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UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS

CENTRO DE ENSINO E PESQUISA APLICADA À EDUCAÇÃO

Amanda Maria Cabral

AS CONTRIBUIÇÕES DA LITERATURA PRODUZIDA POR


ESCRITORAS BRASILEIRAS CONTEMPORÂNEAS PARA A
FORMAÇÃO DE JOVENS LEITORES/AS

GOIÂNIA
2023
Amanda Maria Cabral

AS CONTRIBUIÇÕES DA LITERATURA PRODUZIDA POR


ESCRITORAS BRASILEIRAS CONTEMPORÂNEAS PARA A
FORMAÇÃO DE JOVENS LEITORES/AS

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado


ao Centro de Ensino e Pesquisa Aplicada à
Educação da Universidade Federal de Goiás,
como requisito para a conclusão do Ensino
Médio.

Orientadora: Profa. Ilma Socorro Gonçalves


Vieira.

GOIÂNIA
2023
Amanda Maria Cabral

As contribuições da literatura produzida por escritoras brasileiras


contemporâneas para a formação de jovens leitores/as

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Centro de Ensino e Pesquisa Aplicada


à Educação, da Universidade Federal de Goiás, para a conclusão do Ensino Médio, defendido
e aprovado em, 22/12/2023, pela Banca Examinadora constituída pelos seguintes professores:

_________________________________________________________________
Profa. Dra. Ilma Socorro Gonçalves Vieira – CEPAE/UFG
– Presidente da Banca –

________________________________________________________________
Profa. Dra. Izabella Peracini Bento
– Membro da Banca –

_______________________________________________________________
Profa. Dra. Iris Oliveira de Carvalho– CEPAE/UFG
– Membro da Banca –
AS CONTRIBUIÇÕES DA LITERATURA PRODUZIDA POR ESCRITORAS
BRASILEIRAS CONTEMPORÂNEAS PARA A FORMAÇÃO DE JOVENS
LEITORES

Cabral, Amanda Maria1. Vieira, Ilma Socorro Gonçalves2.

Resumo:

Este Trabalho de Conclusão do Ensino Médio é sobre a importância da literatura para a formação de
jovens leitores/as, especificamente, a literatura produzida por escritoras brasileiras. A finalidade é
mostrar como os livros influenciam de forma positiva na vida de jovens e contribuir para maior
visibilidade da produção nacional de autoria feminina. Foram investigados os gêneros mais lidos por
um grupo de estudantes do Ensino Médio e foi realizada uma entrevista com a escritora Clara Alves
para saber um pouco de sua história como escritora. O ponto de partida da pesquisa foi a percepção de
que muitas pessoas não leem tanta literatura brasileira quanto leem livros estrangeiros. Assim, tornou-
se instigante investigar a questão, tendo em vista os seguintes objetivos: compreender o porquê de a
literatura brasileira ser pouco procurada por jovens leitores/as; saber quais as dificuldades que algumas
escritoras brasileiras contemporâneas encontram para que seus livros sejam apreciados pelos/as jovens
leitores/as; e dar visibilidade à literatura produzida por elas. As perguntas de pesquisa são: Por que
jovens leitores/as leem tão pouca literatura brasileira? Como é ser escritora no Brasil e quais os desafios
para que as obras alcancem uma boa repercussão entre os/as jovens leitores/as? Que aspectos se
ressaltam na produção de determinadas escritoras brasileiras da atualidade? A escritora participante da
pesquisa, por meio de entrevista escrita, é Clara Alves, mas a investigação abarca também as trajetórias
de Conceição Evaristo e Elayne Baeta. As obras selecionadas para a leitura dos/as estudantes são O
amor não é óbvio, de Elayne Baeta, Olhos D’água, de Conceição Evaristo, e Conectadas, de Clara
Alves. Com a pesquisa, esperamos contribuir para o reconhecimento da relevância da leitura literária
para a formação dos/as jovens leitores/as do nosso tempo, assim como para se vislumbrar caminhos para
que a literatura nacional seja mais valorizada por nós mesmos.

Palavras-chave: Literatura brasileira; Escritoras brasileiras contemporâneas; Jovens leitores/as.

INTRODUÇÃO

A pesquisa que se apresenta é sobre a importância da literatura para a formação de


jovens leitores/as, especificamente, a literatura produzida por escritoras brasileiras
contemporâneas. A investigação foi realizada no Centro de Ensino e Pesquisa Aplicada à
Educação, da Universidade Federal de Goiás (Cepae-UFG), envolvendo seis estudantes do
Ensino Médio, na idade entre 15 e 17 anos, e uma escritora brasileira. A finalidade era confirmar
se realmente os livros influenciam de forma positiva na vida de jovens e contribuir para maior
visibilidade da produção nacional de autoria feminina. Para isso, investiguei a opinião dos/as
estudantes sobre as contribuições da leitura literária em suas trajetórias e quais os gêneros mais

1
Aluna da 3ª série do Ensino Médio do Centro de Ensino e Pesquisa Aplicada à Educação, da Universidade Federal
de Goiás. E-mail: amandamariacabral8@gmail.com
2
Docente do Centro de Ensino e Pesquisa Aplicada à Educação, da Universidade Federal de Goiás, orientadora
do Trabalho de Conclusão do Ensino Médio. E-mail: ilmavieira@ufg.br
lidos por eles/as. Também realizei uma entrevista com a escritora Clara Alves para saber um
pouco de sua história como escritora.
O ponto de partida da pesquisa foi a minha percepção de que muitas pessoas não leem
tanta literatura brasileira quanto leem livros estrangeiros. Assim, considerei instigante
investigar a questão, tendo em vista os seguintes objetivos: compreender o porquê de a literatura
brasileira ser pouco procurada por jovens leitores/as; saber quais as dificuldades que algumas
escritoras brasileiras contemporâneas encontram para que seus livros sejam apreciados pelos/as
jovens leitores/as; e dar visibilidade à literatura produzida por elas.
As minhas perguntas de pesquisa foram as seguintes: Por que jovens leitores/as leem
tão pouca literatura brasileira? Como é ser escritora no Brasil e quais os desafios para que as
obras alcancem uma boa repercussão entre os/as jovens leitores/as? Que aspectos se ressaltam
na produção de determinadas escritoras brasileiras da atualidade?
Em princípio, havia a perspectiva de entrevistar três escritoras contemporâneas, para
obter uma amostragem que refletisse pontos de vista diferentes sobre os desafios da escrita
feminina e de seu alcance aos/às leitores/as jovens. Para isso, foram convidadas para participar
da pesquisa, concedendo entrevistas por meio de questionário escrito, as escritoras: Elayne
Baeta, Conceição Evaristo e Clara Alves, em razão de um contato positivo de minha parte com
algumas de suas produções. Embora o retorno do contato, com aceite do convite para responder
o questionário proposto, tenha sido apenas por parte desta última, minha investigação abarcou
também as trajetórias de Conceição Evaristo e Elayne Baeta.
As obras selecionadas para a leitura dos/as estudantes são O amor não é óbvio, de
Elayne Baeta, Olhos D’água, de Conceição Evaristo, e Conectadas, de Clara Alves, por
fazerem parte do meu repertório como leitora e serem significativas na abordagem de questões
do universo juvenil e feminino. No questionário proposto aos/às estudantes, havia abertura para
que outras obras da preferência deles/as pudessem ser mencionadas.
As entrevistas com os/as estudantes e com a escritora foram desenvolvidas no período
entre setembro de 2022 e julho de 2023 e as análises dos dados foram feitas a partir de agosto
deste último ano.
Com esta pesquisa, espero trazer importantes contribuições para se pensar na
relevância da leitura de produções literárias brasileiras, de autoria feminina, especificamente,
para a formação dos/as jovens leitores/as do nosso tempo, assim como para se vislumbrar
caminhos para que a literatura nacional seja melhor reconhecida por nós mesmos.
REFERENCIAL TEÓRICO

Os referenciais teóricos da pesquisa são estudos de Candido (2012), Ceccantini;


Warzocha; Ribeiro (2020), Coutinho (1995) e Zilberman (2019), entre outros. Das reflexões de
Candido, destaquei para a pesquisa a compreensão de que a literatura é um direito a ser
garantido a todas as pessoas, como devem ser garantidos direitos básicos, como alimentação,
moradia, vestuário e saúde, porque a leitura literária cumpre um importante papel humanizador.
Para o autor:
A literatura corresponde a uma necessidade universal que deve ser satisfeita sob pena
de mutilar a personalidade, porque pelo fato de dar forma aos sentimentos e à visão
do mundo ela nos organiza, nos liberta do caos e, portanto, nos humaniza. Negar a
fruição da literatura é mutilar a nossa humanidade. (CANDIDO, 2012, p. 7).

Nesse sentido, é possível afirmar que, na formação dos/as jovens, o acesso à leitura
literária deve estar entre as prioridades, que tanto a família quanto a escola e a sociedade como
um todo não devem negligenciar. Por isso a importância também de discussões como as feitas
nos vários artigos do livro Narrativa juvenil contemporânea, organizado por Ceccantini,
Warzocha e Ribeiro (2020), com enfoque em questões relacionadas à literatura destinada aos/às
jovens leitores/as e em pesquisas em sala de aula, que procuram compreender maneiras como
se dá a recepção de determinadas obras por estudantes adolescentes. Um dos artigos é resultado
da análise da pesquisadora Regina Zilberman a respeito da diversidade de gêneros apreciados
por jovens leitores/as, com destaque para os autores preferidos e os gêneros predominantes na
atualidade.
Partindo de dados das bienais do livro realizadas em 2013, 2014 e 2015, em São Paulo
e no Rio de Janeiro, Zilberman relaciona os seguintes autores nacionais que tiveram suas obras
mais procuradas pelos/as jovens leitores/as: Carina Rissi, Eduardo Spohr, Paula Pimenta,
Renata Ventura e Thalita Rebouças. Entre os autores estrangeiros, a pesquisadora destaca os
nomes de Cassandra Clare, John Green, Kiera Cass, Rick Riordan, Suzanne Collins e Veronica
Roth.
Com base nesse levantamento de nomes de autores que se ressaltaram nas bienais,
Zilberman conclui que os gêneros mais apreciados pelos/as jovens leitores/as têm sido os
seguintes: a crônica, com tema adolescente; o romance adolescente ou jovem; a saga fantástica
ou distópica. Um dado que chama atenção é o fato de as matrizes desses gêneros cultivados
pelos/as autores/as nacionais mencionados serem encontradas nas produções dos/as autores/as
estrangeiros/as. Nesse caso, podemos supor que um dos grandes desafios encontrados pelas
escritoras brasileiras selecionadas para esta pesquisa seja produzir uma literatura com
características essencialmente nacionais, mas que esteja atenta às tendências das produções que
têm alcançado as preferências dos/as jovens leitores/as no Brasil.
Na sequência, serão apresentadas as etapas da pesquisa e os instrumentos utilizados
para a obtenção de informações, tanto da parte dos/as estudantes quanto da parte da escritora
que respondeu o questionário proposto.

METODOLOGIA

A pesquisa foi desenvolvida a partir das seguintes etapas: definição das escritoras
brasileiras contemporâneas e das obras literárias que seriam abordadas; elaboração de roteiros
para entrevistas com as escritoras selecionadas e com alguns/algumas jovens leitores/as;
realização da entrevista com a escritora que pôde atender o convite para participar da pesquisa
e com os/as jovens leitores/as convidados/as; seleção de aporte teórico e crítico para a análise
dos dados da pesquisa; análise dos resultados das entrevistas; e escrita do Trabalho de
Conclusão do Ensino Médio (TCEM).
As perguntas feitas aos/às estudantes foram as seguintes: Você gosta de ler livros?
Quantos livros você costuma ler a cada ano? Quais os tipos de livro você mais tem lido? Você
lê mais livros indicados pela escola ou de sua livre escolha? Por quê? Qual é a importância dos
livros na sua vida? Você lê mais livros nacionais ou estrangeiros? Por quê? Você acha a
literatura importante para os jovens? Qual assunto chama mais a sua atenção em um livro? Qual
o livro mais marcante em suas últimas leituras?
À escritora, por sua vez, foram feitas as perguntas: Qual a influência da leitura em sua
formação como escritora? O que você sonhava ser quando era criança? Ser escritora já era um
dos seus desejos? Qual o livro mais marcante que você já leu? Alguma outra escritora brasileira
inspira a sua produção? Em sua opinião, quais os maiores desafios de um escritor ou escritora
para alcançar as expectativas dos jovens leitores da atualidade? Você considera que o Brasil é
um país de leitores? Por quê? Como é ser escritora no Brasil hoje e que dificuldades você tem
enfrentado? Que mensagem você gostaria de deixar para os seus leitores, especialmente, para
os jovens?
Para as análises dos dados, além dos questionários, utilizei anotações pessoais e um
quadro com dados quantitativos e qualitativos, com enfoque nas perspectivas dos/as jovens
leitores/as quanto à leitura de livros nacionais.
ANÁLISE DE DADOS

A análise dos dados foi importante para responder as minhas questões de pesquisa: Por
que jovens leitores/as leem tão pouca literatura brasileira? Como é ser escritora no Brasil e
quais os desafios para que as obras alcancem uma boa repercussão entre os/as jovens
leitores/as? Que aspectos se ressaltam na produção de determinadas escritoras brasileiras da
atualidade?
Na sequência, apresentarei algumas informações que retirei dos questionários que
propus aos/às estudantes e à autora Clara Alves e, em seguida, explicarei cada passo dessa
etapa da pesquisa.
Pude perceber nas respostas dos/as jovens que, em geral, é muito difícil conseguir
fazer a literatura estar presente em suas rotinas, sobretudo em se tratando das produções
nacionais. Estas, raramente, são escolhidas como leituras de livre escolha, já que os/as jovens
relacionam os livros nacionais apenas com os livros que a escola propõe para os/as alunos/as
lerem.
Percebi, a partir das respostas ao questionário proposto aos/às jovens, que estes,
quando entram no Ensino Médio, começam a perder o hábito de leitura, porque passam a ter
outros afazeres que consideram mais importantes, principalmente relacionados à escola. Esse
fator dificultou uma parte da minha pesquisa, na qual propus a leitura dos livros escolhidos.
As respostas que me apresentaram foram de que não conseguiriam ler por falta de tempo;
apenas uma participante tinha lido e se propôs a me apresentar sua opinião sobre o livro de
Conceição Evaristo, ressaltando sua percepção de que se trata de uma leitura que pode levar
o/a leitor/a a sentir a profundidade da realidade, em forma de palavras.
Com a escritora Clara Alves entrei em contato pelo Instagram, perguntando se ela
teria disponibilidade para responder o questionário da pesquisa. Ela confirmou sua
disponibilidade e pediu para que eu entrasse em contato com sua assistente para agendar a
atividade. Em suas respostas, a escritora destaca a dificuldade de ser escritora no Brasil,
devido ao preconceito que os/as leitores/as têm em relação à literatura nacional. A pergunta
e a respectiva resposta que confirmam esse destaque da escritora são as seguintes:

Pergunta do questionário: “Como é ser escritora no Brasil hoje e que dificuldades você tem
enfrentado?”
Resposta da escritora Clara Alves: “Ainda é difícil romper com os preconceitos com a
literatura nacional por parte dos leitores. A situação econômica do Brasil também não
favorece em nada.”

Algumas perguntas e respostas da parte dos/as jovens leitores/as participantes da


pesquisa evidenciam esse ponto de vista apresentado pela escritora, como, por exemplo:

Pergunta do questionário: “Você lê livros mais nacionais ou internacionais? Por quê?”


Resposta da estudante: “Leio livros mais internacionais porque consigo piratear eles e as
divulgações são mais amplas.”

E como, muitas vezes, os nacionais são menos divulgados, os/as jovens tendem a
ter menos interesse por eles e até desenvolvem preconceitos em relação à literatura brasileira.
Há, ainda, um fator determinante, que é o investimento que as editoras brasileiras fazem na
divulgação dos best-seller produzidos por autores/as estrangeiros/as e mais procurados,
principalmente nos Estados Unidos e na Europa, com a finalidade de manter aquecido o
mercado do livro no Brasil. A adaptação dessas produções para as telas do cinema também
contribui para que muitos/as jovens considerem menos interessantes as produções de
autores/as brasileiros/as.
Os dados apresentados nos questionários também confirmam a hipótese da pesquisa,
de que é desafiador ser escritora no Brasil contemporâneo, mesmo com tantas conquistas já
registradas na história da literatura brasileira, principalmente a partir do Século XX com o
Modernismo, movimento artístico e cultural, que foi determinante para que as produções,
tanto de autoria masculina quanto de autoria feminina, incorporassem “definitivamente a
temática brasileira, emprestando ao conjunto da literatura uma autonomia estética e
nacional” (COUTINHO, 1995, p. 309) que reflete as formas de pensar, falar e agir do povo
brasileiro.
Para que eu pudesse entender melhor os desafios ainda enfrentados pelas escritoras
brasileiras na atualidade, foram bastante interessantes as descobertas que fiz a partir do
questionário respondido por Clara Alves. Ter acesso a algumas informações sobre a trajetória
da escritora, sobretudo, em relação à maneira como ela se formou como leitora e hoje se
estabelece como escritora, ajudou a confirmar a importância da leitura na formação das pessoas
e o quanto ler literatura pode fazer a diferença na nossa vida, inclusive, na hora da escolha de
uma profissão.
Em suas respostas, a escritora Clara Alves disse que se interessou pela literatura porque
a própria leitura a fez querer criar seu próprio mundo. Disse também que quis se tornar escritora
por conta de outros/as escritores/as nacionais que a fizeram enxergar que não eram apenas
escritores/as estrangeiros/as que faziam sucesso. Ela disse ainda que é apaixonada pela
literatura nacional, por se enxergar nela e poder encontrar formas de falar e lugares do nosso
país.
Clara Alves é uma jornalista que começou a escrever desde os seus 8 anos de idade. Já
vendeu mais de 110 mil exemplares de seus livros e está sendo comparada com grandes autoras
internacionais, como Collen Hoover, diz o jornalista Thales de Menezes, que atua pelo portal
especializado na indústria do livro PublishNews3. Conforme consta em matéria produzida por
Edson Veiga, publicada em 08/07/2022, na página da revista eletrônica DW Made for minds,
Thales fez a seguinte declaração: “Clara Alves começa a se configurar como uma versão
brasileira dessas autoras estrangeiras campeãs de vendas de romances adolescentes, como
Colleen Hoover ou Alice Oseman”.
Veiga (2022) afirma:

Ela conquistou território nobre na atenção do mercado editorial brasileiro no início


deste ano, quando desbancou, em março, o sucesso Torto Arado, de Itamar Vieira
Junior, do topo da lista de mais vendidos – um posto que parecia lugar-cativo do livro
que se tornou um fenômeno praticamente desde o início da pandemia. (DW MADE
FOR MINDS, 2022, s/p).

Esse reconhecimento se deve, portanto, à atenção recebida pela escritora no mercado


editorial brasileiro, em razão do grande número de livros vendidos, mas esse sucesso de vendas
talvez não se explique pela equiparação com produções de autoria estrangeira. Como afirmado
na matéria da revista mencionada, “Alves carrega o diferencial da diversidade. Ela se identifica
como uma autora LGBT e traz esse universo para suas obras”. Nesse sentido, embora a própria
escritora considere que “Escrever no Brasil é um grande desafio” e que “ser escritor focado em
trazer pautas inclusivas é um desafio maior ainda”, pode ser justamente esse diferencial o
motivo do sucesso já alcançado por ela entre os/as jovens leitores/as.
Ao pesquisar também sobre Conceição Evaristo, sua forma de escrita e as críticas que
seus livros trazem para os leitores, pude constatar que é outra escritora que revela uma voz
ainda muito silenciada na sociedade, a voz da mulher negra, que traz em sua trajetória a herança
de seus antepassados escravizados aqui no Brasil. Infelizmente, não pude realizar a entrevista

3
PublishNews, segundo Wikipédia – A enciclopédia livre, “é um portal especializado em notícias e informações
sobre a indústria do livro. Foi criado em 20 de julho de 2001 pelo editor e consultor Carlo Carrenho.”
com ela, mas relacioná-la como uma das escritoras brasileiras contemporâneas que seriam
estudadas foi importante para conhecer um pouco sobre sua obra e sua trajetória tão inspiradora.
Conceição Evaristo é filha de uma lavadeira e passadeira e se formou para lecionar em
1971. Ela teve seu primeiro romance publicado em 2003. Em sua escrita, há fortes traços de
uma crítica sócio-histórica, explorando com frequência o protagonismo feminino e
denunciando a injustiça social que afeta, principalmente, as pessoas negras neste país. Exemplo
disso é o seu primeiro romance, que tem uma personagem que deixa a sua família para trás, no
interior, e vai tentar a vida na cidade grande. Essa personagem é neta de um escravo que morreu
quando ela era criança.
Em matéria produzida por Leonardo Cazes, publicada em 11/07/2016, na página
eletrônica de O Globo, consta uma afirmação fundamental, feita pela própria escritora:

Eu sempre tenho dito que a minha condição de mulher negra marca a minha escrita,
de forma consciente inclusive. Faço opção por esses temas, por escrever dessa forma.
Isso me marca como cidadã e me marca como escritora também – diz Conceição. –
Nos textos do livro novo eu trago toda uma memória ancestral, que já estava presente
em “Ponciá vicêncio”. (O GLOBO, 2026, s/p).

O livro novo ao qual a escritora se refere nesse trecho da entrevista concedida a O


Globo é uma coletânea de contos intitulada Histórias de leves enganos e parecenças, lançada
em 2016, com grande repercussão entre os/as leitores/as e a crítica literária.
Ter acesso a informações sobre a escritora Elayne Baeta também foi muito importante
para minha pesquisa. Ela iniciou sua carreira por ver a falta de representatividade de
determinados grupos de pessoas na literatura. Seu primeiro livro, intitulado O amor não é obvio,
foi publicado inicialmente no Wattpad, que é um aplicativo no qual qualquer pessoa pode fazer
login e postar uma história de forma livre, mas, em 2021, a editora Record o publicou como
livro físico. O livro foi parar na lista de mais vendidos da revista Veja.
Em declaração publicada na página eletrônica do IG Queer, a escritora Elayne Baeta
afirma: “Eu lia romances héteros fingindo que eram lésbicos”. Surge daí uma produção que tem
se estabelecido por contemplar a perspectiva de leitores/as jovens que buscam leituras que
apresentam universos ficcionais com os quais possam se identificar.
Nas palavras da escritora:

Não havia onde me refugiar, nem em quem me inspirar. Sempre que eu perguntava se
existia algum romance lésbico jovem nas livrarias para eu ler, a resposta era não. Isso
fez com que eu perdesse o interesse aos poucos pela leitura de alguns gêneros, como
o romance. Apenas pela exaustão de ter que imaginar, de ter que fingir, de ter que
esperar que algum livro daqueles tivesse a audácia de ser sobre mim. Sobre garotas
como eu – revela (IG QUEER, 2021).
Essa fala da escritora mostra algo que pode explicar a falta de desejos dos/as jovens
LGBTQIA+ de ler literatura brasileira, já que ainda há poucos livros com a representatividade
que eles sonham encontrar em produções nacionais. Assim, eles/as acabam indo procurar livros
internacionais, por haver no mercado muitas opções disponíveis.
Após esse percurso pelo ponto de vista das escritoras, apresentarei o lado dos/as
leitores/as. A pesquisa com estudantes do Ensino Médio, na idade entre 15 a 17 anos, revelou
que os/as jovens costumam ler, no ano todo, por volta de 5-15 livros, sendo a maioria de
autores/as estrangeiros/as, sobretudo por conta da ampla divulgação. Esse dado mostra outro
ponto importante sobre o consumo de livros pelos/as jovens no Brasil, que é o interesse pela
livre escolha dos livros a serem lidos, sejam eles com ampla divulgação pelos meios de
divulgação, como o booktok, que é uma hashtag famosa no aplicativo TikTok, ou porque o/a
jovem leu o resumo e gostou.
Os/as jovens que foram entrevistados/as disseram que acham a literatura importante
para uma boa escrita, para ajudar em seus repertórios socioculturais, a enxergar o mundo de
outra forma e para se identificar. Isso mostra que as procuras de livro que os/as jovens têm feito
não são apenas para seu lazer, mas também para enriquecer seu mundo escolar e sua forma de
enxergar a sociedade, já que, lendo obras como as da escritora Conceição Evaristo, por
exemplo, que mostram a vida da mulher negra e seus desafios, de uma forma realista e objetiva,
os/as jovens podem aprender a enxergar a dor do outro, ser paciente e entender as injustiças
sociais sofridas por muitas pessoas no Brasil contemporâneo. Trata-se, nesse sentido, do papel
humanizador que a leitura literária pode cumprir, como analisou Candido (2012), tornando-nos
mais sensíveis e abertos para “reconhecer que aquilo que consideramos indispensável para nós
é também indispensável para o próximo” (p. 15).
Sabemos que a leitura literária no Brasil é ainda algo elitizado, já que, em muitos
casos, para se conseguir ter acesso aos livros, é preciso dispor de dinheiro para comprar um
produto que não é barato, e a reprodução é regulada4, por ser considerada uma forma de
desvalorização dos/as autores/as brasileiros/as, quando é feita de forma clandestina. É certo
que são inúmeras as obras de domínio público, disponibilizadas gratuitamente em site oficial
do Governo Federal, mas, com a constante propagação dos lançamentos de sucesso em outros
países, as publicações mais antigas não chamam a atenção, principalmente dos/a jovens
leitores/as.

4
LDA (Lei de Direito Autoral), Lei nº 9.610, de junho de 1998.
É fundamental destacar o fato de o Cepae-UFG proporcionar a seus/suas alunos/as
vários momentos de interação com outros/as alunos/as para falar sobre nosso TCEM e, nesses
momentos, podemos obter algumas outras respostas sobre nossas questões de pesquisas. Isso
aconteceu com meu trabalho no ano de 2023, quando realizamos, na própria instituição, uma
exposição de banners relativos às pesquisas em andamento, e os/as estudantes de outras séries
poderiam visitar a exposição, tirar fotos e fazer perguntas aos/às autores/as dos banners,
concluintes do Ensino Médio, sobre os objetos das pesquisas, as metodologias empregadas, os
resultados encontrados e os referenciais teóricos utilizados, além de outras questões.
Com isso, consegui conversar com várias leitoras, estudantes da 1ª série do Ensino
Médio, que disseram sentir falta de representatividade na literatura brasileira, queriam que os
valores dos livros nacionais fossem mais em conta e, por fim, afirmaram que acharam meu
trabalho importante para o reconhecimento de novas obras e para elas pensarem sobre o tipo de
leitura que estão realizando. Nesse momento, houve também uma quebra da minha expectativa,
já que as jovens disseram que não leem livros nacionais se não for exigido por professor/a.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Para tecer minhas considerações finais, primeiramente, quero falar como foi aplicar
um questionário para jovens leitores/as do Ensino Médio, e logo após falarei da minha
percepção com relação às autoras. Quero abordar o quão difícil foi fazer com que os/as jovens
respondessem o questionário, tive muita dificuldade de conseguir ter contato com eles/as,
muitas vezes, por conta das demandas da escola, trabalho, cursos e deveres de casa. Isso fez
com que eu tivesse um número muito abaixo do esperado para conseguir as respostas para as
questões da pesquisa, uma vez que a expectativa era de contar com a participação dos vinte
jovens que, em princípio, se dispuseram a responder o questionário.
Um ponto a ser destacado a respeito do meu trabalho foi que o objetivo era conseguir
com que os/as jovens lessem três livros para comentarem suas impressões sobre a escrita de
cada autora, se era o que esperavam e se continuariam a ler livros das escritoras selecionadas.
Infelizmente, só consegui saber o ponto de vista de uma estudante que afirmou que ler livros
nacionais já faz parte de sua vida, porque seus pais são professores e gostam que seus filhos
tenham esse contato.
Outro ponto que me deixou surpresa foi que o grupo de estudantes que respondeu o
questionário, até aquele momento, pensava que a literatura brasileira se resumia nos livros
apresentados pelos/as professores/as, logo, um livro nacional não entregaria um entretenimento
procurado. Essa seria, portanto, a justificativa para procurarem livros estrangeiros para
continuarem seus hábitos de leitura.
Houve, assim, uma quebra de expectativas com a minha pesquisa, pois não foi possível
aprofundar em alguns pontos, como eu pretendia, em razão, sobretudo, da grande demanda de
trabalhos escolares que os/as estudantes do Ensino Médio têm. A pesquisa, nesse sentido,
revelou também um pouco mais sobre como é a condição dos/as jovens na atualidade, tendo
que conciliar estudos, vida social e o prazer de ler um livro. De acordo com os/as estudantes,
um pouco do contato com a leitura é perdido quando os/as jovens entram no Ensino Médio,
ainda mais quando chega o final de cada ano, porque eles têm muitas provas, trabalhos e até
mesmo outros livros que precisam ler para fins de estudo.
Com relação às autoras Elayne Baeta, Conceição Evaristo e Clara Alves, posso afirmar
que a minha caminhada para chegar até uma delas não foi fácil. De início, tentei contato com a
Elayne, porque eu já havia enviado mensagem pelo Instagram e por e-mail, tentando falar com
ela sobre meu trabalho. Mas não obtive resposta, já que ela tem uma agenda muito cheia. Da
parte de Conceição Evaristo também não consegui resposta, por nenhum de seus meios de
comunicação. Com Clara Alves, por outro lado, foi fácil conseguir uma resposta, enviei uma
mensagem no direct dela, sabendo que ela responde todos os seus fãs. Expliquei minha situação
e pedi para ela responder o questionário. Assim, ela pediu para enviar e-mail a sua assistente,
para que o questionário pudesse ser acrescentado a sua agenda. Foi a partir desse contato que
consegui ter acesso às respostas de uma das escritoras enfocadas na minha pesquisa.
Este trabalho tinha como propósito entender o papel do livro na vida dos/as jovens
atualmente e saber por que grande parte deles/as leem mais livros de autores/as estrangeiros/as
do que de autores/as brasileiros/as. De forma geral, os resultados obtidos por meio dos
questionários aplicados, das pesquisas bibliográficas realizadas e dos momentos de interação
com outros/as jovens leitores/as, me permitiram concluir que estes/as consomem livros de
autoria estrangeira com mais força, principalmente, por conta da divulgação em massa, que faz
com que, muitas vezes, os livros nacionais sejam deixados de lado. Apesar de ter contado com
um número pequeno de participantes, a amostragem com os/as estudantes evidenciou a
necessidade de maior divulgação da produção literária brasileira, por meio dos diversos meios
de comunicação e das estratégias de marketing das editoras nacionais.
A pesquisa tinha o propósito também de dar visibilidade às três escritoras brasileiras
selecionadas para a minha pesquisa. As respostas de Clara Alves, por sua vez, confirmaram que
ainda há grandes desafios a serem enfrentados pelas escritoras brasileiras contemporâneas, mas
a repercussão já alcançada pela obra da autora, entre jovens leitores/as, é um indicativo
importante de que, cada vez mais, esses/as leitores/as podem vir a se interessar pela literatura
produzida no Brasil.
Por fim, com base nas dificuldades que encontrei para obter algumas respostas acerca
das minhas questões de pesquisa, por não alcançar um número maior de participação de jovens
leitores/as, e na quebra da expectativa de conseguir contato com as três escritoras para poder
conferir a visão de cada uma delas sobre como é ser escritora no Brasil contemporâneo,
apresento aqui uma sugestão a quem vai fazer pesquisa de campo: tente começar o quanto antes,
porque, se algumas pessoas não responderem, você ainda terá muito tempo para conseguir
outras que possam participar da pesquisa ou mudar a metodologia prevista inicialmente. Essa
sugestão vale também, se a investigação previr entrevista com autores famosos e renomados.

REFERÊNCIAS

ALVES, Clara. Conectadas. 1ª ed. São Paulo: Seguinte, 2019.


BAETA, Elayne. O amor não é óbvio. Rio de Janeiro: Galera Record, 2021.
CANDIDO, ANTONIO. O direito à literatura. Organizadores: Aldo de Lima [et al.]. Recife:
Ed. Universitária da UFPE, 2012.
COUTINHO, Afrânio. Introdução à literatura no Brasil. 16ª ed. Rio de Janeiro: Bertrand
Brasil, 1995.
CRUVINEL, L. W. F.; RIBEIRO, R. R. (Org.). Narrativa juvenil contemporânea. Goiânia:
Cânone Editorial, 2019.
EVARISTO, Conceição. Olhos d’água. Rio de Janeiro: Pallas Mini, 2018.
DW MADE FOR MINDS. “Clara Alves: ‘Sou uma escritora militante’”. Acessível em:
https://www.dw.com/pt-br/clara-alves-sou-uma-escritora-militante/a-62404178
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