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Se essa rua fosse minha.

Era uma noite chuvosa, o carro andava com cautela por causa da lama. Os para-brisas não
estavam dando conta da grande tempestade, mal podíamos ver um palmo a nossa frente. A
rua em que estávamos era mal iluminada e cheia de buracos. Nada dera certo aquela noite.

Ao passarmos a estrada 38, o motorista começou a ficar apreensivo e seus olhos arregalaram.
Um cervo surgiu da floresta subitamente e passou no meio da estrada. Só pude escutar o
baque e pequenos flashs do carro tombando.

Quando acordei estava no meio do nada. Já não havia estrada, o carro sumira. Meu coração
batia rapidamente, quase no mesmo compasso da cabeça, que doía como nunca. Gritei pelo
motorista, mas nada, apenas os sons da floresta em que me encontrava. Sem rastros de
nenhum acidente ali. Meus olhos começaram a marejar, e logo já escorriam quentes pelo meu
rosto. Sentei-me em baixo de uma árvore, já desistindo de encontrar algo ou alguém.

- Tem alguém aí? – Escutei uma voz no meio da floresta.

Rapidamente levantei o rosto a procura de algo. Vi a poucos passos a minha frente, uma luz
que vinha infiltrando a floresta.

- Aqui! – Respondi desesperadamente.

Se aproximava rapidamente a luz, então pude ver, olhos sedutores em minha direção. Era um
homem alto, de cabelos escuros molhados e usava um sobretudo.

- Você está bem? – perguntou ele.

- Onde estou? – Perguntei.

- Longe! – Afirmou – Venha comigo.

Mesmo desconfiada o segui, afinal estava perdida e precisava de ajuda. Entramos num bosque
e logo avistei uma mansão antiga.

- Pode passar a noite aqui, se quiser. – Disse ele, me convidando.

- Oh, muito obrigada! – Respondi.

Ao entrarmos, fiquei espantada com a beleza da casa. Eram móveis antigos e luxuosos

- Como se chama esse bosque? – Perguntei.

- Solidão – Disse com os olhos tristes.

Estendi minha mão e segurei seu rosto. Seus olhos voltaram-se para mim, logo senti meu
rosto corar.
- Não mais! – Afirmei. – Você tem a mim.

Sorriu de volta para mim, mas seus olhos permaneciam melancólicos.

- Quero que fique aqui para sempre. Você aceitaria? – Perguntou-me.

- Não sei, gosto de estar aqui, mas queria ir para casa.

- Aqui é sua casa! Você deve ficar aqui e construir a estrada que me prometeu. Você sempre
volta aqui e sempre da tudo errado. – Disse já chorando desesperadamente.

- Como? – Disse confusa e assustada.

- Já fazem 50 anos que estamos vivendo esse dia. Eu tento te salvar de si mesma, mas sempre
falho.

Me afastei dele, como aquilo podia ser verdade? Como podíamos viver o mesmo dia sempre?

- Não vai. Eu preciso de você, eu dei minha vida para você viver de novo. Eu arrisquei tudo.
Tenho vivido o melhor e pior dia da minha vida todos as manhãs.

- Não pode ser verdade. Isso é loucura!

Minha cabeça voltou a doer desesperadamente, flashs começaram a passar. Via sangue, eu
enlouquecendo e uma faca em minhas mãos.

- Por favor, não morra!

Meu coração doeu tanto, como podia o perder outra vez? Abracei-o com toda a minha força.

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