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QUEVEDO, J. R. “A Guerra Guaranítica: A Rebelião Colonial nas Missões”.

In: Estudos Ibero-


Amerícanos, Vol.XX, N.2, Porto Alegre, 1994, p. 5-26. Disponível
em:https://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/iberoamericana/article/view/28934/16
058 ; BRUM Ceres Karam. “O mito de Sepé Tiaraju: etnografia de uma comemoração”. In:
REDES, Vol. 12, N. 3, , Santa Cruz do Sul, set./dez. 2007 p. 5-20,. Disponível em:
https://www.redalyc.org/pdf/5520/552056856001.pdf;

• Introdução

Ela começa destacando as homenagens prestadas a Sepé Tiaraju em 2006, mais de 250 anos
após a sua morte.

• Preparativos

Aparentemente, havia uma confusão com relação ao que a população imaginou que seriam as
comemorações o que os políticos à frente da elaboração fizeram.

• Sepé Tiraju: Che Guevara de cocar?

Sapé teria resistido, durante à década de 1750, ao tratado de Madrid.

O presidente do sindicato de São Gabriel enviou uma carta à antropóloga ressaltando sua
percepção acerca do evento: acabou por se tornar uma manobra para, através da força mítica
que permeia a figura de Sepé, incentivar valore socialistas e marxistas. Ele fala sobre o
transformarem em um “Che Guevara de cocar”. Ele também destaca os conflitos entre
ruralistas e o MST na região.

“Mas, apesar da franca oposição por parte dos produtores rurais da cidade à presença do MST
e demais movimentos sociais nas comemorações previstas, São Gabriel viveu um clima de
expectativa e ebulição em torno de Sepé.” (p. 9).

Osório Santana, historiador, destaca as inúmeras distorções que tocam a lenda de Sepé.

“[...] A vivência do mito é relegada ao plano do irreal e do inverossímil por uma parcela de
historiadores que se reconhece como produtora da verdade científica e não de mais uma
versão do passado, a par de outras narrativas.” (p. 10)

• A História do mito de Sepé Tiaraju

O antropólogo Marc Agé pesquisou sobre a mistificação da história, e parece ter encontrado aí
uma forma de produzir identidades e pertencimentos.

Para Gian Paolo, o poder do mito estaria no seu poder de estabelecer relações com a memória
dos eventos históricos e com a verdade enquanto sanção social.

“Pensar sobre as homenagens a Sepé Tiaraju remete às relações que nós gaúchos
estabelecemos com o passado histórico no Rio Grande do Sul e à diversidade de formas com
que este passado alimenta o nosso imaginário presente, quando o vivemos como mito.” (p.
11).

Buscando compreender melhor o mito de Sepé, a pesquisadora analisa a Guerra Guaranítica


(1754-1746), onde guaranis missioneiros enfrentaram os exércitos unidos das duas coroas
devido a desestruturação dos Sete Povos das Missões.
Comandante das tropas missionárias, morto em 1756, é a Sepé que se atribui a frase “essa
terra tem dono”.

“As constantes referências a Sepé Tiaraju, por sua atuação na Guerra Guaranítica, põem em
relevo o seu valor simbólico na construção das identidades regionais sulinas [...].” (p. 11).

“Mesmo sendo considerado como um santo popular no Rio Grande do Sul há a proposta de
sua canonização por uma parte da Igreja Católica, inspirada na Teologia da Libertação. [...] A
segunda polêmica em torno de Sepé se relaciona à sua referência nos conflitos de terra na
região de São Gabriel, em 2003, onde, conforme Görgen (2004: 100), Sepé foi mencionado
pelo Movimento dos Sem-Terra (MST), que batizou sua marcha de Sepé Tiaraju.” (p. 12).

• Sepé Tiaraju, 250 anos depois

A memória possui uma grande força de construção de identidades.

“No momento das comemorações em São Gabriel, cabe referir que as múltiplas memórias com
relação às Missões e a Sepé Tiaraju possuem sua própria história. Essa confronta identidades
presentes e identidades passadas, em transformação, como no caso do mito de Sepé Tiaraju,
em suas diferentes vivificações.” (p. 13).

A autora destaca como os festivais que celebra e relembram Sepé reúnem uma grande
pluralidade de grupos e povos.

“Apesar da organização conjunta das atividades por parte da Comissão Organizadora (comitê e
comissão local), era perceptível uma certa divisão de espaços e papéis. O acampamento
correspondia ao espaço majoritário dos movimentos sociais, de que a população de São
Gabriel participava como visitante, para comprar artesanato e ver os índios presentes.” (p. 14).

Ela destaca uma encenação que o representava principalmente como líder missioneiro,
deixando de lado o fato de ele ser indígena. Ela também destaca a homenagem de indígenas a
Sapé, falando guarani e apontando a cruz como símbolo do colonizador. Ela destaca como essa
homenagem atravessou um momento de “retorno ao passado”.

“Na Coxilha de Caiboaté, o passado interpretado do massacre dos índios guaranis foi revivido a
partir de um processo de identificação com o momento histórico atual, em que os povos
indígenas, quilombolas e Via Campesina lutam pela terra.” (p. 15).

• Concluindo

A antropóloga destaca como a memória em torno da figura de Sapé é algo em uma disputa
constante. Ela fala sobre a elaboração de uma “memória coletiva”.

“A consciência histórica é produzida dialeticamente no seio da comunidade que (re)figura o


passado, através da narração ao se expressar e identificar com o mesmo, no sentido de se
sentir affecté-par-le passé (1985: 411). Mas, embora se refira a um processo coletivo de
pertencimento, os sentimentos de orgulho ou de repulsa suscitados pela recepção do evento
são individualmente concebidos no sentido de que o passado é peculiarizado pelo leitor.” (p.
16-17).

“Trata-se, assim, de perceber, via elaboração da memória coletiva, em que momento e que
atores efetuam a glorificação ou o acerto de contas com o passado, no que tange à
manutenção ou à transformação do status quo, para perceber a dinâmica do mito.” (p. 17).
“Nesse sentido, concluo que o fascínio exercido por Sepé Tiaraju (um personagem histórico
vivido como mito) está justamente no seu poder de significar o presente de quem o utiliza,
transformando identificações com o passado interpretado das Missões em pertencimentos a
sua figura lendária, presentificada nos interesses e sentimentos de quem os aciona.” (p. 17).

Régine Robin aborda este intrincado processo: [...] Os passados legendários, tornados mitos
antecipadores de utopias ou dos desastres, não são apanágio nem dos historiadores, nem dos
filósofos, nem da ficção. Eles estão no coração da cultura. [...] Para Robin, os destinos do mito
são incertos, pois os discursos se fazem e desfazem. O cenário do coração da cultura, em sua
dinâmica, é elucidativo, nesse sentido.” (p. 17-18).

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