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Estimulação Elétrica Neuromuscular Periférica em Indivíduos com

Insuficiência Cardíaca: revisão sistemática


Peripheral Neuromuscular Electrical Stimulation in Individuals with Heart Failure:
systematic review

Jackson Adriano Canavarro Ribeiro1, Elgison da Luz Santos2, Juliana Londero Silva Avila3, Paula
Karina Hembecker4, Percy Nohama5, Sergio Ossamu Ioshii6

RESUMO: A estimulação elétrica neuromuscular


(EENM) periférica é uma terapia para pacientes com ABSTRACT: Peripheral neuromuscular electrical
insuficiência cardíaca (IC) grave. O objetivo dessa stimulation (NMES) is a therapy for critically ill
revisão foi sistematizar o conhecimento sobre a patients. The aim of the study was to systematize the
aplicação da EENM em indivíduos com IC. Trata-se knowledge about NMES in individuals with HF. This is
de uma revisão sistemática de ensaios clínicos a systematic review of clinical trials published
publicados entre 2004 e 2020. As buscas foram between 2004 and 2020. The searches were
realizadas nas plataformas PubMed / Medline, conducted on the platforms PubMed / Medline,
SCOPUS / Elsevier, LILACS / BVS e SciELO. Os SCOPUS / Elsevier, LILACS / BVS and SciELO. The
dados extraídos foram alocados em uma tabela e a extracted data were allocated to a table and the
escala PEDro foi utilizada para avaliação da PEDro scale was used to assess methodological
qualidade metodológica. Foram encontrados 238 quality. 238 records were found and, of these, 15. The
registros e, destes, 15 foram selecionados. Os main results were: increased muscle strength in the
principais resultados encontrados foram aumento da lower limbs, the 6-minute walk test distance, improved
força muscular nos membros inferiores, da distância VO2 peak, exercise tolerance and endothelial
percorrida do teste de caminhada de 6 min, melhora function. It was concluded that the use of NMES has
do pico de VO2, tolerância ao exercício e da função functional benefits that affect the quality of life of
endotelial. Concluiu-se que o uso da EENM apresenta individuals with HF.
benefícios funcionais que repercutem na qualidade de
Keywords: Neuromuscular Electrical Stimulation;
vida dos indivíduos com IC.
Heart Failure; Muscle Skeletal; Lower Extremity.

Palavras-chaves: Estimulação elétrica


neuromuscular; Insuficiência Cardíaca; Músculo
Esquelético; Extremidade Inferior.

1
Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) - Curitiba (PR), Brasil. E-mail: canavarro_jack@hotmail.com. Orcid:
0000-0002-4670-2695
2
Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) - Curitiba (PR), Brasil. E-mail: elgisantos20@gmail.com. Orcid: 0000-
0001-8090-9457
3
Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) - Curitiba (PR), Brasil. E-mail: juliana_londero@hotmail.com. Orcid:
0000-0002-0746
4
Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) - Curitiba (PR), Brasil. E-mail: pkhembecker@gmail.com. Orcid: 0000-
0002-6998-8518
5
Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) - Curitiba (PR), Brasil. E-mail: percy.mohama@gmail.com. Orcid: 0000-
0002-8051-8453
6
Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) - Curitiba (PR), Brasil. E-mail: sergioioshii@gmail.com. Orcid: 0000-
0002-7871-4463

Endereço para correspondência: Jackson Adriano Canavarro Ribeiro - Pontifícia Universidade Católica do
Paraná (PUCPR) - Rua Imaculada Conceição, 1155 - Prado Velho, Curitiba - PR, 80215-901 – E-mail:
canavarro_jack@hotmail.com
INTRODUÇÃO

Insuficiência cardíaca (IC) é uma por não provocar a exacerbação dos


síndrome clínica causada por alterações sintomas e não requerer a participação
estruturais ou funcionais cardíacas, que efetiva do paciente.13,14.
afeta mais de 23 milhões de pessoas no Apesar da estimulação elétrica
mundo1,2, com sobrevida de 35% após 5 ser um método amplamente descrito na
anos de diagnóstico3. No Brasil, literatura, poucos são os estudos
registros do DataSUS indicam cerca de relacionados ao seu efeito em pacientes
2 milhões de pacientes acometidos, com IC gravemente comprometidos15.
com 240 mil novos casos por ano, Diante desse contexto, o objetivo desta
correspondendo a 33% dos custos do revisão sistemática foi identificar as
SUS4,5. evidências sobre os efeitos da EENM
A IC é determinada pela fração em membros inferiores de pacientes
de ejeção do ventrículo esquerdo, com insuficiência cardíaca.
tempo, progressão da doença e
gravidade dos sintomas, conforme a MÉTODOS
classificação funcional da New York
Como questão norteadora
Heart Association (NYHA), possui
estabeleceu-se: há evidências de que a
quatro classes (I a IV). Os pacientes III
estimulação elétrica neuromuscular de
e IV apresentam condições clínicas
membros inferiores é eficaz em
piores, hospitalizações frequentes e
indivíduos com insuficiência cardíaca?
maior risco de mortalidade6,7.
Além das terapias Foram selecionados ensaios

farmacológicas, os programas de clínicos randomizados realizados com

exercício para IC são indicados para o portadores de IC, sem restrição a idade

aumento da capacidade e ao sexo, que realizaram a EENM nos

funcional8,9,10,11. Entretanto, a adesão MMII, independentemente do tipo de

dos pacientes gravemente corrente elétrica. Estudos que

comprometidos é baixa, devido à empregaram as associações da EENM

dificuldade desses em realizar com outras técnicas também foram

atividades com pequenos níveis de incluídos. Foram considerados os

esforço físico12. seguintes desfechos: aumento da força

Nessa perspectiva, a estimulação muscular nos membros inferiores,

elétrica neuromuscular (EENM) é uma aumento na distância percorrida no

alternativa para pacientes com IC grave teste de caminhada de 6 min, melhora


do pico de VO2, melhora na função etapa, textos de artigos completos
endotelial. Não houve restrições quanto foram avaliados e selecionados.
à data de publicação ou idioma. Foram Em seguida, procedeu-se a
excluídos estudos cujo participantes extração das informações e formação
apresentassem outras comorbidades. do banco de dados. Os estudos foram
Procedeu-se a busca sistemática analisados por dois pesquisadores,
nas bases de dados PubMed/ ambos fisioterapeutas, de maneira
MEDLINE, SCOPUS, LILACS e independente. As divergências foram
SciELO. Foram definidos os termos de resolvidas por um terceiro revisor.
busca em português por meio de A avaliação do risco de viés foi
descritores livres e controlados do realizada utilizando a escala
Descritores em Ciências da Saúde Physiotherapy Evidence Database
(DECs) e Medical Subject Headings (PEDro)16. A pontuação total da escala
(Mesh). As estratégias de busca foram varia de 0 a 10. O risco de viés foi
desenvolvidas utilizando os descritores: categorizado como alto quando os
estimulação elétrica, insuficiência estudos atingiram pontuação ≤49%,
cardíaca, músculo esquelético, moderado quando obtiveram pontuação
extremidade inferior e seus entre 50 a 69% e baixo para pontuação
correspondentes em inglês. A ≥ 70%.
combinação dos termos foi realizada
mediante uso dos operadores RESULTADOS
booleanos “AND” e “OR”. A busca e
seleção dos registros ocorreu até março Na busca inicial foram
de 2020. encontrados 238 artigos, excluídos 214
A partir dos resultados da busca por serem duplicados ou não abordarem
procedeu-se a leitura dos títulos e dos a EENM em pacientes com IC. Os
resumos dos artigos, sendo artigos que preencheram os critérios de
selecionados os que atendiam aos seleção foram lidos na íntegra. Após a
critérios de elegibilidade. Na segunda análise detalhada, a amostra final desta
revisão foi de 15 artigos (figura 1).
Figura 1 – Fluxograma Prisma17 para os processos de busca e seleção dos estudos.

As características da população incluídos na revisão estão


e os principais resultados dos estudos apresentados no quadro 1.
Quadro 1 – Características dos estudos selecionados

Característica Intervenção Principais resultados


da amostra

Intensidade/
Escala PEDro

Frequência
Indivíduos

amplitude

Tempo de
NYHA/ FE

aplicação
Percentual
Autor/ Ano

Corrente
/ Risco de

Controle
utilizada

Largura

Tempo
Classe

On/Off

Grupo
pulso
viés

Ilou et al., 80% / M/F (91) II-III, BF 10 200 20/40 intensidade 4-8 bicicleta ou GI
(2017)18 Baixo FE Hz ms s progressiva semanas esteira TC6: 441 ± 89 a 513 ± 101
<40% FM: 23.7 ± 11.4 a 29.9 ± 14.1
VO2 pico: 17.5 ± 5 a 19.8 ± 6.7
MLHFQ: 41 ± 22 a 24 ± 15

GC
TC6: 448 ± 118 a 515 ± 106
FM: 23.4 ± 10.5 a 30.5 ± 13.6
VO2 pico: 16.1 ± 4.9 a 18.4 ± 4.9
MLHFQ: 37 ± 17 a 25 ± 15
Soska et 70% / M/F (71) II-III, BF 10 NI 20/20 60 mA 12 Grupo bicicleta; GI
al., Baixo FE Hz s semanas / 7 grupo bicicleta VO2 pico: 16.9 ± 1.0 a 18.4 ± 0.9
(2014)19 <40% dias / 120 + EENM MLHFQ: 38.6 ± 4.9 a 32.2 ± 4.9
minutos
GC bicicleta + EENM
VO2 pico: 17.8 ± 0.9 a 20.5 ± 1.0
MLHFQ: 32.0 ± 4.0 a 22.7 ± 3.5

GC bicicleta
VO2 pico: 17.8 ± 0.9 a 20.6 ± 0.9
MLHFQ: 34.3 ± 3.5 a 24.7 ± 3.0
Dobsák et 70% / M/F (49) II-III, BF 10 200 20/20 60mA 12 semanas Bicicleta GI
al., Baixo FE Hz ms s / 7 dias / VO2 pico: 17.3 ± 0.7 a 19.0 ± 0.7
(2012)20 <40% 120 minutos CAVI: 9.3 ± 0.2 a 8.7 ± 0.2
HRV: 351.1 ± 80.1 a 578.3 ± 231.6

GC
VO2 pico: 18.7 ± 0.7 a 20.8 ± 0.7
CAVI: 9.6 ± 0.2 a 8.9 ± 0.2
HRV: 348.2 ± 49.7 a 492.2 ± 50.5
Dobsák et 40% / M/F (15) III-IV, BF 10 200 20/20 60 mA 6 semanas / NA GI
al., Alto FE ≤ Hz ms s 7 dias / 60 FM: 224.5 ± 96.8 a 340.0 ± 99.4
(2006)21 30% minutos Torque isocinético: 94,5 ± 41,5 a 135.3 ± 28.8
FS: 35.6 ± 3.9 a 48.2 ± 4.1

Dobsák et 60% / M/F (30) II-III / BF 10 200 20/20 60 mA 8 semanas / Bicicleta GI


al., Modera FE < Hz ms s 7 dias/ 60 TC6: 398 ± 105 a 435 ± 112
(2006)22 do 40% minutos VO2 pico: 17,5 ± 4,4 a 18,3 ± 4,2
Carga de trabalho: 84,3 ± 15,2 a 95,9 ± 9,8
Duração do exercício: 488 ± 45 a 568 ± 120
MLHFQ: 39,6 ± 2,9 a 31,4 ± 4,8

GC
TC6: 425 ± 118 a 483 ± 120
VO2 pico: 18,1 ± 3,9 a 19,3 ± 4,1
Carga de trabalho: 91,2 ± 13,4 a 112,9 ± 10,8
Duração do exercício: 510 ± 90 a 611 ± 112
MLHFQ: 41,4 ± 5,3 a 27,3 ± 6,3
Deley et 60% / M/F (24) II e III / BF 10 0,2 ms 12/8s tolerância do 5 semanas / bicicleta, GI
al., Modera FE Hz paciente 5 dias / 60 bicicleta de TC6: 443.3 a 495.9
(2005)23 do <40% minutos braço e esteira FM: ME: 83.6 a 91.9 - MD: 83.9 a 91.8
VO2 pico: 15.9 a 17.2
Tempo percorrido 200 metros: 122.0 a 115.7

GC
TC6: 449.6 a 518.6
FM: ME: 90.3 a 99.9 - MD: 86.8 a 97.2
VO2 pico: 15.0 a 18.2
Tempo percorrido 200 metros: 124.3 a 112.1
Nuhr et 70% / M/F (32) II, III e BF 15 0,5 ms 2/4s 100 mA 10 semanas Mesmos GI
al., Baixo IV / FE Hz / 7 dias / parâmetros do TC6: 227 ± 138 a 299 ± 137
(2004)24 <35% 240 GI, mas com VO2 pico: 9.6 ± 3.5 a 11.6 ± 2.8
minutos menor MLHFQ: 63 ± 23 a 53 ± 20
intensidade
GC
TC6: 237 ± 132 a 243 ± 145
VO2 pico: 10.6 ± 2.8 a 9.4 ± 3.2
MLHFQ: 63 ± 19 a 66 ± 22
Palau et 70% / M/F (52) II, III, FE 10 - NI 5/5s contração 12 semanas Não GI
al., Baixo IV S 50 muscular / 2 dias / 90 intervenção; TC6: (p0.005)*
(2019)25 FE Hz visível sem minutos IMT; VO2 pico: 9.6 ± 2.0 a 11.8 ± 2.6
>50% desconforto IMT + EENM MLHFQ: 39.7 ± 21.2 a 27.1 ± 16.7

GC IMT
TC6: (p0,022)*
VO2 pico: 9.9 ± 2.3 a 12.6 ± 3.4
MLHFQ: 42.3 ± 16.5 a 27.8 ± 14.8
GC IMT + EENM
TC6: (p0.011)*
VO2 pico: 10.7 ± 2.9 a 12.9 ± 3.7
MLHFQ: 34.9 ± 21.6 a 19.8 ± 14.6

GC NÃO INTERVENÇÃO
TC6: (p0.6907)*
VO2 pico: 9.3 ± 2.5 a 8.8 ± 2.6
MLHFQ: 42.8 ± 21.3 a 42.6 ± 21.8
Kadoglou 60% / M/F II/III e FE 25 NI 5/5 s contração 6 semanas / Mesmos GI
et al., Modera (120) FE S Hz muscular 5 dias / 30 parâmetros do TC6: (p<0.001)*
(2017)12 do <40% visível sem minutos GI, mas com
causar frequência de
desconforto 5Hz
Groehs et 60% / M/F (30) IV, FE FE 10 150 20/20 70 mA 8 -10 dias / Mesmos GI
al., Modera ≤ 30% S Hz ms s 60 minutos parâmetros do FM: 13 ± 1 a 21 ± 2
(2016)26 do GI, mas com TC6: (p<0,001)*
menor MLHFQ: 69 ± 5 a 26 ± 3
intensidade FS: (p<0,05)*

GC
FM: 15 ± 2 a 16 ± 2
TC6: (p<0,001)*
MLHFQ: 70 ± 3 a 45 ± 3
FS: (p<0,001)*
Parissis et 60% / II / III, FE 25 NI 5/5 s contração 6 semanas / CG exposto ao GI
al., Modera M/F (30) FE S Hz muscular 5 dias / 30 mesmo regime FE: 0.15 ± 0.08 a 0.33 ± 0.15
(2015)27 do <40% visível sem minutos com frequência KCCQ: 50,6 ± 26,6 a 71.7 ± 20.4
causar de 5Hz BDI: 12.3 ± 3.4 a 8.5 ± 2.1
desconforto SDS: 38 ± 6 a 30 ± 6

GC
FE: 0.17 ± 0.07 a 0.15 ± 0.07
KCCQ: 60.7 ± 23.0 a 57.9 ± 24.7
BDI: 11.6 ± 3.2 a 12.0 ± 2.7
SDS: 37 ± 6 a 39 ± 6
Karavidas 70% / M/F (30) II-III, FE 25 NI 5/5 s contração 6 semanas / GC exposto ao GI
et al., Baixo FE S Hz muscular 5 dias / 30 mesmo regime TC6: 324 ± 54 a 401 ± 67
(2013)28 <50% visível sem minutos com frequência FE: 5.3 ± 3.0 a 9.2 ± 3.9
causar de 5Hz KCCQ: 39 ± 7 a 53 ± 6
desconforto MLHFQ: 45.6 ± 12.9 a 17.1 ± 11.9
BDI: 11.2 ± 6.2 a 6.1 ± 4.4
SDS: 42.3 ± 8.4 a 32.4 ± 8.7

GC
TC6: 322 ± 76 a 345 ± 74
FE:3.8 ± 2.0 a 4.1 ± 1.6
KCCQ: 39 ± 7 a 44 ± 8
MLHFQ: 46.7 ± 17.5 a 37.9 ± 16.5
BDI: 12.1 ± 4.3 a 10.7 ± 3.4
SDS: 38.6 ± 6.2 a 37.0 ± 6.6
Deftereos 60% / M/F (31) II / III, FE 25 NI 5/5s contração 6 semanas / Bicicleta GI
et al., Modera FE S Hz muscular 5 dias / 30 FE: 5.9 ± 0.5 a 7.7 ± 0.5
(2010)29 do ≤35% visível minutos TC6: 448,1 ± 17,6 a 491,0 ± 18,4

GC
FE: 6.2 ± 0.4% a 9.2 ± 0.4
TC6: 446.8 ± 15.6 a 505.0 ± 15.6
Sacilotto 70% / M/F (28) III ou CR 50 NI 3/9 s contração 7 semanas / Mesmos GI
et al., Baixo IV Hz muscular 2 dias / 50 parâmetros do MLHFQ: 64 ± 22 a 45 ± 17
(2017)30 FE visível e minutos GI, mas com TC6: 324 ± 117 a 445 ± 100
≤35% tolerância do menor
paciente intensidade GC
MLHFQ: 51 ± 25 a 52 ± 25
TC6: 393 ± 151 a 353 ± 159
Banerjee 40% / M/F (10) II-III, NI 4 300 NI NI 8 semanas / NA GI
et al., alto FE Hz ms 7 dias / 60 TC6: 415 ± 57 a 455 ± 55
(2009)31 ≤35% minutos FM: 377.9 ± 110.4 a 404.9 ± 108.6
VO2 pico: 17.6 ± 0.4 a 18.6 ± 0.4
Legenda: NYHA - New York Heart Association; FE – Fração de ejeção; M – masculino; F – Feminino; BF – Bifásica; Hz – Hertz; ms – milissegundo; s – segundos; GC – grupo controle;
GI – grupo intervenção; TC6 – Teste de Caminhada de 6 minutos; FM – força muscular; ME - membro esquerdo; MD – membro direito; mA - miliampere; MLHFQ - Minnesota Living with
Heart Failure Questionnaire; VO2 - volume de oxigênio; m – metros; EENM – estimulação elétrica neuro muscular; NI – não informado; NA – não se aplica; FES – Functional Electrical
Stimulation; O2 – oxigênio; CAVI - Cardio-ankle vascular index; HRV - heart rate variability; FS - fluxo sanguíneo; FE - função endotelial; KCCQ - Kansas City Cardiomyopathy Questionnaire;
BDI; - Beck Depression Inventory; SDS - Zung self-rating depression scale; ANSM - atividade do nervo simpático muscular; CR - Corrente Russa; IC – insuficiência cardíaca; IMT –
treinamento muscular inspiratório.
* Os autores informaram somente o valor de p.
Um total de 643 pacientes A comparação com outras técnicas,
participaram das intervenções nos estudos associadas ou não à EENM, foram
selecionados, a maioria (75,9%) do sexo descritas em quatro estudos utilizando
masculino. A média de idade variou entre bicicleta29; bicicleta associada à EENM19;
49 a 75 anos. A classe NYHA variou de II a bicicleta ou esteira30; treinamento muscular
IV. Em relação à fração de ejeção, houve inspiratório (IMT) e IMT combinado com
variação de ≤ 30% a > 50%. FES25.
As correntes aplicadas foram a Diversos estudos constataram uma
bifásica18,19,20,21,22,23,24, a FES12,25,26,27,28,29 e melhora no TC6 após a aplicação da
a corrente russa30, sem descrição de suas EENM, com uma variação na distância
especificidades. Com relação à modulação percorrida entre 227m ± 138 a 513m ±
da frequência foram entre 4 e 50 Hz. A 10112,18,22,23,24,25,26,28,29,30,31. Foram
intensidade manteve-se com contrações identificadas a melhora no pico de
visíveis; porém, confortáveis ao VO218,19,20,22,23,25,29,31 e na função
usuário18,23,27,28,29,30. Alguns autores endotelial27,28,29, o aumento da força
utilizaram 60 mA19,20,21,22, 70 mA26 e 100 muscular18,21,23,26,31 e na velocidade do fluxo
mA24. sanguíneo21,26 (quadro 1).
Quanto ao ciclo de trabalho (tempo A melhora da qualidade de vida foi
on / (on+off)), a maioria dos estudos relatada como desfecho nos escores do
selecionou em 50% de tempo ativo. Porém, Minnesota Living with Heart Failure
há uma variedade nos tempos de Questionnaire12,18,19,22,24,25,28,30, Kansas
manutenção do ciclo, variando de 2 a 20 s. City Cardiomyopathy Questionnaire27,28,
A minoria utilizou tempo off maior que o Beck Depression Inventory27,28e Zung self-
tempo on18,24,30. A duração do pulso variou rating depression scale27,28.
entre 0,2 a 200ms, entretanto, vários Outros achados foram a melhora da
autores não informaram o classe NYHA27, redução da atividade do
valor12,19,25,27,28,29,30. nervo simpático muscular (ANSM)26 e
Os dados indicam uma variação em aumento dos níveis plasmáticos de IL-1β,
relação ao tempo de aplicação dos IL-6 e IL-830. A aplicação da FES esteve
protocolos, sendo 12 semanas o período associada a uma menor ocorrência de
mais longo e 1 semana o mais curto. A hospitalização relacionada à IC12.
periodicidade variou de 2 e 7 dias por A pontuação da qualidade
semana e alguns autores19,20,25 relataram a metodológica dos estudos variou de 40% a
aplicação da EENM duas vezes por dia. 80%. De acordo com a análise do risco de
viés 46,6% dos estudos apresentaram efeito estatisticamente significativo.
baixo risco. Destaca-se que não houve consenso em
relação aos protocolos e os parâmetros de
DISCUSSÃO aplicação das correntes. Com isso, a
aplicabilidade dos resultados não pode ser
Dos 15 ensaios clínicos que extrapolada diretamente para pacientes
atenderam aos critérios de elegibilidade com formas mais leves da doença. Os
constatou-se que a aplicação da EENM nos efeitos da EENM a longo prazo foram
MMII dos pacientes com IC foi capaz de relatados somente em dois estudos12,25
produzir efeitos positivos na capacidade onde constatou-se que os benefícios foram
funcional, distância percorrida do TC6, pico mantidos.
de VO2, aumento da força muscular e Alguns cuidados foram tomados
velocidade do fluxo sanguíneo, função pelos autores para reduzir o risco de viés.
endotelial e escores de qualidade de vida. No entanto, um estudo21 não informou. A
Outros desfechos importantes como a alocação cega foi relatada por apenas cinco
melhora da classe NYHA, redução da autores18,19,20,24,30. Dentre as limitações
ocorrência de morte ou de hospitalização, identificadas, o tamanho das amostras era
aumento dos níveis plasmáticos de IL-1β, relativamente pequeno, sendo o menor
IL-6 e IL-8 e redução da atividade do nervo grupo com 15 voluntários21 e o maior com
simpático muscular (ANSM), que é 12012. Nenhum estudo informou o cálculo
associada a mau prognóstico tornando-se amostral, dado importante para inferências
um preditor independente de mortalidade e extrapolações dos resultados
em pacientes com IC32. Tais achados encontrados para a população em geral33.
inferem que a EENM pode ser uma A alocação aleatória dos
alternativa como tratamento adjuvante de participantes pode equilibrar as
cardiopatas que não possuem condições características dos grupos, entretanto,
de aderir a um programa de exercícios cinco estudos não relataram essa
físicos. informação18,19,20,24,30. Dessa forma, é
Estudos compararam a EENM a um possível que resultados diferentes possam
programa de treinamento físico aeróbio, ser evidenciados em estudos que realizem
com a estimulação elétrica apresentando à randomização e o sigilo de alocação
melhora nos parâmetros adequadamente34. O mascaramento dos
funcionais20,22,23,29. Porém, em dois avaliadores dos desfechos não foi realizado
estudos18,19 não foi constatado nenhum
em nenhum dos artigos, evitando o viés de REFERÊNCIAS
mensuração.
1- Mann DL, Zipes DP, Libby P, Bonow RO.
Diante dessas limitações, Braunwald’s heart disease: a text book of
evidenciamos a necessidade de novas cardiovascular medicine. 10. ed. Philadelphia:

pesquisas com objetivo de compreender os Elsevier; 2015.

efeitos da EENM em pacientes cardiopatas,


2- Mozaffarian D, Benjamin EJ, Go AS, Arnett DK,
principalmente avaliando os resultados a
Blaha MJ, et al. Heart disease and stroke statistics
longo prazo em um protocolo de aplicação 2016 update: a report from the American Heart
padronizado. A literatura analisada não Association. Circulation. 2016;133(4):38-360.

apresentou consenso em relação aos


3- Bleumink GS, Knetsch AM, Sturkenboom MC,
parâmetros utilizados, o tipo de corrente
Straus SM, Hofman A, Deckers JW. Quantifying
mais adequado e a associação de técnicas. the heart failure epidemic: prevalence, incidence
rate, life time risk and prognosis of heart failure The
CONCLUSÃO Rotterdam Study. Eur Heart J. 2004;25(18):1614-
1619.

A aplicação da EENM periférica


4- Viana PAS, Neto JDC, Novais CT, Guimarães IF,
apresenta benefícios funcionais que Lopes YS, Reis BC. Perfil de pacientes internados
repercutem positivamente na qualidade de para tratamento de insuficiência cardíaca
vida dos indivíduos com IC promovendo descompensada. SANARE-Revista de Políticas

melhora na força muscular, maior eficiência Públicas. 2018; 17(01):15-23.

ventilatória e aumento da vascularização


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