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E Jesus nos constituiu REINO E SACERDOTES!

A igreja não foi amada e libertada para nada. A obra da redenção abrange mais que isso: culpa
nossa – clemência Dele! Ela continua: aptos para o serviço! O amor recebido e aclamado não
pode ser privatizado. Está em jogo o serviço a Deus. A expressão precisa mais uma vez ser
contraposta ao Egito, à dominação do pecado ao qual se prestava se prestava serviço de escravo
no passado. Agora o povo resgatado está livre para o seu novo e, apesar disso, legítimo
proprietário, para Deus. Servir-lhe não é trabalho escravo, pois, afinal, Ele é “seu Pai”, o Pai de
nosso Senhor Jesus Cristo, cujo sangue é enaltecido. Não pode ser diferente: essa redenção cria
um povo sacerdotal.

Nessas considerações João está nova e profundamente enraizado no Primeiro Testamento. No


Sinai, na hora em que propriamente se tornou um povo, Israel ouviu as palavras (Ex 19.6): “Vós
me sereis reino de sacerdotes”. Ao que parece não há uma ênfase especial em “reino”. No
contexto, esse termo não é outra coisa senão um substitutivo para POVO, ESTADO ou NAÇÃO.
Este Estado deveria assumir o papel de um Estado sacerdotal na série dos demais países. É nisso
que reside a ênfase. A diferença em relação aos outros povos não reside na relação de
propriedade em si. No fundo, todos os povos são povos de Deus. Anteriormente é dito com
clareza: “Toda a terra é minha”. Com a eleição de Israel, Deus não abre mão das demais nações.
O Criador não abandona sua criação. Essa instalação como povo de Deus singular acontece não
em detrimento, mas precisamente em benefício das nações do mundo. Israel deve buscar e
encontrar sua razão de ser no âmbito da família dos povos no serviço sacerdotal, não na
dominação, conquista, posse e liderança, como outras nações. Portanto, desta formulação não
se deve depreender uma vocação DUPLA, de maneira que ao lado do serviço sacerdotal, seria
imperioso anunciar um segundo aspecto, o reinado de Israel ou da Igreja. Pelo contrário, a
formulação em Ex 19.6, repetida literalmente em Ap 1.4-8, visa ser sintetizada: Reino Sacerdotal,
sendo que a ênfase recai sobre SACERDOTES enquanto algo novo e singular. A comparação com
passagens como Is 61.6 tão somente o confirma.

De acordo com esse versículo, quem é o POVO DE SACERDOTES da Terra? São as sete igrejas na
Ásia e todas as comunidades com as quais João se une ao dizer: a nós, a nós, a nós! Com isso
atingimos o processo fundamental do Segundo Testamento: Israel foi representado unicamente
ainda por Jesus. Um título de Israel após o outro deposita-se sobre essa única fronte: Ele é o
Filho amado, Ele é o Servo obediente, a Testemunha fiel, o Profeta. Contudo, dentro deste
verdadeiro Israel na figura do Cristo crucificado e ressuscitado nascem pessoas, a saber, judeus
e gentios. Em seu corpo eles se tornam um só corpo (Ef 2.16), um só templo, um só POVO DE
SACERDOTES. Fora desse Jesus não existe POVO de Deus, mas NELE cada um faz parte DELE. Não
que os gentios convertidos assumissem o lugar de Israel, mas EM CRISTO eles agora pertencem
ao verdadeiro ISRAEL. Também o Evangelho de João traz consistentemente o motivo dos que
crêem em Cristo como sendo o verdadeiro Israel.

Em que consiste a tarefa do sacerdote?


Por um lado ele se encontra diante de Deus como quem ora. Repetidamente a Igreja é retratada
no Apocalipse como igreja que ora e louva. Em Ap 1.20 sua natureza é explicitada pela figura do
candeeiro do Templo. Este utensílio não pode ilustrar o serviço missionário para fora (como a
imagem das estrelas), visto que não era visível fora do Templo. Não, o candeeiro queimava
diante de Deus. “O Pai procura adoradores que o adoram em espírito e em verdade” (Jo 4.23,24).
Ele busca resposta à Sua Glória. A Igreja é a parte da humanidade que já agora responde a Deus.
Suas orações pertencem às coisas mais relevantes do nosso tempo. Por meio delas a Igreja se
posiciona responsavelmente na história, como Ap 8.3-5 há de mostrar. E o Senhor promete as
“obras maiores” (Jo 14.12-14) em resposta às orações dos discípulos. Quando a Igreja esquece
essa sua posição em relação a Deus, ela se torna irrelevante e supérflua. Na próxima
oportunidade ela é deixada de lado, e nenhuma mão se moverá em sua defesa (Ap 2.4,5).

Também queremos indicar já agora o outro lado do serviço sacerdotal: a Igreja é porta voz de
Deus perante as pessoas. Ela está colocada ao lado das pessoas como testemunha e profetisa.
Também essa linha perpassa o Apocalipse: não negar, mas apegar-se ao nome de Jesus, vencer
pela palavra do testemunho! Grande é sua tentação de silenciar, de deturpar a verdade e até de
amaldiçoar em vez de falar sacerdotalmente como porta voz de Deus, até mesmo no caso
extremo (Ap 2.10b). Assim como a Igreja tem de permanecer diante de Deus com sua oração,
assim ela também tem de permanecer diante das pessoas com o seu testemunho, se quiser
continuar sendo Igreja. Ela somente será invencível se não se subtrair à ambas as tarefas.

Foi, portanto, para isso que o REI DOS REIS constituiu a Igreja: a saber, para ser sacerdotisa.

Texto extraído do livro APOCALIPSE DE JOÃO I – Comentário Esperança - Adolf Pohl.

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