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MITOS

E MISTÉRIOS
EGÍPCIOS

POR

RUDOLF STEINER
MITOS
E MISTÉRIOS
EGÍPCIOS
DOZE CONFERÊNCIAS
feitas em Leipzig, de 2 a 14 de setembro de 1908

POR
Rudolf STEINER

Tradução francesa preparada com a permissão da Sra. Marie STEINER


Com base em notas não revistas pelo autor
PREFÁCIO DA SRA. MARIE STEINER

ASSOCIAÇÃO DA CIÊNCIA ESPIRITUAL


REVISÃO E EDIÇÕES
Rue d’Assas, 90 - PARIS
1936
Todos os direitos de reprodução, adaptação e tradução reservados
para todos os países, incluindo a U R. S. S.
Copyright da Association de la Science Spirituelle 1936
Este livro faz parte da série de Ciclos de Palestras
ministrados por Rudolf Steiner ao círculo privado de
membros da Sociedade Antroposófica. O objetivo desta
Sociedade é o ensino da Ciência Espiritual, dado por
Rudolf Steiner (nascido em Kraljevic, Hungria, em 27 de
fevereiro de 1861, falecido em Dornach, Suíça, em 30 de
março de 1925) e continua a ser pela Universidade Livre
de Ciência Espiritual que tem seu centro no Goetheanum
de Dornach (Suíça).
Este trabalho deve ser considerado como um manus-
crito impresso para uso dos membros desta Universi-
dade Livre da Ciência Espiritual. Tem, portanto, um ca-
ráter semiprivado e, além disso, implica um primeiro co-
nhecimento das bases gerais em que se baseia o ensino
da Ciência Espiritual. Essas bases são colocadas à dis-
posição de todos nas obras de Rudolf Steiner, cuja lista
se encontra no final deste volume.
Quem ainda não adquiriu o conhecimento prévio da
Ciência Espiritual, seja em suas fontes diretas ou de
forma que a própria Universidade do Goetheanum reco-
nheça o valor, não pode, portanto, pretender exercer um
juízo competente sobre este livro.
EXTRATO DOS ESTATUTOS
DA ASSOCIAÇÃO DA CIÊNCIA
ESPIRITUAL

I. - A finalidade da Associação é trabalhar pelo pro-


gresso espiritual da humanidade, difundindo o ensino
ministrado por Rudolf Steiner, sob o nome de Antropo-
sofia ou Ciência Espiritual. Os meios que ela emprega
para isso, são os seguintes, uma Seção de Publicações
Antroposóficas e uma Revista, Ciência Espiritual, Bole-
tim da Associação.
A Associação dedica-se a esta actividade sem perse-
guir qualquer objetivo de interesse próprio, nem direta-
mente para si, ou indiretamente para os seus membros.
II. - A Direção, em sua inspiração espiritual, está
vinculada à Escola Livre de Ciências Espirituais do Go-
etheanum de Dornach (Suíça), centro da Sociedade An-
troposófica Universal.

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PREFÁCIO
DA SRA. MARIE STEINER

Este livro levanta mais uma vez alguns dos véus que
nos cegam, e nosso olhar, a princípio deslumbrado,
torna-se mais firme; ele confronta o passado ou o futuro
que Rudolf Steiner nos revela e que seus pensamentos
nos permitem apreender. Não só as palavras, mas a at-
mosfera em que se banham, cuja força criadora de que
são o invólucro transparente, aproximam de nós os gran-
des mistérios. As velas sobem em um horizonte que se
expande para nós até os limites do universo. Seres de luz
brotam da fala, sob a pressão da verdade; perspectivas
brilhantes preenchem nossa escuridão com uma clareza
desconhecida. Frequentemente, uma expressão nos para,
parece realista, quase familiar; é que está sujeita às leis
da atividade criativa, às necessidades da forma que de-
vem ser impostas ao invisível para torná-lo visível. De-
vido às regiões por onde o verbo deve descer, ela perde
sua transparência espiritual para se tornar a palavra forte,
direta e colorida. Hoje, não tentamos ler nas entrelinhas.
Olhamos apressados através delas, e contentamo-nos
com o que, um pensamento rápido julga encontrar ali. As
obras de Rudolf Steiner devem ser lidas de forma dife-
rente. Através do pensamento, seu verbo busca o espí-
rito, o domínio onde encontra eco, onde faz vibrar o sen-
tido artístico. A agudeza de sua inteligência é apenas o

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MITOS E MISTÉRIOS EGÍPCIOS

relâmpago que rompe os limites do entendimento e


atinge a mente. E se a alma se sente esmagada pelo
golpe, ela não se recupera menos rapidamente; deixe-a
apenas parar para se virar sobre si mesma - e ela se re-
compõe, animada por um novo ritmo de vida.
É aqui que reside o poder mágico das palavras ver-
dadeiras. Rudolf Steiner coloca em nossas mãos essa
chave que leva “às mães” - e aos deuses. Vamos permitir
que a força substancial de seu verbo se desdobre - e nossa
vida se expandirá à medida do universo. Guardemos a
palavra na sua pureza, não a sujeitemos aos desejos tur-
bulentos que acendem um fogo violento e impuro: por-
que perderíamos a força da vida e da luz que ela nos rou-
bou, evocaríamos a força contrária. Nós cometeríamos
um assassinato.
O que mata nessa área é o intelectualismo seco, o
sentido artístico atrofiado. Os mitos e lendas, que são a
vestimenta artística dos acontecimentos espirituais,
mantêm o elo que nos une ao mundo espiritual; mesmo
quando povoam nossa alma apenas de sonhos, são como
fogos que mantêm vivo o reflexo do espírito. Essa vida
que eles despertam pode ser facilmente destruída por in-
terpretações excessivamente intelectuais, explicações
subjetivas, comentários acumulados. Certamente temos
as peças em nossas mãos - mas infelizmente o elo espi-
ritual está faltando. Seria fragmentar a herança espiritual
que Rudolf Steiner nos confiou, para permitir que essa
tendência floresça dentro do movimento espiritual que
ele fundou. Rudolf Steiner já não gostava que as pessoas
explicassem contos de fadas. A fortiori, os símbolos

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sagrados das mais altas realidades espirituais. Aqueles


que a poesia e as artes plásticas, fixaram em quadros sub-
limes, não devem tornar-se joguete de interpretações in-
certas, nem tema de prosaísmos da vida quotidiana.
Quando um facto espiritual dá origem a um símbolo
forte e vivo, como o do Graal, por exemplo, a força que
ele contém deve ser mantida em sua pureza, não ser di-
minuída por hipóteses arriscadas baseadas em fragmen-
tos de documentos questionáveis. Quem, melhor do que
os alunos de Rudolf Steiner, poderia ter tornado profun-
damente consciente, da virtude direta e pura que deve
preservar intacta a vida sobrenatural depositada nos mi-
tos e nas lendas? Por que é necessário, fazer uma repre-
sentação fisiológica de uma ferida, que até agora inspi-
rou sublimes obras poéticas e musicais e serviu à huma-
nidade ajudando-a a se purificar? Não podemos deixá-lo
na esfera onde escapa da grosseira curiosidade?
É realmente útil que a pureza luminosa, o encanto
delicado, que emana da figura de Ísis-Maria, como a
mensagem de uma fonte espiritual, seja precipitada vio-
lentamente para o âmbito das actuais concepções ana-
tômicas? Emana de uma pintura da Virgem (I), uma vida
espiritual que Rudolf Steiner revelou e que destinou es-
pecialmente para aquelas que serão mães para uni-las às
esferas sobrenaturais. No quarto da criança, uma repro-
dução desta pintura pode unir para um vôo puramente
espiritual os pensamentos da mãe e a alma da criança.

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(I). A Madona Sistina, de Raphael,

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MITOS E MISTÉRIOS EGÍPCIOS

Rudolf Steiner comenta sobre isso, nas páginas seguintes


«Nesta pintura, que inúmeras reproduções colocam
à disposição de todos, como não admirar, a magnífica
pureza que envolve as personagens; como não se como-
ver, ao contemplar o rosto da mãe, sua posição oscilando
entre o céu e a terra, o olhar profundo da criança. E
quando olhamos as nuvens que os rodeiam, e de onde
emergem tantas cabecinhas de anjos, como não podemos
sentir algo ainda mais profundo, e que faz com que todo
o quadro seja mais bem compreendido. Eu sei que é uma
ousadia, mas digo mesmo assim: se alguém olhar pro-
fundamente esta criança, nos braços de sua mãe, e atrás
dela, as nuvens harmonizando-se em um conjunto de ca-
beças angelicais, entende-se que esta criança não nasceu
naturalmente; ela é um deles pairando nas nuvens. Este
menino Jesus é também uma daquelas nuvens que se for-
mam e se tornam mais densas; um dos anjinhos voou das
nuvens nos braços de Nossa Senhora. Este é um senti-
mento muito verdadeiro. Se soubermos trazê-lo à vida
em nós, nosso olhar se ampliará; ele se libertará das
ideias estreitas que alguém tem sobre as conexões natu-
rais das coisas da vida. Com a ajuda desta tabela, o olhar
estreito se alarga e pode conceber que já houve um modo
de nascimento diferente daquele que se baseia na relação
dos sexos. Em suma, esta pintura nos faz sentir os laços
profundos que unem o mundo humano ao das forças es-
pirituais. “
“Quando, saindo de Nossa Senhora, voltamos aos
tempos egípcios, encontramos ali uma imagem bastante

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semelhante, e também nobre; os egípcios celebravam


Ísis, figura a que se anexa a frase: Eu sou o que foi, o que
é, o que será. Nenhum mortal ainda levantou meu véu.
Um profundo mistério coberto por um espesso véu, é o
que Ísis nos revela, a bela forma espiritual de Deus, Ísis,
que os antigos egípcios viam com o menino Hórus, como
vemos Madona com o menino Jesus. Esta Ísis é repre-
sentada para nós como carregando dentro dela o ele-
mento eterno, e isso nos lembra do sentimento que expe-
rimentamos ao ver Nossa Senhora. Devemos saber ver
em Ísis, a forma dos mistérios profundos que unem a ci-
vilização egípcia e a nossa no mundo espiritual”.
«A bela forma espiritual de Deus» é o que nos pre-
enche face a esta pintura - ao invés de uma alegoria ana-
tômica. Não teremos nós, oportunidades para mergulhar
nos detalhes anatômicos ou da vida fisiológica, sem es-
tudar sob essa luz, o que pertence ao reino do espírito, da
arte pura? Tenhamos cuidado com as alegorias arbitrá-
rias. Sobre o símbolo dos peixes nas catacumbas, Rudolf
Steiner nos diz nos Mitos e Mistérios Egípcios:
«Que mundo entre este signo, que nos parece o sím-
bolo de uma era cósmica, e as explicações superficiais
que muitas vezes lhe são dadas! Os verdadeiros símbo-
los, são aqueles baseados em altas realidades espirituais.
Eles fizeram mais do que “significar” algo para os pri-
meiros cristãos, eles eram a própria imagem de um
evento espiritual, e nenhum símbolo pode ser interpre-
tado com certeza, até que se saiba como relacioná-lo com
o ser espiritual que ele representa. Toda a especulação
filosófica só pode preparar o espírito; a frase “isso

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MITOS E MISTÉRIOS EGÍPCIOS

significa” não é suficiente; só reconhecemos um símbolo


ao descobrir a realidade espiritual que ele contém. “
Ele diz ainda:
“Já vimos que essas imagens não são alegorias, mas
correspondem a factos reais. Eles costumavam aparecer
como sonhos. Antes, o discípulo não via realmente a
evolução da humanidade, ele primeiro sonhou com a
lenda de Osíris. E apenas aquilo, que assim se prepara
para a visão, é um verdadeiro símbolo no sentido oculto
da palavra. Um símbolo é a descrição pictórica do que se
passa na realidade. »
Outros perigos estão à nossa espera. Há, o de desviar
para a esfera do utilitarismo, o que Rudolf Steiner nos
deu como arte puramente espiritual. Isso seria tirar-lhe
sua vida mais elevada. Rudolf Steiner deu-nos assim a
Euritmia, para que nossa alma possa apreender consci-
entemente o que pertence ao mundo espiritual mais pró-
ximo de nós, e para que penetre nas regiões supraterres-
tres por meio dos movimentos que seguem as correntes
etéricas. Gradualmente, o corpo é espiritualizado; ele se
torna consciente de si mesmo nos elementos de ar e éter;
ele ouve, sente internamente o que o som, a palavra, cria
no ar; ele liga a ela a corrente de consciência pela qual é
atravessado, o gesto visível ao invisível. Esta arte - a eu-
ritmia - não é a reprodução de algo corporal, como o são
as artes plásticas; nem é a expressão da alma, como na
dança ou na música, um sentimento inspirado pela vida
cósmica fluindo para a alma; tampouco se apodera do
fluxo do tempo ou da vida interior para fixá-lo, como faz
a poesia. É a expressão de uma força espiritual imediata:

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MITOS E MISTÉRIOS EGÍPCIOS

a linguagem - essa herança dos deuses, que nos deu a


possibilidade de penetrar no mundo material em espírito,
pois nos dará a possibilidade de confiarmos pouco a
pouco, conscientemente, nos elementos mais sutis de ar,
luz, éter. O som e o gesto incluídos na palavra são os
caminhos que nos levam até lá. Se esse gesto molda a
forma da fala, dá origem à dicção artística. Mas pode
moldar uma imagem em nosso próprio corpo físico: a
forma etérica que apreendeu a respiração, que formou o
som, então forma o gesto físico. São especialmente os
braços que têm a possibilidade de seguir essas formas;
eles não estão orientados para o solo, mas para o destino.
Por meio de sua mobilidade, eles podem esculpir a ri-
queza diversificada da linguagem e, assim, gradualmente
espiritualizar o corpo. O movimento físico que nasce
dessa forma simboliza o que está acontecendo ao mesmo
tempo no mundo etérico, é metamorfoseado cem vezes e
pode apreender a riqueza cósmica que a linguagem
abrange. Quão pobre é o sentimento pessoal em questões
de arte próximas a ele!
Essa arte libertadora da mente libera forças benéfi-
cas. Ele fornece a base para a construção de uma terapia
completa. Um novo perigo pode nos aguardar aqui. Pa-
rece que acreditamos que, para aprender a euritmia, é ne-
cessário desenvolver a consciência dos sons falados par-
ticularmente nos órgãos do corpo e que um ensino de eu-
ritmia que não seja dirigido especialmente neste sentido
é insuficiente. Isso seria a morte da arte. A arte deve ex-
pressar o supersensível escondido atrás do sensível; o
gesto deve permanecer um signo, uma vida em mudança,

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MITOS E MISTÉRIOS EGÍPCIOS

fluente, uma força que carrega, que vai, vibra, - que sente
o impulso no jogo das energias, que o confia ao espaço,
ao ar - mas permanece independente dos órgãos, e nunca
se apoia no corpo. Se estendêssemos essa tendência ao
estudo da linguagem, chegaríamos ao ponto em que Ru-
dolf Steiner veio para nos salvar do perigo de morte, e o
trabalho que ele teve para nos tirar de lá seria em vão.
Teríamos destruído a ponte que poderia nos levar ao ou-
tro lado. Em vez de direcionar nossa consciência para
despertar, dentro e fora do corpo, vibrações do ar através
das quais podemos captá-lo. luz, para sentir o éter que
tece o mundo, e cuja chama dá força aos nossos múscu-
los, nos encontraríamos presos à rocha da matéria corpo-
ral.
Os egípcios tinham a missão de aprender a conhecer
a terra, de conquistar aos poucos o mundo físico va-
lendo-se do conhecimento das forças espirituais que for-
mavam nossos órgãos; para isso, eles tiveram que se per-
der na matéria. Eles embalsamaram os cadáveres, para
que o vínculo que unia a alma ao corpo não se desfizesse;
eles presentearam os mortos com alimentos terrestres,
símbolos de sua união com a terra. Cabe a nós seguir
conscientemente o outro caminho, realizar a reversão,
despir nossa múmia. Quando vemos nos órgãos do corpo
os símbolos dos eventos espirituais, a revelação das for-
ças divinas, então nossa alma é elevada. Mas devemos
também contemplar a grandeza das obras de arte, as Sa-
gradas Escrituras, e não as considerar, como ilustrações
de fenômenos orgânicos. Rudolf Steiner mostrou-nos,
através das pinturas com que adornou as cúpulas do

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MITOS E MISTÉRIOS EGÍPCIOS

primeiro Goetheanum, como se podia representar a vida


do Cosmos. E ele nos mostrou através da arte da palavra
como uma humanidade anêmica pode receber nova vita-
lidade das forças do éter. Mas não devemos isolar de seu
elemento a arte nascida do espírito, A Eurythmia, baixá-
la até aos órgãos físicos. Seria engoli-la. Seria quebrar o
curso de sua evolução. Observe - sim, perceba como o
corpo reage à palavra que ressoa, ao som melodioso - e,
através do gesto, transpõe a visão para o mundo dos ele-
mentos, onde o nosso corpo físico também se banha,
para experimentar cor, luz e harmonias internamente ...
e o rio da vida ... então seremos capazes de responder ao
grito da criatura que anseia por libertação.
No seio de um movimento espiritual como a Antro-
posofia, os bens mais preciosos são dispensados, mas
existem certos perigos. Não apenas aqueles que residem
na alma do homem, movidos pela busca do espiritual;
Rudolf Steiner disse-nos muitas vezes, um treino espiri-
tual forçado, sem o contrapeso da educação moral, des-
perta na alma os impulsos mais baixos, que talvez, de
outra forma, continuariam adormecidos ali para nós, dos
ansiosos poderes para nos empurrar cada vez mais fundo
no materialismo, para metamorfosear as forças de recu-
peração em forças de quedas. Esses poderes estão em
ação e usam artifícios e arte consumados para desviar
algo dos bens espirituais que Rudolf Steiner nos legou e
fazê-los servir seu propósito. Surgirão ideias novas e
atraentes, cuja originalidade se imporá ao gosto moderno
- e quantos serão aqueles que se deixarão prender nessa
rede! Tenhamos cuidado com os sintomas aparente-

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MITOS E MISTÉRIOS EGÍPCIOS

mente mais benignos em aparência. Podem levar mais


longe, mas são obra de uma vontade consciente de seu
caminho, e que se serve de nossa cegueira. Revivamos
na memória as palavras de advertência do mestre, que
sempre nos chamou a atenção para este assunto. Deve-
mos manter em seu trabalho, toda a pureza e zelar por
seu patrimônio.
Rudolf Steiner diz, falando de um símbolo que foi
ensinado ao discípulo no Egito e que na Grécia assumiu
a forma da lenda de Prometeu: “Este mito não deve ser
abordado com mãos pesadas. Esta imagem não deve ser
despida, como quem remove à borboleta a poeira colo-
rida das asas. Deixe as asas a sua cor, deixe o orvalho às
flores. Não distorçamos essas imagens. Não digamos: a
figura de Prometeu significa isto ou aquilo. Tentemos
antes, encontrar o facto espiritual e então compreender a
imagem que nasce dele e que passou para a consciência
humana.
O iniciado egípcio conduzia o seu aluno até ao ponto
em que ele aprendeu a compreender a evolução do ego
no homem. Sua mente tinha que ser capaz de formar uma
imagem disso. Mas ele não deve obter os factos de ma-
neira grosseira; a imagem estava diante dele, brilhante e
viva; o iniciado egípcio não queria compactar ideias se-
cas e mortas em sentenças; ele queria traduzir em forma
de imagens o que dava. A lenda de Prometeu foi embe-
lezada, adornada pela poesia; não temos permissão para
colocar mais nela do que os factos ocultos que o consti-
tuem, e para despojar a imagem de suas mais belas forças
artísticas “.

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MITOS E MISTÉRIOS EGÍPCIOS

Não nos deixemos roubar o que, pela sabedoria es-


clarecida de Rudolf Steiner, deve formar nossas mentes.

MARIE STEINER.

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Aprendamos a conhecer como foi
Antes de nós, para podermos contri-
buir para dar forma sempre mais
espiritual ao que nos rodeia.
I

As relações espirituais entre as correntes


das civilizações dos tempos antigos
e modernos

Quando nos perguntamos o que a Ciência Espiritual


deve ser para o homem, a resposta surge dos sentimen-
tos, impressões que se formaram em nós durante o traba-
lho que realizamos nesta área: A Ciência Espiritual deve
ser para nós um caminho que conduz ao desenvolvi-
mento cada vez mais elevado de nossa humanidade, do
que há de humano em nós.
Esta é uma meta que parece óbvia para todo ser pen-
sante e sentimental, uma meta para a qual convergem os
ideais mais elevados, mas que também envolve o desen-
volvimento das forças mais profundas de nossa alma. Na
verdade, o melhor dos homens sempre se perguntou:
como podemos desenvolver tudo o que está adormecido
em nós? Pergunta para a qual demos as mais diversas
respostas. Talvez não haja nada mais curto, mais conciso
do que o que Goethe extraiu de sua profunda sabedoria
e que nos deu nos Segredos:

“Constrangimentos que pesam sobre todo o ser.


Liberta-se aquele que se controla a si mesmo. “

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MITOS E MISTÉRIOS EGÍPCIOS

Há um significado profundo nestas palavras, porque


nos mostram de forma clara e vívida onde está o ponto
central de toda a evolução: o homem se desenvolve in-
ternamente controlando-se. Pois com isso ele se eleva
acima dele. Não tenhamos medo de nos lembrar desse
nobre objetivo da pesquisa espiritual ao estudarmos um
assunto como aquele que nos ocupará agora. Isso vai nos
elevar dos horizontes da vida cotidiana, para alturas mais
elevadas. Para estudar esse assunto, precisaremos con-
templar vastos trechos da história, uma era inteira que se
estende do antigo Egito até nós, abrangendo vários milé-
nios. E o que queremos procurar é algo que esteja conec-
tado à nossa alma mais profunda, que toque o centro de
nossa vida interior. Quando se busca alcançar o ápice de
sua vida, a pessoa parece apenas se desviar de seu domí-
nio imediato; porque essa pesquisa nos permite entender
as coisas da vida cotidiana. É preciso fugir das misérias
cotidianas, do que o cotidiano traz, e olhar para os gran-
des acontecimentos da história dos povos e do mundo;
então, encontramos o mais sagrado dos bens da alma.
Pode parecer estranho dizer que devemos redescobrir a
relação entre o antigo Egito, aquele que viu nascer a es-
finge, as poderosas pirâmides, e nosso tempo presente.
Pode parecer mais estranho ainda dizer: é porque quere-
mos entender melhor o nosso tempo que voltamos tão
longe. Mas isso nos levará ao resultado que buscamos: a
possibilidade de nos superarmos.
Buscar a relação que une duas épocas tão distantes
parece menos estranho para quem já possui um conheci-
mento profundo das ideias essenciais da Ciência espiri-

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MITOS E MISTÉRIOS EGÍPCIOS

tual. Porque uma de nossas convicções mais profundas é


que a alma humana sempre retorna à terra, pela qual o
homem passa repetidamente, o ciclo do nascimento à
morte. A ideia da reencarnação tornou-se cada vez mais
familiar para nós, e quando refletimos sobre ela podemos
nos perguntar: Essas almas que hoje residem em nós já
viveram muitas vezes; não é possível que existissem nos
dias do antigo Egito, da civilização egípcia, e que essas
almas que estão em nós hoje, já tenham contemplado as
pirâmides gigantescas e a enigmática esfinge do antigo
Egito?
Pergunta que deve ser respondida com um sim. A
decoração mudou, mas as nossas almas já contemplaram
os antigos monumentos da civilização que vêm hoje.
Elas são basicamente as mesmas almas que viveram, que
passaram pelo resto dos tempos e que reaparecem em
nosso tempo. Sabemos que nenhuma vida é infrutífera,
sabemos que a alma guarda dentro de si o que viveu, o
que aprendeu e o que encontra nas encarnações subse-
quentes na forma de forças, de faculdades, tendências,
temperamento. A maneira como vemos a natureza hoje,
a maneira como reagimos às ideias de nosso tempo, a
maneira como olhamos o mundo, temos de procurar a
causa no antigo Egito, o país das pirâmides. Isso é,
quando foi depositada em nós, a causa de nossa atitude
atual para com o mundo físico. Tentaremos entender
como se encadeiam misteriosamente as eras da história.
Para chegar ao ponto do nosso assunto, temos que
retroceder muito na evolução da Terra. Sabemos que
nosso planeta mudou muitas vezes. O Egito Antigo foi

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MITOS E MISTÉRIOS EGÍPCIOS

precedido por outras civilizações. A visão oculta nos


permite ver muito mais longe, até aos tempos muito an-
tigos dos primórdios da evolução humana, quando a
Terra parecia bem diferente de hoje. A Ásia e a África
naquela época tinham um solo completamente diferente.
Olhemos para aqueles tempos muito antigos, com os
olhos do espírito. Estamos chegando ao momento em
que uma gigantesca catástrofe, causada pelas forças da
água, ocorreu em nossa terra e transformou completa-
mente sua face. Avancemos ainda mais e chegaremos ao
tempo em que a terra tinha uma fisionomia completa-
mente diferente; onde o que hoje forma o solo do Oceano
Atlântico, entre a Europa e a América, era um conti-
nente. Nossas almas viviam naquela época em corpos
bem diferentes dos nossos; eram os dias da antiga Atlân-
tida, uma era muito antiga sobre a qual a ciência ainda
sabe pouco.
Este continente da Atlântida, afundou em uma
grande catástrofe. Os corpos dos homens eram diferentes
dos de hoje, e foram transformados com o tempo. Mas
as almas que vivem em nós hoje também viviam nos cor-
pos dos antigos Atlantes. A catástrofe determinou um
movimento entre os povos atlantes, uma corrente de mi-
gração do Oeste para o leste. Esses povos, nós os forma-
mos. Perto do final da Atlântida, o movimento de migra-
ção tornou-se muito intenso; então, fomos de oeste para
leste, passando pela Irlanda, Escócia, Holanda, França e
Espanha. Os povos emigrantes ocuparam assim a Eu-
ropa, a Ásia e as regiões do norte da África.
Esses territórios, que aos poucos se foram transfor-

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MITOS E MISTÉRIOS EGÍPCIOS

mando em Ásia, Europa e África, já eram habitados.


Quase toda a Europa, os territórios do norte da
África e grande parte da Ásia, foram povoados por pes-
soas de outras regiões; para que a corrente de imigração
entrasse em contato com uma população estrangeira já
instalada. Uma civilização inteira foi construída quando
a turbulência causada pela imigração diminuiu. Na vizi-
nhança da Irlanda, por exemplo, havia um território
onde, antes da catástrofe de milhares de anos atrás, vi-
viam os homens mais evoluídos da população da Terra.
Atravessaram a Europa sob a liderança de grandes per-
sonalidades, até um ponto na Ásia Central onde se esta-
beleceram, e de onde grupos civilizadores se irradiaram
para as mais diversas regiões. Um desses grupos, envi-
ado para a Índia, encontrou ali uma população já consti-
tuída desde tempos imemoriais e que também possuía ci-
vilização própria. Os novos colonos, tendo se misturado
com esta população, fundaram a primeira civilização
pós-Atlântida, com vários milênios, e de cuja história ig-
noramos quase tudo; os eventos sobre os quais ela fala
sobre este assunto são vários milhares de anos depois
dela. Este tesouro de sabedoria que chamamos de Vedas
apenas nos dá os últimos ecos de uma civilização hindu
muito antiga, sujeita à direção de seres espirituais e fun-
dada pelos “Santos Rishis”. Uma civilização de caráter
único, e da qual só podemos ter uma vaga ideia hoje,
porque os Vedas são apenas o reflexo sagrado desta ci-
vilização profundamente religiosa e distante.
Foi seguida pela segunda cultura pós-Atlante, aquela
que surgiu da sabedoria de Zoroastro, e que deu origem

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MITOS E MISTÉRIOS EGÍPCIOS

à civilização persa. Como o período da civilização hindu,


durou muito tempo e atingiu sua perfeição final com Zo-
roastro.
Então, sob a influência dos homens enviados à re-
gião do Nilo, a civilização foi construída, no que pode-
mos resumir em quatro epítetos: a cultura Caldaica, egíp-
cia, assíria, babilônica, a terceira civilização do período
pós Atlante, estabelecida nas regiões do norte da África,
e que atingiu seu auge na magnífica ciência do céu, dos
Caldeus, por um lado, e na cultura egípcia, por outro.
Em seguida, vem um quarto período, que floresceu
no sul da Europa, o período greco-latino, cujos primór-
dios Homero nos canta, que produziu a arte da estatuária
grega, e uma poesia que deu origem a obras tão notáveis
quanto as tragédias de Ésquilo e Sófocles. A civilização
romana está ligada a ele. Este período começa por volta
do século VIII antes Jesus Cristo, 747 AV. J-C, e dura
até o século XIV ou XV (1413) após o nascimento de
Cristo. Nesta época começa a quinta civilização, a nossa,
à qual sucederá uma sexta e uma sétima civilização. Esta
sétima civilização verá o espírito da era Hindu reapare-
cer em outra forma. Veremos que existe uma lei estra-
nha, que nos permite entender o efeito das forças mara-
vilhosas agindo durante esses períodos, e a relação entre
elas. Vejamos o primeiro período, o da cultura hindu; sa-
bemos que ela reaparecerá e brilhará em uma nova forma
durante o sétimo período. O segundo período, que cha-
mamos de cultura persa, reaparecerá no sexto. Após o
desaparecimento de nossa civilização actual, durante o
sexto período veremos florescer a religião de Zoroastro.

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MITOS E MISTÉRIOS EGÍPCIOS

E veremos neste estudo que nosso quinto período é como


a ressurreição da terceira época, da cultura egípcia. O
quarto período forma um centro; ela não tem correspon-
dente antes ou depois dela.
Vamos tentar entender melhor essa lei misteriosa.
Há algo na civilização hindu que choca o homem mo-
derno; é a divisão em castas: casta dos sacerdotes, casta
dos guerreiros, comerciantes e trabalhadores. Essas par-
tições não estão em harmonia com a consciência mo-
derna. Todos elas pareciam naturais na primeira civiliza-
ção pós-Atlântida; Não poderia ser de outra forma; os
homens foram divididos em quatro grupos, de acordo
com as diferentes propriedades de sua alma. Isso não pa-
recia ser uma injustiça, pois essa distribuição era feita
pelos guias, e eles eram personalidades tão elevadas que
tudo o que eles pediam era considerado justo. Pensamos
que os guias, os sete Rishis sagrados, que durante o pe-
ríodo atlante foram ensinados pelos próprios seres divi-
nos, sabiam qual era o lugar de cada homem. Essa distri-
buição, portanto, parecia bastante natural. Acontecerá
novamente no sétimo período, mas de forma bem dife-
rente; se antes era imposto pela autoridade, os homens
posteriores se agruparão de acordo com a evidência obje-
tiva dos factos. Algo semelhante acontece com as formi-
gas: elas formam um estado cuja organização maravi-
lhosa e capacidade de realizar uma tarefa relativamente
enorme não é abordada por nenhuma comunidade hu-
mana. No entanto, vemos aí realizado, o que parece tão
chocante para o homem de hoje, a divisão de castas; cada
formiga cumpre um dever que é o elo do trabalho co-

-29-
MITOS E MISTÉRIOS EGÍPCIOS

mum.
O que quer que se pense hoje, os homens perceberão
que a salvação da humanidade está nesta distribuição e
encontrarão uma forma de dividir o trabalho sem dar lu-
gar a injustiças. A sociedade humana aparecerá como um
organismo de maravilhosa harmonia. Isso é algo que po-
demos ler nos anais do futuro. Assim reaparecerá a Índia
antiga. E é de maneira análoga que certos personagens
do terceiro período reaparecem durante o quinto.
Vamos dar uma olhada mais de perto em nosso as-
sunto; ele abraça um imenso domínio, aquele que viu
surgir as gigantescas pirâmides e a esfinge; torna-se
claro pelo facto de que as almas dos antigos hindus se
encarnaram nos egípcios, e também estão incarnadas
hoje. Seguindo essa lei geral, da qual falamos anterior-
mente com um pouco mais de detalhes, encontraremos
dois factos que nos mostrarão como redescobrir os vín-
culos misteriosos que unem a civilização egípcia à nossa.
Vimos que a lei das repetições se expressa nos diferentes
períodos da civilização; quanto mais profundo ele nos
parece quando o seguimos através das regiões espiritu-
ais! Todos nós conhecemos uma pintura carregada de
profundo significado, a famosa pintura de Rafael que,
por uma cadeia de factos singulares, está atualmente em
Dresden: a Madona da Capela Sistina. Nesta pintura, que
inúmeras reproduções colocam à disposição de todos,
como não admirar a magnífica pureza que envolve as
personagens; como não se comover ao contemplar o
rosto da mãe, sua posição oscilando entre o céu e a terra,
o olhar profundo da criança. E quando olhamos para as

-30-
MITOS E MISTÉRIOS EGÍPCIOS

nuvens que os rodeiam, e de onde emergem tantas cabe-


cinhas de anjos, como não podemos sentir algo ainda
mais profundo e que nos faz compreender melhor todo o
quadro. Sei que isso é ousado, mas digo-o mesmo assim:
se você olhar profundamente, gravemente, para esta cri-
ança nos braços de sua mãe, e atrás dela; as nuvens que
se harmonizam em um conjunto de cabeças angelicais,
entendemos que esta criança não nasceu de forma natu-
ral; ele é um daqueles que paira nas nuvens. Este menino
Jesus é também uma daquelas nuvens que se formam e
se tornam mais densas; um dos anjinhos voou das nuvens
para os braços de Nossa Senhora. Este é um sentimento
muito verdadeiro. Se soubermos trazê-lo à vida em nós,
nosso olhar se ampliará; ele se libertará das ideias estrei-
tas que alguém tem sobre as conexões naturais das coisas
da vida. É com a ajuda desta pintura que o olhar estreito
se alarga e pode conceber que existiu outrora um modo
de nascimento diferente daquele que se baseia nas rela-
ções dos sexos. Em suma, esta pintura nos faz sentir os
laços profundos que unem o mundo humano ao das for-
ças espirituais.
Quando, saindo de Nossa Senhora, voltamos aos
tempos egípcios, encontramos ali uma imagem bastante
semelhante e igualmente nobre; os egípcios celebravam
Ísis, figura a que se anexa a frase: Eu sou o que foi, o que
é, o que será. Nenhum mortal ainda levantou meu véu.
Um profundo mistério coberto por um espesso véu, é o
que nos é revelado por Ísis, a bela forma espiritual de
Deus, Ísis que os antigos egípcios viram com o menino
Hórus, como vemos Nossa Senhora com o menino Jesus.

-31-
MITOS E MISTÉRIOS EGÍPCIOS

Esta Ísis é representada para nós como carregando dentro


dela o elemento eterno, e isso nos lembra do sentimento
que temos ao ver a Madona. Devemos saber ver em Ísis
a forma dos mistérios profundos que se baseiam nas re-
alidades espirituais. Nossa Senhora nos lembra Ísis: é
Ísis que ressurge nela. Esse é o elo que une essas duas
figuras. É preciso sentir com o coração os grandes mis-
térios que se unem no mundo espiritual, na civilização
egípcia e na nossa. Podemos encontrar outra relação. Sa-
bemos como o egípcio tratou seus mortos; conhecemos
o costume das múmias; O egípcio queria que a forma fí-
sica externa fosse preservada por um longo tempo, e sa-
bemos que ele povoou seus túmulos com múmias cuja
forma externa ele sabia como manter. Ele deu ao falecido
em seu túmulo certos utensílios, certas riquezas, memó-
rias da vida terrena passada, de acordo com as necessi-
dades da vida física. A imagem do que o homem havia
sido no mundo físico teve de ser preservada. Foi assim
que o egípcio amarrou seus mortos à terra. Esse costume
se espalhou cada vez mais e é muito característico da an-
tiga civilização egípcia. Mas uma prática desse tipo tem
efeitos na alma. Lembremo-nos de que nossas almas ha-
bitavam esses corpos de egípcios, que realmente se cor-
porificaram nesses corpos que foram transformados em
múmias. Vimos no decorrer de outros estudos que o ho-
mem, quando liberto de seu corpo físico e de seu corpo
astral após a morte, entra em outro estado de consciência
e que de forma alguma vive inconscientemente no
mundo astral. Ele pode então, do alto dos mundos espi-
rituais, baixar seu olhar para a terra, embora em troca não

-32-
MITOS E MISTÉRIOS EGÍPCIOS

seja possível hoje ver o mundo espiritual daqui. Portanto,


ele sente a maneira como seu corpo é preservado, embal-
samado, queimado ou decomposto. A relação que ele
mantém com seu corpo é diferente dependendo do caso.
O facto de no antigo Egito os corpos serem embalsama-
dos significava que as almas, após a morte, tinham uma
vida muito particular. Quando eles olharam para a terra,
eles estavam relacionados ao seu corpo físico; eles ti-
nham diante de si sua forma corporal; e esse corpo assu-
miu importância para eles, pois depois da morte, a alma
é sensível a todas as impressões. Aquele que o corpo mu-
mificado imprimiu nela marcou profundamente e lhe deu
sua forma. Esta alma, depois de ter passado por encarna-
ções durante a civilização greco-latina, vive hoje em nós.
A visão desse corpo mumificado pelo qual ela sempre se
sentiu atraída tem profundo efeito sobre ela; porque não
é pouca coisa. Ela adquiriu apego ao corpo, e o resultado
hoje é a tendência de valorizar tudo na vida física. Esse
amor do homem moderno pelo material vem do facto de
que as almas uma vez contemplaram sua múmia, a forma
que as expressava. O homem aprendeu assim a amar o
mundo físico; é por isso que ele pensa com tanta frequên-
cia hoje, que apenas o corpo físico importa entre o nas-
cimento e a morte. Essa ideia não nasceu sem uma causa.
- Esta não é uma crítica à civilização egípcia; é simples-
mente uma questão de chamar a atenção para as necessi-
dades do retorno das encarnações da alma. Sem esse vín-
culo que os ligava à múmia, as almas não poderiam ter
continuado a evoluir. O homem estaria completamente
desinteressado hoje do mundo físico se os egípcios não

-33-
MITOS E MISTÉRIOS EGÍPCIOS

tivessem praticado o culto às múmias. Tinha que ser as-


sim, para que nas almas despertasse um interesse justifi-
cado pelo mundo físico. A maneira como o homem vive
hoje, a maneira como ele vê o mundo, é uma consequên-
cia desse costume egípcio de mumificar o corpo após a
morte. Pois a corrente da civilização era guiada por ini-
ciados que sabiam ver o futuro. Os egípcios não come-
çaram a embalsamar os corpos de uma vez, com um im-
pulso repentino. Naquela época, a humanidade era gui-
ada por indivíduos nobres que cuidavam para que o que
precisava ser feito fosse feito, pela força da autoridade.
Nas escolas iniciáticas, sabíamos que nosso tempo deve-
ria corresponder à terceira civilização; esses misteriosos
relatos, os sacerdotes viram, e ordenaram a mumificação
dos corpos para que as almas adquirissem a tendência
que as faria buscar mais tarde um conhecimento espiri-
tual tendo seu ponto de partida no mundo físico externo.
O mundo é governado pela sabedoria; e aqui temos
um exemplo da coordenação existente entre as idades. Se
os homens pensam como pensam hoje, é por causa das
experiências interiores que tiveram no antigo Egito. Lan-
çamos aqui um olhar para os mistérios profundos que se
manifestam nas correntes da civilização. Ainda apenas
tocamos nesses mistérios; a imagem da Virgem relacio-
nada com a de Ísis, o embalsamamento dos corpos e seu
efeito nas almas, ainda só revelam superficialmente os
verdadeiros factos espirituais. Mas vamos aprofundar
nosso estudo; sem parar na aparência externa, iremos ao
que é a razão subjacente para esta aparência.


-34-
MITOS E MISTÉRIOS EGÍPCIOS

A vida exterior escoa-se entre o nascimento e a


morte. A vida após a morte é muito mais longa: isso é o
que chamamos de Kamaloka, e experiências no mundo
espiritual. Esta vida nos mundos supersensíveis é tão va-
riada em aspectos quanto a do mundo físico. Vamos exa-
minar quais foram as experiências neste outro mundo du-
rante o tempo de nossa encarnação egípcia. Todo o resto
foi nossa vida entre o nascimento e a morte! Não pode
ser comparado à nossa vida actual de forma alguma, isso
não faria sentido. E ainda mais diversa do que esta vida
exterior era a vida da alma entre a morte e um novo nas-
cimento. Na época egípcia, a alma vivia de maneira bem
diferente do que na Grécia, ou na época de Carlos
Magno, ou em nossa época. No outro mundo, no mundo
espiritual, também está ocorrendo uma evolução, e aí
também a diferença é grande. Assim como o efeito do
embalsamamento encontra sua continuação na mentali-
dade presente, a evolução que ocorre entre a morte e o
nascimento continua sua ação da terceira para a quinta
época. Lá também descobriremos misteriosas ligações.
E para entendê-las verdadeiramente, teremos que des-
pertar em nós algo que é fruto dessas vidas ancestrais. À
medida que percorremos os caminhos da evolução, reco-
nheceremos a verdadeira relação entre o que o egípcio
construiu ou o que o pensamento Caldaico, com o que
vivemos hoje. Encontraremos no que nos rodeia, no que
nos interessa, a consequência de actos anteriormente pra-
ticados. Veremos também como progride a evolução,
como o quarto período forma entre o 3 e o 5 um elo ex-
traordinário. Nossa alma se elevará à consideração das

-35-
MITOS E MISTÉRIOS EGÍPCIOS

profundas conexões das coisas e obteremos uma com-


preensão mais completa do que vive dentro de nós.

-36-
II

O REFLEXO DOS ACONTECIMENTOS ESPIRITUAIS


NAS CONCEPÇÕES RELIGIOSAS DOS HOMENS

Ontem tentamos representar para nós mesmos certas


correspondências entre a vida, e especialmente a vida es-
piritual, dos vários períodos pós-atlantes. Vimos que o
primeiro desses períodos se repetirá no último, o sétimo,
a civilização persa, o segundo, se repetirá no sexto, e que
o período que nos diz respeito, a civilização egípcia se
repete em nossa vida e em nossos destinos, dos quais o
quinto período é feito. Já a civilização Greco-latina, a
quarta, ocupa uma situação excepcional, e não se repro-
duz. Assim, esboçamos as misteriosas correspondências
que ligam as civilizações da era pós-Atlante, que surgi-
ram após a catástrofe em que a Atlântida afundou. Esta
era pós-Atlante, por sua vez, chegará ao fim com desas-
tres com resultados semelhantes aos que encerraram a
era Atlante. Será a guerra de todos contra todos. Toca-
mos em alguns exemplos de reversões de épocas dentro
da outra que, se os estudarmos mais de perto, iluminarão
profundamente a vida de nossa alma.

-37-
MITOS E MISTÉRIOS EGÍPCIOS

Hoje veremos - à guisa de preparação - alguns exem-


plos dessas repetições. Vamos alargar o nosso olhar
muito longe na evolução da terra, e para horizontes lon-
gínquos que, no entanto, nos afetam muito de perto.
Outro aviso. Quando, no ocultismo, falamos de re-
petições desse género e queremos perceber, como o pri-
meiro período da civilização se repete no sétimo, o ter-
ceiro no quinto, etc. se tivermos um espírito matemático,
gostamos de fazer um esquema disso. Temos de ser
muito cuidadosos. O importante não é o esquema, é o
olhar espiritual. Se falhar, estamos indo pelo caminho er-
rado. Uma mente lógica pode entender o que está acon-
tecendo no reino espiritual, mas não pode inventar. O co-
nhecimento dele só pode ser adquirido por meio de ex-
periência íntima.
Para entender melhor os períodos de civilização, va-
mos dar uma olhada na evolução da Terra em geral, con-
forme ela se revela ao vidente que dirige seu olhar espi-
ritual para os acontecimentos de um passado muito dis-
tante. À medida que refazemos o curso dessa evolução,
percebemos que a Terra nem sempre foi como é hoje.
Antes não havia solo mineral duro; as pedras não eram
como hoje; nem ela produziu plantas e animais como os
de hoje, e os homens não habitavam um corpo de carne;
o homem não tinha esqueleto. Tudo isso aconteceu de-
pois. Voltando no tempo, chegamos a uma época em que
o homem era feito de uma espécie de névoa, que, se ti-
véssemos sido capazes de vê-lo do fundo dos espaços
cósmicos, teria aparecido para nós, como uma fina nu-
vem etérica. Essa nuvem teria sido muito maior do que a

-38-
MITOS E MISTÉRIOS EGÍPCIOS

Terra actual, porque atingiu os limites extremos de nosso


sistema planetário; ele até o excedeu. Se tivéssemos sido
capazes de estudá-lo de perto, ele nos pareceria feito de
pequenos pontos de natureza etérica. Quando vemos um
enxame de mosquitos de longe, pensamos ver uma nu-
vem; conforme nos aproximamos, podemos distinguir
cada inseto. É assim que a massa da Terra nos teria apa-
recido um dia, que não era material no sentido corrente
da palavra, mas que tinha apenas atingido um grau eté-
rico de condensação. Essa massa era, portanto, composta
de muitos pontos etéricos, mas esses pontos tinham algo
muito particular. Se o olho humano pudesse ter visto es-
ses pontos - não os teria percebido como o vidente pode-
ria percebê-los, como ainda os percebe hoje. Vamos ten-
tar entender isso por meio de uma comparação. Consi-
dere uma rosa silvestre, uma semente de rosa silvestre,
uma semente perfeitamente formada. O que vemos lá? É
um corpo muito pequeno e, se você ainda não aprendeu
como é feita a semente da rosa silvestre, não sabe como
é. A forma da semente por si só não nos permite adivi-
nhar. Mas um homem dotado de faculdades clarividentes
vê algo mais nisso. A semente gradualmente desaparece
diante de seus olhos e em seu lugar aparece ao seu olhar
interior uma forma espiritual semelhante a uma flor, que
lentamente emerge da semente. É uma forma real, que só
o olhar clarividente pode perceber. Esta forma é a ima-
gem do que mais tarde germinará da semente. Seria um
erro, porém, acreditar que seja bastante semelhante à
planta que corresponde àquela semente. Não é de forma
alguma o caso. É uma magnífica forma luminosa, feita

-39-
MITOS E MISTÉRIOS EGÍPCIOS

de correntes e formas muito complexas; a planta que


mais tarde surgirá da semente é apenas a sombra daquela
esplêndida forma espiritual que o clarividente pode ver
emergir. Sem esquecer esta visão do tipo etérico da
planta, voltemos à nossa terra original, aos pontos etéri-
cos que a constituem. O clarividente que teria conside-
rado um desses pontos etéricos da substância original
como ele considerou a semente agora, teria visto uma
forma magnífica e luminosa emergindo dele, potencial-
mente adormecida na semente etérica. E que forma é
essa que o clarividente pode ver, quando olha para trás,
para esses átomos da terra primitiva? É uma forma tão
diferente do homem físico actual quanto a imagem espi-
ritual da planta física - é a forma original do homem. Na-
quela época, a forma humana estava adormecida na se-
mente etérica, e levou toda a evolução para o homem
aparecer em sua forma actual. Foram necessárias muitas
coisas, assim como muitas outras, para a semente germi-
nar: ela deve ser enterrada na terra e o sol deve enviar
seu calor para ela. Iremos entender gradualmente como
essa forma foi produzida pelo homem, estudando o que
aconteceu nesse ínterim.
Em um passado muito distante, todos os planetas que
compõem nosso sistema eram um com a terra ... Mas
para nos limitarmos ao estudo do sol, da lua e da terra,
consideremos hoje apenas a união que existia entre o sol,
a lua e a terra. Se misturássemos esses três corpos em
uma mistura e pensássemos em torná-lo um corpo celes-
tial, obteríamos o que a terra era em sua origem: Sol +
Terra + Lua. Claro, o homem naquela época era um ser

-40-
MITOS E MISTÉRIOS EGÍPCIOS

puramente espiritual. Não poderia ser diferente, pois a


essência do Sol estava unida à Terra. Enquanto o nosso
planeta Terra mantiver em si o Sol e a Lua, unidos a to-
dos os seres, a todas as forças que os compõem, o homem
só tem existência espiritual dentro do átomo primário.
Isso só mudou quando um facto muito importante ocor-
reu em nossa evolução: o sol se separou, se isolou,
saindo da Terra e da lua. Em vez de um único corpo, ha-
via então dois: por um lado o Sol, e por outro lado, a
Terra + a Lua. Porquê isso ?
Tudo o que acontece tem um significado profundo;
nós o compreenderemos se soubermos que no passado a
terra não era habitada apenas por homens, mas por outros
seres de natureza espiritual, imperceptíveis aos olhos fí-
sicos, mas existindo, no entanto, da mesma forma que os
seres físicos. Para o nosso mundo, por exemplo, são se-
res unidos que vivem nas redondezas da terra, e a quem
o esoterismo cristão chama de anjos, Angeloi. Para nos
dar um retrato deles, pensemos que eles estão no ponto
em que o homem estará quando a Terra completar sua
evolução. Hoje, esses seres já adquiriram a perfeição que
o homem alcançará ao final de sua evolução terrestre.
Outros seres, os arcanjos, Archangeloi ou Espíritos do
fogo, estão num grau ainda mais elevado: são seres que
podemos perceber quando dirigimos nosso olhar espiri-
tual sobre a vida de povos inteiros. Um grupo ainda mais
elevado de seres espirituais são os principados ou Archai
ou Espíritos da Personalidade; nós os encontramos
quando olhamos para períodos inteiros do tempo, abran-
gendo muitos povos, suas relações e seus contrastes, en-

-41-
MITOS E MISTÉRIOS EGÍPCIOS

fim, o que comumente se chama o espírito dos tempos.


Quando consideramos, por exemplo, nosso tempo, ve-
mos que ele é governado por seres elevados chamados
principados ou Archai. Existem ainda seres superiores a
quem o esoterismo cristão chama de poderes ou Exusiai
ou mesmo Espíritos da forma. Portanto, existem inúme-
ros seres que estão unidos à nossa terra e que se elevam
de grau em grau acima do homem.
Quando, partindo do mineral, ascendemos à planta,
da planta ao animal e daí ao homem, encontramos no ho-
mem o ser mais elevado da escala física; mas os outros
seres também estão lá; eles estão entre nós, eles nos pe-
netram. No início da evolução, da qual falávamos há
pouco, quando a terra surgiu como uma nuvem do seio
da eternidade, todos esses seres se uniram a ela, e o cla-
rividente poderia ter visto como, ao mesmo tempo que o
humano se forma, outros seres povoaram esta forma. Es-
tes são aqueles sobre os quais falamos acima, e outros
mais elevados ainda, os Poderes, as Dominações, os Tro-
nos, os Querubins e depois os Serafins. Todos esses seres
estavam intimamente unidos a essa poeira etérica origi-
nal, mas nem todos estavam no mesmo estágio de desen-
volvimento. Existem alguns tão altos que um homem
não consegue imaginá-los, mas existem outros que estão
mais próximos dele. Tendo estes seres alcançado dife-
rentes graus de evolução, eles não poderiam segui-la da
mesma maneira que o homem; uma área particular teve
de ser reservada para eles. Havia alguns entre eles que
teriam sofrido grande dano se tivessem mantido contacto
com os seres inferiores. É por isso que eles se

-42-
MITOS E MISTÉRIOS EGÍPCIOS

separaram. Eles removeram as substâncias mais espiri-


tuais da nuvem original e se estabeleceram no sol. Eles
fizeram dele seu paraíso e regularam adequadamente o
ritmo de seu desenvolvimento. Se eles tivessem perma-
necido misturados com as substâncias inferiores que
abandonaram na terra, não teriam sido capazes de conti-
nuar sua evolução. Eles teriam ficado paralisados como
por um peso de chumbo. Assim, vemos que esta separa-
ção material da substância do mundo não é apenas o
efeito de uma causa física, mas é devido às forças dos
seres que estavam procurando o lugar onde pudessem
continuar sua evolução. Este é um facto que deve ser en-
fatizado, pois esses eventos têm sua origem em causas
espirituais.
No corpo formado pela Terra e pela Lua permaneceu
o homem, e com ele seres superiores, pertencentes à hi-
erarquia inferior, anjos e arcanjos, e seres inferiores a
ele. Apenas um desses seres poderosos, já perfeitos o su-
ficiente para migrar para o sol, se sacrificou e permane-
ceu na Terra - Lua. Era o ser que foi nomeado mais tarde,
chamado de Yahweh ou Jeová. Ele deixou o Sol e dirigiu
a vida no planeta formado pela Terra e pela Lua. Dois
grupos, estão portanto presentes: um no Sol, formado pe-
los seres mais elevados, sob a direção de uma entidade
sublime, que os gnósticos procuraram representar como
Pleroma. Esses seres são, de certa forma, os governantes
do sol. Yahweh governa o planeta Terra + Lua. Insista-
mos neste ponto: estes são os seres mais nobres, os mais
elevados, que partiram com o Sol e que deixaram para
trás a Terra e a Lua. A Lua ainda não estava isolada, ela

-43-
MITOS E MISTÉRIOS EGÍPCIOS

estava entrelaçada com a Terra. Que sentimento, esse


evento cósmico da separação do Sol e da Terra deve dar
origem em nós? O Sol com os seres que o habitam repre-
sentam o que há de mais digno, mais puro, mais nobre, e
o resto, Terra + Lua, o elemento inferior. A Terra estava
então em um grau ainda mais baixo do que é hoje. Por-
que a partir daí, a Terra se livrou da Lua e com ela as
substâncias inferiores que teriam impedido o homem de
continuar sua evolução. A Terra deve ter perseguido a
lua.
Nesse ínterim, nossa Terra passou por um período
escuro e terrível; tudo o que nela era uma nobre tendên-
cia da evolução havia caído sob o poder de forças malig-
nas, e o homem só poderia continuar a progredir expul-
sando-as com a lua.
O princípio da luz, da grandeza, o princípio do Sol,
se opõe ao princípio da sombra, da Lua. Se tivéssemos
observado o Sol com olhar clarividente, visto que se iso-
lou da terra, teríamos visto os seres que queriam estabe-
lecer-se lá, mas ao mesmo tempo teríamos percebido ou-
tra coisa. Este sol que acabara de se isolar não teria apa-
recido apenas como uma coleção de seres espirituais,
como algo etérico - pois o etérico era a vestimenta das
substâncias inferiores - teria aparecido como uma subs-
tância. Astral, como uma aura imensa de luz. A Terra
sendo abandonada por esta aura luminosa, engrossa-se,
condensando-se repentinamente, sem ainda atingir a du-
reza do mineral. Naquela época, um princípio bom e um
princípio mau, um princípio de luz e um princípio de
sombra eram opostos um ao outro.

-44-
MITOS E MISTÉRIOS EGÍPCIOS

Vejamos agora a aparência da Terra antes de expul-


sar a Lua. Seria completamente mal interpretado vê-la
como nossa terra actual. O núcleo da Terra naquela
época era uma massa ígnea fervente. Este núcleo ígneo
estava rodeado pelas forças da água, não pela água pre-
sente, pois esta também continha os metais na forma lí-
quida. O homem também estava presente de uma forma
totalmente diferente.
Naquela época, não havia ar na terra. Os seres que aí
se encontravam não precisavam disso. Seu sistema res-
piratório era composto de maneira bem diferente. O ho-
mem era, neste ponto, uma espécie de peixe anfíbio, feito
de uma matéria muito macia e líquida. Ele absorveu para
dentro de si mesmo, não o ar, mas o que estava contido
na água. Era assim que a Terra era então. Na escala da
evolução, ela estava num grau muito mais baixo do que
hoje. Havia uma necessidade para isso. O homem nunca
poderia ter encontrado o ritmo certo para sua evolução,
nem os meios necessários para alcançá-la, se o Sol e a
Lua não se separassem da Terra. Com o Sol permane-
cendo unido à Terra, tudo teria sido muito rápido e, sob
a influência das forças que agora residem na Lua, muito
lentamente. Quando, em convulsões gigantescas, a Lua
se separou da Terra, ocorreu gradualmente o que se po-
deria chamar de separação do ar e da água. O ar naquela
época não era o mesmo que o nosso; ainda continha todo
os tipo de vapores. O ser que assim foi formado gradual-
mente foi o germe do homem actual, como estudaremos
mais de perto.
O homem, portanto, já passou por três estágios dife-

-45-
MITOS E MISTÉRIOS EGÍPCIOS

rentes; no início, ele vivia em um corpo celeste composto


da Terra, da Lua e do Sol, entre todas as altas entidades
espirituais. E o olhar clarividente, o teria visto no aspecto
que acabamos de descrever. Então o vemos vivendo em
péssimas condições, em um mundo formado pela Terra
e pela Lua. Se tivesse parado aí, o homem teria se tor-
nado um ser mau, horrível e selvagem. Na verdade, o Sol
tendo-se retirado brilhou fora na glória de seus raios,
como uma aura imensa. Por outro lado, a Terra perma-
neceu unida à Lua e, por meio dela, a todas as forças pér-
fidas que sufocavam no homem, os elementos mais no-
bres. É assim que nasce um princípio duplo. Posterior-
mente, vemos um princípio triplo aparecer. Pois o Sol
permanece o que é; mas a terra se separa da lua e o ho-
mem permanece na terra. Quando o homem retorna a
esta terceira fase de evolução, ele encontra aí um triplo
grupo de forças. E ele se pergunta: De onde vêm essas
forças? Na primeira fase, o homem ainda estava unido
aos sublimes poderes do Sol. As forças que se desenvol-
veram durante a segunda fase foram embora com a Lua.
Foi uma libertação para o homem, mas ele reteve a me-
mória do primeiro período, enquanto ainda estava unido
aos seres do Sol. Ele havia aprendido a nostalgia, e se
sentia como um filho expulso de casa. As forças, que se
afastaram da Terra com o Sol e a Lua, fizeram dele um
filho do Sol e da Lua.
Assim, nosso mundo passa do princípio único para o
princípio duplo, e então para o princípio triplo: Sol,
Terra, Lua.
A idade Lemuriana é referida como o momento em

-46-
MITOS E MISTÉRIOS EGÍPCIOS

que a Lua se separou da Terra, quando o homem final-


mente teve a oportunidade de se desenvolver. Após as
imensas catástrofes causadas pelo fogo que encerraram
o período Lemuriano, nossa terra gradualmente tomou
forma, desenvolvida sob as condições que constituíam a
antiga Atlântida. Os primeiros continentes emergiram de
massas líquidas. Isso estava acontecendo muito depois
que a Lua foi embora. Mas foi somente graças a essa par-
tida que a Terra pôde continuar sua evolução. Nos dias
da Atlântida, o homem era feito de maneira bem dife-
rente de hoje; ele estava, entretanto, suficientemente de-
senvolvido para ser capaz, na forma de uma massa ma-
cia, de pairar, nadar, por assim dizer, e animar seu enve-
lope de ar. O sistema ósseo só se desenvolveu lenta-
mente. Foi só em meados da Atlântida que o homem
atingiu aproximadamente uma forma semelhante à
nossa. Quanto à consciência que possuímos hoje, só se
formou muito mais tarde, e se queremos compreender os
homens de outrora, não devemos perder de vista que fo-
ram dotados de uma consciência clarividente. É muito
mais fácil de entender quando o comparamos com a
consciência atual. Hoje, o homem percebe fisicamente o
mundo por meio da atividade de seus sentidos; ele cons-
tantemente recebe impressões visuais, auditivas, etc.
Quando ele adormece, à noite, o mundo sensível escu-
rece para ele num mar de inconsciência. Para o ocultista,
isso não é inconsciência, mas um nível inferior de cons-
ciência. Hoje, o homem tem um duplo tipo de consciên-
cia: a forma do dia e a consciência do sono ou sonho.
Não era assim nos primeiros dias do período atlante. Va-

-47-
MITOS E MISTÉRIOS EGÍPCIOS

mos estudar como era feita a passagem de vigília para o


sono naquela época. Por um tempo, o homem desceu ao
corpo físico, como fazemos hoje, mas ainda não percebia
o contorno nítido dos objetos. Imagine que estamos ca-
minhando em uma densa neblina de inverno, que vemos
as luzes da rua ao entardecer, cercadas por um halo de
luz, e teremos uma imagem aproximada de como o
atlante viu os objetos. Para ele, tudo ainda estava envolto
em névoa. Era assim que as coisas pareciam durante o
dia. A noite os transformou. Mas não como hoje. Quando
o atlante adormeceu, ele não caiu na inconsciência; seu
espírito entrou em um mundo de seres espirituais divi-
nos, que ele percebia ao seu redor como companheiros.
Tão verdadeiro, quanto o homem não vê mais esses seres
à noite, ele os viu uma vez quando ele próprio mergulhou
em um oceano espiritual. Durante o dia, ele era o com-
panheiro dos reinos inferiores; à noite, o das entidades
superiores. Naquela época, o homem tinha consciência
do espiritual, mas uma consciência turva; e desprovido
de autoconsciência, ele viveu entre esses seres divinos.
Vamos revisar as quatro fases da evolução da nossa
Terra. Na primeira, o Sol e a Lua ainda estavam unidos
à Terra. Vamos evocar em nós mesmos este primeiro pe-
ríodo. Os seres que habitavam a Terra eram seres puros;
o homem ainda era apenas um germe etérico, visível ape-
nas aos olhos espirituais. Em seguida, vem a segunda
fase. O Sol agora está isolado, nós o vemos como uma
aura, e a Lua + Terra formam o mundo do mal. Chega-
mos então à terceira fase: a Lua, por sua vez, se separa
da Terra; a Terra está agora sujeita à influência deste tri-

-48-
MITOS E MISTÉRIOS EGÍPCIOS

plo grupo de forças. Quarta fase: o homem já pertence


ao mundo físico, que lhe aparece na névoa; durante o
sono, ele é o companheiro de entidades divinas. Este é o
período que termina com imensas catástrofes líquidas, a
era da Atlântida.
Vamos dar um passo adiante. Estas são as primeiras
civilizações da era pós-Atlante: a civilização hindu, a ci-
vilização persa, a do Egito, Caldeia e Babilônia, a da
Grécia e Roma e, finalmente, nossa própria quinta cul-
tura. O homem muda, ele é despojado de algo que pos-
suía na Atlântida.
Vamos tentar imaginar o atlante dormindo. Ele era
então o companheiro do espírito, dos deuses; ele real-
mente percebia um mundo espiritual. E foi isso que ele
perdeu após a catástrofe atlante. Sua visão noturna escu-
receu. No entanto, o dia iluminou-se para ele e seu ego
se expandiu. Foi uma conquista para o homem, mas que
ele paga com o desaparecimento dos deuses; que não
eram mais do que memórias, e tudo o que a alma conhe-
cera durante o início do período pós-atlante não era mais
do que uma memória da vida, vivida entre os seres divi-
nos.
Sabemos que as almas, sempre as mesmas, têm en-
carnações sucessivas. Nossas almas já viviam no início
da era atlante, já habitavam corpos; e elas estavam lá
quando a Lua e o Sol se separaram da Terra; elas estavam
lá desde o início. O homem já existia na poeira etérica.
E as cinco civilizações do período pós-Atlante com suas
concepções do mundo, suas religiões, nada mais são do
que as memórias das antigas eras da Terra.

-49-
MITOS E MISTÉRIOS EGÍPCIOS

O primeiro, o período hindu, experimentou uma re-


ligião que era como o reflexo interior, a metamorfose em
imagens e sentimentos da primeira fase, quando o Sol e
a Lua ainda estavam unidos à Terra. Podemos facilmente
imaginar que essas evocações eram sublimes. A consci-
ência hindu concebeu o espírito que na primeira fase da
vida terrena, na névoa original, estava unido a todos os
anjos, os arcanjos, a todos os espíritos, para deuses e en-
tidades, ela concebeu aquele espírito como uma indivi-
dualidade elevada, que ela chamou de Brahm, Brahma.
Em espírito, a primeira civilização pós-Atlante reprodu-
ziu o que um dia existiu. Nada mais é do que a repetição
do primeiro período terreno, vivido internamente.
O centro da concepção religiosa dos antigos persas é
o princípio da luz e da sombra. Os grandes iniciados vi-
ram duas entidades, uma personificada pelo Sol e a outra
pela Lua. Elas se opõem: Aura Mazda, a aura de Luz,
Ormuzd, o Deus supremo adorado pelos persas; Arimane
é o espírito maligno, o representante de todos os seres
que habitam o mundo formado pela Terra e pela Lua. A
religião persa é uma reminiscência da segunda fase da
vida terrena.
Durante a terceira civilização, o homem disse a si
mesmo: Em mim residem as forças do Sol e da Lua; Eu
sou um filho do Sol e um filho da Lua. As forças do Sol
e da Lua são meu pai e minha mãe. A unidade do mundo
original reapareceu na religião dos hindus; o dualismo
que surgiu após a separação do Sol é reflectido no dos
persas; e encontramos novamente, depositado na con-
cepção religiosa dos egípcios, caldeus, assírios, babiló-

-50-
MITOS E MISTÉRIOS EGÍPCIOS

nicos, o triplo princípio da terceira fase terrestre, após a


separação do Sol e da Lua. Nós o encontramos em toda
parte nas concepções religiosas da terceira civilização, e
os egípcios também o conheciam na forma de Osíris, Ísis
e Hórus.
Durante a quarta fase terrestre, o período Atlante, o
homem vivia entre os deuses, era seu companheiro, e
disso encontramos a memória na civilização greco-la-
tina. Os deuses dos gregos nada mais são do que a me-
mória dos deuses dos quais o homem foi companheiro
durante o período atlante, aqueles cujas formas etéricas
ele havia percebido com seu olhar clarividente, quando
emergia, à noite, de seu corpo físico. Como o homem vê
objetos externos hoje, ele uma vez viu Zeus, Atenas, etc.
Eles eram formas reais para ele. O que ele assim experi-
mentou e sentiu, neste estado de consciência clarivi-
dente, encontra-se na quarta civilização pós-Atlante, no
Panteão dos Deuses. Como a era egípcia é uma memória
da constituição tríplice do mundo durante o período
lemuriano, a vida atlante permaneceu no estado de me-
mória na hierarquia divina dos gregos. Na Grécia, como
em outras partes da Europa, eles são adorados pelos mes-
mos deuses dos atlantes, mas sob nomes diferentes. Es-
ses nomes não são inventados; eles designam as grandes
figuras divinas entre as quais o homem viveu durante o
período atlante, quando deixou seu corpo físico.
Vemos, portanto, que as fases da vida cósmica en-
contram sua expressão simbólica nas concepções religi-
osas das várias civilizações pós atlantes. Estamos agora
na quinta. O que ela está lembrando?

-51-
MITOS E MISTÉRIOS EGÍPCIOS

A quinta época não está ligada a nada com o passado


da Terra, e é por isso que o espírito antirreligioso, a men-
talidade “sem Deus” pode ter surgido lá; é uma época
que olha, não para o passado, mas para o futuro. Está
voltada para um futuro onde todos os deuses ressuscita-
rão. Essa possibilidade de redescobrir a união com os
deuses foi preparada no momento em que a força de
Cristo desceu à terra; esta força sozinha é poderosa o su-
ficiente para despertar no homem a consciência do di-
vino. As concepções religiosas dos homens da quinta ci-
vilização não podem ser reminiscências; para que suas
vidas voltem a se conformar às leis espirituais, os ho-
mens devem ter o futuro em vista. Sua consciência deve
ser apocalíptica.
Na conferência anterior, examinamos a relação entre
civilizações nos tempos pós-Atlantes. Hoje vimos que as
primeiras quatro civilizações refletem em suas concep-
ções religiosas, as quatro fases pelas quais passou a evo-
lução de nosso sistema solar até agora.
Nossa quinta época, já passou metade dessa evolu-
ção, e é por isso que ela deve descobrir novos horizontes.
Mas, primeiro, Cristo deve ser compreendido pelo nosso
tempo. Veremos como o retorno da era egípcia aos nos-
sos tempos será a referência que nos permitirá ver como
podemos adquirir consciência do futuro.

-52-
III

OS ANTIGOS LUGARES DE INICIAÇÃO


A FORMA HUMANA, OBJETO DE MEDITAÇÃO

Vimos ontem as misteriosas correspondências que


existem entre as fases de desenvolvimento da Terra e o
espírito das sucessivas civilizações da era pós-Atlante: a
antiga civilização Hindu, aquela que ainda precedeu os
Vedas, é como a imagem refletida do início da evolução
terrestre, quando o Sol, a Lua e a Terra ainda se confun-
diam; as visões espirituais dos iniciados hindus nada
mais eram do que a forma vista no espírito do que era a
Terra em sua origem. Vimos que na segunda fase da evo-
lução terrestre, onde o Sol destacado se opõe à Terra +
Lua, que esta oposição singular de dois mundos reapare-
ceu na civilização persa na forma do contraste entre o
princípio da Luz (a aura do sol) e o da sombra, a luta
entre Ormuzd e Arimane. A terceira civilização, a do
Egito, Babilônia e Assíria, reflete em espírito o que
aconteceu quando a Terra, o Sol e a Lua se tornaram três
corpos separados. E nos já esboçamos rapidamente que
a Trindade: Osíris, Ísis, Hórus, responde à trindade astral

-53-
MITOS E MISTÉRIOS EGÍPCIOS

da terceira época terrestre: Sol, Terra e Lua. Essa sepa-


ração ocorreu no período lemuriano, seguido pelo perí-
odo atlante, a quarta grande fase da evolução terrestre. O
homem foi então dotado de outra consciência; ele vivia
com os deuses, aqueles deuses que mais tarde foram no-
meados: Wotan, Baldour, Thor, Júpiter ou Zeus, Apollo,
etc. São seres que o homem da era atlante foi capaz de
perceber com seu olhar clarividente. A repetição desta
visão espiritual da era atlante pode ser encontrada nas
memórias dos povos da era greco-latina, e também dos
povos do norte da Europa; eles são as memórias de esta-
dos passados de consciência. Wotan ou Zeus, Marte,
Juno-Hera ou Minerva-Atenas, tantas reminiscências das
antigas formas espirituais que povoaram o mundo an-
tigo.
Mas, para apreciar com precisão as experiências re-
ligiosas que animaram essas civilizações antigas, não de-
vemos esquecer que os homens dessa época, bem como
os governantes, os videntes e os profetas, foram suces-
sores daqueles que viveram nos tempos da Atlântida, e
que depois da grande catástrofe nem tudo estava perdido;
pelo contrário, aos poucos, as forças que actuavam na-
quela época foram sendo transplantadas para o novo pe-
ríodo. Para compreender plenamente as almas dos des-
cendentes da Atlântida, é necessário aprofundar o estudo
da vida interior dos últimos atlantes.
No final da Atlântida, os homens se tornaram muito
diferentes uns dos outros. Alguns mantiveram um alto
grau de clarividência. Esta faculdade não desapareceu
repentinamente. Ainda estava presente em muitos dos

-54-
MITOS E MISTÉRIOS EGÍPCIOS

que participaram das migrações oeste-leste, enquanto já


havia desaparecido em outros. Houve alguns evoluídos,
outros que ficaram para trás, e é fácil compreender, dado
o caminho percorrido pela evolução, que os menos avan-
çados eram aqueles cuja faculdade de clarividência era
mais forte, pois tinham parado na sua evolução, e eles
mantivera o antigo corpo docente dos atlantes. Os mais
avançados eram aqueles que já haviam adquirido a fa-
culdade de perceber fisicamente o mundo, aproximando-
se já do nosso modo de percepção. Eles haviam deixado
de ver o mundo espiritual em espírito durante a noite,
mas podiam distinguir os contornos dos objetos com
mais clareza durante o dia. E é esse punhado de homens,
de quem já falamos, que foi conduzido por um dos mai-
ores iniciados, geralmente referido pelo nome de Manou,
e por seus discípulos, até o fundo da Ásia; esse punhado
de homens que foram os primeiros a perder a faculdade
de clarividência consistia nos seres mais avançados da
época. A consciência diurna tornou-se cada vez mais
clara com eles; e com ela, os objectos físicos que vemos
com suas linhas precisas. Este povo foi levado para longe
na Ásia, para que pudessem viver na solidão; caso con-
trário, ele teria mantido muito contato com aqueles que
mantiveram a antiga faculdade de clarividência. Ele só
poderia dar à luz uma nova humanidade permanecendo
por um certo tempo separado dos outros povos. Na Ásia
central, foi fundada uma colônia (I), da qual as grandes

(I). Veja: Rudolf Steiner: Nossos ancestrais Atlantes. - Tradução francesa


publicada em La Science Spirituelle, 14º ano, n ° 5-6.

-55-
MITOS E MISTÉRIOS EGÍPCIOS

correntes da civilização partiriam em direção aos dife-


rentes povos.
O norte da Índia foi o primeiro país a receber a luz
civilizadora deste centro. Os pequenos grupos que foram
enviados como pioneiros da civilização, não encontra-
ram nenhum país desabitado, pois antes da grande mi-
gração dos atlantes, do oeste para o leste, outras migra-
ções haviam ocorrido; assim que partes do continente
emergiram do mar, foram habitadas por grupos nôma-
des. O povo que vinha do coração da Ásia, portanto,
sempre encontrava outros povos com quem se misturava,
mas ele, que fora liderado por Manou, era mais avançado
do que eles. Entre esses povos, muitos homens ainda
eram dotados da antiga faculdade de clarividência. Os
iniciados daquela época não fundaram colônias como fa-
zemos hoje; eles procederam de outra forma. Eles sa-
biam que tudo tinha que ser organizado de acordo com o
estado de alma de quem vivia no país para ser coloni-
zado. Os enviados não impuseram sua vontade. Eles es-
tavam agindo de acordo com a ordem vigente. Eles en-
contraram um equilíbrio entre os dois e levaram em
conta as necessidades de quem habitava o país, com sua
religião baseada na memória dos tempos antigos e nas
faculdades de clarividência. Portanto, é natural que ape-
nas um pequeno grupo entre os mais avançados foram
capazes de atingir um estado puro de consciência. A mai-
oria estabeleceu um compromisso entre o antigo estado
atlante e a consciência pós-atlante. É por isso que encon-
tramos em toda parte, tanto na Índia quanto na Pérsia e
no Egito, onde quer que as civilizações pós-Atlantes te-

-56-
MITOS E MISTÉRIOS EGÍPCIOS

nham nascido, formas religiosas menos avançadas, me-


nos civilizadas, que não eram senão uma espécie de des-
dobramento de antigas concepções atlantes. Para enten-
der isso, você tem que se colocar internamente no estado
de espírito desses últimos atlantes. Lembremos que eles
tiveram percepções durante a noite, como durante o dia
- se é que podemos falar de dia e noite nesta época. De
dia, eles viam de forma turva o que é para nós hoje o
mundo tão claro das percepções sensíveis. À noite, eles
eram companheiros de entidades espirituais divinas. Não
havia necessidade de demonstrar aos atlantes a existên-
cia de Deus - não mais do que era necessário para nos
demonstrar que existem minerais. Os deuses eram seus
companheiros; ele mesmo, à noite, era um ser espiritual.
Seu corpo astral e seu ego percorriam o mundo espiri-
tual, encontrando ali seres da mesma natureza. Claro, ele
não viu apenas as altas entidades espirituais. Ele viu ou-
tros, menos elevados do que aqueles mais tarde descritos
como Júpiter-Zeus, Wotan - Ódin. Esses eram apenas os
mais perfeitos. Eram assim com reis e imperadores hoje.
Nem sempre os vemos, mas sabemos que existem. Esse
estado, que era o de todos os homens, percebiam-se os
objetos ao redor, de forma diferente de hoje, embora es-
tivesse consciente durante o dia; mas a consciência
diurna era diferente da nossa, e devemos tentar imaginar
como ela se constituiu.
Descrevemos que a visão de seres divinos, ilude o
homem quando ele desce pela manhã em seu corpo fí-
sico. Ele viu os objetos envoltos em névoa. Mas as visões
desses objetos, tinham ainda outra propriedade única que

-57-
MITOS E MISTÉRIOS EGÍPCIOS

devemos compreender. Imagine um atlante se aproxi-


mando de um lago. Ele não viu a água do lago circulando
com tanta nitidez como nós a veríamos; mas, ao dirigir
sua atenção para aquela água, ele experimentou algo
bem diferente do que sentimos hoje quando nos aproxi-
mamos de um lago. Só de olhar para ele, um gosto surgiu
em sua boca, o gosto do que viu, sem que ele precisasse
beber a água. Simplesmente olhando para ela, ele pode-
ria dizer: essa água é doce ou salgada. Sua impressão foi
bem diferente da que temos hoje, quando olhamos a
água. Vemos apenas a superfície, não a penetramos. An-
tigamente, o homem que, dotado de clarividência nu-
blada, se aproximava de um lago, não experimentava
essa sensação de ter diante de si um elemento estranho;
ele se sentia como se estivesse envolvido com ele. Supo-
nha que tenhamos chegado perto de um bloco de sal, ao
nos aproximarmos teríamos provado o gosto do sal. Hoje
temos que prová-lo; nos velhos tempos bastava vê-lo. O
homem ainda estava misturado com o ambiente, e ele se
sentia com tudo o que ele viu. Ele percebeu, por assim
dizer, as entidades que, por exemplo, davam aos objectos
um sabor salgado. Tudo ganhava vida para ele: ar, terra,
água, fogo, tudo vivia para ele. Ele carregou a sensação
para o interior das coisas; ele viveu nelas. O que hoje
parece inanimado para a consciência não o foi outrora.
Ao ver tudo, o homem sentia um sentimento de simpatia
ou antipatia, porque viu a alma disso. Ele sentia, ele sen-
tia a natureza interna dos objectos.
As memórias dessas experiências permaneceram por
toda parte. A população hindu com a qual os colonos de

-58-
MITOS E MISTÉRIOS EGÍPCIOS

Manou se misturaram, manteve viva essa ligação com as


coisas. Ela sabia que há almas vivas nessas coisas; ela
manteve a faculdade de ver as qualidades dos objetos.
Vamos imaginar bem essa faculdade. Ao se aproximar
de um lago, o homem percebe o gosto da água. Ele vê
um ser espiritual, aquele que dá gosto a essa água. Ele
pode encontrar esse ser espiritual à noite, quando está
dormindo, deitado à beira do lago. Durante o dia, ele tem
uma visão material disso; à noite, ele vê tudo o que
anima as coisas. Durante o dia, ele vê objetos, pedras,
plantas, animais; ele ouve o vento soprando, ele ouve o
murmúrio da água; à noite ele percebe em si mesmo, em
sua verdadeira forma, tudo o que viu durante o dia; ele
vê os espíritos que vivem em todas as coisas. Quando ele
disse: nos minerais, nas plantas, na água, nas nuvens, no
vento, há espíritos, espíritos vivem por toda parte ... Não
foram criações poéticas da imaginação dele, foi algo que
ele percebeu. Quando alguém penetra as almas a este
ponto, percebe o que os estudiosos modernos absurdos
fazem quando dizem que a imaginação popular tende a
personificar os factos da natureza. Esse tipo de imagina-
ção popular não existe; quem realmente conhece as pes-
soas sabe bem disso. Frequentemente encontramos nos
cientistas esta estranha comparação estranha: assim
como a criança que esbarra em uma mesa bate na mesa
porque acredita que ela seja dotada de vida, o homem
primitivo, o filho varão, imaginou almas em toda a parte
na natureza, nas árvores, etc. Repassamos essa compara-
ção até a exaustão. Claro, há imaginação aí, mas é a dos
estudiosos e não do povo. Os homens que uma vez per-

-59-
MITOS E MISTÉRIOS EGÍPCIOS

ceberam uma alma em todos os lugares, não sonharam,


eles apenas expressaram o que perceberam.
Encontramos essa percepção em um estado de me-
mória entre os povos antigos. A criança não vê a mesa
como um objeto animado; ele ainda não sente a alma
nele; não tendo a percepção de sua alma, ele desce ao
nível da madeira batendo nela. A interpretação dos estu-
diosos não coincide com os factos. Quer vamos à Índia
ou à Pérsia, ao Egito ou à Grécia, encontramos em todos
os lugares essas mesmas visões de que acabamos de fa-
lar. E foi em seus moldes que se moldou a civilização
trazida pelos iniciados.
Na Índia antiga, foram os Rishis que governaram a
civilização. Sabemos que sempre existiram Escolas de
Mistérios, onde aqueles que puderam desenvolver suas
faculdades espirituais aprenderam a reconhecer a natu-
reza profunda do universo; onde acordaram neles os sen-
tidos adormecidos, para ver a cadeia espiritual das coi-
sas. Destas escolas de Mistérios irradiaram por toda
parte os impulsos espirituais das civilizações. Vamos es-
tudá-los durante os períodos pós-atlantes, porque é onde
são mais fáceis de entender; mas como já encontramos
no período atlante algo análogo às escolas de iniciação,
tentaremos penetrar no método de ensino que foi empre-
gado.
O atlante certamente possuía, como o homem actual,
um corpo físico, um corpo etérico, um corpo astral e um
eu; mas seu corpo físico não era nada como é hoje. Po-
deríamos compará-lo grosso modo aos corpos de certos
animais marinhos, transparentes, quase invisíveis, ape-

-60-
MITOS E MISTÉRIOS EGÍPCIOS

nas materiais o suficiente para nos sustentar, atravessa-


dos pelas linhas brilhantes de um organismo. O corpo fí-
sico do homem era muito mais macio do que é hoje, ele
ainda não tinha ossos, no máximo alguns inícios de for-
mação de cartilagem. Em contraste, o corpo etérico do
homem era a parte importante de seu ser. O corpo físico
era quase do mesmo tamanho de hoje; por outro lado, o
corpo etérico era extraordinariamente grande. Este corpo
etérico foi diferenciado nos indivíduos em quatro tipos
principais, que por sua vez foram encontrados em dife-
rentes grupos de homens. Esses tipos são encontrados
nos nomes dos quatro animais do Apocalipse: o touro, o
leão, a águia e o homem. Não se deve acreditar que essas
formas se assemelhavam absolutamente aos animais
como os conhecemos hoje; elas são lembradas apenas
por sua impressão geral a impressão que causaram em
nós. As impressões feitas pelos corpos etéricos dos ho-
mens podem ser transmitidas pelas imagens de Leão,
Touro, Águia ou Homem. Por exemplo, Touro foi com-
parado àqueles que pareciam ter uma grande capacidade
de reprodução, ou um grande apetite; outros, que pare-
ciam ter uma vida espiritual mais intensa, eram os Ho-
mens-Águia, que não eram adequados para o mundo fí-
sico. Havia ainda outros, cujo corpo etérico se asseme-
lhava ao corpo físico atual; sem ser exatamente como
ele, ele já era uma espécie de forma humana. Claro, um
ser humano tinha apenas uma dessas características, com
exclusão de outras; todos os quatro estavam nele, mas
um dominava. Essa era a constituição do corpo etérico
da população atlante. O corpo astral era muito grande,

-61-
MITOS E MISTÉRIOS EGÍPCIOS

mas não treinado, e o Eu ainda estava bem do lado exte-


rior. Portanto, os homens pareciam bem diferentes de
hoje; é claro que os que se movem rapidamente já ha-
viam assumido uma forma mais avançada, mas no geral
podem caracterizar os homens como acabamos de fazer.
Seu estado normal era o que acabamos de descrever.
Era bem diferente para os seres mais avançados, para
os alunos das escolas de Mistérios, aqueles que se esfor-
çavam para obter a iniciação na antiga Atlântida. Entre-
mos em espírito, em uma dessas escolas e procuremos
relembrar o que o mestre ensinava. Vamos ver primeiro
quem era esse mestre.
Um homem que conhece um iniciado hoje não o dis-
tinguiria do resto, com base em sua aparência externa.
Muito poucos são os que hoje poderiam reconhecer um
iniciado por sua aparência; pois agora que o corpo físico
do homem está bem desenvolvido, o iniciado, que deve
viver neste corpo, se distingue externamente dos outros
homens apenas por nuances muito sutis. Mas antiga-
mente o iniciado era muito diferente dos outros seres.
Estes eram externamente reminiscentes de animais; o
corpo físico era pequeno, comparado ao imenso corpo
etérico; em vez disso, formou uma massa pesada, uma
substância animal. O iniciado se distinguia dos demais
por um corpo físico já mais parecido com a forma hu-
mana actual, por um rosto que lembrava o nosso, por
uma testa como todos os homens têm hoje. O cérebro do
iniciado era altamente desenvolvido para a época, en-
quanto em outros, ainda não estava formado. Esses ini-
ciados dirigiam escolas onde tomavam como alunos

-62-
MITOS E MISTÉRIOS EGÍPCIOS

aqueles que pareciam ser os mais maduros, os mais de-


senvolvidos entre os homens.
Para entender completamente o que se segue, deve
ser claramente percebido que o controle da mente do ho-
mem sobre seu corpo desapareceu quase completamente
com o tempo. É claro que hoje o homem pode mover
seus braços e pernas, bater os pés, pedalar, em uma pa-
lavra sua vontade ainda domina seu corpo; mas tudo isso
é apenas um último e miserável resquício da dependên-
cia total, na qual o corpo físico se encontrava nos tempos
da Atlântida. Antigamente, o pensamento e o sentimento
tinham uma influência muito grande no corpo. Hoje, po-
demos conceber uma ideia, carregá-la dentro de nós por
semanas, meses ou mesmo anos; é muito raro que a ação
desse pensamento penetre além do corpo etérico. Muito
raros são os casos em que o corpo físico é influenciado
pela meditação. Se alguém pudesse desta forma tornar
mais proeminente uma testa recuada, isto é, se traba-
lhasse até aos ossos da cabeça, seria um resultado extra-
ordinário para os dias de hoje. O caso ocorre muito rara-
mente. Imensa energia deve ser desenvolvida hoje para
que o pensamento actue no corpo físico. É mais fácil,
embora ainda seja difícil, influenciar a circulação do san-
gue ou o movimento da respiração - O pensamento pode
actuar hoje no corpo etérico, e na próxima encarnação
terá tido uma ação tão forte que as condições externas do
corpo físico terão mudado. Não devemos esquecer hoje
que trabalhamos, não para uma encarnação, mas para vá-
rias encarnações futuras. A alma é eterna; ela sempre
volta.

-63-
MITOS E MISTÉRIOS EGÍPCIOS

Costumava ser assim nas escolas de iniciação. Por


um tempo relativamente curto, o pensamento dominou o
corpo físico, exerceu sua ação sobre ele. O discípulo dos
mistérios pode, por seu próprio trabalho interior, aproxi-
mar-se da forma humana. Poderia ser escolhido da hu-
manidade comum; tudo o que era necessário era dar um
empurrão forte o suficiente. Ele nem precisou pensar, os
pensamentos foram introduzidos em sua alma por algum
tipo de sugestão; devia aparecer diante de sua alma uma
certa forma de pensamento, na qual ele estava imerso.
Que forma era esta? Quais foram os pensamentos do dis-
cípulo, o objeto de sua meditação?
Já indicamos o estado da Terra em sua origem, e es-
boçamos sua evolução; falamos também da forma de luz
que habitava a névoa etérica primitiva; esta forma teria
aparecido aos olhos dos clarividentes como a do homem
de hoje. Esse tipo primordial, esse arquétipo etérico, não
foi realizado nem pelo homem antigo nem nos tempos
da Atlântida; é a forma do homem actual que o consegue.
E é precisamente essa forma original do ser humano, tal
como pairava sobre o germe etérico, que o iniciado
atlante evocava diante das almas de seus alunos. O dis-
cípulo teve que concentrar seus pensamentos nela. As-
sim, o iniciado atlante fez aparecer a forma humana di-
ante do olhar espiritual do discípulo, com todos os im-
pulsos, todos os sentimentos a ela ligados. E quem quer
que fosse o aluno, do tipo do Leão ou o que fosse, ele
mantinha diante de seu olhar espiritual a imagem-pensa-
mento do que seria o homem depois da Atlântida. Esse
pensamento se tornou seu ideal. Este pensamento teve

-64-
MITOS E MISTÉRIOS EGÍPCIOS

que ser preenchido com vontade: seu corpo físico deve


ser formado desta imagem. E as forças que emanavam
desse pensamento agiam sobre o corpo físico de tal ma-
neira que depois de certo tempo o discípulo não se pare-
cia mais com o comum dos outros homens. Partes de seu
corpo haviam-se transformado e os discípulos mais
avançados pareciam cada vez mais com o homem actual.
Esses são os estranhos segredos, os mistérios da era
atlante. Outra coisa nos atinge novamente. Qualquer que
seja a forma dos diferentes seres humanos uma única
imagem pairava diante de sua alma, uma imagem espiri-
tual que já existia quando o Sol ainda estava unido à
Terra. E essa imagem apareceu cada vez mais como o
pensamento que deu origem à Terra, o espírito do qual
nasceu. Não era a imagem de nenhuma das raças: era o
ideal comum de toda a humanidade.
E este é o sentimento que o estudante teve quando
viu esta forma: “As entidades espirituais mais elevadas
desejaram que este pensamento trouxesse unidade aos
homens. Este pensamento é o significado da evolução da
terra; foi perceber que o Sol se separou da Terra, a Lua
deixou a Terra, e assim o homem foi capaz de se tornar
Homem. Este será mais tarde o ideal supremo da terra.”
E essa forma ideal foi preenchida com os sentimen-
tos que animaram o discípulo durante sua meditação.
Foi assim que as coisas se passaram em meados da
era atlante, e estudaremos como essa imagem da medita-
ção, essa forma humana que apareceu ao discípulo, foi
transformada e, portanto, salva da catástrofe. É o que en-
contraremos nos ensinamentos dos iniciados hindus e

-65-
MITOS E MISTÉRIOS EGÍPCIOS

que pode ser condensado na palavra sagrada: Brahm. O


significado da evolução da terra como pretendido pela
divindade do mundo, é isso que formou o núcleo sagrado
do ensino dos iniciados hindus; eles o chamavam de:
Brahma. Daí emergiu mais tarde a doutrina de Zoroastro
e a sabedoria egípcia, que discutiremos mais tarde. Ve-
remos amanhã como da ideia de Brahma surgiu a sabe-
doria egípcia.

-66-
IV

A INICIAÇÃO – OS MISTÉRIOS DOS PLANETAS


A DESCIDA DO VERBO ORIGINAL

Ontem terminamos nosso estudo falando sobre um


acontecimento extremamente importante na vida inte-
rior, da vida espiritual do homem. Procuramos incutir em
nossas almas a impressão que os alunos das escolas de
iniciação sentiram no início do último terço da era
atlante. Mencionamos a forma humana ideal que apare-
ceu diante da alma do neófito, a forma-pensamento, na
qual ele se concentrou durante a meditação, forma essa
que vem preencher suas representações, seus sentimen-
tos e sua vontade. Foi ela quem se tornou o modelo da
forma humana actual.
Vamos tentar imaginar essa forma espiritual. Ela não
era exatamente igual ao homem de hoje. Imaginamos
uma espécie de forma nascida da combinação de um ho-
mem e uma mulher, mas sem a parte inferior do corpo;
imagine uma espécie de figura dupla, onde apenas a
parte superior seja claramente visível, e teremos a ima-
gem sensível supersensível tal como apareceu para o
aluno em meditação. Ela exerceu uma ação tão forte, que
todos aqueles que tiveram que ser iniciados, realmente

-67-
MITOS E MISTÉRIOS EGÍPCIOS

conseguiram formar seu corpo exterior à sua imagem. É


muito importante que o neófito contemple em sua medi-
tação algum tipo de forma humana. Quando estava pre-
parado, viu esta forma viva aparecer diante dele, ele
disse a si mesmo: “Olhando para esta imagem, estou ab-
sorvido no primeiro estado de evolução terrestre, en-
quanto a Terra, a Lua e o Sol ainda não estavam separa-
dos. Outrora a Terra era formada por um átomo original,
mas nesse átomo o clarividente podia contemplar a ima-
gem que agora aparece aos seus olhos. Este protótipo já
existia na origem da terra, quando ainda não existiam
formas animais, vegetais ou minerais. A Terra era então
apenas um átomo humano, feito de homens chamados
novamente à vida (I). Sem dúvida, os primeiros germes
animais foram formados durante o período em que a
Terra se uniu à Lua; os animais já estavam lá. Mas tam-
bém sabemos que quando um sistema planetário desapa-
rece, ele desmorona em um pralaia, onde todas as formas
existentes se dissolvem. A antiga Lua era povoada por
formas animais, mas a Terra não tinha animais e plantas
para ela; eles só vieram mais tarde. Os animais só apare-
ceram depois que o Sol se separou. Originalmente, a
Terra era apenas um germe humano.
É a essas origens que se dirige o olhar do neófito.
Ele viu no átomo primitivo a imagem ideal do homem.
Quando ele olhou para esta imagem, o seu espírito abriu,
“Estou absorvido no estado original da terra. Esta ima-

(I). Ver: Rudolf Steiner: A Terra, o Universo e o Homem, 4ª conferência.


Publicado em A Ciência Espiritual, 10º ano.

-68-
MITOS E MISTÉRIOS EGÍPCIOS

gem, esta forma ideal de homem, que vive na Terra, ex-


pressa para mim isto: a divindade age de eternidade em
eternidade; ela se moldou nessas formas e exalou de si
mesma a forma humana original. Então ele disse a si
mesmo: “Onde estão os animais, plantas e outros seres
agora?”
O neófito viu ao mesmo tempo a primeira forma da
divindade e viu ao lado dela as formas animais, as for-
mas vegetais, que nasceram depois. Todas essas formas
dos reinos inferiores apareceram para ele como nascidas
da forma humana. Obteremos uma imagem disso pen-
sando em como o carvão foi formado. Pense nas grandes
florestas virgens do passado que agora se transformaram
em carvão. Eles sobreviveram; de um reino superior, eles
passaram para um reino inferior: a planta tornou-se uma
pedra, endurecida.
O neófito atlante viu assim o mundo inteiro emergir
da forma humana. Esta impressão, que surgiu antes da
alma do homem em tempos remotos, foi mantida em sua
memória durante os tempos que se seguiram ao dilúvio,
e os iniciados Hindus evocaram este protótipo de homem
que emanou do eterno Eu, na alma de seus alunos.
Quando o discípulo hindu viu esse protótipo, ele sentiu
que la estava a origem de toda a vida, que esse sangue
havia se tornado a água viva da terra, etc. Essa imagem
se ampliou em seu olhar até se tornar o fundo principal
de onde tudo surgiu. Naquele momento, disseram: “Esta
imagem que você tem diante de seus olhos é dupla: é an-
tes de tudo a própria forma primária mesmo, mas é tam-
bém o germe mais profundo do seu ser, este germe que

-69-
MITOS E MISTÉRIOS EGÍPCIOS

precisamente se comoveu ao contemplá-lo. Ao seu re-


dor, o Macrocosmo, e dentro de você, a essência do seu
ser íntimo: o Microcosmo”.
Quando os gregos, com Alexandre, entraram na Ín-
dia e souberam dos últimos ecos desses sentimentos vi-
vidos pelo neófito de tempos remotos, traduziram essa
impressão dizendo: quando o discípulo contempla o ho-
mem espalhado pelo mundo, ele tem Hércules diante de
si. O hindu chamou as forças que animam o universo de
“vha”. Mas ele chamou Brahman a quintessência dessas
forças no homem.
Foi assim que os gregos receberam um eco do que o
discípulo hindu havia sentido nos dias da antiga cultura
sagrada. Este é o resultado da marcha grega para a Índia,
sob a liderança de Alexandre o Grande. Assim, a sagrada
doutrina da iniciação hindu aparece como um reflexo es-
piritual do estado primordial da Terra, unido às forças do
Sol, e àquelas entidades sublimes para as quais os dese-
jos nostálgicos dos homens se voltaram mais tarde.
Quando o neófito foi iniciado, ele experimentou um ele-
vado sentido de vida espiritual, quando conseguiu fazer
renascer em si mesmo o que foi chamado de “Brahman”.
Foi um grande evento acontecendo na alma humana. Ela
se sentiu elevada aos mundos superiores. Só se podia ad-
quirir iniciação, a verdadeira visão espiritual, ascen-
dendo aos mundos superiores. O mundo ao nosso redor
é o mundo físico; em torno dele e nele o mundo astral se
move. Acima está o Devachan, o mundo dos deuses, e é
nas regiões superiores do Devachan que o neófito se de-
liciava, quando contemplava no macrocosmo Brahman,

-70-
MITOS E MISTÉRIOS EGÍPCIOS

o Eu eterno. Ele estava então nas regiões mais elevadas


do Devachan, no mundo dos deuses, de onde vem o que
o homem tem de mais nobre. Era o reino da mais perfeita
harmonia disponível ao conhecimento humano; e não
continha apenas o que acabamos de descrever.
Antes de continuarmos, vamos ver o que eram os
mestres. Todos vocês já ouviram falar dos santos Rishis,
os fundadores da antiga cultura hindu, que tiveram o pró-
prio Manu como mestre. Quem foram esses sete grandes
mestres da Índia antiga? Vamos tentar imaginar isso para
nós mesmos e, para isso, olharmos mais uma vez para o
vasto mundo. Não devemos esquecer que o que percebe-
mos com nossos sentidos físicos, nossos olhos, etc., é
uma continuação, uma consequência da mente. Se pen-
sarmos no mundo ao nosso redor como ele é em sua
forma espiritual, podemos compará-lo a uma névoa eté-
rica da qual tudo nasce. Essa névoa gradualmente se so-
lidificou; afundou em um estado material, e dentro dele
os diferentes corpos celestes foram condensados.
Por que os outros planetas se separaram da Terra, as-
sim como o Sol e a Lua? Porque Saturno, Júpiter, Marte,
Vênus e Mercúrio também estão isolados. Porquê isso?
É que as coisas acontecem no grande Universo como
acontecem em nossa vida diária. Como no ensino médio
há alunos que repetem uma aula, há no grande Cosmos
seres que estão ficando para trás e não conseguem acom-
panhar a evolução. Isso deve ser entendido com muita
clareza. Havia um grupo de altas entidades que não po-
diam continuar a evoluir no mesmo ritmo que a Terra,
que separou dela, as substâncias mais sutis, para formar

-71-
MITOS E MISTÉRIOS EGÍPCIOS

o Sol que se tornou sua morada. Os seres mais elevados


estavam, portanto, ligados ao nosso desenvolvimento;
eles já haviam feito uma evolução. Portanto, havia seres
que se tornariam os espíritos do Sol, e outros que eram
atrasados, inferiores aos espíritos do Sol, mas ainda su-
periores aos homens; eles não conseguiam acompanhar
os espíritos mutantes do Sol porque não eram tão perfei-
tos quanto eles. Eles não podiam acompanhar o Sol, por-
que ele os teria consumido. Mas eles eram nobres demais
para a terra; por isso retiraram dela certas substâncias,
cuja finura era intermediária entre o Sol e a Terra, e que
correspondiam à sua natureza, para fazer delas sua resi-
dência, entre o Sol e a Terra. É assim que Vênus e Mer-
cúrio foram formados. Portanto, aqui temos dois grupos
de seres, que não eram tão elevados quanto os espíritos
do Sol, mas que eram mais avançados que o homem.
Eles se tornaram os espíritos de Vênus, os espíritos de
Mercúrio. É a eles que se deve o nascimento desses dois
planetas. Anteriormente, Marte, Júpiter e Saturno tam-
bém foram formados, mas por outras razões; eles se tor-
naram os suportes de certas entidades. Os espíritos são,
portanto, a causa da formação dos planetas. Não se deve
acreditar que esses seres que habitam os vários corpos
do sistema solar não tenham relação com os habitantes
da Terra. Entendamos bem, as fronteiras da matéria fí-
sica não são os limites finais; é absolutamente possível
para as entidades de outros corpos celestes exercerem
uma ação mágica na terra além das fronteiras onde a ma-
téria pára. É assim que as influências dos espíritos do
Sol, Marte, Júpiter, Saturno, Vênus, Mercúrio, etc... en-

-72-
MITOS E MISTÉRIOS EGÍPCIOS

tram na Terra. Esses dois últimos grupos de espíritos es-


tão mais próximos dela; conforme o Sol se afastava, eles
ajudaram o homem a preparar a Terra para se tornar o
que é hoje.
Vamos abrir um parêntese aqui. Surgiram mal-en-
tendidos sobre a nomenclatura dos planetas. No ocul-
tismo, chamamos de “Vênus” o planeta que os astróno-
mos chamam de “Mercúrio” e, inversamente, o que é
para eles “Vênus” é para os ocultistas “Mercúrio”. Os
astrônomos oficiais não sabem que existe um profundo
mistério aqui - que não se quer desvendar descobrindo
os verdadeiros nomes ocultos das coisas. Isso foi feito
para esconder algumas realidades.
Todos os espíritos dos outros planetas, portanto,
exercem uma ação na terra. De todos os planetas irra-
diam influências para o homem. Mas o homem não podia
recebê-los diretamente, eles tinham que ser recebidos
por intermediários, e é por isso que o grande Manu ini-
ciou os sete Rishis de tal forma que cada um dos Rishis
pudesse entender as influências de um dos planetas; e
como havia sete planetas, havia sete Rishis, que juntos
representavam um círculo de sete membros, que trans-
mitiram aos seus alunos os segredos de nosso sistema
planetário. É por isso que encontramos indicações sobre
este assunto em vários escritos ocultistas. Por exemplo,
lemos: Existem segredos que devem ser buscados além
dos Sete; foi o próprio Santo Manu quem os guardou du-
rante o tempo que precedeu a separação dos planetas. Os
segredos dos sete Rishis dizem respeito às forças conti-
das nos planetas. O coro dos sete Rishis, em perfeita

-73-
MITOS E MISTÉRIOS EGÍPCIOS

harmonia com Manou, transmitiu aos discípulos seu en-


sino maravilhoso. Essa doutrina das origens ensinou o
que hoje chamamos de evolução da humanidade por
meio dos estados planetários: Saturno, Sol, Lua, Terra,
Júpiter, Vênus, Vulcano (I). Os mistérios da evolução
haviam sido depositados nos sete membros do círculo, e
cada um deles representava uma das etapas do desenvol-
vimento da humanidade.
Isso é o que o neófito viu - o que até ouviu - quando
ascendeu ao mundo do Devachan: pois este mundo é de
sons. Ele ouviu a harmonia das esferas, dos sete planetas.
No mundo etérico, ele viu a imagem disso; no mundo
devachânico ele ouviu seu som, e no mundo supremo, o
mais elevado de todos, ele viveu a Palavra. Quando o
neófito hindu ascendeu ao Devachan superior, ele perce-
beu através da música e da Palavra das esferas como o
Espírito original, Brahma, se divide através da evolução
na cadeia dos sete planetas, e ele ouviu isso no som pri-
mordial VHA.
É assim que o som original da criação foi soletrado
e, foi assim que chegou ao ouvido do neófito: concentrou
para si toda a evolução do mundo. A Palavra dividida em
sete, a Palavra primordial da criação, animava a alma do
neófito e a descrevia para os não iniciados da mesma
forma que descreveríamos a evolução de nosso mundo
hoje. Isso é o que esbocei em linhas gerais no livro “Te-
osofia”. Essa descrição é encontrada na antiga religião
sagrada dos hindus, nos chamados “Vedas” ou “Pala-

(I). Veja: Rudolf Steiner: A Ciência Oculta, capítulo IV.

-74-
MITOS E MISTÉRIOS EGÍPCIOS

vra”. Este é o verdadeiro significado dos Vedas, e o que


foi escrito mais tarde é apenas uma lembrança da dou-
trina da Palavra. A própria Palavra é perpetuada de boca
em boca; porque, ao escrevê-lo, distorcemos o ensino an-
tigo. É apenas nos Vedas que ainda podemos encontrar
algo do que foi a alma da civilização hindu. Quando o
neófito repassasse tudo isso em sua memória, poderia di-
zer a si mesmo: O Espírito-Brahman, a Palavra primor-
dial que sinto vivendo em minha alma, já existia no an-
tigo Saturno; em Saturno já ressoa a primeira respiração
da Palavra Védica.
A evolução continua, do Sol à Lua, da Lua à Terra;
o Verbo se condensa cada vez mais, assume formas cada
vez mais duras, e a imagem do homem no germe primor-
dial da Terra já é uma forma mais densa do estado do
Verbo original em Saturno. Então o que aconteceu?
O Verbo divino, o Homem primordial, sempre colo-
cou novos véus, e é muito importante ver o que são esses
novos invólucros que ele abraça e adquire durante a evo-
lução da terra. O neófito sabia que absolutamente nada
se repete no Universo e que cada planeta tem sua missão.
No velho Sol foi formada a Vida; na antiga Lua, a Sabe-
doria penetrou nas profundezas de todas as coisas; o de-
ver, a missão da Terra, é desenvolver o Amor, que ainda
não existia na velha Lua (I). A forma original do homem,
que existiu no planeta anterior em uma forma mais espi-
ritual, mas também muito mais fria, envolveu-se num

(I). Ver: Rudolf Steiner: O Evangelho de João (Hambourg 1908), 3ª con-


ferência.

-75-
MITOS E MISTÉRIOS EGÍPCIOS

envelope astral quente. O que viria a ser o homem colo-


cou um envelope astral na Lua, e foi graças a isso que o
homem se tornou capaz de desenvolver o amor na terra,
de sua forma mais baixa à mais sublime.
O neófito hindu percebeu claramente no Devachan
superior a forma do protótipo humano. No Devachan in-
ferior, ela foi envolvida por um véu astral, que continha
o germe das forças do amor. Amor, Eros dos gregos, ele
chamou Kama. Kama passa assim a ocupar seu lugar na
evolução da Terra. A palavra divina, Brahman, tornou-
se Kama, e foi por meio dele que o neófito ouviu a pala-
vra primordial ressoar. A vestimenta do amor era
“Kama”, a vestimenta da Palavra original era esse
“Vha”, que é a base do latim “vox”, voz. E o neófito,
portanto, sentiu profundamente dentro de si mesmo que
a Palavra divina havia colocado a vestimenta astral de
amor, e ele disse a si mesmo: O elemento mais elevado
do homem, que hoje consiste no corpo físico, o corpo
etérico, o corpo astral e o Eu, é o Eu. Fui este eu que
desceu na vestimenta do Amor, para assim formar
Kama-Manas. Este era o núcleo mais íntimo do ser hu-
mano, Kama, a forma assumida por Manas, o Eu. Deste
germe central também devem nascer três corpos superi-
ores; estes irão transformar os corpos inferiores. Eles vão
transformar o corpo físico; e assim como o envelope as-
tral se tornará Manas, então Kama corresponderá a um
nível mais elevado do que Buddhi, o corpo físico,
quando totalmente espiritualizado, se tornará Aima.
Tudo isso já estava em germe no “Vha”, e há uma frase
nos Vedas que ainda lembra como o neófito expressava

-76-
MITOS E MISTÉRIOS EGÍPCIOS

o mistério do âmago do ser. Sabemos que o corpo físico


nasceu no velho Saturno, o corpo etérico no velho Sol, o
corpo astral na velha Lua e o Eu na Terra; mas a primeira
forma humana, aquela expressa pela palavra original
“Vha”, já continha o germe dos outros três corpos. O ho-
mem ainda carece de três princípios para se tornar a ima-
gem perfeita da Palavra criadora, da Palavra primordial.
O neófito admitiu que apenas o iniciado poderia compre-
ender claramente a verdadeira natureza do corpo físico,
o corpo etérico e o corpo astral. Hoje um homem é real-
mente ele mesmo quando diz: “Eu sou”; só aí é inteira-
mente um homem. Seus outros corpos também existem,
mas neles o homem ainda está inconsciente. Na quarta,
é o “Vha” que se manifesta. “Na quarta, o homem fala!
Esta é uma frase dos Vedas. Quando o nome do Eu res-
soa, é a quarta parte do “Vha” que é ouvida. Aqui está a
frase em questão: “Quatro partes do “Vha” são revela-
das, apenas três são visíveis, três estão escondidas hoje,
na quarta, o homem fala! “
É uma descrição maravilhosa do que falamos tantas
vezes. Foi isso que viu o olhar espiritual do neófito. Ele
se viu transportado para aquele estado de evolução onde
os planetas ainda estavam unidos, onde a Terra original
existia, onde o “Vha” ressoava totalmente. Isso é o que
outra frase dos Vedas expressa: “Antes, eu não sabia o
que era o Eu Sou, mas quando o Primogênito da Terra
veio a mim, o Espírito foi preenchido. De luz, e eu par-
ticipei do sagrado “Vha” (sabedoria). Essas palavras
transmitem uma visão que o iniciado percebeu.
Esta é apenas uma vaga indicação do que os discípu-

-77-
MITOS E MISTÉRIOS EGÍPCIOS

los dos antigos Rishis viviam internamente, ensinamen-


tos maravilhosos que permearam a antiga cultura hindu,
que foram transmitidos em eras subsequentes e transfor-
mados de acordo com as necessidades de outros povos.
Mas todos entenderam o verbo original “Vha”.
Invocando totalmente um desses mistérios, compre-
enderemos muitas coisas muito melhor. É preciso lem-
brar que no passado a acção que o professor exercia so-
bre o aluno era bem diferente do que está acontecendo
hoje. Hoje em dia, uma acção deste tipo só pode ser pra-
ticada quando o discípulo atingir um certo grau de inici-
ação. No passado, as forças que passavam de professor
para aluno eram muito mais fortes. Para tentar ter uma
ideia do que eram essas forças, digamos que não só a
palavra, o pensamento escrito do mestre agia sobre a
alma compreensiva, mas que, além disso, as forças má-
gicas, secretas, passavam do mestre ao aluno. Acima de
tudo, essas forças tinham o poder de preencher com cla-
reza e vida as tabelas que surgiam diante da alma do
aluno. Esta estranha faculdade não foi perdida até a
quarta época pós-Atlante da civilização Greco-latina. O
jogo de forças mudou. No Egito Antigo, a relação pro-
fessor-aluno era bem diferente de hoje. Os velhos exer-
ceram uma influência bem diferente sobre os jovens.
Você tem que saber isso para entender os escritos de au-
tores gregos. Sócrates realmente exerceu uma influência
telepática sobre seus alunos, enquanto os ensinava. Isso
não é mais possível hoje. Encontramos vestígios desses
factos nas obras de Platão. O que era certo e bom no pas-
sado seria uma prática repreensível hoje. As transforma-

-78-
MITOS E MISTÉRIOS EGÍPCIOS

ções acontecem constantemente, acima de tudo não de-


vemos plagiar hoje o que um dia foi. Alguns dos factos
presentes podem ser explicados voltando a essas coisas
do passado, mas seria errado e imoral usá-los hoje.
No passado, portanto, as forças passavam do mestre
para o aluno. No antigo Egito ainda, encontramos um
grande número de indivíduos que eram sensíveis a esta
transmissão. Quando uma dessas almas particularmente
maleáveis estava com um homem que podia pensar com
força, esses pensamentos energéticos agiam de tal forma
que reapareciam na alma do discípulo na forma de ima-
gens. No antigo Egito, essa ação telepática era normal e
frequentemente observada ali. Esta transmissão ocorreu
principalmente entre seres energéticos e aqueles cuja
vontade não foi desenvolvida. Poderíamos, por pensa-
mento, dirigir, liderar seres de uma forma que não tería-
mos ideia hoje. Em nossa época, se usássemos essas for-
ças, seria para fazer um uso muito ruim. No antigo Egito,
as iniciações eram, em geral, baseadas no emprego de
forças semelhantes. Da mesma forma na Índia e na Pér-
sia antigas. Essas forças apoiaram os efeitos do método
de iniciação, um método que se poderia chamar, para
usar uma expressão exotérica, de método médico. Claro,
esse não é o método oficial hoje. O iniciado egípcio, que
também era médico, teria sorrido para o que o homem
hoje chama de remédio. O antigo médico egípcio sabia
uma coisa: como reviver os estados de consciência da era
atlante por meio da iniciação. Na Atlântida, o homem vi-
via em um estado de clarividência opaca. O iniciado
egípcio sabia que a essa altura os seres espirituais tinham

-79-
MITOS E MISTÉRIOS EGÍPCIOS

um poder muito maior sobre o homem. Hoje, quando o


homem dorme, ele ignora todos os mundos superiores;
mas o homem atlante, dotado de uma enevoada consci-
ência clarividente, viveu novamente com os deuses. E
assim como hoje, o exemplo de uma vida perfeita funci-
ona muito melhor do que todas as doutrinas da moral,
outrora o iniciado egípcio agia sobre seu aluno por meio
de forças e imagens retiradas de realidades espirituais.
Sua ação não foi superficial; penetrou profundamente na
alma e produziu ali um resultado muito peculiar.
Suponha um homem doente, no qual certas funções
não são desempenhadas normalmente. De onde vem
isso? Quem conhece os ensinamentos ocultos sabe que
as irregularidades das funções físicas não têm causas ex-
ternas; qualquer doença que não seja causada por um aci-
dente externo é causada por um distúrbio do corpo eté-
rico. Mas se o corpo etérico está doente, o corpo astral
não está em seu estado normal. Quando um perigo surgiu
no funcionamento dos humores do homem atlante, a or-
dem foi rapidamente restaurada. Durante o sono, o ho-
mem recebeu tal influxo de forças dos mundos espiritu-
ais, que as funções e energias afetadas foram restauradas
e o homem foi curado. A ação de adormecer restaurou a
força saudável. Os antigos médicos egípcios procederam
de maneira semelhante. Eles enfraqueciam artificial-
mente a consciência do paciente para uma espécie de
sono hipnótico, e então podiam manipular as imagens
que surgiam diante de sua alma como bem lhes aprou-
vesse. Eles os dirigiram de tal forma que puderam emitir
forças agindo sobre o corpo físico para curá-lo. Este era

-80-
MITOS E MISTÉRIOS EGÍPCIOS

o significado do sono no templo, que era usado para do-


enças internas. Nós não pegamos doença nenhuma, ne-
nhum remédio, eles o fizeram dormir no templo. Sua
consciência foi abrandada e ele pode contemplar os mun-
dos espirituais. Suas experiências astrais foram então di-
rigidas de tal maneira que lhe forneceram as forças que
restauraram a saúde de seu corpo. Isso não é uma supers-
tição; é um mistério conhecido dos iniciados: eles sa-
biam que podiam introduzir forças espirituais nas visões
dos enfermos. É por isso que a medicina estava intima-
mente ligada ao princípio da iniciação; para curar, resta-
belecemos artificialmente as condições em que vivia o
homem atlante. E uma vez que o homem, adormecido,
não opôs sua consciência desperta à ação deles, as forças
necessárias para a cura podiam operar sem impedimen-
tos. Era assim que funcionava o sono no templo.
Durante a civilização egípcia, o princípio que atuou
na Índia ainda reinava, com os santos Rishis, discípulos
de Manou, o Grão-Mestre da primeira grande civiliza-
ção; eles próprios controlavam os factos e transmitiam
aos seus alunos as forças dos planetas. Durante a pri-
meira cultura da época pós-Atlante, foram os Rishis que
trouxeram este ensinamento sublime, pelo qual os ho-
mens foram conduzidos aos mundos espirituais, até ao
Devachan superior. O que eles viram lá então desceu ao
plano físico nas civilizações subsequentes. Durante a 4ª
civilização pós-Atlante, ele entrou no plano físico na en-
tidade de que falamos acima sob o nome de Brahman, a
quem chamamos de Cristo, que já não tinha que transmi-
tir o espírito, mas que se tornou ele próprio homem, para

-81-
MITOS E MISTÉRIOS EGÍPCIOS

fazer brilhar o misterioso poder da Palavra sobre todos


os homens.
Assim, o Verbo desceu para elevar o homem. O ho-
mem deve compreender como se concretizou este facto
e torná-lo instrumento de uma ação que fecundara o fu-
turo. Devemos saber o que estava antes de nós, para que
possamos dar uma forma cada vez mais espiritual ao que
está em nós e ao nosso redor. Devemos criar um mundo
espiritual para o futuro. Para isso, devemos primeiro
olhar para o Cosmos.

-82-
V

COMO FOI FORMADA A TRINDADE


DO SOL, DA LUA E DA TERRA
OSÍRIS E TYPHON

Procuramos até agora representar a relação entre a


evolução da Terra e a do homem, a fim de compreender
como o passado da Terra e os acontecimentos de sua
evolução se refletem no conhecimento humano, e no
curso das civilizações pós-Atlantes. Descrevemos deste
ponto de vista as experiências profundas do discípulo
dos Rishis, e vimos que essas experiências internas do
neófito representavam, na forma de imagens espirituais,
vistas pela clarividência, os eventos que ocorreram em
nossa terra. , quando ainda continha o Sol e a Lua. Tam-
bém vimos o alto grau de iniciação que o neófito hindu
precisava atingir para poder formar dessa maneira uma
imagem do mundo, uma imagem de um passado muito
remoto. Também vimos como os gregos se sentiram
quando, durante as campanhas de Alexandre, eles entra-
ram em contato com a espiritualidade hindu. O protótipo
do homem, contemplado em espírito, o Brahman dos
Hindus, que mais tarde foi chamado de Eu-Brahma
(Aham Brahma), a quem os gregos chamavam de

-83-
MITOS E MISTÉRIOS EGÍPCIOS

Hércules, tentamos imaginá-la como a reprodução no


plano da alma, dos fatos que realmente aconteceram no
passado. Já vimos que os seguintes períodos da evolução
da Terra se repetiram na civilização persa, depois no
Egito. Para os iniciados persas, apareceu em forma de
quadro o que aconteceu durante a segunda época,
quando o Sol se separou da Terra. E o que aconteceu na
separação da Lua tornou-se visão e princípio de iniciação
entre os egípcios, os caldeus, os babilônios, os assírios.
Para poder penetrar profundamente na alma dos an-
tigos egípcios, é preciso ver com mais detalhes o que
aconteceu na Terra quando o Sol e a Lua se separaram
dela.
Ignoraremos os grandes eventos cósmicos e apenas
estudaremos o que aconteceu na própria Terra. Se olhar-
mos para trás, para a Terra em seu estado original,
quando ainda estava unida ao Sol e à Lua, não encontra-
mos nossos animais, nossas plantas e muito menos nos-
sos minerais. Originalmente, a Terra era habitada apenas
por humanos, era composta de nada além de germes hu-
manos. É verdade que no velho Sol e na velha Lua ha-
viam sido depositados os germes das plantas e dos ani-
mais, que estes também existiam na Terra primitiva, mas
ainda estavam dormindo os germes, que não pareciam
nunca poder eclodir. Quando o Sol se pôs em movi-
mento, só então as sementes, das quais os animais viriam
mais tarde, germinaram. Quando o Sol se separou com-
pletamente da Terra, germinaram as sementes que mais
tarde deram as plantas. Quando a Lua começou a retirar-
se da Terra, formaram-se gradualmente os germes mine-

-84-
MITOS E MISTÉRIOS EGÍPCIOS

rais. Isto é o que temos de reter.


Agora vamos dar uma olhada na própria Terra.
Quando ainda continha o Sol e a Terra, era apenas uma
espécie de nebulosa etérica de imensa extensão, con-
tendo os germes humanos vivos e os germes adormeci-
dos de outros seres: animais, plantas e minerais. Nenhum
olho humano poderia perceber esses seres, porque o ho-
mem ainda existia apenas no estado de semente; por-
tanto, ele não tinha olhos para ver; é por isso que eles só
podem tornar-se visíveis em retrospectiva para o clarivi-
dente. Nossa descrição deve corresponder à visão que al-
guém teria tido naquele momento em qualquer parte do
espaço cósmico. No antigo Saturno, também, um olho
físico não poderia ter visto nada. Naquela época, a Terra
em sua primeira forma era uma névoa vaporosa, da qual
apenas o calor era perceptível. Dentro desta massa, esta
névoa etérica original, gradualmente formou uma esfera
vaporosa e luminosa, que já poderíamos ter visto, se
existissem então seres dotados de olhos, E se pudésse-
mos perceber pelo sentido do tato, teríamos tido a im-
pressão de um espaço aconchegante; muito parecido
com a sensação de dentro de um forno. Essa massa ne-
bulosa rapidamente se tornou luminosa. E ela carregava
dentro de si todos os germes de que acabamos de falar.
Não cometa o erro de pensar que isso é uma névoa, de
uma nuvem como as que vemos hoje; todas as substân-
cias que agora são líquidas ou sólidas foram então dis-
solvidas ali. Todos os metais, todos os minerais, tudo es-
tava na forma de vapor, um vapor transparente e lumi-
noso, uma névoa impregnada de calor e luz. Tente ima-

-85-
MITOS E MISTÉRIOS EGÍPCIOS

ginar que você está se banhando nisso. A névoa etérica


tornou-se um gás luminoso. Isso se tornou mais claro e
brilhante, e foi a condensação gradual do gás que aumen-
tou a luz, de modo que em um ponto, essa névoa assumiu
a aparência de um grande sol brilhando no espaço cós-
mico. Aconteceu realmente, quando a Terra ainda conti-
nha o Sol, quando estava tudo diáfano e irradiava sua luz
para o universo. Esta luz permitiu não só ao homem vi-
ver na Terra na forma que então tinha, mas também a
outros seres superiores, que sem ter um corpo físico, es-
tão ligados à evolução do homem, anjos, arcanjos, ar-
chai, etc. Esses não estavam sozinhos; nesta plenitude de
luz ainda viviam seres superiores a eles: as Virtudes ou
Exousiai ou Espíritos da Forma, as Dominações ou Dy-
namis ou Espíritos do Movimento, os Principados ou
Kyriotetes ou Espíritos da Sabedoria, e aqueles a quem
chamamos de Tronos ou Espíritos da Vontade; enfim,
menos unidos a essa esfera luminosa, cada vez mais se-
parados dela, os querubins e os serafins. A Terra era um
corpo celeste habitado por toda uma hierarquia de seres
inferiores e entidades sublimes. E essa luz que ela emitiu
para o mundo, com a qual todo o seu corpo estava im-
pregnado, não era apenas luz, era também o que mais
tarde se tornaria o objeto da missão terrena: era a força
do amor. O amor era a parte essencial dessa luz. Deve-
mos, portanto, imaginar que não é apenas a luz física que
irradia, mas que essa luz é animada, espiritualizada pela
força do amor. É algo difícil para uma mente moderna
imaginar. Não há pessoas hoje, que descrevem o Sol
como uma simples bola de gás da qual a luz escapa? Esta

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MITOS E MISTÉRIOS EGÍPCIOS

é a única representação, totalmente material, que temos


hoje do Sol - exceto, é claro, os ocultistas. Qualquer pes-
soa que hoje lê uma descrição do Sol, conforme encon-
trada nos livros actuais, aqueles livros que são o alimento
espiritual de incontáveis seres, não chegou a conhecer a
verdadeira natureza do Sol. Descrever o Sol dessa ma-
neira é equivalente a ver no homem nada além de cada-
vre. A descrição do Sol na física astronómica corres-
ponde à realidade, assim como o cadáver, em relação ao
homem, corresponde à realidade.
Quem vê apenas o cadáver ignora o que há de essen-
cial no homem; da mesma forma, o físico que descreve
o Sol não o vê realmente, quando acredita ter encontrado
suas partes componentes por análise espectral; o que ele
descreve é apenas o corpo externo do Sol. Cada raio do
sol emite para todos os seres terrestres a força das enti-
dades superiores, que habitam o Sol, e com a luz do raio,
desce para nós a força do amor, aquela força que, na
terra, irradia de um coração para o outro, de um homem
para outro. O Sol não pode enviar luz física para a terra;
esta luz contém, o que também forma o sentimento de
amor mais apaixonado e intenso. Com ela, as forças dos
Tronos, os Seraphins, dos Querubins e toda a hierarquia
de entidades superiores que residem no Sol, e que não
precisam de nenhum outro corpo além da luz, são derra-
madas sobre a terra. Tudo o que está no Sol hoje, foi uma
vez unido à Terra; por isso todos esses seres também
eram assim e ainda são.
Não esqueçamos que o homem, que outrora estava
no último degrau da escala dos seres superiores, já exis-

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MITOS E MISTÉRIOS EGÍPCIOS

tia em estado de germe, filho recém-nascido da Terra,


carregado e protegido por essas altas entidades, vivendo
em seu seio. O homem que viveu naquela época tinha,
porque ainda vivia no seio de entidades divinas, um
corpo muito mais subtil. A consciência, que vê a clari-
dade torna possível perceber que o corpo de alguém era
apenas uma fina forma vaporosa, um corpo de gás ou ar,
um corpo todo penetrado, todo luz irradiada. Imagine
uma nuvem de forma regular, como um cálice alargado
para cima, e veja este cálice todo penetrado de luz - e
teremos o homem de outrora, que naquela época estava
começando a adquirir uma consciência vaga, como as
plantas têm hoje. Isso não significa que as pessoas eram
o que as plantas são hoje; eles eram como nuvens de luz
penetrando luz e calor, em forma de cálice, nenhum con-
torno fixo os separava da massa da terra toda.
Essa foi a forma humana uma vez: um corpo físico
de luz, ainda participando da força da luz. Graças a esta
delicadeza do corpo, não só o corpo etérico, o corpo as-
tral e o eu, puderam entrar no homem no início de sua
evolução, mas também as altas entidades espirituais, uni-
das à Terra, puderam descer nele. No passado, o homem
ainda mergulhou como se tivesse raízes no mundo das
entidades divinas, e estas o penetraram. É realmente
muito difícil descrever a magnificência da Terra e dar
uma ideia de como foi aquela época. Devemos imaginar
a Terra como uma bola diáfana, rodeada de nuvens que
irradiam luz, dando origem a magníficos jogos de cores.
Se tivéssemos sido capazes de estender a mão em dire-
ção a esta terra para senti-la, teríamos percebido uma im-

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MITOS E MISTÉRIOS EGÍPCIOS

pressão de calor. Massas luminosas e cálidas povoaram


o espaço, e nessas massas foram encontrados todos os
seres humanos de hoje, envoltos, embalados no seio de
entidades espirituais; estes emitiam, fielmente, a luz ra-
diante para fora. Lá fora, o universo terrestre em sua
imensa variedade; por dentro, o homem banhado em luz,
unido a entidades divinas e espirituais, das quais brilha-
vam raios de luz em direção aos confins externos. O ho-
mem estava preso ao seio luminoso de nossa Terra, como
por um cordão umbilical da divindade. No seio cósmico
do mundo vivia o homem, a planta luminosa, confundida
com o manto de luz da Terra. Nesta forma de planta va-
porosa, o homem foi carregado e protegido por nossa
mãe a Terra, ainda presa ao cordão umbilical. Como
hoje, de forma mais material, o embrião da criança é car-
regado e protegido no corpo materno, assim, nos tempos
antigos, o embrião humano repousava no corpo terreno.
Então o Sol começou a se desprender, levando con-
sigo as substâncias mais finas. Houve um tempo em que
as altas entidades solares abandonaram a humanidade,
quando tudo o que hoje constitui o Sol deixou nossa
Terra, abandonando-a às substâncias menos espirituais.
Quando o Sol se separou, o vapor terrestre se condensou
em água e, em vez de uma terra nebulosa, tivemos uma
esfera terrestre líquida. No meio estavam as águas primi-
tivas, mas não rodeadas de ar; lentamente as águas se
transformaram em brumas densas e espessas, que se tor-
naram cada vez mais finas. A terra deste período é, por-
tanto, uma terra líquida; contém substâncias moles, ro-
deadas de névoas que se iluminam cada vez mais até

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MITOS E MISTÉRIOS EGÍPCIOS

às esferas superiores onde tomam a forma de vapores


muito finos. É assim que a nossa Terra nos parece neste
momento. Ela havia se transformado, e os homens tive-
ram que mergulhar sua forma gasosa e luminosa nessas
águas turvas, encarnando-se ali na forma de massas lí-
quidas dentro da água, como antes eram formas de gás
na água. O homem se tornou uma forma líquida, mas não
totalmente. O homem nunca foi completamente imerso
na água. Este é um factor importante na evolução. Aca-
bamos de dizer que a Terra é completamente líquida em
seu meio, e que o homem era apenas parcialmente uma
forma líquida; atingiu o envelope de vapor, então era
meio líquido e meio gás. Abaixo, na água, o homem
nunca poderia ter recebido as forças do Sol; a massa lí-
quida era tão densa que a luz do sol não conseguia passar
por ela. Por outro lado, podia penetrar um pouco na
massa gasosa, de modo que o homem vivia parte na água
escura, privada de luz, e parte no vapor banhado por essa
luz. Algo, entretanto, havia permanecido na massa lí-
quida que agora descreveremos. No início, a Terra não
era apenas luminosa, radiante, mas também musical, e o
Som permanecia com ela; quando a luz a abandonou,
quando a água escureceu, ela permaneceu internamente
penetrada pelo Som, e é precisamente o Som que deu
forma à água, como observamos aliás pela conhecida ex-
periência física. O som é uma força formativa, distribui
e ordena as partes de um todo. E foi essa força que for-
mou o corpo humano na água, foi a força do som que
permaneceu na Terra. O som, a tônica que ressoa pela
terra, deu origem à forma humana. A luz pode penetrar

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MITOS E MISTÉRIOS EGÍPCIOS

até mesmo aquela parte do homem que excede a massa


líquida. Abaixo, um corpo líquido, em cima um corpo
gasoso acariciado pela luz externa, ao qual chegaram os
seres que se afastaram com o Sol. Anteriormente,
quando o Sol ainda estava unido à Terra, o homem vivia
dentro deles; doravante, eles enviaram sua luz radiante
para ele, penetraram nele com sua força. Mas não vamos
esquecer que depois que o Sol partiu, as forças permane-
ceram unidas à Terra, que se separariam dela: as forças
da lua.
Naquela época, portanto, quando o Sol acabava de
se separar da Terra, a forma humana, semelhante a uma
planta, teve que mergulhar no corpo físico líquido da
Terra. A forma que então assumiu, encontramo-la dege-
nerada, fixa nos peixes. Os peixes são os restos decaden-
tes de seres humanos antigos. Imagine um ser parecido
com um peixe dourado, com formas vegetais extraordi-
nárias, extremamente móvel, mas cheio de saudade, por-
que a luz havia sido retirada da água. A luz não estava
mais lá e sua ausência causou uma nostalgia muito pro-
funda. Houve um momento na evolução da Terra em que
o Sol ainda não havia se separado completamente dela;
você podia ver a forma humana ainda banhada em luz, a
parte superior ainda na atmosfera solar, a parte inferior
já assumindo a forma que havia se estabelecido na de
peixe. Metade da forma humana vivia nas sombras; era
animado por instintos muito baixos porque nesta parte
residiam as forças da lua. Sem ainda estar petrificado
como lava na lua actual, ele foi animado por forças muito
sombrias. Apenas as partes mais baixas do astral pode-

-91-
MITOS E MISTÉRIOS EGÍPCIOS

riam permanecer lá. Mas acima, a cabeça, por assim di-


zer, era uma forma vaporosa penetrada por uma luz que
lhe deu sua forma, de modo que o homem era composto
de uma parte superior e uma parte inferior. Nadando e
pairando ao mesmo tempo, ele se movia nesta atmosfera
vaporosa. A densa atmosfera da Terra ainda não era feita
de ar, era constituída por vapor; não por ar pelo qual o
Sol poderia ter passado. O calor poderia penetrar nesta
atmosfera, mas a luz não. O raio de sol só poderia acari-
ciar a superfície da Terra; o oceano terrestre permaneceu
escuro. Nesse oceano estavam contidas as forças que,
formando a Lua, posteriormente, se separaram da Terra.
Ao mesmo tempo que as forças da luz, os deuses,
entraram na Terra: portanto, temos abaixo do manto lí-
quido, abandonado pelos deuses, penetrado apenas pela
força do Som, e na periferia, o vapor no qual irradiam as
forças do Sol. Tanto que o homem, com a parte de seu
corpo que se projetava da superfície líquida, ainda parti-
cipava da luz, do amor, que descia para ele do mundo
espiritual. Por que o núcleo líquido escuro da Terra foi
penetrado pelo mundo dos Sons?
Porque um dos espíritos elevados do Sol havia fi-
cado para trás, amarrando seu destino ao da Terra. Este
é o espírito que conhecemos como Yahweh ou Jeová.
Sozinho, ele permaneceu com a Terra; ele se sacrificou,
e foi seu ser mais íntimo que deu forma à Terra líquida,
a fez vibrar, ressoar.
Mas o pior, as forças mais terríveis tendo permane-
cido mescladas com a Terra líquida, a parte superior e
vaporosa do homem descia cada vez mais e, aos poucos,

-92-
MITOS E MISTÉRIOS EGÍPCIOS

a forma vegetal se transformava em uma espécie de an-


fíbio. Esta forma, que na escala dos seres é muito inferior
ao que posteriormente se tornou do homem, é descrita
em lendas e mitologias sob o nome de dragão, salaman-
dra. E a outra parte do homem, o habitante das regiões
luminosas, se reapresenta como um ser que não pode
cair, que luta contra a natureza inferior, um São Miguel,
por exemplo, o conquistador do dragão, ou um São
Jorge. Siegfried representa outro aspecto dessa luta com
o dragão, dessa dualidade que a forma humana então
apresentava. O calor então penetrou na parte superior da
Terra, e ao mesmo tempo na parte superior do homem
físico, e fez dele uma espécie de dragão de fogo. Mas
acima dele ergueu-se o corpo etéreo, no qual a força do
Sol foi preservada. Temos, portanto, uma forma que o
Antigo Testamento corretamente representou no aspecto
da Serpente Tentativa, que também é um anfíbio, um ser
duplo.
Aproximava-se o tempo em que as forças inferiores
seriam expulsas da Terra. Catástrofes gigantescas as der-
rubaram, e as actuais formações bálticas aparecem para
o ocultista como resquícios da acção das forças purifica-
doras que cercaram o corpo da Terra, quando a Lua dele
se separou. Este também é o momento em que a parte
líquida central da Terra fica cada vez mais espessa e o
núcleo mineral sólido é formado. Por um lado, a Terra
condensou ao perder a Lua; por outro lado, as partes su-
periores de sua atmosfera cederam às partes inferiores
suas substâncias mais pesadas e menos finas, e acima
gradualmente se formou algo que se tornou semelhante

-93-
MITOS E MISTÉRIOS EGÍPCIOS

ao nosso ar, embora ainda estivesse carregado de água.


A Terra tinha um núcleo sólido em seu centro e a água a
rodeava em todas as partes. A névoa na periferia era a
princípio imune aos raios do sol, mas à medida que cer-
tas substâncias se assentavam, ficava cada vez mais leve.
Mais tarde transformou-se em ar e, aos poucos, os raios
do Sol, que nem mesmo podiam atingir a Terra, conse-
guiram passar pela atmosfera.
Estamos chegando a uma fase de evolução que ten-
taremos representar para nós mesmos. Anteriormente, o
homem estava meio mergulhando na água, meio emerso
na névoa; à medida que a Terra se torna mais densa, o
homem líquido adquire a possibilidade de endurecer a
sua forma, de ter um sistema ósseo. Ele endurece por si
mesmo. A parte superior do ser humano se transforma,
adquirindo uma nova faculdade que antes não tinha, a de
respirar o ar. Nesse momento, pela primeira vez, encon-
tramos os pulmões. A parte superior do homem já foi ex-
posta à luz, mas não conseguiu penetrar mais. A partir de
agora, o homem encontra em sua consciência obscura a
impressão de luz. São para ele as forças divinas que são
derramadas sobre ele, que irradiam para ele. Nesse mo-
mento de transição, ele sente que esse esplendor se di-
vide em duas partes: o ar, a respiração do ar que entrou
em seu corpo; e a luz que agora o alcança; agora o ar está
entrando nele. E o homem, neste momento, adquire esta
percepção: A força que antes sentia acima de mim me dá
o que preciso agora para respirar; a luz tomou o lugar da
minha respiração. No passado, o ar e a luz eram iguais
para ele.

-94-
MITOS E MISTÉRIOS EGÍPCIOS

Agora eles estão separados. O sopro do ar terreno,


que entrou no homem, ao mesmo tempo anunciou-lhe
que estava prestes a entrar num novo mundo. Enquanto
apenas a luz existiu, o homem não conheceu o nasci-
mento e a morte. No passado, quando ainda era uma nu-
vem diáfana, às vezes se transformava, um pouco como
trocar de roupa: não tinha a impressão de nascer ou mor-
rer: sentia-se eterno; nascimento e morte eram para ele
apenas mudanças entre outras. Com o primeiro sopro de
ar entrou nele a consciência do nascimento e da morte:
“O ar, o sopro, separado de seu irmão, o raio de luz - tais
foram as impressões do ex-homem -; ele também sepa-
rou dela os seres que antes estavam unidos a ela, ele
trouxe a morte. “
Quem, então, é esse ser que apagou, matou a consci-
ência do homem e que se expressou assim: “Minha
forma é escura, mas estou unido ao ser eterno. “Foi o
sopro de ar que entrou no homem, - Tufão; Typhon sig-
nifica sopro de ar. A alma egípcia, revivendo o que havia
acontecido antes, a separação do raio original em raio de
luz e sopro de ar, simbolicamente a representa no assas-
sinato de Osíris por Typhon ou Set, o sopro do vento.
Este é o grande evento cósmico oculto no mito egíp-
cio de Osíris morto por Tífon. Para o egípcio, o Deus que
veio do Sol e primeiro viveu em paz com seu irmão, foi
Osíris. O tufão era o ar que respiramos, que fez do ho-
mem um ser mortal. Este é um dos exemplos mais mar-
cantes de como os factos da evolução do mundo se repe-
tem no conhecimento interior dos homens.

-95-
MITOS E MISTÉRIOS EGÍPCIOS

Assim nasceu a Trindade: Sol, Lua e Terra. Tudo


isso foi ensinado ao neófito egípcio em imagens de
grande profundidade depositadas intencionalmente em
sua consciência.

-96-
VI

A INFLUÊNCIA DE ÍSIS E OSÍRIS


ALGUNS FACTOS SOBRE ANATOMIA
E FISIOLOGIA OCULTA

A evolução da Terra, do sistema solar, a evolução do


homem, como acabamos de descrever, pode ter atingido
mais de um de vocês. Pareceu-lhe, talvez, que essas de-
clarações estranhas contradiziam opiniões familiares; e
você disse a si mesmo: Vimos que as forças mais perni-
ciosas da evolução estão ligadas à Lua, de modo que a
Lua deve se separar da Terra para que esta última esteja
em condições favoráveis ao progresso do homem. Mas
onde está a lua poética que conhecemos em tudo isso,
essa doçura romântica, nascida de sentimentos reais,
composta por todos os efeitos mágicos que a lua exerce
sobre o homem? – O contraste é apenas aparente, e de-
saparece no momento em que estudamos os factos, não
apenas de um lado, mas abrangendo todos os seus aspec-
tos ao mesmo tempo. Se examinássemos as propriedades
físicas da massa solar hoje, veríamos que ela é inade-
quada para sustentar a vida como se manifesta na Terra.
Ao mesmo tempo, devemos ver que a força etérica

-97-
MITOS E MISTÉRIOS EGÍPCIOS

ligada às substâncias físicas da Lua está enfraquecida,


decadente, ao lado de nossa própria vida etérica. E se
chegássemos ao ponto de estudar, com a ajuda da clari-
vidência, a astralidade dos seres lunares - da qual nos é
perfeitamente permitido falar - poderíamos nos conven-
cer de que existem sentimentos infinitamente piores, in-
feriores à expressão mais feia de que existe na terra. Há,
portanto, na Lua, os seres que, tanto por seu físico,
quanto por seu etérico e por sua astralidade, tiveram que
ser rejeitados da terra, para que ela pudesse continuar sua
jornada, livre de sua influência.
No entanto, quando algo é considerado ruim, você
não deve parar por aí. Pois na evolução, a existência de
tudo que é baixo e vil corresponde a algum evento im-
portante. Tudo o que caiu nas esferas inferiores deve ser
purificado, elevado, por outros seres mais perfeitos, para
que ainda possa colaborar na obra universal. Quando en-
contramos seres particularmente inferiores em qualquer
parte do universo, podemos ter certeza de que seu des-
tino está ligado ao dos seres elevados, tão ricos em bon-
dade, beleza e perfeição que podem, conduzir as piores
forças para o bem. E se tudo o que é inferior está unido
à Lua, é verdade que, por outro lado, os melhores e mais
perfeitos seres estão ligados à sua existência. Já sabemos
que na Lua reside, por exemplo, a entidade espiritual al-
tíssima de Yahweh; um ser tão perfeito, dotado de uma
tal força, de tal riqueza, é auxiliada por muitas tropas de
bons servos. Estes são os seres inferiores que deixaram
a Terra ao mesmo tempo que a Lua; mas, ao mesmo
tempo, os seres capazes de transformar o mal em bem,

-98-
MITOS E MISTÉRIOS EGÍPCIOS

o feio em beleza, permaneceram unidos à lua. Isso não


poderia ter sido feito se eles tivessem deixado as forças
do mal no corpo da Terra; eles tiveram que tirá-los. - Mas
por que tudo isso, porquê o feio, porquê o mal? - O mal
era necessário, porque sem sua influência o homem
nunca poderia ter evoluído, não poderia ter se tornado
um ser autônomo, independente, completo. - Lembre-
mos nosso estudo anterior; vimos que a natureza inferior
do homem está imersa na água, que metade de seu ser
excede a massa líquida escura da Terra. Naquela época
não havia ossos, não havia forma humana fixa. O homem
era um ser vegetal, semelhante a uma flor, preso em uma
metamorfose contínua. E teria parado aí, sem a ação das
forças lunares. Se a Terra tivesse permanecido exposta
apenas à influência do Sol, a mobilidade e a instabilidade
do homem teriam aumentado dramaticamente; a Terra
teria evoluído com uma velocidade que o homem não
poderia suportar; a forma humana actual nunca poderia
ter nascido. Por outro lado, se as forças da Lua tivessem
agido sozinhas, o homem teria ficado imediatamente pe-
trificado; sua forma teria permanecido imutável desde o
momento de seu nascimento; ele teria se tornado uma
múmia para sempre. O homem desenvolve-se hoje, a
uma distância igual desses dois extremos: entre a mobi-
lidade infinita e a parada, na forma.
A Lua física nada mais é do que escória, porque nela
residem as forças que fixam a forma. Somente as entida-
des altamente poderosas que estão unidas à Lua podem
atuar nessas formas.
Dois grupos de forças dirigem sua influência para a

-99-
MITOS E MISTÉRIOS EGÍPCIOS

Terra: as forças do Sol e as da Lua, uma estimulante e


outra petrificante. Imagine que um gigante enorme vie-
sse roubar o Sol. Naquele mesmo instante, ficaríamos
congelados como múmias, e tão duros, que nunca mais
poderíamos perder nossa forma. Mas suponha que um
gigante venha e leve embora a Lua: todos os belos gestos
medidos, contidos e harmoniosos que podemos fazer,
desapareceriam, dariam lugar a tiques nervosos. Estaría-
mos interiormente em constante movimento; nossa mo-
bilidade nos permitiria passar por constantes transforma-
ções; poderíamos de repente estender nossa mão indefi-
nidamente e, em seguida, enrugá-la. A força da meta-
morfose invadiria tudo. - Actualmente, o homem man-
tém um equilíbrio entre esses dois grupos de forças.
O Cosmos está cheio de sabedoria, não apenas nas
substâncias e formas nele contidas, mas também na rela-
ção das coisas entre si. E para evocar diante de nossa
alma a infinita sabedoria que a anima, vamos estudar
uma dessas relações em relação a Osíris.
O egípcio viu em Osíris a influência da estrela solar
em nossa terra numa época em que ela ainda estava en-
volta em névoas vaporosas, quando o ar ainda não exis-
tia; para ele, o instante em que o homem começou a res-
pirar foi quando a entidade Osíris-Set se dividiu. Isto é
pela ação de Set ou Typhon que o sopro de ar entrou em
nós; Typhon, o sopro do vento, foi separado da luz do
Sol, e Osíris não era mais do que essa luz. É também o
momento em que o ser humano se submete ao nasci-
mento e à morte. O que costumava acontecer como uma
mudança de forma, bem como uma peça de roupa que

-100-
MITOS E MISTÉRIOS EGÍPCIOS

você coloca e tira, mudou dramaticamente. Numa época


em que as forças que vinham das altas entidades solares
ainda não haviam deixado a Terra, se o homem pudesse
então experimentar um sentimento, ele teria levantado
para esses seres solares um olhar cheio de reconheci-
mento. Mas quando, mais e mais, o Sol se afastou da
Terra, e a névoa em que residia a natureza humana supe-
rior se dissipou, o homem, incapaz de perceber a influ-
ência direta do Sol, começou a perceber as forças de seu
ser inferior: e é lá, que ele se apodera de si mesmo, que
se apossa dele. Quanto mais ele mergulhava na parte in-
ferior de seu ser, mais ele se tornava consciente de si
mesmo.
Mas por que a entidade que conhecemos como Osí-
ris escureceu? - Com a partida do Sol, a luz deixou de
agir, mas Yahweh permaneceu na Terra, até a lua recuar;
Osíris era o espírito que continha a essência solar dentro
dele; quando a Lua se separou da Terra, ele recebeu a
missão de acompanhá-la, de emitir os raios solares refle-
tidos dali para a Terra. Vimos o Sol recuar primeiro;
Yahweh permanece na Terra com os seus, com Osíris. O
homem aprende a respirar. Ao mesmo tempo, a Lua está
recuando; Osíris vai com ela e recebe a tarefa de refletir
a luz do sol de volta para a Terra. Quando a lenda diz que
Osíris é colocado em um baú, significa que ele se retira
com a lua. Anteriormente, o homem recebeu do Sol a
acção de Osíris; ele agora sente que o que antes vinha do
Sol, agora vem da lua. Quando a luz luminosa incidiu
sobre o egípcio, o homem disse: “É você, Osíris, quem,
na Lua, faz brilhar para mim a luz do Sol, a essência do

-101-
MITOS E MISTÉRIOS EGÍPCIOS

seu ser. “
Mas a luz do Sol é refletida pela Lua de uma forma
diferente a cada dia. O primeiro é quando a Lua está no
céu apenas um crescente muito fino; a segunda é a lua
do segundo dia, já mais forte, e assim por diante, qua-
torze formas que correspondem aos quatorze dias até a
lua cheia. Durante quatorze dias, Osíris está voltado para
a Terra nas quatorze formas diferentes apresentadas pelo
disco lunar. São extremamente importantes essas qua-
torze formas, essas quatorze fases pelas quais passa a
Lua, ou seja, Osíris, para nos devolver a luz do Sol. Eles
estão unidos no Cosmos com o evento pelo qual o ho-
mem aprendeu a respirar. O homem não conseguia res-
pirar até que esse fenômeno ocorresse perfeitamente no
céu; só então o homem se uniu ao mundo físico, e o pri-
meiro germe do eu, pôde nascer em seu ser.
O conhecimento egípcio deu mais tarde origem à
lenda que acabamos de descrever: Osíris uma vez gover-
nou a Terra, mas um dia Typhon apareceu, o vento. (Este
é o momento em que a água se condensa completamente
o suficiente para que o ar apareça, e o homem aprende a
respirar). Tífon derrotou Osíris, matou-o, meteu-o num
baú e entregou-o ao mar. (Como pode alguém expressar
o evento cósmico numa imagem mais significativa? Em
primeiro lugar, o Deus Sol Osíris reina, depois é expulso
com a Lua; a Lua é o baú que é atirado de volta ao oceano
cósmico; Osíris está agora no espaço). A lenda acres-
centa que quando Osíris é encontrado, seu corpo é cor-
tado em quatorze fragmentos. Foi dividido em quatorze
pedaços, enterrados em quatorze lugares diferentes. Este

-102-
MITOS E MISTÉRIOS EGÍPCIOS

é o símbolo maravilhoso de um processo cósmico. As


quatorze faces da lua, as fases lunares, são as quatorze
peças do corpo desmembrado de Osíris. Todo o Osíris é
o disco lunar visível.
A princípio, tudo isso parece um símbolo. Mas ve-
mos que há uma realidade por trás disso. Agora chega-
mos a uma chave sem a qual não se pode aceder os mis-
térios do Cosmos. Se esta harmonia entre as forças do
Sol, da Lua e da Terra não tivesse se formado, se a Lua
não tivesse aparecido em catorze fases diferentes, algo
não teria acontecido. Cada um deles exerceu uma grande
influência na evolução do homem na Terra. Vou dizer-
lhe algo que o surpreenderá, mas que, no entanto, é cor-
reto, no passado, antes de Osíris se retirar da Terra, o
homem, em sua forma luminosa, estava desprovido de
algo que é hoje, da maior importância: a espinal medula.
Vos sabeis que partem dela os nervos. Eles também
não existiam, mesmo em germe, durante o tempo em que
a Lua ainda estava unida à Terra. As quatorze fases da
Lua, em sequência, resultaram na formação de quatorze
cordões nervosos ao longo da coluna vertebral. Por meio
da ação de forças cósmicas, as quatorze fases ou formas
da Lua corresponderam aos quatorze núcleos nervosos.
Este é o resultado da ação de Osíris. O ciclo lunar tam-
bém corresponde a outra coisa; porque essas quatorze fa-
ses ainda são apenas metade dele.
Existem quatorze de lua nova a lua cheia e quatorze
de lua cheia a lua nova. Durante este segundo período, a
influência de Osíris não foi sentida. É para o seu lado
escuro que a Lua gira em direção à Terra, até a lua nova.

-103-
MITOS E MISTÉRIOS EGÍPCIOS

- As catorze fases deste segundo período também têm


influência, e a consciência egípcia expressou essa influ-
ência na forma de Ísis. Essas quatorze fases são gover-
nadas por Ísis. Graças à ação de Ísis, quatorze outros cor-
dões nervosos se originam na medula espinhal. Existem,
portanto, ao todo vinte e oito cordões nervosos, que cor-
respondem às diferentes fases da lua. É assim que os
eventos cósmicos estão na origem de partes do orga-
nismo humano. Mas, na realidade, o homem não possui
apenas vinte e oito cordões nervosos. Haveria apenas
vinte e oito, na verdade, se o ano lunar coincidisse com
o ano solar. No entanto, o ano solar é mais longo do que
o ano lunar, e é essa diferença que causou a formação
dos cordões nervosos adicionais. É que nós encontramos
no organismo humano a influência de Osíris e Ísis vindos
da Lua. Outra coisa está ligada a esse facto.
Até a Lua começar a agir de fora sobre a Terra, não
havia dois sexos. Havia então apenas um ser humano,
tanto homem quanto mulher. A separação dos sexos
ocorre sob a ação alternada de Ísis e Osíris, alternância
que nos chega da Lua e, dependendo se são os nervos de
Osíris ou os nervos de Ísis que exercem sobre o orga-
nismo uma ação maior, o ser humano torna-se homem
ou mulher. Um organismo onde a influência de Ísis é
preponderante torna-se masculino, um corpo onde pre-
valece a influência de Osíris torna-se feminino. Claro,
ambas as forças operam em cada ser, masculino ou fe-
minino, mas de tal maneira que no homem o corpo eté-
rico é feminino e na mulher o corpo etérico é masculino.
Esta é uma das relações maravilhosas que unem o ser

-104-
MITOS E MISTÉRIOS EGÍPCIOS

humano às fases da vida cósmica.


Vimos que não apenas as forças dos corpos celestes,
mas também as diferentes combinações de suas posições
recíprocas, atuam sobre o homem. Sob a influência das
vinte e oito cordas nervosas que se originam da medula
espinhal, o organismo masculino e o feminino foram for-
mados. Vejamos agora um facto que nos iluminará pro-
fundamente o Cosmos e a relação que ele tem com a evo-
lução do ser humano. - Essas forças são aquelas que dão
ao homem sua forma, mas essa forma não congela; ela
estabelece um equilíbrio entre a influência do Sol e da
Lua. Não esqueçamos a seguir que não se trata de qual-
quer símbolo, mas de factos reais.
Quem é Osíris originalmente, o Osíris indiviso?
Quem é o Osíris fragmentado? - O que antes existia no
homem agora está dividido em vinte e oito nervos. É em
nós mesmos que a separação é realizada. Sem ele, a
forma humana nunca teria surgido. O que primeiro se
formou sob a influência do Sol e da Lua? A colaboração
de todas as cordas nervosas não só trouxe a diferenciação
externa dos sexos, mas também na alma do ser humano
algo se formou sob a influência do duplo princípio mas-
culino ou feminino. A ação de Ísis no corpo resultou nos
pulmões. O pulmão é o regulador das influências do
Typhoon ou Set. E de Osíris veio a influência que aciona
esse órgão devido à força feminina, que torna o pulmão
produtivo por meio da respiração. Os cheiros que ema-
nam do Sol e da Lua regulam a dupla ação do princípio
masculino e feminino: em cada ser feminino um princí-
pio masculino - a laringe; em todo ser masculino, um

-105-
MITOS E MISTÉRIOS EGÍPCIOS

princípio feminino - o pulmão.


Ísis e Osíris estão activos em todas as almas huma-
nas. Todo ser humano participa de ambos os sexos, pois
tem pulmão e laringe. Todo o ser, seja homem ou mu-
lher, tem o mesmo número de nervos. Tendo assim sur-
gido das regiões inferiores da natureza humana, Ísis e
Osíris tiveram um filho, o criador do futuro homem ter-
reno. Eles deram à luz Hórus. Isis e Osíris deu à luz uma
criança que sua mãe cuida e protege, é o coração hu-
mano, que abriga as asas dos pulmões, a mãe, Ísis. Essa
concepção egípcia nos mostra que, nas antigas escolas
de mistérios, a parte superior do ser humano era consi-
derada o produto de uma dupla ação masculina e femi-
nina; isso é o que o hindu chamava de Brahma. O neófito
hindu já via na forma original do homem esse ser supe-
rior que apareceu aos egípcios, o menino Hórus. E o neó-
fito hindu ouviu dizer: Tudo isso nasceu do Som primor-
dial, do Vha, o Som que se diferenciava em vários sons.
Esta experiência do neófito hindu foi guardada para nós
em uma curiosa passagem do Rigveda. Aqui está esta
passagem: “Para o homem vem o sete de baixo, o oito de
cima, o nove de trás, o dez das abóbadas da rocha e o dez
de dentro, enquanto a mãe se ocupa da criança que deve
beber.” Esta é uma passagem estranha. Imaginemos esta
Ísis, de que vos falei, o pulmão, este Osíris que descrevi,
o sistema respiratório, e reflitamos sobre como a voz
emerge através destes órgãos, como se diferenciam em
sons vindos do palato ou dos pulmões, então se trans-
forma em sílabas. Essas sílabas vêm de lados diferentes:
sete vêm de baixo, da laringe, etc. A vida misteriosa de

-106-
MITOS E MISTÉRIOS EGÍPCIOS

todo o nosso sistema respiratório se resume nesta frase.


Onde o som se diferencia e se forma, é aí que está a mãe,
que cuida e protege o filho: a mãe: isso é o pulmão; a
criança: é o coração humano, formado por tantas influ-
ências diversas, de onde vêm os impulsos que produzem
a voz humana.
Foi assim que a vida misteriosa que anima o Cosmos
foi revelada ao neófito, como foi se desenrolando ao
longo do tempo. E veremos como os outros órgãos do
corpo humano se vieram juntar a isso. Esta ciência eso-
térica egípcia é ao mesmo tempo um capítulo da anato-
mia oculta ensinada nas escolas secretas egípcias - na
medida em que se conhecesse as relações que existem
entre as entidades cósmicas e o corpo físico do homem.

-107-
VII

O DESENVOLVIMENTO DO ORGANISMO HUMANO


ATÉ À PARTIDA DA LUA.
OSÍRIS E ISIS FORMAM A PARTE SUPERIOR
DO SER HUMANO.

Em palestras anteriores, percorremos um longo ciclo


de eventos relativos à relação entre a evolução da Terra,
o sistema solar e a natureza humana. Estamos particular-
mente apegados ao estudo dos eventos dessa evolução
encontrados nos mistérios egípcios, mistérios conheci-
dos tanto pelos neófitos quanto pelo povo como um todo.
Através da visão clarividente, o neófito adquiriu todo
esse conhecimento que estudaremos mais de perto hoje.
A grande massa do povo, que não podia chegar à clari-
vidência, aprendeu tudo isso com a ajuda de um pro-
fundo simbolismo, o mais importante de toda a concep-
ção egípcia, de que já falamos. É o da lenda de Ísis e
Osíris. Tudo mundo conhece a narrativa e acha que faz
sentido. Para o egípcio, não era apenas uma bela história;
é mais ou menos assim que foi dito:
Nos tempos antigos, Osíris reinou por muito tempo
para a felicidade dos homens; ele reina até uma certa
época, posteriormente caracterizada pelo facto de o Sol

-108-
MITOS E MISTÉRIOS EGÍPCIOS

estar no signo de Escorpião. Foi neste ponto que seu ir-


mão, Typhon ou Set, matou Osíris. Ele o matou fazendo-
o entrar em um baú que ele fechou e que ele entregou ao
mar. Ísis, a irmã e esposa de Osíris, procura seu irmão e
marido, e quando ela o encontrou, ela o trouxe para o
Egito. Mas Typhon, o mal, ainda queria fazê-lo desapa-
recer; ele o cortou em pedaços. Ísis recolheu as diferen-
tes peças e enterrou-as em diferentes locais. (Vários tú-
mulos de Osíris ainda são mostrados no Egito hoje). En-
tão Isis teve um filho, Hórus, que vingou de Typhon a
morte de seu pai Osíris. Osíris retomou seu lugar no
mundo dos seres espirituais divinos, e se ele não vive
mais na terra, ele ainda trabalha para o homem quando
ele reside no mundo espiritual entre a morte e um novo
nascimento. É por isso que, no Egito, o caminho percor-
rido pelos mortos era chamado de caminho que leva a
Osíris. Esta é a lenda que pertence aos elementos mais
antigos da mitologia egípcia. Embora muitas outras par-
tes dessa concepção tenham sido transformadas ou au-
mentadas, a lenda de Osíris continuou em todos os cultos
do Egito enquanto as religiões egípcias viveram.
Depois de ter recordado esta lenda, na qual se resu-
mem os factos reais, tal como o neófito os contemplava
nos sagrados mistérios das escolas esotéricas, voltemos
ao estudo mais detalhado, iniciado ontem, da influência
das diferentes fases do lua no homem. Vimos que vinte
e oito cordões nervosos que começam na medula espi-
nhal correspondem às vinte e oito fases diferentes da
Lua, durante as quais completa um ciclo completo. Des-
vendamos o mistério das forças cósmicas que causaram

-109-
MITOS E MISTÉRIOS EGÍPCIOS

a formação desses vinte e oito pares de nervos no ho-


mem. Agora vou pedir a vossa total atenção. Veremos,
tão exatamente quanto é possível fazer em um esboço tão
breve, o que o neófito egípcio aprendeu sobre o desen-
volvimento posterior do homem. Essa descrição fará as
pessoas dizerem que as ideias modernas em anatomia já
estavam profundamente moldadas: Mas isso é um ab-
surdo! Deixe-os dizer. Deixe-os saber apenas que esta é
a doutrina da qual os neófitos egípcios tinham uma visão
perspicaz. Eu falo agora por aqueles cujos corações me
podem seguir. Essa doutrina não é apenas fruto da visão
ocultista dos egípcios; ainda é uma verdade para o ocul-
tista moderno e aparece para ele exatamente da mesma
maneira.
O clarividente egípcio podia ver, assim como o
hindu, a forma original que o homem alcançaria mais
tarde. Ele foi capaz de seguir em sua mente a formação
lenta e progressiva do germe humano. A primeira forma
que este germe assumiu, quando o Sol ainda estava há
muito tempo unido à Terra, foi uma espécie de planta,
cuja corola estava aberta para o céu. Essas formas, nas-
cidas da névoa original, encheram quase toda a Terra.
Mas logo no início de sua formação, quando nasceram,
como uma coroa de corolas se abrindo para o espaço cós-
mico, eles eram quase invisíveis; você só poderia sentir
seu calor ao se aproximar deles. No máximo, eles eram
apenas um corpo de calor. Enquanto o Sol ainda estava
unido à Terra, essa forma começou a brilhar e a emitir
raios de luz para o espaço cósmico. Se, naquela época,
um ser dotado de um olhar como o dos homens de hoje

-110-
MITOS E MISTÉRIOS EGÍPCIOS

se aproximasse dessa forma luminosa, ele as teria distin-


guido como uma esfera regular cintilante, radiante, como
um sol brilhante, que enviava ao espaço raios de luz. Mal
podemos ter uma noção de como a Terra era anterior-
mente. Para imaginá-lo, seria preciso imaginar que, em
uma noite muito pura, o solo estaria coberto de vaga-lu-
mes irradiando sua luz para o espaço. Assim irradiou no
mundo a primeira forma humana, quando o Sol ainda es-
tava unido à Terra. Na mesma época, uma espécie de
corpo gasoso se formou em torno dessa imensa corola.
Esse gás continha em suspensão muitas substâncias,
como hoje são encontradas no corpo de humanos e ani-
mais de muitas substâncias, líquidas ou sólidas; eles fo-
ram então todos carbonatados. Mas logo depois, mais
germes ainda brotavam de seio da Terra, as primeiras se-
mentes do nosso atual reino animal. O homem apareceu
primeiro, depois vieram os germes dos animais. A terra
inteira ainda é composta de uma massa de ar, composta
de corpos luminosos que irradiam no espaço. Nesta
massa apareceu o primeiro germe de animais assexua-
dos, que estavam então no último degrau de nosso actual
reino animal, e nós veremos que esses animais tiveram
certa importância para o desenvolvimento do homem.
Assim foram traçados os primeiros germes dos ani-
mais, e o importante é que eles formaram naquela época
as mais densas massas gasosas. Eles se desenvolveram
por meio de várias metamorfoses. Quando o Sol deixou
a Terra, a forma animal mais evoluída era a dos peixes.
Mas essa não era a forma actual dos peixes, embora es-
tivesse no mesmo grau de evolução. Nossos peixes, fixa-

-111-
MITOS E MISTÉRIOS EGÍPCIOS

ram em sua forma o nível de evolução que foi alcançado


antes de o Sol deixar a Terra. Este condensado, tornou-
se líquido. Nesta massa de terra líquida nadaram as for-
mas mais densas de animais. Foi então que aconteceu um
evento singular. Algumas dessas formas originais per-
maneceram animais e não continuaram a progredir com
a evolução. Mas alguns outros entraram em contacto
com formas humanas, e da seguinte maneira.
No momento em que o Sol se separou da Terra, esta
começou a girar em torno de seu eixo; as faces da Terra
se apresentavam alternadamente à luz, e essa alternância
de luz e sombra formava-se dia e noite (I). Mas então, os
dias e as noites eram visivelmente mais longos do que
são hoje. Sempre que uma dessas formas humanas, agora
mais densas, estava no lado ensolarado da Terra, uma das
formas animais se juntava a ela na massa líquida da
Terra. A forma animal unida à forma humana: em cima
a forma humana, em baixo a forma animal; muito desen-
volvida e esticada em direção ao Sol, a parte superior foi
enfraquecendo para baixo, e foi adicionado o corpo do
animal. À medida que as forças do Sol passaram pela na-
tureza superior do homem, abrindo-se como uma flor,
elas passaram a agir sobre as forças internas da Lua e da
Terra. Ao corpo humano foi adicionada uma forma ani-
mal que estava no nível evolutivo de peixe; e é por isso
que se diz que o Sol estava neste momento no signo de
Peixes. De facto, no céu, o Sol estava realmente no signo
de Peixes, mas ainda cruzava frequentemente esta

(I). Veja: G, Wachsmuth: The Etheric World. Capítulo III,

-112-
MITOS E MISTÉRIOS EGÍPCIOS

constelação antes que a próxima forma nascesse. O


ponto onde o que estamos estudando neste momento co-
meçou a tomar forma, está localizado no momento em
que, no céu, o Sol estava no signo de Peixes, esta cons-
telação recebeu justamente o nome de Peixes porque a
forma animal que veio juntar-se ao homem estava, nessa
época, no mesmo grau de evolução dos peixes.
Sabemos que depois disso, a Lua e a Terra ainda são
um corpo. Yahweh, quando o Sol se separou da Terra,
permaneceu com as forças da Lua, e entre seus servos
está o deus a quem os egípcios chamavam de Osíris. A
evolução continuou de forma singular até ao momento
em que a Lua se separou da Terra.
Antes, com a partida da Lua, a Terra era líquida e as
formas humanas tomaram formas muito grosseiras.
Quando a lua partiu, a parte inferior do ser humano es-
tava mais ou menos no nível da salamandra aquática.
Isso é o que a Bíblia chama de Serpente, também conhe-
cido como Dragão. À medida que a Lua se afasta, o reino
animal penetra cada vez mais na parte inferior da forma
humana. Quando a separação é realizada, o homem flu-
tua na massa líquida; sua parte inferior apresenta uma
forma animal, feia, e na parte superior estão os últimos
resquícios de uma forma luminosa, na qual as forças do
Sol se vêm derramar. Estas, pelo menos, não abandona-
ram o homem. E essa forma luminosa emerge sobre o
mar original. Nesse ínterim, além disso, essa forma lu-
minosa se transformou; tornou-se um órgão de percep-
ção imenso e poderoso. Quando a Lua deixou a Terra, a
transformação foi concluída. Graças a este órgão, o ser

-113-
MITOS E MISTÉRIOS EGÍPCIOS

humano, como que com a ajuda de uma espécie de lâm-


pada, sentiu a aproximação de qualquer elemento peri-
goso; agora está atrofiado, é comumente chamado de
glândula pineal. A parte superior do crânio de crianças
muito pequenas ainda, mostra um lugar muito macio, as
fontanelas; este é aproximadamente o ponto onde o ór-
gão em questão surgiu.
O homem assimilou formas animais cada vez mais
elevadas; a certa altura da formação do corpo humano, o
ser resultante da transformação dos peixes foi denomi-
nado: Aquário (em latim “Aquarius”), porque vivia na
água, e que continha o germe da futura forma humana.
Um progresso na forma que correspondia ao que foi cha-
mado de Capricórnio. Curiosamente, as partes inferiores
do corpo humano, à medida que se formavam, na ver-
dade deram seu nome à constelação correspondente ao
tempo de sua formação. Os pés correspondem a Peixes;
a parte inferior das pernas para Aquário, graças à qual
um homem podia andar enquanto nadava; os joelhos es-
tão relacionados ao signo de Capricórnio. A animalidade
cresceu mais e mais; a forma que corresponde às coxas
foi chamada de Sagitário. Explicar essa expressão nos
levaria longe demais. Eu só vou dar uma ideia de como
era a forma humana quando a evolução das formas ani-
mais passou pelo estágio de Sagitário. Naquela época, o
homem era um animal que começou a se mover nas ilho-
tas emergindo gradativamente das águas. A parte supe-
rior do homem era muito refinada e ainda terminava com
a corola de que acabamos de falar, que a iluminava como
uma espécie de lamparina. Naquela época, os humanos

-114-
MITOS E MISTÉRIOS EGÍPCIOS

eram mais etéreos em sua parte superior e semelhantes


aos animais em sua parte inferior. Reproduções muito
antigas do Zodíaco representam Sagitário como um ser
meio homem, meio animal. Isso realmente corresponde
ao grau de evolução que o homem estava então, assim
como o centauro, metade homem, metade cavalo, real-
mente corresponde a um estágio da evolução humana. O
cavalo não deve ser tomado literalmente aqui, mas deve
ser considerado como o representante de toda a raça ani-
mal. Esse foi o princípio que guiou os artistas no pas-
sado; a obra de arte reproduzia a visão espiritual que ha-
viam obtido dos objetos, ou que os clarividentes lhes dis-
seram. Os artistas muitas vezes eram eles próprios inici-
ados. Diz-se, por exemplo, de Homero que ele era um
vidente cego; isso significa que ele era clarividente. Ele
estava lendo na Crónica do Akasha. Homero, o vidente
cego, viu em espírito muito melhor do que os outros gre-
gos. O Centauro, portanto, corresponde a uma verdadeira
forma humana. Na época em que o homem realmente se
parecia com isso, a Lua ainda não havia se separado da
Terra. O homem ainda tinha o órgão que se formou du-
rante o período solar: a glândula pineal luminosa, que ele
usava na cabeça como um farol. Quando a Lua se sepa-
rou da Terra, ocorreu a diferenciação dos sexos. O ho-
mem-centauro não tinha sexo. A diferenciação dos sexos
ocorreu na época em que o Sol estava no signo de Escor-
pião, por isso os órgãos genitais são pareados com Es-
corpião. Este signo corresponde ao nível de evolução das
formas animais que o homem havia alcançado na época
da formação dos sexos. Por sua parte superior,

-115-
MITOS E MISTÉRIOS EGÍPCIOS

o homem estava unido às forças cósmicas; em sua parte


inferior, foi sexuado a partir dessa época. Quando o vi-
dente neófito dos mistérios egípcios dirigiu seu olhar
para estes tempos de evolução terrestre, viu a terra povo-
ada por seres humanos cuja parte inferior tomava cada
vez mais corpo, e cuja parte superior era formada por um
ser luminoso.
Então chegou o momento em que, graças às forças
da Lua, cordões nervosos se formaram ao longo da espi-
nha dorsal. A parte que supera a espinha dorsal, agora a
cabeça, também se condensou e se transformou, dando
origem ao cérebro humano, o resultado da metamorfose
completa do órgão luminoso. Desse cérebro começou a
coluna vertebral, à qual os cordões nervosos estavam li-
gados, e abaixo da qual estava o homem inferior, como
acabamos de descrevê-lo.
Foi isso que o neófito egípcio viu, e ele entendeu que
um ser espiritual, quem quer que fosse, tinha que, para
ser encarnado na terra, assumir a forma humana como
era na época de sua encarnação. Osíris frequentemente
vinha à Terra e assumia a forma humana ali. Os humanos
então expressariam seus sentimentos dizendo: “Um deus
desceu. Mas esse deus apareceu em forma humana. Todo
ser espiritual que desceu à terra assumiu a forma que o
ser humano tinha naquela época. No passado, você ainda
podia ver esse órgão luminoso, esse estranho ornamento
de cabeça, a lâmpada de Osíris, que era simbolicamente
representado pelo olho do Ciclope. Este é um órgão que
foi primeiro encontrado fora do corpo humano e, mais
tarde, transformado em um órgão dentro do cérebro. Os

-116-
MITOS E MISTÉRIOS EGÍPCIOS

menores detalhes das criações artísticas da antiguidade


são símbolos de realidades.
Quando os iniciados gregos souberam desses segre-
dos egípcios, muitas coisas já eram conhecidas por eles,
a maior parte do que o iniciado egípcio sabia. Eles ape-
nas usaram outras palavras. Os iniciados egípcios desen-
volveram muito seus dons de clarividência, de modo que
muitos de seus seguidores podia ver os tempos distantes
do passado. O iniciado egípcio estava unido por um sen-
timento profundo a todos esses mistérios; e é por isso que
os sacerdotes gregos lhe apareceram como crianças ga-
guejando suas primeiras letras. Isso é muito bem carac-
terizado pela frase que um sacerdote egípcio proferiu a
Sólon: “Ó Sólon, Sólon, vocês helenos sempre permane-
cerão crianças, não há velhos entre vocês!” Vocês são
todos jovens de espírito, pois os seus conhecimentos não
se baseiam numa tradição milenar, não possuem os ve-
neráveis conhecimentos adquiridos ao longo dos sécu-
los”. (Platão: Timeu e Crítias). Assim, o egípcio indicava
que a sabedoria de seus mistérios superava infinitamente
o conhecimento adquirido com a ajuda dos sentidos.
Apenas os mistérios de Elêusis dispensaram essa mesma
sabedoria; mas muito poucos tiveram acesso a ele. O ini-
ciado egípcio conhecia esses períodos da história da
terra, a separação do deus Osíris e o Sol, a vinda de Osí-
ris à Lua de onde retornava a luz do Sol; esse conheci-
mento também formou a ciência sagrada dos gregos.
Eles também sabiam que é o deus Osíris quem forma as
vinte e oito fases da Lua e que, portanto, moldou as vinte
e oito cordas nervosas do homem. Foi Osíris quem for-

-117-
MITOS E MISTÉRIOS EGÍPCIOS

mou todo o sistema nervoso espinhal e, ao mesmo


tempo, toda a parte superior do corpo humano. Porque o
músculo deve sua forma ao nervo que o esculpe. Todas
as outras partes, músculos, cartilagens, órgãos do cora-
ção e pulmões, tomaram forma graças aos nervos. Sob a
influência do sol, a matéria do cérebro e da medula espi-
nhal foi formada, e as vinte e oito influências de Osíris e
Ísis são vistas a trabalhar de fora na medula espinhal. Pe-
los cordões sensoriais que o cérebro envia para a medula
espinhal, passa a ação de Ísis e Osíris. Isso os gregos
também sabiam e, quando aprenderam sobre os mistérios
egípcios, reconheceram que Osíris era o deus que cha-
mavam de Apolo. Disseram: O egípcio Osíris é nosso
Apolo e, como ele, age com os nervos, para que no ho-
mem a vida da alma seja animada.
Vamos esboçar rapidamente essa acção. Represente-
mos esquematicamente o cérebro, continuado pela me-
dula espinhal, à qual estão ligadas as vinte e oito mãos
de Osíris, que vêm brincar com seus vinte e oito braços
na corda que desce do cérebro, como numa lira. É o que
os gregos, por meio de uma imagem impressionante,
chamam a lira de Apolo. Basta imaginá-lo de cabeça
para baixo: o cérebro é a lira, os nervos são as cordas que
vibram sob os dedos de Apolo. Apolo toca a lira cós-
mica, a obra-prima formada pelo Cosmos, e faz vibrar
no homem os sons que enchem a vida da alma. Foi dessa
forma que os iniciados nos mistérios de Elêusis viram o
que os egípcios expressaram em outras imagens. Esses
símbolos nos ensinam que devemos ter cuidado para não
os interpretar esquematicamente, pois isso introduziria

-118-
MITOS E MISTÉRIOS EGÍPCIOS

fantasia; essas imagens são, na verdade, muito mais pro-


fundas do que qualquer coisa que a inteligência possa
encontrar nelas. Quando o clarividente grego falou de
Apolo, ele viu diante dele o mistério de Apolo-Osíris e o
instrumento humano. E o neófito egípcio viu Osíris na
frente dele quando se apresentou ao iniciado aos misté-
rios da vida na Terra. Devemos, portanto, dizer a nós
mesmos que esses símbolos que foram preservados até
nós, e que são a expressão real do passado misterioso,
têm um significado muito mais profundo do que qual-
quer coisa que a inteligência possa compreender. Essa
lira, essas mãos de Apolo eram visíveis. O caráter essen-
cial de cada símbolo é que ele é baseado em uma visão
real. Todos os símbolos, todas as lendas correspondem a
realidades.
O discípulo egípcio que estava para ser iniciado só
obteve acesso a esses mistérios após uma longa prepara-
ção. Ele aprendeu pela primeira vez de um ensino que se
assemelhava um pouco à Teosofia Elementar. Em se-
guida, ele foi autorizado a fazer os exercícios. Ele estava
então em uma espécie de êxtase que ainda não era uma
verdadeira clarividência, mas que não deixava de ser
mais do que um sonho. Ele viu vagamente o que mais
tarde deveria contemplar em imagens. Como em um so-
nho enorme e vivo, ele viu a Lua separada da Terra,
acompanhado por Osíris, ele viu este, direcionando sua
acção para a Terra. Na verdade, ele sonhou com a lenda
de Osíris e Ísis. E assim, para cada neófito. Cada um de-
les teve que passar por isso. Porque sem ele não poderia
ver os factos reais. O neófito teve que passar pela fase da

-119-
MITOS E MISTÉRIOS EGÍPCIOS

imagem, da imaginação; ele teve que viver internamente


a lenda de Osíris e Ísis. Esse estado de espírito extático
foi uma espécie de grau preparatório para a verdadeira
clarividência, o prelúdio para ver o que está acontecendo
no mundo espiritual. O neófito não podia ler na crônica
do Akasha os factos que acabaram de ser descritos hoje
apenas quando ele atingiu aquele grau de iniciação de
que acabamos de falar, e que continuaremos a estudar
amanhã. Também falaremos sobre os outros signos do
Zodíaco e seu significado.

-120-
VIII

A EVOLUÇÃO GRADUAL DAS FORMAS HUMANAS


ELIMINAÇÃO DE ENTIDADES ANIMAIS
OS QUATRO TIPOS HUMANOS

Acabamos de reconhecer processos evolutivos im-


portantes no organismo humano. Acompanhamos esse
organismo em sua formação até ao momento em que a
Lua se separou da Terra. “Momento” é apenas uma ma-
neira de falar aqui; este evento preencheu longos espaços
de tempo. Entre o momento em que a Lua esboçou sua
separação pela primeira vez e o momento em que foi in-
teiramente separada, infinitos tempos se passaram, du-
rante os quais a evolução continuou. Acompanhamos a
evolução do homem durante esses tempos. O corpo, em
sua parte inferior, até cerca da linha do quadril, estava
começando a se parecer mais ou menos com o corpo hu-
mano actual; em todo caso, essa parte inferior do corpo,
embora ainda fluida, já seria visível aos olhos de hoje,
enquanto a parte superior só era visível ao olhar clarivi-
dente; é isso que a imagem do Centauro evoca. Algumas
partes do corpo humano foram formadas então, que pos-
teriormente se tornaram os pés, pernas, joelhos, coxas.
Eles já representaram certas formas de animais terrestres
que congelaram em um determinado estágio de evolu-

-121-
MITOS E MISTÉRIOS EGÍPCIOS

ção pelo qual o homem passou. Vamos olhar mais de


perto.
Em tempos muito recuados, quando o Sol partiu,
ainda não havia formas de animais. Depois que o Sol
partiu, a forma animal mais perfeita foi representada por
uma espécie que estava no mesmo estágio de evolução
dos peixes de hoje. Porque se diz que os pés humanos
correspondem a esta forma de peixe e que existe uma re-
lação entre pés e peixes? Isso ocorre porque, no mo-
mento em que essas formas animais semelhantes a pei-
xes nadaram na massa de terra líquida, apenas os pés hu-
manos estavam fisicamente formados, visíveis. O resto
era feito de uma substância etérea. Esta forma de cálice,
esta corola aérea, este órgão luminoso de que falamos,
era inteiramente etérico, e apenas a parte muito inferior
do homem assumia uma consistência física dentro da
massa líquida, como peixes, que, por sua vez, permane-
ceram neste estágio de evolução. Posteriormente, formas
animais mais evoluídas foram formadas; é lembrado em
imagens como o Aquário, que retrata o homem como seu
corpo era visível até a linha do joelho. À medida que o
homem avança nos graus de sua evolução, ele deixa para
trás, a cada passo, certas formas animais que ultrapassa.
E quando a Lua começou a se separar da Terra, a metade
inferior do corpo humano já estava formada fisicamente,
e a metade superior estava toda pronta para tomar forma.
Vimos então como as influências lunares entram em
ação, na forma que os egípcios personificaram em Osí-
ris; vimos como essas influências deram origem ao orga-
nismo mais importante na parte superior do corpo, os

-122-
MITOS E MISTÉRIOS EGÍPCIOS

nervos, dos quais se formou a metade superior de nosso


corpo actual. Os nervos da medula espinhal formam a
parte superior do corpo humano. Sob a influência dos
sons que Osíris-Apolo retira da lira humana, a parte mé-
dia do corpo, os quadris, é formada primeiro. Tudo o que
deve ter permanecido neste ponto da evolução, pelo qual
o homem passou, fixou-se na forma de anfíbio. Enquanto
a Lua permaneceu unida à Terra, teve o efeito de dimi-
nuir o nível de evolução tanto quanto possível. A forma
do peixe ainda estava relacionada ao Sol, e é isso que um
homem normal sente hoje ao ver um peixe. Pense na ale-
gria que se sente ao olhar para o belo corpo reluzente de
um peixe, os animais coloridos que habitam as águas, e
pense na aversão que o homem sente ao ver animais que,
no entanto, são mais evoluídos. Como peixes, anfíbios,
rãs, sapos, cobras, rastejando e se contorcendo na terra.
Os anfíbios de hoje são formas bastante degeneradas dos
animais do passado, mas a parte inferior do corpo hu-
mano, em um ponto da evolução, tinha essa forma. En-
quanto apenas a parte inferior do corpo era formada, o
homem parecia uma espécie de anfíbio; isto só mais
tarde, quando a metade superior tomou forma, a metade
inferior se transformou. Podemos dizer que a forma do
peixe reproduz aquela em que o homem estava sob a in-
fluência das forças a que foi submetido quando o Sol
ainda estava unido à Terra; o homem permaneceu neste
nível até a hora da partida do sol.
As grandes mentes, os guias da evolução, separa-
ram-se da Terra, construíram o Sol, não devendo reunir-
se com a Terra senão muito mais tarde. Um deles, o mais

-123-
MITOS E MISTÉRIOS EGÍPCIOS

sublime dos espíritos solares que dirigem a evolução, é


Cristo. Um profundo respeito nos penetra quando fica-
mos sabendo que até este momento o homem estava
unido a essa entidade, a esse espírito sublime que deixou
a Terra com o sol. Os homens sentiram que podiam sim-
bolizar pela forma do peixe o momento em que o Sol
deixou a Terra e a própria forma que Cristo deu ao corpo
humano. Antigamente, o homem estava unido ao Sol na
Terra, e quando o Sol se afastou, a forma que ele havia
recebido dos espíritos do Sol apareceu para ele na forma
de um peixe. Ele continuou a evoluir, mas os espíritos do
Sol não o estavam mais ajudando. Cristo deixou a Terra
quando o homem estava na forma de um peixe. É esta
forma que os iniciados do primeiro período da era cristã
conservaram. O peixe das catacumbas romanas era o
símbolo de Cristo e lembrava o grande acontecimento da
evolução, o tempo em que Cristo ainda estava unido aos
homens na Terra. O homem atingiu o nível de peixe em
seu desenvolvimento quando o Sol se separou da Terra;
para os primeiros cristãos, o símbolo do peixe, que re-
presentava a forma dada aos homens por Cristo, tinha um
significado infinitamente profundo. Que mundo entre
este signo, que nos parece o símbolo de uma era cósmica,
e as explicações superficiais que muitas vezes são dadas!
Os verdadeiros símbolos são aqueles que se apoiam em
altas realidades espirituais. Eles fizeram mais do que
“significar” algo para os primeiros cristãos; eles foram o
próprio traço de um evento espiritual, e nenhum símbolo
pode ser interpretado com certeza até que você saiba
como relacioná-lo com a realidade espiritual que ele re-

-124-
MITOS E MISTÉRIOS EGÍPCIOS

presenta. Toda especulação filosófica só pode preparar a


mente; a frase “isso significa” não é suficiente; você só
reconhece um símbolo ao descobrir a realidade espiritual
que ele contém.
Assim, o homem assumiu gradualmente as mais di-
versas formas. A menos harmoniosa dessas formas físi-
cas é a que tinha quando foi condensada nos quadris. É
esta forma, mas degenerada, que encontramos na ser-
pente: O tempo em que o homem toma a forma de anfí-
bio, quando a Lua ainda se confunde com a Terra, é um
tempo de vergonha, de mal, em curso de evolução. Se, a
essa altura, a Lua não tivesse deixado a Terra, a raça hu-
mana estaria condenada a um destino terrível, teria des-
cido a formas cada vez mais baixas e horríveis. É por
isso que se justifica o sentimento de antipatia que toda
alma simples e natural sente diante de uma cobra, uma
lembrança daquela época. Estas são precisamente as al-
mas simples, aquelas que não dizem a si mesmas que não
pode haver nada de feio na natureza, que sentem nojo ao
ver uma cobra, porque a cobra é o testemunho vivo da
vergonha humana. Não estamos falando aqui do ponto
de vista da moralidade; é simplesmente o nível mais
baixo de evolução que o homem atingiu.
Este nível, ele tinha que ultrapassá-lo. Ele só poderia
chegar lá abandonando a forma animal e condensando
gradualmente a parte superior espiritual de seu corpo.
Mas essa parte mais nobre só poderia ter-se desenvol-
vido graças às forças de Osíris e Ísis. Para que essas for-
ças de Osíris agissem sobre ela, algo muito importante
precisava acontecer primeiro. Até agora, a medula espi-

-125-
MITOS E MISTÉRIOS EGÍPCIOS

nal estava na posição horizontal; era a parte superior do


homem que tinha as forças para endireitá-la até à posição
vertical. Isso aconteceu sob a influência de Ísis e Osíris.
Grau por grau, o Sol e a Lua, equilibrando-se, conduzi-
ram o homem através da evolução. Quando ele assumiu
a forma física até a altura do quadril, o Sol e a Lua se
equilibrando formaram um equilíbrio; é por isso que os
quadris combinam com Libra. Ao mesmo tempo, o Sol
estava neste momento no signo de Libra.
Porém, não se deve imaginar - repitamos expressa-
mente - que os quadris se formaram assim que o Sol atin-
giu o signo de Escorpião, depois de Libra. Seria ver as
coisas com muita pressa. O Sol atravessa todo o Zodíaco
em 25.920 anos. A certa altura, o Sol nasceu na prima-
vera no signo de Áries, anteriormente no de Touro. O
ponto vernal continuou a avançar; o Sol cruzou o signo
de Touro. Por volta de 747 aC, ele reentrou em Áries; em
nosso tempo, na primavera, o Sol nasce nos Peixes. O
tempo que o Sol leva para passar por um signo do Zodí-
aco certamente já é longo o suficiente, mas não teria sido
suficiente para que se cumprisse a fase de evolução du-
rante a qual o corpo humano passou por órgãos sexuais
correspondentes a Escorpião na linha de os quadris que
correspondem a Libra. Seria errado acreditar que isso
poderia ter acontecido durante o tempo em que o Sol
cruza um único signo do Zodíaco. Ele primeiro atravessa
todo o Zodíaco antes que a “transformação ocorra. Em
tempos ainda mais remotos, ele o circulou várias vezes
antes que a evolução desse um passo à frente. É por isso
que não temos permissão para usar o calendário do perí-

-126-
MITOS E MISTÉRIOS EGÍPCIOS

odo pós-atlante. Antes que a evolução desse um passo, o


Sol teve que girar em torno do Zodíaco, mesmo várias
voltas em tempos ainda mais antigos. O tempo corres-
pondente à formação das partes do corpo que eram mais
lentas para se construir era obviamente mais longo. O
homem continua sua evolução ascendente. O próximo
grau que ele atinge, onde as partes são formadas a parte
inferior do tronco, é representado pelo Signo de Virgem.
À medida que o corpo humano tomava forma, as en-
tidades animais paravam sucessivamente nos níveis que
o homem ultrapassava. Nós já vimos que o homem foi
capaz de formar seus pulmões, coração e laringe com as
forças da Lua, e Osíris e Ísis estiveram envolvidos na
formação desses órgãos. Mas os órgãos superiores do
homem, como o coração, pulmões, laringe, etc., não fo-
ram formados apenas porque as partes espirituais da en-
tidade humana: corpo etérico, corpo astral e até mesmo
o Eu já puderam participar de seu treinamento. Esses ele-
mentos superiores trabalharam muito mais do que no
passado na construção do corpo humano, desde que o ní-
vel de Libra foi ultrapassado. Daí uma extrema diversi-
dade de formas, dependendo se a influência do corpo eté-
rico, ou do corpo astral, ou mesmo do eu, fosse prepon-
derante. Também pode acontecer que seja o corpo físico
que predomina. Dessas várias possibilidades, resultou a
formação de quatro tipos humanos.
Havia um certo grupo de homens cujos corpos físi-
cos eram particularmente trabalhados; outros extraíam
seus caracteres do corpo etérico, em outros ainda era o
astral que predominava. Havia também Homens-Eu, en-

-127-
MITOS E MISTÉRIOS EGÍPCIOS

tre os quais a influência do Eu tinha sido claramente pre-


ponderante. Cada ser humano trazia a marca do elemento
que predominava nele. Na época em que esses quatro ti-
pos foram formados, pode-se ter visto formas implausí-
veis, e o clarividente que as vê sabe descobrir o que cons-
titui esses diferentes tipos. Há representações pictóricas
dessas coisas, certamente pouco conhecidas, mas que fi-
caram na memória. Naquelas onde a natureza física era
preponderante, onde actuava sobre as partes superiores
do corpo, estas assumiram uma forma particular. Esta
forma, era adaptada nas partes inferiores do corpo, pre-
servado em Touro Apocalíptico. O touro atual é uma
forma decadente disso. Tudo o que uma vez foi formado
sob a influência particularmente activa do corpo físico
permaneceu no nível do touro. O touro e todos os ani-
mais de sua espécie, vacas e gado de todos os tipos, são
seus representantes. Certos grupos de homens estavam
em outro nível, e com eles era o corpo etérico que foi
especialmente formado, com ele todas as partes do
tronco perto do coração; o nível desse grupo de seres hu-
manos também foi fixado no reino animal, em Leão. O
leão recebeu a impressão do tipo humano em que o corpo
etérico esteve muito activo. A raça móvel de pássaros
representa - em uma forma certamente enfraquecida - o
nível dos homens em que o corpo astral predominou so-
bre o corpo etérico e sobre o corpo físico; ele é represen-
tado no Apocalipse pela Águia. A astralidade predomi-
nante neste grupo foi eliminada pelos humanos - dando
origem às espécies de pássaros. E onde o eu era o mais
forte, aparecia um ser que unia em si as três outras natu-

-128-
MITOS E MISTÉRIOS EGÍPCIOS

rezas, pois o eu estabelecia um equilíbrio harmonioso


entre os três outros elementos humanos. Esta é a imagem
da Esfinge, meio leão, meio touro, com asas de águia.
Nas estátuas mais antigas da esfinge, ainda encontramos
a cauda da serpente, testemunha da antiga forma do rép-
til; a frente do corpo finalmente representa a forma hu-
mana, que harmoniza as outras três.
Estes são os quatro tipos de humanidade, entre os
quais, nos tempos da Atlântida, o tipo homem predo-
mina, porque aos poucos a forma humana vai se desen-
volvendo, unindo e harmonizando dentro dela a Águia,
o Leão e o Touro. Essas três tendências se fundem para
dar origem à forma humana perfeita, e essa forma, gra-
dualmente transformada, torna-se a forma da era atlante.
Outro processo está ocorrendo paralelamente a este de-
senvolvimento. Acabamos de ver que quatro tendências,
quatro tipos de formas se combinaram harmoniosamente
para formar o homem. Um corresponde ao corpo físico,
a Touro: essas são as forças que se formaram em parti-
cular até a época de Libra. O corpo etérico é representado
por Leão. As forças astrais pela Águia ou Abutre e, fi-
nalmente, as forças do Eu pela verdadeira natureza hu-
mana. Em cada indivíduo, uma ou outra dessas quatro
tendências predominou. Foi assim que nasceram quatro
tipos diferentes de seres humanos. Mas outras combina-
ções ainda poderiam ocorrer: aconteceu, por exemplo,
que o corpo físico, o corpo astral e o Eu exerceram uma
influência igual, e que eles foram dominados pelo corpo
etérico, que deu origem a um tipo particular de humani-
dade. Por outro lado, havia outro grupo de seres em que

-129-
MITOS E MISTÉRIOS EGÍPCIOS

o corpo físico era dominado pelos corpos superiores, o


corpo etérico, o corpo astral e eu. Outro grupo de indiví-
duos, nos quais o corpo físico, o corpo astral e o eu, pre-
dominaram, são os ancestrais físicos dos homens, en-
quanto aqueles nos quais o corpo etérico, o corpo astral
e o eu, tiveram uma influência preponderante são os an-
cestrais físicos das mulheres. Os outros tipos desapare-
ceram gradualmente. Apenas esses dois sobreviveram e
deram nascimento aos corpos masculinos e femininos.
A influência pela qual esses dois tipos de formas se
desenvolveram é a das diferentes forças de Osíris e Ísis.
Já vimos que as fases da lua nova, da lua escura, corres-
pondem ao princípio de Ísis, enquanto o brilho da lua
cheia caracteriza as forças osirianas. Ísis e Osíris residem
na Lua, mas seu trabalho é realizado na Terra. Foi por
meio deles que a raça humana foi dividida em dois sexos.
Os ancestrais femininos da humanidade foram formados
sob a influência de Osíris, os ancestrais masculinos sob
a de Ísis. Essas influências são transmitidas através dos
cordões nervosos pelos quais a humanidade foi separada
em homens e mulheres. É o que diz a lenda quando diz
que Ísis está procurando Osíris; o elemento masculino e
o elemento feminino procuram um ao outro na terra.
Aqui temos uma nova prova de eventos cósmicos, cujo
segredo maravilhoso foi depositado em lendas. A dife-
renciação dos sexos foi impressa nas partes superiores da
natureza humana apenas quando o grau de Libra foi ex-
cedido. Os animais já eram bissexuais há muito tempo
quando os humanos se tornaram bissexuais. Houve um
tempo em que a raça humana não se dividia em sexos

-130-
MITOS E MISTÉRIOS EGÍPCIOS

diferentes, quando não existia o modo de reprodução que


surgiu depois, quando a natureza humana confundiu os
dois sexos em um só ser, “E Deus criou o homem mas-
culino-feminino diz a Bíblia, e não “homem e mulher”
(I). Ele criou ambos em um ser, e isso é uma tradução
muito má do que aquela que diz: ele criou “um homem e
uma mulher”, porque não corresponde em nada à reali-
dade.
Houve, portanto, um tempo em que a natureza hu-
mana não conhecia a divisão dos sexos, em que cada ser
humano dava à luz permanecendo puro. A tradição egíp-
cia nos transmite a visão que seus iniciados tiveram deste
estado de humanidade. Já falei em outro lugar das repre-
sentações muito antigas de Ísis: vemos uma Ísis ali que
alimenta Hórus, e atrás da qual está uma segunda Ísis,
com asas de abutre, que segura a cruz ancorada para Hó-
rus. Isso indica que o homem nasceu em uma época em
que os diferentes tipos ainda estavam separados; a astra-
lidade só entrou no homem mais tarde. Esta segunda Ísis
simboliza a preponderância que o elemento astral já teve.
As forças que foram subsequentemente unidas na forma
humana são representadas por trás da mãe; elas são re-
presentadas pela forma astral que agora teria asas de abu-
tre se tivesse permanecido puramente astral. Uma ter-
ceira Ísis com cabeça de leão, que está bem atrás, repre-
senta a época em que o corpo etérico teve peso prévio.
Esta tripla representação de Ísis surgiu do conhecimento
clarividente.

(I). Ver: Rudolf Steiner: As Manifestações do Karma, 9ª conferência.

-131-
MITOS E MISTÉRIOS EGÍPCIOS

É fácil entendermos que a separação dos sexos não


poderia ocorrer repentinamente, que um período de tran-
sição era necessário, um estado intermediário entre este
modo de reprodução virginal onde a fecundação ocorria
sob a influência das forças vivas do jogo terrestre ao
mesmo tempo, o papel do princípio fértil e da reprodução
bissexual. Este não alcançou seu funcionamento perfeito
senão no meio da era atlante. Durante o período de tran-
sição que ocorre antes dessa época, uma transformação
ocorreu em algum ponto do estado de consciência do ho-
mem. Naquela época, as mudanças que ocorriam no es-
tado de consciência dos homens ocorriam em períodos
muito mais longos do que em nosso tempo. Nessa época,
o homem sentia muito a vida noturna durante a qual es-
tava entre seus companheiros espirituais. Por outro lado,
a consciência diurna estava fraca. Esse estado de consci-
ência deu lugar a um período durante o qual a consciên-
cia de que o homem é dotado quando está em seu corpo
físico se fortaleceu; ao mesmo tempo, a experiência do
mundo em que ele entra é enfraquecida quando ele deixa
o plano físico à noite. Houve, portanto, um período de
transição entre essas duas formas de consciência. A
consciência do mundo físico ainda estava surda, e foi
nesse estado de consciência enfraquecido que ocorreu a
fertilização. Foi no momento em que o homem, per-
dendo a consciência do mundo físico, voltou ao espiri-
tual, que se deu a fecundação, e o homem só teve uma
vaga percepção dela que resultou em um ato simbólico
visto nos sonhos. Foi em imagens nobres e delicadas que
o sentimento de fecundação se manifestou para ele; ele

-132-
MITOS E MISTÉRIOS EGÍPCIOS

sonhou, por exemplo, que estava jogando uma pedra,


que esta pedra caiu na terra, e então uma flor nasceu.
Para que nosso estudo deste período de evolução seja
completo, ainda devemos falar daqueles seres que antes,
muito cedo, alcançaram um estágio mais avançado.
Dizemos que alguns seres permaneceram no nível de
Touro, outros no nível de Leão, outros no nível da Águia
- o que isso significa? Isso significa que se esses seres
pudessem ter esperado e não permitido que o amor do
mundo físico florescesse neles até muito mais tarde, eles
também teriam se tornado homens. Se o Leão não tivesse
se esforçado para entrar no reino físico muito cedo, ele
teria se tornado um ser humano, e como ele todos os ou-
tros animais que tomaram forma até então. Ou em outras
palavras: quando o Leão estava prestes a se formar, os
seres que formavam a humanidade se separaram. Alguns
diziam a si próprios: Não, não quero voltar a me revestir
das substâncias mais baixas, não quero descer ao plano
físico. Os outros: quero descer, quero materializar o meu
ser no ponto em que está na sua evolução. Havia, por-
tanto, dois tipos de seres, um que permanecia acima, na
esfera etérea, tocando a terra apenas em alguns lados do
corpo, e o outro que tendia a descer inteiramente à terra.
Este deu à luz o leão, por exemplo, o outro tornou-se ho-
mem. Assim como os animais permaneceram estacioná-
rios em algum ponto da evolução, também existem al-
guns seres humanos que permaneceram para trás. Eles
não são os melhores, que assim tomaram forma muito
cedo; os mais perfeitos são aqueles que souberam espe-
rar; muito tempo esperaram antes de descer à terra, para

-133-
MITOS E MISTÉRIOS EGÍPCIOS

ali realizar conscientemente o acto da fecundação; per-


maneceram por muito tempo no estado de consciência,
onde esse acto era para eles apenas um sonho.
Esses seres humanos viviam, segundo a expressão
popular, no Paraíso, aqueles que já haviam descido intei-
ramente no plano físico foram dotados de um corpo par-
ticularmente forte, seu rosto tinha uma expressão áspera
e brutal, enquanto os outros, que queriam deixar às par-
tes mais nobres do ser humano o tempo para se formar,
tinha uma forma muito mais humanizada. Encontramos
numa estranha lenda, em certo rito religioso, a memória
desses acontecimentos. Tácito fala disso; Esta é a lenda
da deusa Nerthus (ou Hertha) que todos os anos mergu-
lha com seu barco no mar, mas aqueles que a puxaram
para o abismo estão destinados a perecer. Nerthus é ge-
ralmente considerado como todos esses mitos, ou seja,
como um produto da imaginação, como uma deusa a
quem uma ilha foi dedicada. (Acredita-se mesmo que se-
ria a ilha de Rügen, que fica no Mar Báltico, em frente à
costa de Mecklenburgische, e na qual existe um lago
Hertha. Acredita-se que foi neste lago que a deusa mer-
gulhou é uma invenção sem base. O nome de Hertha foi
dado ao lago recentemente. Ele já foi chamado de Lago
Negro por causa de sua coloração, e ninguém pensou em
chamá-lo de Lago Hertha (considerado relacionado à
lenda de Hertha). Essa lenda esconde um significado
muito mais profundo. Nerthus representa o tempo de
transição entre a fecundação virginal e o modo actual de
reprodução da humanidade. Nerthus, que está imerso em
um estado nebuloso de consciência, percebe o acto da

-134-
MITOS E MISTÉRIOS EGÍPCIOS

fecundação de forma etérea, simbólica; quando afunda


no mar da paixão, ela não percebe nisso um reflexo. Mas
os seres que já haviam descido à terra no tempo em que
a humanidade mais perfeita ainda conhece apenas essa
percepção velada, já haviam perdido a pureza original;
eles já estavam vendo esse acto fisicamente. Estando
perdidos para a consciência superior, eles eram dignos
de morte. A memória deste evento foi preservada em ri-
tos religiosos em muitas partes da Europa. Em certos
momentos, esse evento era comemorado com uma ceri-
mônia. O navio de Nerthus mergulhou no mar das pai-
xões. A cerimônia foi ainda acompanhada pelo cruel
costume de matar? os ajudantes que puxavam a embar-
cação e que ainda eram escravos; eles representavam a
humanidade mortal que tinha visto o acto fisicamente e
estavam sendo mortos. Somente padres iniciados pode-
riam comparecer com segurança à cerimônia. Este exem-
plo mostra-nos que em certas regiões tínhamos retido a
consciência, a memória destes factos, de onde nasceram
a lenda e o rito.
Assim, a humanidade continua a evoluir por meio
das mais diversas formas de consciência; símbolos e len-
das são uma representação de eventos reais. Já vimos que
essas imagens não devem ser alegorias, mas que seu con-
teúdo corresponde a factos reais. Essas imagens já apa-
receram na forma de sonhos. Antes que o discípulo real-
mente visse a evolução da humanidade, ele primeiro so-
nhou com a lenda de Osíris. E apenas a imagem que pre-
para para a verdadeira visão espiritual pode ser um sím-
bolo no sentido oculto da palavra. Um símbolo descrito

-135-
MITOS E MISTÉRIOS EGÍPCIOS

bolo no sentido oculto da palavra. Um símbolo descrito


em tabelas de realidades. Veremos nos capítulos seguin-
tes de acordo com os quais, foram os efeitos produzidos
por essas descrições.

-136-
IX

A AÇÃO DOS ESPÍRITOS DO SOL E DA LUA


DAS FORÇAS DE ÍSIS E OSÍRIS
A TRANSFORMAÇÃO DO ESTADO DE CONSCIÊNCIA
A CONQUISTA DO PLANO FÍSICO

Até agora estudamos alguns factos da evolução e seu


impacto na anatomia e fisiologia ocultas. Nossa intenção
é trazer à tona as relações que unem a mitologia egípcia
ao nosso tempo. É por isso que primeiro é necessário en-
tender completamente o princípio pelo qual a evolução
continua através das diferentes eras.
Voltemos mais uma vez à ação dos espíritos do Sol
e da Lua, em particular a das forças de Ísis e Osíris, cuja
ação conjunta construiu o corpo do homem. Isso aconte-
cia nos tempos antigos, quando nossa terra mal se con-
densava e em sua massa, ainda líquida, ocorriam a mai-
oria dos eventos que descrevemos. O ser humano já ha-
via atingido um grau de evolução que devemos entender
tão claramente quanto possível, para que possamos visu-
alizar sob que aspecto as coisas apareceram à visão
oculta durante o período de evolução. Já descrevi como
as partes inferiores do corpo humano, os pés, as pernas,
os joelhos, etc., foram, por assim dizer, fisicamente for-
mados a partir do momento em que o Sol se preparou

-137-
MITOS E MISTÉRIOS EGÍPCIOS

para deixar a Terra. Lembre-se que dissemos que é assim


que o olho humano poderia ter visto, se tal houvesse na-
quela época. Mas o olho humano ainda não existia. For-
mou-se muito mais tarde. Enquanto o homem estava
dentro da massa terrestre líquida, seu único órgão de per-
cepção era o que descrevemos, dando-lhe o nome de
glândula pineal (I) *. A percepção física só começou
quando o corpo humano foi formado em seu meio, até os
quadris. Portanto, podemos dizer que a parte inferior da
forma humana já existia, mas não havia olhos para vê-la.
O homem não conseguia olhar para si mesmo naquele
momento. Essa faculdade só foi concedida a ele quando
o corpo humano em formação havia passado a linha dos
quadris. O olho do homem não se abriu até que o ciclo
de formação de seu corpo atingiu o signo de Libra; ele
começou a se ver em uma névoa, para distinguir outros
corpos. Até este momento na formação dos quadris, toda
percepção era visão clarividente, percepção astral-eté-
rica. O homem não podia perceber o físico, pois sua
consciência nebulosa era a consciência clarividente, a
consciência onírica da clarividência.
O homem então entrou no estado de consciência
onde o sono e a vigília se alternam. Durante o dia ante-
rior, ele viu coisas físicas de forma obscura, mas por as-
sim dizer envolto de névoa e aureolado em um círculo
luminoso. Durante o sono, voltou aos mundos espiritu-
ais, aos seres divinos (I) *. Seu estado de Consciência se
(I) *. Ver: Rudolf Steiner: O Universo, a Terra e o Homem, op. cit., 4ª
conferência.

-138-
MITOS E MISTÉRIOS EGÍPCIOS

dividia entre a consciência clarividente que se enfraque-


cia cada vez mais, e a consciência desperta, que se ilu-
minava, se fortalecia, prevalecia sobre a outra. A facul-
dade de percepção da clarividência, a visão dos deuses
durante o sono, foi gradualmente perdida. Ao mesmo
tempo, a clareza da consciência diurna aumentava e, ao
mesmo tempo, a autoconsciência, o sentimento, a per-
cepção do eu.
Na era Lemuriana, que envolveu a separação da Lua
e da Terra, o homem foi dotado de uma consciência cla-
rividente e ainda não sabia sobre o que hoje chamamos
de morte. Pois quando ele saiu de seu corpo físico, por
meio do sono ou da morte, ele não perdeu a consciência;
pelo contrário, ele se sentia dotado de uma consciência
superior, mais espiritual em certo sentido, do que quando
estava em seu corpo físico. O homem nunca disse a si
mesmo: “Estou morrendo agora” ou “Estou perdendo a
consciência”: isso não existia então. O homem ainda não
confiava na autoconsciência, mas se sentia imortal na di-
vindade e tinha o conhecimento inato de todos esses fac-
tos. Suponha que vamos dormir. O corpo astral sai do
corpo físico. Se isso acontecer durante a lua cheia, o
corpo físico e o corpo etérico permanecem estendidos na
cama, o corpo astral flutua acima deles, sob os raios da
lua cheia. O clarividente não percebe aqui simplesmente
uma nuvem astral; ele realmente vê correntes passando
do corpo astral para o corpo físico, e essas correntes são
as forças que, durante a noite, dissipam o cansaço, reno-
vam as forças despendidas durante o dia, preparam o
corpo para acordar revigorado. Ao mesmo tempo, pode-

-139-
MITOS E MISTÉRIOS EGÍPCIOS

mos ver correntes espirituais emanando da Lua, corren-


tes penetradas por forças astrais. Efluentes espirituais
podem ser vistos da Lua que penetram no corpo astral,
fortalecem-no e actuam no trabalho que realiza no corpo
físico. Suponha agora que sejamos homens do período
Lemuriano; nosso corpo astral então perceberia essas
correntes de forças espirituais; diríamos a nós mesmos:
“É Osíris quem me fortalece, quem trabalha em mim,
vejo sua força fluindo através de mim”. E durante a noite
nos sentiríamos sob a proteção de Osíris, teríamos vivido
com nosso Eu em Osíris, por assim dizer. Teríamos esse
sentimento “Eu e Osíris somos um”. Se pudéssemos ex-
pressar em palavras o que sentimos no passado, teríamos
falado mais ou menos, reintegrando nosso corpo físico.
“Devo agora descer ao corpo físico que me espera; agora
é a hora de mergulhar no meu ser inferior “. E teríamos
esperado com alegria o momento de deixar o corpo físico
novamente, para subir e descansar no seio de Osíris, ou
Ísis, para reunir nosso Eu com Osíris.
Conforme o corpo físico se desenvolveu, suas dife-
rentes partes foram adicionadas àquelas que já estavam
formadas abaixo, à medida que o homem, através do de-
senvolvimento de sua natureza superior, tornou-se capaz
de ver o físico, de perceber as coisas ao seu redor, o
tempo que passava em seu corpo aumentou e ele foi to-
mado por um interesse cada vez maior no novo Mundo;
a consciência do mundo espiritual escureceu quando
aquilo com que ele foi dotado em seu corpo físico se afir-
mou, e o mundo espiritual tornou-se cada vez mais es-
tranho para ele. A vida no plano físico assumiu a impor-

-140-
MITOS E MISTÉRIOS EGÍPCIOS

tância primordial, e a consciência das fases que se desen-


rolam entre a morte e um novo nascimento tornou-se
cada vez mais obscura. Durante a era Atlante, o homem
gradualmente perdeu o sentido de sua pátria espiritual, e
quando o grande cataclismo aconteceu, a maioria dos se-
res humanos já havia perdido completamente o dom na-
tural de perceber o mundo durante a noite por outro lado,
adquiriram a faculdade de ver os objetos externos sem-
pre mais claramente durante o dia. Aos poucos, esses
objetos surgiram para eles com curvas cada vez mais ní-
tidas. Já vimos que o dom da clarividência foi retido nos
seres retardados durante o desenvolvimento das civiliza-
ções pós-atlantes. Encontramos esses retardatários até a
época da fundação do Cristianismo e ainda hoje, embora
muito isolados, indivíduos nos quais esse dom natural da
clarividência foi preservado, muito diferente daquele
que se adquire pelo treinamento esotérico.
Na Atlântida, a noite está escurecendo mais e mais,
à medida que a consciência diurna ficava cada vez mais
clara. E não há mais consciência noturna para os homens
da primeira civilização que se seguiu a grande convulsão
líquida atlante. Esta civilização recebeu toda a sua força
espiritual dos Rishis - seus santos, como vimos nos ca-
pítulos anteriores, memória, memória do mundo de ou-
trora, deste mundo onde o homem viu, conheceu os deu-
ses que construíram o seu corpo, tais como Ísis e Osíris.
Este mundo, este seio de divindade, tão real quanto o
mundo físico é para nós hoje, o homem está agora exclu-
ído dele.
A memória disso ainda atravessa as almas dos hin-

-141-
MITOS E MISTÉRIOS EGÍPCIOS

dus, aos quais os Rishis ainda podem transmitir pelo me-


nos o que um dia foi; pois eles sabem que os Rishis e
seus discípulos têm uma visão do mundo espiritual; mas
também sabem que já passou o tempo em que o ser hu-
mano normal também poderia ter essa visão. A dolorosa
memória do antigo e verdadeiro país cruzou a alma do
antigo hindu quando ele se viu transportado para o
mundo físico, que, no entanto, é apenas a camada externa
do mundo espiritual, e um grande desejo de que ele aca-
bara de escapar deste mundo exterior. Seus sentimentos
foram traduzidos da seguinte forma: “Montanhas, vales
e nuvens, mesmo o céu estrelado, não são realidade: tudo
isso é apenas um véu, uma expressão do Ser. O que é
verdade é que o que está por trás são os deuses e a ver-
dadeira face do homem - isso é o que não podemos mais
ver. O que vemos é Maia, irreal: a realidade é velada. E
esse sentimento, de que o homem nasceu da realidade,
de que sua pátria está no mundo espiritual, foi-se forta-
lecendo cada vez mais; o mundo sensível é Maia, a ilu-
são que o envolve com sua noite. Em um ser que sente
tão fortemente a oposição entre a realidade do espiritual
e a ilusão do físico, o sentimento religioso resulta em
uma diminuição do interesse que ele sente pelo mundo
físico; sua mente se volta mais e mais para o que os ini-
ciados contemplam, e do qual os Rishis testemunham. O
hindu ansiava por escapar dessa existência dura, que
para ele era apenas uma ilusão; porque para ele, a reali-
dade não era o que os sentidos viam, estava por trás dela.
A primeira civilização pós-Atlante teve pouco interesse
em tudo o que acontecia no plano físico externo.

-142-
MITOS E MISTÉRIOS EGÍPCIOS

As coisas parecem diferentes durante a segunda ci-


vilização, a dos persas, durante a qual viveu Zoroastro, o
grande discípulo de Manu. Para o homem da era persa, o
estado físico não é mais apenas uma obra da inevitabili-
dade, ele o vê como um meio de cumprir uma missão.
Certamente, seu olhar ainda sabe encontrar as regiões lu-
minosas do espírito; ele ainda se eleva nos mundos espi-
rituais, mas volta ao físico, e face à sua alma se ergue a
imagem de um mundo dividido entre as forças da luz e
os poderes das trevas. O mundo físico se tornou para ele
um campo de trabalho. Disse a si mesmo: Existe um po-
der luminoso, a divindade boa Ahoura Mazda ou Or-
muzd, e existem forças das trevas, lideradas por Angra-
mainyoush ou Ahrimane. A salvação do homem vem de
Ahoura Mazda, foi Ahrimane quem nos deu o mundo fí-
sico. Precisamos transformar este mundo que está che-
gando de Ahrimane, que nos unamos aos deuses da luz
para vencer o deus do mal na matéria; para isso, precisa-
mos transformar a Terra, para podermos agir sobre ela.
Ao derrotar Ahrimane, fazemos da Terra um instrumento
de evolução para o bem. Os persas deram o primeiro
passo em direção a essa metamorfose libertadora da
Terra; na esperança de que um dia ele se tornasse um
planeta purificado e liberto, e que a magnífica soberania
de Ahoura Mazda, o Ser Supremo, fosse realizada.
Esses eram os sentimentos de um ser humano que
não olhava mais para as alturas sublimes da mente como
o hindu, mas que se estabeleceu firmemente no mundo
físico. O hindu não pensou assim e o chão cedeu sob seus
pés.

-143-
MITOS E MISTÉRIOS EGÍPCIOS

A conquista do plano físico continua através da ter-


ceira civilização, a do Egito, Babilónia, Assíria, Caldeia.
Lá encontramos apenas pequenos traços do antigo senti-
mento de repulsa pelo qual o mundo físico assumia aos
olhos dos homens o aspecto de uma Maia, de uma ilusão.
Os caldeus estudam o céu estrelado, e o brilho luminoso
das estrelas não é mais um Maia para eles; as estrelas são
seus signos de uma linguagem que os deuses imprimiram
no plano físico. Pelo caminho das estrelas, o sacerdote
caldeu encontra o caminho do mundo espiritual; durante
sua iniciação, quando adquire a percepção de todos os
seres que habitam os planetas e as estrelas, ele levanta o
olhar e diz: “O que vejo quando levanto meus olhos para
o céu estrelado é a expressão externa do que posso per-
ceber por meio da clarividência oculta, da iniciação.
Quando o sacerdote iniciador me confere a graça da vi-
são dos deuses, posso contemplá-los. Mas tudo que vejo
no mundo exterior não é apenas uma ilusão; é a própria
linguagem dos deuses. Ele teve um sentimento seme-
lhante ao que temos quando, depois de muito tempo se-
parados de um amigo, recebemos uma carta dele e con-
templamos os sinais escritos por sua mão. Pensamos na
mão que formou esses sinais e experimentamos os senti-
mentos que o amigo expressou por meio deles. É um sen-
timento deste tipo que sente o iniciado caldeu ou egípcio,
que teve acesso aos mistérios sagrados, enquanto estava
no Templo e contemplou com o seu olhar espiritual as
entidades divinas que estão unidas à nossa Terra.
Quando ele saiu e viu o mundo das estrelas, ele pensou
ter visto uma mensagem de seres espirituais. Ele viu a

-144-
MITOS E MISTÉRIOS EGÍPCIOS

linguagem dos deuses escrita antes dele. O relâmpago, o


trovão rugindo, a tempestade de vento, tudo era uma ma-
nifestação dos deuses para ele. Os deuses se manifesta-
ram a ele em tudo o que ele viu externamente. Os senti-
mentos que nos animam ao ver a carta de um amigo, ele
experimentou na presença do mundo exterior, os ele-
mentos, as plantas, os animais, as montanhas, as nuvens,
as estrelas. Em tudo isso ele viu e decifrou uma lingua-
gem divina.
Os egípcios tinham total confiança nas leis que o ho-
mem viu manifestadas no mundo físico, e graças ao qual
é possível dominar a matéria; foi assim que nasceram a
geometria e a matemática. Com a ajuda deles, o homem
poderia dominar os elementos, porque confiava nas des-
cobertas que sua mente poderia fazer; ele acreditava que
era possível imprimir o espírito na matéria. Foi assim
que ele criou as pirâmides, templos e esfinges. Este foi
um grande passo na conquista do plano físico. Dessa
forma, o homem finalmente passou a sentir respeito, ad-
miração pelo mundo físico. Mas de que mestres ele pre-
cisava para chegar lá? Antes, o homem sempre teve mes-
tres, mesmo iniciados, durante a antiga era hindu, por
exemplo. Para ser iniciado, era necessário que o ser hu-
mano fosse artificialmente levado a rever o que o homem
outrora percebia, quando era dotado de uma consciência
clarividente surda. O iniciado deveria ser levado de volta
ao mundo espiritual, à velha pátria espiritual, para então
poder difundir o conhecimento assim adquirido por ou-
tros. Para isso, ele precisava de um instrutor. Os discípu-
los dos Rishis tinham mestres que lhes ensinaram o que

-145-
MITOS E MISTÉRIOS EGÍPCIOS

era desconhecido na antiga Lemúria, na antiga Atlântida,


quando o homem ainda era clarividente. O mesmo com
os persas. As coisas mudaram para os caldeus e egípcios.
Certamente, eles também tiveram professores que ajuda-
ram o aluno a desenvolver suas forças para que ele se
tornasse capaz de perceber por trás do mundo físico o
mundo espiritual. Esses foram os iniciadores que mos-
traram o que está por trás do físico. Mas um método
completamente diferente foi empregado no Egito, uma
nova teoria foi aplicada. Na Índia antiga, pouco se dava
à expressão do espírito encontrado no mundo físico, os
laços que uniam homens e deuses. No Egito, o neófito
tinha que ver, não apenas os deuses, mas também enten-
der como eles haviam formado sua linguagem celestial,
como todas as formas físicas foram construídas. Os anti-
gos egípcios tinham um ensino bastante semelhante ao
dos Hindus, mas, além disso, aprenderam quais as cor-
respondências que unem as forças espirituais ao mundo
físico. Este era um novo conhecimento. Na Índia, al-
guém teria simplesmente revelado o mundo espiritual ao
neófito pela clarividência; no Egito, acrescentamos o en-
sino do que no mundo físico corresponde aos actos do
espírito. O neófito viu que trabalho espiritual correspon-
dia a cada parte do corpo, a cada órgão. E o fundador
desta escola, onde não apenas revelamos o espírito, mas
também ensinamos como ele criou o físico, é o grande
iniciador Hermes Trismegistus. Foi ele, o três vezes
grande Thoth, quem primeiro revelou no mundo físico
uma linguagem dos deuses. É assim que, passo a passo,
as civilizações pós-Atlantes transmitem seus diferentes

-146-
MITOS E MISTÉRIOS EGÍPCIOS

impulsos à evolução da humanidade. Hermes apareceu


aos egípcios como um enviado dos deuses. Ele os ensi-
nou a ler o selo da obra dos deuses no mundo físico.
Durante o quarto período, a civilização Greco-latina,
o homem fará cada vez mais contacto íntimo com o
mundo físico. Ele chega tão longe neste caminho que não
vê mais nele apenas os sinais da linguagem divina, mas
projeta no mundo das realidades objetivas seu próprio
Eu, sua própria individualidade espiritual. Nenhuma
arte produziu obras comparáveis às criações da arte
grega. Foi durante a 4ª civilização que o homem se pro-
jeta fora de si mesmo nas criações da escultura, que pas-
sou a criar, por assim dizer, seu eu físico.
Nesse momento, a força interior, o espírito que re-
side no homem, se exterioriza no plano físico e penetra
na matéria. O exemplo mais puro dessa união entre espí-
rito e matéria nos é dado no templo grego. Para todos
aqueles que podem ver em retrospectiva, o templo grego
continua sendo uma admirável obra de arte. A arquite-
tura grega é a arquitetura típica. Toda arte atinge seu
ponto culminante em algum ponto; foi na Grécia que a
arquitetura encontrou o seu próprio. A escultura e a pin-
tura também atingiram seu ápice em algum lugar. Apesar
da pirâmide gigantesca, o templo grego é a criação ar-
quitetónica mais admirável. Porque o que ele faz? Qual-
quer pessoa que tenha um senso artístico de espaço, ou
seja, que sinta a conexão entre uma linha horizontal e
uma linha vertical, perceberá um eco fraco. E é todo um
mundo de realidades cósmicas que ganha vida na alma
capaz de sentir como a coluna carrega aquilo que a su-

-147-
MITOS E MISTÉRIOS EGÍPCIOS

pera. Você tem que ser capaz de sentir que todas essas
linhas já existiam, invisíveis, no espaço. O artista grego
teve a visão clarividente da coluna, e só preencheu este
esboço espiritual com matéria. Para ele, o espaço era ani-
mado, atravessado por forças vivas. Como o homem mo-
derno poderia sentir o quão viva essa sensação de espaço
era? Encontramos vestígios disso em alguns pintores an-
tigos. Em algumas pinturas em que anjos são mostrados
pairando no espaço, temos a impressão de que eles estão
se equilibrando reciprocamente. Essa sensação de es-
paço desapareceu quase totalmente hoje. Não tenho nada
a apontar à arte da cor num Böcklin, mas devo dizer que
ele é destituído de qualquer sentido interno de espaço. O
ser que está acima de sua Pieta por exemplo - não sabe-
mos se ele é um anjo ou outra coisa - deve inevitavel-
mente despertar em quem o olha a impressão de que
pode cair a qualquer momento sobre o grupo abaixo dele.
Essas coisas devem ser enfatizadas quando se fala de
algo que os homens mal conseguem formar uma ideia de
hoje, o sentido grego de espaço, que é, enfatizamos ex-
pressamente, oculto por natureza. Um templo grego re-
presentava algo como a criação de um espaço que se ma-
terializou em suas próprias linhas. A consequência é que
as entidades divinas percebidas pelo grego e para as
quais ele havia construído o templo, desceram neste tem-
plo, encontraram nele um lar. E é verdade: Pallas
Athene, Zeus, etc. estavam realmente presentes no tem-
plo. Seu corpo, seu corpo material, era o próprio templo.
Porque se essas entidades não pudessem apenas encarnar
em um corpo etéreo, o templo ofereceu um verdadeiro

-148-
MITOS E MISTÉRIOS EGÍPCIOS

abrigo no mundo físico. Ele poderia se tornar para eles


um corpo físico, no qual seu corpo etérico se sentisse à
vontade. Quando se entende o templo grego, percebe-se
que ele difere de maneira importante da catedral gótica.
Esta não é uma crítica à arquitetura gótica, pois a cate-
dral também é uma magnífica obra de arte. Quando en-
tramos bem nas coisas, podemos imaginar que mesmo
sozinho, longe de todos os seres humanos, completa-
mente reduzido a si mesmo, o templo está completo. Um
templo grego é concluído, mesmo quando nenhum ser
humano ora lá. Ele não está sem alma, ele não está vazio,
pois o deus está nele, o deus habita nele.
Mas quando os crentes não a preenchem com a ora-
ção, a catedral gótica não é perfeita. Quem a compreen-
deu não pode imaginá-la isolada, vazia, sem a multidão
crente que a anima com os seus pensamentos. E todas as
linhas, todos os ornamentos góticos ajudam a reforçar
essa impressão que ela dá. Não há Deus, não há ser espi-
ritual na catedral gótica quando ela não está cheia de
crentes orando. Só quando a multidão de fiéis a enche é
que o divino passa a habitá-la. O templo grego não é a
casa dos fiéis: foi feito para servir de morada ao próprio
deus. Ele pode ficar sozinho. Mas a pessoa se sentia abri-
gada na catedral apenas quando a multidão a enchia,
quando a piedosa massa de crentes se reunia, quando a
luz do sol atravessava os vitrais matizados e assumia to-
das as suas cores - e quando, como tantas vezes aconte-
cia, o padre dizia em seu púlpito: “Como a luz é dividida
em muitas cores, então a luz espiritual, a força divina, é
distribuída entre as almas e corpos do mundo físico.

-149-
MITOS E MISTÉRIOS EGÍPCIOS

Não só a arte arquitetónica dos templos, mas tam-


bém todas as artes chegaram entre os gregos a essa
mesma perfeição. O mármore de suas estátuas adquiriu
aparência de vida: os gregos expressavam em matéria fí-
sica o que vivia em seu espírito; esta cultura viu o cum-
primento da união do espírito com o físico. Os romanos
avançarão ainda mais na conquista do plano físico. O
grego foi capaz de incorporar a vida de sua alma e de seu
espírito à sua obra de arte; mas ele ainda é internamente
inseparável de um todo, de sua cidade, da Polis; ele ainda
não tem noção de sua personalidade. O mesmo acontecia
nas civilizações anteriores: o egípcio não se reconhece
como indivíduo, mas como membro de uma coletivi-
dade, de um povo. Da mesma forma, na Grécia, o ho-
mem não se concentra no desenvolvimento interior de
sua personalidade, mas seu maior orgulho é ser um es-
partano ou ateniense. O desejo de ser uma personalidade,
de ser você mesmo alguém no mundo, primeiro nos en-
contramos com os romanos. O primeiro, eles sentem que
o ser isolado, o indivíduo, tem seu próprio valor. Em pri-
meiro lugar, eles sabem o que é o “cidadão” e por isso
criaram a jurisprudência, o direito, que pode justamente
ser chamado de invenção romana. Apenas alguns juristas
modernos, que não têm noção dessas coisas, tiveram o
bom senso de dizer que anteriormente havia já um direito
a isso.É um disparate falar de inventores do direito no
Oriente, como Hamourabi, por exemplo. Antes dos ro-
manos, não havia leis jurídicas, havia apenas leis divi-
nas. Para julgar objetivamente essa consciência jurídica
moderna, seria preciso usar termos muito duros, ser

-150-
MITOS E MISTÉRIOS EGÍPCIOS

implacável; todas as críticas usuais ainda seriam muito


brandas. Era apenas na Roma antiga que havia uma no-
ção real do que é um cidadão. Nesta época, o homem
incorporou ao mundo físico até sua própria individuali-
dade. É na Roma antiga que vemos o aparecimento da
vontade pela primeira vez; a vontade do indivíduo torna-
se tão forte, que ele é capaz de determinar, além da pró-
pria morte, como alguém irá dispor de seus bens. Agora
é o ser isolado, o indivíduo que conta. Este é um sinal de
que o homem enviou o espírito para o plano físico em
sua própria individualidade. Este foi o ponto mais baixo
da evolução. O hindu ainda pairava nas alturas espiritu-
ais, no ponto mais alto da evolução. Com a segunda ci-
vilização, o homem começa a descer. Com a terceira,
desce ainda mais baixo. Com a quarta, ele chegou intei-
ramente ao plano físico, na matéria. Esta foi uma época
em que o homem teve que escolher; ou devia continuar
a descer, ou então devia adquirir, neste ponto mais baixo
da evolução que alcançou, a possibilidade de dar meia
volta, de se erguer novamente, de encontrar o caminho
para os mundos espirituais. Mas para que isso aconte-
cesse, um impulso espiritual teve que vir no plano físico
para dar ao homem o ímpeto poderoso que lhe permitiria
voltar para o mundo espiritual. Este impulso, é o apare-
cimento de Jesus Cristo na terra que o trouxe até nós. O
divino Cristo teve que descer aos homens, revestir-se de
um corpo físico e viver na terra. No momento em que o
homem se encontra completamente preso no mundo fí-
sico, o deus deve se abaixar para ajudá-lo a encontrar o
caminho de volta ao mundo espiritual.

-151-
MITOS E MISTÉRIOS EGÍPCIOS

Não poderia ter sido feito antes.


Neste capítulo, continuamos a evolução das civiliza-
ções pós-Atlantes até ao ponto mais baixo da curva; Aca-
bamos de esboçar como o impulso espiritual que deveria
retificá-lo nos foi dado por Cristo. O homem deve agora
retornar ao espírito, penetrado e vivificado pelo princípio
de Cristo. Veremos a seguir como a civilização egípcia
reaparece em uma era como a nossa, mas agora pene-
trada pelo princípio de Cristo.

-152-
X

AS LENDAS ANTIGAS SÃO A IMAGEM DE


EVENTOS CÓSMICOS
O OBSCURECIMENTO DA CONSCIÊNCIA
ESPIRITUAL DO HOMEM
O PRINCÍPIO DA INICIAÇÃO DOS MISTÉRIOS

Muitos são os mitos e lendas dos antigos egípcios


que as cosmovisões espirituais conheceram bem, e que
se estão espalhando novamente, mas que a tradição his-
tórica externa não menciona. Alguns desses mitos foram
preservados para nós na forma que assumiram com os
gregos, já que na maioria das vezes as lendas gregas que
não se relacionam com Zeus e sua família vêm dos mis-
térios egípcios. Vamos conhecer mais de uma lenda que
ajuda a entender a evolução, apesar do que a história mo-
derna acredita que não importa.
Com que propósito tivemos que estudar o outro lado
da evolução, ou seja, o lado espiritual? Tudo o que acon-
tece no plano físico permanece um acontecimento, um
facto físico. Mas a ciência espiritual não está apenas in-
teressada no que está acontecendo no mundo físico; tam-
bém se preocupa com os eventos do mundo espiritual,

-153-
MITOS E MISTÉRIOS EGÍPCIOS

com o que acontece ao homem entre a morte e um novo


nascimento. A terminologia hindu denomina “Kama-
loca” o estado de consciência do homem após sua morte,
durante o qual o corpo astral o mantém. Durante este
tempo, o homem ainda precisa do mundo físico, onde
sofre, onde lhe falta algo porque não está mais no plano
físico. Então chega o momento em que o homem deve
preparar-se para uma nova vida: este é o estado de cons-
ciência do Devachan; ele não é mais diretamente relaci-
onado ao mundo físico, com impressões físicas. Tome-
mos dois exemplos para representar para nós mesmos o
que distingue a vida do Kamaloca daquela do Devachan.
Sabemos que, quando você morre, não tira imediata-
mente o desejo de sua vida. Suponha que um homem te-
nha sido um amante da gastronomia durante sua vida e
tenha grande prazer em saborear alimentos saborosos.
Quando ele morre, ele não perde imediatamente essa
gula, esse amor pelas coisas boas. Desejos e vontades fa-
zem parte do corpo astral, não do corpo etérico. E uma
vez que, após a morte, ele mantém seu corpo astral, ele
mantém seus desejos ao mesmo tempo, mas o instru-
mento que lhe permitiu satisfazê-los, o corpo físico, lhe
falta. O amor pelas coisas boas não depende do corpo
físico, mas do corpo astral, e depois da morte há uma
verdadeira ganância que aparece no homem e o faz an-
siar por todos os prazeres da vida. sofre até se livrar de
seus desejos, até que ele se livre de seus desejos de todas
as delícias desenvolvidas nele graças aos órgãos físicos.
O tempo todo, o homem está no Kamaloca. Então co-
meça o perí odo em que ele não sente mais aqueles

-154-
MITOS E MISTÉRIOS EGÍPCIOS

desejos que só podem ser satisfeitos pelos órgãos físicos.


Ele entra então no Devachan.
À medida que seus laços com o mundo físico são
afrouxados, ele começa a adquirir consciência do mundo
devachânico. Este mundo aparece para ele cada vez mais
claramente. Só que, quando está ali, o homem moderno
ainda não tem aquela autoconsciência que tem na vida.
Ainda não está individualizado lá. No mundo do De-
vachan, o homem é parte de um todo, ele é um órgão do
mundo espiritual. Como a mão, se pudesse se tornar
consciente, só se sentiria como um fragmento do orga-
nismo físico, o homem sente, quando está no estado de
consciência devachanica: Sou um membro do mundo es-
piritual, um dos seres espirituais. Posteriormente, ele
também adquirirá sua autonomia ali. Mas a partir de
agora, contribui para a grande obra do Cosmos, actua no
reino vegetal do topo das regiões espirituais. Ele contri-
bui para todo o trabalho, não por interesse pessoal, mas
como parte do todo, um servo do mundo espiritual.
Não se deve acreditar que os eventos que ocorrem
no mundo devachânico também não estão sujeitos a
transformações. As pessoas muitas vezes têm a impres-
são secreta de que nossa terra está mudando aqui, mas o
mundo além permanece imutável. Não é assim. A des-
crição que faço neste momento do Devachan é aquela
que corresponde aproximadamente ao seu estado actual.
Mas vamos tentar lembrar como costumava ser quando
nossas almas estavam incorporadas na época da civiliza-
ção egípcia. Nosso olhar então caiu sobre as pirâmides
gigantescas e outros monumentos da arquitetura egípcia.

-155-
MITOS E MISTÉRIOS EGÍPCIOS

Nos tempos antigos, nosso mundo físico era bem dife-


rente do de hoje. Desde aquela época, a face da Terra
mudou muito, muito. Precisamos apenas nos referir à ci-
ência materialista; ensina-nos que, há alguns milênios, a
Europa era povoada por animais bastante diferentes dos
animais de hoje. A face da Terra está em constante mu-
dança, por isso o homem se depara constantemente com
novas condições de existência, algo óbvio para todos.
Mas quando as pessoas descrevem os factos do mundo
espiritual, são facilmente tentadas a acreditar que o que
estava acontecendo no mundo espiritual, por exemplo,
quando morreram 1.000 anos antes de Jesus Cristo, está
acontecendo hoje. As condições no outro mundo mudam
exatamente como as do mundo físico. A estadia no De-
vachan foi bem diferente daquela de hoje, quando foi
acedido do mundo egípcio ou grego. Também aqui as
coisas estão sujeitas a alterações. É natural que descre-
vamos as condições reais do Devachan; mas nem sempre
foi assim. Já temos uma ideia quando nos referimos ao
conteúdo dos capítulos anteriores.
Vimos isso há muito tempo, na era atlante, o homem
vivia mais intensamente no mundo espiritual; durante o
sono, ele estava no meio de seres espirituais. Posterior-
mente, a consciência desta vida continuou a diminuir.
Quando avançamos no passado, vemos que o homem vi-
veu inteiramente no reino espiritual. No passado, a dife-
rença entre o sono e a morte não era tão grande como
agora. Nos tempos antigos, os humanos dormiam por
longos períodos de tempo. Eles correspondiam aproxi-
madamente ao tempo que inclui uma encarnação e a vida

-156-
MITOS E MISTÉRIOS EGÍPCIOS

após a morte que a termina. Descendo gradualmente ao


plano físico, o homem ficou cada vez mais preso nele.
Vimos que na Índia o homem está constantemente ele-
vando seu olhar para um mundo superior, e que na Pérsia
ele já está empreendendo a conquista do plano físico. O
homem desce cada vez mais baixo, e na era greco-latina
a união do espírito e da matéria, dos mundos espirituais
e do mundo físico, será realizada. Quanto mais os tem-
pos se aproximavam do ponto médio desta era, mais o
homem aprendia a amar o mundo físico e mais se inte-
ressava por ele. Mas, ao mesmo tempo, mudanças tam-
bém estavam ocorrendo no que chamamos de experiên-
cias que acontecem entre a morte e um novo nascimento.
Quando voltamos aos primeiros dias da era pós-
Atlante, descobrimos que os homens têm pouca atração
pelo mundo físico. Os iniciados daquela época podiam
alcançar os mundos superiores, os mundos devachâni-
cos, e fizeram a outros homens o relato de suas experi-
ências lá. No ser humano que, por todos os seus pensa-
mentos, por todos os seus sentidos, se sentia atraído, de-
leitado para o mundo real, para a verdadeira pátria, esta
história era um obstáculo ao interesse que o mundo físico
lhe poderia ter inspirado. Mas quando ele cedeu ao De-
vachan, depois de se ter unido tão imperfeitamente ao
mundo físico, ele se viu dotado de uma consciência bas-
tante clara. Reencarnado durante a civilização persa,
esse homem já se sentia mais atraído pelo plano físico -
mas pagou por esse interesse obscurecendo a consciên-
cia dentro do Devachan. Durante a civilização caldaico-
egípcia, sua consciência no Devachan estava turva,

-157-
MITOS E MISTÉRIOS EGÍPCIOS

enfraquecida. Por sua própria natureza, essa consciência


permaneceu mais elevada, mais espiritual do que a do
mundo físico, mas sua intensidade diminuiu cada vez
mais. Na era greco-latina, era excessivamente obscure-
cida, enfraquecida. Nunca foi comparada a uma consci-
ência de sonho. O homem sempre teve uma sensação
clara e consciente disso. Com o avanço da evolução, ela
gradualmente desapareceu.
A principal razão de ser dos Mistérios era a necessi-
dade de dar ao homem a possibilidade de iluminar, de
fortalecer essa consciência do mundo espiritual. Supo-
nha que esses mistérios não existissem, que não hou-
vesse iniciados, a consciência dos mundos espirituais te-
ria sido mais crepuscular, sempre mais obscura. Somente
a iniciação praticada nos Mistérios, e com ela a aquisição
das faculdades que abriam o acesso ao mundo espiritual,
somente os relatos dos iniciados, os mitos e as lendas,
trouxeram um pouco de luz, clareza aquela consciência
devachânica de que o homem é dotado entre a morte e
um novo nascimento. Todos aqueles que se aclimataram
ao plano físico realmente sentiram o enfraquecimento da
consciência do reino espiritual. A iniciação é o que pos-
sibilita, durante a vida, aceder ao mundo espiritual e
aprender o que ali se passa. O iniciado de Elêusis real-
mente experimentou em primeira mão essa escuridão
que obscureceu o mundo espiritual. É verdade que um
iniciado disse: “Melhor ser um mendigo no mundo físico
do que um rei no reino das sombras. Mas essa palavra
também nasceu das experiências que os iniciados tive-
ram no mundo espiritual. Essas coisas nunca serão pro-

-158-
MITOS E MISTÉRIOS EGÍPCIOS

fundas o suficiente para nós, e só podemos entendê-las


quando conhecemos os factos do mundo espiritual. Va-
mos agora considerá-los de uma forma mais concreta.
Se nada tivesse acontecido, se o homem tivesse con-
tinuado a descer ao plano físico, a consciência entre a
morte e um novo nascimento teria escurecido cada vez
mais. No final das contas, todo contacto com o reino es-
piritual teria sido perdido. E embora possa parecer estra-
nho para quem ainda está internamente deformado por
qualquer lado do materialismo, o que vou dizer não deixa
de ser verdade: o homem estaria condenado à morte es-
piritual. O que abre e fortalece a consciência entre a
morte e um novo nascimento é a própria iniciação, ou
então, hoje, em menor grau, mesmo uma união passa-
geira do homem com o mundo espiritual, experiências
que não desaparecem com os corpos do ser humano, mas
permaneça unido à sua natureza mais íntima no mundo
espiritual. Nisto consistia a tarefa dos Mistérios, de toda
evolução espiritual, a missão dos grandes iniciados antes
de Cristo e, sobretudo, da própria entidade a que chama-
mos Cristo. Todos os iniciados que viveram antes dele
foram, por assim dizer, seus precursores; eles foram en-
viados como mensageiros destinados a preparar a sua
vinda.
Agora chegamos à vinda do próprio Cristo. Imagi-
nemos um ser humano que ignora tudo sobre Cristo, que
nunca teve oportunidade de estudar, de assimilar os mis-
térios do Evangelho segundo São João, que nunca teria
dito a si mesmo; Quero viver de acordo com Cristo, que
viveu e agiu, quero fazer meus os princípios que ele en-

-159-
MITOS E MISTÉRIOS EGÍPCIOS

sinou. Imaginemos, pois, um ser que jamais teria sentido


a aproximação de Cristo e, portanto, não pôde entrar no
mundo espiritual, enriquecido com o tesouro que o ho-
mem deve trazer hoje se deseja evitar o obscurecimento
de sua consciência. A imagem, a concepção que ele for-
mou de Cristo é para o homem uma força que ilumina
sua consciência depois da morte, que o salva do destino
ao qual os homens teriam sucumbido se Cristo não ti-
vesse vindo. Sem dúvida, se Cristo não tivesse vindo a
nós, a entidade humana teria continuado a existir, mas a
consciência após a morte nunca teria sido capaz de recu-
perar sua clareza. O que dá à vinda de Cristo seu verda-
deiro significado e importância é que ela incorporou algo
de imenso significado à individualidade do homem. O
acontecimento do Gólgota preserva o homem da morte
espiritual, quando ele consegue assimilá-la profunda-
mente, para identificar para o seu próprio ser o impulso
espiritual que emana dele.
Não se deve acreditar, porém, que os outros grandes
guias da humanidade tivessem para ela uma importância
de outra ordem. Não se trata aqui de fazer de Cristo o
fulcro de um dogma exclusivo. Isso seria agir contra o
verdadeiro Cristianismo, pois quem conhece os aconte-
cimentos, sabe que nos Antigos Mistérios o Cristianismo
era ensinado. E esta frase, que Santo Agostinho pronun-
ciou, é profundamente verdadeira: “O que hoje chama-
mos de religião cristã já existia entre os antigos, e nos
primórdios da raça humana, até ao momento em que o
Cristo apareceu em um corpo de carne, e da qual a ver-
dadeira religião, que já existia antes, recebeu o nome de

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MITOS E MISTÉRIOS EGÍPCIOS

Cristianismo. “Não é o nome que importa, é especial-


mente importante compreender o significado do impulso
de Cristico. O Cristo veio a nós no momento em que a
evolução atingiu seu nível mais baixo, mas Budha, Her-
mes e todos os grandes iniciados sabiam de sua vinda;
eles sentiram que ele estava vivendo neles.
Isso é especialmente perceptível ao estudar a figura
do Buda - que é necessário entender claramente. Para
conceber o que significa, o que tem sido, devemos tocar
em um assunto que só pode ser discutido entre os estu-
dantes de Ciência Espiritual. Geralmente temos uma
ideia muito simplista dos mistérios da reencarnação. Não
se deve acreditar que uma alma hoje encarnada no en-
voltório triplo de seus corpos viveu como é, em uma en-
carnação anterior, ela mesma seguindo uma encarnação
do mesmo gênero, e assim por diante, sempre de acordo
com o mesmo padrão. As coisas são muito mais compli-
cadas, muito mais misteriosas. Embora a Sra. Blavatsky
tenha feito todos os esforços para ensinar a seus alunos
mais próximos como esses mistérios tão complexos,
ainda não é totalmente compreendido hoje. Nós apenas
imaginamos uma alma que entra em um corpo em inter-
valos regulares. Esta é uma representação um tanto sim-
plista disso. Frequentemente, seria impossível compre-
ender completamente certas personalidades históricas,
por exemplo, a partir de um diagrama desse tipo. O es-
tudo desses factos requer um trabalho muito mais com-
plexo. Encontramos na era Atlante seres que vivem ao
redor do homem como vivem hoje, mas que o homem
viu, só conheceu quando despiu seu corpo físico, nos

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MITOS E MISTÉRIOS EGÍPCIOS

mundos espirituais. Já vimos que lá viveu na companhia


de Thor, Zeus, Wotan, Baldour. De dia ele vivia no
mundo físico, mas quando estava no outro estado de
consciência, aprendeu a conhecer entidades espirituais
que não seguiram a mesma evolução que ele. Nos pri-
meiros dias da existência da Terra, o homem não tinha
um corpo tão denso como agora; em um ponto ele ainda
não tinha uma estrutura óssea; os olhos físicos só podiam
ver os corpos dos homens atlantes até certo ponto. Mas
havia outros seres que podiam descer ao plano físico ape-
nas ao nível etérico, que só podiam encarnar em um
corpo etérico. Houve outros que ainda poderiam encar-
nar-se quando o ar foi preenchido com vapores líquidos.
No passado, quando o homem ainda vivia numa atmos-
fera de névoa e água, essas personificações de seres es-
pirituais ainda eram possíveis. Wotan, por exemplo, era
uma dessas entidades corporificadas. Era possível para
ele, como o homem, encarnar nesta matéria líquida leve.
Então ele assumiu a forma humana e vagou pelo mundo
físico. Mas quando a terra se tornou cada vez mais densa
e o homem assumiu formas cada vez mais pesadas, ele
se recusou a entrar nesta matéria tão densa, que perma-
neceu nos mundos invisíveis, escapando da terra. Assim
foi com todos os seres espirituais. Mas a partir daquele
momento, foi possível para eles formarem uma espécie
de vínculo com os seres humanos que, de baixo, vinham
em direção a eles, ascendendo para retomar as alturas es-
pirituais. A evolução exigiu que o homem descesse até o
fundo da curva. Até então, os deuses o acompanharam
em seu caminho. Mas então eles tomaram outro caminho

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MITOS E MISTÉRIOS EGÍPCIOS

invisível para os seres do plano físico. No entanto, os se-


res humanos que viviam de acordo com os ensinamentos
dos iniciados purificaram assim os elementos mais sutis
de sua natureza; eles vieram, por assim dizer, para en-
contrar os deuses; o homem, entrado em um corpo de
carne, pode purificar-se de tal maneira que se torna capaz
de ser ofuscado por um ser que não pode descer a um
corpo físico, material demais para ele. No corpo astral e
no corpo etérico deste homem entrou então um ser supe-
rior que não poderia ter uma forma física para si, mas
que poderia revelar-se em um ser humano e falar pela
sua boca.
Esse fenômeno nos permite entender que a encarna-
ção não é de forma alguma da ordem das coisas simples.
Pode muito bem acontecer que um ser humano se aper-
feiçoe, purifique suficientemente seus três corpos para se
tornar em uma próxima encarnação o vaso escolhido de
uma entidade espiritual. Foi o que aconteceu com
Boudha, cujo corpo foi capaz de receber o espírito de
Wotan. A entidade que a mitologia germânica chama de
Wotan reapareceu em Budha. Os dois nomes, Boudha e
Wotan, também estão relacionados pelo som.
Pode dizer-se que, como resultado, os mistérios da
era atlante foram amplamente transferidos para os ensi-
namentos, as revelações do Budha. Ele teve a experiên-
cia interior do que tinha sido a vida de deuses e homens
nos reinos espirituais daquela época. A doutrina do
Budha leva muito pouco em conta o plano físico, consi-
dera-o apenas como um lugar de dor, e leva muito alto a
liberação de seus pontos centrais, - isso porque é o ensi-

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MITOS E MISTÉRIOS EGÍPCIOS

namento de Wotan que reaparece. porque é o espírito de


Wotan que muitas vezes fala por meio de Boudha. É por
isso que aqueles que melhor compreenderam a doutrina
budista são seres que não ultrapassaram o nível de evo-
lução da Atlântida. Existem entre as populações asiáticas
certas raças que permaneceram neste nível. Externa-
mente, eles devem naturalmente ter seguido o resto da
humanidade em seu progresso. Mas nos povos mongóis,
por exemplo, encontramos muitos traços da humanidade
atlante; estes são os retardatários, a retaguarda da huma-
nidade. Este caráter estático e estacionário, observado
nas populações mongóis, é herdado da época da Atlân-
tida. É por isso que os ensinamentos do Budha são espe-
cialmente prevalentes entre esses povos tribais.
O mundo segue seu caminho, segue em frente.
Aquele a quem a evolução revela o seu significado
oculto não faz distinções arbitrárias entre os factos, não
escolhe, não diz: gosto mais disto ou daquilo. Ele sabe
que a religião de um povo é uma necessidade espiritual.
É porque a população europeia se tornou completamente
atolada no mundo físico que é impossível para ela sentir
o budismo profundamente, se identificar com o cerne
dos ensinamentos do Budha. O budismo nunca foi capaz
de se tornar uma religião universal. Não se trata de julgar
por simpatia ou repulsa; trata-se de olhar os factos obje-
tivamente. O budismo é tão inadequado para a população
europeia quanto para espalhar o cristianismo entre os po-
vos da Ásia. Uma religião que não foi criada para atender
às necessidades mais profundas de seu tempo não pode
ser boa, não pode ser fértil, dar um novo impulso à civi-

-164-
MITOS E MISTÉRIOS EGÍPCIOS

lização. Essas são coisas que devem ser compreendidas


se quisermos ser capazes de compreender as conexões
entre os eventos.
Não se deve acreditar que a figura histórica de
Boudha estava ciente de tudo que ele representava. Pre-
cisaríamos de um desenvolvimento muito longo para co-
locar isso em detalhes. Estamos longe de ter exaurido a
complexidade da personalidade histórica que foi
Boudha.
Havia no ser humano, no homem Budha, não apenas
uma entidade que viveu no período atlante, mas também
outra coisa, algo de que ele poderia ter dito: “Isso, ainda
não posso conceber; é algo que vive em mim, mas eu sou
apenas parte disso”. Esse algo é a entidade de Cristo. Ela
já estava animando os grandes profetas. Ela já era bem
conhecida nos mistérios antigos, e em toda parte falava-
se daquele que estava por vir.
E ele veio. - Mas a sua vinda esteve sujeita a certas
necessidades históricas que estão na base da evolução.
Ele não se poderia ter corporificado em nenhum corpo
físico. Era possível para ele penetrar em Budha enquanto
permanecia, por assim dizer, no domínio de seu subcons-
ciente. Mas ele não poderia encarnar em um corpo de
carne na Terra a menos que encontrasse um corpo físico,
um corpo etérico e um corpo astral bem preparado para
recebê-lo. Ele tinha a maior força, mas só poderia vir a
existir se outro ser tivesse suficientemente refinado e pu-
rificado um corpo físico, um corpo etérico e um corpo
astral. Cristo só pôde ser encarnado graças a uma perso-
nalidade que soube atingir esse alto grau de desenvolvi

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MITOS E MISTÉRIOS EGÍPCIOS

mento. Essa personalidade foi Jesus de Nazaré. Atingiu


um grau de perfeição tão elevado que foi capaz, durante
a vida, de purificar seu corpo físico, seu corpo etérico e
seu corpo astral a ponto de poder deixá-los aos trinta
anos, deixando-os aptos para continuar a viver, para ser
usado por uma entidade superior (I). Já me aconteceu
muitas vezes, quando expliquei que Jesus devia ter atin-
gido um alto grau de desenvolvimento para poder sacri-
ficar esses corpos, ouvir uma objeção muito bizarra: Mas
isso não é um sacrifício, pelo contrário, podemos imagi-
nar algo mais bonito? Não podemos falar de sacrifício
quando se trata de entregar seu corpo à ação de uma en-
tidade tão elevada. Sim, claro, é uma tarefa muito bonita,
e o sacrifício não é grande quando o imaginamos de
forma tão teórica, mas gostaríamos de responder a quem
faz esta objeção: Então tente você mesmo. Claro, todos
estão prontos para fazer o sacrifício, mas a situação
muda um pouco quando se trata de agir. Forças imensas
são necessárias para aqueles que desejam purificar seus
corpos a ponto de poderem continuar a viver quando fo-
rem deixados. E é para adquirir essas forças que os sa-
crifícios são necessários. Jesus de Nazaré, para conse-
guir isso, teve que ser uma individualidade muito ele-
vada primeiro. O Evangelho de São João indica quando
Jesus deixou seu corpo físico, seu corpo etérico e seu
corpo astral para entrar no mundo espiritual, e quando
Cristo entrou neste invólucro corporal triplo. Foi na
época do batismo de Jesus no rio Jordão.
(I). Ver Rudolf Steiner: Evangelho de João (Hamburgo, 1908) e Evange-
lho de São João (Cassel, 1909).

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MITOS E MISTÉRIOS EGÍPCIOS

Algo muito importante aconteceu ali nos corpos de Jesus


de Nazaré. O que vou dizer sobre isso; vai mais uma vez
assustar os materialistas. Nesse momento algo aconteceu
de especial até no corpo físico de Jesus de Nazaré. Se
quisermos entender o que aconteceu no momento do ba-
tismo quando Cristo entrou em Jesus, devemos nos con-
centrar no estudo de algo que parece muito estranho, mas
que não é menos verdadeiro.
Durante a evolução da humanidade, os vários órgãos
do corpo se desenvolveram, se aperfeiçoando aos pou-
cos. Vimos que, quando o corpo atingiu a altura do qua-
dril em sua formação, certas funções apareceram. Junto
com essa formação autônoma da individualidade hu-
mana, houve um endurecimento do sistema ósseo.
Quanto mais um homem se emancipava, mais seu sis-
tema ósseo se endurecia; mais também a morte se tornou
poderosa. Este é um ponto com o qual devemos ter cui-
dado se quisermos entender o resto. Por que o homem
deve morrer, por que seu corpo deve ser vítima da de-
composição? É porque o corpo humano, incluindo os os-
sos, podem tornar-se uma presa do fogo. O fogo con-
some tudo, até a substância óssea. O homem não pode
agir sobre seus ossos, pelo menos agir conscientemente.
Esta é uma área que está além de seu poder. Na época do
batismo do Jordão, quando Cristo entrou no corpo de Je-
sus de Nazaré, o sistema ósseo deste ser tornou-se bas-
tante diferente do de outros homens. Esse facto nunca
havia acontecido antes, nunca aconteceu novamente
desde esse momento até hoje. Com a entidade de Cristo
entrou no corpo de Jesus algo que dominou as forças

-167-
MITOS E MISTÉRIOS EGÍPCIOS

que consomem os ossos. Hoje o homem ainda não tem o


poder de construir ossos por sua vontade. Mas a força
consciente da entidade crística se apodera de todo o
corpo, até mesmo dos ossos; esse é um dos factos que
torna o batismo do rio Jordão tão importante. Ele implan-
tou na terra algo que pode ser chamado de poder da
morte, pois a morte surgiu com os ossos. Um poder que
toma conta de um corpo até os ossos simultaneamente
ganha a vitória sobre a morte, vence a morte no mundo.
Este é um mistério sagrado; por meio de Cristo, algo di-
vino, profundamente sagrado, entrou nos ossos de Jesus
de Nazaré. É por isso que esses ossos tinham que ser res-
peitados. Portanto, a palavra das escrituras é cumprida:
Vós não deveis quebrar seus membros. A mão humana
não deve tocar as forças divinas. Este é um dos maiores
mistérios da evolução da humanidade. Ao mesmo
tempo, chegamos a uma das concepções mais importan-
tes do cristianismo esotérico, que nos permite ver que
esse cristianismo está imbuído das mais altas verdades.
Chegamos ao batismo. Pelo facto de que a entidade Crís-
tica tomou posse de três corpos que pertenceram à indi-
vidualidade de Jesus, um ser que uma vez habitou o Sol
unido à Terra. Anteriormente, estava unido à Terra até
que o Sol se separasse dela. Cristo a deixou ao mesmo
tempo e, desde então, só pôde exercer sua influência so-
bre a Terra de fora. No instante em que o batismo ocor-
reu, a alta entidade Crística se reuniu de novo totalmente
com a Terra. Anteriormente, ele agia sobre ela de fora,
ofuscou os profetas e participava dos Mistérios.
Neste momento, ele encarna na própria Terra em um

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MITOS E MISTÉRIOS EGÍPCIOS

corpo físico humano. O que aconteceria se, colocado em


um ponto distante do universo, um ser pudesse observar
a Terra através dos milênios, um ser que teria observado
não apenas a Terra física, mas também suas correntes es-
pirituais, seu corpo astral e seu corpo etérico, este ser te-
ria sofrido mudanças profundas na hora do batismo e na
hora em que, no Gólgota, o sangue escorria das feridas
de Cristo. O corpo da Terra foi profundamente transfor-
mado como resultado. Ele recebeu algo novo, ganhou
novas cores. Outra força foi incorporada à Terra. O que
antes agia sobre ela de fora, se une a ela. É isso que tor-
nará a força de atração recíproca da Terra e do Sol tão
grande, que eles se encontrarão novamente, e que o ho-
mem se encontrará entre os espíritos do Sol. É Cristo
quem dá a possibilidade à Terra de se unir novamente ao
Sol e de se encontrar no seio da divindade.
Este é o evento que ocorreu e este é o seu signifi-
cado. Isso é o que se deve sentir antes de compreender a
importância da encarnação de Cristo para a Terra. E
agora podemos conceber como, unindo-se internamente
a Cristo, o homem pode adquirir algo que ilumine a cons-
ciência após a morte. Não percamos isso de vista, e tam-
bém entenderemos que a vida entre a morte e o novo nas-
cimento também está sujeita à evolução. Perguntamos
agora porque tudo isso aconteceu?
O homem viveu pela primeira vez no seio da divin-
dade. Então ele desceu ao plano físico. Se ele tivesse fi
cado no alto, nunca teria adquirido a autoconsciência que
tem hoje. Ele nunca teria tido consciência do Eu. Era
apenas no corpo físico, que ele podia nutrir a autoconsci-

-169-
MITOS E MISTÉRIOS EGÍPCIOS

ência em toda a sua clareza luminosa. Era necessário que


os objetos externos viessem contra ele, para que se dis-
tinguisse deles, ele tinha que descer ao mundo físico. É
para adquirir um eu que o homem desceu à terra. Por si
mesmo, o homem é um filho dos deuses. Este eu, descido
das alturas espirituais, foi transformado no corpo físico,
para se tornar luminoso e claro ali. É a matéria endure-
cida do corpo humano que deu ao homem seu ego, sua
consciência de si mesmo, que o capacitou a adquirir co-
nhecimento. Mas, ao mesmo tempo, ela o acorrentou à
massa da terra, à rocha da terra.
Antes de receber seu Ser, o homem adquiriu um
corpo físico, um corpo astral e um corpo etérico. Quando
o Eu se desenvolveu aos poucos nesses três corpos, ele
os transformou. Deve ser lembrado que todos os elemen-
tos superiores do ser humano actuam no corpo físico. Se
o corpo físico é o que é, é por causa da acção exercida
sobre ele pelos corpos etérico e astral, e pelo eu. Todos
os órgãos do corpo físico foram, em certo sentido, influ-
enciados pelas transformações que ocorreram nos corpos
superiores. Os seres que ficaram para trás tornaram-se
diferentes formas animais, por exemplo pássaros, sob a
influência predominante do corpo astral. À medida que
se tornou mais e mais consciente de si mesmo, o eu trans-
formou o corpo astral. Já vimos que alguns humanos se
isolaram do resto da evolução. Os chamados animais
apocalípticos são tipos nos quais um ou outro dos corpos
superiores desempenhou um papel importante. O Eu de-
sempenhou esse papel em seres do tipo anjo ou homem.
Agora todos os órgãos estão adaptados aos corpos supe-

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MITOS E MISTÉRIOS EGÍPCIOS

riores do ser humano. Pelo facto do Eu ter entrado no


corpo astral, absorvendo-o inteiramente, certos órgãos
foram formados no homem e nos animais, que assim se
separaram do resto da evolução. Um dos órgãos do
corpo, por exemplo, deve-se ao facto de um eu ter des-
cido à Terra. Na Lua, nenhum, eu estava unido aos seres
daquela época. Certos órgãos estão relacionados a essa
evolução: são o fígado e a bile. A bile é a expressão física
do corpo astral. Não é em relação ao eu, mas o eu actua
no corpo astral e as forças do corpo astral na bile. Vamos
agora apreender como um todo, a imagem que o iniciado
expôs ao egípcio: O homem dotado de um Eu consciente
estava acorrentado ao corpo da Terra. Imagine o homem
acorrentado à rocha terrestre, ao corpo físico; algo acon-
teceu na evolução que está minando, corroendo sua
imortalidade! Imagine as funções que criaram o fígado:
elas surgiram do facto de o corpo estar preso à rocha ter-
restre. É o corpo astral que o atormenta ... Tal é a imagem
que foi evocada antes do neófito egípcio e que chegou à
Grécia na forma da lenda de Prometeu. Este mito não
deve ser abordado de animo leve. Não devemos despir
esta imagem como quem remove a poeira colorida das
asas da borboleta. Deixemos ás asas sua cor, deixemos
às flores seu orvalho. Não podemos atormentar, distorcer
essas imagens. Não podemos dizer: Prometeu significa
isso ou aquilo. Devemos tentar encontrar o facto espiri-
tual e então entender a imagem que nasceu dele e que
passou para a consciência humana.
O iniciado egípcio conduziu seu aluno até o ponto
em que aprendeu a compreender a evolução do eu do

-171-
MITOS E MISTÉRIOS EGÍPCIOS

homem. Sua mente tinha de ser capaz de formar uma


imagem disso. Mas ele não deve interpretar os factos
abruptamente; a imagem estava diante dele, brilhante e
viva; o iniciado egípcio não queria compactar ideias se-
cas e insípidas em frases; ele queria representar em ima-
gens sua aparência. A lenda de Prometeu foi embele-
zada, adornada com poesia; não temos o direito de colo-
car nela, mais do que os factos ocultos que a constituem
e de despojar a imagem de suas melhores qualidades ar-
tísticas.
Outra coisa ainda. Quando ele chegou à Terra, o ho-
mem ainda não tinha um eu. Antes do eu entrar nele, ou-
tras forças eram mestres do corpo astral. Então o corpo
astral, luminoso e fluido, foi penetrado pelo eu. Anteri-
ormente, as forças astrais haviam sido enviadas ao ho-
mem por entidades espirituais. O corpo astral estava lá,
mas animado por seres divinos. Claro e puro, ele envol-
veu com seu fluxo luminoso o germe do corpo físico e
do corpo etérico. Seu fluxo muito límpido os envolveu e
os penetrou. Mas com o eu veio o egoísmo, e o corpo
astral escureceu, o fluxo de ouro puro desapareceu cada
vez mais até ao momento em que o homem, descendo no
plano físico, atingiu seu ponto mais baixo no período
greco-latino.
O homem teve de buscar recuperar esse influxo puro
do corpo astral, e é isso que produziu nos Mistérios o que
se chamou: a busca da pureza original do corpo astral.
Os mistérios de Elêusis tendiam a devolver ao corpo as-
tral sua pureza de ouro puro; os mistérios egípcios tam-
bém. A conquista do Tosão de Ouro representa uma

-172-
MITOS E MISTÉRIOS EGÍPCIOS

das provas da iniciação egípcia: foi preservada para nós


na maravilhosa lenda de Jasão e os Argonautas. Segui-
mos o curso da evolução, quando os órgãos inferiores
ainda se assemelhavam aos barcos de que falamos, o
corpo astral, na massa líquida da Terra, ainda tinha sua
cor luminosa e dourada. Na Terra Líquida, o corpo astral
do homem ainda era transparente como ouro. A história
dos Argonautas representa a busca por esse corpo astral.
A conquista do Tosão de Ouro está ligada ao mito egíp-
cio por ligações sutis e finas.
Eventos históricos externos estão relacionados a fac-
tos espirituais. Não pense que isso é apenas um símbolo.
A expedição náutica Argo aconteceu, assim como a
Guerra de Troia. Os eventos externos são o aspecto visí-
vel dos processos internos; eles formam factos históri-
cos. Entre os neófitos gregos, o facto histórico tornou-se
um acontecimento interno: a conquista do Tosão de Ouro
tornou-se a do corpo astral puro. À medida que continu-
amos este estudo, veremos mais alguns factos dos Mis-
térios e como os mistérios egípcios se relacionam com a
vida atual.

-173-
XI

O CONHECIMENTO DA EVOLUÇÃO E A CIÊNCIA


FISIOLÓGICA CÓSMICA DOS ANTIGOS
EGÍPCIOS REAPARECEM HOJE EM FORMA
MATERIALISTA GROSSEIRA

Em diversas ocasiões, tentamos esboçar a evolução


pós-Atlante e indicamos que em nosso tempo existe uma
espécie de repetição, de ressurreição das experiências
que os homens tiveram durante a civilização caldaico-
egípcia. Vamos esboçar esquematicamente o elo que une
essas duas épocas, como fizemos para outras civiliza-
ções. Já vimos que a cultura Hindu se reproduzirá du-
rante a sétima civilização, a era persa durante a sexta,
que a era egípcia se repete, e que a quarta civilização, a
era Greco-latina permanece isolada, sem corresponden-
cia. Veremos que ligação nosso tempo une com a era
egípcia e que experiências, interiores e exteriores, uma
vez feitas pelo homem, são ressuscitadas hoje.
Forças espirituais misteriosas, às quais certas forças
correspondem no mundo físico, são a causa dessas repe-
tições. Elas provocam a ressurreição de certas condições
exteriores e interiores.

-174-
MITOS E MISTÉRIOS EGÍPCIOS

No ponto central da evolução está a civilização


greco-latina, durante a qual Cristo apareceu na Terra e
onde o mistério do Gólgota foi realizado. Não apenas as
condições externas de vida no plano físico estão mu-
dando, mas os eventos no mundo espiritual estão sujeitos
a mudanças. Indiquei que a alma do egípcio que contem-
plava as imensas pirâmides não era mais a mesma
quando reencarnou na era greco-latina, e se transformou
novamente em nossa era. Vimos que, além disso, uma
espécie de progresso, de transformação também ocorre
nas condições de vida entre a morte e um novo nasci-
mento, no Kamaloka, no Devachan; de modo que a alma
experimenta várias coisas de acordo com o tempo em
que deixa o corpo físico e entra no Kamaloka ou no De-
vachan. O mundo exterior muda, mas o mundo espiritual
também está sujeito ao progresso, e as experiências das
almas lá são transformadas. Vamos agora estudar do
nosso ponto de vista o aparecimento de Cristo em nossa
Terra. Quão importante é o aparecimento de Cristo em
nossa Terra para as almas dos mortos, para a vida além,
para a existência espiritual? Antes de embarcar neste es-
tudo, vamos precede-lo de algumas considerações sobre
o que estava acontecendo além, e abaixo do mundo físico
nos tempos egípcios.
Pelo que vimos sobre as grandes eras da evolução
terrestre, podemos imaginar a civilização caldaico-egíp-
cia como o reflexo, no mundo interior do conhecimento,
da vida espiritual, do que aconteceu durante a Idade
Lemuriana, durante e após a partida da Lua. Os eventos
que aconteceram durante este período foram lembrados

-175-
MITOS E MISTÉRIOS EGÍPCIOS

por homens no ensino de iniciados egípcios. Durante sua


iniciação, o egípcio experimentou internamente o que o
homem percebe somente depois de passar pela porta da
morte. Sem dúvida, essa experiência interior foi dife-
rente do que a alma de uma pessoa morta percebe. Ela
era diferente e muito mais rica. Caracterizaremos em
poucas palavras a natureza da iniciação egípcia, que
constitui a base de nosso presente estudo. A iniciação
egípcia é muito diferente da iniciação praticada, no
tempo após a vinda de Cristo. Pois esta vinda transfor-
mou fundamentalmente a natureza da iniciação.
Junto com a descida no plano físico, as experiências
entre a morte e um novo nascimento tornaram-se cada
vez mais obscuras, enfraquecidas. Quanto mais crescia a
consciência física do homem, mais cara se tornava sua
estadia na Terra; quanto mais ele descobria suas leis,
mais sua consciência no mundo espiritual se tornava obs-
cura. Mas antes que o homem descesse ao abismo da ma-
téria, não lhe era possível experimentar, em seu corpo
físico, o que é necessário ter vivido entre o nascimento e
a morte para ter acesso à visão dos mundos espirituais.
A iniciação é o que dá ao homem a capacidade de desen-
volver órgãos de clarividência na parte superior do
corpo. Hoje o homem não pode ver na escuridão. É por-
que seu corpo astral não possui órgãos de percepção. As-
sim como os olhos e os ouvidos, órgãos da percepção
física, foram formados no corpo, os órgãos supersensí-
veis devem se desenvolver na parte superior do corpo do
homem e complementá-los. Esse objetivo pode ser al-
cançado por meio de certos exercícios de meditação e

-176-
MITOS E MISTÉRIOS EGÍPCIOS

concentração. O homem faz esses exercícios depois de


receber instruções abrangentes sobre os mundos superi-
ores de iniciados. Neófitos de todas as idades sempre es-
tudaram o que hoje chamamos de teosofia elementar. O
cuidado estrito foi tomado para garantir que os neófitos
gradualmente adquirissem conhecimento dessas verda-
des. Quando a preparação teórica foi a suficiente, os neó-
fitos prontos, aprenderam os exercícios internos. Esses
exercícios corresponderam a um objetivo bem definido.
Quando se deixa que as impressões dos sentidos ac-
tuem sobre si mesmo, essas impressões se prolongam no
corpo astral, que as transmite ao Eu. Mas o homem não
está em condições de retê-los quando, à noite, seu corpo
astral e seu eu, deixam os corpos físico e etérico. As im-
pressões sensíveis que um homem recebe no plano físico
não são profundas o suficiente para que ele as retenha.
Mas quando ele se envolve em exercícios de meditação
e concentração, planejados de acordo com uma experi-
ência milenar, eles acompanham o corpo astral quando
ele foge à noite para fora do corpo físico. O corpo astral
recebe assim as impressões plásticas que o formam, or-
ganizam, à medida que os órgãos físicos foram forma-
dos. O corpo astral está, portanto, sujeito por um certo
tempo ao trabalho devido a esses exercícios. É assim que
ele recebe órgãos suprasensíveis de clarividência. No en-
tanto, o homem ainda está muito longe de poder usar es-
ses órgãos quando acabam de ser impressos no corpo as-
tral. Algo mais é necessário para o corpo astral, quando
retornar ao corpo etérico, para imprimir nele como em
cera o que foi formado nele. É somente quando o

-177-
MITOS E MISTÉRIOS EGÍPCIOS

o corpo etérico recebe este selo que ocorre a iluminação,


pela qual o homem se torna capaz de ver o mundo espi-
ritual como ele vê o mundo físico hoje. Estamos agora
começando a conceber que importância pode ter tido o
impulso que Cristo nos deu ao encarnar na Terra. Nas
antigas iniciações, o corpo astral só tinha força para agir
no corpo etérico quando era retirado do corpo físico. Isso
porque o corpo etérico conectado ao corpo físico naquele
momento teria oferecido muita resistência à impressão
do que se havia formado no corpo astral. É por isso que
o neófito já esteve imerso por três dias e meio em um
estado semelhante ao da morte, no qual o corpo físico foi
abandonado pelo corpo etérico, e este último, liberado
do corpo físico, pôde unir-se ao corpo astral, que então
imprimiu nele o que nele havia sido formado pelos exer-
cícios. Quando o hierofante então despertou o neófito,
ele se iluminou, ele sabia o que se passava no mundo
espiritual, pois havia feito uma estranha jornada durante
os três dias e meio. Ele havia viajado pelas regiões espi-
rituais, ele experimentou o conhecimento que outro ho-
mem não poderia receber senão por meio de uma revela-
ção. Ele poderia então se basear em suas próprias expe-
riências e transmitir conhecimento aos seres do mundo
espiritual.
É assim que se aprende a viver no reino espiritual
quando a evolução ainda não havia atingido o ponto mais
baixo do plano físico. O neófito contemplou as verdadei-
ras faces de Osíris, Ísis e Hórus. Ele viu os factos reais
da lenda e os contou a outros homens em forma mitoló-
gica: a ação de Osíris quando a Lua se separou da Terra:

-178-
MITOS E MISTÉRIOS EGÍPCIOS

Hórus gerado por Ísis e Osíris; os quatro tipos humanos,


Touro, Leão, Águia e Anjo. Ele também viu a vida do
homem entre a morte e um novo nascimento. A esfinge
realmente apareceu para ele, ele a viu. Ele poderia dizer:
eu vi a esfinge, o homem cuja forma se assemelha ao
animal, e cujo corpo etérico, semelhante à forma hu-
mana, ultrapassa este corpo animal. A esfinge era uma
realidade para o iniciado. Ele tinha ouvido sua pergunta
enigmática. Ele tinha visto como o corpo humano gradu-
almente se libertou da vida animal, numa época em que
a cabeça existia apenas na forma de um germe etérico;
assim lhe apareceu a cabeça etérea da esfinge, era uma
realidade para ele, assim como os antigos deuses que,
engajados em outro caminho, seguiram outra evolução.
Vimos, de facto, no capítulo anterior, que certas en-
tidades seguem uma evolução diferente da humana. É o
caso, por exemplo, de Wotan. Até certo ponto, ele foi
com o homem, mas não desceu tão baixo quanto ele. O
homem tem continuado sua descida na matéria, e só se
reunirá mais tarde com os seres que buscam uma evolu-
ção paralela à Terra. A partir de certo ponto, Wotan não
mais encarnou na Terra. Mas Osíris e Ísis se desviaram
da linha de evolução da Terra muito antes desses seres;
eles continuam sua evolução em uma esfera superior e
permanecem completamente imperceptíveis. Se voltar-
mos aos tempos da Lemúria, descobriremos que o eté-
rico ainda não assumiu a forma humana; ele ainda se pa-
rece com o animal, e os deuses que descem à Terra de-
vem se contentar com isso e aparecer na forma animal
que é a do homem naquela época. Quando uma entidade

-179-
MITOS E MISTÉRIOS EGÍPCIOS

deseja entrar em uma esfera, ela é obrigada a se submeter


às condições que nela prevalecem. Os seres divinos que,
durante a partida da Lua e do Sol, se uniram à Terra, de-
vem ter levado naquele momento o animal forma que
correspondeu ao grau normal de evolução. A concepção
religiosa dos egípcios representando, em certo sentido,
uma repetição da era lemuriana, o iniciado egípcio via
seus deuses, por exemplo Osíris e Ísis, em uma forma
semelhante à de um animal. Ele viu as divindades supe-
riores com cabeças de animais. É por isso que as repre-
sentações dessas divindades as mostram com a cabeça de
um carneiro ou de um falcão, de acordo com os relatos
dos iniciados; o que corresponde exatamente à visão
oculta. Os deuses foram representados na forma que ti-
nham quando peregrinaram na terra. Essas representa-
ções não podiam ser uma reprodução exata do que o ini-
ciado viu, mas eram tão fiéis quanto possível. Aquelas
entidades espirituais estavam mudando rapidamente. A
forma que tinham na Atlântida era muito diferente da
forma que tinham na Lemúria. De modo geral, os seres
estavam se transformando muito mais rápido do que
agora. Além disso, eles ainda eram todos espirituais, e
quando alguém olha para trás, vê-os em seus três corpos,
mas interiormente iluminados e radiantes com luz espi-
ritual. Isso foi fielmente reproduzido nos desenhos; os
homens modernos se divertem com muita facilidade por-
que ignoram o quanto correspondem à realidade.
Quando o pensamento lógico foi dado ao homem por
poderes cósmicos, havia uma entidade divina que de-
sempenhou um papel particularmente activo naquela

-180-
MITOS E MISTÉRIOS EGÍPCIOS

época. Nessa época, o cérebro físico foi preparado para


que o homem posteriormente pudesse desenvolver inte-
ligência. Essa faculdade foi implantada no homem aos
cuidados do deus Manou; que está diretamente relacio-
nado à inteligência. Quando estudamos por clarividência
um ser humano dotado de uma inteligência lógica, de um
juízo particularmente desenvolvido, encontramos a ex-
pressão, o reflexo, num vislumbre verde do corpo astral,
da aura astral. O pensamento de cálculo é revelado por
nuances verdes da aura, especialmente naquelas de inte-
ligência matemática muito exata. Os antigos iniciados
egípcios viram o deus que implantou essa faculdade no
homem, reproduziram-na e pintaram-na de verde, pois
viram sua forma etérica e astral brilhar com um fulgor
verde. Até hoje, é a cor brilhante que surge quando um
homem invoca sua inteligência. Poder-se-ia estudar mui-
tos mais relatórios desse tipo se realmente se quisesse
mergulhar no magnífico realismo dos deuses egípcios.
Por corresponderem à realidade, por não serem arbitrá-
rias, essas representações dos deuses agem como uma
poção; quem sabe ver a profunda realidade das coisas
poderá reconhecer nas cores dessas antigas estátuas de
deuses os vestígios de múltiplos segredos. Existem coi-
sas lá que nos permitiriam mergulhar mais fundo na evo-
lução da humanidade.
Mas as formas estavam mudando constantemente. A
da esfinge representa o que o homem um dia foi. Os seres
humanos forjaram sua própria forma actual por conta
própria. Já sabemos que durante a evolução terrestre vá-
rias formas animais foram sucessivamente eliminadas.

-181-
MITOS E MISTÉRIOS EGÍPCIOS

Afinal, o que é uma forma animal? É uma forma que se


instalou conforme o homem continuou a andar. Os ani-
mais são testemunhos de diferentes estados pelos quais
passou a evolução física, testemunhos que se formaram
no mundo material. A evolução espiritual do homem
ocorreu de maneira bem diferente. A forma actual do es-
pírito humano não tem nada a ver com nossos ancestrais
físicos. Apenas o corpo físico é o descendente. Mas os
homens não descendem dos animais, são os animais que
permaneceram imóveis. A forma humana continuou a se
metamorfosear até atingir uma certa elevação. Os ani-
mais são os testemunhos degenerados das formas huma-
nas físicas do passado. Outra área da evolução é gover-
nada por outras leis. Além disso, não foram apenas as
formas físicas dos animais que foram deixadas para trás;
o germe das formas etérica e astral também. Assim como
Leão, quando se separou do curso normal da evolução,
tinha um aspecto físico diferente do actual, certas formas
espirituais, também atrasadas, mudam com o tempo, de-
generam. Em virtude de uma lei do reino espiritual, tudo
o que permanece estacionário no reino espiritual só pode
degenerar.
Podemos dizer, por exemplo, que a esfinge, a partir
do momento em que sua forma se fixou, começou a de-
generar, que essa forma aos poucos se tornou uma espé-
cie de caricatura de si mesma. A esfinge é preservada
como está no plano astral. Essas formas decadentes, es-
ses restos degenerados do mundo espiritual são de pouco
interesse para o homem que acede aos mundos superio-
res por iniciação ou por qualquer outra rota regular.

-182-
MITOS E MISTÉRIOS EGÍPCIOS

É para aqueles que chegam anormalmente ao mundo as-


tral, que são dotados apenas de uma clarividência infe-
rior, que eles aparecem. Édipo viu a verdadeira esfinge,
que ainda não está extinta hoje. Ela ainda vive, mas pa-
rece aos homens de uma forma diferente. Exemplos são
encontrados entre a população rural, por exemplo, onde
os camponeses, atrasados na evolução, têm visões; eles
cochilam nos campos sob o fogo ardente do sol de verão,
há uma espécie de insolação neles, sob esta influência o
corpo astral é separado do corpo físico, e o corpo etérico
também o deixa parcialmente; esses homens são então
transportados no plano astral, e têm a visão deste último
vestígio degenerado da esfinge. Esta aparição recebeu
vários nomes. Em algumas áreas ela é chamada de se-
nhora do meio-dia, ela existe em todos os lugares, com
nomes diferentes e representa uma forma decadente da
antiga esfinge. E como a esfinge, ela faz perguntas a
quem a encontra. Você pode ouvir as pessoas dizerem
que viram a senhora do meio-dia que lhes fazia pergun-
tas intermináveis. Essas perguntas sem fim são um le-
gado decadente da antiga esfinge. A senhora do meio-dia
é uma metamorfose da esfinge. Tudo isso nos mostra
que, por trás do plano físico, a evolução também conti-
nua; grupos inteiros de seres espirituais degeneram e, em
última análise, não são mais do que uma sombra do que
já foram. Tal facto sugere quão complexas são as leis da
evolução. Ao citá-lo, queríamos apenas revelar um
pouco de sua infinita diversidade.
Para compreender isso plenamente, não devemos es-
quecer que, ao longo do tempo, o homem incorporou um

-183-
MITOS E MISTÉRIOS EGÍPCIOS

Eu em seus três corpos, físico, etérico e astral, existentes


desde o início da evolução da Terra. Mostrei como esse
“Eu” entrava no corpo astral, exercendo sobre ele o do-
mínio que antes era reservado para altas entidades espi-
rituais. É graças aos seres superiores que o Eu foi im-
plantado no corpo astral. Se a evolução tivesse continu-
ado na direção que certos seres divinos queriam imprimir
nela, ela teria tomado ... um caminho diferente do que
ela realmente tomou. Mas, no passado, algumas entida-
des permaneceram estáticas. Elas não foram capazes de
colaborar com aqueles que incorporaram o eu ao corpo
astral.
Quando pôs os pés na terra, o homem consistia no
corpo físico, no corpo etérico e no corpo astral, e conti-
nuou a desenvolvê-los. Entidades divinas muito eleva-
das, que peregrinaram principalmente no Sol e na Lua,
concederam a ele o dom da individualidade. Mas outras
entidades, que durante a evolução de Saturno, o Sol e a
Lua, não se desenvolveram suficientemente, não pude-
ram colaborar neste presente. Elas só podiam agir de
acordo com o que haviam adquirido na lua. Elas tinham
que se contentar em actuar no corpo astral do homem,
incorporando certos elementos que não são os mais no-
bres de sua natureza, porque vieram a ele, não de altas
entidades divinas, mas de despojos. Se esses seres tives-
sem realizado este trabalho na Lua, teria sido um traba-
lho de perfeição. Mas porque fizeram isso tarde demais,
na Terra, eles incorporaram algo ao corpo astral que o
rebaixou, tornando-o mais vil do que seria de outra
forma. Eles o dotaram de instintos, paixões, egoísmo.

-184-
MITOS E MISTÉRIOS EGÍPCIOS

Não esqueçamos que o homem sofreu duas influências,


uma das quais resultou no rebaixamento de seu corpo as-
tral. Mas essa influência não pode se limitar ao corpo as-
tral. O homem terreno é feito de tal forma que uma ação
imposta ao seu corpo astral é transmitida por ele ao corpo
etérico e dali ao corpo físico. O campo de acção do corpo
astral se estende muito longe, e através dele, os espíritos
de que falamos acima actuaram no corpo etérico e no
corpo físico. Se esses espíritos não tivessem sido capazes
de agir neste sentido, o homem não teria visto nele o nas-
cimento que se deve à sua acção, ou seja, um sentimento
do eu, uma autoconsciência mais intensa. No corpo eté-
rico foi formado tudo o que contribui para obscurecer o
julgamento, tudo o que torna o homem sujeito a cometer
erros. No corpo físico, a ação prolongada do corpo astral
ocasionou a formação de possibilidades de doenças. É a
causa espiritual das doenças do homem; doença animal
é outra coisa. Aqui vemos como a doença se implantou
no homem, o que está relacionado às causas espirituais
que acabamos de indicar. E uma vez que o corpo físico
e o corpo etérico estão sujeitos às leis da herança, o prin-
cípio da doença é transmitido por via hereditária. Enfa-
tizamos aqui mais uma vez que devemos distinguir entre
lesões externas e doenças internas. Quando um homem
é atropelado, não tem nada a ver com herança. Algumas
doenças internas também podem ser causadas por causas
externas; quando você come algo que perturba seu estô-
mago, é naturalmente também um facto externo. - No
decorrer da evolução, antes de os espíritos de que esta-
mos falando exercerem sua influência sobre o homem,

-185-
MITOS E MISTÉRIOS EGÍPCIOS

ele foi feito de tal forma que reagiu muito mais forte-
mente do que hoje contra todas as más ações. Mas ele
perdeu aquele instinto seguro à medida que esses espíri-
tos ganharam influência. Anteriormente, seu corpo era
arranjado de forma que o homem fosse provido de ins-
tintos sutis para o que quer que estivesse errado com ele;
quando lhe foi oferecido um alimento que agora causa
problemas estomacais, seus instintos naturalmente o re-
jeitaram. À medida que recuamos no tempo, encontra-
mos o homem mais intimamente, mais sutilmente conec-
tado às forças de seu ambiente, reagindo com mais segu-
rança à influência dessas forças. Com o tempo, o homem
tornou-se cada vez menos capaz de repelir o que não era
lucrativo para ele.
Outro facto está também relacionado a isso. À me-
dida que o homem se interiorizava, algo acontecia no
mundo: surgiam os três reinos da natureza. Eles só se
formaram ao nosso redor gradualmente. O homem nas-
ceu primeiro. Veio então o reino animal, depois o reino
vegetal e, finalmente, o reino mineral. Se olharmos para
trás, para a Terra original, quando ela ainda estava unida
ao Sol, encontraríamos um ser humano em quem todas
as substâncias do universo vêm e vão. Ele ainda vivia no
seio dos deuses; ele sustentou, por assim dizer, tudo em
si mesmo. Então ele teve que deixar para trás o que se
tornou o reino animal primeiro; se o tivesse guardado
dentro de si, não poderia ter alcançado um grau superior
de evolução. Ele, portanto, rejeitou o reino animal e,
mais tarde, o reino vegetal.
Os animais e as plantas nada mais são do que tem-

-186-
MITOS E MISTÉRIOS EGÍPCIOS

peramentos, paixões, certas tendências que o homem


teve de expulsar de si mesmo. E quando formou seus os-
sos, rejeitou o mundo mineral. Olhando ao seu redor, ele
poderia então dizer: Eu costumava apoiar, as idas e vin-
das em mim como o ar entra e sai em meus pulmões.
Quando eu morava na Terra Líquida, eu apoiava, traba-
lhava pela vossa transformação. Agora que está além de
mim, eu não posso apoiar, não posso mais agir sobre si.
Quando a pele se fechou sobre seu corpo, quando ele se
tornou um ser isolado, o homem tinha ao seu redor os
três reinos naturais que possuía.
Suponha que a ação desses espíritos não pudesse ser
realizada, outra consequência que se segue não teria
ocorrido. Enquanto um homem goza de boa saúde, ele
tem uma relação normal com o mundo exterior. Mas
quando o problema surge nele, suas forças saudáveis de-
vem restaurar a ordem. Se eles estão desamparados, da-
mos-lhe um remédio. Uma substância externa deve vir
para despertar nele a força de resistência que ele tinha
naturalmente no momento em que foi atravessado por
forças externas. Você pode precisar dar a ele, por exem-
plo, a força de um metal para curá-lo. É correto usarmos
metais, sucos vegetais, etc. como remédios, pois são for-
ças com as quais o homem já esteve unido.
Na época em que os iniciados egípcios podiam es-
tender seu olhar espiritual por todo o curso da evolução
humana, eles tinham o conhecimento exacto das corres-
pondências que existem entre os vários órgãos do corpo
humano e as substâncias externas; eles sabiam qual subs-
tância vegetal ou metálica era adequada para curar tal

-187-
MITOS E MISTÉRIOS EGÍPCIOS

doença. Um dia será descoberto no campo da medicina


um imenso tesouro de conhecimento oculto, que a huma-
nidade já conheceu. Hoje, não só desperdiçamos muito
em medicina, mas cometemos muitos erros porque atri-
buímos exclusivamente a este ou aquele produto quali-
dades terapêuticas específicas. O verdadeiro ocultista
nunca faz julgamentos exclusivos. Quantas vezes tive-
mos que rejeitar certos métodos que tendem a compro-
meter a Ciência Espiritual. Não pode apoiar nenhum
princípio; pelo contrário, ela quer uma ciência variando
seus princípios ad infinitum. É tão exclusivo como dizer:
Chega de venenos na medicina! Isso prova que não co-
nhecemos as verdadeiras forças de cura. É claro que fa-
zemos muitas asneiras hoje, porque a maioria dos espe-
cialistas não conhece todas as relações, falta-lhes o pa-
norama geral. Além disso, a ciência médica, obedecendo
a um princípio tirânico, rejeita qualquer coisa que surja
do ocultismo. Uma reforma poderia ser feita se uma
campanha não tivesse sido empreendida contra as mais
antigas verdades médicas, sobretudo, a cura com subs-
tâncias metálicas. Os experimentos modernos eternos
não conseguiram descobrir nada que se mostrasse tão
eficaz quanto os remédios muito antigos, contra os quais
a mente incompreensível do leigo às vezes luta brutal-
mente. Os antigos iniciados egípcios tinham uma cons-
ciência muito elevada desses segredos. Eles poderiam
encontrar o fio misterioso que une os factos da evolução.
E quando você ouve alguns médicos falando condescen-
dentemente sobre a ciência médica dos egípcios hoje,
pode ter certeza de que são eles que nada sabem sobre

-188-
MITOS E MISTÉRIOS EGÍPCIOS

isso. Isso para nos revelar um dos numerosos domínios


da ciência iniciática egípcia que é necessário conhecer.
O conhecimento desta ordem passou para a consci-
ência popular. Não vamos esquecer agora que as mesmas
almas que animam nossos corpos hoje também foram in-
corporadas no passado. Essas mesmas almas viram as vi-
sões contadas pelos iniciados. Mas as experiências que a
alma tem de encarnação em encarnação dão frutos. Em-
bora o homem não possa se lembrar disso, o que vive em
sua alma hoje só está lá porque foi depositado lá uma
vez. A alma é moldada além e aquem da vida física. En-
tre o nascimento e a morte, entre a morte e um novo nas-
cimento, ela recebeu a impressão de formas egípcias; é
por isso que as formas modernas de pensamento derivam
deles. O darwinismo não nasceu sob a influência de cau-
sas externas. As almas em que ele vive no Egito recebe-
ram a marca das formas animais do homem da antigui-
dade. Todas essas visões despertaram, mas numa alma
que desceu mais profundamente no mundo material. Ela
se lembra de ter ouvido uma vez: Nossos ancestrais ti-
nham formas de animais... mas ela não se lembra mais
de que essas formas eram habitadas por deuses. Esta é a
profunda razão psicológica para o darwinismo. As for-
mas assumidas pelos deuses reaparecem sob um aspecto
materialista. É nisso que se revela o vínculo espiritual
íntimo que une a velha civilização à nova, da terceira
época à quinta.
Nosso tempo não foi, no entanto, apenas destinado
de rever de forma material o que as almas uma vez con-
templaram em espírito. Teria sido assim se, nesse ínte-

-189-
MITOS E MISTÉRIOS EGÍPCIOS

rim, o impulso de Cristo não tivesse aparecido na Terra.


Esse impulso afetou não apenas a vida física, mas tam-
bém o outro lado da vida, onde as almas dos antigos
egípcios foram encontradas após a morte. Vimos quais
foram as consequências no plano físico. Mas os três anos
de actividade de Cristo, o baptismo do rio Jordão e o
acontecimento do Gólgota foram tão importantes para as
almas encarnadas na terra como para quem se encontrava
entre a morte e o novo nascimento.
Sabemos que a expressão física externa do Ser é o
sangue. As forças físicas que actuam no sangue são a ex-
pressão física do eu. No curso da evolução, o egoísmo
havia se tornado muito intenso, ou seja, a individuali-
dade havia sido impressa com muita força no sangue. E
desse “transbordamento” de egoísmo, a humanidade
deve livrar-se para que o homem recupere a espirituali-
dade. Foi no Gólgota que nasceu o impulso de destruir
esse egoísmo. No instante em que o sangue do Redentor
fluiu no Gólgota, outros eventos aconteceram no mundo
espiritual. O sangue de Cristo fluiu para o mundo mate-
rial; egoísmo desnecessário passa para mundos espiritu-
ais. Para que desaparecesse, era necessário um impulso
dado no Gólgota. Além disso, a fraternidade humana
veio para tomar seu lugar.
Em que consiste o evento do Gólgota, essa morte
que durou três dias e meio no plano físico? É a transpo-
sição no plano físico do que o iniciador sentiu na mente.
Ele permaneceu morto por três dias e meio. E quem já
havia passado por essa morte espiritual poderia dizer aos
homens: essa morte pode ser conquistada. Existe algo

-190-
MITOS E MISTÉRIOS EGÍPCIOS

eterno no mundo. A morte foi vencida pelos iniciados e


eles se sentiram vitoriosos. O mistério do Gólgota tornou
histórico um acontecimento que se repetiu com frequên-
cia nos mistérios de épocas passadas: A vitória do espí-
rito sobre a morte, agora transportada para o plano físico.
Quando permitimos que esta ideia atue sobre nós, senti-
mos que o novo acontecimento representado pelo misté-
rio do Gólgota é uma imagem da velha iniciação. Senti-
mos que este evento único faz parte da história.
Qual foi a consequência? - Anteriormente, o iniciado
poderia dizer a outros homens: “Eu sei que existe um
mundo espiritual, onde se pode viver. Vivi lá três dias e
meio e trago para vocês o testemunho disso. Trago para
vocês os dons do mundo espiritual”. Por outro lado,
tendo chegado ao mundo espiritual, o neófito que viveu
no mundo físico não trouxe nada semelhante aos mortos.
Ele só poderia dizer-lhes: “O mundo físico é tal que o
homem deve ser libertado dele.” Foi assim que os anti-
gos iniciados encontraram os mortos no reino espiritual;
eles só podiam dizer-lhes: “A vida é dor, a saúde está
apenas na libertação. “Isso é o que ensina o Budha, isso
é o que o iniciado ensinou aos mortos e aos vivos. Mas
no evento do Gólgota a morte foi conquistada no mundo
físico, e este é um facto importante para os mortos que
habitam o mundo espiritual. Aqueles que fazem Cristo
reinar neles restauram a clareza na vida obscurecida do
Devachan. Quanto mais o homem aqui em baixo se ali-
mentar de Cristo, mais brilhante se torna a vida no
mundo espiritual. Depois que o sangue foi derramado
das feridas do Redentor - isso faz parte dos mistérios

-191-
MITOS E MISTÉRIOS EGÍPCIOS

do Cristianismo - o espírito de Cristo desceu aos mortos.


Este é um dos mistérios mais profundos da humanidade.
Cristo desceu aos mortos e disse-lhes: “Aconteceu algo
que já não dá direito a dizer: o que se passa em baixo é
menos importante do que o que se passa aqui em cima.
Por meio desse evento, o homem traz um presente do
mundo físico para o mundo espiritual. Este é o testemu-
nho que Cristo trouxe aos mortos durante os três dias e
meio; ele desceu aos mortos para libertá-los.
Na velha iniciação poderia ser dito: Estamos co-
lhendo os frutos do espírito no plano físico! Algo acon-
teceu no mundo físico que agora está funcionando e
dando frutos no mundo espiritual. O homem não realizou
sua descida física em vão. Ele fez isso para que neste
mundo físico colheitas surgissem para o mundo espiri-
tual. As colheitas estão maduras graças a Cristo, que es-
teve com os vivos e os mortos, e que deu um impulso tão
intenso e poderoso que abalou o mundo inteiro.

-192-
XII

A impulsão Crística vitoriosa


sobre a matéria

Completaremos essas visões estudando um pouco o


caráter de nossa época, como havíamos estudado as qua-
tro civilizações pós-atlantes até ao surgimento do cristi-
anismo. Se o período greco-latino, que por um lado re-
presenta o nível mais baixo de evolução, parece de outra
forma tão simpático, tão atraente para os contemporâ-
neos, é porque foi a fonte de muitos eventos muito im-
portantes de nosso tempo presente. Ele consumou, como
vimos, a união do espírito e da matéria. O templo grego
era um monumento no qual o deus habitava, e o homem
poderia então dizer a si mesmo: Elevei a matéria a tal
altura que se tornou para mim o marca do espírito; em
cada uma de suas tramas, sinto algo desse espírito vibrar.
Esse é o caso com todas as obras de arte gregas. O
mesmo ocorre com a vida dos gregos como um todo.
Este mundo de criações artísticas onde o espírito desceu,
tornou o material muito atraente; Goethe tentou repre-
sentar a união de sua individualidade com esta época na
“Tragédia de Helena” e no “Fausto”.
O que teria acontecido se, posteriormente, a civiliza-
ção tivesse continuado seu caminho na mesma direção?

-193-
MITOS E MISTÉRIOS EGÍPCIOS

Um esboço simples vai nos mostrar isso. Nos tempos


greco-latinos, o homem desceu ao ponto mais profundo
da matéria, mas não há nenhuma parte desta matéria que
não lhe revele o espírito. Em todas as criações desta
época, o espírito está incorporado à matéria. Vamos es-
tudar a estátua de um deus grego; vemos em todos os
lugares que o gênio criativo do artista uniu o espírito com
a matéria externa. O grego conquistou a matéria, mas não
abandonou o espírito por isso. Se a civilização tivesse
continuado nessa direção, normalmente teria descido
abaixo da matéria, de modo que a mente teria se tornado
uma escrava dela. Vamos dar uma olhar sem preconcei-
tos em nosso redor e, reconheceremos que isso é de facto
o que aconteceu em certo sentido. A manifestação dessa
queda é o materialismo. É verdade que em nenhum outro
momento o homem dominou a matéria como hoje, mas
é apenas para a satisfação de suas necessidades corpo-
rais. Temos apenas que considerar com que meios primi-
tivos foram construídas as pirâmides gigantescas e com-
parar isso com o momento, com o voo que transportou o
espírito egípcio para os mistérios do Cosmos. Basta pen-
sar na profundidade espiritual que os egípcios alcança-
ram quando colocaram nas imagens de seus deuses, um
reflexo do que havia acontecido no passado no Cosmos
e na Terra. O egípcio que podia ver os mundos espiritu-
ais, viveu em espírito os eventos da era lemuriana. Qual-
quer um que não fosse iniciado, que pertencia à massa
do povo, poderia participar nestes mundos espirituais
com todo o seu coração, com toda a sua alma. Mas os
meios disponíveis para trabalhar no plano físico eram

-194-
MITOS E MISTÉRIOS EGÍPCIOS

primitivos. Compare essas condições com as de nosso


tempo: Para isso, basta ler os incontáveis discursos feitos
por nossos contemporâneos em louvor ao grande pro-
gresso feito em nosso tempo. A Ciência Espiritual não
tem objeções a isso. O homem estende cada vez mais
seus poderes por meio do domínio dos elementos. Mas
vamos olhar para o outro lado dessas coisas.
Quando os homens esmagavam os grãos da terra
com pedras simples, seu olhar podia elevar-se às alturas
sublimes do espírito. A maioria dos homens hoje não tem
ideia dessas alturas. Ele ignora completamente como um
iniciado caldeu se sentiria ao ver as relações que unem o
homem às estrelas, animais, plantas, minerais, ao desco-
brir as forças da cura. Os sábios sacerdotes egípcios eram
homens cujos pés, os médicos modernos não eram dig-
nos de beijar. Os seres humanos hoje não podem mais
entrar nessas altas regiões da vida espiritual. Somente a
ciência espiritual será capaz de permitir que as pessoas
tenham uma ideia do que viram os antigos iniciados cal-
deus-egípcios. As interpretações que hoje se fazem das
inscrições que ocultam mistérios profundos são apenas
uma caricatura de seu antigo significado. No passado,
portanto, tínhamos poucos meios para trabalhar no plano
físico, mas por outro lado, imensas forças estavam vol-
tadas para o mundo espiritual.
O homem afunda cada vez mais na matéria e usa as
forças de sua mente para conquistar o plano físico. Não
poderíamos realmente dizer: a mente humana torna-se
escrava do plano físico? E, em certo sentido, continua a
descer abaixo deste plano físico. O homem usou imensas

-195-
MITOS E MISTÉRIOS EGÍPCIOS

forças espirituais para criar o barco a vapor, a ferrovia, o


telefone, e para que propósitos ele os usa? Que tesouro
espiritual retirado da vida, retorna para os mundos supe-
riores! A Ciência Espiritual concorda plenamente com
os resultados obtidos, não quer criticar o nosso tempo,
porque sabe que foi necessário conquistar o plano físico;
É verdade, entretanto, que a mente mergulhou completa-
mente no mundo físico. Existe uma vantagem para a
mente, alguma superioridade, que em vez de esmagar
grãos entre duas pedras, telefone hoje para Hamburgo
para pedir o que precisamos que venha da América em
um navio a vapor? Que imensa energia espiritual, não foi
despendida para que a América fosse ligada por vapores
a tantos países distantes! Perguntemo-nos: não foram es-
tabelecidas essas ligações entre todas as partes do
mundo? Apenas para a satisfação das necessidades cor-
porais, da vida material. E como tudo no mundo é distri-
buído, não sobra muita força espiritual ao homem para
ter acesso ao mundo espiritual, além daquela que ele gas-
tou no mundo material. A mente se tornou escrava da
matéria. O grego viu o espírito incorporado em suas
obras de arte; hoje, esse espírito está profundamente ca-
ído, e o testemunhamos nas máquinas e nos aperfeiçoa-
mentos técnicos de nossa indústria, que atendem apenas
às necessidades materiais. Perguntemo-nos agora se este
comprometimento é verdadeiramente irrevogável.
Sim ele teria sido, e o homem, no futuro, teria reali-
zado imensas conquistas no plano físico, se não tivesse
acontecido algo de que falamos anteriormente.
No momento em que estava no nível mais baixo de

-196-
MITOS E MISTÉRIOS EGÍPCIOS

sua evolução, a humanidade recebeu o impulso de Cristo


que lhe deu o impulso necessário para uma nova ascen-
são. O surgimento do impulso de Cristo agora permite
que a evolução humana tome outro caminho. Isso per-
mite que ele supere o material. Ela traz a ele, a força para
superar a morte. E, ao fazer isso, dá-lhe a possibilidade
de se elevar novamente acima do plano físico. Isso exigia
um impulso tão forte, era preciso que a matéria fosse
vencida, superada magnificamente como o foi, como o
descreve o Evangelho de São João, por ocasião do ba-
tismo no Jordão e do mistério do Gólgota.
O Cristo Jesus, predito pelos profetas, deu à huma-
nidade o impulso mais poderoso que recebeu em sua
evolução. O homem teve que se separar dos mundos es-
pirituais primeiro, para se reunir lá novamente por meio
da entidade cristã. Não podemos compreender isso total-
mente sem nos aprofundarmos ainda mais nas relações
que unem os eventos da evolução humana. Nós precisa-
mos entender por que o que chamamos de aparecimento
do Cristo na Terra, é um evento que só poderia ter acon-
tecido quando o homem desceu tão baixo. O período
greco-latino ocupa o lugar intermediário na cadeia das
sete épocas pós-Atlante. O evento de Cristo não poderia
ter acontecido em qualquer outro momento da história.
Quando o homem se torna uma individualidade, o Deus
que deve salvá-lo também deve assumir uma forma indi-
vidual, para lhe dar a possibilidade de ascender ao espí-
rito. Vimos que o cidadão romano, o primeiro, tomou
consciência da sua personalidade. Anteriormente, o ho-
mem vivia em alturas espirituais; agora ele havia descido

-197-
MITOS E MISTÉRIOS EGÍPCIOS

ao plano físico. E foi um Deus que o ajudou a encontrar


o caminho de volta ao espírito. Ainda precisamos estudar
a terceira e quinta civilizações e o período central. Não
podemos estudar a mitologia egípcia como nas escolas;
o que é preciso é destacar seus pontos característicos,
que nos revelam a vida dos sentimentos dos antigos egíp-
cios, e depois nos perguntar como isso se encontra em
nosso tempo.
A esfinge, Ísis e Osíris são, nos mitos e mistérios
egípcios, memórias de antigos estados da humanidade.
Nas almas formadas como reflexo dos acontecimentos
do passado da Terra. O homem reviu um passado infini-
tamente remoto, reexaminou suas formas originais. O
iniciado pode reviver internamente a existência espiri-
tual de seus ancestrais, de seus pais. Tendo sido original-
mente como um fragmento de um grupo de almas, o ho-
mem viu esses grupos de almas se estabelecerem nas
quatro formas dos animais apocalípticos. Ele então se
emancipou gradualmente desse grupo de almas, de modo
que gradualmente refinou seu corpo e desenvolveu sua
individualidade. Podemos rastrear esse desenvolvimento
ao longo da história. Na época descrita, por exemplo, por
Tácito, a consciência do indivíduo, nas terras germânicas
do século I dC, ainda estava toda englobada em um sen-
tido de comunidade; ainda é o espírito tribal que reina; o
Cherusco, por exemplo, sente-se parte inerente de sua
tribo. Esse sentimento é tão forte que qualquer membro
da tribo pode vingar a ofensa feita a outro membro. Lá
novamente encontramos uma espécie de alma-grupo.
Esta alma-grupo persistiu até uma época avançada

-198-
MITOS E MISTÉRIOS EGÍPCIOS

do período pós-Atlante. Mas não são mais que ecos. A


alma-grupo, em sua forma essencial, desapareceu no fi-
nal da era atlante. Os factos que acabamos de citar dizem
respeito apenas aos retardatários. Na verdade, naquela
época, os homens não conheciam mais a alma-grupo;
mas eles ainda a conheciam no período atlante. Eles não
diziam ainda “Eu” quando falavam deles; mas esse sen-
timento de pertencer a uma comunidade foi transmitido
em um ponto às gerações posteriores.
Por mais estranho que possa parecer, é real - desde
que nos velhos tempos a memória tivesse uma importân-
cia totalmente diferente e muito mais força do que hoje.
O que é memória hoje? Pense um pouco sobre isso e veja
se consegue lembrar-se de factos da sua infância. Em
uma pequena medida. Em qualquer caso, a memória não
vai além da infância. Você não se lembra de nada que
aconteceu antes de nascer. Ainda não era assim nos tem-
pos da Atlântida. Mesmo nos primeiros dias após a
Atlântida, o homem se lembrava das experiências de seu
pai, seu avô, seu bisavô. Falar de um Eu na vida entre o
nascimento e a morte não faria sentido. A memória du-
rou séculos. O Eu se estendeu até o ponto em que o san-
gue dos ancestrais fluiu nas veias dos descendentes. Este
Eu grupal não estava se espalhando no espaço acima dos
seres vivos ao mesmo tempo, mas se estendeu por gera-
ções. É por isso que o homem moderno nunca entende
os ecos encontrados nos antigos relatos dos patriarcas,
quando, por exemplo, se diz que Noé, Adão, etc., torna-
ram-se tão velhos. Várias gerações de ancestrais foram
contadas como parte do Eu. O homem moderno não pode

-199-
MITOS E MISTÉRIOS EGÍPCIOS

imaginar isso. Naquela época, dar um nome a uma pes-


soa entre o nascimento e a morte não faria sentido. A
memória continuou com a sucessão de descendentes ao
longo dos séculos. Enquanto o homem se lembrou de
seus ancestrais, ele recebeu o mesmo nome. Adão foi,
por assim dizer, o eu que passou com o sangue através
das gerações. Só quando conhecemos esses factos reais
é que entendemos os textos. O homem se sentiu prote-
gido dentro dessa cadeia de ancestrais. É o que o Evan-
gelho quer dizer com estas palavras: “Eu e o Pai Abraão
somos um”. Quando o crente do Antigo Testamento
disse isso, ele realmente sentiu pertencer à série de gera-
ções. Essa consciência ainda pode ser encontrada entre
os seres dos primeiros tempos pós-atlantes, e até mesmo
entre os egípcios. Ainda sentíamos fortemente essa co-
munidade de sangue. E isso teve consequências especiais
para a vida espiritual.
Quando o homem morre hoje, ele vive um certo
tempo no Kamaloca, e em seguida, ele vive por um longo
tempo no Devachan; o que já é consequência do impulso
de Cristo. Isso não existia nos tempos pré-cristãos; O ho-
mem então se sentiu ligado a uma longa cadeia de ances-
trais. Hoje, no período Kamaloca, o homem tem que se
livrar dos desejos e vontades a que se acostumou no
mundo físico; a duração do Kamaloca depende deles. O
homem é atingido pela vida entre o nascimento e a
morte; nos velhos tempos, também estava ligado a mui-
tas outras coisas. Ele estava tão unido no plano físico que
se sentia como o elo de uma corrente feita de seres do
mesmo sangue.

-200-
MITOS E MISTÉRIOS EGÍPCIOS

Durante o Kamaloca, portanto, não era necessário sofrer


as consequências de uma existência física individual,
mas também tudo o que se relacionava com as gerações
passadas, até ao primeiro ancestral. Revivemos todo esse
período ao contrário. A consequência foi uma verdade
profunda que está contida na frase “sentir-se seguro no
seio de Abraão”. Após a morte, a pessoa se sentia vol-
tando através de toda a cadeia de ancestrais. E a estrada
que tinha que ser percorrida desta forma foi chamada: “A
estrada que leva aos pais”. “Foi só depois de seguir este
caminho que o homem pôde aceder ao mundo espiritual,
que ele poderia trilhar o caminho para os deuses. Anti-
gamente, a alma tinha, portanto, dois caminhos a percor-
rer, o dos pais e o dos deuses.
As civilizações não tiveram um fim abrupto. O espí-
rito da civilização hindu ainda existe, mas mudou. Per-
manece próximo às culturas posteriores. Na forma que
tinha quando a civilização egípcia floresceu, também to-
mou parte dela. Hoje, é muito fácil confundir o que já foi
e o que é hoje. É por isso que insisti que estou falando
apenas sobre os velhos tempos. Entre outras coisas, os
hindus assimilaram o conceito de “caminho dos pais” e
“caminho dos deuses”.
Quanto mais o homem se iniciava, mais se libertava
dos laços que o uniam à sua pátria e aos seus antepassa-
dos, mais se tornava um “sem-pátria” (1) e quanto mais
o “caminho dos deuses”, se alongava, mais o “Caminho
dos pais” encurtava. Aquele que, com toda a sua

(1). Ver, sobre a expressão “heimatlos”, Rudolf STEINER: O Evangelho


de João (Hamburgo, 1908). 9ª conferência.
-201-
MITOS E MISTÉRIOS EGÍPCIOS

fibra, estava unido aos ancestrais, percorreu por muito


tempo o caminho dos pais, mas seu caminho até os deu-
ses foi curto. Na terminologia do Oriente, chamamos o
“caminho dos pais”: “(Pitriyana “, e o” caminho dos deu-
ses “:” Devayana “. Quando usamos hoje a palavra De-
vachan (2), é claro, esta é apenas uma palavra que usa-
mos por conveniência. A palavra “Dévachan é uma
forma estropiada de “Davayana”, “o caminho dos deu-
ses”. Um antigo vedantista riria de nós se pudesse ouvir
nossas descrições do Devachan. Não é fácil adaptar-se
ao pensamento e à concepção oriental. Frequentemente,
é quase necessário tomar as verdades orientais como pro-
teção contra aqueles que afirmam ensiná-las. Recebemos
o ensino de uma doutrina hindu e não suspeitamos que
seja um ensinamento muito vago. A Ciência Espiritual
não quer ser confundida com uma teoria Oriental-Hindu.
Em alguns círculos, gostamos muito do que vem de
longe, da Índia ou da América. Mas a verdade está em
toda parte com ela. Explorar a antiguidade é tarefa dos
cientistas, a ciência espiritual é vida. Seu ensino pode ser
controlado em qualquer lugar e a qualquer hora.
O que acabamos de descrever não era apenas teoria
para os antigos egípcios, eles a colocavam em prática.
Ensinar seus grandes mistérios também era prático. Os
mistérios dos antigos egípcios tinham um propósito
muito especial. Hoje as pessoas riem facilmente quando
ouvem que uma vez o Faraó foi uma espécie de iniciado,
quando ouvem como o egípcio estava diante do Faraó,

(2) Ou Devachan.

-202-
MITOS E MISTÉRIOS EGÍPCIOS

seu governo.
Achamos particularmente ridículo que o Faraó se
auto denominasse “Filho de Hórus” ou mesmo “Hórus”.
Parece-nos estranho hoje que um homem possa ser ado-
rado como um deus; é difícil para nós imaginar algo mais
absurdo. Isso ocorre porque o homem moderno não sabe
o que era um faraó e sua missão. Nós não sabemos o que
realmente foi a iniciação de um Faraó. Hoje, vemos ape-
nas um certo número de homens em um povo. Um povo
é um conjunto de indivíduos que habitam uma determi-
nada região. O “povo” é outra coisa para quem se consi-
dera do ponto de vista do ocultismo. Como o dedo faz
parte do corpo, os indivíduos fazem parte da alma das
pessoas. Eles são envolvidos por ela, exceto que esta
alma não é física, que é real apenas no plano astral. É
uma realidade absoluta; o iniciado pode falar com ela. É
ainda mais real para ele do que indivíduos isolados do
povo, mais real do que um único ser humano. As experi-
ências espirituais são valiosas para o ocultista, e a alma
das pessoas é muito real para ele.
Se pensarmos nos indivíduos separadamente, eles
estão isolados apenas para aqueles que os estudam exter-
namente, fisicamente. Quem os observa em espírito os
vê envoltos em uma névoa etérea, e esta é a personifica-
ção da alma das pessoas. O indivíduo pensa, age, sente e
deseja. Ele projeta seus pensamentos e sentimentos em
toda a alma das pessoas. Isso recebe uma certa coloração.
É penetrado pelos pensamentos e sentimentos dos indi-
víduos. Se desconsiderarmos o corpo físico, conside-
rando apenas o corpo etérico e o corpo astral do indiví-

-203-
MITOS E MISTÉRIOS EGÍPCIOS

duo, e observarmos o corpo astral de um povo inteiro,


vemos que ele recebe suas cores, suas sombras, de indi-
víduos isolados.
Isso o antigo iniciado egípcio sabia, e ele sabia algo
mais. Quando ele observou essa substância íntima do
povo, ele se perguntava: “O que é que realmente vive na
alma do povo? “O que ele viu lá? Ele viu na alma do
povo a reencarnação de Ísis. Ele viu como, uma vez, ela
havia vivido entre os próprios homens. Ísis vivia na alma
do povo. Ele viu as mesmas influências manifestadas
nela que vinham da Lua: essas mesmas forças estavam
agindo nas almas das pessoas. E o egípcio viu em Osíris
o que era manifestado nos raios espirituais individuais;
ele reconheceu neles a influência de Osíris. Ele viu Ísis
na alma das pessoas. Osíris não era fisicamente visível,
ele morrera por ele. Mas quando o homem morreu, Osí-
ris apareceu para ele novamente. É por isso que, como
lemos no livro egípcio dos mortos, o indivíduo sentiu
que na morte ele se reuniria a Osíris, que ele mesmo se
tornaria um Osíris. Osíris e Ísis actuaram em conjunto no
estado e nos membros individuais desse estado.
Voltemos ao Faraó e pensemos que tudo isso era
uma realidade para ele. Antes de ser iniciado, o Faraó
recebeu um certo ensinamento, para que não só enten-
desse tudo isso com sua inteligência, mas para que se
tornasse para ele uma verdade, uma realidade. Ele deve
ter chegado a dizer a si mesmo: “Se eu quiser governar,
devo sacrificar parte de minha espiritualidade, devo des-
truir parte de meu corpo astral, parte de meu corpo eté-
rico.” Os princípios de Osíris e Ísis devem ser manifes-

-204-
MITOS E MISTÉRIOS EGÍPCIOS

rico.” Os princípios de Osíris e Ísis devem ser manifes-


tados em mim. Não tenho permissão para querer algo
pessoalmente; quando digo algo, é Osíris quem deve fa-
lar; quando eu faço alguma coisa, é Osíris que a realiza;
quando movo minha mão, são Osíris e Ísis que se mo-
vem. Devo incorporar o Filho de Ísis e Osíris: “Hórus”.
A iniciação não confere erudição. Mas ser capaz de
se sacrificar como o Faraó, é algo que tem a ver com ini-
ciação. Pois o que ele assim desistiu de si mesmo, pode-
ria ser substituído por partes da alma do povo. Aquela
parte de si mesmo que o Faraó estava sacrificando era
precisamente aquela que lhe dava poder. Pois o poder
justificado não vem de elevar sua própria personalidade,
vem de fazer seu o que vai além dos limites da persona-
lidade; um poder espiritual superior. O Faraó assimilou
um poder superior que era externamente representado
pelo uraeus dourado.
Um novo mistério acaba de nos ser revelado. Aca-
bamos de ver algo muito mais elevado do que as expli-
cações actuais sobre os Faraós.
Se esses eram os sentimentos do egípcio, qual deve
ser sua principal preocupação? - Ele deu especial impor-
tância para que a alma do povo se tornasse o mais forte
possível, que se enriquecesse de boas forças, que não di-
minuísse. Os iniciados egípcios não podiam contar com
laços de sangue. Mas as riquezas espirituais que os an-
cestrais acumularam se tornariam o bem do indivíduo.
Isso é o que está indicado no símbolo do julgamento em
que o falecido está na frente dos 42 juízes. Estes então
pesam todas as suas ações. Quem eram esses 42 juízes?

-205-
MITOS E MISTÉRIOS EGÍPCIOS

Eram os ancestrais. Acreditava-se que a vida do homem


estava intimamente ligada à de 42 ancestrais. Na vida
após a morte, ele deveria dar-lhes um relato do bem es-
piritual que recebera deles. O ensino dos mistérios egíp-
cios relacionava-se, portanto, praticamente com a exis-
tência, mas também com a vida entre a morte e um novo
nascimento. Nos tempos egípcios, o homem já estava do-
minado pelo mundo físico. Mas, ao mesmo tempo, ele
tinha que olhar para seus ancestrais no outro mundo e
cultivar no mundo físico o que havia recebido deles. Essa
tarefa, essa colaboração no trabalho de seus pais, o ligava
ao mundo físico.
Não vamos esquecer que as almas de hoje são reen-
carnações daquelas do antigo Egito. Quais são as conse-
quências para os que vivem hoje do que aconteceu no
passado, do que experimentaram durante sua encarnação
egípcia? Tudo o que a alma um dia viveu entre a morte
e um novo nascimento, tudo isso estava intimamente
unido a ela, permaneceu nela e é ressuscitado em nosso
tempo, nossa quinta civilização, que carrega os frutos da
terceira civilização até as ideias do nosso mundo mo-
derno. Hoje todas as ideias são manifestadas, o germe
das quais uma vez foi depositado nas almas. Portanto, é
fácil entender que o progresso do homem no plano físico
se deve à materialização da atração sentida pelos antigos
egípcios por este plano físico. Hoje os homens estão
mais profundamente aprisionados na matéria. Já vimos
que o embalsamamento tem por consequência sobre o
plano físico uma conceção material das coisas.
Evoquemos diante de nós a imagem de uma alma do

-206-
MITOS E MISTÉRIOS EGÍPCIOS

passado, a de um discípulo dos mistérios. O olhar deste


discípulo foi direcionado para a visão real do Cosmos.
Ele viu em sua mente como Osíris e Ísis viviam na lua.
Tudo para ele era animado por seres espirituais divinos.
Sua alma é nutrida por essas visões. Reencarnado na
quinta época, ele os encontra nele como uma memória.
O que acontece agora? Seu olhar uma vez se ergueu para
o mundo das estrelas. Ele se lembra do que viu e ouviu
uma vez. Ele não pode reconhecer essa visão porque ela
recebeu a marca da matéria. Ele não vê mais o espírito,
mas percebe suas condições materiais, e essa memória
torna-se pensamento materialista. Onde antes via entida-
des divinas, Ísis e Osíris, agora só vê forças abstratas,
privadas do vínculo espiritual. Metamorfoseado, esse
vínculo espiritual reaparece na forma de seu pensa-
mento. Tudo é ressuscitado, mas de forma material. Va-
mos aplicar este princípio a uma alma que uma vez teve
a visão das grandes relações cósmicas; imagine que as
visões espirituais que ela teve no antigo Egito são agora
ressuscitadas antes dela na quinta civilização; isso é o
que aconteceu com a alma de Copérnico. Assim nasceu
o sistema coperniano, uma memória das visões espiritu-
ais experimentadas no antigo Egito. O mesmo é verdade
para o sistema de Kepler. Esses estudiosos desenharam
suas grandes leis da memória do que haviam experimen-
tado durante a era egípcia. Nessas almas vive uma remi-
niscência distante; o que eles pensam agora, eles vive-
ram em espírito no antigo Egito. Como então pode tal
espírito se expressar? Ele nos dirá que parece estar
olhando para o antigo Egito: «Agora, um ano e meio de-

-207-
MITOS E MISTÉRIOS EGÍPCIOS

pois do primeiro amanhecer, das mais maravilhosas vi-


sões me apareceram, poucos meses depois de terem sido
iluminadas. Da luz do dia, alguns dias depois de tudo,
desde que eles brilham com o mais puro esplendor, nada
me impede; Quero mergulhar em um ardor sagrado;
Quero rir da cara dos homens simplesmente confes-
sando-lhes que roubei os vasos de ouro dos egípcios,
para construir o templo do meu Deus, longe da fronteira
com o Egito ». Não é como uma memória real, que cor-
responde à verdade? Essas frases são do Kepler. Ele tam-
bém foi quem disse “A lembrança ancestral está batendo
na porta do meu coração . Esses são os elos maravilhosos
que permeiam a evolução da humanidade. Muitas dessas
frases significativas, mas enigmáticas, tornam-se claras
e compreensíveis quando se sente as conexões espiritu-
ais das coisas. A vida só se torna grande e magnífica, o
homem só se sente parte de um todo quando entende que
o ser isolado é apenas uma forma individualizada do es-
piritual que anima o mundo.
Já indiquei que o darwinismo é apenas uma forma
materializada e crua dos deuses que os egípcios repre-
sentavam como animais. Quando alguém compreende
Paracelso completamente, reconhece que sua terapia é a
ressurreição do ensino dos templos do antigo Egito. Con-
sidere um espírito como Paracelso. Também encontra-
mos em suas obras uma frase estranha. Quem aprofunda
o estudo de sua obra sabe o quanto vivia nele um espírito
elevado. No entanto, disse que aprendeu muito em todo
o lado, mas que foi nas universidades que menos apren-
deu e que os seus conhecimentos se enriqueceram sobre-

-208-
MITOS E MISTÉRIOS EGÍPCIOS

tudo nas viagens de um país para o outro, onde aprendeu


com povos e tradições antigas. Não é possível dar alguns
exemplos que nos mostrassem que verdades profundas o
povo ainda contém, verdades que não entendemos mais,
mas das quais Paracelso se aproveitou. Ele disse nova-
mente que havia encontrado um livro que continha pro-
fundas verdades médicas. E que livro é este? A Bíblia!
Com isso ele se refere não apenas ao Antigo Testamento,
mas especialmente ao Novo. Mas seria preciso saber ler
a Bíblia, para encontrar lá o que Paracelso descobriu. O
remédio de Paracelso é uma memória distante dos anti-
gos métodos médicos dos egípcios. Mas porque Para-
celso se alimentou dos mistérios do Cristianismo, porque
assimilou o impulso que sobe novamente às alturas, suas
obras foram imbuídas de sabedoria espiritual, foram cris-
tificadas. Este é o caminho do futuro. Isso é o que qual-
quer um que deseja limpar o caminho, levantar-se da
queda na matéria, deve fazer. Existe aqui a possibilidade
de não desprezar o grande progresso material que foi
feito. Mas também existe a possibilidade de deixar o es-
pírito entrar em si mesmo.
Se você estudar o que a Ciência de Materiais tem a
oferecer hoje, se aprofundar nisso, enquanto mantém a
energia para não afundar, você está fazendo um bom tra-
balho como discípulo da Ciência Espiritual. Nós pode-
mos aprender muitos dos estudos puramente materialis-
tas; e então penetrar no que se encontra com eles o espí-
rito puro que a Ciência espiritual oferece. Quando enten-
demos tudo em espírito, estamos agindo no sentido cris-
tão da palavra. A Ciência Espiritual pode manter seu lu-

-209-
MITOS E MISTÉRIOS EGÍPCIOS

gar firme e seguramente em qualquer lugar na vida real.


Perder-se em uma representação esquemática dos mun-
dos superiores é ficar com os princípios básicos da Ciên-
cia Espiritual. Não é tão importante que o estudante de
Ciência Espiritual saiba de cor as várias cadeias de con-
ceitos antroposóficos. Isso não chega. O que é preciso
antes de tudo é que a concepção do mundo espiritual que
dela resulta seja fecunda, penetre em toda a parte, mesmo
na vida quotidiana.
O importante é não pregar o amor universal. É me-
lhor falar sobre isso o menos possível. Pregar é mais ou
menos como dizer ao fogão: “Querido fogão, seu dever
é aquecer o ambiente. Cumpra seu dever, por favor. Os
ensinamentos dados pelas belas frases sobre o amor uni-
versal são um pouco parecidos com este discurso. O im-
portante é a substância. O fogão permanece frio quando
acabo de dizer que deve esquentar. Ele esquenta quando
o abasteci com combustível. O homem também perma-
nece frio quando basta fazer discursos para ele. Mas qual
é o combustível certo para isso? Para os humanos, são os
vários resultados dos ensinamentos espirituais que for-
mam o combustível. Não devemos ser preguiçosos e nos
apegar à “fraternidade universal”. As pessoas precisam
de combustível. Quando elas a receberem, a irmandade
nascerá de si mesma. À medida que as plantas estendem
sua corola em direção ao Sol, todos devemos olhar para
o Sol do Espírito.
O importante é que as coisas que estudamos não per-
manecem como ensinamentos teóricos para nós, mas se
fortalecem em nossa alma. Eles então darão a cada ser

-210-
MITOS E MISTÉRIOS EGÍPCIOS

humano, qualquer que seja o seu campo de vida prática,


impulsos úteis para o seu trabalho. Aqueles que lançam
um olhar zombeteiro e desdenhoso à Ciência Espiritual
hoje se sentem bem acima de seus “ensinamentos fantás-
ticos”. Eles apenas veem isso como afirmações incontes-
táveis e dizem que temos de nos ater aos factos. Pode
facilmente acontecer que a vida desencoraje o seguidor
da Ciência Espiritual, minando sua segurança e energia,
ao ver que aqueles que deveriam entender a Ciência Es-
piritual corretamente não têm ouvidos para isso.
Nosso tempo facilmente despreza o que os egípcios
chamavam de seus deuses. “Abstração fria”, dizem eles.
O homem moderno, porém, ainda é muito mais supersti-
cioso. Ele tem fé em todos os outros deuses. Porque ele
não dobra os joelhos para fora na frente deles, ele não
percebe as superstições a que está sujeito.
Meus queridos amigos, depois de ter trabalhado jun-
tos desta forma, devemos sempre pensar, quando nos se-
paramos, não apenas para levar connosco uma nova
quantidade de conhecimento, mas para manter dentro de
nós uma impressão, um sentimento, cuja forma é o mais
importante. mais justo é a do conhecido impulso volun-
tário do estudante da Ciência espiritual: fazer a Ciência
espiritual penetrar na vida, e não ser perturbado de forma
alguma em sua certeza.
Vamos evocar ante nossa alma uma imagem. Ou-
vimos dizer tantas vezes: “Ah, esses buscadores do espí-
rito! Eles se reúnem para ter sessões fantásticas; uma es-
pírito moderno não pode comprometer-se com eles». Os
proponentes da Ciência Espiritual frequentemente

-211-
MITOS E MISTÉRIOS EGÍPCIOS

parecem ser uma classe desprezada, sem educação e ig-


norante. Isso deveria nos desencorajar? Não! Vamos in-
vocar uma imagem na frente de nossa alma e despertar
os sentimentos que a acompanham. Sabemos algo seme-
lhante no passado; lembramos que algo semelhante
aconteceu em Roma. O cristianismo nascente espalhou-
se pela Roma antiga entre uma classe de homens absolu-
tamente desprezada. Admiramos com êxtase justificado
o Coliseu construído pela Roma Imperial. Mas também
podemos ver as pessoas que pensavam que estavam indo
com o fluxo do tempo, sentadas no circo, assistindo aos
cristãos queimando na arena, enquanto incenso era aceso
para mascarar o cheiro dos corpos carbonizados.
Dirijamos nosso olhar para os grupos de despreza-
dos. Eles viviam nas catacumbas, nos subterrâneos. Este
é o lugar onde o Cristianismo nascente teve que se es-
conder. Foi no subterrâneo que os primeiros cristãos er-
gueram seus altares sobre os túmulos de seus mortos.
Este é o lugar onde eles têm seus símbolos maravilhosos,
suas relíquias sagradas. Uma sensação estranha toma
conta de nós enquanto caminhamos por Catacumbas, a
Roma subterrânea e desprezada de hoje. Os cristãos sa-
biam a que destino estavam reservados. A primeira se-
mente do impulso de Cristo foi desprezada, lançada no
subsolo, nas catacumbas. O que restou da Roma Impe-
rial? Ela desapareceu da face da Terra. Mas o que antes
vivia nos Catacumbas foi trazido à tona.
Que aqueles que desejam ser portadores de uma cosmo-
visão espiritual possam preservar a segurança interior
dos primeiros cristãos. Que vivam, desprezados pelos

-212-
MITOS E MISTÉRIOS EGÍPCIOS

eruditos contemporâneos, mas tenham confiança, pois


trabalham para uma obra que florescerá e prosperará no
futuro. Que eles aprendam a suportar toda a fealdade dos
dias atuais. Estamos trabalhando para o futuro. É algo
que se pode sentir com toda a modéstia, mas também
com toda a certeza, sem orgulho, mas fortalecendo-se
contra as incompreensões do nosso tempo.
Com base nesses sentimentos, procuremos implantar
em nós de forma duradoura o que falamos nestes dias.
Tome-o como uma força e continue a colaborar frater-
nalmente entre nós!

-213-
MITOS E MISTÉRIOS EGÍPCIOS

-214-
ÍNDICE

Prefácio da Sra. Marie Steiner 9


I. - Relações espirituais entre as correntes da civilização 23
dos tempos antigos e dos tempos modernos
II. - Le reflet des événements spirituels dans les concep-
tions religieuses des hommes …………………………… 37
III. – A humanidade do último período Atlante e da época 53
pós-Atlante. Os antigos lugares de iniciação. A forma hu-
mana, objecto de meditação.
IV. - As experiências dos discípulos dos Rishis durante a 67
iniciação representam uma forma pictórica dos estágios
anteriores de nossa Terra. Os mistérios dos planetas. A
experiência dos mundos superiores por meio da imagem,
do som, da palavra. A descida da Palavra original
V. - Como se formou a Trindade: Sol, Lua, Terra. O som 83
formativo. Osíris e Typhon
VI. - A influência de Ísis e Osíris. Hórus, o criador do 97
futuro homem terreno. Alguns factos da anatomia e fisi-
ologia oculta
VII. - O desenvolvimento do organismo humano até a 108
partida da Lua. A influência do luar na forma humana.
Osíris e Isis formam a parte superior do ser humano. A
lira de Apolo
VIII. - Evolução gradual das formas humanas correspon- 121
dentes ao caminho do Zodíaco através do Sol. Eliminação
de entidades animais. Influência das forças lunares. Os
quatro tipos de humanidade. Separação dos sexos. As
imagens dos mitos representam realidades
IX. - Factos da vida espiritual; influência dos espíritos do 137
Sol e da Lua, as forças de Ísis e Osíris. Transformação da
percepção e estado de consciência no homem. Uma con-
quista gradativa do plano físico ao longo das sucessivas
civilizações, até o momento em que o homem, em sua in-
dividualidade, une o espírito ao plano físico. No ponto
mais baixo da evolução vem o impulso cristão; Deus
desce em direção ao homem físico para que ele encontre
o caminho para o mundo espiritual
-215-
X. - As lendas antigas são uma imagem dos eventos cós- 153
micos e do que acontece entre a morte e um novo nasci-
mento. Escurecimento da consciência espiritual do ho-
mem; perigo de morte espiritual. O princípio de iniciação
dos Mistérios torna possível iluminar novamente a cons-
ciência. Salvação por meio de Cristo. Os iniciados pre-
cursores de Cristo; sua consciência profética. A mente do
neófito egípcio é formada por certas imagens até que ele
chegue a uma compreensão da evolução do ego do ho-
mem. Muitas dessas imagens, baseadas em eventos ocul-
tos, passaram para a consciência dos homens na forma de
lendas gregas
XI. - O princípio da iniciação egípcia: impressão dos ór- 174
gãos de percepção supersensível no corpo astral, que os
transmite ao corpo etérico durante um sono próximo à
morte que dura três dias e meio, e onde o corpo etérico é
retirado do corpo físico; as experiências vividas nas regi-
ões supersensíveis tornam o neófito uma ilusão, um inici-
ado. A ciência fisiológica cósmica dos hierofantes egíp-
cios. Hoje o homem vê materialmente o que uma vez viu
em sua mente. A importância do ato de Cristo pelas almas
dos mortos
XII. - As criações da arte grega trazem o selo do espírito; 193
o espírito escravizado à matéria em nosso tempo. O im-
pulso de Cristo triunfando sobre a matéria. A força cristã
também supera a tendência de se unir ao longo do tempo
com o grupo de almas de gerações. A religião dos ances-
trais e deuses do antigo Egito. Ísis é a alma do povo egíp-
cio. Faraó é filho de Ísis e Osíris. Os ancestrais coletam e
dispensam tesouros espirituais e são os 42 juízes dos mor-
tos; o que é devido à herança deve ser cultivado no mundo
físico. Reaparecimento em nosso tempo do que a alma
uma vez experimentou entre a morte e um novo nasci-
mento
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