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ESCOLA DE COMANDO E ESTADO-MAIOR DO EXÉRCITO

CURSO DE PREPARAÇÃO AOS CURSOS DE ALTOS ESTUDOS MILITARES E


EQUIVALENTES – CP/CAEM

GEOGRAFIA

INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA
GEOGRAFIA
(ASSUNTOS 1 e 2)

RIO DE JANEIRO - 2022


CP/CAEM Introdução ao estudo da Geografia 2

COMPETÊNCIA PRINCIPAL:

Participar dos processos seletivos de oficiais superiores para o prosseguimento da


carreira.

UNIDADES DE COMPETÊNCIA:

Formular soluções para problemas que envolvam aspectos da Geografia do Brasil e


do mundo.

ELEMENTO DE COMPETÊNCIA:

- Analisar os principais problemas brasileiros nas expressões do poder nacional.

- Apresentar estudos geo-históricos com bases geopolíticas e estratégicas.

CONTEÚDO:

Introdução ao estudo da Geografia

ASSUNTOS

1. Estado-nação e território.

2. Geopolítica e território.

PADRÃO DE DESEMPENHO:

Interpretar os conceitos fundamentais de Estado, território e Geopolítica, com base


na documentação referenciada, para compreender fenômenos geográficos.
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ÍNDICE

Assuntos Pg

1. Estado-nação e território.......……….................................................... 05

2. Geopolítica e território.......................................................................... 08

3. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA......................................................... 10
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INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA GEOGRAFIA

Cada ciência possui uma forma específica de compreender e analisar a


realidade. Cada área do conhecimento busca compreender a sociedade a partir de
uma perspectiva ou ângulo que lhe é própria, particular. No caso da ciência
geográfica sua especificidade se encontra na compreensão da realidade social a
partir de sua dimensão espacial, ou seja, a partir da ação humana modelando a
superfície terrestre e construindo seu espaço geográfico. Assim, a preocupação da
Geografia é compreender os usos e apropriações políticas, econômicas e culturais
que as sociedades fazem do território.

O objetivo deste conteúdo é demonstrar a importância da dimensão


territorial na consolidação dos Estados-nação e na organização da Geopolítica
contemporânea. O Estado-nação representa a forma básica de organização política
e territorial da sociedade no mundo contemporâneo.

A Geopolítica preocupa-se com a organização do poder entre os países em


âmbito mundial. Para o general Carlos Meira Mattos, expoente da Geopolítica
brasileira, “Geopolítica é a arte de aplicar a política nos espaços geográficos”. A
professora Therezinha de Castro assim se expressa: “Convertida na consciência
geográfica do Estado, a Geopolítica pode prestar serviços às causas da guerra
como também às da paz, desde que adequadamente formalizada. Poderá, assim,
traçar metas para um bom governo fundamentando suas diretrizes no setor da
integração, no aproveitamento sistemático de seu espaço e posição”.

Ambas as temáticas – Geografia e Geopolítica – fornecem fundamentos para


o pensar e o agir sobre o território, atividades inerentes a uma instituição como o
Exército, que estabelece o foco de suas ações a partir do conceito da soberania
deste território.
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Ass 1. ESTADO-NAÇÃO E TERRITÓRIO

Os Estados territoriais se consagraram como forma de organização política


básica do mundo contemporâneo de maneira tão exclusiva e dominante, que somos
capazes de observar as fronteiras de um mapa político do globo terrestre como se
fossem limites naturais. No entanto, as divisões e limites entre países nada têm de
naturais. São resultados, isto sim, de processos históricos (conflitos, disputas,
guerras, negociações, acordos etc) que os instituíram como limites políticos.
Enquanto forma básica de organização espacial do mundo contemporâneo, o
Estado territorial é uma construção social de origem europeia, portanto, de um lugar
geográfico específico.

Por muito tempo, a Geografia buscou analisar a realidade dos territórios sem
considerar as dinâmicas e processos que os conformaram, restringindo-se, assim, a
apenas caracterizá-los e descrevê-los como um acidente geográfico da superfície
terrestre. Apenas mais recentemente na história desta disciplina é que o território
passa a ser considerado a partir de uma abordagem processual que o compreende
enquanto resultado da relação da sociedade com o espaço. Nesta perspectiva, a
compreensão dos atuais territórios existentes no mundo contemporâneo passa pelo
entendimento de suas gêneses e formações.

A consolidação do Estado Moderno é um exemplo em que a dimensão


territorial surge como um componente explícito que lhe é inerente. Todo Estado
pressupõe um território, uma jurisdição e um espaço demarcado para o exercício de
seu poder. Nos diferentes momentos da história, a afirmação do poder estatal
passou sempre pela legitimação da unidade, extensão e contornos de seu território
de ação.

A formação do Estado Moderno tem sua origem na centralização do poder


nas monarquias absolutistas da Europa do século XVI. O Absolutismo preconizou a
centralização do poder na figura do rei, possibilitando a superação das relações de
vassalagem e suserania, características da ordem feudal, que impediam a projeção
de uma unidade territorial fixa e efetiva para sua gestão e controle. As doutrinas
teóricas de legitimação do absolutismo justificavam o poder do governante, tendo o
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território como elemento essencial na formação da soberania do monarca. Assim, o


Absolutismo configurou-se como um importante momento histórico de afirmação das
fronteiras dos países em formação na Europa (MORAES, 2008:54-55).

Neste período da história europeia, outro fator que aponta para a relevância
da dimensão territorial foi o estabelecimento das colônias, uma vez que estas
demandavam uma preocupação mais sistemática sobre a gestão e controle de
territórios distantes das metrópoles. Deste modo, questões relacionadas com a
gestão e manutenção dos domínios territoriais externos passaram a compor as
ações dos governos metropolitanos (MORAES, 2008:55-56). As colônias, na medida
em que constituíram fonte de terras, riquezas e recursos naturais, representaram
elemento fundamental para a formação das economias nacionais dos países
europeus. A formação das colônias envolveu sempre estratégias de ocupação e
expansão territorial orientadas para fora, para as economias das metrópoles.

Com o desenvolvimento da política econômica mercantilista, também


passaram a ser estabelecidos com maior precisão os marcos e delimitações
territoriais do Estado Moderno. Para a realização das trocas comerciais e a definição
dos espaços econômicos europeus, foi necessário estabelecer os contornos
territoriais dos Estados (MORAES, 2008:56-57).

Posteriormente, com as revoluções burguesas, a legitimação do domínio


territorial do Estado passa a ser expressa pela teoria da soberania popular,
fundamentada no “contrato social”, que estabelece o poder estatal a partir da
vontade do conjunto de habitantes de um dado território (MORAES, 2008:58).

Nos nacionalismos, o território assume importante função na construção da


noção de pátria, elemento indispensável para afirmação dos imaginários e
identidades nacionais. Portanto, a conformação dos Estados Nacionais passa tanto
por um processo de efetiva ocupação de uma base espacial, como por um processo
de construção simbólica, de um imaginário coletivo de pertencimento a um dado
território.

Resumindo as principais ideias desenvolvidas neste tópico, pode-se destacar


que:
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1) O Estado-nação, como o conhecemos hoje, é a forma básica de


organização política do mundo contemporâneo, fruto de uma construção histórica
que durou vários séculos e teve sua origem na Europa Ocidental;

2) A compreensão dos atuais territórios existentes no mundo contemporâneo


passa pelo entendimento de seus processos de formação;

3) Ao longo da história do processo de afirmação do Estado, o território foi


sempre visto como componente estratégico para legitimação do poder estatal, uma
jurisdição para sua ação e exercício de seu poder; e

4) O território é produto tanto de uma construção material, como de uma


construção simbólica.
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Ass 2. GEOPOLÍTICA E TERRITÓRIO

Atualmente, ocorre uma retomada de interesse pela Geopolítica, área do


conhecimento que possui como preocupação central a análise das relações de
poder entre Estados Nacionais levando em consideração a dimensão territorial.
Historicamente, a Geopolítica se apoiou no pressuposto do Estado como sendo a
única unidade política do sistema internacional. Neste caso, o poder do Estado se
encontrava diretamente vinculado às potencialidades e atributos de seu território,
condição para o seu desenvolvimento e exercício de seu poder (BECKER, 2000).

Na história da Geopolítica, o domínio e o controle de territórios sempre


representaram fator fundamental na organização da estrutura do poder entre os
países. As disputas por recursos e posições geográficas estratégicas que
representassem vantagens para o controle do poder mundial constituiu um elemento
chave da geopolítica em distintos momentos da história.

Nos dias de hoje, novos fatores como a revolução científico-tecnológica e a


crise ambiental passaram a influir na Geopolítica contemporânea e produziram
mudanças no papel do Estado e na estrutura do poder mundial. Os avanços
científicos e tecnológicos trouxeram mudanças na organização da produção e do
trabalho, e a crise ambiental exige limites e novas formas de relação da sociedade
com a natureza.

Com as inovações tecnológicas, o valor econômico e estratégico de um


território no mundo globalizado passa a ser compreendido a partir de sua
capacidade de inserção neste novo sistema produtivo. A tecnologia, os recursos e a
iniciativa política passam a definir as vantagens competitivas de um território.
Centrada nos avanços da microeletrônica e da comunicação, a revolução
científico-tecnológica coloca a informação e o conhecimento como principais fatores
da produtividade (BECKER, 2000:287).

Por sua vez, a questão ambiental, o outro fator que influencia a Geopolítica
na atualidade, traz a discussão da natureza e do desenvolvimento sustentável para
o centro do debate. O controle da biodiversidade passa a representar fonte de
conhecimento sobre os seres vivos e os territórios passam a ser apropriados como
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reserva de valor para usos futuros, uma vez que a preservação da natureza passa a
representar potencial econômico (BECKER, 2000:293).

Assim, o potencial econômico e estratégico dos territórios passa a ser


definido, em grande medida, por seu conteúdo tecnológico e por sua disponibilidade
de biodiversidade. Esses fatores vêm valorizar os territórios de maneira altamente
seletiva e a partir de qualquer escala geográfica, não apenas a do Estado.

Neste novo contexto, passa a adquirir maior ênfase a ação de atores sociais
que atuam em escalas geográficas distintas das do Estado. De um lado, os bancos e
grandes empresas transnacionais, representando a lógica da acumulação e dos
mercados financeiros, retiram do Estado seu poder de controle sobre o conjunto do
processo produtivo. De outro, a sociedade civil organizada, representando a busca
por melhores condições de vida em seus territórios, atua no fortalecimento de
escalas de ação internas ao Estado (BECKER, 2000:297).

Diante de tais mudanças, o papel do Estado parece perder importância e


muitos discursos chegam, até mesmo, a apontar o seu fim. No entanto, o processo
que presenciamos na atualidade não é o do fim do Estado, mas sim, o da
redefinição de seu papel e de suas funções.

Trata-se, portanto, não do fim do Estado, mas de uma mudança em sua natureza,
e seu papel, entendendo-se que ele não é uma forma acabada, é um processo.
[…] O Estado não é mais a única representação do político nem a única escala de
poder, mas certamente é uma delas, mantendo-se ainda, embora com novas
formas e funções. [...] Se o Estado deixa de ser o executor exclusivo dos
processos econômicos e políticos, acumula, em contrapartida, funções de
coordenação e regulação crescentes, para fixar as regras básicas das parcerias
(BECKER, 2000:298-297).

Estas transformações no papel do Estado vêm trazer novas questões à


organização da geopolítica no mundo. Neste contexto, adquire destaque uma
geopolítica que busca valorizar tanto o diálogo mais próximo entre os Estados, como
entre estes e a sociedade civil organizada (BECKER, 2000:300).

Retomando as principais reflexões tecidas neste tópico, pode-se concluir


que a revolução científico-tecnológica e a questão ambiental trouxeram novo valor
estratégico aos territórios e produziram mudanças na organização da Geopolítica
contemporânea e no papel do Estado.
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REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

BECKER, Bertha K. A Geopolítica na virada do milênio: logística e desenvolvimento


sustentável. In: CASTRO, Iná Elias de; GOMES, Paulo César da Costa; CORRÊA,
Roberto Lobato (Org.). Geografia conceitos e temas. 2a ed. Rio de Janeiro: Bertrand
Brasil, 2000, p.271-307.

CORRÊA, Roberto Lobato. Espaço: um conceito-chave da Geografia. In: CASTRO, Iná


Elias de; GOMES, Paulo César da Costa; CORRÊA, Roberto Lobato (Org.). Geografia
conceitos e temas. 2a ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2000, p.15-47.

HAESBAERT, Rogério; PORTO-GONÇALVES, Carlos Walter. A nova (des)ordem


mundial. São Paulo: Unesp, 2006.

MATTOS, Carlos de Meira. Geopolítica e modernidade: a geopolítica brasileira. Rio


de Janeiro: Biblioteca do Exército Editora, 2002.

MORAES, Antonio Carlos Robert. Geografia Pequena História Crítica. São Paulo:
Annablume, 2003.

______. Território e História no Brasil. 3a ed. São Paulo: Annablume, 2008.

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