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GOTAS DE Ensinamentos

Adalberto Rigueira Viana

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Ensinamentos maçõnicos
Índice

Guido Thomaz Marliére...................................................................................... 3


Maria Eugênia: uma história real........................................................................ 8
Mary`s Chapel, a Loja Maçônica mais antiga mundo...................................... 11
Porque minha mãe que me matar – relato de ex-muçulmana na Europa........ 15
Os ensinamentos maçônicos............................................................................ 18
Os diferentes tipos de maçons....................................................................... 25
Voltaire............................................................................................................. .29
Hervê Cordovil.................................................................................................. 30
A balaustrada.................................................................................................. 39.
O maçom e o alfaiate.........................................................................................41
Ao maçom adormecido......................................................................................42
A fidelidade........................................................................................................44
O que leva o homem a ser maçom................................................................ 48
O profeta Amós e a maçonaria..........................................................................50
Que vindes fazer aqui?......................................................................................52
As três portas da igualdade maçônica............................................................. 57
Vaidade... Quanta vaidade! ............................................................................. 59
Do meio dia à meia noite.................................................................................. 66
As três grandes colunas da Loja.................................................................................. 68
Estar entre colunas........................................................................................... 72
Meu ritual maçônico.......................................................................................... 75
Assiduidade maçônica...................................................................................... 76
Por que a maçonaria não inicia mulheres?....................................................... 77
Juramento e compromisso maçônicos........................................................ 80
A luz............................................................................................................... 83
O fogo, a chama e a luz................................................................................. 85
A Escuridão e a Luz........................................................................................ 87
Significado do Sigilo Maçônico....................................................................... 89
O Sigilo Maçônico........................................................................................... 92
Sala dos Passos Perdidos.............................................................................. 95
A força do silêncio........................................................................................... 97

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Guido Thomaz Marliére

Guido (Guy) Thomaz Marliére nasceu em Zarnage, Departamento de


Creuse, na França, no dia 3 de dezembro de 1767. Filho de uma família
monarquista, estudou humanidades e filosofia e entrou aos18 anos para o
Exército Francês.
Sobreviveu à Revolução Francesa, e Guido Mairliére lutou contra os
exércitos de Napoleão. Derrotados os monarquistas, fugiu com os militares
para a Alemanha. Integrou ma Legião de Mirabeau formada e por mais uma
vez seu regimento foi derrotado em Bertschewim em1793. Ferido, passou em
seguida a farte parte do Regimento de Montmart, onde serviu sob o comando
do Marechal de Rougé.
Derrotado por Napoleão, seguiu o regimento para a Inglaterra, depois
de ter Guido Marliére estado no acampamento da unidade em Ath, cidade
belga a 30 km da fronteira com a França
Antes, porém, este regimento esteve na Holanda, na Ilha Guernesey,
por curto período, seguindo para a Inglaterra. Mas o sonho de volta à Pátria se
desvaneceu, pois a sombra de Napoleão, o então invencível corso, em
fevereiro de 1797, o regimento mais uma vez se deslocou, sendo enviado para
Portugal, onde permaneceu até 1802.
Dissolvido o regimento, Guido Thomaz Marliére ingressa na Guarda
Real de Policia a Pé e a Cavalo (que tinha sido criada em Lisboa a 10 de
dezembro de 1801), em 1º de junho de 1802. Era o Porta-Estandarte da
Guarda Real.
Em 1807 foi promovido a Alferes e acompanhou a família Real em
fuga para o Brasil
Teve as seguintes promoções: Tenente em 1810, Capitão Geral dos
Índios em1816, Major em 1821, Tenente-coronel em 1823,Comandante de
Todas as Divisões do Rio Doce e, finalmente, Coronel de Cavalaria em 1827.
Foi reformado em 1829 , portanto aos 62 anos de idade., Mas sua vida com o
trato direto com os índios começou aos46anos, quando foi enviado, em 1813,
para pacificar o Presídio de São João Batista (hoje Visconde de Rio Branco),
conseguindo o apaziguamento das tribos Kropós,Croatas e Puris.
Continuou na Zona da Mata, como um grande desbravador, incansável,
percorrendo as florestas, fazendo contacto com os índios, abrindo caminhos e
fundando aldeamentos. A região era vasta, indo das margens do Jequitinhonha
a São Domingos do Prata, passando pelo vale dos rios Pomba, Paraiba e
Doce, chegando aos rios Mucuri e São Mateus.
Tinha amor aos índios e a prova disso é quando escreve: “Não tenho
escravos, cultivo uma fazenda em Guidowald, em que os índios me fazem
grandes plantações anuais, pagando-lhes o seu salário e comemos juntos.”
Pacificou grande número de tribos e, entre elas, os Paris, Kropós,
Croatas, Normenaques, Mabatis, Manhuaçu, Gracnuns, Quejurins, Machacalis
e, talvez o seu maior triunfo, apaziguou e atraiu os ferozes Botocudos!.
Pelo seu amor e amizade que devotava aos índios, pela prática da
justiça e da bondade, conquistava-os; além disso, dava-lhes alimento e
ferramentas agrícolas e aprendeu suas linguas. De trato e perspicácia fora do
comum,compreendeu que seria quase impossível conquistá-los e civilizá-los
sem aprender os seus dialetos, primeiro aprendendo a conversar com eles.
Isso ele assimilou dos ensinamentos dos jesuítas. Mas não seria fácil não fosse

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ele um homem de grande cultura, com facilidades, além das muitas outras, a
de ser um grande poliglota, falando corretamente o francês, seu idioma pátrio,
o alemão, o inglês e o português.
O seu aprendizado do alemão lhe facilitou Porter estado na Alemanha
por 4 anos, ou seja, der 1791 a 1795. Aprendeu entre nós o tupi e o tapuia.
Guido Thomaz Marliére se sublimou quando disse: “Por que não posso
eu trovejar, e voltar quantas armas de fogo tenho, contra os peitos de alguns bárbaros
senhores de escravos, que folgam de comer e beber ao som de pancadas, que
mandam dar neles? Cães danados, opróbios da sociedade, ainda sois vivos!”
Era MAÇOM da venerável loja “Mineiros reunidos” de Vila Rica. Em
1822 pediu filiação, sendo seu requerimento atendido em 8de julho de 1822,
ou seja, cerca de um mês depois de sua criação.
Como dissemos, Marliére era um homem culto e arejado: era leitor de
Voltaire e de d` Alembert, os homens defensores da liberdade e igualdade dos
homens, o que contribuiu para o seu senso de humanidade e amor ao índio.
Mas, embora fosse preocupado com a educação religiosa, condenava o
comportamento de certos padres ciosos dos bens materiais, da posse de terras
e de índios. Condenava a concupiscência! Advogava decididamente ao
Presidente da Junta da Fazenda Pública a criação de um Altar Portátil com o
material necessário, de forma que se pudesse rezar missas para os soldados
das Divisões e suas famílias, transmitindo aos índios esse bom exemplo.
Mas devia haver muita incompreensão, o que não se admira, sobretudo
o que dizia respeito às intrigas, calúnias,prisões e toda sorte dd peripécias
ocorridas. Também, sobre o seu casamento com uma dama da corte, D. Maria
Vitória, pertencente a uma antiga e tradicional família de militares portugueses,
pouco coisa se sabe.
De uma franqueza fora do normal, isto tudo devia ter acontecido,
agravando o fato: “muito livre em matéria de religião”. Mas retornando à
questão da catequese,preferia os capuchinhos franceses, probos de boa
conduta e desinteressados, em lugar dos jesuitas, que a seu ver erravam
inteiramente na missão.
Foi assim que ele disse em um trecho de sua carta: “Lembre-se o
governo de S.M.I., no qual os capuchinhos franceses, que foram expulsos do Brasil
em 1617, provavelmente pela intriga dos jesuitas, deixaram 9 missões de índios que
ocuparam 40 anos, e estão bem florescentes.”
Mas é precioso frisar que, embora contrário aos jesuítas, era evidente
que Marliére interessava-se pela educação religiosa dos índios, tanto assim
que solicitava ao Imperador o ensino religioso ´para eles, como diz: “Já o
Imperador ouviu a minha voz: “Já o Imperador ouviu a minha voz, abençoado
ele seja! Lá vão cinco jovens Botocudos a serem educados em um Colégio
para virem ensinar a seus irmãos, e muitos brasileiros ouvirão Missa deles.”
E, mais adiante, estende-se um de seus conceitos a respeito dos
padres, dizendo que “Os padres dos indígenas seriam menos covardes e mais
compreensíveis para aqueles eu tinha o mesmo sangue e a mesma origem”.
Seu espírito humanitário, e de amor e respeito aos semelhantes, estava
sempre presente em todas as suas atividades, quando, por exemplo, escrevia:
“Há 13 anos que grito aos sucessivos governos contra os matadores; opressores e
invasores das terras dos índios; nunca obtive senão respostas evasivas, devassas de
encomenda, que se não verificaram em execução e promessas de Regulamento e
Direções, que nunca vieram. Não se enfocou um só matador de índios, não se
castigou a opressão, não se restituiu um palmo de terras”.

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Abordamos a capacidade de Guido Thomaz Marliére como um grande
desbravador, amigo dos índios, fundador de vilas e povoados, até certo ponto
um evangelizador.
Na verdade auxiliou a fundação de dezenas e dezenas de povoações e
aldeamentos, entre os quais se acha Ubá. Era o comandante da milícia da
Zona da Mata, mas, nas questões civis, estava subordinado aos capitães-
mores das respectivas comarcas.
Vejamos o que diz o livro O segredo revelado de Guido Marliére, de Ary
Gonçalves: “”Assim é que, entre nós, nas questões civis, achava-se ele sujeito às
decisões e providências do Capitão-Mor de Mariana, a cuja comarca pertencia esta
região. Sugeria ele ao Governador das Província certas medidas, porém o Governador
remetia a sugestão ao Capitão-Mor Antonio Januário Carneiro, a principal pessoa da
comarca.
Para o Capitão-Mor de Mariana:
Remeto a V.Mercê requerimento incluso, de Gonçalves Gomes Barreto,
acompanhado da informação que sobre o mesmo requerimento me foi dirigida pelo
Capitão Diretor Geral dos Índios, Guido Marliére,para que em pronto haja de expedir
as precisas providências no Presídio de São João Batista sobre o objeto de que se
trata o dito requerimento e informação. Deus guarde a V. Mercê- Vila Rica, 11 de
março de 1820. D. Manoel de Portugal e Castro. Sr. Capitão-Mor Antonio Januário
Carneiro. (Revista do Arquivo Público Mineiro,1905, p.421).
Claro está que numa questão puramente civil, foco de todo assunto
militar, como a fundação da Capitania do Rio Ubá, teria a execução de ser do
Capitão-Mor Antonio Januário Carneiro, já que a matéria interessava à
jurisdição da comarca. E a verdade histórica é que o Capitão-Mor concordou e
construiu Capela, trazendo o povo pobre de Piranga para habitar a primeira rua
do povoado de Ubá (Rua de Trás, hoje Santa Cruz).
Aqui então começa a história da fundação de Ubá. É da maior
importância a presença do francês Guido Thomas Marliére em nossa história, e
esse aspecto cresce à medida que melhor estudarmos a obra desse
desbravador..
Exerceu na época papel importante em Minas Gerais especificamente
na conquista da Zona Da Mata e aí nas bacia do Rio Doce e seus afluentes,
conseguiu trazer à civilização grande número de selvagens e suas tribos, além
de contribuir para o início da fundação de inúmeras cidades da Zona da Mata,
abertura de picadas e caminhos ligando os povoados, que mais tarde iriam
formar vilas e cidades prósperas.
Foi um desbravador de matas virgens,fascinado pelo vale misterioso e
belíssimo do Rio Doce, e sobre isso tudo, um administrador e protetor dos
índios, um colonizador humanitário, que disse textualmente: “ Brasileiros, que a
peso de ouro ides comprar homens para a sua e vossa desgraça, por que não vos
voltastes para vossos irmãos índios, para o fim de vos ajudar nos vossos trabalhos?
Os índios são menos imbecís do que os negros e trabalham como eles. Vede os
Coroados, os Coroapós,os imenso Puris e já muitos botocudos”.
No dia 5 de junho de 1836, portanto aos 63anos de idade, morria em
sua Fazenda de Guidowald, Guido Thomaz Marliére, o lutador indômito que
nãose deixava vencer diante de todas as dificuldades encontradas em sua
vida. Na verdade ele dizia ao terminar a vida, ao penetrar na eternidade: “ A falta
de conhecimentos, em matéria de História Natural, sobretudo me tem causado
cruelíssimas noites,e obrigado a aprender até a minha próxima despedida deste
grande teatro, chamado Mundo, que tranqüilo espero, como Voltaire: sem desejo, sem
remorso e sem susto.

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Recentemente, em conseqüência de declarações feitas por um tetraneto
de Guido Thomaz Marliére, foram dados esclarecimentos sobre a vida deste
grande homem. José Sérgio de Araújo Flávio Marliére, advogado, residente em
Belo Horizonte, nos conta que se tetravô nasceu em 23 de abril de1769, em
Marselha, o que discorda do que dissemos páginas atrás.
Ele era um dos mais brilhantes alunos da Academia de Lorena, traduzia
Virgílio e Cícero, amava a irreverência de Voltaire. Serviu como oficial de
Mirabeau, lutou com Danton e Robespierre e, mais tarde, ocupou a posição de
lugar-tenente na campanha napoleônica da Lombardia, junto ao regimento
Condé.
O seu nome – Marlier ou Marliére – vem de um grande escultor,
Alerxandre-Pierre Marlier, e de Jerome Mariliére, magistrado, historiador e
poeta, nascido em Mons (1613-1681). Afrânio de Melo Franco em seu livro “O
Apostolado das Selvas Mineras” admite que Marliére haja nascido na Alsácia-
Lorena, pois dominava o alemão, como se verifica em parte de sua
correspondência. Isso vem contrariar em parte quando dissemos que ele
aprendeu a língua germânica, durante sua permanência opor quatro anos na
Alemanha.
Manteve correspondência, como homem culto, com os viajantes que
estiveram no Brasil, do porte de Spix, Martius, Barão de Eschevege, Freyreiss,
Rugendas e Barão de Sainrt-Hilaire. Manteve ainda relação epistolar com
Anton Franz, de Mueunhuweyer, na Alemanha. Mas, conforme intrigas da
época, era tido como um emigrado francês a pecha de espião a soldo de
Napoleão.
A avó do Dr. José Sérgio de Araújo Flávio Marliére, lembrando de
Guido Thomaz Marliére, embora nonagenária, perfeitamente lúcida, contou-lhe
repetidas vezes que oo desbravador era lugar-tenente de Napoleão e de sua
inteira confiança. Quando porém o corso tornou-se cônsul vitalício, a caminho
de se sagrar imperador dos Franceses, não encontrou, entre muitos outros, no
jacobino Marliére a cega obediência, daí o rompimento e a fuga.
Acrescente a veneranda senhora ter ouvido tais relatos no Quartel-
General do próprio colonizador. A fuga para o Brasil em companhia da real
família de Portugal se deu em 1808, como dissemos, devendo acrescentar que
ele se fez acompanhar de sua mulher D. Maria Vitória da Conceição
Roussennex Mariliére, dama-de-honor do Paço de D. João VI e filha e irmã de
militares franceses, servindo em Portugal (e não a militares portugueses, o que
parece menos adequado).
Como sempre acontece, em consequência de intrigas (em 1811) foi
preso em Vila Rica e levado para o Rio de Janeiro. Consta que foi recolhido à
mesma cela onde 18 anos antes estivera encarcerado Tiradentes. Não tendo
sido apurada alguma culpa, foi posto em liberdade, voltando da Vila Rica, mas
continuou nos seus livres e insensatos discursos em matéria de religião, um
dos motivos para a sua prisão anterior.
Já vimos que foi elevado ao cargo de Comandante-Geral das Divisões
Militares (Capitão Diretor Geral dos Índios), louvado pelo Imperador inúmeras
vezes pelo seu patriotismo, humanidade e diligência em suas atribuições.
O seu filho, Leopoldo Guido Marliére, como sinal de gratidão das
autoridades, teve, aos nove anos de idade, o título de alferes agregado ao
Segundo Regimento de Cavalaria da 1ª Linha do Exército, e “dispensado do
exame de Ley e do Comendo e o Hábito de Christo para poder com esse soldo

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seguir estudos”. Em outras palavras, hoje diríamos que obteve uma bolsa de
estudos, em retribuição aos serviços prestados pelo pai!
Voltando a falar sobre a morte de Guido Thomaz Marliére, diremos que
ele faleceu no dia 5 de junho de 1836, aos 67 anos de idade, em sua fazendo
Guidoval, situada à margem do caminho que ia de Ubá a Cataguases. Em sua
farda de Coronel ostentava a Medalha de Cavaleiro da Real e Militar da Ordem
de São Luis que lhe outorgara o Rei Luis XVIII, em 1824, além da comenda do
Hábito de Christo.
Foi sepultado com funerais indígenas, com grande acompanhamento,
no qual sobressaía a presença dos Índios, os seus irmãos de coração. O local
era próximo ao seu Quartel-General e aí o Governo de Minas Gerais mandou
erguer um monumento que abriga suas cinzas.
Foi dado a uma cidade mineira o nome Guidoval, em sua homenagem, e
o povo de Cataguases erigiu uma estátua em bronze. Em Ubá, a tradicional
Praça Guido Marliére é uma homenagem viva ao grande desbravador. Outras
localidades da Zona da Mata possuem praças, escolas e colégios com o seu
nome.

Autoria de Evandro Godinho e Siqueira


Publicado em Edição Especial de Coletânea de Contos, Crônicas e Poesias da
Academia Ubaense de Letras em comemoração ao Sesquicentenário de Ubá-
Minas Gerais

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Maria Eugênia: uma história real

Esta, não é, propriamente, uma “história”... Não é, também, produto da


inteligência, ou da imaginação. É na realidade, um pedido de perdão.
Há muito tempo... Aproximadamente cinqüenta anos..
Eu era, apenas, uma adolescente de dezoito anos, ura e honesta.
Terminara meu curso de Pedagogia, Administração Escolar no Instituto de
Educação em Belo Horizonte.
Sonhava com o futuro, cheia de planos, ilusões, e com aquilo que
respondesse as minhas expectativas, meus sacrifícios e, sobretudo, que
pudesse servir de delicada retribuição ao devotamento, ao imenso carinho e às
esperanças dos meus pais.
Eu começava a minha carreira. Ensaiava meus primeiros passos.
Contudo, onde? Como?
Um amigo da família, pároco de nossa formação cristã, nos
recomendava aquela pequena e modesta cidade, sua terra natal, à beira de um
imenso rio bravio.
Em uma manhã sombria, meu pai e eu descemos do noturno da Central
do Brasil. Na plataforma, contemplávamos a cidadezinha.
“É um brinco. É um brinco.” – recordávamos as palavra do padre.
Atravessamos a enorme ponte... É aqui... Chegamos.
Meu coração chorava de decepção e medo. Era o eclipse de meus
sonhos...
O pequeno hotel, velho, já rachado, mantinha-se de pé, com o auxílio
de grandes vigas de madeiras. A praça, cartão postal das cidades, oh! Meu
Deus!, sem calçamento, sem canteiros, sem flores.
Oh! meu Deus!... Apenas a majestosa Igreja me encantava. Suas
grandes torres, apontando para o céu, pareciam abrir seus braços para mim...
A comitiva que me recebera, contudo, era delicada e afável,
demonstrando uma delicada recepção.[
No dia seguinte, foi “a festa de posse”. Prefeitos e demais autoridades,
pessoas importantes e significativas, padre, professores, alunos, foguetes, e a
banda de música.
Não sei dizer como ficou meu coração. Embora pareça paradoxal, eu
sentia um certo carinho nos olhos e, também, uma evidente alegria de todos...
Teriam pena de mim? Ou, então orgulhavam-se do currículo?
Mas, - essa palavra horrível – presente em todas as curvas de,nossos
caminhos como muralhas e porteiras de nossas vidas em todos os caminhos,
existe o “Mas...
O meu chegara... Batera em minha porta... Como? Certa manhã,
lembro-me bem,eu me encontrava no grupo, meu laboratório de trabalho, na
velha sala da diretoria. Via e revia aqueles velhos livros do arquivo, tão
precioso,em ordem e bom aspecto. Neles eu buscava subsídios para meus
conhecimentos, o roteiro de meus passos, a trilha para o meu trabalho...
De repente abrindo a porta, alguém chama, gritando: - Oh! Diretora! Oh!
Diretora!
Intempestiva e abrupta, ELA entrou...

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“Negra, muito magra, muito escura, olhos esbugalhados e vermelhos,
obra da bebida que exalava... Vestido sujo e em farrapos, cheirando urina... Os
pés descalços, sujos, marcavam grande caminhada...
Senti medo!Senti pavor! E, também ela, percebeu o meu desagrado. Ela
percebia, em sua dor e desespero, toda minha repulsa. E eu não entendia
nada.
Hoje, anos depois, com o rosto escorrendo as lágrimas, eu lamento:
Oh! meu Deus! O que eu fiz? Não fui uma Diretora... Não fui uma professora...
Não fui uma mestra de crianças e jovens... Não fui uma discípula de Jesus!...
Ela continuava a gritar. A seus gritos, professoras e serviçais acorreram.
“Quero minha sala! Quero meus alunos! – gritava ela. – Sou a professora! -
continuava a gritar, mostrando velhos livros debaixo dos braços – Quero minha
sala e meus alunos, senhora Diretora.
Apavorada eu também gritava: “Tirem essas mulher daqui!... Tirem
essa mulher daqui!...
Nesse momento crítico e desagradável, uma das professoras se
aproximou e, com imensa ternura, lembro-me bem, encaminhou a intrusa para
fora. Contudo, ninguém mais tomara nenhuma atitude. Todos estavam como
que petrificados.
“Por que? Por que?” – perguntava eu, raivosa e descontrolada – Por que
ninguém tirou essa louca daqui? – continuei reclamando. – Quem é ela?
Perguntava.
Eu insistia pela resposta... Com os olhos cheios de lágrimas, uma voz
chorosa e rouca, responde-me: “Essa, senhora Diretora, é MARIA EUGÊNIA!!!
e chorava copiosamente.
Tomada de pavor, eu percebi que algo de profundo, de triste,
acontecera ali... e ensaiei uma nova pergunta: “E quem é Maria Eugênia?
Aqui começa a minha história: “Maria Eugênia, menina pobre, feia,
preta, de família desorganizada e quase mendiga, empregara-se certa vez,
num colégio de Petrópolis. Ali cresceu, ali viveu, ali sofreu, mas, também ali,
tornou-se uma normalista. A primeira normalista de sua terra e cidades
vizinhas,em toda a região”.
A voltar para a cidade de onde saíra, hoje palco desta história, chegara
entre fogos e vivas, banda de música e entre “todas as autoridades.” Todos a
saudavam, e ela sorria feliz. Inesquecível na memória de todos.
Logo após sua chegada, ela arrecadou fundos, donativos, etc., e
construiu o prédio da sua escola. A felicidade parecia ter chegado naquele
lugarejo: prédio bonito, bandeiras, carteiras, um povo feliz.
Mas – eu disse sempre essa palavra macabra – mas ela chegou,
também para a Maria Eugênia:os políticos haviam conseguido, do governador,
a nomeação da filha do deputado para substituir a Maria Eugênia... Ela não
acreditava... Ela era a única normalista!... reclamava ela.
De nada valeram os protestos do,povo. Prevaleceu o “sistema”, o
“coronelismo”, de uma civilização arcaica e corrompida.
Para efetivar a saída da professora, certo dia, a polícia arrasta, à força,
daquela escola, a indefesa Maria Eugênia.
Chorando, ela pedia, implorava, e chorando, acredite quem quiser,
chorando, ela enlouqueceu. Tresloucada, perambulando insana pelas ruas, ela
só sabia dizer “quero minha sala, meus alunos”.

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A todas as Diretoras que por ali passaram, ela repetia o seu clamor. A
mim, também, ela pediu o que esperava de mim.
_____________________
Não consigo mais escrever. Minha dor é imensa. Só posso dizer, de joelhos,
chorando: PROFESSORA MARIA EUGÊNIA, PERDOA-ME

Autoria de Enide Faria Padovani, Publicado em Edição Especial de Coletânea de


Contos, Crônicas e Poesias da Academia Ubaense de Letras em comemoração
ao Sesquicentenário de Ubá-Minas Gerais

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Mary`s Chapel, a Loja Maçônica mais antiga mundo

Quem passa em Hill Street junto à porta n.º 19, não deixa de reparar
no invulgar do seu aspecto, desde as colunas jónicas laterais até um misterioso
emblema gravado por cima da entrada, que tem sido motivo das mais
desencontradas leituras por aqueles que desconhecem estar diante da Mary´s
Chapel n.º 1 de Edimburgo, a mais antiga Loja Maçônica activa do Mundo.
Esse emblema esculpido em pedra sobre a entrada principal portando
a data 1893, nasceu de um projeto apresentado pelo Venerável Mestre Dr.
Dickson no Lyric Club em 6 de Outubro desse ano e que se destinava a ser
colocada aqui. Consiste num hexalfa dentro de um círculo tendo ao centro a
letra G resplandecente.
O hexalfa ou estrela de seis pontas com dois triângulos opostos
entrelaçados circunscrito pelo círculo, designa a Harmonia Universal, a Alma
Universal alentada pelo G raiado indicativo de Geômetra, o Grande Arquiteto
do Universo, portanto, God ou Deus, que como Espírito (triângulo vertido)
elabora a Matéria (triângulo vertido), ambos os princípios não prescindido um
do outro (triângulos entrelaçados) para que a Grande Obra do Universo (a sua
evolução e expansão incluindo todos os seres viventes dele) seja justa e
perfeita, o que se assinala no círculo. Em linguagem Maçônica, isso quer dizer
que os trabalhos de Loja possuem retidão e ordem. Em linguagem hermética
ou segundo os princípios de Hermes, o Trismegisto, significa “o que está em
cima é como o que está em baixo, e vice-versa, para a realização da Grande
Obra”.
Nesse emblema aparecem também muitas marcas em forma de runas
pictas (isto é, a dos primitivos habitantes da Escócia, os pictos, que
estabeleceram o seu próprio reino) e símbolos de graus maçônicos que vêm a
designar em cifra, correspondendo à marca Maçônica pessoal, os nomes dos
11
Oficiais da Grande Loja da Escócia e da Loja de Edimburgo nesse ano de 1893
da qual esta Loja de Mary´s Chapel faz parte como número 1. Com efeito, entre
os triângulos e o círculo aparece a sigla LEMCNºI, “Loja (de) Edimburgo Mary´s
Chapel n.º 1”, e dentro dos triângulos 12 símbolos correspondentes aos 12
Oficiais desta Loja, enquanto os 4 símbolos fora do círculo designam os 4
Oficiais da Grande Loja presentes quando se aprovou esta peça artística.
Como exemplo único evitando indiscrições, repara-se no H com o Sol Levante
por cima: é a marca pessoal de George Dickson, Venerável Mestre desta Loja
de Edimburgo em 1893.
Leva a designação atual de Loja de Edimburgo porque Mary´s
Chapel (Capela de Maria), onde a Loja funcionou originalmente, não existe
mais. Ela foi fundada e consagrada à Virgem Maria, no centro de Niddry´s
Wynd, por Elizabeth, condessa de Ross (Escócia), em 31 de Dezembro de
1504, sendo confirmada por Carta do rei James IV em 1 de Janeiro de 1505. A
capela foi demolida em 1787 para a construção de uma ponte no sul da cidade.

Esta Loja é a número 1 na lista da Grande Loja da Escócia


(estabelecida em 30 de Novembro de 1736) por lhe ser muito anterior
possuindo a ata de uma sessão Maçônica datada de 31 de Julho de 1599,
constituindo o documento maçônico mais antigo do mundo e num tempo de
transição entre a Maçonaria Operativa e a Maçonaria Especulativa, posto a
existência desta Ordem poder-se repartir por três períodos distintos: 1.º)
Maçonaria Primitiva (terminada com os colégios de artífices romanos, os
Collegia Fabrorum); 2.º) Maçonaria Operativa (terminada em 1523); Maçonaria
Especulativa (iniciada em 1717).
Por esse motivo, foi nesta Loja de Mary´s Chapel que William Shaw (c.
1550-1602), Mestre de Obra do James VI da Escócia e Vigilante Geral do
Ofício de Construtor, apresentou os seus famosos Estatutos Shaw datados de
28 de Dezembro de 1598, apercebendo-se pelo texto que ele além de
pretender regular sob sanções a Arte Real dos artífices, procurava estabelecer
uma separação entre os maçons operativos e os cowan, isto é, profanos.

12
O fato de aqui redigir-se uma acta Maçônica em 1599, pressupõe que
a Loja é anterior a esse ano e estaria organizada e ativa desde data
desconhecida. Seja como for, esta também foi a primeira Loja Maçônica antes
de 1717 a admitir membros que não fossem construtores: Sir Thomas Boswell,
Escudeiro de Auschinleck, Escócia, foi nomeado Inspetor de Loja em 1600, o
que constitui a primeira informação relativa a um elemento não profissional
recebido em Loja de Construtores Livres. Outros autores dão o nome como
John Boswell, Lord de Auschinleck, admitido como maçom aceito nesta Loja.
Este John Boswell é antecessor de James Boswell, que foi Delegado do Grão-
Mestre da Escócia entre 1776 e 1778.
As atas de 1641 desta Loja Mary´s Chapel igualmente indicam que
maçons especulativos foram iniciados nela. Nesse ano foram iniciados Robert
Moray (1609-1673), general do Exército Escocês e filósofo naturalista, Henry
Mainwaring (1587-1653), coronel do Exército Escocês, e Elias Ashmole (1617-
1692), sábio astrólogo e alquimista. Reconheceu-se aos três novos membros o
título de maçons, mas como não gozavam dos privilégios dos autênticos
obreiros, pois o cargo era somente honorário, foram denominados
como accepted masons.
Ainda sobre Robert Moray, Roger Dache, do Institut Maçonnique de
France, informa que quando da sua iniciação Moray recebeu como marca
Maçônica pessoal o pentagrama ou estrela de cinco pontas, muito comum na
tradição dos antigos construtores, com a qual se identificou bastante e a
utilizou nas assinaturas de diversos documentos. Ainda sobre Elias Ashmole,
G. Findel, na sua História da Maçonaria, diz que há uma confusão nas datas
sobre a sua iniciação Maçônica: Ashmole terá sido iniciado em 16 de Outubro
de 1646 em uma Loja de Warrington, Inglaterra, mas o fato é que o próprio
escreve no seu Diário ter sido iniciado em Edimburgo em 8 de Junho de 1641.
Em 1720, o artista italiano Giovanni Francesco Barbieri apresentou na
Loja Mary´s Chapel um trabalho lavrado em reproduzindo com muita fidelidade
a Lenda de Hiram, ou seja, o fenício Hiram Abiff que era o chefe dos
construtores do primitivo Templo de Salomão, em Jerusalém. Sabendo-se que
essa Lenda foi incorporada ao ritualismo maçônico cerca de 1725, conjectura-
se que Giovanni possa ter sido um dos maçons aceitos da época e que
a Lenda já era parte da ritualística Maçônica em Mary´s Chapeldesde muito
antes.
Há ainda o registro da visita de Jean-Theophile Désaguliers (1683-
1744) à Loja Mary´s Chapel em 1721, visita estranha do filósofo francês Vice-
Grão-Mestre (em 1723 e 1725) da recém-formada Grande Loja de Inglaterra.
Os maçons escoceses duvidaram do seu estatuto e sujeitaram-no a rigoroso
inquérito em 24 de Agosto de 1721, até finalmente acreditarem nele e
aceitarem-no com as regalias do cargo. Seja como for, não parece que as
pretensões de Désaguliers tenham obtido o êxito que procurava, talvez por
motivos de recusa de sujeição dos maçons escoceses aos maçons ingleses, o
que recambia para a antiga questão independentista.
Foram ainda iniciados nesta Loja de Edimburgo o príncipe de Gales,
depois rei Eduardo VII (1841-1910), e o rei Eduardo VIII (1894-1972), que
abdicaria do trono britânico para poder casar com a americana Bessie Wallis
Warfield. A caneta com que assinaram o documento da sua iniciação é
conservada no museu desta Loja, que o visitante pode ver entre outros objetos
relacionados com a longa história dos maçons de Mary´s Chapel.

13
Aqui fica, em síntese simplificada para o leitor não familiarizado com
estes assuntos, a história da Lodge of Edinburgh n.º 1 (Mary´s Chapel), aliás,
desconhecida de muitos maçons apesar de ser a mais antiga da Escócia e do
Mundo.
Trabalho do Irmão Vitor Manoel Adrião
Fonte: Lusophia

14
Porque minha mãe que me matar – relato de ex-muçulmana na Europa

Quando eu tinha 18 anos, meus pais ameaçaram me matar. E eles


realmente iam fazer isso. Se eles tivessem tido oportunidade, eu
provavelmente estaria morta hoje.
O problema começou quando eu tinha 15 anos. Naquela época, minha
família estava vivendo em Linz (Austria), a uma grande distância de nosso
Paquistão, onde eu havia nascido numa vila rural na sombra das montanhas
Kashmir. Eu amava as liberdades da minha nova vida na Europa – as
camisetas, os batons e delineadores. Meus pais conservadores não gostavam.
Nós tivemos uma briga sobre aula de natação e teatro, coisas que meu
pai dizia que era para prostitutas. Os absorventes internos também eram um
tabu – minha mãe pensava que eles iriam arruinar minha virgindade
Quando minha mãe achou meu diário um dia e descobriu que eu tinha
beijado um rapaz no estacionamento depois da escola, ela agarrou pela
bochecha, empurrou-me contra uma parede e chutou minhas pernas,
chamando-me prostituta. Quando ela mesma tinha a minha idade, ela estava
comprometida em um casamento arranjado.
Eu discordava. Então entrei em um conflito com minha mãe que durou três
anos.
Em famílias como a minha, enraizadas em tradições tribais, o c
asamento é o destino de uma filha. E os pais nem sempre são os que primeiro
enfatizam- às vezes é a mãe. Isso é muito pior, na minha opinião. Quando você

15
se torna uma mulher jovem e madura e sua mãe ainda bate em você, é muito
traumático. Você fica sem apoio.
Minha mãe começou a vigiar cada passo meu. Um dia, quando ela
encontrou uma camiseta que ela achou muito pequena, ela me deu um tapa
bem forte no rosto, cortando meu lábio. Ainda assim, eu me recusava a me
submeter. Eu não queria me anular em um casamento forçado. Eu queria
minha liberdade. Para meus pais, minha rebelião era uma fonte de grande
vergonha. Eles se sentiam envergonhados diante dos outros paquistaneses na
Áustria. Eles se tornaram mais determinados a me casar e restaurar a “honra”
da família.
Quando eu tinha 16 anos, minha família visitou o Paquistão. Eu me
lembro de sair para caminhar com uma roupa que considerei bem modesta-
uma calça larga e uma blusa. Outros viram aquilo de maneira diferente. Uma
multidão de homens se formou, vaiando e assoviando. Naquele dia minha mãe
me bateu outra vez, numa sala cheia de parentes.
E daí ela bateu em si mesma. Eu sabia que havia paquistaneses que se
flagelavam quando sofriam, mas nunca esperei que minha própria mãe fosse
fazer isso. Eu a vi bater em si mesma repetidamente no peito com uma vara,
dizendo: “eu dei a luz a uma prostituta!”
Meus pais me mandaram para uma escola islâmica, ou madraça, em
Lahore, para que eu “me educasse”, como minha mãe dizia. Eu fiquei em um
quarto com 30 outras meninas – não havia cadeiras, camas, ventiladores.
Naquele quarto não fazíamos outra coisa a não ser estudar o Alcorão, rezar, e
ouvir palestras do mulá sobre o profeta, que falava atrás de uma cortina. Se
uma menina falasse, ela seria publicamente jogada nos fundos do alojamento.
Moscas e vermes habitavam o banheiro. Não havia papel higiênico, apenas
toalhas com manchas de sangue. O sanitário era um buraco no solo.
Depois de três meses, eu parei de comer e fui expulsa. Acabei
concordando em me casar com um homem que minha família tinha escolhido,
de modo que pudesse voltar a Áustria durante o noivado. Mais tarde, quando
os meus pais perceberam que eu não ia levar o casamento adiante, meu pai
disse: “a honra dessa família é mais importante do que a minha vida ou a sua”.
Aquilo era uma ameaça direta a minha vida. Parece extremo, mas
acontece. De acordo com as Nações Unidas, 5,000 mulheres e meninas são
assassinadas a cada ano por “desonra” a família por agir de modo
desobediente e imodesto.
Eu fugi, sobrevivendo por dormir em um abrigo num café local em Linz.
Meus pais me incomodavam em ambos os lugares, aparecendo lá e me
mandando casar. Todos os dias eles apareciam, parecendo demônios
possuídos, até que eu perdi meu emprego. Eu tinha 18 anos.
Escapei para Viena com a ajuda de amigos. Lá eu comecei uma nova
vida, mudando o meu nome e me convertendo ao catolicismo. Eu escrevi um
livro sobre minha experiência, e minha família me processou por difamação. O
juiz sentenciou em meu favor.
Hoje eu estou tentando quebrar a tradição do “case ou morra”. Eu dirijo
uma fundação chamada Sabatina, na Alemanha, onde vivo. Meu grupo atua
como um trilho subterrâneo, ajudando as mulheres a escaparem de suas
famílias, e a encontrar emprego e abrigo.
Raramente saio sozinha. Sempre fico a pensar se alguém está me
espionando por aí. Eu amo minha liberdade, mas paguei um preço bem alto.

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Observação: Como maçom que sou , defensor da Liberdade e da Igualdade, e ferrenho
apologista da Fraternidade, abomino esta insana crueldade com os nossos irmãos indefesos e
culturalmente impossibilitados de reações isoladas como essa que estamos presenciando.
Que Alá os proteja...

NEWSWEEK
Texto de Sabatina James
Tradução khadija kafir

17
Os ensinamentos maçônicos

Os ensinamentos maçônicos devem ser amplamente difundidos entre


todos os Maçons e sua metodologia deve ser explicada previamente aos que
pretendem ingressar na Ordem Maçônica. Os Mestres deverão estar
preparados para a missão devendo expô-la quando da visita de avaliação
prévia do pretendente.
Esta informação possibilitará ao pretendente saber antecipadamente o
que a Ordem poderá lhe oferecer, possibilitando-lhe analisar se realmente a
metodologia e o direcionamento dos ensinamentos maçônicos são os que
buscam para a sua evolução pessoal. O pretendente ao ingresso na Ordem
deve estar convicto de que vai participar de uma sociedade voltada ao
aprimoramento individual e que os demais participantes tem a mesma
preocupação, o que não os inibe, ao contrário, prepara-os às atividades
coletivas.
O desconhecimento desse fundamental objetivo dos ensinamentos
maçônicos poderá levar o pretendente, após o seu ingresso, ao defrontar-se
com posturas pessoais discordantes das suas ou desiludir-se com o que
pensou ser a Ordem, desligar-se intempestivamente.
Os ensinamentos maçônicos devem ser transmitidos com a constância
e repetições necessárias para o seu perfeito entendimento.
Características dos ensinamentos maçônicos:
– Exclusivamente individual;
– Repetitivo e paulatino; mostra o caminho, mas não exige a caminhada.
– O maçom é um voluntário;
Os ensinamentos maçônicos devem ser constantes, paulatinos e
repetitivos para que sejam sempre oferecidos aos recém-admitidos. Os maçons
de antigamente não eram letrados e os procedimentos litúrgicos eram
memorizados. As funções dos administradores e dos auxiliares eram sempre
repetidas no inicio de cada reunião para conhecimento de todos e para a sua
preservação. Com o advento dos rituais escritos, este procedimento passou a
fazer parte integrante das reuniões, o que perdura até os dias de hoje.
Os ensinamentos maçônicos também estão fundamentados nas
práticas cristãs, mas não tem a mesma metodologia de ensino adotado pelas
associações cristãs de evangelização. Os ensinamentos maçônicos são
voltados ao indivíduo, oferecendo a cada um a oportunidade de evolução
pessoal.
As associações religiosas evangelizadoras procuram maximizar as suas
atividades, priorizando a divulgação dos seus ensinamentos através das
pregações em massa. São metodologias de características diferentes e, se não
entendidas cada uma no seu contexto, podem tornar-se conflitantes no íntimo
de cada estudioso, mesmo ambas tendo o mesmo objetivo: a felicidade do
homem.
Evangelização é a pregação do Cristão (a mensagem cristã) e, por
extensão, qualquer forma de pregação e proselitismo, com fins de adquirir
adeptos, produzir conversão ou mudanças de hábitos, crenças e valores. No
cristianismo, a evangelização é o sistema, baseado em princípios e métodos

18
apresentados no Novo Testamento, pelo qual se comunica o Evangelho (Boa
Nova) Cristo a (todo) pecador sob a liderança e poder Espírito Santo. Afirma o
apóstolo Paulo: “Como crerão em Jesus se ninguém lhes anuncia?” (Rom.
10,14). Está em Atos dos Apóstolos, capítulo 14 14:21: “Depois de pregar a
Boa Nova ali, e de fazer muitos discípulos, eles voltaram a…”
O processo de evangelização cristã sempre teve como foco “o outro”.
Os costumes, a moral e os valores sociais da sociedade ocidental atual são
decorrentes dessa forma de pregação. No ocidente, quase a totalidade dos
jovens tiveram a sua formação com base na metodologia evangélica das
pregações nas escolas paroquiais levando-os a analisar todos os
acontecimentos dentro dessa metodologia, onde se avalia o que pode ser
corrigido na atitude dos outros antes de avaliar o que pode ser corrigido em si.
Assim formados desde a infância, não raro passam a avaliar mais como
os outros estão agindo do que a suas próprias ações. Na análise de suas
convicções e interesses, surgem julgamentos e conselhos para corrigir as
atitudes dos outros, conselhos que nem sempre são seguidos por quem
aconselha. Na máxima cristã “Ama o próximo como a ti mesmo” não está
implícito que o “próximo” tenha que ser “como ti” para ser amado.
A fraternidade, o principal ensinamento do Mestre Jesus, resumida na
máxima: “Amai-vos uns aos outros”, nem sempre é priorizada nas atitudes. Por
formação filosófica, a sociedade ocidental é mais preocupada em oferecer aos
outros a oportunidade de corrigir-se do que em corrigir a si própria.
A evangelização e os ensinamentos maçônicos não são conflitantes. A
metodologia dos ensinamentos maçônicos é voltada ao aperfeiçoamento do
indivíduo, trazendo a tona as suas qualidades latentes e aumentando a sua
autoestima, tornando-o consciente da sua capacidade de amar o “próximo”
como o “próximo é” e de, pela evangelização, levar-lhe a crença cristã.
O conteúdo dos ensinamentos maçônicos permite-nos afirmar que a
Maçonaria é uma escola de aperfeiçoamento exclusivamente individual. Este é
o principal fundamento dos ensinamentos maçônicos.
No Grau de Aprendiz, que é o primeiro contato da Ordem com o recém-
admitido, é apresentada toda a essência dos ensinamentos maçônicos. Todos
os autores maçônicos referem-se ao simbolismo da “pedra bruta” que deve ser
desbastada e preparada para sua utilização na construção de uma sociedade
mais justa, mais igualitária e mais fraterna. É comum ouvir do Maçom a
expressão: “Estou trabalhando a minha “pedra bruta”, quando se refere aos
seus estudos e práticas maçônicas. Dito dessa forma poderá dar margem ao
entendimento de tratar-se de dois personagens distintos; o Aprendiz e a “pedra
bruta”. Este entendimento é divergente do ensinamento maçônico, pois o
Aprendiz é a “pedra bruta”. O Aprendiz é o objeto a ser desbastado.
A direção que se deve dar ao cinzel é a si.
Em nenhum momento, nos rituais maçônicos, há indicação que o cinzel
deva ser voltado aos outros. Em si as pancadas no cinzel são dadas de acordo
a sua sensibilidade; se nos outros, o agente não colocará no maço o mesmo
peso que coloca quando desbasta a si mesmo, certamente seria mais pesado.
Não é atitude maçônica direcionar o cinzel para corrigir imperfeições alheias.
Para a Maçonaria são escolhidos os “bons” nas mais diversas atividades
humanas oferecendo-lhes a oportunidade de tornarem-se “melhores”

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Há diferença entre o aprendiz de pedreiro (maçom) operativo (que
trabalhava nas atividades de construção) e o Aprendiz Maçom. Este não tem
necessariamente atividade nas construções. A representação do aprendiz de
pedreiro operativo é um jovem trabalhando para desbastar uma pedra bruta.
Já, as esculturas e os desenhos clássicos representando um aprendiz das
escolas de mistérios sempre mostram a figura de um homem esculpindo a si
mesmo.
O Aprendiz Maçom, para esculpir a escultura do homem que deseja
ser, terá que utilizar a matéria prima que recebeu por desígnio da Providência,
potencializar os recursos disponíveis na Natureza e trabalhar com a Vontade
representada pelo “maço e o cinzel” utilizados para aparar a arestas que
escondem no interior de seu ser o homem perfeito ali contido.
Na Maçonaria, esta confusão entre o aprendiz operativo e o aprendiz
admitido por processo de Iniciação pode ser observada em trechos das
cerimônias de recepção do candidato. Em alguns rituais maçônicos, o Iniciando
à Ordem, ao ser levado para executar a sua primeira lição no desbaste da
“pedra bruta”, é orientado para dirigir corte do cinzel à pedra disforme que faz
parte da decoração templo, em vez de direcioná-lo a si.
Este procedimento poderá induzi-lo, desde o seu primeiro aprendizado,
a intuir que seu trabalho é desbastar o que vê a sua frente (o outro) e não o
que está em si. Tendo a pedra bruta do templo como uma representação
simbólica de seu estado naquele momento, o Iniciando deveria direcionar o
cinzel sobre si e então trabalhar com o maço. A pedra bruta que se encontra na
decoração do templo, bem como a pedra polida e prancheta, são as joias fixas
que devem estar presentes para o funcionamento da Loja.
Um Maçom é um Obreiro da Arte Real que está concluindo a Obra
projetada pelo Grande Arquiteto do Universo, que é Deus. Essa obra é “ele”.
Trata-se de uma transformação individual, resultado do seu esforço e da sua
vontade pessoal. Esta obra só estará concluída quando ele transformar-se de
“pedra bruta” em “pedra polida” e como tal for reconhecido pelos “outros” (os
Irmãos, a sociedade, etc..). Não é ele que se avalia como pronto. São os outros
que como tal o avaliam.
As ferramentas simbólicas maçônicas são instrumentos de uso
específico para o desenvolvimento pessoal. Dependendo de como cada
Obreiro preparou-se e de acordo com o seu ajuste às necessidades dos
projetos da comunidade, será reconhecido pelos outros como adequado àquele
projeto. São os outros que avaliarão se a “pedra” poderá ser utilizada ou não
nas obras a serem realizadas.
A “pedra” só estará pronta quando não houver necessidade do mínimo
ajuste nas pedras vizinhas para o seu perfeito ajuste.
Se houver necessidade de interferir no polimento e características das
outras contíguas para o seu ajuste, ela não está pronta. Permanecerá ao lado
até que o trabalho de escultura seja refeito de modo que se ajuste às outras
pedras, sem que estas precisem de reparos. Se o desbaste está incompleto, é
apenas uma pedra no meio do caminho dos que precisarão fazer manobras
para evitar que as suas asperezas e seus desajustes possam ameaçar o
resultado da obra desejada.
A “pedra” ainda bruta certamente ficara em um canto qualquer da
sociedade, causando-lhe instabilidade e desarmonia.

20
O maçom não propõe que os outros mudem para que ele seja feliz,
procura mudar o possível em si para que todos sejam felizes. Esta é a essência
do ensinamento maçônico.
Está subentendido nos ensinamentos maçônicos a máxima: “O que eu
devo mudar em mim para que ele (o próximo) seja feliz”, independente de se o
outro é bom ou mau; réu ou julgador. Ser viciado ou virtuoso é uma escolha
pessoal de cada um, que ao Maçom não compete julgar ou tomar atitudes para
obrigá-lo a proceder de acordo com os valores, sempre pessoais, que crê
serem os corretos. Pela lei da “causa e efeito” cada um é responsável por suas
ações e pensamentos.
Maçonicamente cada um é responsável pessoal e único pela sua
evolução. Os ensinamentos maçônicos oferecerão a oportunidade de correção.
Quando concluída será reconhecida como tal pelos outros. Nesta idéia está
embutido o conceito de amor universal. O amor fraterno dará aos seus Irmãos
maçons a tolerância para aceitarem as tentativas de uma “pedra” ainda bruta
para ajustar-se à obra, orientando-a se assim ela desejar, para o seu perfeito
desbaste e ajuste. Se as imperfeições permanecerem, a “pedra” não será
utilizada, mas sempre lhe será fraternalmente oferecida nova oportunidade de
reajuste.
A não ser quando em cumprimento de atividade e funções
especificamente instituídas na legislação da Ordem ou da comunidade que
pertence, o Maçom não julga e não critica posturas pessoais de outrem. Se
solicitado, fará ponderações sobre o solicitante, jamais sobre terceiros. Não é
uma atitude maçônica interferir na postura pessoal dos outros, achando que
estes devem ou não fazer isto ou aquilo. A cada um cabe reconhecer os que
estão em condições de compartilhar projetos comuns e convidá-los.
O Maçom deve formar-se para depois colocar-se ao serviço da
comunidade. Aprender e praticar. O desconhecimento dos ensinamentos
maçônicos dificulta o relacionamento dos maçons entre si e dos maçons com a
Ordem. Quanto menor é o preparo individual, maior será a dificuldade na
participação das atividades da Ordem e mesmo fora dela.
Cada Maçom tem a sua individualidade respeitada: sua cultura, seus
pontos de vista políticos, suas convicções religiosas e suas características
psíquicas. Todo maçom é um homem livre, ciente da capacidade de
realizações, um cidadão bem sucedido e respeitado por suas atividades
profissionais e sociais que o levam a ser convidado a ingressar na Ordem.
O maçom é um voluntário.
Não é obrigado a fazer qualquer coisa que seja. Ingressou na Ordem
por livre vontade e com isso assumiu uma responsabilidade financeira como
em qualquer organização, sendo livre para sair a qualquer momento; até que
caracterize abandono, frequenta a Loja com a assiduidade que deseja; estuda
se quiser; atinge os graus mais elevados se assim o desejar; ocupa cargos que
aceitou por que quis: é eleito por que se candidatou; pode mudar de Loja se
assim julgar conveniente; nem as contribuições para benemerência são
obrigatórias se não aprovadas em assembléias de que participa.
Centralizados no aperfeiçoamento individual, os ensinamentos
maçônicos preparam o estudante para o convívio entre diferentes num conjunto

21
harmônico; prepara para a tolerância com os contrários; para o respeito pelas
convicções individuais e para a convivência entre atitudes divergentes.
Desbastado de suas imperfeições, o Maçom está pronto para servir à
sua comunidade, oferecendo-se quando solicitado ou apresentando sugestões
para as mudanças que julgar necessárias para o bem estar e a harmonia da
Ordem e ou da comunidade. Como sugestões são opiniões pessoais devem
ser tratadas como tal. Se traduzirem as aspirações dos envolvidos, a
concretização terá o consenso espontâneo da maioria dos indivíduos e aquele
que a propôs certamente será convocado para liderar a sua implantação.
Não é fácil o comando onde os comandados são voluntários e não há
recompensa financeira pelo trabalho realizado. O sucesso da empreitada está
associado à capacidade de conseguir motivar a maioria para acompanhá-lo.
Para a administração de uma sociedade constituída por voluntários há
necessidade de lideranças que aglutinem as ansiedades e administrem as
diversidades individuais, dirigindo suas energias ao trabalho comum.
A principal característica do líder de voluntários é fazer o que o grupo
quer. Nas sociedades constituídas por voluntários, são os operosos que a
fazem atingir os seus objetivos. São raros os casos das organizações que
conseguem uma participação efetiva da maioria de seus membros. Geralmente
os resultados obtidos são decorrentes de atividades isoladas de membros
dedicados. São sempre os mesmos que participam de quase todas as
atividades. A comunidade está habituada a conviver e a reconhecer a
dedicação daqueles que sempre participam.
É próprio da tradição maçônica o reconhecimento pelos Irmãos. Este é
o salário do Obreiro da Arte Real: o reconhecimento. Não há outro salário na
Maçonaria. Para o Maçom é gratificante a satisfação da missão cumprida e de
ser reconhecido por isso.
Cada um dos Membros reconhece o novo integrante que ingressa na
ordem. A Ordem reconhece o trabalho do Maçom que por isso, quando chega
a Mestre, recebe um diploma e uma medalha. Não foi sem méritos. O novo
Mestre pode não ter tido uma brilhante história, mas atingiu o que desejava.
Todos os Maçons sabem quais os que se dedicam e frequentemente os
elogiam. É o reconhecimento dos membros de suas Lojas ou de outras a que
serviu. Esta é a recompensa que o Obreiro leva de retorno ao seu lar, com uma
alegria nem sempre entendida e participada pelos seus familiares.
Quando o trabalho do Maçom extrapola os limites da sua Loja é
reconhecido pelos Grandes Orientes com a concessão de diploma ou medalha,
como se, na entrega, em nome de todos seus membros aquele Grande Oriente
afirmasse: “Como um Maçom operoso os Maçons deste Grande Oriente o
reconhecem”.
É próprio do ser humano desejar ser reconhecido pelos seus feitos. O
clube social reconhece seu membro pelos muitos anos de apoio e trabalho com
a entrega do diploma de Sócio Emérito; o Poder Municipal, em nome de todos
os munícipes que o reconhecem como um cidadão participante e premia-o com
a entrega do Diploma de Cidadania. Em cada diploma, medalha ou troféu
maçônicos recebidos está presente a máxima maçônica: “o reconhecimento de
meus Irmãos”.
A falta de divulgação dos feitos que justificassem a homenagem pode
gerar uma interpretação duvidosa sobre o seu merecimento. Não há casos da
entrega de diploma e medalhas aos que nada fazem. A Maçonaria é uma

22
sociedade justa cuja assembléia é sábia. Os maçons homenageados devem
ostentar com altivez as suas medalhas para que os Aprendizes, os
Companheiros e os novos Mestres o tenham como exemplo, solicitando-lhe
contar a história do conjunto de suas obras, que somado as de outros Maçons
“medalhados”, constituem a historia da Maçonaria.
A Maçonaria é o conjunto das ações de seus membros. É o somatório
do que cada um dos seus membros é sem representá-los individualmente. Os
Maçons que receberam distinções e homenagens compreenderam o
verdadeiro significado dos ensinamentos maçônicos e aplicaram-nos e por isso
foram reconhecidos como tal. Há aqueles que criticam os que ostentam nas
Lojas as suas muitas medalhas afirmando ironicamente: “eles andam arcados
com o peso das medalhas”. Mas, vejamos: os condecorados por seu trabalho
voluntário e dedicado têm como alternativa ostentar ou não as medalhas por
merecido recebidas.
O pretendente a maçom é conhecido antes de ser convidado a
participar da Ordem. A sua admissão é o reconhecimento pelos membros, da
sua postura moral, da sua vontade de aperfeiçoamento pessoal e da sua
capacidade econômica e financeira para sobreviver. Um conhecido jargão
afirma: “Para a Maçonaria são escolhidos os “bons” nas mais diversas
atividades humanas oferecendo-lhes a oportunidade de tornarem-se
“melhores”.
Ao Companheiro Maçom, conhecedor de todas as ferramentas
simbólicas, compete usá-las para construir. Nos rituais maçônicos não há
indicação de que as ferramentas simbólicas devam ser utilizadas para destruir.
Se um projeto não atende aspiração pessoal de algum Membro, não quer dizer
que não deva ser executado. Se há quem queira realizá-lo e que encontra
quem queira auxiliá-lo, certamente o projeto atenderá aspirações de seus
executantes. Neste caso, quem não concorda com o projeto, não deve
atrapalhar ou impedir a sua execução, respeitando a diversidade e a
individualidade das opiniões.
Compete à assembléia da Loja a decisão final dos assuntos
conflitantes, geralmente resolvidos com justiça, dentro da maior harmonia
possível, O Mestre é o conhecedor dos ensinamentos maçônicos e está apto a
ensiná-los. O Mestre é o Companheiro que recebeu um diploma de professor,
sendo-lhe transmitidas as Lendas Maçônicas que, como parábolas, serão o
instrumento didático adotado para a difusão dos ensinamentos.
A máxima de São Francisco de Assis “é dando que se recebe”
representa a essência da responsabilidade do Mestre. O ensinamento
esotérico contido nesta máxima refere-se à Dualidade. Tudo o que entra
deverá sair para abrir espaço para novas entradas.
A capacidade de aprender é aumentada quando é ensinado o que se
sabe. Só é “retido” o que é “doado”. O conhecimento fixa-se quando é
ensinado. Tudo o que se lê nem sempre é retido na memória, mas uma vez
ensinado, jamais será esquecido. Patrick Byrne, em seu livro “O Ouro dos
Templários” (Editorial Estampa – Lisboa-2007-pg. 257), cita o ditado que capta
a essência do conceito cabalístico: “Quando alguém se deixa penetrar pela luz,
mas não a liberta, cria-se uma sombra”.
Recebendo sem distinções os intelectuais, cientistas, religiosos, livres
pensadores, inventores e operários, jovens e idosos, para um convívio comum,
a Maçonaria tornou-se a depositária de todo conhecimento científico e oculto

23
produzido pelas civilizações em todos os tempos. Instituição de caráter
universal, seu Quadro é composto por profissionais de todas as áreas da
atividade humana, que colocam os seus conhecimentos à disposição da
Humanidade. Esse conhecimento pode ser encontrado nas atividades das
Lojas, seja apresentado individualmente por seus membros ou contido no
simbolismo e alegorias de seus Graus e Ordens. Compete ao maçom
desvendá-los e praticá-los em benefício de sua evolução pessoal e da
Humanidade.
Autoria do: Irmão Edison Barsanti, 33º • MI∴ - GOB.

24
Os diferentes tipos de Maçons

Lamentamos profundamente é que o “mundo exterior” não reflita a Maçonaria.A


Humanidade seria mais justa e feliz.Como se constata não há diferenças entre
os de profanos e os possíveis tipos de Maçons. E por que deveria haver?

Como em todas as Organizações, podemos afirmar que também na


Maçonaria não somos todos iguais. Existem, informalmente, diversos tipos de
maçons que se caracterizam pelos seus comportamentos. De conformidade
com as suas maneiras de se comportarem em relação à Instituição, o vamos
evidenciar.

A massa é a mesma, portanto a Maçonaria só pode refletir o mundo


exterior, desejavelmente para muito melhor. A imagem propagada no país e no
mundo, é que o maçom é uma pessoa grave e gestos solenes, conversa,
transcendental e meio maligno. Velinhos de terno e gravata, sérios incapazes
de fazer alguma coisa.

Um tópico pouco freqüente de se encontrar na Literatura Maçônica o


constitui, que o acompanha não só nos alegres Ágapes da Ordem, mas
também nas cerimônias solenes que inesperadamente se vem assaltadas por
uma anotação jocosa.

Alguns maçons praticam todas as formas de arte, desde o inocente


comentário festivo, até o vicioso e cruel humor negro, passando pelo fino e
duplo sentido e humor irreverente, para não mencionar o temido sarcasmo.
Tudo é comemorado com boa disposição de animo e dentro de um arraigado
espírito de tolerância e fraternidade.
25
O paradoxo do caso, é que os Maçons, com todo o formal pelo que se
lhes toma, e imersos em uma associação que conta com uma grande
quantidade de solenidades, são capazes de fazer o seu trabalho a sério,
enquanto vê o lado mais frívolo, permanentemente brincando sobre si, ou
sobre o que estão fazendo.

Parece que fosse uma questão simples. Não entanto, não é. Na


Maçonaria não segue tendências, e isso acontece algo de semelhante no que
diz respeito às anedotas provenientes de distantes contextos culturais. O que
divide os Maçons tem muito mais a ver com os graves problemas dia-a-dia.

Qualquer dúvida de que os maçons estão muito criativos. As definições


são reais, cujos personagens continuam na Ordem.

Esta é uma pequena lista de definições de Maçons, anotando que em


alguma dessas devemos estar incluídos:

O SUPER MAÇOM - Este é o que conhecemos, geralmente, como um


figurão. Como sempre, amável e educado. Na vida profana ocupa posições de
relevo; talvez por isso não tenha tempo nem se sinta obrigado a freqüentar os
nossos trabalhos. A Tesouraria quase sempre está em dificuldades com ele;
entretanto, sempre tem os seus defensores devido à posição de destaque que
ocupa no mundo profano.

O MAÇOM SATÉLITE - Também não é amigo da freqüência, mas é


prestimoso, amável, contribui sempre e generosamente quando solicitado. Não
emite opiniões, não vive a vida da Loja, não procura criar casos. Embora prime
pela ausência, os Responsáveis nunca estão dispostas a enquadrá-lo porque
no fim das contas é um bom sujeito, sempre disposto a colaborar, sempre
pronto a ajudar um Irmão.

O MAÇOM ENCOSTO - Também conhecido como irmão coitado, é


carinhoso, chegado, gosta de se fazer de vítima, para ter apoio ou conseguir
favores, que às vezes nem necessitaria realmente, aluga a Loja, mas na hora
em que se precisa do retorno, ainda não retornou.

O MAÇOM ‘NÃO SEI PORQUE’ - ‘Não sei porque ele ainda é maçom;
nem você, e talvez nem ele saiba’. Não comparece; não colabora; dá trabalho
ao Tesoureiro; critica o que se faz e o que deixou de ser feito; ninguém sabe
por que ele entrou e como conseguiu galgar os diversos graus; porque ali
permanece e porque demoram em eliminá-lo.

O MAÇOM ‘PASTOR’ - É aquele que se acha a última reencarnação de


Crística, quando começa a falar não pára mais, deveria fundar uma seita e não
pertencer a Maçonaria; não aceita contradições, ‘conhece tudo’, ‘sabe tudo’ ou
já ‘viveu isso’, quer que os irmãos pensem que existem duas maçonarias, antes
e depois de sua iniciação, fala pelos cotovelos e não diz nada, poderia ser
chamado de Maçom Enche Saco!

26
O MAÇOM DA SEGUNDA-FEIRA - Também poderia ser chamado de
Maçom “Standar”. Comparece pontualmente a todas as reuniões. Maçonaria
para ele se resume nisso: fica no seu lugar, não quer encargos, comissões,
enfim não quer trabalhar. Não apresenta propostas; não entra em debates,
discussões; nunca apresenta trabalho de cunho maçônico. Participa das
votações porque é obrigado. O único serviço que presta à Loja é ser pontual
com a tesouraria e dar boa referência às reuniões.

O MAÇOM CIFRÃO - Também conhecido como Maçom Comercial, é


aquele que está na Maçonaria apenas para vender o seu peixe, os irmãos não
passam de clientes, comparece pontualmente a tesouraria para mostrar que
está bem, não conhece nada de maçonaria, não lê nada, não faz nada que não
venha a render alguma medalha cunhada.

O MAÇOM BUFÃO - É aquele que não leva ninguém a sério, muito


menos a Maçonaria, é alegre, de conhecimento profundo, só piadas, seria um
excelente irmão se vivêssemos apenas de ágapes.

O MAÇOM DONO DA BOLA - Donos da Loja ou Cardeais. Onde


antiguidade e cargo. Geralmente ocupam cargos temporariamente ou ex-
veneráveis forçados, não conseguem deixar o cargo e não larga o pé do atual
Venerável Mestre, e quando possível fazem questão de dizer que na sua
gestão era assim ou assado. Melhores que eles para dirigirem a Loja, ninguém.
Acham-se donos da Loja, não admitem que se faça nada sem sua autorização
ou consulta, e se isso acontecer, ficam contra o projeto. Irmãos de verdade
para eles, somente aqueles que os apóiam.

O MAÇOM P.’.A.’.D.’.U.’. - Por ser intempestivo, arrogante, vaidoso e


com um ego hipertrofiado, ao ponto de não reconhecer seus próprios erros.
Este com toda sua soberbia se acha: O Poderoso Arquiteto Do Universo.

O MAÇOM COMUM - São a maioria, é aquele Maçom que comparece,


ajuda, estuda, realiza na vida profana e familiar, esta sempre a disposição
quando solicitado, não se envolve em confusões, nem as cria, é o verdadeiro
obreiro, um ótimo espelho para os outros.

O MAÇOM DEDICADO - Finalmente o Maçom com ‘M’ maiúsculo, sem


subtítulos. Comparece às reuniões, vive os problemas da Loja, procura
trabalho. Não rejeita encargos nem tarefas, aponta erros, aplaude êxitos.
Assume responsabilidades, faz filantropia, sem segundas intenções. Não
procura impor as suas opiniões. Muitas vezes se aborrece se desilude, mas, na
próxima sessão, lá está de novo incansável.‘ É o que carrega a Loja às costas’.
Procura estudar os rituais, o simbolismo, a filosofia maçônica. Não vive para
exaltar os seus feitos para chamar atenção, nem a criticar os outros. O que
seria da Loja e da Maçonaria se não existisse esta consciência?

Mais uma listinha de definições de Maçons, em alguma dessas devemos estar


incluídos:

27
28
Voltaire
Filósofo francês

Voltaire (1694-1778) foi um filósofo francês, grande representante do


movimento iluminista na França, juntamente com Rousseau e Montesquieu.

François Marie Arouet era seu nome de batismo. Veio de uma família
burguesa e adquiriu sólidos estudos com os jesuítas no colégio de Clermont.

Voltaire também escreveu poemas, o que lhe causou muitos


problemas por conta do teor irônico de seus escritos contra os governantes,
sendo preso na bastilha durante um ano. Quando libertado, foi para a
Inglaterra, onde conheceu poetas como Pope e Young, e tomou contato com
as ideias sobre a liberdade política inglesa.Dessa experiência resultou o livro
“Cartas Filosóficas”(1734), publicado na França e Inglaterra.

Voltaire teve muitas amantes, entre elas, a marquesa de Chatelet,


Emile de Bretiul, que pode ter-lhe inspirado a escrever algumas novelas
irônicas como "O Filho Pródigo"O Mundano" e ”Cândido", essa última, uma
crítica aos seus opositores. Entre as tragédias, destaca-se “Tancredo”(1760);
dos contos filosóficos, importante é “O ingênuo” (1767), no qual tratava dos
abusos políticos; No “Tratado Sobre a Tolerância" (1763) discorreu elogios
sobre a razão.

Voltaire era grande defensor do progresso tecnológico e da ciência.


Criticava veementemente a aristocracia, a Igreja Católica e os dogmas
religiosos. Porém, arrependeu-se no fim da vida, escrevendo um artigo na
revista francesa Correpondance Littérairer, Philosophique et Critique, onde
retomava à fé cristã.

Morreu em 1778, no mesmo ano em que foi iniciado Maçom.

29
Hervê Cordovil

A Maçonaria, contou com vários cantores e compositores famosos


como irmãos maçons, dentre eles: O Rei do Baião (Luiz Gonzaga),
Pixinguinha, a dupla Alvarenga e Ranchinho (Homero de Souza Campos),
Tonico da dupla Tonico e Tinoco, o recentemente falecido Bob Nelson, Jorge
Veiga, Lamartine Babo, Luis Vieira, Hervé Cordovil, Carequinha, Vicente
Celestino, os Maestros Carlos Gomes, Guerra Peixe e Eleazar de Carvalho e o
violonista Raphael Rabello, dentre outros.

Zé Rodrix, outro Maçom famoso, talvez tenha sido o mais dedicado e


estudioso sobre o tema, chegou a escrever pelo menos três livros sobre
assuntos da maçonaria

Hervé Cordovil

Viçosa, 3 de fevereiro de 1914 — São Paulo, 16 de julho de 1979, foi


um compositor, pianista e maestro brasileiro.

Cordovil era o nome de seu pai, o médico Cordovil Pinto Coelho, que
resolveu transformar seu prenome em sobrenome ao batizar o filho Hervê,
nascido em 3 de fevereiro de 1914, na mineira cidade de Viçosa. Da mãe,
Maria de Lucca Pinto Coelho, musicista amadora, herdou o talento musical que
faria dele um dos maiores nomes da história da música popular brasileira.

Filho de classe média alta – seu pai era médico de Artur Bernardes,
futuro presidente da República -, Hervê saiu cedo de Viçosa, passou por
Manhuaçu e por volta dos 10 anos de idade foi estudar no Rio de Janeiro. No
Colégio Militar concluindo o curso em 1931, já estava envolvido com música.

Integrou a banda de música do colégio e formando um grupo de jazz


com colegas, enquanto se aperfeiçoava no estudo de piano. E se apresentava
em casas de oficiais e em bailes promovidos pelo próprio colégio.

Passou a ter aulas com Romeu Malta, maestro da banda do colégio.


Descobre então que sabe compor e cria uma serie de músicas, que submete
ao compositor Eduardo Souto, diretor da primeira gravadora brasileira, a
famosa Casa Edison, do Rio de Janeiro. Souto se engana redondamente e
desaconselha o adolescente a continuar, o que não o desanima.

30
Aos 17 anos, ingressou na Faculdade de Direito de Niterói,
diplomando-se em 1936.

Já acadêmico de Direito, em 1931 estréia como pianista, na Rádio


Sociedade do Rio de Janeiro, como pianista e compositor da Orquestra de
Romeu Silva e em breve é um dos quatro tecladistas mais solicitados da capital
federal pelas rádios cariocas, ao lado de Carolina Cardoso de Menezes,
Romualdo Peixoto (o Nonô) e Custódio Mesquita. Em 1933, transferiu-se para
a Rádio Philips.

Começa a se tornar conhecido como compositor – foi compositor de


jingles, e em 1934 compôs em parceria com Lamartine Babo a marcha
“Madame do barril” – sátira à figura francesa “Madame Du Barry”, uma de suas
primeiras composições no gênero.

Nesse mesmo ano fez sucesso com a marcha “Carolina” (com Bonfiglio
de Oliveira) gravada por Carlos Galhardo na época cantor em início de carreira,
são seus primeiros sucessos.
Em 1935, regeu a orquestra que participou do filme “Estudantes”, dirigido por
Wallace Downey, passando desde então a musicar peças de teatro entre as
quais “Da favela ao Catete” escrita por Freire Júnior. Neste mesmo ano
destacou-se com a composição “Triste cuíca” parceria com Noel Rosa.

Já advogado e com nome firmado como compositor também de trilhas


para cinema e no teatro de revista, muda-se para Belo Horizonte, onde,
trabalhando na Rádio Guarani, onde atuou por dois anos, cumprindo o
compromisso de apresentar uma música inédita por dia.

Em 1936, compôs para o filme “Alô, alô carnaval”, de Ademar


Gonzaga, a marcha “Não resta a menor dúvida”, parceria com Noel Rosa.

Por essa época compôs “Pé de manacá”, parceria com sua prima
Marisa Pinto Coelho, música que fez sucesso internacional alguns anos mais
tarde (1950), registrada por Isaura Garcia. De volta ao Rio de Janeiro, compôs
em 1938 o jingle “Esquina da sorte”, em parceria com Lamartine Babo, feito
para uma casa lotérica e gravado pelo próprio Lamartine em dueto com Aracy
de Almeida.

Em 1940, transferiu-se para a Rádio Tupi de São Paulo.

Em 1941 casou-se em São Paulo com Daicy Portugal, que seria mãe
de seus quatro filhos, todos cantores e compositores, Ronnie Cord, Hervê Jr.,
Norman e Maria Regina. A lua-de-mel foi em Manhuaçu, e aí ficou advogando
por quatro anos.

Em 1945 é contratado pela Rádio Record de São Paulo, onde


permanece 26 anos, até se aposentar em 1971. Pianista excelente, arranjador
notável, compositor versátil criando em todos os gêneros, destacou-se como o
mineiro que sabia fazer baião.

31
Em 1946 tornando-se o compositor favorito de Carmélia Alves, a
Rainha do Baião, obteve grande sucesso com a composição “Sabiá lá na
gaiola” (com Mário Vieira), lançada por Carmélia Alves.

Em 1951, destacou-se com o baião “Cabeça inchada”, também gravao


por Carmélia Alves. “Neste mesmo ano, teve composições gravadas por Dalva
de Oliveira – “Esta noite serenou”, Ivon Curi – “Me leva” (com Rochinha)”.

Também compôs músicas no estilo “jovem guarda” entre as quais “Rua


Augusta”, “Boliche legal” e a versão da música “Biquíne de bolinha amarelinha”.

O que não o impediu de fazer de seu filho Ronnie Cord o primeiro Rei
da Juventude, ao criar para ele o rock que dominou o Brasil em 1964. Nem de
compor o ultra-romântico Uma Loira, sucesso de Dick Farney em 1951.

De sua produção, algumas composições foram feitas em parceria com


seus filhos Ronnie Cord e Hervé Cordovil. Em 1966, compôs “Canto ao Brasil”,
peça sinfônica orquestrada por Gabriel Migliori e executada pela Orquestra
Sinfônica Municipal de São Paulo.

Em 1977, participou do show comemorativo “30 Anos de Baião”,


realizado no Teatro Municipal de São Paulo, ocasião na qual também se
apresentaram Luiz Gonzaga, Carmélia Alves e Humberto Teixeira.

Em 1997, foi publicado o livro “Hervé Cordovil – um gênio da música


popular brasileira” de autoria de Maria do Carmo Tafuri Paniago.

Não é a primeira polêmica envolvendo Hervê Cordovil.

Nos anos 1950 ele, convertido ao espiritismo, apresentou composições


que teria feito em parceria com o já falecido Noel Rosa. Alguns tacharam Hervé
de charlatão e oportunista; outros o defenderam como pessoa honesta e
caridosa, que inclusive comandou várias obras de caridade em centros
espíritas da cidade de São Paulo.

Vale lembrar que Hervé, 1914/1979, era da velha guarda da MPB, tem
belas parcerias com Noel, acima de qualquer suspeita, compostas antes de
este falecer em 1937 e compôs “Rua Augusta”, “Boliche Legal” e outros rocks
ao completar 50 anos.

Realmente, um bom exemplo a seguir. E, só para complementar, o


filme Um Marido Barra Limpa levou dez anos para chegar às telas, iniciado
pelo cineasta Luiz Sérgio Person em 1957, com título Um Marido Para Três
Mulheres e concluído por Renato Grechi.

Concedeu esta entrevista ao programa MPB Especial da TV Cultura de


São Paulo, em 1973, aos 59 anos.

32
Eu nasci em Viçosa. Você sabe que eu tô tão acostumado a falar que
nasci em outro lugar, por engano, que eu até me atrapalho?

Eu nasci em Viçosa, no Estado de Minas Gerais, no ano de 1800 e


antigamente. Bom, eu tô vivo.

Mas fui criado até os sete anos em Manhuaçu, uma cidade de Minas,
e todo mundo pensa que eu nasci lá. Realmente, eu fui pra lá com um ano de
idade e fiquei até os oito. Sou meio mineiro.

Essa cidade existe e existe mesmo, tá lá firme, “firme fixa e anexa”,


como diz o outro, nas margens da Rio-Bahia, perto da Rio-Bahia, aliás, bem na
margem da Vitória-Minas, no cruzamento das duas estradas, de maneira que
ela recebe mineiros, baianos, nortistas e sulistas, todos eles.

A cidade? A cidade é uma beleza, só você vendo. É uma rua que vai
daqui até lá, duas montanhas do lado de cá, uma de cada lado da cidade e a
gente passando de avião pelo meio tem a impressão que está, assim, na ponte
Rio-Niterói, que está passando num lugar incrível. É um vale tremendo.
Manhuaçu é o nome dessa cidade.

Fui pro Rio com nove anos, fui pro Colégio Militar do Rio de Janeiro,
me matriculei com dez. Aí fiquei a vida inteira no Rio de Janeiro, até…

Fiz o curso todo, sim, puxa, se fiz. Duro pra burro, mas fiz o curso. É um
grande colégio, um colégio formidável. Foi lá que eu comecei mesmo música

33
por música, porque até então eu tinha dez anos, mas eu tocava uma porção de
instrumentos, mas tudo aqui, de ouvido.

Todo mundo lá em casa toca. É uma coisa incrível, parece que é


praga, sabe? Toca mal mas toca. Todo mundo toca piano, canta, faz ou
acontece, mas vai.

Eu comecei assim. Eu era da banda do Colégio Militar, então me


entusiasmei pela banda do Colégio Militar. É uma característica minha, me
entusiasmo por tudo que eu faço. Então eu me entusiasmei pela banda de
música do Colégio Militar. Tocava aqueles dobrados, dobrados do Pedro
Salgado, coitado, que morreu outro dia com 80 e sei lá quantos anos. Não
recebe direito autoral, porque banda no Brasil não paga direito, você sabe
disso. Então eu tocava aquele dobrado dele.

E ele afirma: “A música ‘Rua Augusta’ fomos nós quem fizemos. Numa
brincadeira saiu aquilo ali. Estávamos no set de gravação de um filme, não me
lembro se era A Puritana da Rua Augusta ou Marido Barra Limpa.

O diretor do filme nos pediu uma música inédita e nós a compusemos


junto com o Ronnie Cord que iria participar do filme, inclusive o Johnny e o
Alfredo citados na letra da música são os irmãos do Ronnie Cord.

“Esta afirmação faz balançar as informações de que o autor de “Rua Augusta”


é Hervê Cordovil, pai de Ronnie.
É verdade que “Rua Augusta” lembra “Okey Johnny”, sucesso com nosso
primeiro caubói-cantor, Bob Nelson.
Hervê na gravadora Copacabana, com uma música que havia acabado de
compor para o filho gravar isso mesmo, “Rua Augusta”.

34
Entre seus grandes sucessos destacam-se Meu Pé de Manacá,
composto com a prima Marisa Pinto Coelho em 1950; Vida do Viajante, em
parceria com Luiz Gonzaga; Sabiá lá na Gaiola, com Mario Vieira; as versões
Biquini de Bolinha Amarelinha e Rua Augusta, entre outras.

Como compositor, Hervé Cordovil escreveu clássicos como o baião


“Cabeça inchada” (que tinha mais de 50 regravações na Europa), o baião
“Sabiá Lá Na Gaiola” (gravado por Carmélia Alves), “Seu Gaspar” (gravada por
Sílvio Caldas), o hit “Rua Augusta” (regravada por diversas vezes pelos artistas
da Jovem Guarda e do rock brasileiro, como seu filho Ronnie Cord, Erasmo
Carlos, Rita Lee, entre outros), e “Uma Loira” (outra quebra, em Dick
interpretação Farney). Ele tinha parcerias com Marisa Pinto Coelho (baião ao
clássico “Pé de Manacá”), Bonfiglio de Oliveira (“Carolina”, gravada por Carlos
Galhardo), Noel Rosa (“Triste Cuíca”, gravado por Araci de Almeida, e “Não
Resta A Dúvida Menor”, da trilha sonora do filme Alô, Alô Carnaval), Lamartine
Babo (” Alô, Alô, Carnaval”, incluída na trilha sonora do filme homônimo, e” Seu
Abóbora”, gravado por Carmen Miranda), Adoniran Barbosa (“Prova de
Carinho”), e Luiz Gonzaga (“A Vida do Viajante”, “Baião da Garoa” e “Xaxado”).

Pesquisa Autor : “Hervé Cordovil”

Pé de Manacá, Hervê Cordovil/Marisa Pinto Coelho.


Prova de carinho – em ADONIRAN BARBOSA
Agüenta a mão, João – em ADONIRAN BARBOSA – 70 ANOS
Prova de carinho – em ADONIRAN BARBOSA – 70 ANOS
Sabiá lá na gaiola – em TRILHAS – OFICINA DE CORDAS, TREM DE
CORDA, DUO BEM TEMPERADO e GRUPO ANIMA
Biquíni de bolinha amarelinha tão pequenininho (Itsy bitsy teenie weenie yellow
polkadot bikini) – em TODAS AS AVENTURAS DA BLITZ
Porquê – em A NOITE DO MEU BEM
A vida do viajante – em ALEGRIA
Pode ficar – em ISAURA GARCIA
Pé de manacá – em ISAURA GARCIA
Baião da garoa – em A VIAGEM DE GONZAGÃO E GONZAGUINHA
A vida do viajante – em GONZAGÃO & GONZAGUINHA – JUNTOS
Sorrisos – em CARMEN MIRANDA
Inconstitucionalissimamente – em CARMEN MIRANDA
Sabia lá na gaiola – em BRASILEIRA, TOUT SIMPLEMENT
Tem pena de mim – em SAMBA É ARACY DE ALMEIDA
Triste cuíca – em SAMBA É ARACY DE ALMEIDA
A vida do viajante – em SÓ FORRÓ
Triste cuíca – em SEM TOSTÃO… A CRISE NÃO É BOATO – CRISTINA
BUARQUE e HENRIQUE CAZES
Não tem mais fim – em GROSSAS NUVENS DE AMOR
Uma loira – em ESPECIAL – DICK FARNEY
Uma loura – em PENUMBRA E ROMANCE
Uma loucura – em DICK FARNEY AO VIVO
Cabeça inchada – em O BOM
Baião da garoa – em CABOCLO SONHADOR
Baião da garoa – em FOR ALL PARA TODOS

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A vida do viajante – em GONZAGUINHA DA VIDA
Triste cuíca – em CHICO BUARQUE DE HOLLANDA E NOEL ROSA NA VOZ
DE ISAURA GARCIA
A vida do viajante – em FORRÓ DE CABO A RABO
Rua Augusta – em SESSÃO DE ROCK – MATÉRIA PRIMA
A vida do viajante – em EU E MEU PAI
Sabiá lá na gaiola – em ENCONTRO DE AMOR
A vida do viajante – em VIVA GONZAGÃO – É FORRÓ É XOTE É BAIÃO
Sabiá lá na gaiola – em AO VIVO NO SEIS E MEIA – LUIZ GONZAGA &
CARMÉLIA ALVES
Rua Augusta – em MUTANTES E SEUS COMETAS NO PAÍS DOS BAURETS
Triste cuíca – em NOEL ROSA POR MÁRIO REIS E ARACY DE ALMEIDA
A vida do viajante – em PINGO D’ÁGUA
Baião da garoa – em QUINTETO VIOLADO
Mágoa – em ETERNAMENTE
Jangada – em SILVIO CALDAS AO VIVO – HISTÓRIAS DA MÚSICA
POPULAR BRASILEIRA
Baião da garoa – em SERGIO REIS
Jangada – em SILVIO CALDAS
Mágua – em SILVIO CALDAS
Prelúdio – em ETERNAMENTE
Uma loira – em ALEGRIA, ALEGRIA VOL. 4 ou HOMENAGEM À GRAÇA, À
BELEZA, AO CHARME E AO VENENO DA MULHER BRASILEIRA
Pé de manacá – em WALDIR AZEVEDO
Cabeça inchada – em WALDIR AZEVEDO
Alma do Brasil – em MAIOR QUE A SAUDADE
Prelúdio – em AGNALDO RAYOL
Chuva – em AGNALDO RAYOL
Rua Augusta – em LET ME SING MY ROCK’N'ROLL
Rua Augusta – em OS 24 MAIORES SUCESSOS DA ERA DO ROCK
A vida do viajante – em A VIDA DO VIAJANTE – LUIZ GONZAGA &
GONZAGUINHA
Vida do viajante – em LUIZINHO DE GONZAGÃO GONZAGA GONZAGUINHA
Baião da garoa – em A VIDA DO VIAJANTE – LUIZ GONZAGA &
GONZAGUINHA
Menina oxygené – em O CARNAVAL DE LAMARTINE BABO – SUA
HISTÓRIA SUA GLÓRIA
Esquina da sorte – em O CARNAVAL DE LAMARTINE BABO – SUA
HISTÓRIA SUA GLÓRIA
Tem pena de mim – em ELZA, MILTINHO E SAMBA – VOL. 2
Uma loira – em DICK FARNEY SHOW
Uma loira – em MOMENTOS
Rua Augusta – em SEGUNDO
Pau-de-arara – em RETROSPECTIVA EM 5 MOVIMENTOS
Baião da garoa – em 40 ANOS DE ESTRADA
Uma loira – em A SAUDADE MATA A GENTE
Baião da garôa – em WHEN IT WAS DONE – WALTER WANDERLEY SET
Não tem mais fim – em DALVA
Agüenta a mão João – em AGUENTA A MÃO, JOÃO
Prova de carinho – em A MÚSICA BRASILEIRA DESTE SÉCULO POR SEUS

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AUTORES E INTÉRPRETES – ADONIRAN BARBOSA
Paraíba feminina – em RITMOS DO BRASIL COM CARMÉLIA ALVES
Prece a São Benedito – em INEZITA BARROSO
Que é que você fazia? – em O SUMO DO RUMO
Zabumba de nego – em VAMOS FALAR DE BRASIL
Pode ficar – em RITMO FASCINANTE Nº 1
Jangada – em RITMO FASCINANTE Nº 1
Baião da garoa – em CHÁ DANÇANTE – DONATO E SEU CONJUNTO
A vida do viajante – em O REI VOLTA PRA CASA
O trem chegou – em TE PEGO PELA PALAVRA
Rio – em CAIXINHA DE SAUDADE
Uma loira – em PERDIDO DE AMOR
Esquinado – em CARMÉLIA ALVES
Eh! Boi – em CARMÉLIA ALVES
Cabeça inchada – em CARMÉLIA ALVES
Sabiá lá na gaiola – em CARMÉLIA ALVES
Baião vai… Baião vem – em CARMÉLIA ALVES
Pé de manacá – em CARMÉLIA ALVES
Adeus, adeus morena – em CARMÉLIA ALVES
O trem chegou – em CARMÉLIA ALVES
Esta noite serenou – em CARMÉLIA ALVES
Baião da garoa – em GIL E MILTON
Pé de manaca – em MEUS MOMENTOS – WALDIR AZEVEDO
Não resta a menor dúvida – em QUE SE DANE
Um caboclinho – em FRANCISCO ALVES – O REI DA VOZ
Rio – em FRANCISCO ALVES – O REI DA VOZ
P. R. Você – em A CANÇÃO DOS EXPEDICIONÁRIOS
Biquíni de bolinha amarelinha tão pequenininho (Itsy bitsy teenie weenie yellow
polkadot bikini) – em BLITZ AO VIVO
Nego – em MENSAGEM – ISAURA GARCIA e NELSON GONÇALVES
Piqued head (Cabeça inchada) – em ANTOLOGIA DO ROCK E DA JOVEM
GUARDA – CLASSIC COLLECTION VOL. 8
Adeus Pernambuco – em NO MEU PÉ DE SERRA
Carolina – em ALTAMIRO CARRILHO E SUA BANDINHA NA TV – Nº 2
Uma loira – em NA TRADIÇÃO
Baião da garoa – em COLEÇÃO OBRAS PRIMAS – GERALDO AZEVEDO
É noite, morena – em TEMPINHO BOM
Cabeça inchada – em TEMPINHO BOM
Sabiá na gaiola – em TEMPINHO BOM
Uma loura – em COPACABANA
A vida do viajante – em DE VOLTA PRO INTERIOR
Aguenta a mão, João – em SÉRIE 2 EM UM: “Adoniran Barbosa (1975)” e
“Adoniran Barbosa – 70 Anos”
Prova de carinho – em SÉRIE 2 EM UM: “Adoniran Barbosa (1975)” e
“Adoniran Barbosa – 70 Anos”
Dia de natal – em CARMEN MIRANDA
Samba – em CARMEN MIRANDA
O que é que você fazia? – em CARMEN MIRANDA
Alô, alô carnaval – em CARMEN MIRANDA

37
A vida do viajante – em A VIAGEM DE GONZAGÃO E GONZAGUINHA
Baião da garoa – em UM BANQUINHO, UM VIOLÃO… – DANIEL GONZAGA

Queimada, Hervê Cordovil.

Esse foi um tema que eu fiz para um filme francês chamado Queimada.

Mas o filme não veio, a música ficou por lá.

Levaram daqui. É um troço sério.

Pediram, escrevi, levaram e eu não vi. Bacana, né? Isso se dá muito com
brasileiro.

Lá detrás daquele morro


Tem um pé de manacá
Nóis vão casá
Nóis vão pra lá
Cê qué?
Cê qué?
Lá detrás daquele morro
Tem um pé de manacá
Nóis vão casá
E vão pra lá
Cê qué?
Cê qué?
Eu quero te agradá
Eu quero te abraçá
Eu quero te pegá e te levá pra lá
Cê vai?
Cê vai?
Lá detrás daquele morro
Tem um pé de manacá
Nóis vão casá
E vão pra lá
Cê qué?
Cê qué?
Eu junto todas as flô do pé de manacá
E faço uma coroa para te enfeitá
Cê qué?
Cê qué?
Cê qué?

38
A balaustrada

Muitos irmãos já divagaram sobre a origem e o simbolismo da


balaustrada, também chamada em alguns rituais de “grade da razão”. A
imaginação chega a tanto que há quem defenda que a balaustrada é uma
espécie de portal pelo qual o maçom, ao atravessar, sai do mundo do si
mesmo e conquista o terreno dos sonhos, do inconsciente, da espiritualidade,
dos mistérios e da magia.
Deve ser por isso que de vez em quando nos deparamos com irmãos
dormindo no Oriente! Mas voltemos à vida real. A balaustrada é formada por
uma sequência de balaústres que suspendem um corrimão. Suas primeiras
aparições foram encontradas no que se sabe sobre os templos assírios.
Balaustradas não estão presentes nas construções gregas e romanas, mas
reapareceram a partir do Século XV, inicialmente em palácios de Veneza e
Verona, provavelmente influência da cultura árabe, por conta da dominação
muçulmana na península ibérica.
Seu uso mais amplo na Europa teve início no século seguinte, sendo
adotado por artistas como Michelangelo. No século XVI, balaustradas foram
largamente utilizadas na construção de basílicas e catedrais e, a partir daí,
ganhou espaço na ornamentação de igrejas, servindo como delimitador entre a
nave (ocidente) e o presbitério (oriente), num nível mais elevado.
É junto da balaustrada que os fiéis recebem a comunhão. Para
compreendermos a razão da presença da balaustrada nos templos maçônicos
dos ritos de origem francesa e seus derivados (Escocês, Adonhiramita,
Moderno, Brasileiro), precisamos, inicialmente, realizar algumas considerações
pertinentes sobre “templos” maçônicos.
Como é do conhecimento de todo maçom, a Maçonaria não surgiu em
templos. As primeiras Lojas que se tem notícia não se reuniam em locais
sagrados, mas sim em aposentos nos fundos ou em cima de tavernas, botecos,
hotéis, canteiros de obras, etc.
Enfim, locais não muito “sagrados”, bem distintos dos “templos”
maçônicos que se tem hoje por aí, nos quais alguns maçons conservadores
não deixam nem mesmo um (a) profano (a) realizar a limpeza, por risco de

39
profanar o solo maçônico sagrado, colocando os Aprendizes para exercerem a
tarefa da limpeza.

Foi por volta da década de 60 do Século XVIII que surgiram os


primeiros imóveis construídos com objetivo exclusivo de funcionamento de
Lojas Maçônicas, ainda na Inglaterra. A iniciativa de tal movimento é creditada
aos líderes maçons William Preston, James Heseltine e Thomas
Dunckerley. Mas esses imóveis não foram chamados de Templos, nem
passaram por cerimônias de sagração. Aliás, até hoje não são chamados de
Templos e não são sagrados, porque mantém o significado original dos locais
de reuniões dos maçons.
São conhecidos por Lodge Room (Sala da Loja). Em outras palavras,
são apenas aposentos de reuniões maçônicas, assim como eram quando em
tavernas, por exemplo. A diferença é que, com as construções próprias, o local
fica mais bem guardado dos não maçons e não precisa ser preparado e
desmanchado a cada reunião.
Na mesma década, movimento similar teve início na Maçonaria
francesa. Aparentemente, o primeiro local construído para uso exclusivamente
maçônico na França foi em Marselha, a cidade mais antiga daquele país, em
1765. A diferença entre o movimento de construções maçônicas na Inglaterra e
EUA para a França no Século XVIII foi a de que a França é um país
predominantemente católico e a influência religiosa teve papel fundamental na
concepção e ornamentação das construções.
A influência católica na Maçonaria francesa pode ser observada, por
exemplo, no uso da nomenclatura “templo” e seu processo de inauguração.
Baseado na Igreja, o local de reuniões maçônicas passou a ser considerado
um templo, necessitando, portanto, de passar por uma sagração, costume esse
comum à Igreja Católica Apostólica Romana, mas inexistente em muitas outras
igrejas. Reforçando, não se trata de uma prática originalmente maçônica, mas
sim religiosa.
Tal influência também é explícita na arquitetura da Loja.
Tradicionalmente, as portas que dão acesso à Sala da Loja (templo) devem ser
angulares, pois uma entrada reta (no eixo da Loja, de frente ao Oriente) “não é
maçônica e não pode ser tolerada”. Assim é nas Lojas inglesas e norte-
americanas, por exemplo.
Porém, a Maçonaria francesa adotou uma porta central, assim como
nas igrejas. Outra característica é quanto ao piso da Loja, originalmente com o
Oriente e o Ocidente no mesmo nível, tendo apenas as estações do Venerável,
1º e 2º Vigilantes contendo degraus. Entretanto, a Maçonaria francesa, também
copiando a arquitetura de igrejas, adotou oriente mais elevado, com
balaustradas delimitando.
Outras influências católicas menos perceptíveis são evidenciadas no
uso de incenso, ao denominar o posto do Venerável Mestre de “altar”, na
presença do “mar de bronze” para purificação, entre outras.
E a partir da presença física de tais influências em Loja, iniciou-se o
“brainstorming” permanente dos ritualistas, um exercício eterno de imaginação
para conferir interpretações aos mesmos.

Kennyo Ismail

40
O maçom e o alfaiate

Um dia um homem recebeu a notícia de que seria iniciado Maçom.


Ficou tão eufórico que quase não se conteve:
- Serei um grande homem agora – disse a um amigo
- Preciso de roupas novas, imediatamente, roupas que façam juz à minha nova
posição na vida.

Conheço o alfaiate perfeito para você – replicou o amigo


- É um velho sábio que sabe dar a cada cliente o corte perfeito.
Vou lhe dar o endereço.

E o novo Maçom foi ao alfaiate, que cuidadosamente tirou suas medidas.

Depois de guardar a fita métrica, o homem disse:


Há mais uma informação que preciso ter.
Há quanto tempo o senhor é Maçom?
- Ora, o que isso tem a ver com a medida do meu balandrau? Perguntou o
cliente surpreso.
- Não posso fazê-lo sem obter esta informação senhor.
É que um Maçom recém iniciado fica tão deslumbrado que mantém a cabeça
altiva, ergue o nariz e estufa o peito. Assim sendo, tenho que fazer a parte da
frente maior que a de trás.

Ano mais tarde, quando está ocupado com o seu trabalho e os transtornos
advindos da experiência o tornam sensato, e olha adiante para ver o que vem
em sua direção e o que precise ser feito a seguir, aí então eu costuro o
balandrau de modo que a parte da frente e a de trás tenha o mesmo
comprimento.

E mais tarde, depois que o senhor está curvado pela idade e pelos anos de
trabalho cansativo, sem mencionar a humildade adquirida através de uma vida
de esforços, então faço o balandrau de modo que as costas fiquem mais
longas que a frente.

Portanto, tenho que saber a quanto tempo o senhor foi iniciado para que a
roupa lhe assente apropriadamente.

O novo Maçom saiu da alfaiataria pensando menos no balandrau e mais no


motivo que levara seu amigo a mandá-lo procurar exatamente aquele alfaiate.

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Ao maçom adormecido !

“Tu, pois, que ensinas a outrem não te ensinas a ti mesmo?”


(Romanos, 2:21)
“Estar adormecido” Significa o maçom afastado de sua Loja.

Cremos, porém que esse “adormecer” tem várias nuances, como por
exemplo: “estar sonolento”, nem desperto nem em sono.

O maçom que se afasta de seus Irmãos e de sua Loja estará dando um


passo impensado e cruel, uma vez que, com sua ausência, atingirá toda a Loja,
rompendo a Cadeia de União, por ser ele um elo indispensável; sua ausência
“enlutará” sua comunidade.

O maçom afastado sofre desgaste espiritual; mesmo que não se dê


conta disso, o seu templo interior estará vazio e, assim, não poderá louvar o
Criador do Universo.
Mesmo que surjam divergências entre os Irmãos, o afastamento
prejudicará a quem se afasta; os demais suprirão a ausência com a admissão
de novos candidatos.

Necessitamos do convívio permanente. Se estiver afastado, por


qualquer motivo, retorne e será devidamente qualificado em todos os pontos da
Maçonaria e encontrará uma plêiade de Irmãos prontos a recebê-lo e abraçá-
lo, dizendo: Entre, tomai vosso assento. Nós esperávamos por vós...! Não
interrompa o destino; participe da corrente da Fraternidade.

Será tão difícil olharmos nos olhos de nossos Irmãos e dizermos


humildemente? “Perdão, eu me excedi, voltemos a viver fraternalmente no
seio da Maçonaria?”

A prudência e o interesse de nossas Corporações Filosóficas,


Academias, Lojas de Pesquisas, CÍRCULOS HERMÉTICOS, etc. lhes impõe o
rigoroso dever de exigir a regularidade do candidato em suas Lojas Simbólicas,
vetando a participação em seus Mistérios ao Obreiro (placetado) ou a coberto
por falta de pagamento de suas obrigações junto a tesouraria de sua loja.

Venham os que realmente além de serem dignos da acolhida, sejam


“regulares” consoantes às regras maçônicas, capazes de contribuir ao fim
proposto. (Regular sinônimo de obediência, de cumprimento dos deveres que
aceitou).

Regularidade Maçônica faz com que como filiado de uma potência e


Loja regular esteja amparado espiritualmente e reconhecido por toda a
Fraternidade Universal.

42
Assim será filiado (readmitido) e não mais “tolerado” como ex-Obreiro,
mas sim RECONHECIDO como Irmão.

Volte a ser participante do grupo, mas doravante participe ativamente,


esteja presente quando um Irmão precisar de sua ajuda; saiba usar as palavras
certas de apoio e de estímulo, no momento certo; saiba respeitar o espaço do
outro; saiba escutar e ajudar; se tiver de criticar, que seja com educação e bom
senso, respeitando a opinião do outro; discorde sem magoar.

Lembre-se que do outro lado alguém vai ler, refletir, tirar ensinamentos,
seguir nosso conselho, nossa sugestão, isso se estiver conforme. Entenda que
somos uma comunidade de Irmãos e amigos e que esta amizade pode deixar
de ser virtual e transformar-se em real.

Enfim, participar de uma lista de discussão, de um círculo hermético, é


plantar uma semente que irá crescer e dar frutos e receber amor.

O Grande Arquiteto do Universo que tudo fez; que tudo sabe e que
tudo vê; que me fez Maçom, porque não me fiz, nem sequer me tornei –
simplesmente sou – porque ELE o quis e os meus irmãos então me
reconheceram como tal! Somos simples elos – parte de um todo que se faz UM
– um por todos e em cada um.

Vejo em mim esta Força magna brotando intacta, surgindo, crescendo,


fazendo-me Força, tornando Bela a vida que trago em meu corpo, em meu ser
pequeno; tão grande, contudo, feito a cinzel, esquadro e compasso, nível e
prumo, alavanca, régua e maço, talhado, trabalhado passo a passo em
viagens, leituras, trabalhos...

Devo embeber-me do espírito da Fraternidade! E olho para o lado, vejo


Irmãos. Às vezes os vejo – às vezes não os reconheço.

Deixo de vê-los, às vezes, porque nos tornamos pequenos demais


frente à grandeza da Ordem que representam. Nem os percebo quando a
tolerância deixa de ser norma de conduta, quando querem provar que são
cultos e superiores aos demais imaginando que suas opiniões, crenças e
opções são as melhores.

Os Irmãos já notaram que muitos acham ter muito a ensinar aos


outros? E que, em geral, quase não se dispõem a ouvir? Dão opiniões sobre
tudo, impõem seu modo de ver, de pensar, de deliberar. Nem os noto quando a
Caridade em seu sentido maior se vê substituída pela Vaidade, pela rigidez
excessiva, que obedece mais o desejo de autoridade que à verdadeira busca
espiritual.

É o profano que passou pela Câmara de Reflexão e não morreu,


ingressou na Maçonaria, mas não renasceu, pois o espírito dela, sua filosofia,
não entendeu. Passou o dia em brancas nuvens, não serviu e nem viveu...!
Quero vê-los, mas não consigo. Quero senti-los, mas eles se fizeram tão longe.

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Longe demais para estender a mão. Tarde demais para senti-los IRMÃOS!

Autoria do Irmão Valdemar Sansão

A fidelidade... da abordagem cotidiana ao valor maçônico

1.Introdução

O presente artigo tem por objetivo precípuo discorrer sobre o


significado da palavra fidelidade, observando tanto a conotação que lhe é
emprestada no mundo profano quanto no mundo maçônico.
Para sermos exitosos em nosso objetivo, em primeiro lugar recorremos aos
léxicos e, posteriormente enveredamos pelos caminhos da filosofia até
chegarmos ao conceito maçônico de fidelidade.
Evidentemente, face à natureza do trabalho, como também à
exigüidade temporal, a pesquisa não chegou à exaustão.
Consequentemente, cumpre-nos destacar que ao longo deste artigo
tangenciaremos, por um lado, o significado da fidelidade no nosso cotidiano e,
por outro lado, através destas observações procuraremos mergulhar no âmbito
da filosofia para alcançarmos o nosso objetivo maior - a fidelidade, enquanto
valor maçônico e princípio determinante da busca da felicidade - sem perder de
vista que qualquer conceito é plástico e moldável ao longo do tempo. Ou seja,
o conceito insere-se em um processo dinâmico de observação da realidade
concreta que tem como pressuposto básico o fato de que a variável temporal
transcende a uma simples coordenada para ser entendida como interioridade
com três componentes: sucessão, simultaneidade e permanência.

2. Fidelidade: da abordagem cotidiana ao valor maçônico

Sob o aspecto da língua vernácula, nada mais prudente do que


consultar os léxicos, para entendermos a origem e o significado de um
vocábulo. Neste sentido, buscamos em Houaiss(2001, p.1337), o significado e
a etimologia da palavra fidelidade e lá encontramos:
Fidelidade - s.f - característica, atributo do que é fiel, do que demonstra zelo,
respeito quase venerável por alguém ou algo;
1.1 observância da fé jurada ou devida;
2 constância nos compromissos assumidos com outrem;
3 Constância de hábitos, de atitudes( fidelização de clientes).
De outra forma, sob a ótica da Filosofia, esta para nós, se constituindo
no mais útil de todos os saberes de que os seres humanos são capazes, sem
dúvida, podemos enveredar pelos caminhos da ética para o entendimento mais
preciso do significado da fidelidade.
A ética ancora-se em dois conceitos fundamentais: o senso moral e a
consciência moral. O senso moral representa nossos sentimentos e nossas
ações e, porque não dizer, a forma como nós humanos interagimos com os
nossos semelhantes e construímos conhecimento e formatamos hábitos e
costumes.
Este conceito - de senso moral - traz de forma subjacente a idéia de
costumes tradicionais, aceitos e legitimados por uma sociedade, a forma como
seus membros devem se portar e quais suas obrigações para com esta

44
sociedade.
A consciência moral, por seu turno, nos remete ao pensar e a tomada
de decisão. Em outras palavras, a consciência moral pode ser muito bem
representada pelo seguinte exemplo: ao termos que definir, de pronto, sobre o
que fazer em determinada situação em que somos instados a tomar uma
decisão, inicialmente, temos de justificar esta decisão para nós mesmos e
posteriormente para os outros.
Evidentemente, quando falamos de justificativa de uma decisão,
referimo-nos às razões de nossa decisão, como também ao fato implícito de
termos de assumir as conseqüências dela decorrentes.
Portanto, na esteira destas considerações de ordem ética, a fidelidade assume
a condição de valor moral e conseqüentemente, não mais pode ser observada
sem um pressuposto básico - a relação entre seres humanos, como também,
de forma mais abrangente, entre a natureza orgânica e inorgânica - de modo
que haja uma condição de cumplicidade e envolvimento entre partes que
interagem e/ou mantém certo vínculo.
A fidelidade, portanto, vista sob a ótica da filosofia representa uma
inter-relação entre o homem, enquanto representante da sociedade e a
natureza, tanto a natureza orgânica quanto a natureza inorgânica.
Caminhando ao encontro destas considerações podemos inferir que a
fidelidade além de ser um valor moral é também um valor social e, representa
na sua prática cotidiana, um processo de catarse que, faz o homem passar do
estado egoístico - passional para o estado ético - político.
Por outro lado, se nos reportamos ao significado da fidelidade no
âmbito da ordem maçônica, sem dúvida, podemos aquilatar que, este,
transcende tanto ao conceito da língua vernácula quanto ao conceito da
filosofia.
Somente para fixar idéias, observemos algumas passagens do
processo histórico de iniciação de um profano:
ü Ao ser iniciado na ordem, o neófito, assume um compromisso voluntário e
moral de praticar a fidelidade em sua essência, enquanto ser humano, isto é,
no conjunto das suas relações sociais; Esta fidelidade do neófito se ancora na
sua liberdade de expressão e ação, sem, contudo perder a idéia de limite; e
A forma como ele é recebido - o ritual de iniciação - o conduz de forma
metafórica através do processo histórico de evolução do homem e sua
interação com a natureza. Ou seja, o ritual de passagem - a iniciação -
representa de forma sublime o vínculo entre partes, de um lado o mundo
profano - a natureza (água, fogo, ar, animais, plantas, astros, pedras, metais,
terra, humanos) - e de outro lado o mundo maçônico - as singularidades da
ordem maçônica, seus segredos, suas alegorias, sua simbologia e a sua
prática ritualística.
Observando as colocações acima elencadas, e sobre elas fazendo
uma reflexão, podemos compreender que no âmbito maçônico, o homem,
enquanto ser gregário se predispõe de forma transcendente a viver o estado da
arte da sociedade, ou seja, buscar a perfeição e o convívio pleno com seus
semelhantes.
Esta convivência com seus semelhantes, todos diferentes, mas não
desiguais, obriga o homem a pensar e construir o seu espaço na medida em
que através destas trocas de informações constrói valores éticos e morais.
E, nesta dinâmica de interações, nós maçons, observamos de forma muito

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transparente e, porque não dizer, sem nenhuma opacidade, a prática e a
consolidação do objetivo mais profundo e sublime da maçonaria - fazer feliz a
humanidade.
Esta felicidade traz consigo de forma latente a fidelidade, ou seja, um
processo de construção de valores éticos e morais que dá sustentação ao
compromisso voluntário que o neófito assume com a maçonaria. Igualmente,
este processo possibilita a construção e consolidação de novos hábitos e
costumes que nos fazem enxergar nossos semelhantes como diferentes e não
como desiguais. Ou de outra forma, a busca da perfeição e o convívio pleno e
harmônico com nossos semelhantes tanto no âmbito maçônico quanto no
mundo profano é o que admitimos como a verdadeira Fidelidade.
Em síntese, o que distingue a fidelidade, enquanto valor maçônico, da
fidelidade praticada no mundo profano é, no nosso entendimento, a
voluntariedade.
E, para enriquecer este trabalho, gostaríamos de deixar gravado o
entendimento do preclaro filosofo francês Gilles Deleuze(1925 - 1995) que ao
ser instado a discorrer sobre o que é a Filosofia, assim se expressou:
" Muita gente pensa que a filosofia é uma coisa muito abstrata e para
especialista. Eu creio e vivo de tal forma a idéia de que a filosofia não é uma
especialidade que tento colocar o problema de outra forma. Quando se crê que
a filosofia é abstrata, a história da filosofia fica também abstrata...Um filosofo
não é alguém que contempla nem mesmo alguém que reflete: é alguém que
cria. Cria um gênero de coisas de fato especiais: cria conceitos. O conceito não
está pronto, não passeia pelo céu, não o contemplamos. É preciso cria-lo,
fabricá-lo".
Este entendimento da filosofia consubstancia a idéia da criação de
conceitos e, evidentemente, da criação do conceito de fidelidade,
particularmente na ordem maçônica.

3. Considerações finais

A ordem maçônica, enquanto uma sociedade iniciática, cria e legitima


conceitos que lhes dão sustentação tanto para a sua prática operacional - as
lojas simbólicas - quanto para a reflexão em seus templos voltados para a
prática da filosofia - as lojas de perfeição. De outra forma, observando este
fato - a criação e legitimação de conceitos pela ordem maçônica - sob a ótica
da dialética e, levando-se em consideração o aspecto temporal podemos inferir
que a mudança e a permanência, enquanto categorias reflexivas - uma não
pode ser pensada sem a outra - representam talvez um pressuposto óbvio da
vitalidade e longevidade dos cânones da maçonaria.
Em outras palavras, não podemos ter uma visão correta de nenhum
aspecto da realidade humana se não soubermos situá-lo dentro do processo
geral de transformação a que ele pertence, também não podemos avaliar
nenhuma mudança concreta se não a reconhecermos como mudança de um
ser(quer dizer, de uma realidade articulada e provida de certa capacidade de
durar).
Neste sentido, sem nenhuma ambigüidade e explicitando o que
apreendemos ao longo da nossa prática maçônica, podemos afirmar que: ao
pensar o todo - a busca da felicidade da sociedade - a maçonaria não nega as

46
partes, ou seja, não abstrai estas - as partes do todo - como também ao tratar
as partes com suas diferenças o faz no seio da sociedade.
Ou seja, trabalhar a pedra bruta é uma metáfora que representa o
trabalho das partes ao passo que a prática da liberdade, da igualdade e da
fraternidade representa o tratamento do todo.
E, para finalizar, podemos inferir que a argamassa responsável pela
consolidação e estabilidade da alvenaria maçônica tem um componente
singular - a fidelidade -, que nada mais é do que uma construção coletiva do
conhecimento.

4. Referências bibliográficas

CHAUÍ, Marilena. Convite à filosofia. 12ed. São Paulo: Editora Ática, 2001.
DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix. O que é a filosofia? São Paulo: Editora 34,
1997.
HOUAISS, Antônio. Dicionário Houaiss da língua portuguesa. Rio de Janeiro:
Editora Objetiva, 2001.
KONDER, Leandro. O que é a dialética. São Paulo: Editora Brasiliense, 1998.

Trabalho elaborado pelo Irmão Luiz Abner de Holanda Bezerra, M.: M.:

47
O que leva o homem a ser maçom?

A primeira premissa esclarece que a Maçonaria é uma Fraternidade.


Ora, o substantivo feminino fraternidade designa o parentesco de irmãos, o
amor ao próximo, a harmonia, a boa amizade, a união ou convivência como de
irmãos. Isso leva à conclusão de que, na organização designada,
genericamente, como Maçonaria, ou Franco-Maçonaria, definida como uma
Fraternidade, deve prevalecer a harmonia e reinar a união ou convivência
como de irmãos. Do livro “Fragmentos da Pedra Bruta – José Castellani

Estive meditando, nos últimos dias... O que leva o homem a ser


maçom?

Devemos inquirir nossos conhecimentos de prima facie, relembrando


que o homem maçom é escolhido dentro a sociedade profana, como que um
diamante ainda em estado bruto, pois assim o determina os antigos costumes,
de forma que ele somente toma pé de onde e o que o espera, quando da sua
iniciação.

Sabemos que hoje, não mais como ontem, o indicado, indaga-se e


prepara seu espírito, quando lhe é informado que será iniciado, certamente
pelas ferramentas disponíveis na internet e em outros meios de comunicação,
certamente toma nota e assimila um conteúdo considerável a respeito da
sublime ordem.

Mas, muito provável, muita coisa que lerá, será apenas falácias,
enquanto outros se apresentação muito maiores que possa imaginar a sua vã
expectativa.

Nestas falácias, muita coisa, escrita, ou não se enquadra no seu rito ou


não é operada ao pé da letra por sua futura loja ou potência. Podendo traduzir
num permeio de desolação e decepção quanto ao que esperava.

48
Noutro mote, há expectativas geradas pelos próprios futuros irmãos de
ordem, que acreditam piamente e esperam algo que não se traduz em
realidade tangível, mas apresenta-se apenas como expectativas.

Assim, o candidato e a oficina se apresentam com enorme expectativa,


desde a sua iniciação até o dia que o laço de rompa, seja pela saída do
obreiro, desligamento obrigatório ou a sua passagem para outro oriente.

Pois bem, há nítido jogo de interesses, não manejo o interesse com o


intuito depreciativo, mas sob a ótica construtiva, o interesse como objeto de
vontade, a loja adquirindo um obreiro atenda as suas expectativas enquanto
membro, maçom, pai de família, pessoa da sociedade e o iniciado aglutinando
outras visões de interesse, de lapidar seu conhecimento de si, adquirir novas
amizades, provem um meio social coerente a si e a seus familiares, etc.

Quando não esta tudo caminhando. Afirma-se que a “egrégora” não


esta condizente. Particularmente não gosto desta afirmação!
Mas, certo é que também discordo da afirmação de que a maçonaria, escolhe
grandes homens, e entre eles, haverá diferenças maiores quanto mais for a
capacidade e a liberdades daqueles.

A afirmação alhures, é tipicamente profana. Vale fora dos nossos


templos. Não poderia vingar quando falamos de relações entre maçons. Que
deve ser uma relação alicerçadas nas leis naturais, nos antigos costumes e
num sistema que tem como meta algo mais que uma boa relação entre irmãos.

Lembramos que combatemos o despotismo, a iniquidade, levantamos


templos a glória do criador, em honra da virtude e sepultamos nas profundezas
todas as formas de vícios. Neste permeio de locuções é que busco a resposta
para a indagação que me trouxe até estas linhas, aquele profano imaginário,
não sabia de anda disso, se sabia, o seu horizonte não imaginaria como os
olhos de um maçom vê a tudo isso.

Por tal é recebido maçom, um homem, que circula por dentre a


descortinação do grande espetáculo da luz da verdade, o caminho solar do
escocismo. Viaja por dentre as luzes da sabedoria, aprende nas ciências e
sente a existência da força e embebeda-se pelos caminhos da beleza,
situações que sustentam todo o arcabouço do aprendizado maçônico.

Arrancam-lhe o juramento. São lhes deferidas as obrigações,


assentindo é feito maçom! Descobri o que leva o homem a ser maçom? É
guardar consigo, não grandes segredos.

Mas o segredo da vida, ser feliz, amar ao próximo, lutar, vencer, sorrir e
chorar e não tripudiar dos oprimidos, não blasfemar, não vilipendiar, não deixar
de lapidar-se, aprender a praticar a iniciação em si mesmo dia a pós dia.

Autoria do Irmão Ivair Ximenes Lopes

49
O profeta Amós e a maçonaria

O profeta Amós era um trabalhador braçal, um boiadeiro e cultivador


de sicômoros (árvores que geram um fruto parecido com o figo).

Ele é originário da cidade de Tekua, aldeia situada há dez quilômetros


ao sul de Belém. É conhecido ainda como sendo um dos assim chamados
“Profetas Menores”, não por ter pouca importância, mas sim pela extensão de
sua obra, considerada pequena em vista de outros profetas da Bíblia, mas tão
brilhante quanto as outras.

O seu ministério foi exercido no século VIII a.C. durante os reinados


dos Reis Uzias (ao sul de Israel) e Jeroboão II (ao norte de Israel). Sua obra foi
marcada por uma profunda crítica social e religiosa. Ele denunciou a
desigualdade social de seu tempo, bem como o uso idólatra da religião,
transformada em mero instrumento que serve à alienação e usada como
fachada para a iniquidade.

O profeta Amós é um revolucionário, um socialista de seu tempo que


não se deixou levar pelas aparências de uma época marcada, sobretudo, pela
prosperidade material. Contudo, mesmo com abundância, o povo de Israel
passou por uma profunda inversão de valores, deixando-se levar pela soberba,
ganância, luxúria e todo tipo de perdições.

Dessa forma, a obra de Amós é caracterizada pela crítica ao


enriquecimento da sociedade à custa dos pobres; ao suborno e corrupção de
juízes nos tribunais; à opressão, violência e à escravidão dos pobres; ao
comportamento das mulheres ricas, que para viverem no luxo, estimulavam
seus maridos a oprimirem os fracos etc. (1)

No que toca à religião, Amós denuncia seu caráter meramente


ritualístico e vazio. Assim ele diz em seu livro: “Eu odeio, eu desprezo as
vossas festas e não gosto de vossas reuniões. Porque, se me ofereceis
holocaustos...,não me agradam as vossas oferendas e não olho para o
sacrifico de vossos animais cevados. Afasta de mim o ruído de teus cantos, eu
não posso ouvir o som de tuas harpas! Que o direito corra como a água e a
justiça como um rio caudaloso”. (Am 5: 21-24)

E dentro desse contexto de críticas, Amós, na terceira parte de seu


livro, relata cinco visões, sendo que a terceira delas interessa de forma
particular à maçonaria. Trata-se da visão do fio de prumo.

No capítulo 7, versículos de 7 a 8, Amós assim relata: “Assim me fez


ver: Eis que o Senhor estava de pé sobre um muro e tinha sobre a sua mão um

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fio de prumo. E Iahweh me disse: Que vês, Amós? Eu disse: Um fio de prumo.
O senhor disse: Eis que vou pôr um fio de prumo no meio do meu povo, Israel,
não tornarei a perdoá-lo. (Am 7: 7-8 – tradução da Bíblia de Jerusalém).

Ora, é o Senhor mesmo Quem estava sobre o muro na visão de Amós.


E o prumo que segurava em Suas mãos é altamente revelador. Ele revela
nossa intrínseca tortuosidade, nosso desalinhamento e desequilíbrio moral.

Da mesma forma como o pedreiro se utiliza do prumo para procurar


falhas na obra em que se debruça assim se dá quando Deus coloca seu prumo
em nossas vidas, fazendo aparecerem todas as falhas, todas as misérias
escondidas em nossos olhares dissimulados, em nossas palavras vazias e em
nossas ações e omissões egoístas.

Mas o que é este prumo de Deus em nossas vidas? Será a Bíblia (ou
qualquer outro livro sagrado a que seguimos)? Será nosso caminho pessoal?
Os padrões sociais e políticos de nosso tempo? Nossa consciência?

A Ordem maçônica tenta nos mostrar qual será esse prumo na vida
particular de cada maçom, transmitindo por meio de alegorias e símbolos
antigos mistérios que podem ser traduzidos em retidão moral e bons costumes
para aquele que de fato os persegue em seu íntimo construtor.

Mas há um fato curioso nesta passagem. Nem mesmo Deus julgou


aleatoriamente o seu povo. Antes disso, Ele passou sobre nós o seu prumo
sagrado, para que toda falha fosse posta às claras. Assim, não cabe ao
Homem passar seu prumo particular na parede alheia, achando-se
ridiculamente capaz de medir os erros de seu irmão com medida própria.

Não cabe em nós tamanho amor para realizar essa tarefa de sublime
construção da alma do nosso próximo. Isso é assunto entre o Pai e seu filho,
porque no prumo do homem há juízos e preconceitos, medidas diferentes
alicerçadas na miséria de nossa alma. Mas o prumo de Deus contém a dádiva
do arrependimento e a certeza da retidão no amor maior de Sua caridade. (2)

O prumo de Deus revela nossos pecados à luz do dia, não deixando


nada a coberto.

E ao lançá-los à luz, Ele espera de nós tão somente humildade e


trabalho para quebrarmos nossos tijolos mal assentados e recomeçar nossa
obra fundada na promessa de que seguindo-O, encontraremos pela frente
apenas consequências do amor.

Autoria do Irmão.Rafael Guerreiro


ARLS Três Colinas n. 69 – Franca (São Paulo, Brasil)

NOTAS:
1. Extraído de: http://judaismohumanista.ning.com/m/discussion?
id=3531236%3ATopic%3A77;
2. Extraído de: http://www.lojamontemoria.com.br/artigo.asp?cod=262;

51
Que vindes fazer aqui?

Para compreendermos, em parte, o sentido de nossos trabalhos em


Loja é preciso responder à emblemática pergunta: “que vindes fazer aqui?”

A resposta a esta questão, que traz em seu bojo o significado de muitos


signos existentes nos templos simbólicos, nos remete a uma estupenda e
poderosa jornada em que o tempo e o espaço se desestruturam.

Tal qual ocorria com os mitológicos viajantes que seguiam rumo ao


Oriente na Antiguidade, o iniciado começa sua jornada vendado e busca a luz
da sabedoria – esta metáfora representa o desejo de conhecer como a tradição
maçônica interpreta a realidade que envolve o homem e o universo.

Nesta breve peça de Arquitetura realizaremos uma meditação sobre


alguns elementos simbólicos dos trabalhos em Loja, através da qual será
possível compreender o significado da poderosa questão proposta.

Por que ser iniciado?

Após ser iniciado o candidato passa a ter acesso ao universo simbólico


maçônico. O neófito vai participar ativamente de um exercício psicológico que
envolve o desenvolvimento de uma pequena jornada heróica em que algumas
tradições muito antigas são resgatadas. Esta aventura se repete a cada
Sessão ritualística.

Infelizmente, tais conceitos estão se perdendo nesta época pós-


moderna. Isto ocorre pela falta de interesse da maioria das pessoas em
compreender o que representam estas figuras tão complexas, criadas pela
nossa mente inquieta. Entender a complexidade dos elementos simbólicos é
tarefa penosa. Requer muito tempo livre e dedicação. Na correria do dia a dia,
nos tempos da comunicação de massa, das altas tecnologias digitais, é raro
encontrar uma pessoa que deseja sinceramente buscar o sentido dessas
metáforas que remontam, muitas vezes, a milhares de anos de aprendizado,
acumulado ao longo de infindáveis gerações.

Quem deseja ser maçom deve estar disposto a dedicar uma pequena
parte de sua vida aos assuntos da Arte Real. Isso extrapola as curtas duas
horas que passamos entre colunas, uma vez por semana. É preciso ir mais
adiante, buscando nas fontes justas os ensinamentos que complementam o
que se vivencia nas poderosas liturgias elaboradas em nossos templos.

A origem dos Ritos Iniciáticos

Nos primórdios, antes que os primeiros Homo sapiens surgissem no


horizonte da evolução, havia uma aparente paz de espírito entre os hominídeos

52
e a natureza. Estava em gestação o que seria chamado de “estado natural”,
por Hobbes, Locke e Rousseau – estes três grandes filósofos, cujo
pensamento floresceu na modernidade insipiente, não por acaso brilharam
exatamente no contexto da fundação da primeira potência maçônica regular.
Na África indomada não havia como compreender e muito menos existia a
pretensão de dominar os fenômenos naturais, que ditavam o destino de todos.
A submissão às forças imprevisíveis e poderosas do caos era um fato
inexorável na vida dos seres e das coisas.

Em um determinado momento, porém, houve um tremendo avanço


biofisiológico nos cérebros dos hominídeos, refletido em um poderoso ganho
em volume deste órgão. Repentinamente a chamada mente criativa começava
a operar a plena força e vigor. A causa deste upgrade até hoje é um
indecifrável mistério. O que importa é que a partir disso os pensadores recém
surgidos começaram a questionar os grandes fenômenos naturais. A filosofia
embrionária começava a encenar as primeiras tragédias nas arenas
psicológicas dos homens.

Rapidamente, em um estupendo exercício criativo, os magos antigos


interpretaram e dividiram a realidade em duas perspectivas. Uma representa
tudo que captamos com nossos cinco sentidos, e o outro tudo aquilo que foge a
esta condição. Esta realidade paralela, imperceptível ao nosso consciente,
estaria operando na penumbra, como um universo oculto, determinando
nossos destinos. Quem comanda este plano, é mais um mistério. Os gregos
antigos mencionavam que seriam as moiras, as três senhoras mágicas que
teciam o fio da vida de todos, inclusive dos deuses. Para outros seria uma
substância indescritível. Os mistérios e os enigmas inexplicáveis ali estariam,
em pé e a ordem, inacessíveis a qualquer forma de experimentação empírica
ou compreensão racional.

A beira do completo caos psíquico que estas angústias traziam, surgiu


a redenção. Um determinado membro do grupo, dotado de carisma profético,
assumiu seu bios político bradando que podia explicar os mistérios ocultos.
Este sábio, mago, druida ou sacerdote afirmava entender o conjunto de idéias
desconexas que fogem à compreensão racional. Para dar sentido a estes
pensamentos inquietantes seria preciso regrá-los, enquadrando-os em
procedimentos ritualísticos elaborados.

Os cultos iniciáticos primordiais

Os rituais primordiais ocorriam em cavernas profundas, à luz de tochas.


O xamã fazia pinturas artísticas nas paredes, reproduzindo pictogramas. Só
participavam dos trabalhos aqueles que eram convidados, pois nem todos
apresentavam as mínimas qualificações espirituais para compreender esta
visão expandida da realidade. Surgiam as chamadas “comunidades dos
escolhidos”- ekklesia em grego. Os sábios perceberam que para decifrar um
mistério era preciso vivenciá-lo: tinham que encarar o poder de frente e vencê-
lo, voltando ilesos das jornadas cheias de riscos a que se arriscavam. A forma
de elaborar estas angústias, sem submeter os voluntários a riscos reais, seria
interpretá-las através de narrativas simbólicas.

53
Para definir a essência dos temas mitológicos consideraram a
existência de certas idéias que operavam em aparente antagonismo, mas que
mantinham estreita conexão de sentidos. Estabelecendo uma relação dialética,
dois conceitos – tese e antítese – acabavam se assimilando em um terceiro,
que incorporava elementos das duas proposições anteriores. Como exemplo
destes sistemas podemos citar o dia e a noite, a vida e a morte, o finito e o
infinito, o micro e o macrocosmo, o inconsciente e o consciente, o sol e a lua e
muitos outros.

O mundo dualístico

Muitas vertentes esotéricas levaram em conta a dualidade referente às


estações do ano para a construção das narrativas. Sabemos que existem duas
fases distintas a cada giro da Terra em volta do Sol. A primeira seria voltada ao
reinado da vida, da luz, do calor e da abundância, que engloba a primavera e o
verão. A segunda se refere às estações onde impera o frio, a fome, as
doenças, o medo, e a morte – falamos do outono e do inverno. Os equinócios
são as datas principais que representam estes períodos, pois são aquelas em
que o meio-dia ou a metade do dia equivale exatamente a meia-noite.

A vida vegetal, que floresce nas épocas de Sol e decai nos meses de
trevas, brota do ventre da Terra assim como os animais nascem do ventre de
suas mães. A Terra, assim, assumia o epíteto de Mãe-Terra ou Deusa. Os
cultos primordiais eram dedicados a esta figura poderosa, com forte ligação às
coisas da natureza. Repletas de signos relativos à fertilidade, estas ordens
tinham como obreiras apenas sacerdotisas. Destacam-se os cultos à Isis, à
Innana, à Hera, à Ceres, à poderosa deusa Atenas Nike e à Minerva.

O principio fertilizador, necessário ao advento da vida, era o Sol. Isso


porque quando ele se afasta, a vida fraqueja. No inverno o astro praticamente
morre. Seu óbito ocorre metaforicamente no solstício de inverno, em 21 de
dezembro. E quando o Sol “falece”, deixa viúva a Mãe-Terra. Restam apenas
no deserto gelado alguns troncos perenes, os “troncos-da-viúva”, e raras
folhagens que resistem às intempéries, como as acácias.

Outros grupos resolveram não adotar o conceito ontológico da Mãe-


Terra. As narrativas aqui deviam representar uma jornada do iniciado em que o
mesmo vai transcender o reino telúrico e chegar, triunfante, aos planos
superiores aonde os mistérios do infinito, de tudo aquilo que vai além do
universo tangível, podem ser acessados. Criaram-se os mitos solares. O Sol
passava a ser o protagonista das narrativas. Nestes procedimentos, o herói
tem um nascimento tumultuado. Depois passa por terríveis provações,
geralmente sendo ameaçado de morte por algum poder instaurado, e muitas
vezes é lançado em rios, simbolizando um batismo na água. Após uma
juventude misteriosa, tem um momento de “iluminação”, quando ouve um
chamado. E parte para uma missão de resgate glorioso de algum grande valor
moral ou espiritual, que pode ser uma palavra perdida por exemplo. O objetivo
final é salvar a comunidade ou mesmo a humanidade de um suposto “grande
mal”.

54
A eterna busca

Na viagem sempre presente nestas liturgias o iniciado vai resgatar algo


que era legitimamente seu, mas que foi usurpado por uma força injusta.
Repleta de perigos, esta epopéia geralmente leva os bravos aos confins do
oriente. Lá está o objeto de redenção, que se desdobra em várias figuras
arquetípicas, como o cálice sagrado, a pedra filosofal e a palavra perdida.
Depois de achar o que procurava, e derrotar o maior dos adversários – um ente
que representa as forças primitivas e elementares da natureza – o conquistador
retorna são e salvo ao seu grupo, fortalecido e equilibrado.

A viagem heróica é uma metáfora do processo de individuação.


Representa a busca pela identidade que todos devem empreender para atingir
a maturidade. O homem tem que conhecer o papel individual que lhe foi
reservado, e que vai marcar sua fugaz passagem pela vida. Esta sabedoria só
é possível através do autoconhecimento, fenômeno acessível apenas àqueles
que adentram aos mais profundos labirintos de nosso subconsciente.

O iniciado, após completar o ciclo da Loja base, entende que uma mera
caminhada pela oficina em torno dos altares é fonte de complexos
simbolismos. Começa pela Coluna da Força, quando é impulsionados pelo
animus, associado à coragem e perseverança. Depois sobe os quatro degraus
do Oriente, sendo iluminado pela gnose ancestral, na Coluna da Sabedoria. Em
seguida, enriquecidos por esta magia, desce pela Coluna da Beleza. Ali passa
sob a égide da Estrela Flamejante, representando o “homem perfeito”, aquele
que sofreu as maiores provações e se individualizou.

Toda experiência maçônica nada mais é do que uma complexa e


elaborada jornada psíquica: trafegamos do mundo consciente, simbolizado pelo
Ocidente, aos planos mais profundos do inconsciente, representado pelo
Oriente. Os trabalhos ritualísticos traduzem a busca atemporal por aquilo que
foi perdido em tempos imemoriais. A falta deste objeto intangível nos torna
seres incompletos e eternamente angustiados em nossa subjetividade.

Conclusão- “Que vindes fazer aqui?”

A Maçonaria representa uma poderosa guardiã das mais sagradas


tradições criadas por uma série de civilizações que floresceram e pereceram
com o passar das eras. Os povos passam, a Arte Real persiste. Isto porque os
princípios ancestrais que defendemos vão muito além das infindáveis
experiências culturais, sociais, religiosas ou artísticas arquitetadas pela
humanidade.

A resposta à pergunta que gerou este trabalho pode se resumir a


buscar a compreensão do sentido do simbolismo maçônico, fato que também
diferencia os iniciados dos profanos. Este é o único caminho para que nossa
Sublime Ordem continue acompanhando a maravilhosa evolução humana,
como tem feito desde o principio dos tempos.

Autoria do Irmão Carlos Alberto Carvalhaes Pires- A.R.L.S. Acácia de Jaú 308 –

55
Referências:

1-CAMPBELL, J.. “Mitologias Primitivas”, 7ª Edição, São Paulo: Editora Palas


Athena, 2005.

2-GLESP, “Ritual do Simbolismo do Aprendiz Maçom”, São Paulo: Editora Glesp,


2.001.

3-MACDOWELL, J “Saber Filosófico, História e Transcendência”, Rio de Janeiro:


Ed.Loyola, 2.002.

4-JUNG, C.G. “Psicologia e Alquimia”, 2ª Edição, Rio de Janeiro: Editora Vozes,


1994.

5-PIRES, C.A.C., “Origens – em busca do primeiro maçom”, rev maçônica “A


Verdade”, São Paulo: Glesp, Ano LV, edição No 461, julho/agosto 2007

6-PIRES, C.A.C. “O Simbolismo Maçônico em Stonehenge”, disponível em


www.freemasons.freemasonry.com, acesso em 30/04/2010.

56
As três portas da igualdade maçônica

Por princípio, a maçonaria é aberta a todos os homens de bem, sendo


estes oriundos de qualquer raça, credo, cor, ideologia, ou convicções políticas;
desde estes estejam de acordo com os nobres ideais maçônicos de liberdade,
igualdade e fraternidade entre todos os homens.
Isto significa que para ser maçom, o homem deve estar disposto a se livrar de
todos os vícios sociais e de todos os tipos de preconceito ou reserva que possa
ter, ainda que no seu íntimo mais profundo, contra qualquer outro ser humano,
seja de ordem social, política, racial, religiosa ou intelectual; deve se dispor a
dar a todos os homens, independentemente de suas diferentes origens e ou
convicções, o mesmo respeito, consideração e auxilio que destinaria àqueles
que, segundo a visão de determinados tipos de pessoas, pertencem à mesma
classe social ou lhe é semelhante em pensamento ou em algum quesito tão
ligado aos sectarismos sociais e preconceitos que escravizam os homens.
Assim a iniciação maçônica, processo pelo qual um homem se capacita para
entrar na fraternidade universal e eclética da maçonaria, busca destruir nos
homens, desde o princípio, aqueles preconceitos que eles possam ter em si
que possam levar-lhes a olhar para as outras pessoas e reconhecer nelas
alguma diferença em relação a si mesmos, no que se refere ao princípio da
igualdade em direitos ou deveres ou capacidades.
Através de um sistema de símbolos, a cerimônia de iniciação procura deixar
claro, desde o primeiro momento, que qualquer distinção entre os irmãos, a
não serem as de ordem moral ou em sabedoria, não são reconhecidas entre os
membros da sublime Ordem Maçônica e, por isso, o Candidato a Maçom
deverá se livrar de todos as opiniões preconcebidas e de todas as reservas que
porventura possa possuir contra quaisquer outras pessoas se desejar persistir
em seu desejo de ser aceito como maçom.
Tal é o papel, por exemplo, da Câmara de Reflexões em que o candidato é
recolhido onde vê símbolos da mortalidade, uma placa na parede com dizeres
claros advertindo o candidato justamente sobre esses valores.

57
Mas a iniciação é também o momento em que é preciso verificar quais são as
predisposições da alma do Candidato. Assim quando os candidatos entram no
templo, ainda de olhos vendados, eles deverão ser sondados e deverão
responder a perguntas para que os irmãos presentes possam conhecê-los
melhor e para saber como os candidatos interpretaram os símbolos que
presenciaram e explicá-los aos Candidatos para que possam utilizá-los em seu
progresso.
Os futuros maçons devem fazer três viagens simbólicas e em que cada uma
delas o candidato termina por bater três vezes em uma porta e embora os
candidatos ainda não tenham recebido a luz, tem ali um contato inicial com o
um dos símbolos mais constantes da maçonaria, o numero das batidas, pois
simboliza todos os ternários, e ao mesmo tempo o faz bater nas três portas da
mesma forma como os Aprendizes batem a porta do templo para solicitar
ingresso.
A primeira porta em que o candidato tem de bater é do altar do Segundo
Vigilante.
O Candidato bate três vezes e o 2° Vigilante, que simboliza a beleza
manifestada pela caridade, com que deve o maçom enfeitar sua vida e que o
candidato deve estar disposto a praticar sempre, atende desafiadoramente,
pois deve testar a sinceridade do candidato, pois só quando é sincera e
desinteressada, a caridade é realmente uma obra digna de um verdadeiro
maçom disposto a fortificar sua obra para resistir às tempestades imprevisíveis
do destino, presente na primeira viagem, sem cair no esquecimento destinado
aqueles não procuram tornar suas vidas em memoráveis legados de amor.
A segunda porta em que bate o Candidato é do altar do 1° Vigilante, que
simboliza a força necessária ao maçom para empreender a grande obra
maçônica. O Primeiro Vigilante atende ameaçadoramente as batidas desta
porta para testar a coragem, simbolizada nesta porta, que o candidato, assim
como o patriota que busca pelas instituições livres ou o navegante que se
aventura no mar revolto a procura de um porto seguro, deverá ter para
prosseguir em sua viagem rumo ao crescimento como indivíduo e também
como um incansável defensor do povo livre.
Esta coragem é também imprescindível àquele que se aventura em uma busca
à sabedoria e glória como maçom, mesmo sabendo que esta viagem também
poderá lhe trazer revezes e colocá-lo a mercê do povo que ele deve procurar
guiar, proteger e ajudar, como já aconteceu tantas vezes no passado com
visionários e entusiastas.
A terceira porta é o altar do Venerável Mestre, a qual o Candidato poderá bater
apenas após ter galgado os degraus simbólicos do oriente, cruzado a
balaustrada e desenvolvido as qualidades, não somente da força, trabalho,
ciência e virtude, simbolicamente inatas a todos aqueles que tem acento no
oriente, como também a pureza, luz e verdade, que são atribuídas à principal
luz do templo, o Venerável Mestre, que deve ser a fonte da luz da sabedoria e
presidente da loja, e cargo em que o Maçom só chegará a exercer se
demonstrar ter perseverança suficiente, sendo esta virtude testada no então
candidato, quando o Venerável Mestre lhe atende as batidas rispidamente e diz
alto! Quem vem lá?
Assim, durante as 3 viagens que se tem de empreender para alcançar o direito
de ser aceito como Maçom, o Candidato experimenta, de forma simbólica, todo
o percurso da evolução moral e intelectual que deverá galgar na maçonaria

58
simbólica para alcançar a posição máxima que se pode chegar em uma loja
simbólica, ou seja, o posto de Venerável Mestre, que, por ter a missão de abrir
a Loja, dirigi-la e esclarecê-la com as luzes da sabedoria, está na posição de
sábio que deve, com a humildade de um irmão despretensioso, iluminar, como
o sol, as vidas dos irmãos ali congregados.
Mas para chegar à condição de sábio, o homem deve lapidar-se
perseverantemente, aprender a desenvolver as qualidades que lhe são
ensinadas e requisitadas por cada símbolo que contempla constantemente no
templo, desde os degraus do altar do Venerável Mestre até as colunas
decorativas J e B, localizadas na entrada do templo. Mas para que o candidato
possa começar este caminho deverá primeiro ser digno de bater nas três
portas simbólicas.
Uma vez iniciado, o Aprendiz Maçom começa a ter direito a gozar da
companhia dos irmãos e dos símbolos que encerram os valores da nobre
ordem e ensinam a principal lição do grau que eles receberam: a fraternidade.
Assim aprenderão, olhando a harmonia produzida pelos contrários das cores
do Mosaico do Pavimento da Loja, que todos desfrutam do mesmo valor, da
mesma importância e da mesma representatividade e que quando unidos sem
sobrepujança de nenhum deles, produzem a beleza de uma obra harmônica
sem perderem sua característica própria.
Também aprenderão, olhando a orla dentada e estudando o seu significado
que a sabedoria deve ser difundida aos quatro ventos; aprenderão, pela Estrela
Flamejante, que deve o maçom irradiar caridade como o sol que irradia luz,
sem distinção quem se banha em seus raios; aprenderão que, neste grau,
voltado para a matéria, o compasso e o esquadro formão uma estrela de
Salomão em que o esquadro, assumindo a posição de triangulo que aponta
para baixo, sobressai-se mais neste grau, porque o aprendiz só trabalha sobre
a pedra bruta buscando a esquadria, e usará, por referencia, o esquadro
simbolizando a matéria, sobre a qual deverá trabalhar o aprendiz, buscando a
retidão em tudo e acima de tudo, para só depois de alcançá-la poder usar o
compasso.
Começará a aprender que a igualdade, simbolizada pelo nível, como condição
para fraternidade, está presente desde o nascimento, pois, todos são iguais
perante o grande arquiteto do universo desde o nascimento, sendo criados
todos simples e ignorantes, mas que somente o mérito da virtude moral e a
sabedoria poderão e deverão diferenciar os homens por justiça, sendo então
considerada como a maior das desigualdades quando se trata como iguais aos
casos desiguais deixando de considerar o mérito pessoal quando partidos
todos do mesmo princípio.
Os Aprendizes maçom aprenderão, assim, muitas coisas até que estejam
prontos para trabalhar sobre a pedra polida, pois os aprendizes só trabalham
sobre a pedra bruta e até que tenham aprendido todas as lições deste grau,
não poderão solicitar o aumento de salário em sua loja.
Entretanto não se deve esquecer que a maçonaria é universal, que o universo
é a verdadeira oficina e por tanto é no mundo profano e entre os homens
comuns que o maçom deve realmente exercitar todas as qualidades que
aprende em Loja, pelo simbolismo do Templo Maçônico e das cerimônias
ritualísticas.
Bibliografia
Apostila de Instruções para Aprendizes Lição. 1

59
Apostila de Instruções para Aprendizes Lição. 2
Apostila de Instruções para Aprendizes Lição. 3
Ritual do Grau de Aprendizes

Vaidade... Quanta vaidade!

VAIDADE, palavra pequena e de fácil pronunciamento, de tonalidade


suave aos ouvidos, porém, encerram em muitas ocasiões, situações
gravíssimas no comportamento do ser humano, com conseqüências
desastrosas.

A vaidade, literalmente falando, é a qualidade do que é vão, vanglória,


ostentação, presunção malformada de si, futilidade, e etc.

Soberba, orgulho, arrogância, vaidade e altivez são palavras que


possuem significados muito próximos nos dicionários. Especialistas consideram
que todos estes sentimentos sejam sinônimos.

Dessas qualidades a vanglória é perniciosa, pois objetiva o indivíduo


jactancioso, ou seja, presunçoso, arrogante e frívolo o egoísmo.

Pessoas tomadas por estes sentimentos são aquelas que olham para si
como dignos de admiração pelos outros. Crêem que estão acima das demais
pessoas, seja por sua beleza física, qualidades intelectuais, erudição, cultura
ou condições financeiras.

60
Vamos juntar todos estes sentimentos no adjetivo que se usou para
batizar um dos sete pecados capitais: vaidade.

O vaidoso é aquele indivíduo arrogante, que se julga superior, melhor,


acima. Aquele indivíduo que olha para as opiniões alheias com desprezo, ou na
melhor das intenções, até com dó mesmo e sobre os que professam opiniões
diferentes das suas, pensa: Idiotas!

O vaidoso tem orgulho de suas conquistas, de suas coisas, de suas


idéias, de sua existência que trás beleza e sabedoria ao mundo.

Na atualidade em função de sua beleza e “posição social”, torna-se um


sujeito arrogante e soberbo. Orgulhoso de suas qualidades, a tal ponto de
embriagar-se em sua vaidade e desejar em seu coração ser igual a Deus.

É isto! O vaidoso é um semideus.


Assim, o sujeito vira o seu próprio Deus.
E não raro o fim dos arrogantes é a desgraça, mesmo que momentânea.

A grana pode acabar.


A saúde pode faltar.
A família pode esfacelar-se.
A demissão pode bater à porta.
O vaidoso pode descobrir sua real impotência.

Quando somos espelhos

O homem não gosta de se ver no espelho e usa as virtudes capitais


como se fossem valores naturais na espécie e não o resultado de um rígido
controle dos instintos em busca do autoconhecimento.

Afirmar categoricamente que o egoísmo faz parte da natureza humana


faz com que vozes se levantem com inúmeros argumentos para negar à
afirmativa.

São muitas as qualidades que ajudam a encobrir o óbvio, mas, como


tudo que foge à verdade, há um momento em que a redoma da hipocrisia se
desfaz e o ser humano não tem alternativa senão se render às evidências,
geradas por sua própria experiência.

É bem verdade que muitos de nós nem chegaremos a nos incomodar


com determinados sentimentos; muitos nem fomos tocados pelas virtudes e
pela necessidade de aprimorar o caráter e o espírito.

Assim, movidos por um instinto gregário e social aceitamos, sem


qualquer reflexão, aquilo que é comum a todos nós.

Todos entendemos que a vaidade é a conseqüência do egoísmo que se


vê limitado pela sociedade.

61
Vaidade é este desejo de estar sempre em evidência e que mostra
apenas um malabarista que improvisa virtudes que nem sempre tem o que
também não quer dizer que a vaidade seja sinônima de incompetência.

Para Aristóteles, as virtudes e os vícios podem ser definidos pelo


critério do excesso, da falta e da moderação.

O vício sempre seria uma conduta ou um sentimento excessivo ou


deficiente. Já a virtude seria o sentimento ou conduta moderado.

Para o filósofo, a vaidade peca pelo excesso, a modéstia pela


deficiência e a virtude estaria no respeito próprio, diante da vaidade ou da
modéstia. Mais uma vez, encontramos a triangulação que encontra no centro a
justiça e a perfeição das nossas atitudes e comportamentos.

A vaidade personificada tem sua origem na mitologia grega. Narciso era


um jovem e belo rapaz que rejeitou a ninfa Eco e foi punido com a maldição de
apaixonar-se de forma incontrolável por sua própria imagem refletida na água.

Sendo eco e reflexo de si mesmo e não podendo levar a termos sua


própria paixão, Narciso se suicida por afogamento. Na realidade, este é um
assunto que podemos debater a partir do ponto de vista da filosofia, mas que o
nosso saber prático permite que todos tenham condições de falar e construir
um pensamento a este respeito.

Neste sentido, a arte desempenha um importante papel, na medida em


que nos proporciona as grandes noções da vida, por meio de uma experiência
emocional. É assim com a literatura, com a música, com o teatro, com a dança.

Identificamo-nos com os personagens e isto nos proporciona uma


catarse, uma descarga de desordens emocionais que nos purifica. Interessante
observar que para o artista, o simples fato de representar o coloca nos dois
lados da questão, além de poder se identificar com os conflitos internos na pele
dos personagens, também pode se esconder deles com a mesma ferramenta.

A vaidade, nestes casos, fica encoberta pelo talento, pela contingência


profissional, o mostrar-se é socialmente aceito e o palco acolhe a sua grande
explosão. Não é de se estranhar que a maioria dos artistas se diz tímida.

A alma humana é a mais completa de todas, não é só instinto, é também


sensível, mas o grande diferencial está na racionalidade.

O que nos faz humanos não é deixar fluir os nossos instintos, mas
fazermos o uso racional deles.

Em princípio, o ser humano quer ser feliz e para isso pode se contentar
com a posse e contato com seus objetos de prazer, como pode precisar
alimentar a sua vaidade por meio do reconhecimento de sua excelência
pessoal pelo outro.

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O homem também pode entender que a felicidade é possível por estar
bem consigo mesmo.

É quando ele próprio se reconhece em sua magnitude e busca se


premiar por isso, com comportamentos compatíveis com sua maneira de
pensar, com valores voltados para si mesmo e que podem ser consumidos no
viver bem e na busca da felicidade.

Este é um aspecto do egoísmo que o mal não é real; o que se evidencia


é o respeito a si mesmo, e isto é uma virtude.

A presunção mal fundada de si traz em seu seio situações


embaraçosas, notadamente na Maçonaria, visto que aqui todos se tratam por
Irmãos e presume-se que a verdade deve imperar sempre.

A tão propalada vaidade feminina não traz conseqüências, pois se


atém tão-somente na área de estética. A masculina quando não se atém às
futilidades torna-se algo de preocupação, encerra-se muitas vezes em disputas
desnecessárias, gerando graves problemas de ordem interna, principalmente
quando essa vaidade inclui fator poder.

O fator poder é inerente ao ser humano, na Maçonaria no desbastar da


Pedra Bruta, ou seja, no seu próprio burilamento cada um recebe a
incumbência de burilar a si próprio e aos que estão a sua volta.

Arvorar-se na condição do dever cumprido, de ser possuidor de títulos


ou de possuir extensa bagagem maçônica, não contribui em nada para os
destinos da Ordem.

Maçonaria se faz no dia-a-dia, na conquista permanente de novos


adeptos e na tentativa da melhoria constante da espécie humana. A busca
incessante e permanente da verdade faz da Sublime Instituição, organização
sem similar.

A permanência da Maçonaria como instituição respeitável como é, deve


necessariamente contar com a renúncia das possíveis vaidades de seus
membros para o bem comum.

Mas, vemos com freqüência Irmãos desentendidos ou que se fazem de


desentendidos, querendo manter a ferro e fogo o seu círculo de poder. Apesar
da inerência do poder ao ser humano, o Maçom pelos ensinamentos recebidos
não pode a isso se ater.

A perpetuação de uma instituição passa, com absoluta certeza, pelo grau


de compreensão de seus membros e na renovação sistemática de suas
lideranças. Cabe a cada um de seus membros renunciarem às vaidades e
presunções infundadas para o bem.

A título de exemplo, tem Irmãos que gostam de apologizar-se, em


descumprir a legislação em vigor, criando com esses atos bolsões de

63
intransigências, que mais tarde derivam-se na mais pura vaidade e arrogância
de ser um descumpridor, notadamente, de um poder que não tem
coercitividade, que afinal é o caso da Maçonaria.

Para vivermos em Igualdade, sem qualquer Grau de subordinação, é


muito difícil; porém, dentro da Maçonaria é necessário.

Não basta respeitar ao Irmão como homem, deve respeitar como


Maçom. Não importa qual o Grau ou Rito que freqüente, importa sim, o respeito
pelo ato da Iniciação e pela instituição a que o Maçom pertence.

Esta diversidade que o Maçom possui, deve ela crescer sempre em


benefício da ordem, e não transformar-se em um poço de orgulho, egoísmo e
vaidade.

Ter vaidade de ser Maçom é muito bom e proveitoso, mas ser um


Maçom vaidoso e refém do poder, com absoluta certeza, não trará qualquer
benefício à Ordem e aos Irmãos.

Os três principios de sustentação da Maçonaria: Liberdade, Igualdade e


Fraternidade, não devem ser distorcidas de sua real finalidade. Ao viciar
qualquer ensinamento ou distorcê-lo é um perjúrio, os Irmãos devem ter
consciência disso.

As reuniões costumeiras e obrigatórias deveriam servir como bálsamo


às nossas dificuldades e angústias do dia-a-dia. Infelizmente não é isso que
amiúde presenciamos, a praxe é uma guerra surda no sentido de manter
posições, ou seja, o “statu quo ante”, isso é incompatível com o princípio da
Sublime Instituição.

Entre um homem simplesmente vestido de Avental e um Maçom, tem


uma diferença significativa.

O valor monetário que cada um possui, não deveria servir de nível para
o empreendimento das ações internas.

Cada expressão monetária entregue para a guarda e aplicação de cada


Irmão, feita pelo G.’. A.’. D.’. U.’., deve ser entendida como encargo e não
como alavanca do bem ou do mal.

Cada centavo de real confiado a cada um, vai ser exigida a respectiva
prestação de contas.

A parábola dos talentos vem a isso confirmar. Ninguém é dono de nada,


apenas o seu guardião, os Irmãos devem isso se lembrar, o nivelamento pelo
valor monetário disponível por cada um, não serve para a caracterização do
reconhecimento e vinculação maçônica.

Cada Irmão deve ser entendido e aceito independentemente, o que vale


e significa muito para a Maçonaria são os fatores intrínsecos, isto é, os fatores

64
internos da Ordem, a sua irradiação de valores humanos, hauridos por seus
membros em Loja.

A Maçonaria é uma escola de humanismo e disso ninguém pode


duvidar. Tanto no estudo da filosofia, da filologia e no campo social, a
Maçonaria incute aos seus adeptos essa capacidade de modificação no
comportamento e na visão geral da sociedade, notadamente, nas condutas de
moral e ética.

Portanto, dentro da Ordem, não há espaço para as vaidades pessoais,


devemos sim, preservá-la e mantê-la fora dessas situações tão
comprometedoras de seu futuro. Não temos o direito de atentar contra seus
sublimes princípios.

Reflitamos sobre nossas atitudes.

65
Do meio dia à meia noite...

Zoroastro, também conhecido como Zaratustra, foi um sábio árabe


nascido no século VII a.C., cujo pensamento influenciou religiões monoteístas
tais como; o Islamismo, o Judaísmo e até mesmo, o Cristianismo. Os livros do
Zoroastrismo (ou Masdeísmo) relatam suas proezas, desde mais tenra idade.
Dizem que quando nasceu, ao contrário de chorar, ele alegremente e
calorosamente riu para os presentes. Para alguns dos presentes, era sinal que
havia chegado um ser de Luz; para outros um demônio, e por causa disto, no
seu primeiro dia de vida, foi colocado em uma fogueira, porém, ele não se
queimou. Depois foi colocado à frente de uma manada de mil bois, protegido
por um destes que sobre ele se colocou, nada sofreu.
Finalmente, colocara -no dentro de uma toca de lobos para que fosse
devorado, mas, uma loba cuidou dele até que sua mãe viesse buscá-lo. O bebê
cresceu e sempre foi um ser introspectivo, caminhava pelas redondezas de sua
vila a indagar: Quem faz a Lua crescer ou diminuir? Quem criou o Sol e as
Estrelas?
Quem colocou nos homens o sentimento de Bondade e Justiça? Aos 15
anos de idade, já era um exemplo, pelo seu conhecimento dos preceitos
religiosos de sua época, e, notadamente um ser bondoso para com os homens
e a natureza. Alguns relatos, dizem que aos 20 anos de idade, ele se afastou
de sua comunidade e, por dez anos viveu em contemplação e meditação. Aos
30anos de idade, lhe apareceu uma divindade de nome Vohu Mano (“Boa
Mente”), que o levou ao encontro de Sete seres míticos.
Então, lhe foi dito: “Zoroastro, se quiser, você pode encontrar dentro de
si, as respostas para todas as perguntas que lhe angustiam”,dando-lhe ainda, o
fardo de ser o profeta que deveria anunciar a boa nova ao povo. “ -Porque eu?
Não sou poderoso e nem tenho recursos!” Questionou Zoroastro. Em
uníssono, os seres responderam: “-Você tem tudo de que precisa, o que todos
igualmente têm: Bons pensamentos, boas palavras e boas ações”.
Depois desta revelação, ele se propôs a difundir o que seria, não
apenas, mais uma religião, mas, um sistema religioso-filosófico monoteísta.
Este sistema, não valorizava somente o homem como redentor de si mesmo;
era contra o sacrifício de animais e valorizava o trabalho como um ato sagrado.
“O que mais vale em um trabalho, é a dedicação do trabalhador”.“O que lavra a
terra com dedicação, tem mais mérito religioso, do que poderia obter com mil
orações, sem nada fazer”
No começo de sua jornada, foi mais uma voz a clamar no deserto. Com
o passar do tempo, seus conhecimentos se espalharam por toda a Pérsia,
chegando a se torna religião oficial.Muitos foram iniciados em seus augustos
mistérios. O Livro Sagrado do Zoroastrismo (ou Masdeísmo) chama-se Avesta
(ZendAvesta), e a moral está na frase: “Aja,como gostaria que, agissem contigo
”. Zoroastro morreu assassinado no Templo, diante do Altar do Fogo Sagrado.
Agora, está na hora da pergunta:
-Mas o que isso tem a ver com Maçonaria? Zoroastro reunia seus
seguidores, em reuniões secretas dentro do Templo...

66
DO MEIO DIA À MEIA NOITEE temos Irmãos que brincam dizendo; o
Ir 2º Vig. não sabe olhar as horas! Volto a repetir: Na Maçonaria, tudo existe
com um propósito maior. Esta pequena frase é o fio da meada, para aqueles
que estudando, aprenderão que, “Deus está sempre à tua porta, na pessoa dos
teus Irmãos de todo o Universo”Igual a esta mensagem subliminar, existem
outras mais em nossos Rituais , que os ritualistas colocaram para que
possamos pesquisar sobre seus autores e suas obras.
Meus Irmãos, o objetivo deste pequeno artigo, é despertar a vontade
de conhecer um pouco mais sobre o assunto, fazer uma pesquisa e quando ela
estiver pronta, levar para sua Loja, enriquecendo nosso Quarto de Hora de
Estudos. Lembre-se, que todos nós, independente do Grau ou do Cargo,
somos responsáveis pela qualidade das Sessões Maçônicas.
TFA
Autoria do Irmão Sérgio Quirino Guimarães- ARLS Presidente Roosevelt nº 025-
Grande Loja Belo Horizonte –Minas Gerais

67
As três grandes colunas da Loja

Sustentam nossa Loj.'. três CCol.'., denominadas Col.’. Jônica, Col.’.


Dórica e Col.’. Coríntia, representando respectivamente a tríade SABEDORIA,
FORÇA e BELEZA.
Baseadas nas edificações do Templ.'. do Rei Salomão, um dos
primeiros locais de Culto Divino que se tem conhecimento, erguido sob os
auspícios do próprio Rei Salomão ou V.’.M.’. , cuja Sabedoria a todos os seus
súditos encantava, Hiram Rei de Tiro espelhando o 1º Vig.’., cujo Poder e
Força possibilitaram a Salomão a construção do Templo. E HIRAM-ABIF
representado pelo 2º Vig.’., cuja habilidade em transformar o bruto em belo a
todos maravilhava. Exímios escultores e hábeis arquitetos. Templ.'. fundado
com base no Tabernáculo, erguido por Moisés, para receber a Arca da Aliança
e as Tábuas da Lei.
ORIGEM DO SIMBOLISMO: Simbolistas afirmam que, nos tempos da
Maçonaria Operativa, antes dos trabalhos maçônicos, geralmente em locais
improvisados, os símbolos necessários à sessão eram desenhados
precariamente no piso do local e, ao término da mesma, eram então,
apagados. O painel da Loja teria surgido para evitar essa operação.
Era comum o uso de velas acesas sobre candelabros nos locais que
representavam as três janelas, ou seja: uma a leste (Oriente), outra a oeste
(Ocidente) e a terceira ao sul (Meio-dia). Em diversos trabalhos afirmam que
"elas representavam as três portas do Templo de Salomão...” Pequenos pilares
situados ao lado dos altares dos três principais oficiais, com o tempo os oficiais
passaram a substituir esses candelabros.
Segundo os principais simbolistas, coube à Maçonaria miniaturizar os
pilares laterais e posicioná-los sobre os altares do Venerável Mestre e dos

68
Vigilantes. Destaquemos o significado de coluna: uma coluna é dividida em três
partes principais, a base parte de contato com o solo, o fuste, parte que
compõe o corpo do pilar, e o capitel, parte de sustentação da trave.
A Sabedoria “Jônica”: Associada ao V.’. M.’.. Deve nos orientar no
caminho da vida, estamos sempre em busca de mais conhecimentos, através
de livros e ensinamentos, e aberto para indicar e passar aos irmãos o que
sabemos, embora sejamos eternos aprendizes.
Esta coluna é igual a nove vezes ao seu diâmetro. O fuste é
assentado sobre o pedestal, contornando ele possui vinte e quatro estrias,
separadas por filetes. Em seu capitel apresentam-se duas volutas, dando ao
pilar a elegância e a esbelteza de uma bela mulher.
A lenda fala que Íon, chefe grego, foi mandado à Ásia, onde construiu
templos em Éfeso, dedicados a deuses gregos. Íon observou que as folhas de
cortiça, colocadas sobre os pilares para evitar infiltração de água e amortecer o
peso das traves, com o tempo, cedendo à pressão, contorciam-se em forma de
volutas, imitando madeixas de mulher, peculiaridade essa que é a principal
característica da Ordem Jônica.
A Força “Dórica”: Associada ao 1º Vig.’.. Animar-nos e sustenta em
todas as dificuldades, lembrando sempre que não estamos sozinhos, temos em
mãos nossas ferramentas, maço sinzel e alavanca.
A altura do pilar dórico corresponde a oito vezes ao seu diâmetro. Ele
não tem base e o seu fuste é assentado diretamente ao solo sem pedestal. Seu
contorno é circundado por 2O canelura, e seu capitel é formado de molduras,
imitando uma taça.
A lenda conta que Doros, filho de Heleno, mediu o pé de um homem de
estatura mediana, na época, e constatou ser essa medida correspondente a
oito vezes a sua altura. Guiando-se por essa relação, ideou o pilar, dórico,
robusto, forte e nobre.
A Beleza “Corintia”: Associada ao 2º Vig.’.. Adorna todas as nossas
ações, nosso caráter e nosso espírito, dentro da loja, ela se faz presente nos
paramentos, jóias, mimos e chaveiros. Abriga formas belas, elegantes e
proporções delicadas, lembrando uma bela donzela. A altura do Pilar Coríntio é
igual a 10 vezes o seu diâmetro. O fuste pode ser liso ou estriado. Quando é
esculpido em granito ou em pórfiro, tem o fuste liso. Quando talhado em
mármore é, estriado, podendo ter de 24 a 32 caneluras, desde que esse
número de estrias seja passível de divisão por quatro.
A lenda fala que a ama levou uma cesta, contendo brinquedos à
sepultura da criança e cobriu-a com uma velha telha, por causa das chuvas. Ao

69
chegar a primavera, um pé de acanto germinou e cresceu, transformando-se
em formosa árvore. Folhas de acanto, cesta e telha teriam produzido um
belíssimo efeito ao crescer a planta. Essa cena teria sido magistralmente
capitada pelo poeta e escultor Calímaco, que talhou um pilar de rara beleza,
com o capitel copiado daquela cena.
Conclusão
O edifício espiritual da Maçonaria descansa sobre estas colunas
simbólicas. A Sabedoria concebe a construção, ordena o caos, cria e determina
a realização. A Força executa o projeto, segundo instruções da Sabedoria.
Contudo, não basta ser a edificação bem projetada e bem executada. É preciso
ser bem adornada pela Beleza.
Sendo assim, todo Maç.'. deve ter essas qualidades Sabedoria, que
orienta, Força, que executa e Beleza, que embeleza as ações, para que possa
realizar com exatidão os seus trabalhos de fraternidade, caridade para com a
sociedade.

70
Estar entre colunas

I.Introdução
O propósito do presente trabalho é delinear os direitos e obrigações do
“Entre Colunas”, prática muito usada especialmente nas reuniões capitulares
de uma das ordens Básicas da Maçonaria, que foi a Ordem dos Cavaleiros
Templários. Infelizmente, não mais tem sido ensinada e nem posta em práticas
nas Lojas.
O interior de uma loja Maçônica (Templo) é dividido em quatro partes,
onde a mesma simboliza o Universo.
Assim temos o Oriente, o Norte e o Sul. Em algum tempo na história, logo após
a construção do primeiro templo Maçônico do mundo, o Freemasons Hall, em
Londres, no ano de 1776, baseado inteiramente no parlamento Inglês,
construído em 1296, estabeleceu-se que as áreas pertencentes ao Norte e ao
Sul chamar-se-iam Coluna do Norte e Coluna do Sul.
Assim, quando um Irmão, em Loja está Entre a Coluna do Norte e a do
Sul, e não entre as Colunas B e J. Mesmo próximo à grade que separa o
Oriente do resto da Loja, o Irmão estará Entre Colunas.
Desta forma é extremamente incorreto dizer que o passo ritualístico dos
maçons tem que começar entre as Colunas B e J. Tanto isso é verdade, que os
Templos modernos, especialmente de Lojas de Jurisdição do grande Oriente
do Brasil e MG, têm suas Colunas B e J no Átrio, e não no interior do Templo.
Em síntese, podemos apresentar algumas situações do que é Estar Entre
Colunas:
É conjunto de Obreiros que formam as Colunas Norte Sul;
Em sentido figurado, são os recursos físicos, financeiros morais e
humanos, que mantêm uma instituição maçônica em pleno funcionamento;
É quando a palavra está nas Colunas em discussão;
É quando o Irmão, colocar-se ou postar-se entre as Colunas Norte e do
Sul, no centro do piso de mosaico onde isto evidencia que o Obreiro que assim
o faz, é o Alvo de atenção de toda Oficina;

71
Na circulação do Tronco de Beneficência, o 1º Decágono aguarda Entre
Colunas;
Quando o Porta-Bandeira, com a Bandeira apoiada no ombro, entra no
templo este por sua vez se põe Entre Colunas.
Na apresentação de Trabalhos, o Irmão se apresentar Entre Colunas
durante o Tempo de Estudos;
No atraso do Irmão, o mesmo ao adentrar ao Templo ficará à ordem e
Entre Colunas nas, aguardando a ordem do V.•. M.•. para que tome posse do
assento.
Em atividades ou em conversas sigilosas;
Em assuntos ditos ou feitos, o qual jura segredo;
II--Desenvolvimento
Em toda a Assembléia Maçônica, os irmãos poderão se haver do uso
da palavra em momento oportuno; caso queira obter a palavra estando “Entre
Colunas”, poderá solicitá-la com antecedência ao Venerável Mestre, e
obrigatoriamente levar ao seu reconhecimento o assunto a ser tratado.
Sendo o Obreiro impedido de falar, ou sofra algum desrespeito a seus
direitos, poderá solicitar ao Venerável Mestre que o conduza ”Entre Colunas”, e
se autorizado pela parte Venerável o mesmo poderá falar sem ser interrompido
desde que haja um decoro de um Maçom. Se, para estar Entre Colunas é
necessária a autorização do V.•. M.•., em contrapartida, nenhum Irmão pode se
negar de ocupar aquela posição, quando legalmente solicitado pela Loja, sob
pena de punição.
No entanto, as possibilidades do uso da Palavra Entre Colunas são
muitas e constituem um dos melhores instrumentos dos Obreiros do Quadro,
sendo uma das maiores fontes de direito, de liberdade e de garantia, tanto para
os irmãos, quanto para a loja. Não há regulamentação; tal vez por isso, cada
dia esse direito vem sendo eliminado dos trabalhos maçônicos.
Atualmente um Irmão somente é solicitado a estar Entre Colunas, em
situação de humilhação e situações tanto quanto degradantes e
constrangedoras. Associou-se a idéia de responder Entre Colunas à idéia de
punição, quando em realidade isso deveria ser diferente e muito melhor
explorado, em beneficio do Quadro de Obreiros de todas as lojas.
Estando Entre Colunas, um Irmão pode acusar, defender a sua ou
outrem, pedir e julgar, assim como comunicar algo que necessite sigilo
absoluto, devendo estar consciente da posição que está revestido, isto é,
grande responsabilidade por tudo que disser ou vier a fazer.
A tradição maçônica é tão rigorosa no tange á liberdade de expressão,
que quando um Irmão estiver em Pé e a Ordem e Entre Colunas, para externar
sua opinião ou defender-se, não pode ser interrompido, exceto se tiver sua
palavra cassada pelo venerável Mestre, ato este conferido ao mesmo.
Estando Entre Colunas, o Irmão NÃO poderá se negar a responder a
qualquer pergunta, por mais íntima que seja e também não poderá mentir ou
omitir sobre a verdade dos fatos, pois desta forma o Irmão perde sumariamente
os seus direitos maçônicos, pelo que deve ser julgado não importando os
motivos que o levaram a tais atitudes.
Por motivos pessoais, um maçom pode se negar a responder a quem
que seja aquilo que não lhe convier, mas se a indagação for feita Entre
Colunas, nenhuma razão justificará qualquer resposta infiel.
Igual crime comete aquele que obrigar alguém a confessar coisas Entre
72
Colunas injustificadamente, aproveitando-se da posição em que se encontra o
Irmão sem que haja razão lícita e necessária, por perseguição ou com intuito
de ofender, agravar ou humilhar desnecessariamente.
Quando um irmão está Entre Colunas e indaga os demais Irmãos
sobre qualquer questão, de forma alguma lhe pode ser negada uma resposta.
Nenhuma razão justificará que seja mantido silêncio por aquele que tenha algo
a responder.Uma aplicação prática do Entre Colunas pode ser referência a
assuntos do mundo profano. É lícito e muito útil pedir informações Entre
Colunas, sejam sociais, morais, comerciais, etc., sobre qualquer pessoa, Irmão
ou Profano, desde que haja razões válidas para tal fim.
Qualquer dos presentes que tiver conhecimento de algo está obrigado
a declarar, sob pena de infração ás leis Maçônicas. O Irmão que solicitou as
informações poderá fazer uso das mesmas, porém deve guardar o mais
profundo silêncio sobre tudo que lhe for revelado e jamais poderá, com as
informações recebidas, praticar qualquer ato que possa comprometer a vida
dos informantes ou a própria Loja. Se não agir dessa forma será infrator das
Leis Maçônicas.
Suponhamos que um Irmão tenha algum negócio a realizar em outro
Oriente e necessita informações, mesmo comerciais, sobre alguma pessoa ou
firma. A ele é lícito indagar essas informações Entre Colunas e todos os
demais Irmãos, se souberem de algo a respeito, são obrigados a darem
respostas ao solicitante.
Outro meio Lícito e útil de se obter informações é através de uma
prancha, endereçada a uma determinada Loja, para se lidar Entre Colunas.
Neste caso, a Loja é obrigada a responder, guardar o mais profundo silêncio
sobre o assunto, cabendo todos os direitos, obrigações e cabendo todos os
direitos, obrigações e responsabilidades ao solicitador, que deverá guardar
segredo sobre tudo o que lhe foi respondido e a fonte de informações.
III- Conclusão
Muitas são as acepções que norteiam sobre os ensinamentos do
significado de Estar entre Colunas, porém, deve o Maçom sempre edificar suas
Colunas interiores embaçado pelos Princípios da Liberdade, Igualdade e
Fraternidade, primando pelo bem-estar da família e pelo aperfeiçoamento da
sociedade através do trabalho e do estudo, para com isso perfazer-se um
homem livre e de bons Costumes.
Como dissemos no início, não há mais regulamentação ou Leis
Normativas para o uso do Entre Colunas; e se não há normas que sejam
encontradas nos livros maçônicos, é porque pura e simplesmente os princípios
da condição Estar Entre Colunas, somente a verdade pode ser dita. Obedecido
este princípios tudo mais é decorrência.
Este, alegoricamente, talvez seja o real significado no bojo dos
ministérios que reagem as Colunas da Maçonaria, pois Estar entre Coluna é
estar entre Irmãos.

Bibliografia
ASLAN, Nicola. Grande Dicionário Enciclopédico de Maçonaria e Simbologia.
Londrina: “ A TROLHA.
CARVALHO, Assis. Companheiro Maçom. Londrina ”A TROLHA”.
Símbolos Maçônicos e suas origens. Londrina: “A TROLHA”.
CASTELLANI, José. Liturgia e Ritualística do Grau de Aprendiz Maçom

73
EGITO, José Laércio do. In Coletânea 2. Londrina: “ A TROLHA”.

Trabalho de autoria do Irmão Hugo R. Pimentel

Meu ritual maçônico...

Adalberto Rigueira Viana

Segunda-feira.... Toda segunda-feira ao levantar-me, vou ao meu


guarda-roupas e de lá retiro o meu terno preto, minha gravata também preta e
a camisa branca e peço à minha esposa para dar-lhes um trato porque à noite,
terei mais uma reunião da minha Augusta, Respeitável e Benfeitora Loja
Simbólica Acácia Viçosense, nº 1808,ao Oriente de Viçosa no Estado das
Minas Gerais.
Na parte da tarde pego o meu par de sapatos e dou-lhe uma
engraxada fazendo-o ficar brilhando. Vou em meu armário partícula e de lá
retiro o meu Avental de Mestre Instalado, que tenho grande orgulho de cingi-lo
na Sala dos Passos Perdidos.
Há 31 anos passo pelo mesmo ritual e durante todo dia fico esperando
a hora passar para que eu possa lá chegar para cumprir o compromisso que
um dia assumi solenemente; freqüentar com assiduidade todos os nosso
trabalhos.
Como é bom chegar no nosso Templo e encontrar aqueles irmãos com
os quais dividimos os mesmos pensamentos e ideais maçônicos, sempre
pensando no bem estar da humanidade. Tristemente também, percebemos que
muitos dos quais que privam da nossa amizade sincera, quase sempre lá não
se encontram ou não chegam.
Chegada a hora da entrada, o silêncio do átrio nos faz rememorar
inúmeras passagens e desfilam pela nossa cabeça cenas que remontam ao dia
da nossa iniciação. Por incrível que possa parecer, a primeira imagem que
vislumbro neste momento é a figura do meu saudoso pai e irmão Acir Vieira
Viana que também ali estava no dia da minha iniciação.
Como Orador que sou, tenho um lugar privilegiado na Loja que me
facilita observar atentamente , principalmente alguns irmãos que se colocam na
coluna do sul e alguns da coluna do norte.
Quando olho para a minha esquerda e vejo a cadeira do irmão 1º
Diácono sinto um vazio enorme no peito, pois, fora ali que o meu pai estivera
sentado no dia 18 de agosto de 1984, quando vi pela primeira vez um facho de
luz na escuridão maçônica.
Iniciada a reunião, como que revendo um filme triste, tenho a minha
mente atormentada pela saudade de muitos estimados irmãos com os quais ali
convivi diuturnamente e que não mais ali estão fisicamente; passaram para o
Oriente Eterno e que para nossa felicidade, nos legaram uma fonte inesgotável
de exemplos. de honradez, honestidade, humildade e de fraternidade..
Apesar de toda a minha preparação anterior para cada reunião, muitas
vezes sentimos que elas jamais serão iguais. Primeiramente porque em cada
uma delas estarão irmãos diferentes das outras, como novos visitantes e outros
contumazes que ali chegam para estreitar os nossos laços de amizade
fraterna.

74
Ficamos embevecidos em inúmeras oportunidades quando durante os
Tempo de Estudo, verdadeira peças da mais bela arquitetura são transmitidas
aos presentes, fazendo com que cada faça uma profunda reflexão sobre os
ensinamentos dali emanados.
Porém, em situações imprevisíveis, o pior acontece. Algumas vezes,
surgem discussões acaloradas entre irmãos intolerantes que mesmo
portadores de graus elevados, ainda não aprenderam a respeitar as opiniões
ponderadas de irmãos sensatos que abordam determinados assuntos, sempre
a bem da Ordem e do Quadro. E como isso nos entristece.
Há irmãos extremamente corteses, cuja educação e mesura muitas
vezes extrapolam e nos deixam até inibidos diante de tanta finura no trato
conosco e com outros irmãos como nós.
E, como é agradável quando uma reunião ocorre dentro do maior
respeito e da verdadeira egrégora maçônica e ao final, como Orador poder
dizer que os nossos trabalhos transcorreram de acordo com os nossos
princípios e leis, estando assim tudo justo e perfeito.
Fechado o Livro da Lei e terminada a reunião, vamos colher os frutos
dos ensinamentos que dali extraímos e juntos, num ágape fraternal quando
trataremos dos mais diversos e variados assuntos familiares, profissionais,
esportivos e tantos outros. Ali naquele agradável ambiente permanecemos o
tempo que nos é permitido e felizes, voltamos de regresso ao nosso lar para
rever a esposa que nos aguarda ansiosamente.
Quem poderá se ufanar e dizer um dia como eu que teve a felicidade
de ter um pai, como irmão maçom e a mãe, como cunhada por ser esposa do
meu pai-irmão?
Fomos bafejados pela sorte e podemos nos considerar como pessoa
iluminada e por isso, tudo fazemos para não decepcionar qualquer irmão que
tem a distinção de se trajar com a nossa roupa preta, tão respeitada pelos
maçons espalhados por toda a superfície da terra.

75
Assiduidade maçônica

De forma simplista, compreendemos ser assíduo como estar sempre


presente a determinada situação ou local. Aí é que está o engano.
Prova deste equívoco é o exemplo do funcionário que, invariavelmente,
bate o ponto na hora estabelecida para entrada e passa o resto do dia
se esquivando do trabalho, contando os minutos para ir embora.

Infelizmente, ainda encontramos este tipo de "trabalhador" nas Lojas


Maçônicas. Nossa assiduidade não se manifesta em ESTAR PRESENTE e
sim em SER PRESENTE.

O chamamento "em Loja", não significa "visita habitual". “Em Loja” quer

dizer "trabalho constante".

Não é só ocupando cargos que trabalhamos. São demonstrações do


SER
PRESENTE a emanação de boas vibrações, a atenção às instruções
ministradas, as propostas de ações juntamente com o compromisso de
participação e, principalmente, a sabedoria do silêncio obsequioso.

Há um determinado grau da Maçonaria, cuja divisa é "ut sedulae


iisdem tribuantur trulla cementarii", cuja moral conclama o construtor a usar
sempre suas ferramentas, para que sua mente não esqueça a função de
cada um, que seu corpo não perca o tônus, e que a obra perdure mais que
sua vida.

A PIRÂMIDE INACABADA, SÍMBOLO MAÇÔNICO ENCONTRADO NA


NOTA DE UM DÓLAR, REMETE AO VERDADEIRO MAÇOM, SUA REAL
CONDIÇÃO DE DILIGENTE, COMPROMISSADO, INCESSANTE,LABORIOSO
E CONTÍNUO, POIS A OBRA NÃO ESTÁ PRONTA.

Este artigo foi inspirado no livro “BREVIÁRIO MAÇÔNICO" 6a. Edição


2012, do Irmão Rizzardo da Camino. Na página 55, ele alerta:
"Maçom! A sua presença na Loja é vital; seja assíduo e receberá a
recompensa destinada aos cumpridores de seus compromissos".

Neste nono ano de compartilhamento de instruções maçônicas,


mantemos a
intenção primaz de fomentar os Irmãos a desenvolverem o tema tratado e
apresentarem Prancha de Arquitetura, enriquecendo o Quarto-de-Hora-de-
Estudo das Lojas.

Precisamos incentivar os Obreiros da Arte Real ao salutar hábito da


76
leitura como ferramenta de enlevo cultural, moral, ético e de formação
maçônica.

Trabalho de autoria do Irmão Sérgio Quirino - ARLS Presidente Roosevelt 025 -


GLMMG

Por que a maçonaria não inicia mulheres?

Há, basicamente, dois fundamentos para a Maçonaria não aceitar


mulheres como membros:
1º) - a origem Operativa da Ordem, e 2º) - por ser, a Maçonaria, um rito
solar (masculino).
A origem da Maçonaria moderna está nas Corporações de Ofício?
Espécies de sindicatos, na Idade Média. Especificamente, a corporação de
pedreiros. A palavra "Maçonaria" em francês, "Maçonnerie", é derivada do
francês "maçon", pedreiro. Ou, como preferem alguns, do inglês "Masonry"
(Maçonaria) e "mason", igualmente, pedreiro.
Pode-se inferir que, seus primeiros integrantes operavam,
materialmente, em construções, obras - eram trabalhadores especializados,
construtores de Templos, de Igrejas, pontes, moradias etc, os quais, desde a
Antigüidade, detinham conhecimentos especiais e constituíam uma espécie de
aristocracia do trabalho. Eram os profissionais mais qualificados da Europa, e
mantinham as técnicas de seu ofício, em segredo.
Esta fase da Maçonaria é conhecida como "Operativa", porque seus
membros trabalhavam em construções? Eram obreiros. Na Idade Média havia
dois tipos de pedreiros: o "rough mason", pedreiro bruto que trabalhava com a
pedra sem extrair-lhe forma ou polimento, e o "free mason", pedreiro livre, que
detinha o segredo de como polir a pedra bruta.
A Ordem Maçônica, atualmente Maçonaria Especulativa, não inicia
mulheres, pois tendo evoluído da Maçonaria Operativa, adotou a antiga
regulamentação que previa o seguinte (por entender que, a mulher não é afeita
ao trabalho árduo de pedreiro, ofício original dos primeiros integrantes.
As corporações de pedreiros eram constituídas, exclusivamente, por
pessoas do sexo masculino: "As pessoas admitidas como membros de uma
Loja devem ser homens bons e de princípios virtuosos, nascidos livres, de
idade madura, sem vínculos que o privem de pensar livremente, sendo vedada
a admissão de mulheres assim como homens de comportamento duvidoso ou
imoral".
Apesar da Constituição de Anderson (1723), que é o marco inicial da
Maçonaria Especulativa, não permitir a admissão de mulheres, há algumas
correntes maçônicas que admitem o fato como sendo um princípio antigo.
No Egito e na Índia, pelas pinturas nas tumbas e pelos manuscritos do
Antigo Egito, a esposa está presente quando o marido, como sacerdote,
executa cerimônias. Nas tradições das sociedades iniciáticas antigas, tanto
homens como mulheres de qualquer posição social e cultural, podiam ser
iniciados, e a única exigência era a de que deveriam ser puros e de conduta
nobre. Porém, na Idade Média, (final do século XVI) havia restrições quanto ao
ingresso da mulher na Maçonaria.

77
A Maçonaria, em 1730, na França, criou o movimento da "Maçonaria
de Adoção". A Maçonaria de Adoção foi um fenômeno da última metade do
século XVII. Uma Loja de Adoção, era conduzida por uma Loja Maçônica
regular que promovia sessões especiais, no curso das quais as mulheres eram
admitidas em Loja e participavam de rituais quase maçônicos.
Tais Lojas foram particularmente bem sucedidas na França, onde
houve uma revitalização da Maçonaria de Adoção depois da Revolução e que
continuou pelo século seguinte. A própria imperatriz Josefina, esposa de
Napoleão Bonaparte, era a Grã-Mestra da Loja de Adoção Santa Carolina.
Porém, a Maçonaria, atualmente, conserva a regulamentação –
conforme reza a Constituição de Anderson, de não iniciar mulheres.
2º) - Ritos Masculinos e Ritos Femininos:
O grupo de primatas, do qual descendemos, provém de um tronco
insetívoro. Esse grupo subdividiu-se: alguns tornaram-se herbívoros e, outros,
carnívoros. Esses carnívoros tiveram que se lançar na competição com outros
animais terrestres e, tornaram-se melhores caçadores.
Começaram a utilizar instrumentos e aperfeiçoaram as técnicas de
caça, com a cooperação social. Diferentemente dos lobos, os hominídeos não
se dispersavam após o ataque - e, o grupo caçador era formado por machos.
As fêmeas estavam muito ocupadas em cuidar da prole, e não podiam
participar ativamente na perseguição e captura das presas. Assim, o papel de
cada sexo tornou-se diferenciado.
Socialmente, os machos aumentaram a necessidade de comunicação e
cooperação com os companheiros, e desenvolveram expressões faciais e
vocais - em seus grupos caçadores, exclusivamente formados por machos.
Com o advento da agricultura e da domesticação de vários animais,
como cabras e ovelhas, os machos tiveram suas funções caçadoras,
diminuídas.
Essa falta, muito provavelmente, foi compensada pelo trabalho e por
associações masculinas - proporcionando oportunidade para a interação entre
machos e para atividades em grupo. Nessas associações, há um forte
sentimento emocional de união masculina.
O mesmo não ocorre com as mulheres. Esses grupos, associações,
preocupam-se com a união entre machos, que já existia nos primitivos grupos
de caçadores cooperativos - essas entidades exercem um importante papel na
vida de machos adultos, revelando a manutenção de instintos básicos
ancestrais.
Muitas mulheres ressentem-se quando seus maridos saem para
compartilhar sua masculinidade essencial - ou desejam fazer parte dessas
associações, o que é um equívoco, porque trata-se apenas da necessidade
moderna da tendência ancestral da espécie para formar grupos de machos
caçadores.
É interessante observar, que grande parte desses encontros
masculinos, termina com um jantar, um lanche, um banquete etc. - o
sucedâneo da partilha da comida (caça).
Assim, mulheres e homens, geneticamente, possuem necessidades
diferentes. E, criaram-se mistérios masculinos e femininos. Para a mulher a
maternidade, a comunhão com a flora, etc. Para o homem, a caça, a guerra, a
comunhão com a fauna. A mulher, a Lua; o homem, o Sol.

78
Porém, para recriar os ciclos da Natureza, o princípio feminino e o masculino
juntam-se: diferentes, porém complementares.
A Maçonaria reverencia o feminino - seus Templos apresentam o Sol e a
Lua como símbolos: o positivo e o negativo. O Sol e a Lua são símbolos
herméticos e alquímicos (ouro e prata). O Sol é a vida, o masculino? A Lua,
sua complementaridade, o feminino.
A Maçonaria é uma Ordem Solar (masculina), porém, os maçons,
trabalham à noite, em suas Lojas, sob a energia feminina, equilibrando os dois
polos. O Sol deve estar presente na decoração do Templo, no teto, mostrando
a Luz que vem do Oriente, com a Lua, que representa a Mãe Universal que
fertiliza todas as coisas. A mulher é a formadora, a que reúne, rega e ceifa - a
Natureza do princípio passivo é reunir e fecundar. As forças da Lua são
magnéticas, opostas e complementares às do Sol, que são elétricas.

Atualmente, há Maçonarias mistas, mas, não regulares. A Ordem, por


ter uma origem muito, muito antiga, respeita a diversidade entre as energias
masculinas e femininas.
Os maçons usam três pontos dispostos em triângulo (.*.), como símbolo
- símbolo solar, símbolo masculino. Os Três Pontos têm uma origem bem
antiga? Nos objetos celtas do século IX a. C e, muito antes, nas cerâmicas
egípcias e gregas. A tradição grega considerava o triângulo a imagem do céu.
Os Três Pontos traduzem a concepção piramidal egípcia.
Símbolo sexual masculino completo (pênis mais testículos). O sexo em
função procriativa. Procriação, que necessita do masculino e feminino.
A Maçonaria, mesmo não iniciando mulheres, demonstra um grande
respeito à energia feminina.

Bibliografia:
Blanc, Claudius - "Maçonaria Sem Mistérios" - São Paulo, Editora Nova Leitura, 2006.
MacNulty, W. Kirk - "Maçonaria" - São Paulo, Editora Madras, 2006.
Morris, Desmond - "O Macaco Nu" - São Paulo, Círculo do Livro, 1975.

Contribuição do Ir:.Jaime Barbosa

79
Juramento e compromisso maçônicos...

Quando se segue uma Via Espiritual ou se é admitido numa Ordem de


tipo esotérica-iniciática tal como a Maçonaria se define, é habitual o novo
membro efetuar um juramento no momento da sua admissão ou durante a
execução de uma cerimônia de cariz iniciático, no qual se assume um
determinado compromisso.
E somente após a realização desse juramento é que o neófito é
recebido e integrado no seio da respectiva Ordem.
No caso que irei abordar e que será sobre a Maçonaria, é natural
quando se fala em compromisso maçônico também se abordar
simbioticamente o juramento maçônico. Tanto um como o outro são
indissociáveis, porque um obriga ao outro e o mesmo, reciprocamente.
Durante o desenrolar de uma Iniciação Maçônica, no seu “ponto alto”, o
neófito concorda em submeter-se a um juramento onde assume
como compromisso de honra, aceitar e respeitar as Regras, Usos e
Costumes da Maçonaria bem como as regras e leis do país onde se encontra
sediada a Obediência Maçônica e a respectiva Loja da qual irá fazer parte.
Nomeadamente e de entre os vários princípios maçônicos que se
aceitam cumprir, os mais conhecidos pelo mundo profano são a Fraternidade
entre todos os Irmãos, a persecução do espírito da Liberdade na Sociedade
Civil e o sentimento de Igualdade entre todos.
Assim, assumir-se um compromisso com a Ordem Maçônica é assumir-
se um compromisso pela Ordem e a bem da Ordem. Isto é que é o tão
propalado estar à Ordem. E estar-se é mais do que o ser-se! E digo isto
porque qualquer um pode “o ser”, mas “estar” apenas se encontra ao alcance
de poucos…
Estar implica sacrifício, comprometimento, trabalho, prática e estudo, e
isto de forma incansável e não perene. Por isto é que assumir um
compromisso deste gênero e com a relevância que este tem, nunca deverá ser
feito de forma leviana; o mesmo se passa com os outros compromissos que se
assumem durante a nossa vida profana e que também não devem ser
assumidos se não estivermos capacitados para cumpri-los.
Há que se ter a noção daquilo a que nos propomos a fazer-.
Por isso é que o compromisso maçônico é feito com a nossa Palavra e sobre a
nossa Honra. Desvirtuar estas duas qualidades é desvirtuar a própria
Maçonaria.
Da mesma forma que, se não respeitarmos a nossa palavra e não
mantivermos a nossa dignidade na sociedade civil, também não somos dignos
de nela estarmos integrados e sofreremos as consequências ou punições que
forem legitimadas pelas leis do país.
80
De certa maneira, a Maçonaria atua e se assemelha com a sociedade
profana, com as suas leis e os seus costumes, competindo aos maçons
respeitar a sua aplicação e observar o seu cumprimento. É mais que
um dever ou obrigação tal. É a Assumpção que assim o deve ser e nada mais!
Porque assim tem funcionado há quase três séculos e o deverá continuar a ser
noutros tantos…

Aliás, ainda na Maçonaria contemporânea se encontra algo que


dificilmente se encontra na profanidade atualmente, ou seja, o valor da palavra
sobre a escrita. O que não deixa de ser curioso dados os tempos que correm.
Nesta Augusta Ordem, ainda hoje aquilo que um maçom afirma tem
um valor tal, que se poderá assumir que não necessitará de ser escrito para
que o seja considerado; basta se dizer, que assim o será.
O tal “contrato verbal” na Maçonaria ainda hoje tem lugar. E somente
pessoas de bons costumes o usam fazer, pois a sua honra e a sua conduta
serão sempre os seus melhores avalistas.
Não obstante, o compromisso maçônico ao ser albergado por um
juramento, obriga a que quem se submete a ele, o faça de forma permanente.
Não se jura somente aquilo que gostamos ou somente aquilo que nos dá jeito
cumprir.
Quando entramos para a Maçonaria sabemos que, tal como noutra
associação ou organização qualquer, existem regras e deveres para cumprir;
pelo que o cooptado compromete-se em respeitar integralmente todas
as regras e deveres que existem na sua Obediência. E quem age assim, faz
porque decidiu livremente que o quer fazer e não porque alguém a tal o obriga.
E uma vez que a adesão à Maçonaria se faz por vontade própria,
aborrece-me bastante (para não ser mais acutilante ainda…) assistir ou ter
conhecimento de casos em que este juramento foi atraiçoado e em que
os compromissos assumidos perante todos, foram deliberadamente e
conscientemente esquecidos.
Será que quem age desta forma, poderá ser reconhecido como um
verdadeiro maçom? Ou será apenas gente que simplesmente enverga um
avental e um par de luvas brancas nas sessões da sua Loja?
Em alguns casos destes, creio que foram pessoas que entraram na
Maçonaria, mas que por sua vez, a Maçonaria certamente não entrou neles…
Algumas vezes, infelizmente, isto pode acontecer porque quem vem
para a Maçonaria vem “desavisado”, isto é, pouco conhece ou percebe o que é
a Maçonaria e o que ela representa, “vem ao escuro” por assim dizer, e caberá
a quem apadrinha uma candidatura maçônica, informar ou retirar algumas
dúvidas que se ponham ao seu futuro afilhado e consequente irmão.
Em última instância, devem os responsáveis pelas inquirições que
decorrem no âmbito de um processo de candidatura maçônica, no momento
das entrevistas aos candidatos, terem a sensibilidade para se aperceberem do
desconhecimento do entrevistado sobre os princípios e causas que movem os
maçons e sobre a Ordem da qual este manifesta a vontade de vir a fazer parte,
e nesse caso, serem os próprios inquiridores nessas alturas em concreto, a
efetuar o trabalho que deveria ter sido feito anteriormente pelo proponente da
referida candidatura, no que toca a esclarecer o profano e a fornecer-lhe as
informações que lhe sejam necessárias para que esta (possível) adesão possa

81
decorrer sem sobressaltos, nem que esta admissão venha a causar problemas
(previsíveis!) no futuro, seja para a respectiva Loja ou até mesmo para a
Obediência que porventura o vier a acolher.
Todavia, normalmente no momento do juramento maçônico, o neófito
faz sem saber/compreender o que estará a jurar e para o que estará a jurar,
pois o véu que o cobre na sua Iniciação é de tal densidade que muitas vezes
somente passado algum tempo é possível se perceber o juramento que se fez
e o compromisso que se tomou, e que por vezes pode ser diferente daquilo que
são as crenças pessoais e respectiva forma de estar de cada um ou até
mesmo porque se acreditava que se “vinha para uma coisa e afinal se
encontrou outra”…
E o trabalho que um padrinho deve desenvolver com o seu afilhado
durante a formação deste tanto como a responsabilidade que assumiu perante
o afilhado e a Ordem ao subscrever a candidatura dele, serão fulcrais neste
tipo de situação concreta.
O padrinho (pelo dever moral) e a Loja em si (porque é um dever da
loja acompanhar e tentar integrar corretamente os Irmãos nos valores
maçônicos) devem tentar perceber o motivo pelo qual alguém se “distancia” da
Maçonaria.
E apenas ulteriormente, se for caso disso, devem aconselhar a um
possível adormecimento desse irmão por não ser do seu intento continuar a
pertencer a algo com o qual não se identifique mais.
Pelo que desta forma se prevenirão certos casos e eventuais “lavagens
de roupa suja” ou fugas de informação que poderão surgir, as quais na sua
maioria nem sequer são informações plausíveis nem verídicas sequer, pelo que
apenas posso especular que estas ocorrências se devem a paixões e vícios
mal combatidos e nem sequer evitados… E como se costuma dizer, “o mal
corta-se pela raiz”, pelo que “as desculpas devem evitar-se”…
E uma vez que quem entra na Maçonaria tem de ter a noção que as
suas atitudes já não lhe dirão respeito apenas a si, mas a todos os integrantes
desta Augusta Ordem, a conduta de um maçom estará sempre sob um fino
crivo pela sociedade e sempre debaixo do escrutínio de todos, seja de fora
ou internamente. - Porque um, pode sempre e a qualquer momento, “por em
xeque” os demais -. E ter esta noção e assumir esta responsabilidade é algo
que deve ser intrínseco desde os primeiros momentos de vida maçônicos.
Já não é o Nuno, o X ou o Y que fazem isto ou aquilo, serão os maçons Nuno,
X ou Y que o fazem…
Logo é a Maçonaria na sua generalidade que será atentada com a má
conduta que os seus membros possam ter para além da Ordem poder vir a ser
acusada de cumplicidade pelos atos efetuados pelos seus membros.
Assumir que a nossa forma de estar e agir condiciona e se reflete na
Maçonaria é um dos maiores compromissos que os maçons poderão tomar.
Tanto que o dever de honrar a nossa Obediência, a nossa Loja e a Maçonaria
em geral, deve permanentemente se encontrar na mente de todos os maçons.
Um juramento implica obrigações, e jurar ser-se maçom, mas
fundamentalmente ser-se reconhecido maçom pelos nossos iguais, implica que
sejamos maçons a “tempo inteiro” e não apenas às segundas-feiras ou quintas-
feiras de manhã ou à noite, ou quando nos dará mais jeito, é sempre!
Sermos maçons, não é quando visitamos a loja e usamos os
respectivos paramentos. Não basta envergarmos um avental, calçar umas

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luvas brancas e fazer uns “gestos estranhos” é muito mais que isso! É cumprir
preceitos, rituais e trabalhar em prol da Ordem.
E se não estivermos prontos para tal, de nada valerão os juramentos
que fizermos, porque nunca nos iremos comprometer com nada na realidade e
em último caso, nem sequer reconhecidos como tal seremos.
E a palavra persistirá perdida…
Publicado em Arte Real – Trabalhos maçônicos

A Luz

A Luz tem desde tempos imemoriais uma importância enorme para os


povos, os quais lhe associam os mais diversos significados e poderes.
A minha reflexão sobre este tema levou-me à busca interior do seu significado
maçônico.
Analogamente ao que acontecia com os edifícios sagrados, também a
nossa loja se encontra disposta de Oriente para Ocidente, ou seja, de
Nascente para Poente. Isto acontece para lembrar, a todos os que a compõem,
a direção da Luz.
A Luz como fonte de Divina Sabedoria e Amor Fraterno é de tal modo
importante na maçonaria que no Ritual de Abertura dos Trabalhos, mal se
abandona o mundo profano, é a primeira a ser indicada como elemento de
referência em loja, quando pela voz do Venerável Mestre, este profere
"Cultivemos a Fraternidade nos nossos corações e que os nossos olhares se
voltem para a Luz" - acendendo-se então o Delta Luminoso a Oriente.
A Luz que se acende não é mais que uma luz material que no mundo
profano permite ao homem observar o que o rodeia e lhe ilumina os passos
que percorre bem como permite vermo-nos uns aos outros no seu reflexo. Esta
é uma luz ao serviço da personalidade e do ego.
Contudo para além do aspecto material da luz, quer ela seja natural ou
artificial, o significado que se atribui em loja é num contexto Espiritual e é sobre
este que passo a debruçar-me.
Esta Luz não serve a personalidade, mas a alma; esta Luz não ilumina
o exterior do homem, mas sim o seu interior: Esta Luz só ilumina o seu Templo
Interior.
Quando ainda na situação de candidato, me foi dito que nos primeiros
graus não poderia falar em loja e que tal situação duraria cerca de dois anos,
achei que seria difícil suportar tal provação e que tudo faria para galgar
rapidamente tais estágios.
De fato, tendo, como me reconheço, uma atitude normalmente
participativa nos ambientes em que convivo, pensei quão sacrifício seria
permanecer calado durante tão longo período.

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Contudo, como desafio que assumi, admito hoje a utilidade de tal
silêncio, o gosto que me tem proporcionado, pelo tempo de reflexão interior que
me disponibiliza e, afinal, nem sequer tentei encurtar tal período, como os
irmãos bem sabem.
Quantas vezes ao dialogarmos, nos limitamos a expor a nossa opinião
para impressionar os que nos rodeiam sem sequer escutar os nossos
interlocutores?
Em silêncio, de olhos abertos ou fechados, a Luz do Grande Arquiteto
do(s) Universo(s) penetra o nosso interior, mais facilmente, por quanto
possamos estar espiritualmente mais permeáveis.
Mas bastará olhar para a Luz para a obtermos?
Certamente que não, esse é o grande trabalho do maçom em todos os
seus graus e qualidades, o trabalhar a pedra bruta na construção do Templo
Interior.
A Luz não pode ser uma dádiva, antes o culminar de um caminho de
procura, meditação e amor fraterno.
Tal como ensina o Catecismo: "Porque eu estava nas trevas e desejava a Luz -
o Conhecimento e a Virtude que conduzem ao G:. A:. D:. U:."
A atitude primeira é a procura;
"Batei e abrir-se-vos-a. Buscai e achareis"
Antes de concluir, quero partilhar convosco uma outra reflexão que me
leva a relacionar de um modo muito estreito a Cadeia de União e a Luz;
A Cadeia de União é o momento, em loja, em que todos os irmãos
comunhão uma fé comum e partilham um sentimento fraterno entre si.
Que a Luz nos ajude a todos, a tolerar as diferenças e a perdoar as
ofensas porque a Luz é Sabedoria e Amor, queiramos e permitamo-nos aceitá-
la..
Desde quando és maçom?
Desde que recebi a Luz.
Escrito pelo Irmão A. Jorge

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O fogo, a chama e a luz

Na maçonaria, assim como, em outras instituições iniciáticas, místicas,


esotéricas, filosóficas ou religiosas, o fogo, a chama e a luz são símbolos de
profundo significado. Nas iniciações, um dos batismos candidato é feito pelas
chamas do fogo, simbolizando a queima das impurezas que a água não
consegue tirar.
“Nos livros sagrados de todas as religiões temos centenas de citações
sobre o fogo a chama e a luz, no início da Bíblia em Gênesis - 1: 3 a 5 - Deus
disse: “Haja Luz. E houve luz. Após a criação dos céus e da terra, a primeira
manifestação foi a criação da luz. O grande cientista Albert Einstein disse que a
luz é a sombra de Deus.”
“Nos rituais religiosos, se acendia lamparinas com óleo de oliva virgem e
límpido, no fogo se queima o incenso com aromas perfumados para agradar a
Deus. O profeta Isaías – 5: 25 - “Pelo fogo se acendeu a ira do senhor... .”
"Também dizia: “A violência de sua cólera.” “A chama de um fogo devorador.“
“Inflamam as árvores das florestas e as videiras.”
Quando o ser humano aprendeu a se utilizar do fogo, para cozinhar os
alimentos, se aquecer nos dias e noites frias, ele passou a se diferenciar dos
outros animais, na realidade, a maior contribuição para a formação da
civilização foi a utilização do fogo.
“Ele é citado em Gênesis – 15: 17 - “E sucedeu que, posto o sol, houve
escuridão; e eis um forno de fumo, e uma tocha de fogo, que passou aquelas
metades.”
As velas do altar simbolizam que a luz pode vir fontes diferentes, mas a
sua função é iluminar, o maior ensinamento é que elas sempre formam uma
unidade, que a doação também significa recebimento, ao doarem a sua luz
para o acendimento de outra vela, elas não perdem a sua luz, na realidade a
luz é multiplicada, quanto mais se doa, mais se tem.
“A presença de Deus sempre é anunciada por trovões, relâmpagos e
nuvens luminosas; ou mesmo como “sarça ardente”; temos também a
carruagem que elevou Elias ou quando ele estava no monte Horeb e escondeu
o rosto ante o sopro de Deus; as visões de Ezequiel; Moisés que se viu face a
face com Deus desce do Sinai com o semblante resplandecente.”
“No salmo 136: 7, 8 e 9 “Aquele que fez os grandes luminares...”
“No Novo Testamento, Jesus, o Cristo, é a luz, o fogo interior, o amor, o
conhecimento; “a lâmpada não está mais sob o alqueire mas, sobre a mesa.”
“Temos a luz como a interiorização do conhecimento “A lâmpada de teu corpo
é teu olho.” “E se teu corpo estiver na luz, ele estará todo na luz.”
“O livro todo de João é considerado como o Evangelho do Espírito – 1: 1 a 8 –
Temos a repetição da criação.”

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“Com o fracasso de Adão e tantos outros que não foram ouvidos, Jesus,
o Cristo, teve que ser enviado, que após passar pela purificação pela imersão
na água teve o batismo pelo fogo divino.”
“Com esta visão parcial da Bíblia, tivemos uma caminhada pouco a
pouco mais espiritualizada da luz sombria da matéria para a pura luz.”
“Podemos perceber que a vida tem um propósito, que a luz que tem sido
preservada através das eras pode ser alcançada”.
“Sabemos que a luz da maioria dos seres humanos não passa de mera
obscuridade, mas existem aqueles que se tornam espiritualizados. Eles já não
se contentam com as sombras, pois, a presença da luz provoca uma débil
reação em sua mente e seu coração.”
Na maçonaria devemos deixar de lado, as tolas vaidades, as brigas
pelo poder, as tristes divisões e buscarmos alcançar o ápice da pirâmide para
nos tornarmos verdadeiramente evoluídos e aperfeiçoados, nos
transformarmos em verdadeiros líderes e instrutores da sociedade menos
esclarecida. Como disse o célebre maçom Mário Leal Bacelar “Vamos nos dar
as mãos”. Devemos formar uma unidade, assim como, as velas brilham
separadas e com a união fornecem mais luz, assim o verdadeiro maçom deve
fazer, não importa onde está o conhecimento, pois, ele pode estar em todos os
lugares, o importante é que o divulguemos, formando uma só família.
Quando passamos a entender que a criação é um processo contínuo;
que ela não ocorreu instantaneamente, mas, por estágios e, que ainda fazemos
parte desse processo. Só então compreendemos o verdadeiro significado da
primeira criação: “Das trevas do abismo, o invisível e incognoscível Deus
moveu-se sobre a face das águas e disse: “Faça-se a Luz.”

Autoria do Irmão PEDRO NEVES.’. M.’. I.’. 33.’.

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A Escuridão e a Luz

Para que se possa compreender e se libertar das dicotomias absolutas


e absurdas, para que possa se libertar do dogma, do “tabu” e do senso comum,
Luz e Trevas não são os clichês que se costuma pensar.
A Luz não é o bem, e a Escuridão não é o mal. Não existe bem
absoluto na Luz nem o mal absoluto nas Sombras. A escuridão nada tem a ver
com o Diabo dogmático (pois esse não existe) nem com o mal que assola o
mundo.
A escuridão simplesmente significa aquilo que está oculto, significa
mesmo o próprio Oculto, o Mistério, aquilo que é “proibido”, que é secreto,
aquilo que é escondido como um tesouro.
Portanto, a iniciação (metafísica e espiritual) das Trevas é a mais
importante, pois o Mistério das Sombras é o mais secreto e o mais sagrado e o
mais íntimo para um ser. Nas Sombras, o iniciado se recolhe para desvendar
tudo o que está oculto, para acessar conhecimentos “proibidos” e profundos.
Nesse sentido, Luz significa consciência, e Trevas significa
subconsciência, o repositório de todo conhecimento oculto, esquecido e
abandonado pela Luz, ou seja, pela consciência ordinária, de vigília, pela
personalidade que se manifesta no dia a dia.
Por meio da introspecção nas sombras interiores, o indivíduo pode
então confrontar os elementos mais profundos, “perigosos” e “proibidos” de sua
subconsciência (Trevas) e trazê-los assim para a consciência, ou mente
consciente (Luz), assimilando os conhecimentos mais secretos de seu Daemon
(Eu Superior, Logos, etc.)
A Luz verdadeira, portanto, é a consciência desenvolvida e expandida
após essa imersão nas Trevas, é o conhecimento assimilado e consciente,
percebido sobre o fundo negro no qual essa Luz brilha e pode ser vista.
Pelo que precede a Luz sem as Trevas jamais poderia ser percebida.
Sem o contraste entre Luz e Escuridão nada poderia ser visto (ou seja, nada
poderia se manifestar). Para que a Luz possa se manifestar e iluminar, a
Escuridão é necessária.
Em sentido filosófico e metafísico, Luz e Trevas, dia e noite, são a
manifestação e a não manifestação, consciência e subconsciência, inteligência
e imaginação, razão e emoção… Em termos de individualidade humana, Luz é
atividade, intelecto, mente racional; e Trevas é inatividade, repouso, reflexão
intuitiva, imaginação e instintos (quase sempre elementos negados, rejeitados,
reprimidos e menosprezados pela imposição dos dogmas e dos preconceitos
sócio religioso).
Podemos ilustrar essa questão com alguns exemplos: no ser humano, a
Escuridão é o subconsciente repleto de forças primais que trazem experiências

87
interiores e sabedoria; é o útero psicomental do qual nasce à consciência
superior; os seres vivos nascem da escuridão do útero de suas mães e quando
“morrem” voltam para as trevas da terra; os minerais e pedras preciosas se
formam na escuridão da terra; as plantas brotam também do interior escuro da
terra; o universo nasce da escuridão do caos; as estrelas surgem na matéria
escura do espaço e a incrustam com seu brilho visível, porque sem a escuridão
elas não poderiam brilhar; e o dia e a noite intercalam-se na manifestação do
tempo em nosso mundo, do mesmo modo que a vigília e o sono em nossa
vida.
Portanto, as Trevas não são o mal (como o conhecemos), e a Luz não
é o bem. Tal dicotomia não existe, pois a Luz e as Trevas são gradações que
se manifestam em toda Existência.
Todo aquele que nega e menospreza a Escuridão está negando a
própria Luz que jaz nas profundezas de si mesmo, na caverna escura que é o
abrigo protetor do tesouro, da joia brilhante que é a gnose, que é a Luz do
conhecimento, que é a consciência do Eu Superior.

fonte: Web

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Significado do sigilo maçônico

Na longa história da Maçonaria, nada causa tanta controvérsia como o


compromisso da Ordem com o sigilo. Este único fator tem gerado rumores tão
fantasiosos a ponto de se tornarem mitos. Produzindo sátira, desconfiança e,
por vezes, a exposição da Ordem ao ridículo. O sigilo leva a uma mística que
tanto ajuda quanto prejudica a instituição, de uma forma tão subjetiva que só
pode ser imaginada.
Infelizmente, esta mística não é inteiramente benigna. Enquanto os
Irmãos desfrutam da fraternidade, o público é deixado para imaginar o que se
passa por trás das portas fechadas do Templo. A imaginação é uma ferramenta
poderosa, e por isso as características que tornam a Maçonaria atraente para
os seus membros dão origem a uma grande variedade de imagens fantásticas
para os não iniciados.
Algumas pessoas que vêem a Maçonaria do lado de fora acreditam
tratar-se de uma organização sinistra. Nos Estados Unidos, por exemplo, ainda
é comum pessoas acreditarem que a Loja é um lugar onde o sussurro de uma
reunião noturna se transforma em políticas de governo no dia seguinte e onde
os homens podem ganhar poder através do conhecimento da “palavra secreta”,
e não através de eleições populares.
Esta visão não é difícil de entender. O simples fato de alguma coisa ser
escondida aflora a curiosidade. E uma organização que preserva o seu sigilo
certamente evoca imagens de conspiração e atividades proibidas.
A questão é que a falta de explicação só provoca o leigo, que é então, deixado
para especular sobre o significado de nossas vestimentas peculiares, os
emblemas que as decoram e nossos símbolos e alegorias.
Mas quando examinamos o fenômeno, começamos a vislumbrar a real

89
natureza do segredo maçônico: Como a Maçonaria percebe a sua relação com
o público em geral é o cerne da questão.
A partir da iniciação somos levados a entender os significados dos
símbolos e as tradições a que se referem, mas prestamos pouca atenção ao
aspecto singular do simbolismo.
E rapidamente tornamo-nos confortáveis com a situação, tão rápido
quanto perdemos de vista o fato de que o grande público vê tudo isso de uma
forma diferente.
Os símbolos são um ponto focal para a crença de muitas pessoas de
que a maçonaria detém informações ”clandestinas”, para as quais o resto do
mundo não tem acesso.
Este tipo de percepção se manifesta de uma maneira tangível: Ao longo
dos anos, a crítica à Maçonaria tem se tornado uma indústria. Existem diversos
críticos dedicados a entregar sua mensagem anti maçônica. Eles aparecem em
televisão, escrevem cartas a editores, artigos e livros, todos voltados para um
público que muitas vezes parece fascinado pelos contos sensacionalistas que
são o estoque do comércio antimaçônico. Mas o que pensamos de tudo isso?
Como seria de se esperar, não passa despercebido.
Mas este tem sido um debate interno. Raramente divulgamos nossa
preocupação. O leigo, ao não ouvir respostas, é induzido ao erro pelo silêncio e
pela indiferença. No entanto, o debate é real e consciente.
Se por um lado podemos questionar a necessidade de manter o sigilo
abrindo a Maçonaria à opinião pública, afinal o mercado já é farto de material
de livre acesso, por outro lado é importante lembrar que o sigilo é parte
integrante do ofício.
Os “segredos” da Maçonaria são elementos simbólicos intimamente
envolvidos com os ensinamentos maçônicos. Mudar isso alteraria a natureza
básica da Ordem. Isto porque somos ensinados a valorizar as tradições
representadas por um elaborado sistema de símbolos e alegorias.
A maior parte da mística, é claro, não tem nenhuma substância. Ela
surge a partir de uma confusa falta de informação combinada com uma
tentativa evidente de escondê-la.
As pessoas sabem pouco sobre a Maçonaria, simplesmente porque não
sabem para onde olhar. Na realidade, a suspeita que paira sobre a Maçonaria
deve-se mais à falta de publicidade do que uma conspiração anti maçônica
deliberada.
Parece, então, que um breve estudo sobre qualquer uma das várias
histórias gerais da Ordem seria suficiente para dissipar a maior parte do mal
entendido que tem se edificado em torno dela. Mas aí reside outro problema.
Um ou dois bons livros sobre Maçonaria seriam suficientes para
esclarecer uma série de mal entendidos, mas apenas se o leitor entender e
acreditar no que está escrito. Como sabemos, a boa literatura maçônica não
basta ser lida, deve ser interpretada.
Outro ponto importante é que uma rápida pesquisa de livros sobre
maçonaria revela diferentes e contraditórias descrições da organização. Um
livro descreve a Maçonaria como uma organização nobre que promove os mais
elevados valores morais. Outro descreve-a como um sistema anti-cristão.
Obviamente nem tudo o que tem sido escrito sobre a Maçonaria pode ser
verdade. Muitas obras devem ser imprecisas, mesmo as que tentam explicar as
origens da Ordem, visto que podemos encontrar literaturas que defendem a

90
evolução do ofício a partir das guildas de pedreiros medievais, outras imputam
o crédito aos Templários ou aos Egípcios. Há até quem já tenha visto os
primórdios da maçonaria no Jardim do Éden...
O fato é que qualquer um de nós, dos quais se espera conhecer ao
menos parte da verdade, será sempre duramente pressionado para dizer qual
é qual.
Durante séculos, as pessoas têm tentado descobrir as origens da
Maçonaria. Talvez grande parte deste trabalho tem sido em vão por estarem
procurando por uma organização antiga, que evoluiu para a fraternidade
moderna. Mas a Maçonaria nunca foi uma única organização. Ela sempre foi
tradição.
Uma das características de uma alegoria é a de que ela não fornece
respostas. É, afinal, apenas um veículo de comunicação por símbolos. E os
símbolos apenas apontam a atenção na direção certa. O resto é com o
indivíduo.
E sob este prisma, o Maçom é livre para interpretar as lições da Loja
como quiser. O ritual convida-o a fazê-lo uma vez que é repleto de lendas e,
por vezes, situações que dão margem à interpretações diferentes.
Assim, ao usar o livre arbítrio, qualquer indivíduo maçom pode concluir
que as lições são destinadas para separar ou unir, que por exemplo nossos
sinais, toques e palavras são concebidos para receber um Irmão, ou
simplesmente excluir um não iniciado.
E isto é tanto uma lição quanto um aviso. Nós, Maçons modernos,
temos o espírito e a reputação da Ordem em nossas mãos. Assim, seremos os
mocinhos ou os bandidos, dependendo da maneira como interpretamos o ritual
e da nossa capacidade (ou falta dela) de argumentar sobre a Ordem com o
público em geral. A escolha é nossa.
O fato é que tanto o nosso compromisso com o sigilo quanto os
argumentos dos críticos são baseados em um ponto de vista comum. Esse
ponto de vista liga o Maçom ao seu crítico em um vínculo que talvez seja até
mais forte que a ligação maçônica de fraternidade. Ele promove a intolerância e
a exclusividade. É o contraponto do espírito benevolente que a Maçonaria
ensina desde os seus primórdios.
Infelizmente muitos dos que estão envolvidos com a maçonaria, sejam
maçons ou seus críticos, não se informam além do básico. Satisfeitos com o
que encontram na superfície deixam de perceber o significado subjacente a
tudo. E assim, um sistema que foi cuidadosamente construído para unir as
pessoas é muitas vezes usado para mantê-las separadas (o maçom do seu
crítico).
Dizer a um homem alguma coisa, qualquer coisa, e então adverti-lo que
é um segredo é a melhor maneira de separá-lo das pessoas ao seu redor. Isto
obriga-o a escolher entre esconder seu conhecimento dos outros e trair aquele
que o deu a ele.
Seguros que estamos na crença de que não fazemos nada de sinistro,
não vemos razão para corrigir o que não consideramos errado, mas no final, é
provavelmente muito melhor entender uma coisa e debater seus
desdobramentos, do que ser mistificado por ela.
Trabalho do Irmão Rogério Alegrucci - M.´.M.´.
Fonte: Grupo Brasil Maçom

91
O sigilo maçônico

A definição de Maçonaria é bastante clara, tanto quanto o é seu


sistema administrativo e a respeito disso nunca houve sigilo algum. Além do
mais a localização das sedes dos grandes orientes e das grandes lojas, bem
como dos templos e das sedes das lojas, sempre foram publicamente
conhecidos e inclusive identificados por símbolos em suas fachadas.
A maioria tem na atualidade seus nomes e endereços nas listas
telefônicas oficiais, que são também reproduzidos nos envelopes e nos papéis
de correspondência. Os estatutos das lojas e as constituições dos grão-
mestrados são publicados nos diários oficiais e constam dos registros públicos.
Então porque a Maçonaria continua mantendo tanto sigilo em torno de
suas atividades no interior de suas lojas? Antes de tudo devemos responder
que é um direito da Maçonaria, como organização livre, independente e
soberana, desenvolver suas atividades da forma que melhor lhe aprouver,
pública, privada ou sigilosamente, respeitadas obviamente as leis vigentes em
cada país.
A Maçonaria exige de seus iniciandos o juramento do sigilo porque isso
é um direito seu e porque os iniciandos livremente aceitam pronunciá-lo.
Qualquer pessoa que, em qualquer parte do mundo, viole um juramento
livremente pronunciado se torna perjuro e comete um crime de natureza moral.
Na Maçonaria Moderna os perjuros recebem um castigo de natureza
moral, o desprezo, e nunca mais do que isso. Os escritores que se valem
desses perjuros para obter informações indevidas com o intuito de criticar a
Maçonaria ou divulgar os "segredos maçônicos", praticam o mesmo ato
condenável por incentivarem o perjúrio.
Em época alguma, mesmo nos tempos dos maçons operativos, foi a
realização de reuniões maçônicas ocultada ao público, pois a todos os
interessados sempre foi fácil saber onde e quando os maçons se reuniam e, na
maior parte das vezes, saber quem eram os que se reuniam. Sob este aspecto

92
ficaria melhor se a chamássemos de sociedade discreta, e não sociedade
secreta.
Os maçons operativos guardavam segredos em torno de suas reuniões
em loja porque era nelas que, ao se oficializar a elevação de um aprendiz a
companheiros, eram comunicados a "palavra do maçom", os sinais secretos de
reconhecimento e os segredos profissionais. sobre isso era exigido sob
juramento de absoluto sigilo, pois dele dependia o sucesso profissional do
grupo.
Com o correr do tempo, certamente como forma de melhor proteger
aqueles segredos necessários tornou-se secreto tudo o que ocorria no interior
das lojas operativas, inclusive seus mistérios, seus rituais e seu simbolismo.
Essa discrição sempre fez parte das tradições maçônicas das guildas
medievais dos construtores das grandes catedrais góticas ou românicas, das
suas pomposas sedes nas cidades de maior porte e dos muitos castelos,
fortificações e residências. Esses trabalhos obviamente envolviam cálculos de
geometria e matemática, conhecidos quase exclusivamente pelos mestres
maçons medievais.
Esses conhecimentos, que se guardavam a sete chaves e se
transmitiam sob segredo, também conferiam importância social aos que os
detinham e, é óbvio, ajudavam a concentrar o monopólio da arte de construir
nas mãos dos mestres das guildas dos maçons.
Diz também a tradição que, entre outros itens, era mantido absoluto
segredo sobre certas proporções dos projetos das catedrais, sobre o sistema
de fechamento dos arcos e sobre a proporção do afinamento das pilastras e
das colunas em direção ao topo. Havia assim uma espécie de segredo
industrial como o que se pratica habitualmente nos dias atuais. Esses segredos
visavam principalmente proteger a categoria profissional de possíveis
construtores concorrentes e manter uma condição monopolista sobre os preços
das construções.
As primeiras noções dessa ciência eram transmitidas aos aprendizes
aos poucos, durante um longo aprendizado de sete anos, mas a parte mais
importante só era lhes era comunicada ao alcançarem o estágio dos
companheiros.
Essa forma de segredo dos maçons medievais dificilmente poderia
ocultar algo desaprovado pela Igreja porque as guildas medievais, como toda e
qualquer associação de então, mantinham um vínculo muito estreito com o
clero local que, como autoridade religiosa, sempre tenha livre a todos os atos
sociais que aconteciam em suas respectivas jurisdições. Funcionou também
em todo aquele período medieval das guildas de artes e ofícios e poderoso
olho da Inquisição, ao qual nada podia fugir.
Na transição da Maçonaria medieval para a Maçonaria Moderna foi
incorporada essa tradição de sigilo com todo o seu rigor medieval, e isso
transparece claramente no Livro das Constituições, da Grande Loja de
Londres, ao dedicar um capítulo especial à instrução dos irmãos quanto ao seu
procedimento na presença de estranhos, no ambiente familiar, na companhia
dos vizinhos, etc, recomendando especiais cuidados para não revelar nada que
acontecesse em suas reuniões e atividades como maçons.
Vemos que o "segredo maçônico" em época alguma teve a intenção de
encobrir tramas cavilosas ou atividades ilegais. O segredo é mantido na
Maçonaria Moderna como elemento de união entre os irmãos, pois sabe-se

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quando pessoas compartilham um segredo, qualquer que seja a sua natureza,
cria-se entre elas um forte vínculo.
Atualmente o "segredo maçônico" se limita aos rituais internos das
lojas, à interpretação de seus símbolos e, principalmente, aos sinais de
reconhecimento, pois sinal de reconhecimento não secreto não seria sinal de
reconhecimento.
Manter sigilo a respeito de atividades institucionais não parece ser algo
abominável. A eleição do papa da Igreja Católica, por exemplo, é feita sob o
sigilo tão rigoroso que as próprias portas do recinto eleitoral são lacradas pela
parte externa, para que nenhum participante possa comunicar-se com alguém
do exterior, e vice-versa. Há também o inviolável sigilo da confissão. A opção
pelo sigilo, desde que não se preste à ocultação de ilegalidades, é um direito
de cada instituição.
Criticar os segredos de outras instituições sem demonstrar que eles
ocultam ilegalidades é, de qualquer forma, uma intromissão indevida e
antiética.
Fonte: Samaúma - Portal Maçônico
Texto elaborado pelo Irmão . Ambrósio Peters

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Sala dos Passos Perdidos

Se perguntarmos a um profano o significado de tal expressão,


poderemos receber a seguinte resposta: “E uma expressão estranha, a
primeira vista sem significado, mas refletindo melhor, parece ser um local onde
se caminha sem chegar a lugar algum”.

Isto nos faz crer que os fundadores do parlamento inglês, em 1296,


foram felizes em escolher o nome da sala de espera, onde as pessoas
aguardavam uma entrevista com os parlamentares, pois ali as mesmas
circulavam sem rumo definido, sem destino exato, daí a denominação “Passos
Perdidos”, ou seja, que leva a lugar nenhum.

Em 1776, a grande Loja de Londres inaugurou o primeiro templo


maçônico e buscou no parlamento inglês a forma e até o nome da sala que
antecede o átrio, como curiosidade também a mesa dos oficiais, a grande
cadeira do V.’. M.’. e o lugar dos IIr.’. nas colunas tem a mesma origem,
lembrando que o parlamento inglês é cerca de 500 anos mais antigo que o
primeiro templo maçônico. Já no campo simbólico podemos concluir que, fora
da disciplina maçônica, todos os passos são perdidos.

Mackey diz: o sentido desta denominação se origina no fato de que


todo passo realizado antes do ingresso na maçonaria, ou que não respeite
suas leis, deve ser considerado simbolicamente como perdido.

Nas lojas Maçônicas do Brasil como as de Paris, da Hungria e da


Áustria, é assim denominada a ante-sala do Templo. Na Alemanha a
expressão é completamente desconhecida, para concluir, no rito Schroder, em
particular e na Alemanha, usa-se a expressão, “Ante-sala do Templo”.

Enfim a “Sala dos Passos Perdidos”, é o local onde a irmandade se


reúne sem maiores preocupações, destinado a receber os visitantes, onde as
pessoas possam andar livremente, como se fosse uma sala de espera, onde
nos cumprimentamos brincamos, tratamos de negócios, assinamos o livro de
presenças o tesoureiro faz as cobranças, enfim um local de socialização, o M.’.
de Cer.’. distribui os colares e começa a preparação para o ingresso no templo,
forma-se o ambiente adequado e que conduza a um bem-estar, um refugio,
aonde os amigos irão se abraçar e uma vez devidamente paramentados são
convidados pelo M.’. de Cer.’. a ingressarem no Átrio.
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O Átrio

Designa genericamente os três grandes recintos do templo de Salomão,


o primeiro era o átrio dos gentios, onde era permitida a entrada de qualquer um
que fosse orar, o segundo era o átrio de Israel, onde somente os hebreus
podiam penetrar, (depois de haverem sido purificados) e o terceiro era o átrio
dos sacerdotes, onde se erguia o local dos holocaustos e os sacerdotes
exerciam seus mistérios.

Autoria do Irmão Walter Luiz Pereira • M.’.M.’. • ARLS Darcy de Moraes n° 28


Fundada em 11/05/96 • Jurisdicionada a GLEMT • Alta Floresta • Mato Grosso

Enviado pelo M.’.M.’. Ir.’. Euclides Alves da Graça • OR.’. Cuiabá/MT


(Representante da Editora Domínio)

Fonte: http://www.revistauniversomaconico.com.br

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A força do silêncio...

Tenho aprendido com a vida, nem sempre de maneira fácil e indolor,


que embora as palavras precisem ser usadas de forma correta para serem
bem interpretadas e eficazes, o poder do silêncio é, talvez, muito maior do que
a força que elas possam ter.

Falar com alguém ajuda, quando o outro está pronto para receber o que
lhe dizemos disposto a nos ouvir.Quando nos antecipamos a isto, ao invés de
ajudarmos, estamos, sem querer, construindo uma barreira de antagonismo
que vai nos afastar ainda mais dele. Já, ouvir o outro, colocando-nos em
silêncio o máximo possível, numa atitude interessada e presente, ajuda muito a
qualquer um que de nós se aproxima.

Aquele que escuta precisa ser humilde o suficiente para compreendera


e acreditar que todas as pessoas merecem crédito, embora às vezes não
pareça.Esta atitude constrói pontes entre eu e o meu companheiro de bate-
papo. Existe coisa mais importante do que ser escutado atenciosamente por
alguém em quem confiamos?

Necessita respeitar as diversas opiniões e formas de viver que existem,


num mundo onde cada pessoa é um universo único e rico de experiências
nem sempre semelhantes às nossas .Quem escuta se conserva em silêncio,
mas precisa abrir o coração para aquele que está se entregando a ele, na
esperança de ser compreendido, aceito e estimulado, muitas vezes..

Assim, falar sempre não nos leva a bons resultados. O silêncio pode
tomar o lugar de uma quantidade enorme de palavras que não precisariam ser
ditas, ou não deveria sê-lo, respeitando-se a situação emocional de quem nos
fala. E está tão difícil a gente encontrar alguém que se disponha a nos ouvir.
Apenas isto. Muitas vezes precisamos pagar um terapeuta, para que isto
aconteça em nossas vidas,

A beleza do silêncio, a força que se encerra nele, quando vivemos numa


sociedade tão barulhenta, tão violentamente ruidosa, é considerável!Para
sermos reconhecidos como pessoas inteligentes, que valem alguma coisa,
muitas vezes falamos, discutimos, declaramos o que sabemos sobre os mais
variados assuntos e neste falatório sem fim, nos percebemos sustentando
opiniões até antagônicas á nossa verdadeira forma de ser, apenas para que,
inteligentemente possamos ganhar uma discussão.

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Com o prejuízo muitas vezes, de uma amizade, que naquele momento
se desfaz, ou fica abalada, o que não aconteceria se pudéssemos nos
conservar em silêncio.

Silenciar também é uma forma de resposta. Quando seriamos


agressivos demais falando, o silêncio nos poupa de dissabores futuros.
Sorrindo, no silêncio, podemos acalentar, talvez, muito mais alguém do que
discorrendo todas as nossas teorias sobre qualquer assunto.

E o silêncio está em falta! Em torno de nós, nas nossas vidas,nas


nossas mentes que teimam em estar sempre buliçosamente indo e vindo sobre
o mesmo assunto,tirando-nos a paz que merecemos para sermos felizes.

Quando li a biografia de Gandhi, uma passagem ficou gravada em mim,


como importante. Ele reservava um dia por semana para fazer o jejum das
palavras e mesmo quando era convidado por alguém, ou por alguma instituição
para se pronunciar naquele dia, se esquivava de fazê-lo, para não quebrar a
sua disciplina, considerada por ele como muito importante.

.A gente fala tanto e muitas vezes não dizemos nada, ou dizemos muito
pouco... E o silêncio sobre o que soubemos de outras pessoas, geralmente
coisas desabonadoras? Será que é fácil para nós mantermos o silêncio sobre
os erros e defeitos dos outros?

Silêncio... Uma palavra mais do que necessária para que possamos


manter a nossa paz interior, mesmo quando o ruído em torno é constante.
Silêncio como pano de fundo para palavras realmente significativas e
necessárias. Silenciar compensa entre momentos de nossas vidas. Descanso e
fortalecimento de nossos ideais e crenças. Ponte para um encontro de nós
mesmos, no que somos em essência.

O silêncio nos permite ser, com mais verdade!

Diante de tantas palavras que nos estimulam para a prática do silêncio,


meus caros irmãos da maçonaria, tentemos ficar em silêncio durante alguns
minutos e façamos uma pequena reflexão para entendermos o real significado
desta palavra tão difícil de ser exercitada em toda a sua plenitude...

Texto originalmente elaborado por Maria Cristina Tanajura

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