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Juscelino Kubitschek

Muito já se escreveu e já se falou sobre Juscelino Kubitschek, o


inolvidável Presidente JK, que marcou o século XX como indiscutivelmente a maior
estrela política, social e humana, surgida na América Latina.

Nascido na pequena cidade de Diamantina em Minas Gerais, filho de


caixeiro viajante e professora primária, órfão de pai aos dois anos de idade,
Juscelino herdou do pai João César, poeta, cantador e violeiro de românticas
serestas nas ladeiras da cidade bucólica, o gosto pela poesia, pela música, e o
sentimento pelas coisas simples e alegres.

Da mãe, a mestra Júlia Kubitschek severa e determinada professora


primária, neta de Jan Nepomuscky Kubitschek, austríaco que emigrou para o Brasil
em 1831. Juscelino órfão de pai, tão novo, recebeu os ensinamentos básicos de sua
formação, voltada para o aspecto do civismo, o respeito e o amor à Pátria, o cultivo
das relações humanas e de sólida consciência cívica.

Foi aluno aplicado e estudante dedicado, cuja curiosidade inata o levava


sempre à busca do significado mais profundo do que lhes ensinavam na escola.

Na falta de uma escola de 2º grau na cidade matriculou-se no Seminário


Diocesano.

Inquieto saindo do Seminário aos 15 anos, estudou francês e inglês com


o tio, professor da Escola Normal, freqüentava a biblioteca da União Operária, até
completar 18 anos, quando finalmente viajou para Belo Horizonte. Primeiro
emprego, telegrafista dos Correios e Telégrafos, obtido por meio de concurso, que
lhe proporcionou os meios para custear as despesas do Curso da Faculdade de
Medicina onde ingressou em 1922 e diplomou-se em 1927.

Juscelino era um ser privilegiado. Espírito arguto observava a sua volta os


acontecimentos políticos, sociais, científicos, empresariais.

Colou grau no dia 17 de dezembro de 1927 e não teve sequer um


momento de hesitação; era médico então havia que praticar a medicina. Sempre
bafejado pela sorte, em cujo encalço estava sempre correndo, reencontrou o doutor
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Júlio Soares que conhecera na faculdade e se formara três anos antes, sendo
convidado por ele a se associar ao seu consultório e ainda para assistente na clínica
cirúrgica da Santa Casa de Belo Horizonte. Logo depois, professor assistente da
cadeira de física médica da Faculdade de Medicina. Era incansável.

Queria aprender mais. Juntou as economias e em abril de 1930 partiu


para a Europa. Em Paris, especializou-se em urologia, visitou clínicas, hospitais,
viajou para outros países, foi ao Oriente Médio e até a Terra Santa.

Volta ao Brasil com a visão de universo e se condói da situação das


classes desfavorecidas do seu país.

Constata o contraste entre a miséria do povo e a opulência da minoria


enriquecida.

O casamento com Sarah Lemos ocorreu no dia 30 de dezembro de 1931,


o levou a fazer parte de uma família tradicional, cujos ancestrais se projetaram na
política desde o Império continuando em destaque na República.

E não tardou para que o menino de Diamantina fosse arrastado para a


política.

Em 1934 é eleito Deputado Federal. Em 1940 é nomeado pelo


Governador Benedito Valadares, Prefeito de Belo Horizonte.

E. Roberto Mendonça em seu livro “JK Cidadão do Brasil” qualifica a


passagem de JK pela prefeitura de Belo Horizonte como o “Prefeito furacão”.

Reordenou os espaços da cidade, buscou a colaboração de técnicos,


vinculou a jovem capital ao progresso material e a renovação política. Atraiu
indústrias, renovou os serviços urbanos.

Decisões ousadas e projetos audaciosos antecipavam a trajetória do


político empreiteiro. Juscelino via nas tarefas temerárias não as dificuldades, mas a
plena realização com audácia e visão de futuro.
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O limite do homem é provisório quando o objetivo é superá-lo. O recorde


torna-se meta fugaz, logo substituída pelo desejo de ir mais adiante. E, quando se
chega lá, novo desafio empurra a meta para mais longe, para novamente se ter um
limite para buscar. O homem animado pelo espírito de superações alimenta-se de
suas próprias conquistas, faz da competição consigo mesmo o combustível que
queima na corrida. Com tenacidade, a superação acontece a cada instante.

Juscelino era assim, foi assim, sempre buscando nova meta a atingir.

Deputado Federal, Prefeito de Belo Horizonte, Deputado Constituinte,


Governador do Estado de Minas Gerais. O historiador Murilo Badaró assim relembra
a chegada de Juscelino ao Governo Mineiro: “acenderam-se as luzes do velho
Palácio da Liberdade. Estradas se abriam por todos os espaços, usinas começavam
a quebrar a monotonia da economia estadual, máquinas e tratores estrugiam,
rompendo o sossego das matas e montanhas”.

Eletrificações, estradas, indústria do cimento, metalurgia, 120 postos de


saúde, 137 escolas, 251 pontes, 3 faculdades, 5 conservatórios de música, uma
escola de belas artes.

Passara no vestibular para aspirar a Presidente da República. Sua


indicação foi uma luta. Eleito sua posse foi uma guerra. Conspirações, traições, a
aeronáutica se intrometendo na política para alijá-lo. Um inimigo feroz, malicioso,
sem pudor de assacar injúrias e calúnias, encastelado em mandato parlamentar e
dono de um jornal e de uma revista.

Os obstáculos foram caindo, a vontade do povo e da parte mais sadia das


elites e da imprensa foram se impondo e o colibri de Diamantina alçou o vôo do
condor atingindo o mais alto cume da nacionalidade: a Presidência da República.

Seu plano de metas, a construção de Brasília e a mudança da Capital.

Esforçar-se além da necessidade básica coloca o homem na trilha do seu


destino. O trabalho que o fez avançar se baseia em dedicação, treinamento, orgulho.
Superação é ultrapassar-se mesmo quando se está na frente. Exige garra,
paciência, determinação, coragem e força que impulsiona quem ousa, fazer o novo,
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sair na frente quando todos hesitam demanda coragem. Pioneirismo e qualidade dos
que iniciam o futuro. Os pioneiros vêem caminhos onde outros vêem obstáculos.
Criam rotas que outros seguirão.

Estes foram os valores de Juscelino Kubistchek de Oliveira – trabalho,


superação, coragem e pioneirismo. Sobre estes valores colocou a bondade, a
lhanesa, o perdão.

Injustiçado, desrespeitado, forçado a deixar a pátria à que sempre serviu,


do seu exílio escreveu ao seu fraterno amigo Affonso: “não posso deixar de
confessar que viver fora do país, sem saber quando será possível o regresso é o
castigo mais cruel imposto a um homem que só pensava no Brasil, só estudava
Brasil, só viajava pelo Brasil”.

Este foi Juscelino Kubitscheck. O homem, o estadista, o mito. O único.


Dele não haverá segunda edição. Infelizmente.

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