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Introdução ao Hermetismo

“Filosofia Hermética”, “Tradição Hermética”, “Hermetismo Filosófico” e “Hermetismo” são


designações consagradas para um corpo de fontes literárias, das quais se destaca o Corpus
Hermeticum, expondo doutrinas (de teor ecléctico e, por vezes, divergente) oriundas do Egito
helenizado (Mênfis, Hermópolis, Tebas, Alexandria etc), as quais fizeram a sua aparição entre os
séculos I e IV d.C. Tais fontes literárias haviam de ser creditadas a Hermes Trismegisto (Três
Vezes Grande), um suposto filósofo egípcio associado ao deus Thoth.

Para os egípcios, Thoth era um deus versátil, primitivamente adorado como deidade lunar, cujas
funções eram apresentadas em conformidade. Assim, tal como a lua é iluminada pelo sol,
também Thoth derivava a sua autoridade da circunstância de ser escriba do deus solar Rá.
Ulteriormente, tornar-se-ia deus do tempo e da mudança sazonal, da ordem cósmica e do ritmo
quotidiano. Foi-lhe atribuída a invenção dos hieróglifos e do conhecimento esotérico e,
nessa qualidade, apodado de “o misterioso” e “o desconhecido”. Em virtude dos seus poderes
mágicos, foo apontado como médico e guia das almas (psicopompa) no seu trânsito para o
além. Mercê da sua associação à lua, à medicina e ao mundo subterrâneo, os neoplatônicos
haviam de assimilá-lo a Hermes, mensageiro dos deuses e intérprete da vontade divina,
creditado com os talentos e o engenho de Thoth.

Tal teor associado a Hermes Trismegisto perdurou durante toda a Antiguidade Tardia: Tertuliano (c.
160 — c. 220) apelida Hermes, respeitosamente, de “Magister Omnium Physicorum”, enquanto
Jâmblico (c. 275 — c. 330) descreve, no De Mysteriis Aegyptiorum, uma forma de filosofia que
denomina “A Via de Hermes”, reputando o filósofo egípcio como autor de inúmeros livros,
repositório das suas revelações, as quais são expostas em tratados breves, sob a forma de
diálogo, protagonizados pelo iniciador e por um discípulo que acede à iniciação por via de
uma dispensação epifânica.

Em plena Idade Média, Hermes Trismegisto seria apresentado no Testamentum, atribuído a Lúlio,
como “Philosophorum et Alchymistarum Pater” (Pai dos Filósofos e dos Alquimistas), os quais,
por seu turno, se autodenominavam Filii Hermetis (Filhos de Hermes) e denominavam a
disciplina que professavam Magisterium Hermetis.

No século XVIII, o termo “hermetismo” tornar-se-ia, por contaminação, sinônimo de “esoterismo”,


extensão semântica que, contudo, não convém reduzir ou confundir, como contemporaneamente,
amiúde, se faz com o “ocultismo”, intrinsecamente distinto, apenas urdido nos cenáculos do
iluminismo e só sistematizado e batizado nas formas correntes durante o século XIX.

Referência: Adaptado de Manuel J. Gandra

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