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ed

PA U L O A D R I A N O M U N I Z G O U V Ê A

O IMPACTO
PESSOAL E SOCIAL DA
PORNOGRAFIA
O IMPACTO
PESSOAL E SOCIAL DA
PORNOGRAFIA

2ª Edição
Julho de 2019
PA U L O A D R I A N O M U N I Z G O U V Ê A

O IMPACTO
PESSOAL E SOCIAL DA
PORNOGRAFIA
2ª Edição
Julho de 2019

www.sexosemcativeiro.com.br
Copyright © by Paulo Adriano Muniz Gouvêa, 2018
SEXO SEM CATIVEIRO – Paulo Adriano Muniz Gouvêa
Segunda Edição – Julho de 2019
Diagramação: Raquel Serafim (@rakdesigner)
Capa: Railca Freire Gouvêa
Revisão: 1. Leandro Lorenzetti – Pastor Sênior da Igreja do Evangelho
Quadrangular, sede e Superintendente Regional em Concórdia, SC; e
2. Ana Lia de Miranda e Martins – Procuradora de Justiça
Aposentada pelo Ministério Público do Estado de Rondônia

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte da edição deste livro deve ser reproduzida
de forma alguma sem a autorização por escrito do autor, exceto em casos de citações
curtas em artigos ou resenhas.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

Paulo Adriano Muniz Gouvêa


Sexo sem Cativeiro
Fortaleza, CE: Paulo Adriano Muniz Gouvêa, 2018.
148 páginas; 23 cm
ISBN 978-85-923173-3-1
1. Vida Cristã. 2. Viciados em Sexo – Recuperação. 4. Saúde Emocional. 5.Família. 6. Acon-
selhamento.
I. Gouvêa, Paulo Adriano Muniz. – II. Título
 CDD 240
 1ª Edição

Índice para Catálogo Sistemático


1. Moral Cristã e Teologia Prática – 240

Impressão e Acabamento
Exklusiva Gráfica e Editora

Distribuição e Vendas
Sexo sem Cativeiro
Loja Virtual: http://www.sexosemcativeiro.com.br
E-mail: atendimento@sexosemcativeiro.com.br
Fone: |55| 41 99676.9107 / 85 99865.7308
“Os olhos são a candeia do corpo.
Se os seus olhos forem bons, todo o
seu corpo será cheio de luz. Mas se
os seus olhos forem maus, todo o seu
corpo será cheio de trevas. Portanto,
se a luz que está dentro de você são
trevas, que tremendas trevas são!”
Mateus 6.22-23 (NVI)
Índice
Prefácio . . ......................................................................................................... 9

Introdução .. ................................................................................................... 11

Capítulo 1 – O Cérebro e a Pornografia ........................................................... 15

Capítulo 2 – A Ciência e a Pornografia.. ........................................................... 33

Capítulo 3 – O Sexo Conjugal e a Pornografia.. ................................................ 57

Capítulo 4 – A Criança e a Pornografia ........................................................... 71

Capítulo 5 – A Mulher e a Pornografia ......................................................... 101

Capítulo 6 – A Igreja e a Pornografia . . .......................................................... 113

Capítulo 7 – Como Reiniciar Seu Cérebro ........................................................ 129

Bibliografia ................................................................................................. 139


Prefácio
Grande é o número de pessoas mergulhadas no mundo da pornogra-
fia, ainda maior é o desafio de tratar milhares de pessoas que não
conseguem se libertar desse vício “silencioso”. Nunca em outro
tempo vivemos o desafio de esclarecer sobre o assunto, de tratá-lo
como algo epidêmico e maléfico para as famílias.
Com o avanço tecnológico e a facilidade de acesso a con-
teúdos pornográficos, estima-se que milhares de crianças são as-
sediadas e abusadas virtualmente, roubando-lhes a inocência e
construindo um caráter moldado pela deturpação sexual. Diante
disso, recomendo a leitura deste livro, o qual, além de esclarecer o
mecanismo de absorção do cérebro ao acessar pornografia, tratará
das consequências em todos os âmbitos da família.
Como pastor de uma igreja no interior de Santa Catarina
há onze anos, percebo rotineiramente o estrago causado por este
vício, independente da fé professada. A pornografia deforma o
caráter, destrói a alma e os relacionamentos do dependente. Essa
tem sido a dura realidade que presenciamos, tanto dos que che-
gam para agregar ao corpo de Cristo, como muitos que já são par-
te do corpo, mas vivem sob esse jugo de escravidão. Em muitos
momentos, nos sentimos impotentes devido aos níveis de com-
prometimento no vício. Cada vez mais pessoas expressam a dor
de querer vencer, sem saber como superar ou atravessar esse vale
profundo da dependência em pornografia.
Nossa igreja recebeu em 2018 o seminário SEXO SEM CA-
TIVEIRO, ministrado pelo autor deste livro. Após termos recebi-
do todo o conteúdo e as experiências compartilhadas pelo autor,
10 • Sexo sem cativeiro | Paulo Adriano Muniz Gouvêa

entendemos o desafio da igreja para este novo tempo: lidar com


feridas abertas por este mundo caído. A única saída é o conheci-
mento e a Verdade. Temos criados equipes de apoio, grupos de
integração e tratado do assunto de uma forma clara e direta. Creio
ser essa literatura umas das mais importantes no momento em
que vivemos, uma ferramenta para leigos na fé ou até mesmo pas-
tores que queiram viver a experiência de ajudar aos muitos que se
afundam sem conseguir pedir socorro. O livro é um manual im-
portante para conselheiros e grupos de apoio que queiram tratar
da dependência sexual e pornografia.

O desafio está feito, boa leitura.

Leandro Lorenzetti
Pastor Sênior da Igreja do Evangelho Quadrangular,
sede e Superintendente Regional em Concórdia, SC.
Introdução
A evolução tecnológica tem sido um grande benefício para toda a
humanidade em termos de produtividade, compartilhamento do
conhecimento e avanços significativos em várias áreas de inte-
resse comum da sociedade, porém, existe um mal que, na mes-
ma velocidade, acompanha todo e qualquer tipo de inovação:
A ­PORNOGRAFIA.
Desde a época em que a humanidade escrevia sua história
em pedras com gravuras, passando pela invenção do papel, das
prensas gráficas, das máquinas fotográficas e projetores antigos,
de equipamentos de vídeo cassete, chegando agora à internet em
altíssima velocidade em nossos smartphones, os produtores de
material pornográfico revelam uma enorme capacidade de absor-
ção de novas tecnologias e, com a mesma velocidade, a indústria
da pornografia avançou, se adaptando a elas.
Segundo diversos especialistas e o senso comum, estamos
vivendo um tempo em que as pessoas estão constantemente co-
nectadas e antenadas à essas inovações, porém, também somos a
geração mais desconectada de todos os tempos daquilo que é mais
significativo e importante para as nossas vidas, principalmente no
âmbito emocional. Estamos substituindo a vida real pela virtual, o
que tem causado uma série de efeitos negativos na atual geração,
preparando um cenário bastante incerto para as futuras.
Nunca uma geração esteve tão adoecida em seus relacio-
namentos pessoais e em suas emoções como a atual. A pornogra-
fia talvez tenha atingido o seu maior potencial destrutivo dentro
desse contexto, disseminando seus falsos conceitos sobre sexo e
12 • Sexo sem cativeiro | Paulo Adriano Muniz Gouvêa

criando tendências distorcidas no comportamento sexual da so-


ciedade, de modo a deformar a maneira como essa nova geração
enxerga o sexo, privando-a de experimentá-lo como uma benção
de Deus.
Somente nos últimos anos a ciência começou a estudar de
uma forma mais efetiva o fenômeno da pornografia e toda a de-
vastação que ela causa aos indivíduos e às sociedades. Precisamos
nos despertar para o impacto que nossa atual geração vem sofren-
do, discutir com responsabilidade o assunto e oferecer respostas
bíblicas para os problemas sociais que vêm surgindo.
Quero, com este material, compartilhar alguns desses es-
tudos e conscientizar a igreja sobre a urgente necessidade de se
posicionar contra a pornografia, que é uma semente maligna na
construção de perversões e crimes sexuais, marginalizando ho-
mens, vulgarizando mulheres e ilegitimando filhos, muitas vezes,
quando ainda crianças, de modo a gerar, assim, um ciclo de des-
truição familiar que impacta diretamente a sociedade e a nação
como um todo.
O governo só tomará medidas efetivas para o combate à
pornografia quando mostrarmos o impacto nos cofres públicos
em decorrência desse mal, pois a mais nova revolução sexual está
acontecendo neste momento, sendo a internet em altíssima veloci-
dade e o acesso fácil, ilimitado e anônimo a toda sorte de conteúdo
pornográfico da mais ampla variedade possível, os dois grandes
vetores que resultam nesta revolução.
Cada vez mais cedo, jovens e crianças estão sendo alcança-
dos e enredados pelo consumo de pornografia via internet. Esse
cenário, associado à falta de conhecimento dos pais e de uma des-
conexão geracional cada vez mais abrangente, entrega à geração
atual e à próxima a conteúdos que vão impactar diretamente os
seus relacionamentos, o futuro dos seus casamentos e, consequen-
temente, das famílias, que tenderão a ser totalmente diferentes do
que seria uma família à luz da palavra de Deus.
Introdução • 13

Espero que esta leitura desperte em você o interesse de lutar


contra a propagação do material pornográfico, contribuindo para
que seja criada uma regulamentação para a pornografia em seu
país e criminalizando os responsáveis por materiais pornográficos
de cunho criminoso, como os que envolvem crianças. Precisamos
colocar regras nesse setor que tem roubado a inocência de nossos
filhos, hiper sensualizado nossos jovens e devastado os relaciona-
mentos pessoais.

11
Capítulo 1 – O Cérebro
e a Pornografia
A pornografia diz: “Esse é o seu corpo, tomado, usado e
abusado por mim”.
CRISTO DIZ: “Este é o meu corpo, entregue por vós”.

Em palestras e seminários, já ouvi algumas vezes a seguinte frase:


“nosso maior órgão sexual está entre as orelhas”. Os palestrantes
estavam falando de nosso cérebro. Realmente, é lá onde as coisas
acontecem. Nele podemos experimentar amor, intimidade, prazer
e alegria recompensadores, através de um verdadeiro “cocktail”
neuroquímico, mas, da mesma forma, podemos ser afetados por
situações negativas, como vícios e compulsões. A pornografia é
um instrumento de manipulação do prazer sexual, e acaba criando
um condicionamento compulsivo e viciante para os seus ­usuários.
O cérebro tem a capacidade de aprender com nossas expe-
riências. Por exemplo, quando alguém cai de uma determinada
altura por ter subido em uma palmeira, na próxima vez que essa
mesma pessoa se aproximar de uma árvore, seu cérebro vai emitir
sinais de alerta para que ela tenha mais cuidado ou que não repi-
ta a experiência. Considerando essa dinâmica, tudo aquilo que é
vital para nossa sobrevivência ou que nos traz segurança e sensa-
ções de alegria e prazer também é aprendido por nosso cérebro,
para que possamos repetir no futuro diante de uma necessidade.
Quando consideramos esses efeitos em nosso cérebro sob
a influência da pornografia, podemos absorver os dois compor-
tamentos na mesma experiência. Por um lado, a pornografia é
16 • Sexo sem cativeiro | Paulo Adriano Muniz Gouvêa

extremamente excitante e oferece uma grande variedade de pro-


messas na área sexual, bem como rapidez na hora de receber a
recompensa desejada através da masturbação. Por outro lado,
muitos já experimentam, em suas vidas, prejuízos em decorrência
do consumo desse tipo de conteúdo. É por conta deste paradoxo
que muitos não conseguem abandonar o consumo de pornogra-
fia, mesmo experimentando danos em seus relacionamentos e em
várias áreas de sua vida pessoal.
Infelizmente, nosso cérebro faz a associação errada da por-
nografia ao que é sexo, devido à excitação e ao prazer sexual ex-
perimentados durante o uso. As constantes repetições de acesso
virtual, associadas à prática da masturbação, sem o contato físico
e muito menos envolvimento emocional com outra pessoa, criam
circuitos neurais no cérebro, mudando as respostas naturais do
organismo quanto à excitação sexual e à própria prática real do
ato sexual. O cérebro aprende de forma equivocada que SEXO é
ASSISTIR PORNOGRAFIA.
Pornografia não é sexo, é uma fantasia. Eu defino porno-
grafia da seguinte forma: “Ferramenta de manipulação de massas
para a destruição pessoal e social, por meio de uma desconstru-
ção da sexualidade saudável, substituindo-a por conceitos que
deformam o caráter e distorcem completamente a maneira como
a pessoa vê e pensa sobre o sexo1.”
A pornografia não ensina sexo, ensina o anti-sexo, as filias e
as parafilias. Tudo na pornografia é mentira e aqueles que a con-
somem estão construindo inconscientemente hábitos sexuais que
vão deformar a maneira como vêem as mulheres, o sexo e seus
relacionamentos. Seu caráter é contaminado por conceitos como
infidelidade conjugal, violência contra a mulher e perversões se-
xuais. Na pornografia, abusos e violência sexual, de uma forma
geral, podem ser aceitos como prática normal de sexo.

1
Gouvêa, Paulo – Sexo sem Cativeiro – Manual de Aconselhamento ao Compulsivo Sexual.
2017, Editora Sexo sem Cativeiro. Pág 92
Capítulo 1 – O Cérebro e a Pornografia • 17

Somos seres emocionais e relacionais (Gênesis 2.18), e a por-


nografia jamais vai saciar nossa real necessidade de sexo natural.
Em vez disso, ela irá nos distanciar do que verdadeiramente é o
sexo saudável, nos aprisionando em suas mentiras. A pornografia
cria uma associação em nossa mente de que sexo é algo para se
praticar de forma solitária, desconectada de outra pessoa, de modo
que, mesmo quando estamos diante de alguém, nosso corpo vai res-
ponder de acordo com o que se absorveu durante as várias sessões
de consumo de pornografia em nossos equipamentos eletrônicos.
Nossa mente foi criada por Deus para nos conectarmos a
uma pessoa específica, o cônjuge, durante a experiência sexual,
por meio de intimidade, toques, carícias e um processo explora-
tório do corpo um do outro (Gênesis 2.25). Fomos criados para
aprender o seguinte processo: Meu cônjuge é suficiente para mim,
gosto do seu cheiro e do seu toque, seus beijos são deliciosos e fico excitado
quando ele(a) transpira e toca meu corpo, amo essa intimidade com ele(a)
e quero com toda a certeza repetir isso muitas vezes com ele(a) como pro-
va do meu amor por ele(a). Essa é a mensagem e o caminho natural
que nosso cérebro foi criado para seguir, segundo o escritor Sam
Black em seu livro The Porn Circuit.
A pornografia nos artificializa e nos tira do trilho correto,
fazendo-nos seguir o seguinte processo sexual: Estou sozinho aces-
sando pornografia. Vi várias imagens ao mesmo tempo e me masturbei.
Estou bem e sentindo prazer agora, não sei se consegui tudo o que eu
queria, pois depois do prazer, sinto-me vazio. Vou REPETIR para ver se
consigo o que preciso.
Nos últimos anos, a ciência tem começado um movimento
de forma mais efetiva no sentido de compreender os reais efeitos
da pornografia na sociedade e os impactos sobre os indivíduos
que fazem uso desse material. Vários estudos estão apontando
para a mesma direção sobre seus efeitos, e estamos perto de uma
classificação pela sociedade americana de medicina para o vício
em pornografia. Quero compartilhar, neste Capítulo, os principais
efeitos já comprovados em estudos e nas salas de aconselhamento.
18 • Sexo sem cativeiro | Paulo Adriano Muniz Gouvêa

1. 1 DESSENSIBILIZAÇÃO AO PRAZER NATURAL


É o desenvolvimento de tolerância sobre o consumo de material
pornográfico. Retarda a resposta do organismo ao prazer sexual, sendo
necessárias doses cada vez mais altas de pornografia para se conseguir o
orgasmo.
O cérebro foi programado para guardar memórias de estí-
mulos para saciar necessidades e desejos naturais como alimen-
tação, beber água, fazer sexo, entre outros. Existe uma área de
recompensa no cérebro, que atua no sentido de liberar as recom-
pensas quando conseguimos suprir uma necessidade ou desejo
natural do corpo. A dopamina é o neurotransmissor que nos ofe-
rece uma grande sensação de prazer. Por exemplo, se estamos com
fome, o cérebro começa a trabalhar liberando pequenas faíscas de
dopamina trazendo lembranças e sensações de como saciar a nos-
sa fome. Muitas vezes, nossa mente começa a receber imagens de
nossa refeição preferida, a boca começa a salivar e o estômago a
roncar. Todos estes efeitos são coordenados por nosso cérebro, no
sentido de nos impulsionar para ações que saciem tal demanda.
Essas memórias são formadas a partir de experiências anteriores
que vivenciamos suprindo essa necessidade.
Esse sistema de recompensa existe para garantir nossa so-
brevivência e deve ser utilizado de forma racional, equilibrada e
natural, assim como o desejo sexual (Gênesis 1.26-28). As recom-
pensas foram projetadas por Deus para serem recebidas de manei-
ra natural, e não virtual. Um bom exemplo disso é que ninguém
mata sua sede olhando no computador um copo d’água, ou vendo
alguém se refrescar repetidas vezes em uma cachoeira. Na área
sexual, o princípio é o mesmo. Fomos programados para receber
essas gratificações por meio de um relacionamento real, alicerça-
do em um verdadeiro e genuíno amor. Quando manipulamos esse
sistema, usando gratificações artificiais e virtuais, corremos o ris-
co de nos tornarmos prisioneiros dessa manipulação.
Nosso organismo foi feito para que vivêssemos uma vida
sexual ativa com o nosso cônjuge, inclusive por uma questão de
Capítulo 1 – O Cérebro e a Pornografia • 19

crescimento e multiplicação da espécie humana. Então, a primei-


ra experiência sexual e a maneira como o sexo nos é apresentado
têm um forte impacto sobre a criação dessas memórias e a ma-
neira como o cérebro vai liberar o sistema de recompensas em
situações futuras.
Quando nossas primeiras experiências sexuais são abusi-
vas, violentas ou virtuais, vamos condicionar sexualmente nos-
so cérebro a bloquear ou liberar essas recompensas. Uma pessoa
abusada por outra do mesmo sexo, por exemplo, pode criar um
condicionamento sexual de aversão ou desejo apenas pelo mesmo
sexo. Precisamos entender e mapear as crenças que foram cons-
truídas após cada um destes eventos.
Quando esse sistema se desenvolve ao redor de experiên-
cias reais e saudáveis, dentro de uma aliança de casamento, ele li-
bera de forma muito equilibrada e natural os neurotransmissores,
proporcionando um estado de alegria e relaxamento adequado.
Porém, quando esse sistema é construído ao redor de experiências
artificiais ou nocivas, o corpo vai ser impactado por aquele novo
estímulo e, no primeiro momento, tem uma sobrecarga de dopa-
mina, gerando uma grande euforia e sensação de prazer, mas, de-
pois, o cérebro percebe isso, e vai aos poucos buscando equilibrar
a liberação das recompensas neuroquímicas, de modo a reduzir a
cada nova experiência artifical a liberação das doses de dopamina.

Figura 1 – Processo de Dessensibilização à Quantidade de Material Pornográfico para


Liberação de Dopamina
20 • Sexo sem cativeiro | Paulo Adriano Muniz Gouvêa

Na busca pelo efeito da sobrecarga liberada das primeiras


doses, o indivíduo procura novos estímulos na pornografia. Nes-
se momento, cria-se uma situação de TOLERÂNCIA no seu cére-
bro em resposta ao material pornográfico. Dessa forma, alguém
que, no início, via apenas fotos de mulheres de biquini, já não se
sacia mais com isso, e começa a procurar novas formas de aumen-
tar o prazer através de novos conteúdos sexuais. Então, ele passa
a ver imagens de zoofilia, perversões sexuais, estupros, orgias, en-
tre outros materiais. Essa busca por mais imagens produz vários
impulsos no cérebro simultaneamente e cria uma maior tolerância
à imagens antigas, exigindo do usuário novos impulsos e aumen-
tando a quantidade simultânea de imagens exibidas.

Figura 2 – Processo de Dessensibilização a Novidades de Conteúdos Pornográficos para


Liberação de Dopamina

O Dr. Gary Wilson, autor do Livro Your Brain on Porn (Seu


Cérebro na Pornografia), relata a história de um homem que gos-
tava de se masturbar vendo fotos de mulheres de biquíni. Em seu
último contato, ele chegou a relatar que acessava em torno de
duas a três mil fotos para conseguir o orgasmo na masturbação.
Essa pessoa condicionou sua resposta sexual a NOVIDADES E A
ALTOS NÍVEIS DE IMPULSOS E ESTÍMULOS. Quando ele está
em uma relação sexual com sua cônjuge, seu corpo vai exigir a
mesma condição para que ele consiga a ereção ou mantê-la.
Entre os usuários de pornografia, é muito comum muitos
relatarem que nos primeiros 5 minutos de uma relação sexual es-
Capítulo 1 – O Cérebro e a Pornografia • 21

tão tremendamente excitados, mas que, em pouco tempo, toda


aquela excitação vai embora, justamente porque lhes falta o alto
nível de estímulos e novidades para que a excitação aconteça. Al-
guns fecham seus olhos e começam a buscar nas fantasias sexuais
estes estímulos. Muitos chegam a propor ao cônjuge assistirem
pornografia antes e durante o ato sexual para se manter “aceso”,
o que na verdade só aumenta a desconexão entre o casal. Seu cor-
po fica dessensibilizado ao sexo natural, uma vez que seu cérebro
aprendeu que o sexo virtual é que seria o “sexo verdadeiro”.
Certa ocasião, um jovem de 25 anos relatou que desde os
seus nove anos via pornografia. Quando foi ter sua primeira rela-
ção sexual, aos dezessete anos, seu corpo estava totalmente des-
conectado do corpo da parceira. A mente dele queria sexo, mas o
corpo não respondia. Ele não conseguiu e se frustrou, mas, quan-
do abandonou o uso da pornografia, dentro de alguns meses seu
corpo voltou ao normal2.

1. 2 A HIPERSENSIBILIZAÇÃO À PORNOGRAFIA E À LASCÍVIA


É a hiper atividade relacionada ao vício. Aumenta o desejo por
pornografia mesmo que se goste menos.
A exposição constante a conteúdo pornográfico cria uma
hipersensibilidade no cérebro aos gatilhos sexuais. Torna o indi-
víduo extremamente sensível a qualquer coisa que tenha apelo
ou natureza sexual. Os olhos e seus sentidos ficam quase sempre
aguçados procurando novas formas de dar vazão ao seu prazer.
Com o uso da pornografia, o corpo não perde a sensibilida-
de apenas ao sexo natural, mas perde o interesse por várias outras
atividades da vida cotidiana, devido a uma hipersensibilidade
que desenvolve pelo fator de manipulação. Sua vida passa a girar
em torno do vício sexual, e qualquer outra atividade torna-se en-
fadonha e desgastante.

2
Dr Gary Wilson, www.yourbrainonporn.com
22 • Sexo sem cativeiro | Paulo Adriano Muniz Gouvêa

O Dr. Norman Doidge, psicanalista nascido no Canadá e au-


tor de O cérebro que muda a si mesmo (2007) e O modo de cura do cére-
bro (2015), explica que nosso cérebro tem dois sistemas de prazer.
Um ligado à excitação e desejo e o outro à satisfação e realização.
Sobre a pornografia, diz que é altamente excitante, mas pouco sa-
tisfatória, pois ela oferece uma gama enorme de novidades, aces-
so a fantasias de forma ilimitada e uma grande variedade com
apenas alguns cliques. Porém, ela não sacia nossa necessidade de
afeto e contato físico.
Segundo Dr. Doidge, um sistema está em ligarmos a ima-
gem de nossa refeição preferida e o desejo de comê-la, o outro está
ligado ao fato de comermos a refeição e se ela estava como havía-
mos imaginado. A pornografia hiperativa a área do desejo sexual
e excitação, mas mata de fome a área de prazer ligada à satisfação
pessoal. Sexo é uma experiência que deve conter toque, beijos, ca-
rícias e uma conexão muito mais do que biológica, o que sabemos
ser uma ligação de alma e espírito com nosso cônjuge.
Um cérebro “pornificado” é fissurado em sexo, múltiplos
parceiros e infinitos estímulos e novidades, a uma grande velo-
cidade da exploração e explosão sexual oferecendo apenas uma
via de orgasmo que é a masturbação. Mas o cérebro natural deseja
intimidade, descoberta lenta e gradativa do prazer, valorizando o
relacionamento com seu cônjuge, possuindo muitas vias de pra-
zer à medida que o casal se conhece e aprofunda seus conheci-
mentos um no corpo do outro através de uma descoberta mútua,
do diálogo e da exploração consciente e saudável do corpo um do
outro (Gênesis 2.25).
Em seu livro Wired for Intimacy (Ligados para Intimidade),
O Dr. William Struthers, professor de psicologia que estuda o im-
pacto do consumo de pornografia, oferece uma maneira de enten-
der esta sensibilização. “Como um caminho é construído na floresta
devido aos sucessivos caminhantes, as estradas neurais definem o rumo
para a próxima vez que uma imagem erótica é visualizada. Com o passar
do tempo, esses caminhos neurais se tornam mais amplos, porque são
Capítulo 1 – O Cérebro e a Pornografia • 23

constantemente repetidos”. Ao nos excitarmos com imagens porno-


gráficas, criamos uma ponte entre nossa excitação e o desejo de
ver pornografia. Quando andamos pela rua e nos excitamos com
uma mulher sensual, rapidamente nossa mente começa a traba-
lhar, para que aquele desejo seja suprido através da masturbação,
alimentada pelas memórias guardadas da cena que nos engati-
lhou. Esses circuitos neurais ancoram solidamente esse processo
no cérebro.

Figura 3 – Processo de Redução do Interesse e do Prazer nas demais Atividades para


Liberação de Dopamina

O usuário de pornografia vai olhar para as mulheres ou ho-


mens como potenciais estrelas ou astros pornográficos. Suas ati-
tudes e comportamentos serão inclinados a reproduzir o que foi
visto nos filmes e fotografias sexuais. Resumindo, quanto maior
a exposição desse usuário, mais estes caminhos neurais são cons-
truídos. À medida que esse homem ou mulher assiste conteúdo
pornográfico e se masturba, mais essas estradas são forjadas em
sua mente e mais sensíveis a impulsos sexuais eles se tornam, de
modo a terem menos controle sobre seu apetite e excitação sexual.
A Dra. Valerie Voon, neurocientista da Universidade de
Cambridge, neuropsiquiatra e membro do Comitê de Pesquisa
Médica Sênior do Departamento de Psiquiatria, conduziu uma
experiência com dois grupos de homens entre 19 e 34 anos. O
grupo A continha homens que não faziam uso de material por-
24 • Sexo sem cativeiro | Paulo Adriano Muniz Gouvêa

nográfico, chamado de grupo de controle, e o grupo B era com-


posto daqueles que se diziam viciados em pornografia. Ela usou
um equipamento de ressonância magnética para verificar como o
cérebro dos homens de cada um destes dois grupos reagia a ima-
gens pornográficas.
O objetivo da experiência foi analisar a rede de áreas in-
terligadas por todo o cérebro desses homens, a fim de checar a
resposta dada pelo sistema de recompensa cerebral deles. Nessa
área o prazer é processado e avaliado, e é também nesse sistema
que ficam registradas as memórias sobre comida, sexo, sensações
de saciedade e de prazer etc. Tudo que nos proporcionou prazer
um dia, fica registrado ali como delicioso e que queremos mais.
Ao ver o foco do vício, o cérebro responde de forma exagerada,
produzindo uma forte excitação, diminuindo a capacidade de
controle sobre esse impulso. Traduzindo para termos práticos, é
como se o cérebro começasse a gritar: EU QUERO ISSO AGORA!
Este experimento comprovou que o cérebro dos homens
que eram controlados pelo consumo de pornografia, reagiu pelo
menos duas vezes mais do que o cérebro dos que não eram usuá-
rios desse tipo de material. Enquanto o grupo A reagiu com uma
excitação normal ao estímulo, os homens do grupo B reagiram
com uma hipersensibilidade ao conteúdo mostrado. Esse é o mes-
mo princípio que ocorre em dependentes de nicotina, drogas e
álcool. A rede de recompensas desses homens do grupo B estava
totalmente voltada para a pornografia, tendo pouquíssima ativi-
dade para outras áreas ou estímulos. As imagens a seguir mos-
tram a atividade cerebral no sistema de recompensas dos indi-
víduos saudáveis em comparação à de indivíduos usuários de
pornografia quando ambos os grupos foram à ela expostos .
Nos últimos anos, venho aconselhando homens das mais
variadas posições sociais e com níveis de escolaridade muito dis-
tintos. É impressionante como todos relatam que à medida que
deixam de consumir material pornográfico e se masturbar, eles
se sentem mais criativos e ativos para sua vida social e profissio-
Capítulo 1 – O Cérebro e a Pornografia • 25

nal. Muitos compõem músicas, voltam a estudar com afinco, tem


melhorias significativas em seus relacionamentos e aumentam a
produtividade no trabalho, entre outros vários benefícios. Mas
quando eles têm recaídas e voltam a consumir o material porno-
gráfico, ficam de mal humor, depressivos, perdem a produtivida-
de no trabalho e têm a tendência a se isolar. Isso tudo acontece
com a influência do uso de pornografia.

Figura 4 – Atividade Cerebral do Sistema de Recompensa em indivíduos saudáveis e em


indivíduos já usuários de pornografia quando ambos são expostos a esse tipo de material

1. 3 A PERDA DO CONTROLE SOBRE A VONTADE – HIPOFRONTALIDADE


É o enfraquecimento do controle sobre a vontade. Fortalecendo o
poder e a influência do vício sobre a pessoa.
Esse processo de dessensibilização e sensibilização de nosso
cérebro, afeta outra área muito importante, que é nosso Córtex Pré
Frontal. Essa área é responsável pelo controle executivo e moral
de nossas vontades. Ele regula nossas decisões e comportamentos
baseados em conceitos morais e de sobrevivência. Quando nossas
emoções e desejos chegam ao córtex pré frontal, ele exerce esse
controle para administrarmos esses impulsos da melhor forma
26 • Sexo sem cativeiro | Paulo Adriano Muniz Gouvêa

possível, sem exageros ou até mesmo bloqueando nossas ações


nocivas. Observe a imagem à seguir:

Cortex Prefontral

Cérebro límbico

Figura 5 – O Córtex Prefrontal e sua Funcionalidade afetada pela Pornografia

O córtex pré-frontal é responsável por ações de planejamen-


to, julgamento, reflexão, priorização, organização, antecipação,
atenção, controle de impulso, autocontrole, flexibilidade de res-
posta, entre outras importantes e significativas ações relaciona-
das à nossa vida. Fatalmente, a manipulação de nosso centro de
recompensa, vai fragilizar a área de controle executivo do cérebro,
enfraquecendo nosso controle sobre o desejo, nos fazendo perder
a força de vontade diante deste.
Em condições viciantes, o desejo de ver pornografia, consu-
mir álcool ou usar drogas, chega para a pessoa como uma necessi-
dade intensa e quase incontrolável, deixando a pessoa entregue e
sem capacidade de reação ao pedido do seu corpo.
O córtex pré frontal nos enche de racionalidade e consciên-
cia de modo que, atacar essa área com a exposição a vários tipos
de adicção, inclusive pornografia, nos conduz para um caminho
de prisão e de morte em várias áreas de nossas vidas. O Dr. Darv
Smith, médico psiquiatra cristão, que trabalha há mais de 50 anos
Capítulo 1 – O Cérebro e a Pornografia • 27

com estudos na área de vício, mostrou os resultados de exames ce-


rebrais feitos nos EUA de algumas pessoas com dependência quí-
mica ou sexual. As imagens mostram o que parecem ser buracos
no cérebro, mas na verdade são áreas inativas do mesmo, devido
aos danos causados pelas substâncias e comportamentos viciados.
Vamos comparar as imagens de uma pessoa com o cérebro
saudável com a de uma pessoa com o cérebro afetado pelo vício
em Pornografia:

1. 3. 1 Cérebro Saudável

Figura 6 – Imagens de um cérebro saudável

1. 3. 2 Cérebro Pornificado

Figura 7 – Imagens de um cérebro afetado pelo Vício em Pornografia


28 • Sexo sem cativeiro | Paulo Adriano Muniz Gouvêa

Quanto maior o dano, mais a pessoa vai perdendo o contro-


le e a sanidade sobre sua vida. O Dr. Darv Smith explica que este
quadro é reversível em grande parte dos casos. Se a pessoa parar
de fazer uso do comportamento ou substância viciante, o cérebro
tem a capacidade de se regenerar. Porém, dificilmente ele volta a
estar 100% restaurado.

1. 4 O APEGO DO CÉREBRO À PORNOGRAFIA


Apego é o termo terapêutico usado por especialistas para
explicar a ligação neuroquímica do cérebro a um determinado es-
tímulo. Não se trata de ver as imagens em si, mas o quanto essas
imagens pornográficas estão associadas à masturbação e ao orgas-
mo. Já vimos que ao se utilizar material pornográfico, o cérebro
começa a sofrer uma explosão de neuroquímicos que associam es-
tes estímulos ao prazer sexual. A repetição constante destes even-
tos, desenvolve no cérebro caminhos e memórias do prazer sexual
criando o apego a estas práticas como forma de receber gratifica-
ções sexuais.
Quando é feita essa associação entre imagens de pessoas
nuas ou fazendo sexo ao prazer sexual, o cérebro começa a fazer
o que ele foi criado para realizar, ele conecta memórias ou cami-
nhos neurais que associam diretamente o prazer sexual aos estí-
mulos que liberaram os neuroquímicos cerebrais. Esse apego fica
mais forte a cada nova exposição à pornografia, pois geralmente
está associado à adrenalina do medo de ser pego, à ansiedade, à
manipulação, ao segredo, ao uso de personagens etc. Todas essas
situações potencializam a liberação de uma verdadeira “Árvore
de Natal” cerebral.
Vamos observar o funcionamento de alguns destes elemen-
tos e suas importantes funções no cérebro:
DOPAMINA – O Dr Williams Struthers define dopamina
em seu livro Wired for Intimacy, Como a pornografia seqüestra
Cérebro Masculino. “É aquilo que alimenta a tensão e o desejo de sa-
tisfazer uma necessidade”. A dopamina lembra o cérebro o que é im-
Capítulo 1 – O Cérebro e a Pornografia • 29

portante e como reagir a isso. Ela foca a mente em algo importante


e ignora as outras atividades. No caso dos usuários de pornogra-
fia, ela fornece uma recompensa neurológica à cada exposição a
material pornográfico, empurrando seu usuário a desejar repetir
o ato e carregando-o de ansiedade para essa repetição3.
TESTOSTERONA – É um importante hormônio liberado
durante o dia no homem. É responsável pelo desejo e pelas fun-
ções sexuais masculinas, mas as mulheres também podem pro-
duzir pequenas doses de testosterona. À medida que estímulos
sexuais são percebidos, os testículos aumentam a produção e li-
beração desse hormônio. Homens que são hiper estimulados se-
xualmente pelo consumo de pornografia terão maior liberação de
testosterona, mantendo-se com um nível de excitação e desejo se-
xual maior.
Homens envolvidos em relacionamentos estáveis e mono-
gâmicos que não assistem pornografia e que não fantasiam, têm
níveis menores de testosterona, garantindo uma vida sexual mais
equilibrada4. Logo, o que torna os homens mais propensos aos im-
pulsos sexuais não é o fato de ser homem, como o senso comum
declara, mas sim a maneira como este homem é exposto ou se
expõe ao sexo. Quanto mais estimulado sexualmente, mais tes-
tosterona ele vai produzir, colocando-o em uma forte situação de
excitação, levando-o a ceder mais facilmente aos desejos sexuais.
A testosterona demora a se dissipar no organismo de modo
que, quando há uma forte estimulação, o próprio usuário vai ge-
rar o desequilíbrio em seu corpo, aumentando a sensibilidade
sexual a qualquer estímulo. Mesmo pessoas vestidas sem apelo
sexual nenhum podem se tornar um forte impulso à produção de
fantasias sexuais, causando um grande desejo de se masturbar ou
fazer sexo em usuários de material pornográfico..

3
The Porn Circuit, Covenant Eyes, pag 10
4
Rui Costa, Psicologo Experimental do ISPA (Lisboa). https://www.publico.pt/2015/03/30/
ciencia/noticia/sexo-mulheres-e-testosterona-uma-relacao-complexa-1690561
30 • Sexo sem cativeiro | Paulo Adriano Muniz Gouvêa

Tal descoberta da testosterona como o “hormônio do sexo”


tem feito, nos últimos anos, várias pessoas correrem para medica-
mentos que prometem repor ou aumentar as doses desse hormô-
nio no corpo, com a promessa de garantir um aumento no desejo
sexual. Empresas farmacêuticas conseguiram sintetizar sua pro-
dução a partir da extração de plantas e o vendem em forma de
injeções e cápsulas ou gel.
A agência federal americana que regulamenta o setor de
medicamentos e alimentos, FDA, adverte severamente sobre os
riscos dessa prática. Há aumento no risco de infartos, danos cere-
brais, problemas no fígado e de esterilidade para aqueles que têm
feito uso desses medicamentos sem orientação médica, se expon-
do a super dosagens. A recomendação é que tais suplementos se-
jam administrados apenas em situações onde há baixa produção
do hormônio5.
NORADRENALINA – Também chamada de Norepinefri-
na, é uma das monoaminas que mais influencia o humor, a ansie-
dade, o sono e a alimentação, junto com a Serotonina, a Dopami-
na e a Adrenalina. Ela também é um hormônio para excitação e
memória sexual que ajuda a armazenar experiências que podem
facilmente ser resgatadas, desde o relacionamento íntimo e pra-
zeroso com o cônjuge até as imagens na tela de um computador
associadas à masturbação6.
OCITOCINA – Também conhecida como o hormônio dos
vínculos ou ligação emocional, sendo responsável por conectar as
pessoas através da empatia e do apego. Normalmente, é liberada
em altas doses quando pais seguram seus filhos recém nascidos
no colo. Um casal envolvido em uma relação de afeto e carinho
intensos liberam a ação desse importante hormônio. O beijo é um
forte fator de liberação de ocitocina.

5
https://veja.abril.com.br/saude/a-perigosa-moda-do-uso-de-testosterona-para-o-desejo-
-sexual/
6
Livro the porn circuit, covenant eyes. pag 11
Capítulo 1 – O Cérebro e a Pornografia • 31

Tem um forte papel na ligação sexual, tanto masculina


quanto feminina (Carmichel, 1987; 1994). Esse hormônio aumenta
a sensibilidade do pênis durante o contato sexual e a frequência
das ereções. Nas mulheres a ocitocina é descarregada durante os
estímulos agradáveis como o toque em determinadas áreas do
corpo. Carregadas pela corrente sanguínea, essas moléculas se
prendem a determinadas áreas como vagina e seios, tornando-os
zonas erógenas. Há uma forte associação com o contato face a face
e quando há uma intimidade emocional ligada ao ato sexual. Para
o usuário de pornografia, o impacto negativo é que ao invés de
estar ligado a uma pessoa, essa liberação é condicionada ao apego
às imagens, vídeos e ao que é virtual, especialmente quando há
várias repetições desta prática.
SEROTONINA – Entre as principais funções da serotonina
está a função de regular o apetite mediante a saciedade, equilibrar
o desejo sexual, controlar a temperatura corporal, a atividade mo-
tora e as funções perceptivas e cognitivas. No sexo, sua liberação
acontece no clímax sexual, provocando sensações de relaxamento,
bem estar e satisfação. Por isso é muito comum homens desejarem
dormir após a relação sexual.

1. 5 COQUETEL NEUROQUÍMICO
O conhecimento sobre esse verdadeiro “cocktail” no cé-
rebro não é suficiente para livrar seus usuários dos problemas
relacionados à pornografia, mas nos dá uma grande luz sobre
o comportamento humano e os impactos pessoais causados por
essa exposição. Quando se manipula o que foi feito para ser ex-
perimentado de forma natural, são ocasionados sérios danos ao
próprio corpo, ocasionando também danos graves quanto à so-
cialização do i­ ndivíduo.
Por isso há necessidade de que um debate consciente so-
bre o assunto seja estimulado e realizado dentro das comuni-
dades cristãs e demais áreas da sociedade. A pornografia preci-
sa ser regulada, principalmente para proteger nossas crianças
32 • Sexo sem cativeiro | Paulo Adriano Muniz Gouvêa

e adolescentes. É preciso conscientizar as autoridades da real


necessidade de uma regulamentação desse setor, face aos inú-
meros prejuízos que pode causar aos indivíduos e à sociedade
como um todo.

2
Capítulo 2 – A Ciência
e a Pornografia
“Destruímos argumentos e toda pretensão que se levanta contra
o conhecimento de Deus, e levamos cativo todo pensamento, para
torná-lo obediente a Cristo”. — II Coríntios 10.5

Como visto no Capítulo anterior, a ciência vem realizando vários


estudos sobre os impactos que a internet e a pornografia causam
sobre seus usuários, bem como os custos sociais que tais compor-
tamentos viciados acarretam a uma sociedade.
Meu objetivo neste Capítulo é mostrar alguns dos estudos
mais significativos realizados até agora, trazendo uma forte base
para abrirmos a discussão sobre a regulamentação da Pornografia
e um maior controle da parte dos pais em relação ao que seus fi-
lhos têm assistido em seus smartphones e telas de Computadores
e Tablets. É preciso um debate honesto, com fatos e comprovações
científicas realizadas por instituições sérias e com credibilidade
internacional.

2. 1 OS IMPACTOS DA PORNOGRAFIA SOBRE CRENÇAS E VALORES


A ciência tem avançado em descobertas que revelam a ver-
dadeira face da pornografia, como sua responsabilidade em de-
sencadear o processo de dessensibilização ao prazer natural, a hi-
persensibilização à lascívia e à perda do controle sobre a vontade,
o que tem provocado enormes danos e custos sociais que preci-
sam ser levados a sério pela sociedade e pelo governo. Estamos
34 • Sexo sem cativeiro | Paulo Adriano Muniz Gouvêa

às portas de um necessário debate sobre a importância de trazer


mais controle e uma forte regulamentação para esse setor que, em
sua grande maioria, não paga impostos e causa enormes prejuízos
econômicos, sociais e emocionais em todo o mundo.
O poder destruidor da pornografia não está somente naqui-
lo que ela mostra, mas em todas as mensagens erradas que ela
impregna no caráter e no comportamento sexual de seus usuá-
rios. A pornografia é uma doutrinadora daquilo que não é sexo.
Ela afasta seu usuário da natureza relacional e os transforma em
meros objetos e mercadorias sexuais. O sexo, que deve ser conce-
bido em um ambiente consensual de generosidade e expressão de
amor entre um casal, passa a se tornar algo que pode ser compra-
do, retirado e usado com violência e dominação da parte de uma
pessoa sobre a outra ou em si mesmo. Pornografia não é sexo,
é lascívia e luxúria, apaga nossa sensibilidade ao prazer natural,
aprisionando seu usuário em algo que não é sexo, lhe dando uma
euforia artificial, roubando sua vontade própria de resistir aos
seus impulsos e chamados.
O Dr. Dolf Zillmman, da Universidade de Indiana, e o Dr
Jennings Bryant, que ganhou um Ph.D. em comunicação de mas-
sa da Universidade de Indiana em 1974, realizaram um estudo
significativo na década de 80, cujo objetivo era identificar se a ex-
posição continuada à pornografia teria algum impacto sobre as
crenças sexuais dos seus usuários e suas atitudes em relação às
mulheres. Eles formaram 03 grupos de estudo com 80 homens e
80 mulheres, sendo aplicada a seguinte metodologia:
• Grupo A – 4 horas e 48 minutos de filmes pornográficos to-
talizando 36 filmes.
• Grupo B – 4 horas e 48 minutos sendo 18 filmes pornográfi-
cos e 18 filmes comuns
• Grupo C – 4 horas e 48 minutos sendo 36 filmes comuns e
regulares sem conteúdo pornográfico
Capítulo 2 – A Ciência e a Pornografia • 35

Após o experimento, cada um dos indivíduos recebeu um


formulário com perguntas sobre suas preferências sociais. Segue
abaixo os resultados:

2. 1. 1 Primeira Conclusão: A pornografia reduz a satisfação sexual


Foi descoberta uma correlação direta entre a exposição à
pornografia e a insatisfação sexual com os parceiros da vida real.
Isso acontece devido à inevitável comparação que o usuário acaba
fazendo entre seu cônjuge e a “perfeição” dos corpos e perfor-
mance vistas nos filmes. Para o adicto o que ele assistiu repetidas
vezes tornou-se objeto de desejo a ser imitado em sua vida real.
Ele acaba frustrado uma vez que seu parceiro não alcançará o pa-
drão dos filmes mesmo que se esforce bastante.
Essa comparação acaba levando a relação natural a um ní-
vel inatingível, porque as novidades e as constantes exigências
que o usuário de material pornográfico impõe ao seu cônjuge são
praticamente inalcançáveis e ele não entende que tudo neste tipo
de conteúdo é encenação e mentira . Na tela dos computadores e
celulares, não há limites para fantasias serem realizadas. Num cli-
car do mouse, o usuário sai de um ambiente de imagens Softcore
(pornografia leve) para o Hardcore (pornografia pesada e agressi-
va). Ele pode sair de um vídeo de sexo convencional para o sexo
grupal em apenas 01 segundo devido à velocidade atual da inter-
net. O pior caminho que um cônjuge poderia escolher seria tentar
satisfazer o apetite insaciável do parceiro adicto. Lembrando que
esta pesquisa foi realizada quando ainda não existia internet em
banda larga nem smartphones.
A postura adequada do cônjuge é colocar limites e cobrar um
posicionamento do parceiro. Não ceda aos seus caprichos e exija
que ele se posicione. O Dr. Gary Wilson, neurocientista e professor,
relata uma experiência dessa natureza. Uma mulher o reconheceu
na saída de uma palestra e desesperada compartilhou que esta-
va cansada de ceder aos caprichos sexuais do marido estimulados
pelo consumo de pornografia. Seu último pedido foi que ela tran-
36 • Sexo sem cativeiro | Paulo Adriano Muniz Gouvêa

sasse na frente dele com o seu melhor amigo. Ela havia pedido um
tempo para pensar sobre isso, pois amava o marido e não queria
“desapontá-lo”. O Dr. Gary recomendou que ela não fizesse isso,
que o confrontasse e visse o resultado. Em alguns meses eles se
encontraram novamente, e ela pode falar com muita alegria que a
intimidade sexual do casal voltou ao normal, pois o marido havia
parado de assistir pornografia depois de ser confrontado por ela e
desistiu de fazer pedidos “excêntricos” na área sexual.
Esse ciclo começa normalmente com o marido pedindo para
a mulher assistir filmes pornográficos com ele. Depois, ele pede
para repetir as performances dos filmes, em seguida faz novas
propostas, como inserir brinquedos eróticos, passando a agir de
forma cada vez mais agressiva. Em seguida, poderá propor orgias
ou sexo com terceiros, ou para fazer vídeos da esposa se mastur-
bando ou até mesmo transando com outra pessoa. Isso não para
até que algo de pior aconteça com as pessoas envolvidas neste
relacionamento. Por isso, aconselhamos as esposas a não cederem
aos menores dos caprichos dos maridos usuários de pornografia,
mas confrontá-los quando isso acontecer. Uma sexualidade conju-
gal saudável pode ser construída sem nada disso, como aprende-
mos em Gênesis 2.25.

2. 1. 2 Segunda Conclusão: Assistir pornografia faz com que se


desvalorize os relacionamentos reais
As respostas do grupo A revelaram que eles se tornaram
mais propensos a desvalorizar o casamento, a ideia de ter filhos
e a aceitar a infidelidade conjugal como algo normal. Esse grupo
também mostrou um grande nível de aceitação do sexo casual.
Lembrando que este grupo foi exposto a pouco menos que 05 ho-
ras de material pornográfico na década de 80.
A pornografia nos condiciona a buscar prazer de forma uni-
direcional, onde um “extrai” seu prazer a qualquer custo do outro,
mesmo que seja necessário abusar da outra pessoa para conseguir
isso. O usuário dificilmente vai perceber que esta abusando na
Capítulo 2 – A Ciência e a Pornografia • 37

hora do ato sexual, em sua mente “pornificada”, ele acredita que


a(o) parceira(o) sexual está desejando tudo aquilo que ele está fa-
zendo. Seu comportamento está totalmente voltado para realizar
aquela fantasia. O nível de excitação está alto e o controle sobre a
sua vontade está comprometido.
Perde-se assim a experiência de estar conectado de forma
relacional com outra pessoa. Vivem o sexo como uma experiência
apenas biológica em que dois corpos se unem num contexto em
que um usa o outro para conseguir seu prazer pessoal. Isso se cha-
ma lascívia e luxúria, não é amor e vai produzir a falência nos seus
relacionamentos, que tenderão a ser muitos, mas nenhum signifi-
cativo ou verdadeiro. Pessoas que vivem desta forma, confundin-
do amor com concupiscência, vão aumentar seu déficit emocional
e contribuir para que seus parceiros também aumentem suas ca-
rências emocionais.

2. 1. 3 Terceira Conclusão – Assistir pornografia faz com que as


mulheres sejam vistas apenas como objetos sexuais
É inevitável a associação do que se vê nos vídeos pornográ-
ficos às imagens do cotidiano. Aqueles que assistiam aos vídeos
de forma massificada, passam a associar todas as mulheres àque-
las que ele assistiu nos filmes pornográficos. Eles passaram a con-
siderar qualquer mulher como sendo potencialmente estimulada
sexualmente e aberta a qualquer assédio sexual de sua parte. Eles
acreditam que elas responderão de forma positiva a qualquer ini-
ciativa de cunho sexual, igualando-as àquelas que eles viram no
conteúdo pornográfico.
No experimento, foram consideradas perguntas acerca dos
direitos das mulheres na sociedade. O impacto da pornografia
no grupo com alta exposição foi alarmante, inclusive entre as
mulheres que faziam parte do grupo. Entre os homens do grupo
A em comparação aos homens do grupo C, a diferença de per-
cepção chega à 46% nas respostas apresentadas. Já nas partici-
pantes do sexo feminino, a diferença nas respostas entre os mes-
38 • Sexo sem cativeiro | Paulo Adriano Muniz Gouvêa

mos grupos foi de preocupantes 30% de redução de percepção


dos direitos femininos.
Na pergunta: Você apoia o direito das mulheres? Apenas
25% dos homens do grupo A responderam sim, no grupo B com
média exposição à pornografia, a resposta foi sim para 48% deles,
enquanto que no grupo C, sem exposição ao material pornográfi-
co, 71% responderam ser a favor dos direitos das mulheres.

Figura 8 – Comparativo da percepção dos direitos femininos em relação a quantidade de


tempo de exposição a material pornográfico.

Foi observado que a principal vítima da pornografia é a mu-


lher, que passa a ser classificada pelo tamanho do seu glúteo, seios
e cintura. Os principais sites de notícia no mundo “compraram” a
briga pelos direitos femininos, então, quase todos estão recheados
de imagens de mulheres seminuas ou totalmente despidas com o
intuito de empoderar as mesmas, lhes dando mais espaço e visibi-
lidade. Isso na verdade produz efeito contrário, pois enfraquece,
objetifica e transforma a mulher em um mero fantoche sexual de
homens que, por sua vez, se tornam mais agressivos e menos sen-
síveis aos direitos femininos devido a esta exposição.
Capítulo 2 – A Ciência e a Pornografia • 39

A pseudo liberdade sexual feminina está transformando as


mulheres naquilo que elas mais odeiam nos homens. A infantili-
dade e irresponsabilidade masculina estão sendo imitadas pelas
mulheres. Cansadas de serem usadas e abusadas, elas escolheram
o caminho errado para buscar essa igualdade, ao invés de exigir
que os homens se tornem maduros e responsáveis, optaram por
seguir o mesmo caminho abusivo e marginalizado assumido pe-
los homens. Tal fato tem causado mais violência e desvalorização
da mulher e mantido os homens presos ao comportamento infan-
til e irresponsável que elas tanto repudiam. A cultura hedonista
do prazer pelo prazer, tem marginalizado os homens, vulgarizado
as mulheres e ilegitimado os filhos.

2. 1. 4 Quarta Conclusão – A pornografia torna seus usuários


insensíveis à crueldade
As respostas do grupo com maior exposição à pornografia
foram muito mais voltadas para aprovação de práticas sexuais de
dor e humilhação em comparação aos demais grupos. Sexo anal,
grupal, bestialidade, masoquismo e sadomasoquismo foram acei-
tos como práticas sexuais comuns. A diferença de percepção foi de
duas a três vezes mais do que à dos demais grupos.
Quando perguntados sobre quantos meses um estuprador
deveria ficar preso, as respostas das mulheres foram as seguintes:

Grupo Quantidade
de meses
Grupo A – Maior exposição à pornografia 71
Grupo B – Exposição Média à pornografia 101
Grupo C – Sem exposição à pornografia 144

Tabela 1 – Comparativo da sensibilidade das mulheres quanto à punição a estupradores em


relação a quantidade de tempo de exposição a material pornográfico
40 • Sexo sem cativeiro | Paulo Adriano Muniz Gouvêa

Também no grupo com maior exposição à pornografia, os


homens banalizaram o estupro. Uma das perguntas trazia um
caso real de estupro e todos foram convidados a dar uma sentença
ao acusado. Vejam as respostas dos homens:
Grupo Quantidade
de meses
Grupo A – Maior exposição à pornografia 50
Grupo C – Sem exposição à pornografia 94

Tabela 2 – Comparativo da sensibilidade dos homens quanto à punição a estupradores em


relação a quantidade de tempo de exposição a material pornográfico

Em 2007, Robert Wosnitzer, Ana Bridges e Michelle Chang


realizaram uma pesquisa com os 50 vídeos pornográficos mais
vendidos em DVD e observaram as 376 cenas sexuais contidas
neste material.
Eles encontraram 3.376 atos de violência física ou verbal, o
que correspondia a 1 ato de agressão a cada 1 minuto e meio.
• Em 76% dos casos os homens foram agressivos contra as
mulheres e quando uma mulher era violenta nas cenas, ge-
ralmente essa agressão era dirigida a outra mulher.
• Em 95% das cenas a pessoa que recebeu a agressão reagiu de
forma passiva ou positiva àquele comportamento.
• Apenas 10% das cenas tinham situações normais e saudá-
veis sobre sexo como beijos e carícias.
• Em 90% das cenas havia, no mínimo, um ato de violência.
Isso é apenas uma amostra do tipo de doutrinação sexual
que a pornografia produz naqueles que são usuários dela. A rotina
da pornografia é ensinar atos de desvalorização, violência, agres-
sividade e crueldade, que condicionam seu espectador a acreditar
que todas as mulheres gostam e devem ser tratadas daquela for-
ma. A constante exposição quebra paradigmas e faz com que se
tornem aceitáveis práticas outrora consideradas inaceitáveis.
Capítulo 2 – A Ciência e a Pornografia • 41

A exemplo disso, conheci um homem que é um pai amoro-


so, porém, a exposição à pornografia se tornou algo tão forte para
ele, que o mesmo passou a assistir filmes incestuosos. Mulheres
grávidas com seus filhos e pais tocando suas filhas. Ele se sentia
enojado com isso, mas estava se tornando mais curioso sobre as-
sistir este material. Alertei-o que se continuasse assistindo, pode-
ria passar a achar isso normal e um dia poderia acabar tocando os
seus filhos ou em outras crianças. Ele ficou constrangido e então
percebeu o perigo.
O incesto é algo fortemente reprovado por nossa sociedade,
pelo menos publicamente. As salas de aconselhamento e as es-
tatísticas de pesquisas científicas têm nos mostrado que, de uma
forma oculta, nossa sociedade é um tanto incestuosa. Dentro dos
lares, oculto aos olhos das pessoas, meninas e meninos tem sido
constantemente abusados por pais, padrastos, tios e vizinhos. Eu
e minha esposa temos ouvido histórias dolorosas de pessoas que
sofreram terríveis abusos em sua mais tenra infância. Muitos des-
tes abusos só pararam na adolescência ou na fase adulta.
A vulnerabilidade de nossas crianças associada a uma falta
de orientação sexual saudável para os pais e um ensino adequa-
do para as crianças na linguagem delas, combinado a um grande
consumo de pornografia por nossa sociedade, têm sido grandes
fatores de incentivo a essa cultura incestuosa em nosso país.

2. 1. 5 Quinta Conclusão – Assistir Pornografia é viciante


As pessoas que participaram do experimento receberam
duas semanas depois um sortimento de filmes, sendo alguns
destes vídeos normais e outros com conteúdo pornográfico. As
pessoas do grupo A foram mais propensas a assistir filmes com
pornografia “hardcore”. A exposição à pornografia promove um
efeito de escalada no cérebro, aumentando a tolerância ao conteú-
do, exigindo da pessoa maior consumo e imagens cada vez mais
bizarras e fortes para manter a excitação.
42 • Sexo sem cativeiro | Paulo Adriano Muniz Gouvêa

Ainda há um forte debate no meio científico para classificar


a pornografia como um vício, mas claramente estão caminhando
para isso à medida em que estudos e experiências estão mostran-
do que os efeitos de outras substâncias e comportamentos vician-
tes se repetem também naqueles que consomem pornografia. Es-
tima-se que 90% dos terapeutas já concordam e chamam o ato de
consumir material pornográfico como desordem hipersexual.
Independentemente de como denominam seu usuário, a na-
tureza intoxicante da pornografia não pode mais ser negada ou
negligenciada. É preciso que se incentive o debate sobre o tema e
se crie um caminho de regulamentação para o consumo deste tipo
de conteúdo em nosso país, com o objetivo de não permitir que
materiais com este cunho seja facilmente acessado por crianças e
adolescentes.
O direito de acessá-lo poderá ser garantido para pessoas
adultas que o queiram fazer mediante, porém, um cadastro pre-
ventivo e o pagamento de taxas ou impostos com o propósito de
cobrir os prejuízos sociais que a pornografia pode ocasionar, além
de campanhas publicitárias alertando-se para o perigo do consu-
mo deste tipo de material, tal como é feito para o consumo do
tabaco, por exemplo, já que é comprovado cientificamente que há
danos para a saúde sexual, emocional e psicológica de usuários
de pornografia.
É importante ressaltar que estes grupos foram expostos a
menos de 5 horas de pornografia em um período de 6 semanas.
Hoje, com o advento da internet em banda larga, usuários deste
tipo de conteúdo podem passar por essa exposição em apenas um
dia. Se em seis semanas, com apenas aproximadamente 5 horas
de filme. os efeitos já puderam ser percebidos, vamos imaginar o
cenário atual onde existe esta superexposição de crianças, jovens
e adultos facilmente à este tipo de conteúdo. Já vimos que há efei-
tos deformadores no cérebro. no senso de justiça, na valorização
do ser humano e na forma como são definidos direitos civis e so-
ciais. O que antes parecia ser apenas objeto de experiência, agora
Capítulo 2 – A Ciência e a Pornografia • 43

tornou-se uma prática comum na nossa sociedade, muitas vezes


considerada normal, sendo até mesmo incentivada por aqueles
que desconhecem seus efeitos destruidores.

2. 2 OS IMPACTOS DA PORNOGRAFIA NA PERCEPÇÃO DO SEXO


O Dr. Gary Wilson, neurocientista que estuda o impacto da
pornografia sobre o cérebro, têm uma vasta coletânea de estudos e
experimentos científicos em seu site Your Brain on Porn (www.your-
brainonporn.com). Ele tem sido uma grande luz no meio científico
sobre os verdadeiros impactos pessoais e sociais que a pornogra-
fia gera. Como cientista, suas interpretações são neutras e nos tra-
zem a oportunidade de analisar cada um dos seus experimentos e
de seus colegas de uma forma sóbria e honesta.
O Dr. Gary cita o Pesquisador Canadense Simon Lajeunes-
se, PHD, que, em suas pesquisas, afirma que os jovens estão ini-
ciando suas experiências com a pornografia, em média, a partir
dos 10 anos de idade. Isso por sí só já é um dado preocupante, mas
o grande problema é que, na década de 70 os jovens começavam
esta exposição com uma idade maior e os materiais pornográfi-
cos eram catálogos de lingerie, pôster de filme e algumas revistas
escondidas de algum parente. Hoje em dia, essas crianças são ini-
ciadas com conteúdos cada vez mais agressivos e ofensivos, com
toda sorte de filias e parafilias que nem mesmo um adulto está
preparado para ser exposto.
Essa grande exposição ocorre cada vez mais precocemente,
deformando a construção da visão sobre o sexo e a sexualidade
desse jovem. Nada nesses filmes se parece com o sexo natural.
Criam-se fantasias terríveis e expectativas erradas sobre o sexo,
preparando um cenário de frustração para quando esse jovem ti-
ver sua primeira relação sexual.
Segundo o Dr. Gary Wilson, esta constante exposição a ví-
deos pornográficos faz com que o jovem conecte seus impulsos
sexuais a filmes e imagens pornográficas, ao invés de conectar-se
a imagens reais de garotas, contaminando seu olhar e julgamento
44 • Sexo sem cativeiro | Paulo Adriano Muniz Gouvêa

sobre elas, dando-lhes a conotação de meros objetos sexuais, pri-


vando-os de aprender a apreciar os seus sorrisos, toques e cheiros.
Seria natural os garotos crescerem achando as garotas apenas bo-
nitas e atraentes, vivenciando a inocência que cada fase da vida
nos proporciona. As fantasias deste garoto deveriam ser dele dan-
do o primeiro beijo, tocando as mãos das moças e até mesmo brin-
cando juntos. Mas com a exposição à pornografia, essas crianças
e jovens crescem objetificando as meninas e mulheres, pulando a
fase da inocência e partindo para fantasias sexuais com elas. É ter-
rível dizer, mas já é comum ouvirmos em salas de aconselhamen-
to histórias de que as primeiras experiências sexuais de muitos
ocorreu com um irmão, quando ainda crianças.
O Dr. Gary Wilson nos dá um exemplo bem fácil de com-
preender. Quando acessamos pornografia, criamos circuitos se-
xuais competitivos em nosso cérebro, uma espécie de seleção na-
tural. É natural que uma garota de 13 anos seja atraente para um
garoto da mesma idade, seria igualmente natural que ele imagi-
nasse estar com ela, admirando seu belo rosto e seu sorriso. Po-
rém, este jovem está todos os dias assistindo a filmes com orgias
e masoquismo. Então, acaba havendo uma competição em sua
mente em que, infelizmente, os circuitos que levam esse rapaz a
pensar na garota acabam sendo enfraquecidos devido à forte in-
fluência e repetição a qual o garoto se expõe todos os dias. Ele não
se masturba pensando na garota, ele o faz assistindo e pensando
nos filmes que costuma assistir, associando seus estímulos sexuais
à pornografia e à masturbação e não ao afeto e conexão com a
garota.
Este jovem se desconecta do que é real e vai para o mundo
das fantasias, tendendo a se tornar um voyeur e perdendo a opor-
tunidade de conectar seu impulso ou desejo sexual ao afeto e à
intimidade emocional. Ele associa sexo aos fetiches, à violência,
ao abuso e à agressividade. Está se condicionando a buscar sem-
pre uma nova imagem ou conteúdo pornográfico para garantir
sua excitação, desprezando rapidamente aquilo que já viu ou com
o que já teve experiência sexual. Torna-se invasor da intimidade
Capítulo 2 – A Ciência e a Pornografia • 45

alheia, aprende que as pessoas, principalmente as mulheres, são


fontes para seu prazer e que podem ser usadas como aquelas que
estão nos vídeos e peças pornográficas que costuma assistir.
Fazendo uma comparação bem rústica, seria a mesma coi-
sa que alguém quisesse aprender a nadar jogando xadrez. A por-
nografia não apenas rouba a oportunidade dos seus usuários de
aprender o que eles deveriam conhecer de forma natural, os in-
capacitando de vivenciar isso, os afastando da realidade do sexo,
deformando seu caráter e criando uma personalidade perigosa
para os seus relacionamentos.

2. 3 A PORNOGRAFIA CAUSA PROBLEMAS DE DISFUNÇÃO ERÉTIL


Em 2011, o Dr. Carlos Floresta, professor de urologia, mem-
bro da Italian Society of Andrology and sexual medicine, observou
uma correlação direta entre homens que assistiam pornografia
constantemente e a disfunção erétil. Em seu estudo ele descre-
ve: “Começa com uma reação mais baixa aos sites pornográficos, depois
uma queda geral na libido, e no final torna-se impossível conseguir uma
­ereção7”.
Esse fenômeno é cada vez mais frequente nos jovens da
geração atual. Os homens, principalmente, têm sido expostos à
pornografia de forma precoce. Muitos deles têm gastado toda a
sua juventude assistindo a conteúdo pornográfico em alta defi-
nição e velocidade, criando um forte condicionamento dos seus
cérebros aos vídeos e imagens, desligando-se do que seria o sexo
natural. Eles estão criando respostas sexuais a estímulos visuais
e virtuais, ao invés de criarem uma resposta natural. Observe a
seguinte imagem:

7
https://www.youtube.com/watch?v=TUwvDJ79YlI
46 • Sexo sem cativeiro | Paulo Adriano Muniz Gouvêa

Figura 9 – Circuito de Recompensa agindo de forma Natural

No Capítulo anterior, observamos que a dopamina tem um


grande impacto sobre o processo de excitação e de ereção. Esse
sistema é primitivo e existe para que nós sejamos capazes de re-
petir comportamentos que nos mantêm vivos. Quando estamos
excitados, o coração do circuito (ponto vermelho) dispara e envia
sinais para o hipotálamo (Ponto Azul). Os chamados “centros de
ereção” enviam fluxos de comunicação pela medula espinhal em
direção ao pênis, produzindo e mantendo a ereção8.
Ao manipularmos nosso cérebro com algo virtual, teremos
menos dopamina e menos receptores nas próximas doses. A esse
processo chamamos de dessensibilização (já explicado no Capítu-
lo 01). Quando a dopamina é menor, os sinais para o hipotálamo

8
Gary Wilson, www.yourbrainonporn.com
Capítulo 2 – A Ciência e a Pornografia • 47

são menores, reduzindo a ereção e criando o problema da disfun-


ção erétil9.
O Dr. Gary Wilson percebeu através de seus estudos, que
a maioria destes homens que tiveram disfunção erétil causada
pela pornografia, ao parar de assistir material pornográfico e de
se masturbar, recuperaram o impulso natural de seu desempenho
sexual, mas também percebeu que os jovens levavam, no mínimo,
o dobro de tempo para se recuperar em comparação aos homens
mais velhos. Enquanto um homem de 50 anos levava em média 2
ou 3 meses para se recuperar deste problema, os jovens levavam
de 5 a 9 meses. A resposta de Dr Wilson para essa diferença esta-
ria relacionada ao condicionamento sexual que os homens mais
velhos vivenciaram em comparação com ao que os jovens foram
expostos .
O jovem da atual geração foi exposto a primeira vez à por-
nografia em média aos 10 anos de idade, com imagens de alta
definição e velocidade. Seu condicionamento cerebral aprendeu
que a pornografia seria o sexo natural. Todo o seu corpo se viciou
aos estímulos e à rapidez de novidades para criar esse condiciona-
mento. Já os mais velhos, aprenderam o sexo de forma diferente,
experimentaram de uma vida sexual natural ativa e seu contato
com pornografia se iniciou com páginas e fotografias estáticas. A
pornografia em alta velocidade só entrou em suas vidas depois de
muito tempo de modo que quando param de assistir ao conteúdo
pornográfico, a plasticidade de seu cérebro faz com que eles re-
tornem em pouco tempo ao comportamento anterior armazenado
em sua memória, enquanto o jovem que não tem essa memória do
que é natural, já que tudo o que sabem sobre sexo está associado
à pornografia, demora mais tempo para aprender a se satisfazer
sexualmente da forma natural.

9
Macrostructural Alterations of Subcortical Grey Matter in Psychogenic Erectile Dysfunction.
http://journals.plos.org/plosone/article?id=10.1371/journal.pone.0039118
48 • Sexo sem cativeiro | Paulo Adriano Muniz Gouvêa

2. 4 A EJACULAÇÃO PRECOCE EM DECORRÊNCIA DA PORNOGRAFIA


O Dr. Jim Pfaus, professor do Departamento de Psicologia
da Universidade da Concórdia e pesquisador do Centro de Es-
tudos em Neurobiologia Comportamental (CSBN), mapeou sis-
temas de neurotransmissores, mecanismos de sinalização celu-
lar e respostas comportamentais a estímulos sexuais. Em um de
seus estudos com ratos em 2012, intitulado Como a experiência
da recompensa sexual condiciona o desejo, a preferência e a per-
formance sexual?, utilizou o seguinte condicionamento: colocou
uma fêmea em uma jaula com um macho virgem. Em menos de
um minuto, eles a retiravam da jaula e esse processo foi repetido
várias vezes durante o experimento. Tal situação, fez com que o
jovem macho se adaptasse à situação de ejaculação precoce. Ele
desenvolveu um condicionamento sexual onde era necessário que
ele ejaculasse rapidamente sempre que estivesse com uma fêmea.
Em um segundo momento, o mesmo macho foi colocado
em uma jaula com uma fêmea e deram a ele todo tempo que pre-
cisava para a cópula. Os cientistas observaram que esse macho
manteve o mesmo padrão de ejaculação precoce da experiência
anterior, pois foi como ele havia aprendido e condicionado seu
corpo a responder. Mesmo em condições diferentes, esse condi-
cionamento se manteve.
Quando este mesmo experimento foi realizado com machos
mais velhos que haviam tido acasalamentos anteriores, a resposta
foi igual à do macho inexperiente no primeiro exemplo, ou seja,
esse macho mais velho também se adaptou à necessidade de eja-
cular rapidamente devido ao pouco tempo que tinha com a fêmea.
Porém, quando a ele foi dado bastante tempo para a cópula em
uma segunda fase do experimento, estes últimos readaptaram seu
condicionamento sexual ao que haviam aprendido anteriormente,
ou seja, sua resposta foi diferente quando a situação mudou.
Normalmente, quando alguém assiste pornografia, faz isso
de forma dissimulada e escondida. Tem medo de ser pego e pro-
cura se encobrir a todo custo. Devido a isso, ele procura muitas
Capítulo 2 – A Ciência e a Pornografia • 49

vezes ejacular o mais rápido possível, repetindo esse comporta-


mento várias vezes, o que acaba criando esse condicionamento
sexual de ejaculação rápida, criando um comportamento sexual
que vai gerar frustração nele e em sua parceira.

2. 5 COM A PORNOGRAFIA, O AVERSIVO PODE SE TORNAR EXCITANTE


Em seu estudo Conditional and sexual behavior – A Review
(Comportamento condicional e sexual – Uma Revisão) – (2001), o Dr.
Pfaus fez mais um experimento usando ratos de laboratório. Ele
borrifou uma substância batizada de cadaverina que simulava o
odor de carne podre, algo aversivo aos ratos. Não se trata de um
comportamento aprendido, essa aversão é inata e natural deles.
Ele colocou essas fêmeas infestadas deste cheiro, mas que estavam
no cio. Os jovens machos virgens que estavam com elas, com o au-
mento da dopamina em seus cérebros devido ao cio das fêmeas, se
aproximaram para à cópula e ejacularam várias vezes, a despeito
do cheiro que elas tinham.
Alguns dias depois, em uma segunda fase do experimento,
os jovens machos foram colocados em uma jaula com fêmeas no
cio, sendo um grupo normal e outro novamente cheirando a cada-
verina. Estes jovens machos acasalaram com ambas as fêmeas. Ao
colocar machos que não passaram pelo condicionamento sexual
da cadaverina nesta segunda situação, eles nem passaram perto
das fêmeas que estavam fedendo a morte, mas apenas procura-
ram as fêmeas com cheiro normal.
Alguns dias depois, esses machos que haviam participado
do condicionamento através da cadaverina, foram testados em
uma situação bem artificial. Foram colocados em um ambiente
com pinos de madeira embebedados com cadaverina. Contrarian-
do a natureza, devido ao condicionamento adquirido anterior-
mente, eles passaram a brincar, acariciar e interagir com o pino de
madeira que fedia a morte.
Tal fato indicou aos cientistas implicações quanto à forma-
ção de perversões sexuais em seres humanos. Há situações se-
50 • Sexo sem cativeiro | Paulo Adriano Muniz Gouvêa

xuais naturalmente aversivas a nós humanos, mas que, quando


vivenciadas no dia a dia, principalmente, através da pornografia,
são associadas ao prazer sexual, de modo que o que deveria ser
aversivo naturalmente é aprendido como normal e aceitável.
O Dr. Pfaus também está demonstrando que nossas primei-
ras relações sexuais tem um forte poder de criar esse condiciona-
mento sexual. Uma criança de apenas 10 anos exposta à pornogra-
fia “hard core” com cenas de bestialidade, sexo grupal, estupro,
masoquismo, fetichismo entre outros gêneros, pode aprender es-
sas práticas como normais e crescer criando fantasias sexuais em
cima destas preferências bizarras, podendo até mesmo se tornar
criminoso sexual.

2. 6 A PORNOGRAFIA CRIA UM CONDICIONAMENTO POR INDUÇÃO10


Um outro experimento do Dr Pfaus mostrou a força da do-
pamina na construção deste condicionamento sexual. Foi injetada
uma substância salina ou o agonista D2 (quinpirole) que imita a
dopamina no organismo de um macho. Ele foi colocado em uma
jaula com outro macho por 24 horas, sendo o outro macho borrifa-
do com perfume de amêndoa nas costas como estímulo condicio-
nado ao outro parceiro.
Isto foi repetido a cada 4 dias, para um total de três tenta-
tivas. Quatro dias depois, eles foram testados sem drogas para
observar sua preferência entre o parceiro masculino perfumado
e uma fêmea sexualmente receptiva. Os machos que receberam
o condicionamento preferiram estar com os machos da mesma
espécie, provando que o comportamento homossexual é condi-
cionado e não é naturalmente adquirido. Os machos que não pas-
saram pelo condicionamento preferem naturalmente as fêmeas da
espécie. Se não houver interferências no condicionamento, natu-
ralmente todas as espécies são heterossexuais.

10
A atividade do receptor do tipo D2 facilitado facilita o desenvolvimento da preferência de
parceiros do mesmo sexo condicionados em ratos machos. Centro de Investigações Cerebrais,
Universidade Veracruzana, México. https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/22564860
Capítulo 2 – A Ciência e a Pornografia • 51

A ideologia de gênero se apropria de forma equivocada de


experimentos como estes para alegar que todo tipo de compor-
tamento sexual é adquirido através de experiências da vida. Ser
homem e mulher, segundo eles, é um comportamento adquirido
e não biológico. Isso não é verdade, pois quando não há um con-
dicionamento contrário, como os abusos sexuais, as disfunções
familiares, os traumas e outras condições que podem causar essa
mudança de rota, todos seguiremos em direção a heterossexuali-
dade naturalmente.
Alguns usuários de pornografia relataram uma escalada em
suas preferências sexuais depois de acessarem conteúdo porno-
gráfico contrário à sua natureza sexual. Ouvi vários relatos de ho-
mens que, depois de um tempo expostos à pornografia, se interes-
savam por conteúdo sexual com cenas de travestis. Um homem
que aconselhei por um tempo, depois de assistir pornografia por
vários anos, se envolveu com várias mulheres e em sexo grupal.
Em um determinado momento, ele passou a assistir filmes com
homossexuais e passou a sair com outros homens em aplicativos
de encontro devido à forte curiosidade que a pornografia lhe cau-
sou. Foram alguns encontros até que ele decidiu parar de ver por-
nografia, buscou ajuda e está muito bem em seu casamento agora.
Vários homens testemunharam que a exposição à pornogra-
fia durante muito tempo os fez ficar curiosos por conteúdo porno-
gráfico diferente de sua orientação sexual. Há alguns que, inclu-
sive, praticaram sexo com pessoas de acordo com o que estavam
assistindo nos filmes pornográficos.
A fantasia se torna algo muito forte na mente do dependen-
te; Isso potencializa a excitação que, em determinado momento,
se torna incontrolável para alguns. Estes acabam cedendo às suas
fantasias procurando garotos de programa ou até mesmo traves-
tis. Muitos ficam devastados com a prática, mas afirmam que a
curiosidade gerada pelo conteúdo pornográfico foi muito forte e
o desejo se tornou muito difícil de controlar.
52 • Sexo sem cativeiro | Paulo Adriano Muniz Gouvêa

O fato é que assistir conteúdo diferente de sua orientação


sexual os levou a desejar experimentar este comportamento11 e a
viver uma grande frustração na alma e a bloquearem ainda mais
qualquer possibilidade de adquirir um relacionamento sério e
saudável com alguém, o que é frustrante, pois uma das maiores
declarações de Deus acerca da nossa humanidade é de que “não
é bom que o homem esteja só”. Fomos feitos e programados para
relacionamentos reais, naturais e frutíferos. Criar uma personali-
dade atrofiada para relacionamentos é um caminho para a morte
emocional e para terríveis doenças em nossa alma.
Em 2012, o site reddit.com conduziu uma pesquisa com apro-
ximadamente 1.500 jovens, dos quais 56% responderam que seus
gostos pornográficos haviam se tornado progressivos e extremos
ou depravados. Neste estudo, vemos a força que a dopamina tem
na construção de um condicionamento e comportamento sexual.
Quando andamos por uma trilha na mata, é comum que
uma rota seja traçada no local. Essa rota fica mais evidente à me-
dida que a repetimos várias vezes. Quando voltamos ao local, é
natural que aquela rota já marcada e condicionada no chão seja a
que iremos caminhar, muitas vezes, ignorando outras possibilida-
des. É dessa forma que esse condicionamento acontece em nosso
cérebro.
Os caminhos sexuais traçados no cérebro de um adolescen-
te hoje é bem distinto do que há 20 anos atrás. As mentes “mo-
dernas” estão criando um condicionamento sexual sobre telas de
computadores e pixels com imagens cada vez mais BIZARRAS e
a um altíssimo nível de novidades para manter a excitação e a ere-
ção. Provavelmente, tudo isso muitos anos antes de seu primeiro
beijo ou relação sexual. O vício em pornografia rouba, assim, esse
jovem do convívio social saudável, enfraquecendo sua sensibili-
dade a conexões emocionais e pessoais, que transformam pessoas
em fantasias e, ao menor sinal de confronto, vem a intolerância.

11
https://yourbrainonporn.com/ask-us-iam-attracted-to-gay-transsexual
Capítulo 2 – A Ciência e a Pornografia • 53

Os jovens da nossa geração estão perdendo a capacidade de se


relacionar de forma natural e saudável.
Seu condicionamento sexual não está criando caminhos ou
trilhas ligados a mulheres reais, ao cortejo e flerte, ao apego, olho
no olho, à intimidade ou toques. Ele não está aprendendo a criar
um vínculo afetivo com sua parceira antes de uma relação sexual.
Está condicionando pessoas ao seu prazer e fantasia, desconecta-
do de qualquer vínculo pessoal e emocional.
O Dr. Jay Phelan, Professor da UCLA, coautor do livro Genes
Malvados, diz: “Todos os estímulos excessivos no circuito de recompensa
que não são os comportamentos para os quais fomos criados para fazer
são problemáticos.” Podem ser comida altamente calórica, drogas,
pornografia, ou qualquer outra forma artificial que usamos para
manipular nosso cérebro.

2. 7 COM A PORNOGRAFIA, A EJACULAÇÃO COM PARCEIROS REAIS É


RETARDADA OU É OCASIONADA A ANORGASMIA12
Outro ponto negativo bastante relatado por muitos dos
usuários de pornografia é a ejaculação retardada, que é a dificul-
dade de atingir o clímax sexual com parceiras reais. Todo processo
de dessensibilização do cérebro associado ao hábito de se excitar
apenas vendo pornografia pode ser uma das causas do problema.
Alguns sintomas são:
• Gêneros anteriores de pornografia não são mais “­excitantes”
• Tem maior e mais forte excitação sexual com pornografia do
que com uma parceira
• Diminuição da sensibilidade do pênis
• Declínio sexual na excitação com o parceiro sexual
• Perda de ereção ao tentar a penetração
• Pouco ou nenhum estímulo no sexo com penetração

12
Gary Wilson, https://yourbrainonporn.com/any-suggestions-for-healing-delayed-­ejaculation
54 • Sexo sem cativeiro | Paulo Adriano Muniz Gouvêa

• Precisa fantasiar ou ver pornografia para manter a ereção ou


a excitação com o parceiro real
• Dificuldade em atingir o clímax com um parceiro
• Não consegue ejacular com a relação sexual
Alguns homens estão se declarando até mesmo assexua-
dos devido à baixa libido em relacionamentos sexuais reais como
mostra o estudo de 2017 intitulado “Fantasia Sexual e Masturbação
Entre Indivíduos Assexuados: Uma Exploração Profunda13.” Diante
disso estão desistindo de uma vida amorosa e se isolando.
Esse fato acontece com aqueles usuários que desenvolve-
ram tolerância ao uso de material pornográfico. Todos eles con-
dicionaram sua resposta sexual a um consumo maior de novas
imagens sexuais, precisando de um altíssimo nível de novidade e
estímulo para manter sua ereção e interesse sexual, o que é mais
uma evidência de que a pornografia é um vício e que deve ser
catalogado e estudado como tal.
Nestes casos, como em todos os demais, abandonar a prá-
tica de assistir pornografia será fundamental no processo de res-
tauração do cérebro e na retomada de uma vida sexual saudável
e satisfatória.

2. 8 A PORNOGRAFIA É VICIANTE
Em agosto de 2011 a “The American Society Of Addiction Me-
dicine (ASAM)” definiu as novas regras para se considerar um
comportamento ou uso de substância como vício. Segue abaixo
as definições:
• Os sinais, sintomas e comportamentos de um vício afetam
uma constelação de alterações cerebrais subjacentes;
• O vício é uma doença ou condição primária. Não é causado
por problemas de saúde mental, como transtornos de hu-
mor ou de personalidade.

13
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/27882477
Capítulo 2 – A Ciência e a Pornografia • 55

• A ASAM declarou que o vício é uma condição: álcool, cocaí-


na, jogos de azar ou sexo;
• A ASAM mencionou o índice de comportamento sexual 10
vezes em sua definição de FAQs. Mais do que todos os ou-
tros vícios combinados.
Apenas o site yourbrainonporn.com do Dr. Gary Wilson con-
tém mais de 220 estudos que comprovam essa mudança nas co-
nexões cerebrais, citadas pela ASAM, nos usuários de pornogra-
fia. Todos estes estudos, realizados em diversas partes do mundo,
concordam que a pornografia causa essa mudança no cérebro ali-
nhando-se a modelos de dependência comportamental.
Um experimento científico bastante interessante mostra o
quanto o cérebro masculino está suscetível a ser capturado pela
pornografia. Ao colocar um rato em uma gaiola com uma fêmea
receptiva, eles rapidamente copulam várias vezes, porém, esse
macho leva mais tempo para procurar essa mesma fêmea no cio
à medida em que o tempo vai passando. O intervalo entre cada
cópula aumenta a cada novo intercurso sexual. Mas, quando este
mesmo macho recebe novas fêmeas em sua jaula, ele têm maior
excitação à essa novidade e rapidamente copula com essa nova
fêmea.
Mais fêmeas são acrescentadas à jaula deste macho e sem-
pre que uma nova é acrescentada, mais rápido ele vai procurá-
-la sexualmente, mesmo que esteja exausto. Assim é o efeito da
pornografia para capturar a mente humana. A cada novo clique,
uma nova imagem se apresenta e a excitação aumenta em respos-
ta a este novo estímulo. Em pouco tempo nosso cérebro perde o
interesse por imagem já experimentada e buscamos novas ime-
diatamente. Com a internet em banda larga, essa busca se torna
frenética e mais fácil. Em determinado momento, precisamos de
vídeos com novos gêneros para manter o alto nível de excitação.
O nome deste evento é Efeito Coolidge.
Há testemunhos de que o simples fato de abandonar o con-
sumo de pornografia faz com que a natureza de seus usuários vol-
56 • Sexo sem cativeiro | Paulo Adriano Muniz Gouvêa

te ao normal devido à plasticidade do cérebro. Deus é fantástico


naquilo que ele criou. Essa informação trouxe esperança a vários
usuários que puderam recuperar sua auto-estima e ter novamente
uma vida normal.
Acima citamos apenas alguns dos estudos mais relevantes
pesquisados. Nosso alvo é provar que a pornografia tem impactos
negativos significativos na vida de seus usuários. Os prejuízos são
incontáveis no nível pessoal e social. Orientações equivocadas so-
bre benefícios da pornografia para o relacionamento conjugal têm
sido contadas em consultórios, seminários ou congressos, mas, ao
invés de ajudar, têm devastado relacionamentos, adoecido pes-
soas, gerado prejuízos milionários para o Estado, aumentando a
violência doméstica e sexual.

33
Capítulo 3 – O Sexo
Conjugal e a Pornografia
“O casamento deve ser honrado por todos; o leito conjugal,
conservado puro; pois Deus julgará os imorais e os
adúlteros”. Hebreus 13.4

A indústria pornográfica quer que a sociedade acredite que ela é


inofensiva. Seus produtores querem comunicar uma imagem de
que na pornografia se pode aprender práticas e fantasias que
proporcionam maior alegria, orgasmo e prazer sexual. Oferecem
alívio às tensões e diversão sem “ferir ninguém”. Inclusive, al-
gumas mídias e “profissionais” da área sexual incentivam o uso
de material pornográfico como forma de “apimentar” os relacio-
namentos conjugais.
No entanto, o que a pornografia oferece é um vício, um
comportamento compulsivo, que deforma a imagem construída
sobre o sexo. Neste Capítulo, vamos explorar alguns impactos da
pornografia em usuários casados e as consequências desse com-
portamento nos seus relacionamentos.

3. 1 IMPACTOS QUE A PORNOGRAFIA PODE CAUSAR NO SEXO CONJUGAL


Abaixo estão listados alguns dos efeitos nocivos da porno-
grafia para o relacionamento conjugal:
• Encoraja o Egoísmo – No vício, o usuário está sozinho e
focado em seu próprio prazer, de modo que, quando está
diante de seu parceiro na vida real, reage da maneira em
58 • Sexo sem cativeiro | Paulo Adriano Muniz Gouvêa

que condicionou o seu corpo, de forma egoísta e focado em


si mesmo. Diante disso, a intimidade sexual deste casal é
comprometida porque o apego de um dos cônjuges à porno-
grafia removeu a intimidade emocional do relacionamento
conjugal.
• Passa a entender o sexo como Comercial – Os consumido-
res de material pornográfico associam a natureza do sexo
como a algo que pode ser comprado, adquirido e usado,
como algo que pode ser encomendado e dominado pela sua
própria vontade e desejo. Seus parceiros se tornam meras
mercadorias e objetos de satisfação pessoal, ou seja, o corpo
do outro deve ser explorado e usado segundo seu interesse
pessoal.
• Torna-se um Voyeur – Aquele que utiliza material porno-
gráfico se torna um voyer e condiciona seu comportamento
sexual ao que tem se exposto. O sexo saudável requer a co-
nexão íntima com outra pessoa, envolvendo toques, cheiros,
carícias, interação e comunicação, entre outros elementos
necessários para o desenvolvimento de um relacionamento
saudável. A pornografia não cria isso, antes conecta a pes-
soa a imagens, “clics” e ao prazer solitário. O usuário se ha-
bitua a ver a cena e tirar seu prazer dela, criando um hábito
desconectado da realidade, removendo a intimidade com o
outro que o sexo deveria proporcionar14.
• Diminui a Satisfação Sexual – Após a exposição prolonga-
da a vídeos pornográficos, o nível de satisfação com o côn-
juge cai consideravelmente, pois as expectativas do relacio-
namento sexual conjugal passam a ser em função do que se
viu nos vídeos. Comparações são inevitáveis, tanto do cor-
po quanto da performance sexual do parceiro. Como tudo o
que se vê nesses vídeos é editado ou exagerado, uma menti-
ra, o resultado é a frustração e a desconexão com o parceiro
real, podendo inclusive levar ao término deste casamento.

14
Gary Wilson, Your Brain on Porn
Capítulo 3 – O Sexo Conjugal e a Pornografia • 59

• Causa a insatisfação Sexual do Cônjuge – A maioria dos


cônjuges de usuários de pornografia relatam insatisfação se-
xual devido ao egoísmo do seu parceiro, ao comportamento
agressivo e às constantes exigências e reclamações do seu
corpo e performance sexual15. Muitas esposas não sentem
prazer e relatam relações sexuais humilhantes e dolorosas.
Apesar disso, algumas se sujeitam aos pedidos insanos dos
seus maridos com medo de serem abandonadas. Também
há casos de maridos que se sujeitam a recorrentes traições
de suas esposas, usuárias de pornografia, acreditando se-
rem eles os culpados pela insatisfação sexual delas, quando,
na verdade, é o uso que elas fazem de material pornográfico
que lhes causa todo este transtorno na relação dos dois.
• Aumenta em 300% a incidência de adultério – Steven Stack,
da Wayne State University, e seus colegas mostraram que o
uso de pornografia aumentou a taxa de infidelidade conju-
gal em mais de 300%16. O estudo de Stack descobriu que o
uso de pornografia na internet é 3,7 vezes maior entre aque-
les que adquirem relações sexuais com uma prostituta do
que entre aqueles que não o fazem. A pornografia também
leva a níveis muito mais altos de infidelidade entre as mu-
lheres. As que se envolveram em “cibersexo” tinham cerca
de 40% mais parceiros sexuais off-line do que as mulheres
que não praticavam cibersexo17.
• Esgota as Respostas Sexuais – A dessensibilização causa-
da pela exposição a imagens pornográficas gera desinteres-
se pelo sexo real e inibe as respostas sexuais até mesmo de
homens jovens, como comprovou o neurocientista francês
Serge Stoleru. O corpo simplesmente não reconhece os es-

15
Franklin O. Poulsen, Dean M. Busby e Adam M. Galovan, “ Uso de pornografia: quem usa e
como se associa com os resultados do casal ”, Journal of Sex Research 50, no. 1 (2013): 72-83.
16
Stack, Wasserman e Kern, “Laços sociais para adultos e uso da pornografia na internet”.
Social Quarterly, 85 (2004) 75-88.
17
DaneBack, Al Cooper e Manssen, “Um estudo na internet sobre participanetes Cybersex).
Archives of sexual behavior 34.
60 • Sexo sem cativeiro | Paulo Adriano Muniz Gouvêa

tímulos reais como impulsos sexuais e não promove uma


ereção duradoura18.
• Influencia suas Crenças e Comportamentos – Homens e
mulheres expostos a material pornográfico têm maior ten-
dência a banalizar o casamento e os seus relacionamentos, a
adotar comportamentos mais agressivos em relação às mu-
lheres e a ser mais tolerantes ao sexo casual e à infidelidade
conjugal. A exposição contínua também pode influenciar
suas preferências sexuais, podendo levá-los a cometer cri-
mes sexuais19.
• Pode ocasionar a castração Visual – A necessidade de no-
vos estímulos é tão grande no dependente de pornografia,
que ele precisa fantasiar imagens e vídeos que assistiu para
terminar uma relação sexual com seu cônjuge. Como as
imagens da vida real já não o excitam, tem de recorrer à fan-
tasiosa “perfeição” das imagens virtuais. Constantemente,
tende a fechar os olhos durante a relação sexual e a pensar
em seu harém virtual para conseguir chegar ao orgasmo20.
Suas esposas, ao perceberem isso, sentem-se meros objetos
sexuais, podendo desenvolver baixa-autoestima e se senti-
rem traídas. O foco no cônjuge é perdido com o uso repetido
de pornografia. Um hábito ou um vício em pornografia é
um assassino óbvio da união conjugal e sexual21.
• Disfunção Erétil e Ejaculação Precoce – 60% dos homens
adictos em pornografia já revelaram problemas com a falta
de ereção na hora do sexo22. ⅓ dos homens com menos de 30

18
Ana Bridges , Chyng Sun , Matthew Ezzell e Jennifer Johnson , “ Scripts sexuais e o com-
portamento sexual de homens e mulheres que usam pornografia ” , sexualização, mídia e
sociedade 2, n. 4 (2016).
19
Laurie A. Miles, R. Lyle Cooper, William R. Nugent e Rodney A. Ellis, “ Dependência sexual:
uma revisão de literatura sobre intervenções de tratamento ”, Journal of Human Behavior in
the Social Environment 26, n. 1 (2016): 88-99.
20
Drs. Marnia Robinson e Gary Wilson explicaram em Psychology Today
21
Dr. Norman Doidge em The Brain That Changes Itself
22
Lucia O’Sullivan, Lori Brotto, E. Sandra Byers, Jo Ann Majerovich e Judith Wuest, “ Preva-
lência e Características do Funcionamento Sexual entre Adolescentes Sexualmente Transien-
tes e Sexualmente Experientes ”, Journal of Sexual Medicine 11, no.3 (2014). ): 630-641.
Capítulo 3 – O Sexo Conjugal e a Pornografia • 61

anos já revelaram ter algum tipo de disfunção erétil relacio-


nada ao vício em pornografia23.
• Faz com que Seus Cônjuges se Sintam Traídos – A maioria
das esposas desenvolvem sentimentos de raiva, desconfian-
ça, mágoa, tristeza, traição e rejeição quando seus maridos
são usuários de pornografia. Elas se sentem substituídas por
imagens do computador. A insegurança e medo de serem
traídas efetivamente tomam conta de seus pensamentos e a
sua confiança em seu cônjuge fica abalada24.
• Ocasiona a Perda do Respeito por Parte de Seu Cônjuge
– Para o homem, o respeito da esposa é muito importante.
Seu uso de pornografia, faz com que ele perca isso, pois suas
esposas passam a enxergá-lo como um péssimo modelo
para os filhos, bloqueando sua capacidade de amar, honrar
e respeitar o marido diante deles25.
Vários são os sentimentos das esposas quando descobrem
que seus maridos estão envolvidos com material pornográfico.
Sua confiança em seu marido é totalmente abalada e, dependen-
do se sua autoestima, também passa a ter problemas com a sua
autoimagem. Além disso, tendem a se sentirem culpadas pelo
comportamento do marido ou, dependendo do contexto de onde
vieram, por mais chateadas que se sintam com o comportamento
do marido, acham que é “normal”, que todo homem faz isso.
As frases mais comuns delas durante os aconselhamentos são:
• “Eu não tenho mais idéia de quem ele é”;
• “Sinto que vivi uma grande mentira em todo o nosso casa-
mento”;

23
Anaïs Mialon, André Berchtold, Pierre-André Michaud, Gerhard Gmel e Joan-Carles Suris,
“ Disfunções Sexuais Entre Homens Jovens: Prevalência e Fatores Associados ” , Journal of
Adolescent Health 51, no. 1 (2012): 25-31.
24
Peter Kleponis – http://www.covenanteyes.com/2010/07/06/the-effects-of-pornography-
-on-wives-and-marriages/
25
Peter Kleponis – http://www.covenanteyes.com/2010/07/06/the-effects-of-pornography-
-on-wives-and-marriages/
62 • Sexo sem cativeiro | Paulo Adriano Muniz Gouvêa

• “Deve ser porque a nossa relação conjugal é insatisfatória


para ele”;
• “Eu não devo ser mais atraente como eu era”;
• “Eu não devo ter uma mente aberta para o sexo”;
• “Devo estar negligenciando as necessidades dele”.
A mulher logo procura uma explicação em sua mente e em
geral traz, de uma forma equivocada, a culpa para si. Alguns ma-
ridos, inclusive, se aproveitam disso reforçando essa culpa. Um
homem viciado em sexo ou pornografia tem um sério problema
de caráter. Muitas vezes, já está tão fora de controle quanto ao uso
e abuso de material pornográfico que se torna inconsequente.
O marido escravizado por esse tipo de conteúdo não reco-
nhecerá a esposa que tem. A questão é que, ainda que a esposa
seja uma linda mulher, além de eficiente em tudo o que faz, ele
não conseguirá se desvencilhar da pornografia a não ser que o
queira e busque isso, pois a esposa não têm culpa nenhuma do seu
comportamento que, geralmente, existia mesmo antes dela.
O melhor caminho para esse homem seria ter revelado seu
problema desde o início do relacionamento, antes do casamento.
Somente quando reconhece seu comportamento como nocivo ao
relacionamento conjugal poderá caminhar para uma recuperação.
Nesses casos, a melhor forma de agir é andar em transparência e
buscar ajuda.
A responsabilidade por um bom casamento é de ambas as
partes. Tanto o marido quanto a mulher devem seguir de forma
honesta e íntegra dentro do relacionamento. Ambos devem bus-
car a unidade e a verdadeira comunhão no seu casamento.

3. 2 A CONSTRUÇÃO DA VERDADEIRA INTIMIDADE


Um estudo de 2011 mostrou que homens e mulheres en-
volvidos em relacionamentos longos e duradouros, acima de 25
anos, experimentavam maior alegria dentro dos relacionamen-
tos e maior satisfação sexual. As mulheres relataram que ficaram
Capítulo 3 – O Sexo Conjugal e a Pornografia • 63

mais satisfeitas sexualmente somente após alguns anos de rela-


cionamento, depois que a intimidade e a comunicação do casal
cresceu26.
Uma outra pesquisa revelou que os casais que casaram vir-
gens e esperaram a noite de núpcias para viverem sua primeira
experiência sexual são mais felizes e realizados do que aqueles
que anteciparam a intimidade sexual27. O Dr. Weiss, psiquiatra e
escritor, concluiu em sua pesquisa que aqueles que vivem uma
vida sexual consistente dentro de um casamento têm melhor sa-
tisfação sexual ao longo do tempo do que aqueles que vivem cons-
tantemente a trocar de parceiros, não gerando conexão espiritual e
intimidade emocional nesses relacionamentos.
Os estímulos para uma pessoa que está conectada à porno-
grafia são visuais e virtuais, já aqueles que escolhem viver o sexo
de forma natural, vão vivenciar essas novidades nos toques, carí-
cias, beijos, tom de voz, temperatura da pele e qualidade do rela-
cionamento28. O casal pode experimentar uma viagem romântica,
novos perfumes, roupas novas e atividades prazerosas antes, du-
rante e depois da intimidade sexual. Há uma infinidade saudável
de prazeres para um casal que se ama e que escolhe se proteger da
influência da pornografia ou das parafilias sexuais.
O Dr. Dan Erickson, autor e conselheiro de casais, diz: “Cada
pessoa carrega dentro dela uma área íntima. Quando esse núcleo profun-
do e vulnerável é compartilhado com outra pessoa, uma conexão profun-
da pode ser construída.Um casal pode fazer sexo sem intimidade e isso
muitas vezes leva à insatisfação sexual dentro de um relacionamento,

26
JR Heiman, J.S. Long, S.N. Smith, W.A. Fisher, M.S. Sand, and R.C. Rosen, “Sexual satisfac-
tion and relationship happiness in midlife and older couples in five countries,” Archive of
Sexual Behavior 40 (August 2011), pgs. 741-753.
27
Bill Hendrick, Benefits of delaying sex until marriage, happier marriages, more satisfying
sex among perks, study finds,” WebMD, Dec. 28, 2010. http://www.webmd.com/sex-rela-
tionships/news/20101227/theres-benefits-in-delaying-sex-untilmarriage (accessed Feb. 26,
2013).
28
Robert Brooks, “The search for islands of competence: A metaphor of hope and strength,”
Monthly Articles, June 2005. http://www.drrobertbrooks.com/writings/articles/0506.
html.
64 • Sexo sem cativeiro | Paulo Adriano Muniz Gouvêa

mas quando o sexo se torna parte de expressões gerais de intimidade,


então a mágica acontece.”
Intimidade não é sexo. Aprendemos equivocadamente a as-
sociar estas duas palavras devido à nossa cultura totalmente se-
xualizada e hedonista. O Dr. Dan Erickson define intimidade não
apenas como “o que é?”, mas “quem é?” Ele diz que “A intimidade
é melhor escrita “para dentro de mim”. O ponto é olhar para outra pessoa
e convidá-la a olhar para você. A intimidade do casamento permite que
marido e mulher abram seus corações e mentes um para o outro. A inti-
midade é um dom gratuito que você dá e recebe29.”
Por este motivo, a intimidade emocional deve vir antes da
intimidade sexual. Somente é possível viver a plenitude sexual
quando estamos conectados emocionalmente ao nosso cônjuge.
Desta forma, o sexo não é uma experiência apenas biológica, mas
algo que deve envolver o corpo, a alma e o espírito. Cathy Erick-
son, esposa de Dan, diz: “Homem, se você for íntimo, amoroso e cuida-
doso com sua esposa, você terá todo o sexo que você precisa.”
Intimidade e unidade no casamento requerem esforço, exi-
gem tempo, renúncia, integridade e dedicação de ambas as partes
que compõem este relacionamento, ou seja, para que as almas do
marido e da esposa estejam conectadas, devem se dedicar a co-
nhecer profundamente um ao outro, cada um tendo uma real dis-
posição de mudar naquilo que afetar e ferir o seu relacionamento
conjugal.
A união onde dois tornam-se um dentro de uma aliança de
casamento não é a festa de casamento em si ou o que acontece na
noite de núpcias. Estes eventos firmam a aliança, mas a unidade
verdadeiramente acontece quando se cumpre a palavra de Gêne-
sis 2.25, em que ambos são ensinados por Deus a se desnudarem
um diante do outro, dia após dia, para atingirem a plenitude na
intimidade, inclusive, sexual, mas antes de tudo, na alma e no
­espírito.

29
Luke Gilkerson – http://www.covenanteyes.com/2013/06/26/better-sex-true-intimacy/
Capítulo 3 – O Sexo Conjugal e a Pornografia • 65

O casamento tem o poder de trazer à luz coisas outrora


ocultas da nossa personalidade, desafiando o nosso caráter a se
moldar à imagem e semelhança do caráter de Deus na medida em
que decidimos amar o nosso cônjuge incondicionalmente.
A intimidade amedronta alguns porque nos torna vulnerá-
veis e expostos, mas é o melhor caminho para que sejamos aceitos
e amados incondicionalmente. Essa verdade está revelada em Gê-
nesis 2.25. É fundamental haver transparência nos relacionamen-
tos para que eles amadureçam, o que exige comunicação aberta,
disposição de se sacrificar pelo outro mutuamente, ter a real in-
tenção de agradar, amar, honrar e respeitar o outro de forma in-
condicional.
O Dr. Brad Miller, do Serviço de Aconselhamento de Res-
tauração diz que “A verdadeira intimidade pode ser emocional, espi-
ritual ou física, mas raramente sexual”, disse ele. “A verdadeira intimi-
dade procura responder: ‘Como posso conhecê-lo melhor?’, ‘Como posso
satisfazer suas necessidades?’ E ‘O que posso fazer por você30?’”
O Dr. Dan Erickson recomenda 4 passos importantes para a
construção da intimidade conjugal31:
1. Afeto e Carinho – O casal deve investir em toques sem ape-
lo sexual, abraços e beijos, bem como palavras doces. No
dia a dia é muito importante o marido demonstrar para sua
esposa atitudes de amor e a esposa, por sua vez, investir em
responder ao marido com respeito (Efésios 5.21-33).
2. Comunicação Aberta – O casamento precisa ser o lugar
onde compartilhamos tudo em nossas vidas: nossas dores,
traumas, tentações, sonhos, frustrações e desejos. Deve ser
um ambiente sem julgamentos, um lugar seguro onde sere-
mos confortados e confrontados quando precisarmos. Não
pode haver críticas ou tentativas de consertar o outro. A
melhor forma de garantir isso é ouvindo ativamente aquele
que estiver compartilhando.
30
O mesmo
31
Luke Gilkerson – http://www.covenanteyes.com/2013/06/26/better-sex-true-intimacy/
66 • Sexo sem cativeiro | Paulo Adriano Muniz Gouvêa

3. Desejo de Estar Juntos – É importante que ambos estejam


juntos desejando partilhar das experiências da vida um com
o outro. Normalmente, o individualismo de muitos homens
fere os relacionamentos. É certo que às vezes, precisaremos
de tempo para hobbies pessoais e alguns períodos de soli-
tude, mas isso deve ser muito equilibrado e o tempo com-
partilhado pelo casal deve ser priorizado por ambos. A qua-
lidade da intimidade muitas vezes vai estar relacionada ao
tempo que o casal investe em passar juntos, lembrando que
estar perto não significa estar junto.
4. Expressões de Amor e Afeto – A disposição em doar-se
para o cônjuge é muito poderosa na construção da intimida-
de. Planejar datas especiais, ajudar nas tarefas diárias, fazer
surpresas, cumprir promessas, entre outras atividades, vão
ser atitudes recebidas com amor pelo parceiro. O Livro as
5 linguagens do Amor, de Gary Chapman, pode ser muito
útil para entendermos como cada um dos cônjuges recebe e
oferece amor.
Deus tem grande alegria na intimidade de um casal, portan-
to, quanto maior a intimidade do casal com Deus, mais estaremos
com o coração disposto a cumprir estes princípios de intimidade
um com o outro.

3. 3 RECUPERANDO A CONFIANÇA PERDIDA


Para recuperar a confiança de seu cônjuge após seu compor-
tamento ser descoberto, o usuário de pornografia deve reconhecer
sua fraqueza e confessar seu pecado, assumindo um compromis-
so sério com a verdade e com a sua recuperação. Esse é o primei-
ro passo no processo de restauração do relacionamento diante de
uma situação em que um dos cônjuges é usuário de pornografia.
O passo seguinte é um doloroso processo de perdão por par-
te do cônjuge ferido. Nesses casos, o ideal é que o casal seja acom-
panhando por um especialista cristão, pois a restauração completa
deste casamento pode levar muito tempo, além do tempo que leva
Capítulo 3 – O Sexo Conjugal e a Pornografia • 67

para a recuperação do vício sexual. O que pode ajudar bastante na


caminhada do perdão do cônjuge traído é entender a construção
desse vício em seu parceiro, que muitas vezes ocorreu a partir de
dolorosas experiências como abusos sexuais na infância ou da ex-
posição precoce a material pornográfico. Entender essas feridas
pode facilitar o processo de perdão, ajudando o cônjuge ferido à
ter um olhar de compaixão e misericórdia para com o adicto.
A terceira etapa é a reconstrução da confiança. É comum a
parte ferida demonstrar várias vezes sua raiva e indignação diante
de qualquer situação suspeita por parte do ofensor. Para superar
isso, aquele que feriu precisa manter uma postura humilde e que-
brantada, reconhecendo sempre seu erro e renovando seu pedido
de perdão. Manter a transparência das suas ações é fundamental.
O adicto em pornografia deve buscar ajuda para suportar essa di-
fícil fase. Lembro de muitas vezes, em meu próprio processo de
recuperação, ser novamente lembrado do meu passado por minha
esposa. Nestas situações, sempre procurei manter uma postura de
humildade, renovando meu pedido de perdão e reforçando o meu
amor por ela dizendo: “Eu sinto muito. Por favor, me perdoe. Eu
amo você.”
À medida em que ambos se comprometem com a recupe-
ração, um com a disposição de abandonar o vício e o outro com a
disposição de perdoar e a permitir-se confiar novamente em seu
cônjuge, podem voltar a experimentar a intimidade roubada pela
pornografia e o vício sexual. Somente a integridade por parte do
antes viciado em pornografia pode gerar confiança novamente,
produzindo intimidade para que possam frutificar como casal no-
vamente.
Há algum tempo, conheci um casal cujo marido quebrou
esse princípio enquanto eles ainda estavam em seu processo de
restauração. Ela, então, não conseguia mais se entregar ao marido.
Quando começavam a ter intimidade sexual, começava a chorar,
imaginando-o com a outra mulher. Ela se sentia suja e envergo-
nhada com aquela situação. Um bloqueio na intimidade sexual
68 • Sexo sem cativeiro | Paulo Adriano Muniz Gouvêa

daquele casal aconteceu de uma forma mais forte ainda porque o


princípio da fidelidade conjugal foi quebrado novamente, justa-
mente quando se tentava uma reconciliação. Esse marido, então,
confessou que continuava vendo pornografia às escondidas, que-
brando também os princípios da transparência e da integridade
neste relacionamento.

3. 4 A PORNOGRAFIA NÃO AJUDA A VIDA SEXUAL DO CASAL


Marcela (seu nome real é outro), empresária de 40 anos,
conta que, se sentindo sem valor para o seu marido, começou a
acessar pornografia para chamar a atenção dele. Ela procurou na
pornografia o que, na verdade, a pornografia jamais seria capaz
de lhe oferecer. Estava querendo aprender performances sexuais.
Adquiriu brinquedos eróticos e roupas que faziam com que se
sentisse uma prostituta. Passaram a assistir juntos pornografia e
não parecia melhorar a relação, ao contrário, chegou à conclusão
de que a pornografia não ajuda os casais, mas os mantém mais
afastados, podendo levá-los ao divórcio.
Diante destes fatos, se alguém lhe recomendar assistir por-
nografia para “esquentar” o seu relacionamento conjugal, diga a
essa pessoa que a opinião dela vai de encontro com experiências
de outros casais e de estudos e pesquisas científicas que compro-
vam que a pornografia causa danos ao relacionamento sexual dos
casais, tornando a relação mais suscetível ao divórcio.
Uma pesquisa de 2003 com mais de 300 advogados ame-
ricanos revelou que dois terços dos divórcios atendidos por eles
tinham o envolvimento com pornografia, por parte de um dos
cônjuges, como principal motivo para a separação.
É preciso compreendermos que o prazer sexual foi feito para
ser vivido apenas a dois e sem interferências de outras coisas além
do próprio casal. A interação com a pornografia condiciona o ho-
mem ou a mulher a desejar um prazer barato, fantasioso e vician-
te. A pornografia está transformando nossa geração em voyeurs,
deformando a verdadeira imagem do sexo, que é algo poderoso
Capítulo 3 – O Sexo Conjugal e a Pornografia • 69

e intenso, que apenas deveria ser vivido num envolvimento de


compromisso emocional entre um homem e uma mulher.
Sexo de verdade é uma expressão de amor e, para que isso
se torne a realidade, é fundamental que haja intimidade emocio-
nal antes da intimidade sexual para que o casal se conecte de for-
ma mais intensa e verdadeira. A pornografia remove a expectativa
de um envolvimento emocional, pois transforma o outro em mero
objeto de cobiça e masturbação pessoal. Sexo deveria ser algo que
une por inteiro um homem e uma mulher em uma atmosfera que
envolve corpo, alma e espírito. Uma forte e poderosa conexão que
empodera o casal e protege o desejo sexual. É somente dentro de
uma aliança de casamento que podemos estar protegidos e segu-
ros, com nossos impulsos e desejos sexuais voltados apenas para
o nosso cônjuge. Se o sexo somente for vivido como um ato de
amor entre os cônjuges, ambos vivenciarão uma poderosa relação
de amor. Esse conceito, porém, está sendo atacado e removido dos
relacionamentos pela exposição à pornografia.
Sexo deve ser algo particular, reservado e restrito a um am-
biente seguro, que deve ser o casamento. Quando esse princípio
é quebrado, o relacionamento também é quebrado, juntamente
com cada um dos seus cônjuges. Um forte sentimento de desvalor
atinge a parte que foi traída e o amor desaparece da relação. O
sexo entre o casal fica contaminado e a intimidade emocional é re-
movida, causando bloqueios neste relacionamento. Para uma ver-
dadeira intimidade conjugal e sexual, o casal deve se concentrar
no seu relacionamento, se preocupando em unir seus objetivos e
dedicando-se mutuamente a conhecer e comunicar suas necessi-
dades. Devemos criar um poderoso vínculo de amor com nosso
cônjuge e não com o sexo.

44
Capítulo 4 – A Criança e a
Pornografia
“Instrua a criança segundo os objetivos que você tem para
ela, e mesmo com o passar dos anos não se desviará deles”.
Provérbios 22.6

Os impactos da pornografia na mente de uma criança são ainda mais


devastadores do que na mente de um adulto. O Dr. Sharon Coo-
per, pediatra consultor do Centro Nacional de Crianças Desapare-
cidas e Exploradas nos USA, explica que o cérebro de uma criança
tem o que ele chama de os Neurônios Espelho, que lhes dão a sensa-
ção de estar vivendo realmente aquilo que vêem. Os adultos que
vêem pornografia apenas experimentam uma ereção ou excitação.
Já as crianças, tomam como uma experiência real aquilo que vi-
sualizam em filmes pornográficos.
Ézio (seu nome real é outro), hoje com 27 anos, foi exposto à
pornografia aos 6 anos de idade. Um homem, dono de uma loca-
dora de video games emprestava ao seu irmão e a outros garotos
mais velhos algumas revistas pornográficas. Esse garotos mostra-
ram a revista para Ézio que ficou fascinado pelas imagens. Ele,
então, passou a aceitar facilmente ser abusado sexualmente por
esses rapazes para que eles o deixassem ver as revistas novamen-
te. Por mais que se sentisse humilhado, o desejo de ver novamente
aquelas imagens era mais forte. Os abusos aconteceram algumas
vezes até que ele fez 10 anos e encontrou várias revistas escondi-
das no quarto do próprio pai que se dizia cristão. Como o seu pai
72 • Sexo sem cativeiro | Paulo Adriano Muniz Gouvêa

usava, ele entendeu que não precisava se sentir culpado por fazer
uso deste material também.
Logo o computador com acesso a internet chegou à sua casa
e a curiosidade, associada à facilidade de acesso, o impulsionaram
a um mergulho no mundo da pornografia virtual. Ézio tinha mui-
ta curiosidade sobre sexo devido ao seu despertamento tão preco-
ce para isso, e não havia diálogo em sua casa sobre este assunto.
As suas pesquisas começaram com material “softcore” e logo pas-
saram para conteúdo “hardcore”. Ele diz que via de tudo e, com o
tempo, passou a se interessar por nudez infantil. Algo que lhe cha-
mava a atenção era o tamanho do membro dos pré-adolescentes.
Ézio lembra que durante os abusos que sofria na infância,
ele se sentia humilhado com o tamanho do pênis dos jovens que
o abusavam em relação ao seu. Hoje, com seu pênis de adulto, se
sente superior aos pré-adolescentes que o abusavam naquela épo-
ca. Ézio hoje é um cristão convicto e exerce ministério, mas luta
contra o vício em pornografia. Sempre recai quando se sente frus-
trado ministerialmente ou tem alguma outra situação de ansieda-
de no seu dia a dia. Tem a pornografia como seu escape e sua fuga.
Ézio tem um lindo chamado missionário, inclusive, para
trabalhar com crianças, mas o consumo de pornografia bombar-
deia sua fé e sua auto-estima, comunicando em sua mente que
não é digno de se aproximar de Deus e estar com Ele, além de ser
um risco para ele trabalhar com crianças e pré-adolescentes, pois
acaba se sentindo tentado diante destas situações.
A melhor chance de Ézio ser liberto de suas lembranças da
infância e do seu vício em pornografia é conseguindo entregar na
cruz a sua dor e frustração, perdoando seus abusadores e a si mes-
mo, entendendo que pode lançar na Cruz todo pecado e ressenti-
mento.
Capítulo 4 – A Criança e a Pornografia • 73

4. 1 O QUE FAZER QUANDO SEUS FILHOS ESTÃO VENDO PORNOGRAFIA


Uma das mulheres que minha esposa aconselhava ligou
para ela assustada com uma descoberta recente. Ela estava recla-
mando do comportamento isolado do filho adolescente. Até en-
tão, associava o isolamento do filho ao fato de ela estar passando
por um processo de divórcio com o pai dele. Mas, em um deter-
minado dia, ela pegou o celular do filho e descobriu pelo histórico
de mensagens que uma série de sites eróticos foram acessados por
ele. O chão dela sumiu, pois não sabia como lidar com a situação.
O filho também estava trocando várias imagens de nudez com a
namorada e ficava as madrugadas acordado em sessões de mas-
turbação diante de imagens eróticas. Essa mãe é apenas uma das
várias que têm se deparado com uma realidade comum. Seus fi-
lhos estão acessando pornografia e muitas delas não sabem o que
fazer e como resolver a situação.
No Brasil, as crianças e jovens estão cada vez mais cedo ga-
nhando seus próprios telefones celulares e equipamentos eletrô-
nicos com acesso irrestrito à internet. Rapidamente, um enorme
mundo digital se apresenta em mãos tão pequenas, normalmente
sem controle ou orientação nenhuma dos pais. As estatísticas mos-
tram que esse número é alto desde cedo entre meninas e meninos
brasileiros: 42% já tem presença nas redes sociais com apenas 9 ou
10 anos de idade, seguidos de 71% entre 11 e 12 anos, 80% entre
13 e 14 e 83% entre 15 e 16 anos de idade32. Desde muito cedo nos-
sos jovens ficam expostos a cyberbulyling, a assédio de pedófilos, à
pornografia e a jogos de azar.
Nos Estados Unidos os dados são ainda mais alarmantes:
1. 25% dos adolescentes disseram que foram expostos à por-
nografia quando nem estavam procurando por isso33.

32
https://www.comshalom.org/brasil-lidera-em-numero-de-criancas-e-jovens-que-acessam-
-redes-sociais/
33
Lisa M. Jones, Kimberly J. Mitchell, and David Filkelhor, “Trends in Youth Internet victimi-
zation: Findings from Three Youth Internet Safety Surveys 2000-2010,” Journal of Adolescent
Health 50 (2012): 179-186
74 • Sexo sem cativeiro | Paulo Adriano Muniz Gouvêa

2. 90% dos meninos e 70% das meninas de 13 a 14 anos disse-


ram que acessaram pornografia pelo menos uma vez no ano
anterior. Destes, 35% disseram assistir de forma crônica, não
sabendo nem mesmo contar quantas vezes foram34.
3. 93% dos meninos e 69% das meninas calouros de faculdade
e secundaristas disseram ter tido acesso a conteúdo porno-
gráfico antes dos 18 anos35.
4. Antes dos 18 anos, 87% dos meninos e 57% das meninas
assistem sexo grupal on line36.
5. 32% dos meninos e 18% das meninas vêem bestialidade
­online.
6. 15% dos meninos e 9% das meninas veem pornografia
­infantil37.
Há alguns anos, os jovens teriam que tropeçar em um escon-
derijo de revistas ou fitas pornográficas para ter acesso a porno-
grafia ou ser levado a elas por outrem. Hoje em dia, o acesso está
a um clique no celular deles de forma irrestrita e para qualquer
tipo de curiosidade. O pornô hardcore, com as piores perversões
sexuais, estão se tornando comuns e muitas crianças estão vendo
este conteúdo em seus primeiros acessos. Esta é uma realidade
que precisamos abordar na igreja.
Algumas pesquisas já identificaram os impactos que a por-
nografia promove nas crianças e jovens38:
• Eles tem relações sexuais cada vez mais precocemente;

34
“One in Three Boys Heavy Porn Users, Study Shows,” Science Daily, Feb 25, 2007. http://
www.sciencedaily.com/releases/2007/02/070223142813.htm (accessed Aug 23, 2013).
35
Chiara Sabina, Janis Wolak, and David Finkelhor, “The nature and dynamics of Internet
pornography exposure for youth,” CyberPsychology and Behavior 11 (2008): 691-693.
36
Ana Bridges, Robert Wosnitzer, Chyng Sun, and Rachael Liberman, “Aggression and sexual
behavior in best-selling pornography videos: A content analysis update,” Violence Against
Women 16 (Oct. 2010):1065-1085.
37
Sabrina, et. al., “Nature and Dynamics
38
Jill Manning, “Hearing on pornography’s impact on marriage & the family,” U.S. Senate
Hearing: Subcommittee on the Constitution, Civil Rights and Property Rights, Committee
on Judiciary, Nov. 10, 2005. http://www.judiciary.senate.gov/hearings/testimony.cfm?i-
d=e655f9e2809e5476862f735da10c87dc&wit_id=e655f9e2809e5476862f735da10c87dc-1-3(ac-
cessed Dec. 27, 2012).
Capítulo 4 – A Criança e a Pornografia • 75

• Adquirem a crença de que a melhor satisfação sexual é atin-


gida quando não há afeição pelo parceiro.
• Passam a acreditar que ser casado ou ter uma família são
perspectivas pouco atraentes.
• Passam a ter um risco aumentado de desenvolverem com-
pulsões sexuais e comportamento aditivo.
Luke Gilkerson foi Gerente de Recursos Educacionais da
Covenant Eyes, é bacharel em Filosofia e Estudos Religiosos e
Mestre em Religião. Em seu livro When Your Child is Looking at
Porn: A Step-By-Step Guide for Christian Parents (Quando seu filho
está olhando para pornografia: um guia passo-a-passo para pais cristãos)
ressalta que a resposta dos pais deve ser de acordo com a profun-
didade do envolvimento dos filhos com o material pornográfico.
Ele mostra alguns estágios pelos quais a criança passa a partir de
quando começa seu envolvimento com esse tipo de conteúdo:
Estágio 01 – Experimentação e Curiosidade: A maioria
dos jovens e criança tem seus primeiros acessos a pornografia de
forma acidental ou por curiosidade. Meninos e meninas por vezes
querem saber como é o órgão sexual do gênero oposto ao seu. Na
adolescência esse sentimento tende a crescer e imagens eróticas
passam a lhe causar excitação.
Estágio 02 – Uso Regular para Fins de Masturbação: Nesta
fase, o seu filho passou da curiosidade para o “uso” de pornogra-
fia ou de conversas online para gratificação sexual e orgasmo. Em-
bora esta fase seja mais comum entre os adolescentes, as crianças
também podem entrar neste estágio. Nesta fase, embora possa ha-
ver sentimentos de vergonha, o uso de pornografia é visto como
recreativo.
Estágio 03 – Uso Arriscado – Quando o consumo começa a
produzir mudanças no comportamento. Ficam acordados a noite
para consumir pornografia, perdendo o sono e a capacidade de
concentração. Passam a ver pornografia de forma mais regular e
em vários ambientes devido à perda da capacidade de controle
sobre isso.
76 • Sexo sem cativeiro | Paulo Adriano Muniz Gouvêa

Estágio 04 – Dependência e Vício – Aqueles que desenvol-


veram uma relação viciosa com a pornografia experimentam um
desejo avassalador por pornografia, incontroláveis fantasias se-
xuais e até mesmo sintomas de abstinência. Os tipos de pornogra-
fia que costumavam visualizar não satisfazem mais; passam então
a buscar pornografia mais difícil e mais gráfica.

4. 2 A CONVERSA COM O FILHO


Depois do choque da descoberta, é muito importante que
os pais se preparem para a conversa com seus filhos. Procurá-los
imediatamente no calor do momento, sem uma preparação equi-
librada pode ser frustrante para ambos. O objetivo é criar um elo
de confiança entre os filhos e os pais e não fazer com que eles
escondam ainda mais seu comportamento quando estão online.
Uma pesquisa de 2013 mostrou que 71% dos jovens apagam seu
histórico recente de navegação para não serem pegos acessando
pornografia39.
Luke Gilkerson recomenda que os pais pesquisem os his-
tóricos e tentem reunir o máximo de informações sobre que tipo
de material seus filhos estão acessando e há quanto tempo. Isso
pode ajudar a mapear em qual estágio os filhos estão em relação à
dependência ou se eles estão em risco devido ao assédio de algum
pedófilo.
Não devemos usar esse material para acusar nossos filhos,
mas para, de uma forma madura, conduzir uma conversa com
eles, buscando entender o que gerou a curiosidade, como e quan-
do ele começou a acessar para que seja possível sanar de forma
saudável essa situação.
É muito importante que os pais participem desta conver-
sa. Deixar apenas um conduzir não é apropriado. Normalmente,
o pai e a mãe tem papéis distintos no processo de orientação e

39
The Digital Divide: How the Online Behavior of Teens is Getting Past Parents” McAfee. June
2012. http://www.mcafee.com/us/resources/misc/digital-divide-study.pdf (accessed Aug
23, 2013).
Capítulo 4 – A Criança e a Pornografia • 77

consolo dos filhos. Os dois unidos para a conversa fornece maior


segurança para o filho caso um dos dois se exceda.
Os pais devem criar um ambiente seguro onde rejeitam o
comportamento, mas não ao filho, deixando claro que não apro-
vam o comportamento, mas o amam incondicionalmente. A abor-
dagem errada pode gerar vergonha e culpa tóxicas no jovem, fa-
zendo com que ele perca a confiança de se abrir com os pais e
passe a adotar comportamentos mais dissimulados ainda em rela-
ção ao uso do material pornográfico. Provavelmente, serão neces-
sárias várias conversas sobre o assunto e uma maior atenção dos
pais quanto à convivência com os filhos.
Comece mostrando ao seu filho o que sabe à respeito dos
riscos do uso deste tipo de conteúdo. Conte como descobriu e
todo conteúdo que possui em suas mãos. Use o tom correto nesta
abordagem. O filho pode se abrir e contar tudo ou guardar um
silêncio constrangedor diante do fato. Não seja precipitado em fa-
lar, use o silêncio a seu favor. O filho deve estar tomado por senti-
mentos de culpa e vergonha nessa hora e o acolhimento dos pais
mostrando que só querem ajudar e orientar é o mais adequado.
Evite grosserias e acusações, deixando claro para o seu filho que
o ama e só quer o seu bem. Ele precisa conseguir confiar em você,
então não procure aumentar a pressão sobre ele.
Caso o filho tente negar, procure controlar sua irritação e
evitar o abuso espiritual e emocional. Lembre-se de que a natu-
reza humana, desde Adão, é de se esconder e dissimular diante
de um confronto. Aproveite a oportunidade para trazer seu filho
para mais perto de vocês. Conversem sobre sexo e sexualidade,
compartilhando sobre a armadilha da pornografia e o mal que ela
acarreta. Seja grato pela oportunidade de fazer algo a respeito.
Use seus sentidos de forma a comunicar amor por seu fi-
lho. Seus olhos devem expressar ternura, seus ouvidos devem ser
usados para acolher as respostas deles, suas expressões podem
até ser firmes, mas não de condenação ou crítica. Suas palavras
devem ser de consolo e orientação e não acusação. A conversa não
78 • Sexo sem cativeiro | Paulo Adriano Muniz Gouvêa

deverá estar focada na pornografia, mas na vida do seu filho e nas


necessidades dele.
Nessas horas, se você teve um histórico com pornografia,
seria importante compartilhar sua experiência. Não ataque a
criança, mude a abordagem e faça perguntas diferentes. Não pre-
cisa arrancar uma confissão. Conecte seu filho a você e mostre os
melhores caminhos para ele. Parabenize se ele teve coragem de
confessar e admitir o erro. É sua chance de fechar a fenda geracio-
nal que se abriu entre vocês.

Respostas de Acordo com os Estágios de


Envolvimento com Pornografia
Se o filho está no primeiro estágio, a sugestão de Luke Gil-
kerson é que os pais digam “Essas fotos e vídeos com pessoas nuas
estão por toda a Internet, e eu provavelmente deveria ter falado com você
sobre isso antes de hoje. Desculpe, eu não te ajudei com isso como deve-
ria. O que eu deveria ter dito antes é que se você visse alguma imagem
online que o incomoda ou qualquer coisa que cause curiosidade, poderia
me perguntar a respeito, você sempre pode vir para mim. Eu quero ouvir
suas perguntas para ver se eu posso respondê-las. Eu não quero que você
aprenda a responder diante de pessoas que estão tentando colocar coisas
ruins lá fora. Eu amo você e pessoas que colocam estas imagens na inter-
net não querem o seu bem”.
Para os filhos que estão no estágio da masturbação, a orien-
tação é a seguinte: “Eu deveria ter conversado com você sobre porno-
grafia muito antes de hoje. Desculpe-me por não ter feito isso. Eu sei
que assistir imagens como essas pode realmente despertar desejo sexual
e prazer em você, mas eu deveria ter falado com você mais sobre esse
tipo de desejo. Peço desculpas.” Esse início vai dar o tom para o res-
tante da conversa. É muito importante falar dos perigos que este
tipo de comportamento podem produzir no corpo dele e em seus
relacionamentos. Reconheça sua falha em não ter orientado seu
filho sobre estas questões, de certa forma, assumindo também a
Capítulo 4 – A Criança e a Pornografia • 79

responsabilidade pelo erro dele. Isto o deixará mais propenso a


admitir que também esta errado.
Quanto aos demais estágios, a postura deve ser a mesma
dos estágios anteriores quanto ao acolhimento e à receptividade.
Porém, o envolvimento de seu filho já deverá estar causando pro-
blemas perceptíveis na vida dele e, provavelmente, também na
vida daqueles que são mais próximos. É muito importante levá-
-lo à reflexão sobre as consequências de seu comportamento e de
tudo o que ele está deixando de aproveitar por conta da pornogra-
fia. Os tons críticos não ajudarão e qualquer discurso que se pare-
ça com uma palestra será rejeitado pelo jovem. O ideal é entregar
para ele material que comprove o mal que a pornografia ocasiona
para o cérebro e para o desempenho sexual.
Use exemplos pessoais, mostrando empatia e ensinando de
forma direta, com a participação do filho. Não se envergonhe de
compartilhar as tentações que sofreu e talvez ainda sofra. Mos-
tre seu lado humano ao seu filho e não banque “Super-Homem ou
Mulher Maravilha”. Você deve conhecer suas particularidades e es-
colher a melhor abordagem de acordo com a sua personalidade.
Coloque-se à disposição para ajudar e proponha um acompanha-
mento a ele sobre o assunto. Também se coloque à disposição para
responder suas perguntas, deixando claro que, caso você não sai-
ba responder, pesquisarão juntos sobre o assunto, gerando, assim,
um clima de amizade e parceria entre vocês.

4. 3 PORQUE OS HOMENS ESTÃO FALHANDO?


O Dr. Phillip Zimbardo, professor da Universidade de Stan-
ford desde 1968 e que em 2003 recebeu o Prêmio Nobel de psi-
cologia, faz um alerta sobre uma nova geração de homens que
dentro de poucos anos vai atingir o mercado de trabalho, cadeiras
de governantes e demais áreas sociais no mundo todo. Ele diz que
os meninos e jovens homens da atual geração estão mais sozinhos,
tristes, confusos, menos abertos a amizades, falhando nas esco-
las, negócios, em se conectar de forma saudável com as meninas,
80 • Sexo sem cativeiro | Paulo Adriano Muniz Gouvêa

estão obesos e sem criatividade. Tornaram-se consumidores de


jogos online e de pornografia compulsivamente, atividades que
sequestram o tempo, a criatividade e toda sorte de habilidades,
fixando o jovem em ações para passar o tempo e preencher tem-
porariamente o vazio que há neles.
A maioria destes jovens rapazes têm se refugiado em um
mundo virtual “confortável” dos games e na pornografia. Eles
buscam uma rápida gratificação de conquista e prazer, sem o risco
de sofrerem a dor da rejeição. Mas por que a vida virtual tem sido
cada vez mais atraente para estes jovens?
Algo bastante interessante que o Dr Zimbardo identificou
é que, em quase todo o mundo, o número de mães solteiras têm
crescido exponencialmente. Na américa, 41% das mulheres que
têm filhos são mães solteiras. Quando a pesquisa abrangeu ape-
nas as mulheres com menos de 30 anos, esse número cresceu para
50%. Essas mães solteiras muitas vezes têm que fazer jornada du-
pla para compensar a falta do salário do pai e acabam vivendo ní-
veis altos de estresse, transferindo essa sobrecarga emocional para
os filhos. Sem contar com o fato de que estes filhos estão ficando
vulneráveis a abusos e qualquer tipo de assédio, pois passam boa
parte do dia sozinhos, em frente a aparelhos eletrônicos, na casa
de parentes ou vizinhos e, em muitos casos, na rua.
Outro dado significativo que foi mapeado é que, nas resi-
dências onde há um pai, ele é geralmente ausente ou omisso. Foi
identificado que, nos Estados Unidos, o pai fala com os filhos em
média apenas 30 minutos por semana, sendo que este mesmo jo-
vem fica uma média de 44 horas por semana em frente a um com-
putador ou TV. Não há conexão emocional desse filho com o seu
pai, mesmo que ele esteja fisicamente presente.
Esses garotos têm40:
• 4x mais chances de fumar;
• 2,5 x mais chances de fumar maconha;

40
Dr Phillip Zimbardo, Porque os garotos falham? https://www.youtube.com/watch?v=s-
gAu1i6aChs
Capítulo 4 – A Criança e a Pornografia • 81

• 2 x mais propensos a usar álcool; e


• 4 x mais chances de usar drogas pesadas durante a vida.
O Dr. Zimbardo cita uma pesquisa de Harvard com seus
ex-alunos, em que mediram o que eles consideraram como mais
importante para seu sucesso na vida. As respostas não estavam
relacionadas à quantidade de dinheiro que tinham, mas ao calor
de sua infância e ao quanto eles estavam perto do seu pai. Ho-
mens de sucesso, revelaram o quanto a presença de seu pai em
sua vida fez a diferença sobre o que vieram a se tornar.
No Brasil, segundo pesquisa feita pelo Instituto Data Popu-
lar em 2015, o número de mães solteiras é de 31%. São 20 milhões
em nossa nação. Ainda sobre o Brasil, o Instituto Data Folha41, em
uma pesquisa de 2007, identificou que 31% dos filhos na faixa etá-
ria entre 16 e 25 anos vivenciaram a experiência de terem seus
pais se divorciando. Ao considerarmos todas as faixas etárias, o
percentual é de 24%. As mulheres, na época da pesquisa, eram as
que mais ajuizavam o pedido de divórcio, 75% do total. Na divi-
são por região do Brasil, 22% dos sulistas têm os pais separados,
contra 25% em todas as outras regiões do país. Os filhos dos mais
pobres passam mais pela experiência: o percentual é de 25% entre
os que têm renda familiar mensal de menos de dez salários mí-
nimos; de 20% entre os que ganham de 10 a 20 salários; e de 16%
entre os de renda superior a 20 mínimos42.
A Dra. Rosane Mantilla Souza, psicanalista da PUC, diz que,
apesar da diminuição do preconceito com filhos de pais separa-
dos, a experiência ainda é dolorosa. Ela diz: “O fato de o casamento
estar desacreditado cria duas conseqüências para as novas gerações. Em
primeiro lugar, há um medo de assumir compromisso, porque diminui a
expectativa de que o casamento é para sempre. Por outro lado, isso pode
criar uma precipitação em se casar, porque o casamento não é visto com
tanta seriedade, ou até para tentar provar que aquela relação, sim, pode
dar certo.”

41
https://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/revistafamilia/rv0710200719.htm
42
O mesmo.
82 • Sexo sem cativeiro | Paulo Adriano Muniz Gouvêa

Outro dado preocupante vem da Apase – Associação de


pais e mães separados. Segundo a associação, 80% dos filhos de
pais separados, sofrem com alienação parental após o divórcio43.
Geralmente, um dos cônjuges, o que tem a guarda das crianças,
usa o filho para atingir o outro cônjuge. Os filhos ficam no meio
de um fogo cruzado.
Todos esses dados nos alertam para um preocupante futu-
ro. Os jovens da atual geração têm menos contato com figuras e
papéis importantes para sua vida. Seu pai e sua mãe, aqueles com
quem deveriam ter contato físico e emocional, não estão ligados
a eles muitas vezes nem física, que dirá emocionalmente. A bíblia
nos alerta em Malaquias 4.6 para os riscos dessa desconexão gera-
cional. A terra é ferida por maldição quando os corações de pais e
filhos não estão voltados uns para os outros.
Tal cenário torna os filhos vulneráveis a diversas formas
de assédio, uma vez que as crianças e os jovens estão ávidos por
conexão emocional. Seus corações estão abertos para o relaciona-
mento, mas na falta dele, muitos encontram refúgio no mundo
virtual. A pornografia está disponível 24 horas nos 7 dias da sema-
na. O Acesso é fácil, irrestrito e anônimo. Segundo a equipe do Dr.
Zimbardo, o site pornhub é o 35º mais acessado por crianças entre
os 6 e 14 anos no Reino Unido. Os jovens rapazes ficam entre o
video game e a pornografia muitas horas por semana, desconecta-
dos de relacionamentos reais.
Essa massiva exposição ao videogame e à pornografia faz
com que este jovem deseje estar jogando ou vendo pornografia
quando está realizando outras atividades. Em sala de aula, se en-
tedia rapidamente e começa a se imaginar jogando; numa reunião
familiar, começa a fantasiar que está jogando ou vendo pornogra-
fia. As demais atividades da vida se tornam enfadonhas e cha-
tas porque seu cérebro “virtualizou” e deseja apenas passar mais
horas e horas desconectado da realidade. Todo esse processo de
43
https://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/cidades/2014/04/27/interna_cida-
desdf,424885/cerca-de-80-de-filhos-de-pais-separados-sofrem-com-a-alienacao-parental.
shtml
Capítulo 4 – A Criança e a Pornografia • 83

desconexão familiar e conexão com o mundo virtual os torna mais


insensíveis a toques, a afeto, a carícias, à empatia ou às pessoas.
Tudo passa a girar em torno do seu prazer pessoal com o mínimo
de esforço possível. Aprendem a ter gratificações de forma estáti-
ca e egoísta.
Para vencer esse cenário, o Dr. Zimbardo recomenda que os
pais estejam mais atentos às atividades dos filhos, que coloquem
mais equilíbrio na vida dos filhos quando se trata de tecnologia,
invistam em almoços e jantares à mesa, sem equipamentos eletrô-
nicos. Em minha casa, optamos por comprar vários jogos de ta-
buleiro e brinquedos que possamos jogar com nossos filhos, uma
jovem e dois pré adolescentes, passando tempos de comunhão e
interação. O tempo deles com a internet está limitado a 1 hora
por dia para brincadeiras e 1 outra hora ao dia para pesquisas
escolares, quando necessário. Estou investindo em um tempo de
discipulado semanal com meus filhos a fim de ouvir suas dificul-
dades e orientá-los sobre seus desafios na vida. As notas escolares
melhoraram, a atenção às atividades do dia a dia melhorou e o
humor deles está muito bom. A tensão entre eles têm sido resol-
vida com conversa e menos discussão. Valeu a pena todo esse in-
vestimento.
Devemos orientar nossos filhos a terem menos tempo com
máquinas e mais tempo com pessoas, orientá-los a ter metas se-
manais, mensais, a praticarem esportes e a participarem de comu-
nidades e grupos reais. É importante estarmos juntos envolvidos
em projetos sociais e comunitários. Grupos como a igreja e a esco-
la são muito importantes, mas somos nós, os pais, que vamos criar
esse sabor pelos relacionamentos em nossos filhos. Eles já nascem
com essa predisposição de se apegar às pessoas. Nossa maior res-
ponsabilidade é sermos sal e luz na vida de nossos filhos.
84 • Sexo sem cativeiro | Paulo Adriano Muniz Gouvêa

Esse caloroso relacionamento entre pais e filhos é a grande


chave de Deus na proteção da próxima geração44. O Pastor Marcos
de Sousa Borges, em seu livro “O Avivamento do Odre Novo, Editora
JOCUM”, descreve os princípios da família. dando uma resposta
bíblica ao problema dos impactos que a falta de um pai e de uma
mãe podem causar na vida dos filhos. Vamos observar o diagrama
da família.

4. 3. 1 Diagrama da família
O diagrama da família é um quadro de valores que tem im-
pacto significativo na vida dos filhos e na formação de seu caráter.
É um mapa com os referenciais e valores que deveríamos receber
dentro do seio familiar. É na família que recebemos as primeiras e
mais significativas impressões para moldar nosso caráter e perso-
nalidade. Em muitos casos, esse relacionamento é caótico e pode
produzir várias fendas no coração de um filho. Mas, através de
um relacionamento genuíno com Deus, podemos receber aquilo
que fomos roubados em nossa família e estabelecer uma nova rea-
lidade para nossas vidas, nossos filhos e as próximas gerações.
A chave para a saúde de uma família é o relacionamento
saudável entre os Pais. O Fundamento para uma família saudá-
vel é um casamento saudável, onde marido e mulher cumprem
seus papéis e obedecem aos princípios de Deus no casamento.
Um presente que podemos dar aos nossos filhos é permitir
o tratamento de Deus em nossas vidas. Quanto mais curados e
sarados formos, mais de Deus teremos para oferecer aos nossos
filhos. Dentro da família temos os papéis das pessoas e funções
que o sistema familiar deve gerar na vida dos filhos.

44
Patricia M. Greenfield, “Inadvertent exposure to pornography on the Internet: Implications
of peer-to-peer file-sharing networks for child development and families,” Applied Deve-
lopmental Psychology 25 (2004): 741 – 750, http://www.cdmc.ucla.edu/Published_Resear-
ch_files/pg-2004.pdf (accessed March 21,2016).
Capítulo 4 – A Criança e a Pornografia • 85

O PRINCÍPIO DA FAMÍLIA
VALORES COMUNICADOS AOS FILHOS EM TRÊS NÍVEIS DE INFLUÊNCIA
FUNÇÃO DO PAI + FUNÇÃO DA MÃE + FUNÇÃO DO RELACIONAMENTO CONJUGAL

AMOR = LIMITES + AFEIÇÃO


AMOR  LIMITES = LIBERTINAGEM
AMOR  AFEIÇÃO = LEGALISMO
DIREÇÃO

PAI
LIMITES PROTEÇÃO

Noção de Missão
A

PAI
FID

EL
FIA

ID
+

+
N

AD

Família
CO

VÍNCULOS MÃE CASAL INTEGRIDADE

MÃE +
CASAL
COMPROMISSO
NUTRIÇÃO ORGANIZAÇÃO AFETIVIDADE COMPROMISSO

Noção de Submissão Noção de Equipe

Figura 10

Amor não é apenas afeição, também é limites. O equilíbrio


entre os dois vai definir a verdadeira liberdade que os filhos e seus
participantes vão gozar.
O Amor sem limites é libertinagem, amor sem afeição é legalismo.
O verdadeiro amor é a soma equilibrada de amor, limites e liberdade.45

45
Borges, Marcus de Souza, O Avivamento do Odre Novo, (Alm Tamandaré, PR, Editora JO-
CUM, 2011), página 187
86 • Sexo sem cativeiro | Paulo Adriano Muniz Gouvêa

• LIMITES produzem no caráter = disciplina, orientação e se-


gurança moral;
• AFEIÇÃO produz no caráter = compaixão, solidariedade e
fortalecimento emocional;
• A VERDADEIRA LIBERDADE = produz respeito, matu-
ridade e convivência. A dose correta destes elementos vai
gerar cura e vida. A dose errada pode matar.
Essa somatória de afeição, limites e liberdade nos relaciona-
mentos vai produzir o verdadeiro amor. Isso vai definir maturi-
dade e crescimento sadio da personalidade dos filhos e a boa con-
vivência. Tanto a libertinagem quanto o legalismo são elementos
tóxicos para qualquer relacionamento. Não há como gerar vínculo
seguro neste ambiente familiar. O relacionamento que se desen-
volve com legalismo ou libertinagem é contaminado e o desequilí-
brio que é provocado por ambos causa medo, rejeição, revolta nos
filhos, morte de propósitos e a quebra dos vínculos. Os relaciona-
mentos não sobrevivem com estes dois elementos.
A boa convivência por outro lado e o fortalecimento dos re-
lacionamentos familiares, ocorrem mediante a medida equilibra-
da e combinada de afeição, limites e liberdade. Pessoas geradas
neste ambiente familiar crescerão maduras, saudáveis emocional-
mente e serão frutíferas em seus relacionamentos. Caminharão no
que a bíblia chama de frutos do espírito santo.
Satanás tem bradado sobre o Brasil para liberar o espírito
de orfandade. Ele é pai da orfandade, mas o Senhor nos prometeu
que jamais nos deixaria órfãos, enviando o seu espírito aos nossos
corações. O Senhor fará o coração dos filhos se voltar para os pais
e dos pais para os filhos. Família e igreja são estruturas que foram
definidas por Deus para conduzir as pessoas ao seu propósito;
levar as pessoas à maturidade e a um lugar de frutificação. Quan-
do estas estruturas não funcionam, sérias distorções acometem a
vida das pessoas, deformando o caráter e atrofiando o propósito
para o qual foram criadas.
Capítulo 4 – A Criança e a Pornografia • 87

O ministério da reconciliação foi iniciado por Jesus e nos


dado como missão na terra. A família sempre foi um alvo de sata-
nás, isso vem desde o início. Vemos isso em gênesis com o primei-
ro casal e em várias outras passagens. As grandes investidas infil-
trativas dele são contra a família e contra o seio da igreja. A família
tem um papel fundamental na sociedade e a igreja eu vejo como
guardiã e disseminadora da verdade de Deus para a humanidade.
Inversão de valores, perversão sexual e desintegração da fa-
mília, são usados para eliminação dos impérios e sociedades ao
longo do tempo. Se infiltrar nesses pilares da sociedade é a missão
de satanás para destilar mentira e engano.

4. 3. 2 Princípios ou Função do Pai


As famílias são ambientes onde somos gerados e geramos
nossos filhos. O exercício de uma autoridade paterna cheia de ex-
tremos, pautada em ausência ou abuso, vai produzir uma série de
disfunções na vida dos filhos. A família é um sistema vivo e quan-
do há desgaste nas engrenagens, o sistema passa a não funcionar.
Ela foi feita para produzir vida, mas quando há este desgaste, o
sistema deixa de produzir o que ele foi feito para produzir.
Como filhos, somos resultado direto do perfil do relaciona-
mento de nossos pais entre eles e nós mesmos. Na igreja, o mesmo
fato gera grande impacto em nosso relacionamento com Deus e a
forma como seremos preparados para o grande comissionamento.
Quando a igreja se omite ou funciona num padrão de religiosida-
de e não no evangelho, o propósito da família não é alcançado, po-
dendo gerar uma sociedade legalista e prisioneira de suas cobiças.
A função do Pai comunica ou deixa de comunicar para os
filhos Direção, Limites e Segurança. Isso vai produzir nos filhos
noção de Missão e Liderança. O modelo de autoridade paterno
gera impacto na vida dos filhos no que diz respeito aos alicerces
de liderança e missão. O modelo de liderança pode ser definido
através destas três palavras. Direção, Limites e Segurança.
88 • Sexo sem cativeiro | Paulo Adriano Muniz Gouvêa

Direção: O Perfil do referencial do pai produz nos filhos


o senso de orientação e propósito. Aqueles que receberam esse
referencial não têm problemas em identificar propósitos na vida,
vocações ou concluir projetos. Quando há falha na comunicação
deste princípio, o resultado será filhos perdidos na vida quanto ao
que vão fazer profissionalmente, tomados por grande desorienta-
ção e falta de sentido. Quando isto é identificado na vida da pes-
soa, geralmente no aconselhamento vamos perceber o abandono
ou a falta de referencial paterno.
Limites: Dos limites vem nosso quadro interno de valores
morais. É desse referencial paterno que a pessoa forma sua capa-
cidade de sanidade moral, que é o discernimento sobre as leis que
governam o mundo moral e espiritual. O discernimento destes
limites é comunicado pelo estilo de vida do pai. As leis espirituais
regem o mundo das leis morais, esse é o aspecto fundamental da
formação do caráter. Comunicamos ou deixamos de comunicar
os limites ao cruzarmos nossas escolhas com estas leis espirituais
definidas por Deus.
O Pai constrói na vida dos filhos estes limites, esta cerca de
proteção espiritual sobre eles. Quando o Pai afirma, através de sua
conduta, esta consciência moral e sexual no caráter dos filhos, ele
estará produzindo na próxima geração padrões de escolhas que
protegerão suas vidas e os seus relacionamentos.
Muitos pais cristãos estão falhando em comunicar princí-
pios e valores para os filhos. Principalmente porque a maioria não
é coerente no seu comportamento dentro da igreja e em sua casa.
O evangelho que nossos filhos leem é aquele que praticamos em
nossa vida. A hipocrisia dos pais cristãos fere os filhos, muitas ve-
zes os levando a um esfriamento na fé.
Obediência se ensina obedecendo, há uma grande diferen-
ça entre ensinar os mandamentos e guardar os mandamentos. O
primeiro é legalismo o segundo é evangelho, os mandamentos são
guardados no coração de nossos filhos através de nosso estilo de
vida, desta forma, essa luz jamais se apagará em seus corações.
Capítulo 4 – A Criança e a Pornografia • 89

Proteção: O senso de segurança e confiança que constrói a


autoestima vem do perfil do pai. O Posicionamento, o espírito de
presença, a iniciativa e provisão comunicam segurança e descan-
so. Quando o pai é responsável e provedor, os filhos descansam
pois se sentem seguros.
As necessidades dos filhos devem ser priorizadas e saciadas
por um pai responsável e focado naquilo que elas precisam. A fal-
ta de comunicação desta função vai gerar filhos ansiosos e insegu-
ros. Pais violentos e que não se preocupam com as necessidades
de seus filhos, injetam em sua personalidade altas doses de medo,
insegurança, estresse e ansiedade crônica.

4. 3. 3 Princípios ou Função da Mãe46


A função da Mãe comunica ou deixa de comunicar para os
filhos nutrição, vínculos e organização. Imprimem na persona-
lidade dos filhos a capacidade de administrar. Vai fortalecer nos
filhos uma noção de submissão e apoio. (Salmo 131.2). A mãe é a
preparação para nosso relacionamento com o espírito santo. Vai
trazer uma revelação da figura e do relacionamento com o Espí-
rito Santo na liberação dos dons. Através da mãe aprendemos a
receber as coisas e sermos nutridos.
Administração pode ser definida por estas três palavras.
Vínculos, nutrição e organização.
Vínculos: É a capacidade de se integrar, ganhar autonomia
proporcionando naturalidade e desinibição em seus relaciona-
mentos. A misericórdia é comunicada de forma mais forte na fun-
ção da mãe. Normalmente erramos muito e nossas mães estão ali
para nos consolar e nos ajudar a seguir em frente. São acolhedoras
e amáveis, nos comunicam esta noção de investir nos relaciona-
mentos e administrar os vínculos.

46
Borges, Marcus de Souza, O Avivamento do Odre Novo, (Alm Tamandaré, PR, Editora JO-
CUM, 2011), página 189
90 • Sexo sem cativeiro | Paulo Adriano Muniz Gouvêa

O perdão é fortemente comunicado aqui. Filhos que não ti-


veram um relacionamento com a mãe por não conhecê-las ou com
mães que agiam de forma dura e crítica, vão carregar isso consigo
e podem reproduzir essa conduta em seus relacionamentos. Mui-
tos filhos desenvolvem timidez crônica e/ou passividade em sua
personalidade. A capacidade de se expressar e construir relacio-
namentos sadios vem da mãe.
Nutrição: Capacidade de exercer cuidado, traz noção de so-
lidariedade e amor. A sensibilidade de uma mãe às necessidades
dos filhos é muito maior do que a do pai. Há uma intuição e sensi-
bilidade espiritual da mãe natural que a ajudam no cumprimento
desta função. Muitas vezes olhando ou ouvindo a voz do filho,
a mãe percebe que ele precisa de algo e o procura para atender
aquela necessidade. Mães que não comunicam esta função, vão
gerar filhos anoréxicos emocionalmente, que vão buscar migalhas
em qualquer outro lugar.
Organização: Enquanto o pai governa o lar a mãe edifica.
Essas são funções e não posições. Ela é a organizadora da casa,
promovendo um ambiente de ordem e ao mesmo tempo acon-
chego. Deve promover um ambiente emocional de agregação e
integração. A mulher sábia sabe se relacionar com o marido e co-
municar as necessidades da casa sem criar um ambiente de confu-
são. A mulher tola destrói este ambiente com as próprias mãos. O
marido é o pólo racional e a mãe é o polo emocional.

4. 3. 4 Princípio ou Função do Casal47


“Vós mulheres, submetei-vos a vossos maridos, como ao Senhor…
Vós Maridos, amai as vossas mulheres, como também Cristo amou a
igreja…” (Ef 5.22-25)
O amor e a submissão precisam andar juntos. Um relacio-
namento sem uma boa sinergia destes dois elementos, vai produ-

47
Borges, Marcus de Souza, O Avivamento do Odre Novo, (Alm Tamandaré, PR, Editora JO-
CUM, 2011), página 187
Capítulo 4 – A Criança e a Pornografia • 91

zir um grande desgaste no casal e nos filhos. O perfil do relacio-


namento conjugal também vai desempenhar um papel na vida
dos filhos. O relacionamento entre pai e mãe, dentro de uma boa
combinação entre amor e submissão, vai comunicar sexualidade
(Eros), afetividade (Ágape) e companheirismo (Phileo), transfe-
rindo ou não para os filhos noção de equipe.
Liderança e Administração: Basicamente a mulher tem a
função de administração e o homem de liderança. Liderar é visua-
lizar o alvo certo, designando uma direção para um grupo. Admi-
nistrar é o processo diário de planejamento em função de um alvo
estabelecido. Sem o alvo, o planejamento não tem sentido e sem a
liderança, a administração perde o sentido.
A liderança lida com os objetivos a serem alcançados. A ad-
ministração lida com a melhor forma de utilizar os meios e recur-
sos, qual o melhor método. O primeiro diz onde? O segundo diz
como? Se o casal consegue equilibrar e criar a sinergia adequada
em seu relacionamento nesta área, os filhos vão aprender e desen-
volver excelentes características de liderança e administração.
Missão e Submissão: Submissão é incorporar a missão de
ajudar outra pessoa na missão dela. Uma não existe sem a outra.
Antes de uma mulher se casar com um homem, ela precisa saber
qual é a missão dele. Se a noiva não pode se “casar” com a missão
do noivo, ela não deve ir em frente nesse relacionamento.
Hoje vejo muitos homens e mulheres frustrados profissio-
nalmente e vocacionalmente por casarem-se com pessoas cuja
missão era diferente do que esperavam. Muitos homens com cha-
mado pastoral significativo, simplesmente apostataram da fé por
casarem-se com mulheres que não desejavam ser esposa de pas-
tor. Tal fato gera muito desgaste no casal e nos filhos, que não
raramente vão presenciar cenas de embate entre os pais.
O modelo de autoridade exercido dentro do relacionamento
conjugal é responsável, em relação aos filhos, pelos elementos que
fundamentam uma capacidade de trabalhar em equipe.
92 • Sexo sem cativeiro | Paulo Adriano Muniz Gouvêa

Sexualidade: Uma visão sexual sadia é uma forte proteção


contra ciladas do diabo. Uma vida sexual bem resolvida, evita per-
turbação demoníaca em sua relação pessoal. Muitos divórcios têm
acontecido, devido à falta de transparência e integridade na vida
sexual de muitos casais. É muito importante que cada cônjuge te-
nha sua vida sexual muito bem resolvida antes do matrimônio. Se
isso não aconteceu, precisamos manter nossa vida sexual na luz
e no temor de Deus, para que aquilo que não se atingiu sozinho,
possa ser conquistado no dia a dia do casal.
Justamente por não conhecer ou obedecer essas regras, pes-
soas acabam trazendo para dentro de sua família vários tipos de
contaminações e perturbações na área sexual. Casos como abusos
sofridos na infância ou outras fases da vida, adultérios ocultos,
desejos homossexuais, práticas de perversões sexuais como bes-
tialidade, masoquismo, coprofagia, pedofilia entre outros, são as-
suntos que precisam vir à luz na vida do casal antes que o mesmo
faça uma aliança de casamento. O cônjuge tem o direito de saber
de tudo isso antes de aceitar entrar em matrimônio com quem tem
estes conflitos na sua vida sexual.
Por outro lado, quando o casal vive dentro de sua vida se-
xual os princípios da integridade, fidelidade conjugal e a verda-
deira intimidade emocional, os filhos receberão noções que mol-
darão seu caráter de forma a protegê-los de contaminações na sua
vida sexual. A vida sexual dos pais funciona como um teto espiri-
tual na vida dos filhos, dependendo do estilo de vida sexual dos
pais, esses filhos podem estar protegidos ou expostos a todo tipo
de ataque espiritual maligno.
Afetividade: Se manifesta através do carinho, compreensão,
respeito e paciência ao longo do relacionamento. Quando os filhos
observam os pais praticando dia a dia este princípio, o caráter de-
les é moldado de forma positiva. O grande segredo aqui é não dei-
xar a agressividade e a contenda entrarem ou crescerem dentro do
relacionamento. Devemos ser inimigos da contenda e afastar esta
prática de nossos lares. As contendas nos lares são resultado de
Capítulo 4 – A Criança e a Pornografia • 93

nosso orgulho ferido, normalmente surgem nas pequenas coisas


do cotidiano e acabam crescendo, se não nos valermos de perdão
e reconciliação como estilo de vida. A contenda produz o perigoso
jogo do quem fere mais o outro.
A contenda transforma o lar num ringue, que acaba minan-
do a segurança e a confiança dos filhos, que recebem toda essa
sobrecarga emocional, podendo reproduzir na vida deles esta
mesma situação. O ambiente ideal é construído em cima de afeti-
vidade e domínio próprio. Quando nossas reações diante de con-
frontos e pressões que invariavelmente atingem nossos lares são
de controle emocional e domínio próprio, teremos maior possibi-
lidade de dar uma resposta madura, proporcionando aos filhos
um melhor referencial e influência quando tiverem que lidar com
suas próprias situações de conflito e estresse.
Companheirismo: proporciona parceria, capacidade de li-
derar e apoiar. Isto fortalece nos filhos a capacidade de exercer
e cumprir acordos. Esse entrosamento do casal em questões mi-
nisteriais, espirituais, físicas, emocionais e profissionais são extre-
mamente positivos para o ambiente familiar. Quando Deus nos
comissiona a nos tornarmos uma só carne com nosso cônjuge, ele
está dizendo que devemos ter também um só pensamento e estar-
mos unidos em todas essas áreas. O casal para atingir isso deve
principalmente desenvolver uma boa habilidade de comunicação,
pois as diferenças irão surgir, mas é muito importante aprender a
esgotar o assunto e não um ao outro.
Quando o casal aprende a praticar a interdependência e
trabalhar como um time, os filhos aprenderão a caminhar den-
tro dessas mesmas bases e irão transferir tais práticas para seu
cotidiano. Assumir papéis de liderança e trabalho conjunto será
algo natural para esses filhos; eles aprendem a não fugir de suas
responsabilidades e têm mais chances de se tornarem bem suce-
didos. Aprendem a lidar com conflitos e a lidar com as diferenças
sem perder o foco no resultado final do objetivo a ser alcançado.
94 • Sexo sem cativeiro | Paulo Adriano Muniz Gouvêa

Quando observamos este diagrama, podemos observar de


onde vem muitas de nossas disfunções e maus hábitos. Quando
conseguimos enxergar essa construção, podemos fazer o caminho
de volta e tomar as decisões corretas para ajustar os trilhos de nossas
vidas. Gostaria de lembrar que não são os erros de nossos pais ou
de outras importantes figuras de autoridade em nossas vidas que
tornaram nossas vidas difíceis ou acabaram com nossas chances de
felicidade. O que faz a diferença em nossas vidas é o que escolhe-
mos fazer com os traumas e abusos que sofremos ou cometemos.
Jesus nos oferece o caminho de vitória sobre essas situações.
Ele nos oferece o seu perdão para tudo o que fizemos, e nos con-
vida a perdoar e abençoar aqueles que falharam conosco. Esta é a
melhor forma de resolver o nosso passado e seguirmos uma vida
livre das dores e prejuízos que nos causaram. A DOR EMOCIO-
NAL precisa ser crucificada através do perdão, pois isso ressigni-
fica nosso passado, muda nosso presente e garante nosso futuro.

4. 3. 5 O Papel dos Filhos


Os filhos têm, da mesma forma que os pais, importante pa-
pel dentro da família. Uma das maiores responsabilidades de um
filho é receber de seus pais e transmitir para a próxima geração a
verdade e o culto a Deus. Ele vai transferir essa verdade através
daquilo que ele recebeu de seus pais, de acordo com cada item
que mencionamos no diagrama da família.
A bíblia traz várias instruções para os filhos em relação
aos pais:
• Pv 10:1 “O filho sábio alegra o seu pai.”
• Pv 13:1 “O filho sábio ouve a instrução do pai.”
• PV 28:7 “O que guarda a lei (a Palavra) é filho entendido (­sábio).”
• Ef 6:1 “Vós, filhos, sede obediente a vossos pais no Senhor.”
• Ef 6:2 “Honra o teu pai e a tua mãe”
• Cl 3:20 “Vós filhos obedecei em tudo a vossos pais”
Capítulo 4 – A Criança e a Pornografia • 95

• I Tm 5:4,8 Ex 21:15 “Quem ferir a seu pai ou sua mãe será


morto.”
• Mc 7:10 “Honra o teu pai e tua mãe, e quem maldisser a seu
pai ou sua mãe, seja punido de morte”
• Lv 20:9 “Quando um homem amaldiçoar a seu pai ou sua
mãe, certamente será morto” Dt 21:18-21 I
Obediência e Submissão: Estes dois princípios são inego-
ciáveis para os filhos em relação aos pais, porque são mandamen-
tos. Deve ser uma submissão voluntária, um ato da própria von-
tade através do qual nos sujeitamos ao melhor critério ou governo
de outra pessoa. Há um reconhecimento de autoridade por parte
do que se submete para com aquele a quem se sujeita, e não um
sentimento de desvalorização própria.
Honra e Respeito: Efésios 6.2-3 “Honra a teu pai e a tua
mãe, que é o primeiro mandamento com promessa; para que te vá
bem e seja de longa vida sobre a terra.” Êxodo 20:12 “Honra a teu
pai e a tua mãe para que teus dias se prolonguem na terra que o
Senhor teu Deus te dá” O respeito brota de uma atitude interior de
reconhecimento e apreço pela função dos pais.
Amor e Amizade: É preciso desenvolver um trato afetuoso
entre pais e filhos, expressar o amor de acordo com a linguagem
de amor da pessoa é fundamental para que haja a afirmação deste
amor. A pessoa experimenta este amor quando falamos na lingua-
gem dela.

4. 4 PREVENÇÃO – COMO PROTEGER NOSSOS FILHOS


Não será uma série de bloqueios e regras que irá guardar e
proteger nossos filhos dos assédios digitais da pornografia e ou-
tros males. É a nossa disposição em nos relacionarmos com eles
de forma saudável e satisfatória. A família é a igreja doméstica
e como pais somos comissionados a “e ensiná-las-eis a vossos
filhos, falando delas sentados em vossas casas e andando pelo
caminho, ao deitar-vos e ao levantar-vos; e escrevê-las-eis nos
96 • Sexo sem cativeiro | Paulo Adriano Muniz Gouvêa

umbrais de vossas casas, e nas vossas portas; para que se multi-


pliquem os vossos dias e os dias de vossos filhos na terra que o
Senhor, com juramento, prometeu dar a vossos pais, enquanto o
céu cobrir a terra.” Dt 11.19-21
Casamento é a maior ferramenta criada por Deus para o
evangelismo e discipulado de nossos filhos. Ensinamos nossos
filhos no caminho que eles devem andar quando somos reflexo
de Deus na vida de nosso cônjuge e na vida deles. O Evangelho
não é transmitido com legalismo. A forma de ensinar nossos fi-
lhos é através do nosso relacionamento com eles. Graça, Amor,
misericórdia, Compaixão e Perdão são transferidos de geração em
geração com nossas atitudes. Evangelho é RELACIONAMENTO.
Pais amorosos e presentes na vida dos filhos são mais po-
derosos em efeito contra o pecado do que qualquer ferramenta de
filtro ou controle virtual. O exemplo dos Pais será a maior memó-
ria influenciadora no coração de um filho. Nada afoga mais a fé
de um jovem, do que a incoerência da vida de seus pais com a fé
que professam.
O coração de uma criança está ávido por alegria e amor
nos relacionamentos, principalmente com seus pais e familiares.
Receber toques, afeto e comunhão saudáveis vão fortalecer suas
emoções e preencher seu coração do verdadeiro amor e de verda-
des acerca dos relacionamentos e do valor das pessoas. A criança
normalmente está pronta a receber vida das pessoas que os cer-
cam. Ela normalmente está mais próxima da família e de um ciclo
social mais restrito.
O coração de um jovem está cheio de questionamentos e in-
seguranças devido às importantes mudanças que seu corpo e seu
convívio social normalmente estão sofrendo. Seu coração está aber-
to ao discipulado dos pais se a sua infância foi calorosa e receptiva.
Mas se a infância foi desconectada, normalmente é nesta fase que o
coração do jovem não está voltado para os pais e ele se volta para
qualquer tipo de discipulado externo, muitas vezes movido por um
sentimento de rebelião consciente, para ferir os pais.
Capítulo 4 – A Criança e a Pornografia • 97

Conheci a história de um jovem que jamais sentiu desejos


homossexuais, mas ao descobrir que seu pai, um pastor líder de
um grande ministério não gostava de homossexuais, ele se lançou
no mundo gay com o objetivo claro de machucar seu Pai devido
à sua ausência e legalismo na infância. Viveu este estilo de vida
por alguns anos e percebeu que na tentativa de machucar o pai,
apenas feriu a si mesmo profundamente.
Um jovem precisa de tempo de qualidade com o Pai. As
brincadeiras nessa fase dão lugar a conversas e instruções precio-
sas para a vida. Tempo de qualidade é fundamental, sendo neces-
sário o interesse dos Pais pelas decisões e gostos do filho. Não é
uma questão de controle, é uma situação de estar interessado em
apoiar o filho em suas escolhas profissionais, estimular dons e ta-
lentos bem como estar presente nas situações de conflitos pessoais
e necessidades emocionais. Um filho precisa estar seguro do amor
dos pais e de que pode contar com eles como um porto seguro.

4. 5 O PODER DE UM LAR
Assim como uma casa tem telhado, paredes, portas, janelas
e fundações, o relacionamento familiar tem a mesma representa-
tividade para todos emocionalmente. A família, mais do que uma
casa, precisa construir e viver a realidade de um LAR. Precisamos
orientar nossos filhos quando e como abrir as portas, em que si-
tuações eles apenas devem contemplar pela janela e para o que
eles devem manter até mesmo as cortinas fechadas.
O telhado de uma casa é a cobertura espiritual da mesma.
Os pais dão essa cobertura aos filhos, evitando brechas espirituais
e protegendo os filhos de influências externas negativas. É muito
importante para que esse teto esteja intacto, que os pais cuidem de
sua vida sexual e espiritual principalmente. Em todos meus acon-
selhamentos e de vários outros pastores amigos, percebemos que
em 100% dos casos de crianças que foram abusadas sexualmente
na infância, havia uma brecha espiritual aberta por um dos pais.
98 • Sexo sem cativeiro | Paulo Adriano Muniz Gouvêa

Esse filho foi gerado fora de uma aliança de casamento ou


pelo menos um dos pais estava envolvido com situações de imo-
ralidade sexual. Se tem algo que precisa estar na luz é nossa vida
sexual. Davi cometeu um adultério e assassinato, tal brecha des-
cobriu seus filhos espiritualmente e as consequências sobre aquela
família foram terríveis. O que ele fez escondido, seu filho Absalão
fez na frente de toda a comunidade israelita.
A fundação de uma casa deve ser construída na rocha que
é Cristo. Nosso lar deve ter a palavra de Deus como verdade ab-
soluta, a comunhão com Deus através do Espírito Santo e Jesus
como o caráter e personalidade a ser imitada e multiplicada na
vida de nossos filhos. O evangelho de Deus deve ser este firme
fundamento para nossas crenças e visão do mundo. Quando nos-
sos filhos têm contato com a verdade de Deus, eles não serão en-
ganados pelas mentiras do mundo.
As paredes são limites protetores para a vida dos filhos, in-
dicando segurança e conforto. Essas paredes também são colunas
importantes que sustentam a cobertura espiritual do lar. Essas co-
lunas são melhor representadas por aquilo que os filhos recebem
de seus pais como AMOR, RESPEITO, RESPONSABILIDADE,
VERDADE, COMPROMISSO, entre vários outros valores que a
família considere importantes para seu convívio.
Esse lar fortalece várias áreas importantes na personalidade
de nossos filhos. Uma das mais importantes é o valor que eles têm
para Deus. A pornografia ensina uma falsa crença de que para se
ter valor, é necessário ter beleza e sensualidade. Ela vende a ideia
de que o centro de qualquer relacionamento é o sexo e o prazer,
não havendo limites para se alcançá-lo. Ensina que nosso senso de
valor está atrelado à performance sexual, um conjunto de movi-
mentos e toda sorte de objetos sexuais.
Cabe aos pais, desde muito cedo, comunicar a verdade de
Deus sobre quem a criança é como ser humano. Seu real valor
para Deus e para as pessoas. Que o centro de um relacionamento
deve ser o amor incondicional mútuo e por Deus. A melhor ma-
Capítulo 4 – A Criança e a Pornografia • 99

neira de valorizar alguém é amando-a e construindo um relacio-


namento saudável. Sexo é periférico em um relacionamento, ele
não é a mola propulsora muito menos a finalidade pela qual os
casais se unem. Sexo é um presente de Deus para os casados ex-
perimentarem uma maior unidade e conexão no relacionamento.
Não ensinamos sexo para crianças pequenas abertamente.
Eles vão absorvendo informações saudáveis sobre sexo quando os
pais respeitam os limites de seu corpo, olham para a criança com
um olhar amoroso e respeitoso. Abraçam seus filhos de forma se-
gura e protetiva. Se relacionam no dia a dia comunicando alegria
e amor a eles. Quando eles se tornam adolescentes, à medida que
eles se mostram curiosos, os pais devem estar prontos para orien-
tá-los naquilo que eles forem perguntando. As respostas e orien-
tações devem ser à luz da palavra de Deus48.
Estas atitudes vão criar em nossos filhos um verdadeiro
senso de identidade e valor próprio, protegendo-os de qualquer
assédio externo e toques maliciosos. Eles vão crescer sabendo o
que é um relacionamento saudável e um tóxico, bem como estarão
prontos para dizer não a tudo aquilo que não estiver comunican-
do amor para eles.
Um abuso sexual na infância tem o poder de deformar a
maneira como a pessoa enxerga os relacionamentos, seu senso de
valor e o sexo, afastando seu coração e suas crenças do que de fato
seria o verdadeiro amor, lançando esse filho ao mundo de lascívia
e luxúria; o que só vai aumentar o seu déficit de amor. Muitos
acreditam que se falarmos com nossos filhos jovens sobre sexo es-
taremos estimulando sua curiosidade e sexualidade. É um grande
engano, o que os estimula negativamente é o abuso sexual e são
as mensagens mentirosas sobre o sexo. Os jovens estão curiosos e
precisam dessa orientação dos pais para serem guardados e pro-
tegidos das mentiras contadas pela mídia e por uma sociedade se-
xualizada. O coração desse jovem deve estar conectado ao coração

48
Messing, Jennifer. Everyone’s Story in Light of St. John Paul II’s Theology of the Body. Han-
dout. Into the Deep. Minneapolis, Minnesota. 2015.
100 • Sexo sem cativeiro | Paulo Adriano Muniz Gouvêa

de seus pais, como diz Malaquias 4.6, para facilitar sua aceitação
dos ensinamentos vindos dos seus pais.
Invista tempo no relacionamento com seu filho e sua espo-
sa. A melhor forma de se proteger e garantir que seus filhos sejam
menos vulneráveis aos assédios da pornografia, é dedicar tempo
de qualidade com eles e amar sua esposa. Seu casamento deve
produzir sede nos seus filhos de constituir e preservar a família
deles.

55
Capítulo 5 – A Mulher
e a Pornografia
“Do mesmo modo vocês, maridos, sejam sábios no convívio
com suas mulheres e tratem-nas com honra, como parte mais
frágil e co-herdeiras do dom da graça da vida, de forma que
não sejam interrompidas as suas orações.” I Pedro 3.7

A Dra. Jill C. Manning, Ph.D e terapêuta clinica e de famílias, fi-


cou assustada certo dia ao ver uma cena no mínimo curiosa. Ela
avistou uma jovem adolescente vestida com um top rosa que di-
zia: “futura estrela pornô”. Tal cena despertou curiosidade em Jill,
que ajuda várias pessoas na luta contra o impacto da pornografia
em sua vida e relacionamentos. O que faz uma jovem aspirar uma
posição onde ela será tratada com violência e estará sujeita a vá-
rios tipos de abusos49?
Ela se perguntava quando o trabalho opressivo e desespe-
rador da pornografia se tornou engraçado ou desejável a estes jo-
vens? A quem essa jovem deseja atingir ou provocar? Os produto-
res pornográficos estão trabalhando forte na “glamourização” das
estrelas e astros pornôs. Não é difícil ver seus rostos estampados
em comerciais e pôsteres nos shoppings nos Estados Unidos. A
indústria pornô têm se esforçado para comunicar um mundo fan-
tasioso de prazeres e luxo aos desavisados consumidores de seus
conteúdos. Muitos acabam acreditando em seus apelos e muitas
vezes só se dão conta das consequências negativas que a porno-

49
Jill C. Manning, Ph.D., LMFT. The Impact of Pornography on Women: Social Science Fin-
dings and Clinical Observations (2008).
102 • Sexo sem cativeiro | Paulo Adriano Muniz Gouvêa

grafia causa, quando os prejuízos invadiram suas vidas e devasta-


ram seus relacionamentos.
Hoje a pornografia é cantada pelos sertanejos, cantores de
forró e principalmente pelos funkeiros. Essas músicas constroem
crenças erradas nos que as ouvem e revelam aquelas que já estão
formadas nos que as cantam. Elas estão nas rádios, nas casas e nos
automóveis. Os jovens acham engraçado e associam os conceitos
de diversão e animação àquelas mensagens eróticas das canções.
A pornografia está presente massivamente nos comerciais
de televisão, nos programas de auditórios, nos outdoor´s das ruas,
nas redes sociais e em todo lugar. A mensagem é de que a sensua-
lidade e a fantasia pornográfica é o que existe de melhor dentro do
sexo. Levantam a bandeira do modernismo e da quebra de tabus,
que ser moderno é ser “livre” para ver o que queremos à hora que
se quer. No Brasil essas mensagens e seus “Falsos Profetas” têm
encontrado guarida principalmente nos corações dos filhos dos
pais ausentes e desconectados.
O centro do material pornográfico gira em torno do corpo
feminino. As principais estrelas das peças pornográficas normal-
mente são as mulheres. A exceção a essa regra são os filmes com
conteúdo homossexual para o público Gay. A proposta comercial
dos produtores ao colocar a mulher como a principal estrela dos
filmes não tem a finalidade de valorizar seu papel ou empode-
rar sua feminilidade. Essa centralização tem a finalidade de atrair
aqueles que até agora são os maiores consumidores de pornogra-
fia no mundo, os homens.
Esta exposição e centralização feminina tem sérias conse-
quências para as mulheres. O consumo excessivo por parte dos
homens muda completamente a sua forma de ver e viver o sexo.
Eles absorvem conceitos totalmente equivocados e distorcidos
sobre relacionamento. Neste livro já abordamos várias das con-
sequências que são produzidas naqueles que se expõem ao con-
teúdo erótico.
Capítulo 5 – A Mulher e a Pornografia • 103

O paradigma da pornografia atual está mudando inclusive


a perspectiva que temos em relação à mulher. Não podemos mais
observá-las apenas como a grande vítima da pornografia, uma
vez que agora as mulheres também estão consumindo de forma
abrangente material pornografico, objetificando os homens e pro-
duzindo seus próprios filmes e conteúdos eróticos. Agora são elas
que estão se entregando ao discipulado nocivo e desequilibrado
provocado pela pornografia.
Existem produtoras se especializando em conteúdo porno-
gráfico voltado para o público feminino. Onde existe mais diálo-
go, mais “envolvimento emocional” por parte dos participantes,
menos cenas de violência e atores com corpos mais próximos da
realidade. A verdade é que mesmo com tais mudanças, continua
sendo pornografia, com todos os efeitos que ela provoca, já com-
provados cientificamente. Não importa o enredo, pornografia é
virtual e artificial, como já dissemos, ninguém mata a sede vendo
alguém beber água por uma tela de computador.
Não precisamos de filmes eróticos românticos, precisamos
de relacionamentos saudáveis onde nos dispomos à fidelidade
conjugal, respeito mútuo, honra, integridade e demais princípios
que fortalecem e empoderam os relacionamentos. É o bom cará-
ter de homens e mulheres que empoderam ambos a viverem a
verdadeira essência de um matrimônio. As pessoas têm esculpido
nas academias os corpos que o sexo pede, mas têm esquecido de
construir o caráter que o relacionamento precisa.

5. 1 OS AVANÇOS E OS RETROCESSOS SOCIAIS


Podemos reconhecer que nos últimos anos as mulheres con-
quistaram direitos importantes na sociedade e alcançaram um
papel social significativo e não mais secundário. Porém, se con-
trapondo a este avanço, nunca a sociedade foi tão sexualmente
explícita, invasiva, grosseira e mais arriscada em relação a mulher.
“Por exemplo, tendências modernas no consumo e produção de porno-
grafia, mídia sexualizada, crime sexual, doenças sexualmente transmis-
104 • Sexo sem cativeiro | Paulo Adriano Muniz Gouvêa

síveis, predadores sexuais on-line, serviços de encontros pela Internet, e


o cyber bullying sexualizado se combinam para tornar seu mundo mais
distorcido sexualmente, assustador e agressivo do que nunca.” Conta
Jill Manning.
A pornografia sempre existiu, a grande problemática atual
é que ela nunca esteve tão acessível como agora. As crianças me-
nores nunca foram presas tão fáceis para o conteúdo pornográfico
via internet. A pornografia sempre causou problemas para quem a
consumia, mas agora, ela potencializou seu alcance e seus efeitos
de uma forma jamais experimentada. Tem ganhado uma propor-
ção enorme e em grande velocidade sem qualquer regulamenta-
ção no Brasil ou na maioria dos países do mundo.
Tal advento nos coloca frente a frente com a próxima revo-
lução sexual. Cooper, Boies, Maheu e Greenfield (1999) afirmam:
“Desde a sua criação, a Internet tem sido associada a sexualidade em
uma espécie de dança sinérgica, cada um alimentando a transformação
do outro. A influência da Internet sobre a sexualidade é provável que seja
tão significativa que acabará por ser reconhecida como a causa da próxi-
ma “revolução sexual” (p 519)”
Zillman (2000) descobriu que a exposição frequente à porno-
grafia era associada às seguintes atitudes e dinâmicas na mulher:
• Reagir com normalidade diante de conteúdo ofensivo;
• Ter maior tolerância em relação ao material sexualmente ex-
plícito, exigindo mais material novo ou bizarro para atingir
o mesmo nível de excitação ou interesse;
• Ter percepções equivocadas sobre atividade sexual exagera-
da na população em geral e prevalência de práticas sexuais
menos comuns (por exemplo, sexo grupal, bestialidade e
atividade sadomasoquista);
• Diminuir sua confiança em parceiros íntimos;
• Diminuir seu desejo de alcançar exclusividade sexual com
um parceiro;
Capítulo 5 – A Mulher e a Pornografia • 105

• Ter maior risco de desenvolver uma imagem corporal nega-


tiva, especialmente para mulheres (Siegel, 1997).
• Aceitar a promiscuidade como um estado normal de inte-
ração;
• Ver inatividade sexual ou abstinência como um risco para
a saúde;
• Começar a ver o amor de maneira cínica;
• Acreditar que a satisfação sexual superior é atingível sem
ter afeição por um parceiro;
• Acreditar que o casamento é sexualmente confinante;
• Acreditar que criar filhos e ter uma família é uma perspecti-
va pouco atraente.
Todos estes conceitos estão impactando diretamente os re-
lacionamentos na atualidade e construindo uma consciência con-
jugal insustentável na atual e futura geração. A tendência dessa
revolução sexual é o caos social dos relacionamentos, com o possí-
vel fim dos casamentos e eliminação da família tradicional.
Aproximadamente 30% dos consumidores de pornografia
na Internet são mulheres50.Esse crescimento do acesso por parte
das mesmas a conteúdo pornográfico também está muito rela-
cionado a uma batalha por igualdades que elas têm enfrentado
em vários campos. A internet só virou mais um deles, porém, os
resultados para elas têm sido negativos, na maioria dos relatos.
O consumo feminino difere do masculino, enquanto os homens
vem consumindo pornografia como consomem água ou comida,
as mulheres acessam poucas vezes mensalmente e têm intervalos
maiores entre cada seção em sua grande maioria51.
O número vem crescendo a cada ano com novas tecnolo-
gias e aplicativos de encontros casuais se multiplicando. Esses
aplicativos têm se tornado populares entre os brasileiros. Em uma
recente pesquisa realizada pelo Happn Brasil, feita em parceria

50
Internet Estatísticas de Pornografia, 2008; Nielsen // NetRatings, abril de 2005
51
Martin Hald, 2006.
106 • Sexo sem cativeiro | Paulo Adriano Muniz Gouvêa

com a YouGov, onde foram entrevistados 1000 brasileiros sendo


52% mulheres e 48% homens, 60% deles responderam que usam
os aplicativos para conhecer novas pessoas. 71% afirmou que seu
interesse nos aplicativos é para “fazer amigos” e 45% afirmou que
usam as ferramentas virtuais para encontros sexuais casuais, sem
compromisso. Outros estudos52 indicaram a influência da porno-
grafia na realização de sexo oral e anal. A maioria das mulheres
relata que a experiência do sexo anal é violenta e negativa53.
Martin Hald também pesquisou que as mulheres assistem
mais pornografia “softcore” e menos “hardcore”, grande grupo
assiste mais junto a seus parceiros do que sozinhas, masturbam-se
muito menos com pornografia do que os homens e assistem cenas
onde uma mulher tem relação com vários homens. Recentemente
uma pesquisa com poucos fins científicos, realizada pelo portal
Pornhub, maior portal do mundo na área de pornografia, revelou
que as mulheres atualmente também se interessam por cenas lés-
bicas e homossexuais.
Atualmente, com a facilidade de acesso aos smartphones,
as pessoas tem produzido massivamente seu próprio conteúdo
com os nudes e sexting. Tenho acompanhado vários homens nos
últimos anos e quase todos pedem para as mulheres que eles as-
sediam (muitas eles nunca conheceram pessoalmente), que elas
enviem conteúdo erótico pessoal pelos aplicativos de mensagem
ou redes sociais.
Eles comentam que seus hábitos são os seguintes: Primeiro
começam suas buscas pelo facebook ou instagram e depois en-
tram em contato com as mulheres para conseguir seu telefone de
contato para manter uma conversa mais reservada via whatsapp.
Após uma rápida apresentação, eles pedem para que elas enviem
fotos e vídeos íntimos. Se elas cederem, eles abrem para uma con-
versa on line via vídeo chamada, para que ambos se masturbem.

52
Rogala & Tydén, 2003; Tydén & Rogala, 2004; Häggström-Nordin, et al., 2005.
53
Rogala & Tydén, 2003.
Capítulo 5 – A Mulher e a Pornografia • 107

Ele não tem real interesse na mulher, ele apenas quer TIRAR dela
o seu próprio prazer.
Jill relata que seu consultório está cheio de mulheres que
estão com problemas emocionais em decorrência de questões
pessoais afetadas pelo consumo de pornografia pessoal e de seus
companheiros. Seus relacionamentos, sua casa, escolas, ambiente
de trabalho, sexualidade, auto estima e identidade como mulher
são suas principais queixas no consultório. Um aumento na in-
segurança, problemas de imagem corporal, ansiedades sexuais e
dificuldades de relacionamento tem sido relatados por suas pa-
cientes.
Muitas destas mulheres são adolescentes, que têm relatado
maior tolerância a abusos emocionais, físicos e sexuais por parte
dos namorados. Grande parte relata que assiste pornografia para
comunicar aos seus parceiros mente aberta, muitas influenciadas
pela postura passiva da maioria das mulheres em vídeos porno-
gráficos. Além disso, não é incomum uma história de abuso sexual
ou trauma a ser enredado no consumo de pornografia, algo que é
consistente com os achados de Broman (2003) que descobriu que
mulheres que passaram por abuso sexual foram mais propensas a
aceitar a pornografia.
As mulheres estão tendo a primeira relação sexual mais
cedo, normalmente sem nenhuma instrução ou cheias de infor-
mações erradas adquiridas através da mídia, sessões de porno-
grafia ou influência dos amigos e namorados, sendo o principal
problema a falta de orientação por parte de seus pais. O núme-
ro de abortos e doenças sexualmente transmissíveis tem cresci-
do exponencialmente e muitas mulheres seguem sendo mortas
por parceiros dominadores e violentos. Pesquisas mostram que
os próprios adolescentes reconhecem que pornografia influencia
seu comportamento sexual, embora eles tendam a acreditar que a
influência de amigos tem um grau maior54.

54
Rogala & Tydén, 2003; Häggström-Nordin, et al.,2005.
108 • Sexo sem cativeiro | Paulo Adriano Muniz Gouvêa

A maioria das mulheres até pouco tempo atrás experimen-


tou consequências negativas em sua vida muito mais em decor-
rência do alto consumo masculino de material pornográfico. A
contaminação do caráter masculino causou enormes prejuízos
para as mulheres em torno do mundo. A atual geração como
forma de igualitarismo, tem reivindicado o “direito” de ver por-
nografia na mesma intensidade. As mulheres por um “grito de
independência” e de insanidade, têm se permitido assistir filmes
pornográficos em resposta ao alto consumo dos homens. Estão
colhendo mais violência e desvalor contra si.
Então os mesmos efeitos que ocorrem no cérebro masculi-
no muito em breve irão ser percebidos no cérebro feminino, os
mesmos desvios de caráter dos homens gerados pela pornografia
vão comprometer o caráter feminino. Hoje em dia as produtoras
de pornôs estão produzindo o que é chamado de pornografia fe-
minina, visando fisgar este público emergente para consumir seu
material. A melhor forma das mulheres conquistarem seu espaço
é através da regulamentação da pornografia criando regras mais
rígidas, o acesso a informação saudável e sobre relacionamento
pessoal e sexual com bases sólidas e saudáveis. Isso elas só vão
conhecer quando entenderem o coração de Deus quando Ele criou
o sexo e o casamento. As consequências deste consumo crescente
entre as mulheres já têm feito suas vítimas.
Muitas das consumidoras femininas que Jill Manning tem
trabalhado, relataram uma maior dificuldade em desenvolver
uma relação íntima de longo prazo; relações íntimas estão cada
vez mais desassociadas de conexão emocional; tornaram-se des-
sensibilizadas para material pornográfico; têm atitudes menos
sensíveis em relação aos homens e estão mais dispostas a usar um
“macho” para gratificação sexual sem estar emocionalmente com-
prometida com ele e assumem maiores riscos com a sua saúde
sexual.
As mulheres são muito mais sensíveis ao que é emocional
dentro dos relacionamentos. A pornografia desequilibra todo tipo
Capítulo 5 – A Mulher e a Pornografia • 109

de relação pessoal, pois ela promove desequilíbrios eróticos de


poder, discrimina, desrespeita, abusa, desconecta as pessoas, ob-
jetifica entre vários outros elementos que vão minar e destruir os
relacionamentos.
Os homens solteiros que assistiam pornografia, infelizmen-
te trazem para dentro de seus casamentos essa prática errada55.
A maioria das pessoas que buscam ajuda são as casadas, porque
é justamente nesta fase que as piores influências da pornografia
vêm à tona. Vale ressaltar que a raiz do problema não é o casa-
mento, é a influência da pornografia e o caráter débil que ela aju-
dou a construir naquele que a consumiu. Cada vez mais homens
casados estão buscando ajuda para seus problemas com compul-
são causados pela pornografia56.
Quanto a este cenário, as esposas são as mais indiretamen-
te afetadas. Elas compartilham sentimentos de traição, perda,
desconfiança, devastação e raiva como resposta à descoberta da
compulsão do marido. Algumas chegam a manifestar sentimen-
tos similares ao de estresse pós traumático57. Algumas também
experimentam efeitos fisiológicos como fadiga, alterações de ape-
tite e libido, e outros sinais e sintomas de ansiedade e depressão,
incluindo desejo de se suicidar58.
A pornografia promove nas mulheres o aumento do sofri-
mento conjugal e do risco de separação e divórcio, aumento do
risco de contrair doenças sexualmente transmissíveis, aumento do
isolamento relacional e aumento do risco de abusos físicos, emo-
cionais e sexuais. Indo direto ao assunto, a pornografia é um risco
significativo para o relacionamento matrimonial59. Quanto mais
os maridos estiverem assistindo a pornografia, maiores serão os
efeitos negativos percebidos pelas esposas e filhos. Os consultó-

55
Burns, 2005; Cooper et. al, 2004
56
Cooper, Delmonico, & Burg, 2000
57
Steffens & Rennie, 2006
58
Manning, 2006; Wildmon-White & Young, 2002
59
Bridges, Bergner e Hesson-McInnis 2003
110 • Sexo sem cativeiro | Paulo Adriano Muniz Gouvêa

rios brasileiros estão recheados de profissionais que recomendam


que as esposas passem a assistir material pornográfico com o ma-
rido, quando na verdade deveriam recomendar ao marido que
parassem de assistir este tipo de material.
Em novembro de 2002 durante uma reunião da Academia
Americana de Advogados Matrimoniais em Chicago, Illinois so-
bre o impacto do uso da internet nos casamentos60, foi constatado
que 62% dos casos de divórcio representados por aqueles advoga-
dos havia sido influenciado pelo consumo de pornografia por um
dos cônjuges.
Muitas mulheres aconselhadas por minha esposa descobri-
ram uma relação direta da infidelidade conjugal de seus maridos
com o vício deles em pornografia. Algumas delas adquiriram
doenças sexualmente transmissíveis por causa da conduta de seus
maridos. Pelo menos uma delas relatou ter adquirido AIDS pelo
marido infiel. Os pesquisadores Stack Wasserman e Kern (2004)
descobriram que pessoas envolvidas em casos de infidelidade
conjugal eram 3.18 vezes mais propensos a usar pornografia online
do que os demais usuários comuns de internet. O mesmo estudo
mostrou que aqueles que estavam envolvidos com o sexo pago,
eram 3,7 mais propensos a assistir pornografia do que os demais
usuários, fazendo uma correlação direta entre o consumo de por-
nografia e a infidelidade conjugal em mais de 300%.
A situação mais grave são os abusos sexuais a que essas mu-
lheres estão expostas por conta dos namorados e maridos. Um
dos rapazes que eu aconselho no processo de recuperação do vício
sexual, certo dia contou que teve um sonho erótico onde ele estu-
prava uma mulher. Ele confessou que essa é uma grande “tara”
dele. O mesmo ainda é solteiro e expliquei para ele é que a porno-
grafia havia construído este comportamento violento em relação
ao sexo e às mulheres.

60
Dedmon, 2002
Capítulo 5 – A Mulher e a Pornografia • 111

Muitos pesquisadores indicaram a associação da pornogra-


fia com a violência de seus parceiros. Vejamos algumas conclusões
quanto ao risco de abuso:
• As esposas muitas vezes relatam que são pressionadas pe-
los maridos a encenar cenas pornográficas e muitas são hu-
milhantes e desconfortáveis61.
• Um número crescente de pesquisadores e clínicos está co-
meçando a reconhecer uma conexão entre uso de pornogra-
fia e abuso no casamento62.
• Estupro marital63.
• ⅓ das mulheres estudadas por Bergen relataram correlação
entre o consumo de pornografia dos maridos e seus estu-
pros sádicos64.
• Boeringer (1994) descobriu que os homens expostos à por-
nografia violenta eram 6 vezes mais propensos a relatar
comportamento de estupro do que um exposto a uma baixa
exposição ao pornô.
• Crossman (1995) descobriu que o uso de pornografia era o
mais fortemente correlato com agressão sexual
• Cramer e McFarlane (1994) pesquisaram uma amostra de
mulheres que foram agredidas e constataram que:
◦◦ 75% das mulheres foram expostas à pornografia pelo
marido, sendo convidadas ou obrigadas a repetir a
cena;
◦◦ 65% tiveram fantasias pornográficas descritas para
elas e foram obrigadas a repetir.
◦◦ 31% foram convidadas ou forçadas a tirar fotos porno-
graficas ou gravar vídeos.
◦◦ 81% delas relatou ter sofrido estupro marital.

61
Laaser, 1996; Ryu, 2004; Hinson Shope, 2004
62
Laaser, 1996; Wildmon White & Young, 2002; Ryu, 2004; Hinson Shope, 2004
63
Manning 2006
64
Bergen 1998
112 • Sexo sem cativeiro | Paulo Adriano Muniz Gouvêa

Vemos diante destes fatos que a pornografia nunca foi be-


néfica para as mulheres ou mesmo para os homens. O rápido pra-
zer proporcionado pela masturbação ligada à pornografia custa
muito caro para nossos relacionamentos e nossas vidas. Incluir a
mulher através de produções mais femininas vai prejudicar ainda
mais o público feminino, pois torna as mulheres levianas, vulga-
res, eliminando suas virtudes, adoecendo-as emocionalmente. O
melhor caminho é abandonar o consumo deste tipo de material e
proteger seus filhos também deste tipo de exposição. Nunca foi
tão necessário que pais e mães se levantem como guardiões de
seus lares.
A resposta que as mulheres devem dar para serem valori-
zadas é exigir um posicionamento de seus maridos no sentido
de que eles abandonem o consumo de pornografia, garantir que
seus filhos sejam protegidos e que sejam muito bem orientados,
de acordo com sua idade para que não sejam fisgados pelas redes
sociais ou influências dos amigos. Mulheres valentes são as que
lutam por sua família e casamento, usando as armas certas e dei-
xando, juntamente com seus maridos, a pornografia bem longe de
seus lares.

66
Capítulo 6 – A Igreja
e a Pornografia
“Felizes os que lavam as suas vestes, para que tenham
direito à árvore da vida e possam entrar na cidade pelas
portas. Fora ficam os cães, os que praticam feitiçaria, os que
cometem imoralidades sexuais, os assassinos, os idólatras e
todos os que amam e praticam a mentira. “Eu, JESUS, enviei
o meu anjo para dar a vocês este testemunho concernente
às igrejas. Eu sou a Raiz e o Descendente de Davi, e a
resplandecente Estrela da Manhã”. – Apocalipse 22.14-16

Nunca uma revolução sexual ameaçou tanto a igreja, o casamento


e a família como a atual. Enquanto os números relativos aos cris-
tãos no Brasil têm crescido de forma surpreendente, na mesma
velocidade nossos filhos têm apostatado da fé, os casamentos têm
se deteriorado tão intensamente e as famílias brasileiras nunca fo-
ram tão frágeis e fracas para influenciar e transmitir valores para
a sociedade e as próximas gerações.
Há uma mensagem nos púlpitos e outra dentro dos lares.
Essa incoerência na vida cristã tem aberto uma grande fenda no
papel da igreja diante da sociedade moderna e no seu poder efe-
tivo de ação. Valores do evangelho têm sido comunicados em
rádios, internet, televisores, outdoors e várias outras mídias, as
pessoas têm se aproximado de Cristo mas não estão em Cristo.
Muitos frequentam a igreja mas não permitem que Jesus habite
em sua casa.
Um grande grupo de homens e mulheres cristãos luta con-
tra o pecado sexual. Eu lidero um ministério de sexualidade cha-
114 • Sexo sem cativeiro | Paulo Adriano Muniz Gouvêa

mado Sexo sem Cativeiro e atendo exclusivamente cristãos. É im-


pressionante a quantidade de homens e mulheres que por mais
que tentem lutar contra o vício sexual há anos, não conseguem se
erguer de forma definitiva. Muitos são pastores e líderes ministe-
riais que agonizam nos púlpitos e nos bancos das igrejas, convi-
vendo com uma enorme culpa e vergonha. Eles não confiam em
seus líderes para confessar seus pecados, com medo da exposição
e humilhação a que são submetidos publicamente, muitas vezes
sem o menor cuidado com a família do envolvido no escândalo.
Conheci um pastor casado que, em seu início de ministério,
muito jovem ainda, foi chamado a liderar o ministério de mocida-
de da sua igreja. Sua esposa não se envolveu com o trabalho e a
igreja levantou uma outra jovem para ajudá-lo na missão. Com o
tempo, à medida em que o trabalho avançava, os dois acabaram
se envolvendo emocionalmente. Não chegaram a se envolver se-
xualmente, mas ambos reconheceram que havia um envolvimen-
to emocional. O jovem pastor chegou a considerar a possibilidade
de abandonar sua esposa para ficar com aquela outra mulher.
Diante do constrangimento de Deus, a moça procurou sua
liderança e confessou a situação. Quando confrontado, o pastor
admitiu a culpa e a moça se afastou do ministério de forma volun-
tária. A esposa dele foi informada da situação e, um certo tempo
depois, conseguiu perdoá-lo, passando a se envolver com o mari-
do nas atividades que ele liderava. Dois anos se passaram e esse
pastor percebeu que sua liderança estava envolvida com algumas
atividades suspeitas e quis confrontar seus líderes sobre o assunto.
Na mesma semana, essa sua liderança organizou uma reu-
nião com todos os líderes de ministério da igreja e, ainda na aber-
tura da reunião, o pastor presidente expôs o pecado de dois anos
antes daquele jovem pastor na frente de todo o grupo, o que havia
sido um processo de confissão genuíno e verdadeiro para a puri-
ficação de pecados, virou munição manipulativa para ser usada
contra ele caso se opusesse às práticas erradas de sua liderança, o
que claramente configura abuso espiritual. Ele e sua esposa se sen-
Capítulo 6 – A Igreja e a Pornografia • 115

tiram profundamente envergonhados e frustrados com a situação.


Ambos se desligaram do ministério imediatamente e esse jovem
pastor passou à ter dificuldade de confiar numa nova liderança.
Seguindo em outro ministério, voltou a ocupar posições
de liderança dentro de pouco tempo, mas também começou a ter
problemas financeiros e com imoralidade sexual. Sua dificuldade
em confiar em seus líderes o impediu de buscar ajuda e acompa-
nhamento. Com o passar dos anos, o seu pecado veio à tona no-
vamente. Ele reconheceu e confessou para sua liderança no meio
da semana. No sábado seguinte, o presidente da igreja convocou
uma reunião ministerial e o jovem pastor e sua esposa não foram
convidados.
Uma hora antes da reunião, a esposa deste jovem pastor li-
gou para o líder da igreja pedindo que ele não contasse publica-
mente sobre o que aconteceu, pois estava muito ferida com toda
aquela situação e precisava de ajuda, e não suportaria a vergonha
da exposição. O presidente da congregação garantiu que não fa-
laria nada sobre o assunto, mas amigos deles que estavam pre-
sentes na reunião, disseram que o primeiro assunto da pauta era
o afastamento do jovem pastor e de sua esposa por causa dos pe-
cados que ele havia cometido. Não sendo suficiente à situação, no
principal culto dominical, o mesmo pastor presidente expôs para
toda à igreja o pecado do jovem pastor, expondo toda a família
do mesmo. Ele e sua esposa, profundamente machucada, foram
desligados do ministério.
Passados alguns anos, eles encontraram uma comunidade
que os acolheu e os tratou da melhor forma possível. O pastor
conseguiu falar novamente sobre suas lutas e tem alcançado gra-
ça e vitória sobre o pecado sexual. Seu casamento está restaura-
do e sua vida financeira recuperada quase que totalmente. Certa
vez ouvi uma frase: “A igreja é o único exército que abandona
ou mata seus feridos”. Infelizmente, vejo mesmo isso acontecer
algumas vezes e precisamos repensar sobre como temos tratado
nossos feridos.
116 • Sexo sem cativeiro | Paulo Adriano Muniz Gouvêa

No passado, muitas vezes eu mesmo estava de olhos fecha-


dos nos cultos durante o louvor, totalmente corroído por dentro
diante da incapacidade de vencer sozinho o pecado sexual. Eu
queria muito me entregar à adoração a Deus, mas minha mente e
coração estavam devastados pelo que eu havia assistido durante
a semana. Eu gritava e chorava por dentro, pedindo a Deus graça
para sair de tudo aquilo, mas tinha muita vergonha de confessar o
meu pecado e pedir ajuda, com medo de ser rejeitado pelos meus
pastores e esposa. Enquanto eu não confessei o meu pecado e não
pedi ajuda, não consegui vencê-lo e encontrar graça.
Segundo uma pesquisa de Barna, ⅔ dos homens cristãos e 1
em cada 6 mulheres também cristãs acessam pornografia pelo me-
nos uma vez por mês65. Um grupo considerável esta mergulhado
intensamente nesse pecado, muitas vezes com a finalidade de ali-
viar suas dores emocionais, solidão, tristeza, ansiedade ou estres-
se. A comunhão dessas pessoas com Deus é morna ou totalmente
fria e seus casamentos estão muito distantes da verdadeira inti-
midade. Seus corações estão como uma terra seca e morta, cheia
de espinhos e rochas que sufocam a palavra de Deus que ouvem
semanalmente em suas igrejas, não permitindo que criem raízes e
cresçam, fazendo com que tenham uma vida espiritual infrutífera.
Muitos vivem uma vida dupla, procurando ao máximo
manter as aparências em seus casamentos, demonstrar externa-
mente uma santidade e espiritualidade que nem de longe têm. To-
dos esses mecanismos têm a finalidade de esconder seus pecados.
Alguns deles até mesmo líderes em seu ministério, muitas vezes
se tornam ferozes ao atacar o pecado sexual em suas mensagens
para a igreja, pregando na verdade para si mesmos, sentindo-se
devastados em frustração. Eu mesmo experimentei isso na pele.
Como igreja, precisamos aceitar que a imoralidade sexual
está atingindo nossos púlpitos e bancos, casamentos e famílias.
Deus é o criador do sexo e somos nós, como igreja, que devemos

65
2014 Pornography Survey and Statistics. Proven Men Ministries. http://www.provenmen.
org/2014pornsurvey, accessed Dec. 29, 2014.
Capítulo 6 – A Igreja e a Pornografia • 117

mostrar à sociedade e aos nossos filhos qual é o coração de Deus


sobre o sexo e à sexualidade genuína e abençoada por Ele. Sem
condenar ou trazer peso de culpa e de vergonha, mas com uma
mensagem de misericórdia e graça, de esperança de restauração.
É preciso compartilhar este ensino e discutir no sentido de
reunir conteúdo sério sobre o tema, começando a produzir nossas
próprias pesquisas. A igreja precisa estar pronta para falar a ver-
dade em um meio dominado por pseudo-profissionais que têm
falado mentiras aos nossos jovens e influenciado negativamente
a sociedade.
Num debate aberto sobre o assunto, devemos estar também
preparados para ajudar os que se encontram nesta prisão sexual,
bem como começar a trabalhar de forma mais abrangente e efetiva
com a prevenção, com nossas crianças e pré adolescentes. Durante
muitos anos a igreja se negou a abordar o tema sexual de forma
mais aberta, e o custo tem sido altíssimo. Passou da hora de as-
sumirmos nosso papel como guardiões da palavra de Deus, de
sermos luz em meio às trevas de uma sociedade erotizada e hiper-
sexualizada. Que as portas das igrejas se abram para o tema e para
o discipulado de homens e mulheres nas questões da sexualidade
e pecados sexuais.

6. 1 OBSTÁCULOS LEVANTADOS NAS IGREJAS


O Dr. Sam Serio, fundador e diretor do Ministry of Men-
ding, diz: “Quando se trata de pregar sobre pornografia, você tem
uma das três opções: ignorar, abominar ou restaurar. A maioria
dos pastores escolhe a primeira opção e muitos não aprenderam
como tratar o assunto segundo o prisma da terceira opção66.
Felizmente Deus tem levantado muitos ministérios na área
da sexualidade na nação. Há muito bons conteúdos disponíveis
na internet sobre o assunto, e alguns lugares com pessoas mui-
to bem preparadas para receber as equipes pastorais, lhes repas-

66
Luke Gilkerson, Fight Porn In Your Church | Covenant Eyes, página 06
118 • Sexo sem cativeiro | Paulo Adriano Muniz Gouvêa

sando o conhecimento necessário para implantar em sua igreja,


um programa de restauração da sexualidade das pessoas e for-
mar conselheiros cristãos para ajudar compulsivos sexuais. Segue
abaixo alguns destes ministérios:
• Jocum Renovo – Lugar de Restauração – http://­
jocumrenovo.org/
• Ministério Avalanche – Agência de Missões Urbanas –
http://avalanchemissoes.org/sexualidade/
• Sexo sem Cativeiro – www.sexosemcativeiro.com.br
• SOS Sexualidade – Seminário de Orientação a Sexualidade
– http://jocumpr.com.br/sos/
• Exodus Brasil – www.exodus.org.br/
• Ministério Ser – Sexualidade e Restauração – http://­
ministerioser.com.br/
• Amor em Ação – amoremacaofortaleza@groups.facebook.
com
• Paz com Deus – www.pazcomdeus.com.br
• Calvário Sexualidade – http://calvariosexualidade.com/
site/
• Fonte de Jacó – http://afontedejaco.wixsite.com/­
saulonavarro
Há várias disponibilidades de realização de cursos em semi-
nários nas bases destes ministérios ou nas próprias igrejas agen-
dando com os preletores. Há cursos com formação mais intensiva
e seminários de finais de semana que podem despertar uma boa
semente nos líderes de ministério para trabalhar em seus grupos
pequenos sobre o assunto.

6. 2 A ABORDAGEM NOS PÚLPITOS


Muitas pessoas nos púlpitos e sentadas nos bancos das igre-
jas estão agonizando com seu pecado sexual, carregadas de cul-
pa e vergonha por não conseguir vencer as inclinações da carne.
Capítulo 6 – A Igreja e a Pornografia • 119

Mensagens carregadas de legalismo e acusação tem na maioria


das vezes um efeito contrário em seus ouvintes prisioneiros do
pecado sexual. Causam mais desconforto em uma possível confis-
são e reconhecimento do erro.
Normalmente em um culto o tempo é bastante reduzido e
com um público bastante diversificado. As mensagens precisam
abordar pontos específicos de cada vez, pois uma maior exposição
com temas abrangentes irá causar mais dúvidas. Os testemunhos
pessoais são muito efetivos em gerar compaixão e identificação.
Normalmente quando eu faço minhas ministrações compartilhan-
do meu testemunho pessoal, muitos homens e mulheres nos pro-
curam ou a sua liderança para trazer à luz o seu pecado escondido.
As mensagens devem sim trazer uma dose de confronto,
chamando a um posicionamento. Mas devem ser equilibradas,
principalmente com uma oferta de esperança e restauração. Isso é
muito importante para que após aquele momento de quebranta-
mento e humildade, não se perca a oportunidade de acompanhar
e discipular homens e mulheres que trazem à luz seus pecados e
suas fraquezas. Há várias passagens onde Jesus acolhe em amor
e misericórdia os que reconhecem seus pecados e trata com dure-
za os hipócritas religiosos. Ambos ele chama ao arrependimento,
mas aos religiosos ele trata com extrema dureza e não aos reco-
nhecidamente pecadores.
Por esse motivo, é muito importante que a igreja antes de
iniciar esse tipo de abordagem, busque capacitação para seus líde-
res e corpo diaconal, como forma de acolher e acompanhar os que
se lançarem à frente pedindo ajuda. Precisamos estar prontos para
trabalhar com os ofensores e com os familiares ofendidos. Preser-
var a dor da família deve ser uma prioridade para os líderes. Em
um processo onde alguém confessa adultérios e problemas com
imoralidade sexual, eles devem ser acolhidos e abraçados pela
igreja. Devem ser afastados de seus cargos sim, mas com o intuito
de serem tratados e cuidados.
120 • Sexo sem cativeiro | Paulo Adriano Muniz Gouvêa

É muito mais poderoso e efetivo para a igreja o casal se apre-


sentar depois de um processo de restauração diante da mesma e
compartilhar seu testemunho de vitória diante do pecado sexual.
É muito melhor o escândalo da reconciliação do que o escândalo
do pecado confessado. A igreja precisa ser este lugar seguro para
tratarmos nossas dores e pecados. Mas a postura muitas vezes re-
ligiosas de alguns grupos, afastam os que precisam de cuidado e
os mantém numa situação crônica de pecados encobertos.
Recentemente ficamos sabendo de um caso onde um pastor
se envolveu em adultério com uma obreira da igreja na qual ele é
líder. Ao descobrir sobre o adultério, o pastor auxiliar ficou em um
dilema se confrontava o pastor líder ou falava para a esposa dele.
Ele decidiu por contar para a esposa do pastor sobre o adultério. A
mesma confrontou o marido que confessou o pecado sexual. Mas
a própria esposa do pastor decidiu que eles não deveriam contar
para a liderança da igreja sobre o fato, pois desta forma o marido
seria removido do cargo de liderança e o seu salário seria drasti-
camente reduzido.
A situação foi resolvida localmente, mas o pastor que co-
meteu o pecado agora se colocou em uma posição de perseguir
o seu auxiliar prejudicando-o quanto ao trabalho ministerial. Um
dos grandes problemas deste fato é que o pastor líder que caiu em
adultério, não recebeu nenhum tipo de ajuda e orientação. Ele cor-
re o risco de não ter seu caráter trabalhado e voltar a cometer um
pecado sexual que pode ter maiores proporções negativas para
sua família e ministério.
Ainda sobre os Púlpitos, é muito importante que as men-
sagens evidenciem as diferenças entre o sexo que Deus criou e
as mentiras contadas pela pornografia e vividas no vício sexual.
Evidenciar o poder do amor de Cristo e as maravilhas de se viver
em santidade com ele. Oferecer caminhos e respostas para os que
lutam contra a dependência sexual. Mostrar como as veredas de
Cristo podem curar um coração carente.
Capítulo 6 – A Igreja e a Pornografia • 121

Em minhas palestras não gasto tempo tentando provar que


a pornografia é um pecado sexual. Eu invisto todo meu tempo
em mostrar as consequências negativas que ela pode nos causar e
principalmente qual é a visão de Deus para o sexo. Os efeitos são
sensacionais quando conseguimos enxergar o verdadeiro propó-
sito de Deus para o sexo e a sexualidade humana. Dificilmente
não nos apaixonamos por sua proposta.
A cruz de Cristo mostra na mesma mensagem o quanto
Deus odeia e repudia o pecado sexual, como também ama o peca-
dor que está preso no vício sexual. Deus deseja que ele seja total-
mente livre de suas prisões e as dores e aflições de Cristo na Cruz
são a maior evidência disso.
O conselheiro bíblico David Powlison diz que a vergonha
e a culpa são relacionadas, mas distintas experiências. “A culpa
é uma consciência de falha contra um padrão”, como uma regra ou um
código de conduta. Mas a vergonha, diz Powlison, é “uma sensação de
fracasso diante dos olhos de pessoas67 ”. Quando a culpa e a vergonha
nos impulsionam para o arrependimento, isso é extremamente
positivo. A graça é esse maravilhoso dispositivo divino que po-
tencializa positivamente estes dois vetores para que as pessoas se
acheguem a Deus.
Em contrapartida a isso, mensagens de condenação e crítica
vão produzir o efeito mais tóxico da culpa e da vergonha, a pes-
soa vai se sentir indigna de Deus, incapaz de se aproximar dele e
de ser purificada pelo seu toque. São mensagens como as que as
pessoas dirigiam ao cego Bartimeu. Quanto mais ele gritava cla-
mando por misericórdia à Jesus para ser curado, mais as pessoas
diziam que Jesus não iria ouvi-lo e que ele não deveria incomodar
o mestre. Essas mensagens levam muitos à desistência crônica e
até mesmo à apostasia. Não quero retirar a responsabilidade pes-
soal na luta contra o pecado, mas realmente mensagens legalistas
não ajudam em nada na recuperação de alguém caído nas trevas
da imoralidade sexual.

67
Luke Gilkerson, Fight Porn In Your Church | Covenant Eyes, página 10
122 • Sexo sem cativeiro | Paulo Adriano Muniz Gouvêa

Luke Gilkerson escreve que: “A vergonha é abertamente rela-


cional. O problema não é o sentimento de vergonha em si. Vergonha é a
reação natural quando o pecado colide com criaturas criadas à imagem
de um Deus relacional: algo em nossa consciência reconhece que estamos
falhando aos olhos dos outros. Vergonha é para nos acordar das violações
relacionais causadas pelo pecado e nos empurram para a restauração68”.
A bíblia nos ensina que devemos confessar nossos pecados
uns aos outros e orar uns pelos outros para sermos curados. (Tia-
go 5.16). A igreja precisa criar uma atmosfera adequada para que
as pessoas se sintam confortáveis para confessar seus pecados e
conseguir ajuda para superar. Ninguém anda na luz sozinho e eu
entendo que nossas famílias e as igrejas devem ser estes lugares,
seguros onde nossas trevas possam ser expostas na luz de Cristo e
devamos receber ajuda e apoio.
Pois nada há de oculto que não venha a ser revelado, e nada em
segredo que não seja trazido à luz do dia. (Marcos 4.22). Não é uma
sentença ameaçadora de Deus sobre aqueles que têm pecados
escondidos. É mais uma prova de amor e misericórdia de Deus.
Quando nosso pecado vem à luz porque nós nos descobrimos ou
fomos descobertos, é a oportunidade divina que recebemos de
pedir e encontrar ajuda. Quando um pecado vem a tona em um
casamento, isso não tem por fim acabar com o casamento, pois
para chegar a esse ponto o matrimônio já está no fim ou acabado,
a finalidade de trazer um pecado à luz é a ação divina para que
essa injustiça seja corrigida e os rumos daquela relação possam
ser tratados.
Isso aconteceu comigo, fiquei 10 anos escondendo de minha
esposa uma vida dupla que eu mantinha em segredo devido ao
pecado sexual. Quando confessei para minha esposa, não só essa
área de minha vida pode ser tratada como todas as demais áreas
de nosso casamento também foram. Lógico que houve uma dis-
posição clara da minha parte de me arrepender e de minha esposa
em me perdoar, por mais duro e difícil o processo que enfrenta-

68
Luke Gilkerson, Fight Porn in Your Church – Covenant Eyes, Página 10
Capítulo 6 – A Igreja e a Pornografia • 123

mos. Ela conta sua experiência no livro Curando a dor da Traição


no Casamento. Hoje vivemos um casamento muito melhor a cada
ciclo que passamos.

6. 3 CRIANDO UM AMBIENTE SEGURO DENTRO DA IGREJA


Existem três ingredientes essenciais para qualquer processo
seguro: Aconselhamento, Treinamento e Comunidade69.

Aconselhamento
É muito importante que a igreja tenha um grupo de con-
selheiros capacitados para acolher as pessoas que reconheceram
seus problemas e pediram ajuda. Elas precisam de acompanha-
mento e orientação sobre o que está acontecendo com elas e como
podem sair disso. Mas um grande grupo vai precisar durante um
tempo de acompanhamento semanal para conseguir vencer isso.
Há algumas igrejas que conseguem oferecer não apenas a
seus membros, mas também à comunidade o serviço de alguns
profissionais que fazem parte da membresia da igreja. Alguns psi-
cólogos, psiquiatras, médicos e terapêutas. Essas ações produzem
um bom resultado, principalmente para os casos mais crônicos
que alguns enfrentam. Certa vez em um retiro que participamos
no início do ano, uma moça claramente demonstrou sintomas de
esquizofrenia. Rapidamente recomendamos que ela buscasse aju-
da em uma igreja que oferecia esses serviços acima mencionados.
Para as igrejas que não conseguem fazer esse tipo de ação,
é muito importante que a liderança busque capacitação ou par-
cerias para oferecer esse tipo de ajuda. Jesus e a palavra de Deus
devem ser a base de todo e qualquer aconselhamento.

69
Luke Gilkerson, Fight Porn in Your Church – Covenant Eyes, Página 13
124 • Sexo sem cativeiro | Paulo Adriano Muniz Gouvêa

Treinamento
Jesus não discipulou seus seguidores à distância, ele não fi-
cou usando o púlpito das sinagogas ou os barcos para isso. Ele
não ficou horas escrevendo os sermões que pregaria sentado em
um gabinete. Jesus ainda hoje é nosso modelo, nosso referencial
e nosso pastor. O viciado em pornografia não precisa apenas de
uma série de mensagens para ouvir, ele precisa de pessoas que
possam transmitir isso através de relacionamento e compartilha-
mento.
Os líderes que orientam os outros devem ser líderes sábios
que conhecem a Bíblia, sabem como o coração humano funciona
e se importam profundamente com aqueles presos em pecado70.
Segue o perfil de alguns destes treinadores, sendo realmente ne-
cessário que a igreja invista na preparação de treinadores depois
que seu perfil for identificado:
• Devem ser homens e mulheres de oração, experientes em
ajudar a curar as mágoas causadas pelo pecado e vivendo
em um mundo quebrado (Tiago 5: 13-16)
• Devem ser maduros, autocontrolados e ternos (1 Timóteo 3:
1-7).
• Devem ser homens e mulheres, guiados pelo Espírito, que
saibam como restaurar e consertar os pensamentos quebra-
dos daqueles que foram pegos em pecado (Gálatas 6: 1-2)
• Devem ser “homens de entendimento” que sabem como o
pecado funciona no coração e podem elaborar os motivos
ocultos que muitas vezes dirigem nossas pecaminosas dis-
posições e hábitos (Provérbios 20: 5).

Comunidade
Abrir num culto dominical um momento para as pessoas
irem à frente confessar publicamente e regularmente seus peca-
dos não parece ser algo apropriado. Se, como igreja, começarmos

70
Luke Gilkerson, Fight Porn in Your Church – Covenant Eyes, Página 15
Capítulo 6 – A Igreja e a Pornografia • 125

a tratar estas questões de imoralidade sexual de forma séria, com


a disposição de ministrarmos o perdão e ajudarmos na recupe-
ração, e não na exposição e destruição dos cativos desta prisão,
vamos começar a ver cada vez mais pessoas tendo a coragem de
exporem seus pecados, na confiança de que serão ajudadas e res-
tauradas para a glória de Deus, ao invés de ficarem agonizando
em seus pecados com medo de serem excluídas ou rejeitadas se
forem descobertas.
Além disso, pessoas que estão lá fora claramente envolvidas
com a imoralidade sexual e desejam sair dessa prisão, não verão a
Igreja como um lugar do qual são indignas de estar, mas como um
lugar onde podem ser transformadas e restauradas, onde serão
aceitas como estão e encorajadas e ajudadas a mudar.
A igreja pode criar comunidades menores ou grupos de
apoio para estas questões, como os grupos de Recuperação que já
existem em algumas denominações, onde essas pessoas podem se
reunir semanalmente entre os cultos normais. O importante é que
estas pequenas comunidades sejam um ambiente de acolhimento,
apoio e suporte para os que lutam de forma crônica com os mais
diversos tipos de dependência sexual, sem julgamento, mas com
um chamado ao arrependimento e à transformação. As comuni-
dades nesse sentido mais bem sucedidas têm alguns pontos em
comum71:
• Definindo expectativas: Depois que os recém-chegados re-
cebem as boas-vindas, os líderes dos grupos de apoio dão
o tom dizendo a todos os participantes o que esperar. Qual
será o formato da reunião; Quanto tempo vai durar; e O
que dizemos será mantido em sigilo. Também um momento
para obter qualquer anúncio fora do caminho
• Grupos de Ensino Grandes: O ensino é muito importan-
te para o grupo. É comum os grupos usarem um material
mais estruturado que aborda o tipo de dependência que se
enfrenta. O foco deve ser sempre trazer os ensinos à luz da

71
Luke Gilkerson, Fight Porn in Your Church – Covenant Eyes, Página 16
126 • Sexo sem cativeiro | Paulo Adriano Muniz Gouvêa

palavra de Deus. São muito importantes nos grupos os tes-


temunhos pessoais. As histórias e vitórias de cada um são a
grande força do ensino em grupo.
• Discussões em Pequenos Grupos: Depois de um tempo de
ensino e compartilhamento, algumas pessoas se conectam
com o que foi compartilhado e sentem o desejo de se abrir.
Neste momento, a reunião se desdobra para grupos ainda
menores, onde as pessoas lutam contra o mesmo tipo de
dependência. Nesses grupos menores, pecados são confes-
sados, novas metas são definidas e os membros oram uns
pelos outros (Tiago 5.16). Não pode haver muitas pessoas
nestes grupos menores, senão demorará muito o momen-
to de compartilhamento ou alguns não terão oportunidade
de compartilhar. O resultado desses pequenos encontros é
a comunidade real. Amizades serão forjadas, pessoas expe-
rimentarão cuidado genuíno e compaixão. Nestes grupos
menores, os membros também encontram responsabilidade
e encorajam relacionamentos saudáveis72.
O ministério de famílias internacional da JOCUM, liderados
por Andreas e Angela Frész (Alemanha), tem influenciado várias
nações com ações efetivas em muitas áreas. Eles atuam diretamen-
te com as igrejas e trabalham com 3 pilares importantes, que estão
alicerçados nos três comissionamentos que Deus nos deu em Ma-
teus capitulos 11, 16 e 28.
1 – Restauração – “Vinde a mim, todos os que estais cansados e
oprimidos, e eu vos aliviarei.Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de
mim, que sou manso e humilde de coração; e encontrareis descanso para
as vossas almas. Porque o meu jugo é suave e o meu fardo é leve.” Ma-
teus 11.28-30. Precisamos investir como igreja, atenção especial na
restauração daqueles que se achegam a Cristo.
Levamos às pessoas a consolação que recebemos, como car-
tas vivas daquilo que o Poder de Deus operou e continua ope-
rando em nossas vidas. Pessoas feridas irão ferir, pessoas curadas

72
Luke Gilkerson, Fight Porn in Your Church – Covenant Eyes, Página 17
Capítulo 6 – A Igreja e a Pornografia • 127

em Cristo vão levar esperança, consolo e cura para os que estão


oprimidos e enfermos.
2 – Treinamento – “Então disse Jesus aos seus discípulos: Se al-
guém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz, e si-
ga-me;” Mateus 16.24. Passada a fase da restauração, somos co-
missionados a combinar renúncia com voluntariedade. Passar a
imitar os passos de Cristo e receber capacitação para isso. O pas-
tor Marcos de Sousa Borges, Líder da Base da JOCUM em Almi-
rante Tamandaré no Paraná, costuma dizer que, quem sabe mais,
serve melhor.
É muito importante treinar e capacitar o corpo de Cristo,
discipular segundo os princípios e a verdade do evangelho de
Cristo. As igrejas precisam investir em seminários, escolas bíbli-
cas, discipulado para que possamos ter obreiros aprovados, que
manejam bem a palavra e que não tem do que se envergonhar.
3 – Mobilização – “Portanto ide, fazei discípulos de todas as na-
ções, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo;ensi-
nando-os a observar todas as coisas que eu vos tenho mandado; e eis que
eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos.” Ma-
teus 28.19-20. Só depois de termos os dois outros alicerces mais
estruturados e em ação, nossas ações de mobilização serão mais
efetivos.
A igreja Brasileira tem uma capacidade de mobilização enor-
me e efetiva, mas o fato de não operar da maneira mais adequada
os outros dois pilares, resulta que hoje somos 40 milhões de pes-
soas que apostataram da fé. Precisamos de ações combinadas en-
tre os três pilares, para que a igreja não só alcance o perdido, mas
também aumente a efetividade deste novo convertido se tornar
um discípulo de Jesus e não caminhar em direção à apostasia na
primeira crise ou tempestade que surgir em sua caminhada cristã.
Eu tenho fé na igreja Brasileira e acredito que nossa geração,
que enfrenta dias difíceis e trabalhosos, vai conseguir dar a res-
posta que Deus espera de nós e que a sociedade precisa.
77
Capítulo 7 – Como Reiniciar
Seu Cérebro
“Não se amoldem ao padrão deste mundo, mas transformem-
se pela renovação da sua mente, para que sejam capazes
de experimentar e comprovar a boa, agradável e perfeita
vontade de Deus”. Romanos 12.2

Uma cadeia de pecados, é a evidência natural de um coração conta-


minado por amarguras, dores e ressentimento. Esse coração busca
desesperadamente por amor através da concupiscência e em con-
trapartida só encontra mais déficit de amor. Algo está errado no
relacionamento deste homem ou mulher com Deus que precisa
ser reparado e reconectado. Quando eles nos procuram, há uma
grande chance de Deus estar querendo usar você como esse canal
de reconexão entre os dois. O grande ponto não é vencer a porno-
grafia, é conectar essa pessoa a Deus de uma forma que ela nunca
experimentou.
No Brasil e no mundo existem vários ministérios de apoio
àqueles que desejam abandonar o vício em pornografia. A internet
está recheada de vídeos e sites que oferecem ajuda a todos que
de alguma forma já perceberam prejuízos pessoais e sociais devi-
do ao alto consumo de pornografia. Meu objetivo neste Capítulo
é compartilhar algumas orientações que têm mais sido efetivas
naqueles que têm testemunhado recuperação sobre o vício em
material pornográfico. Se você deseja se aprofundar em ferramen-
tas de aconselhamento, você pode conseguir todo um programa
130 • Sexo sem cativeiro | Paulo Adriano Muniz Gouvêa

de recuperação através do livro Sexo sem Cativeiro: Manual de


Aconselhamento ao Compulsivo Sexual.
Quando uma pessoa se posiciona e se recusa a responder ao
pedido da compulsão, isso enfraquece o vínculo com o desejo por
aquela atividade e fortalece o córtex-pré frontal, área executiva de
tomada de decisões. No início se estabelece uma guerra sobre nos-
sa vontade, posicionar-se dizendo não nessas horas vai nos tornar
mais fortes para enfrentar o vício.
Antes de iniciar qualquer processo de recuperação, é impor-
tante diagnosticar se nos tornamos adictos na pornografia. Existe
um método muito simples para que se faça inclusive uma auto
avaliação. Em inglês é chamada de os 4 C’s:
• Uso Compulsivo
• Uso Contínuo apesar das consequências adversas
• Incapacidade de Controlar o uso
• Ansiedade Psicológica ou Física no uso – sintomas de absti-
nência ou tolerância73
• Alguns sintomas da tolerância são:
• Ansiedade;
• Irritabilidade;
• Insônia;
• Depressão;
• Isolamento Social;
• Perda severa da libido por um tempo;
• Inquietação;
• Falta de Concentração;
• Dores no corpo e nos testículos.
Passadas as primeiras semanas, eu diria que os primeiros 40
dias são terríveis para alguns, estes sintomas começam a desapa-

73
The Development of the Problematic Pornography Consumption Scale (PPCS). http://irep.
ntu.ac.uk/id/eprint/30387/1/PubSub8168_Griffiths.pdf
Capítulo 7 – Como Reiniciar Seu Cérebro • 131

recer e são substituídos por sentimentos de realização e conquista


como já mencionamos antes.

7. 1 REINICIANDO SEU CÉREBRO


Segundo Gabe Dean do site rebootnation.org, “reiniciar o cé-
rebro é o tempo que você fica sem assistir material pornográfico.”
Abrindo caminho para que possamos recondicionar nosso cérebro
a aprender uma rota saudável e correta em direção ao que ele foi
feito naturalmente para aprender. Aqueles que têm conseguido
abandonar o vício em Pornografia, testemunham vários benefí-
cios em sua vida pessoal e social como, maior confiança, retorno
da capacidade de concentração, aumento de clareza mental, não
têm mais problemas de disfunção erétil e abandonaram de prá-
ticas sexuais abusivas. Muitos voltam a fazer atividades do coti-
diano, praticam esportes, retomam projetos, aprendem idiomas,
viajam, enfim, retomam o gosto pela vida.
Abaixo algumas recomendações para você ficar longe de
pornografia:

1 – Entenda porque deve abandonar a pornografia (faça as 3


listas):
Ninguém abandona a pornografia sem reconhecer que pre-
cisa de ajuda e que realmente quer fazer isso. Alexander Rhodes,
Fundador do site NOFAP, orienta os usuários que lhe pediram
ajuda a fazer 03 listas:
• Lista A – Relacionar todos os impactos negativos que a por-
nografia tem causado na vida dele. (Problemas de ereção,
perdas financeiras, problemas no casamento, etc.)
• Lista B – Todos os problemas que enfrentará ao abandonar
o consumo de pornografia. (ficará entediado, irritado por
um tempo, não sei o que fazer com meu tempo, sou solteiro
então como vou fazer com meu desejo sexual, etc.)
132 • Sexo sem cativeiro | Paulo Adriano Muniz Gouvêa

• Lista C – Todos os pontos positivos que serão alcançados


ao parar de ver pornografia. (Minha esposa não vai mais
se divorciar, não sentirei mais a culpa e a vergonha que eu
vivo, etc.)
Esse material é para reflexão diante dos dias difíceis. Fun-
ciona como uma declaração de missão e o usuário deve ter em
mente essa reflexão sempre que se sentir tentado a voltar a fazer
uso da pornografia.

2 – Dificulte seu acesso à pornografia:


Isso pode acontecer de várias formas, eliminando redes so-
ciais, colocando em seu smartphone bloqueador de conteúdo, evi-
tando os amigos que enviam conteúdo erótico, reduzindo o tem-
po exposto ao computador, retirar o computador do quarto, entre
outra infinidade de possibilidades. A regra aqui é manter você
bem longe de meios que permitam que você acesse pornografia.
Nesta fase é necessário uma postura radical para que tenhamos
resultados mais efetivos. Eu fiquei quase dois anos e meio sem
usar celular com acesso a internet, pois nesta época, eu não conse-
guiria resistir à tentação de assistir a conteúdo pornográfico.

3 – Substitua a cultura do vício por atividades saudáveis e


prazerosas
Atividades prazerosas do cotidiano como compor uma mú-
sica, fazer um curso, realizar um projeto, iniciar uma nova agenda
de viagens ou atividades físicas são ótimas formas de criar um
condicionamento cerebral que libera as recompensas neuroquími-
cas de nosso cérebro, criando novos caminhos para o prazer inde-
pendentes da compulsão pela pornografia.
Para abandonar o vício em Pornografia, não precisamos
ficar fixados no esforço de fazê-lo. Vamos considerar o seguinte
exemplo: Uma pessoa fica por uma hora em um zoológico e uma
girafa é o animal que lhe chama mais atenção, então alguém lhe
pede na saída do zoológico que por 5 minutos e de olhos fechados
Capítulo 7 – Como Reiniciar Seu Cérebro • 133

que não pense na girafa, a chance da pessoa ser mal sucedida na


tarefa é enorme. Porque ela está focada em uma tarefa que vai exi-
gir ficar longe de uma imagem que a impactou muito. Agora se a
mesma estiver praticando esportes, pintando, compondo músicas
ou assistindo a um filme com a família enquanto executa a tarefa
solicitada, certamente ela terá muito mais sucesso.

4 – Implante uma cultura de meditação na Palavra de Deus.


Quando estamos conectados com a verdade da palavra de
Deus, dificilmente seremos enganados pela mentira de satanás.
Precisamos investir tempo de qualidade em um profundo e sin-
cero relacionamento com Deus. Jesus não ensinou apenas como
orar, ele mostrou antes onde orar e o que devemos orar. Ele nos
ensina que devemos buscar Deus em nosso lugar secreto, orando
para que a vontade dele e não a nossa seja realizada em nossas
vidas. Em meu livro Sexo sem Cativeiro: Manual de Aconselhamento
ao Compulsivo Sexual. Ensino vários princípios de como podemos
meditar na palavra de Deus.

5 – Invista em um propósito.
Um dos grandes fatores de uso recorrente de pornografia
é o sentimento de falta de propósito. Os usuários de pornografia
se vêem como fracassados diante de suas necessidades não aten-
didas, sentem-se fracassados e sobrecarregados. Resumindo, não
sabiam quem eram ou para onde estavam indo, fazendo-os buscar
consolo na pornografia74.
Ter um alvo e um propósito dá sentido à vida e nos ajuda a
direcionar nossas ações e esforços, ocupa nossos pensamentos e
nos levam a celebrar as pequenas vitórias da vida. A ociosidade é
um grande inimigo daqueles que estão entrando em um processo
de restauração do pecado sexual. Lembrando que o pecado de So-
doma e Gomorra era sua prosperidade ociosa.

74
Lisa Eldred. Hobbies and Habits • Fighting Porn with Purpose | Covenant Eyes, Página 20
134 • Sexo sem cativeiro | Paulo Adriano Muniz Gouvêa

6 – Invista em Relacionamentos Saudáveis.


Somos feridos em nossos relacionamentos, mas é justamen-
te neles que somos curados e transformados. É muito importan-
te estar conectado a grupos e comunidades que possam oferecer
amor, graça, respeito, misericórdia entre outros elementos que
juntos comunicam o verdadeiro amor. Não vamos aprender sobre
amor lendo um livro, vamos aprender isso recebendo em nossos
relacionamentos e oferecendo de forma incondicional. É muito
importante estar ligado a uma igreja, um grupo de esporte, estar
conectado a pessoas de sua família e restabelecer o vínculo pes-
soal a relacionamentos reais.

7. 2 O PODER DOS RELACIONAMENTOS NA RECUPERAÇÃO


Na década de 1970, o Dr. Bruce Alexander da Fraser Uni-
versity, criou um experimento chamado Rat Park. Uma caixa de
socialização para os ratos onde eles sempre tinham à sua disposi-
ção outros indivíduos e bastante diversão. Mas lá também tinha
sempre em oferta ilimitada dois tipos de água. Uma normal e uma
outra na cor azul e com um tipo de droga dentro.
Em um determinado momento do experimento um rato foi
colocado dentro de uma gaiola sozinho e isolado dos demais. Os
ratos são seres sociais, assim como nós. Ele ouvia os barulhos dos
demais ratos, sua movimentação mas não os via. Sua gaiola era es-
cura e sem nenhum atrativo. A ele foi oferecida uma água normal
e depois de um tempo acrescentaram uma nova água azul com
uma droga. Ele se aproximava dessa água e bebia a antiga.
Depois de um algum tempo, o rato experimentou a nova
água. Sua garganta ardia e ele sentiu um pequeno desconforto
no começo, mas a sensação que ele sentiu depois foi diferente.
Ele por alguns momentos esqueceu de sua solidão e monotonia.
Quando despertou do seu sono, viu que as fezes que outrora es-
tavam sempre no canto da gaiola agora estavam espalhadas pela
mesma. Ele se aproximou da água novamente, olhou e cheirou as
duas novamente e resolveu beber da azul.
Capítulo 7 – Como Reiniciar Seu Cérebro • 135

Em pouco tempo ele não procurava mais a água normal,


mesmo que ele tivesse que beber cada vez mais da azul para se
sentir como antes. Ele realmente não queria mais ter que lidar com
a solidão da sua gaiola escura. Certo dia, os pesquisadores o remo-
veram de sua gaiola enquanto ele estava adormecido sob efeito da
“Água azul”. Quando ele acordou estava em um lugar novo, com
outros ratos e várias atividades para fazer. Cinco ratos estavam
cheirando-o e pareciam convidá-lo para interagir com eles.
Ele se levantou e passou a exercitar-se com eles e intera-
gir nas atividades da RAT PARK. Depois de um tempo ele sen-
tiu sede, então procurou o lugar das águas. Viu que havia uma
normal e outra azul, como acontecia na sua antiga gaiola. Ele se
aproximou de ambas e as cheirou, mas desta vez tomou a água
normal. O dia ia passando e ele era tomado por uma forte dor de
cabeça, ele resistiu muito ao seu desconforto. Mas as dores eram
muito fortes e ele cedeu e bebeu da água azul.
Ele apagou e quando acordou novamente olhou ao redor
e viu seus companheiros e o lugar “mágico” novamente. Em um
pequeno período de duas semanas, ele resistia firmemente aos im-
pulsos da água azul até que não mais recorria a ela75.
Nós como seres humanos também somos seres relacionais e
é através de nossos relacionamentos que damos e recebemos vida
das pessoas. “Não é bom que o homem esteja só…” Tudo em nós foi
feito para nos relacionarmos de forma saudável uns com os ou-
tros. Quando crianças somos ainda mais maleáveis e suscetíveis
a experiências negativas. Vamos usar o exemplo de uma jovem
árvore. Se ela quando estiver crescendo, for colocada lado a lado
com uma estaca, isto vai garantir que ela cresça de forma correta.
Mas se ela não receber qualquer cuidado, ou até mesmo for amar-
rada de forma errada, essa árvore vai crescer de forma descom-
pensada e torta. Ao crescer, seu tronco será rígido demais para
corrigir e então ela pode até mesmo quebrar.

75
Lisa Heldred, Hobbies and Habits, Covenant Eyes – Página 12
136 • Sexo sem cativeiro | Paulo Adriano Muniz Gouvêa

Assim somos nós como crianças, tudo em nós é mais flexível


e maleável para recebermos o ensino correto e a orientação ade-
quada. Nosso coração está aberto para recebermos amor e é mais
fácil de perdoar quando erramos. Mas quando nos tornamos ado-
lescentes nossas “fibras” vão se tornando mais rígidas até atingir a
fase adulta. Por isso a bíblia manda ensinar a criança no caminho
que ela deve andar, então essa criança jamais vai se desviar deste
caminho.
Os pais representam estas firmes estacas para o crescimento
saudável da criança e adolescente. Tanto físico como emocional,
desde cedo precisamos aprender a dar e receber amor em nossos
relacionamentos. Muitos de nós fomos feridos em nossos relacio-
namentos, mas é justamente através deles que somos sarados. Se
o relacionamento com as pessoas não deu certo, então que nosso
relacionamento com Deus possa frutificar. Ele pode curar nosso
coração ferido e corrigir nossas duras e resistentes “fibras” da per-
sonalidade.

7. 3 A ÁRVORE DOS VÍCIOS


O Dr. Darv Smith, é líder e fundador da escola da JOCUM
de aconselhamento ao comportamento viciado. Ele nos ensina,
através da árvore dos vícios, que todo comportamento viciado
nasce em resposta a abusos e situações de trauma que vivemos
durante nossas vidas. Quando não aprendemos a lidar de forma
vitoriosa contra nossos traumas, quando não os superamos, a dor
emocional resultante de cada um deles é dilacerante e não somos
capazes de lidar com ela.
Assim como uma pessoa que quebra o braço, pede por so-
corro rápido, principalmente no sentido de aliviar sua dor, uma
pessoa que foi traída ou um filho que foi abandonado pelo pai
sofre dores terríveis na alma. Quando nos é oferecida uma dose
de qualquer coisa para aliviar essa dor, muitos cedem aos assédios
de drogas, bebidas e sexo para aliviar essa dor emocional. Então o
solo dos vícios são os abusos que recebemos, que deformam nos-
Capítulo 7 – Como Reiniciar Seu Cérebro • 137

sas emoções e a forma de nos relacionarmos com as pessoas e com


a sociedade. Os vícios são apenas os frutos e todo processo de
aconselhamento que foca apenas em resolver o comportamento
viciado vai falhar. Precisamos aprender a lidar com as rejeições
passadas e futuras para seguir uma vida livre como nos é garanti-
da através do evangelho de Cristo.

Figura 11 – árvore dos vícios

Precisamos superar o passado deixando-o lá. Precisamos


nos arrepender dos comportamentos errados que adquirimos
como forma de fugir deste passado e seguir uma vida de quebran-
tamento e dependência de Deus diante das rejeições futuras que
virão e de todos os desafios que esta vida nos proporciona. Mas
também podemos ter uma vida abundante em nossos relaciona-
mentos se fizermos nossa parte, sendo tolerante com os demais e
os chamando por vezes à responsabilidade.
Nos grupos que eu aconselho, sempre recomendo-os a bus-
car alegria relacional. Antes eles ficavam em suas casas isolados e
consumindo um grande volume de material pornográfico, agora
eles procuram uma alegria verdadeira jogando futebol, indo ao
138 • Sexo sem cativeiro | Paulo Adriano Muniz Gouvêa

cinema, andando de bicicleta e participando de células na igre-


ja. Muitos estão engajados em projetos sociais e em grupos que
praticam corrida e maratonas. Eles perderam peso, estão mais
motivados a viver e ficam pouco tempo sozinhos. Em seu tempo
particular, procuram meditar na palavra de Deus e buscar tempo
de solitude com Deus. Os resultados têm surgido e tem sido uma
experiência incrível ver estes homens renovados e reavivados no
amor de Deus.
O caminho da transformação passa, invariavelmente, pelos
relacionamentos e pela frutificação dos mesmos.
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JILL Manning, “Hearing on pornography’s impact on marriage & the


family,” U.S. Senate Hearing: Subcommittee on the Constitution, Civil
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142 • Sexo sem cativeiro | Paulo Adriano Muniz Gouvêa

DR Phillip Zimbardo, Porque os garotos falham? https://www.youtube.


com/watch?v=sgAu1i6aChs

HTTPS: //www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/revistafamilia/
rv0710200719.htm

HTTPS: //www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/
cidades/2014/04/27/interna_cidadesdf,424885/cerca-de-80-de-filhos-de-
pais-separados-sofrem-com-a-alienacao-parental.shtml

PATRICIA M. Greenfield, “Inadvertent exposure to pornography on


the Internet: Implications of peer-to-peer file-sharing networks for child
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Tamandaré, PR, Editora JOCUM, 2011)

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(PPCS). http://irep.ntu.ac.uk/id/eprint/30387/1/PubSub8168_Griffiths.
pdf

GABE Dean, rebootnation.org

MESSING, Jennifer. Everyone’s Story in Light of St. John Paul II’s


Theology of the Body. Handout. Into the Deep. Minneapolis, Minnesota.
2015.
Semeando no Reino
“Aquele que supre a semente ao que semeia e o pão ao que
come, também lhes suprirá e aumentará a semente e fará
crescer os frutos da sua justiça. Vocês serão enriquecidos de
todas as formas, para que possam ser generosos em qualquer
ocasião e, por nosso intermédio, a sua generosidade resulte
em ação de graças a Deus”. — II Coríntios 9.10-11

Eu e minha esposa, Railca, somos chamados especificamente para dedicar-


mos nosso tempo integral à Missão. Nosso trabalho está voltado para
cura e restauração de relacionamentos feridos, casamentos e famílias,
principalmente aqueles afetados por distorções na sexualidade. Fomos
chamados a reconstruir velhas ruínas e a restaurar alicerces antigos, a
reparar muros, restaurar ruas e moradias (Isaías 58.12).
Você pode se tornar um parceiro deste ministério ficando na
retaguarda, suprindo as necessidades daqueles que estão no campo
de batalha através de sua contribuição com o nosso chamado.

Opções de contribuição:
( ) Oferta Única
( ) Oferta Mensal
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PAULO ADRIANO MUNIZ GOUVEA – CPF 605.409.312-68
Banco Itaú – Agência 9313 – Conta 08405-6
Banco do Brasil – Agência 2925-4 – Conta 33485-5

RAILCA FREIRE GOUVEA – CPF 616.839.903-82


Banco Bradesco – Agência 2101 – Conta 1615-2

Você também pode ser uma coluna através da sua intercessão


por este trabalho. Deus abençoe ricamente sua vida e família.
Sugestão de Leitura

ACONSELHAMENTO AO COMPULSIVO SEXUAL


Autor: Paulo Adriano Muniz Gouvêa
Páginas: 192

Série SEXO SEM CATIVEIRO


www.sexosemcativeiro.com.br
Sugestão de Leitura

CURANDO A DOR DA TRAIÇÃO NO CASAMENTO


Autora: Railca Freire Gouvêa
Páginas: 192

www.sexosemcativeiro.com.br
Sugestão de Leitura

DEUS É BOM?
Autor: Tales Cabele Freire Gouvêa
Colaboração: Railca Freire Gouvêa
Páginas: 24

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“A pornografia tem protagonizado uma avalanche de destruição pes-
soal, social, familiar e espiritual em todo o mundo. Com muita proprieda-
de, esta obra reúne fatos, relatos e pesquisas científicas que apresentam
os impactos que a pornografia pode causar nas pessoas e na sociedade,
bem como aponta caminhos que podem e devem ser aplicadas por igrejas
e governos, como forma de proteger pessoas, famílias, igreja e as comuni-
dades desse terrível mal.”
Igor Alessandro Almeida
Teólogo, Missionário, Sexólogo e Diretor
Fundador do Ministério SOS Sexualidade

“O Livro em suas mãos é resultado de um coração quebrantado e pronto


para ouvir a voz do Senhor. Também é fruto de muita pesquisa, e de ter
experimentado em sua vida os malefícios de uma sexualidade distorcida.
Paulo e sua família são notadamente pessoas transformadas pelo poder do
Evangelho. Recomendo a leitura dessa obra não apenas pelo conteúdo ex-
cepcional e relevante para a igreja, mas também por conhecer o autor e em
nossa caminhada notar que Cristo tem usado o Paulo em sua casa como
sacerdote que abençoa seu lar.”
Germano Christman
Pastor Sênior Igreja Batista Nacional Boas Novas de Curitiba/PR

“Como liderança e igreja, vivenciamos um momento em que não temos


mais como fazermos vista grossa diante deste tema que, cada vez mais, faz
parte do nosso cotidiano. Parabéns ao amigo Paulo Gouvêa pela profun-
didade e responsabilidade com que tem se dedicado ao assunto exposto
nesta obra.”
Davi & Margarete Nascimento
Diretores do Ministério de Restauração Familiar PETRA

ISBN 978-85-923173-3-1

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