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POLÍTICA
Fundamentos da
geografia política
Vítor de Oliveira Santos
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
Introdução
A geografia política é a área do conhecimento que analisa as unidades políticas,
seu desenvolvimento e expansão territorial, tendo como pano de fundo os aspectos
geográficos dos estados. Significa dizer que a geografia política avalia como os
estados são formados, desenvolvidos, expandidos ou até destruídos, considerando
os meios naturais e físicos.
Neste capítulo, você vai identificar os principais usos da geografia política,
aprendendo a descrever as principais categorias e conceitos utilizados no estudo
dessa ciência. Além disso, vai relacionar as teorias e bases da geografia política
no contexto da consolidação do imperialismo europeu.
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O espaço (geográfico?)
Segundo Corrêa (2000), o conceito de espaço aparece como vaga, ora associada
a uma porção especifica da superfície terrestre identificada pela natureza,
ora por um modo específico como o ser humano deixou as suas marcas, ou,
ainda, como uma referência à mera localização. Mais do que isso, a palavra
espaço tem o seu uso associado a diferentes escalas, desde a global até a
um cômodo de uma casa (CORRÊA, 2000).
Todavia, o espaço, na ciência geográfica, é abordado de modos distintos
entre as diferentes correntes do pensamento geográfico. Na geografia tra-
dicional, por exemplo, o espaço não se constitui como um conceito-chave,
sendo que os debates nessa escola incluíam mais os conceitos de paisagem,
região natural, região-paisagem. A abordagem espacial, naquele momento
(1870-1950 aproximadamente), era bastante secundária.
A despeito dessa associação coadjuvante dada ao espaço, esse conceito
está presente nas obras dos geógrafos tradicionais. Em Ratzel, por exemplo,
o espaço é visto como uma base indispensável para a vida do homem, encer-
rando as condições de trabalho, sejam essas condições naturais ou condições
socialmente produzidas. Desse modo, o domínio do espaço transforma-se
em elemento crucial na história do homem (CORRÊA, 2000).
Já para a geografia teorético-quantitativa (aproximadamente em 1950),
o espaço é considerado sob duas formas que não se anulam: a noção de
planície isotrópica e a representação matricial.
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Conceito de região
Segundo Gomes (2000), a palavra “região” é derivada do latim regere, e com-
posta pelo radical “reg”, que deu origem a outras palavras, como “regente”,
“regência”, “regra”, entre outras. Nos tempos do Império Romano, regione era
a denominação utilizada para designar as áreas que estavam subordinadas
às regras gerais e hegemônicas das magistraturas romanas (GOMES, 2000).
Nesse contexto, o termo “região” surgiu como uma necessidade de um mo-
mento histórico, quando, pela primeira vez, emergiu amplamente a relação
entre a centralização do poder em um local e a extensão desse poder sobre
uma área de grande diversidade social, cultural e espacial (GOMES, 2000).
Para Gomes (2000), no senso comum, a noção de região existe relacionada
a dois princípios fundamentais: o de localização e o de extensão. Assim, a
palavra região pode ser empregada como uma referência associada à loca-
lização e à extensão de um certo fato ou fenômeno, ou, mais além, ser uma
referência a limites mais ou menos habituais, atribuídos a uma diversidade
espacial. A região também tem um sentido muito conhecido como unidade
administrativa, em que a divisão regional é o meio pelo qual se exerce a
hierarquia e o controle da administração dos estados.
Na ciência geográfica, o uso da noção de região é mais complexo à na
medida em que se tentou fazer dela um conceito científico, herdando as
indefinições e a força de seu uso na linguagem comum com as diversas
correntes epistemológicas da geografia. Nesse sentido, tem-se o conceito
de região natural, que surge da ideia de que o ambiente exerce um domínio
sobre a orientação e o desenvolvimento da sociedade (geografia tradicional);
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tem-se a região como uma realidade concreta, física que existe como um
quadro de referência para a população que ali habita (geografia regional
francesa); e tem-se a ideia de que a região é um produto mental, uma forma
de ver o espaço que coloca em evidência as bases da organização espacial
(GOMES, 2000).
Com a crise da geografia tradicional, a noção de região foi rediscutida,
apreendendo que a região não pode ser vista como uma mera evidência
do mundo real-concreto, nem pode ser incluída no mundo científico sem
estar submetida a critérios gerais. Se tornou necessário, então, para que o
conceito de região passasse a ser considerado como um termo científico,
que houvesse uma formulação clara de seu sentido e de seus critérios. O
estabelecimento de regiões, portanto, passou a ser uma técnica geográfica,
um modo de demonstração de uma hipótese e não somente mais um produto
de pesquisas. Regionalizar, assim, passou a ser tarefa de dividir o espaço de
acordo com critérios que são devidamente explicitados e que podem variar
segundo as intenções de cada trabalho (GOMES, 2000).
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Leituras recomendadas
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