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UNIVERSIDADE DE MOGI DAS CRUZES

ATHOS MAJCZAK MACAGGI


BIANCA GONÇALVES DOS SANTOS
HIGOR RAMOS FERREIRA

MARIA, NEM CRIMINOSA, NEM PECADORA

Mogi das Cruzes, SP


2020
UNIVERSIDADE DE MOGI DAS CRUZES
ATHOS MAJCZAK MACAGGI RGM: 11172101300
BIANCA GONÇALVES DOS SANTOS RGM: 11151101461
HIGOR RAMOS FERREIRA RGM: 11172500677

MARIA, NEM CRIMINOSA, NEM PECADORA

Trabalho Parcial de Conclusão de Curso – Projeto


Experimental em Jornalismo – apresentado ao curso de
Jornalismo na Universidade de Mogi das Cruzes como
parte dos requisitos para obtenção do grau de Bacharel
em Jornalismo.

Orientador: Prof. Elizeu Silva

Mogi das Cruzes, SP


2020
2

MARIA, NEM CRIMINOSA, NEM PECADORA

Trabalho Parcial de Conclusão de Curso – Projeto


Experimental em Jornalismo – apresentado ao curso de
Jornalismo na Universidade de Mogi das Cruzes como
parte dos requisitos para obtenção do grau de Bacharel
em Jornalismo.

Aprovado em _______/_______/_______

BANCA EXAMINADORA

__________________________________________________________

__________________________________________________________

__________________________________________________________
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“Dedicamos esse trabalho a mulheres que sofreram algum tipo de retaliação religiosa por
buscarem ter autonomia sobre o próprio corpo em determinadas situações. Em especial,
àquelas que foram vítimas de violência sexual e optaram pela interrupção legal de uma
gravidez decorrente dessa violação”.
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AGRADECIMENTOS
Primeiramente, gostaríamos de agradecer à Deus, por nos capacitar para este momento e
permitir que chegássemos até aqui. Agradecemos também aos nossos familiares e amigos, que
durante toda essa jornada, foram nosso porto seguro e nos incentivaram a sempre persistir em
busca de um objetivo maior que é tornar-nos jornalistas, não há dúvidas de que sem eles não
concluiríamos essa dura caminhada, chamada Graduação.
Não podemos esquecer de valorizar aqueles que estiveram nos guiando durante todo o curso,
nossos queridos professores. Dentro de todas as adversidades eles se doaram ao máximo para
nosso desenvolvimento e crescimento dentro da área que escolhemos seguir.
E um muito obrigado a todos que de alguma forma contribuíram para a realização desse projeto
maravilhoso que estamos produzindo no nosso TCC!
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"O fanatismo é uma cegueira quase irremediável. Ligada ao dogmatismo, isto é, a crença
num sistema de verdades que, uma vez aceita, jamais devem ser postas em discussão;
servidas obstinadamente, até exercer de violência para obrigar os outros a seguirem, e punir
os que não estiverem dispostos a abraçá-la."

Sra. Taylor
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Meu nome é Higor Ramos Ferreira, tenho 23 anos


e atualmente estou cursando o sétimo semestre de
Jornalismo na Universidade de Mogi das Cruzes.
Fui responsável pelas seguintes etapas de produção
deste trabalho: produção do relatório escrito e
captação de possíveis fontes para o documentário.

Me chamo Bianca Gonçalves dos Santos, tenho 22


anos e estou cursando o sétimo semestre do curso de
Jornalismo na Universidade de Mogi das Cruzes.
Durante o trabalho escrito, fique responsável pelas
delimitações do tema, partes da fundamentação,
formato do trabalho executado, edição e correção do
trabalho final. Também busquei possíveis fontes
para o documentário.

Sou, Athos Macaggi, tenho 26 anos e estou no sétimo


semestre do curso de Jornalismo, na Universidade de Mogi
das Cruzes, SP. Durante o trabalho escrito estive como
apoio para conferências e Transmidialidade. Na execução
do documentário, estarei à frente das edições.
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RESUMO
Este Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), tem como objetivo, apresentar a influência que o
discurso religioso tem sobre as ações de grupos antiaborto, e de que maneira esses movimentos
contra a interrupção voluntária de uma gravidez, dificultam o acesso legal a vítimas de violência
sexual ao aborto realizado na rede pública de saúde. O presente projeto traz à tona a discussão
acerca desse fenômeno que é o poder da Igreja, na construção de movimentos sociais a partir
do discurso fundamentado em dogmas cristãos que condenam o aborto. Foram realizados
levantamentos de dados, pesquisas bibliográficas e documentais, e ainda serão realizadas
entrevistas.

Palavras-chaves: aborto, aborto legal, discurso religioso, grupos antiaborto, documentário.


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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 9

2. JUSTIFICATIVA ....................................................................................................... 10

3. OBJETIVOS GERAIS E ESPECÍFICOS................................................................ 13

4. METODOLOGIA DE PESQUISA ........................................................................... 14

5. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ............................................................................. 17

6. ESPECIFICIDADES E FORMATO ........................................................................ 29


6.1 PÚBLICO-ALVO E VEICULAÇÃO....................................................................29
6.2 FORMATO.............................................................................................................29
6.3 CONTEÚDO..........................................................................................................29
6.4 CARACTERÍSTICAS TÉCNICAS.......................................................................30
6.5 INVESTIMENTOS................................................................................................30
6.6 TRANSMIDIALIDADE........................................................................................30
7. PESQUISA DE MERCADO ..................................................................................... 31
7.1 PROBLEMAS........................................................................................................31
7.2 HIPÓTESES...........................................................................................................31
7.3 OBJETIVO.............................................................................................................31
7.4 JUSTIFICATIVA...................................................................................................31
7.5 METODOLOGIA...................................................................................................32
7.6 CRONOGRAMA....................................................................................................32
7.7 QUESTIONÁRIO...................................................................................................32
7.8 ÁNALISE DOS RESULTADOS...........................................................................34
8. CONSIDERAÇÕES PARCIAIS ............................................................................... 36
REFERÊNCIAS ........................................................................................................ 37
APÊNDICES A - TRANSMÍDIA.............................................................................. 40
APÊNDICE B – GRÁFICOS DA PESQUISA DE MERCADO ............................ 43
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1. INTRODUÇÃO
O foco do projeto está voltado para a força que grupos antiaborto têm para interferir
diretamente no modo de assistência, que pode ou não, ser prestada a mulheres vítimas de
violência sexual no Brasil.
Trazendo mais dados e expondo a realidade de milhares, se não milhões, de vítimas de
violência sexual. Segundo dados do 13°Anuário Brasileiro de Segurança Pública, só em 2017,
mais de 50 mil mulheres foram estupradas e mais de 7 mil haviam sofrido uma tentativa de
estupro, no Brasil. Em 2018, esse número só aumentou. Mais de 53 mil mulheres foram
estupradas e outras 7 mil sofreram tentativas de estupro.
De acordo com o Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DataSUS),
somente no ano de 2020, já ocorreram 85.553 procedimentos de curetagens e aspirações. Esses
procedimentos são feitos após abortos provocados ou espontâneos. As estatísticas apresentadas
demonstram a importância de se falar cada vez mais sobre o tema, pois os dogmas cristãos,
condenam o aborto independentemente da circunstância que o procedimento é realizado.
Tendo como objetivo a produção de um documentário audiovisual, retratando como o
discurso religioso é tão influente sobre essas pessoas a ponto de elas justificarem somente na
própria religião, razões para agirem dessa forma que esbarram numa questão moral ou de falsa
moralidade.
Nesta produção, será apresentado um recorte do contexto social-histórico e de todos
outros fatores que contribuem para que isto aconteça. Dando voz a essas vítimas que muitas
vezes nem sequer opinam sobre seu corpo, sua saúde e principalmente, sua vida.
A metodologia de pesquisa que será aplicada neste projeto será a exploratória, buscando
o aprofundamento a respeito do assunto. Serão realizadas pesquisas de campo com mulheres
que passaram por isso, líderes religiosos e fontes especialistas.
Além disso, serão consultadas fontes documentais no processo de pesquisa,
principalmente artigos científicos. Será realizada uma pesquisa de mercado, focando em um
questionário público sobre o produto. Este questionário será distribuído nas redes sociais. Os
resultados serão tratados de modo quali-quantitativo.
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2. JUSTIFICATIVA
A principal motivação para o presente projeto de pesquisa reside na importância do tema
para a sociedade atual e a necessidade de estudos mais aprofundados sobre as dificuldades para
o acolhimento de mulheres vítimas de violência sexual, em especial, aquelas que por
consequência do estupro engravidam e optam por fazer o aborto, direito garantido pelo Artigo
128 do Decreto de Lei n° 2.848 (Código Penal Brasileiro), de 07 de Dezembro de 1940. A
interrupção da gestação é permitida por lei em casos de estupro, quando há risco para a vida da
mãe e em casos de anencefalia.
Uma das principais dificuldades enfrentadas pelas mulheres que optam pelo aborto legal
decorre da atuação de grupos antiaborto, composto por pessoas ligadas às religiões católica e
protestante. Esses grupos tratam as vítimas de estupro e os profissionais envolvidos na
realização do aborto legal como “assassinos”, e tentam impedir que hospitais e clínicas
autorizadas concretizem o procedimento. Segundo Maçalai e Nielsson (2016), a influência
exercida através do discurso religioso é determinante para condutas como a dos manifestantes
que se autodenominam “pró-vida”.

[...] quando afirma-se a violência de gênero enquanto expressão de relações


desiguais de poder instituídas em nossa sociedade, produzidas e reproduzidas
por diversas formas de expressões da sociabilidade humana, inegável admitir
a relevância que o discurso religioso possui neste processo, uma vez que surge
como criador e mantenedor de posturas na sociedade, influenciando condutas,
tanto individuais quanto coletivas. (MAÇALAI; NIELSSON, 2016, p. 209).

Ainda hoje, em 2020, milhares de mulheres sofrem abuso sexual no Brasil. Essa
realidade decorre de diversos fatores, entre os quais uma visão estereotipada do papel das
mulheres na sociedade, cultura do machismo enraizada e a ineficiência das ferramentas
processuais para combater esse crime.
O resultado são estatísticas inaceitáveis de mulheres estupradas no país. De acordo com
dados do 13° Anuário Brasileiro de Segurança Pública, publicado em 2019, só em 2017 mais
de 50 mil mulheres foram estupradas e outras 7 mil sofreram tentativa de estupro no Brasil.
Em 2018 os números só aumentaram: mais de 53 mil mulheres foram estupradas e outras
7 mil sofreram tentativas de estupro. As estatísticas apresentadas demonstram a importância de
falar cada vez mais sobre o tema, pois princípios religiosos condenam mulheres que fazem
aborto nessas circunstâncias, após sofrerem violência sexual.
Segundo levantamento do “Elas no Congresso”, plataforma de monitoramento
legislativo mantida pela Revista AzMina, desde 2011 foram apresentados 69 projetos de lei
sobre aborto, 80% dos quais buscam aumentar a pena em casos de interrupção voluntária da
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gravidez. Apenas 1 dos 69 projetos propõe descriminalizar o aborto, o PL 882/2015, de autoria


do então Deputado Federal Jean Wyllys (PSOL -RJ).
Recentemente, foi publicada pelo Ministério da Saúde, no Diário Oficial da União, a
portaria 2.561, no dia 23 de setembro de 2020, assinada pelo presidente da República Jair
Bolsonaro. A portaria estabelece procedimentos a serem adotados por médicos e profissionais
da Saúde no atendimento a mulheres vítimas de violência sexual que desejam fazer o aborto
legal. Segundo a portaria, os profissionais devem notificar a polícia, independentemente da
vontade da vítima de registrar queixa ou identificar o agressor.
Segundo a portaria, também deverá ser entregue à gestante ou ao seu responsável legal
(caso a vítima não tenha condições de assinar) um termo de consentimento, no qual ela ou seu
responsável legal terá que relatar, com detalhes, a violência sexual sofrida. Ela será informada
da previsão legal para os crimes de aborto e de falsidade ideológica, caso não se comprove a
violência sexual.
A portaria do Ministério da Saúde foi publicada em meio à polêmica gerada pelo caso
da menina de 10 anos que engravidou depois de ser estuprada durante mais de 4 anos pelo tio
de 33 anos, no Espírito Santo. Aparentemente o governo tem jogado contra a proteção da
mulher, que por sinal é uma obrigação do Estado.
Segundo o DataSUS, somente no ano de 2020, já ocorreram 85.553 procedimentos de
curetagens e aspirações. Esses procedimentos têm por finalidade retirar tecidos fetais que ainda
possam estar presentes no corpo da mulher após a ocorrência de abortos, independentemente se
espontâneo ou provocado. A plataforma não disponibiliza o número de abortos resultantes de
estupro.
Se não bastasse ter de carregar um trauma psicológico para o restante da vida, essas
mulheres ainda têm que suportar o julgamento de religiosos antiaborto que defendem apenas a
manutenção da gravidez e nunca a sobrevivência das mulheres.
Em tempos turbulentos, em termos políticos, econômicos e morais como os atuais,
inserir a discussão sobre o poder do discurso religioso e sua interferência na vida de mulheres
vítimas de violência sexual, pode estimular reflexões e até mudanças no pensamento da
sociedade.

2.1 JUSTIFICATIVA PARA O FORMATO ESCOLHIDO


Segundo Corradini (2019), o filme documentário surgiu exatamente com a proposta de
se tornar um gênero independente, se diferenciando do cinema tradicional ao construir suas
12

narrativas a partir da não-ficção. Foi justamente esse conceito de trabalhar com fatos reais que
aproximou o documentário do jornalismo, facilitando a migração para a TV.
Além disso, Corradini, exalta a importância de o filme documentário ter diversificado o
uso das linguagens em suas produções, se adaptando à linguagem televisiva, à radiofônica e
também à digital, ou seja, migrando para a internet. Isso possibilitou que o gênero filme
documentário se expandisse e tivesse um alcance de público muito maior, aumentando assim
sua popularidade no mercado e conquistando novos fãs.
[..] Somado a esses conceitos, tem-se também a inegável importância do
documentário no desenvolvimento de novas linguagens cinematográficas e do que
pode ser alcançado em termos de possibilidades de produção. Aliando o documentário
aos formatos digitais, abrem-se portas para novas produções e há a possibilidade,
assim, de levar esse gênero ao alcance de muitos espectadores. (CORRADINI, 2019,
p. 160).

Optamos por fazer um documentário justamente pelo potencial desse formato para
transitar facilmente pelas mídias, em especial, as digitais. Há um alto consumo de produtos
audiovisuais na internet. Segundo levantamento da empresa estadunidense Cisco, que
comercializa roteadores e switches 80% do tráfego de internet do mundo em 2019 foi em vídeo.
O mesmo estudo já havia feito a projeção de um tráfego da internet de 82% em vídeo.
Além disso, o formato é mais leve para o consumo das pessoas, e por conta de ser um
produto multimidia, facilita muitas vezes a compreensão do tema por parte do público. E nós
temos a preferência pessoal por esse formato.
13

3. OBJETIVOS
3.1 OBJETIVO GERAL
Produzir um documentário audiovisual para relatar as dificuldades que mulheres vítimas
de estupro, no Brasil, enfrentam para ter acesso ao aborto legal e demais assistências que muitas
vezes lhes são negadas devido à interferência religiosa.

3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS


1. Estudar a legislação relativa ao aborto legal, de forma a compreender os direitos das
mulheres vítimas de estupro.
2. Compreender de que forma o discurso religioso dificulta o acesso ao atendimento às vítimas
de violência sexual.
3. Questionar o papel do Estado diante dos casos de assédio moral contra mulheres e
profissionais da saúde realizados por grupos antiaborto mesmo nos casos previstos em lei.
4. Apresentar os direitos das mulheres vítimas de estupro, bem como instituições que oferecem
apoio para a realização do aborto legal.
14

4. METODOLOGIA
O primeiro passo foi definir o tema. Já tínhamos decidido falar algo sobre a violência
contra mulher. Contudo, a delimitação exata do tema dentre as diversas possibilidades que
tínhamos, surgiu após vir a público o chocante caso da menina de apenas 10 anos que era
estuprada desde os 6 anos pelo próprio tio. Os repetidos abusos geraram uma gravidez e a
família optou pela realização do aborto, só que um grupo de pessoas religiosas acabou indo até
a porta do hospital protestar contra a realização do procedimento. Daí surgiu o nosso tema:
como a interferência religiosa dificulta o acesso ao aborto legal e demais assistências a mulheres
vítimas de estupro no Brasil.
Agora que já tínhamos o tema, partimos para uma pesquisa de cunho social em busca
de conhecimento mais aprofundado. Segundo Gil (2008), pode-se definir pesquisa social, como
o método de investigação em diversas áreas de conhecimentos socias, na qual o pesquisador
tem a liberdade para estudar as relações das pessoas com outras pessoas e também com
instituições, âmbito no qual se encaixa nosso objeto de estudo, a saber, como o discurso
religioso dificulta o acesso ao aborto legal e a assistência às mulheres vítimas de estupro.
Ainda de acordo com Gil (2008), a finalidade deste tipo de pesquisa é dividida em duas
categorias: a pura, e a aplicada. A pesquisa pura consiste em proporcionar uma abordagem mais
generalizada do tema.
[...] A pesquisa pura busca o progresso da ciência, procura desenvolver os
conhecimentos científicos sem a preocupação direta com suas aplicações e
consequências práticas. Seu desenvolvimento tende a ser bastante formalizado
e objetiva a generalização, com vistas na construção de teorias e leis. (GIL,
2008, p. 26).

Já a pesquisa aplicada é voltada para as consequências imediatas que podem ter os


resultados obtidos.

[...] A pesquisa aplicada, por sua vez, apresenta muitos pontos de contato com
a pesquisa pura, pois depende de suas descobertas e se enriquece com o seu
desenvolvimento; todavia, tem como característica fundamental o interesse na
aplicação, utilização e consequências práticas dos conhecimentos. Sua
preocupação está menos voltada para o desenvolvimento de teorias de valor
universal que para a aplicação imediata numa realidade circunstancial. De
modo geral é este o tipo de pesquisa a que mais se dedicam os psicólogos,
sociólogos, economistas, assistentes sociais e outros pesquisadores sociais.
(GIL, 2008, p. 27).

O presente trabalho se constitui como pesquisa aplicada, pois o objetivo principal do


documentário é mostrar toda a problemática do assunto e como impacta a vida das pessoas. É
óbvio que nosso trabalho escrito e o próprio documentário ficarão por muito tempo para serem
usados como objeto de estudo por outros pesquisadores, mas o foco é fornecer subsídios para
essa discussão pensando no hoje.
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Há três níveis de pesquisa; exploratória, descritiva e explicativa. Iremos trabalhar com


a exploratória. De acordo com Gil (2008), a pesquisa exploratória se caracteriza por exigir do
pesquisador uma imersão em fontes bibliográficas e documentais, no intuito de adquirir
propriedade sobre o assunto a ponto de conseguir formular hipóteses e problemas de pesquisa
mais aprofundados, criando, de fato, teorias fundamentadas em estudos científicos.
Em geral ela permite descrever uma realidade social existente, na qual o objeto de estudo
está inserido com maior relevância, estando ainda pouco explorado e necessitando, portanto, de
grande investigação para pontuar corretamente o fenômeno estudado de tal realidade.

[...] Muitas vezes as pesquisas exploratórias constituem a primeira etapa de


uma investigação mais ampla. Quando o tema escolhido é bastante genérico,
tornam-se necessários seu esclarecimento e delimitação, o que exige revisão
da literatura, discussão com especialistas e outros procedimentos. O produto
final deste processo passa a ser um problema mais esclarecido, passível de
investigação mediante procedimentos mais sistematizados. (GIL, 2008, p. 27).

Para Gil (2002), uma técnica importantíssima de pesquisa é o delineamento, que nada
mais é que os meios escolhidos para a coleta de dados. Segundo ele há dois grupos principais
de delineamentos, um de fontes documentais (dados coletados em materiais impressos, mais
especificamente pesquisa bibliográfica) e outro, de informações cedidas por pessoas (através
de entrevistas).
Nós utilizaremos técnicas de ambos os delineamentos. A bibliográfica principalmente
nesta primeira etapa que foca no trabalho escrito, pois segundo Gil (2002), a pesquisa
bibliográfica é desenvolvida principalmente a partir de artigos científicos e livros, que são
fontes primordiais na fundamentação de qualquer trabalho. Além de fornecer um material muito
mais amplo para consulta, o que Gil classifica como a principal vantagem.

[...] A principal vantagem da pesquisa bibliográfica reside no fato de permitir


ao investigador a cobertura de uma gama de fenômenos muito mais ampla do
que aquela que poderia pesquisar diretamente. Essa vantagem torna-se
particularmente importante quando o problema de pesquisa requer dados muito
dispersos pelo espaço. Por exemplo, seria impossível a um pesquisador
percorrer todo o território brasileiro em busca de dados sobre população ou
renda per capita; todavia, se tem a sua disposição uma bibliografia adequada,
não terá maiores obstáculos para contar com as informações requeridas. A
pesquisa bibliográfica também é indispensável nos estudos históricos. Em
muitas situações, não há outra maneira de conhecer os fatos passados se não
com base em dados bibliográficos. (GIL, 2002, p. 45).

Já as técnicas de informações cedidas por pessoas serão mais utilizadas na segunda


etapa, que é de fato o momento da produção deste documentário. O que não significa que não
utilizaremos no decorrer do trabalho escrito, no caso, até já estamos utilizando, pois ao surgir
dúvidas a respeito do Código Penal, estamos tendo que consultar uma fonte especialista na área
jurídica para a aplicação de dados corretos na justificativa do nosso trabalho. Mas, sem dúvida,
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utilizaremos com maior frequência essas técnicas na etapa de captação de entrevistas para o
documentário.
E para Gil (2002), há algumas possibilidades dentro desse campo de pesquisas com
pessoas: a pesquisa experimental, a pesquisa ex-post facto, o levantamento, o estudo de caso, o
estudo de campo, o estudo de coorte e possivelmente podem ser adicionadas a pesquisa-ação e
a pesquisa participante. Nós utilizaremos o estudo de campo que é definido por Gil da seguinte
forma:

[...] O estudo de campo apresenta muitas semelhanças com o levantamento.


Distingue-se, porém, em diversos aspectos. De modo geral, pode-se dizer que
o levantamento tem maior alcance e o estudo de campo, maior profundidade.
Em termos práticos, podem ser feitas duas distinções essenciais.
Primeiramente, o levantamento procura ser representativo de universo definido
e oferecer resultados caracterizados pela precisão estatística. Já o estudo de
campo procura muito mais aprofundamento das questões propostas do que a
distribuição das características da população segundo determinadas variáveis.
Como consequência, o planejamento do estudo de campo apresenta muito
maior flexibilidade, podendo ocorrer mesmo que seus objetivos sejam
reformulados ao longo da pesquisa. (GIL, 2002, p. 52 e 53).

Além disso, iremos trabalhar com a pesquisa quali-quantitativa, que nada mais é que a
junção da qualitativa com a quantitativa. Segundo Knechtel (2014), a pesquisa quantitativa é
uma modalidade de pesquisa que atua sobre um problema humano ou social, é baseada no teste
de uma teoria e composta por variáveis quantificadas em números, as quais são analisadas de
modo estatístico, com o objetivo de determinar se as generalizações previstas na teoria se
sustentam ou não.
Já a pesquisa qualitativa busca entender fenômenos humanos, buscando deles obter uma
visão detalhada e complexa por meio de uma análise científica do pesquisador. Esse tipo de
pesquisa se preocupa com o significado dos fenômenos e processos sociais. Mas sendo uma
análise relacionada também à subjetividade, quais são os critérios do pesquisador? Bem, ele
leva em consideração as motivações, crenças, valores e representações encontradas nas relações
sociais (KNECHTEL, 2014).
Estes serão os métodos utilizados por nós durante o processo de elaboração do
documentário audiovisual a respeito do tema selecionado para o estudo e desenvolvimento do
projeto.
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5. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
5.1 DEFINIÇÃO DE ABORTO
Uma das discussões mais antigas que ainda perdura na sociedade atual é a definição do
que é aborto e se ele deve ou não ser descriminalizado. Esse embate de pensamentos persiste
até mesmo em países como Uruguai, Estados Unidos e Portugal, lugares onde o procedimento
realizado de forma voluntária já é permitido por lei.
A questão do aborto gera debates e polêmicas complexas envolvendo aspectos
religiosos, morais, jurídicos e éticos, permeados por convicções pessoais e sociais.
De acordo com Galeotti (2007), antigamente na Idade Média havia a liberdade da
mulher determinar se deveria ou não prosseguir com a gravidez. E de fato, ela só era proibida
caso a realização do abortamento fosse atrapalhar os interesses do seu cônjuge.
Segundo Campos (2014), foi só a partir do século XIX que o aborto passou a ser
considerado oficialmente homicídio pela Igreja, embora desde o século IV já houvesse críticas
às mulheres que interrompiam a gravidez. Santo Agostinho chegou a classificá-las como
“prostitutas”.
Durante a Segunda Guerra Mundial, o aborto foi incentivado pelos nazistas, só que há
um detalhe importante nesta iniciativa e que reflete na sociedade atual: o incentivo ao aborto
ocorreu no contexto da política higienista, que caracterizou o regime, para impedir que
mulheres consideradas de raças inferiores tivessem filhos, evitando, assim, o aumento da
linhagem daqueles de quem os nazistas tinham ódio e tentavam exterminar, especialmente
negros e judeus. Ainda de acordo com Campos, a motivação dos nazistas para incentivar o
aborto é a mesma adotada atualmente para criminalizá-lo. E para Campos, essa era uma questão
de crueldade, mas também de desigualdade social, pois durante a Segunda Guerra os
abortamentos eram realizados em condições precárias, com grave risco também para a vida da
mulher.
Fazendo um paralelo com os dias atuais, percebe-se a semelhança com a condição de
mulheres pobres que, sem recursos para custear uma clínica particular e com as dificuldades
para abortar legalmente no sistema público, veem como única saída realizar o procedimento em
clínicas clandestinas, colocando em risco a própria vida.

[...] Em meio a essas controvérsias, conforme verificado acima, nota-se que,


na trajetória histórica do aborto, a proteção do feto ficou em segundo plano,
visto que a posição sempre foi o interesse social e econômico para alavancar
os países, razão pela qual se evitavam os abortos, assim como não se permitia
o coito interrompido, não com o intuito de preservar a verdadeira essência da
vida, mas sim para que houvesse mão-de-obra necessária e imprescindível para
o crescimento econômico. (CAMPOS, 2014, p. 1).
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A discussão moral que permeia o tema do aborto esbarra numa dificuldade até hoje
intransponível que é a definição do momento exato em que a vida se inicia. Este é um aspecto
fundamental, pois a criminalização do aborto se fundamenta num questionamento de ordem
moral relacionado à interrupção da vida do feto. A discussão envereda por rotas ainda mais
tortuosas ante questionamentos sobre a aplicação do conceito de vida ao fruto da concepção:
haveria vida de fato no feto cujo estágio de desenvolvimento inviabiliza uma existência extra
uterina? Não podendo sobreviver fora do útero da mãe, o feto tem vida própria ou é uma
extensão do corpo e da vida da sua genitora? Sendo o feto incapaz de vida própria e existindo
tão somente pela conexão vital com a mãe, por que a esta é negado decidir sobre a manutenção
ou a interrupção da gravidez?
Muitas são as teorias que tentam determinar o momento em que a vida surge, fazendo
com que o feto se torne, então, um ser de direitos. Nessa perspectiva, sem pretensão de
exaurimento, é possível apontar quatro importantes teorias:
A primeira é a Teoria Concepcionista. Ela defende que a vida se inicia no exato
momento da fecundação, ou seja, que desde sempre irá existir uma vida no útero da mulher, o
que caracteriza como aborto a interrupção da gravidez em qualquer momento, inclusive pelo
uso da pílula do dia seguinte.
É na Teoria Concepcionista que se baseia o sistema jurídico brasileiro: “Art. 2° A
personalidade civil da pessoa começa com o nascimento com vida; mas a lei põe a salvo, desde
a concepção, os direitos do nascituro”. (CÓDIGO CIVIL – Lei 10406/02). Essa teoria está
relacionada com dogmas religiosos e é defendido também por grupos antiaborto.

Os fundamentos desta teoria são os mais diversos possíveis, sendo o de cunho


religioso o mais expressivo deles. Dessa forma, a Igreja Católica defende que
o seu início é marcado pela alma, isto é, quando o feto recebia a alma passava
a existir vida, proibindo o aborto em qualquer fase, já que a alma passa a
pertencer ao novo ser no preciso momento do encontro do óvulo com o
espermatozoide. (CASTRO, 2019, p. 1).

A segunda é a Teoria da Nidação. Os estudos da embriologia descrevem como nidação


o momento em que o embrião se fixa na parede do útero, entre o 4° e o 6° dia de gestação. De
acordo com Mendonça (2016), essa teoria é defendida por ginecologistas sob o argumento de
que embrião fertilizado em laboratório só sobrevive quando implantado no útero da paciente.
Esta definição não possui relevância jurídica justamente pelo fato impossibilidade do embrião
sobreviver fora do corpo da mulher.

[...] Segundo este entendimento, com o fenômeno da nidação o embrião já


adquire vida. Assim, é pela implantação que o ovo adquire viabilidade e
determina o estado gravídico da mulher. Isto posto, antes da nidação apenas
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havia um aglomerado de células que constituiria posteriormente as bases do


embrião. (MENDONÇA, 2016, p. 1).

Para Castro (2019), a Teoria da Nidação se opõe à Teoria Concepcionista por não
considerar o uso de métodos contraceptivos como Dispositivo Intrauterino (DIU) e a Pílula
contraceptiva de emergência, um abortamento. Pois, se não houve a fixação do embrião no
útero, ainda não há vida e consequentemente não é viável falar em sua interrupção. Para a autora
há uma confusão no raciocínio daqueles que se opõem a essa teoria.
[...] Contudo, os que discordam dessa teoria, afirmam que a nidação é um
estágio obrigatório e não suficiente de per si no processo biológico para o
desenvolvimento humano. Logo, os que assim pensam, “confundem vida
humana com o processo biológico animal e veem, em qualquer fenômeno
biológico, a própria vida humana.” (CASTRO, 2014, p. 1).

A terceira teoria é a da Gastrulação. Castro (2019, p. 1) a descreve como “[...] processos


de desenvolvimento embrionário da gástrula até a néurula, na qual se usa as características
fisiológicas do embrião para designar um marco inicial da vida como um ser humano”. Esse
processo só ocorre no 18° dia de gestação.
A quarta teoria é a Natalista. Segundo Castro (2019), esta teoria pressupõe que só há
vida após o nascimento, ou seja, só após o parto, quando a criança vem ao mundo, e se constata
o funcionamento do aparelho cardiorrespiratório do recém-nascido.
Para Mendonça (2016), os natalistas não consideram o feto como uma vida, vendo-os
apenas como candidatos a terem seus direitos caso venham a nascer. Segundo este raciocínio,
enquanto isso não ocorre não se pode atribuir nenhum direito ou proteção legal ao nascituro.
Nessa hipótese, não se configura como abortamento a interrupção da gravidez.

[...] Destarte, segundo essa teoria, a personalidade da pessoa tem início a partir
do parto, desde que nascido com vida, o que por si só seria uma visão
extremamente legalista. Assim, o nascituro seria um ser em potencial e com
expectativas de direitos, pois para que tenha os direitos que lhe são reservados
ainda em sua existência intrauterina, é necessário que nasça com vida.
(MENDONÇA, 2016, p. 1).

Como pode-se observar, não há um consenso sobre quando se inicia a vida.


Apresentamos algumas teorias, porém existem muitas outras, o que permite constatar a
incapacidade da ciência para determinar o momento exato em que a vida surge no útero da
mulher.
Na ausência de uma definição objetiva, surgem posições motivadas por crenças
pessoais, sentimentos, emoções e referências religiosas. É exatamente nesse âmbito que a Igreja
ganha força e através do discurso religioso acaba por influenciar as ações dos seus seguidores,
utilizando a Teoria Concepcionista.
20

Segundo Campos (2014), a maior barreira de grupos que lutam pela autonomia da
mulher sobre seu corpo, decidindo se desejam ou não prosseguir com uma gravidez, são os
religiosos. Para a autora, principalmente os membros da Igreja Católica, se opõem contra esse
tipo de autonomia. Ainda de acordo com Campos, o catolicismo é contra o abortamento desde
o século IV e há quatro princípios que norteiam a manutenção desse pensamento até hoje:
I. Deus é o autor da vida.
II. A vida se inicia no momento da concepção.
III. Ninguém tem o direito de tirar a vida humana inocente.
IV. O direito à vida é um elemento constitutivo da sociedade civil e de sua legislação.
Para Nunes (2012), a Igreja Católica baseia-se nas tradições cristãs que fortaleceram a
luta contra o aborto. Dando continuidade a essas ações, conseguiu produzir inúmeros
documentos baseados na vasta coleção de manuscritos cristãos, tornando a doutrina oficial do
catolicismo sobre aborto uma verdade absoluta e algo definitivo, à qual não cabe contestação.
Nunes descreve o dogma católico em relação ao aborto:

[...] Atentar contra a vida é atentar contra o próprio Deus. Do direito à vida
derivam todos os outros direitos, dos quais aquele é condição necessária.
Assim, o mandamento divino: Não matarás refere-se à sacralidade da vida, que
deve ser respeitada, por vontade divina, segundo um princípio abstrato,
absoluto, universal e aplicável a todos os seres humanos. Uma vez que,
segundo o magistério da Igreja, desde o primeiro momento da fecundação há
uma pessoa humana completa, o aborto torna-se um ato moralmente
inaceitável e condenável, verdadeiro homicídio, i.e., um atentado contra a vida
e, consequentemente, contra o próprio Deus, criador da vida, um pecado
gravíssimo. (NUNES, 2012, p. 1).

Segundo o autor, praticamente, não há diferença no posicionamento das igrejas


protestantes aqui no Brasil em relação ao aborto – elas transmitem os mesmos ideais do
Vaticano para seus fiéis. Por outra lado, Nunes, traz a informação de que dentro da Igreja
Católica, existem grupos que questionam a posição oficial da Igreja, com informações sobre o
início da oposição do cristianismo ao aborto, evidenciando que a não aceitação da interrupção
da gravidez estava mais relacionada ao pecado do adultério do que ao aborto.

[...] O estudo dos primeiros escritos cristãos – dos chamados padres da Igreja
e dos teólogos dos séculos iniciais do cristianismo –, mostra um panorama
bastante diversificado. Hurst (13), analisando a tradição da Igreja nesse campo
do aborto, encontra que a razão da condenação do mesmo era, de início, ligada
ao problema do adultério que a interrupção de uma gravidez ocultaria e ao
pecado da fornicação, isto é, do sexo realizado sem a finalidade procriativa.
(NUNES, 2012, p. 1).

De fato, não há na Bíblia nenhum texto que trate o aborto como pecado. Os únicos três
textos nos quais o aborto é mencionado confirmam a tese defendida por Nunes, ou seja, o
21

pecado em questão é o adultério e mais, o texto Êxodo 21: 22,23 apresenta contradições entre
diferentes traduções da Bíblia. Na versão da editora Ave Maria foi traduzido da seguinte forma:

Êxodo 21:22,23 apresenta Moisés instruindo o povo hebreu:

“Se homens brigarem, e acontecer que venham a ferir uma mulher grávida, e
esta der à luz sem nenhum dano, eles serão passíveis de uma indenização
imposta pelo marido da mulher, e que pagarão diante dos juízes. Mas, se
houver outros danos, urge dar a vida por vida.” (BÍBLIA, 1997, p.122).

Já na versão traduzida pela Almeida Revista e Corrigida, diz o seguinte:

“Se alguns homens brigarem, e um ferirem uma mulher grávida, e forem causa
de que aborte, porém sem maior dano, aquele que feriu será obrigado a
indenizar segundo o que lhe exigir o marido da mulher; r pagará como os juízes
lhe determinarem. Mas, se houver dano grave, então, darás vida por vida
(BÍBLIA, 1995, p.113).

Se não há nos próprios textos sagrados dos cristãos uma confirmação de que o aborto
seja pecado, onde eles se baseiam para defender veementemente essa posição?

No Antigo Testamento, no livro de Números, capítulo 5 versos 11 a 31, são relatadas


instruções de Deus a Moisés, que este deve transmitir ao povo hebreu:

“Falou mais o Senhor a Moisés, dizendo:


Fala aos filhos de Israel, e dize-lhes: Quando a mulher de alguém se desviar, e
transgredir contra ele,
De maneira que algum homem se tenha deitado com ela, e for oculto aos olhos
de seu marido, e ela o tiver ocultado, havendo-se ela contaminado, e contra ela
não houver testemunha, e no feito não for apanhada,
E o espírito de ciúmes vier sobre ele, e de sua mulher tiver ciúmes, por ela se
haver contaminado, ou sobre ele vier o espírito de ciúmes, e de sua mulher
tiver ciúmes, não se havendo ela contaminado,
Então aquele homem trará a sua mulher perante o sacerdote, e juntamente trará
a sua oferta por ela; uma décima de efa de farinha de cevada, sobre a qual não
deitará azeite, nem sobre ela porá incenso, porquanto é oferta de alimentos por
ciúmes, oferta memorativa, que traz a iniquidade em memória.
E o sacerdote a fará chegar, e a porá perante a face do Senhor.
E o sacerdote tomará água santa num vaso de barro; também tomará o
sacerdote do pó que houver no chão do tabernáculo, e o deitará na água.
Então o sacerdote apresentará a mulher perante o Senhor, e descobrirá a cabeça
da mulher; e a oferta memorativa, que é a oferta por ciúmes, porá sobre as suas
mãos, e a água amarga, que traz consigo a maldição, estará na mão do
sacerdote.
E o sacerdote a fará jurar, e dirá àquela mulher: Se ninguém contigo se deitou,
e se não te apartaste de teu marido pela imundícia, destas águas
amargas, amaldiçoantes, serás livre.
Mas, se te apartaste de teu marido, e te contaminaste, e algum homem, fora de
teu marido, se deitou contigo,
Então o sacerdote fará jurar à mulher com o juramento da maldição; e o
sacerdote dirá à mulher: O Senhor te ponha por maldição e por praga no meio
do teu povo, fazendo-te o Senhor consumir a tua coxa e inchar o teu ventre.
E esta água amaldiçoante entre nas tuas entranhas, para te fazer inchar o ventre,
e te fazer consumir a coxa. Então a mulher dirá: Amém, Amém.
Depois o sacerdote escreverá estas mesmas maldições num livro, e com a água
amarga as apagará.
22

E a água amarga, amaldiçoante, dará a beber à mulher, e a


água amaldiçoante entrará nela para amargurar.
E o sacerdote tomará a oferta por ciúmes da mão da mulher, e moverá a oferta
perante o Senhor; e a oferecerá sobre o altar.
Também o sacerdote tomará um punhado da oferta memorativa, e sobre o altar
a queimará; e depois dará a beber a água à mulher.
E, havendo-lhe dado a beber aquela água, será que, se ela se tiver contaminado,
e contra seu marido tiver transgredido, a água amaldiçoante entrará nela para
amargura, e o seu ventre se inchará, e consumirá a sua coxa; e aquela mulher
será por maldição no meio do seu povo.
E, se a mulher se não tiver contaminado, mas estiver limpa, então será livre, e
conceberá filhos.
Esta é a lei dos ciúmes, quando a mulher, em poder de seu marido, se desviar
e for contaminada;
Ou quando sobre o homem vier o espírito de ciúmes, e tiver ciúmes de sua
mulher, apresente a mulher perante o Senhor, e o sacerdote nela execute toda
esta lei.
E o homem será livre da iniquidade, porém a mulher levará a sua iniquidade.
(BÍBLIA, 1997).

Já este trecho relata um aborto ritual praticado pelo sacerdote. Se o marido ficasse com
ciúmes da sua esposa e não pudesse comprovar a infidelidade dela por meio de testemunhas,
poderia praticar o ritual de ordália, que consistia em obrigar a mulher supostamente infiel a
tomar águas amargas. A mulher era forçada a ingerir o que atualmente se denomina cadaverina,
que é um elemento que se encontra em matéria orgânica morta. Se a mulher abortasse depois
de ingerir a água ficava comprovado que ela tinha sido infiel e o marido podia puni-la inclusive
com morte por apedrejamento.
Já no Novo Testamento, o apóstolo Paulo fala aos cristãos em Coríntios (I Coríntios
15:8,9) nos seguintes termos:
“E por derradeiro de todos me apareceu também a mim, como a um abortivo.
Porque eu sou o menor dos apóstolos, que não sou digno de ser chamado
apóstolo, pois que persegui a igreja de Deus”. (BÍBLIA, 1997).

Aqui o apóstolo Paulo refere-se a si mesmo de maneira metafórica como um aborto,


pois era o menor dos apóstolos.
Segundo Neuenfeldt (2007), nem mesmo a Bíblia considera a Teoria Concepcionista,
que é defendida por religiosos cristãos. A autora afirma que para os antigos Hebreus a vida só
passava a existir após o nascimento da criança e a aceitação desta pelos pais.

[...] Nos tempos bíblicos, a vida começava não com a concepção, mas com o
reconhecimento da criança, por parte do pai ou da mãe. Nesse processo, a
parteira desempenhava um papel fundamental. Se a criança não recebesse o
reconhecimento do pai e da mãe, seria adotada por uma mãe substituta, uma
ama de leite. (NEUENFELDT, 2007, p. 5).

Mesmo havendo grupos de contestação no interior da igreja e tais evidências que se


opõem ao pensamento conservador da Igreja, é o discurso religioso de condenação ao
procedimento de interrupção da gravidez e àqueles que o realizam que continua prevalecendo.
23

Outra questão a ser considerada nessa discussão é a separação entre Igreja e Estado.
Embora os grupos antiaborto, por estarem ligados à Igreja, que de acordo com seus dogmas
condena o abortamento, possam classificar o aborto provocado como pecado, este não deveria
ser considerado crime pelo Estado.
A responsabilidade de definir o que é crime e de como deve ser punido, de acordo com
o que está estabelecido no Código Penal, é do Estado. Mas, neste quesito não há total clareza
na legislação relacionada ao aborto, permitindo assim ações diferentes em casos da mesma
natureza, devido à atribuição de singularidades a determinados casos, tratados na maioria das
vezes como únicos, devido às circunstâncias do ocorrido.
O que diz o Código Penal Brasileiro de 1940 sobre as penalizações pela prática do
aborto:

Art. 124 – Provocar aborto em si mesma ou consentir que outrem lhe provoque:
Pena – detenção, de um a três anos.
Art. 125 – Provocar aborto, sem o consentimento da gestante: Pena – reclusão,
de três a dez anos.
Art. 126 – Provocar aborto com o consentimento da gestante: Pena – reclusão,
de um a quatro anos. Parágrafo único. Aplica-se a pena do artigo anterior, se a
gestante não é maior de quatorze anos, ou é alienada ou débil mental, ou se o
consentimento é obtido mediante fraude, grave ameaça ou violência.
Art. 127 – As penas cominadas nos dois artigos anteriores são aumentadas de
um terço, se, em consequência do aborto ou dos meios empregados para
provocá-lo, a gestante sofre lesão corporal de natureza grave; e são duplicadas,
se, por qualquer dessas causas, lhe sobrevém a morte.
Art. 128 – Não se pune o aborto praticado por médico: I – se não há outro
meio de salvar a vida da gestante; II – se a gravidez resulta de estupro e o
aborto é precedido de consentimento da gestante ou, quando incapaz, de
seu representante legal.

Há ainda a possibilidade de abortar legalmente no caso de o feto ser anencefálico. Não


consta no Código Penal, porém, foi uma decisão tomada pelo Superior Tribunal Federal (STF)
em abril de 2012.
Destaca-se o art. 128 do Código Penal, por apresentar em que circunstâncias são
permitidas por lei o abortamento. Atentando-se ao inciso II, que se refere à gravidez resultante
de estupro, percebemos quão conflituosa é a legislação brasileira sobre isto. Pois, recentemente
foi publicada pelo Ministério da Saúde, no Diário Oficial da União, a portaria 2.561, de 23 de
setembro de 2020, assinada pelo presidente da República Jair Bolsonaro. A portaria estabelece
procedimentos a serem adotados por médicos e profissionais de saúde no atendimento a
mulheres vítimas de violência sexual que desejam fazer o aborto legal. Segundo a portaria, os
profissionais devem notificar a polícia, independentemente da vontade da vítima de registrar
queixa ou identificar o agressor.
24

Essa portaria causa um grande conflito na forma da assistência que será prestada às
vítimas, pois se contrapõe ao Código de Ética Médica, cujo capítulo IX determina:
É vedado ao médico:
Art. 73. Revelar fato de que tenha conhecimento em virtude do exercício de
sua profissão, salvo por motivo justo, dever legal ou consentimento, por
escrito, do paciente.
Parágrafo único. Permanece essa proibição:
a) mesmo que o fato seja de conhecimento público ou o paciente tenha
falecido; b) quando de seu depoimento como testemunha. Nessa hipótese,
o médico comparecerá perante a autoridade e declarará seu impedimento;
c) na investigação de suspeita de crime o médico estará impedido de
revelar segredo que possa expor o paciente a processo penal. (CÓDIGO
DE ÉTICA MÉDICA, 2009, p. 44).

O trecho acima, retirado do Código de Ética Médica, expõe a situação conflitante que a
portaria do governo federal coloca os profissionais de saúde. Como ele poderá exercer sua
função de maneira adequada se quando for prestar atendimento a uma mulher que deseja fazer
o abortamento de forma legal, sob a alegação de gravidez resultante de estupro, tiver que
resolver o dilema ético e legal de quebrar o Código de Ética Médica ou a determinação do
Governo Federal, que segundo o ministro da Saúde foi aprovada após a pressão de grupos
religiosos?
No meio disso tudo, está uma mulher traumatizada, que vê sua situação virando um
espetáculo, tamanha a banalização de um procedimento que deveria ser médico, mas que acaba
por se tornar uma disputa de princípios éticos e morais.
Essa divergência entre não poder revelar informações sobre os pacientes determinado
pelo Código de Ética dos médicos, e a exigência do Governo Federal de que o médico
comunique o aborto, gera ainda mais tensão nesse debate entre manifestantes antiaborto e
defensores dos direitos das mulheres. Naturalmente, pela polarização política e o momento de
radicalização vivido no mundo, as pessoas já agem pautadas por crenças e sentimentos.

5.2 AS REDES SOCIAIS


É inegável o quanto a internet possibilitou um avanço em todos os sentidos na vida das
pessoas. Em especial, as redes sociais, que chegaram para causar uma grande mudança no modo
como interagimos e nos comunicamos em sociedade.
Segundo Barros, Carmo e Silva (2012), o uso das redes sociais não se restringe apenas
à busca de relacionamentos amorosos, constituindo-se também como um espaço para realizar
grandes mobilizações em prol das mais variadas causas.

[…] As redes sociais também são palco de grandes manifestações e mobilizações.


Casos de mudança nas decisões tomadas por governos, abaixo assinados entre outros,
ganham destaque nas redes e instigam a população, com o intuito de repercutirem na
mídia e o objetivo seja alcançado. (BARROS; CARMO; SILVA, 2012, p. 2).
25

Para Alcântara (2014), essas mobilizações via redes sociais e demais tecnologias de
comunicação são determinantes para a construção de ações coletivas que visam criar
movimentos de oposição a algo ou alguém.

[…] Os movimentos sociais vêm utilizando a internet e outras novas tecnologias da


informação e da comunicação (NTICs) para organizarem, mobilizarem e coordenarem
protestos e ações coletivas – o que designamos como ciberativismo. (ALCÂNTARA,
2014, p. 11).

O ciberativismo está cada dia mais presente nas redes, alcançando alta repercussão entre
os usuários, tornando esses protestos em um grande espetáculo público que se inicia na internet
e se estende para todos os âmbitos sociais.
Os ciberativistas agem de uma forma muito específica, beneficiados pelos algoritmos
das redes sociais para compartilhar as informações que desejam com pessoas que seguem a
mesma ideologia, construindo assim as famosas “bolhas”.

[…] O escopo estudado neste artigo é o efeito colateral gerado pelos algoritmos que
selecionam os conteúdos apresentados no feed de notícias. Ao selecionar os conteúdos
vinculados aos interesses de cada usuário e à experiência deste usuário, há a criação
do chamado efeito bolha que restringe o contato de cada usuário com conteúdo que
divirjam de seus interesses. O efeito bolha gera então o impacto negativo na formação
da opinião e no direito à informação, pois restringe o acesso ao contraditório.
(GUEDES, 2017, p. 69,70).

De acordo com Guedes (2017), muitas pessoas já buscam informações diretamente no


Facebook, justamente por saberem que irão encontrar um conteúdo personalizado de acordo
com os assuntos mais pesquisados por eles e que correspondem à sua visão de mundo. Esse
perfil, que é traçado pelos algoritmos, já direciona automaticamente conteúdos semelhantes
para os usuários.
É dessa maneira que grupos antiaborto conseguem realizar ações coordenadas em
grande escala. Utilizam as redes sociais para configurar todo um plano de ação, e depois
utilizam as mesmas para informar a um número expressivo de pessoas que compactuam com
esse posicionamento antiaborto, e possivelmente poderão participar de manifestações radicais
que têm o objetivo de coagir as vítimas de estupro a desistirem da ideia de continuar com o
procedimento.

5.3 RADICALIZAÇÃO POLÍTICA


O mundo em geral passa por um momento político de radicalização na defesa de
ideologias partidárias, e no Brasil não é diferente. As eleições de 2018, principalmente a
presidencial, expuseram de forma clara essa radicalização que já existia, mas não era tão
percebida pela mídia e nem comentada pelas pessoas.
26

[…] Ao longo destes últimos anos, o campo progressista assistiu perplexo,


atrapalhado e inativo à reorganização e ao fortalecimento político das direitas.
“Direitas”, “novas direitas”, “onda conservadora”, “fascismo”, “reacionarismo” …
Uma variedade de conceitos e sentidos para um fenômeno que é indiscutível
protagonista nos cenários nacional e internacional de hoje: a reorganização
neoconservadora que, em não poucas ocasiões, deriva em posturas autoritárias e
antidemocráticas. Depois de seguidas derrotas (vitória de Trump, Brexit, popularidade
de Bolsonaro), não é possível ficar numa postura desorientada e titubeante, sob o risco
de as forças democráticas serem engolidas por aquilo que deveríamos combater com
veemência. (GALLEGO, 2018, p. 12).

No contexto da radicalização política, em todos os lugares é possível ver pessoas


discutindo, muitas vezes de forma agressiva, sobre suas preferências políticas à esquerda ou à
direita. Segundo Carvalho (2019), essa polarização política no Brasil teve seu primeiro grande
pico de visibilidade a partir das manifestações de 2013, quando milhões de pessoas por todo
país foram às ruas mostrar sua indignação com mais um aumento na passagem de ônibus.
Neste período, também estavam ocorrendo as investigações da Lava-Lato, operação da
Polícia Federal e do Ministério Público Federal do Paraná que buscava identificar e desmantelar
esquemas de corrupção na Petrobrás muito bem estruturados e existentes há anos.
Isso fez com que os partidários de movimentos sindicais e defensores da esquerda, que
já vinham engajados em suas reivindicações, entrassem num primeiro momento em um embate
com defensores da direita, como por exemplo, integrantes do Movimento Brasil Livre (MBL).
E nesse contexto de polarização, não houve espaço para o diálogo coerente e sensato, com
argumentação lógica e pautada em fatos.

[...]Porém, dentro um espectro polarizado, raramente se permite a discussão; e nestes


casos é comum que ocorra a manifestação de atos de intolerância, ódio, desrespeito e
difamação do outro que por fim, acabam por consolidar em ataques violentos e
agressivos com intuito de difamar o rival. (CARVALHO, 2019, p. 1).

Em 2016, ocorreram muitas manifestações de ambos os grupos, tendo a presidenta


Dilma Rousseff como vetor. Grupos contrários à presidente foram para as ruas exigir seu
impeachment, enquanto seus apoiadores, também nas ruas, se manifestaram para apoiá-la.
Naquele momento, já não era possível distinguir manifestantes de direita dos
manifestantes anti-PT. Todos os escândalos envolvendo o Partido dos Trabalhadores, que
culminaram no impeachment de Dilma Rousseff e na prisão do ex-presidente Lula, fizeram com
que milhares de pessoas que não se definiam como defensores da direita, desenvolvessem
grande antipatia pelo PT.
Os manifestantes de direita e os manifestantes anti-PT acabaram se tornando um grupo
homogêneo devido ao interesse de impedir a eleição de pessoas ligadas ao Partido dos
Trabalhadores para os principais cargos políticos do Brasil. Esta polarização amplificou alguns
conceitos já existentes na sociedade, mas pouco estudados, como Fake News e pós verdade.
27

A definição do Dicionário Oxford sobre pós verdade é a seguinte: “Adjetivo relacionado


ou evidenciado por circunstâncias em que fatos objetivos têm menos poder de influência na
formação da opinião pública do que apelos por emoções ou crenças pessoais”.
De acordo com Genesini (2018), esses termos ganharam notoriedade em 2016, devido
a dois acontecimentos: a votação popular que determinou a saída do Reino Unido da União
Europeia e a eleição de Donald Trump à presidência dos EUA. Porém, para o autor, não se pode
atribuir apenas a esses termos o fato de ter ocorrido “dois desastres” políticos no mundo. Ele
classifica como um salto ilógico e ideológico no escuro por algumas razões:

[...] A primeira é por minimizar que existiam razões reais e concretas para que parte
expressiva das populações britânica e americana votasse como votou. A segunda é por
desconhecer que as escolhas no mundo pós-moderno – para usar mais um prefixo pós
na moda – dão-se muito mais baseadas em razões sensíveis e na emoção do que em
raciocínios lógicos e informações exatas. É uma constatação que embute uma pretensa
incoerência ao sustentar que, no mundo do Big Data, os caminhos seriam escolhidos
mais por intuição do que por informação. Não há como provar este teorema, mas esta
é a minha premissa e se olharmos, com os olhos bem abertos, veremos que é o que
realmente acontece, na maioria das vezes. (GENESINI, 2018, p. 48)

É possível identificar a ação da pós-verdade no discurso religioso que inflama os


manifestantes antiaborto, pois, mesmo não havendo na Bíblia nenhum texto que trate o aborto
como pecado, e nenhuma conclusão científica que ateste o posicionamento desses grupos, ainda
assim, líderes religiosos conseguem transformar uma opinião baseada em crenças e emoções
numa verdade absoluta e um mantra de vida para seus fiéis que são totalmente contra o
abortamento.
Da última década até agora em 2020, a evolução tecnológica no campo da comunicação
permitiu a distribuição de informações sem nenhuma comprovação de veracidade de modo
instantâneo e em massa, através das redes sociais. As redes se tornaram o palco principal desses
embates, com uma grande ascendência e estabilização de valores conservadores. É neste
contexto, que grupos antiaborto ganham força para executarem os protestos de forma veemente
contra mulheres que desejam abortar legalmente.
E são eles que dão grande apoio a parlamentares alinhados com grupos antiaborto e que
estão cada vez mais presentes no cenário político, compactuando com essa ideologia, tentando
criar leis que aumentem as penas para mulheres que abortarem mesmo em casos permitidos
pelo Art. 128 do Código Penal, como por exemplo, o estupro.

[…] O fundamentalismo religioso, por sua concepção de mundo e seu modelo de


funcionamento, constitui-se em um risco à democracia, aos direitos humanos, ao
Estado laico e à diversidade humana. No Brasil ocorre, ademais, a articulação entre
setores fundamentalistas cristãos, especialmente evangélicos, e o poder político,
institucional e midiático. Esse fenômeno está em franca ascensão e tem influenciado
28

cada vez mais as pautas dos poderes legislativos municipais e estaduais, assim como
do Congresso Nacional. (GALLEGO, 2018, p. 94).

Para Gallego (2018), é justamente a perseguição moral e também penal, que faz com
que muitas mulheres coloquem suas vidas em risco ao procurarem abortar de forma clandestina.

[…] A luta contra o aborto não deve consistir na perseguição das mulheres, que muitas
vezes arriscam a própria vida ao abortar. Tal esforço deve ser direcionado para a
eliminação das causas sociais que colocam a mãe em uma situação em que, para ela,
só resta abortar ou afogar-se. Enquanto essas circunstâncias gerais não forem extintas,
as mulheres continuarão abortando, não importa quão cruéis sejam os castigos
sofridos por elas. Não se pode considerar criminosa a destruição de um feto que ainda
não se tornou um ser vivo, que ainda constitui uma parte do organismo da mãe.
(GALLEGO, 2018, p. 108).

No fim das contas, essas atitudes extremistas acabam dificultando mais o atendimento
a vítimas de violência sexual que deveriam ser prioridade nesse debate.
29

6. ESPECIFICIDADES
6.1. PÚBLICO-ALVO E VEICULAÇÃO
O documentário terá como público-alvo principal as mulheres, pelo fato de serem elas
as principais vítimas da radicalização do discurso que procura criminalizar o aborto legal. No
entanto, acreditamos que o debate promovido pelo documentário será relevante para todas as
pessoas interessadas em compreender o quanto o fanatismo religioso, os atos de intolerância, e
a politização do pensamento religioso, prejudicam indivíduos e toda a sociedade.
Os possíveis meios de veiculação do nosso documentário são canais no YouTube, com
conteúdo voltado para a defesa dos direitos das mulheres, tais como: Revista AzMina e
Hysteria. Porém, não está descartada a possibilidade de criarmos um canal próprio na
plataforma para a veiculação do nosso projeto e nem a distribuição através do canal da
universidade na plataforma, o LABCOMUMC.
Há também a possibilidade de ser veiculado em parceria com o site Catarinas, um portal
que atua com a perspectiva de gênero, lutando por igualdade de condições para as mulheres e
na defesa dos direitos femininos em geral. Há possibilidades também no Facebook, através da
ONG Mogiana RECOMEÇAR, que dá suporte a mulheres vítimas de violência. Outra
possibilidade são os canais televisivos Rede TVT e o Canal Futura, que têm uma programação
especial voltada para conteúdos educativos.

6.2. FORMATO
Segundo Ramos (2008), documentário é uma produção que trabalha com fatos reais e
através das câmeras constrói uma narrativa que apresenta ao espectador um recorte do mundo
exterior, utilizando o áudio, a imagem e o texto de maneiras diversas de acordo com o objetivo
do diretor.
O nosso documentário será expositivo. Escolhemos esse gênero porque segundo Bill
Nichols (2008) esse tipo de documentário tem uma preocupação maior com a construção de
uma narrativa argumentativa e menos com a questão estética, permitindo, assim, focar no debate
em que os personagens que serão entrevistados estarão inseridos.

6.3. CONTEÚDO
Mulheres que engravidaram após serem estupradas relatam as dificuldades para realizar
o abortamento legal em hospitais da rede pública de saúde. Expõem a pressão que sofreram de
pessoas que lutaram para impedi-las de concretizar o procedimento, devido a dogmas cristãos
condenatórios em relação ao aborto, mas também, o receio de serem enquadradas em algum
dos artigos do Código Penal que criminaliza a interrupção voluntária da gravidez. Especialistas
30

debatem as circunstâncias que levam as pessoas a se posicionarem contra as vítimas e não


contra os agressores, trazendo à tona a discussão se o verdadeiro crime e pecado é realizar o
aborto e ajudar a vítima de estupro a superar uma ocorrência tão traumática para salvar uma
vida ou destruir uma vida ao violar sexualmente uma mulher?

6.4. CARACTERÍSTICAS TÉCNICAS


O documentário terá duração total de 30 minutos. A edição do documentário será feita
nos softwares Adobe Premiere, Adobe After Effects, Vegas Pro.

6.5. INVESTIMENTOS

Investimentos Preço R$

Transporte 200,00
600,00
Vídeo Maker
200,00
Alimentação
Total 1000,00

6.6. TRANSMIDIALIDADE
A plataforma escolhida foi o Instagram. Consideramos que a plataforma proporcione
não só o alcance imediato, como também, oferece a possibilidade de utilizar os principais
recursos gráficos para transmitirmos com clareza e objetividade a mensagem que queremos
passar ao público.
A página do Instagram será utilizada como o meio de divulgação do nosso projeto, onde
periodicamente publicaremos os processos executados na produção do nosso documentário e
também conteúdos relacionados com o tema. O objetivo é já atrair o interesse do público pelo
nosso produto e ir alimentando constantemente esse interesse através de nossas publicações,
dessa forma quando finalmente for lançado, o documentário terá uma ótima visibilidade.
31

7. PESQUISA DE MERCADO
7.1 PROBLEMAS
Uma importante etapa da pré-produção é entender se há um público interessado em
consumir o produto a ser desenvolvido. É necessário entender este consumidor e seus hábitos,
o que ele está acostumado a consumir sobre documentários e o que é do interesse dele ver em
um documentário com essa temática.

7.2 HIPÓTESES
Está havendo um crescimento exponencial em relação ao consumo de conteúdos
relacionados aos direitos sexuais e reprodutivos. A afirmação dos movimentos feministas no
século XXI contribuiu muito para esse interesse sobre os direitos em geral das mulheres e
especificamente sobre a autonomia em relação ao próprio corpo.
Uma das constatações do aumento no consumo desta temática está nos quase 20 mil,
seguidores da página do Instagram “Nem Presa Nem Morta por Aborto”, que defende e divulga
diversas campanhas em defesa do direito de a mulher realizar o abortamento de maneira legal.
Outra página com grande alcance entre o público feminino e de defensores dos direitos
da mulher, independentemente do gênero, é a página da Revista AzMina, com quase 88 mil
seguidores. AzMina se definem como um instituto que combate os diversos tipos de violência
que atingem as mulheres brasileiras e, naturalmente os conteúdos produzidos e publicados lá,
estão relacionadas com a temática do nosso projeto.
Esses dados evidenciam a existência de um público muito grande interessado neste
assunto, com tendência de crescimento, o que sugere a relevância na produção deste
documentário.

7.3 OBJETIVO
Com a pesquisa será possível definir com mais precisão o público-alvo para o
documentário, bem como identificar os aspectos que mais o interessam. Dessa forma,
poderemos pensar com maior exatidão como produzir um conteúdo que atenda adequadamente
o perfil do público que assistirá o nosso documentário.

7.4 JUSTIFICATIVA
A aplicação da pesquisa de mercado é essencial para obter informações suficientes para
traçar um perfil do consumidor final do produto. Com a conclusão da pesquisa teremos dados
estatísticos servirão como um guia para o futuro do projeto. Através dessa amostragem
poderemos fazer as alterações necessárias e, obter êxito na elaboração e execução da estratégia
que será criada com base nos resultados. Dessa maneira, conseguiremos impactar o nosso
público.
32

7.5 METODOLOGIA
Será aplicada uma pesquisa de campo com intuito de colher informações sobre possíveis
consumidores deste produto. Será produzido um questionário com questões fechadas,
dicotômicas e abertas, assim poderemos compreender a opinião e a receptividade do público
em relação ao produto. O formulário com as questões será desenvolvido na plataforma Google
Forms e irá ser veiculado nas redes sociais dos membros do grupo, como WhatsApp e
Facebook. Além disso, o questionário também foi disponibilizado no Instagram, plataforma
escolhida para o desenvolvimento da transmídia do projeto. O questionário estará disponível
para o público por um período de 14 dias e ao final faremos a tabulação dos dados que estarão
anexados em formas de gráficos na seção apêndices deste relatório.

7.6 CRONOGRAMA
Elaboração dos problemas de pesquisa 31 de outubro de 2020
Elaboração das hipóteses 31 de outubro de 2020
Definição dos objetivos 31 de outubro de 2020
Desenvolvimento da justificativa 01 de novembro de 2020
Produção da metodologia e cronograma 01 de novembro de 2020
Elaboração do questionário 02 de novembro de 2020
Validação do questionário (orientador) 02 de novembro de 2020
Aplicação do questionário 02 de novembro de 2020
Tabulação dos resultados 15 de novembro de 2020
Análise e interpretação dos resultados 15 de novembro de 2020
Entrega do projeto

7.7 QUESTIONÁRIO
1) Como você se considera?
( ) Feminino.
( ) Masculino.
( ) Outro:________________________.

2) Qual sua idade?


( ) 10 a 14 anos.
( ) 15 a 24 anos.
( ) 25 a 34 anos.
( ) 35 ou mais.
33

3) Em qual cidade você mora?


R:________________________________.

4) Você já ouviu falar em aborto legal?


( ) Sim, entendo bem sobre o assunto.
( ) Sim, já ouvi algumas vezes.
( ) Não, nem sabia que tinha aborto legal.

5) Se você respondeu sim, conte-nos o que sabe a respeito do aborto legal?


R:_________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________.

6) Qual é a sua religião?


( ) Não tenho religião.
( ) Católico.
( ) Evangélico.
( ) Espírita.
( ) Umbandista.
( ) Outro.

7) Qual a sua opinião sobre o direito da mulher, vítima de estupro, de realizar o aborto?
R:_________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________.

8) Você costuma assistir documentários?


( ) Sim.
( ) Não.

9) Qual tipo de documentário você mais gosta de assistir?


R:________________________________.

10) Qual meio você costuma utilizar para assistir documentários?


( ) Tv.
( ) Youtube.
( ) Plataformas de streaming.
( ) Outro:________________________.
34

11) Na sua opinião o direito ao aborto legal fere preceitos religiosos? Se sim, o aborto legal
previsto em lei (risco de morte para a mãe; gravidez resultante de estupro; anencefalia)
deveria ser revisto para se ajustar aos preceitos religiosos?
( ) Sim, fere, e a legislação precisa ser revista.
( ) Sim, fere, e acredito que a legislação não deva se ajustar a preceitos religiosos.
( ) Não fere, mas acredito que a legislação deva se ajustar a preceitos religiosos.
( ) Não fere, e acredito que a legislação não deva se ajustar a preceitos religiosos.

12) Você se interessaria em assistir um documentário sobre as dificuldades que muitas


mulheres vítimas de estupro, enfrentam para realizar o aborto legal? Justifique.
R:_________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________

13) Na sua opinião o Brasil vive atualmente um momento de radicalização de opiniões,


com grupos procurando impor pontos de vista sobre o conjunto da sociedade?
( ) Sim, mas sempre foi assim. Não percebo diferença entre a época atual e outras épocas.
( ) Sim, a radicalização política alcançou níveis muito elevados atualmente.
( ) Não, as pessoas apenas estão exercendo o direito à liberdade de expressão.
( ) Não, não percebo diferença entre a época atual e outras épocas.

7.8 ANÁLISE DOS RESULTADOS


Nossa pesquisa foi produzida no Google Forms e recebeu um total de 127 resposta
ficando no ar por um período de 13 dias, através dele obtivemos as seguintes informações:
O público feminino é predominante com 65,4% contra 34,6% de respondentes do sexo
masculino. Conforme o esperado, nosso público-alvo é formado principalmente por mulheres
e foi até surpreendente o alto número dos homens. Em relação à faixa etária 53,5% das pessoas
que responderam têm entre 15-24 anos, ou seja, são jovens que já nasceram fazendo parte de
uma geração contestadora, uma geração em que a luta pelos direitos das mulheres está em
evidência, algo benéfico para nosso trabalho. Outros 25,2% têm mais de 35 anos e 19,7% tem
entre 25-34 anos de idade. A maioria mora no Estado de São Paulo, com maior predominância
para a região do Alto Tietê.
35

Os que têm conhecimento sobre o aborto legal são a grande maioria: 85,8% dos
participantes responderam já ter ouvido falar, sendo que, desse total 26,8% tem alto nível de
conhecimento a respeito do tema e apenas 14,2% desconhecem o aborto legal. O público
demonstrou realmente estar por dentro do assunto ao expor na questão complementar a esta,
porém dissertativa, que de fato conhecem os três casos em que o aborto é permitido por lei no
Brasil, risco de vida da gestante, feto anencéfalo e vítimas de violência sexual. Este
conhecimento prévio nos possibilitará trabalhar mais a fundo o tema sabendo que será de fácil
compreensão do espectador. A grande maioria também se mostrou favorável ao aborto quando
a mulher é vítima de violência sexual. Quando perguntados a respeito do interesse em assistir
a um documentário com esta temática, a grande maioria disse sim e a justificativa foi de que é
um tema extremamente relevante e que se faz necessário ser debatido cada vez mais na
sociedade.
O resultado da pergunta sobre a religião dos participantes foi o esperado por nós, com
68,5% se declarando cristãos, sendo predominante o catolicismo com 38,6%, enquanto os
evangélicos representam 29,9% do público respondente. Já 20,5% declaram não ter religião,
5,5% não são de nenhuma das religiões citadas na pesquisa, 3,9% são espíritas e 1,6%
umbandistas.
Foi possível compreender que o nosso produto “documentário” tem um alto número de
consumidores, pois 66,9% declaram ter o costume de assistir a documentários. São diversos os
temas de interesse do público, incluindo ciência, tecnologia, saúde, fatos históricos, policiais,
defesa da mulher, etc. Já em relação à plataforma onde assistem a que prevaleceu foi o
YouTube, com 40,2%, logo em seguida plataformas de streaming, com 32,3%, e em terceiro
lugar ficou a TV com 18,1%. Esses dados mostram a força da internet quando o assunto é local
escolhido para assistir a documentários.
Para 53,5% dos participantes o aborto legal não fere preceitos religiosos e a legislação
não deve se ajustar a eles. Já 26,8 acredita que sim, fere preceitos religiosos, porém a legislação
não deve se ajustar a eles. Outros 11,8% dizem que não fere, mas consideram que a legislação
deva se ajustar a eles e apenas 7,9% declaram que o aborto legal fere os preceitos religiosos e
que a legislação deve se ajustar a eles. O que ficou claro é que a maioria não é a favor de que a
legislação se ajuste aos dogmas religiosos, ou seja, que mantenha a separação entre Igreja e
Estado.
Finalizando a pesquisa lançamos o questionamento sobre a radicalização política e
59,8% disseram que realmente estamos em uma época em que a radicalização alcançou níveis
elevados. Já na opinião de 23,6% dos participantes apesar de estar elevado a radicalização,
36

sempre foi assim, eles não veem diferença para outras épocas e apenas 12,6% consideram o
nível de radicalização política normal e acreditam que as pessoas só estejam exercendo seu
direito à liberdade de expressão.

8. CONSIDERAÇÕES PARCIAIS
Após alguns meses pesquisando a fundo sobre este tema e assim adquirindo maior
conhecimento, nós conseguimos identificar pontos de vista que inicialmente não projetávamos
nos deparar no decorrer da produção deste projeto, sendo que, dois deles têm maior destaque.
O primeiro é a compreensão de que não são apenas as mulheres que abortam, essa luta
é também de homens transexuais e pessoas não binárias e, somente através do contato direto
com o tema conseguimos abrir os olhos para isso que, mesmo não sendo o foco do projeto, é
relevante demais para não ser citado. O segundo fato que nos surpreendeu foi o número
considerável de cristãos que são favoráveis à realização do aborto dentro dos requisitos
estipulados no Código Penal. Ainda é predominante a quantidade de pessoas cristãs contrárias
a essa prática, revelando o poder que o discurso religioso exerce sobre as pessoas, porém é
perceptível um cenário de mudanças no modo de pensar dos cristãos em relação ao aborto.
Foi possível identificar o grande mercado que está se estabelecendo para conteúdos
voltados para a defesa da mulher. Encontramos principalmente no Youtube, no Instagram e no
Facebook conteúdos de alta qualidade e relevância, porém poucos documentários
especificamente com a temática que estamos trabalhando, ou seja, “religião e aborto”.
Percebemos com isso o quão importante é a realização do documentário e o espaço no mercado
que já existe e só está esperando ser preenchido por produções como a que estamos propondo.
Percebemos que este crescimento no interesse por esse tipo de conteúdo está
diretamente relacionado com o movimento feminista que nunca esteve tão consolidado como
agora. Em uma época em que a radicalização política está tendo também seu auge,
principalmente potencializada nas redes sociais, as manifestações em defesa dos direitos em
geral, mas, especificamente dos direitos das mulheres, deu essa alavancada em conteúdos que
contribuam para mostrar a dura realidade dos oprimidos.
Bem, essas são as considerações que nossa equipe tem a fazer até essa etapa do projeto,
passamos por mudanças na composição da equipe, primeiro estávamos em um trio, depois com
a saída de um integrante ficamos em dupla uma boa parte do trabalho, agora estamos novamente
em trio, mas mesmo assim, conseguimos definir bem uma linha de trabalho a seguir e sabemos
onde estamos e para onde vamos!
37

REFERÊNCIAS
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Acesso em: 4 out. 2020.
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APÊNDICE A - TRANSMÍDIA
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Link para acesso:


https://www.instagram.com/docnempecadoranemcriminosa/?igshid=15pw9gj4lr6gl
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APÊNDICE B - GRÁFICOS COM OS RESULTADOS DA PESQUISA


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