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VRomero Tavares

V
Professor do Departamento de Física/UFPB.
Doutor em Física pelo Instituto de Física/USP

E-mail: romero@fisica.ufpb.br
55
Aprendizagem
significativa
Existe uma aceitação quase universal do
enunciado de que o conhecimento é libertador das
potencialidades das pessoas. Estamos nos referindo
ao conhecimento que promove a articulação entre o
ser humano e o seu ambiente, entre ele e seus
semelhantes e consigo próprio. O conhecimento
que promove a autonomia, conecta este ser
humano com o seu meio cultural no que diz
respeito a crenças, valores, sentimentos,
atitudes, etc. E na medida que o
indivíduo é autônomo, a partir
desta sua estrutura de
conhecimentos, ele é capaz de
captar e apreender outras
circunstâncias de conhecimentos
assemelhados e de se apropriar da
Ilustração digitalizada informação, transformando-a em
conhecimento.
CONCEITOS
O Julho de 2003/Junho de 2004
A s pessoas constroem os seus conhe-
cimentos, a partir de uma intenção “Na conhecimento construído e estruturado
idiossincraticamente.
Um aprendente que tenha conheci-
deliberada de fazer articulações entre o
que conhece e a nova informação que pre-
interação entre mentos prévios sobre as características de
tende absorver. Esse tipo de estrutura- o conhecimento mamíferos terrestres usará esses atribu-
ção cognitiva se dá ao longo de toda a novo e o antigo, tos, quando se deparar com novas infor-
vida, através de uma seqüência de even- ambos serão mações sobre mamíferos aquáticos. Esses
tos, única para cada pessoa, configuran- conhecimentos (sangue quente, respiração
do-se, desse modo, como um processo
modificados através do oxigênio gasoso, gestação in-
idiossincrático. Atualmente, esse enten- de uma maneira terna, etc.) auxiliarão a entender o com-
dimento de como se constrói a estrutura específica por portamento dos mamíferos aquáticos e ser-
cognitiva humana chama-se genericamen- cada aprendente...” virão como âncora na aquisição do novo
te de construtivismo. conhecimento. Na interação entre o conhe-
Os grandes precursores do cons- cimento novo e o antigo, ambos serão mo-
trutivismo contemporâneo foram o suíço dificados de uma maneira específica por
Jean Piaget e o russo Lev Vigotski, que ma o significado lógico do material pe- cada aprendente, como consequência de
iniciaram os seus trabalhos na década de dagógico em significado psicológico, à uma estrutura cognitiva peculiar a cada
vinte do século passado. Mas, apenas na medida que esse conteúdo se insere de pessoa. Depois do aprendizado sobre
década de sessenta, com as dificuldades modo peculiar na sua estrutura cogniti- mamíferos aquáticos, o aprendente terá
da teoria comportamentalista de Burrhus va, e cada pessoa tem um modo especí- uma concepção mais inclusiva sobre os
Skinner em dar conta das especificidades fico de fazer essa inserção, o que torna mamíferos, onde antes só existiam os ter-
da aprendizagem humana, as idéias cons- essa atitude um processo idiossincráti- restres. E, por outro lado, ao aprender as
trutivistas passaram a ser utilizadas com co. Quando duas pessoas aprendem sig- características do movimento dos mamífe-
maior ênfase (Pozo - 2002). nificativamente o mesmo conteúdo, elas ros aquáticos, ele saberá que o formato
Na década de 1960, David Au- partilham significados comuns sobre a dos corpos desses animais obedecem às
subel (1980, 2003) propôs a sua Teo- essência deste conteúdo. No entanto, têm mesmas leis da hidrodinâmica, também obe-
ria da aprendizagem significativa, onde opiniões pessoais sobre outros aspectos decidas pelos peixes.
enfatiza a aprendizagem de significados deste material, tendo em vista a cons- A aprendizagem mecânica ou me-
(conceitos) como aquela mais relevante trução peculiar deste conhecimento. morística se dá com a absorção literal e
para seres humanos. Ele ressalta que a A aprendizagem significativa re- não substantiva do novo material. O es-
maior parte da aprendizagem acontece quer um esforço do aprendente em co- forço necessário para esse tipo de apren-
de forma receptiva e, desse modo, a hu- nectar de maneira não arbitrária e não dizagem é muito menor, daí, ele ser tão
manidade tem-se valido para transmitir literal o novo conhecimento com a estru- utilizado quando os alunos se preparam
as informações ao longo das gerações. tura cognitiva existente. É necessária uma para exames escolares. Principalmente
Uma de suas contribuições é marcar cla- atitude proativa, pois numa conexão uma aqueles exames que exigem respostas li-
ramente a distinção entre aprendizagem determinada informação liga-se a um co- terais às suas perguntas e que não exijam
significativa e a aprendizagem mecânica. nhecimento de teor cor-respondente na do aluno uma capacidade de articulação
Existem três requisitos essenciais estrutura cognitiva do aprendiz; e em entre os tópicos do conteúdo em questão.
para a aprendizagem significativa: a ofer- uma conexão não literal a aprendizagem Apesar de custar menos esforço, a apren-
ta de um novo conhecimento estruturado da informação não depende das pala- dizagem memorística é volátil, com um
de maneira lógica; a existência de co- vras específicas que foram usadas na re- grau de retenção baixíssimo na aprendi-
nhecimentos na estrutura cognitiva que cepção da informação. Desse modo, po- zagem de médio e longo prazo.
possibilite a sua conexão com o novo co- demos ter uma aprendizagem receptiva Ausubel (1980, 2003) sugere o
nhecimento; a atitude explícita de apre- significativa em uma sala de aula conven- uso da aprendizagem mecânica quando
ender e conectar o seu conhecimento com cional, onde se usam recursos tradicio- não existirem na estrutura cognitiva do
aquele que pretende absorver. Esses co- nais tais como giz e quadro-negro, quan- aprendente idéias-âncora (subsunçor)
nhecimentos prévios são também chama- do existiram condições de o aprendente que facilitam a conexão entre esta e a
dos de conceitos subsunçores ou concei- transformar significados lógicos de de- nova informação, quando não existirem
tos âncora. Quando se dá a aprendiza- terminado conteúdo potencialmente sig- idéias prévias que possibilitem essa an-
gem significativa, o aprendente transfor- nificativo, em significados psicológicos, em coragem. Em uma dada circunstância, nos

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deparamos com a tarefa de aprender se encaminha para idéias menos inclusi- vam prestes a finalizar o curso universi-
uma seqüência de determinados conteú- vas. Seria começar um estudo sobre ma- tário e nesta caminhada tinham acres-
dos, sem ter tido a oportunidade de míferos de modo geral, com as caracte- centado pouco em suas estruturas cog-
algum conhecimento próximo. Ele suge- rísticas que os definem. No passo seguin- nitivas. Não estamos mencionando uma
re que o conhecimento inicial seja me- te, seriam estudados os mamíferos de universidade qualquer, de um grotão es-
morizado e, a partir desse conhecimen- acordo com o meio em que eles habitam: condido nos confins de alguma região
to absorvido, seja paulatinamente es- seja a terra (homem), a água (golfinho) rude e ignara, mas de uma das mais
truturado o conhecimento sobre o tópi- ou o ar (morcego). Uma outra maneira prestigiadas universidades americanas.
co considerado. Ele, no entanto, criou de propiciar a aprendizagem significati- No fundo, estamos discutindo so-
uma nova alternativa para essa situa- va seria através da reconciliação integra- bre a questão da escolha entre ter ou
ção, ao propor a utilização de organi- tiva, que foi exemplificada anteriormen- ser. Para se ter algo pouco se exige de
zadores prévios. Eles são pontes cogni- te na percepção de semelhanças aparen- energia interna ou emocional, basta se
tivas entre o que aprendente já sabe e temente dissonantes entre mamíferos pagar o preço estipulado. Para ser de
o que pretende saber. É construído com aquáticos e terrestres. determinada maneira é necessária uma
um elevado grau de abstração e inclusi- Joseph Novak (1981), professor estruturação interna, uma disposição de
vidade, de modo a poder se apoiar nos emérito da Universidade de Cornell, se mudança. A grande diferença entre es-
pilares fundamentais da estrutura cog- penitenciou por sua ingenuidade de acre- ses dois estados é que se pode perder o
nitiva do aprendente e, desse modo, fa- ditar que os alunos desta universidade que se tem, mas ninguém tira o que você
cilitar a apreensão de conhecimentos queriam construir a sua própria forma- é. Não existe a necessidade de mudan-
mais específicos com os quais ele está ção, aprendendo significados durante a ças internas na aprendizagem memorís-
se deparando. sua passagem por lá. Depois de uma ava- tica. O conhecimento é absorvido literal-
Ausubel (1980, 2003) indica que liação adequada do assunto, ele concluiu mente, é usado nos exames e, depois, é
a maneira mais natural de aquisição de que eles queriam somente boas notas e o esquecido. Ele não passa a fazer parte
conhecimentos para o ser é através da diploma no final. E, apenas, próximo ao de si, da estrutura cognitiva e da manei-
diferenciação progressiva. É mais fácil término de seus cursos, percebiam ter ra de ser do aluno. Não enriquece a sua
construir o conhecimento, quando se ini- retido muito pouco de conhecimento das maneira de olhar o ambiente que o ro-
cia de uma idéia mais geral e inclusiva e disciplinas que tinham concluído. Esta- deia e os seus semelhantes.

Modelagem e o ensino de Física

A ojeriza que grande contingente de alu-


nos do Curso Médio sente por Física
deve-se em parte à ausência de alternati-
uma existência per si. Não se informa que
as fórmulas são a representação de mode-
los que foram criados para se entender
gravidade terrestre como sendo constan-
te. Quando olhamos em direção à linha do
horizonte (~15kms) a Terra nos parece
vas de aprendizagem apresentadas a esses determinado evento. Esses modelos têm plana. Para altitudes muito menores que o
alunos. Coloca-se a aprendizagem memo- uma região de validade e, além dessa re- raio da Terra (~6400kms) a força da gra-
rística como a única possibilidade existente. gião, eles perdem o sentido, deixam de vidade terrestre pode ser considerada
Na realidade, nem se cogita que existam ser válidos. Desse modo, passam a ser constante. Desse modo, para lançamen-
alternativas. O tipo de aprendizagem de necessários outros modelos para preen- tos de projéteis com um alcance aquém
Física que acontece na maioria das situa- cherem a lacuna. da linha do horizonte e que viajem em
ções pode ser resumida a um monte de Os homens constroem modelos con- baixa altitude, a sua trajetória será de
equações que devem ser misturadas a um ceituais para explicar os fenômenos que os fato uma parábola. Foram reduzindo a
monte de dados e, daí, supostamente sai- intrigam, que os desafiam. Os modelos de quantidade de informações sobre o mo-
rão as respostas aos problemas propostos. sucesso permanecem até que surjam novos delo do lançamento de projéteis até que
Poucos estudantes saem do Curso fatos que não podem ser explicados por ele ficasse muito distante de uma realida-
Médio, ou mesmo da Universidade, com eles, que estão além de seus limites de de mais global. Fora das circunstâncias
uma visão clara sobre Ciência e a sua fun- validade. No Nível Médio, aprendemos que bem específicas, o modelo é inadequado
ção de tentar explicar a Natureza. a trajetória de um projétil lançado obli- e a trajetória do projétil não é mais uma
Em muitas circunstâncias, a Física quamente é uma parábola. Mas não fica parábola. Em raras situações são explici-
é ensinada através de fórmulas que des- claro para os alunos que esse resultado é tadas essas considerações, de modo a
crevem determinado fenômeno. Não se válido apenas quando consideramos a Ter- permitir aos aprendentes uma visão mais
questiona a origem delas que passam a ter ra como uma superfície plana e a força da clara do mundo que os cerca.
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Concepções espontâneas e o ensino de Física

Q uando chega à escola, o aluno já


possui uma concepção empírica
sobre os fenômenos que acontecem à sua
“Costuma-se
não identifica espontaneamente a trajetó-
ria de um projétil como sendo parabóli-
ca. Um exemplo relevante é a represen-
estudar o movimento
volta. Essa construção é apoiada na ob- tação desse fato que acontece nos dese-
servação de como os eventos acontecem. de projéteis nhos animados, sejam nacionais ou impor-
Existe uma grande identificação destes na ausência da tados. Quando lançado obliquamente, ele
conceitos, e a Física aristotélica que per- força de atrito. descreve uma trajetória retilínea até pa-
maneceu vigente até a Idade Média. rar no ponto mais alto da trajetória e,
Uma das características do trabalho de Nessas daí, começa a cair verticalmente. Essa tipo
Aristóteles foi o compromisso entre a con- circunstâncias, de trajetória é aquela preconizada pela
ceituação e a observação experimental. a sua trajetória física medieval usando a teoria do impe-
No entanto, uma das possíveis fragilida- tus e, no entanto, é obtida também se
des do empirismo é não conseguir teori-
será parabólica.” usando a Física newtoniana quando con-
zar além dos fatos específicos que obser- sideramos a força de atrito adequada.
va. Quando analisa o lançamento de pro- Devemos ter em mente que a físi-
jéteis, a Física aristotélica provê um mo- ca newtoniana requer uma grande abs-
delo de movimento adequado para pe- de atrito entre o projétil e a atmosfera, tração (advinda do reducionismo) quan-
queno alcance desse objeto. Newton pro- originada com o seu movimento. A Física do considera o movimento de um projé-
vocou uma reviravolta na compreensão newtoniana é reducionista e, no Ensino til na ausência da força de atrito, que é
do movimento de corpos. Ele entendeu Médio, costuma-se analisar apenas par- um dado presente no nosso cotidiano.
que esse movimento depende de cada cialmente esse tipo de movimento. Cos- No entanto, podemos fazer uma ponte
uma das forças que atuam no corpo as- tuma-se estudar o movimento de projé- cognitiva entre a concepção espontânea
sim como das condições inicias deste teis na ausência da força de atrito. Nes- aristotélica e a Física newtoniana atra-
movimento. Pode-se analisar o efeito e a sas circunstâncias, a sua trajetória será vés de uma animação interativa que pas-
importância da atuação de cada uma das parabólica. Entende-se essa restrição se paulatinamente de um modelo para o
forças, bem como o efeito global da atu- porque a ferramenta matemática neces- outro - com a introdução e aumento gra-
ação de todas elas. sária para a inclusão dessa força, o cál- dativo da intensidade da força de atrito
Quando um projétil se movimen- culo diferencial, só será lecionada na com o ar e, desse modo, facilitar a com-
ta, existem basicamente duas forças atu- universidade. preensão de um modelo aceito pela co-
ando nele: a força gravitacional e a força No entanto, o imaginário popular munidade científica.

Animação interativa e organizador prévio

A animação interativa tem-se confi-


gurado como uma possibilidade al-
vissareira no processo ensino-aprendiza-
exemplo, a grande dificuldade em ex-
por um conteúdo como a propagação de
ondas longitudinais em meios elásticos
12.000 estudantes americanos em cur-
sos de Física nas escolas secundárias,
faculdades e universidades. Ele concluiu
gem de Ciências Naturais de modo ge- (tal como a onda sonora), usando como que antes das aulas de Física os alunos
ral e de Física, de modo particular recurso apenas giz e quadro, em compa- têm crenças errôneas sobre a Mecânica,
(Halloun - 1996; Veit e Teodoro - 2002). ração com a facilidade que esse tópico é que contrariam os conceitos Newtonia-
Uma animação se caracteriza por mos- apresentado através das animações e isso nos. O sucesso no processo ensino-
trar a evolução temporal de um dado pode ser analisado e avaliado na obser- aprendizagem através da modelagem,
evento e se presta de maneira exube- vação das inúmeras animações existen- relatado por Wells et al. (1995), suge-
rante para a exposição de fenômenos que tes na WWW, tais como García (2004), re que essas crenças errôneas dos estu-
se apresentam intrincados para aqueles Fendt (2004), Reddy (2004), Santos e dantes são tratadas de maneira mais efi-
alunos que não têm uma percepção visu- Tavares (2004). ciente, usando-se as animações pedagó-
al aguçada ou uma capacidade de abs- Hestenes (1996) analisou um es- gicas. E desse modo o aproveitamento
tração sofisticada. Podemos citar, como tudo sobre o aproveitamento escolar de escolar, como um todo, será substancial-
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Ilustração digitalizada

mente melhorado devido à elucidação das a animação para atender seus objetivos nômeno físico, estando o conhecimento
crenças mencionadas e com a presença gerais ou específicos, com a apresenta- amparado nos contextos nos quais os alu-
dos conceitos claramente delineados pelo ção dos reais conceitos, relaciona-mento nos aprendem (Brown et al - 1989; Lave
uso das animações pedagógicas. entre grandezas, gráficos e referências. et al - 1991; Schank et al - 1993/1994),
Mas o que fazer quando não exis- Estas animações interativas enqua- de tal forma que os subsunçores seriam
tem subsunçores disponíveis? Esse é o dram-se no conceito de ferramentas com- modificados e ampliados para apreen-
contexto da maioria dos alunos dos cur- putacionais que são capazes de auxiliar der o novo conhecimento.
sos básicos de Ciências Exatas quando na construção do conhecimento (Veit e Nesta visão, as animações intera-
estão cursando Física Geral II. Vários Teodoro - 2002) e podem ser usadas tivas seriam capazes de exercer a prin-
conteúdos não fazem parte das suas vi- para dar significado ao novo conhecimento cipal função dos organizadores prévios
vências cotidianas e também nunca lhes por interação com significados claros, que, de acordo com Ausubel (1980,
foram apresentados formalmente. Os estáveis e diferenciados previamente 2003), preencheriam o hiato entre aquilo
tópicos Gravitação, Fluidos, Ondas em existentes na estrutura cognitiva do que o aprendiz já conhece e o que preci-
Meios Elásticos e Termodinâmica com- aprendiz (Moreira - 1999). sa conhecer antes de poder aprender
põem o conteúdo desse curso, e pratica- Com as animações interativas, significativamente a tarefa com que se
mente, na sua totalidade, se enquadram podem-se criar uma representação real defronta, permitindo oferecer uma arma-
como assuntos estranhos, nunca traba- ou ideacional de um fenômeno físico e ção ideativa para a incorporação estável
lhados. Os alunos do Nível Médio pas- apresentar aos alunos as características e retenção do material mais detalhado e
sam por situação equivalente quando se do fenômeno para a observação. Além diferenciado que se segue no texto a
deparam com os mesmos conteúdos. de serem sensíveis aos critérios indivi- aprender.
O que fazer? A primeira atitude duais, onde o aprendiz pode agir na A nossa proposta (Tavares e San-
que se toma para acompanhar um curso modificação das condições iniciais, e ob- tos - 2003; Santos e Tavares - 2003) é
nestas condições é ir memorizando as servar as respostas e relacionar grande- que esse primeiro contato se dê através
partes iniciais até que o seu conteúdo zas e outros atributos pertinentes ao fe- das animações interativas. Nós identifi-
seja absorvido, incorporado meio na for- camos uma animação interativa como um
ça, de modo abrupto, na concepção da organizador prévio. O aluno tem o con-
aprendizagem mecânica apontada por
Ausubel (1980, 2003), com pouca inte-
“Grandezas tato inicial com um conteúdo através de
uma conceituação com um grau de abs-
ração com conceitos relevantes existen- abstratas tração e inclusividade maior que um sim-
tes na estrutura cognitiva. como vetores ples resumo inicial. Grandezas abstra-
A escolha de um organizador pré- são passíveis tas como vetores são passíveis de uma
vio depende da situação da aprendiza- de uma representação gráfica, que evolui com a
gem, e diversas alternativas foram pro- passagem do tempo. Pode-se represen-
representação
postas (Moreira - 1983). Neste traba- tar a evolução da interação entre duas
lho, a alternativa apresentada é a ani- gráfica, que grandezas vetoriais tal como o esforço
mação interativa, definida como progra- evolui com que duas pessoas fazem para deslocar
ma de computador que simula os fenô- a passagem um objeto. Por outro lado, ela pode faci-
menos físicos modelados matematicamen- do tempo.” litar a mudança conceitual dos alunos que
te em que o aprendiz poderá, através construíram a sua visão de mundo usan-
da ação, trocar significados e modificar do a física aristotélica.
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Conclusões

U ma animação interativa usa em sua


construção um modelo aceito pela
comunidade científica para representar
requer um grande desequilíbrio cogniti-
vo, passos intermediários deverão ser in-
troduzidos para a sua redução, facilitan-
ser aprendido.
Usando a animação interativa
como organizador prévio (TAVARES e
um dado evento. Em uma modelagem, a do o processo comunicativo e certamen- SANTOS - 2003; SANTOS e TAVA-
flecha do tempo pode ir e vir; as condi- te a aprendizagem significativa. RES - 2003) em um curso usual de Fí-
ções iniciais podem ser alteradas para Acreditamos que a animação in- sica Geral II oferecido pelo Departa-
dar conta das inúmeras possibilidades ofe- terativa possa ser aplicada com um du- mento de Física/UFPB, nós constata-
recidas para análise. Daí, a ponte entre plo viés. Por um lado ela será o con- mos a facilitação da construção de sig-
as concepções dos alunos e dos profes- traste que possibilitará a radiografia da nificados propiciados pelas animações
sores seguiria a proposta discutida por estrutura cognitiva dos estudantes; por interativas e a conseqüente melhora dos
Kubli (1979) em seu conceito de ensino outro lado, atuará como uma ponte en- resultados obtidos pelos alunos em exa-
reversível. Se a assimilação de um tópico tre o que eles conhecem e o conteúdo a mes conceituais.

B I B L I O G R A F I A
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