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Geopolítica

mundial
Material Teórico
Geografia Política Clássica

Responsável pelo Conteúdo:


Prof. Ms. Flávio Silva

Revisão Textual:
Profª. Ms. Rosemary Toffoli
Geografia Política Clássica

·· Introdução
·· Geopolítica
·· Mackinder
·· A Geopolítica do Heartland
·· Geopolitik Alemã

··Esta unidade tem como objetivo de destacar os conceitos inerentes à


questão, já que tem uma relação direta com o poder de uma nação,
tanto do ponto de vista de defesa, quanto em relação a questões de
domínio sobre outros territórios.

É importante que você leia todo material teórico com atenção e assista às videoaulas, para
que possa construir o conhecimento acerca do tema.
Ao final, você encontrará as referências bibliográficas que devem ser utilizadas para que se
aprofunde no tema, ok?
Lembro, também, que esta disciplina faz parte da grade curricular do seu curso, portanto,
é importante para seu processo de formação!

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Unidade: Geografia Política Clássica

Contextualização

Ao nos depararmos com a questão de geopolítica, principalmente quando estudada do


ponto de vista cronológico, ou seja, de eventos acontecidos numa linha temporal, podemos
ter momentos de reflexão que nos leve aos seguintes questionamentos: “e se esta, ou aquela
aliança tivesse agido de forma diferente? Ou, ainda, “e se o país A ou B tivesse ganho a
guerra? Como estaríamos hoje?”
Nesse sentido, ao estudarmos a Segunda Guerra Mundial e a política de dominação nazista
de Hitler, levando em conta os estudos do General Haushofer, considerando sua Geopolitik
alemã, podemos questionar: “o que aconteceria se Hitler tivesse seguido as recomendações
de Haushofer e aliado-se à União Soviética, ao invés de tentar uma aliança com a Inglaterra,
durante a Segunda Guerra? E para os soviéticos, teria sido vantajosa essa aliança?
Para que se entenda tais questionamentos, faz-se necessário entender-se o processo
geopolítico e as relações de poder que um ou outro cenário representaria, ou seja, seria
interessante aos soviéticos dominarem a “Pan-Ásia”, como defendia o General alemão? Qual
poderia ou seria a consequência futura provável?
O objetivo da geopolítica é exatamente este: a partir das relações entre nações, nos mais
diversos períodos, obter-se o entendimento em relação às posturas adotadas ou possíveis,
considerando suas causas, efeitos e consequências, a fim de se compreender as mais diversas
relações de interesses que ocorrem no planeta.

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Geografia Política Clássica

Figura 1 - Friedrich Ratzel


Quando nos remetemos ao estudo da Geografia
Política Clássica, é inevitável e, porque não dizer,
consensual em relação aos estudiosos da geografia, a
importância do estudioso alemão Friederich Ratzel
(1844-1904) e, obviamente, de sua obra.
Ratzel, como é mais comumente conhecido, é tido
como o fundador da geografia humana, no entanto,
iniciou sua carreira acadêmica em zoologia, por
influência da obra de Charles Darwin 1, através de
Haeckel2 . Paralelamente, com a preocupação pessoal
sobre os destinos da Alemanha, que avaliava como uma
“unificação mal concluída”, participava de uma série
de atividades, na esfera acadêmica, com o objetivo de
discutir a questão nacional, já que existiam concentrações
de comunidades alemãs no centro e leste da Europa, ou
seja, fora do território alemão.
Fonte: Wikimedia Commons

Segundo Ratzel:

“... os Estados são organismos que devem ser concebidos em sua


íntima conexão com o espaço. Daí a necessária adoção do que
sugere como “senso geográfico” ou o fundamento geográfico
do poder político, o qual não deve faltar aos “homens de Estado
pragmáticos”. (Mello, 1999, p;. 32).

O Estado deveria ter um comportamento similar aos dos seres vivos, obviamente, por
analogia, ou seja, nascendo, avançando, recuando, estabelecendo relações, entre outros. As
condições inerentes ao relevo, marítima e/ou fluvial, por exemplo, seriam fatores determinantes
ao desenvolvimento ou emperramento dos Estados, isto é, estariam intimamente influenciados
pelas suas próprias condições naturais.
Tal ideia, apesar de parecer determinista, não o era, já que também era defendida a ideia
de que o desenvolvimento do estado nação e, por consequência de seu povo, estaria atrelada
a possibilidade e, porque não dizer, à própria capacidade de se ter a condição de transformar
suas potencialidades em algo efetivo.
Um outro ponto interessante das ideias de Ratzel, estava ligado às formas desiguais de
desenvolvimento das regiões:
1 Charles Darwin (1809-1882) foi um naturalista e biólogo, que realizou diversos estudos e pesquisas em ilhas e na região costeira
da Austrália, Nova Zelândia e África do Sul, tendo sido o responsável pela publicação da Teoria da Evolução das Espécies.
2 Ernst Heinrich Philipp August Haeckel (1834-1919) zoólogo e evolucionista alemão que era um forte defensor do darwinismo e
que propôs novas noções de descendência evolutiva dos seres humanos.
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Unidade: Geografia Política Clássica

“... apesar de os sistemas econômicos tenderem à “organicidade”,


estabeleceu-se, por força do desenvolvimento desigual e da
diferença entre as regiões, uma relação de “centro-periferia” no
interior do sistema, o centro sempre se referindo ao “centro do
poder” (Mello, 1999, p;. 35).

O comércio, principalmente o internacional, trabalhava no sentido de se transformar em


um mecanismo econômico com a subordinação de povos e de regiões, com uma estrutura de
circulação que, por sua vez, definiria a “centralidade”.
Ratzel também desenvolveu vários pensamentos ligados à questão Estado-território, bem
como à ampliação dos espaços dominantes, como forma de desenvolvimento político das
nações. Para ele, a ampliação do espaço geográfico está ligada ao trabalho dos geógrafos,
através da cartografia, por exemplo, e dos políticos, no trabalho de consolidação do Estado.

Geopolítica

Quando nos referimos a Geopolítica, devemos tomar cuidado com a confusão conceitual
que, habitualmente, ocorre. Uma definição bem pontual do termo geopolítica é formulada por
Wanderley Messias da Costa:

a geopolítica, tal como foi exposta pelos principais teóricos, é antes


de tudo um subproduto e um reducionismo técnico e pragmático
da geografia política, na medida em quem se apropria de parte
de seus postulados gerais, para aplicá-los na análise de situações
concretas interessando ao jogo de forças estatais projetado no
espaço. (COSTA, 1992, p.55).

Nesta linha de raciocínio, conclui-se, então, que a geopolítica é resultado de uma base
teórica mais pobre, do que a geografia política de Ratzel, estudada anteriormente, ou de
outros autores como Vallaux, Hartshorne, Weigert, entre outros mais.
Outra situação que ocorre com frequência está relacionada à confusão gerada por estudos
geográfico-políticos que, pela elaboração de suas terminologias, acabam sendo classificados
como geopolíticos, mas não por erro, mas, sim, por uma situação vocabular cômoda.
Esta situação também pode ser bem latente em conotações ideológicas, utilizadas por muitos
autores que substituíram, em seus títulos e publicações, vinculados à geografia política, como
geopolíticos, até mesmo pela proximidade ao nazismo.
Rudolf Kjéllen é tido como o pioneiro na geopolítica, ou seja, na expressão das concepções
entre o Estado e o território:

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Concebia a geopolítica como ramo autônomo da ciência Política,
distinguindo-a da geografia política, para ele um sub-ramo da
geografia. Tomando de Ratzel a ideia de Estado como organismo
territorial, o reduz a um organismo de tipo biológico. Para ele:
“O Estado nasce, cresce, e morre em meio de lutas e conflitos
biológicos, dominado por duas essências principais (o meio e a
raça) e três secundárias (a economia, a sociedade e o governo).
(COSTA, 1992, p. 56).

A ciência de Kjéllen estava relacionada aos impérios centrais da Europa, ou seja, com
“estados maiores” a quem seria dirigida a geopolítica e, em especial, à Alemanha. Para ele,
o Estado e o imperialismo são ideias semelhantes. Para Kjéllen, a realização das análises de
fenômenos geopolíticos eram ideais aos “estados maiores”, logo, eles deveriam se transformar
em “academias científicas”.

Mackinder

Figura 2 - Halford John Mackinder


Halford John Mackinder (1861-1947) foi um
geógrafo político britânico conhecido por seu trabalho
como educador e por sua concepção geopolítica global
conhecida como “heartland”, que veremos a seguir.
A teoria do poder terrestre está alicerçada,
historicamente, em três grandes pilares: o mundo como
unidade compacta, a casualidade geográfica e a oposição
terra-mar, que engloba a luta pela supremacia entre o
poder terrestre e o poder marítimo.
Na época de Mackinder, a expansão das potências
europeias estava concluída e o ordenamento político
era constituído pelas então potências europeias: Grã-
Bretanha3, Alemanha, França, Rússia, Itália e o império
Austro-Húngaro4 , cujo poder ramificava-se por todos
Fonte: Wikimedia Commons
os continentes, tanto em possessões coloniais, como no
domínio dos mares.
3 Grã-Bretanha é definida como sendo a ilha onde ficam três países: Inglaterra, País de Gales e Escócia, já o Reino Unido, é um Estado
formado por quatro países, a saber, Inglaterra, Escócia, País de Gales e Irlanda do Norte, tendo como chefe de Estado, atualmente, a rainha
Elizabeth II e um de governo parlamentarista, com um primeiro-ministro eleito por um Parlamento central, em Londres.
4 A Áustria se formou, como grande parte dos países europeus, a partir da expansão geopolítica de seus domínios. A família Habsburgo,
governava a Áustria, no entanto, com o passar do tempo, a região da Hungria, que também ficava no território dos Habsburgos, começou
a reivindicar autonomia, tendo sido o país dividido, em 1867, surgindo o Império Austro-Húngaro, sendo uma monarquia com um só rei
para dois países, que se manteve até 1918. Com a derrota da Áustria na Primeira Guerra, os vários povos que integravam o Império Austro-
Húngaro proclamaram a independência, tendo a Áustria e a Hungria se tornado países definitivamente independentes.

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Unidade: Geografia Política Clássica

Na versão de Mackinder, as ações humanas associadas às questões econômicas e/ou


geográficas eram associadas a um limite imposto:

“... é o homem e não a natureza quem inicia, mas é a natureza


quem dirige grande parte.” (Mackinder, 1962).

A história da formação das sociedades humanas estava condicionada pelas características


geográficas: espaço, relevo, clima e recursos naturais inerentes à sua região. A questão
física, imposta pelo meio ambiente em que os povos viviam, eram fatores de influência
em sua própria história, modelando-os e os conduzindo a uma vocação (ou domínio)
continental ou marítimo.

Os países tido como insulares ou cujas fronteiras fossem, em grande parte, marítimas tinham
como vocação o desenvolvimento das atividades navais e mercantis, tal como aconteceu com
povos da antiguidade como cretenses5, fenícios6 e gregos, ou os povos da era moderna, como
os ingleses, portugueses, espanhóis e holandeses.

Já países que tinham suas fronteiras predominante terrestres eram favorecidos por um
desenvolvimento continental com forte inclinação ao expansionismo, tal como aconteceu, no
mundo antigo, com os citas7 , persas8 , germanos9 e mongóis10 ou na era contemporânea,
com os russos e alemães.

Entre as situações de fronteiras predominante terrestres e predominante marítimas, identifica-


se uma situação intermediária, dotada de fatores geográficos (físicos) os quais impunham
aos povos uma situação característica híbrida ou anfíbia, que possibilitava o desenvolvimento
simultâneo, ou alternado, das duas formas de desenvolvimento, tal como aconteceu na
Antiguidade, com os cartagineses11 e com os romanos; na Idade Média, com bizantinos12 e
sarracenos13 ; e na Era Contemporânea, com os franceses e norte-americanos.

Baseando-se na questão histórica, Mackinder, com base em questões históricas e geográficas,


concluiu que, se o poder terrestre desfrutasse simultaneamente de uma sólida base continental
e uma frente oceânica ampla, tenderia a se transformar em um poder marítimo, através do uso
dos recursos disponíveis; no entanto, historicamente, não ocorria com frequência o oposto, ou
seja, a partir de um poder marítimo sólido, considerando-se a sua posição insular, transformar-
se em um poder terrestre.
5 Os cretenses eram habitantes da ilha de Creta, localizada no Mar Mediterrâneo, entre a Grécia, a Ásia Menor e o Egito.
6 Os fenícios são oriundos dos semitas, povos que saíram do litoral norte do Mar Vermelho e fixaram-se na Palestina, onde atualmente,
encontra-se o Líbano.
7 Os citas eram nômades cujo o pastoreio era sua principal atividade, tendo se estabelecido na região da estepe pôntico-cáspia, que, naquele
tempo era conhecida como Cítia.
8 Os persas habitaram a atual região do Irã , sendo que em sua maioria, eram oriundos da região da Ásia Central e da Rússia, com
predominância da agricultura e do pastoreio.
9 Os germanos são considerados uma população indo-europeia, tendo surgido na planície norte da Alemanha e depois migrado para o local
onde atualmente encontram-se a região Sul da Suécia e a Dinamarca (Escandinávia)
10 Os mongóis tiveram um dos maiores impérios, em extensão linear, já registrados pela história, com o domínio de um terço da população
total do planeta a época. Abrangia desde a fronteira oeste da Alemanha até a Península Coreana, e desde o Oceano Ártico até a Turquia e
o Golfo Pérsico, por influência de um guerreiro chamado Temuji, conhecido como Gengis Khan.
11 Os cartagineses tem suas origens vinculadas ao processo de expansão econômica e comercial dos fenícios, na região do norte da
África.
12 Os bizantinos foram oriundos do Império Romano do Oriente e sua capital era Constantinopla ou Nova Roma
13 Os sarracenos viviam nos desertos da província romana da Arábia Petraea, onde atualmente é parte do Egito, Arábia Saudita,
Jordânia e Síria, formando uma comunidade totalmente distinta dos árabes.

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A partir das diversas situações históricas que ocorriam à época, formulou uma tese segundo
a qual, caso o poder terrestre adicionasse a sua retaguarda continental uma frente oceânica,
criando um poder anfíbio (terrestre e marítimo), conquistaria as bases do poder marítimo, ou
seja, era bem mais aceita, por ele, a ideia de que as condições do poder terrestre lançar-se ao
oceano e realizar conquistas, eram bem mais favoráveis do que ao contrário, ou seja, do poder
marítimo adentrar a terra e ampliar seus domínios.

A Geopolítica do Heartland

No início do século XX, a ciência geográfica demonstrava a existência dos continentes


da Europa, Ásia, África, Austrália, América e a Antártida e dos oceanos Atlântico, Pacífico
e Índico. No entanto, para Mackinder, existia o Great Ocean, ou o Grande Oceano que era
composto por todas as águas oceânicas existentes no planeta; em relação às porções de terra,
definia a existência de um grande continente eurásico-africano, abrangendo a Eurásia (Europa
e Ásia) e África, as quais definia como a World Island, com 85% da população do planeta.
Em relação aos demais continentes, não contínuos, classificava-os, no caso das Américas do
Norte e do Sul, como ilhas continentes que, juntamente com a Austrália, gravitavam em torno
da World Island.
Através destas definições, entre outras, obtêm-se o conceito do Heartland (que pode ser
traduzido como o Coração da Terra) e que pode ser entendido como:

“... sendo a mais extensa região de planícies de todo o globo


terrestre. Essa região era quase totalmente isolada do mundo
exterior, já que seus grandes rios desembocavam nos mares do
interior da Eurásia ou nas costas geladas do oceano Ártico [...]
Finalmente a topografia plana de suas estepes meridionais oferecia
condições ideais à mobilidade dos povos nômade-pastoris da Ásia
Central. (Mello, 1999, p;. 46).

Fisicamente, a região pode ser entendida como uma fortaleza natural que, por sua vez, seria
inacessível a qualquer intervenção do poder marítimo, paralelamente com o fortalecimento do
poder terrestre de quem a dominasse.
Em 1904, Mackinder defendeu a ideia de o controle dos mares não ser mais tido como
a principal razão de poder das nações marítimas. Além disso, entendia que a supremacia de
nações dotadas do poder naval estaria chegando ao fim.
E o que isso representava?

Mackinder entendia que, se houvesse uma aliança entre a Alemanha e a Rússia, por

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Unidade: Geografia Política Clássica

consequência, haveria um desequilíbrio no poder na eurásia e no mundo, já que a Rússia


ocupava dimensões continentais que abrangiam desde a Europa Oriental até o Oriente
Extremo, onde se situava o Heartland, local que possuía minerais estratégicos à potencialidade
industrial da Alemanha, a época, vitais ao desenvolvimento do poder militar.

Assim, então, o raciocínio de Mackinder era o entendimento de que, quem controlasse a


Europa Oriental, dominaria a Eurásia, ou Terra Central; quem controlasse a Eurásia, dominaria
a World Island, ou a Ilha Mundial; e quem controlasse a World Island, dominaria o Mundo.

Figura 3 - Representação da Área do Heartland, segundo Mackinder

Fonte: cairn-int.info

A Geopolítica do Rimland

A teoria desenvolvida por Mackinder teve grande influência geopolítica, principalmente, em


relação ao governo britânico, que promoveu uma estratégia de isolamento entre a Alemanha
e a Rússia.
No entanto, outros estudiosos em geopolítica, embasaram-se na teoria de Mackinder para
formularem outras estratégias, tal como aconteceu com o americano Nicholas John Spykman
14
(1893 – 1943), que desenvolveu uma estratégia denominada Rimland ou Estratégia da
Contenção, que foi a base para que fosse desenvolvida a política de segurança dos Estados
Unidos da América, após 1945.

14 Nicholas J. Spykman nasceu na Holanda, professor da Universidade de Yale foi um Cientista Político e Geoestrategista de grande
influência nos EUA.

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Segundo Spykman:

“O Rimland da massa terrestre eurasiática deve ser isto como uma


região intermediária situada entre o Heartland e os mares marginais.
Ele funciona como uma vasta zona amortizadora no conflito entre
o poder marítimo e o poder terrestre. Com vistas para ambas as
direções, ele tem uma função anfíbia e deve defender-se em terra
e no mar. No passado, ele teve de lutar contra o poder terrestre
do Heartland e contra o poder marítimo das ilhas costeiras da Grã-
Bretanha e do Japão. É na sua natureza anfíbia que está a base de
seus problemas de segurança”. (Mello, 1999, p. 122).

O raciocínio do Rimland compreendia uma situação de que, os Estados Unidos da América


deveriam defender sua soberania e, para isso, deveria ser contida qualquer expansão da União
das Repúblicas Socialistas Soviéticas para a periferia da eurásia, tanto por terra, quanto pelo
mar, já que essa expansão, se ocorresse, significaria o controle da eurásia e, portanto, a
possibilidade do controle do mundo.

Figura 4 - Heatland e Rimland

Fonte: aphug.wikispaces.com

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Unidade: Geografia Política Clássica

Geopolitik Alemã

Durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), o III Reich (alemão), utilizou-se de uma
doutrina que justificasse a expansão territorial nacional socialista. Para isso, criou uma “ideologia
geográfica”: a Geopolitik alemã, que, segundo Mello15, é um subproduto espúrio e ilegítimo da
geopolítica.
Quando os nazistas dominavam quase todo o continente europeu, no início da Segunda
Guerra, levantou-se a tese, a partir de várias publicações, de que o general geógrafo alemão G
havia colaborado para a redação do Mein Kampf16, por intermédio de Rudolf Hess17, e, ainda,
seria o mentor intelectual de muitas das decisões tomadas por Hitler:

“Haushofer e seu Instituto de Munique com seus mil cientistas,


técnicos e espiões são quase desconhecidos do público, e até
mesmo do III Reich. Porém, suas ideias, cartas geográficas,
mapas, estatísticas, informação e planos, ditaram os movimentos
de Hitler desde o começo [...]. O Instituto Haushofer não é mero
instrumento a serviço de Hitler. É exatamente o contrário. O Dr.
Haushofer e seus homens, dominam o pensamento de Hitler.”
(Mello, 1999, p. 76).

Figura 5 – Karl Haushofer (esquerda) e Rudolf Hess (direita)

Fonte: Friedrich V. Hauser (d. 1921)/Wikimedia Commons

15 Mello, Leonel Itaussu Almeida, professor associado do Departamento de Ciência Política da USP e mestre em Sociologia Política pela PUC-
SP.
16 Mein Kampf: (Minha Luta) é uma obra escrita por Adolf Hitler, líder nazista, que combina sua ideologia política e elementos
autobiográficos.
17 Rudolf Hess, foi discípulo de Haushofer e secretário de Adolf Hitler.

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Haushofer reconheceu, de forma pública, em diversas ocasiões, seu débito intelectual
com Mackinder. Como já foi mencionado, Mackinder elaborou suas concepções do mundo
a partir de uma ótica da Grã-Bretanha, em que a segurança e a hegemonia britânica
pudessem ser ameaçadas por parte de uma possível aliança da URSS18 com a Alemanha.
Haushofer, no entanto, estudou os preceitos geopolíticos de Mackinder, porque não dizer,
seu mentor, e os adaptou a uma perspectiva alemã, ou seja, uma aliança com a URSS era,
exatamente, o que precisava ser feito para vencer a Grã-Bretanha e inserir a Alemanha
como a potência dominadora da Europa.
O general geógrafo entendia que a URSS deveria ser tida como um aliado político, pois
seria de grande valia a uma interligação entre os povos asiáticos e os alemães e que, o inimigo
comum a todos, era o poder naval britânico. Haushofer, opunha-se a uma guerra com os
russos, pois tinha ciência de que dominar a URSS esbarraria nas grandes dimensões daquele
país. Além disso, também observou o fracasso de Napoleão Bonaparte19 , que perdeu milhares
de soldados em uma tentativa de invasão à Rússia no século XIX.
O “haushoferismo” tinha como premissa uma aliança da Alemanha com a URSS e o Japão.
Desta aliança, seriam construídos quatro grandes poderes de domínio e, por consequência,
quatro áreas denominadas pan-regiões:
• Euroáfrica: englobaria a Europa, África e o Oriente Médio e seria submetida à
Alemanha;
• Pan-Ásia: englobaria a China, Coréia, Sudeste Asiático e Oceania e seria submetida ao Japão;
• Pan-Rússia: englobaria a Rússia, Irã e Índia e seria submetida à URSS; e,
• Pan-América: englobaria o continente americano, que seria dominado pelos EUA.
A aliança russo-germânico-japonesa, defendida por Haushofer, compor-se-ia de em um
grande bloco transcontinental, com um grande poder nas áreas militares, econômica e
demográfica que, por sua vez, colocaria em xeque a hegemonia da Grã-Bretanha.
Figura 6 - O mundo segundo Haushofer

Fonte: inteligenciaeconomica.com.pt

18 URSS – União das Repúblicas Socialistas Soviética, criada em 1922, representava o bloco comunista no mundo e combateu a
polaridade capitalista até seu fim em 1991.
19 Napoleão Bonaparte (1769- 1821) foi um líder político e militar durante os últimos estágios da Revolução Francesa. Através das
guerras, ele foi responsável por estabelecer a hegemonia francesa sobre maior parte da Europa.

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Unidade: Geografia Política Clássica

Hitler, no entanto, não conhecia ou, pelo menos parecia não conhecer, as ideias disseminadas
por Mackinder e entendia que a Alemanha deveria reconhecer a supremacia naval da Grã-
Bretanha, em troca da reconhecimento da hegemonia alemã no continente, pelos britânicos,
ou seja, a Grã-Bretanha seria uma potência marítima e a Alemanha uma potência continental.
Ambos tinham como inimigo a França; assim sendo, a Alemanha deveria aniquilar a França
e, posteriormente, dirigir-se-ia ao Leste, a fim de realizar a conquista de Europa Oriental, ou
seja, o Leste Europeu, com o intuito de construir o Reich de mil aos da raça ariana.
Em maio de 1941, Rudolf Hess, vice-Füher de Hitler e discípulo de Haushofer, teria se
dirigido à Escócia para propor uma cruzada contra o comunismo, ou seja, contra a URSS. Tal
situação não teria sido aceita pela Grã-Bretanha, já que tal situação resultaria no reconhecimento
da supremacia Alemã no Leste Europeu. Este fato, especificamente, é motivo de controvérsia
entre os pesquisadores até hoje, já que nunca foi claramente esclarecido.

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Material Complementar

Site:
Para a ampliação do conteúdo desta unidade, recomento a leitura do texto “Da Geopolítica
clássica à Geopolítica crítica”, cujo objetivo é mostrar as mudanças que a geopolítica
enfrentou nas últimas décadas, considerando os interesses dos diversos atores (ou do
próprio fundamento da geopolítica) levando em conta as respectivas abordagens teóricas.
Pode ser encontrado no portal âmbito jurídico, no endereço abaixo:
http://www.ambito-juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=9954

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Unidade: Geografia Política Clássica

Referências

Charles Darwin. Disponível em Toda Biologia. Site: http://www.todabiologia.com/


pesquisadores/charles_darwin.htm. Acesso em 27/10/2014.

COSTA, Wanderley Messias da. Geografia Política e Geopolítica: Discurso sobre o


Território e o Poder. São Paulo: Hucitec; Edusp, 1992.

Ernst Heinrich Philipp August Haeckel . Disponível em Encyclopaedia Britannica. Site: http://
www.britannica.com/EBchecked/topic/251305/Ernst-Haeckel. Acesso em 27/10/2014.

Halford John Mackinder. Diponível em perspectivesonafrica. Site: http://perspectivesonafrica.


files.wordpress.com/2011/05/halford_mackinder.jpg. Acesso em 27/10/2014

Heartland e Rimland. Disponível em: http://infomapsplus.blogspot.com.br/2014/07/


geostrategy-what-is-heartland.html. Acesso em 28/10/2014.

Heartland. Cairn Info International Edition. Disponível em: http://www.cairn-int.info/loadimg.


php?FILE=E_HER/E_HER_142/E_HER_142_0012/fullE_HER_142_0012_img002.jpg.
Acesso em 28/10/2014.

Mackinder, Haldford John. “The Geographical Pivot Of History”. In: Democratic Ideals
ad Reality (with additional papers). New York: The Norton Library, 1962, p. 243.

Mello, Leonel Itaussu Almeida. Quem tem medo da geopolítica? São Paulo: Hacitec; Edusp,
1999.

O mundo segundo Haushofer. Fonte: Inteligência Econômica. Disponível em: http://


inteligenciaeconomica.com.pt/wp-content/uploads/2014/02/The-Karl-Haushofers-World-
1024x713.jpg. Acesso em: 28/10/2014

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Anotações

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