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Matilha Nehalem 41
AJ Jarrett
Capítulo 2
— Kingsley, um momento.
King parou em seu caminho ao som daquela voz. Ele se
virou para encarar o velho de frente. Charles Housemen, seu pai,
tinha uma expressão tensa e ligeiramente irritada marcando seu
rosto. Seu olhar feroz apontou diretamente para King. O pulso de
King disparou. Ele foi pego saindo da cela de Loki.
— Pai. — King cruzou os braços grossos sobre o peito e
baixou o queixo em saudação. — O que posso fazer por você?
As palavras ficaram amargas em sua língua. King passou a
maior parte de sua vida fazendo o que seu pai lhe dizia para fazer,
apenas para fazê-lo feliz e se sentir aceito pelo homem. Uma
sensação que ainda não tivera o prazer de experimentar. King
sempre se sentiu mais como um acessório para seu pai se exibir
para seus colegas. Um macaco que dançou para seu mestre sob
comando e King desempenhou o papel com louvor.
— O que você estava fazendo lá? — Charles caminhou em
direção a King, espiando pela pequena janela na porta. Seu pai
suspirou. — É uma pena que a menina morreu. Ela seria mais
valiosa do que ele.
O punho de King cerrou onde estavam dobrados sob suas
axilas. Seu pai sempre tinha um jeito de irritá-lo. Não que seu pai
não o incomodasse regularmente, mas King não estava louco por si
mesmo, mas por Loki. O garoto acabou de perder a irmã. Ele era,
segundo todos os relatos, um adolescente inocente que, por acaso,
poderia se transformar em um grande lobo branco.
King levantou a mão para esfregar a testa. O que ele
estava pensando? A raiva fazia sua cabeça doer porque seu pai
estava sendo um idiota completo com um shifter que mal conhecia.
Um shifter! Uma coisa que foi enviado atrás para capturar e poderia
ter que abater como um animal raivoso. King olhou para a pequena
janela e viu que Loki havia se enrolado em uma bola de lado e
parecia estar dormindo. Nada nele gritava perigo. Frágil, triste,
quebrado... essas eram as palavras que usaria para descrever Loki.
Um cachorrinho perdido.
— Bem, você pode agradecer aquele idiota, Brent. — King
rosnou. — Aquele filho da puta atira primeiro e depois faz
perguntas. Não é bom para os negócios, pai.
— Sim, Brent. — Charles cantarolou. — Ele é um pouco
ansioso, mas jura que fez isso para salvar Bane.
— Tanto faz. — King revirou os olhos. — Esse cara é um
mentiroso de merda. Ele é a porra de um canhão solto que não
quero no meu time.
King estava furioso, não por si mesmo, mas em nome de
um adolescente com quem não tinha laços. Compaixão não era algo
que normalmente sentia por alguém ou alguma coisa. As pessoas
provavelmente o descreveriam mais como um idiota egoísta e sem
emoção.
— Vou levar isso em consideração, mas até lá... — Charles
deu de ombros. Ele se virou para olhar para Loki. Um olhar
brilhante em seu rosto fez os cabelos da nuca de King se
arrepiarem. — Esse menino é jovem. Ele será útil para nossos
experimentos. Bom trabalho, filho. — Charles deu um tapinha nas
costas de King, virou-se e foi embora.
Uma explosão de calor bombeou nas veias de King com as
palavras de seu pai. Ele nunca tinha notado o quão frio e
implacável seu pai tratava as pessoas. Ele passou tanto de sua vida
tentando obter a aceitação de seu pai que ficou cego para o mal
que estava dentro dele, onde deveria estar um coração.
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
*****
Loki acordou em seu quarto. Ele se sentou muito rápido e
ficou tonto quando o mundo se inclinou em seu eixo. Sua língua
estava seca e áspera em sua boca, e ele mal conseguia engolir.
O som de alguém falando na outra sala fez Loki pular de
pé. Ele agarrou o moletom que estava no chão e o vestiu enquanto
cambaleava em direção à sala de estar.
— Merda! — Resmungou quando caiu na porta do armário
enquanto tropeçava em seus pés. O que quer que tenham atirado
nele tinha que ser uma coisa altamente potente. A visão de Loki
ficou turva e ele viu em dobro.
— Bom. Você finalmente acordou. — Os olhos de Loki
perfuraram Charles. O outro homem estava sentado no sofá,
falando ao telefone. — Te ligo assim que terminar aqui. Não, não o
solte ainda. — Charles desligou. Ele se recostou todo confortável no
apartamento de Loki e King, como se fosse o dono do lugar.
O rosto de Loki se contraiu. Bem, tecnicamente o homem
era dono daquele lugar, mas tanto faz. Não importava. Não era
como se Loki quisesse estar ali. Seja como for, aquela era a casa
dele, aquela que dividia com King, e não parecia certo ter Charles
aqui espalhando sua energia ruim.
— O que está fazendo aqui? — Loki perguntou enquanto
contornava a ilha na cozinha em direção à geladeira. Ele abriu a
porta com força demais, e o conteúdo tremeu e chacoalhou com a
força. Loki pegou uma garrafa de água e fechou a porta. Seguiu-se
mais barulho.
— Como se eu precisasse de um motivo para vir visitá-lo,
Loki. — Charles cruzou a perna esquerda sobre a direita, deixando
o pé direito quicar no ar. — Meu shifter residente.
— Oh, Deus. — Loki gemeu. — Você costuma ouvir a si
mesmo falar? É tão irritante. — Loki encostou-se no balcão. Ele
abriu a tampa da garrafa de água, levando-a aos lábios e engolindo
a umidade fresca.
— Sinto muito, meu caro menino, mas não estou aqui para
entretê-lo. — Charles levantou-se e caminhou em direção a Loki,
parando apenas quando ele parou bem na frente dele. — Eu ouvi
sobre o que aconteceu hoje. Pelo que Brent disse, ele feriu seus
sentimentos e você retaliou atacando-o. — Charles fez um estalo
irritante com a língua e então, mais rápido do que Loki esperava, o
homem estendeu a mão, agarrando Loki pelo queixo.
O lobo dentro de Loki uivou. Ele não queria ser tocado por
aquele homem, e suas presas se alongaram e Loki rosnou.
— Controle-se, lobo. — Charles apertou mais. — Eu odiaria
ter que te derrubar.
— Você pode tentar. — Loki forçou as palavras, tentando
soar mais confiante do que se sentia. Sem dúvida, se Loki mudasse
e rasgasse esse homem em pedaços, os guardas estariam sobre ele
em segundos, enchendo-o de balas. Quase valia a pena perder a
vida para eliminar aquele ser humano maligno. — Tenho certeza de
que King pode não gostar muito disso.
— Jovem esperto. — Charles soltou o queixo de Loki e deu
um tapa de leve na bochecha dele. — Neste ponto ele é a única
razão pela qual você ainda está vivo. Ele parece mais tranquilo
agora que tem você. — Os lábios de Charles se apertaram como se
ele tivesse provado algo azedo. — Enquanto King permanecer
focado assim, você permanecerá vivo. Depois de esgotar sua
utilidade, há uma bala com seu nome nela. — Charles bateu com o
dedo na cabeça de Loki.
— Você é louco. — Loki se afastou de Charles. — Para
alguém que sabe tanto sobre shifters, não consegue perceber que,
como companheiro de King, ele sempre vai me querer e precisar de
mim. — Loki enfiou a mão no peito. — Me ameace o quanto quiser,
mas não tenho medo de você — Loki disse com mais confiança do
que sentia.
— Você deveria ter. — Charles sorriu para ele, então se
virou e caminhou em direção à porta da frente. — King estará aqui
em breve. Sugiro que guarde o que aconteceu para si. Eu odiaria
que King se distraísse na missão desta noite. Adeus, Loki.
Assim que a porta se fechou atrás do homem insuportável,
Loki perdeu a compostura. Ele deslizou pela porta do armário para
cair com força no chão. Ele puxou os joelhos contra o peito e
deixou as lágrimas quentes escorrerem por suas bochechas.
Ele só queria ir para casa.
Ele sentia falta de sua família e companheiros de matilha.
Ele era um homem em uma ilha ali. Não importava o quanto King
se importasse com Loki, ele não poderia protegê-lo de seu pai.
Tinha que descobrir uma maneira de escapar daquele lugar.
Capítulo 12
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
*****
Loki passou pelo apartamento dele e de King. Seu olhar
continuou piscando para as janelas enquanto o sol se punha no céu
nublado laranja e roxo. Pelo que Marco disse, o Conselho de
Caçadores atacaria logo após o anoitecer, mas nem King nem
Marco sabiam quando Charles iria buscar Loki. Charles não era
muito de avisar quando as missões aconteceriam. Ele mantinha
todos em espera.
— Querido, pare de andar. — King veio atrás de Loki,
envolvendo seus braços grossos e quentes ao redor dele, parando-o
em seu caminho. — Não vou deixar que levem você. Bane disse
que o chefe do Conselho da Costa Oeste, Sebastian, está de olho
no complexo. Você não vai embora daqui sem mim.
— Eu sei, querido. — Loki se virou no abraço de King e
segurou firme em seu companheiro. — Estou com tanto medo de
todas as incógnitas. Não quero que nada aconteça com você ou
Marco. Porra, até os gêmeos com quem você fez amizade hoje
estão contando com a gente para não estragar tudo.
— Não se estresse. Isso tudo vai acabar logo e não passará
de uma lembrança ruim. — King beijou o topo da cabeça de Loki. —
Estaremos livres para viver nossas vidas juntos.
— Eu gosto do som disso. — Loki esfregou o rosto no peito
de King, deixando seu perfume amadeirado cobrir seu rosto.
Uma batida forte na porta fez os dois pularem. Loki olhou
pela janela para ver que a noite havia caído. Sua frequência
cardíaca aumentou e ele se agarrou a King com mais força. Outra
batida fez King se afastar dele e caminhar em direção à porta. Ele a
abriu.
— Ei, King. — Os gêmeos estavam do lado de fora da porta.
Loki não tinha certeza de qual deles estava falando. Eles eram
muito parecidos. — Fomos enviados para recolher vocês dois. — O
homem olhou de King para Loki, em seguida, lançou um olhar para
a esquerda. Uma gota de suor escorria pela lateral do rosto do
homem.
O da direita entrou totalmente na sala e sussurrou tão
baixo que Loki mal o ouviu.
— Por favor, diga-me que seu pessoal está próximo.
King assentiu com a cabeça. O gêmeo ainda no corredor
soltou um suspiro e cedeu um pouco de sua postura rígida.
— Querido, vamos. — King estendeu a mão para Loki. Ele
pegou, e King o puxou para perto para pressionar um beijo casto
em seus lábios. — Não se preocupe. Nós temos isso.
— Ok. — Loki disse com mais confiança do que realmente
sentia.
Loki, com King ao lado dele, segurando sua mão, seguiu os
gêmeos pelo corredor e entrou no elevador. Assim que chegaram
ao nível do solo, as portas se abriram. A forte luz artificial no
corredor fez Loki semicerrar os olhos contra a forte iluminação. Ele
se agarrou com mais força à mão de King e saiu do prédio.
— Boa noite, Loki. — Charles estava parado do lado de fora
da entrada do prédio. Um grande grupo de homens cercou o pátio.
Brent ficou de lado, um largo sorriso perverso em seu rosto feio. Os
sons da hélice do helicóptero soavam ao longe. — Eu tenho
pensado que está preso aqui há muito tempo. Achei que seria bom
deixar você nos ajudar em uma missão esta noite. Que tal?
— Eu tenho escolha? — Loki perguntou, e King rosnou de
onde estava ao lado dele.
— Oh, meu doce menino. — Charles caminhou até ficar
bem na frente de Loki. Ele estendeu a mão para acariciar os dedos
na bochecha de Loki. Quando ele alcançou seu queixo, ele o
agarrou. — Sempre há uma escolha, mas não para você. — King
bufou e rosnou ao lado dele. Loki apertou a mão de seu
companheiro. Ele não podia deixar King atacar ainda. — Vamos. —
Charles estalou os dedos e se afastou.
Loki respirou fundo. Ele se virou para olhar para King. Ele
balbuciou: “eu te amo”.
— Oh, pelo amor de Deus, mova-se! — Brent estalou
enquanto agarrava Loki pela frente de sua camisa e o puxava para
frente. King se lançou para frente, mas Brent estava pronto para
ele. Ele apontou uma arma para a cabeça de Loki. — Faça isso. Eu
imploro. — Brent disse com alegria demais para o gosto de Loki. O
cano duro e frio cravou-se em sua têmpora. — Há anos que procuro
um motivo para acabar com esse filho da puta.
— Eu vou matar você. — King grunhiu com os dentes
cerrados.
— Kingsley? — Charles virou-se, as sobrancelhas
apontando para a testa.
— Não se preocupe, pai. Você não estará vivo o suficiente
para se perguntar como isso aconteceu.
Os sons de explosivos dispararam. Um rangido alto soou ao
longe. Brent se virou, ainda segurando Loki contra o peito. Loki
observou o portão de metal da frente cair no chão. Homens
avançaram com armas nas mãos.
— O que diabos está acontecendo? — Charles gritou.
— Solte-o! — King gritou.
— Acho que não, King. — Brent riu. Ele inclinou a cabeça
para sussurrar. — Eu me pergunto o que vai acontecer quando ele
assistir você morrer? — Brent beijou a bochecha de Loki.
O engatilhamento do cano fez com que o olhar de Loki se
voltasse para King. Num piscar de olhos, King se transformou em
sua forma híbrida e saltou em direção a eles assim que a arma
disparou. Uma faixa de fogo deslizou sobre sua testa e um líquido
quente escorreu por seus olhos.
As pernas de Loki cederam quando ele foi empurrado para
o chão. Os sons de tiros e lutas encheram a noite. Loki lutou para
manter os olhos abertos. Ele virou a cabeça e observou King
agachado por cima de Brent arranhando o rosto do outro homem.
Loki se virou, incapaz de assistir mais.
— Loki! — Ele ouviu a voz de Lucas e abriu os olhos para
ver seu irmão. — Aguente firme, irmãozinho. — Lucas alcançou sob
os joelhos e ombros de Loki, erguendo-o no ar.
— Não. — Loki lutou contra o aperto de seu irmão, mas não
conseguiu se libertar. Sua visão entrava e saía de foco. — King.
— Confie em mim, ele está bem. — Disse Lucas.
— King! — Gritou Loki. Ele não poderia partir sem King.
— Querido, pare de lutar. — Loki abriu os olhos e encontrou
o olhar azul profundo de King. — Vá com Lucas. Você levou um tiro
e não posso lutar se não souber que está seguro. Por favor,
querido.
— Não morra. — Lágrimas caíram de seus olhos,
misturando-se com seu sangue.
— Não estou planejando. — King se inclinou e roçou seus
lábios nos de Loki. — Eu te amo.
— Também te amo. — Loki observou King se virar e correr
em direção a um dos prédios.
— Não se preocupe com ele, Loki. Depois do que acabei de
ver seu companheiro fazer, ele vai ficar bem. — Lucas correu em
direção à entrada da frente, embalando Loki em seu peito. — E
Bane não vai deixar nada acontecer com ele.
Loki assentiu e estremeceu quando a dor disparou em sua
cabeça. A dor tornou-se demais.
Por favor, Deus. Não deixe nada acontecer com ele.
Loki não conseguiu impedir que a escuridão o dominasse e
caiu no vazio.
Capítulo 19
Capítulo 20
Dois dias. Dois dias se passaram desde que Loki viu seu
companheiro. Dois dias muito longos que pareceram uma vida
inteira, mas duraram apenas 48 horas. Loki ficou olhando pela
janela da cozinha localizada sobre a pia. Ele olhou para fora
notando nada em particular, muito perdido em seus pensamentos
sobre King.
Loki sentia falta dele. Ele entendeu a necessidade de seu
companheiro ajudar o Conselheiro dos Caçadores a questionar as
pessoas que trabalhavam para o SNH. Era importante, mas ainda
doía que seu companheiro não estivesse com ele. Claro, ele estava
sendo egoísta, mas não poderia ser? Depois de tudo que passou em
sua vida, seria demais para ele apenas ser feliz?
Você está sendo um idiota totalmente egoísta. A voz dentro
de sua cabeça riu dele. Sua consciência era uma idiota, mas
também certa. O chefe do SNH havia sido retirado. Agora o
Conselho de Caçadores poderia desmontar a organização peça por
peça.
— Filho, pare de se lamentar. — Seu pai, Ethan, passou por
Loki para colocar sua caneca de café na pia. — Não é como se não
soubesse que King está bem.
— Não é o ponto, pai. — Loki soltou um suspiro dramático.
— Só sinto falta dele.
— Loki. — Ethan colocou um braço em volta dos ombros de
Loki e o conduziu até a mesa redonda da cozinha em frente às
portas de vidro que davam para o quintal. Ele puxou uma cadeira e
Loki se jogou nela. — Ele está com seu irmão e Bane. Ele está
ajudando a reunir os soldados restantes do SNH. Eles não podiam
simplesmente abandonar aquela instalação. Deixado sem vigilância,
não há como dizer o que poderia acontecer. Além disso, tiveram
que encontrar moradia para os shifters mantidos em cativeiro lá.
— Pai. — Loki gemeu. — Eu odeio quando você cospe fatos.
Eu quero ficar chateado porque meu companheiro não está aqui.
Não pode simplesmente me satisfazer?
— Seu companheiro. — Disse seu pai em um tom suave. —
Não tenho certeza se algum dia vou me acostumar com isso.
Loki olhou para seu pai e sorriu. Seus pais eram homens
fortes. Eles ficaram indefesos quando seus dois filhos foram
sequestrados e então tiveram que sentar e aceitar quando eles se
acasalaram com seus sequestradores. Acontecer uma vez já seria
ruim o suficiente, mas duas vezes? A pior sorte de todas, mas seus
pais permaneceram fortes e estavam felizes por ter seus filhos de
volta, mesmo com quem estavam acasalados.
Depois que Brent atirou em Loki, Lucas o colocou em uma
van que o transportou para receber atendimento médico. Ele foi
então enviado de volta para casa em Nehalem. Ele queria ficar para
estar com seu companheiro, mas Lucas não permitiria. Quase
quebrou seu coração quando Lucas disse a ele que King
concordava.
Uma pequena parte do coração de Loki desmaiou sabendo
que seu companheiro queria mantê-lo seguro, como se Loki fosse
uma joia preciosa que precisava ser protegida. Ele não era, mas
ainda era um sentimento agradável. Mas no momento em que visse
King, ele estaria dando a ele um belo discurso. Loki era um shifter
lobo, podia se controlar e queria ficar ao lado de seu companheiro.
Só porque King era um híbrido maior que a vida, não significava
que Loki não se preocupasse. Tudo o que ele fez foi se preocupar
nos últimos dois dias.
— Pai, prometo que vai gostar dele. — Loki arrastou a
cadeira para mais perto de seu pai, passando o braço sobre os
ombros e abraçando-o com força. — Claro, quando ele me levou,
não foi legal. Ele era mais besta do que homem, mas não foi uma
coisa ruim. — Um sorriso curvou seus lábios, e memórias o
inundaram. — Foi meio quente.
— Sim, não. — Seu pai se levantou e estalou os dedos no
nariz de Loki. — Eu já fui jovem, e também estou acasalado com
um shifter lobo. Não preciso ouvir todos os detalhes gráficos de sua
união. — Seu pai estremeceu. — Loki, filho, digo isso com o
máximo de amor possível, mas precisa sair de casa. Vá fazer algo
para esquecer a saudade do seu companheiro. Apenas lembre-se
do jantar na casa do alfa às seis. — Um zumbido veio do bolso de
seu pai. Ele pescou seu telefone, rindo. — Por que não vai se
encontrar com os meninos na cafeteria? Sei que seus amigos
sentiram sua falta.
— Tudo bem. — Loki resmungou sem motivo algum a não
ser ficar amuado. — Vejo você no jantar.
Loki pegou as chaves de seu Jeep do gancho perto da porta
da garagem. Ele girou a maçaneta da porta, apenas para encontrar
seu outro pai. Um guincho nada masculino saiu dos lábios de Loki,
e ele não teve vergonha de dizer que pulou um metro e meio no ar.
— Assustei você, garoto? — Seu pai, Holden, estendeu a
mão para beliscar a bochecha de Loki.
— Caramba, pai. — Loki tinha uma mão junto ao peito. —
Você quase me deu um ataque cardíaco.
— Impossível, filho. — Quando Holden passou por Loki, ele
se inclinou para beijar o topo de sua cabeça. — Você é um shifter.
Vai precisar mais do que isso para te matar.
— Bom saber, mas ainda assim...
Loki entrou na garagem e entrou em seu Jeep. Ele sentia
falta de poder dirigir e apenas ir a qualquer lugar que quisesse.
O sol estava alto acima dele. Um azul brilhante com zero
nuvens povoando o céu. Loki abaixou a janela e respirou o cheiro
de flores silvestres e o que cheirava a chuva no ar.
Ele adorava morar em Nehalem. A natureza o cercava e
mantinha seu conteúdo de lobo. Ali fora poderia mudar e correr na
floresta sem ser visto. Era uma sensação libertadora estar de volta
em casa, mas sem King parecia não deixá-lo tão feliz quanto antes.
A viagem até Silver Creek levou menos de vinte minutos.
Silver Creek tinha uma aparência moderna, mas também tinha
aquela sensação de cidade pequena onde todos se conheciam. Ela
havia se expandido ao longo dos anos, mas nunca perdeu sua
vibração saudável.
Loki estacionou em uma vaga em frente ao Early Bean
Café. Os pais de seus amigos Kieran e Abe eram os donos do café,
e seus amigos trabalhavam lá quando não estavam na escola.
Loki caminhou em direção à porta e sorriu e balançou a
cabeça quando viu Jackson sentado no balcão comendo um muffin
enquanto os dois irmãos discutiam atrás do balcão. Jackson era
filho do alfa da matilha e um dos melhores amigos de Loki.
— Ei, Lo-Lo! — Jackson pulou da cadeira e correu até Loki,
envolvendo-o em seus braços grossos e longos. Jackson tinha pelo
menos um metro e oitenta e cinco e pesava quilos e quilos de puro
músculo. Não doía que Jackson tivesse uma personalidade
acolhedora e fosse muito bonito. Ele tinha aquela coisa de garoto
da porta ao lado, e ele arrasava totalmente. Jackson um dia seria o
alfa da Matilha Nehalem, algo que seu amigo não tinha vontade de
fazer. — Senti sua falta, cara.
— Loki! — Abraham se espremeu entre o enorme peito de
Jackson e abraçou Loki pela cintura. Abe e Loki eram semelhantes
em tamanho. Abe tinha a pele mais pálida, que queimaria
instantaneamente se ficasse fora por muito tempo. Seus brilhantes
olhos azuis estavam alegres, e ele tinha uma mecha de cabelo loiro
avermelhado no topo de sua cabeça. Ele também era o mais novo
do grupo de amigos.
— Abram espaço, vadias. — Kieran, o irmão mais velho de
Abe, empurrou os outros dois para o lado para abrir espaço para si
mesmo.
Kieran tinha a mesma pele pálida de seu irmão mais novo,
mas seu cabelo era castanho claro com mechas loiras entrelaçadas.
Ele também era alto como Jackson e tão musculoso quanto.
Jackson e Kieran sempre assumiram a responsabilidade de serem
os protetores de Loki e Abe.
— Senti saudades de vocês. — Loki fechou os olhos e
respirou os cheiros familiares de seus amigos. Ele sorriu porque
aqueles três caras podiam não ser seus irmãos de sangue, mas isso
não importava. Eles eram família.
— Estávamos com tanto medo, Lo-Lo. — Abe agarrou a
camisa de Loki como se estivesse com medo de que Loki
desaparecesse dele. — Depois do ataque... Então você foi levado.
Nossos pais ficaram apavorados.
— Não é brincadeira, cara. — Jackson soltou e puxou Loki
pelo braço em direção a uma mesa. Abe soltou e os seguiu, assim
como Kieran. — Nossos pais instalaram um toque de recolher. Você
pode acreditar nessa merda? Kieran e eu temos 21 anos. Eu tenho
um para você e Abe aqui. — Jackson se inclinou sobre a mesa e
bagunçou o cabelo despenteado de Abe.
— Ah, cale a boca, Jack. — Abe estalou os dentes para
Jackson.
— Eu entendo. — Kieran, sempre a voz da razão, falou. —
Todo mundo estava com medo. Quero dizer, depois do que
aconteceu com Lucas e Alfie, nossos pais e companheiros de
matilha tinham todos os motivos para serem superprotetores. —
Um silêncio tomou conta da mesa enquanto eles concordavam com
a cabeça. — Falando nisso, você viu Alfie e Jonah?
— Eu vi ontem. — Loki assentiu. — Muito legal que Alfie e
SJ vão se casar. Estou feliz por eles.
Uma pontada de saudade percorreu o coração acelerado de
Loki. Ele não estava com ciúmes de Alfie e seu companheiro, mas,
caramba, queria todas essas coisas também. Casar, construir uma
casa e começar uma família.
— O que há com esse rosto? — Abe acenou com a mão
esguia na frente do rosto de Loki. — Pelo que ouvi, não vai demorar
muito até que esteja fazendo a mesma coisa que eles. — Abe
revirou os olhos dramaticamente. — Meio que dói termos que ouvir
de nossos pais de todas as pessoas que você encontrou seu
companheiro. — Abe gritou de alegria. — Só tive um vislumbre de
King quando ele arrebatou você, mas caramba... — Abe respirou
fundo e abanou o rosto com a mão. — Tão gostoso.
— Tão nojento. — Kieran empurrou sua mão enorme sobre
o rosto de seu irmão. — Não é educado babar pelo companheiro de
outra pessoa.
— Oh, está tudo bem. — Loki acenou com a cabeça. — Ele
é totalmente gostoso.
— Sério, Lo-Lo. — Jackson falou. — Você está feliz? Tipo
realmente feliz? — Aqueles olhos verdes penetrantes encaravam os
de Loki.
— Estou. — Loki esfregou o peito. Seu coração estúpido
tinha vontade própria hoje. — Eu disse a vocês que havia algo nele.
Claro, na época, eu nunca teria imaginado que ele era meu
companheiro, mas faz sentido agora. — Loki fechou os olhos,
fazendo o possível para impedir que as lágrimas quentes caíssem.
— Sinto muita falta dele.
O sino da porta da frente tocou, mas Loki não se virou para
ver quem havia entrado no café. Pensar em King o distraiu a ponto
de entorpecimento.
As cabeças de seus amigos se ergueram. Uma garganta
pigarreou e um cheiro de fogo fez Loki se virar tão rápido que
perdeu o equilíbrio. Foi preciso Jackson pegá-lo para impedi-lo de
cair de bunda.
— King! — Loki correu para frente, batendo no peito duro
de King, respirando seu cheiro único, fogo e gelo. Ele esfregou o
rosto entre os peitorais sólidos e duros de King, querendo se cobrir
com o cheiro de seu companheiro. Loki se afastou o suficiente para
olhar nos olhos azuis de King.
— Ei, querido. — Os olhos de King se enrugaram nos cantos
enquanto seu sorriso se alargava. — Está com saudades?
— Não. Na verdade, não — Loki brincou e fez seu
companheiro resmungar e apertar a cintura de Loki.
— Vamos seguir em frente e partir. — Kieran estendeu uma
chave para Loki. — Tranque quando você, uh, terminar. — As
bochechas de Kieran estavam vermelhas.
— Lembre-se de que não há sexo aqui. — Abe sorriu para
Loki. — O departamento de saúde desaprova isso. Pelo menos é o
que meus pais dizem.
— Oh, Deus, pare de falar. — Kieran colocou a mão sobre a
boca de Abe. — Desculpe por este. — Ele acenou com a cabeça
para o irmão. — Mas é um prazer conhecê-lo. Loki merece ser feliz.
— Vou mantê-lo feliz também. — King roçou os lábios nos
de Loki em um beijo que não durou tanto quanto Loki gostaria.
King se virou para olhar para o círculo de amigos de Loki. — King, e
você é? — King estendeu a mão para Kieran, que a pegou com um
sorriso de aceitação.
— Oh, merda, desculpe. — Loki se virou para apresentar
seus melhores amigos. — Este é Kieran e seu irmão, Abraham, mas
nós o chamamos de Abe. — King então apertou a mão de Abe. — E
este é Jackson. Ele é o filho do alfa. — King estendeu a mão para
Jackson, mas levou um momento para Jackson segurá-la.
— Ele é um de nós. — Os olhos verdes de Jackson
brilharam. — Se você machucá-lo, vou machucar você. — Os olhos
de Loki se arregalaram com a demonstração de domínio.
— Eu não esperaria nada menos, Jackson. — King
sustentou o olhar de Jackson. — Mas não tem nada com que se
preocupar. — King olhou para Loki e então de volta para Jackson.
— Eu o amo mais do que a própria vida. Prefiro morrer a deixar que
qualquer mal aconteça a ele.
— Ok. — Jackson assentiu uma vez. — Aceito isso. — Um
sorriso perverso curvou os lábios de Jackson. — Eu sou uma tarefa
simples, mas nossos pais... não tanto, então boa sorte esta noite.
— Jackson deu um tapinha no braço de King ao passar por ele.
— O que tem hoje à noite, querido? — King se virou para
circundar Loki em seus braços, dobrando os joelhos para que ele
ficasse mais ao nível dos olhos dele.
— Jantar em família na casa do alfa. — Loki não conseguia
parar de sorrir, os últimos dois dias esquecidos. Ele observou o
rosto barbeado de King, e seu longo cabelo loiro estava preso em
um coque solto na parte de trás de sua cabeça. Ele usava jeans
azul claro e uma camiseta preta justa. Ele parecia bom o suficiente
para comer. — Deus, senti sua falta.
— Eu também. — King lentamente se inclinou,
pressionando seus lábios quentes nos de Loki. — Muito.
Loki gemeu quando King aprofundou o beijo. Sua língua
lambeu dentro da boca de Loki, que a chupou.
— Que calor! — Loki ouviu Abe sussurrar.
— Pelo amor de Deus, você precisa de ajuda, Abe. —
Kieran gemeu.
Loki ouviu o sino tocar quando seus amigos saíram, os três
homens discutindo em sussurros enquanto paravam do lado de fora
da porta. Loki começou a rir.
— Seus amigos são legais. — King pressionou sua testa
contra a de Loki.
— Eles crescem em você. — Loki não conseguia parar de
sorrir. Ele respirou fundo e se afastou de King. Ele agarrou sua mão
e o levou a um sofá no canto mais distante. — Então, qual é o
plano?
Loki estava se perguntando o que aconteceria agora. Ele e
King eram companheiros, mas o que isso significava para eles?
King viveria ali ou Loki deveria se mudar para longe de sua família?
Havia muitas incógnitas, e Loki não gostou daquela sensação
inquietante girando em seu estômago.
— Plano? — Perguntou King.
— Sim. — Loki sugou o lábio inferior, mordiscando a carne
macia. — Você vai ficar?
— Pare com isso. — King manuseou o lábio de Loki,
puxando-o para fora de seus dentes. — Vamos esclarecer uma
coisa. Não importa o que aconteça, vamos ficar juntos. — King
puxou a gola de Loki e tocou a marca de mordida que ele havia
deixado. — Você é meu. Onde for, eu vou.
— Mas onde é isso? Não quero presumir que você está bem
ficando aqui em Nehalem ou Silver Creek. Quero que você seja feliz
também.
— Amor, sou feliz desde que esteja com você. Você é
minha casa. — King beijou Loki na ponta do nariz. — Tenho certeza
que ouviu que meu pai está morto e o SNH está sendo
desmantelado. Finalmente estou livre de tudo, e isso graças a você,
que me trouxe de volta.
— E eu faria de novo. — Loki subiu no colo de King e
montou em seus quadris. Ele descansou as palmas das mãos nas
bochechas lisas de King. — Você está bem? Com seu pai morto?
— Mais do que bem. — King balançou a cabeça. — Ele
deixou de ser meu pai anos atrás, Loki. Aquele homem era um
monstro que precisava ser abatido. Não vou me arrepender de
matá-lo. — King respirou fundo. — É tão clichê dizer isso, mas ele
teve o que merecia. Ele me projetou nessa coisa, então era justo
que morresse pelas minhas mãos.
— Ainda sinto muito, querido. — Loki pressionou sua testa
na de King.
— Eu sei, e esse é um dos principais motivos de eu te
amar. Você se importa demais.
— Deus, eu te amo e senti sua falta. Nunca mais vamos
nos separar. — Loki salpicou beijos no rosto de King.
— Estou de acordo com isso. — As grandes palmas de King
moveram-se para os lados de Loki até cobrirem sua bunda. Ele
puxou Loki para perto para beijá-lo. — Mas precisamos ir à procura
de uma casa. — Disse King. — Já que aceitei o emprego que Bane
ofereceu.
— Você vai trabalhar para o Conselho de Caçadores? —
Loki perguntou.
— Vou. — King sorriu. — Você mora aqui, amor. Eu não ia
te afastar das pessoas de quem gosta. Quero conhecer seus pais e
companheiros de matilha. Estamos juntos nessa, Loki. Vamos
construir nossa vida aqui. O que diz?
— Sim. Sim! Sim! — Loki esmagou seus lábios com força
nos de King. Ele não pôde evitar. Quando se tratava daquele
homem, Loki se tornava uma poça de gosma no chão.
O beijo começou a ficar mais agressivo. King empurrou
seus quadris para cima, esfregando-se na bunda de Loki, e em
qualquer outro momento, Loki estaria bem quebrando a regra “sem
sexo no café”, mas não naquela noite.
Lentamente se afastou de King. Ele mordeu os lábios e riu
enquanto King perseguia sua boca.
— Vamos. — Loki deu um pulo e estendeu a mão para
King. — Vamos nos atrasar.
— Atrasar? — Perguntou King. Ele agarrou Loki e tentou
puxá-lo de volta para seu colo.
— Jantar na casa do alfa, lembra? — Loki se virou e
caminhou em direção à porta. — Mal posso esperar para meus pais
conhecerem você. Vai ser muito divertido!
— Iremos, mas depois... — Loki conduziu King para fora da
porta e a trancou. King virou Loki e o empurrou contra a porta. Seu
pau duro pressionou o quadril de Loki. — Você é meu.
— Estou completamente bem com isso, garotão. — Loki
deu um tapinha na bochecha de King. — E só para saber, você
também é meu.
Loki beijou o sorriso do rosto de seu companheiro. Aquilo
era felicidade. Em sua forma mais pura. Loki passou tantos anos
perdido e sozinho até chegar a Matilha Nehalem. Eles o levaram e
mostraram o que o amor e a família realmente significavam.
E Loki mal podia esperar para mostrar a King o mesmo.
Aquelas pessoas eram sua família, e seu ‘felizes para sempre’
começava agora.
Epílogo