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Dedico esta obra a todos os fãs do universo

Harry Potter! Ele influenciou a minha trajetória


e minha visão sobre o mundo, lembrando sempre da magia
que é o dom da vida.

Espero que a minha família, em especial minha filha


se orgulhe ao ler este livro, é a lembrança de que nunca devemos
esquecer nossa criança interior, e continuar acreditando no extraordinário,
buscando sempre construir e viver nossos próprios sonhos.

Na minha visão, o que mantém as pessoas são os


sonhos, desejos, vontades e por último e mais importante,
a capacidade de amar e cuidar do próximo.

Deixo vocês entregues a esta história, e a frase que todo


fã de Harry Potter conhece:
“Palavras são, na minha humilde opinião, nossa inesgotável fonte de magia.
Capazes de formar grandes sofrimentos e também de remediá-los”
por Alvo Dumbledore em Harry Potter e as Relíquias da Morte.
Deixo um agradecimento especial a minha mãe, que carinhosamente aponta
essa minha crença sobre manter nossa criança interior sempre viva como
síndrome de Peter Pan!

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Prólogo

Em tempos imemoriais, quando as estrelas ainda traçavam novos


destinos nos céus virgens da América do Sul, quatro bruxos de renome
e poder, cada um mestre de sua própria arte mágica, reuniram-se sob o
dossel da floresta amazônica. Eles compartilhavam um sonho comum:
criar um santuário de sabedoria e aprendizado para os jovens bruxos e
bruxas do Novo Mundo, um lugar onde a magia pudesse florescer longe
dos olhos desconfiados do mundo não mágico.

Huayna Capac, o bravo, cujo espírito indomável era tão feroz quanto o
do jaguar, sonhava com uma escola que cultivasse a coragem e a força
de caráter. Nezahualcóyotl, a sábia, cuja mente era tão vasta e colorida
quanto as plumagens das araras, ansiava por um lugar onde a
criatividade e o conhecimento fossem a essência do ser. Bochica, o
justo, cuja bondade e equidade eram tão profundas quanto as águas
que a capivara atravessa, desejava um ambiente onde a lealdade e a
justiça prevalecessem. Atahualpa, o astuto, cuja mente estratégica era
tão enigmática quanto a sucuri nas sombras das águas, queria um
reduto onde a astúcia e a ambição pudessem ser honradas.

Juntos, eles fundaram a Escola de Magia e Bruxaria Castelo Bruxo, um


nome que prestava homenagem à magia inerente da floresta que os
cercava e ao encanto que ela inspirava. A escola foi cuidadosamente
escondida no coração da Amazônia, acessível apenas por meios
mágicos, protegida das intrusões pelo denso véu de mistério que
envolve a selva.

A localização da escola não foi escolhida ao acaso. A floresta


amazônica, com sua biodiversidade e energia vital, era um poço de
poder mágico antigo e inexplorado. Era um lugar onde os elementos da
natureza podiam ser estudados e respeitados, onde as criaturas
mágicas viviam em harmonia com os bruxos e onde os alunos podiam
aprender a essência da verdadeira magia.

A escola foi estruturada em quatro casas, cada uma representando as


qualidades valorizadas por seus fundadores. Os alunos seriam

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selecionados para suas casas não apenas por suas habilidades e
talentos, mas também por seus corações e almas, assegurando que o
legado dos fundadores continuasse a inspirar gerações futuras.

Os fundadores de Castelo Bruxo acreditavam que a magia era um dom


que deveria ser usado para o bem maior, para a proteção da natureza e
para a manutenção do equilíbrio do mundo. Eles viam seus alunos não
apenas como bruxos e bruxas, mas como guardiões do mundo mágico
e não mágico, como pontes entre diferentes culturas e como
embaixadores da paz e do entendimento.

No entanto, a chegada dos europeus ao Novo Mundo e a subsequente


descoberta do Brasil pelos trouxas marcaram o início de uma era de
mudanças e desafios. A tensão entre as casas da Escola Castelo Bruxo
refletiu o tumulto que se desenrolava no mundo exterior. A Casa Jaguar,
sob a liderança do novo diretor, começou a questionar a política de
isolamento da escola, argumentando que a chegada dos europeus
representava uma ameaça iminente que não poderia ser ignorada. O
diretor insistia que a escola deveria tomar uma posição mais ativa,
talvez até intervir, para proteger a terra e os povos mágicos da
exploração e da destruição que pareciam seguir os conquistadores.
Essa visão provocou um debate acalorado entre os diretores das casas.
Alguns viam a chegada dos europeus como uma oportunidade para o
intercâmbio e o crescimento cultural, enquanto outros temiam que
qualquer envolvimento pudesse levar à descoberta do mundo mágico e
a consequências desastrosas. A tensão entre a necessidade de
proteção e o desejo de manter a paz tornou-se um tema central nas
discussões do conselho da escola.
Assim, sob a luz cintilante das constelações do sul, entre os sussurros
das árvores e o canto dos rios, a Escola de Magia e Bruxaria Castelo
Bruxo enfrenta um novo desafio em um mundo em transformação. Os
diretores de cada casa, agora mais do que nunca, devem encontrar um
caminho para unir suas visões divergentes e garantir que a escola
continue sendo um refúgio seguro e um farol de sabedoria para todas as
futuras gerações de bruxos e bruxas, enquanto navegam as águas
turbulentas de um mundo que está mudando rapidamente.

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Em uma era de descobertas e aventuras, a notícia da existência de
terras desconhecidas além do oceano Atlântico agitou tanto o mundo
trouxa quanto o mundo bruxo. Quatro jovens bruxos europeus, dotados
de coragem e curiosidade, embarcaram em uma jornada que os levaria
ao coração da América do Sul, onde encontrariam uma escola de magia
que desafiaria tudo o que sabiam: a Escola Castelo Bruxo.

Os quatro jovens, que mais tarde seriam conhecidos como os


fundadores de Hogwarts, foram Godric Gryffindor, Rowena Ravenclaw,
Helga Hufflepuff e Salazar Slytherin. Eles foram recebidos pelos
diretores sul-americanos Huayna Capac, Nezahualcóyotl, Bochica e
Atahualpa, que lideravam a escola com sabedoria e respeito pelas
tradições mágicas ancestrais. A troca de conhecimentos entre os bruxos
do Novo e do Velho Mundo foi profunda e transformadora, inspirando os
jovens europeus a sonhar com sua própria escola de magia.
Influenciados pela visão e pelos valores dos diretores de Castelo Bruxo,
os futuros fundadores de Hogwarts retornaram à Europa com um novo
propósito. Eles criaram uma escola , Hogwarts se tornou um caldeirão
de culturas, um lugar onde a magia não conhecia fronteiras e cada
aluno poderia encontrar um lar e um propósito.
Enquanto isso, os diretores sul-americanos refletiram sobre a visita dos
europeus e decidiram implementar mudanças na escola. Eles
integraram algumas das técnicas mágicas europeias ao currículo,
mantendo um equilíbrio com as tradições locais, e passaram a enfatizar
a importância de preservar o meio ambiente e as culturas indígenas. A
escola também começou a enviar seus alunos em intercâmbios para
outras escolas de magia, promovendo um respeito mais profundo pela
diversidade mágica.
No entanto, a chegada dos europeus ao Novo Mundo também trouxe
desafios. A escola teve que fortalecer suas proteções mágicas contra os
bruxos das trevas que acompanhavam os conquistadores. Os diretores
trabalharam incansavelmente para manter a escola oculta e segura,
protegendo os estudantes e as criaturas mágicas da região.
Sob a liderança dos quatro diretores, Castelo Bruxo prosperou,
tornando-se um exemplo de como a tradição e a inovação podem
coexistir em harmonia. Enquanto Hogwarts estabelecia seu legado na
Europa, Castelo Bruxo continuava a moldar o destino da magia no Novo

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Mundo, assegurando que a sabedoria da floresta amazônica fosse
preservada para as gerações futuras. Assim, a interação entre os
bruxos europeus e sul-americanos não apenas fortaleceu as tradições
mágicas de ambos os mundos, mas também deu origem a duas das
mais respeitadas instituições do mundo bruxo, moldando o futuro da
magia para todas as gerações vindouras.
À medida que os anos passavam, a Escola Castelo Bruxo continuava a
ser um bastião de magia e aprendizado. No entanto, as mudanças
trazidas pelos colonizadores europeus começaram a se tornar mais
evidentes e perturbadoras. Cidades foram erguidas, florestas
desmatadas e o equilíbrio delicado entre os mundos mágico e trouxa
começou a oscilar perigosamente.
Dentro do círculo dos diretores, uma tensão cresceu em torno de como
responder a essas mudanças. Nezahualcóyotl, conhecido por sua
sabedoria e conexão profunda com a natureza, começou a expressar
preocupações cada vez mais urgentes. Ele viu o desmatamento e a
construção como uma ameaça não apenas para a magia da região, mas
para a própria existência das criaturas mágicas e das comunidades
indígenas que haviam vivido em harmonia com a terra por séculos.
Os outros diretores, embora compartilhassem de suas preocupações,
estavam divididos sobre como agir. Huayna Capac acreditava que a
melhor estratégia era fortalecer as defesas mágicas da escola e manter
uma posição de neutralidade, evitando confrontos diretos com os
colonizadores. Bochica e Atahualpa, por outro lado, viam uma
oportunidade de dialogar com os novos habitantes, tentando educá-los
sobre a importância da preservação e coexistência pacífica.
Nezahualcóyotl, contudo, sentia que medidas mais drásticas eram
necessárias. Ele propôs uma aliança com as tribos indígenas e as
criaturas mágicas da floresta para repelir os colonizadores e proteger a
terra. Sua postura radical começou a causar discórdia entre os
diretores, que temiam que tal ação pudesse levar a um conflito aberto e
colocar a escola em perigo.
A tensão atingiu seu ápice quando Nezahualcóyotl, em um ato de
desespero, convocou os espíritos da floresta para ajudar a reverter o
dano causado pelos colonizadores. O resultado foi um fenômeno
mágico poderoso, mas incontrolável, que não apenas forçou os

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colonizadores a recuar, mas também ameaçou se espalhar para além
da floresta, colocando em risco as comunidades trouxas próximas.

Os diretores, percebendo o perigo de suas ações, uniram-se para conter


a magia desencadeada por Nezahualcóyotl. Eles trabalharam juntos
para restaurar o equilíbrio, mas o incidente deixou uma cicatriz profunda
na relação entre eles. Nezahualcóyotl, embora arrependido, decidiu se
afastar da direção da escola, acreditando que sua presença poderia
trazer mais divisão no futuro.

A escola, agora sob a liderança dos três diretores restantes, adotou uma
abordagem mais cautelosa. Eles fortaleceram as barreiras mágicas e
começaram a trabalhar em segredo para curar a terra e proteger as
criaturas mágicas. A Escola Castelo Bruxo continuou a ser um lugar de
aprendizado e preservação, mas os eventos serviram como um
lembrete sombrio de que a magia, embora poderosa, deve ser usada
com sabedoria e cautela.

Após o afastamento de Nezahualcóyotl da direção da Escola Castelo


Bruxo, houve um período de reflexão e reavaliação entre os bruxos da
região. A magia descontrolada que havia sido liberada no conflito com
os colonizadores reforçou a necessidade de uma comunidade bruxa
mais unida e protegida. Foi nesse contexto que surgiu a ideia de fundar
Ikypýra, um vilarejo bruxo que serviria como uma fortaleza para a
comunidade mágica.
Ikypýra, que em uma língua indígena local significa "raiz forte", foi
estabelecido em uma área remota e de difícil acesso para os trouxas,
cercada por densas florestas e protegida por poderosos encantamentos.
O vilarejo foi projetado para ser um refúgio para bruxos que desejavam
viver longe da influência e dos perigos trazidos pelos colonizadores.
Além disso, Ikypýra se tornou um centro de preservação da cultura
mágica indígena, onde as tradições poderiam ser mantidas e passadas
adiante sem interferência.

Nezahualcóyotl, embora não mais atuasse como diretor, desempenhou


um papel fundamental na fundação de Ikypýra. Ele viu no vilarejo a
oportunidade de continuar seu trabalho de proteção à natureza e às

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tradições mágicas sem colocar a escola em risco. Sua experiência e
conhecimento foram cruciais para o estabelecimento das defesas
mágicas do vilarejo e para o desenvolvimento de técnicas sustentáveis
de convivência com a floresta.

Os fundadores de Ikypýra, inspirados pelo exemplo de Nezahualcóyotl,


adotaram uma filosofia de vida que equilibrava o uso da magia com o
respeito ao meio ambiente. Eles criaram um sistema de governança
comunitária, onde as decisões eram tomadas coletivamente e todos os
habitantes tinham voz ativa.

Com o tempo, Ikypýra tornou-se conhecido como um bastião da


resistência mágica, um lugar onde bruxos de várias origens poderiam
encontrar segurança e solidariedade. A comunidade prosperou, e sua
existência reforçou a importância da união e da cooperação entre os
bruxos para enfrentar os desafios impostos pelo avanço dos trouxas e
pela expansão colonial.

A fundação de Ikypýra também teve um impacto positivo na Escola


Castelo Bruxo, que passou a ter um aliado poderoso na proteção da
magia e das tradições da região. A relação entre a escola e o vilarejo se
fortaleceu ao longo dos anos, e juntos eles formaram uma rede de apoio
que garantia a sobrevivência e o florescimento da cultura mágica
sul-americana.

Foi em meio a essas águas turbulentas que surgiu uma nova ameaça,
um líder bruxo das trevas conhecido como Cazador Sombrio. Ele era
um bruxo de origem enigmática e poderes formidáveis, um mestre da
magia antiga e sombria. Cazador acreditava que o mundo mágico havia
se desviado de suas raízes e se tornado fraco, excessivamente
preocupado com a integração e a coexistência pacífica com os trouxas.
Ele desejava restaurar o que considerava ser a verdadeira natureza da
magia: uma ferramenta de poder e controle.

Cazador também era movido por um profundo ressentimento contra o


que ele via como a diluição da cultura mágica indígena. Ele acreditava
que os bruxos sul-americanos deveriam se orgulhar de sua herança e

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rejeitar as influências externas que, segundo ele, estavam corrompendo
a essência de sua magia. Seu objetivo era estabelecer um novo império
mágico no sul da América, um que fosse governado por aqueles que
compartilhavam de sua visão de pureza e força.

Para alcançar seus fins, Cazador Sombrio reuniu um grupo de


seguidores leais, muitos dos quais se sentiam marginalizados ou
descontentes com o status quo do mundo mágico. Eles viam em
Cazador um líder carismático e poderoso, capaz de trazer a mudança
que desejavam.

No entanto, a comunidade mágica sul-americana não ficou parada


diante dessa ameaça. Bruxos e bruxas de todo o continente, liderados
pela Escola Castelo Bruxo e pelo vilarejo bruxo Ikypýra, uniram-se para
combater a ascensão de Cazador Sombrio e seus seguidores. Eles
sabiam que a verdadeira força da magia residia na diversidade e na
harmonia, e estavam determinados a proteger seu modo de vida contra
aqueles que buscavam corrompê-lo.

A luta contra Cazador Sombrio e seus bruxos das trevas foi longa e
árdua, mas a união e a resiliência do mundo mágico sul-americano
acabaram prevalecendo. A batalha não apenas reforçou os laços entre
as várias comunidades mágicas, mas também serviu como um lembrete
da importância de defender os valores de respeito e cooperação que
eram fundamentais para a sua cultura.

Na penumbra da floresta, onde o véu entre os mundos é tênue e os


espíritos ancestrais sussurram aos vivos, Nezahualcóyotl, o sábio e
outrora diretor da Escola Castelo Bruxo, proferiu uma profecia que
reverberou através das raízes entrelaçadas das árvores centenárias e
foi levada pelo vento para os ouvidos daqueles que ainda guardavam a
sabedoria antiga:

"Quando o mundo moderno tecer a teia de sua própria arrogância,


E o fulgor das telas ofuscar o brilho das estrelas,
Um sussurro surgirá das sombras do esquecimento,
Despertando o eco de uma maldade há muito adormecida.

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Na confluência das eras, onde o antigo e o novo se cruzam,
O Cazador das Trevas, com olhos de abismo, retornará.
Buscando vingança contra a luz da união,
Ele trará consigo a discórdia, o medo e a subjugação.

Mas ouçam, filhos e filhas da magia ancestral,


Pois nas entranhas da terra, um poder se mantém imortal.
Quatro corações valentes, nascidos sob o signo da tempestade,
Unir-se-ão como um só, na mais pura fraternidade.

Com a força da água que flui, do fogo que arde sem cessar,
Do ar que tudo toca e da terra que tudo irá abraçar,
Eles enfrentarão o Cazador e sua legião sombria,
E na escuridão mais profunda, reacenderão a luz do dia.

Aquele que traz em si o legado do voo da fênix,


Desafiará o destino com coragem que o medo não extingue.
A chave para a vitória não jaz em poder ou glória,
Mas na união das almas, na mais verdadeira história.

Lembrem-se, pois, que o tempo é um ciclo sem fim,


E que cada era traz a chance de um novo começo para mim.
Vigiem as estrelas, mantenham vivas as chamas da esperança,
Pois na dança do universo, a luz sempre triunfará na balança."

Com essas palavras, a profecia de Nezahualcóyotl foi selada no


coração da floresta, aguardando o momento em que os herdeiros da
magia precisariam se erguer contra o retorno de Cazador Sombrio. E
assim, a comunidade mágica permaneceu vigilante, sabendo que o
futuro exigiria deles a coragem e a união profetizadas pelo sábio de
tempos antigos.

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Capítulo 1: O Chamado Mágico
Valentina caminhava pelas ruas de paralelepípedos do centro antigo,
com os olhos brilhando de entusiasmo e uma energia quase palpável a
envolvendo. Seu estilo era uma mistura de cores e tendências,
refletindo sua personalidade artística e alternativa. Magra, com cabelos
castanhos que caíam em ondas pelos ombros, destacavam-se duas
mechas azuis que emolduravam seu rosto expressivo. Seus óculos de
grau com armação vintage repousavam sobre o nariz, e ela os ajustava
ocasionalmente com um gesto delicado. Vestia-se com originalidade,
uma camiseta de banda sob um colete desgastado, uma saia rodada
com estampas geométricas e coturnos pretos que batiam um ritmo
confiante no calçamento irregular.
Ela voltava da loja de artefatos mágicos, onde cada objeto parecia
sussurrar histórias de aventuras passadas e segredos a serem
desvendados. Valentina mal podia conter a empolgação; sua carta de
aceitação para Castelo Bruxo poderia chegar a qualquer momento. Ela
havia passado horas na loja, conversando com o proprietário sobre as
maravilhas da escola de magia e os artefatos que poderiam ser úteis
para uma caloura.
Ao chegar em casa, o cheiro delicioso do jantar a recebia. Sentando-se
à mesa com seus pais, ela compartilhava as novidades do dia,
descrevendo cada artefato com detalhes vívidos e falando sobre a carta
que logo estaria em suas mãos. "Vocês não fazem ideia de como os
cristais de energia pareciam vibrar com magia pura!", dizia ela, com os
olhos dançando de emoção.
Mais tarde, em seu quarto, Valentina se deitava, cercada por pôsteres
de bandas mágicas e estantes cheias de livros sobre arte e feitiçaria.
Ela se revirava na cama, a mente repleta de expectativas e sonhos
sobre o futuro. "Como será Castelo Bruxo? Será que farei amigos
rapidamente? E as aulas, serão tão fascinantes quanto imagino?"
Pensamentos como esses a mantinham acordada, mas, eventualmente,
o cansaço vencia a ansiedade, e ela adormecia.
Ao raiar do dia seguinte, os primeiros raios de sol se infiltravam pelo
quarto de Valentina, desenhando padrões luminosos nas paredes
repletas de arte. Um som suave e persistente a despertava de seus
sonhos coloridos. Era um pássaro, não um comum, mas um mensageiro

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mágico, que batia as asas contra o vidro da janela, um envelope branco
preso em seu bico.
Valentina saltava da cama, o coração acelerado, e corria até a janela.
Seus dedos tremiam ao abrir o trinco e permitir que o pássaro entrasse,
voando até pousar delicadamente sobre a escrivaninha. O envelope era
grosso, selado com um lacre de cera que ostentava um emblema
desconhecido, mas imponente. Ela o pegava com reverência, sentindo o
peso daquele momento. "É ela. A carta. Finalmente!", pensava, sentindo
uma onda de alegria e uma pitada de nervosismo. "O que me espera?
Que desafios terei que enfrentar? Estou pronta para isso?"
Com a carta em mãos, ela não perdia tempo. Descia as escadas
correndo, quase tropeçando em sua pressa, e irrompia na sala de jantar
onde seus pais a aguardavam para o café da manhã. "Chegou!
Chegou!", exclamava, balançando a carta acima da cabeça, o rosto
iluminado por um sorriso que parecia não caber em si.
Seus pais se levantavam de um salto, a mãe com as mãos no coração e
o pai com um sorriso tão amplo quanto o dela. "Minha querida, isso é
maravilhoso!", dizia a mãe, abraçando-a com força. "Sabíamos que
esse dia chegaria, Valentina. Você é especial, sempre foi", acrescentava
o pai, com um brilho de orgulho nos olhos.
Eles se sentavam à mesa, a carta agora aberta e lida em voz alta. A
descrição da escola, das casas, das aulas e das tradições enchia o ar
com uma magia tangível. "Castelo Bruxo... sempre sonhei em ver você
lá, vivendo as mesmas maravilhas que eu vivi", dizia a mãe, com um
olhar distante e saudoso. "E as partidas de Zepelinha! Você vai adorar,
tenho certeza", comentava o pai, lembrando-se de seus próprios dias de
glória na escola.
O café da manhã se estendia por horas, enquanto conversavam sobre
tudo o que Valentina poderia esperar de sua nova vida. Histórias de
professores excêntricos, criaturas mágicas e amizades que durariam
uma vida inteira eram compartilhadas, alimentando a imaginação já fértil
da jovem bruxa.
A cozinha da família era um caleidoscópio de cores e memórias, cada
objeto contando uma história de gerações de bruxos. As paredes,
adornadas com fotografias que se moviam e riam, testemunhavam o
legado mágico da família. O aroma do café recém-coado e do pão

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caseiro se misturava à excitação no ar, criando um ambiente acolhedor
e cheio de expectativa.
"Imaginem só, eu, caminhando pelos corredores onde vocês dois
viveram tantas aventuras!", dizia Valentina, seus olhos castanhos
cintilando com cada palavra. "E os feitiços, as poções... Ah, mal posso
esperar para aprender tudo!"
Sua mãe, uma bruxa de cabelos ondulados e sorriso caloroso, passava
a mão pelos cabelos da filha, ajeitando uma mecha azul rebelde. "Você
vai ser incrível, Valentina. Lembro-me do meu primeiro dia em Castelo
Bruxo como se fosse ontem. A sensação de pertencer a algo maior...
você também vai sentir."
O pai, um homem alto e de postura firme, mas com olhos que sempre
sorriam, acrescentava: "E não se esqueça, a magia está em quem você
é, não apenas no que você faz. Castelo Bruxo vai te ajudar a descobrir
seu verdadeiro potencial."
Valentina absorvia cada palavra, cada gesto de carinho. "Eu prometo
fazer vocês orgulhosos. Vou estudar muito e... quem sabe, talvez até
descobrir algum feitiço novo!" Ela ria, a ideia parecendo tão empolgante
quanto distante.
A conversa seguia, repleta de conselhos e histórias. "Lembre-se de
sempre respeitar as criaturas mágicas que você encontrar. Muitas delas
são mais sábias do que parecem", aconselhava a mãe. "E fique de olho
nos seus pertences. Leprechauns adoram fazer travessuras com
objetos desavisados", alertava o pai, uma risada escapando entre as
palavras.
O café da manhã terminava com abraços apertados e promessas de
cartas frequentes. Valentina sentia uma mistura de gratidão e
determinação. Ela estava prestes a embarcar em sua própria jornada,
seguindo os passos de seus pais, mas também trilhando seu próprio
caminho.
Com a carta de aceitação em mãos e o coração cheio de sonhos,
Valentina sabia que estava pronta para enfrentar o desconhecido.
Castelo Bruxo a aguardava, e ela não via a hora de descobrir os
mistérios e maravilhas que a escola tinha a oferecer.

Bernardo Fedato, um jovem de cabelos castanhos e pele bronzeada


pelo sol carioca, respirava ofegante, mas com um sorriso que não cabia

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no rosto. Ele acabara de marcar o gol da vitória em uma partida acirrada
de futebol nas quadras públicas perto de Copacabana. "Boa, Bê! Você
devia tentar a seleção!", gritava um de seus amigos, batendo-lhe nas
costas com admiração.
"Ah, quem me dera, Lucas! Mas você sabe que eu tenho outros planos",
respondia Bernardo, enxugando o suor da testa com a manga da
camisa.
"Outros planos? Como assim? Vai virar surfista agora?", brincava outro
amigo, o Rafael, enquanto recolhiam a bola e as garrafas d'água.
Bernardo ria, mas no fundo, algo dentro dele ansiava por uma aventura
que nem mesmo ele conseguia explicar. "Quem sabe, né? O futuro é
cheio de surpresas."
Despedindo-se com um aceno, ele corria em direção ao ponto de
ônibus, sentindo o coração leve e a mente repleta de sonhos. As férias
de janeiro estavam próximas do fim, e havia algo no ar que sugeria que
mudanças estavam por vir.
O ônibus chegava, e Bernardo subia, encontrando um lugar junto à
janela. O veículo percorria as ruas movimentadas do Rio, e ele
observava o vai e vem das pessoas, cada uma imersa em seu próprio
mundo. Descia no posto 11 da orla de Ipanema, e o cheiro do mar o
saudava como um velho amigo. Caminhava então até o apartamento
onde morava com seus pais, os chinelos batendo no calçamento
irregular.
Ao abrir a porta, uma surpresa o aguardava. Sua avó Cecilia, uma
senhora de cabelos prateados e olhos astutos, estava lá, sentada no
sofá com uma expressão de quem guardava segredos milenares. "Bê!
Meu querido neto!", exclamava ela, abrindo os braços para um abraço
apertado.
"Vó Cecilia! Não acredito que você está aqui!", dizia Bernardo, com um
misto de alegria e surpresa. "Quando chegou?"
"Cheguei hoje de manhã, meu rapaz. Não perderia por nada este
momento", respondia ela, piscando de forma conspiratória.
Eles se sentaram para o jantar, a mesa posta com simplicidade e
carinho, um contraste com as histórias fantásticas que a avó Cecilia
começava a contar. O aroma do feijão e do arroz fresco se misturava
com o cheiro do peixe assado, enquanto a avó narrava suas viagens por
lugares que Bernardo só podia imaginar em sonhos.

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"Você sabia que em Manaus, os botos cor-de-rosa podem
transformar-se em humanos e frequentar os bailes da cidade?", contava
Cecilia com um brilho nos olhos. "E na Patagônia, dizem que os ventos
são tão fortes que podem carregar um feitiço por milhas e milhas..."
Os pais de Bernardo trocavam olhares céticos, mas o jovem escutava
com ouvidos curiosos, pendurado em cada palavra. "Isso é incrível, vó!
Mas essas coisas são reais mesmo?", perguntava ele, a imaginação
alvoroçada.
"Ah, meu querido, o mundo é cheio de magia para aqueles que têm
olhos para ver", respondia Cecilia, sorrindo sabiamente.
Seu pai, um homem prático e de pés no chão, intervinha com um tom de
leve reprovação. "Mãe, você sabe que não gosto que encha a cabeça
do menino com essas histórias."
"Ah, deixa ela, Carlos. Não faz mal sonhar um pouco", defendia a mãe
de Bernardo, uma mulher de voz suave e olhar compreensivo.
Foi então que um pássaro, um curioso bem-te-vi, entrou pela janela
aberta, chamando a atenção de todos com seu canto insistente. Cecilia
olhou para os pais de Bernardo e disse, com uma voz que misturava
orgulho e seriedade: "Finalmente, chegou! É para você, Bê, vai lá
pegar."
Bernardo, sentindo um frio na barriga, buscava aprovação nos olhos dos
pais e levantava-se para buscar o pássaro. O bem-te-vi pousava
graciosamente sobre a mesa, e no bico, segurava um envelope selado
com um lacre desconhecido.
"O que é isso?", perguntava Bernardo, pegando a carta e virando-a nas
mãos, a curiosidade brilhando em seus olhos.
"Abra, meu filho. Vamos descobrir juntos", incentivava sua mãe,
enquanto seu pai observava com uma expressão indecifrável.
Bernardo rompia o selo e desdobrava o papel, revelando uma caligrafia
elegante que dançava diante de seus olhos. "Mas... isso é uma carta de
aceitação... para uma escola chamada Castelo Bruxo? Vó, é alguma
brincadeira sua?"
A avó Cecilia levantava-se, a postura ereta e o olhar penetrante. "Não,
Bernardo. Não é brincadeira. É a sua herança, a sua verdade.
Permita-me explicar tudo."
A avó Cecilia começou a explicar, sua voz assumindo um tom grave e
cheio de significado. "Castelo Bruxo é uma escola para jovens bruxos e

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bruxas, um lugar onde você aprenderá a controlar e aprimorar os dons
que sempre teve, mas que nunca compreendeu."
Bernardo olhava para ela, para os pais, e de volta para a carta, tentando
assimilar as palavras que pareciam tão impossíveis quanto as histórias
que sua avó contava. "Mas como? Quero dizer, magia é real?"
"Sim, meu querido. Tão real quanto o amor que sua mãe e seu pai têm
por você, e tão real quanto o talento que você tem com a bola no pé",
disse Cecilia, aproximando-se e colocando uma mão sobre o coração
do neto. "Você sempre soube que era diferente, não é? Sempre sentiu
que havia algo mais esperando por você."
Os pais de Bernardo permaneciam em silêncio, um misto de choque e
resignação em seus rostos. Seu pai finalmente falou, a voz firme, mas
com uma suavidade incomum. "Nós sabíamos que esse dia chegaria,
Bê. Sua avó e sua bisavó antes dela... todos bruxos. Nós decidimos
criar você no mundo não mágico, mas sempre soubemos que a escolha
seria sua quando a carta chegasse."
Bernardo sentia um turbilhão de emoções — surpresa, excitação,
incerteza. "E agora? O que eu faço? Eu realmente tenho que mudar de
escola?"
Sua mãe o abraçava, oferecendo conforto. "Você não tem que fazer
nada que não queira, filho. Mas essa é uma oportunidade única. Uma
chance de explorar um mundo que poucos conhecem."
Cecilia acrescentava, com um olhar encorajador. "Você terá aventuras,
aprenderá sobre a magia que corre em suas veias e, mais importante,
entenderá quem você realmente é."
Bernardo olhava para a carta novamente, o símbolo de Castelo Bruxo
estampado no papel, e sentia uma conexão profunda, como se uma
parte dele sempre tivesse sabido que seu destino era aquele. "Eu... eu
quero ir. Quero conhecer esse mundo, quero aprender."
Os pais de Bernardo trocavam um olhar de compreensão e orgulho.
"Então iremos te apoiar, meu filho. Sempre", dizia seu pai, com uma
convicção que aquecia o coração de Bernardo.
A avó Cecília sorria, seus olhos brilhando com lágrimas de alegria.
"Você fará coisas grandiosas, Bernardo. Eu sempre soube."
E assim, com a benção de sua família e o coração repleto de
expectativas, Bernardo Fedato dava o primeiro passo em direção a uma
nova vida, uma vida de magia e possibilidades sem fim.

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Heitor Pereira estava na biblioteca de Brasília, um lugar incomum para
alguém de sua idade. A grandiosidade do edifício era notável, com sua
arquitetura moderna e linhas que pareciam desafiar a gravidade. As
paredes de concreto e vidro refletiam a luz do sol, criando um jogo de
sombras e claridade que fascinava os visitantes. Mas era no interior que
o verdadeiro encanto se revelava, especialmente na seção mágica,
acessível apenas para aqueles que, como Heitor, possuíam o dom da
magia.
A seção mágica era um oásis de conhecimento oculto, escondido dos
olhos dos trouxas por encantamentos poderosos. As estantes eram
feitas de uma madeira escura e nobre, repletas de volumes
encadernados em couro, pergaminhos antigos e artefatos mágicos que
zumbiam com uma energia quase tangível. O ar ali era perfumado com
o cheiro de papel antigo e ingredientes de poções, uma mistura que
Heitor achava intoxicante. O silêncio era absoluto, quebrado apenas
pelo som de páginas sendo viradas ou pelo ocasional murmúrio de um
feitiço sendo estudado.
Heitor gostava dos livros, e sendo filho de quem era, passava grande
parte de seus dias naquela seção, estudando matérias como herbologia,
feitiços e poções antes mesmo de receber sua carta. Naquele dia, ele
estava absorto em um volume particularmente fascinante sobre feitiços
de proteção. As margens das páginas estavam cheias de anotações
feitas por bruxos antigos, e Heitor se perguntava sobre as aventuras e
desafios que eles teriam enfrentado. "Como seria aplicar esses feitiços
na vida real?", pensava ele, imaginando-se defendendo Castelo Bruxo
de alguma ameaça sombria.
Ao levantar os olhos do livro, Heitor percebeu que já estava tarde. A luz
do sol já não banhava o interior da biblioteca, e as sombras se
alongavam pelo chão. Com um suspiro de relutância, ele fechou o livro
e chamou seu transporte para retornar a casa. A magia ainda não era
uma opção para ele, mas logo, logo seria.
Após algum tempo, um uber apareceu, e Heitor embarcou para a longa
viagem de volta. Enquanto o carro percorria as ruas de Brasília, ele se
perdia novamente nas páginas do livro alugado, ansiando pelo dia em
que poderia Aparatar como seus pais faziam, desaparecendo e

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reaparecendo a vontade, sem as amarras dos meios de transporte
trouxas.
Ele finalmente chegou à sua residência, uma casa ampla com jardins
que escondiam segredos e criaturas mágicas. Um Elfo doméstico muito
elegante, vestido com uma pequena libré impecável, abriu a porta com
uma reverência.
"Boa noite, jovem mestre Heitor," disse o Elfo com uma voz aguda. "O
jantar estará pronto em breve, e seus pais deverão chegar a qualquer
momento."
"Obrigado, Lino," Heitor respondeu, entregando-lhe o casaco. "Alguma
correspondência para mim hoje?"
"Não, mestre Heitor, apenas as habituais revistas de magia para o seu
pai e as cartas do ministério para a sua mãe," informou Lino, enquanto
conduzia Heitor para a sala de jantar.
Assim que Heitor se sentou à mesa, o ambiente da sala de jantar se
revelou acolhedor e tradicional, com toques de magia que o tornavam
único. As velas flutuavam acima da mesa, iluminando o espaço com
uma luz suave e dourada, enquanto os pratos se arrumavam sozinhos,
aguardando o banquete que seria servido. As paredes eram adornadas
com retratos de antepassados bruxos, que de vez em quando piscavam
ou acenavam discretamente.
De repente, um pássaro de plumagem brilhante entrou pela janela
aberta, voando habilmente até pousar no braço da cadeira ao lado de
Heitor. Era uma coruja, mensageira de notícias do mundo mágico, e em
suas garras trazia uma carta selada com cera.
Para Heitor, o correio mágico era algo comum, mas havia algo especial
naquela entrega. Ele estendeu a mão e a coruja depositou a carta em
sua palma com um suave piar. Quando seus olhos identificaram o selo
da escola, um tom de alegria iluminou seu rosto. Seu coração acelerou
e um sorriso incontido se espalhou por seus lábios. Era a carta de
Castelo Bruxo.
Quase no mesmo instante, seus pais chegaram, deixando seus
pertences com os mordomos que os aguardavam. Vestiam-se com
elegância, o pai com um chapéu pontudo e um blazer de tecido fino, a
mãe com uma bolsa bordada com runas mágicas e uma maleta de
couro que parecia vibrar com segredos.

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Percebendo a alegria do filho, eles seguiram em sua direção. Heitor,
com a carta em mãos, correu ao encontro deles, mal contendo a
empolgação.
"Mãe, pai, olhem!" exclamou Heitor, estendendo a carta para que
vissem o selo. "Chegou! Minha carta de aceitação!"
Seus pais compartilharam um olhar de orgulho e felicidade antes de
abraçá-lo efusivamente.
"Isso é maravilhoso, Heitor!" disse sua mãe, beijando sua testa.
"Sabíamos que esse dia chegaria, mas é emocionante ver que
finalmente aconteceu."
"Estamos tão orgulhosos de você, filho," acrescentou seu pai, com um
brilho de orgulho nos olhos. "Você vai aprender tanto e viver aventuras
incríveis em Castelo Bruxo."
A família se sentou para o jantar, e a conversa fluiu naturalmente para o
futuro de Heitor. Discutiram sobre as casas de Castelo Bruxo,
especulando em qual Heitor seria selecionado.
"Imagina se você for para a casa Jaguar, conhecida por seus alunos
corajosos e aventureiros," disse sua mãe com um sorriso.
"Ou talvez a casa Serpente, onde a astúcia e a ambição são
valorizadas," ponderou seu pai, dando uma piscadela.
Falaram também sobre as aulas que ele teria, os jogos de Quadribol e
Zepelinha, e a viagem fabulática que o levaria ao Politrem e, por fim, ao
vilarejo mágico de Ikypýra.
"Mal posso esperar para ver tudo isso com meus próprios olhos," disse
Heitor, sua voz cheia de antecipação. "Não apenas ler nos livros, mas
realmente viver isso."
Após o jantar, Heitor se deitou em sua cama, mas o sono demorou a
chegar. Sua mente estava repleta de imagens do que estava por vir, e a
animação para o início de sua jornada em Castelo Bruxo era palpável.
Os dias que antecederam a partida pareciam arrastar-se, cada segundo
carregado com a expectativa do desconhecido. Finalmente, o dia 31 de
janeiro chegou, marcando o início da jornada para Valentina, Bernardo e
Heitor.
Em São Paulo, o céu estava tingido com as cores vibrantes do
amanhecer quando Valentina e seus pais se aproximaram da árvore de
sumaúma mais antiga da cidade. A majestosa árvore erguia-se
imponente, suas raízes profundas e galhos que pareciam tocar o céu. O

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ar estava carregado com a magia do momento, e os pássaros cantavam
como se estivessem cientes da despedida que se aproximava.
Os pais de Valentina a abraçaram calorosamente, cada um transmitindo
sua força e amor naquele gesto.
"Minha querida Valentina, lembre-se de quem você é e do que é capaz,"
disse sua mãe, com lágrimas brilhando em seus olhos.
"Estaremos sempre com você, não importa a distância," acrescentou
seu pai, com um sorriso orgulhoso. "Faça amigos, aprenda muito e,
acima de tudo, seja feliz."
Valentina assentiu, o coração apertado pela despedida, mas também
pulsando com a emoção da aventura que a esperava. Com um último
olhar para seus pais, ela tocou a casca áspera da sumaúma e sentiu
uma energia mágica envolvê-la.
Em Brasília, Heitor arrumava suas malas com uma calma aparente, mas
por dentro, uma tempestade de emoções fervilhava. A porta mágica em
sua residência se abriu, revelando um jardim secreto onde o pé de
sumaúma de sua família crescera por séculos. O ar estava fresco e o
perfume das flores mágicas enchia o ambiente.
Seus pais o acompanharam até a árvore, cada passo carregado de
significado.
"Você está pronto, Heitor," disse seu pai, com um toque de reverência
na voz. "Este é apenas o começo de uma grande história que você irá
escrever."
"Seja corajoso e curioso, meu filho," aconselhou sua mãe, abraçando-o
com força. "E não se esqueça de escrever para nós."
Com um aceno de cabeça e um sorriso determinado, Heitor tocou a
sumaúma, sentindo a magia ancestral fluir através de suas veias.
No Rio de Janeiro, Bernardo se despedia de sua família em um clima de
festa e alegria. A sumaúma do Rio era conhecida por sua beleza e
força, e Bernardo sentia-se honrado por ter sido escolhido por ela.
"Vá e conquiste o mundo, Bernardo," disse seu pai, batendo em suas
costas com entusiasmo.
"Só não se esqueça de se divertir também," brincou sua mãe, piscando
para ele.
Bernardo riu, agradecido pela leveza que sua família trazia para o
momento. Com um último abraço, ele tocou a árvore e sentiu-se
transportado por uma força maior do que ele.

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Ao tocarem as respectivas árvores, os três jovens bruxos foram
envolvidos por uma experiência mágica que transcendia o físico. Era
como se Tupã, o grande espírito, os guiasse em uma jornada espiritual,
seus corpos sendo levados por uma corrente de energia pura.
Quando saíram desse transe, encontraram-se em uma estação de trens
antiga, repleta de outras crianças e adolescentes de diferentes idades e
nacionalidades sul-americanas. Todos compartilhavam a mesma
expectativa, aguardando o mesmo trem.
O burburinho de vozes criava um tapete sonoro constante. Alguns
alunos estavam animados, trocando histórias e risadas, enquanto outros
pareciam perdidos, desconfortáveis com a novidade.
Valentina, Bernardo e Heitor se olharam, reconhecendo-se mutuamente
como novatos nesse mundo mágico. Eles se aproximaram,
apresentando-se e compartilhando suas origens e expectativas.
"Sou Valentina, de São Paulo," disse ela com um sorriso tímido.
"Bernardo, do Rio," respondeu ele com um aceno de cabeça.
"Heitor, de Brasília," completou o último, estendendo a mão.

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Capítulo 2: A Travessia do Politrem
O apito do Politrem soou com uma melodia que parecia encantar o ar ao
redor, um chamado mágico que reverberava no peito de cada aluno. Era
o sinal de que a aventura estava prestes a começar. Com um misto de
ansiedade e excitação, os jovens bruxos se dirigiram para a entrada do
trem, cujas portas se abriam como se os convidassem para um mundo
desconhecido e fascinante.
O Politrem era uma maravilha da engenharia mágica, com sua estrutura
elegante e detalhes encantados que capturavam os olhos curiosos dos
novatos. Enquanto os alunos passavam pelo corredor em busca de
suas cabines, o trem parecia vivo, com corredores que se estendiam e
contraíam suavemente, como se respirasse. Grupos de amigos já
formados conversavam animadamente, criando um burburinho de fundo
que acompanhava o ritmo do trem.
Valentina, seguida por Heitor e Bernardo, encontrou uma cabine que
parecia convidativa. Os três entraram e se acomodaram, cada um
ocupando um canto, ainda envoltos na aura de novidade que os
cercava. O silêncio pairou por alguns minutos, apenas o som do trem
em movimento preenchendo o espaço. A alegria do momento era a
única coisa que tinham em comum, e ela brilhava em seus olhos.
Valentina, sentindo a necessidade de estabelecer uma conexão, decidiu
quebrar o gelo.
"Então, Bernardo," começou ela, com um sorriso encorajador. "Você
parece um pouco surpreso com tudo isso. A magia não é algo comum
na sua família?"
Bernardo, pego de surpresa pela pergunta direta, deu um sorriso tímido
antes de responder.
"Ah, sim, é tudo novo para mim. Meus pais são completamente
'não-mágicos'. Eu sou o primeiro bruxo na família," disse ele, ainda
tentando assimilar tudo ao seu redor.
"Deve ser uma grande mudança," comentou Valentina, acenando com a
cabeça. "Mas você vai ver, Castelo Bruxo é incrível. Vamos aprender
tantas coisas!"
Heitor, que até então folheava seu livro, ergueu os olhos e se juntou à
conversa.

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"Aliás, falando em aprender," disse ele, abrindo o livro "Castelo Bruxo:
Uma História" na página marcada. "Aqui diz que a escola tem uma
competição entre as casas, e o Troféu do Condor é muito disputado."
Bernardo e Valentina se inclinaram para ver as ilustrações e ler os
trechos que Heitor apontava.
"E tem o quadribol, claro," continuou Heitor, com um brilho de
entusiasmo nos olhos. "Dizem que os jogos aqui são espetaculares."
"Não esqueça de Ikypýra," acrescentou Valentina. "A cidade mágica
onde vamos comprar nossos materiais. Deve ser um lugar cheio de
histórias e mistérios."
"E as defesas do castelo," Heitor apontou outra passagem. "São feitiços
antigos e poderosos que protegem a escola. Imagina só o que devemos
aprender para contribuir com essa proteção!"
A conversa fluiu naturalmente a partir daí, com cada um compartilhando
suas esperanças e medos sobre o que estava por vir. A cabine, antes
silenciosa, agora estava cheia de risadas e o calor da amizade que
começava a se formar.
À medida que o Politrem serpenteava pelas paisagens mágicas em
direção a Ikypýra, o tempo parecia suspenso em uma bolha de
expectativa e maravilha. Valentina, Bernardo e Heitor, agora mais à
vontade uns com os outros, observavam fascinados as paisagens que
se desdobravam além das janelas encantadas do trem.
Após algum tempo, o som de um sino delicado anunciou a chegada de
um carrinho repleto de guloseimas que parou diante da cabine. A porta
se abriu e uma senhora de sorriso caloroso e olhos brilhantes apareceu.
"Querem doces?" ela perguntou, com uma voz que lembrava o chilrear
dos pássaros.
Heitor, com um entusiasmo de criança, tirou algumas moedas que
tilintavam em seus bolsos e comprou uma boa quantidade de coisas,
oferecendo-as aos amigos com generosidade.
Enquanto dividiam as guloseimas mágicas, o riso era fácil e a
camaradagem crescia. Bernardo, curioso, pegou um feijão mágico e o
colocou na boca, mastigando com cautela. Seu rosto iluminou-se com
surpresa e prazer.
"Uau, tem gosto de acarajé!" exclamou ele, rindo. "Como é que eles
conseguem?"

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Valentina experimentou um caramelo que parecia dançar na língua,
enquanto Heitor abria um chiclete e começava a mascar. Não demorou
muito para que fumaça começasse a sair por seus ouvidos, e um som
de apito, semelhante ao de uma locomotiva de trem, encheu a cabine.
Os três caíram na gargalhada, com Heitor fazendo caretas enquanto
tentava controlar os efeitos do chiclete.
"Isso é incrível!" disse Valentina entre risadas. "Você parece um Politrem
em miniatura!"
As horas passaram voando, e a viagem, que parecia longa no início,
agora parecia curta demais com a companhia dos novos amigos. Foi
então que a porta da cabine se abriu novamente e um aluno mais velho
apareceu.
"Estamos chegando no vilarejo, se preparem para descer!" avisou ele,
com uma expressão séria. "Vão ter algumas horas para conseguir seus
materiais e depois vão nos buscar e escoltar até a escola. Por isso, não
se percam e nem atrasem!"
Os três trocaram olhares de excitação e um pouco de nervosismo. A
realidade de que estavam prestes a pisar em Ikypýra e se preparar para
a vida em Castelo Bruxo finalmente se estabeleceu.
"Vamos manter um olho um no outro," disse Heitor, fechando seu livro e
guardando-o na mochila.
"Concordo," respondeu Bernardo, ainda impressionado com o sabor do
feijão mágico.
"Será uma aventura," disse Valentina, com um brilho de determinação
nos olhos. "E vamos enfrentá-la juntos."
Com um aceno de cabeça coletivo, eles se prepararam para o que viria
a seguir, ansiosos por explorar o vilarejo mágico e tudo o que ele tinha a
oferecer.
À medida que o aluno mais velho se retirava, fechando a porta da
cabine com um clique suave, uma figura passou rapidamente pelo
corredor, quase despercebida. Era um homem de aparência séria,
vestindo um terno marrom que lhe conferia um ar de distinção. Em sua
mão, uma maleta de couro parecia pesada, talvez repleta de segredos e
conhecimento. Seus passos eram firmes e decididos, como se cada
movimento fosse meticulosamente calculado.
Valentina, com sua curiosidade natural, espiou pelo vidro da porta da
cabine e observou a figura que se afastava. "Aquele é o professor Inácio

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Silva," ela sussurrou, voltando-se para seus amigos. "Ele é o novo
professor de artefatos mágicos em Castelo Bruxo."
Bernardo, que estava arrumando sua mochila, olhou para cima com
interesse. "Artefatos mágicos?" ele perguntou, com um brilho de
curiosidade nos olhos. "Isso soa incrível. O que você sabe sobre ele?"
Valentina se acomodou novamente em seu assento, cruzando as
pernas e apoiando o queixo nas mãos. "Bem, ele é de origem argentina
e chegou à escola há pouco tempo. Dizem que ele é um especialista em
objetos encantados e que suas aulas são fascinantes," ela explicou,
compartilhando o que ouvira dos alunos mais velhos.
Heitor, sempre ávido por conhecimento, inclinou-se para frente.
"Imagino que aprenderemos muito com ele. A história dos artefatos
mágicos é tão rica e...," ele fez uma pausa, como se estivesse
ponderando algo. "Mas vocês não acham estranho um professor tão
qualificado chegar de repente?"
Valentina balançou a cabeça, desconsiderando a preocupação de
Heitor. "Talvez ele apenas quisesse uma mudança de ares. Castelo
Bruxo é conhecido por atrair talentos de toda a América do Sul," ela
disse, tentando tranquilizá-lo.
Bernardo concordou com um aceno, ainda fascinado pela ideia de
aprender sobre artefatos mágicos. "Quem sabe o que ele vai nos
ensinar? Talvez até como criar nossos próprios objetos encantados," ele
disse, com um sorriso sonhador.
O trem, que até então seguia seu curso com a velocidade e a graça de
uma serpente mágica, começou a desacelerar. O som do metal contra
os trilhos tornou-se mais presente, e o balanço suave do Politrem deu
lugar a uma sequência de solavancos leves que anunciavam a
proximidade do destino.
Os três amigos olharam uns para os outros, a excitação crescendo em
seus corações. A viagem que os levaria a Ikypýra e, eventualmente, aos
portões de Castelo Bruxo estava chegando ao fim, mas a aventura
estava apenas começando.
"Estamos quase lá," disse Heitor, olhando pela janela para tentar
vislumbrar o vilarejo mágico.
Valentina e Bernardo se juntaram a ele, pressionando os rostos contra o
vidro, ansiosos para ver o lugar que seria o primeiro passo em sua
jornada mágica.

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Conforme o Politrem diminuía sua velocidade, as paisagens borradas
que passavam pela janela começaram a se transformar em imagens
claras e estáticas. A luz do entardecer banhava o mundo em tons
dourados e avermelhados, e foi nesse cenário encantado que Ikypýra
começou a se revelar aos olhos dos jovens bruxos.
A vila mágica de Ikypýra surgia como um quadro pintado com as cores
vibrantes da cultura sul-americana. As ruas de pedra, agora visíveis,
pareciam sussurrar histórias antigas a cada passo que os habitantes
davam sobre elas. Os prédios, com suas fachadas ornamentadas e
janelas que cintilavam com reflexos de luz misteriosos, pareciam se
contorcer e mudar sutilmente de forma, como se estivessem vivos e
conscientes da chegada dos novos alunos.
"Olhem aquilo!" exclamou Valentina, apontando para uma torre que
parecia torcer-se em direção ao céu, adornada com esculturas de
criaturas míticas que pareciam observar a vila com olhos atentos.
Heitor, com seu olhar analítico, observou as construções que
lembravam as antigas arquiteturas incas, admirando a precisão com que
cada pedra era encaixada. "É incrível como eles conseguiram preservar
tanto da magia indígena aqui," ele comentou, impressionado com a
harmonia entre a magia e a tradição.
Bernardo, por sua vez, estava fascinado pelas cores e pela energia que
emanava das lojas e estabelecimentos repletos de itens mágicos. "Não
vejo a hora de explorar cada canto desse lugar," disse ele, com um
sorriso que refletia sua empolgação.
À medida que o trem se aproximava da estação, a vida pulsante de
Ikypýra se tornava mais evidente. Bruxos e bruxas de todas as idades
circulavam pelas ruas, alguns carregando cestos cheios de ingredientes
para poções, outros conversando animadamente em grupos. O ar
estava saturado com o cheiro de especiarias e o som de risadas e
conversas em várias línguas.
O trem finalmente parou com um último suspiro de vapor mágico, e as
portas se abriram para o mundo novo que aguardava Valentina,
Bernardo e Heitor. Eles pegaram suas malas e se juntaram à multidão
de estudantes que desciam, todos compartilhando a mesma mistura de
nervosismo e antecipação.
"Estamos aqui," disse Valentina, respirando fundo o ar fresco da vila.

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"Vamos fazer isso juntos," Heitor afirmou, ajustando a alça de sua
mochila.
Bernardo assentiu, e os três amigos deram os primeiros passos, juntos
dos demais alunos, em direção ao coração de Ikypýra, prontos para se
maravilharem com as maravilhas e os mistérios que a vila dos bruxos
tinha a oferecer.

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Capítulo 3: Ikypýra: A Vila dos Mistérios
Ao desembarcarem do Politrem, o trio foi recebido por um grupo de
monitores vestindo túnicas azul-escuras com o brasão de Castelo Bruxo
bordado em fios dourados. Com um ar de autoridade, os monitores
distribuíram mapas detalhados da Vila de Ikypýra, apontando para as
ruas sinuosas e os estabelecimentos que pareciam saltar do papel com
pequenas animações mágicas.
"Certifiquem-se de estar no Grande Relógio de Sol na praça central às
cinco em ponto," disse uma monitora com cabelos presos em uma
trança elaborada. "Não se atrasem, a escolta para Castelo Bruxo não
esperará por retardatários."
Valentina, Bernardo e Heitor acenaram compreensivamente, seus olhos
percorrendo o mapa com curiosidade. O ponto de encontro estava
claramente marcado com um símbolo cintilante que lembrava um sol
dourado.
"Qualquer dúvida, procurem por um de nós," continuou a monitora,
apontando para o distintivo em sua túnica. "Estaremos espalhados pela
vila para ajudar."
Os amigos agradeceram e se afastaram, segurando o mapa como um
tesouro. A vila se estendia à frente deles, um emaranhado de ruas de
pedra e prédios que pareciam sussurrar segredos antigos.
"Vamos aproveitar cada minuto," disse Heitor, com um brilho de
excitação nos olhos.
"Sim, mas sem nos perdermos," acrescentou Valentina, estudando o
mapa com atenção. "Não quero ser a última a chegar no Castelo
Bruxo."
Bernardo riu. "Com esse mapa, acho que até um nômade sem bússola
encontraria o caminho."
Eles seguiram pela rua principal, absorvendo as instruções e os
detalhes do mapa, prontos para explorar os mistérios de Ikypýra.
A vila de Ikypýra era um caldeirão borbulhante de atividade mágica. As
lojas se alinhavam em ruas de paralelepípedos, com fachadas
encantadas que mudavam de cor e forma, atraindo os olhares dos
visitantes. Valentina, Bernardo e Heitor caminhavam lado a lado,
maravilhados com as vitrines que exibiam objetos flutuantes e criaturas
mágicas em miniatura.

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"Olhem aquilo!" Valentina exclamou, apontando para uma loja onde
pincéis dançavam no ar, mergulhando sozinhos em tintas que mudavam
de cor espontaneamente.
"É incrível," disse Heitor, com os olhos fixos em um conjunto de globos
de cristal que mostravam visões de lugares distantes.
Bernardo, por sua vez, estava fascinado por uma pequena loja de jogos,
onde tabuleiros de xadrez bruxo se enfrentavam sem jogadores, as
peças se movendo com estratégias surpreendentes.
Eles entraram em uma loja atrás da outra, cada uma com seu próprio
encanto e aroma. Uma delas cheirava a terra molhada e folhas de
outono, enquanto outra exalava um perfume doce que lembrava
algodão-doce.
"Com tantas coisas para ver, como vamos encontrar tempo para
comprar o que precisamos?" Heitor perguntou, meio preocupado, meio
extasiado.
"Vamos nos concentrar na lista de materiais," sugeriu Valentina. "Mas
não há mal em olhar um pouco, certo?"
"Claro que não," concordou Bernardo, "desde que não nos esqueçamos
do horário."
Eles concordaram com um aceno e continuaram a explorar, cada loja
uma nova descoberta, cada item uma tentação. Os vendedores os
cumprimentavam com sorrisos e acenos, oferecendo amostras de suas
mercadorias ou demonstrando os efeitos mágicos de seus produtos.
"Sejam bem-vindos, jovens bruxos!" saudou um velho comerciante, sua
voz tão encantadora quanto os sinos de vento que tilintavam acima da
porta de sua loja. "Vejam só, tenho aqui algo que pode interessar a
vocês."
Ele apresentou um conjunto de capas que mudavam de cor conforme o
humor do usuário, e Valentina não pôde deixar de experimentar uma. A
capa brilhou em tons de azul e violeta, refletindo sua admiração e
curiosidade.
"É perfeita para você," disse Bernardo, impressionado.
"Vou levar," decidiu Valentina, sorrindo para o comerciante que parecia
satisfeito com a venda fácil.
Heitor, que tinha se afastado um pouco, chamou os amigos. "Venham
ver isso!" Ele estava diante de uma loja que vendia mapas mágicos,
cada um prometendo revelar segredos e tesouros escondidos.

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"Isso é útil," comentou Bernardo, examinando um mapa que mostrava
as constelações mágicas do céu noturno.
"Vamos manter o foco," lembrou Heitor, embora seus olhos ainda
estivessem fixos nos mapas. "Precisamos das varinhas, dos
caldeirões..."
"E dos livros e ingredientes para poções," completou Valentina,
trazendo-os de volta à realidade.
Com um suspiro coletivo de relutância, eles se despediram do
comerciante dos mapas e retomaram sua missão, seguindo o mapa
guia em direção às lojas que forneciam os materiais essenciais para sua
jornada em Castelo Bruxo.
A loja de varinhas de Ikypýra era uma visão de sonho para qualquer
bruxo. Com uma fachada rústica de madeira escura, entalhada com
símbolos místicos e runas, a loja parecia pulsar com uma energia
mágica que fazia o ar ao redor vibrar suavemente. O trio parou por um
momento para admirar a porta antiga, que se abriu sem um toque ao
perceber a presença de potenciais clientes.
"Boa tarde, jovens aprendizes," saudou-os uma voz suave, emanando
de uma figura esguia que emergiu das sombras do interior da loja. O
proprietário era um homem de idade indefinida, com cabelos prateados
que caíam sobre os ombros e olhos que brilhavam com um
conhecimento profundo. "Venham, venham, as varinhas os aguardam."
Eles entraram, e o interior da loja era ainda mais impressionante do que
a fachada sugeria. Prateleiras de madeira polida exibiam fileiras de
caixas de veludo, cada uma guardando uma varinha única. A luz suave
vinha de lâmpadas flutuantes, que lançavam um brilho dourado sobre as
superfícies.
"Como funciona a escolha da varinha?" perguntou Heitor, com um misto
de ansiedade e excitação.
"A varinha escolhe o bruxo, meu caro," explicou o proprietário,
movendo-se com uma graça que parecia quase coreografada. "Vocês
devem se abrir para a magia, deixar que ela os guie."
Valentina foi a primeira a se aproximar de uma prateleira. Ela estendeu
a mão, e uma caixa se destacou das demais, deslizando até ela como
se chamada por uma força invisível. Ao abrir a caixa, ela encontrou uma
varinha esbelta de madeira clara com entalhes delicados.

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"Ah, freixo e pena de fênix, excelente para magia criativa," comentou o
proprietário, observando atentamente. "Tente."
Valentina segurou a varinha e sentiu um calor se espalhar por seus
dedos. Com um movimento suave, ela a girou e uma cascata de faíscas
coloridas jorrou da ponta, iluminando a loja com um arco-íris efêmero.
"É ela," Valentina sussurrou, sabendo que a varinha era a parceira
perfeita para sua jornada mágica.
Bernardo se aproximou em seguida, e uma varinha robusta de carvalho
com um núcleo de pelo de unicórnio saltou para sua mão. Era sólida e
confiável, e quando Bernardo a balançou, uma onda de energia
pulsante emanou, fazendo com que os objetos próximos tremessem
levemente.
"Perfeita para um bruxo com afinidade por esportes mágicos," disse o
proprietário com um sorriso de aprovação.
Por fim, Heitor se aproximou, e uma varinha de ébano com núcleo de
corda de coração de dragão voou para ele. Era uma varinha poderosa e
exigente, e quando Heitor a testou, uma luz intensa e focada disparou,
deixando uma marca brilhante no teto.
"Ébano, excelente para magia teórica e feitiços complexos," explicou o
proprietário. "Uma escolha sólida para um bruxo dedicado ao
conhecimento."
Com suas varinhas escolhidas, Valentina, Bernardo e Heitor sentiram-se
mais conectados à magia do que nunca. Eles pagaram ao proprietário,
que os despediu com votos de sucesso e aventuras mágicas.
"Que suas varinhas sejam suas fiéis companheiras," disse ele, enquanto
eles saíam da loja, as varinhas seguras em suas mãos e um novo
sentido de propósito em seus corações.
Com as varinhas recém-adquiridas em mãos, o trio seguiu para a
próxima etapa de sua preparação: a busca pelos ingredientes de
poções. A loja de poções de Ikypýra era um espetáculo de aromas e
cores. Frascos de vidro de todas as formas e tamanhos alinhavam-se
nas prateleiras, contendo ingredientes que brilhavam, borbulhavam e,
às vezes, até sussurravam segredos para quem passava.
"Olhem só para isso," disse Heitor, apontando para um frasco que
continha uma substância que mudava de cor. "Isso é essência de
camaleão, não é?"

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"Sim, e é extremamente útil em poções de transfiguração," respondeu
Valentina, que tinha um interesse particular em poções e estava ansiosa
para testar suas habilidades.
Bernardo, que estava menos familiarizado com os ingredientes, pegou
um frasco contendo um líquido prateado. "E isto? Parece mercúrio."
"É prata líquida encantada," corrigiu a proprietária da loja, uma bruxa
idosa com óculos de aro grosso que descansavam na ponta do nariz.
"Muito menos tóxico e excelente para poções de fortalecimento."
Eles continuaram a explorar a loja, cada um selecionando os
ingredientes necessários para o próximo ano letivo. Valentina escolheu
cuidadosamente cada item, conferindo a lista de poções que eles
estudariam em Castelo Bruxo. Heitor, com seu amor pelo conhecimento,
fazia perguntas detalhadas sobre cada ingrediente, enquanto Bernardo
se concentrava em memorizar as propriedades básicas.
"Vocês três parecem bastante determinados," observou a proprietária,
enquanto os ajudava a encontrar o que procuravam. "Estão se
preparando para algo especial?"
"Estamos," respondeu Valentina, trocando um olhar significativo com os
amigos. "Temos um grande ano pela frente e queremos estar prontos
para qualquer desafio."
"Ah, a juventude e suas aventuras," disse a bruxa com um sorriso
nostálgico. "Lembro-me dos meus dias em Castelo Bruxo.
Certifiquem-se de aproveitar cada momento, mesmo os estudos."
Com os ingredientes de poções devidamente embalados e pagos, o trio
saiu da loja, sentindo-se mais equipados e confiantes. O sol começava
a se pôr, lançando um brilho dourado sobre as ruas de Ikypýra, e eles
sabiam que ainda tinham uma última parada a fazer antes de retornar à
escola.
"Próxima parada, livraria," anunciou Heitor, com um entusiasmo que só
um verdadeiro amante de livros poderia ter.
"Espero que tenham uma boa seleção de tomos sobre defesas
mágicas," disse Bernardo, pensando nos desafios que os aguardavam.
"Com certeza terão," assegurou Valentina. "E talvez até encontremos
algo sobre o 'coração de Rudá'."
Com o céu agora tingido de laranja e rosa, os amigos caminharam em
direção à livraria, prontos para mergulhar em obras de magia e mistério.

32
O que eles não sabiam era que a livraria reservava mais do que apenas
livros.
A livraria de Ikypýra era um refúgio de sabedoria, com suas paredes
repletas de estantes que alcançavam o teto alto, entrelaçadas com
escadas rolantes e plataformas flutuantes que permitiam aos clientes
acessar os volumes mais altos. O cheiro de pergaminho antigo e tinta
fresca se misturava no ar, criando um aroma que era quase palpável,
um convite para se perder entre as páginas dos livros.
Valentina, Bernardo e Heitor entraram na loja com olhos brilhantes de
expectativa. O chão de madeira rangia sob seus pés, e o som de
páginas sendo viradas preenchia o ambiente com uma música tranquila.
"É como se cada livro fosse um portal para outro mundo," murmurou
Valentina, enquanto seus dedos deslizavam pelas lombadas dos livros
encantados que mudavam de cor e padrão.
Bernardo riu baixinho. "Só espero que o mundo dos exames de feitiços
não seja tão complicado quanto parece."
Heitor, que já tinha uma pilha de livros didáticos sob o braço, adicionou
um volume grosso intitulado "Os Fundamentos da Magia Elemental".
"Acho que esse vai ser útil para o Ritual dos Elementos," disse ele, com
um tom de voz que denotava tanto respeito quanto curiosidade.
Enquanto Valentina se concentrava nos livros de encantamentos,
atraindo um exemplar que brilhava com uma luz suave, Bernardo se
dirigiu à seção de defesa contra as artes das trevas. Um livro com capa
de couro preto chamou sua atenção, e quando ele o tocou, a capa se
iluminou com um escudo prateado.
"Esse aqui parece promissor," comentou ele, folheando as páginas que
continham diagramas detalhados de movimentos de varinha e feitiços
de proteção.
Heitor, por sua vez, estava imerso em um livro sobre teorias mágicas
avançadas, sua mente já tecendo conexões entre os conceitos e os
mistérios que eles enfrentariam em Castelo Bruxo.
"Vocês acham que deveríamos procurar algo sobre a profecia ou o
'coração de Rudá'?" perguntou Valentina, enquanto se aproximava dos
amigos com um livro que parecia conter histórias e lendas antigas.
"Seria uma boa ideia," concordou Heitor, "mas esses assuntos são tão
secretos que duvido que encontremos algo em uma livraria pública."
"Não custa procurar," disse Bernardo, juntando-se a eles na busca.

33
Eles passaram horas na livraria, cada um mergulhado em sua própria
jornada de descoberta, até que a proprietária, uma bruxa de cabelos
grisalhos e óculos de meia-lua, os chamou para o balcão.
"Encontraram tudo o que precisavam, queridos?" perguntou ela, com
um sorriso que conhecia o amor pelos livros.
"Sim, e muito mais," respondeu Valentina, enquanto eles pagavam pelos
livros.
Com os novos livros em mãos, eles saíram da livraria, sentindo-se mais
preparados para os desafios que os aguardavam em Castelo Bruxo. O
sol já se punha, lançando um brilho alaranjado sobre as ruas de pedra,
e o trio sabia que ainda havia mais a fazer antes de retornar à escola.
"Próxima parada: a loja de ingredientes para poções," anunciou Heitor,
seu tom de voz cheio de antecipação.
E assim, com a promessa de novas descobertas e a preparação para o
ano letivo em andamento, eles se dirigiram para a loja de poções, sem
perceber a figura encapuzada que os observava de uma distância
segura, uma presença misteriosa que parecia acompanhar cada passo
de sua jornada.
A loja de ingredientes para poções de Ikypýra era um caldeirão de
aromas e cores. Frascos de vidro de todas as formas e tamanhos
alinhavam-se em prateleiras que se estendiam até o teto, cada um
contendo substâncias que prometiam efeitos mágicos extraordinários. O
ar estava impregnado com o cheiro de ervas e raízes, algumas doces e
convidativas, outras tão amargas que faziam os olhos lacrimejarem.
Valentina foi imediatamente atraída para a seção de flores mágicas,
seus dedos roçando delicadamente as pétalas de uma Rosa de Fogo,
cujas chamas dançavam sem queimar. "Elas são lindas," ela sussurrou,
"e perigosas. Perfeito para poções de proteção."
Bernardo, com seu interesse por feitiços de defesa, examinava os
frascos de escamas de dragão e pó de chifre de basilisco. "Isso aqui
deve ser bom para poções de fortalecimento," ele disse, pegando um
frasco e lendo o rótulo com atenção.
Heitor, sempre o mais prático dos três, estava reunindo os ingredientes
básicos necessários para as aulas de poções. "Não vamos esquecer de
Raiz de Asfódelo e Absinto," ele lembrou, adicionando-os à sua cesta.
"São essenciais para a Poção do Sono Mortal."

34
A proprietária da loja, uma bruxa idosa com olhos astutos, observava-os
de seu balcão, cercada por livros de receitas de poções e pergaminhos
antigos. "Cuidado com o que escolhem, jovens bruxos," ela advertiu
com uma voz rouca. "Algumas poções podem ser tão traiçoeiras quanto
as criaturas que fornecem seus ingredientes."
Valentina olhou para os amigos, um brilho de determinação em seus
olhos. "Nós vamos tomar cuidado," ela prometeu. "Mas precisamos
estar preparados para qualquer coisa em Castelo Bruxo."
Eles pagaram pelos ingredientes, cada um sentindo o peso da
responsabilidade que vinha com o conhecimento e o poder que esses
ingredientes representavam. Ao saírem da loja, o trio compartilhou um
olhar de cumplicidade, sabendo que juntos poderiam enfrentar os
desafios que estavam por vir.
"Próximo destino: artigos esportivos," anunciou Bernardo, com um
sorriso animado. "Vamos ver essa Nimbus 2024 de perto! Ouvi alguns
alunos falando sobre ela agorinha!"
Eles se dirigiram para a loja de artigos esportivos, passando por bruxos
e bruxas que conversavam animadamente, crianças que corriam entre
as pernas dos adultos, e vendedores ambulantes anunciando suas
mercadorias. O vilarejo estava vivo com o burburinho da magia e do
comércio, e o trio estava prestes a mergulhar ainda mais fundo em sua
cultura vibrante.

A loja de artigos esportivos de Ikypýra era um microcosmo de excitação


e energia. O som de risadas e conversas animadas preenchia o ar,
misturando-se com o tilintar dos sinos sempre que a porta se abria para
dar passagem a mais um grupo de entusiastas do Quadribol. O chão de
madeira rangia sob os passos apressados dos clientes, e o cheiro de
cera de vassoura era quase palpável, evocando imagens de jogadores
ágeis cortando os céus em suas vassouras velozes.
Valentina, Bernardo e Heitor adentraram a loja, seus olhos
imediatamente capturados pela Nimbus 2024, que se destacava em
uma vitrine iluminada por feitiços que faziam a vassoura brilhar como se
estivesse banhada pela luz das estrelas. A vassoura parecia vibrar com
uma promessa de liberdade e velocidade, e era impossível para os
jovens bruxos não se sentirem atraídos por ela.

35
"Imagine a sensação de voar nela," disse Heitor, com um tom de
admiração. "Deve ser como se tornar parte do vento."
"Com certeza é a vassoura dos sonhos de qualquer jogador," concordou
Bernardo, não conseguindo tirar os olhos da Nimbus 2024.
Valentina sorriu, observando a interação dos amigos com a vassoura.
"Talvez um dia," ela disse, "quando formos grandes bruxos, possamos
cada um ter uma Nimbus para chamar de nossa."
Enquanto eles se perdiam na contemplação da vassoura, a loja
continuava a ser um redemoinho de atividade. Crianças
experimentavam miniaturas de vassouras, levitando alguns centímetros
acima do chão sob o olhar atento dos pais. Grupos de adolescentes
discutiam as últimas partidas de Quadribol, recriando os movimentos
dos jogadores com gestos exagerados e risos.
Um vendedor aproximou-se do trio, um sorriso acolhedor no rosto.
"Interessados na Nimbus 2024?" ele perguntou. "É a escolha perfeita
para quem busca excelência no esporte."
"Estamos apenas admirando," respondeu Valentina educadamente.
"Mas quem sabe no futuro?"
"Ah, o futuro reserva muitas surpresas," disse o vendedor com um
piscar de olhos misterioso. "E lembrem-se, a Nimbus 2024 espera por
aqueles que ousam alcançar as estrelas."
Com um aceno de cabeça, o trio se despediu do vendedor e continuou a
explorar a loja, passando por prateleiras repletas de equipamentos de
proteção, uniformes de times famosos e uma seção dedicada a livros
sobre as táticas e histórias do Quadribol.
Ao saírem da loja, o trio sentiu-se revigorado pela energia do lugar.
Ikypýra era uma vila onde a magia e a paixão pelo esporte se
entrelaçavam, e eles estavam apenas começando a descobrir todas as
maravilhas que ela tinha a oferecer.
"Próxima parada, os uniformes," disse Heitor, consultando a lista de
materiais. "Vamos nos parecer com verdadeiros estudantes de Castelo
Bruxo."
Com passos determinados e corações leves, Valentina, Bernardo e
Heitor seguiram pela rua de pedras, o som de suas risadas se
misturando ao burburinho constante do vilarejo mágico.
A loja de uniformes de Castelo Bruxo era um santuário de tradição,
onde o passado e o presente se encontravam nas dobras

36
cuidadosamente passadas das vestes escolares. As prateleiras estavam
alinhadas com precisão, cada conjunto de uniforme aguardando para
ser escolhido por um novo aluno ansioso. O ar estava impregnado com
uma mistura de tecidos e o leve aroma de amido, sinalizando a frescura
e a rigidez dos materiais recém-preparados para o ano letivo que se
iniciava.
Valentina, Bernardo e Heitor entraram na loja com a lista de materiais
em mãos, determinados a adquirir tudo o que precisavam sem se
atrasar. O ambiente era calmo e organizado, um contraste bem-vindo
após a agitação das ruas de Ikypýra. Os uniformes estavam dispostos
em manequins que exibiam a elegância das vestes: calças e saias de
um negro profundo, camisas brancas como a neve e gravatas
verde-musgo que simbolizavam a honra de pertencer a Castelo Bruxo.
"Estes uniformes são incríveis," disse Heitor, pegando uma das calças e
examinando a qualidade do tecido. "Eles parecem tão... oficiais."
"Eles são um lembrete de que somos parte de algo maior," Valentina
comentou, enquanto escolhia uma saia que lhe caía bem. "Algo
mágico."
Bernardo, que tinha um olhar mais crítico para a moda, ajustou uma
gravata ao redor do pescoço e se admirou no espelho. "Acho que vou
me acostumar com isso," ele disse com um sorriso. "Parece que foi feito
sob medida."
Enquanto estavam ocupados escolhendo seus uniformes, o Professor
Inácio passou pela janela da loja. Ele estava acompanhado por um
homem baixinho de aparência peculiar, que olhava ao redor com um ar
de cautela. Sem dar muita atenção à cena e concentrados em suas
tarefas, os amigos mal notaram a dupla entrando na taverna Três Ipês.
"Não podemos nos atrasar," lembrou Valentina, verificando o relógio.
"Os monitores foram bem claros sobre a importância de estar no
horário."
"Verdade," concordou Bernardo, enquanto pagavam pelos uniformes. "E
ainda temos que encontrar as meias e os sapatos."
"Vamos lá, então," disse Heitor, liderando o caminho para a próxima
seção da loja.
A vendedora, uma senhora de cabelos prateados e olhos gentis, os
ajudou a encontrar o restante dos itens. "Estão ansiosos para a
cerimônia de iniciação?" ela perguntou com um sorriso caloroso.

37
"Sim, muito," respondeu Valentina. "É o começo de uma nova aventura."
"Vocês vão adorar Castelo Bruxo," disse a vendedora, entregando-lhes
as sacolas com os uniformes. "Cada dia é uma descoberta. Boa sorte,
jovens bruxos."
Com os materiais em mãos e o coração cheio de expectativas,
Valentina, Bernardo e Heitor saíram da loja, prontos para o próximo
passo em direção ao seu futuro mágico. Eles mal podiam esperar para
vestir seus novos uniformes e começar oficialmente suas jornadas como
alunos de Castelo Bruxo.

O sol começava a se pôr, tingindo o céu de tons alaranjados e


dourados, enquanto o trio e os demais alunos se dirigiam ao ponto de
encontro estabelecido pelos monitores. A ansiedade e a excitação eram
palpáveis no ar, misturando-se com os murmúrios e risadas dos
estudantes que se reuniam. Valentina, Bernardo e Heitor, agora
devidamente uniformizados, sentiam-se parte de um todo, uma corrente
mágica de aspirantes a bruxos e bruxas, todos compartilhando o mesmo
destino: Castelo Bruxo.

Os monitores, vestidos com suas capas distintas e insígnias brilhantes,


organizavam os alunos em uma formação ordenada. Eles passavam
entre os grupos, verificando se todos estavam presentes e prontos para
a caminhada até o castelo.

"Vocês três, fiquem juntos e sigam a linha," instruiu uma das monitoras,
uma jovem de cabelos encaracolados e olhos atentos. "A cerimônia de
início de ano é um momento importante, e queremos que todos
cheguem lá com segurança."
Valentina acenou com a cabeça, sinalizando que haviam entendido.
"Nós vamos ficar atentos," ela assegurou, e os amigos concordaram
com gestos firmes.

Enquanto esperavam o sinal para partir, o trio observava os arredores.


O vilarejo de Ikypýra começava a se acalmar, as lojas fechando suas
portas e as luzes das lanternas mágicas se acendendo, criando um
caminho iluminado que os guiaria até o castelo.

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"Imaginem só o que nos espera lá," disse Heitor, olhando para o
horizonte onde a silhueta imponente de Castelo Bruxo se destacava
contra o céu crepuscular.
"Desafios, mistérios, magia," murmurou Bernardo, com um brilho de
expectativa nos olhos.
"E uma cerimônia de início de ano que nunca vamos esquecer,"
completou Valentina, sentindo uma onda de emoção.
Finalmente, o sinal foi dado e os alunos começaram a caminhada. A
trilha serpenteava pela floresta, onde as sombras das árvores
dançavam ao sopro da brisa noturna. O som dos passos em uníssono
criava um ritmo hipnótico, quase como um encantamento que os levava
adiante.

À medida que se aproximavam do castelo, a excitação crescia. A


cerimônia de início de ano era o marco de uma nova etapa em suas
vidas, o início de uma jornada que moldaria seu futuro. Valentina,
Bernardo e Heitor caminhavam lado a lado, seus corações batendo em
harmonia com as promessas de aventuras e descobertas que os
aguardavam.

39
Capítulo 4: A Chegada ao Castelo Bruxo
A jornada até Castelo Bruxo foi uma procissão de expectativa. Os
caminhos se desenrolavam diante deles, revelando a paisagem
exuberante que os cercava. Pequenas criaturas, curiosas com a
movimentação, espiavam entre as folhas, enquanto os Caiporas,
invisíveis, mas definitivamente presentes, garantiam a segurança de
todos.

Foi então que, ao cruzarem uma curva no caminho, a magnífica


estrutura de Castelo Bruxo ergueu-se diante deles. Seu esplendor
dourado capturava a luz do sol nascente, fazendo o edifício parecer feito
de puro ouro. As torres imponentes se erguiam como sentinelas da
sabedoria, e a floresta ao redor parecia reverenciar sua majestade.

"Uau..." Bernardo murmurou, seus olhos não conseguiam abarcar toda


a grandeza.

Heitor, com uma expressão de reverência, tocou levemente o pingente


em seu pescoço, um artefato familiar que parecia vibrar com a
proximidade da escola.

Valentina, cuja mente sempre questionava e explorava, já imaginava os


segredos que cada pedra daquela construção poderia contar.

Vice-diretora Deborah Machado, observando os alunos, um sorriso de


orgulho delineando seus lábios, disse em voz alta, "Bem-vindos ao lar,
futuros bruxos e bruxas de Castelo Bruxo."

Os professores ao lado dela compartilhavam de seu orgulho, seus


olhares varrendo a multidão de rostos jovens e ansiosos. Para eles,
cada novo ano letivo era uma promessa renovada, um novo capítulo na
longa história da magia sul-americana.

E com o castelo se elevando diante deles, o coração de cada aluno


batia em uníssono, um prelúdio para as melodias de magia e mistério
que logo iriam compor.

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Durante a caminhada, as folhas úmidas da floresta que abraçava o
caminho para Castelo Bruxo deixavam o clima fresco e confortável. Os
alunos, em fila, seguiam a Vice-diretora, cada um com os olhos
arregalados pela maravilha diante deles. O percurso até a entrada
principal era um desfile de marcos mágicos, cada qual com seu próprio
encanto e história.

À medida que passavam pelas torres de Astrologia e Espiritologia,


Valentina não pôde deixar de sussurrar para Bernardo, com olhos que
refletiam o azul do céu claro, "Imagina as estrelas que eles devem ver
daquela torre, e os espíritos que compartilham seus segredos..."

Bernardo, com um sorriso contagiante, respondeu: "Queria ver se eles


têm fantasmas como os de Hogwarts. Acho que seria demais ter uma
conversa com um."

Heitor, sempre atento e reflexivo, observou: "Dizem que as estrelas aqui


nos contam histórias diferentes, histórias dos antigos magos das
Américas."

A Vice-diretora Deborah, com uma voz que carregava o calor da Bahia e


a sabedoria de suas raízes, explicou sobre cada espaço. "Aqui, meus
queridos, é onde exploramos os céus e conversamos com o além.
Respeitamos e aprendemos com todas as formas de vida e energia."

Passando pelas estufas de Herbologia, as plantas pareciam saudar os


novos alunos, com folhas que tremulavam e flores que se inclinavam em
sua direção. Giane Honorato, do outro lado do caminho, acenava para
eles, com um sorriso caloroso e mãos enluvadas de terra. "Vocês vão
amar Herbologia," ela disse, "as plantas têm muito a ensinar."

O estádio de Quadribol e Trancabola surgiu em seguida, uma


imponente arena que prometia jogos e competições emocionantes.
Bernardo olhou para o estádio com os olhos brilhando. "Olha o tamanho
daquilo! Não vejo a hora de voar aqui."

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"Sim," concordou Barbara Ellen, que passava por ali, segurando uma
vassoura de última geração. "E talvez um dia, Bernardo, te veja
competindo em um dos nossos jogos."

O circuito de treinamento em combate mágico era um espetáculo à


parte, com Mestre Matsumy supervisionando uma demonstração de
artes marciais mágicas. "Aqui é onde se tornam guerreiros, onde
aprendem a arte da defesa e do ataque", disse ele com um aceno para
os novatos.

Os alunos cochichavam entre si, apontando para os animais mágicos


que espiavam curiosos entre as folhagens, as plantas exóticas que
cresciam nas estufas e os feitiços sendo praticados no campo de
treinamento.

Ao chegarem às escadarias da entrada principal, a Vice-diretora


Machado pediu que todos parassem e se reunissem. "Aqui, onde nosso
caminho se encontra com o de Castelo Bruxo, peço que aguardem. Os
monitores os guiarão pelo que será sua nova casa."

Valentina olhou para Heitor e Bernardo, sua voz baixa, mas carregada
de emoção: "Não consigo acreditar que estamos aqui. É mais incrível do
que eu sonhei."

Heitor assentiu, sua expressão séria suavizando-se pela expectativa. "É


o começo de uma jornada que mudará nossas vidas."

Bernardo, não contendo a energia, deu um pulo animado. "Vamos


nessa! Castelo Bruxo, aí vamos nós!"

Os alunos, com um misto de nervosismo e euforia, aguardavam as


próximas instruções. A Vice-diretora olhava para cada rosto,
memorizando-os, sabendo que daqui a alguns anos, eles seriam os
novos mestres e mestras da magia.

A Vice-diretora Deborah Machado saiu por alguns minutos, enquanto os


monitores pediam a todos um momento de calma e paciência, pois logo

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entrariam no prédio principal. O ar estava carregado de magia, e uma
sensação de antecipação tomava conta de todos. Era o prelúdio de uma
cerimônia que marcaria o início de suas vidas em Castelo Bruxo.
A Vice-diretora Deborah Machado reapareceu como uma figura
maternal, guiando seus protegidos com uma autoridade gentil.
"Venham, crianças, há muito para ver e pouco tempo antes da
cerimônia começar," ela disse, com um sorriso que acalmava e
convidava à aventura.

Os alunos, obedecendo ao seu chamado, formaram uma procissão


atrás dela, seus murmúrios de excitação criando uma sinfonia de vozes
juvenis. "Será que vamos aprender a conjurar patronos aqui?"
perguntou um menino com olhos arregalados de esperança.

"Ou talvez descobrir segredos das poções mais complexas," sonhava


uma menina, com um brilho de antecipação em seu olhar.

Valentina, Bernardo e Heitor caminhavam lado a lado, cada um perdido


em suas próprias expectativas e maravilhamento. "Espero que
tenhamos a chance de estudar as criaturas mágicas da floresta," disse
Valentina, com um tom de voz que revelava sua sede por conhecimento.

Ao cruzarem o portão principal, o trio e seus colegas entraram no Hall


de Castelo Bruxo, um espaço que desafiava a imaginação. Fontes de
águas cristalinas jorravam em um ritmo hipnotizante, enquanto estátuas
de bruxos e criaturas mágicas contavam histórias de eras passadas
através de gestos petrificados. Árvores entrelaçadas cresciam dentro do
próprio salão, suas folhas suspirando segredos antigos. Esculturas e
paredes adornadas com figuras em alto relevo ganhavam vida própria,
movendo-se suavemente para narrar lendas e profecias de tempos
imemoriais. Fantasmas, vestidos com trajes de épocas diversas,
circulavam entre os alunos, alguns acenando cordialmente, outros
perdidos em conversas etéreas.

Os alunos olhavam ao redor, comentando entre si, maravilhados com a


primeira vista do interior de Castelo Bruxo. Heitor, com seu livro
"Castelo Bruxo: Uma História" firmemente preso sob o braço, apontava

43
para uma das estátuas animadas. "Essa é a representação de Rudá, o
espírito guardião da floresta. Dizem que ele protege os segredos mais
profundos da natureza e abençoa aqueles que os respeitam."

Bernardo, com uma energia inesgotável, apontava para cada detalhe


que capturava sua atenção. "Vejam aquela escultura! Ela está se
movendo! E olhem para aquelas árvores, parecem estar dançando com
o vento!"

Valentina, com um olhar atento e pensativo, observava as figuras em


alto relevo que contavam histórias sem palavras. "Estas narrativas são
mais do que simples decoração. Elas são lições, são parte da nossa
educação mágica. Cada uma delas é um enigma esperando para ser
decifrado."

Juntos, eles continuaram caminhando pela escola, seguindo o fluxo de


alunos em direção ao Salão Principal, onde as refeições e eventos
importantes eram realizados. O caminho era pontuado por mais
maravilhas, cada corredor e cada canto revelando mais da rica
tapeçaria que era a história e a cultura de Castelo Bruxo.

"Vocês sentem isso?" perguntou Heitor, uma mão sobre o coração. "É
como se o próprio castelo estivesse pulsando com vida, como se
pudéssemos sentir a magia fluindo através das paredes."

"É incrível," concordou Valentina, "é como se cada passo que damos
aqui dentro nos conectasse mais profundamente com a magia do lugar."

Bernardo riu, um som contagiante que fez alguns dos fantasmas sorrir
em resposta. "Se isso é só o começo, mal posso esperar para descobrir
o que mais Castelo Bruxo tem a nos mostrar."

Finalmente, eles chegaram ao Salão Principal. O Salão Principal do


Castelo Bruxo era uma tapeçaria viva de histórias e magia, onde o eco
das eras passadas se fundia com o pulsar vibrante do presente. As
mesas longas, esculpidas em madeira nobre e escura, estavam
dispostas com uma precisão que só poderia ser mágica, cada uma

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orgulhosamente exibindo as cores e emblemas das quatro casas:
Jaguar, Arara, Capivara e Sucuri. Os alunos mais velhos, cada um com
a confiança que vinha com a familiaridade, tomavam seus lugares, suas
risadas e conversas tecendo uma melodia de boas-vindas e
antecipação.

Os sons da cerimônia preenchiam o ar, desde o tilintar dos talheres e


pratos, meticulosamente arrumados pelos elfos domésticos, até o
sussurro das vestes dos professores ao passarem. Os estudantes de
Jaguar exibiam um porte orgulhoso, os de Arara compartilhavam ideias
e risos, os de Capivara celebravam a camaradagem com abraços e
palavras amigáveis, enquanto os de Sucuri trocavam olhares astutos,
suas mentes já tecendo planos e estratégias.

A Vice-diretora Deborah Machado, uma figura de autoridade e


compaixão, aguardava ao lado dos novatos. Seu olhar percorria o salão,
uma capitã assegurando-se de que sua tripulação estava pronta para
navegar. "Atenção, por favor," ela chamou, sua voz ecoando com uma
clareza que silenciou o salão.

Os novatos foram então guiados para a frente, passando pelo corredor


central entre as mesas. Os olhares dos alunos mais velhos seguiam os
novos, alguns com expressões de encorajamento, outros com
curiosidade. A Vice-diretora subiu ao palco, onde um caldeirão antigo
repousava, o líquido dentro dele borbulhando com uma energia que
parecia ter vontade própria.

Ela desenrolou um pergaminho e começou a explicar o Ritual dos


Elementos. "Este rito de passagem é uma tradição que nos liga aos
elementos da natureza: terra, ar, fogo e água. Cada um de vocês será
testado e abençoado por essas forças, simbolizando a conexão que
devemos manter com o mundo ao nosso redor," ela declarou, sua voz
carregada de reverência e solenidade.

Um a um, os alunos foram chamados para frente. Ao pronunciarem


seus nomes, eles se aproximavam do caldeirão. Uma colher de cabo
longo mergulhava no líquido e era levantada, deixando cair quatro gotas

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- uma para cada elemento - sobre as palmas das mãos estendidas dos
novatos. A água representava a fluidez e a adaptação; o fogo, a paixão
e a transformação; o ar, a sabedoria e a liberdade; e a terra, a
estabilidade e o crescimento.

Heitor, Valentina e Bernardo aguardavam sua vez, cada um com uma


tempestade de pensamentos e emoções. Heitor, com seu amor pelo
conhecimento, sentia uma mistura de ansiedade e entusiasmo. "Será
que estou à altura dos desafios que virão?" ele se perguntava, a
curiosidade brilhando em seus olhos.

Valentina, cuja paixão pela arte era tão intensa quanto sua sede de
aventura, contemplava o ritual com um misto de admiração e inquietude.
"Que segredos a magia deste lugar irá revelar?" ela pensava, enquanto
seus dedos traçavam padrões invisíveis no ar, como se já estivessem
dançando com as energias ao seu redor.

Bernardo, sempre o mais destemido e impulsivo do trio, sentia o


coração acelerado com a promessa de novas conquistas. "Que desafios
me aguardam? Que glórias poderei alcançar?" ele se questionava, um
sorriso audacioso desenhando-se em seu rosto.

Quando chegou o momento, eles se aproximaram juntos, como um trio


inseparável que já enfrentara mistérios e que agora se preparava para
mais um. "Heitor Alencar," chamou a Vice-diretora. Ele avançou a
passos lentos.

"Heitor Pereira," a Vice-diretora repetiu, e ele deu um passo à frente. As


gotas do caldeirão tocaram sua pele, e uma onda de sensações o
inundou. Ele sentiu o calor do fogo despertar uma coragem adormecida,
a água refrescar sua mente com possibilidades, o ar elevar seu espírito
com sonhos de voos mágicos, e a terra fortalecer sua determinação.
Heitor sabia que estava prestes a embarcar em uma jornada de
descobertas que iria além dos livros e teorias que tanto amava.

"Valentina Avila," a voz da Vice-diretora chamou a seguir. Valentina deu


um passo à frente, seus olhos brilhando com uma mistura de

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nervosismo e excitação. As gotas caíram em suas mãos, e ela sentiu a
magia fluir através de si como uma melodia. A água lhe trouxe a fluidez
da dança, o fogo a paixão da criação, o ar a inspiração para suas obras
de arte, e a terra a solidez de suas convicções. Ela estava pronta para
pintar sua própria história com as cores vibrantes da magia que agora a
abençoava.

"Bernardo Fedato," foi a vez dele ser chamado. Com um sorriso


confiante, Bernardo avançou. As gotas mágicas tocaram sua pele, e ele
sentiu uma conexão com os ancestrais que haviam pisado neste mesmo
solo. A água lhe prometeu aventuras inesquecíveis, o fogo a força para
enfrentar qualquer desafio, o ar a liberdade de seguir seu coração
destemido, e a terra a resiliência para nunca desistir. Bernardo estava
pronto para ser um herói em sua própria saga, para defender o que era
justo com a bravura de um verdadeiro Jaguar.

Após o ritual, a Vice-diretora anunciou com orgulho: "Bem-vindos à


Casa Jaguar!" O trio se entreolhou, um misto de orgulho e antecipação
em seus olhos. Eles sabiam que a Casa Jaguar era o bastião dos
destemidos e poderosos, e agora, eles eram parte desse legado. Eles
se juntaram aos seus novos colegas de casa, sentindo uma onda de
camaradagem os envolver.

À medida que a cerimônia prosseguia, os alunos das outras casas


também eram chamados e abençoados pelos elementos. A Casa Arara
acolhia os sábios e criativos, a Casa Capivara os leais e justos, e a
Casa Sucuri os astutos e determinados. Cada aluno,
independentemente da casa, carregava a promessa de um futuro cheio
de magia e descobertas.

Enquanto os últimos nomes eram chamados, uma sensação de mistério


começou a se insinuar no Salão Principal. Os olhares dos alunos se
cruzavam, cheios de perguntas não ditas. O que o novo ano traria?
Quais segredos estavam escondidos nas sombras do Castelo Bruxo?
Eles sentiam que algo estava se agitando, algo que iria testar suas
habilidades, suas amizades e a força de suas casas.

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A cerimônia de iniciação chegou ao fim, mas para os novos alunos, era
apenas o começo.
O Diretor, com a dignidade que lhe era característica, ergueu-se de sua
cadeira, atraindo todos os olhares para si. Seu manto de veludo escuro,
marcado com símbolos de constelações e criaturas míticas,
arrastava-se silenciosamente pelo chão de pedra à medida que ele
caminhava. A luz das velas dançava sobre os fios prateados de seu
cabelo, lançando um brilho etéreo em seu rosto, onde os sulcos de sua
pele contavam histórias de sabedoria e anos dedicados ao estudo da
magia.
Ao chegar ao púlpito, ele levantou os olhos, e um brilho astuto surgiu
em seu olhar, como se compartilhasse um segredo silencioso com cada
pessoa presente. Com um gesto sutil de sua mão, o burburinho do salão
cessou, e uma expectativa palpável preencheu o ar.
"Caros alunos," ele começou, sua voz reverberando com uma calma
que parecia acalmar até mesmo os espíritos mais inquietos. "Sejam
todos bem-vindos a mais um ano letivo em Castelo Bruxo, onde a magia
não é apenas uma matéria de estudo, mas o próprio tecido de nossa
existência."
Ele fez uma pausa, permitindo que suas palavras se entrelaçassem com
os pensamentos dos jovens bruxos e bruxas que o ouviam atentamente.
"À medida que as aulas começam, lembrem-se de que cada feitiço,
cada poção e cada descoberta é uma ponte para o conhecimento
ancestral que esta escola guarda. Mas, como em toda jornada, há
perigos que espreitam fora do caminho iluminado."
Os alunos trocaram olhares nervosos, e o Diretor continuou, sua voz
assumindo um tom mais grave.
"Os terrenos de Castelo Bruxo são protegidos por encantamentos
poderosos, mas além de nossas fronteiras, as forças da natureza e
criaturas desconhecidas aguardam. Respeitem as regras estabelecidas
para a segurança de todos e evitem aventuras imprudentes nas
florestas e montanhas circundantes."
Valentina sentiu um calafrio percorrer sua espinha, enquanto Heitor
anotava mentalmente cada advertência. Bernardo, embora tentasse
parecer indiferente, não pôde evitar um olhar cauteloso para as janelas
altas que mostravam a escuridão lá fora.

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"Para aqueles que buscam um alívio dos estudos, a vila de Ikypýra
estará aberta aos finais de semana. Lá, vocês poderão encontrar não
apenas materiais para suas aulas, mas também a rica cultura de nossa
comunidade mágica. Aproveitem essas visitas para aprender e crescer."
O Diretor sorriu, e por um momento, a atmosfera pesada se aliviou. Os
estudantes começaram a sussurrar entre si sobre as maravilhas que
Ikypýra poderia oferecer.
"Por último, mas não menos importante," ele acrescentou, "a
competição entre as casas é um símbolo do nosso compromisso com a
excelência. Que ela sirva para elevar o espírito de camaradagem e
honra, e não apenas para acumular pontos. Que cada um de vocês
traga glória para sua casa, mas acima de tudo, para si mesmo."
Com essas palavras, o Diretor assentiu para a assembleia e recuou,
deixando um rastro de inspiração e um sutil aviso nas mentes dos
alunos. O jantar prosseguiu, mas a mensagem do Diretor permaneceu,
semeando tanto entusiasmo quanto cautela nos corações dos jovens
bruxos.
Enquanto os pratos eram servidos e a conversa fluía, Heitor, Valentina e
Bernardo se aproximaram, compartilhando um olhar de cumplicidade.
Eles sabiam que, apesar dos avisos, a curiosidade e a sede de aventura
os levariam a explorar cada segredo que Castelo Bruxo e Ikypýra
tinham a oferecer.
Na mesa da Casa Jaguar, o trio de amigos Valentina, Bernardo e Heitor
compartilhava suas primeiras impressões e expectativas sobre a vida
em Castelo Bruxo. Eles estavam cercados por outros alunos, alguns
ansiosos, outros já confiantes em seu lugar na escola.
Valentina, com sua curiosidade inata, inclinou-se para frente e disse:
"Vocês já sentem a magia deste lugar? Cada canto de Castelo Bruxo
parece estar pulsando com histórias antigas."
Bernardo, com seu característico sotaque carioca, riu. "Eu mal posso
esperar para voar sobre o campo de Quadribol. Já ouvi dizer que é uma
experiência incrível!"
Heitor, sempre o mais contemplativo, acrescentou: "Estou
particularmente interessado nas bibliotecas. Há tanto conhecimento aqui
que nossos ancestrais compartilharam, e eu quero aprender tudo."

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Sophia Santos, a monitora chefe da casa dos Jabutis, passou pela
mesa com um sorriso encorajador. "Aproveitem cada momento, o tempo
aqui voa. E não se esqueçam, a taça das casas está em jogo!"
Antes que a sobremesa fosse servida, o respeitado Diretor Daniel
Penhasco Vermelho se levantou, dirigindo-se ao púlpito com uma
presença que comandava atenção. Ele limpou a garganta e começou a
falar com uma voz que reverberava pelo grande salão.
"Caros alunos e estimados colegas, é com grande prazer que apresento
a vocês os professores que irão acompanhá-los em sua jornada mágica
este ano. Cada um deles é um mestre em sua especialidade, e juntos,
formamos a tapeçaria que é a educação em Castelo Bruxo."
Ele fez um gesto para a professora Giane Honorato. "Aqui está a nossa
amada professora de Herbologia, cujas aulas nas estufas são tão
essenciais quanto o ar que respiramos."
O olhar do Diretor se voltou para Raphael Bariani. "Professor de
Magizoologia, um homem cujas histórias de aventuras são tão
cativantes quanto as criaturas que estuda."
Patricia Souza recebeu um aceno. "Nossa professora de
Encantamentos, cuja paixão pela magia é tão vibrante quanto sua
herança cultural."
Matheus Roriz foi o próximo. "Um alquimista de poções cuja inovação
nos leva a explorar novos horizontes da magia."
Bárbara Ellen foi apresentada com entusiasmo. "Ex-jogadora de
Quadribol e agora nossa professora de Voo e Esportes Mágicos, cuja
energia é uma inspiração para todos nós."
Deborah Machado foi reconhecida com respeito. "Professora de Defesa
Contra as Artes das Trevas, guardiã de saberes ancestrais que nos
protegem das sombras."
Carlos Eduardo foi mencionado com admiração. "Nosso professor de
Astronomia, que nos guia pelas estrelas e pelo conhecimento do
cosmos."
Tatyane Pedreira foi saudada com um sorriso. "A voz da intuição, nossa
professora de Adivinhação, que nos ensina a ver além do presente."
Mariana Borges foi aplaudida. "Narradora do passado, nossa professora
de História da Magia, que nos conecta com as civilizações que nos
precederam."

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Nina Baiochi foi destacada com um gesto. "Mestra de Transfiguração,
que nos mostra a beleza da mudança e do crescimento."
Por fim, Inácio Silva foi introduzido com uma nota de mistério. "Nosso
novo professor de artefatos mágicos, cujo conhecimento é tão vasto
quanto os segredos que ele guarda."
"Por favor, juntem-se a mim para dar as boas-vindas a esses ilustres
membros do nosso corpo docente. Que este ano letivo seja repleto de
aprendizado, descobertas e, acima de tudo, magia." Concluiu o Diretor,
com um sorriso que refletia o orgulho e a esperança que tinha por cada
aluno e professor em Castelo Bruxo.
Com a volta do Diretor Daniel Penhasco Vermelho à sua poltrona, o
clímax da cerimônia de iniciação parecia ter se acalmado, mas a magia
da noite ainda estava longe de terminar. Como se atendendo a um sinal
invisível, sobremesas deliciosas materializaram-se nas mesas,
despertando sorrisos e exclamações de surpresa entre os alunos. A
atmosfera estava repleta de encantamento, e as conversas fluíam tão
livremente quanto as risadas que ecoavam pelo salão.

Valentina, Bernardo e Heitor trocavam histórias sobre suas famílias e o


que esperavam aprender em Castelo Bruxo. Eles não estavam sozinhos
em suas discussões; ao redor deles, outros alunos da Casa Jaguar
também compartilhavam suas ambições e sonhos. A mesa estava
repleta de camaradagem e um senso de pertencimento que só poderia
ser encontrado entre aqueles que compartilhavam os mesmos valores
de coragem e espírito indomável.

À medida que o jantar chegava ao fim, o monitor da Casa Jaguar,


Renato Biosol, levantou-se de sua cadeira. Seus cabelos ruivos e sua
expressão amigável o tornavam uma figura fácil de gostar. Ele bateu
palmas para chamar a atenção dos novatos, que rapidamente
terminaram suas sobremesas e se voltaram para ele.

"Primeiranistas da Casa Jaguar, por favor, formem uma fila aqui. Vou
levá-los à nossa sala comunal," anunciou Renato com uma voz que,
apesar de amigável, carregava um tom de responsabilidade. Os alunos,
obedecendo prontamente, alinharam-se atrás dele, curiosos e ansiosos

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para descobrir mais sobre o lugar que chamariam de lar nos próximos
anos.

Renato conduziu o grupo por corredores iluminados por tochas,


passando por retratos que sussurravam e acenavam para os novos
alunos. A excitação era palpável entre os primeiranistas, que olhavam
ao redor, tentando absorver cada detalhe do caminho que percorriam.
Entendo que você deseja uma nova criação que se alinhe mais com o
que foi descrito no contexto do PDF. Vamos mergulhar novamente na
atmosfera mágica de Castelo Bruxo e acompanhar os novatos da Casa
Jaguar em seu caminho até a sala comunal, repleto de maravilhas
arquitetônicas e mágicas que são características dessa escola de
magia.

Após o jantar, sob a supervisão do monitor Renato Biosol, os novatos da


Casa Jaguar se alinharam, prontos para serem conduzidos à sua nova
residência dentro de Castelo Bruxo. A ansiedade e a expectativa eram
palpáveis entre os alunos, que mal podiam esperar para descobrir os
segredos que a escola tinha a oferecer.

O grupo começou a se mover, seguindo Renato por corredores que


pareciam pulsar com a vida própria da magia. A primeira surpresa veio
na forma das escadas, que se moviam com uma elegância fluida,
reconfigurando-se diante de seus olhos. Os degraus deslizavam e
giravam, conectando-se a diferentes andares em um balé arquitetônico
que desafiava a lógica.

"Vocês estão vendo isso?!" exclamou Valentina, apontando para uma


escada que acabara de se estender para alcançar um corredor
anteriormente inacessível.

Os quadros ao longo das paredes ganhavam vida, com seus habitantes


acenando e dando as boas-vindas aos novos alunos. Um cavalheiro de
aparência nobre em um dos retratos inclinou seu chapéu e piscou para
Bernardo, que retribuiu o gesto com um sorriso tímido.

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"Sejam bem-vindos à Castelo Bruxo," disse uma dama elegante em
outro quadro, seu vestido esvoaçante parecendo quase escapar das
bordas da moldura.

Fantasmas de bruxos antigos flutuavam pelos corredores, suas formas


etéreas emitindo um brilho suave. Eles passavam pelos alunos,
deixando um rastro de ar frio e uma sensação de história viva. Um
deles, um bruxo de barba longa e olhos penetrantes, parou para
observar Heitor.

"Coragem e determinação são as marcas da Casa Jaguar, jovem


bruxo," disse o fantasma, antes de desaparecer através de uma parede.

Ao se aproximarem da sala comunal, os alunos atravessaram uma


ponte espetacular feita inteiramente de raízes de árvores entrelaçadas.
As raízes se erguiam do chão e se entrelaçavam acima de suas
cabeças, formando um arco natural que parecia vivo e respirando.

"É como se a própria floresta estivesse nos abraçando," murmurou uma


das alunas, tocando as raízes com reverência.

Eles chegaram diante da porta da sala comunal da Casa Jaguar. Renato


se posicionou diante da entrada, que estava adornada com entalhes de
jaguares em poses majestosas. Com um sorriso orgulhoso, ele disse a
senha, e a porta se abriu silenciosamente para revelar o interior
acolhedor.

Os alunos entraram, cada um sentindo uma onda de pertencimento e


orgulho.

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