Você está na página 1de 8

DA ÉTICA DOS PCNs À ÉTICA DA SALA DE AULA

CAPELA, Rita Josélia da - UERJ1


NAZAR, Terezinha Regina Nogueira - UERJ2

“LIBERDADE, essa palavra que o sonho humano alimenta,


que não há ninguém que explique,
e ninguém que não entenda...”
Cecília Meireles

RESUMO:
Este trabalho tem como objetivo oferecer aos professores da Educação Básica uma abordagem
diferente da desenvolvida na sala de aula tradicional. Abordagem essa, em que os alunos pos-
sam desenvolver seus próprios meios e recursos de aprendizado de valores, descobrindo e vi-
venciando competências e habilidades. Propõe-se uma reflexão a partir da fundamentação teóri-
ca da ética dos PCNs até a prática vivenciada nas salas de aulas, por alunos e professores, para
que o espírito crítico, efetivamente, seja incorporado ao cotidiano dos indivíduos como um “sa-
ber ser” e “saber fazer”. A partir da problematização da realidade que cerca o aluno e o fazer
pedagógico que norteia a prática no cotidiano das salas de aula, buscar-se-á propiciar vivências
que favoreçam o repensar da valorização da dimensão ética, propriamente dita, como uma ên-
fase para além da racionalidade, na sensibilidade e afetividade, na formação para a vida e na
direção da autonomia com responsabilidade. A abordagem da Filosofia proposta está baseada
na superação do senso comum, enquanto interpretação da realidade, mostrando a filosofia co-
mo instrumental crítico para compreensão de si mesmo e do mundo, em seus múltiplos aspec-
tos.
PALAVRAS-CHAVE: Filosofia - Ética - Educação.

ABSTRACT:
The aim of the present work is to offer Basic Education teachers an approach to teaching that
differs from the one developed in the traditional classroom. Through this new approach, the
learning of values is facilitated by the development of the students’ own means and learning

1
Doutora em Filosofia: Filosofia Luso Brasileira pela UGF. Professora Associada da Universidade do Estado
do Rio de Janeiro (UERJ). E-mail: ritacapela@ig.com.br
2
Mestre em Educação: Representações Sociais e Práticas Educativas pela UNESA. Pedagoga da Universi-
dade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). E-mail: terezinhanazar@globo.com
DA ÉTICA DOS PCNs À ÉTICA DA SALA DE AULA 38
resources, discovering and experiencing skills and abilities. The idea is to propose a reflection
from the theoretical foundation of the ethics of the PCNs (Parâmetros Curriculares Nacionais-
National Curricular Parameters) to the classroom praxes of students and teachers, so that the
critical thinking is effectively incorporated into the daily life of individuals as a "knowledge”: self-
knowledge and know-how. From the questioning of reality that surrounds the pupil and the pe-
dagogy that guides the daily routine in the classrooms, we seek to provide experiences that en-
courage the rethinking of the appreciation of the ethical dimension itself as an emphasis beyond
rationality, sensitivity and affectivity in the formation for life, and in the direction of autonomy
with responsibility. The philosophical approach proposed is based on the overcoming of the
common sense as an instance of interpretation of reality, offering Philosophy as a critical in-
strument for the understanding of the self and the world in their multiple aspects.
KEYWORDS: Philosophy - Ethics - Education.

compreenderem melhor o mundo que os


A nova Lei de Diretrizes e Bases – LDB
rodeia”.
– Lei n. 9394/96 (BRASIL, 1996), que regu-
lamenta a educação no Brasil, deixa claro O fazer pedagógico é responsabilidade
que a educação contemporânea é um traba- da escola. Assim sendo, a filosofia e meto-
lho para todos, para que se construa uma dologia, que permeiam sua “práxis”, preci-
sociedade mais justa, onde as diferenças sam estar pautadas nos princípios de liber-
não sejam negadas e sim reconhecidas e dade, nos ideais de solidariedade humana e
valorizadas dentro e fora das escolas. igualdade social para contribuir, efetivamen-
Art.1º. A educação abrange os pro- te, na formação de seres sociais capazes de
cessos formativos que se desenvol- agir e interagir no meio circundante, para o
vem na vida familiar, na convivência exercício da cidadania.
humana, no trabalho, nas institui- Consideramos relevante trazer esta
ções de ensino e pesquisa, nos mo-
questão para a esfera do trabalho docente,
vimentos sociais e organizações da
sociedade civil e nas manifestações
para suscitarmos questões sobre o repensar
culturais. (BRASIL, 1996) o papel dos educadores que circulam no
cotidiano escolar, como orientadores do
processo de ensino e aprendizagem.
A escola, cuja missão é promover a Deste modo, o objetivo da escola, de
educação, muitas vezes reproduz o modelo acordo com a Lei de Diretrizes e Bases e os
das relações da sociedade onde as desi- Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs),
gualdades sociais e o desrespeito às dife- vai além do ensino de conteúdos específi-
renças individuais se fazem presentes. De cos. Visa à formação de cidadãos capazes
acordo com Bossa (2002, p.19), “no Brasil, de se articular em uma sociedade democrá-
a escola torna-se palco cada vez mais de tica.
fracassos e de formação precária, impedin-
do os jovens de se apossarem da herança Levando-se em conta as finalidades do
cultural, dos conhecimentos acumulados Ensino Médio, descritas no artigo 35 da LDB
pela humanidade e, consequentemente, de 9034/96, destacamos os incisos III e IV:
DA ÉTICA DOS PCNs À ÉTICA DA SALA DE AULA 39
III - O aprimoramento do educando que somente uma experiência pedagógica
como pessoa humana, incluindo a formação capaz de buscar, no interior da própria crise,
ética e o desenvolvimento da autonomia soluções criativas que façam sentido para
intelectual e do pensamento crítico; todos os envolvidos no processo vivenciado
pelos diferentes atores sociais que circulam
IV - A compreensão dos fundamentos
no ambiente escola, pode ser considerada
científicos - tecnológicos dos processos pro-
eficaz.
dutivos, relacionando a teoria com a prática,
no ensino de cada disciplina. Neste contexto, acreditamos que a re-
tomada de cada ser humano, enquanto a-
gente da História e de sua própria história,
A análise destes incisos nos permite tendo como fim a vida comum, precisa ser
afirmar que a formação deste cidadão, en- vivenciada de modo integral e não mais
tendido como pessoa capaz de fazer confluir fragmentada e para tal, se torna fundamen-
a verdade, o bem e o belo, está relacionada tal estimular na escola experiências com o
ao ensino da Filosofia. Parece que voltamos conhecimento que favoreçam a tomada de
ao ideal grego de redundância do belo à consciência deste processo.
verdade bem aplicada.
A valorização da dimensão ética, pro-
priamente dita, pode ser compreendida co-
mo uma ênfase para além da racionalidade,
“Os conhecimentos nos
dão meios para viver. na sensibilidade e afetividade, na formação
A sabedoria nos dá do educando para a vida e na direção da
razões para viver.” autonomia com responsabilidade. Faz-se
Rubem Alves necessário que o ser humano construa criti-
camente seus significados, para uma exis-
tência mais justa e feliz, tendo cada vez
mais uma vivência concreta e plena de sen-
tido, a partir dos conhecimentos adquiridos.
Contudo, acreditamos que ideias somente
não conduzem o ser humano na direção de
Fig. 1: Conhecimento x Sabedoria uma cultura de paz, mas sim uma disponibi-
lidade interna que pode ser fomentada, le-
vando em conta a sensibilidade, a criativi-
Entretanto, sabemos que, na socieda- dade e a racionalidade vivenciadas inte-
de contemporânea, a crise de paradigmas gralmente nas relações (consigo mesmo,
que [des] orienta a existência humana, o interpessoais, com o conhecimento, com a
estado de injustiça social e os problemas natureza).
ambientais, enquanto fruto de certo modo
humano ocidental de produzir cultura, de se Entendemos ser necessário problema-
apropriar de sua história e ocupar o espaço tizar a realidade que cerca o nosso aluno
terrestre, estão presentes no cotidiano dos adolescente, pois vivemos uma época onde
seres humanos e sociais, que agem e inte- se fala muito em falta de valores e imaturi-
ragem em diferentes ambientes. Conse- dade destes adolescentes. Entretanto, muito
quentemente, também chegam às escolas, além do apontar tais deficiências, torna-se
uma vez que estas reproduzem o modelo importante mostrar como estes adolescen-
desta sociedade, o que nos faz considerar tes poderiam intuir um mergulho ao seu

DA ÉTICA DOS PCNs À ÉTICA DA SALA DE AULA 40


redor, permitindo uma interlocução deste objetivo em si mesmo, mas um meio para
ser humano-aluno com o mundo, que co- se conseguir outras finalidades de maior
meçaria com ele mesmo, a partir da com- importância: melhorar a qualidade e a e-
preensão de seus limites, da sua finitude e quidade na educação.
capacidade de transcendência, do conheci-
mento de suas necessidades de amor, res-
Compreendemos a escola como facili-
peito e compreensão.
tadora do processo de construção do conhe-
Consideramos, também, que os fins cimento para a vida e da formação do sujei-
da educação e da escola merecem ser exa- to humano e do cidadão. Sabemos que mo-
minados na perspectiva do homem como delos prontos não existem, ou seja, as teo-
um ser no mundo, que se situa socialmente rias sobre educação e suas práticas pedagó-
e historicamente e vive numa relação consti- gicas não fornecem aos professores manu-
tuinte de si mesmo, consigo mesmo, com as ais de instruções sobre o fazer pedagógico.
coisas, com os outros e com o mundo. Hoje, muito se fala em práticas pedagógicas
Os PCNs do Ensino Médio trazem, co- neste espaço, e muitos significados estão
mo proposta, uma nova escola, com uma associados a esta expressão, comumente
reorganização curricular em áreas de conhe- quando discutimos este fazer pedagógico,
cimento onde as diferentes disciplinas se competência do professor. Assim sendo,
organizam e se articulam no interior de cada definimos práticas pedagógicas como o con-
uma das áreas e no conjunto delas. O Ensi- junto de ações, reflexões e procedimentos
no Médio perde sua antiga característica de intencionais e educativos que se formalizam
preparatório para o ensino superior ou pro- na instituição escola, tendo como objetivo
fissionalizante e assume um papel de termi- favorecer a construção de conhecimentos,
nalidade, pois passa a ser a etapa final da conceitos e valores dos alunos com a inter-
educação básica, onde o aluno será “sujeito mediação dos professores.
produtor de conhecimento e participante do A educação ainda não está no rumo
mundo do trabalho” (PARÂMETROS certo, falta a visão da necessidade de educar
CURRICULARES NACIONAIS, 1999, p. 20). a sensibilidade, uma educação da
Os princípios e fins explicitados na Lei sensibilidade é uma educação voltada para
de Diretrizes e Bases para a Educação Na- valores éticos - morais, estéticos, políticos,
cional exigem uma reforma curricular no espirituais e democráticos. Educar para os
Ensino Médio para esta nova escola e im- tempos da pós-modernidade significa
põem a formulação de uma proposta peda- priorizar uma educação capaz de estimular
gógica própria, onde habilidades e compe- a reflexão e a crítica, de forma que nossos
tências sejam desenvolvidas, dando continu- jovens alunos saibam, efetivamente, como
idade ao processo de aquisição de conheci- cultivar a ética, a transcendência, a
mentos adquiridos pelos seus diferentes cooperação, a solidariedade e o respeito à
sujeitos. Segundo Marchesi (2006, p. 165) vida.
existe
um amplo consenso no âmbito educacio-
nal de que atribuir às escolas maior capa-
cidade de iniciativa e de decisão própria é
um fator que contribui para melhorar a
qualidade do ensino. É necessário lembrar
que a autonomia das escolas não é um
DA ÉTICA DOS PCNs À ÉTICA DA SALA DE AULA 41
se informar, se comunicar, argu-
mentar, compreender e agir, en-
frentar problemas de qualquer na-
tureza, participar socialmente, de
forma prática e solidária, ser capaz
de elaborar críticas ou propostas e,
especialmente, adquirir uma atitude
de permanente aprendizado.

Tendo em vista que “Filosofar” é um


Fig. 2: Que Ética é esta? fazer intrínseco ao ser humano, propomos
discutir com os professores/educadores co-
mo transformar os questionamentos dos
Diante do cenário delineado, conside- estudantes e os nossos próprios questiona-
ramos o diálogo fundamental para as rela- mentos em matéria-prima no cotidiano das
ções que se estabelecem na escola e nas salas de aula. É sabido que a Filosofia habi-
salas de aula entre alunos e professores, ta a vida de todos nós e, assim sendo, nos-
uma vez que entendemos que ambos serão sas ações, nossa conduta, nossas indaga-
aprendizes neste cotidiano escolar, parti- ções e angústias passam a ser objetos privi-
lhando e compartilhando cada nova experi- legiados das discussões filosóficas, mais
ência vivenciada e ampliando saberes. particularmente, de questionamentos éticos.
Segundo Tardif, a afinidade do educa-
dor com os saberes não é limitada a um
papel de difusão de conhecimentos estabe-
lecidos, pois, para ele, a prática do profes-
sor agrega diferentes saberes e mantém
diferentes relações com eles. Para o autor, a
epistemologia da prática profissional é “o
estudo do conjunto dos saberes utilizado
realmente pelos profissionais em seu espaço “A educação se divide em duas partes:
de trabalho cotidiano para desempenhar educação das habilidades
todas as suas tarefas” (TARDIF, 2002, p. e educação das sensibilidades...”
10). Isto quer dizer que a noção de “saber”
junta informações científicas, capacidade,
aptidão e os modos de agir no chamado Fig. 3: Educação: para que e por quê?
saber fazer e saber ser. A partir do pressuposto de que uma
Encontramos, nas orientações com- única definição de Filosofia estaria limitando
plementares aos PCNs (2002, p. 09), que os o seu campo de ação, ou estaria lhe confe-
saberes dos alunos devem ser rindo especificidade incorreta, optamos por
descrevê-la e abordá-la como um instru-
mais do que reproduzir dados, de- mento de análise, reflexão e crítica, que
nominar classificações ou identificar
busca, por meio de diferentes leituras
símbolos, estar formado para a vi-
da, num mundo como o atual, de
(perspectivas filosóficas), fundamentar e dar
tão rápidas transformações e de tão sentido à realidade, em seus múltiplos as-
difíceis contradições, significa saber pectos, quer sejam científicos, culturais,

DA ÉTICA DOS PCNs À ÉTICA DA SALA DE AULA 42


políticos ou históricos, conduzindo o aluno, bases não relativistas.
no sentido de desenvolver um pensamento
O objetivo de nosso trabalho é favore-
crítico e autônomo diante de tal realidade.
cer um repensar sobre as práticas pedagó-
Nesse sentido, a abordagem da Filoso- gicas no cotidiano das salas de aula, onde
fia, que este programa propõe, está basea- os professores da Educação Básica, através
da na superação do senso comum, enquan- dos saberes docentes, transformem o espa-
to interpretação da realidade, mostrando a ço da sala de aula tradicional num espaço
filosofia como instrumental crítico para diferente, onde os alunos possam desenvol-
compreensão de si mesmo e do mundo, em ver seus próprios meios e recursos de a-
seus múltiplos aspectos, representados a- prendizado de valores, descobrindo e viven-
través das diversas temáticas abordadas. ciando competências e habilidades.
Utilizaremos, para nossas reflexões
acerca de ética e moral, as palavras empre-
gadas pelo professor Adolfo Sánchez Vás-
quez (2008, p. 12):
Não se podem confundir a ética e a
moral. A ética não cria a moral.
Conquanto seja certo que toda mo-
ral supõe determinados princípios,
normas ou regras de comportamen- “Sem a educação das sensibilidades,
to, não é a ética que os estabelece todas as habilidades
são tolas e sem sentido.”
numa determinada comunidade. A
Rubem Alves
ética depara com uma experiência
histórico-social no terreno da moral,
ou seja, como uma série de práticas Fig. 4: Competências filosóficas
morais já em vigor e, partindo de-
las, procura determinar a essência
da moral, sua origem, as condições Tomando por base a afirmativa de que
objetivas e subjetivas do ato moral, o homem é o único ser ético, realizaremos
as fontes da avaliação moral, a na- um trabalho de exercício das competências
tureza e a função dos juízos morais, filosóficas, a partir da leitura e discussão
os critérios de justificação destes ju- dos principais conceitos éticos, para elucidar
ízos e o princípio que rege a mu- o papel do homem e desenvolver no partici-
dança e a sucessão de diferentes
pante uma compreensão melhor de si mes-
sistemas morais […]. A ética não é
mo, enquanto ser integral, social, agente da
a moral e, portanto, não pode ser
reduzida a um conjunto de normas história e de sua própria história e de suas
e prescrições; sua missão é explicar possibilidades criativas, a partir do foco no
a moral efetiva e, neste sentido, processo de conhecimento da ética e nas
pode influir na própria moral. relações que se estabelecem, tanto na di-
mensão prática do cotidiano, quanto na di-
mensão de salas de aula.
Assim sendo, enquanto moral é o con-
Em outras palavras, se a ética exige
junto de ‘valores’ preservados numa deter-
um sujeito autônomo, a ideia do dever não
minada cultura, podendo ser, portanto, rela-
introduz a heteronomia, isto é, o domínio da
tiva a uma cultura e não a outras, a ética é
vontade e da consciência humana por um
a determinação de fundamentar a ação em
DA ÉTICA DOS PCNs À ÉTICA DA SALA DE AULA 43
poder estranho ao homem, mas sim a auto- to, nem renunciar a instrui-lo, nem
nomia, no saber decidir e fazer na sua rela- abdicar dos objetivos essenciais.
ção com o outro.
Cartolano (1998, p.30) apud Rodri- Diante desta contextualização, propo-
gues (2006), afirma a importância de uma mos o desenvolvimento de uma práxis dife-
formação de professores onde haja com- rente para professores e estudantes do En-
prometimento com a função social de edu- sino Médio. Práxis esta que exigirá um fazer
car todos os alunos, pois “os educadores de pedagógico diferenciado, que hoje pouco se
hoje não podem esquivar-se dessa realidade observa nas nossas salas de aula, que in-
social e, muito menos, perder de vista a vestem, ainda, no antigo modelo tradicional
viabilidade histórica de um projeto de trans- do professor como “dono do saber”. Este
formação do real”. novo fazer pedagógico é diferenciado, uma
Partindo da premissa de que o profes- vez que contemplará todos os sujeitos no
sor é aquele que ensina alguma coisa a al- processo de ensino e aprendizagem, inde-
guém, os saberes docentes constituem-se pendentemente dos papéis que exercem,
como essenciais para as atividades docentes para que dialoguem através da teoria e prá-
e fundamentais para a configuração da i- tica.
dentidade profissional do educador. O tema Enquanto componente curricular no
saberes docentes tem sido foco de muitos Ensino Médio, o ensino da Filosofia tem co-
pesquisadores, nos últimos anos, que bus- mo objetivo formar educandos que demons-
cam conhecer de que forma são apropria- trem o domínio dos conhecimentos de Filo-
dos, modificados e mobilizados na prática sofia necessários ao exercício da cidadania.
pedagógica dos professores. Os estudos Assim sendo, o compromisso e o diálogo
consideram que a constituição desses sabe- com o aluno se tornam fundamentais para o
res é o ponto de partida dos projetos de “ensinar a aprender”. O jovem deixa de ser
formação dos educadores, valorizando-os apenas espectador na sala de aula e passa a
como produtores de saberes (ZIBETTI; ser sujeito ativo no seu processo de apren-
SOUZA, 2007). dizagem.
Tardif define o saber docente “[...] No ensino da Filosofia, dialogar entre
Como um saber plural, formado pelo amál- teoria e prática, nas salas de aula, implica
gama, mais ou menos coerente, de saberes que as informações conceituais sobre a ética
oriundos da formação profissional e de sa- e a moral se articulem e complementem,
beres disciplinares, curriculares e experiên- através da sua aplicabilidade, em discussões
cias” (TARDIF apud ALMEIDA, 2007, p. 36). de vivências do dia a dia e de outros recur-
Para Perrenoud (2001, p.19) é impor- sos, tais como filmes paradidáticos, livros,
tante charges, notícias em divulgadas pela mídia
etc.
fazer que cada aprendiz vivencie,
tão frequentemente quanto possí- Cabe ao professor levar para as salas
vel, situações fecundas de aprendi- de aula atividades capazes de favorecer
zagem. Para executar essa ideia tão aprendizagens significativas. Cada aprendiz,
simples é preciso mudar profunda- respeitando sua individualidade e as diversi-
mente a escola. Acrescentemos de dades sociais, deverá efetivamente construir
imediato que adaptar a ação peda-
conhecimentos, saberes para a vida, para
gógica ao aprendiz não é, no entan-
que seja um indivíduo participativo em sua
DA ÉTICA DOS PCNs À ÉTICA DA SALA DE AULA 44
comunidade, consciente da sua responsabi- Parâmetros Curriculares Nacionais.
lidade na construção de uma sociedade Brasília: MEC, SEMTEC, 2002.
mais justa e um mundo de paz.
CHAUÍ, M. Convite à Filosofia. São Paulo:
Entendemos que é preciso repensar a Ática, 2006.
escola e a prática dentro das nossas salas
MARCHESI, A. O que será de nós, os
de aula, para atendermos às demandas im-
maus alunos? Trad. Ernani Rosa. Porto
postas pela sociedade contemporânea, onde
Alegre: Artmed, 2006.
os avanços tecnológicos provocam trans-
formações numa velocidade cada vez maior. OLIVEIRA, M. A. Correntes Fundamen-
A escola e consequentemente suas salas de tais da Ética Contemporânea. Petrópolis:
aula precisam assumir uma pedagogia da Ed. Vozes, 2001.
autonomia capaz de transformar o cotidiano PERRENOUD, P. Pedagogia diferenciada:
escolar dando-lhe o dinamismo do mundo das intenções à ação. Porto Alegre: Artmed,
atual. 2001.
RODRIGUES, D. (Org.). Inclusão e educa-
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: ção: doze olhares sobre a educação inclusi-
va. São Paulo: Summus, 2006.
ALVES, R. Educação das sensibilidades.
Disponível em: entrecanetaeopa- SOUZA, A. B. Ética e Cidadania na Edu-
pel.blogspot.com/2010/01/educação-das- cação. Rio de Janeiro: Paulos, 2010.
sensibilidades.html. Acesso: 30 agosto TARDIF, M. Saberes docentes e forma-
2011. ção profissional. Petrópolis: Vozes, 2002.
ARANHA, Maria Lúcia Arruda. Filosofando: VÁSQUES, A. S. Ética. Rio de Janeiro: Civili-
introdução à Filosofia. 4ª ed. rev. São Paulo: zação Brasileira, 2008.
Moderna, 2009.
ZIBETTI, T.; SOUZA, M.L.R. et al. Apropri-
BOSSA, N.A. Fracasso Escolar: um ação e mobilização de saberes na prá-
olhar psicopedagógico. Porto Ale- tica pedagógica: contribuição para a
gre: Artemed, 2002. formação de professores. Educação e
BRASIL. Lei n 9394, de 20 de dezembro de Pesquisa. 2007. n. 33 (maio-agosto) Dispo-
1996. Estabelece as diretrizes e bases da nível em:
educação nacional. Diário Oficial [da] <http://redalyc.uaemex.mx/redalyc/src/inici
República Federativa do Brasil, Brasília, o/ArtPdfRed.jsp?iCve=29833205> ISSN
DF. 23 dez. 1996. Cortesia da Editora do 1517-9702. Acesso em: 20 janeiro 2011.
Brasil.
_______. Ministério da Educação, Secretaria
de Educação Média e Tecnológica. Parâme-
tros curriculares nacionais: ensino mé-
dio. Brasília: Ministério da Educação, 1999.
_______. Ciências Humanas e suas tecnolo-
gias. Secretaria de Educação Média e Tec-
nológica. PCN + Ensino Médio: Orienta-
ções Educacionais complementares aos

DA ÉTICA DOS PCNs À ÉTICA DA SALA DE AULA 45

Você também pode gostar