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FAF

O cerebelo, segunda maior estrutura encefálica (perdendo


apenas para o telencéfalo [cérebro]), ocupa as regiões inferior
e posterior da cavidade craniana.
Assim como o telencéfalo (cérebro), o cerebelo tem uma
superfície com vários giros que aumenta muito a área do
córtex (substância cinzenta), permitindo a presença de um
número maior de neurônios.
Ele é responsável por cerca de um décimo da massa
encefálica, embora contenha quase a metade dos neurônios
de todo o encéfalo.
O cerebelo se localiza posteriormente ao bulbo e à ponte e
inferiormente à parte posterior do telencéfalo (cérebro)

Um grande sulco conhecido como fissura transversa do


cérebro, junto com o tentório do cerebelo – que sustenta
a parte posterior do telencéfalo (cérebro) – separa o cerebelo
do telencéfalo (cérebro).
Nas vistas superior e inferior, o cerebelo tem um formato que
lembra o de uma borboleta. A área central menor é conhecida
como verme do cerebelo, e as “asas” ou lobos laterais, como
hemisférios do cerebelo. Cada hemisfério é composto por
lobos separados por profundas e distintas fissuras.
• Os lobos anterior e posterior controlam aspectos
subconscientes dos movimentos da musculatura
esquelética.
• O lobo floculonodular da parte inferior contribui com o
equilíbrio.

O cerebelo vai se comunicar com o resto do sistema nervoso


pelos pedúnculos; no total, ele possui três: pedúnculo
Internamente, o cerebelo é constituído pelo corpo medular
cerebelar superior, médio e inferior
(no centro, formado por substância branca) e revestido
• Superior: Transporta primariamente impulsos de saída do externamente pelo córtex cerebelar (substância cinza).
cerebelo
• Médio: Transporta exclusivamente impulsos que entram No interior do corpo medular existem quatro pares de
no cerebelo núcleos de substância cinzenta, que são os núcleos centrais
• Inferior: Transporta primariamente impulsos que entram do cerebelo: denteado, interpósito (subdividido em
no cerebelo emboliforme e globoso) e fastigial. Deles saem todas as fibras
eferentes do cerebelo.

No córtex cerebelar distinguem-se as seguintes camadas:

• molecular: a camada molecular é formada por


fibras de direção paralela e contém dois tipos de
neurônios, as células estreladas e as células em cesto.
• média (células de Purkinje): a camada média é Conexões eferentes: Projetam-se para o núcleos vestibulares
formada por uma fileira de células de Purkinje. medial e lateral. Pelo lateral vai para os vestibulosespinhais que
• granular: a camada granular é constituía, controla musculatura para manutenção do equilíbrio e marcha. As
medias vão controlar movimentos da cabeça e oculares.
principalmente, por numerosas células granulares
(células pequenas com pouco citoplasma) que • Espinocerebelo:
possuem muitos dentritos e um axônio que atravessa
Conexões aferentes: Penetrando pelos pedúnculos superior e
a camada média e se bifurca na camada molecular,
inferior e fazem conexões pelos tratos espinocerebelar anterior e
constituindo as fibras paralelas, que se dispõem no
posterior. O posterior vai receber sinais de propriocepção e pelo
eixo da folha cerebelar. Essas fibras paralelas vão anterior vai receber sinais motores que chegam à medula pelo trato
estabelecer sinapse com as células de Purkinje, assim corticoespinhal.
cada célula granular tem comunicação com um
grande número de células de Purkinje. Conexões eferentes: Fazem sinapse com o núcleo interpósito, que
vai para o núcleo rubro e tálamo. O rubro influencia neurônios
As células de Purkinje são neurônios multipolares motores e o tálamo, que vão para áreas motoras do córtex cerebral.
(piriformes e grandes), dotados de dendritos que se ramificam Os dois vão exercer influência sobre os neurônios motores da
na camada molecular, e de um axônio que sai em direção medula situados do mesmo lado, controlando músculos distais
oposta. Em conjunto formam o único sistema eferente responsáveis por movimentos delicados.
cerebelar, funcionando como moduladoras das informações • Cerebrocerebelo:
aferentes que chegam ao córtex cerebelar.
Conexões aferentes: Penetram pelo pedúnculo cerebelo médio,
pelas fibras pontinas, levando informações oriundas de áreas motoras
e não motoras do córtex cerebral.

Conexões eferentes: Fazem sinapse no núcleo denteado, levando


para o tálamo (do lado oposto) e depois para as áreas motoras do
córtex cerebral, onde se origina o trato corticoespinhal. Age sobre a
musculatura distal, responsável por movimento delicado.

As principais funções do cerebelo são: manutenção do


equilíbrio e postura, controle do tônus muscular, controle dos
movimentos voluntários, aprendizagem motora e funções
cognitivas específicas.

• Manutenção do equilíbrio e postura: o


Existem três grandes artérias que estão relacionadas com a vestibulocerebelo promove contração adequada dos
vascularização do cerebelo: duas artérias cerebrais, que se músculos axiais e proximais dos membros, de modo
a manter o equilíbrio e postura.
unem na base da ponte dando origem à artéria basilar.
• Controle do tônus muscular: mantido,
Dois pares de artérias surgem da artéria basilar: artéria principalmente, pelos núcleos denteado e interposto.
cerebelar superior e artéria cerebelar anterior e A perda do tônus é um dos sintomas de
inferior e o terceiro par, artéria cerebelar posterior descerebelização.
inferior; que surgem através das artérias cerebrais; no qual • Controle dos movimentos voluntários: o
vão irrigar locais diferentes do cerebelo. cerebelo controla o planejamento (pelo
cerebrocerebelo) de movimentos e faz correção do
movimento já em execução (pelo espinocerebelo).
• Aprendizagem motora: há evidencias de que
Funcionalmente, baseado nas conexões do córtex com os
núcleos centrais, podemos dividir o cerebelo em três partes, fibras olivocerebelares, que chegam ao córtex como
fibras trepadeiras e fazem sinapse diretamente com
para melhor estudá-las: vestibulocerebelo,
os células de Purkinje, possam modular sua
espinocerebelo, cerebrocerebelo.
excitabilidade nesta conexão, e, assim, modificar as
• Vestibulocerebelo: respostas por tempo prolongado aos estímulos,
criando um padrão de atividade apropriado.
Conexões aferentes: Chegam pelo fascículo vestibulocerebelar,
tendo origem nos núcleos vestibulares e se distribuem ao lobo
floculonodular. Trazem informações da parte vestibular do ouvido
interno sobre a posição da cabeça. Importante para equilíbrio e O cerebelo é sujeito a diversas doenças neurológicas. Uma das
postura. grandes consequências da lesão do cerebelo é a ataxia,
termo que vem da palavra grega taxis e que significa
ordenação, ou seja, ataxia seria a falta de ordenação. Os reflexos profundos estão abolidos em até 80% dos
(Bertolucci et al., 2011) pacientes e o reflexo plantar em extensão está presente em
até 90% dos casos. (Bertolucci et al., 2011)
Trata-se, portanto, de um sinal neuológico cuja principal
característica seria a disfunção na coordenação motora, A sensibilidade profunda cinético-postural e vibratória está
afetando a marcha, a fala, os movimentos oculares e o alterada em quase todosos pacientes, que também
equilíbrio. (Bertolucci et al., 2011) apresentam distúrbios na motricidade ocular, como sacadas
hipermétricas e nistagmo. (Bertolucci et al., 2011)
O termo ataxia também pode ser usado no caso de lesões
dos tratos espinocerebelares, do cordão posterior da medula Apesar de a diminuição da acuidade visual estar presente em
e dos nervos periféricos. As duas últimas ocasionam um apenas 10 a 20% dos casos, pode-se encontrar, na maioria
quadro de ataxia sensitiva por perda da sensibilidade profunda deles, palidez na papila. (Bertolucci et al., 2011)
e existe, ainda, a ataxia por lesão do lobo frontal. (Bertolucci et
Os pacientes também apresentam manifestações não
al., 2011)
neurológicas, como deformidade esquelética (escoliose e pé
A abordagem clínica da ataxia envolve a diferenciação clínica cavo) em até 50% dos casos, hipoacusia neurossensorial em
de ataxia e outras causas de alteração do equilíbrio e da 10 a 20% dos casos, miocardiopatia hipertrófica detectada pelo
coordenação, além da distinção entre as formas de ataxia ecocardiograma em cerca de 60% dos pacientes, diabete
sensitiva e cerebelar. (Bertolucci et al., 2011) melito ou intolerância à glicose em 10 a 30% dos casos.
(Bertolucci et al., 2011)
O curso da doença depende do número de repetições GAA
A etiologia das ataxias é extremamente complexa. Para facilitar no alelo mais curto. Após cerca de 11 anos, a maioria dos
a investigação da doença, classificam-se os quadros de ataxias pacientes necessita de cadeira de rodas. (Bertolucci et al., 2011)
em dois tipos: hereditária e adquirida. (Bertolucci et al., 2011)

A ataxia-telangiectasia (AT) tem como causa uma mutação


As formas hereditárias representam um grupo heterogêneo no gene ATM, localizado no cromossomo 11q22-23,
e extenso de doenças. Pode-se subdividir esse grupo em responsável pelo controle do ciclo celular e pelo reparo do
formas autossômico-recessivas, autossômico-domi- DNA. (Bertolucci et al., 2011)
nantes e ligadas ao X (Bertolucci et al., 2011)
Apresenta início dos sintomas cerebelares em torno dos 2 a
• 5 anos de idade, com rápida progressão. (Bertolucci et al., 2011)
A maioria das ataxias recessivas tem início antes dos 20 anos Os pacientes também podem apresentar coreoatetose e
de idade (ataxia de início precoce). Além disso, apresentam distonia. Os reflexos profundos estão diminuídos ou ausentes.
manifestações clínicas mais heterogêneas, mas, em quase (Bertolucci et al., 2011)
todos os subtipos, a neuropatia periférica é uma constante.
Uma característica peculiar e frequente dos pacientes é a
(Bertolucci et al., 2011)
presença de apraxia oculomotora. (Bertolucci et al., 2011)
Nas fases avançadas, pode-se encontrar, também, quadro de
A ataxia de Friedreich (FRDA) é considerada a forma mais neuropatia periférica com acometimento da sensibilidade
comum de ataxia recessiva no mundo. (Bertolucci et al., 2011) profunda. (Bertolucci et al., 2011)

Trata-se de uma doença causada por níveis reduzidos da As telangiectasias geralmente aparecem após o início da ataxia
proteína frataxina, resultante de uma expansão anormal do e afetam predominantemente a região do ângulo da
trinucleotídio GAA, localizado no cromossomo 9q13. (Bertolucci conjuntiva, a região malar e o pavilhão auricular. (Bertolucci et
et al., 2011) al., 2011)

Estudos têm demonstrado o papel dessa proteína no Aproximadamente 60% dos pacientes têm imunodeficiência,
mecanismo antioxidativo mitocondrial ligado ao ferro. A idade com infecções respiratórias de repetição. Há, também,
do início dos sintomas é tipicamente entre os 5 e 25 anos de aumento importante do risco de neoplasias, como leucemias
idade. (Bertolucci et al., 2011) e linfomas. (Bertolucci et al., 2011)

A característica mais importante da doença é a ataxia


progressiva com acometimento inicial de marcha e de postura
A ataxia do tipo 1 (AOA 1) tem início por volta dos 7 anos
e eventual progressão para a região apendicular. (Bertolucci
et al., 2011) de idade, mas pode ter apresentação mais tardia. (Bertolucci
et al., 2011)
Geralmente, os pacientes apresentam marcha atáxica, ataxia
apendicular, neuropatia periférica, envol-vimento do cordão
posterior da medula (ataxia sensitiva), arreflexia, alteração da A doença de Refsum é clinicamente caracterizada por ataxia
motri-cidade ocular (incluindo nistagmo), instabilidade na fixação cerebelar, polineuropatia periférica com padrão
do olhar e grau variável de apraxia do olhar. (Bertolucci et al., desmielinizante, surdez neurossensorial, anosmia,
2011) deformidades esqueléticas, retinite pigmentosa, ictiose,
insuficiência renal, cardiomiopatia e arritmias cardíacas.
Alguns pacientes também podem apresentar coreia e retardo (Bertolucci et al., 2011)
mental. Com a progressão da doença, a neuropatia periférica
se torna mais incapacitante, sendo sintoma principal. (Bertolucci O início dos sintomas é geralmente antes dos 20 anos de
et al., 2011) idade, mas pode ser mais tardio. (Bertolucci et al., 2011)

A doença é causada pela mutação do gene apraxina no A doença é decorrente do acúmulo de ácido fitânico
cromossomo 9p13. (Bertolucci et al., 2011) decorrente de uma mutação no gene para enzima
peroxissomal fitanoil-CoA hidroxilase ou das proteínas
A ataxia com apraxia oculomotora tipo 2 (AOA 2) associadas à membrana peroxissômica(Bertolucci et al., 2011)
apresenta quadro clínico semelhante ao da AOA 1, mas o início
dos sintomas geralmente ocorre na adolescência. (Bertolucci
et a.l, 2011)
A xantomatose cerebrotendínea é uma doença causada por
Além disso, a apraxia oculomotora, os sinais extrapiramidais e acúmulo de colestanol e colesterol em diversos tecidos
os déficits cognitivos podem ser menos comuns (Bertolucci decorrente de uma mutação no gene responsável pela
et al., 2011). produção da enzima mitocondrial 27-hidroxilase. (Bertolucci et
al., 2011)
Provavelmente, a AOA 2 é a segunda ataxia recessiva mais
comum na Europa. (Bertolucci et al., 2011) O quadro clínico da doença é multissistêmico e caracterizado
por diarreia crônica, formação de xantomas tendíneos, prin-
É causada pela mutação do gene senataxina, localizado no
cipalmente no tendão calcâneo, catarata bilateral e síndrome
cromossomo 9q34. (Bertolucci et al., 2011)
neurológica que se inicia por volta dos 20 anos de idade e
inclui ataxia, sinais piramidais e extrapiramidais, déficit cognitivo,
epilepsia, neuropatia periférica e distúrbios psiquiátricos.
A ataxia com deficiência isolada de vitamina E (AVED) é uma (Bertolucci et al., 2011)
ataxia recessiva rara, porém comum em países do norte da
África, com fenótipo semelhante ao da ataxia de Friedreich
(FRDA). (Bertolucci et al., 2011)
A doença de Tay-Sachs é uma GM2-gangliosidose causada
É causada por uma mutação no gene da proteína de por uma deficiência da enzima beta-hexosaminidase A, gene
transferência do alfatocoferol, localizada no cromossomo 8q13. Hexa no cromossomo. (Bertolucci et al., 2011)
(Bertolucci et al, 2011)
Tipicamente, inicia-se na infância, com atraso no
A idade de início é geralmente antes dos 20 anos. (Bertolucci desenvolvimento, hipotonia, retardo mental, crises convulsivas
et al., 2011) e cegueira com máculas em vermelho-cereja na fundoscopia,
resultando em morte em cerca de 3 anos. (Bertolucci et al.,
A presença de retinite pigmentosa é frequente e pode ser
2011)
um achado precoce. (Bertolucci et al, 2011)
Por outro lado, a forma tardia é caracterizada por disfunção
A cardiomiopatia é a manifestação sistêmica mais comum, cerebelar, arreflexia, fraqueza muscular proximal, atrofia
apesar de ser menos frequente que na FRDA. Alguns
muscular e fasciculações, além de distúrbios psiquiátricos e de
pacientes também apresentam retardo no crescimento,
comportamento (Bertolucci et al.., 2011)
disfunção sexual com diminuição da libido e diabete. (Bertolucci
et al., 2011)

Trata-se de uma doença rara caracterizada por ataxia, catarata


precoce, retardo mental, miopatia, baixa estatura,
Trata-se de uma doença com quadro clínico de diarreia já deformidades esqueléticas e hipogonadismo hipogo-
após o nascimento e distúrbio na absorção de lipídios. Em nadotrófico. É causada por uma mutação no gene SIL1,
seguida, evolui para uma síndrome neurológica de curso lento responsável pela produção da chaperona Hsp70. (Bertolucci
e progressivo, caracterizada por ataxia, fraqueza muscular,
et al.., 2011)
hiporreflexia, neu-ropatia periférica e retinite
pigmentosa(Bertolucci et al., 2011)
• Ataxia espinocerebelar tipo 3 – doença de
Machado-Joseph Reconhecida como o subtipo
Caracteristicamente, a ataxia espinocerebelar de início na mais comum no Brasil e no mundo, a ataxia
infância (IOSCA) tem início antes dos 2 anos de idade, com espinocerebelar tipo 3 (SCA 3), ou doença de
curso progressivo de ataxia, hipotonia, neuropatia sensitiva, Machado-Joseph, apresenta quadro clínico bastante
arreflexia, atrofia óptica, oftalmoplegia, perda auditiva, heterogêneo. Além do quadro cerebelar bastante
hipogonadismo (no sexo feminino), distúrbios do movimento e evidente, os pacientes apresentam sinais clínicos
epilepsia. O gene implicado na doença é localizado no de degeneração troncocerebral, como
cromossomo 10q24, que produz uma proteína mitocondrial de oftalmoparesia, ptose palpebral, atrofia de face,
função ainda em investigação. (Bertolucci et al., 2011) disfagia, lentificação das sacadas oculares e retração

palpebral (sinal de Collier). Pelo menos 40% dos
pacientes apresentam síndrome das pernas inquietas.
As ataxias autossômico-dominantes podem ser divididas em Sintomas extrapiramidais de parkinsonismo e distonia
ataxias espinocerebelares (SCA) e ataxias episódicas são evidentes em alguns subgrupos de pacientes,
(EA). (Bertolucci et al., 2011) especialmente naqueles com manifestação clínica
mais precoce. Por outro lado, pacientes com início do
quadro mais tardio apresentam neuropatia periférica,
arreflexia e amiotrofia como sintoma extracerebelar
Define-se SCA como um grupo de doenças autossômico- mais dominante.
dominantes cujo substrato principal é uma degeneração do Pode-se, então, dividir a doença em até 4 subtipos
cerebelo e suas conexões. (Bertolucci et al., 2011) principais, de acordo com a manifestação clínica e o
Geralmente, são doenças que têm o início entre a 3a e a 5a número de repetições CAG
década da vida, apesar da grande variabilidade de
apresentação. (Bertolucci et al., 2011)
Em sua última contagem, pelo menos 31 tipos genéticos de
SCA foram descritos. (Bertolucci et al., 2011)
As SCA podem ser divididas em três subtipos genéticos.
(Bertolucci et al., 2011)

• Ataxia espinocerebelar tipo 1 O início dos


sintomas da ataxia espinocerebelar tipo 1 (SCA 1)
geralmente acontece na 4a década da vida. O • Ataxia espinocerebelar tipo 6 A ataxia
paciente evolui com um quadro pancerebelar
espinocerebelar tipo 6 (SCA 6) tem início mais tardio
associado a sinais piramidais de liberação, como hiper-
(> 50 anos de idade)
reflexia, espasticidade e sinal de Babinski, em mais de
e com padrão clínico cerebelar puro, apesar de
50% dos pacientes.
existirem sinais discretos de neuropatia periférica e,
Diminuição da sensibilidade vibratória é um achado
eventualmente, sinas de liberação piramidal nas fases
extremamente frequente e presente em até 80%
mais tardias. A maioria dos pacientes tem expectativa
dos casos. A queixa de disfagia também é frequente
de vida comparável à da população saudável.
e um importante problema nos estágios avançados.
A presença de sintomas extrapiramidais, com
• Ataxia espinocerebelar tipo 10 Ao contrário dos
parkinsonismo e distonia, é um achado ocasional.
outros tipos descritos, a ataxia espinocerebelar tipo
Alterações cognitivas são evidenciadas em menos de
10 (SCA 10) é originada de uma repetição de um
10% dos casos
pentanucleotídio (ATTCT). A idade de início é
tipicamente entre os 14 e 45 anos, com padrão
• Ataxia espinocerebelar tipo 2 O quadro clínico
lentamente progressivo. Todas as famílias conhecidas
de ataxia espinocerebelar tipo 2 (SCA 2) é
são do México ou do Brasil. Nas famílias mexicanas, a
caracterizado por ataxia associada a hiporreflexia ou
SCA 10 é frequentemente associada à epilepsia,
arreflexia e lentificação dos movimentos oculares de
enquanto, no Brasil, essa associação não tem sido
sacadas, característica na doença. A sensibilidade
observada.
superficial é aparentemente normal, enquanto a
sensibilidade vibratória pode estar alterada.
As ataxias episódicas (EA) são um grupo raro de condições As ataxias adquiridas resultam de eventos que, ao longo da
neurológicas caracterizadas por ataques de desequilíbrio e falta vida, destroem uma via cerebelar. (Bertolucci et al., 2011)
de coordenação, frequentemente acompanhados de ataxia
Ao contrário das ataxias hereditárias, nem sempre são
progressiva e outros sintomas neurológicos entre os ataques.
reguladas por herança genética específica, embora algumas
(Bertolucci et al., 2011)
apresentem padrões genéticos predeterminados que podem
Os genes responsáveis pelo quadro clínico estão relacionados ser “ativados”. (Bertolucci et al., 2011)
aos canais de potássio e cálcio voltagem-dependentes
Muitos pacientes apresentam doença cerebelar como
distribuídos amplamente no cérebro, particularmente
resultado de exposições ambientais a agentes neurotóxicos,
abundantes no cerebelo. (Bertolucci et al., 2011)
entre outras enfermidades já reconhecidas do sistema
Esses genes foram relacionados a um grande espectro de nervoso central (SNC). Nos pacientes que apresentam ataxia
manifestações clínicas, incluindo epilepsia, distonia, migrânea cerebelar na forma adquirida, várias doenças, incluindo
hemiplégica, miastenia e coma intermitente. (Bertolucci et al., acidentes vasculares cerebrais (AVC) isquêmicos ou
2011) hemorrágicos, episódios prévios de hipóxia cerebral, tumores
primários ou metastáticos e doenças desmielinizantes, como
Ainda não se sabe como essas mutações causam uma ampla
esclerose múltipla, podem ser diagnosticadas por meio de
variedade de sintomas neurológicos e neurodegeneração.
anamnese adequada e exames de imagem. (Bertolucci et al.,
(Bertolucci et al., 2011)
2011)
Pelo menos 6 subtipos de EA já foram descritos, mas
Em contraste à evolução crônica das ataxias degenerativas,
somente os tipos 1 e 2 apresentam relatos de famílias
muitas apresentam curso agudo ou subagudo. Existem,
acometidas. (Bertolucci et al., 2011)
entretanto, doenças que se manifestam como ataxias que
O lócus para a EA 1 se encontra no cromossomo 12 q, próximo apresentam, como única alteração a imagem de um cerebelo
a um grupo de três genes responsáveis por canais de atrófico, semelhante às ataxias crônicas. (Bertolucci et al.., 2011)
potássio.27 A EA 2 é o tipo mais comum de ataxias episódicas.

(Bertolucci et al., 2011)
O gene responsável é o CACNA1A, localizado no cromossomo
19p, mesmo lócus responsável por migrânea hemiplégica
A ataxia cerebelar aguda é uma doença inflamatória do SNC
familiar e SCA 6, podendo haver sobreposição clínica das três
caracterizada pelo início rápido de ataxia em criança com
doenças. Trata-se de um gene associado aos canais de cálcio.
menos de 6 anos de idade. (Bertolucci et al.., 2011)
(Bertolucci et al., 2011)
História clínica detalhada, objetivando identificar quadros

respiratórios, gastrointestinais e exantematosos prévios, assim
como histórico vacinal devem ser meticulosamente avaliados.
(Bertolucci et al.., 2011)
Na maioria dos casos, um quadro prodrômico pode ser
Trata-se de uma doença causada por uma expansão CGC (> documentado, mas não é essencial para o diagnóstico.
200; normal 6-44) no gene FMR1, localizado no cromossomo (Bertolucci et al.., 2011)
X. A pré-mutação do gene FMR1 (55-200 expansões CGC) é
muito comum na população geral, enquanto a mutação é A evidência para um mecanismo autoimune vem de estudos
considerada a causa mais comum de retardo mental. que demonstram destruição axonal ou de uma vasculite focal
(Bertolucci et al., 2011) cerebelar. Além disso, a ataxia cerebelar aguda pode estar
relacionada a outros processos autoimunes do SNC, como
A síndrome de ataxia-tremor ligada a pré-mutação do X frágil encefalomielite disseminada aguda. A presença de nucleotídio
(FXTAS) é uma doença 61 neurodegenerativa que representa viral no líquido cefalorraquidiano (LCR) de pacientes com
a forma clínica mais grave ligada à pré-mutação do gene ataxia cerebelar aguda poderia indicar um processo invasivo
FMR1.27. (Bertolucci et al., 2011) como uma forma leve de encefalite. (Bertolucci et al.., 2011)
Os principais sintomas são tremor intencional e/ou ataxia, Contudo, as evidências adicionais apontam os sintomas como
neuropatia periférica, disfunção autonômica, déficit cognitivo sendo mediados por uma resposta imune ao vírus, e não
na área executiva, parkinsonismo leve e sintomas psiquiátricos invasão direta. Primeiramente, algumas vacinas foram capazes
que incluem depressão, apatia, ansiedade e desinibição. de induzir ataxia aguda sem evidência de doença sistêmica.
(Bertolucci et al., 2011) Ademais, terapias imunossupressoras, como corticosteroides
e imunoglobulina endovenosa (EV), demonstraram eficácia
contra as manifestações neurológicas dessas doenças.
Infecções que resultam primariamente em disfunção cerebelar a evolução da maioria das cerebelopatias associadas ao HIV é
são raras, tendo como causas mais comuns infecções virais subaguda. Além disso, a demência pelo HIV, encontrada em
causadas por echovírus, coxsackie A e B, Epstein-Barr, mais de 30% dos pacientes com doença avançada, pode estar
varicela-zóster e herpes simples. (Bertolucci et al.., 2011) associada à doença cerebelar. (Bertolucci et al.., 2011)
A infecção pelo vírus varicela-zóster é a causa mais frequente •
de cerebelite aguda, ocorrendo em aproximadamente 1 a
cada 4.000 casos de varicela. Infecções bacterianas também
têm sido associadas à cerebelite, incluindo infecções por
Mycoplasma pneumoniae, Borrelia burgdorferi, Legionella A sensibilidade ao glúten, evidenciada por altos títulos de
pneumophila e Coxiella burnetti. Somado a isso, a cerebelite anticorpos antigliadina, é uma causa comum de diversas
pode ocorrer após imunizações para hepatite, varíola e síndromes neurológicas de causas previamente desco-
nhecidas, notadamente das ataxias cerebelares. Complicações
caxumba ou mesmo sem fator etiológico. (Bertolucci et al..,
2011) neurológicas ocorrem em cerca de 6 a 10% dos pacientes
com doença celíaca. (Bertolucci et al.. , 2011)
O quadro clínico de cerebelite aguda é variável, mas,
geralmente, os pacientes apresentam movimentos oculares Essas manifestações podem surgir com ou sem o
espontâneos anormais, tremor, ataxia de tronco e membros, envolvimento primário do trato gastrointestinal. Vários estudos
demonstraram que ataxia cerebelar pode ser manifestação
disartria, cefaleia, náuseas, vômitos e alteração do nível de
inicial de doença celíaca. (Bertolucci et al.., 2011)
consciência. Menos frequentemente, podem ocorrer sinais
meníngeos e crises convulsivas. Casos mais severos, De modo geral, anticorpos antigliadina são mais prevalentes
associados à hipertensão intracraniana, podem simular um em pacientes com ataxia que na população geral (68% versus
tumor de fossa posterior ou mesmo se apresentarem como 5%). Mesmo com essas evidências, alguns autores relutam em
hidrocefalia aguda. Cerca de 90% dos indivíduos afetados têm aceitar a existência dessa entidade clínica. A ataxia relacionada
recuperação completa do quadro, apresentando pior ao glúten é de progressão lenta, sendo a degeneração
prognóstico os pacientes com idade avançada e infecção pelo cerebelar agressiva uma exceção. Neuropatia periférica e
EBV. (Bertolucci et al.., 2011) reflexos vivos também fazem parte do quadro. (Bertolucci et
Envolvimento cerebelar em adultos previamente saudáveis foi al.., 2011)
observado em pacientes com infecção por Legionella Um dado importante consiste no fato de que a doença celíaca
pneumophila. Os sintomas neurológicos tiveram início cerca de está associada tanto às ataxias esporádicas quanto às
5 dias após o quadro pulmonar e foram observados em até hereditárias. (Bertolucci et al.., 2011)
3,7% dos casos. O mecanismo de lesão proposto, embora
ainda especulativo, também parece ser a agressão Achados neuropatológicos em pacientes com ataxia
imunomediada do SNC. Embora outros sintomas neurológicos relacionada ao glúten mostram infiltrado perivascular de células
comumente desapareçam com a resolução da infecção, os inflamatórias, afetando sobretudo o cerebelo, primariamente
sintomas cerebelares tendem a persistir (Bertolucci et al.., 2011). as células de Purkinje. Anticorpos antigliadina já foram
detectados no LCR de pacientes com sensibilidade ao glúten
A doença de Creutzfeldt-Jakob (CJD) deve ser considerada e manifestações neurológicas; entretanto, esses anticorpos
em pacientes com ataxia progressiva. A variante atáxica dessa estão presentes em todos os pacientes com doença celíaca,
doença tem sido observada em pacientes com manifestações mas apenas uma pequena proporção desenvolve doença
comportamentais sutis que evoluem com ataxia. Sinais de neurológica. A suspensão do glúten da dieta (gluten-free diet)
liberação piramidal são comuns nesses pacientes, que também parece não ter efeito sobre a progressão dos sintomas
apresentam mioclonia (25%) e evoluem, mais tardiamente, neurológicos. (Bertolucci et al.., 2011)
com demência. Alterações típicas da RNM, do LCR e do
eletroencefalogra-ma (EEG) podem auxiliar no diagnóstico. A
sobrevida desses pacientes é ligeiramente superior à da forma
clássica de CJD, com média de 16 meses. (Bertolucci et al.., 2011) A ataxia cerebelar adquirida tem sido descrita em associação
ao hipotireoidismo e é tipicamente reversível após reposição
O cerebelo não está imune ao HIV. O acometimento cerebelar com hormônios tireoidianos. (Bertolucci et al.., 2011)
é resultante de lesões discretas nos hemisférios cerebelares
por infecções oportunistas, como toxoplasmose, tuberculose, A disfunção cerebelar é atribuída aos efeitos metabólicos e
citomegalovírus (CMV), leucoencefalopatia multifocal fisiológicos da endocrinopatia, como redução do débito
progressiva ou tumor, como linfoma primário do SNC, além cardíaco e do fluxo sanguíneo cerebral, além do consumo
da própria ação direta do vírus, que pode causar ataxia reduzido de oxigênio e glicose pelos neurônios cerebelares.
progressiva e subaguda sem evidência de infecção Em alguns pacientes, no entanto, a ataxia persiste ou mesmo
oportunista. O sintoma mais frequente é ataxia de marcha, e progride após a reposição hormonal, sugerindo que outros
mecanismos possam estar envolvidos na fisiopatologia da mantiveram abstêmios. A patogênese permanece
doença. (Bertolucci et al.., 2011) desconhecida, porém, enquanto a neurotoxicidade do álcool e
outros fatores (desnutrição) certamente participarem como
Dois mecanismos estariam implicados na ataxia relacionada à
fatores causais, a deficiência de tiamina parece ser uma das
tireoidopatia: disfunção hormonal (ataxia reverte com
principais responsáveis pela degeneração cerebelar alcoólica.
levotiroxina) e autoimunidade (tireoidite autoimune de
A associação dessa enfermidade com a encefalopatia de
Hashimoto). Neste último, a degeneração cerebelar induzida
Wernicke não é rara. (Bertolucci et al., 2011)
por autoanticorpos seria a causa mais provável. Atrofia
acentuada da porção anterossuperior do verme cerebelar,
com perda das células de Purkinje e gliose da porção ventral
da ponte, foi descrita em pacientes com tireoidite de O mercúrio orgânico é particularmente tóxico para as células
Hashimoto e ataxia cerebelar. (Bertolucci et al.., 2011) da camada granulosa cerebelar, além do córtex visual.
(Bertolucci et al., 2011)
É responsável por uma síndrome que inclui parestesias, ataxia
Síndromes cerebelares agudas podem ser atribuídas a e alteração do campo visual. (Bertolucci et al., 2011)
manifestações paraneoplásicas, com o quadro atáxico
Ataxia de marcha associada a outros sinais, como confusão e
precedendo o surgimento do tumor por vários meses ou
mioclonia, já foi descrita em pacientes com intoxicação por
anos. (Bertolucci et al.., 2011)
bismuto pela ingestão excessiva de subsalicilato de bismuto
São caracterizadas por uma síndrome pancerebelar (comum em preparações antiácidas). (Bertolucci et al., 2011)
rapidamente progressiva que produz ata-xia severa, além de
O uso crônico e abusivo de solventes industriais, notadamente
disartria e oscilopsia. (Bertolucci et al.., 2011)
hidrocarbonetos aromáticos (tolueno), pode causar déficits
As neoplasias mais frequentemente associadas às síndromes neurológicos persistentes, incluindo ataxia. O uso, muitas vezes
paraneoplásicas cerebelares são as de ovário, mama, recreativo, está associado a um quadro de ataxia e disartria
pequenas células do pulmão e linfoma de Hodgkin (Bertolucci que frequentemente é acompanhado de déficits cognitivos e
et al.., 2011) sinais piramidais (Bertolucci et al., 2011)

O cerebelo é alvo de uma série de substâncias tóxicas. A O uso crônico da fenitoína e a intoxicação aguda por essa
camada granular do córtex cerebelar e as células de Purkinje droga produzem lesão cerebelar permanente, com atrofia de
são os alvos mais facilmente reconhecidos. Vários des-ses verme e hemisférios cerebelares, podendo ser evidenciada
compostos tóxicos agem por meio de excitotoxicidade ou pela por meio de exames de neuroimagem. (Bertolucci et al., 2011)
produção de radicais livres. (Bertolucci et al.., 2011)
Contudo, existem poucos estudos com casuística suficiente
para definir a etiologia da atrofia cerebelar. (Bertolucci et al.,
2011)
Degeneração cerebelar alcoólica é comumente observada em
consumidores com 10 anos ou mais de ingestão abusiva da O estabelecimento de uma correlação inequívoca entre o uso
bebida. (Bertolucci et al., 2011) da fenitoína e a atrofia cerebelar é difícil, pois, na maioria dos
casos, além do uso da medicação anticonvulsivante, os
O seu desenvolvimento não é um fenômeno estritamente pacientes apresentam crises tônico-clônicas generalizadas e
dose-dependente, e fatores adicionais contribuem para sua hipóxia decorrente dessas crises. (Bertolucci et al., 2011)
evolução. (Bertolucci et al.., 2011)
Alterações cerebelares caracterizadas por lesões das células
A ataxia cerebelar alcoólica evolui gradualmente ao longo de de Purkinje foram demonstradas experimentalmente em
semanas a meses, mas pode também ocorrer de forma animais com níveis séricos de fenitoína elevados. A relação
abrupta ou progredir por anos. (Bertolucci et al.., 2011) entre o uso de fenitoína e atrofia cerebelar foi estabelecida
Clinicamente, é caracterizada por comprometimento da após a observação desse achado em pacientes tratados
marcha e do equilíbrio (degeneração predominantemente da profilaticamente com fenitoína e que nunca haviam
porção anterior do verme cerebelar), mas uma síndrome apresentado crises epilépticas. (Bertolucci et al., 2011)
pancerebelar pode se desenvolver. (Bertolucci et al., 2011) De qualquer forma, recomenda-se evitar o uso da fenitoína
A prevalência em alcoolistas crônicos, baseada em achados em pacientes com epilepsia associada à ataxia ou à atrofia
clínicos, radiológicos e de autópsia, é de 25 a 30%. Reversão cerebelar. (Bertolucci et al., 2011)
parcial dessa atrofia parece possível e, de fato, é
significativamente mais rápida e melhor em pacientes que se
Ataxia: A ataxia é caracterizada por um movimento conferindo uma característica “quebrada” e não uniforme ao
descoordenado e desajeitado dos membros e do tronco. Pode movimento;
ocorrer em diferentes partes do corpo e em diferentes
Tremor: elevada amplitude e baixa frequência, acentuando-
direções, e é causada por uma incapacidade de coordenar
se ao final de um movimento, desencadeado também à
corretamente a atividade muscular. A ataxia pode afetar a
manutenção de posturas em relação a um alvo.
marcha, a postura, a fala e os movimentos finos das mãos,
como escrever e pegar objetos.

Disdiadococinesia: A disdiadococinesia é caracterizada por O uso indiscriminado de medicamentos constitui a principal


uma incapacidade de realizar movimentos alternados rápidos. causa de intoxicações no Brasil, mostrando que este hábito
Isso pode ser visto na tentativa de bater as mãos rapidamente atinge proporções preocupantes. De acordo com o DataFolha,
uma na outra ou na dificuldade em executar movimentos em uma pesquisa realizada recentemente a pedido do
repetitivos, como tocar um instrumento musical. É causada Conselho Federal de Farmácia (CFF), 77% dos brasileiros se
por uma falha na coordenação dos músculos agonistas e automedicam. (SILVA,2019)
antagonistas.
Quando utilizados da maneira correta, as medicações
Dismetria: A dismetria é caracterizada por uma incapacidade diminuem taxas de mortalidade, promovendo o bem-estar,
de julgar corretamente a distância ou a força necessária para sendo aliadas da manutenção da saúde, porém não se trata
realizar um movimento. Isso pode levar a movimentos de substâncias que promovem somente a cura, pois
excessivos ou insuficientes, como ao tentar alcançar um dependendo da dose ou do tipo de uso, danos são observados
objeto. A dismetria pode afetar a marcha, a postura e os e as constantes ocorrências relacionas a intoxicações
movimentos finos das mãos. medicamentosas expõem os riscos que o indivíduo corre.
Disartria: A disartria é caracterizada por uma fala (SILVA,2019)
descoordenada e dificuldade em articular as palavras As intoxicações medicamentosas podem ocorrer sob diversas
corretamente. Pode levar a problemas de comunicação e circunstâncias, seja por ação voluntária ou não intencional do
compreensão. A disartria é causada por uma incapacidade de indivíduo, influência genética, prescrição médica inadequada,
coordenar os músculos envolvidos na fala. erro de fabricação, dispensação, erro na administração, dentre
Nistagmo: O nistagmo é caracterizado por movimentos outros. Observamos, porém, que muitas das intoxicações
ocorridas, que são notificadas, poderiam ser evitadas.
oculares involuntários, geralmente em forma de oscilações ou
(SILVA,2019)
tremores. Pode afetar a visão e a capacidade de focar em
objetos. O nistagmo é causado por uma falha na coordenação Conforme os dados do CIVITOX, no período de 2014 a 2016,
dos músculos oculares. 40% das intoxicações ocorreram por acidente individual,
evidenciadas, em sua maioria, nos momentos de descuido dos
Hipotonia: A hipotonia é caracterizada pela diminuição do
pais e/ou responsáveis em associação à curiosidade das
tônus muscular, o que pode levar a uma sensação de "moleza"
crianças nas oportunidades de contato com os medicamentos.
nos membros e na postura. Pode levar a dificuldades na
As tentativas de suicídio corresponderam a 40%. (SILVA,2019)
coordenação motora e na manutenção da postura. A
hipotonia é causada por uma redução na atividade muscular. Outras circunstâncias. Erro de administração: 8%, uso
terapêutico: 5%; automedicação: 3%; prescrição médica
Alterações da marcha: As alterações da marcha podem
inadequada: 1%; uso indevido: 1%; Ig: 2%. (SILVA,2019)
incluir uma marcha instável, arrastada, cambaleante ou
cambaleante. Pode ser causado por uma incapacidade de As intoxicações ocorreram mais em mulheres (61%) e na zona
manter o equilíbrio e a postura durante a caminhada. urbana (82%). (SILVA,2019)
Astasia: dificuldade para se manter em pé. O paciente Como resultado, estas intoxicações podem provocar episódios
mantém a base de sustentação alargada e apresenta de:
tendência de queda multidirecional;
• vômito
Abasia: dificuldade para marcha, a qual se apresenta de forma • sonolência
ebriosa; • diarreia
• queimação na boca e no estômago
Dismetria: paciente não consegue atingir um alvo, • alteração na cor dos lábios
executando movimentos inapropriados que podem tanto ser • sudorese
interrompidos antes como depois do almejado; • dificuldade para respirar
• convulsão
Decomposição: movimentos realizados em etapas, por
• perda de equilíbrio
dificuldade de integração de diferentes musculaturas, • confusão mental
• paralisia Para isso, é importante monitorar os sinais vitais (como a
• perda de consciência pressão arterial, a frequência cardíaca e a respiratória) e
• morte corrigir as alterações que possam colocar a vida do paciente
em risco.
Os idosos constituem a classe etária mais propícia a
intoxicações medicamentosas. Além da tendência de Além disso, é preciso manter uma boa hidratação, corrigir
manifestar um maior número de doenças, a velhice em si distúrbios eletrolíticos e, se necessário, fornecer oxigênio
acaba sendo tratada literalmente como doença por muitos suplementar.
profissionais, que prescrevem medicamentos que por vezes
não são necessários ou que não têm clara correspondência
entre a doença e a ação farmacológica. (BUOZI, 203)
A descontaminação é a segunda etapa e tem como objetivo
O idoso se expõe ainda mais ao grande uso de diversos remover o medicamento do organismo do paciente,
medicamentos por recorrerem a muitos médicos especialistas diminuindo assim os efeitos tóxicos.
e isso se torna um difícil obstáculo a ser enfrentado por parte
Existem várias técnicas de descontaminação, como a
da geriatria, que precisa prevenir e tratar tais problemas.
lavagem gástrica, a administração de carvão ativado, a
(BUOZI, 203)
indução do vômito e a diurese forçada.
A situação piora quando o idoso acaba não informando aos
médicos acerca dos medicamentos dos quais já faz uso, e No entanto, a escolha da técnica a ser utilizada depende do
estas prescrições feitas sem a avaliação adequada podem tipo de medicamento ingerido, do tempo decorrido desde a
resultar em interações com outras medicações, trazendo ingestão e das condições clínicas do paciente.
efeitos indesejados. (BUOZI, 203) Por isso, é importante que a descontaminação seja realizada
Essa grande demanda nas quantidades de medicamentos por um médico especialista em toxicologia.
torna-se mais difícil a realização de avaliações de intoxicações,
uma vez que o envelhecimento provoca alterações
farmacocinéticas e farmacodinâmicas, possivelmente O tratamento específico é a terceira etapa e consiste em
ocasionadas devido a modificações no fluxo sanguíneo administrar medicamentos que possam reverter os efeitos
hepático, na taxa de filtração glomerular e no metabolismo tóxicos do medicamento ingerido.
basal, e como consequência podem haver episódios de
intoxicações medicamentosas. (BUOZI, 203) Esses medicamentos podem variar de acordo com o tipo de
intoxicação, mas incluem, por exemplo, antídotos
Por estarem mais lentos, os rins e o fígado acabam não específicos, agentes quelantes e drogas que ajudam a
conseguindo eliminar os medicamentos, provocando o manter a função renal e hepática.
acúmulo no organismo. (BUOZI, 203)
É importante lembrar que o tratamento da intoxicação
De um mudo geral, os medicamentos que mais provocam medicamentosa deve ser individualizado, de acordo com as
intoxicação em idosos são os antidiabéticos orais, características do paciente e do medicamento ingerido, e que
medicamentos cardiovasculares, antiarrítmicos, analgésicos e somente um médico especialista em toxicologia está
antibióticos, por motivos tais como erro ao confundir capacitado para avaliar e definir a melhor conduta para cada
medicamentos, administração do medicamento por uma via caso.
diferente da qual deveria ser feita, mal armazenamento e até
mesmo por esquecimento ou negligência por parte do
responsável (familiar ou cuidador do idoso). (BUOZI, 203)
Orientamos alguns cuidados para que sejam evitadas
intoxicações por medicamentos. (LOPES, 2017)

O Ministério da Saúde do Brasil recomenda que as condutas • Em suma, que os familiares tomem os devidos
para o tratamento da intoxicação medicamentosa sejam cuidados no acondicionamento dos medicamentos,
baseadas em três pilares fundamentais: suporte clínico, não os deixando à vista e acesso de crianças e
descontaminação e tratamento específico. animais.

• Atenção quanto à leitura da prescrição e da bula dos


medicamentos.
O suporte clínico é a primeira etapa do tratamento e visa
estabilizar o paciente e minimizar os efeitos tóxicos do
medicamento.
• Observação quanto ao nome, forma e concentração
do medicamento a ser administrado, à dose e horário
do mesmo.

• Guardar o medicamento na caixa com a bula e


observar sempre a validade.

• Que os prescritores avaliem o perfil sócio-econômico


do paciente, optando por medicamentos eficazes na
forma farmacêutica ideal, concentração, dose e
horários corretos, com letra legível (tanto para o
dispensador, administrador, como para a leitura do
paciente), cujo preço agregado seja viável ao estilo
de vida do paciente, de modo a poupar transtornos
financeiros e, por conseqüência, à saúde do paciente.

• Que o prescritor tenha acesso às informações sobre


as opções de aquisição gratuita de medicamentos
disponibilizados pelo governo, à RENAME, aos
medicamentos genéricos, etc.

• Que os profissionais da enfermagem, farmacêuticos,


etc., sempre adotem os cuidados em favorecimento
à dispensação e administração correta dos
medicamentos.

• Os profissionais de saúde devem notificar os eventos


adversos e toxicológicos aos medicamentos.

• Devem observar e identificar os possíveis riscos e


efeitos das interações medicamentosas, o abuso, as
ideações suicidas, as tentativas de aborto, contribuir
para que não ocorram acidentes, quedas, perda de
funcionalidade e efeitos locais e sistêmicos, como
também adotar cuidados com as iatrogenias,
idiossincrasias, hipersensibilidades, contribuindo com a
diminuição da dor, aumento do bem-estar, melhora
do convívio social e do prolongamento da vida do
paciente.

Buozi, Iracy Costa, et al. "Riscos da automedicação em


idosos." Brazilian Journal of Development 9.6 (2023)

SILVA, Iago Alexandre Da et al.. Intoxicação medicamentosa: os riscos


por trás das interações e automedicação. Anais VI CIEH.. Campina
Grande: Realize Editora, 2019.

Tortora, Gerard, J. e Bryan Derrickson. Princípios de Anatomia e


Fisiologia . Disponível em: Minha Biblioteca, (14ª edição). Grupo GEN,
2016.

CRFMS. Orientações sobre prevenção e notificações das


intoxicações medicamentosas.

Bertolucci, Paulo H., F. et al. Guia de Neurologia. Disponível em: Minha


Biblioteca, Editora Manole, 2011.

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