele é obrigado a guar-
dar toda a Lei de Deus. Há uma expressão muito estranha em Apo-
calipse 18:13. O apóstolo João diz ali que todos aqueles que adora-
ram a besta clamarão: “Ai de mim”, pois a Babilônia caiu; e clama-
rão pelos escravos e pelas almas dos homens. Todos os homens ím-
pios são escravos do Anticristo, do pecado e da Lei, e esta é a grande
miséria de um homem não-regenerado.3

Terceiro, você não é apenas um vil e um escravo, mas, sem Jesus


Cristo, também um mendigo; pois todos os tesouros da graça e miseri-
córdia estão escondidos e guardados em Cristo, como em um barril ou
depósito comum. Colossenses 2.3 diz: “Nele estão escondidos todos os
tesouros da sabedoria e do conhecimento” (NVI). Se você está fora de
Cristo, você não tem nada. Conforme afirma Apocalipse 3.17: “Como
dizes: Rico sou, e estou enriquecido, e de nada tenho falta; e não sabes
que és um desgraçado, e miserável, e pobre, e cego, e nu”. Você
3
Caro leitor, um “homem não-regenerado” é o homem que não passou pela regeneração.
Regeneração é o ato da livre graça de Deus, pelo qual Ele transforma a natureza de um ser
humano de morto para vivo; de amante do pecado, para amante da santidade; de escravo do
pecado, para escravo da justiça de Deus. Dentre vários textos, essa doutrina é claramente ensi-
nada em João 3.1–7. [N. do Editor].

14
“E todo aquele que invocar o nome do SENHOR será salvo” (Joel 2.32)

concederá que ele é um homem pobre e mendigo que carece destas qua-
tro coisas: (1) carne para seu estômago; (2) roupas para suas costas; (3)
dinheiro para sua bolsa e (4) uma casa para colocar sua cabeça. Quem
está fora de Cristo é um mendigo.

1. Um mendigo é aquele que não tem carne para comer. Todos vocês
que não têm interesse em Jesus Cristo são mendigos, nesse aspecto,
porque não se alimentam desse pão da vida, nem bebem da água da
vida — o Senhor Cristo, cuja carne é realmente comida e cujo sangue
é realmente bebida, sem o qual suas almas morrerão de fome.
2. Um mendigo é um homem pobre que não tem roupas para vestir;
assim também, todo homem fora de Cristo não é apenas pobre, mas
nu — Apocalipse 3:17: “Não sabias que eras pobre, miserável e cego
e nu”. Aquele homem que não está vestido com as longas vestes da
justiça de Cristo é um homem nu e está exposto à ira e vingança do
Deus Todo-Poderoso. Esses homens têm um manto para cobrir sua
nudez pecaminosa e vergonha que estão vestidos com as vestes da
justiça de Cristo. É dito que Jacó obteve a bênção de seu pai por
estar vestido com as vestes de seu irmão mais velho. Assim somos
abençoados apenas por Deus, nosso Pai, quando estamos vestidos
com as vestes de nosso irmão mais velho, Jesus Cristo.
3. Um mendigo é aquele que não tem dinheiro na bolsa. Embora a
bolsas de vocês estejam cheias de ouro, se seus corações não estive-
rem cheios de graça, vocês são homens mendigos (Lucas 16.11). A
graça é a única verdadeira riqueza. Todas as riquezas duráveis estão
ligadas a Cristo.
4. E, por fim, é um mendigo quem não tem casa onde reclinar a ca-
beça, que não tem casa para se hospedar e cama para se deitar. En-
tão, você que não tem interesse em Cristo, quando seus dias expira-
rem e a morte chegar, você não saberá o que fazer nem para onde
ir. Você não pode dizer com o homem piedoso que, quando a morte
o levar daqui, será recebido nas habitações eternas. Você não pode
dizer que Cristo foi antes para preparar um lugar para você no
Céu. Então, nesses quatro detalhes, você vê que um homem sem
Cristo é um homem muito miserável, sem comida para o corpo,
nem roupas para as costas, nem dinheiro para a carteira, nem casa

15
“Se com a tua boca confessares ao Senhor Jesus,
e em teu coração creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo” (Romanos 10.9).

para colocar a cabeça, senão uma masmorra de escuridão com de-


mônios e espíritos condenados.

Quarto, outra característica de um homem sem Cristo é que ele é


cego. Apocalipse 3.17: “E não sabias que és um desgraçado, e miserável,
e pobre, e cego, e nu”. É por isso que os homens perversos, quando não-
regenerados, são chamados de “trevas”. Outrora fostes trevas, mas, agora,
sois luz no Senhor — andai como filhos da luz [Efésios 5.8]. Assim, a luz
veio ao mundo, mas os homens amam mais as trevas do que a luz, porque
suas obras são más [João 3.19].
Jesus Cristo é para a alma o que o Sol é para a Terra. Tire o Sol da
Terra e nada mais é do que um calabouço de escuridão. Então, tire Cristo
da alma e ela não passa de uma masmorra do Diabo. Embora haja um
Cristo no mundo, se o coração está fechado e Jesus Cristo não está em
você, você está em um estado de escuridão e cegueira.
Quinto, todo homem sem Cristo é um homem deformado, como
você pode ler em Ezequiel 16.3–14: “Assim diz o Senhor DEUS a Jeru-
salém: A tua origem e o teu nascimento procedem da terra dos cananeus.
Teu pai era amorreu, e tua mãe heteia”; e, então, no versículo 6: “E, pas-
sando eu junto de ti, vi-te a revolver-te no teu sangue, e disse-te: Ainda
que estejas no teu sangue, vive; sim, disse-te: Ainda que estejas no teu
sangue, vive”. Mas, então, veja o versículo 7: “Eu te fiz multiplicar como
o renovo do campo, e cresceste”. Então, no versículo 14: “Tua fama se
espalhou entre os pagãos por causa da tua beleza, pois era perfeita pela
minha beleza que eu pus sobre ti, disse o Senhor”, dando a entender que,
antes de Cristo olhar para uma alma, ela jaz em seu próprio sangue e é
incapaz de ajudar a si mesma, mas ela se torna atraente por meio da be-
leza de Cristo que é lançada sobre ela. Se você não tem Cristo, você não
tem o seu melhor ornamento.
Um homem sem Cristo é como um corpo cheio de feridas e man-
chas. Ele é como uma casa escura sem luz e um corpo sem cabeça. Tal
homem é um homem deformado.
Sexto, outra característica de um homem sem Cristo é que ele é
um homem desconsolado. Cristo é a única fonte de conforto e a fonte
de toda alegria e consolação. Tire Cristo da alma e é como se tirasse o Sol
do firmamento. Se um homem tem todas as bênçãos do mundo e carece

16
“E todo aquele que invocar o nome do SENHOR será salvo” (Joel 2.32)

de Cristo, ele carece daquilo que deveria suavizar todo o resto de seus
desconfortos. Em Êxodo 15.23–25, você lê sobre as águas de Mara. Elas
eram tão amargas que ninguém podia beber delas, mas, então, o Senhor
mostrou a Moisés uma árvore que, quando lançada nas águas, tornou-as
doces. Ora, Jesus Cristo é esta árvore. Ele adoça a amargura de qualquer
aflição externa e pode fazer todas as suas tristezas desaparecerem. Não há nada
no mundo que adoce mais o conforto e nos dê alegria na posse das coisas
deste mundo do que ter interesse em Jesus Cristo.
Amados, não é ter muito da criatura em sua casa que os faz viver
confortavelmente, mas ter Cristo em seus corações. Todo pão que você
comer será pão de dor, se não se alimentar do corpo de Jesus Cristo; e
toda a sua bebida será apenas vinho de espanto, se você não beber do
sangue de Jesus Cristo. Sem interesse em Cristo, todos os confortos são
apenas cruzes; e todas as misericórdias são apenas misérias, conforme é
dito em Jó 20.22: “Na plenitude de sua suficiência, ele estará em apuros”
(versão do autor). Embora você tenha abundância das coisas desta vida,
embora tenha mais do que o suficiente, ainda assim, se você não tem
interesse em Cristo, você não tem nada.
Sétimo, outra propriedade de um homem fora de Cristo é que ele
é um homem morto. Você conhece aquela passagem de 1 João 5.12:
“Quem tem o Filho tem a vida; quem não tem o Filho não tem a
vida”. Por isso, lemos, em Efésios 2.1–10, que os homens não-regenerados
estão mortos em delitos e pecados; e Cristo é a vida do crente. Colossenses
3.3 diz: “Nossa vida está escondida com Cristo em Deus”. Tire Cristo de
um homem e você tira sua vida; e tire a vida de um homem e ele é um
pedaço de carne morta. Homens não-regenerados são chamados de estra-
nhos à vida piedosa e, portanto, devem estar mortos em seus peca-
dos. Embora eles não desfrutem da vida [natural] de um homem, se a
vida que ele vive não é pela fé no Filho de Deus, ele está espiritualmente
morto.
Por exemplo, você sabe que um homem morto não sente nada. Faça
o que quiser com ele. Ele não sentirá nada. Assim, um homem que está
espiritualmente morto não sente o peso de seus pecados, embora eles
sejam um fardo pesado que o empurra para o abismo do inferno. Ele é
um estranho à vida de piedade, entregue a um senso reprovador, de
modo que não sente o peso e o fardo de todos os seus pecados.

17
“Se com a tua boca confessares ao Senhor Jesus,
e em teu coração creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo” (Romanos 10.9).

Um homem morto não tem direito a nada nesta vida. Embora ele
tenha sido tão rico, ele perde seu título para todos, suas riquezas vão dele
para outro. Portanto, estando espiritualmente morto, você não pode rei-
vindicar nada, nem a graça, nem a misericórdia, nem o céu, nem a felici-
dade em Jesus Cristo. Um morto apodrece e volta ao pó de onde veio.
Assim também, um homem espiritualmente morto cai de iniquidade em
iniquidade, de um pecado em outro, até que finalmente cai no fogo do
inferno.
Oitavo, a última propriedade de um homem sem Cristo é que ele
é um homem condenado. Se ele vive e morre sem Cristo, ele é um ho-
mem condenado. Assim, diz João 3.18: “Quem não crê, já está conde-
nado”. Ele, certamente, está condenado como se já estivesse no in-
ferno. Aquele que está sem Jesus Cristo deve ficar sem o céu, pois o céu,
a glória e a felicidade são inerentes a Cristo. [Não há céu sem Cristo]. O
céu não é dado a ninguém, exceto àqueles que são herdeiros juntamente
com Cristo. Portanto, você que está sem Cristo ficará sem o Céu e, con-
sequentemente, sem felicidade e salvação e, consequentemente, você será
condenado.
[Caro leitor, isso não é “terrorismo” — como alguns chamam, visando fazer
pouco caso de palavras semelhantes a essa. Isso é um claro alerta que o SENHOR
dá ao ser humano. É tolice achar que um juiz que considera a justiça não conde-
naria um criminoso. Por que acharíamos “terrorismo” os alertas que o Justíssimo
e Perfeito Juiz nos faz, a fim de nos encorajar a abraçar a Cristo como o meio
para não sermos justamente condenados? Não se esconda por trás de objeções que
nem você mesmo concorda, se aplicadas aos homens. Abrace sem demora a oferta
de paz e absolvição.]
Veja nessas oito características particulares a condição triste e mise-
rável que todo homem sem Cristo está! Eu clamo a você: que o que agora
foi declarado sobre a miséria de um homem sem Cristo possa provocar
sua alma a uma santa ânsia e sinceridade de espírito, acima de tudo o que
você ganha, a fim de lhe encorajar a trabalhar para obter Jesus Cristo.

18
NINGUÉM VAI AO PAI SENÃO POR MIM

John Brown (de Wamphray)

“Disse-lhe Jesus: Eu sou o caminho, e a verdade e a vida; ninguém vem ao


Pai, senão por mim” (João 14.6).

I. É muito necessário ser sólido e claro, neste ponto fundamental: [de-


vemos] ir a Deus somente em e por meio de Cristo. Isso é todo o âmago
do Evangelho. É a dobradiça de nossa salvação. Cristo é “a principal pe-
dra angular” (Isaías 38.16; 1 Pedro 1.5–6). Esse fato é o único funda-
mento de toda a nossa paz e conforto sólidos e verdadeiros. Um erro ou
engano nesse ponto é muito perigoso, arriscando (se não arruinando)
tudo. É contra isso que Satanás se esforça, levanta heresias, erros e falsas
opiniões; leva alguns a expressarem dúvidas e objeções desconcertantes
— tudo para obscurecer esse ponto cardeal. Assim, ele reúne todas as suas
tentações visando impedir que as pobres almas conheçam esse caminho
e façam uso dele ou entrem nele.
Não apenas Satanás, mas nossos corações corruptos são mais avessos
a esse fato e se fecharão de qualquer maneira para isso, por mais proble-
mático, caro e custoso que pareça ser a questão. A gravidade de atentar-
mos para o que Cristo disse — “Disse-lhe Jesus: Eu sou o caminho, e a
verdade e a vida; ninguém vem ao Pai, senão por mim” (João 14.6) — é
que há uma infinidade de caminhos falsos. [Você pode estar em algum destes
caminhos falsos.]
Tudo o que esclarece essa necessidade que temos deve nos ensinar
a diligência em conhecermos esse Caminho e ter certeza de que estamos
nEle, e o mantermos firme e puro em nossa prática, sem misturar qual-
quer coisa com ele, ou sem corrompê-lo.

II. É muito difícil fazer com que essa verdade seja crida e praticada, a
saber: que somente por meio de Cristo chegamos ao Pai. A natureza
não ensinará dessa maneira. Tal verdade está muito acima da natureza.
Sim, nossas inclinações naturais são muito contrárias a ela, opondo-se e
lutando contra ela. Esse caminho [Cristo] é totalmente contrário àquela
“Se com a tua boca confessares ao Senhor Jesus,
e em teu coração creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo” (Romanos 10.9).

alta estima que naturalmente todos nós temos de nós mesmos. E é o


oposto daquele orgulho de coração ao qual naturalmente estamos sujei-
tos. Sim, não há nada em nós, por natureza, que de bom grado se con-
forme com esse caminho; mas, ao contrário, tudo é oposto a isso. Por-
tanto, é a primeira lição do cristão negar a si mesmo.
A consideração disso deve nos humilhar e nos deixar com muito
zelo de nosso próprio coração e inclinação, e de todos os caminhos pelos
quais eles são inclinados. Deve nos fazer testar se já superamos essa difi-
culdade, isto é, se já temos todas as nossas esperanças e confortos funda-
mentados nEle e em nada mais. Nossa paz e alegria serão maiores ou
menores conforme conquistamos Cristo ou somos afastados dEle. [...]
[Estamos certo de] que Cristo é o nosso caminho para o Pai. [Que Ele é o
caminho é certo. Mas Ele é o seu caminho, isto é, você está trilhando esse cami-
nho?]

III. Até mesmo os crentes, aqueles que já creram em Cristo, precisam


ter esta verdade frequentemente inculcada. Satanás está ocupado ten-
tando tirar-nos desse Caminho por todas as artimanhas e tentações pos-
síveis. Sua própria corrupção interna e o coração maligno da increduli-
dade sempre se opõem a esse caminho e os desviam dele. Assim, por meio
das artimanhas de Satanás e do poder da corrupção, muitas vezes, eles
estão abandonando esse caminho puro do evangelho. A experiência dos
crentes pode dizer que, quando eles estão no seu melhor, é um grande
trabalho e exercício para eles manterem seus corações retos neste assunto.
Não é visto com muita frequência que eles são a praga espiritual da for-
malidade, que toma conta de alguns crentes? E, muitas vezes, não se
constata que eles estão muito prontos para se inclinar para algo além de
Cristo?
Todos devem estar convencidos disso e humilhados sob a percepção
disso! Veja também como é necessário pregar frequentemente sobre este
assunto, e estar sempre pensando e estudando essa verdade fundamental.
Portanto, deve ser um forte motivo e incentivo para fazermos uso
de Cristo, como o caminho para o Pai, para que ninguém venha ao Pai
senão por Ele; pois isso pode ser considerado um argumento que impõe
o uso dele como o caminho.

20
“E todo aquele que invocar o nome do SENHOR será salvo” (Joel 2.32)

V. Ele descobre o fundamento dessa verdade, que há apenas poucos


que são salvos, pois ninguém vem ao Pai senão por Ele. “Poucos” em
relação ao mundo inteiro. E em relação àqueles que ouvem falar dEle,
poucos têm a verdadeira maneira de empregá-lo e aplicá-lo, pois o cami-
nho para o Pai se abre para eles. Novamente, daqueles que têm a verdade
sobre Jesus pregada a eles, quão poucos vão a Ele e fazem uso dele de
acordo com a verdade, e acreditam e praticam a verdade! [Você que, agora,
ouve sobre o Caminho de Salvação por meio de Cristo, irá a Ele?]

VI. Somente em e por meio de Cristo devemos ir. Somente em e por


meio de Cristo devemos ir para temos conhecimento do Pai, pois Jesus disse:
“ninguém conhece o Pai, senão o Filho, e aquele a quem o Filho o quiser
revelar” [Mateus 11.27]; para termos o favor e a amizade do Pai, pois so-
mente Ele é a nossa paz [Efésios 2.14]; e somente dEle o Pai se agrada
[Mateus 3.17].
Somente em e por meio de Cristo devemos ir para termos o Reino do
Pai aqui, pois apenas em Cristo está a porta [João 10.7] e, por Seu Espí-
rito, somos efetivamente chamados [Filipenses 3.14]; para termos o Reino
do Pai acima, pois somente ele abriu aquela porta e entrou no lugar mais
santo de todos, como nosso precursor [Hebreus 6.20; 9.12], e foi preparar
um lugar para nós [João 4.2–3].
Somente por meio dEle devemos nos dirigir ao Pai em nossas súplicas
(João 16. 23; Apocalipse 8.3; Romanos 1.8; Colossenses 3.17; He-
breus 13.15; Efésios 3.21. [Então, você percebe o grande pecado e a grande
blasfêmia em se orar a outros que não seja a Deus, conforme os romanistas ou a
Igreja Católica Romana ensinam, orando a anjos, santos etc. Apenas Deus pode
ouvir orações, porque apenas Ele é onisciente; apenas Ele pode responder, porque
Ele é onipotente e todo sábio, e o boníssimo. Orar a alguma criatura é atribuir
divindade ou os atributos de Deus a ela. Em nenhuma porção das Escrituras é
ensinado a blasfêmia de se orar a santos, anjos ou Maria]. Somente por meio
dEle temos acesso e uma porta aberta ao Pai (Efésios 2.18, 3.21; He-
breus 4.16).

21
A EXCELÊNCIA DE CRISTO4

Jonathan Edwards
Resumido e adaptado por Rev. Christopher Vicente

E disse-me um dos anciãos: Não chores; eis aqui o Leão da tribo de Judá, a
raiz de Davi, que venceu, para abrir o livro e desatar os seus sete selos. E olhei, e
eis que estava no meio do trono e dos quatro animais viventes e entre os anciãos
um Cordeiro, como havendo sido morto, e tinha sete chifres e sete olhos, que
são os sete espíritos de Deus enviados a toda a terra (Apocalipse 5.5–6).

Muitas coisas podem ser observadas nas palavras do texto; mas para
meu propósito, mostrarei apenas as excelências do que é falado sobre
Cristo.
Ele é chamado de Leão. Eis o Leão da tribo de Judá. Ele é chamado
de Leão da tribo de Judá, em alusão ao que Jacó disse em sua bênção à
tribo em seu leito de morte; que, quando veio abençoar Judá, compara-o
a um leão (Gênesis 49.9). Ele era descendente de Davi, que era da Tribo
de Davi, e é chamado em nosso texto “a Raiz de Davi”. Portanto, Cristo
é aqui chamado de “o Leão da tribo de Judá”.
Ele é chamado de Cordeiro. João começa a ser informado, na visão,
acerca do Leão vitorioso para abrir o livro, mas eis que um Cordeiro apa-
rece para abrir o livro, uma espécie de criatura muito diversa de um leão.
Um leão é um devorador, aquele que costuma fazer uma terrível matança
de outros. Nenhuma criatura é mais facilmente uma presa para ele do
que um cordeiro. Cristo é, aqui, representado não apenas como um Cor-
deiro, uma criatura muito passível de ser morta, mas como um “Cordeiro
como havia sido morto”, isto é, com as marcas de suas feridas mortais
aparecendo nEle.
Há uma admirável e abundante excelência em Jesus Cristo. O leão
e o cordeiro, embora tipos muito diversos de criaturas, ainda assim têm
suas excelências peculiares. O leão se destaca em força e em majestade,
por sua aparência e voz; o cordeiro, em mansidão e paciência, além da
natureza excelente da criatura como boa para comida, e dando o que é

4
Parte 1 do Sermão de Jonathan Edwards.
“E todo aquele que invocar o nome do SENHOR será salvo” (Joel 2.32)

adequado para nossas roupas e adequado para ser oferecido em sacrifício


a Deus. Mas vemos que Cristo é, no texto, comparado a ambos, porque
as diversas excelências de ambos se encontram maravilhosamente nEle.
Há uma junção de excelências em Cristo.
Encontram-se, em Jesus Cristo, infinita alteza e infinita condescen-
dência. Cristo, sendo Deus, é infinitamente grande e elevado acima de
tudo. Ele é mais elevado que os reis da terra, porque Ele é o Rei dos reis
e Senhor dos senhores. Ele é mais elevado que os céus e mais alto que os
anjos mais elevados do céu. Tão grande Ele é, que todos os homens, to-
dos os reis e príncipes são como vermes do pó diante dEle; todas as na-
ções são como a gota do balde e o pó leve da balança; sim, e os próprios
anjos são como nada diante dEle. Ele é tão elevado que está infinita-
mente acima de qualquer necessidade nossa; acima do nosso alcance, [...];
e acima de nossas concepções, de tal forma que não podemos compre-
endê-lo (Provérbios 30.4; Jó 11.8). Cristo é o Criador e grande possuidor
do céu e da terra. Ele é o Senhor soberano de todos. Ele governa todo o
universo e faz tudo o que lhe agrada. Seu conhecimento é ilimitado. Sua
sabedoria é perfeita e ninguém pode contorná-la. Seu poder é infinito e
ninguém pode resistir a Ele. Suas riquezas são imensas e inesgotáveis. Sua
majestade é infinitamente terrível.
No entanto, Ele é alguém de infinita condescendência.5 Ele condes-
cende não apenas com os anjos, humilhando-se para contemplar as coisas
que são feitas no céu, mas também condescende com essas pobres criatu-
ras como os homens — isso não apenas para observar príncipes e grandes
homens, mas também aqueles que são de posição e grau mais baixos, “os
pobres do mundo” (cf. Tiago 2.5). Aqueles que são comumente despre-
zados por seus semelhantes, Cristo não despreza ou os têm como inferi-
ores (1 Coríntios 1:28; Lucas 16:22; Colossenses 3:11; Mateus 19:14).
Sua condescendência é grande o suficiente para se tornar seu amigo,
para se tornar seu companheiro, para unir suas almas a Ele em casamento
espiritual. É suficiente, para provar essa condescendência, Ele tomar so-
bre Si a natureza do ser humano (Sua criatura), tornar-se um deles, para
ser um com eles. Sim, até expor-se à vergonha e ao cuspe de homens vis;
sim, até entregar-se a uma morte ignominiosa por eles. Que ato de con-
descendência pode ser considerado alta?

5
Condescendência é o ato de se rebaixar ao nível inferior de outro. [N. do Editor].

23
“Se com a tua boca confessares ao Senhor Jesus,
e em teu coração creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo” (Romanos 10.9).

Essa junção de infinita alteza e profunda condescendência, na


mesma pessoa, é admirável. Que distância ele mantém daqueles que es-
tão abaixo dele! E um pouco de condescendência é o que ele espera que
seja valorizado e muito reconhecido. Cristo condescende em lavar nossos
pés; mas como os grandes homens (ou melhor, os vermes maiores) se
considerariam rebaixados por atos de muito menos condescendência!
Encontram-se, em Jesus Cristo, justiça infinita e graça infinita.
Como Cristo é uma pessoa divina, Ele é infinitamente santo e justo, odi-
ando o pecado e disposto a executar punição contra o pecado. Ele é o
Juiz do mundo — um Juiz infinitamente justo — e, de forma alguma, ab-
solverá os ímpios; ou, de forma alguma, inocentará os culpados.
No entanto, Ele é infinitamente gracioso e misericordioso. Embora
Sua justiça seja tão estrita com relação a todo pecado e toda violação da
lei, Ele tem graça suficiente para todo pecador — até mesmo para o prin-
cipal dos pecadores. E não é apenas suficiente, para os mais indignos,
mostrar-lhes misericórdia e conceder-lhes algum bem, mas conceder o
maior bem; sim, é suficiente conceder-lhes todo o bem e fazer todas as
coisas por eles. Não há benefício ou bênção que eles possam receber
maior do que isso.
Essas excelências de Cristo estão unidas a Ele de forma incompre-
ensível. Elas não estão unidas em nenhuma outra pessoa e de uma forma
que nem homens nem anjos jamais imaginariam que poderiam se reunir
na mesma pessoa, se não tivesse sido visto na Pessoa de Cristo.
Na pessoa de Cristo, encontram-se a glória infinita e a mais profunda hu-
mildade. A glória infinita e a mais profunda humildade não se encontram
em nenhuma outra pessoa senão em Cristo. Em Jesus Cristo, que é ple-
namente Deus e plenamente homem, essas duas diversas virtudes estão
docemente unidas. Ele é uma pessoa infinitamente exaltada em glória e
dignidade (Filipenses 2.6). Há igual honra devida a Ele como ao Pai (João
5.23; Hebreus 1.8). E há o mesmo respeito supremo e adoração divina
prestada a ele pelos anjos do céu, como a Deus Pai (Hebreus 1.6).
Entretanto, por mais que Ele esteja acima de tudo, Ele é o mais hu-
milde de entre todos os humildades. Nunca houve um exemplo tão
grande dessa virtude entre homens ou anjos, como em Jesus. Ninguém
jamais foi tão sensível à distância entre Deus e Ele; ou teve um coração
tão humilde diante de Deus, como o homem Cristo Jesus (Mateus 11.29).

24
“E todo aquele que invocar o nome do SENHOR será salvo” (Joel 2.32)

Que maravilhoso espírito de humildade se fez notório nEle, quando Ele


estava aqui na terra, em todo o Seu comportamento — vivendo contente
na família de José, o carpinteiro; a pobreza e o desprezo (em vez da gran-
deza terrena); em lavar os pés de seus discípulos e em todos os seus dis-
cursos e comportamento para com eles; ao sustentar alegremente a forma
de servo durante toda a sua vida; e submeter-se a tão imensa humilhação
na morte!
Na pessoa de Cristo, encontram-se a majestade infinita e a mansidão trans-
cendente. Novamente, essas são duas qualificações que não se encontram
em nenhuma outra pessoa senão em Cristo. A mansidão, propriamente
dita, é uma virtude inerente apenas à criatura. Raramente, nós encontra-
mos a mansidão mencionada como um atributo divino nas Escrituras —
pelo menos, não no Novo Testamento; pois, assim, parece significar uma
calma e quietude de espírito, surgindo da humildade em seres mutáveis,
que são naturalmente passíveis de serem perturbados pelos assaltos de
um mundo tempestuoso e prejudicial. Mas Cristo, sendo Deus-Homem,
tem majestade infinita e mansidão transbordante.
Cristo foi uma pessoa de infinita majestade. É dEle que se fala, no
Salmo 45.3: “Cinge a tua espada à coxa, ó valente, com a tua glória e a
tua majestade”. Ele é o poderoso, que cavalga sobre os céus. Ele que é
terrível em seus santos lugares; que é mais poderoso do que o barulho de
muitas águas, sim, do que as poderosas ondas do mar. Diante dEle, vai
um fogo que consome os Seus inimigos ao redor. Em Sua presença a terra
treme e as colinas se derretem. Ele está assentado sobre a curvatura da
terra e todos os seus habitantes são como gafanhotos. Ele repreende o
mar e seca-o, bem como os rios. Seus olhos são como uma chama de fogo.
Por Sua presença e pela glória de Seu poder, os ímpios serão punidos
com a destruição eterna. Ele é o bendito e único Potentado, o Rei dos
reis e Senhor dos senhores, que tem o céu por Seu trono e a terra por
escabelo de seus pés. Ele é o Alto e o Sublime, que habita a eternidade,
cujo Reino é um reino eterno e cujo domínio não tem fim.6
No entanto, Ele foi o exemplo mais maravilhoso de mansidão e hu-
milde quietude de espírito que já existiu. De acordo com a profecia sobre
Ele, mencionada em Mateus 21.4–5: “Ora, tudo isto aconteceu para que

6
Caro leitor, neste parágrafo, Edwards parafraseou e conjugou inúmeros versículos bíblicos
que falam de Cristo e de Sua majestade. [N. do Editor].

25
“Se com a tua boca confessares ao Senhor Jesus,
e em teu coração creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo” (Romanos 10.9).

se cumprisse o que foi dito pelo profeta, que diz: ‘Dizei à filha de Sião:
Eis que o teu Rei aí te vem, manso, e assentado sobre uma jumenta, e
sobre um jumentinho, filho de animal de carga’”. E, de acordo com o
que Cristo declara de si mesmo, em Mateus 11.29: “Tomai sobre vós o
meu jugo, e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração; e en-
contrareis descanso para as vossas almas” (grifo nosso). E de acordo com
o que era manifesto em Seu comportamento, pois nunca houve tal exem-
plo visto sobre a terra: um comportamento manso, sob injúrias e repro-
vações, e para com os inimigos; que, quando Ele foi insultado, não revi-
dou insultando de volta [1 Pedro 2.23]. Ele tinha um maravilhoso espí-
rito de perdão, estava pronto para perdoar Seus piores inimigos, orou
por eles com orações fervorosas e eficazes; e foi como um cordeiro para
o matadouro [Isaías 53.7; Atos 8.32]. Assim, Cristo é um Leão em majes-
tade e um Cordeiro em mansidão.
Na pessoa de Cristo, encontram-se a mais profunda reverência e a igualdade
com Deus. Cristo, quando na terra, apareceu cheio de santa reverência
para com o Pai. Ele prestou a mais reverente adoração a Ele, orando a
Ele com posturas de reverência. Assim, lemos sobre ele em Lucas 22.41.
Assim se tornou Cristo homem, mas ao mesmo tempo era Deus. Por isso,
Sua pessoa era em todos os aspectos igual à pessoa do Pai. Deus, o Pai,
não tem nenhum atributo ou perfeição que o Filho não tenha, em igual
grau e em igual glória. Essas coisas não se encontram em nenhuma outra
pessoa senão em Jesus Cristo.
Na pessoa de Cristo, está unido o infinito merecimento do bem e a maior
paciência sob os sofrimentos do mal. Ele era perfeitamente inocente e não
merecia nenhum sofrimento. Ele não merecia nenhuma punição de
Deus por qualquer culpa Sua e não merecia nenhum mal dos homens.
Sim, Ele não era apenas inofensivo e indigno de sofrimento, mas era in-
finitamente digno. Ele era digno do amor infinito do Pai; digno da feli-
cidade infinita e eterna; e infinitamente digno de toda estima, amor e
serviço possíveis de todos os homens.
No entanto, Ele foi perfeitamente paciente sob os maiores sofrimen-
tos que já foram suportados neste mundo (Hebreus 12.2). Ele não sofreu
de Seu Pai por causa de Suas próprias faltas; mas, das nossas. Ele não
sofria dos homens por causa de Suas próprias faltas, mas por aquelas coi-
sas pelas quais Ele era infinitamente digno de amor e honra dos homens,

26
“E todo aquele que invocar o nome do SENHOR será salvo” (Joel 2.32)

o que tornava Sua paciência ainda mais maravilhosa e gloriosa (1 Pedro


2:20). Não existe tal conjunção de inocência, dignidade e paciência sob
sofrimentos, como na pessoa de Cristo.
Na pessoa de Cristo, estão unidos um espírito de obediência superior, com
domínio supremo sobre o céu e a terra. Cristo é o Senhor de todas as coisas
em dois aspectos. Primeiro, Ele é assim, como Deus-Homem e Mediador
— assim, Seu domínio é designado e dado a Ele pelo Pai. Tendo-o por
delegação de Deus, Ele é como se fosse o vicerregente do Pai. Segundo,
Ele é o Senhor de todas as coisas em um sentido original e por natureza,
Ele é Deus — assim ele é por direito natural o Senhor de todos, e supremo
sobre todos, tanto quanto o Pai. Dessa forma, Ele tem domínio sobre o
mundo, não por delegação, mas por direito próprio. Ele não é um Deus
subordinado, como supõem os arianos,7 mas, para todos os efeitos e pro-
pósitos, o Deus Supremo.
E ainda, na mesma pessoa, é encontrado o maior espírito de obedi-
ência aos mandamentos e Leis de Deus que já existiu no universo. Isso
pode ser visto em João 10.18; 14.31; 15.10; Hebreus 5.8 e Filipenses 2.8.
Ele se humilhou e foi obediente até a morte e morte de cruz. Nunca
houve tal exemplo de obediência nos homens ou nos anjos como este —
embora ele fosse ao mesmo tempo o Senhor supremo dos anjos e dos
homens.
Na pessoa de Cristo, unem-se a soberania absoluta e a resignação perfeita.
Esta é outra conjunção incomparável. Cristo, sendo Deus, é o soberano
absoluto do mundo, o soberano organizador de todos os eventos. Os De-
cretos de Deus são todos os Seus Decretos soberanos; e a obra da Criação

7
O Arianismo é uma heresia, do século IV, que atacou o Ser de Cristo, ensinando que Ele
não era Deus — isto é, não era uma das Pessoas da Trindade. Atualmente, os Testemunhas de
Jeová são representantes modernos dessa heresia. Uma versão similar encontra-se em algumas
formas de Espiritismo, que consideram Cristo como uma mera criatura que atingiu um sublime
grau de iluminação. O apóstolo Paulo disse: “Cristo, que é Deus acima de tudo, bendito para
sempre! Amém” (Romanos 9.5). Os magos do oriente, pela fé, adoraram o Deus Encarnado
ainda na condição de bebê: “E, entrando na casa, acharam o menino com Maria sua mãe e,
prostrando-se, O adoraram” (Mateus 2.2, 11). Os discípulos também fizeram isso antes da res-
surreição: “Então, aproximaram-se os que estavam no barco, e adoraram-no, dizendo: És ver-
dadeiramente o Filho de Deus” (Mateus 14.33, cf. Mateus 20.20; 28.9). E fizeram isso após a
ressurreição, igualmente: “Quando o viram, adoraram-no” (Mateus 28.17). Especialmente,
Tomé, quando o viu ressurreto, reagiu dizendo: “Senhor meu, e Deus meu!” (João 20.28). [N.
do Editor.]

27
“Se com a tua boca confessares ao Senhor Jesus,
e em teu coração creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo” (Romanos 10.9).

e todas as obras da Providência de Deus são Suas obras soberanas. Ele é


quem opera todas as coisas de acordo com o conselho de Sua própria
vontade (Colossenses 1.16; João 5.17; Mateus 8.3).
No entanto, Cristo foi o exemplo mais maravilhoso de submissão
que já apareceu no mundo. Ele estava absoluta e perfeitamente resignado
quando esteve próximo de Seus terríveis sofrimentos e do terrível cálice
que deveria beber. A ideia e a expectativa disso deixaram Sua alma extre-
mamente triste até a morte e o colocaram em tal agonia que seu suor era
como grandes gotas ou coágulos de sangue caindo ao chão. Porém, em
tais circunstâncias, Ele estava totalmente submisso à vontade de Deus
(Mateus 26.39, 42).
Em Cristo, encontram-se a autossuficiência e toda a confiança em Deus,
que é outra conjunção peculiar à pessoa de Cristo. Como Ele é uma pessoa
divina, Ele é autossuficiente, não precisando de nada. Todas as criaturas
dependem dEle, mas Ele não depende de ninguém, e é absolutamente
independente. Sua origem do Pai, em sua geração eterna, não demonstra
nenhuma dependência adequada da vontade do Pai; pois esse procedi-
mento era natural e necessário, e não arbitrário. Mas, Cristo confiou in-
teiramente em Deus — Seus inimigos dizem isso dEle (Mateus 27.43). E
o apóstolo Pedro testifica em 1 Pedro 2.23: “entregava-se àquele que julga
justamente”.
Em Cristo, expressam-se tantas excelências diversas para com os
homens, que, de outro modo, elas não teriam os alcançado. Elas são
mencionadas no Salmo 85.10: “A misericórdia e a verdade se encontra-
ram; a justiça e a paz se beijaram”.
A estrita justiça de Deus, e mesmo Sua justiça vingativa, aquela con-
tra os pecados dos homens, nunca foi tão gloriosamente manifestada
como em Cristo. Ele manifestou uma consideração infinita pelo atributo
da justiça de Deus, pois, quando tinha em mente salvar os pecadores,
estava disposto a sofrer tais sofrimentos extremos — em vez de a salvação
deles prejudicar a honra desse atributo. E, como Ele é o juiz do mundo,
Ele mesmo exerce estrita justiça, não inocentará os culpados, nem absol-
verá os ímpios no julgamento [Êxodo 34.7; Naum 1.3].
No entanto, quão maravilhosamente é demonstrada nEle a miseri-
córdia infinita para com os pecadores! E que graça e amor gloriosos e
inefáveis foram e são exercidos por Ele, para com os homens pecadores!

28
“E todo aquele que invocar o nome do SENHOR será salvo” (Joel 2.32)

Embora Ele seja o justo Juiz de um mundo pecaminoso, Ele também é o


Salvador do mundo. Embora Ele seja um fogo consumidor para o pe-
cado, Ele é a luz e a vida dos pecadores. Conforme é dito em Romanos
3.24-26: “sendo justificados gratuitamente pela sua graça, por meio da
redenção que há em Cristo Jesus, a quem Deus ofereceu como sacrifício
propiciatório, por meio da fé, pelo seu sangue, para demonstração da sua
justiça. Na sua paciência, Deus deixou de punir os pecados anterior-
mente cometidos; para demonstração da sua justiça no tempo presente,
para que ele seja justo e justificador daquele que tem fé em Jesus”.
Assim, a verdade imutável de Deus, nas ameaças de Sua Lei contra
os pecados dos homens, nunca foi tão manifestada como em Jesus Cristo,
pois nunca houve outra prova tão grande disso, como quando o pecado
foi imputado a Seu próprio Filho. Então, em Cristo, já foi visto um cum-
primento real e completo dessas ameaças, que nunca foi nem será visto
em nenhum outro caso. Cristo manifestou uma consideração infinita por
esta verdade de Deus em seus sofrimentos. E, ainda nEle, temos muitas
promessas grandes e preciosas, promessas de perfeita libertação da pena-
lidade da Lei. Esta é a promessa que Ele nos fez, a saber: a vida eterna.
NEle, estão todas as promessas de Deus, sim e amém [2 Coríntios 1.20].

29
OS PRINCÍPIOS DA FÉ
Thomas Goodwin
Philip Nye e Sidrach Simpson
Com breves explicações pelo
Rev. Christopher Vicente

[Os princípios da fé são:]

I. Que a Santa Escritura é a regra para se conhecer Deus e viver para


Ele; e que quem assim não crê, mas entrega-se a qualquer outra forma
de descobrir a verdade e a mente de Deus em vez de a Palavra, não pode
ser salvo. 2 Tessalonicenses 2.10–15; 1 Coríntios 15.1–3; 2 Coríntios 1.13; João 5.39
em comparação com Salmo 147.19–20 e com João 4.22; 2 Pedro 2.1 comparado com 2
Pedro 3.1–2.

II. Que existe um Deus, que é o Criador, Governador e Juiz do Mundo


— o que deve ser recebido pela fé, [pois] todas as outras maneiras de
conhecê-lO são insuficientes. Hebreus 11.3, 6; Romanos 1.19–22 comparado
com 1 Coríntios 1.21; 2 Tessalonicenses 1.8.

III. Que esse Deus (que é o Criador) é eternamente distinto de todas as


criaturas em Seu ser e bem-aventurança. Romanos 1.18, 25; 1 Coríntios 8.5–
6.

IV. Que esse Deus é um em três pessoas ou subsistências. 1 João 5.5–9


comparado com João 8.17–21; Mateus 28.19 comparado com Efésios 4.4–6; 1 João
2.22–23; 2 João 9–10.

V. Que Jesus Cristo é o único Mediador entre Deus e o homem — sem


o conhecimento dEle, não há salvação. 1 Timóteo 2.4–6; 2 Timóteo 3.15; 1
João 2.22; Atos 4.10–12; 1 Coríntios 3.10–11.

VI. Que esse Jesus Cristo é o verdadeiro Deus. 1 João 5.29; Isaías 45.21–
25 — o que o Apóstolo aplica a Cristo em Romanos 14.1112 e em Filipenses 2.6–12.
“E todo aquele que invocar o nome do SENHOR será salvo” (Joel 2.32)

VII. Que esse Jesus Cristo, também, é verdadeiro homem. 1 João 4.2–3;
2 João 7.

VIII. Que esse Jesus Cristo é Deus e Homem em uma pessoa. 1 Timóteo
3.16; Mateus 16.13–18.

IX. Que esse Jesus Cristo é nosso Redentor, o qual, pagando um resgate
e levando nossos pecados, satisfez [a justiça de Deus por causa] deles.
Isaías 53.11 em comparação com 1 Pedro 2.24–25; 1 Coríntios 2.3; 1 Timóteo 2.4–6;
1 Coríntios 6.20.

X. Que esse mesmo Senhor Jesus Cristo é Aquele que foi crucificado
em Jerusalém, e ressuscitou, e ascendeu ao céu. João 8.24; Atos 4.10–12;
10.38–43; 1 Coríntios 15.2–8; Atos 2.36–38; 22.8.

XI. Que esse mesmo Jesus Cristo, sendo o único Deus e Homem, em
uma Pessoa, permanece para sempre uma pessoa distinta de todos os
santos e anjos, não obstante sua união e comunhão com eles. Colossenses
2.8-10, 19; 1 Timóteo 3.16.

XII. Que [Deus, como Criador, criando o mundo em seis dias, pela
Palavra de Seu poder, fez o homem reto, justo e bom e, com ele, firmou
um Pacto para lhe manifestar uma bondade especial, precisamente
para isso o fez a Sua imagem e semelhança. Porém, Adão pecou e que-
brou o pacto e, na condição de representante pactual da humanidade,
seu pecado e culpa é imputado a todos os que ordinariamente descen-
dem dele]. Por isso, todos os homens, por natureza, estão mortos em
seus delitos e pecados; e que nenhum homem pode ser salvo se não
nascer de novo, se arrepender e crer. João 3.3-10; Atos 17.30, 31; 26.17–20;
Lucas 24.47; Atos 20.20–21; João 5.24–25.

XIII. Que somos justificados e salvos pela graça e [por meio da] fé em
Jesus Cristo, e não por obras. Atos 15.24 em comparação com Gálatas 1.6–9;
5.2–5; Romanos 9.31–33 comparado com Romanos 10.3–4; Romanos 1.16–17 em
comparação com Gálatas 3.11; Efésios 2.8–10.

31
“Se com a tua boca confessares ao Senhor Jesus,
e em teu coração creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo” (Romanos 10.9).

XIV. Que continuar [a viver] em qualquer pecado conhecido, sob qual-


quer justificativa ou princípio, é condenável. Romanos 1.32; 6.1-2, 15-16;
8.13; 1 João 1.6-8; 3.3-8; 2 Pedro 2.19-20.

XV. Que Deus deve ser adorado de acordo com a Sua própria vontade,
e todo aquele que abandonar e desprezar todos os deveres de Sua ado-
ração não pode ser salvo. Jeremias 10.15; Salmo 14.4; Judas 18-21; Romanos
10.13.

XVI. Que os mortos ressuscitarão e que haverá um dia de julgamento


em que todos aparecerão, alguns para a vida eterna e outros para a con-
denação eterna. 1 Timóteo 1.19-20 comparado com 2 Timóteo 2.17-18; Atos 17.30-
31; João 5.28-29 em comparação com 1 Coríntios 15.19.

FIM

32
OS PRINCÍPIOS DA RELIGIÃO CRISTÃ
Provados pelas escrituras
Thomas Gouge
Com breves comentários pelo
Rev. Christopher Vicente

O que é a verdadeira felicidade?


Conhecer a Deus e a mim mesmo.
Textos-Base: João 17.3; Jeremias 9.24.

O que é Deus?
Deus é um espírito infinito em todos os sentidos; é bondade em si
mesmo; o criador, preservador e governador de todas as coisas, distin-
guido em Três Pessoas — o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Textos-Base:
João 4.24; 1 Reis 8.27; Salmo 90.2; Êxodo 4.6–7; 20.11; Hebreus 1.3; Mateus 10.29–
31; 1 João 5.7.

O que você é, por Criação, em Adão?


Eu sou uma criatura racional, dotada da imagem de Deus, que consiste
em sabedoria e verdadeira santidade. Textos-Base: Gênesis 2.7; 1 Coríntios
15.45; Gênesis 1.27; Colossenses 3.10; Efésios 4.24.

O que você é, por Queda, em Adão?


Eu sou totalmente corrompido pelo pecado e continuamente sujeito à
maldição e à ira de Deus. Textos-Base: Gênesis 6.5; Romanos 5.12–14; Gálatas
3.10.

Quais são os seus pecados?


A culpa, na primeira ofensa de Adão, e uma disposição de meu coração
para tudo que é contrário à Lei de Deus, com inúmeros frutos em pensa-
mento, palavra e ação. Textos-Base: Romanos 5.12; 7.23; Salmo 51.5; Jó 14.4;
Salmo 40.12; Esdras 9.6.

Qual é a maldição de Deus devida aos pecados?


Ela contém todas as misérias desta vida, com a morte do corpo e da alma,
que é a condenação final no inferno. Textos-Base: Deuteronômio 28.20; Ro-
manos 6.23; 5.12; Tiago 1.15; Mateus 25.41; 2 Tessalonicenses 1.8–9.
“Se com a tua boca confessares ao Senhor Jesus,
e em teu coração creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo” (Romanos 10.9).

Qual é o remédio ou a redenção contra o pecado e a morte?


Jesus Cristo, o Filho eterno de Deus, que, na natureza do homem, sofreu
a morte de cruz e cumpriu perfeitamente essa Lei para todos os que O
receberam. Textos-Base: João 20.31; Mateus 1,21; 1 João 3.23; João 1.14; He-
breus 2.14; Filipenses 2.8; Mateus 3.15; 5.17; Romanos 10.4; João 1.12; 6.64.

Qual é o instrumento pelo qual Cristo é recebido e revelado?


O instrumento é a fé, pela qual creio (sem necessidade de outro funda-
mento) que Cristo foi feito para mim, em particular, sabedoria, justiça,
santificação e redenção. Textos-Base: 1 Coríntios 1.30–31; Efésios 3.17; 1 Ti-
móteo 1.5; Gálatas 2.20; 1 Timóteo 1.15.

Quando é que essa fé começa a dar frutos e ocorrer em seu coração?


Quando, pela graça de Deus, começo a ser tocado pela consciência de
meus pecados, a ter fome e sede de Cristo e de Seus méritos acima de
tudo no mundo; e contra todas as dúvidas de me esforçar para crer. Tex-
tos-Base: Isaías 57.15 (há fé sã na alma que se humilha por causa do pecado); Hebreus
11.6; Filipenses 1.6; Salmo 51.17; Mateus 5.6 (essa fé começa onde há o desejo servil
da graça); Salmo 143.6; Salmo 42.11 (a fé começa na alma que luta contra a desconfi-
ança).

O que é a verdadeira fé viva?


Deve ser totalmente sem dúvida, decidida a respeito da misericórdia de
Deus para comigo em Cristo Jesus. Textos-Base: Romanos 4.20–21 (alguns
alcançam a fé tão viva); Romanos 8.38–39.

Por quais meios a fé é trabalhada e fortalecida em nós?


É iniciada pela pregação da Palavra e é continuada pela mesma, bem
como pela leitura diligente da mesma Palavra, e no e por meio do uso
reverente da oração e dos santos sacramentos. Textos-Base: Romanos 10.14,
17 (a fé começa com a pregação da Palavra); 1 Pedro 2.2; Atos 17.11 (nossa fé é confir-
mada pela leitura da Palavra de Deus); Lucas 11.13 (nossa fé é aumentada pela ora-
ção); Lucas 22.32; Salmo 9.10; Romanos 4.11 (os sacramentos são meios para fortaleci-
mento de nossa fé).

34
“E todo aquele que invocar o nome do SENHOR será salvo” (Joel 2.32)
De que maneira a Palavra de Deus deve ser ouvida e lida a fim de que
seja proveitosa?
Antes de ouvir e de lê-la, com oração e resolução de praticá-la; depois,
com corações trêmulos e sedentos ao aplicá-la, com meditação e conver-
sas sobre ela. Textos-Base: Salmo 119.33–34 (pela oração devemos estar preparados
para ouvir a Palavra de Deus); Êxodo 24.7 (devemos resolver obedecer às Palavras de
Deus); Salmo 119.57; Isaías 66.2 (devemos ouvi-la com o coração trêmulo);
Salmo 119.131; (devemos ouvi-la como sedentos); 1 Pedro 2.2; Salmo 119.97 (devemos
meditar na Palavra de Deus); Deuteronômio 6.6-7 (devemos conferir na Palavra de
Deus).

O que é oração?
É um discurso a Deus, em nome de Cristo, no qual, com coração contrito
e fiel, peço a graça que me falta e dou graças pelos benefícios recebidos.
Textos-Base: Mateus 4.10 (essa oração deve ser feita a Deus); Salmo 50.15; Gêne-
sis 18.17; João 16.23 (essa oração deve ser feita em nome de Cristo); João 14.14;
16.23; Lamentações 3.41 (essa oração deve ser feita com nosso coração); Salmo 34.18;
51.17 (essa oração deve vir de um coração contrito); Marcos 11.24 (essa oração deve ser
feita com fé); Filipenses 4.6 (essa oração consiste em petição e ação de graças).

O que é um sacramento?
É um sinal para representar aos meus olhos e um selo para consumar e
transmitir ao meu coração Cristo com todos os Seus benefícios. Textos-
Base: Gênesis 17.11 (que os sacramentos são sinais); Romanos 4.11 (que os sacramentos
são selos); 1 Coríntios 10 (que os sacramentos nos transmitem Cristo e todos os Seus
benefícios); Romanos 4.1.

Quantos sacramentos existem?


Dois: o Batismo, pelo qual [entro no pacto], como pela porta eu entrei;
e a Ceia do Senhor, pela qual eu sou alimentado como [que de] carne,
na casa do Senhor. Textos-Base: 1 Coríntios 10.1, 3 (que existem apenas esses dois
sacramentos); Atos 2.41 (que pelo batismo somos introduzidos na Igreja de Deus); Roma-
nos 6.3; 1 Coríntios (que sejamos alimentados espiritualmente na Ceia do Senhor).

Como você deve vir preparado para a Ceia do Senhor?


Por um devido exame de conhecimento, fé e arrependimento meus; e
por uma renovação cuidadosa deles. Textos-Base: 2 Coríntios 13.5 (que deve-
mos examinar a nós mesmos etc.); 1 Coríntios 11.28; Salmo 26.6 (que devemos renovar
nossa fé e nosso arrependimento); 2 Timóteo 1.6; 1 Coríntios 5.7.
35
“Se com a tua boca confessares ao Senhor Jesus,
e em teu coração creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo” (Romanos 10.9).

O que você deve a Deus por sua redenção?


Toda minha gratidão. Textos-Base: Salmo 119.22–23.

Onde está a gratidão?


Na nova obediência, que é manter em meu coração o propósito de não
pecar mais e, com isso, empenhar-me em agradar a Deus em todos os
Seus mandamentos, dentro do compasso de minha vocação particular.
Textos-Base: 2 Coríntios 5.15-17 (essa gratidão por nossa redenção permanece em nova
obediência); 1 Pedro 4.1-2 (que deve haver um propósito constante de não pecar mais);
Romanos 4.24; Salmo 106.5–6; 119.10 (que deve haver um esforço para agradar a
Deus em todas as coisas, em todos os Seus mandamentos); Atos 24.16; 1 Coríntios 7.17
(que cada um deve andar segundo o seu chamado).

Qual é o seu conforto aqui?


Tenho a certeza de que nada que seja bom para mim me faltará, nesta
vida presente; e que desfrutarei da bem-aventurança eterna no mundo
vindouro. Textos-Base: Mateus 6.33 (que servindo a Deus em nossos chamados, te-
mos a certeza de tudo o que é necessário para esta vida); Salmo 84.11; Romanos 2.10
(que seja bendito para sempre no mundo vindouro); Mateus 19.29; 1 Timóteo 4.8.

O que é a benção eterna no mundo vindouro?


Que, na minha morte, meu corpo, por um breve período, permanecerá
na sepultura, como em um leito doce de descanso; minha alma, porém,
irá imediatamente para o céu; e, no dia do julgamento, meu corpo será
ressuscitado dos mortos e unido à minha alma novamente. Então, meu
corpo e alma terão comunhão com Cristo em alegria incompreensível e
glória eterna. Textos-Base: Isaías 57.2 (que nossos túmulos são leitos de repouso);
Lucas 16.22 (que, na morte, a alma vai para o céu); Lucas 23.43; João 5.28-29 (que
nossos corpos ressuscitam dos mortos); 1 Coríntios 14; Salmo 17.15 (que corpos e almas
tenham comunhão com Deus); Jó 19.6, 27; 1 Coríntios 2.9 (que nossa felicidade no céu
seja incompreensível e eterna); Salmo 16,11; 1 Tessalonicenses 4.17.

O fim dos princípios

36
A ESSÊNCIA DAS VERDADES DO EVANGELHO

Thomas Boston
Resumido e adaptado pelo
Rev. Christopher Vicente

Todos os que ouvem o Evangelho, após a revelação de Cristo nele,


sem procurar qualquer qualificação anterior em si mesmos [isto é, algo
bom em você], deve instantaneamente crer nEle para a salvação do pecado
e da ira vindoura. Somente assim, pessoas são capacitadas a abandonar
o pecado de uma maneira evangélica [isto é, segundo o Evangelho]. É
absolutamente impossível a um homem abandonar seus pecados por
meio de um arrependimento evangélico (o único que pode agradar a
Deus), até que o Espírito o determine a vir a Cristo como Príncipe e
Salvador exaltado para dar arrependimento e remissão dos pecados. [Por-
tanto, caro leitor, ao ouvir (na verdade, ler), tudo o que você leu até agora, espera-
se uma resposta. Não há neutralidade, não há isenção ou abstenção: ou se reco-
nhece de coração que Jesus é o Cristo; ou se o rejeita como Salvador e Senhor. Até
agora, o que você considerou?]
A fé justificadora é uma persuasão real no coração do pecador, de
que Cristo é dele; e que ele terá vida e salvação por meio de Cristo; e que
tudo o que Cristo fez pela redenção de pecadores, Ele o fez por ele em
particular. Essa persuasão é fundada na promessa de Cristo no Evange-
lho, feita aos pecadores da família de Adão. Assim, ela repousa somente
sobre Ele, para toda a salvação.
O Evangelho tomado estritamente é apenas uma declaração e pro-
messa, contendo boas novas de um Salvador e de toda graça, misericórdia
e salvação nEle para os pecadores. A perfeita justiça de Cristo, como ga-
rantia, é o apelo do crente tanto com respeito à lei e à justiça, quanto à
compra ou obtenção real da posse da felicidade eterna.
Aqueles que creem são herdeiros do céu em Cristo e por causa de
Cristo. Portanto, eles não devem ser influenciados à obediência, pela es-
perança de obter a posse dessa herança, por quaisquer boas obras feitas
por eles. Embora os crentes devam ter um santo pavor da majestade de
Deus, de Seu poder de lançar no Inferno, do horror de Suas ameaças e
“Se com a tua boca confessares ao Senhor Jesus,
e em teu coração creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo” (Romanos 10.9).

julgamentos contra o pecado e os pecadores — os quais eles merecem; no


entanto, eles não devem ser estimulados à obediência por nenhum
medo [pecaminoso] de que Deus. Devem, porém, sempre acreditar em
sua total segurança em Cristo. Isso é que vai influenciá-los a uma obedi-
ência mais alegre.
Aqueles que creem são, por meio de Cristo, totalmente libertos da
Lei como um Pacto de Obras. Porém, isso não significa, de forma al-
guma, que eles estejam livres da Lei como regra de vida; e que, embora
todos os incrédulos estejam sob a Lei como um Pacto de Obras, não se
segue que sejam obrigados a buscar a justificação por sua própria justiça.
Não! Todos eles são obrigados a buscar a justificação somente pelo san-
gue de Cristo, sem as obras da Lei.
Existe uma grande diferença entre a Lei como regra de vida e como
um Pacto de Obras. Portanto, um crente não pode pecar contra a Lei,
como um Pacto de Obras, mas apenas contra ela como uma regra de vida.
Deus não pode ver pecado em um crente, como cometido contra a Lei
como um Pacto, mas apenas como cometido contra a Lei como regra de
vida. Assim, Deus não pode ter nenhuma raiva vingativa ou legal contra
eles por seus pecados, mas apenas uma raiva e desagrado paternais.
A graça do Evangelho está tão longe de livrar os homens da obri-
gação da lei como regra de vida, que acrescenta incentivos mais pesados
e poderosos à obediência do que qualquer coisa que a própria Lei possa
oferecer. [Assim, aqueles que creram devem viver em novidade de vida e buscar
uma vida santa na força de Cristo e no poder do Espírito]

38
A VERDADEIRA CONVERSÃO A CRISTO

Joseph Alleine
Adaptado e resumido por
Rev. Christopher Vicente

O que não é conversão a Cristo?

O Diabo fez muitas falsificações de conversão e enganou muitos


com tais falsificações. Por isso, é importante eu desfazer algum dos enga-
nos sobre conversão. Antes de dizer o que ela é, começo dizendo que ela
não é.
A conversão não é assumir a profissão do Cristianismo. O Cristia-
nismo é mais do que um nome. Não consiste em meras palavras, mas em
poder (1 Coríntios 4.20). Se deixar de ser judeu e pagão, e assumir a
profissão cristã fosse uma verdadeira conversão, quem melhores cristãos
do que os de Sardes e Laodiceia [as igrejas do livro de Apocalipse que
foram fortemente repreendidas por Cristo]? Todos eram cristãos de pro-
fissão e tinham o nome de cristãos; mas, porque eles tinham apenas um
nome, eles são condenados por Cristo e ameaçados de serem rejeitados
(Apocalipse 3.14–16). Há muitos que invocam o nome do Senhor Jesus
e que não se desviam da iniquidade (2 Timóteo 2:19); que professam que
conhecem a Deus, mas nas obras O negam (Tito 1.16)? Deus receberá
estes como se fossem verdadeiros convertidos? Convertem-se do pecado,
quando ainda vivem em pecado? É uma contradição visível. As parábolas
das virgens tolas (Mateus 25.12) e a rejeição de pregadores de Cristo e
milagreiros (Mateus 7.22-23) são sinal e alerta de que mera profissão a
favor do Cristianismo não é conversão.
A conversão não é colocar o sinal distintivo de Cristo no batismo.8
Ananias, Safira e Simão, o Mago, foram batizados, assim como os

8
O Catolicismo Romano promove exatamente esse engano. Dos que saíram do Egito, as Es-
crituras são claras, todos eram israelitas, todos receberam a circuncisão, mas a maioria não era
verdadeiro Israel. Paulo alerta (Romanos 2.28–29; 9.7; Gálatas 3.7; Mateus 3.9). Desde o An-
tigo Testamento o Senhor alertava, por meio dos profetas, que não era suficiente a mera ad-
ministração externa da circuncisão, mas a realidade interna (Jeremias 4.4; Ezequiel 36.26). Isso
não diminui em nada nosso zelo pelos Sacramentos (os únicos que Cristo instituiu foram
“Se com a tua boca confessares ao Senhor Jesus,
e em teu coração creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo” (Romanos 10.9).

demais.9 Quantos, aqui, estavam enganando e sendo enganados; so-


nhando que a graça eficaz está necessariamente ligada à administração
externa do batismo, de modo que todo batizado é regenerado, não ape-
nas sacramentalmente, mas real e propriamente. Portanto, os homens
imaginam [e se enganam] que, sendo supostamente regenerados quando
foram batizados, não precisam de mais trabalho. Todavia, se assim o
fosse, então, todos os que foram batizados devem necessariamente ser
salvos, porque a promessa de perdão e salvação é feita para conversão e
regeneração (Atos 3.19; Mateus 19.28). E, de fato, se a conversão e o
batismo fossem a mesma coisa, então, os homens fariam bem em carregar
apenas um certificado de seu batismo quando morressem.
A conversão não reside na retidão moral. Isso não excede a justiça
dos escribas e fariseus e, portanto, não pode nos levar ao Reino de Deus
(Mateus 5.20). O apóstolo Paulo, enquanto não-convertido, quanto à jus-
tiça que há na Lei, era irrepreensível (Filipenses 3.6). O fariseu podia
dizer: “Não sou ladrão, adúltero, injusto” etc. (Lucas 18.11). Você deve
ter algo mais do que tudo isso para mostrar ou, então, por mais que você
se justifique, Deus o condenará. [É óbvio que] não condeno a morali-
dade, mas advirto você para não descansar nela. A piedade inclui a mo-
ralidade; como o Cristianismo inclui a humanidade; e a graça, a razão;
mas não devemos confundir as coisas.
A conversão não consiste em uma conformidade externa com as
regras de piedade. É manifesto que os homens podem ter aparência de
piedade, sem poder (2 Timóteo 3.5). Os homens podem orar longamente
(Mateus 23.14), e jejuar com frequência (Lucas 18.12), e ouvir com ale-
gria (Marcos 6.20), e estar muito adiantados no serviço de Deus (Isaías
11) — e, ainda assim, ser estranhos à conversão. Para provar que são con-
vertidos, eles devem ter mais a pleitear por si mesmos do que ir à igreja,
dar esmolas e fazer uso da oração. Não há serviço externo que um

Batismo e Ceia). Porém, coloca-os, sim, em seus devidos lugares. Eles não são colocados no
lugar de Cristo. Você tem confiado no Batismo para sua salvação ou no Cristo que entregou
o batismo como sacramento externo que expressa uma realidade espiritual e interna? [N. do
Editor.]
9
Para o relato bíblico que envolve Ananias e Safira, veja Atos 5.1–11; e Simão, o Mago, Atos
8.9-25. Ambos foram considerados crentes no Senhor Jesus, foram batizados, faziam visivel-
mente parte da Igreja, mas revelaram o que de fato eram depois: falsos convertidos. [N. do
Editor.]

40
“E todo aquele que invocar o nome do SENHOR será salvo” (Joel 2.32)

hipócrita não possa fazer, até mesmo dar todos os seus bens para alimen-
tar os pobres e seu corpo para ser queimado (1 Coríntios 13.3).
A conversão não é a mera repressão da corrupção do pecado por
meio da educação, das leis humanas ou da força da aflição. É muito
comum e fácil confundir educação com graça. Porém, se isso bastasse,
quem seria um homem melhor do que Jeoás? Enquanto Joiada, seu tio,
viveu, ele foi muito ativo no serviço a Deus e o convocou para reparar a
casa do Senhor (2 Reis 12.2, 7). Entretanto, em Jeoás, não havia nada
além de boa educação durante todo esse tempo, pois quando seu bom
tutor foi levado, ele pareceu ter sido apenas um lobo acorrentado e caiu
na idolatria.
A conversão não consiste em iluminação ou convicção ou em uma
mudança superficial, ou reforma parcial. Um apóstata pode ser um ho-
mem iluminado (Hebreus 6.4); e um Félix pode tremer sob convicção
(Atos 24.25); e um Herodes fazer muitas coisas (Marcos 6.20). Uma coisa
é ter o pecado alarmado apenas por convicções; outra é tê-lo crucificado
pela graça que converte. Muitos, por terem a consciência atormentada
por seus pecados, pensam que estão em um bom estado por miseravel-
mente confundirem convicção com conversão. Com estes, Caim poderia
ter passado por um convertido, que correu para cima e para baixo no
mundo como um homem distraído, sob a fúria de uma consciência cul-
pada, até sufocá-la com construções e negócios.
Outros pensam que, porque desistiram de seus modos desregrados
e se afastaram da má companhia ou de alguma luxúria em particular, e
porque agora são sóbrios, civilizados [e conservadores], que eles, agora,
são verdadeiros convertidos. Esquecem-se de que há uma grande dife-
rença entre ser santificado e ser civilizado. Esquecem-se que muitos bus-
cam entrar no Reino dos Céus, e chegam quase ao Cristianismo, mas
finalmente falham. Enquanto a consciência mantiver o chicote sobre
eles, muitos orarão, ouvirão, lerão e perdoarão seus deliciosos pecados;
mas assim que o leão dorme, eles voltam a pecar. Quem mais religioso
do que os judeus, quando a mão de Deus estava sobre eles? No entanto,
assim que a aflição acabou, eles se esqueceram de Deus. Você pode ter
abandonado um pecado problemático e escapado das graves poluições
do mundo; e, ainda assim, em tudo isso, não ter mudado a sua natureza
carnal.

41
“Se com a tua boca confessares ao Senhor Jesus,
e em teu coração creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo” (Romanos 10.9).

Você pode pegar uma massa bruta de chumbo e moldá-la na propor-


ção mais graciosa de uma planta, depois na forma de um animal e depois
na forma e nas características de um homem; mas o tempo todo ainda
será chumbo. Assim, um homem pode passar por várias transmutações,
da ignorância ao conhecimento, da profanação à civilidade e, depois, a
uma forma de religião; e, em todo esse tempo, ele ainda foi carnal e não-
regenerado, sua natureza permanece inalterada.
Ouça, então: como você viveria? Por que você deveria se enganar
deliberadamente ou construir sua esperança sobre um fundamento de
areia? Ouvir tudo isso pode ser desagradável para você — na verdade, não
é agradável para mim. Comecei a fazer isso como um cirurgião que tem
de cortar um membro mortificado de seu amado amigo — é o que ele
deve fazer, mas o faz com o coração dolorido. Mas, entenda-me, amado:
estou apenas derrubando a casa em ruínas, que de outra forma cairá ra-
pidamente e sepultará você nas ruínas, para que eu possa construí-la bela,
forte e firme para sempre. A esperança dos ímpios perecerá (Provérbios
11:7).
E não seria melhor, ó pecador, deixar a Palavra convencê-lo, agora,
a tempo, e deixar de lado suas esperanças falsas e ilusórias, do que a morte
abrir seus olhos tarde demais, e encontrar-se no inferno antes que você
perceba? Eu seria um pastor falso e infiel se não dissesse isso a você que
construiu suas esperanças em bases falsas e ainda está em seus pecados.
Deixe a sua consciência falar.
Você pode ter a capa de Cristo; levar o nome dEle; ser um membro
da igreja visível; ter conhecimento nos pontos da religião; ser civilizado;
cumprir deveres religiosos; ser justo em seus negócios e ter a consciência
de pecado. Mas, digo-vos, da parte do Senhor, esses argumentos nunca
serão aceitos no tribunal de Deus. Tudo isso, embora bom em si mesmo, não
provará que você se converteu e, portanto, não será suficiente para sua salvação.
Por favor, eu suplico: olhe para Ele e resolva mudar rápida e com-
pletamente. Estude seu próprio coração; não descanse até que Deus te-
nha feito um trabalho completo em você, pois você deve ser outro ho-
mem ou, então, é um homem perdido.

Uma marca essencial de uma conversão

42
“E todo aquele que invocar o nome do SENHOR será salvo” (Joel 2.32)

Antes da conversão, o homem procura cobrir-se com suas próprias


folhas de figueira [como Adão fez após a Queda, em Gênesis 3.7] e tornar-
se aceitável a Deus por meio de seus próprios esforços.10 Ele está disposto
a confiar em si mesmo, estabelecer sua própria justiça e calcular seus cen-
tavos por ouro e não se submeter à justiça de Deus.
Mas, a conversão muda essa visão das coisas. Por uma verdadeira
conversão, o homem considera sua própria justiça como trapos imundos
[Isaías 64.6]. Agora, ele é levado à pobreza de espírito, queixa-se de si
mesmo e se condena. A sua conclusão é: “Sou pobre, miserável, cego e
nu!” [Apocalipse 3.17]. Ele vê um mundo de iniquidade em suas coisas
sagradas e chama sua justiça outrora idolatrada de sujeira e perda [Fili-
penses 3.7-8]; e nem por mil mundos seria encontrado nele!
Agora, ao passar por uma conversão verdadeira, ele começa a colo-
car um alto preço na justiça de Cristo. Ele vê a necessidade de Cristo em
cada dever para justificar sua pessoa e santificar suas obras. Ele não pode
viver sem Ele; ele não pode orar sem Ele. Cristo deve ir com ele ou, então,
ele não pode entrar na presença de Deus. Tal homem se apoia em Cristo
e, assim, curva-se na casa de seu Deus. Sem Cristo, ele se apresenta como
um homem perdido e arruinado. Sua vida está escondida em Cristo,
como a raiz de uma árvore se espalha na terra para estabilidade e nutri-
ção.
Antes, o Evangelho de Cristo era considerado como uma coisa velha
e sem graça. Mas, agora, a alma de um verdadeiro convertido diz: “Quão
doce é Cristo!”. Agostinho de Hipona não podia saborear seu outrora

10
O que Adão fez, após pecar contra Deus, em Gênesis 3, foi tentar resolver o seu problema
por seus próprios meios e suas próprias obras. Ele percebeu a sua nudez, por seu pecado. Ele
tentou resolver isso cobrindo-se com o que achava de melhor. Não resolvem! Deus os despreza!
Porém, Deus, em um ato que nos anuncia o Evangelho, descarta essas folhas, mata um animal
e cobre-os com a pele desse animal. Deus estava pregando o Evangelho para Adão, como quem
diz: “não é você quem resolverá esse problema. Você não é capaz. Não é por seus esforços que
você cobrirá a sua nudez. Sangue e morte são necessários. Minha justiça precisa ser satisfeita
por alguém justo. Alguém precisa morrer e você precisa ser vestido com a justiça de outro”.
Cristo é esse outro que, sendo justo, fez, por sua morte, plena satisfação da Justiça Divina; e,
pela ressurreição, reveste todo aquele que crê com Sua Infinita e Suficiente Justiça. Toda reli-
gião que pretende resolver o problema do homem pelas obras do homem é inútil e tais obras
são rejeitadas por Deus como as folhas de figueira de Adão foram inúteis. Apenas Cristo e Sua
justiça, como o Cordeiro de Deus, são aceitos. Veja Romanos 1 a 5 e Filipenses 3.

43
“Se com a tua boca confessares ao Senhor Jesus,
e em teu coração creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo” (Romanos 10.9).

admirado Cícero, porque não conseguia encontrar em seus escritos o


nome de Cristo. Quão enfaticamente ele clama: “Ó mais doce, mais amo-
roso, mais bondoso, mais querido, mais precioso, mais desejado, mais
amável, mais justo!” — e tudo isso junto, quando ele fala de e para Cristo.
Em uma palavra, a voz do convertido é, com o mártir, “ninguém senão
Cristo!”.

44
A CERTEZA DE SALVAÇÃO E NOSSO REAL INTERESSE EM
CRISTO COMO SALVADOR11

William Guthrie

1. Qual é o grande negócio que um homem tem de fazer neste mundo?


O grande negócio que um homem tem de fazer neste mundo é ter certeza
de um interesse salvador em Cristo Jesus e andar adequadamente nisso.

2. Todos os membros da igreja visível têm um interesse salvador em


Cristo? Não, verdadeiramente; aliás, pouquíssimos deles o têm.

3. Como posso saber se tenho um interesse salvador nEle? Normal-


mente, o Senhor prepara Seu próprio caminho na alma [do homem] por
meio de uma obra de humilhação, bem como revela o pecado e a miséria
do homem para com Ele. E isso de tal modo que o homem anseie pelo
médico, Cristo Jesus.

4. Como saberei se descobri de forma competente o meu pecado e mi-


séria? Uma visão competente faz com que o homem leve a salvação ao
coração acima de qualquer coisa neste mundo; faz com que ele renuncie
a todo alívio em si mesmo, que está posto sobre suas “melhores” coisas;
faz de Cristo, que é o Redentor, muito precioso para a alma; faz um ho-
mem ficar pasmo com o pecado e, depois, deixa-o contente em ser salvo
em quaisquer termos que agrade a Deus.

5. De que outras maneiras posso discernir um interesse salvador em


Cristo? Quando do coração sai, séria e afetuosamente, fé em direção
dEle, como Ele é exposto no Evangelho.

11
William Guthrie (1620–1655) foi um puritano presbiteriano escocês. Uma de suas obras
mais conhecidas é The Christian’s Great Interest [O Grande Interesse do Cristão], uma obra que
trata da certeza de salvação e do autoexame sobre o estado de nossa fé. Uma versão adaptada
dela já foi publicada em português. O presente trecho é a conclusão do tratado. Guthrie o
escreveu como um resumo no formato de perguntas e respostas (um catecismo). De forma
evangélica e reformada, objetiva e sucintamente, Guthrie nos conduz ao consolo, às advertên-
cias e às orientações práticas da Palavra sobre o tema. [N. do Editor.]
“Se com a tua boca confessares ao Senhor Jesus,
e em teu coração creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo” (Romanos 10.9).

6. Como saberei se meu coração está voltado para Ele, e se minha fé é


a verdadeira fé salvadora? Onde existe um coração que vai corretamente
atrás dEle em fé verdadeira e salvadora, [ali há uma] alma que se agrada
de Cristo somente (acima de todas as demais coisas); e se agrada dEle em
todos os Seus três ofícios: governo e instrução, bem como salvação; e se
contenta em apegar-se a Ele, sejam quais forem as inconveniências que
possam surgir.

7. Que outra marca de interesse salvador em Cristo você pode me dar?


Aquele que está salvadoramente em Cristo é uma nova criatura. Ele é
graciosamente mudado e renovado, em alguma medida, em todos os as-
pectos como ser humano; e todos os seus caminhos são direcionados para
todos os mandamentos de Deus conhecidos por ele.

8. E se eu descobrir que o pecado, de vez em quando, prevalece sobre


mim? Embora todo pecado mereça vingança eterna, se você estiver aflito
por suas falhas, as confessar com vergonha da face de Deus, resolvendo
de agora em diante lutar contra eles honestamente, e olhar para Cristo
[em busca de] perdão, então, você obterá misericórdia e seu interesse nEle
é certo.

9. O que deve fazer o homem que não pode reivindicar a Cristo Jesus,
nem ver em si qualquer uma das marcas mencionadas? Que ele não
descanse até que se assegure de um interesse salvador em Cristo.

10. De que maneira um homem (que nunca teve um interesse salvador


nEle até agora) pode ter certeza de um interesse em Cristo? Ele deve
levar a sério seus pecados e o grande perigo deles, e deve levar a sério a
oferta de perdão e paz de Deus por meio de Cristo Jesus, e agarrar de
coração a oferta de Deus, voltando-se a Cristo, o bendito refúgio.

11. E se meus pecados forem singularmente hediondos e grandes além


do comum? Quaisquer que sejam os seus pecados, se você se aproximar
de Cristo Jesus, pela fé, nunca será condenado.

46
“E todo aquele que invocar o nome do SENHOR será salvo” (Joel 2.32)

12. Apenas a fé em Cristo é exigida dos homens? A fé é a única condição


sob a qual Deus oferece paz e perdão aos homens. Porém, esteja certo de
que a fé, se for verdadeira e salvadora, não estará sozinha na alma, mas
será acompanhada de verdadeiro arrependimento e um grato estudo do
que é se conformar à imagem de Deus.

13. Como posso ter certeza de que meu coração aceita a oferta de Deus
e se aproxima de Cristo Jesus? Faça, de forma expressa, uma aliança com
Deus.

14. De que maneira devo fazer isso? Separe alguma porção de tempo e,
tendo considerado seu próprio estado perdido e o remédio oferecido por
Cristo Jesus, trabalhe em seu coração para se agradar dessa oferta e agarre-
a; diga a Deus expressamente que você a aceita dEle para ser o seu Deus
em Cristo e entregue-se a Ele para ser salvo em Seu caminho, sem reservas
ou exceção; e que, de agora em diante, você esperará pela salvação da
maneira que Ele determinou.

15. E se eu romper [a aliança] com Deus depois? Você deve resolver, o


quanto puder, não a quebrar, zelar por seus próprios caminhos, colocar
seu coração nas mãos dEle para mantê-la. E, se você a quebrar, você deve
confessar a Deus, e julgar a si mesmo por isso, e fugir para o Advogado
[em busca do] perdão; e resolva não a quebrar mais. Isso você deve fazer
sempre que falhar.

16. Como posso ter plena certeza de meu interesse em Cristo, de modo
que possa estar além de qualquer controvérsia? Aprenda a colocar seu
fardo sob o sangue de Cristo; estude pureza e santidade em todos os tipos
de conversação; ore para que o testemunho do Espírito de Deus se una
ao sangue e à água; e Seu testemunho acrescentado a esses estabelecerá
você na fé de um interesse em Cristo.

17. Qual é a consequência de se aproximar, de coração e de boca, de


Deus em Cristo? União e comunhão com Deus, e todos os benefícios
[disso], aqui, nessa vida, e a bendita comunhão com Ele no céu para sem-
pre.

47
“Se com a tua boca confessares ao Senhor Jesus,
e em teu coração creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo” (Romanos 10.9).

18. E se eu desprezar todas essas coisas e não as levar a sério nem as


praticar? O Senhor vem com Seus anjos, em chamas de fogo, para execu-
tar vingança aos que não obedecem O Seu Evangelho; e o seu julgamento
será maior do que o de Sodoma e Gomorra — tanto maior agora, que
você acaba de ler esse Tratado, pois ele será um testemunho contra você
naquele dia.

48
A BELEZA E A GLÓRIA DE CRISTO
Vale a pena abraçar a Cristo
Trecho de uma carta de

Samuel Rutherford

Os confortos que se espera em Cristo nos Novos Céus e na Nova Terra


não podem ser criados ou encontrados nesta terra. Siga em busca do
amor de Cristo. Não se canse de Cristo, mas entre e veja Sua beleza e
excelência; e alimente sua alma com a doçura de Cristo. Quando você
tem Cristo, o único deleite de Deus Pai, você tem Aquele que é a escolha
e o amor de todos os que, no céu ou fora do céu, têm a capacidade de
amar. Nossas melhores coisas, nesta vida, têm um verme; excetuando
Deus, nossas alegrias nesta vida, em seu interior, são apenas aflições e
tristezas. Cristo é Aquele em quem nosso amor e nossos desejos podem
dormir docemente e descansar com segurança.

Que o próprio Deus da paz estabeleça você em Cristo.


APÊNDICE
De qual obra cada trecho deste livro foi extraído?

Um Resumo do Evangelho — Jeremiah Burroughs


Extraído da obra Gospel Conversation (1657).

Um Mapa do Estado do Homem sem Cristo — Christopher Love


Sermão II, de uma série de sermões sobre esse tema

Ninguém vai ao Pai senão por mim — John Brown (de Wamphray)
O penúltimo capítulo de sua obra “Christ: The Way, The Truth, and The Life” [Cristo: o caminho,
a verdade e a vida].

A Excelência de Cristo — Jonathan Edwards


Trecho resumido e adaptado de um sermão completo.

Os Princípios da Fé — Thomas Goodwin, Philip Nye e Sidrach Simpson


Folheto avulso para a apresentação do Evangelho.

Os Princípios da Religião Cristã — Thomas Gouge


Um catecismo avulso para apresentação do Evangelho.

A Essência do Evangelho — Thomas Boston


Texto de posicionamento no caso envolvendo The Marrow Modern Divinity, de Edward Fisher.

A Verdadeira Conversão a Cristo — Joseph Alleine


Trecho de Alarm to the Unconverted [Um Alerta aos Não-Convertidos].

A Certeza de Salvação e nosso real interesse em Cristo como salvador — William Guthrie
Trecho final de The Christian’s Great Interest

A Beleza e a Glória de Cristo — Samuel Rutherford


Trecho de uma das inúmeras cartas pastorais, escrita em 1637.

Recomendação de Comentário ao Breve Catecismo de Westminster. Recomendo-lhe o


excelente comentário de G. I. Williamson, publicado pela Editora Os Puritanos. Por meio dele,
você poderá ter um auxílio mais profundo e completo para compreensão da fé cristã.

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