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Aula 08

Geografia p/ CACD (Primeira e Segunda Fases) - Pós-Edital

Alexandre Vastella

25870774004 - Luiz Martins


Prof. Alexandre Vastella
Alexandre Vastella
Geografia para o CACD 2018
Aula 08

Aula 08 – Geopolítica – Parte I - Sumário

Teorias geopolíticas e poder mundial ................................................................................ 2


Formação da geopolítica................................................................................................................................ 2
Realismo Político ............................................................................................................................................ 3
Ratzel e a concepção de Estado ..................................................................................................................... 4
Mackinder, Heartland e poder terrestre ........................................................................................................ 7
Heartland ou Área-Pivô .................................................................................................................................................... 8
1339173
Sistema fechado e causalidade geográfica ....................................................................................................................... 9

Mahan e o poder naval ................................................................................................................................ 10


Haushofer e a Geopolitik alemã ................................................................................................................... 13
Skyman e o Rimland ..................................................................................................................................... 17
Da geopolítica clássica para a contemporânea ........................................................................................... 20
Temas clássicos da geopolítica: fronteiras e formas de apropriação política do espaço ... 23
Território, Territorialidade e Poder .............................................................................................................. 23
A Questão das Fronteiras ............................................................................................................................. 26
Relações estado e território ............................................................................................. 28
Relações Estado e território no mundo ........................................................................................................ 28
Bônus: Quadro com os principais conflitos no mundo ................................................................................. 32
Estado e território no Brasil ......................................................................................................................... 34
Treinamento em questões objetivas (1ª fase) .................................................................. 37
Simulado ....................................................................................................................................................... 37
Gabarito ....................................................................................................................................................... 39
Treinamento em questões discursivas (3ª fase) ............................................................... 40
Mackinder e geopolítica contemporânea (CACD 2013) ............................................................................... 40
Geopolítica do Oriente Médio (CACD 2007) ................................................................................................. 42
Fronteiras do extinto Império Otomano (CACD 2013) ................................................................................. 44
Bibliografia sugerida ........................................................................................................ 46

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Teorias geopolíticas e poder mundial

Formação da geopolítica

Embora não sejam sinônimos, a Geografia Política e a Geopolítica


consistem, basicamente, nas áreas da geografia que estudam as relações de
poder no espaço geográfico. Apesar dos estudos de “Geografia Política” serem
empreendidos desde o século XIX – em destaque o trabalho de Ratzel que
veremos a frente –, foi somente em 1899 que o cientista político Rudolf
Kjellén (1864-1922) cunhou o termo “geopolítica”. Para Kjellen, as
disciplinas científicas deveriam se preocupar com as relações do Estado:
deste modo, foi pioneiro na caracterização de alguns campos do
conhecimento, tais como: “geoeconomia” (responsável pelas relações entre
Estado e economia); “sociopolítica” (relações entre Estado e sociedade nacional); e
“geopolítica”, que estudaria as relações entre Estado e território.

Apesar do termo geopolítica ter sido cunhado pelo cientista político Rudolf Kjellen apenas em 1924,
a geografia política foi desenvolvida no final do século XIX, junto ao surgimento da própria ciência
geográfica à autores consagrados como Friedrich Ratzel. Para o geógrafo Wanderley Messias da Costa, o
surgimento da geografia política foi um produto do imperialismo e da expansão das potências mundiais.
Vale ressaltar que entre o final do século XIX e início do século XX – conforme vimos em nossa primeira aula
– as potências da Europa Ocidental encontravam-se em disputa acirrada por colônias e territórios
ultramarinos. A geografia política era, portanto, um conhecimento estratégico para a melhor obtenção de
poder bélico e recursos naturais.

O que é Política?1
Expressão e meio de controle dos conflitos sociais; arte ou ciência de governar, arte ou ciência da
organização; direção e administração de Estados; aplicação desta arte aos negócios internos da nação
(política interna); ou aos negócios externos (política externa); série de medidas para a obtenção de um fim;
arte de guiar ou influenciar o modo de governo pela organização de um partido, pela influência da opinião
pública; pela aliciação de eleitores, etc.
O que é Geopolítica?

Termo criado pelo sueco Rudolf Kjellen em 1899 para designar as relações entre a política do Estado e a
geografia, entendida como superfície, forma, fronteiras e recursos do território nacional. Disciplina que
pretende estabelecer princípios gerais sobre os fundamentos geográficos do poder militar.

Segundo os primeiros autores de Geopolítica – os quais estudaremos nos próximos itens – o Estado
seria autárquico, isto é, teria poder absoluto sobre a nação e exerceria poder sobre si mesmo. Neste

1 Os quadros com definições foram extraídos do Glossário do livro Geografia e Política da geógrafa Iná Elias de Castro.

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contexto, para a geógrafa Bertha Becker, a herança ideológica da geopolítica clássica residiria em dois
pressupostos básicos: a) o excepcionalismo nacional, centrada no Estado-nação como única unidade política
da ordem mundial; b) o determinismo geográfico, pelo qual o poder do estado é atribuído ao contexto do
território. A centralização da geopolítica no Estado-nação significa trata-lo como unidade exclusiva de poder,
e portanto, assumir que conflitos se dão apenas entre Estados. O mundo, desta forma, é visto sob a
perspectiva do Estado, sendo assim, ponto de referência para o ordenamento do território. Estes preceitos
guiaram quase toda a geografia política clássica dos séculos XIX e início do século XX.

Para mandar bem na discursiva


Estado Estado como conceito geopolítico (Estado nacional, Estado-nação, etc), ou seja, como
(maiúsculo) unidade de poder "estatal", ou como instituição, é escrito com a inicial em maiúsculo.
estado Escrito em minúsculo, é simplesmente uma unidade da federação, ou alguma
(minúsculo) característica, tipo “estado de saúde”, “estado de espírito”, etc.

No entanto, no mundo contemporâneo, marcado pelas múltiplas escalas do território e pelas várias
formas de exercício de poder – como corporações transnacionais, movimentos da sociedade civil, entre
outros –, paulatinamente, o Estado deixa de ser o único poder vigente para ser apenas mais um elemento
no jogo geopolítico. A geografia política contemporânea s como a questão ambiental, a questão do capital
financeiro, ou a Nova Ordem Mundial. Para a geógrafa Iná Elias de Castro, quanto mais variada e complexa
for a sociedade, maior será a diferença entre as necessidades dos grupos e das classes sociais envolvidas.
Para a autoria, a geopolítica teria como foco a relação entre a política e o território, base material dos
conflitos entre os diferentes grupos sociais. Rompe-se, desta forma, a concepção de Estado como única
forma de exercício de poder.

Geopolítica Clássica No século XIX, o Estado era a única forma de poder, e o principal vetor de
expansão e domínio territorial.
Geopolítica Atualmente, no entanto, o território existe em múltiplas escalas: o poder é
Contemporânea exercido por diversos atores, não só pelo Estado.

Realismo Político

O principal paradigma da geopolítica clássica é o realismo político, que pressupõe o Estado como
unidade política central. Na busca pelo prestígio, pela glória, e pelo controle territorial, o Estado estaria além
da ética ou da moral. Nicolau Maquiavel, um dos nomes pioneiros desta corrente, em seu livro “O Príncipe”,
proferiu sua famosa frase: “os fins justificam os meios”. Isto é, desde que o resultado seja satisfatório, pouco
importariam os aspectos morais. Além de Maquiavel, Thomas Hobbes desenvolveu ideia parecida em seu
livro “Leviatã”, onde afirma que somente um Estado forte poderia evitar o caos social. Grosso modo, o
Realismo Político é o conjunto de teorias que admitem o poder incondicional do Estado. Tal concepção vai
ao encontro de pensadores expansionistas do século XIX, como o próprio Ratzel, cujas ideias veremos no
próximo item.

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O poder do Estado é centralizado: os fins justificam os meios para a obtenção de


Realismo
recursos naturais, territórios, ou até mesmo glória e prestígio. Visto que cada Estado
político
estaria preocupado apenas com o poder, o sistema internacional seria anárquico.

Escrito por Nicolau Maquiavel em 1513, é um marco teórico do pensamento político e


Sobre "O
da formação do Estado moderno. Sua questão central é como estabelecer uma
Príncipe"
soberania autônoma e duradoura dentro de limites territoriais definidos.

Para o realismo político, a sociedade seria governada por leis


objetivas, comparáveis à luta pela sobrevivência. Deste modo, interesses
econômicos, políticos ou culturais refletiriam a ambição animalesca pela
maximização do poder, dinâmicas estas, sem regras morais universais
aplicáveis à todas as situações. Partindo deste pressuposto, o sistema
internacional seria anárquico, pois cada Estado tentaria impor seu poder ao
próximo, deixando os valores morais em segundo plano.

Estes princípios foram largamente aplicados por Estados europeus no


final do século XIX e início do século XX, quando a geopolítica se desenvolveu
de forma bastante significativa. Neste período, a corrida colonial e a escalada
bélica na disputa por territórios culminaram na Primeira Guerra Mundial. O
realismo político também foi utilizado, por exemplo, no período
entreguerras. O oficial Mahan, cujas contribuições veremos adiante, era um Maquiavel, o precursor do Realismo
Político.
realista.

Ratzel e a concepção de Estado

Além de ter sido fundamental para o próprio surgimento da geografia (conforme vimos no início do
curso), o alemão Friedrich Ratzel (1844-1904) foi o precursor da geografia política. Apesar de ter sido
estudada desde a Antiguidade, foi somente no século XIX, por meio de Ratzel, que houve uma sistematização
do conhecimento geopolítico, transformando-a em uma disciplina científica. Ratzel foi, portanto, o pioneiro
na conceituação de Estado, termo central da geografia política clássica.

O contexto histórico de Ratzel favorecia a criação da disciplina. Conforme vimos no início do curso,
no século XIX ocorreu a unificação da Alemanha, que até então consistira em um agrupamento de feudos e
povoados autônomos. Vivenciando este cenário, Ratzel propôs-se teorizar sobre as características e
necessidades do Estado – que naturalmente, pudesse sustentar o projeto de poder e consolidação da recém-
criada Alemanha. Nesta época, o país almejava ser uma grande potência como Inglaterra e França,
detentoras de importantes colônias além-mar. De acordo com este objetivo, a unificação alemã, iniciada por
Otto von Bismarck, ainda estaria “mal concluída”, sendo necessária então, a consolidação de um Estado
forte que revertesse o atraso político e econômico da Alemanha face às grandes potências. Vale ressaltar

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que Ratzel condenava a Revolução Francesa: deste modo, seu projeto de Estado consistia no comando
centralizado porém não-revolucionário, cujas medidas seriam estabelecidas de forma gradual e segura.

Teorização do Estado Ratzeliano - Contexto


Unificação O recém-criado Estado alemão era “fraco”, e era necessário fortificá-lo. A geopolítica de
alemã Ratzel definia o Estado para depois fortifica-lo.
Expansão Com um Estado forte, a Alemanha poderia participar da expansão colonial, na qual
colonial Inglaterra e França eram líderes.

Ratzel não foi o pioneiro no estudo da geopolítica, mas foi o primeiro a consolidá-la como ciência,
utilizando métodos e metodologias próprias. Em sua obra “Política” (1897), Ratzel afirma que enquanto a
“política” de forma geral seria pertencente aos campos de estudos da história, a “política geográfica”, ou
seja, a política dependente do solo, seria pertencente à geografia. Deste modo, a geopolítica seria o estudo
das relações entre o estado e o solo.

Nesse contexto, o Estado seria um organismo vivo, enraizado ao


solo, que tenderia a se comportar segundo as leis que regem os seres vivos
na Terra, isto é, nascendo, avançando, recuando, ou estabelecendo
relações. Ao contrário do francês Vidal de la Blache, autor da escola
possibilista, Ratzel acreditava no Determinismo Geográfico; isto é, na ideia
de que as condições naturais moldam o desenvolvimento do homem. Por
esta perspectiva, o desenvolvimento do Estado dependeria de questões
naturais, como por exemplo, relevo, solo, clima, etc.

No entanto, somente a fartura de recursos naturais não seria


suficiente para a prosperidade do Estado, sendo necessária também, a
correta utilização dos recursos disponíveis, bem como a criação de uma
unidade cultural em comum, como no caso alemão, o idioma ou a raça. O
progresso do Estado, portanto, estaria vinculado à correta articulação
Preocupado com a expansão alemã, Ratzel foi
entre “povo” e “território”; ou seja, entre homem e meio. pioneiro na geopolítica.

Seguindo este raciocínio, para ser forte, o Estado deveria controlar uma área suficientemente grande
e diversa, que provesse recursos naturais e econômicos para a sustentação de seu povo, ou seja, controlar
um espaço vital (em alemão, lebensraum). O espaço vital seria, portanto, o equilíbrio entre uma
determinada população e os recursos disponíveis para suprir suas necessidades. Analisando as
potencialidades de expansão deste espaço vital, Ratzel propôs as leis de crescimento espacial do Estado, ou,
a natureza das relações do Estado com o território; propondo, deste modo, um estudo nomotético a seguir:
[fonte]

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Leis de crescimento espacial - Ratzel


1 As dimensões do Estado crescem com sua cultura.
O crescimento dos Estados segue outras manifestações do crescimento dos povos, que
2
necessariamente devem preceder o crescimento do Estado.
O crescimento do Estado procede pela anexação dos membros menores ao agregado. Ao mesmo
3
tempo, a relação entre a população e a terra torna-se continuamente mais próxima.
As fronteiras são o órgão periférico do Estado, o suporte e a fortificação de seu crescimento, e
4
participam de todas as transformações do organismo do Estado.

5 No seu crescimento, o Estado esforça-se pela delimitação de posições politicamente valiosas.

6 Os primeiros estímulos ao crescimento espacial dos Estados vêm lhes do exterior.


A tendência geral para a anexação e fusão territoriais transmite-se de Estado a Estado, e cresce
7
continuamente de intensidade.

É possível perceber que as leis de Ratzel eram fortemente imperialistas e colonialistas. Legitimavam
assim, a anexação de territórios e a consequente expansão do espaço vital alemão. As teorias ratzelianas
convergem com o realismo político, isto é, com a ideia de centralidade estatal para além da moralidade.

Friedrich Ratzel (1844-1904) - Resumão


Estado O Estado é um organismo vivo, dependente das condições naturais do território.
Para que o Estado sobreviva é necessário ter um espaço vital, isto é, o poder sob uma
Espaço Vital
área dotada de recursos naturais e outros elementos para seu sustento.
Determinismo Deste modo, ao contrário da escola possibilista, Ratzel acreditava que o território
Geográfico moldava as características do homem.
Leis de
Visando expandir o espaço vital, Ratzel elaborou sete leis de crescimento, fortemente
crescimento
calcadas no imperialismo e no colonialismo.
espacial

CAI NA PROVA

CACD/2014 – Questão 27

Se necessário for definir um paradigma para a geopolítica desde que se constituiu como disciplina, certamente este seria
o do realismo, no campo das relações internacionais. A obra de Friedrich Ratzel, teorizando geograficamente o Estado
(1897), constitui uma fonte crucial para a análise das relações entre o Estado e o poder.

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B. Becker. A geopolítica na virada do milênio. In: Geografia: conceitos e temas, Castro et al. (Orgs.). Rio de Janeiro:
Bertrand Brasil, 1995, p. 273 e 277 (com adaptações).

Acerca do paradigma mencionado no fragmento de texto acima e de suas relações com a obra político-geográfica de
Friedrich Ratzel, julgue (C ou E) os itens a seguir.

1. As leis do crescimento espacial dos Estados enunciadas por Ratzel retificam os princípios básicos do realismo
político.

COMENTÁRIO

O realismo político baseia-se na concepção do poder “a qualquer custo” do Estado (se necessário, passando
por cima de preceitos morais). Como as leis de crescimento espacial dos Estados de Ratzel era fortemente
imperialista e colonialista (pouco éticas ou morais), então, NÃO RETIFICAM os princípios básicos do realismo
político; muito pelo contrário, concordam com estes princípios.

Atenção para o português: não confundir as palavras “retificar” (discordância), com ratificar (concordância).
Isto pode mudar totalmente o sentido da questão! Gabarito: Errado

2. Por reconhecer a exclusividade dos Estados como atores internacionais, o realismo político coaduna-se com os
parâmetros da geopolítica clássica.

COMENTÁRIO

Sim, ao contrário da geopolítica contemporânea, a geopolítica clássica era baseada no protagonismo central
do Estado como unidade de poder. Gabarito: Certo

3. Por considerar o Estado como organismo vivo, a geografia política ratzeliana contradiz o paradigma do realismo
político

COMENTÁRIO

A geografia política ratzeliana NÃO CONTRADIZ o paradigma do realismo político. Muito pelo contrário, a
expansão do Estado ratzeliano convergia muito bem ao realismo político.

Gabarito: Errado

Mackinder, Heartland e poder terrestre

Considerado um dos principais nomes da geopolítica, o inglês Sir Halford John Mackinder (1861-
1947) protagonizou uma verdadeira revolução na concepção de poder mundial. Por meio do paper “The
Geographical Pivot of History” (1904), Mackinder expõs a rivalidade secular entre dois poderes antagônicos:
o poder terrestre e o poder marítimo. O primeiro situava-se na porção central da Eurásia, em grande parte
no atual território da Rússia. Já o segundo, encontrava-se de forma dispersa nas regiões marginais da Eurásia

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ou nas ilhas adjacentes. Supervalorizando o poder terrestre em detrimento do aquático, Mackinder foi
responsável pela elaboração dos conceitos de “heartland”, de “sistema fechado”, e de “causalidade
geográfica”, que permanecem, em grande parte, atuais. Veremos adiante cada um destes conceitos.

Heartland ou Área-Pivô

O heartland – literalmente “coração da terra” – consiste na maior


porção de terras emersas do planeta. Localiza-se na porção central da
Eurásia, abrangendo principalmente o território da Rússia, mas também,
áreas significativas da Europa e do Oriente Médio. Para Mackinder, a
Europa já havia atingido a supremacia naval, e portanto, o futuro da
tecnologia bélica estaria centrado nos motores à combustão e nas
ferrovias, recentes inovações do período. Deste modo, quem controlasse
o heartland, controlaria o planeta. Entre as principais características do
heartland estão: a grande extensão de terras; a grande disponibilidade de
recursos naturais, e a grande inacessibilidade por via marítima, o que
garantiria segurança estratégica à área em questão. Possuindo
significativas qualidades naturais, o heartland consistiria um espaço Para Mackinder, o poder terrestre era o mais
importante. Quem controlasse o heartland,
autárquico, praticamente autossuficiente. controlaria o mundo.

Inserido no interior do continente, o heartland estaria seguro de ataques marítimos. No entanto,


quaisquer perturbações internas, como por exemplo, um conflito entre a Alemanha e a Rússia (que de fato
viria a ocorrer nas duas guerras mundiais), causaria desequilíbrios em escala global. De fato, devido à sua
posição estratégica no heartland, a Rússia resistiu a pesadas invasões, como as de Napoleão e de Hitler. Na
segunda metade do século XX, a Rússia tornou-se uma potência global, a ponto de ameaçar a supremacia
dos Estados Unidos. O mapa abaixo ilustra a localização do heartland:

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Em torno do heartland, para o autor, estaria situado o inner crescent, ou o inner marginal, que na
tradução, significam “crescente interior”, ou “interior marginal”. Trata-se de área periférica do heartland, de
menor importância para Mackinder, posteriormente chamada por Spykman de rimland. As demais áreas do
planeta, de menor relevância geopolítica, seriam chamadas de outer crescent (crescente exterior), ou insular
crescent (crescente insular).

Regionalização do mundo por Mackinder


Área Características Localização
Heartland Área central Partes da Rússia, Leste Europeu e Oriente Médio
Bordas da área central, semi-
Inner crescent Europa, sudeste asiático
periféricas
Outer
Áreas periféricas Américas, África, e Oceania
crescent

A concepção do heartland ajudou a derrubar o eurocentrismo vigente até o século XX. Até então,
por meio do colonialismo, do imperialismo, e das Grandes Navegações, a Europa Ocidental controlara o
planeta de forma razoavelmente homogênea. No entanto, ao posicionar o coração geopolítico para leste,
Mackinder deslocava para leste o eixo de poder global. Pela primeira vez após a Idade Moderna, admitia-
se a possibilidade da Europa não ser mais o “centro do mundo”.

Sistema fechado e causalidade geográfica

No início do século XX, na época de Mackinder, a expansão das potências europeias estava
praticamente concluída. Do mesmo modo, a Rússia já estava terminando a ocupação da Sibéria, o que
garantiu maior reconhecimento do território mundial. Com isso, fechava-se a era da expansão marítima, e
acirravam-se as disputas pelos territórios já descobertos. Por isso, Mackinder afirmava que a partir do
século XIX a Terra seria um sistema político fechado; pois, ao contrário do que ocorrera nos séculos XVI e
XVII – auge das expansões portuguesa-espanhola – não haviam mais grandes oceanos a serem percorridos,
e a economia já estava razoavelmente integrada em escala global. Deste modo, o mercado mundial já estava
muito bem repartido em impérios coloniais e esferas de influência das grandes potências, destacando-se
principalmente a Inglaterra e a França.

Embora hoje todos saibam que a “Terra é um sistema


fechado”, esta constatação foi uma grande novidade no início
do século XX. Para Mello, o pensamento de Mackinder pode
ser transposto para a atualidade: com advento de duas guerras
mundiais, da Guerra Fria, e por fim, da globalização, a
concepção de “sistema fechado” foi ficando cada vez mais
atual, até acarretar na compressão espaço tempo que vivemos
hoje. Para Mackinder, a história possuía causalidade
geográfica. Isto é, os aspectos geográficos interferiam na
Expedição inglesa na Antártida, final do século XIX. Nesta época, história humana, principalmente em um mundo fechado e
todo o mundo já estava conhecido, por isso, era um "sistema
fechado".

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interdependente que começava a se descortinar. De certo modo, trata-se de uma concepção materialista e
determinista do conhecimento geográfico.

Para Mello, o resumo da geopolítica mackinderiana baseia-se no condicionamento exercido pelas


realidades geográficas sobre os processos históricos, no confronto secular entre as potências oceânicas e
as potências continentais, assim como no declínio da supremacia mundial do poder marítimo e no advento
da “era pós-colombiana” no poder terrestre – isto é, a “era pós-navegações”, onde o poder marítimo não
seria mais preponderante.

Halford John Mackinder (1861-1947) - Resumão

O poder marítimo foi importante na Era Colombiana (Grandes Navegações), mas


Poder continental
na era Pós-Colombiana, com a Terra quase toda conhecida, o poder terrestre seria
versus Poder
mais importante. Até porque, novas tecnologias estavam surgindo como os
marítimo
motores a vapor e as ferrovias.

Principal conceito de Mackinder, o heartland corresponde ao "coração da terra",


Heartland/Área
área central do poder terrestre, situado na Eurásia. Quem controlasse o heartland,
Pivô
controlaria o mundo.

Visto que a Terra estava quase toda conhecida, então, constituía um "sistema
Sistema fechado
fechado", sem grandes áreas a serem exploradas.

A geografia possui papel importantíssimo nos acontecimentos humanos. E quanto


Causalidade
mais "fechada" for a Terra, maior importante será o papel da geografia na história
geográfica
humana.

Mahan e o poder naval

Ao contrário do inglês Mackinder, que analisava o as relações


internacionais do século XIX focando na supremacia terrestre, o oficial da
marinha norte-americana Alfred Thayer Mahan (1840-1914) reforçava que
o poder global seria exercido por quem detivesse o poder marítimo, e não
o terrestre. Professor da War College at Newport, Mahan escreveu a obra
The Influence of Sea Power (1890), na qual expõe as razões para os Estados
Unidos investirem no poderio naval. Conhecido como “filósofo naval do
imperialismo”, era grande admirador da Inglaterra e de sua expressiva frota
de embarcações – vale ressaltar que a frota inglesa evitou que o país fosse
conquistado por Napoleão. Para Mahan, o poder naval dos Estados Unidos
garantiria equilíbrio de poder no continente americano e no mundo. O Ao contrário de Mackinder, para Mahan, o
poder naval era o mais importante
país, dividido entre Costa Oeste (Pacífico) e Costa Leste (Atlântico), deveria

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investir, por exemplo, no Canal do Panamá para viabilizar maior circulação entre as frotas marítimas e maior
articulação territorial.

Mahan recorre aos exemplos da Inglaterra e da França para chamar a atenção dos norte-americanos
quanto à necessidade de um povo valorizar os seus recursos marítimos, como costas extensas ou portos.
Combate assim, o mito de que a riqueza norte-americana estaria baseada em atividades ligadas à terra e à
conquista do interior. Para o autor, a concentração de riqueza estaria nas faixas litorâneas onde o comércio
marítimo é mais intenso. Assim, para além do total de quilômetros quadrados de um território, o que
realmente contaria é a extensão de seu litoral e as características de seus portos projetados ao exterior. No
entanto, para que o poder marítimo fosse consolidado, seria necessário que a população de um país fosse
culturalmente ligada ao mar.

Neste sentido cultural, os norte-americanos estariam defasados em relação aos ingleses. No entanto,
Mahan previu que, devido a suas características naturais, os Estados Unidos substituiriam a Inglaterra
como potência global, o que de fato, ocorreu. Além de ter previsto a consolidação dos Estados Unidos no
cenário mundial, Mahan também advertiu para a ascensão da Alemanha: ainda no começo do século XX,
o oficial avisava que se o país investisse em sua marinha, poderia pôr em xeque a supremacia naval britânica.
Conforme previsto, os alemães investiram pesado em sua frota de navios, gerando preocupação regional, e
criando assim, algumas das instabilidades que culminariam na Primeira Guerra Mundial.

Alfred Thayer Mahan (1840-1914)


Poder marítimo Quem tivesse o poder marítimo, dominaria o mundo.
A Inglaterra só tornou-se a maior potência global porque também tem a
Papel da Inglaterra
maior frota de navios.
A Alemanha estava investindo em frota de navios (início do século XX), o
Papel da Alemanha
que poderia abalar as relações com a Inglaterra. E isto de fato, ocorreu.
Pelas suas condições naturais (vasta costa para dois oceanos), os EUA
Papel dos Estados Unidos
tornar-se-iam a maior potência global. E isto também ocorreu.

CAI NA PROVA

CACD/2016 – Questão 30

País de território misto, marcado a um só tempo pela continentalidade e maritimidade, o Brasil tem, na análise dos
clássicos da teoria geopolítica relacionados ao poder naval (Mahan) e na da teoria do poder terrestre (Mackinder),
importantes questões para a discussão de uma visão estratégica contemporânea, em um contexto em que há um
importante aumento da estrutura política e econômica do país no cenário mundial.

Ronaldo Gomes Carmona. Geopolítica clássica e geopolítica brasileira contemporânea: Mahan e Mackinder e a “grande
estratégia” do Brasil para o Século XXI. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2012 (com adaptações).

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Tendo como referência inicial o trecho do texto de Ronaldo G. Carmona, julgue (C ou E) os itens seguintes, acerca de
continentalidade, maritimidade e geopolítica brasileira no século XXI.

1. A vasta extensão territorial do Brasil, que corresponde a 47% do território sul-americano, indica a necessidade de
segurança das fronteiras com seus países vizinhos, de responsabilidade dos órgãos de segurança pública, da
Secretaria da Receita Federal e das forças armadas.

COMENTÁRIO

O Brasil é o quinto país com maior território do mundo, fazendo fronteira com Uruguai, Argentina, Paraguai,
Bolívia, Peru, Colômbia, Venezuela, Guiana, Suriname e até com a França! É difícil patrulhar todas estas
fronteiras, mas este cuidado é essencial para a soberania nacional. Gabarito: Certo

2. Em relação à segurança nacional, as bacias hidrográficas amazônica e do Paraguai são consideradas não
prioritárias, em razão de seu isolamento e distanciamento em relação aos grandes centros urbanos do centro-sul
do país e também da ocupação rarefeita da população nas regiões onde se situam.

COMENTÁRIO

Errado. A questão estaria totalmente correta se a palavra “não” fosse retirada. Exatamente o contrário, estas
fronteiras são estratégicas por diversos motivos, entre eles a biopirataria, o contrabando, o tráfico de drogas,
e a imigração ilegal. Gabarito: Errado

3. A Política de Defesa Nacional destaca a importância do controle e defesa dos chamados ativos estratégicos do
Brasil: fontes de água doce e de energia, biodiversidade, imensas reservas de recursos naturais e extensas áreas
a serem incorporadas ao sistema produtivo nacional.

COMENTÁRIO

O Brasil possui a maior floresta tropical do mundo (Amazônia), a maior reserva de água doce do mundo, e
também uma das maiores biodiversidades do planeta. Somos riquíssimos em recursos naturais e minerais.
Gabarito: Certo

4. O fato de o Brasil possuir um vasto litoral com importantes reservas de recursos naturais é, por si só, indicativo
de que o país deve investir na força naval de defesa de seu território oceânico.

COMENTÁRIO

Se Mahan fosse brasileiro, certamente se preocuparia com a marinha do país. Além de ser militarmente
estratégico, o bioma da Zona Costeira, possui ecossistemas riquíssimos em biodiversidade. Gabarito: Certo

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Haushofer e a Geopolitik alemã

Se Mahan ajudou a expansão militar dos Estados Unidos, o general


Karl Ernest Haushofer (1869-1946), durante o período entreguerras no início
do século XX, sobretudo durante o governo de Adolf Hitler, influenciou
diretamente as estratégias expansionistas do Império Alemão. Apesar de
serem desconhecidos pelo grande público, Haushofer e seu Instituto de
Munique com seis mil cientistas, técnicos e espiões produziram ideias, cartas,
mapas, estatísticas, informações e planos que serviam de base às estratégias
do III Reich. Para Mello, “Haushofer dominava o pensamento de Hitler”, e
não o contrário.

Como estrategista geopolítico, Haushofer sabia da área de influência


de cada país. Tinha perfeita noção que os Estados Unidos comandavam a
América, que os europeus comandavam a África, que a União Soviética Haushofer: braço direito de Hitler,
regionalizou o mundo e sugeriu alianças.
comandava os países vizinhos, e que o Japão comandava o sudeste asiático e
a Oceania. A influência da Grã-Bretanha, no entanto, estaria diluída ao redor do mundo pelas suas colônias.
Deste modo, para que a Alemanha dominasse o mundo, era necessário costurar uma sólida política de
alianças com as potências influenciadoras, em especial Rússia e Japão. O mapa abaixo sintetiza, em regiões
circulares, as áreas de influência aproximadas destas potências:

Tendo em mente estas áreas de influência, e na condição de admirador da obra de Mackinder, o


estrategista alemão visava meios para dominar o heartland, ou área-pivô, que estava estrategicamente a
leste, em direção da Rússia. Para Haushofer, o estabelecimento de uma aliança entre Alemanha e União
Soviética era a chave para vencer a Grã-Bretanha e pôr a Europa sob a soberania de uma “Grande

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Alemanha”. Apesar das diferenças ideológicas, Haushofer via a Rússia comunista como aliada vital para
combate ao domínio britânico. Dado o grande território (incluindo o heartland) e a imensa quantidade de
recursos naturais do país vizinho, uma invasão à URSS seria uma ideia impensável para o estrategista
alemão.

Neste sentido, no início da Segunda Guerra Mundial, influenciado por Haushofer, Alemanha e Rússia
assinaram o Pacto de Não-Agressão Molotov-Ribbentrop (1939), que previa 10 anos de paz entre os
ditadores Hitler e Stalin. Hitler, no entanto, contrariando Haushofer, rompeu o combinado e invadiu a União
Soviética, fazendo com que soviéticos e germânicos lutassem de lados opostos no front. A invasão ficou
conhecida como Operação Barbarossa (1941), e conforme previsto por Haushofer, foi um fracasso,
ocasionando grandes baixas para o exército alemão.

Soldados alemães tentando invadir o “heartland” russo. Contrariando Haushofer, Hitler invadiu a URSS, o que causou várias baixas no exército
alemão.

Além da Rússia, Haushofer visionava uma aliança entre Alemanha e Japão. O motivo era simples:
enquanto os germânicos dominariam a Europa, os japoneses estabeleceriam um império nos mares; e ambos
os poderes, terrestre e naval, se ajudariam mutuamente. Com uma eventual aliança germânica-japonesa, o
Império Alemão poderia projetar sua área de influência para leste, abrangendo a Oceania e o sudeste
asiático.

Para Haushofer, a aliança tripla entre Rússia, Japão e Alemanha seria fundamental para dominar o
mundo. Cada país possuiria sua esfera de influência, e juntos, combinariam uma constelação única de poder,
que com exceção da América, abrangeria todo o planeta. Na visão de Haushofer, esta partilha levaria a
constituição de três áreas de influência supercontinentais: A Euráfrica (abrangendo África, Europa, e Oriente
Médio) – submetida ao domínio alemão; a Pan-Ásia (Zona de Co-Prosperidade Asiática) (abarcando China,
Coréia, Sudeste Asiático e Oceania) – de domínio japonês; e, entre ambas, a Pan-Rússia (zona tampão
formada por Rússia, Índia e Irã), comandada pela União Soviética.

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As únicas pan-regiões
fora do alcance alemão seriam
a Pan-América, região
americana comandada pelos
Estados Unidos; e a Pan-
Região Fragmentada, liderada
pelo Império Britânico. Como
os territórios britânicos
estavam “fragmentados” pelo
globo, estes controlariam
vários territórios pelo mundo,
e não uma área específica.

Novas dissidências
entre Hitler e Haushofer
marcaram a geopolítica alemã.
Com o estabelecimento das
pan-regiões, Haushofer imaginava diminuir a influência do Império Britânico. No entanto, para Hitler, que
visava o domínio continental da Europa, o maior inimigo era a França, e não a Inglaterra. De fato, ao menos
que a Alemanha tivesse o domínio das terras emersas europeias, Hitler não se importaria se a Grã-Bretanha
dominasse os mares. Enquanto Haushofer planejava diminuir o poder do Império Britânico, Hitler
planejava diminuir o poder do Império Francês. Deste modo, o exército nazista até chegou a atacar a
Inglaterra, mas era na França que se concentravam suas metas.

Karl Ernest Haushofer (1869-1946) - Resumão

Estratégias militares
Haushofer era conselheiro de Hitler nos assuntos de guerra e influnciou diretamente a
Apoio a Hitler
geopolítica nazista.
Conquista do Fã de Mackinder, Haushofer almejava conquistar o Heartland por meio de uma
Heartland aliança URSS-Alemanha
Questão da Ao contrário do sugerido, Hitler rompeu o Pacto de Não Agressão e invadiu a URSS.
URSS Conforme esperado por Haushofer, a Alemanha sofreu uma amarga derrota.
Questão da Para Haushofer, o maior inimigo era a Grã-Bretanha. No entanto, para Hitler, era a
Grã-Bretanha França.
Política de Alianças com a Rússia e o Japão garantiriam a supremacia da Alemanha no sistema de
alianças Pan-regiões
Idealização de Pan-Regiões
Área Abrangência Domínio
Euráfrica Europa + Ásia Alemanha
América do Norte + América Central +
Pan-América Estados Unidos
América do Sul
Pan-Rússia União Soviética + países vizinhos Rússia

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Zona de Co-Prosperidade Asiática (Oceania e


Pan-Ásia Japão
sudeste asiático)
Pan-Região
Inglaterra + colônias Inglaterra
Fragmentada

CAI NA PROVA

CACD/2014 – Questão 28

Karl Haushofer era militar de carreira, mas sua saúde frágil tornou-lhe difícil o exercício de comando na guerra. Ele se
orientou, então, para as funções do Estado-Maior. E serve, por isso, de 1908 a 1910, como adido militar em Tóquio. Ele é,
assim, iniciado à geopolítica dos militares e à dos diplomatas.

P. Claval. Géopolitique et géoestratégie. Paris: Nathan, 1994, p. 25 (com adaptações).

Em relação à hipótese geoestratégica do poder mundial elaborada por Karl Haushofer, julgue (C ou E) os itens
subsequentes.

1. A panregião da Euráfrica, sob liderança alemã, englobava a Rússia, subordinada aos imperativos geopolíticos das
potências europeias.

COMENTÁRIO

A Rússia englobava (e também liderava) a Pan-Rússia, e não a Euráfrica. Gabarito: Errado

2. A idealização de panregiões comandadas por potências específicas da Europa, Ásia e América estava associada
à neutralização do Império britânico, concebido como panregião fragmentada.

COMENTÁRIO

Haushofer via o Império Britânico como a maior ameaça à expansão alemã. E de fato, a panregião fragmentada
era composta pela Inglaterra e suas colônias. Gabarito: Certo

3. A formação das panregiões impedia a consolidação de espaços autárquicos, devido às diversas faixas latitudinais
dessas áreas de influência estratégicas.

COMENTÁRIO

Não, as panregiões eram espaços autárquicos (poder em si mesmas). Gabarito: Errado

4. Segundo essa hipótese, o objetivo estratégico baseava-se na consolidação do poder marítimo e naval mundial
sob o comando da Alemanha.

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COMENTÁRIO

Não, cada panregião teria seu comando central (Alemanha, Rússia, Estados Unidos e Japão). Gabarito: Errado

Skyman e o Rimland

No período entreguerras, os Estados Unidos passaram por um grande debate a respeito da atuação
do país nas relações internacionais. Neste contexto, destacavam-se duas posições antagônicas: realismo
político versus idealismo político. Os idealistas defendiam um sistema de segurança coletiva, no qual
houvesse uma comunidade de poder internacional a fim de resguardar a paz mundial, como por exemplo, a
recém-fundada Liga das Nações após a Primeira Guerra Mundial. Os realistas, mais céticos, e de certo modo
maquiavélicos, afirmavam que a paz só poderia ser mantida por meio da força e do expansionismo.

A paz só será atingida se os EUA forem enérgicos e proativos nas relações internacionais,
Realismo
garantindo assim, seus interesses.
Idealismo A paz só será atingida por meio de diálogo (por exemplo, Liga das Nações).

Além disso, haviam debates entre o isolacionismo político versus o intervencionismo político. Os
primeiros, achavam que os Estados Unidos, inseridos em um contexto geográfico favorável entre dois
oceanos, deveriam se isolar do mundo, não se envolvendo, por exemplo, em problemas europeus. Já os
intervencionistas, acreditavam na interferência direta norte-americana em assuntos extracontinentais para
a obtenção de um poder mundial equilibrado.

Os EUA estão seguros entre dois oceanos, então devem se isolar do mundo para
Isolacionismo
evitar problemas.
Intervencionismo Os EUA devem interferir em assuntos externos para garantir sua segurança.

Foi neste contexto que as ideias do professor intervencionista e realista Nicholas Spykman (1893-
1943) ganharam eco. Professor da Universidade de Yale, Spykman via o sistema internacional como
essencialmente anárquico e belicoso, cujo comando não dependeria de um governo centralizado, mas sim,
de um sistema de livre concorrência entre os Estados nacionais. Neste modelo, embora os Estados tivessem
soberania em seus territórios, no cenário internacional, o uso da força seria desmonopolizado. Embora o
sistema-mundo fosse “anárquico”, e visto que o equilíbrio da força seria desproporcional, Spykman
acreditava que algumas potências controlavam o destino do planeta.

Para Spykman, os Estados Unidos estariam em uma posição privilegiada, entre dois oceanos, o que
garantiria certo isolacionismo geográfico; entretanto, o país estaria vulnerável a ataques marítimos.
Criticando esta visão isolacionista, Spykman afirmava que a primeira linha de defesa norte-americana
deveria estar fora dos Estados Unidos, do outro lado dos oceanos Atlântico e do Pacífico. Isto significava
avançar as forças norte-americanas nas extremidades do continente Eurasiático. Conforme a imagem a
seguir:

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Para Spykman, o controle das porções litorâneas da Europa e da Ásia seria fundamental para o
domínio geopolítico global. Assim como a Inglaterra ocuparia uma posição insular em relação ao restante da
Europa, os Estados Unidos seriam uma “ilha” entre a Ásia e a Europa, o que lhe garantiria posição dominante.
Estas bordas oceânicas estratégicas situadas na Eurásia seriam chamadas de Rimland – literalmente “terras
das bordas”.

Contrariando a teoria mackinderiana do


Heartland, para Spykman, quem dominasse o
Rimland, dominaria o mundo. O rimland
deveria, deste modo, funcionar como uma zona
amortizadora no conflito entre poder martítimo
e o poder terrestre. Não por acaso, nesta área
situam-se países fundamentais no cenário
geopolítico global como China, Índia, Japão,
Coréia, Arábia Saudita, e nações da Europa
Ocidental. O heartland, no entanto, seria
ocupado principalmente pela Rússia, que dadas
as suas condições climáticas difíceis, teria sua
ocupação dificultada, especialmente nas regiões
Periférico para Mackinder, o Rimland era de importância central para Spykman.
siberianas a extremo norte.

Além disso, é importante ressaltar que o mundo havia mudado bastante desde a época de Mackinder
– criador da teoria do heartland entre os séculos XIX e XX. A partir da Primeira Guerra Mundial, além do
poder naval e terrestre, a descoberta e a implantação de aviões de guerra alterou profundamente o jogo
geopolítico global; o que relativizou a inacessibilidade do heartland, abrindo assim, possibilidades para
novas teorias, como a do rimland.

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Durante a Guerra Fria, período imediatamente subsequente à


Segunda Guerra Mundial, o mundo viu-se polarizado entre Estados Unidos e
União Soviética. Influenciado pelas concepções de heartland e rimland, o
diretor do Conselho de Segurança Nacional e professor universitário
americano Zbigniew Brzezinsky (1928-) escreve o livro Game Plan, que
promove um balanço global do confronto Leste-Oeste.

Neste livro, o autor sugere linhas de ação para os Estados Unidos, e


traça cenários para os eventuais desdobramentos entre as duas potências
mundiais. Tendo como influências tanto Mackinder quanto Skypkman,
Zbigniew atenta para a importância do controle do heartland e do rimland
Para Spykman, os EUA deveriam instalar
eurasiáticos. De fato, a polaridade poder naval versus poder terrestre ficou
defesas no Rimland, principal área do bastante evidente no século XX: enquanto os Estados Unidos detinham o
globo.
poder marítimo e financeiro, a União Soviética possuía o controle do
heartland e de grande parte dos recursos naturais. Interessante notar que a maior parte das grandes
batalhas da Guerra Fria ocorreu no rimland, como a Guerra do Vietnã, a Invasão do Afeganistão, ou a Guerra
das Coréias, o que evidencia mais uma vez, a importância destas “bordas” continentais.

Nicholas Spykman (1893-1943) - Resumão


Os EUA deveriam ter uma política externa realista e intervencionista, ocupando as
Segurança dos
bordas da Ásia e da Europa, e criando assim, uma linha de defesa fora do próprio
EUA
território.
Contrariando o Heartland de Mackinder, para Spykman, quem controlasse o rimland
Rimland
(bordas oceânicas da Eurásia), controlaria o mundo.

Para finalizar, é importante ressaltar que apesar de ter ficado


famoso pela proposição das linhas de defesa ultramarinas, Spykman não
foi o idealizador da expansão norte-americana. Já no início século XIX, o
presidente James Monroe propôs o que ficou conhecido como Doutrina
Monroe (1923). De acordo com essa doutrina, os Estados Unidos
reafirmavam sua posição contra o colonialismo europeu na América. Por
meio do bordão "América para os americanos", os Estados Unidos criavam
assim, a sua área de influência, relatava posteriormente pelo rival alemão
Haushofer como Pan-região Americana. No início do século XX, a política
do Big Stick (grande porrete) de Theodore Roosevelt visava proteger os
interesses norte-americanos no continente. Conforme aponta o livro
Veias Abertas da América Latina, de Eduardo Galeano, ao longo do século
XX, os Estados Unidos interviram militar ou politicamente em vários
países da América, sobretudo os da América Central, como Cuba, Haiti,
República Dominicana. Nicarágua, e Panamá.

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Da geopolítica clássica para a contemporânea

Nas últimas décadas, o mundo passou por intensas transformações, tais como: a compressão
espaço-tempo, a globalização, o aumento da preocupação ambiental, o fim do comunismo político e a
consagração dos Estados Unidos como potência hegemônica global. A integração global – nos âmbitos
tecnológico, comercial, cultural e financeiro – juntamente à ascensão de países emergentes como a China e
a Índia, alteraram significativamente o foco geopolítica no final do século XX, trazendo novos desafios à
disciplina.

Para a geógrafa Iná Elias de Castro, as questões colocadas para a geografia política no início deste
terceiro milênio são bem mais amplas do que aquelas que inspiraram seus fundadores no final do século
XIX. De uma perspectiva que tinha o Estado nacional como eixo central, a geopolítica atual parte para uma
concepção de território que envolve elementos como o ciberespaço, a cultura global, e a interdependência
mundial. O avanço do capitalismo faz com que o Estado deixe de ser o agente central no poder territorial,
tornando-se apenas um dos atores no processo geopolítico. O Estado, neste novo contexto, torna-se
necessário para a reprodução e a normatização do capital transnacional, que desconhece fronteiras e
barreiras geográficas. Do mesmo modo, os avanços tecnológicos e a introdução do meio técnico-científico-
informacional flexibilizam os tradicionais conceitos de geopolítica clássica como o heartland, o rimland, o
Estado ratzeliano, entre outros.

Densidade do comércio global (2015). Em um mundo cada vez mais globalizado, o “Estado nacional” perde força geopolítica e outros elementos ganham.

Além do mais, com o fortalecimento dos blocos econômicos internacionais (em especial à União
Europeia, que é uma sólida união monetária), bem como órgãos diplomáticos como a Organização das
Nações Unidas (ONU), e acordos bilaterais de comércio, o mundo torna-se menos competitivo no sentido
militar e mais competitivo no âmbito econômico. Outro elemento não menos importante nesta nova
configuração da geopolítica contemporânea é a questão ambiental, principalmente no que se refere aos

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acordos e protocolos internacionais para a mitigação das mudanças climáticas. Não se preocupem,
estudaremos a questão ambiental com mais profundidade nas próximas aulas.

A seguir, seguem dois quadros-síntese. O primeiro elenca as principais mudanças na geopolítica entre
os séculos XIX e XXI. Já o segundo, sintetiza os principais autores da disciplina (logicamente, os nomes com
maior probabilidade de cair no CACD), juntamente aos seus respectivos contextos históricos e políticos.

Mudanças na Geopolítica – Século XIX ao XXI


Tema Geopolítica Clássica Geopolítica Contemporânea
Eram o único agente de poder, É somente mais um agente de poder. Hoje
responsável pela configuração existem outros atores na geopolítica como
Estados
territorial, pela questão de organismos internacionais, blocos econômicos,
nacionais
segurança, e pela apropriação de empresas transnacionais, capital financeiro,
recursos. movimentos sociais, etc.
Não é só exercido pelo Estado, mas também (e
Domínio Exercido unicamente pelo Estado,
principalmente) pelo capital transnacional, que
territorial por meio de fronteiras.
desconhece fronteiras.
O Estado precisa de "espaço vital"
(território com recursos disponíveis) Com a globalização, nem todo país desenvolvido é
Recursos
para sobreviver. Se o Estado não tem rico em recursos naturais, vide Japão. Quem não
naturais
espaço vital, é "legítimo" invadir os tem, os compra.
outros territórios para possuí-lo.
Discussão
Além dos poderes terrestre e marítimo, destacam-
sobre poder
se os poderes aéreo, cibernético, financeiro, etc. A
terrestre Adequada para o século XIX.
dicotomia "oceano x continente" tornou-se
versus
simplória para o mundo atual.
marítimo
Questão Cada vez mais relevante em um mundo
Não se discutia.
ambiental globalizado.

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Principais autores de Geopolítica - Resumão


Autor País Contexto histórico Contexto do autor Principais contribuições
A Alemanha havia sido
Ratzel sistematizou tanto a geografia quanto a
recentemente unificada, e Espaço vital, Determinismo Geográfico, Leis de
Friedrich Ratzel geografia política. Era necessário criar um
Alemanha também queria participar da Crescimento Espacial, e teorização sobre Estado
(1844-1904) campo da ciência que legitimasse a expansão do
corrida colonial junto a potências (um organismo vivo passível à expansão).
recém-criado Império Alemão.
como França e Inglaterra.
A Inglaterra era a maior potência Mackinder expôs a fragilidade da Inglaterra ao
Halford John do mundo, tendo também a maior afirmar que o poder terrestre era mais Heartland (coração da Terra, no centro da
Mackinder (1861- Inglaterra frota de navios e a maior importante que o naval, e combateu o Eurásia) e a concepção de mundo como sistema
1947) quantidade de colônias eurocentrismo ao colocar a Rússia como área- fechado.
ultramarinas. pivô do cenário geopolítico.
Como oficial da Marinha, era natural que Mahan
Embora não participasse da
"puxasse a sardinha" para o poder naval. Apesar
corrida colonial, os EUA estavam
Alfred Thayer Estados da parcialidade, Mahan acertou várias Em contraposição à Mackinder, Mahan
em rápida ascensão, fazendo com
Mahan (1840-1914) Unidos previsões, como a ascensão dos EUA como ressaltou a importância do poder naval.
que a geopolítica fosse
potência, e as intenções belicosas da Alemanha
estratégica.
que culminaram na Primeira Guerra Mundial.
A Alemanha havia perdido a De visão expansionista, Haushofer sabia da área
Karl Ernest Primeira Guerra Mundial e Hitler de influência de cada país. Caso a Alemanha As Pan-Regiões de Haushofer seriam as regiões
Haushofer (1869- Alemanha subia ao poder. Haushofer foi o quisesse "dominar o mundo" deveria se aliar à de influência “ideais” (de acordo com os planos
1946), braço-direito da expansão nazista Rússia e ao Japão, porque estes tinham áreas de nazistas) do mundo.
na Europa. influência gigantes.
Durante o período entreguerras,
Spykman afirmava que as primeiras linhas de
no mesmo período de Haushofer, Rimland (bordas da Terra): contrariando o
Nicholas Spykman Estados defesa dos EUA deveriam ficar fora da América,
Spykman tentava consolidar a Heartland de Mackinder, vai afirmar que "quem
(1893-1943) Unidos nas bordas da Eurásia, para garantir mais
hegemonia dos EUA no cenário controlasse o Rimland controlaria o mundo".
segurança ao país.
mundial.

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Geopolítica
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Temas clássicos da geopolítica: fronteiras e formas de


apropriação política do espaço
Até agora, estudamos os principais autores e as suas principais teorias. Agora,
vamos analisar os conceitos e temas centrais da geografia que se aplicam a geopolítica,
e que, portanto, correm o risco de cair na prova, principalmente nas discursivas, onde é
exigido maior preparo conceitual do candidato. Os “temas clássicos” normalmente se
referem à tríade território-territorialidade-poder, e às formas de apropriação de
fronteiras, o que veremos a seguir.

Território, Territorialidade e Poder

O território é um dos conceitos-chave da geografia e da geopolítica. Para o geógrafo Marcelo Lopes


de Souza, o território é um espaço definido e delimitado por e a partir de relações de poder. Não se trata,
portanto, de um espaço caracterizado pelas características naturais, pelo tipo de produção humana, ou pelas
ligações afetivas, mas sim, pelas definições de poder. Visto que o território pertence a quem possui o poder
sobre o espaço, pode-se afirmar que “território” e “poder” são conceitos indissociáveis.

O que é território?
Base material e simbólica da sociedade. Termo jurídico: extensão ou base geográfica do Estado, sobre a
qual ele exerce a sua soberania e que compreende todo o solo ocupado pela nação, inclusive ilhas que lhe
pertencem, rios, lagos, mares interiores, águas adjacentes, golfos, baías, portos, e também, a faixa do
mar exterior que lhe banha a costa e que constitui suas águas territoriais, além do espaço aéreo
correspondendo ao próprio território. Ecologia: área que um animal ou grupo de animais ocupa, e que é
defendida contra a invasão de outros indivíduos da mesma espécie.

Para Hanna Arendt, o poder corresponde à habilidade humana de não apenas agir, mas agir em
uníssono, em comum acordo. O poder jamais é propriedade de um indivíduo, mas pertence ele a um grupo
e existe apenas enquanto o grupo se mantiver unido. Para Arendt, portanto, quando dizemos que alguém
"está no poder", na verdade, estamos nos referindo ao fato desta pessoa encontrar-se revestida por um
certo número de pessoas, para atuar em seu nome. Se o grupo onde origina-se o poder desaparece, o poder
individual também desaparece. Esta definição serve perfeitamente ao intuito da geografia, pois na
sociedade, o poder é exercido de forma territorial.

Tradicionalmente, o território é exercido pelo Estado, por meio da existência de um comando


jurídico, policial, ou normativo sobre um determinado espaço. Por essa lógica, o controle do que se entende
por “território brasileiro” seria exercido pelo Governo Federal, e consequentemente, seria delimitado pelas
próprias fronteiras que o cercam. Deste modo, o território terminaria onde terminaria o poder estatal. No
entanto, no mundo contemporâneo, existem outros atores envolvidos no processo de controle territorial.
Ao contrário do que ocorria no século XIX – quando a geografia política foi sistematizada por Ratzel – há
outras formas de poder que refletem no espaço geográfico. O território, neste contexto, não é somente o

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espaço delimitado pelo poder estatal, mas sim, delimitado por diversas formas de poder. Conforme Rogério
Haesbert, o território existe em múltiplas escalas.

Para Iná Elias de Castro, em todas as sociedades nacionais


há grupos e classes sociais que possuem interesses distintos e que,
consequentemente, exercem diferentes formas de poder
territorial. Em escala local, conforme exemplo dado pela autora, as
fábricas poluem porque visam ao lucro; as igrejas colocam
autofalantes porque querem pregar sua fé; e os moradores, por
sua vez, querem ar limpo, paz e silêncio. Estes conflitos são ainda
mais complexos quanto transpostos para outras escalas. As
Unidades da Federação, por exemplo, disputam investimentos
públicos e privados; já as nações disputam condições
internacionais favoráveis aos seus produtos e à sociedade.
Portanto, para Castro, independentemente da escala, quanto
mais variada e complexa for a sociedade, maior será a diferença
entre as necessidades dos grupos e das classes socais e de cada Fronteira Bélgica-Holanda. Apesar dos diferentes poderes
de Estado, trata-se da mesma territorialidade.
território ocupado por eles.

Estes conflitos, de certo modo, materializam-se no espaço geográfico, dando origens aos territórios
controlados por diferentes e conflitantes formas de poder, que não necessariamente correspondem ao
Estado nacional. Conforme vimos na primeira aula, o meu bairro, por exemplo, está inserido no território
municipal, no território estadual, e no território federal. Também pode estar inserido em territórios
paralelos, como por exemplo, no território do tráfico de drogas, no território da prostituição, ou no território
dos vendedores ambulantes. E além disso, pode estar inserido no território de blocos econômicos como o
Mercosul, ou em territórios dominados por empresas transnacionais.

Invasão/ocupação do MST (Centro-Oeste), região da Cracolândia (São Paulo), e tribo indígena (Amazonas). Nestes casos, de quem é o território?
Do Estado ou dos agentes que o ocupam?

Assim como ocorre com o espaço geográfico, o território também é construído dialeticamente, isto
é, apresentando profundas desigualdades. Portanto, existem várias formas de território. Para o geógrafo
Rogério Haesbert, o território oficial do Estado seria o território-zona, uma área contínua, onde é exercido
o poder normativo burocrático estatal. Por outro lado, o território-rede seria pulverizado (não-contínuo)
correspondendo ao raio de ação do capital hegemônico, como as cidades globais e os espaços tomados pelo
meio técnico-científico-informacional. De forma excludente, para além do Estado (território-zona) e do

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grande capital (território-rede), haveriam territórios marginalizados, chamados pelo autor de aglomerados
humanos de exclusão.

Território-zona Território do Estado, contínuo e oficial.


Território-rede Território do capital, descontínuo e articulado com fluxos globais.
Aglomerados humanos de exclusão Território marginalizado, "que ninguém quer".

Já a territorialidade, para Haesbaert, além de incorporar


uma dimensão estritamente política, diz respeito também às
relações econômicas e culturais circunscritas ao território, estando
intimamente ligada ao modo como as pessoas utilizam a terra, como
elas próprias se organizam no espaço e como elas dão significado ao
lugar [fonte]. A territorialidade é, portanto, a forma com que os
grupos se articulam dentro do território.

Quando falamos em “territorialidade”, a análise territorial


fica ainda mais complexa. Afinal, estas territorialidades podem ser
temporárias ou cíclicas; isto é, existirem somente em uma parte do
tempo, de forma intermitente ou não. Marcelo Lopes de Souza
exemplifica a territorialidade cíclica como a ocupação de ruas
urbanas: de dia, podem servir, por exemplo, de palco para pessoas
em compras ou comerciantes; já a noite, podem ter suas
territorialidades exercidas por prostitutas ou outras formas de
ocupação noturna.

Para complexificar mais ainda o debate, podemos citar o


fenômeno de desterritorialização e reterritorialização. Um
imigrante, por exemplo, ao vir para o Brasil, é naturalmente
Territorialidade cíclica “desterritorializado”, pois este abandona seu território
anteriormente ocupado, onde existiam vínculos de territorialidade
pessoal ou coletiva. Por outro lado, quando habituam-se ao novo território, sofrem a “reterritorialização”,
isto é, inserem-se em nova territorialidade. Além do exemplo do imigrante, podemos citar as famílias que
são removidas de áreas de risco e mudam-se para conjuntos habitacionais.

Porção do espaço geográfica delimitada pelas relações de poder, tanto pelo


Território
Estado quando por outros grupos sociais.
Territorialidade Relações sociais e formas de apropriação que ocorrem dentro do território.
Desterritorialização Perda de territorialidade original.
Reterrotorialização Adaptação à nova territorialidade.

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A Questão das Fronteiras

Desde Ratzel até os dias atuais, a questão das fronteiras sempre foi um tema bastante recorrente na
geografia política. Tratam-se, basicamente, de áreas-limite entre dois ou mais países, podendo ser naturais
(entre rios, linhas de cumeada de morros e montanhas), ou simplesmente geométricas, inferidas sobre
coordenadas geográficas. No Brasil, a “faixa de fronteira” possui 150km de largura, abrangendo os
municípios internos. Há uma diferença, no entanto, entre fronteira (federal), divisa (estadual) e limite
(municipal). Fronteira é só a delimitação entre dois ou mais países.

Fronteira: Limite linear entre dois ou mais países. Com exceção de Chile e
Equador, todos os países da América do Sul fazem fronteira com o Brasil.

Divisa (de estado): Limite linear entre dois ou mais estados da federação. O
Brasil possui 26 estados mais o Distrito Federal, totalizando 27 unidades.

Limite (municipal): Limite linear entre dois ou mais municípios. O Brasil tem
5.570 municípios.

Para a compreensão do contexto fronteiriço, é necessário que se tenha um olhar regional, de acordo
com os processos históricos de formação territorial. Grande parte das fronteiras entre países do mundo
subdesenvolvido foram traçadas ou fortemente influenciadas por grandes potências, especialmente na
África, mas também na América Latina e na Ásia. O geógrafo Wanderley Messias da Costa aponta que 21%
das fronteiras do mundo foram traçadas por ingleses, e 17% por franceses. Por meio da Conferência de
Berlim (1884-1885), os europeus literalmente fatiaram a África de forma arbitrária de acordo com seus
interesses comerciais, ignorando tribos, comunidades tradicionais, e grupos rivais que guerreavam entre si.

Não por acaso, o


mapa étnico africano é
bastante diferente do
político (imagem ao lado);
situação esta, que mantém
os conflitos bélicos até os
dias atuais. Somente a partir
da Segunda Guerra Mundial,
as colônias foram se
separando e garantindo
suas independências,

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contudo, as condições de subdesenvolvimento são observadas


até hoje no continente africano.

Na América Latina, a delimitação das fronteiras seguiu


basicamente as regras das colonizações espanhola e
portuguesa. No Brasil, como o sistema de capitanias hereditárias
fracassou, a coroa portuguesa decidiu implantar um governo
centralizado, o que garantiu a unidade do país. Por outro lado,
ao contrário da América Portuguesa, na América espanhola, foi
implantado um modelo de Vice-Reinado, onde cada unidade
possuía certa autonomia administrativa, o que resultou em
vários países diferentes. O Vice Reinado do Rio do Prata deu
origem aos territórios de Argentina, Uruguai e Paraguai. O Vice
Reinado do Peru, aos territórios da Bolívia e do Peru. O Vice
Reinado da Nova Granada, à Colômbia e ao Equador. O Vice
Reinado da Nova Espanha, ao México. As Capitanias Gerais da
Venezuela e do Chile, aos atuais países homônimos. O Brasil, no
entanto, apesar das inúmeras tentativas de independência
regional, permaneceu unido em um único território.

No mundo desenvolvido a construção de fronteiras envolve outros fatores. Na Europa, as fronteiras


foram desenhadas não pelo colonialismo, mas por sangrentos conflitos históricos e disputas territoriais,
travadas durante milênios. Entre alguns exemplos de eventos que determinaram fortemente a formação de
fronteiras europeias, estão: a expansão dos impérios Grego e Romano na Idade Antiga; a formação de
feudos e burgos na Idade Média; as invasões napoleônicas na Idade Moderna, os conflitos da Primeira e da
Segunda Guerra Mundial ou ainda, dissolução da União Soviética no século XX. Evidentemente, não dá para
enumerar as consequências territoriais de todos estes eventos, no entanto, é preciso saber que a formação
de fronteiras europeias vem ocorrendo há milhares de anos.

Já nos Estados Unidos, a “marcha para


oeste” foi expandindo cada vez mais as
fronteiras: originalmente composto pelas
treze colônias situadas a leste, o país teve
uma grande progressão territorial com a
aquisição de territórios ocidentais. A posição
“privilegiada” que os Estados Unidos ocupam
na atualidade, entre dois oceanos, descrita
pelo General Mahan, foi fruto de um longo e
diversificado processo de expansão: embora a
Flórida tenha sido adquirida da Espanha e o
Oregon da Inglaterra, a maior parte do
território estadunidense pertencia ao
México, e também à França, país que
colonizou parte do Canadá.

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Na Ásia, a situação é mais complexa do que parece ser: a tradição milenar de países como China,
Mongólia, e Japão ajudaram a moldar as fronteiras atuais; no entanto, a colonização do rimland asiático
teve grande papel nesse contexto. Os territórios de Índia, Paquistão e Birmânia, por exemplo, foram
colonizados pela Inglaterra, que também mantinha influência na Pérsia e no Afeganistão; a Indochina (atual
Vietnã, Laos e Camboja) foi conquistado pela França; as Índias Holandesas, atual território da Indonésia,
foram colonizadas pela Holanda; e as Filipinas, pela Espanha. No Oriente Médio, as fronteiras foram
moldadas principalmente por disputas milenares impulsionadas por motivos religiosos. Berço das três
principais religiões do mundo – judaísmo, cristianismo, e islamismo – o Oriente Médio foi dominado pelo
Império Persa e pelo Império Romano do Oriente. Após a Segunda Guerra Mundial, a criação do Estado de
Israel (1947) alterou profundamente as fronteiras na região, sendo até hoje, palco de conflitos entre
israelenses e palestinos, questão de alta complexidade que não cabe aqui.

Relações estado e território


Após estudarmos as principais teorias de geopolítica clássica (item 1), e os principais conceitos e
temas em geopolítica (item 2), vamos sintetizar as “relações entre estado e território”, conforme pede o
edital do CACD. Por se tratar de um tema bastante amplo, preferiu-se aqui, abordar somente as questões
teóricas, primeiramente em aspecto mundial, e em seguida, em âmbito nacional.

Relações Estado e território no mundo

Nos itens anteriores, vimos que a geopolítica não pode ser


compreendida apenas analisando a escala local. Também vimos que
para um bom entendimento do assunto, deve-se levar em consideração
a multiplicidade de escalas do território e as diferentes formas de
poder, do local ao global. Neste sentido, para Iná Elias de Castro, é
impossível entender a geopolítica atual sem entender a sua relação
com a globalização. São justamente estas relações que evidenciaremos
agora.

Embora a economia seja um dos principais fatores de integração


global – conforme vimos nas primeiras aulas – outros componentes
envolvem a globalização, tais como aspectos culturais, religiosos,
políticos, e militares. Lá no início do curso, também vimos que a
globalização não é homogênea: muito pelo contrário, pela perspectiva
de construção dialética do espaço, é correto afirmar que enquanto Bolsa de Valores de Nova York: no mundo atual, o
Estado nacional não é mais o principal ator
algumas regiões do globo se desenvolvem de forma expressiva, tais geopolítico.
como as cidades-globais e os países centrais no “xadrez” financeiro; outros pontos, como os países
periféricos e as comunidades tradicionais, resistem ao processo globalizante.

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Do mesmo modo, o protecionismo econômico – tão combatido nos anos 1990, no auge da euforia
da globalização – ainda não entrou em extinção. Muito pelo contrário, em alguns locais do mundo, tende a
ser acentuado, restringindo a intensidade de alguns fluxos de comércio internacional. A transição do modelo
fordista para o modelo de acumulação flexível possibilitou maior fluidez do território, bem como a
diminuição – porém, não extinção – do poder dos Estados nacionais. O sistema geopolítico pós-moderno,
portanto, é bastante diferente do encontrado no início do século XX, quando a maioria das teorias
geopolíticas foram concebidas.

Com a integração financeira e a implantação


do livre mercado em âmbito global, há uma
tendência de diminuição de conflitos bélicos:
conforme afirmou Milton Friedman, quando as nações
tendem a cooperar por meio do comércio e passam a
depender mais uma das outras, consequentemente, diminuem ==146f25==

seus instintos bélicos. Atualmente, em contraste às duas grandes


guerras do século XX que deixaram mais de cinquenta milhões
de mortos, a Europa coopera entre si por meio da União
Europeia, de forma jurídica, econômica, migratória, e política,
quase como se fosse um único país.

Com a maximização da tecnologia bélica,


especialmente no que diz respeito à corrida nuclear
protagonizada pelos Estados Unidos e pela Rússia durante
a Guerra Fria, há uma preocupação maior com os conflitos Com a União Europeia (foto) e os demais blocos, acordos, e grupos
internacionais, hoje a chance de guerra é mais remota entre as
globais. Ao contrário do ocorrido na corrida imperialista do potências.
século XIX, quando a tecnologia bélica era relativamente
precária, atualmente, as grandes potências sabem que uma Terceira Guerra Mundial aniquilaria a civilização
humana. No mundo atual, organismos como Organização das Nações Unidas (especialmente o Conselho de
Segurança) e os diferentes Blocos Econômicos e tratados internacionais (como o de Não Proliferação
Nuclear), tornam mais remota a possibilidade de conflitos globais.

Isto não quer dizer que os conflitos deixaram de existir, mas sim, que mudaram sua natureza. Desde
a Guerra Fria, e principalmente no decorrer do século XXI, as principais guerras não ocorrem mais entre as
potências, mas sim, entre potências contra países subdesenvolvidos, ou entre os próprios países
subdesenvolvidos. Então, embora seja discutível, por exemplo, um conflito envolvendo Estados Unidos
(potência) e Coréia do Norte (país subdesenvolvido), atualmente seria muito improvável a ocorrência de
conflitos armados diretos entre, por exemplo, Estados Unidos (potência) e China (potência).

Exemplos destes conflitos podem ser citados: as guerras do Golfo (1991), do Afeganistão (2001), do
Iraque (2003), da Síria (2011), ou do Estado Islâmico (2013) Além disso, apesar das potências terem parado
de guerrearem diretamente entre si, os conflitos sul-sul continuam bastante sangrentos, ou até se
intensificaram. Destacam-se, por exemplo: os massacres de Ruanda (1994), ou os conflitos separatistas na
Iugoslávia (1991). Países subdesenvolvidos como Somália, Iêmen, Nigéria, Líbia, Síria, Egito, e Venezuela,
atualmente passam por dolorosos processos de guerra civil interna, o que resulta em milhares de mortos

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anualmente. Importante frisar, portanto, que no século XXI, os conflitos não deixaram de existir, apenas
mudaram sua natureza, saindo do centro para a periferia global.

Mapa dos conflitos globais evidencia que os maiores focos de tensão estão no mundo subdesenvolvido.

Com a diminuição de poder dos Estados nacionais protagonizada pela globalização, o território deixa
de ser tão importante quanto era na época de Ratzel, e posteriormente, na época de Mackinder, Mahan, e
Spykman. Na atualidade, ao contrário do que ocorria no século XIX, possuir recursos naturais no “espaço
vital”, não é tão “vital” assim: por muitas vezes, com a aceleração dos fluxos, sai mais barato comprar
recursos naturais do que invadir territórios para possuí-los. Países como Nova Zelândia, Japão, Hong Kong
e Singapura, são pobres em recursos naturais, porém, como constituem “nós” do capitalismo financeiro, são
plenamente desenvolvidos. Por outro lado, países da África subsaariana – região rica em minerais –
compõem os piores indicadores socioeconômicos do planeta. Evidentemente, países como Rússia, China,
Índia, Indonésia e Brasil, possuem o crescimento facilitado pela questão dos recursos naturais, mas hoje, não
é mais um fator primordial.

Aliada à globalização, a divisão internacional do trabalho também impulsiona as relações entre


Estado e território. Conforme vimos nas aulas anteriores, na Nova Divisão Internacional do Trabalho (DIT),
os países centrais desenvolvem tecnologias e produtos industriais de alto valor agregado. Enquanto isso, os
países periféricos são responsáveis pela produção de commodities e produtos industriais de baixo valor
agregado. Estes processos afetam diretamente o planejamento territorial. No Brasil, por exemplo, conforme
vimos na aula sobre Geografia Agrária, a exportação de grãos de soja in natura é maior do que a soja
processada. Do mesmo modo, a exportação de minério de ferro bruto é maior do que a de produtos
derivados do ferro, com maior valor de mercado. Apesar do Brasil contar com um parque industrial
relativamente diversificado e de tecnologia moderna – como por exemplo, a produção de aviões pela
Embraer – ainda exportamos maior quantidade de matérias primas de baixo valor agregado do que produtos
industriais de alto e médio valor.

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Três fases da divisão internacional do trabalho e contexto geopolítico


DIT Período Características Contexto geopolítico

Século XV ao XIX: Grandes A Europa extraía matéria prima


Navegações e expansão das colônias na América, na Ásia e

colonial européia “Era na África, e vendia seus produtos Para extrair recursos naturais,
colombiana” manofaturados para estes locais. precisava-se ter o domínio do
território (colonialismo e
espaço vital). Portanto,
Século XIX a primeira metade A Europa extraía matéria prima comercializava-se menos e
do século XX: Revolução das colônias na América, na Ásia e invadia-se mais.

Industrial e expansão na África, e vendia seus produtos
industrial européia industrializados para estes locais.

EUA, Europa e Japão (mais


recentemente a China) O domínio físico do território
consolidam-se como centros não é mais necessário. Há
Anos 1970-presente:
globais do capitalismo. Países outros meios de aquisição de
Revolução Técnico-Científica,
periféricos fornecem matéria recursos naturais, como o
3ª globalização, compressão
prima e produtos industrializados comércio ou a
espaço-tempo,
de baixo valor agregado. Países internacionalização do capital
desconcentração industrial.
centrais fornecem produtos financeiro. O imperialismo deu
industrializados de alto valor lugar à subjugação financeira.
agregado e tecnologia.

Os Estados nacionais, teorizados por Ratzel como a


principal unidade geopolítica no tabuleiro global, estão, cada
vez mais, perdendo poder. A Guerra Fiscal entre as empresas
está esvaziando tradicionais centros industriais, como em
Detroit (EUA), e Ruhr (Alemanha) e deslocando o capital para
onde a mão de obra é mais barata, como na China e nos Tigres
Asiáticos. Em nível global, portanto, a desconcentração
industrial diminui o poder de barganha dos Estados nacionais.

No entanto, embora tenha perdido força no jogo


geopolítico, conforme afirma Milton Santos, o Estado nacional
continua forte, pois é ele que regula o mundo financeiro, o
estamento burocrático, as leis trabalhistas, as normas
ambientais, os incentivos fiscais, e as demais regras jurídicas
presentes no território. Além disso, o Estado ainda é dono de Detroit (EUA): antiga cidade industrial hoje está em ruínas. Os
grande parte dos bancos de financiamento, sendo responsável Estados nacionais perdem força com a volatilidade do capital.
também, pela construção de grande parte da infraestrutura dos países. Então, cuidado para não confundir:
o Estado nacional perdeu importância, mas não foi eliminado do jogo geopolítico!

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Bônus: Quadro com os principais conflitos no mundo

Situação resumida dos principais conflitos mundiais

Conflito Período Por que começou? O que aconteceu depois?

O regime talibã (radical muçulmano)


Após a Al Qaeda (grupo terrorista afegão) foi deposto e em 2011, Bin Laden foi
explodir as Torres Gêmeas, os Estados assassinado. No entanto, quando os
Guerra do
2001- Unidos, na liderança de George W. Bush, EUA se retiraram do país, deixaram
Afeganistão
invadiram o Afeganistão em busca do líder um vácuo de poder. Atualmente,
Osama Bin Laden. grupos armados disputam a liderança
do país.

Saddam foi deposto, e com o auxílio


Os EUA acreditavam que o ditador
dos EUA, um novo governo foi eleito.
2003- Saddam Hussein estava desenvolvendo
Guerra do Iraque Os EUA se retiraram do Iraque em
2011 armas químicas e resolveram intervir
2011. O vácuo de poder provocou
militarmente.
uma guerra civil que dura até hoje.

Como a Rússia apoia Assad, e os


Estados Unidos são contra, os dois
Após uma longa ditadura de Bashar Al países atuam na região como se fosse
Assad, grupos organizados aproveitaram uma "nova Guerra Fria"; por isso, o
Guerra da Síria 2011- a Primavera Árabe para se rebelarem conflito está longe de acabar. Para
contra o regime, provocando duras complicar, ainda tem o Estado
respostas do governo. Islâmico agindo na região, que no
entanto, tem perdido territórios em
2018.

Aproveitando o vácuo de poder deixado


EUA, Rússia, e Europa tentam
no Iraque (pós-invasão EUA) e Síria (pós-
Guerra contra o combater o EI, porém, de forma muito
2013- Primavera Árabe), o grupo extremista
Estado Islâmico pontual. Assim como a Guerra da
Estado Islâmico quer montar um califado
Síria, o conflito está longe de acabar.
entre os dois países.

Durante séculos, judeus e árabes têm


reivindicado a posse desta área, A Palestina promove ataque
especialmente Jerusalém, capital do terroristas à Israel. E Israel constrói
Conflitos Israel x
Estado judaico de Israel, criado em 1948. assentamentos fora de seus
Palestina e 1948-
Israel não reconhece o Estado da territórios. Os conflitos continuam
aliados
Palestina. Por outro lado, a Palestina ocorrendo, e não há previsão para
pretende "varrer Israel do mapa", o que fim.
dificulta as negociações.

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A Ucrânia é um país dividido: enquanto os


grupos a oeste tendem a querer a
aproximação com a União Europeia, os
A tensão acabou, mas a Rússia
grupos a leste são cultural e
Tensões Ucrânia aproveitou a "confusão" para anexar,
2014- economicamente ligados à Rússia.
x Rússia por meio de referendo, a Criméria -
Quando o presidente Victor Yanukovich se
território fronteiriço de maioria russa.
recusou a assinar um acordo com a U.E,
protestos ocorreram em todo país, o que
fez a Rússia ocupar o território ucraniano.

Assim como o Estado Islâmico, o grupo


Conflitos terrorista islâmico Boko Haram, por meio O Boko Haram continua promovendo
causados pelo 2013- da violência, quer implantar a Sharia (lei sequestros, estupros, assassinatos. O
Boko Haram islâmica) à força na Nigéria, expulsando os conflito está longe de acabar.
resquícios de colonização britânica.

Os muçulmanos do Sudão pretendiam


aplicar a Sharia, e torná-lo um país Oficialmente, o conflito acabou. No
oficialmente islâmico. Os grupos do sul entanto, grupos de milícias
Guerra Sudão x
1956- (cristãos e adeptos de religiões indígenas) continuam a promover atentados, e o
Sudão do Sul
resistiram. Após um longo conflito de mais clima de segurança na fronteira é
de 50 anos, o Sudão do Sul tornou-se precário.
independente do Sudão em 2011.

Apesar das intervenções da ONU, da


Em 1991, a região da Somalilândia se
Etiópia, e dos Estados Unidos, a
declara independente, o que inicia,
Guerra está longe do fim. Devido ao
Guerra Civil na oficialmente, o conflito. No entanto,
1991- grande tempo e intensidade de
Somália vários grupos tentam tomar o poder desde
conflito, a Somália transformou-se
pelo menos os anos 1980. A presença de
em uma "anarquia" sem Estado e sem
radicais islâmicos piora a situação.
leis oficiais.

A Venezuela (ainda) não está oficialmente em Guerra Civil, mas está quase. As
Guerra Civil na Não tensões ocorrem devido à má administração econômica e ao totalitarismo do
Venezuela iniciou ditador Nicolás Maduro, o que provoca protestos e crise generalizada em todo o
país; provocando inclusive, a migração em massa para o norte do Brasil.
A Coréia do Norte não está em guerra, no entanto, as tensões com os EUA estavam
aumentando cada vez mais em 2017. Famoso pela violação aos direitos humanos,
o agressivo ditador Kim Jong-um estaria desenvolvendo o programa nuclear,
Guerra na Coréia Não
gerando preocupação nos EUA e dos vizinhos Japão, e Coréia do Sul. Atualmente,
do Norte iniciou
no entanto, há uma tendência das tensões se acalmarem. Após fortes sanções
econômicas aplicadas no início de 2018, a Coreia do Norte está finalmente
mostrando interesse em mais aproximação com o ocidente.

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Estado e território no Brasil

O Brasil é, atualmente, uma federação. Isto significa que temos um


governo centralizado (federal) e outras unidades administrativas (estados e
municípios) que ao mesmo tempo que possuem caráter autônomo, também
estão subordinados à legislação federal. Totalizando 26 estados mais o
Distrito Federal (ao todo, 27) e 5.570 municípios, cada qual possuindo seus
próprios poderes executivo e legislativo.

Conforme aponta Iná Elias de Castro, o federalismo surgiu nos


Estados Unidos no século XVIII. Naquela época, após a independência do
Reino Unido, era necessário garantir um sistema que beneficiasse todas as
treze colônias britânicas; e isto ocorreu por meio da formação dos Estados
Unidos da América. Neste modelo, os estados gozam de autonomia jurídica,
administrativa e econômica, possuindo poderes executivo e legislativo próprios. O
Congresso Nacional, por sua vez, representava a vontade dos Estados, ou seja, dos territórios autônomos
que se configuravam naquele período. Para Alexis de Tocqueville, além da liberdade econômica, o progresso
dos Estados Unidos se deveu em grande parte, a esta autonomia administrativa das colônias: uma vez que
a política era exercida “de baixo para cima”, era mais fácil atender às necessidades da população.

Inspirado nos Estados Unidos da América, a república dos “Estados Unidos do Brasil” também foi,
pelo menos teoricamente, concebida com base no modelo das treze colônias do norte. Entretanto, enquanto
nos Estados Unidos o federalismo surgiu da necessidade de reunir as unidades administrativas; no Brasil,
veio devido à necessidade de descentralizar o poder imperial. Ao contrário dos Estados Unidos, onde o
poder emana “de baixo para cima”; no Brasil, emana, na prática, de “cima para baixo” numa estrutura
verticalizada e de pouca autonomia.

Conforme vimos nas aulas anteriores, no Brasil, o Estado nacional foi artificialmente concebido. Até
o século XIX, vigoravam resquícios do modelo de “arquipélago econômico”, altamente fragmentado e
voltado para o exterior. Durante o Período Regencial, por exemplo, ocorreram várias revoltas separatistas
de grupos que não se viam representados pela unidade central de poder. Foi somente no século XX que,
impulsionado pela maciça propaganda do Governo Federal, o regionalismo foi progressivamente cedendo
espaço ao sentimento de identidade nacional.

O que é pacto federativo?

É um acordo de base territorial no qual grupos localizados em diferentes partes de um território organizam-
se em busca da harmonização entre suas demandas particulares e os interesses gerais da sociedade que
eles têm por objetivo construir. Por se tratar de acomodação de diferenças há, portanto, uma constante
tensão nesse pacto, cabendo aos arranjos institucionais organizar os interesses e controlar os conflitos.

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Atualmente, no entanto, embora seja mascarado pelo bem construído imaginário de unidade
nacional, o regionalismo ainda é bastante expressivo, exercendo influência na política e na economia do
país. Conforme analisa Castro, como no Brasil existem poucas diferenças étnicas, linguísticas e religiosas
regionalizadas – que na maioria dos países constituem os signos a identidade territorial –, as estratégias
políticas regionais raramente mereceram lugar de destaque na literatura acadêmica ou em documentos
técnicos.

Na próxima aula, a qual estudaremos


regionalização do Brasil, ficará bastante
evidente que a maior parte das formas de
divisão do território ocorreram de forma
arbitrária, levando em consideração, na maioria
das vezes, os aspectos naturais em detrimento
dos antrópicos. No Brasil, a identidade nacional
foi principalmente moldada pelos aspectos
naturais, como por exemplo, “o verde das
matas”, o “amarelo dos recursos minerais”, ou
“o verde das florestas”, o que historicamente
dificultou a formação de uma identidade
histórica para o país. A partir dos anos 1940, no
entanto, aspectos culturais como o samba, a
feijoada, o folclore, e a arte moderna foram
sendo, muito lentamente, e de forma artificial, Macrorregiões Oficiais do
incorporados ao imaginário de identidade IBGE: síntese dos aspectos
naturais e antrópicos.
nacional. Nos dias atuais, no entanto, a
Regionalização Oficial do IBGE leva em conta tanto aspectos naturais quanto humanos, possuindo cinco
áreas: norte, nordeste, sul, sudeste, e centro-oeste.

O Brasil é abrangido uma grande disparidade territorial regional, tanto nos aspectos de produção,
povoamento, distribuição de renda, ou no que diz respeito ao acesso aos equipamentos sociais. Conforme
vimos na aula sobre Geografia Agrária, o Índice de Gini brasileiro – que mede a desigualdade social – possui
média superior aos demais países da América Latina. Este imenso contraste entre os estados e municípios
provoca um abismo na arrecadação de impostos no Brasil. Confrontando os dados do Portal da
Transparência (2015) sobre o montante pago pelos estados da federação [fonte] com os dados de população
do Censo Demográfico (2010) do IBGE, é possível saber a situação fiscal de cada unidade da federação; ou
seja, quem “sustenta” e quem é “sustentado” no Brasil. A diferença entre o que é recebido pelo que é
fornecido, pode ser visualizada no gráfico abaixo:

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Diferença do valor per capita (R$ por habitante) pago (azul) ou recebido (vermelho) para/do Governo
Federal em impostos (2015)

Nota-se, que enquanto paulistanos e fluminenses desembolsam mais de dez mil reais para manter
a “máquina” funcionando, acreanos e roraimenses recebem mais de três mil. Os sete estados mais
superavitários são das regiões sudeste e sul. Da região nordeste, o único estado que “dá lucro” é
Pernambuco, que depende menos dos repasses federais. Grosso modo, o Governo Federal arrecada
impostos das regiões mais ricas e investe em estados mais pobres, onde a vulnerabilidade social é maior.

Os impostos arrecados no sul e no sudeste servem para minimizar as disparidades territoriais. Na foto, transposição do Rio São Francisco e
Sistemas de Cisternas, na região nordeste.

Este assunto deve ser tratado com bastante cuidado. Por um lado, moradores da região concentrada
certamente devem se indignar com esta situação, fomentando inclusive, anseios separatistas. Por outro, sem
estes impostos, as áreas mais pobres do país – que já se encontram em situações delicadas de
desenvolvimento humano – ficariam ainda mais vulneráveis. Além disso, para alguns economistas, as
diferenças do território teriam seu lado positivo, como por exemplo, a exportação de produtos da região
Sudeste para as demais áreas do Brasil, ou a histórica incorporação de mão de obra do Nordeste que

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impulsionou a construção econômica do Centro-Sul. Para o entendimento destes números, portanto, devem
ser consideradas as diferentes formas de ocupação histórica do território, que no Brasil, ocorreram de forma
bastante desigual. Não cabe aqui, portanto, encerrar o assunto.

Treinamento em questões objetivas (1ª fase)

Simulado

CACD/2014 – Questão 27

Se necessário for definir um paradigma para a geopolítica desde que se constituiu como disciplina,
certamente este seria o do realismo, no campo das relações internacionais. A obra de Friedrich Ratzel,
teorizando geograficamente o Estado (1897), constitui uma fonte crucial para a análise das relações entre o
Estado e o poder.

B. Becker. A geopolítica na virada do milênio. In: Geografia: conceitos e temas, Castro et al. (Orgs.). Rio de
Janeiro: Bertrand Brasil, 1995, p. 273 e 277 (com adaptações).

Acerca do paradigma mencionado no fragmento de texto acima e de suas relações com a obra político-
geográfica de Friedrich Ratzel, julgue (C ou E) os itens a seguir.

1) As leis do crescimento espacial dos Estados enunciadas por Ratzel retificam os princípios básicos do
realismo político.

2) Por reconhecer a exclusividade dos Estados como atores internacionais, o realismo político coaduna-se
com os parâmetros da geopolítica clássica.

3) Por considerar o Estado como organismo vivo, a geografia política ratzeliana contradiz o paradigma do
realismo político

CACD/2014 – Questão 28

Karl Haushofer era militar de carreira, mas sua saúde frágil tornou-lhe difícil o exercício de comando na
guerra. Ele se orientou, então, para as funções do Estado-Maior. E serve, por isso, de 1908 a 1910, como
adido militar em Tóquio. Ele é, assim, iniciado à geopolítica dos militares e à dos diplomatas.

P. Claval. Géopolitique et géoestratégie. Paris: Nathan, 1994, p. 25 (com adaptações).

Em relação à hipótese geoestratégica do poder mundial elaborada por Karl Haushofer, julgue (C ou E) os
itens subsequentes.

4) A panregião da Euráfrica, sob liderança alemã, englobava a Rússia, subordinada aos imperativos
geopolíticos das potências europeias.

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5) A idealização de panregiões comandadas por potências específicas da Europa, Ásia e América estava
associada à neutralização do Império britânico, concebido como panregião fragmentada.

6) A formação das panregiões impedia a consolidação de espaços autárquicos, devido às diversas faixas
latitudinais dessas áreas de influência estratégicas.

7) Segundo essa hipótese, o objetivo estratégico baseava-se na consolidação do poder marítimo e naval
mundial sob o comando da Alemanha.

CACD/2016 – Questão 30

País de território misto, marcado a um só tempo pela continentalidade e maritimidade, o Brasil tem, na
análise dos clássicos da teoria geopolítica relacionados ao poder naval (Mahan) e na da teoria do poder
terrestre (Mackinder), importantes questões para a discussão de uma visão estratégica contemporânea, em
um contexto em que há um importante aumento da estrutura política e econômica do país no cenário
mundial.

Ronaldo Gomes Carmona. Geopolítica clássica e geopolítica brasileira contemporânea: Mahan e Mackinder
e a “grande estratégia” do Brasil para o Século XXI. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2012 (com
adaptações).

Tendo como referência inicial o trecho do texto de Ronaldo G. Carmona, julgue (C ou E) os itens seguintes,
acerca de continentalidade, maritimidade e geopolítica brasileira no século XXI.

8) A vasta extensão territorial do Brasil, que corresponde a 47% do território sul-americano, indica a
necessidade de segurança das fronteiras com seus países vizinhos, de responsabilidade dos órgãos de
segurança pública, da Secretaria da Receita Federal e das forças armadas.

9) Em relação à segurança nacional, as bacias hidrográficas amazônica e do Paraguai são consideradas não
prioritárias, em razão de seu isolamento e distanciamento em relação aos grandes centros urbanos do
centro-sul do país e também da ocupação rarefeita da população nas regiões onde se situam.

10) A Política de Defesa Nacional destaca a importância do controle e defesa dos chamados ativos
estratégicos do Brasil: fontes de água doce e de energia, biodiversidade, imensas reservas de recursos
naturais e extensas áreas a serem incorporadas ao sistema produtivo nacional.

11) O fato de o Brasil possuir um vasto litoral com importantes reservas de recursos naturais é, por si só,
indicativo de que o país deve investir na força naval de defesa de seu território oceânico.

CACD 2016 – Questão 31

No início do século XIX, o conjunto de pressupostos históricos de sistematização da geografia já havia


ocorrido: a Terra já estava toda reconhecida; a Europa articulava um espaço de relações econômicas
mundial; havia informações dos lugares mais variados da superfície terrestre, bem como representações do
globo, devido ao uso cada vez maior de mapas.

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Antônio Carlos Robert Moraes. Apud: Auro de Jesus Rodrigues. Geografia: introdução à ciência geográfica.
São Paulo: Editora Avercamp, 2008 (com adaptações).

O neocolonialismo teve forte influência no desenvolvimento do pensamento geográfico europeu durante o


século XIX e o início do século XX. A geografia, enquanto ciência a serviço dos Estados nacionais, foi
instrumento de poder europeu sob vastas extensões territoriais na África, na América, na Ásia e na Oceania.
A respeito desse assunto, julgue (C ou E) os itens que se seguem, tendo como referência o texto apresentado.

12) Os estudos da geografia na França, com uma formação filosófica e social mais humanista, voltavam-se,
no período citado, para os estudos das diferenças entre as várias regiões do país e do mundo, com
apontamentos das causas do subdesenvolvimento das colônias e da riqueza das metrópoles.

13) O levantamento e a descrição de informações nos trabalhos geográficos do século XIX e do início do
século XX foram influenciados pela ideia de multidisciplinaridade das ciências. Assim, as informações sobre
paisagens e regiões eram apresentadas, de forma detalhada, com sessões conjuntas para fatos humanos
(população, economia, povoamento etc.) e fatos naturais (clima, relevo, vegetação, geologia, hidrografia,
recursos naturais).

14) Os estudos geográficos constituíram, no período citado, uma justificativa ideológica de legitimação da
exploração de outros povos pelos países imperialistas, em substituição à religião, cujas explicações para tal
exploração estavam sendo questionadas, com a difusão do conhecimento científico.

15) O determinismo geográfico serviu para a legitimação das políticas expansionistas dos países imperialistas
europeus, notadamente o alemão. O geógrafo alemão Ratzel, por exemplo, teorizou a relação entre os
Estados nacionais e seu território, apontando que o potencial de desenvolvimento de um Estado-nação se
daria basicamente pela relação entre dois fatores: a população e os recursos naturais do território.

Gabarito

GABARITO
1 E 5 C 9 E 13 E
2 C 6 E 10 C 14 C
3 E 7 E 11 C 15 C
4 E 8 C 12 E 16 E

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Treinamento em questões discursivas (3ª fase)

Mackinder e geopolítica contemporânea (CACD 2013)

O caso da Ucrânia e de sua região da Crimeia é fato que reafirma a teoria de Sir Halford
Mackinder (1904) como modelo para a análise das relações internacionais dos blocos de
poder e entre os países. Em face dessa informação, analise, com base nos conceitos
clássicos da geografia política, a atual geopolítica mundial, considerando as negociações
diplomáticas entre os Estados Unidos da América (apoiados pela União Europeia), de um
lado, e a Rússia, de outro. Extensão máxima: 60 linhas [valor: 20 pontos]

Comentário sobre a questão

Além dos conteúdos de Geografia, a questão também exige que o aluno esteja antenado
nas atualidades, pois o aluno precisa saber o que está em jogo na Criméria (assunto fartamente
comentado nos jornais na época da questão). Aliás, fica uma dica: questões discursivas de
geopolítica quase sempre caem relacionadas a atualidades. Além dos clássicos Israel-Palestina
e Síria-Iraque, fiquem de olho na Coreia do Norte, pois este ano (2018) poderá cair.
No caso da Criméia, podemos utilizar principalmente a teoria do Heartland (Mackinder),
afinal, trata-se de uma região terrestre de influência disputada pela União Europeia e pela
Rússia (onde Mackinder situou o heartland).

Resolução da questão

Na condição de ex-república soviética, a Ucrânia está geograficamente situada sob a área


de influência direta da Rússia. Inclusive, a população oriental do país, onde localiza-se a Criméia,
é majoritariamente de origem russa. O país é estratégico para Moscou por diversos motivos, mas
principalmente devido à possiblidade de saída marítima para o Mediterrâneo, e à presença de
gasodutos que abastecem o mercado europeu. Neste contexto, como grande produtora e
detentora de hidrocarbonetos, especialmente o gás, a Rússia almeja expandir seus mercados
para oeste, sendo a Ucrânia fundamental neste processo. Para o Sir Halford Mackinder, o
domínio do centro da Eurásia – área que chamou de “heartland” e que engloba ambos os países
– é de vital importância para o controle global. “Quem dominasse o heartland, dominaria o
mundo”, dizia o estrategista no início do século XX.

Por outro lado, cada vez mais a Ucrânia vem sofrendo o assédio da influência europeia:
em contraposição ao histórico domínio russo no leste europeu, a União Europeia vem se
expandido para os antigos países-satélites da União Soviética. Em 2004, Polônia, República
Tcheca, Eslováquia, Hungria, Eslovênia, Lituânia, Letônia e Estônia entraram no bloco. Em 2007,
foi a vez dos bálticos Romênia e Bulgária. A adesão da Turquia, embora negada, ainda está em
cogitação. A União Europeia, deste modo, está expandindo-se para leste. Foi neste contexto que
as tensões entre Rússia e Ucrânia emergiram em meados de 2014. Neste ano, o presidente
Victor Yanukovick recusou um acordo com o bloco europeu. Se por um lado, a decisão agradou

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a população russa do oriente ucraniano, desencadeou conflitos com a população ocidental


culturalmente mais próxima à Europa, que era favorável ao acordo. Após uma série de protestos, a
Rússia interveio militarmente no país: ao reestabelecer a “ordem”, elaborou um referendo na
Criméia – território ucraniano de população majoritariamente russa –, a respeito da possível
anexação à federação russa. O resultado do referendo apontou a aprovação de 97% da
população da Criméia para a anexação russa. No entanto, o pleito foi duramente criticado por ter
sido realizado de forma unilateral, sem a presença da maior interessada: a própria Ucrânia.

Os norte-americanos, por sua vez, aliados à União Europeia, tentam conter o


expansionismo russo na região. Conforme sugeriu o intervencionista e realista Nicholas
Spykman, para a segurança dos Estados Unidos, deveriam ser implantadas estratégias de defesa
nas bordas da Eurásia, área que chamou de “Rimland”. Parafraseando Mackinder, e também o
contradizendo, Spkyman vai afirmar que “quem controlasse o Rimland controlaria o mundo”.
Deste modo, a expansão dos domínios norte-americanos nesta região, seria estratégica para a
formação de um “cordão sanitário” que impedisse o progresso territorial da União Soviética.
Mesmo após a Guerra Fria, os Estados Unidos tentam criar bases de apoio no Oriente Médio, região
de histórica aversão ao Ocidente. Esta aproximação ocorre tanto de forma militar (invasões do
Iraque, Afeganistão e apoio na Síria), quanto por meio diplomático como ocorre com o Afeganistão
e com a Arábia Saudita.

Considerando as Pan-Regiões do estrategista Haushofer, o bloco europeu – juntamente à


África –, comporia a Pan-Região da Euráfrica. Enquanto isso, a Rússia e seus países-satélite
comporiam a Pan-Região da Rússia. Resumindo as teorias geopolíticas citadas, se a Rússia e a
Ucrânia fazem parte do heartland mackinderiano, a União Europeia compõe o Rimland de
Skypman. Ou seja, todas estas áreas são estratégicas para o comando global. Apesar dos
latentes conflitos entre os interesses russos (Pan-Rússia) e norte-americanos (Pan-América) nas
áreas do Hearland e do Rimland, os países têm cooperado em alguns temas, como por exemplo,
no fim da utilização de armas químicas na Síria, e no Acordo de Redução de Armas
Estratégicas (START).

Proposta de régua de correção

- Entender o jogo de poder existente no leste europeu: (disputa de influência entre Rússia e
União Europeia).
- Entender a importância da Criméia na questão energética (gasodutos UE-Rússia).
- Entender a importância da Criméia para viabilizar a saída russa ao Mar Mediterrâneo.
- Aplicar a teoria do Heartland (Mackinder) para explicar o leste europeu (disputa terrestre de
influência entre Rússia e UE).
- Entender a expansão da União Europeia para o leste (evidenciada pela recente
incorporação dos países balcânicos ao bloco).
- Entender as tensões ocorridas na Ucrânia (2013) (cujo estopim foi a rivalidade União
Europeia-Rússia), e a intervenção militar russa daí decorrente.
- Entender a anexação da Crimeia à Rússia (ocasinada por um referendo, cuja maioria da
população de origem russa aprovou a anexação).

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- Entender as críticas à anexação da Criméia (que teria sido feita de forma unilateral).
- Aplicar a teoria do cordão sanitário de Spykman (contensão da URSS pelos EUA) à
atualidade (contensão da Rússia pela União Europeia).
- Entender a importância da Rússia com base nas Pan-Regiões de Haushoffer.

Geopolítica do Oriente Médio (CACD 2007)

Em 2004, o governo dos Estados Unidos da América lançou a concepção de um novo


espaço estratégico denominado “Grande Oriente Médio”, com o objetivo principal de
promover a democratização e a adoção dos princípios do liberalismo econômico nessa
região. Qual é a área geográfica abrangida por esse espaço estratégico e quais são as
principais dificuldades geopolíticas encontradas pelos Estados Unidos para a
implementação de seus objetivos no âmbito desse projeto? (valor da questão: 20 pontos)

Comentário sobre a questão

Novamente, outra questão pedindo para o aluno relacionar geopolítica com atualidades.
É preciso, portanto, estar por dentro dos conflitos do Oriente Médio e das intencionalidades
norte-americanas na região. Aliás, é uma questão que cobra mais atualidades do que geografia
propriamente dita: dá para responder 90% dela somente lendo jornais. Daí a importância de se
manter atualizado.

Resolução da questão

Os atentados terroristas de 11 de setembro de 2001 contra as Torres Gêmeas mudaram o


cenário geopolítico internacional. Se no século XX, a ameaça principal das grandes potências era
o conflito entre os Estados nacionais; no século XXI, o terrorismo torna-se a principal
preocupação das nações desenvolvidas. O Oriente Médio, berço do radicalismo islâmico, na
condição de fornecedor da maior parte da militância armada que atinge a Civilização Ocidental, é
palco de conflitos armados desde pelo menos a Guerra Fria, quando Estados Unidos e União
Soviética rivalizavam-se para ocupar militar e ideologicamente a região. Deve-se salientar que o
Oriente Médio faz parte do “cordão sanitário” descrito por Nicholas Spykman, compondo assim,
uma área estratégica nas bordas do continente eurasiático (Rimland) para a contenção do
comunismo soviético.

Neste contexto, o Oriente Médio possui vasto leque de recursos naturais estratégicos,
dos quais o principal é o petróleo; detendo também, grande potencial de investimentos
estrangeiros, principalmente no que diz respeito aos setores de construção civil e mineração.
No entanto, as características políticas e culturais impedem, ou dificultam bastante o projeto
de dominação norte-americana nesta área: com exceção de Israel – única nação democrática do
Oriente Médio – os países da região constituem ditaduras militares, ditaduras religiosas, califados,
sultanatos, e demais formas de poder centralizado. Desde o norte da África até o Paquistão, toda

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a região islâmica é palco de conflitos armados. Além disso, a maioria destes países possui
aversão ao ocidentalismo, especialmente aos norte-americanos. Por esses e outros motivos, os
Estados Unidos vêm tentando vencer resistências, implantar governos favoráveis ao Ocidente,
tanto pela guerra quanto por meio de acordos diplomáticos. Os exemplos mais dramáticos de
intervenção militar americana na contemporaneidade são a Guerra do Afeganistão (2001-2011) e
a Guerra do Iraque (2003), que deixaram – e ainda deixam – trágicas consequências sociais.
Nestas áreas, apesar da facilidade das forças americanas em vencerem os exércitos iraquiano e
afegão, há uma notória dificuldade em superar a resistência de milícias armadas. Por serem
descentralizadas, o combate torna-se difícil, custoso, e ineficiente. Soma-se à isso, o fato da já
existência de conflitos entre as diferentes correntes do islã, como xiitas, sunitas, e curdos, o que
acirra ainda mais as tensões regionais.

Ainda no aspecto militar, nos últimos anos, os Estados Unidos têm procurando assegurar
sua influência na Síria, combatendo as tropas pró-Bashar Al Assad – ao contragosto da
Rússia, que apoia o ditador – e alvejando pontualmente instalações do grupo extremista Estado
Islâmico, que já domina grande parte da Síria e do Iraque. Por outro lado, do ponto de vista
diplomático, os Estados Unidos têm realizado acordos de cooperação militar com Paquistão e
Israel (este último, seu aliado histórico), bem como à Arábia Saudita, onde recentemente, o
presidente Donald Trump assinou um acordo bilionário de comercialização de armas.

Proposta de régua de correção

- Situar os atentados de 11 de setembro como marco na luta contra o terrorismo.


- Entender (mesmo que de forma superficial) a continuidade dos conflitos no Oriente Médio
desde a Guerra Fria (conflitos armados diretos) para a atualidade (guerra ao terror).
- Aplicar o conceito de cordão sanitário de Spykman ao Oriente Médio, situando-o como área
estratégica para o controle da geopolítica global.
- Entender o papel do Oriente Médio na questão dos recursos naturais (abundância de
petróleo e gás).
- Entender que apesar do Oriente Médio ser abundante em petróleo, devido à instabilidades
políticas e conflitos, é difícil obtê-lo.
- Entender (tomando cuidado com preconceitos) que quase toda a Civilização Islâmica é
politicamente instável (a única democracia nos moldes ocidentais é Israel, que é judaica).
- Entender a estratégia de dominação americana no Oriente Médio face ao incentivo de
governos pró-ocidente (ex: apoio à Paquistão e Israel).
- Compreender a contradição enfrentada pelas tropas norte-americanas: vencem fácil os
exércitos oficiais, mas demoram ou fracassam ao vencer milícias paralelas.
- Situar os EUA no contexto da Guerra da Síria (combate às tropas de Assad apoiadas pela
Rússia).

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Fronteiras do extinto Império Otomano (CACD 2013)

O acordo de Sykes-Picot, assinado em 1916 entre França e Grã-Bretanha, definiu a


partilha de territórios pertencentes ao antigo Império Otomano no Oriente Médio. Aponte
qual o princípio geopolítico que norteou a divisão dos territórios e explique como foram
divididas as fronteiras entre os dois países. Extensão máxima: 60 linhas [valor: 20 pontos]

Comentário sobre a questão

A história do Império Otomano é longa, confusa e cheia de conflitos. Ao meu ver, trata-se
de uma das questões mais difíceis do curso, pois além do entendimento do Império Otomano, o
aluno precisa contextualizar o cenário europeu em 1916 e obviamente, saber do acordo de
Sykes-Pikot e suas implicações. Apesar de ser classificada como questão de geografia, na
prática, possui maior peso em história internacional.

Resolução da questão

Tanto a França quanto a Inglaterra, no decorrer da Primeira Guerra Mundial, já anteviram a


queda do Império Otomano mesmo antes de sua derrocada, resolvendo agir em prol de seus
interesses. Deste modo, o acordo secreto de Sykes-Picot (1916) – Assinado pelos diplomatas Mark
Sykes (Inglaterra) François Georges-Picot (França) – tinha como principal objetivo estender as
áreas de influência franco-britânicas para o Império Otomano assim que ele fosse
esfacelado.

Agregando vários países islâmicos porém admitindo certa liberdade religiosa, o Império
Otomano foi uma das maiores potências do mundo: até o século XVIII, sobretudo por meio da
sua próspera capital Constantinopla, consistia um dos principais elos de comunicação entre o
Oriente e o Ocidente. No entanto, a partir do século XIX – muito antes do acordo de Sykes-Pikot, o
Império Otomano começou lentamente a ruir. A grande variedade cultural e econômica – aliada
à crescente falta de reconhecimento ao poder central – favoreceu rebeliões e ondas separatistas,
culminando em significantes perdas territoriais no século XIX. Quando a Primeira Guerra Mundial
(1914-1918) emergiu no cenário internacional, o já fragilizado Império Otomano se aliou à Tríplice
Aliança formada por Alemanha, Itália e Áustria-Hungria. No entanto, como este grupo perdeu o
conflito, o Império Otomano faliu oficialmente em 1923, fragmentando-se em vários países como
Turquia, Síria, Iraque e Jordânia.

O princípio geopolítico majoritário para este domínio franco-britânico foi o princípio das
áreas de influência. Isto é, para que uma potência seja caracterizada como tal, deve ter o maior
raio de ação territorial possível, também estendendo seus poderes para o maior número possível
de países. Vale ressaltar que a Ásia Menor corresponde a uma região estratégica, cuja influência
historicamente foi rivalizada entre Rússia e outras grandes potências (especialmente Inglaterra),
correspondendo ao que se chama de “Grande Jogo”. Até hoje, a Turquia (principal país
remanescente do Império) constitui área de vital importância para a comunicação marítima
ocidente-oriente. Deste modo, seria natural que despertasse a cobiça dos países vencedores da
Primeira Guerra Mundial.

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As motivações para o acordo seriam distintas. Os ingleses – que já controlavam a região,


como por exemplo, no Canal de Suez (Egito) – tinham grande interesse em conter os avanços
russos para o Mar Mediterrâneo. A França, por sua vez, aumentaria seu raio de influência,
intensificando a proximidade aos territórios conquistados no norte da África, como a Argélia e
a Tunísia. Pelo acordo, a França teria controle direto sobre o Líbano, o extremo-oeste da Síria, e
considerável parte do território turco, na porção centro-leste do país; também exercendo influência
sobre a maior parte da Síria e sobre o extremo-norte iraquiano. Já a Inglaterra, possuiria controle
direto sobre o Kuwait e o leste iraquiano, exercendo influência também, sobre a Jordânia e o
restante do território iraquiano. Trata-se, tal como ocorreu na partilha do continente africano no
Congresso de Viena (1814-1815) de uma maneira formal das potências europeias retomarem a
colonização e redesenharem as fronteiras no Oriente Médio de acordo com seus interesses
econômicos e geopolíticos. Do mesmo modo que ocorreu na África, a partilha artificial de
fronteiras acirrou as tensões regionais; corroborando, por exemplo, com os conflitos Israel-
Palestina, com a Guerra Civil Libanesa (1975-1990), e com a Guerra do Golfo.

Com o esfacelamento do Império Otomano, os britânicos e franceses protagonizaram uma


espécie de neocolonialismo, ou seja, o estabelecimento de colônias ou áreas sob forte subjugação
econômica e geopolítica mesmo após a corrida colonial. Na verdade, para eliminar a influência
otomana, a Inglaterra fomentou a criação de Estados independentes. No entanto, após a
“independência” prometida, foram fortemente submetidos às políticas imperialistas e
consequentemente, à zona de influência inglesa. Na prática, estes países saíram da esfera
otomana e caíram nas esfera franco-britânica.

Proposta de régua de correção

- Entender que já durante a Primeira Guerra Mundial, França e Inglaterra já previam a


derrocada do Império Otomano.
- Entender que, com base na afirmação anterior, ambos os países já se propuseram a dividir
as áreas de influência no Império Otomano.
- Entender (mesmo que superficialmente) a importância do Império Otomano na história da
humanidade (Império Romano do Oriente, Constantinopla, e elo de ligação entre Oriente e
Ocidente).
- Entender as razões da queda do Império Otomano (que precedem a Primeira Guerra)
(grande diversidade cultural aliada aos movimentos separatistas).
- Saber que o Império Otomano fez parte da Tríplice Aliança (Alemanha, Itália e Áustria) e
que portanto, perdeu a Primeira Guerra Mundial, o que provocou a sua falência definitiva.
- Entender que o domínio britânico no Império Otomano teve como base o princípio das áreas
de influência (quanto mais áreas de influência uma potência tiver, maior o seu poder).
- Entender as motivações inglesas para o domínio no Império Otomano (ocupação história a
exemplo do Canal de Suez e contenção da influência russa no Oriente Médio).
- Entender as motivações francesas para o domínio no Império Otomano (proximidade de
territórios africanos e extensão de sua área de influência).

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- Comparar a partilha do território otomano à partilha da África pelo Congresso de Viena


(tal comparação é opcional, mas enriquece o texto).
- Entender a relação entre acordo Sykes-Picot e acirramento de tensões no Oriente Médio
(criação de fronteiras artificiais, tal como ocorreu na África na corrida colonial).
- Entender que para aumentar sua influência na região, a Inglaterra fomentou a
independência de vários países do Oriente Médio.

Bibliografia sugerida
Para esta aula, recomendo duas obras. O livro Geografia Política e Geopolítica faz um apanhado geral
sobre o tema, discorrendo desde a geopolítica clássica do século XIX até os discursos e conceitos geopolíticos
como imperialismo, poder marítimo, heartland, até a geografia política entre e durante as guerras mundiais
e seus desdobramentos no continente sul-americano.

COSTA, Wanderley. Geografia Política e Geopolítica. São Paulo: EDUSP; Hucitec, 1992.

CASTRO, Iná Elias de, et alli. Geografia: Conceitos e Temas. Rio de Janeiro: Bertrand, 10 edição.
BECKER, Bertha. "A Geopolítica na virada do milênio: Logística e Desenvolvimento Sustentável". P.
271-307.MELLO, Leonel Itaussu. Quem tem medo de geopolítica? São Paulo: Editora Hucitec, 1999.
Cap. 1, 2, 3 e 4- Pág. 11-133.

Além do livro do Wanderley Messias da Costa, recomendo os textos da Bertha Becker sobre
geopolítica presentes na obra Geografia Conceitos e Temas, que fornecem uma visão complementar para a
contemplação do edital. Inclusive, este livro Conceitos e Temas é tão fundamental para tantos aspectos da
geografia, que o recomendo também para a compreensão das próprias categorias de análise desta ciência,
tais como: espaço geográfico (texto de Roberto Lobato Correa), de região (texto de Paulo Cesar Gomes),
de território (texto de Marcelo Souza), e de redes (texto de Leila Dias).

Abraços e bons estudos a todos! =)

Prof. Alexandre Vastella.

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