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LINGUAGENS

LÍNGUA INGLESA
ENSINO FUNDAMENTAL

2023
PALAVRA DO PREFEITO MUNICIPAL
Este currículo é o resultado do estudo, conhecimento e trabalho realizado pela
equipe da Secretaria da Educação de Araras que contou com a participação de todos
os segmentos na elaboração das adequações do Currículo Municipal sempre
pautadas na Base Nacional Comum Curricular – BNCC e no Currículo Paulista.

A teoria aliada à prática na busca pela equidade e qualidade de ensino nos


mostram que o currículo não é uma simples seleção de objetivos, competências,
habilidades e conteúdo a serem desenvolvidos na sala de aula, mas também o
embasamento teórico que estrutura a prática que acontece dentro de cada sala de
aula de cada escola de nosso município.

Nesta versão do currículo municipal trazemos o grande desafio de promover o


protagonismo da criança, do jovem e do adulto colocando-os no centro do processo
de ensino e aprendizagem promovendo o desenvolvimento não só das habilidades
cognitivas, mas também das habilidades socioemocionais, preparando cidadãos
conscientes de seus direitos e deveres e que respeite o seu próximo.

Que possamos juntos continuar acreditando que é possível termos uma


educação de qualidade que possibilite a realização dos sonhos de nossos alunos e a
construção de uma sociedade justa e igualitária.

Pedro Eliseu Filho


PALAVRA DA SECRETÁRIA DE EDUCAÇÃO
Neste momento tão adverso, porém vindouro, pelo qual estamos passando, no
cumprimento de minha missão enquanto educadora e no exercício do cargo de
Secretária da Educação venho apresentar a toda sociedade e comunidade escolar o
Currículo Municipal da cidade de Araras/SP. Muitos foram os desafios superados e
aprendizados adquiridos no decorrer deste caminho, muitas também foram as alegrias
encontradas e as demandas superadas.

Hoje com o trabalho finalizado, é unânime o sentimento de realização e singular


satisfação no sentido de auxiliar a promover a qualidade educacional e equidade que a
sociedade brasileira tanto espera por parte de seus educadores.

O presente currículo vem no sentido de mostrar caminhos e nortear situações de


modo a garantir o conjunto de aprendizagens essenciais aos alunos, assim como seu
desenvolvimento integral apoiando as escolhas necessárias para a concretização de

seus projetos de vida.

O momento pede também gratidão. Gratidão a todos os envolvidos neste trabalho


tão importante para a educação em nosso município, para isso cito sem distinção toda
a Rede Municipal de Ensino de Araras.

Educar é abrir estradas, construir sonhos, levantar pontes, eis aqui então mais um
nobre material para nossa jornada: O Currículo da Educação Básica do Município de
Araras - SP, que seja ele também o norte e alicerce para nossas futuras gerações.

Heleine Cristina Villas Bôas Francisco


INTRODUÇÃO 1

PRINCÍPIOS DA EDUCAÇÃO CONTEMPORÂNEA 2

METAS DE COMPROMISSO COM A EDUCAÇÃO MUNICIPAL 3


OS MARCOS HISTÓRICOS DA EDUCAÇÃO DO MUNICÍPIO
5
A FORMAÇÃO DA CIDADE E SEU POVO
13
OS MARCOS HISTÓRICOS DO CURRÍCULO
26
OS MARCOS LEGAIS QUE EMBASAM O CURRÍCULO
29
AS METAS DO PLANO NACIONAL DE EDUCAÇÃO
33
CONCEPÇÃO DE SUJEITO
36
OS FUNDAMENTOS PEDAGÓGICOS QUE NORTEIAM O CURRÍCULO
38
O COMPROMISSO DO CURRÍCULO COM A EDUCAÇÃO INTEGRAL
41
AS COMPETÊNCIAS NO PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM
44
A CONCEPÇÃO TEÓRICA DE ENSINO E APRENDIZAGEM QUE
CONDUZEM O CURRÍCULO 47
AS CONDIÇÕES DE APRENDIZAGEM CONCEBIDAS PELO
CURRÍCULO 49
ESTRATÉGIAS DE APRENDIZAGEM
51
MULTIDISCIPLINARIDADE, INTERDISCIPLINARIDADE E
TRANDISCIPLINARIDADE 53
AS TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÕES NO
PROCESSO DE APRENDIZAGEM 58
AVALIAÇÃO DE APRENDIZAGEM
61
EDUCAÇÃO MEDIADA POR ANIMAIS NO PROCESSO DE
68
APRENDIZAGEM
EDUCAÇÃO ESPECIAL E INCLUSIVA
71

ENSINO FUNDAMENTAL
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LÍNGUA INGLESA
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INTRODUÇÃO

A
tarefa da educação é escolas, instituições sociais e políticas. A
mostrar que os interesses sociedade contemporânea impera, hoje, o
individuais só podem ser desenvolvimento da Educação Integral, um
plenamente realizados por meio dos olhar inovador e inclusivo, e questões
interesses sociais. A educação, no sobre o processo de aprendizagem: o que
processo de socialização do indivíduo, aprender, para que aprender, como
mostra-lhe assim que o homem não pode ensinar, como promover a aprendizagem e
existir sozinho, mas que só pode realizar as como avaliar o aprendizado.
suas potencialidades em contato com o
Portanto, o objetivo deste documento
seu meio social. A educação existe quando
é promover a educação escolar pública
alguém transmite e assegura aos outros o
alcançando a qualidade social de cada
conhecimento das crenças, técnicas e
aluno, garantir sistematicamente a
hábitos que um grupo social adquiriu com a
propriedade do conhecimento acumulado
experiência de sua existência. Nesse
pela humanidade, desenvolvimento de
sentido, a educação surgiu quando o ser
habilidades na sua pluralidade, contribuir
humano sentiu a necessidade de traduzir
para o desenvolvimento de temas
suas práticas cotidianas para seus
históricos e sociais, uma visão coesa sobre
semelhantes.
o mundo que nos rodeia, ser consistente,
Os interesses da sociedade atual, resolver conflitos pessoais e coletivos,
munida de grandes informações por todo basear-se em valores morais, facilitar e
lado, é mobilizar as informações por oportunizar que haja construção coletiva,
competências e, sobretudo, participar ativamente dos processos
socioemocionais para lidar com os reais culturais da sociedade para mantê-la e/ou
desafios da vida. Dessa forma, a educação transformá-la, consciente, crítica, criativa e
é entendida como uma prática libertadora responsavelmente. Com essas
que desperta a capacidade de considerações, a proposta deste
humanização do sujeito, trabalhando com documento baseia-se nos seguintes
olhares compartilhados para transformar princípios:

1
PRINCÍPIOS DA EDUCAÇÃO CONTEMPORÂNEA
ÉTICOS POLÍTICOS

De justiça, solidariedade, liberdade e De reconhecimento dos direitos e


autonomia; de respeito à dignidade da deveres de cidadania, de respeito ao bem
pessoa humana e de compromisso com a comum e à preservação do regime
promoção do bem de todos, contribuindo democrático e dos recursos ambientais; de
para combater e eliminar quaisquer busca da equidade no acesso à educação, à
manifestações de preconceito e saúde, ao trabalho, aos bens culturais e
discriminação. outros benefícios; de exigência de
diversidade de tratamento para assegurar a
igualdade de direitos entre os alunos que
apresentam diferentes necessidades; de
redução da pobreza e das desigualdades
sociais e regionais.

ESTÉTICOS EDUCAÇÃO INTEGRAL

De cultivo da sensibilidade juntamente A sua finalidade fundamental é


com o da racionalidade; de enriquecimento promover o desenvolvimento integral dos
das formas de expressão e do exercício da alunos, tendo em conta as suas dimensões
criatividade; de valorização das diferentes Intelectual, social, emocional, físico e
manifestações culturais, especialmente as cultural.
da cultura brasileira; de construção de
identidades plurais e solidárias

EDUCAÇÃO INCLUSIVA

Reconhecer a forma de ser, pensar e aprender de cada aluno, respeitando e


valorizando a diversidade e a diferença. Assim, propondo desafios adequados às suas
características biopsicossociais, apostando no seu potencial de crescimento e pautando-
se por uma perspetiva educativa inclusiva, pluralista e democrática.

EQUIDADE

Reconhecer as diferenças dos indivíduos e entender que grupos específicos partem de


lugares diferentes na sociedade, cada qual com sua necessidade única. Ao atender as
necessidade de todos, cria-se situação de oportunidades reais.

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Entre as metas de compromisso
educacional com este documento, pode-se
destacar:
• desenvolver alunos críticos sobre quem são, o que
aprendem e para que aprendem;

• fortalecer os laços entre os pais, alunos e equipe escolar,


com diálogo de respeito e compreensão sobre as
diversidades e dificuldades por que cada passa para
promover a colaboração e empatia;

• compreender a escola como espaço de educação holística e


conhecimento científico;

• desenvolver, nos alunos, a compreensão do conhecimento


histórico e pensamento crítico integrados à cultura digital e do
conhecimento, sabendo argumentar e reconhecer direitos e
deveres legais para atuação responsável e cidadã;

• promover a autoconfiança e valorização da autoimagem com


autoconhecimento e autocuidado;

• criar apreço e respeito ao meio ambiente e à vida animal;


gerar competências comunicativas para as diversas
linguagens e ampliação do repertório cultural.

3
Este documento não pode ser visto como permanente, pelo contrário, deve ser vivo e
sempre discutido em colaboração de toda a comunidade educativa, enfatizando sempre as
características de relevante, contemporâneo, colaborativo e contínuo. O foco do documento
é o aluno, seu desenvolvimento holístico como agente transformador de sua comunidade em
que vive. A escola, para isso, deve cumprir seu papel de desenvolver sujeitos
transformadores a partir da ótica de observar as pessoas no processo de aprendizagem não
como mero alunos, mas como sujeitos, ou seja, indivíduos que possuem história; vivenciam,
consomem e produz cultura; participa ativamente de sua comunidade; têm seus interesses,
anseios e medos; está constantemente em processo de construção de identidade e
conhecimento de mundo e si mesmo.

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OS MARCOS HISTÓRICOS DA EDUCAÇÃO
DO MUNICÍPIO

P
ara compreender o desenvolvimento da cidade, seu ritmo, sua formação
demográfica e suas aspirações para o evidenciamento da educação, é
necessário voltar para os fatos históricos constituintes na sua formação desde
sua emancipação. Assim, o conhecimento sobre a origem dos nomes das escolas é uma volta
reflexiva ao passado para compreender o papel monumental e patrimonial dos prédios e
comunidade escolar. Todas essas informações são relevantes para o desenvolvimento
integral das comunidades escolares na construção de sujeito pertencente e resultado de uma
história dela derivada. Para tanto, referenciam-se os trabalhos dos professores e
historiadores ararenses Alcyr Matthiesen, Fábio Cressoni, autores consagrados sobre a
história de Araras.

Fonte: Alcyr Matthiesen

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Sobre as escolas do século passado, entre a virada do século até 1940, podemos fazer
citações a existência destas escolas:

As escolas primárias municipais, equivalente aos anos iniciais do Ensino Fundamental,


eram sete, com um total de 200 alunos:

Escola Municipal, anexa ao grupo escolar


Escola Noturna Municipal
Escola Mista Municipal Boa Vista (rural)
Escola Mista Muncipal Fazenda Santana
Escola Mista Municipal de Maniçoba
Escola Mista Municipal do Bairro Pederneiras
Escola de Alfabetização Santa Terezinha

Dentre as escolas estaduais:

Grupo Escolar “Coronel Justiniano Whitaker de Oliveira” (inaugurada em 1902)


Grupo Escolar “São Bento” (na zona rural, na Estação de São Bento).

Escolas privadas:

Colégio Nossa Senhora Auxiliadora (inaugurado em 1895)


Asilo Santo Antônio (com curso de alfabetização para as internas, inaugurado em
1929)

Colégio Nossa
Senhora
Auxiliadora

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A educação primária, obrigatório professoras podiam lecionar para ambos
para crianças de 7 a 12 anos, gratuito nas os sexos, mas os homens somente para os
escolas públicas, era oferecida em quatro meninos. As mulheres eram donas de
ou cinco anos e tem um currículo casa, ou seja, passaram a exercer
enciclopédico em que as disciplinas atividades domésticas que nunca foram
proporcionaram no que se concebia, à consideradas profissão: costurar, cozinhar,
época, de educação integral, que institui limpar, lavar a casa, passar e consertar
os valores físicos, intelectuais e morais. roupas, criar os filhos e cuidar dos maridos.
Prevê a utilização de métodos intuitivos
Os Grupos Escolares foram
utilizando diversos materiais didáticos,
criados pela primeira vez no estado de São
laboratórios e museus. Os alunos são
Paulo, em 1893, com a proposta de reunir
obrigados a ser rigorosamente
escolas isoladas agrupadas por
disciplinados, com atenção à diligência,
proximidade. Foram responsáveis por um
limpeza, ordem e obediência. Era
novo modelo de organização escolar no
tradicional haver os exames finais, as
início da República, que reunia as
exposições escolares, as datas cívicas e as
principais características das de um
festas de encerramento do ano letivo.
modelo utilizado em vários países da
Escola Mista era o termo usado para Europa e dos Estados Unidos no final do
designar às escolas onde as meninas século XIX para popularizar a educação. O
poderiam estudar junto com os meninos, Grupo Escolar é uma escola eficiente na
uma forma de trabalhar a diversidade e seleção e restrita no desenvolvimento da
inclusão de gênero à época, que estava em elite. A questão da educação de massa e
pauta crescente no mundo todo. As mais popular surgiu apenas na Reforma
Paulista de 1920.

Os professores do ensino primário tinham uma das profissões mais respeitadas da


sociedade. A formação iniciava nas chamadas Escolas Normais, onde ficava fora da cidade,
fazendo que os rapazes e “moças de família” precisassem residir fora. Depois, voltavam para
a cidade para fazer o Magistério Primário. Nele, formaram-se os professores Adalgisa Perin
Balestro Franzini, Dirçon Kammer, Judith Ferrão Legaspe, Vicente Casale Padovani e muitos
outros.

Em 1934, funda-se, em Araras, o Ginásio do Estado. O ingresso ao Ginásio era bem


árduo e dificultoso à época. Depois de formado no Grupo Escolar, o aluno teria que fazer um

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ano de Preparatório para conseguir o Padovani.
ingresso ao Ginásio pelo Exame de
O Ginásio do Estado Doutor Cesário
Admissão, que ocorria no Brasil todo,
Coimbra ficou provisoriamente no antigo
similar ao ENEM de hoje. Quem não
prédio da Sociedade Italiana, onde hoje
passasse no exame, ficaria de 2ª Época, ou
fica o banco Caixa Econômica Federal,
seja, teria uma segunda chance. Caso não
mas, depois, instalou-se no prédio onde
fosse novamente aprovado, teria que
hoje é a E.E. Ignácio Zurita Júnior, na Praça
tentar só no ano seguinte. Uma das
Barão de Araras. Entre os livros didáticos,
pessoas que mantinha um Curso
havia aqueles de Latim, Português,
Preparatório para o Ginásio era o professor
Francês, Aritmética, História e Geografia.
Vicente Casale Padovani, transformando a
Além dessas disciplinas, também eram
sua garagem, na Rua Tiradentes, em uma
lecionadas Desenho, Trabalhos Manuais,
sala de aula. Soava praticamente
Economia Doméstica, Educação Física
impossível conseguir entrar no Ginásio se
(separado entre meninas e meninos),
não entrasse no Preparatório do professor
Inglês, Canto Orfeônico e Ciências.

GINÁSIO DO ESTADO IGNÁCIO ZURITA JÚNIOR

Antigo prédio escolar onde hoje funciona a escola Foi um empresário, fundador da empresa Zurita&Cia,
estadual Ignácio Zurita Júnior. fundador do Banco Comercial de Araras, Palácio Hotel e outras
instituições comerciais. Ele foi fundamental para a expansão da
rede de água e esgoto em Araras. Ele administrou como prefeito
nos períodos de 1931-1932 e 1942-1945.

Embora a expectativa era alta para os alunos que foram aprovados ao Ginásio, na
verdade, eram frequentes notas baixas nas primeiras provas. Havia três modalidades de
exames de aprovação ou reprovação: exame parcial (julho), exame final (novembro) e exame
final (dezembro). O professor não conseguia reconhecer de quem se tratava o exame, pois o
canhoto com o nome dos alunos eram retirados na secretaria substituindo-os por um número.
Somente os alunos com as notas mais altas podiam dirigir o grêmio estudantil. Nessa época,

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os professores tentavam engajar seus alunos com cartazes, gizes de cor e historietas, já que
não havia computador, projetor ou outros recursos visuais digitais.

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A equipe escolar do Ginásio do Estado era constituída por nomes reconhecidos
pelos seus prédios escolares homônimos:

Professor Júlio Ridolfo - diretor

Professor Francisco Salles Nogueira (o Seu Chiquinho) - vice-

diretor (anteriormente, professor de Canto Orfeônico)

Professor Hercílio Bertolini - professor de Português

Professor Ângelo Carminatti - professor de Matemática

Professor Vicente Casale Padovani - professor de Latim

Professora Maria Therezinha Barbosa Ulson - professora de

Desenho

Professora Adélia Quintiliano Moreira - professora de Educação

Física feminina

Professor Clotilde Russo - professor de Canto Orfeônico

Professor Paulo Gomes Barbosa - professor de Português.

Professor José Paulino de Oliveira - Preparador de Laboratório

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Depois de concluído do Ginásio, os alunos tinham a opção de cursar a Escola Técnica de
Comércio (para obter o diploma de contador) ou continuar os estudos na escola Cesário
Coimbra, onde poderia optar entre Curso Normal (para ser professor primário), Curso
Científico (para ingressar na faculdade de Saúde ou Engenharia) ou Curso Clássico (Letras,
Direito e Pedagogia).

No Curso Científico, destacam-se os professores cujos nomes titulam, hoje, prédios


escolares como:

Professor Leonaldo Zornoff - professor de Matemática

Professor Paulo Gomes Barbosa - professor de Português

Professora Maria Terezinha Barbosa Ulson - professora de

Desenho Geométrico

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Desfile de implementação do Ginásio do Estado.

Em 1950, em Araras, na Rua Júlio Mesquita, seria fundada a escola secundário Ginásio
e Escola do Comércio, conhecido como Ginásio Noturno, pelo grupo de professores
compostos por Hercílio Bertolini, Edmundo Ulson, Ângelo Carminatti, André Ulson, Servílio
Begnami, Rosa Irma Cressoni Della Colleta e Lairton Della Colleta. No corpo docente,
também constava Francisco Salles Nogueira.

Em 1959, graças aos esforços de Hercílio Bertolini, autoriza-se o funcionamento da nova


Escola Técnica de Comércio Conde Silvio Álvares Penteado, que, no evento, teve a imagem
de Cristo entronizada pelo Monsenhor Paschoal Francisco Quércia. Mais tarde, em 1971, as
atividades se encerraram, tornando-se a Faculdade de Ciências e Letras, onde hoje é a
UNAR, funcionando associada ao Curso Objetivo. A diretoria era composta pelo Edmundo
Ulson, Therezinha Barbosa Ulson, Hercílio Bertolini, Rosa Irma Cressoni e Lairton Della
Colleta.

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A FORMAÇÃO DA CIDADE E SEU POVO

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Diante dos fatos, podemos afirmar que Bento de Lacerda Guimarães (futuro Barão de Araras), e José
de Lacerda Guimarães (Barão de Arary), cujo sua riqueza deriva do café e da propriedade rural, não
alcançariam seu patamar de riqueza sem os homens e mulheres que exerceram trabalho forçado. Como
bem explica o filósofo britânico liberal Adam Smith: “Onde há grande propriedade, há grande
desigualdade. Para um muito rico, há no mínimo quinhentos pobres, e a riqueza de poucos presume da
indigência de muitos”.

Alem do café, das construções, obras publicas, os negros também trabalharam na construção e
manutenção de ferrovias, pois necessidade de trabalhadores atraiam boa parte dos negros libertos.

Nas ferrovias negros e imigrantes, boa parte italianos, dividiram seu espaço de trabalho e
desenvolveram relações sociais, como consequência, novas identidades, como a da família ferroviária,
foram construídas no processo de interação, provocando no interior paulista, bem como o município de
Araras, mudanças importantes relacionadas ao imaginário popular, aos costumes e, até mesmo, na
Urbanização.

A ferrovia colaborou para a ascensão econômica de muitos trabalhadores recém-libertos. Vários


negros que passaram a trabalhar na estrada de ferro tiveram uma melhora nas suas condições de vida em
decorrência da ferrovia e isso viabilizou a possibilidade dos filhos desses ferroviários frequentassem
escolas e fossem alfabetizados.

O interior paulista, assim como Araras, tiveram, nas ferrovias, uma fonte de mão de obra para muitos
dos negros que permaneceram nas cidades depois de libertos, o quais trabalharam na construção dos
ramais que saíam dessas ferrovias, bem como na manutenção e no funcionamento da estrada de ferro, e,
assim, foram incorporados à mão de obra assalariada.

Como vimos, desde o comércio, a lavoura do café, as construções de casas e obras públicas até a
construção, manutenção das ferrovias e a formação da identidade regional, tivemos uma imensa
colaboração da população negra.

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Axé de Yansã é uma comunidade nascida em meio a uma ocupação de terra que ocorreu em 1990 no
município de Araras. Esse espaço, símbolo de resistência da cultura negra e da religiosidade de matriz
africana, combate os preconceitos e o racismo que, por falta de conhecimento, inferiorizam a cultura Afro-
brasileira.

A casa é gerida de maneira coletiva, nela ocorre a reunião dos filhos de Doné Oyacy. Construída há
quase três décadas, originalmente foi construída com toras de árvore e telhas que já davam sinais de seu
tempo, mas em 2019, foi reconhecida pelo programa Cultura Viva do estado de São Paulo, tornando-se um
ponto de cultura da resistência negra. Como prêmio, recebeu R$60 mil, que foram utilizados para dar início à
construção de uma nova sede.

O lugar tambeém é palco de eventos religiosos, educativos e socioculturais, como explicou o sacerdote
do candomblé Tata Kejessy: “Aqui também é um espaço de formação, recebemos o pessoal do movimento
negro que vem para cursos, para vivências, para formação política. Realizamos anualmente o Tefokafumi,
uma tenda de formação e cidadania, que nasceu aqui. Já realizamos aqui encontros estaduais de estudantes

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A imigração foi um processo que sempre esteve presente e marcou profundamente a história do
Brasil, entretanto, como o objetivo desse texto é o município de Araras, faremos um recorte temporal entre a
segunda metade do século XIX e o início do século XX. Neste período, milhares de europeus e asiáticos,
em busca de melhores condições de vida, vieram ao Brasil, principalmente nas regiões Sudeste e Sul do
país.

Entre os principais fatores externos que contribuíram para esse processo migratório, foram as
guerras, principalmente a guerra de unificação alemã e italiana, crises econômicas, crescimento
demográfico, crises sanitárias e também perseguições religiosas nas terras euro-asiáticas.

No caso dos fatores internos brasileiros que contribuíram para a vinda de euro-asiáticos para o Brasil,
podemos citar os três principais: o primeiro, a lavoura de café, pois com a Lei Eusébio de Queirós, de 1850, a

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qual proibia a importação de pessoas escravizadas vindas do continente africano, causando escassez de mão
de obra na lavoura cafeeira, principalmente no Oeste Paulista.
Segundo fator era a ocupação do território brasileiro, principalmente nas regiões ao sul do país, devido às
vastas terras agricultáveis e despovoadas. Dessa forma, o envio de pessoas a essas regiões era uma maneira
de proteger e consolidar o território nacional. Nesse caso, a imigração acabou buscando:

a entrada de estrangeiros para o desenvolvimento da agricultura explorada por homens livres, com base na pequena
propriedade, sob a direção do governo ou de particulares e sempre com a intenção de valorizar terras incultas, visando
seu povoamento (LAZZARI, 1980:13).

Terceiro fator, baseado na crença da elite intelectual do Brasil, era o branqueamento paulatino da
população, este traria a evolução do país, pois, nessa crença, o “homem branco”, herdeiro do iluminismo,
dotado, supostamente, de uma maior capacidade intelectual, seria o responsável pelo desenvolvimento
nacional. Como afirma Eric Hobsbawm:

Nas repúblicas da América Latina, ideólogos e políticos, inspirados nas revoluções que haviam transformado a Europa e
os EUA, pensaram que o progresso de seus países dependia da "arianização" — ou seja, do "branqueamento"
progressivo do povo através de casamento inter-racial (Brasil) ou de um verdadeiro repovoamento por europeus brancos
importados (Argentina). Suas classes dirigentes eram, por certo, brancas — ou ao menos assim se consideravam — e
os sobrenomes não ibéricos dos descendentes de europeus eram e ainda são desproporcionalmente freqüentes nos
integrantes de suas elites políticas. ( HOBSBAWM, Eric. A era dos impérios: 1875-1914. Editora Paz e Terra, 2015. )

Para que esse empreendimento tivesse sucesso, a imigração contou com várias políticas governamentais
brasileiras em conjunto com empresas. Como o decreto de 1907 nos revela:

Art. 1 ressalta que “o serviço de povoamento do solo nacional será promovido pela União, mediante acordo com os
Governos dos Estados, empresas de viação férrea ou fluvial, companhias ou associações outras, e particulares,
observadas as garantias necessárias à sua regularidade” (BRASIL, 1907).

Desde a promessa de doação de terras e o pagamento de parte da travessia, até mesmo a propaganda
que mostrava o Brasil como uma "terra de oportunidades”, foram importantes para atrair o imigrante,
principalmente europeu, para as terras tão distantes do Brasil. Como o artigo intitulado “Os descaminhos da
Imigração alemã para São Paulo no século XIX –aspectos políticos”, da revista da Universidade de São Paulo
ressalta:

A Sociedade Promotora da Imigração surgiu, somente, 59 anos após a entrada dos primeiros alemães na província.
Esta sociedade civil, dita sem fins lucrativos, visava facilitar a entrada de imigrantes europeus e sua colocação no
mercado de trabalho “mediante os auxílios e subsídios determinados nas leis e que lhes forem concedidos (Siriani, S. C.
L. 2005)

Contudo, vale lembrar que nem todos os imigrantes receberam terras ou tiveram suas travessias
totalmente pagas pelo governo ou empresas brasileiras, muitos, ao chegarem aqui, acabam endividados,
alguns perderam suas economias e outros trabalharam altas jornadas, tanto na lavoura de café como nas

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cidades, para pagarem sua travessia. Apesar de exercer um regime de trabalho assalariado, os colonos
também eram explorados, assim, Segundo Maria Thereza Petrone:

[...]o próprio migrante funciona como mercadoria na medida em que terá que ser transportado para além mar,
consumindo, portanto, capitais para o seu transporte e sua instalação. Não se deve esquecer também que o imigrante,
às vezes, leva algum capital e, muitas vezes, remete poupanças para sua terra de origem[...]

Entre as principais nacionalidades de colonos que vieram ao Brasil estão os italianos, alemães,
espanhóis, portugueses e japoneses, também tivemos a imigração de sírios, palestino, egpcio e arabes. Como
mostra a tabela abaixo .

Araras não escapa dessa lógica migratória, guardada as devidas proporções, nossa cidade, assim como
o Brasil e principalmente o Estado de São Paulo, a grande maioria dos imigrantes foram italiano.

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Fonte:<http://www.pesquisaitaliana.com.br/wp-content/uploads/2016/03/imig-1024x768.jpg> Acesso em 03/03/2023

Família Prado e o Café e a Imigração.

Fonte: <https://www.camara-araras.sp.gov.br/Arquivos/Uploads/Hist%C3%B3ria/botaoformacaoararas.jpg> Acesso em


03/01/2023

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Como já salientamos, o ciclo do café foi de grande importância, principalmente após a Guerra do
Paraguai (1864 a 1870) , teve seu principal núcleo de produção o Oeste Paulista, onde Araras se
desenvolverá, desse modo, grande parte dos europeus e asiáticos tiveram como destino nossa região e nossa
cidade, tornando-se parte indissociável da formação cultural e material do nosso município.
A família Prado é um exemplo da elite cafeeira paulista, ciente do fim do trabalho escravo, incentivaram o
processo imigratório para a substituição de mão de obra negra. Como afirma o artigo da revista da
Universidade de São Paulo (USP):

A Sociedade, sediada na capital, foi administrada por uma diretoria composta por alguns dos mais eminentes membros
da elite paulista, dos quais podemos destacar o Conde de Itu, o Conde de Três Rios, o Visconde do Pinhal, o Barão De
Tatuí, o Barão de Piracicaba, o Dr. Martinho da Silva Prado, entre outros.Estes não poderiam “receber por qualquer título
ou forma, lucros ou vantagens pecuniárias”. Como se pode observar, a ideia primordial desta sociedade partiu da
iniciativa de um escol de grandes fazendeiros que, cientes do fim próximo do sistema escravista, buscavam a
lucratividade da mão-de-obra supostamente especializada do europeu. (Siriani, S. C. L. 2005)

Além do auxílio à imigração a família Prado também foi responsável pela construção de estradas de
ferro, inclusive em Araras, colaborando com o transporte de café e a vinda de milhares de imigrantes,
principalmente italianos para nossa cidade.

Fonte: <https://www.camara-araras.sp.gov.br/Arquivos/Uploads/Hist%C3%B3ria/botaoformacaoararas.jpg> Acesso em


03/01/2023

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Imigração Italiana e o Comércio em Araras
Nesse contexto de incentivo a imigração, ocorria a guerra de unificação italiana, a qual ceifou milhares de
vidas e causou uma enorme crise econômica e incertezas da população em relação ao novo governo do país
italiano, fez com que a população, principalmente as camadas mais pobres da Itália, tivessem no território
brasileiro a esperança de melhorar suas condições de vidas. Uma parte dessas famílias vieram para Araras.
Para se ter uma ideia da força da imigração italiana em Araras, entre o decênio 1890 e 1900, essa
população dobrou, saindo de seis mil para doze mil italianos em nosso município. Vale destacar que os
Italianos trabalharam nos mais diferentes setores da nossa sociedade, incluindo lavoura, órgãos públicos e
ferrovias, além de terem uma grande participação no comércio em Araras. Como aponta o historiador Fábio
Cressoni:

Como observamos, a comunidade italiana, em 1896, representa 45% dos proprietários de


estabelecimentos comerciais urbanos em Araras, porcentagem que foi aumentando ao longo dos anos,
chegando a deter, em 1906, 56% e, em 1912, 63,76% das propriedades comerciais.
Todo historiador entende que através do comércio circula algo muito mais importante do que as próprias
mercadorias, estas que se esgotam rapidamente e se transformam num piscar de olhos. Porém as ideias e
narrativas, inerente à ação social, que moldam a cultura e se enraízam no espírito humano, encontram no
ambiente mercantil um dos maiores e poderosos canais de transmissão e produção. Nesse sentido, com um
olhar mais profundo, entenderemos a real colaboração da comunidade ítalo-ararense para construção de
nossa sociedade.

23
Fonte: <https://www.camara-araras.sp.gov.br/Arquivos/Uploads/Hist%C3%B3ria/botaoformacaoararas.jpg> Acesso em 03/03/2023

CONCLUSÃO:
A formação de Araras contou com uma série de fatores que vão desde interesses e acontecimentos da
macropolítica e macroeconomia, nacionais e intercontinentais, interesses e acontecimentos regionais e locais,
pertencente a micropolítica e microeconomia e, até mesmo, característica geográficas particulares à própria
cidade, como a terra “roxa” excelente para o plantio do café e da cana de açúcar. Esses fatores foram decisivos
para o desenvolvimento de nosso município.
Conectar esses pontos, buscar nossas raízes no passado, entender os desdobramentos provocados ou
espontâneos, é uma parcela importante de nossa educação. Por sua vez, essa educação deve ser pautada na
construção de uma cidadania, ancorada no conhecimento, na visão plural e complexa do mundo e em uma
identidade planetária que supere todas as formas de preconceito.
Por fim, devemos lembrar que a história não é de barões e imperadores, tão pouco de imigrantes e
pessoas escravizadas, a história é a ação do ser humano através do tempo, ocorrendo muitas vezes de forma
espontânea e outras vezes intencionalmente. Uma dança complexa, voluntária e involuntária ao mesmo
tempo, na qual nossos instintos mais primitivos como a guerra, a cobiça e o egoísmo, misturam-se com
nossas características mais nobres, como a arte, a cultura e o saber. Nesse sentido, a história está sempre em
transformação, em processo de continuidade e ruptura. Essas características valem para a educação e
também para nosso município, dessa forma, entendendo o passado, construiremos a ponte para um futuro de
sucesso para nossa Araras.

24
Fonte:<https://www.araras.sp.gov.br/im/images/auto/n_araras_lago.jpg> Acesso em 03/01/2023

Referência:

ANTONIL, André João. Cultura e opulência do Brasil por suas drogas e minas. Edusp, 2007.
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Silva ao Brasil central e a questão indígena. Revista de História Regional, v. 25, n. 2, 2020.
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territórios: Estudo de Caso da Colônia Dom Pedro II-Campo Largo-Paraná. MS thesis. Universidade
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Almanack Braziliense, (2), 91-100.
SMITH, Adam. A riqueza das nações: investigação sobre sua natureza e suas causas. São Paulo: Abril Cultural, 1983
(Os Economistas).

25
OS MARCOS HISTÓRICOS DO CURRÍCULO

A
partir da homologação da curriculares. Nasce, consequentemente,
BNCC, em dezembro de com a prestação e cooperação de todas as
2017, a rede municipal de unidades escolares, a preliminar do
ensino de Araras engrenou as formações currículo municipal de Araras.
competentes a esse documento,
Em 2020, o mundo vive a pior
priorizando muitos encontros coletivos,
pandemia da história moderna, cujos
chamados de HTPC (hora de trabalho
efeitos se passaram em escala global,
pedagógico coletivo), para estudar os
afetando a organização da sociedade
novos conceitos e implicações nos
contemporânea. A Covid-19 aprofundou as
ambientes escolares.
desigualdades sociais, com
Em 2019, encabeça a cidade os consequências nefastas no campo da
primeiros estudos práticos ao educação. Nesse ano, o município,
desenvolvimento do seu próprio currículo portanto, adotaria o ensino remoto, no qual
às luzes da base nacional. Nessa fase, o aluno é dispensado de ir presencialmente
constitui, junto às escolas, a elaboração da à escola, mas receberia a assistência
dimensão dos princípios curriculares: a pedagógica à distância. Seria o mesmo
contiguidade, convívio e contato do que se ano em que se adotaria, parcialmente, o
fala, a relevância em termos da vida Currículo Paulista do Estado de São Paulo.
cotidiana e os interesses. Um diálogo entre Dessa forma, incorporaria-se a
a equipe escolar primeiro analisaria suas estruturação desse documento ao
diferentes colocações na sociedade e na currículo de Araras, originando, pois, a
cultura e seu impacto no currículo, e como versão do currículo em construção, isto é,
se preservaria o que se tem em comum e o uma versão preliminar já oferecida para
que se gostaria de ter em comum. Em leitura e colaboração, acarretando, com a
outras palavras, discutir as características, pandemia do Covid-19, o currículo em
semelhanças e diferenças vividas ou transição. O termo transição significa
imaginadas que constituem a matéria- transição ou mudança, mas, no âmbito
prima central para as e decisões curricular, tem outros contornos e

26
significados. A literatura científica ainda escolas deveriam, então, assumir diante
contém poucas referências a esse uma crise educacional, por conta da
conceito. O site (https://www.jur.puc- pandemia, estaria intimamente ligado à
rio.br/perguntas-frequentes-2/) do adesão Base Nacional Curricular Comum
Departamento de Direito da PUC –Rio (BNCC) e ao desenvolvimento de
descreve o Currículo de Transição como competências e habilidades que
um documento que objetivassem aspectos muito relevantes do
O currículo de transição atende aos já exposto à situação social: a
alunos dos currículos anteriores a 2008 que desigualdade educacional. Um projeto que
tenham deixado pendentes muitas inclui os meios modulares de adaptação do
disciplinas que já não estejam mais sendo
ensino da BNCC em uma escola pública
oferecidas. A vantagem desse currículo é
composta por uma diversidade regional,
que ele cria grupos reunindo disciplinas dos
dois currículos (ex.: grupo de disciplinas de social, humana e física dominante em meio
direito civil, incluindo todas as disciplinas de aos desafios extraordinários e sem
civil), dentre as quais o aluno deve cursar precedentes impostos por um ambiente de
certo número de créditos. Os pré-requisitos pandemia. Dessa forma, entram-se os
de cada uma dessas disciplinas continuam
conceitos de habilidades essenciais e
valendo e, por isso, ao final, o aluno acaba
espirais, que estariam preenchendo as
completando todo o conteúdo programático
daquele grupo, mas misturando disciplinas lacunas de déficit de rendimento
do currículo novo e antigo. acadêmico que aumentariam, a curto e
longo prazo, a desigualdade educacional.
A situação acima não é exclusiva da
São conceitos que destrinchariam a
PUC-Rio, pelo contrário, quando o
importância do currículo contínuo e a
currículo muda, cada departamento,
flexibilização curricular.
universidade ou unidade de ensino tem
planos e estratégias para repassar o antigo O Conselho Nacional de Educação
"procedimento" para a "transição" do previu que as condições nas escolas
"novo" de forma menos abrupta possível. seriam muito diferentes para que o ensino
Com a mudança do cenário mundial e a remoto fosse oferecido. Algumas crianças
nova proposição pedagógica do Currículo poderiam usar a tecnologia para fornecer
Paulista, o currículo do município estaria, interação ao conhecimento, mas outras só
de fato, transpassando uma vertente antiga poderiam ter acesso aos materiais
para algo totalmente novo. impressos, sem poder interagir, publicar ou
receber mediação síncrona.
O alinhamento do currículo que as

27
Dessa forma, os anos seguintes, 2021 e 2022, seriam anos de grandes marcações
importantes e relevantes para o currículo, transitando para uma nova realidade contextual,
demarcado por mudanças para regredir a desigualdade educacional. Novas revisões foram
feitas pelas escolas, novos pensamentos construídos sobre o que e como retroceder as
mazelas dos resultados acadêmicos de muitos alunos que ficaram por tanto tempo longe do
ambiente escolar.

Em 2023, o currículo conclui-se com nova caracterização de nível de aprendizagem


para reduzir as fronteiras educacionais ocasionadas nas salas de aulas pela pandemia.
Considera-se, mais explicitamente, o currículo contínuo, transpassando as habilidades em
vários anos, e revisitando as suas especificidades. Embora se conclui, ele ainda estará
plenamente em constante revisão e renovação, uma vez que é documento tão vivo quanto a
dinamicidade da vida humana na sociedade.

28
OS MARCOS LEGAIS QUE EMBASAM O
CURRÍCULO

O
direito à educação, consagrado no artigo 6º da Constituição Federal de 1988
como direito social fundamental, está detalhado no Título VIII, Ordem Social,
especialmente nos artigos 205 a 214, explicitam diversos aspectos
relacionados à concretização desse direito, cujos princípios e objetivos estabelecem as
obrigações de cada ente federado (federação, estados, distritos federais e municípios) para a
garantia desse direito. Esses são os parâmetros que devem orientar as ações do legislativo e
da administração pública, além dos critérios que os juízes devem aceitar quando são
chamados a avaliar questões relacionadas ao exercício desse direito.

O artigo 205 da Constituição Federal de 1988 reconhece a educação como direito


fundamental comum do Estado, da família e da sociedade, especificando que a educação,
direito de todos e dever do Estado e da família, é promovida e facilitada por meio da
cooperação social. Visa o desenvolvimento integral da pessoa, preparação para o exercício
da cidadania e competência para o trabalho (BRASIL, 1988).

Além da previsão constitucional, há uma série de outros documentos jurídicos que


contêm dispositivos relevantes a respeito do direito à educação, tais como o Pacto
Internacional sobre Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, de 1966, ratificado pelo Brasil
em 12 de dezembro de 1991, e publicado pelo Decreto Legislativo n. 592, em 6 de dezembro
de 1992. Há, igualmente, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBN), Lei n.
9.394/96. O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), Lei n. 8.069/90, e o Plano Nacional
de Educação (PNE),Lei n. 10.172/2001, são outros documentos legais que também
manifestam o direito à educação.

Para atingir esses objetivos, o Artigo 210.º da Constituição já reconhece a necessidade


de fixar “conteúdos mínimos para o ensino fundamental, de maneira a assegurar formação
básica comum e respeito aos valores culturais e artísticos, nacionais e regionais” (Brasil,
1988). O Artigo 206 trata dos princípios em que o ensino deve ser ministrado, valorizando
todas as formas divulgação de pensamento e liberdade responsável do ensinar e aprender,
sob valorização dos profissionais da educação:

29
ARTIGO 206 DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL - PRINCÍPIOS DO ENSINO:
I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola;

II - liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o


saber;

III - pluralismo de idéias e de concepções pedagógicas, e coexistência de


instituições públicas e privadas de ensino;

IV - gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais;

V - valorização dos profissionais da educação escolar, garantidos, na forma da lei,


planos de carreira, com ingresso exclusivamente por concurso público de provas e
títulos, aos das redes públicas;

VI - gestão democrática do ensino público, na forma da lei;

VII - garantia de padrão de qualidade.

VIII - piso salarial profissional nacional para os profissionais da educação escolar


pública, nos termos de lei federal. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006)

O Pacto Internacional sobre Direitos fundamentais ao interesse social, aos


Econômicos, Sociais e Culturais, por sua direitos e deveres dos cidadãos, de
vez, em relação aos direitos de respeito ao bem comum e à ordem
aprendizagem, compactua que toda democrática” (BRASIL, 1996);
pessoa tem direito à educação visando o
Baseando-se nesse nessas
pleno desenvolvimento da personalidade e
demarcações constitucionais, a Lei de
da dignidade, fortalecendo, assim, os
Diretrizes e Bases da Educação Nacional
direitos humanos e liberdades
(LDB) estabelece em seu Artigo 9 que a
fundamentais, Àquelas que nunca foram à
União é incumbida, com colaboração com
escola ou não concluíram os estudos,
os estados, Distrito Federal e os
deve-se oferecer o acesso à educação.
municípios, de estabelecer competências e
Nesse mesmo sentido, o Art. 27 da LDB
diretrizes para a Educação Infantil, Ensino
também complementa que se impere, na
Fundamental e o Ensino Médio, que
Educação Básica, a “difusão de valores

30
direcionarão os currículos e seus Essa orientação conduz ao desenho
conteúdos mínimos assegurando uma de concepções curriculares em relação às
educação básica comum (BRASIL, 1996). realidades locais, sociais e pessoais da
escola e de seus alunos, configurando a
Em 6 de abril de 2017, o Ministério da
vertente norte da orientação curricular
Educação apresentou ao Conselho
definida pelo Conselho Nacional de
Nacional de Educação a proposta da Base
Educação (CNE) ao longo dos anos de
Nacional Comum Curricular ( BNCC). De
1990, bem como conforme revisado na
acordo com a Lei 9.131/95, o Conselho
edição por meio dos anos de 2000.
Nacional de Educação, órgão regulador do
sistema educacional nacional, avalia a Em 2010, o Conselho Nacional de
proposta da BNCC para a elaboração do Educação (CNE) adotou e ampliou o
parecer para decisão que, após aprovação conceito de contextualização e o
do Ministro de Estado da Educação, institui organizou como inclusivo, valorizando a
em um padrão nacional. diferença e preservando o pluralismo e a
diversidade cultural, preservando e
O artigo 26 da LDB manifesta uma
respeitando as diferentes formas de
relação entre o que é comum e o que é
expressão de cada sociedade, como
diverso, estabelecendo que os currículos
enfatizado no parecer CNE/CEB nº 7/2010.
da educação infantil, fundamental e média
Logo em 2014, Lei nº 13.005/2014, foi
devem ter uma base nacional comum para
promulgado o Plano Nacional de Educação
serem concluídos em cada sistema
(PNE), reafirmando a necessidade de
contando com uma parte diversificada
estabelecer e implementar, por meio de
complementar de acordo com as
convênios entre a união, os estados, o
características sociais, culturais,
Distrito Federal e os municípios, uma base
econômicas, regionais e locais dos alunos
nacional comum de diretrizes de ensino e
(BRASIL, 1996). O art. 9º da LDB, em seu
pesquisa curricular na educação básica,
inciso V, define “estabelecer, em
com direitos e objetivos de aprendizagem e
colaboração com os Estados, o Distrito
desenvolvimento geral dos alunos nas
Federal e os Municípios, competências e
escolas de Ensino Fundamental e Médio,
diretrizes para a educação infantil, o ensino
respeitadas as diferenças regionais,
fundamental e o ensino médio, que
estaduais e locais (BRASIL, 2014).
nortearão os currículos e seus conteúdos
mínimos, de modo a assegurar formação O Plano Nacional de Educação (PNE)
básica comum”(BRASIL, 1996); determina diretrizes, metas e estratégias

31
para a política educacional no período de legais anteriores, o PNE afirma a
2014 a 2024.Ele reconhece a importância importância de uma base nacional comum
do estabelecimento de um currículo curricular para o Brasil, com o foco na
nacional comum no Brasil, voltado para a aprendizagem como estratégia para
aprendizagem como estratégia para fomentar a qualidade da Educação Básica
melhorar a qualidade da educação básica em todas as etapas e modalidades,
em todas as etapas e modalidades, com referindo-se a direitos e objetivos de
respeito aos direitos e objetivos de aprendizagem e desenvolvimento
aprendizagem e desenvolvimento. São
diretrizes do PNE a erradicação do
analfabetismo; a universalização do
atendimento escolar; a superação das
desigualdades educacionais, com ênfase
na promoção da cidadania e na
erradicação de todas as formas de
discriminação; a melhoria da qualidade da
educação; a formação para o trabalho e
para a cidadania, com ênfase nos valores
morais e éticos em que se fundamenta a
sociedade; a promoção do princípio da
gestão democrática da educação pública;a
promoção humanística, científica, cultural
e tecnológica do País; o estabelecimento
de meta de aplicação de recursos públicos
em educação como proporção do Produto
Interno Bruto - PIB, que assegure
atendimento às necessidades de
expansão, com padrão de qualidade e
equidade; a valorização dos (as)
profissionais da educação; a promoção dos
princípios do respeito aos direitos
humanos, à diversidade e à
sustentabilidade socioambiental.

Nesse sentido, consoante aos marcos

32
AS METAS DO PLANO NACIONAL
DE EDUCAÇÃO

O
Plano Nacional de Educação, Lei nº 13.005/2014, contém 20 metas
abrangendo todos os níveis de ensino, da educação infantil ao ensino
superior, com foco na educação inclusiva, aumento da taxa média de
matrícula dos brasileiros, capacitação do corpo docente e planejamento de carreira,
administração e financiamento.

META 1 Universalizar, até 2016, a educação META 2 Universalizar o ensino fundamental de


infantil na pré-escola para as crianças de 4 (quatro) a 9 (nove) anos para toda a população de 6 (seis) a 14
5 (cinco) anos de idade e ampliar a oferta de (quatorze) anos e garantir que pelo menos 95%
educação infantil em creches de forma a atender, no (noventa e cinco por cento) dos alunos concluam
mínimo, 50% (cinquenta por cento) das crianças de essa etapa na idade recomendada, até o último ano
até 3 (três) anos até o final da vigência deste PNE. de vigência deste PNE.

M E TA 3 U n i v e r s a l i z a r, a t é 2 0 1 6 , o META 4 Universalizar, para a população de 4


atendimento escolar para toda a população de 15 (quatro) a 17 (dezessete) anos com deficiência,
(quinze) a 17 (dezessete) anos e elevar, até o final do transtornos globais do desenvolvimento e altas
período de vigência deste PNE, a taxa líquida de habilidades ou superdotação, o acesso à educação
matrículas no ensino médio para 85% (oitenta e cinco básica e ao atendimento educacional especializado,
por cento) preferencialmente na rede regular de ensino, com a
garantia de sistema educacional inclusivo, de salas
de recursos multifuncionais, classes, escolas ou
serviços especializados, públicos ou conveniados.

META 5 Alfabetizar todas as crianças, no


máximo, até o final do 3o (terceiro) ano do ensino
fundamental. META 6 Oferecer educação em tempo integral
em, no mínimo, 50% (cinquenta por cento) das
escolas públicas, de forma a atender, pelo menos,
25% (vinte e cinco por cento) dos (as) alunos (as) da
educação básica
META 7 Fomentar a qualidade da educação
básica em todas as etapas e modalidades, com
melhoria do fluxo escolar e da aprendizagem de META 8 Elevar a escolaridade média da
população de 18 (dezoito) a 29 (vinte e nove) anos, de
modo a atingir as seguintes médias nacionais para o modo a alcançar, no mínimo, 12 (doze) anos de estudo no
Ideb último ano de vigência deste Plano, para as populações do
campo, da região de menor escolaridade no País e dos
25% (vinte e cinco por cento) mais pobres, e igualar a
escolaridade média entre negros e não negros declarados
à Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística -
IBGE.

33
META 9 Elevar a taxa de alfabetização da
população com 15 (quinze) anos ou mais para 93,5% META 10 Oferecer, no mínimo, 25% (vinte e
(noventa e três inteiros e cinco décimos por cento)
cinco por cento) das matrículas de educação de
até 2015 e, até o final da vigência deste PNE,
jovens e adultos, nos ensinos fundamental e médio,
erradicar o analfabetismo absoluto e reduzir em 50%
(cinquenta por cento) a taxa de analfabetismo na forma integrada à educação profissional.
funcional.

META 12 Elevar a taxa bruta de matrícula na


META 11 Triplicar as matrículas da educação educação superior para 50% (cinquenta por cento) e a
profissional técnica de nível médio, assegurando a taxa líquida para 33% (trinta e três por cento) da população
qualidade da oferta e pelo menos 50% (cinquenta por de 18 (dezoito) a 24 (vinte e quatro) anos, assegurada a
cento) da expansão no segmento público. qualidade da oferta e expansão para, pelo menos, 40%
(quarenta por cento) das novas matrículas, no segmento
público.

META 9 Elevar a taxa de alfabetização da


população com 15 (quinze) anos ou mais para 93,5% META 10 Oferecer, no mínimo, 25% (vinte e
(noventa e três inteiros e cinco décimos por cento) até cinco por cento) das matrículas de educação de
2015 e, até o final da vigência deste PNE, erradicar o jovens e adultos, nos ensinos fundamental e médio,
analfabetismo absoluto e reduzir em 50% (cinquenta por na forma integrada à educação profissional.
cento) a taxa de analfabetismo funcional.

META 13 Elevar a qualidade da educação superior


e ampliar a proporção de mestres e doutores do corpo META 14 Elevar gradualmente o número de
docente em efetivo exercício no conjunto do sistema de matrículas na pós-graduação de modo a atingir a
educação superior para 75% (setenta e cinco por cento), titulação anual de 60.000 (sessenta mil) mestres e
sendo, do total, no mínimo, 35% (trinta e cinco por cento) 25.000 (vinte e cinco mil) doutores.
doutores.

META 15 Garantir, em regime de colaboração entre META 16 Formar, em nível de pós-graduação, 50%
a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, no (cinquenta por cento) dos professores da educação
prazo de 1 (um) ano de vigência deste PNE, política básica, até o último ano de vigência deste PNE, e garantir
nacional de formação dos profissionais da educação de a todos (as) os (as) profissionais da educação básica
que tratam os incisos I, II e III do caputdo art. 61 da Lei n formação continuada em sua área de atuação,
9.394, de 20 de dezembro de 1996, assegurado que todos
os professores e as professoras da educação básica considerando as necessidades, demandas e
possuam formação específica de nível superior, obtida em contextualizações dos sistemas de ensino.
curso de licenciatura na área de conhecimento em que
atuam.
META 18 Assegurar, no prazo de 2 (dois) anos, a
existência de planos de Carreira para os (as) profissionais
META 17 Valorizar os (as) profissionais do da educação básica e superior pública de todos os
magistério das redes públicas de educação básica de sistemas de ensino e, para o plano de Carreira dos (as)
forma a equiparar seu rendimento médio ao dos (as) profissionais da educação básica pública, tomar como
referência o piso salarial nacional profissional, definido em
demais profissionais com escolaridade equivalente, até o
lei federal, nos termos do inciso VIII do art. 206 da
final do sexto ano de vigência deste PNE Constituição Federal.

META 19 Assegurar condições, no prazo de 2 META 20 Ampliar o investimento público em


(dois) anos, para a efetivação da gestão democrática da educação pública de forma a atingir, no mínimo, o patamar
educação, associada a critérios técnicos de mérito e de 7% (sete por cento) do Produto Interno Bruto - PIB do
desempenho e à consulta pública à comunidade escolar, País no 5o (quinto) ano de vigência desta Lei e, no mínimo,
no âmbito das escolas públicas, prevendo recursos e o equivalente a 10% (dez por cento) do PIB ao final do
apoio técnico da União para tanto. decênio.

34
Segundo a Lei nº 13.005/2014, “a cada 2 (dois) anos, ao longo do período de vigência
deste PNE, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira - INEP
publicará estudos para aferir a evolução no cumprimento das metas estabelecidas no Anexo
desta Lei, com informações organizadas por ente federado e consolidadas em âmbito
nacional, tendo como referência os estudos e as pesquisas de que trata o art. 4o, sem
prejuízo de outras fontes e informações relevantes” (BRASIL, 2014).

O PNE, como lei nacional, deve estabelecer critérios gerais respeitando o Artigo 214 da
Constituição, seja sob uma única cláusula do Artigo 23 ou sob o sistema de cooperação
previsto no Artigo 214. Assim, o modelo de distribuição de poderes instituído no ordenamento
jurídico visa unificar os poderes, compartilhando-os e impondo, quando for o caso, limites,
como os mencionados no Artigo 3 da Constituição. Um objetivo comum, de importância geral,
com regras e normas que visam a harmonia interna entre as unidades da união e da
federação. Espera-se que não haja contradições dentro e entre as autoridades, e que elas se
unam para formar uma unidade integrada e harmoniosa, para alcançar a base, propósito e
objetivo mais amplo e comum estipulado pela Constituição.

35
CONCEPÇÃO DE SUJEITO

Q
uando falamos de sujeitos, precisamos levar em consideração sua
subjetividade e não apenas colocá-los no centro da discussão, como meros
indivíduos de uma massa popular. A simples constatação da existência do
"outro" não significa vê-lo como um sujeito independente, consciente de si mesmo, de seu
lugar e de sua relação com o mundo. Para confirmar a identidade desse sujeito, importa-nos
promover a sua reflexão e valorizar tal reflexão com voz ativa na escola.

O termo sujeito, no Dicionário de Filosofia (2015) tem dois significados:

1º aquilo de que se fala ou a que se atribuem qualidades ou determinações


ou a que são inerentes qualidades ou determinações;

2º o eu, o espírito ou a consciência, como princípio determinante do


mundo do conhecimento ou da ação, ou ao menos como capacidade de
iniciativa em tal mundo. Ambos esses significados se mantêm no uso
corrente do termo: o primeiro na terminologia gramatical e no conceito de
sujeito como tema ou assunto do discurso; o segundo no conceito de
sujeito como capacidade autônoma de relações ou de iniciativas,
capacidade que é contraposta ao simples ser “objeto” ou parte passiva em
tais relações.

Quando se lê a palavra sujeito, ela adquire todo o seu significado dentro dessa
construção filosófica que carregamos. Quando se fala de disciplina na educação, no
processo de aprendizagem, difere das disciplinas tradicionais, não é o mesmo sentido em
que está fixado e enraizado na filosofia que herdamos. O sujeito precisa aprender a ser
consciente. Ele já está ciente de si, mas falta sensibilizá-los para ajudá-los a se ver em sua
situação histórica e envolvê-los no processo de consciência coletiva, parte de uma sociedade
complexa. Todos temos conhecimento e todos somos sujeitos. A autoconsciência é
naturalmente ingênua, por isso, o processo de consciência crítica é essencial: percepções de
nosso ambiente, sociedade, cultura e relacionamentos humanos. Por isso, a disciplina, no
processo de aprendizagem, se diz respeito ao processo de materialização do sujeito crítico e

36
não somente a transferência de conhecimentos segregados de seus contextos reais.

REFERÊNCIAS

ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de filosofia. Tradução de: BOSI, Alfredo. São Paulo:
Martins Fontes, 2005

37
OS FUNDAMENTOS PEDAGÓGICOS
QUE NORTEIAM O CURRÍCULO

N
as últimas décadas formação de conhecimentos, habilidades,
presenciamos uma atitudes e valores, e, principalmente, o que
evolução para visões eles devem saber fazer, permitindo, assim,
epistemológicas e construtivistas, que haja o estímulo desses valores, para
enfatizando a construção interna do atender às necessidades complexas da
sujeito, destacando sua força e vontade vida cotidiana, pleno exercício da
como representante para desenvolver o cidadania e do mundo do trabalho.
que é seu, sendo sujeito de seu
O princípio do ensino deve ser
aprendizado. O objetivo educacional agora
pautado no desenvolvimento holístico e
se concentra nas habilidades que os
complexo dos saberes e não meramente
alunos devem adquirir ao longo de sua
seriado. À vista disso, estende-se ao
v i d a e s c o l a r. O p r o c e s s o d e
conceito da educação integral. A educação
desenvolvimento e aprendizagem enfatiza
integral preconiza romper com uma
o desenvolvimento do conhecimento e do
perspectiva reducionista centrada em uma
caráter por meio de experiências e
só dimensão para compreender todos os
atividades significativas cuidadosamente
aspectos do desenvolvimento, assim, a
projetadas e planejadas.
inclusão, a igualdade e a diversidade de
Dessa forma, o planejamento forma transversa. A educação integral visa
pedagógico deve estar atrelado ao garantir o desenvolvimento humano em
compromisso de impulsionar o todos os aspectos: intelectual, físico,
desenvolvimento das competências, emocional, social e cultural.
pensando em cenários, em sala de aula,
No Brasil, a educação integral ganhou
que propiciem situações que submetam os
destaque no debate público nacional desde
alunos a pensarem em estratégias para
o início do século XX, e principalmente no
situações complexas da vida cotidiana.
início do Plano Nacional de Educação
Deve-se definir claramente o que os (PNE).Há um convite diário, nos ambientes
alunos devem saber, permitindo a escolares, a uma aceitação contra as

38
relações opressivas que captam a decodificar. Ser literato é ler o mundo,
subjetividade do sujeito, expressando-se colocar-se nas suas múltiplas dimensões
no fundo da realidade social desses no processo de aprender a falar, ler e
alunos, e pode ser mais potente em e s c r e v e r, c o n h e c e r a s d i f e r e n t e s
diferentes espaços e tempos linguagens que o compõem e tomar
educacionais. No cotidiano deparamo-nos consciência de si como autor.
com uma urgência, com o que queremos
O pleno reconhecimento, garantindo
saber e emergir em movimento real aos
a liberdade e a igualdade da diferença e da
interesses da comunidade escolar. Ao
identidade de todos, exige um empenho
mesmo tempo, estamos também diante da
mais centrado e concentrado por parte dos
semente de um repensar dos princípios do
professores e de todos os envolvidos no
humanismo. Assim, reafirmamos nosso
ambiente escolar que prestam especial
vínculo com uma educação capaz de
atenção às deficiências e às suas
libertar o indivíduo em sua condição
fragilidades, mas a cooperação entre as
humana.
formações sociais é também exigidos, em
A defesa da formação do homem nos novas dimensões de integração escolar e
faz pensar em toda a sua integridade. O territorial, para que todos possam
ser social desenvolve as capacidades que desenvolver uma actividade ou um
lhe permitem ser e atuar no mundo como trabalho que contribua para o progresso
sujeito histórico. O homem se forma como material e espiritual da sociedade, de
ser humano em sua interação com a acordo com as suas próprias capacidades
natureza e com os outros, em que a e as da própria escola.
natureza é entendida como modificadora,
Várias culturas e línguas entraram na
que integra progressivamente as
escola. Hoje, múltiplas culturas se
conquistas e intervenções humanas. Ao
tornaram um modelo para todas as
adquirir, por meio da educação em sentido
crianças e jovens aprenderem sobre suas
amplo, esse conjunto de realizações
identidades e as dos outros. A escola
humanas, ele se configura como um ser
aceita com sucesso o desafio global de
social e cultural, capaz de agir de acordo
abertura ao mundo, uma prática igualitária
com as circunstâncias mutáveis.
que reconhece as diferenças.
Em termos de alfabetização, a
A relação entre o sistema educacional
formação do sujeito nas escolas é um
e o local de trabalho também está
reconhecimento de que ler não é

39
mudando rapidamente. Todos precisam reorganizar e transformar constantemente seus
conhecimentos, habilidades e até empregos. Tecnologias e conhecimentos tornam-se
obsoletos em poucos anos. Portanto, o objetivo das escolas não pode ser principalmente
ensinar o desenvolvimento de certas técnicas e habilidades, mas formar cada indivíduo em
um nível cognitivo e cultural para que ele possa enfrentar positivamente a incerteza e
instabilidade da sociedade. E o panorama profissional, presente e futuro.

Já não basta a disseminação modular e ordenada do conhecimento, destinada a


transmitir conteúdos inalterados ao homem comum. Em vez disso, as escolas são
incentivadas a desenvolver percursos educativos cada vez mais adaptados às preferências
individuais de cada criança, de forma a apreciar o que é único em cada criança.

Com a implantação da BNCC veio a mudança mais importante na educação básica: a


necessidade de desenvolver os conhecimentos, habilidades, atitudes e valores básicos do
século XXI nas escolas.

40
O COMPROMISSO DO CURRÍCULO
COM A EDUCAÇÃO INTEGRAL

A
Educação Integral é uma a preservação da natureza” (BRASIL,
concepção que compreende 2013), mostrando-se também alinhada à
que a educação deve Agenda 2030 da Organização das Nações
garantir o desenvolvimento dos sujeitos em Unidas (ONU).
todas as suas dimensões – intelectual,
A Educação Integral:
física, emocional, social e cultural e se
constituir como projeto coletivo, é uma proposta contemporânea
compartilhado por crianças, jovens, porque, alinhada às demandas do século
famílias, educadores, gestores e XXI, tem como foco a formação de sujeitos
comunidades locais. críticos, autônomos e responsáveis
consigo mesmos e com o mundo
À primeira vista, o capítulo introdutório
da BNCC deixa muito claro que se deve é inclusiva porque reconhece a
promover a educação integral e o singularidade dos sujeitos, suas múltiplas
desenvolvimento de competências. identidades e se sustenta na construção da
pertinência do projeto educativo para todos
A base se apoia em dois fundamentos
e todas;
pedagógicos para a educação básica:
é uma proposta alinhada com a noção
1. O compromisso com a educação
de sustentabilidade porque se compromete
integral.
com processos educativos
2. Foco no desenvolvimento de
contextualizados e com a interação
competências.
permanente entre o que se aprende e o que
A BNCC reconhece que a “educação se pratica;
deve afirmar valores e estimular ações que
promove a equidade ao reconhecer o
contribuam para a transformação da
direito de todos e todas de aprender e
sociedade, tornando-a mais humana,
acessar oportunidades educativas
socialmente justa e, também, voltada para
diferenciadas e diversificadas a partir da

41
interação com múltiplas linguagens, uma visão não fragmentada das
recursos, espaços, saberes e agentes, disciplinas e tenham uma formação
condição fundamental para o holística. Para atingir tais objetivos, faz-se
enfrentamento das desigualdades necessário iniciar os trabalhos efetivos na
educacionais. educação infantil, sem deixar de pensar
em como incluir as diferenças individuais.
Foco no desenvolvimento de
O princípio básico da educação
competências
integral é a integralidade que consiste em
Para que ocorra o desenvolvimento
promover uma educação não fragmentada
de competência dos alunos, é preciso:
e que tenha uma qualidade sociocultural.
1. Adquirir conhecimentos; Integrar os conteúdos curriculares com
outros aspectos como a dança, o esporte,
2. Adquirir habilidades (para aplicar
a mente, o corpo, etc. promove a
os conhecimentos na prática);
interdisciplinaridade e contribui para a
3. Atitudes e intenção;
visão holística do estudante (GADOTTI,
4. Valores (que sejam utilizados de 2009, p. 97-98).
forma ética e coerente com as
As escolas precisam pensar para
habilidades).
além do conteúdo cognitivo dos alunos,
Nesse sentido, as competências pois, eles têm múltiplas inteligências e
estão vinculadas diretamente aos direitos todas elas devem ser abordadas na
de aprendizagem e desenvolvimento que educação. A quantidade dos conteúdos é
as redes de ensino, escolas e professores relevante, porém, a qualidade e a conexão
devem garantir a todos os alunos. Afinal, deles com a vida prática tem muito mais
pode-se dizer que as Competências validade cultural.
Gerais clarificam que tipo de cidadãos
Setubal e Carvalho (2012, p. 114)
deseja-se formar e que sociedade eles
relembram que para uma educação
deverão ser capazes de construir.
integral de qualidade, não basta aumentar
Processos educativos precisam ser o tempo de permanência na escola, mas é
criados para promover aprendizagens preciso mudar o tipo de formação
significativas e que estejam em oferecido aos discentes. A educação
consonância com os desafios da integral considera o desenvolvimento
sociedade brasileira moderna. Então, a humano no todo, englobando dimensões
BNCC propõe que os estudantes tenham sociais, afetivas, éticas e estéticas na

42
busca da ampliação do repertório e para desiguais de poder, o conhecimento
que os futuros cidadãos consigam lidar cotidiano dos estudantes, as redes de

com a rapidez das mudanças da saberes, as diversas práticas

sociedade contemporânea. Para as institucionais em que eles crescem e se


desenvolvem, passaram a ser
autoras, o que atualmente se almeja é “[...]
integrados nos modos de compreender
o desenvolvimento de um homem
a dinâmica da escola (LIB NEO, 2013,
empreendedor e solidário” e para isso a
p. 6)
escola do século 21 precisa passar por
significativas transformações, ou seja N a p e r s p e c t i v a d a
multidimensionalidade, as propostas
[...] a qualidade da educação
pedagógicas a serem realizadas no
pretendida tem a ver com a oferta
contexto escolar devem se organizar
educativa que contemple a totalidade
das dimensões humanas, não mais
organicamente de maneira a reconhecer e

estritas ao desenvolvimento cognitivo e valorizar as singularidades, a diversidade


intelectual. Quer-se humanizar o social, cultural, étnico-racial, de gênero,
ensino e tornar a formação integral um religiosa, territorial, socioeconômica e
bem pessoal e coletivo (SETUBAL; linguística.
CARVALHO, 2012, p.115).
Assim, a Educação Integral, desde os
Na condição de concepção, sustenta- anos iniciais, cumpre o papel fundamental
se por quatro princípios: equidade, nas discussões sobre desigualdade,
inclusão, contemporaneidade e racismo, homofobia, violência de gênero,
sustentabilidade relações da humanidade com a natureza,
A dimensão cultural diz respeito t e m a s e m e r g e n t e s n a
também à diversidade e produção contemporaneidade, questões filosóficas,
cultural em suas diferentes linguagens, culturais, políticas e sociais ao lado dos
às questões identitárias, práticas e conhecimentos historicamente
costumes. Nas últimas décadas, a construídos de maneira a promover a
cultura passou a ser considerada não formação de indivíduos com
apenas como formas de expressão da
oportunidades de realizarem as suas
vida em sociedade, mas como um
escolhas, que sejam atuantes na
campo de atuação humana, um espaço
sociedade, éticos, criativos e que
de lutas – dimensão política. Assim, as
valorizem o conhecimento e a vida.
questões relativas às diferenças de
classe social, étnicas, de linguagem,
políticas, físicas, sexuais, as relações

43
AS COMPETÊNCIAS NO PROCESSO
DE ENSINO E APRENDIZAGEM

A
s reflexões sobre o conceito e procedimentos), habilidades (práticas
de competência e suas cognitivas e socioemocionais), atitudes e
implicações educacionais valores, para resolver demandas
ocupam um lugar de destaque na pesquisa complexas da vida cotidiana, do pleno
educacional em nível nacional e exercício da cidadania e do mundo do
internacional. No século XVIII, o seu trabalho”. Assim sendo, a expressão
significado estendeu-se à esfera pessoal, “competências e habilidades” é
denotando capacidades resultantes do equivalente à “direitos e objetivos de
conhecimento e da experiência. aprendizagem” presente na Lei do Plano
Nacional de Educação (BRASIL, 2017).
Na Resolução CNE/CP Nº 2, de 22 de
dezembro de 2017. que institui a BNCC, o A mesma resolução, alinhada à LDB e
Artigo 3 define competência como “a ao PNE, fundamenta-se nas seguintes
mobilização de conhecimentos (conceitos competências gerais:

44
AS COMPETÊNCIAS GERAIS
1. Conhecimento - Valorizar e utilizar os conhecimentos historicamente
construídos sobre o mundo físico, social, cultural e digital para entender e explicar a
realidade, continuar aprendendo e colaborar para a construção de uma sociedade justa,
democrática e inclusiva;

2. Pensamento científico, crítico e criativo - Exercitar a curiosidade


intelectual e recorrer à abordagem própria das ciências, incluindo a investigação, a reflexão, a
análise crítica, a imaginação e a criatividade, para investigar causas, elaborar e testar
hipóteses, formular e resolver problemas e criar soluções (inclusive tecnológicas) com base
nos conhecimentos das diferentes áreas;

3. Senso estético e repertório cultural - Desenvolver o senso estético


para reconhecer, valorizar e fruir as diversas manifestações artísticas e culturais, das locais
às mundiais, e também para participar de práticas diversificadas da produção artístico-
cultural;

4. Comunicação - Utilizar diferentes linguagens –verbal (oral ou visual-motora,


como Libras, e escrita), corporal, visual, sonora e digital –, bem como conhecimentos das
linguagens artística, matemática e científica para se expressar e partilhar informações,
experiências, ideias e sentimentos, em diferentes contextos, e produzir sentidos que levem
ao entendimento mútuo;

5. Cultura digital - Compreender, utilizar e criar tecnologias digitais de


informação e comunicação, de forma crítica, significativa, reflexiva e ética nas diversas
práticas sociais (incluindo as escolares) para se comunicar, acessar e disseminar
informações, produzir conhecimentos, resolver problemas e exercer protagonismo e autoria
na vida pessoal e coletiva;

6. Autogestão - Valorizar a diversidade de saberes e vivências culturais e


apropriar-se de conhecimentos e experiências que lhe possibilitem entender as relações
próprias do mundo do trabalho e fazer escolhas alinhadas ao exercício da cidadania e ao seu
projeto de vida, com liberdade, autonomia, consciência crítica e responsabilidade.

7. Argumentação - Argumentar com base em fatos, dados e informações


confiáveis, para formular, negociar e defender ideias, pontos de vista e decisões comuns, que

45
respeitem e promovam os direitos humanos, a consciência socioambiental e o consumo
responsável, em âmbito local, regional e global, com posicionamento ético em relação ao
cuidado consigo mesmo, com os outros e com o planeta.

8. Autoconhecimento e autocuidado - Conhecer-se, apreciar-se e


cuidar de sua saúde física e emocional, compreendendo se na diversidade humana e
reconhecendo suas emoções e as dos outros, com autocrítica e capacidade para lidar com
elas.

9. Empatia e cooperação - Exercitar a empatia, o diálogo, a resolução de


conflitos, de forma harmônica, e a cooperação, fazendo-se respeitar, bem como promover o
respeito ao outro e aos direitos humanos, com acolhimento e valorização da diversidade de
indivíduos e de grupos sociais, seus saberes, identidades, culturas e potencialidades, sem
preconceitos de qualquer natureza.

10. Autonomia - Agir pessoal e coletivamente com autonomia, responsabilidade,


flexibilidade, resiliência e determinação, tomando decisões, com base em princípios éticos,
democráticos, inclusivos, sustentáveis e solidários.

46
A CONCEPÇÃO TEÓRICA DE
ENSINO E APRENDIZAGEM QUE
CONDUZEM O CURRÍCULO

T
odos nós aprendemos sem filiação fica evidente ao ver o professor
nos importar muito com a como um facilitador da aprendizagem e até
natureza do processo, e mesmo como um disseminador do
todas as pessoas comuns ensinam sem conhecimento. No entanto, é legítimo
buscar suporte teórico para explicar o considerar que, quando se ensina, também
processo de ensino. Como professores, se aprende, e a aprendizagem pode ser
temos algumas referências explicativas e intrinsecamente auto-mobilizada. Esse
as utilizamos para orientar nossa prática. assentimento levanta questões sobre o
papel do professor quanto à sua posição de
Ensinar (ensino) é a relação entre o
ensino.
professor e o conhecimento, enquanto
aprender (aprendizagem) é a relação entre Falar sobre o papel do professor no
o aluno e o conhecimento. A grosso modo, processo de ensino/aprendizagem é
o professor oferece o ensino, enquanto o mostrar o quanto sua prática é permeável:
aluno promove a aprendizagem. O ensino não como um simples transmissor de
é conceito que se relaciona ao ato docente; conteúdos, mas como um gestor de
a aprendizagem, por sua vez, se relaciona conhecimentos que valoriza a experiência
ao discente. Dessa forma, ao falar de e a interioridade. Formar um aluno como
ensino-aprendizagem, estamos falando da um ser humano capaz de pensar, de criar,
relação professor-aluno. de experimentar coisas novas e de ser
cidadão.
Do ponto de vista do conhecimento
popular, a relação entre ensino e A aprendizagem, por sua vez, pode
aprendizagem é vertical. Assim, onde há ser definida como o processo pelo qual
ensino, deve haver aprendizado. Se não há ocorrem mudanças relativamente
aprendizagem, não há educação. Portanto, permanentes no comportamento que não
aprender está sujeito ao ensinar. Essa podem ser explicadas pela maturidade,

47
CARACTERÍSTICAS DE APRENDIZAGEM
A aprendizagem ocorre sem treinamento prévio.

Este é um processo relativamente rápido. Às vezes, isso é feito com simples

observação.

O modelo afeta o observador após o tempo de observação. Isso significa que

o observador se lembra do comportamento.

A aprendizagem social é um processo cognitivo fascinante porque toda

aprendizagem social leva inevitavelmente a representações mentais. Nessas

representações simbólicas, imagens de linguagem, gráficos ou elementos de

memória influenciarão o modelo de retenção da imitação.

Envolve a participação ativa e criativa do observador, pois o comportamento

do modelo não se repete exatamente da mesma forma.

Uma parte do modelo deve primeiro ter algum comportamento para ser

observável e depois imitá-lo. Os modelos podem ser animados ou

inanimados, reais ou figurativos.

É uma aprendizagem casual, ou seja, ocorre sem punição ou reforço prévio.

O aprendizado pode ser aprendido de maneira ingênua, embora seja

necessária uma implementação externa para demonstrar que o aprendizado

ocorreu.

REFERÊNCIAS
Bandura, A. (1977). Social Learning Theory. Englewood Cliffs, NJ: Prentice Hall.

48
tendências de resposta inata, lesões ou isto é, falta de problematização e aplicação
mudanças fisiológicas no organismo, mas de saberes sobre a realidade.
são o resultado da experiência. Há várias
Por outro lado, oposto à APT, a
facetas e vertentes da aprendizagem que,
aprendizagem baseada em problemas
embora aplicadamente diferentes,
(ABP), por exemplo, é partida da base de
idealizam a obtenção de conhecimento de
um mundo acelerado, o que importa não é
mundo pelo aluno. No entanto, algumas
que se espere o conhecimento ou ideias
desconsideram a formação plena do
fáceis, nem que haja apenas uma atitude
sujeito.
correta ante o objeto de conhecimento,
A aprendizagem por transmissão pois, no campo da observação, tudo é
(APT) pode estar relacionada às experimental. Portanto, a capacidade de
perspectivas behavioristas. A instrução evoluir é a capacidade de fazer perguntas
intermediária se concentra na relevantes em qualquer situação. Faça
interpretação verbal do professor, perguntas relevantes, entenda-as e saiba
transmitindo ideias (estímulos) aos alunos, respondê-las coerentemente com a
ou seja, o aluno deve coletar, armazenar e realidade em que elas surgem. Nessa
reproduzir informações. Nesse tipo de aprendizagem, não separa a
aprendizagem, o aluno é considerado uma transformação pessoal da transformação
“página em branco”, uma “tábua rasa”. social, pois tudo é construído e modificado
Portanto, para atingir seu objetivo, a coletivamente.
experiência básica que o aluno tem é
aquela que a oralidade do professor ou o
livro oferece. O aluno fica incumbido de
memorizar conceitos e reproduzi-los tal
qual como foram transmitidos. Nesse tipo
de processo de aprendizagem, não se
constrói um aluno sujeito, não se
mobilizam valores e atitudes que podem
infligir em seu meio, já que o saber é dado
como pronto e separado de seu contexto;
deve-se apenas conformar-se com o que
se lhe é exposto, sem necessidade de
refletir situações ou aplicar competências,

49
AS CONDIÇÕES DE APRENDIZAGEM
CONCEBIDAS PELO CURRÍCULO

A
s condições afetam positiva Psicológicos: referem-se à
ou negativamente o motivação, atitudes e autoconceito.
aprendizado, concebendo
Ta m b é m c o n h e c i d a c o m o
aquilo que a modifica ou fatores, que
aprendizagem social, a aprendizagem
melhoram ou pioram o aprendizado.
observacional é um método de obtenção
Podemos dividir em duas categorias:
de conhecimento por meio da exposição ao
externas e internas.
comportamento de outras pessoas, é uma
As condições externas referem-se a condição externa de aprendizagem
todos os fatores que vêm do ambiente, efetivamente comum. A teoria foi proposta
como fatores culturais, econômicos ou por Albert Bandura (1977), psicólogo
sociais. canadense que estuda a aquisição de
comportamentos agressivos. Ele cita
Eles provêm do local de residência e
algumas características de aprendizagem:
suas características, do centro educacional
que frequentam, das qualificações dos
professores que compõem a unidade
escolar, de sua situação familiar e do
ambiente de aprendizagem.

As condições internas são aquelas


que dependem dos alunos. Esses são os
fatores fisiológicos e psicológicos de cada
indivíduo.

Fisiológicos: referem-se ao estado


da saúde do corpo, como alimentação,
descanso, desenvolvimento anatômico e
funcionamento dos sentidos.

50
ESTRATÉGIAS DE APRENDIZAGEM

U
ltimamente, as estratégias necessária a atualização dos conteúdos e
de aprendizagem métodos de ensino das disciplinas
adquiriram importância escolares. É cada vez mais importante que
crescente na pesquisa psicológica e na os alunos não precisem apenas aprender
prática educacional. Isso se deve ao conhecimento, mas também o processo
impulso que faz do aprendizado um dos de geração de conhecimento.
principais objetivos de qualquer programa
A educação, portanto, não visa
educacional.
apenas transmitir conhecimentos e
No início, a teoria psicológica seguia assegurar determinados resultados
um modelo que sustentava que as educativos, mas também deve facilitar a
pessoas eram apenas receptores análise dos processos pelos quais esses
passivos de informações e que seu conhecimentos foram adquiridos.
conhecimento era apenas uma réplica do
Para que a aprendizagem seja
que haviam adquirido de seus
eficaz, é preciso levar em conta o fato de
professores. Mais recentemente, a teoria
poder, querer e saber aprender. O poder
propõe que os aprendizes participem
aprender significa que o aluno tenha
ativamente na gestão de seu
habilidades suficientes para aprender. O
conhecimento e na criação de situações
querer aprender não é alcançado apenas
cognitivas por meio da relação entre a
fazendo um curso na escola ou sentado
nova informação e seu conhecimento
em casa com um livro por horas. Para
prévio sobre o assunto.
aprender, o aluno deve querer aprender,
No entanto, as novas necessidades ter disposição e motivação, condições
de formação social têm um grande internas para isso. O saber aprender
impacto, porque vivemos numa sociedade requer conhecimento de determinados
que exige mais das capacidades de comportamentos que são guiados por
aprendizagem dos alunos. As reformas métodos que facilitam o aprendizado.
pedagógicas também tornaram
Estratégias permitem tomar decisões

51
adequadas a qualquer momento do determinar as condições necessárias para
processo de aprendizagem, ou seja, a resolver com sucesso as tarefas de
forma de trabalhar para melhorar o pesquisa, determinar os métodos mais
desempenho que também pode ser adequados a serem usados, controlar sua
definido como as atividades ou operações aplicação e tomar decisões subsequentes
mentais que um aluno pode realizar para com base nos resultados.
facilitar e melhorar seu aprendizado.

Olhando para as estratégias, a


qualidade da aprendizagem é menos
afetada pela qualidade do ensino do
professor do que pela qualidade do
comportamento dos alunos. De fato, se um
aluno, por melhor que seja sua educação,
se limita à repetição ou reprodução, a sua
aprendizagem será simplesmente
mecânica, repetitiva e baseada em
memórias, excluindo as suas
competências. Por outro lado, se o aluno
escolher, organizar e aprofundar os seus
conhecimentos, então a aprendizagem
será construtiva, significativa e mais útil.
Quanto mais construtivo for o processo de
aprendizagem da disciplina, mais eficaz
será.

Se um aluno quiser compreender um


texto, poderá utilizar estratégias de
seleção de ideias relacionadas, para as
quais utilizará, por exemplo, a técnica de
destacar os pontos principais de um tema.
A estratégia pode ser vista a serviço do
processo e a tecnologia a serviço da
estratégia.

As estratégias são responsáveis por

52
MULTIDISCIPLINARIDADE,
INTERDISCIPLINARIDADE E
TRANDISCIPLINARIDADE

A
pesar da percepção da necessidade de integração entre as disciplinas, a
realidade do ensino em todos os níveis no Brasil convive cotidianamente com
uma organização pedagógica fragmentada e desarticulada, na qual o currículo
escolar é constituído por compartimentos estanques e incomunicáveis. O professor precisa
incorporar aulas com a prática social que exige uma formação mais crítica e competente.
Essa característica de fragmentação e desarticulação decorre da demanda material de
cultivo individual imposta pela sociedade moderna em sua forma de organização social às
instituições educacionais, incluindo as escolas de todos os níveis.

A multidisciplinaridade é um conjunto de disciplinas simultâneas, sem revelar


possíveis relações entre elas, visando um sistema de nível único com um único objetivo. As
informações de diferentes disciplinas são usadas para estudar um determinado elemento
sem considerar a interrelação entre as disciplinas. Assim, cada tópico contribui com
informações específicas de seu domínio de conhecimento sem considerar a integração entre
eles. Essa forma de relacionamento entre as disciplinas é considerada ineficaz para a
transferência do conhecimento, pois impede o relacionamento entre vários tipos de
conhecimento. Principalmente nos anos finais do ensino fundamental, há uma cultura de
segregar as áreas de conhecimento como se a interdependência fosse ocasionar prejuízo na
aprendizagem dos alunos.

No método multidisciplinar, tenta-se um trabalho conjunto dos docentes entre as


disciplinas, cada uma abordando temas comuns a partir de sua própria perspectiva,
articulando com sua própria bibliografia, técnicas de ensino e procedimentos de avaliação.
Pode-se dizer que uma pessoa multidisciplinar, nesse caso, estuda as disciplinas do currículo
escolar de perto, mas não em conjunto.

A origem da multidisciplinaridade está na ideia de que o conhecimento pode ser dividido


em disciplinas, sendo que uma disciplina é um tipo específico de conhecimento com um
objeto definido e reconhecido, e o conhecimento está relacionado a esse objeto

53
conhecimento sobre seus próprios que alimenta essa discussão leva a uma
métodos. As tentativas de criar relações compreensão mais profunda, trazendo à
entre as disciplinas criam o que é tona a definição de prática que se pretende
conhecido como interdisciplinaridade. pertinente à teoria. Claramente, a
integração entre teoria e prática implica a
Um professor tentará desenvolver
construção de ações transformadoras
seus alunos a partir de tudo que ele tem
dentro da sociedade capitalista. Dessa
aprendido toda a sua vida. O ensino e
forma, a prática requer reflexão teórica, ou
aprendizagem com base interdisciplinar
seja, superar ações impensadas com
fornece aprendizagem bem estruturada e
práticas concretas, refletidas,
enriquecida, pois os conceitos são
pensamentos e ações concretas. A
organizados em torno de unidades mais
interdisciplinaridade não é apenas a
globais, estruturas conceituais e
compatibilização de métodos e tecnologias
metodológicas compartilhadas por várias
pedagógicas, é uma necessidade e um
disciplinas, permitindo que os alunos
problema relacionado com realidades
sintetizem os tópicos estudados.
concretas, históricas e culturais e constitui,
Na interdisciplinaridade , há assim, uma questão de ética, política,
colaboração entre profissionais de economia e epistemológica.
diferentes áreas, ocorre interação entre os
O termo transdisciplinaridade foi
profissionais de diferentes áreas.
cunhado pelo educador Jean Piaget e
A interdisciplinaridade parece facilitar
divulgado pela primeira vez em 1970. Ela é
a superação da super especialização e da
um princípio teórico, buscando uma
desconexão entre teoria e prática como
intercomunicação entre as disciplinas,
alternativa às disciplinas. Já se pode notar
tratando concretamente de um tema
aqui que a discussão da
c o m u m e t r a n s v e r s a l . A
interdisciplinaridade é inspirada numa
transdisciplinaridade, ao quebrar as
crítica à organização social capitalista, à
fronteiras entre uma disciplina e outra,
divisão social do trabalho e à busca pela
busca compreender os fenômenos e
formação do humano na sua integralidade.
adquirir conhecimento de forma holística e
O relacionamento de teoria e prática
contextualizada. Assim, o conhecimento é
envolvido em disciplinas interdisciplinares
transversal na medida em que atravessa
remete a uma formação integral sob uma
todas as disciplinas de alguma forma e
perspectiva holística. O pensamento crítico
articula saberes humanísticos e modernos

54
à sociedade contemporânea. individual e coletiva, e afirmar princípios de
participação política. Isso significa que
Segundo os Parâmetros Curriculares
devem ser pesquisados de forma
Nacionais (1997),
transversal dentro de um campo e/ou
os Temas Transversais têm natureza
disciplina já existente. Os assuntos
diferente das áreas convencionais. Sua
transversais são aqueles que se enfatizam
complexidade faz com que nenhuma
pela urgência social, abrangência nacional,
das áreas, isoladamente, seja suficiente
para abordá-los. Ao contrário, a
compreensão da realidade e participação

problemática dos Temas Transversais social.


atravessa os diferentes campos do Assim, a teoria transdisciplinar, por
conhecimento. Por exemplo, a questão
meio dos assuntos transversais,
ambiental não é compreensível apenas
apresenta-se como uma proposta de
a partir das contribuições da Geografia.
reforma da educação, capaz de articular
Necessita de conhecimentos históricos,
diferentes campos do saber, adotando
das Ciências Naturais, da Sociologia,
gestos de respeito às diferenças,
da Demografia, da Economia, entre
outros. Por outro lado, nas várias áreas solidariedade e integração com a natureza
do currículo escolar existem, implícita e questões sociais, pois, na atualidade a
ou explicitamente, ensinamentos a crise globalizada e complexa, significa
respeito dos temas transversais, isto é, outra dimensão da vida. A maneira
todas educam em relação a questões equivocada como vemos, significamos e
sociais por meio de suas concepções e dialogamos sobre a vida, por meio de
dos valores que veiculam. No mesmo pensamentos, também é de natureza
exemplo, ainda que a programação
transdisciplinar.
desenvolvida não se refira diretamente
à questão ambiental e a escola não Integrar práticas de ensino
tenha nenhum trabalho nesse sentido, perpassando diferentes áreas do
Geografia, História e Ciências Naturais conhecimento é necessário para abordar
sempre veiculam alguma concepção de efetivamente temas transversais para uso
ambiente e, nesse sentido, efetivam mais amplo do conhecimento humano.
uma certa educação ambiental. Nessa prática, onde não há fronteiras entre
Os temas transversais na educação as disciplinas, essa observação múltipla
visam compreender e estabelecer permite que os alunos se envolvam com o
realidades sociais, direitos e conhecimento, interajam entre os vários
responsabilidades relacionados com a vida aspectos da compreensão do mundo,

55
reflitam e colaborem com um objetivo vista da transformação social é também
principal: o conhecimento. importante: o autoconhecimento; o
trabalho com o corpo, com as emoções,
Atualmente, nos objetivos almejados
com a razão e com o espírito; o
pela demanda desta sociedade
desenvolvimento da consciência
contemporânea, sabe-se que o trabalho ecológica; o respeito pelas diferenças
focado apenas em uma disciplina fica pessoais, coletivas e raciais; a
limitado apenas a saberes isolados de articulação entre o mundo da
completude de contexto trasnversal. Nesse interioridade e da exterioridade sócio-
diálogo, D‟Ambrósio (1997 p. 89) afirma político-econômica em uma realidade
que: onde todas as dimensões estão
interligadas.
Se pretendemos uma educação
abrangente, envolvida com o estado do
mundo, abrindo perspectivas para um
REFERÊNCIAS
futuro melhor, temos que repensar
nossa prática, nossos currículos. Os
objetivos da educação são muito mais
amplos que aqueles tradicionalmente
apresentados nos esquemas
BRASIL. Secretaria de Educação

disciplinares. Devem necessariamente Fundamental. Parâmetros curriculares


situar a educação no contexto da nacionais : apresentação dos temas
globalização evidente do planeta. transversais, ética / Secretaria de
Educação Fundamental. – Brasília :
Assim, compreende-se que a
MEC/SEF, 1997.
transdisciplinaridade rompe com o ensino
tradicional, focado na reprodução de D ’ A M B R Ó S I O , U .
saberes, e promove uma aprendizagem Transdisciplinaridade. São Paulo: Palas
mobilizada por habilidades e Athena, 1997
competências, utilizando conceitos, SANTOS NETO, Elydio dos. Por uma
atitudes e valores na prática de educação transpessoal: a ação
conhecimentos interligados à dinâmica dos pedagógica e o pensamento de
reais problemas pessoais e sociais. Nisso, StanislavGrof.Rio de Janeiro: Lucerna,
como afirma Santos Neto(2006 p. 42): 2006.
Assim, tão importante quanto conhecer
e discutir as ideologias políticas em

56
MODELO DE JANTSCH

57
AS TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO
E COMUNICAÇÕES NO PROCESSO DE
APRENDIZAGEM

N
a segunda metade do comunicar-se e interagir com outros grupos
século XX, quando o ou cidadãos fora dos limites do espaço e do
aparecimento das tempo.
chamadas novas tecnologias da época
Isto posto, é necessário estudar o
levou ao aparecimento da chamada
impacto das novas tecnologias na
revolução digital, essa revolução foi
educação e seu impacto no processo de
diferente do passado, e implicou em
ensino e aprendizagem. A princípio, o
mudanças e transformações no que diz
impacto parecia menor do que em outras
respeito ao que se chama hoje.
áreas, já que a educação não cumpria, de
As TICs, especialmente a Internet, qualquer forma, seu papel transformador.
desenvolvem-se rapidamente e estão No entanto, uma análise mais aprofundada
integradas na vida das pessoas. Em menos mostrou que havia um atraso significativo
de uma década, a internet e suas diversas nas consequências das mudanças da
aplicações afetaram a vida de cidadãos, prática, que incluíam não apenas
empresas, organizações e governos. Por investimentos em equipamentos e
outro lado, quando olhamos ao nosso treinamento mas também mudanças de
redor, podemos apreciar a infinita atitude ou mentalidade. As principais
variedade na forma como nos razões para o atraso na integração das
comunicamos, nos organizamos e até tecnologias de informação e educação são
trabalhamos ou nos divertimos. Pode-se a falta de financiamento, o apoio
dizer que uma nova sociedade se institucional insuficiente e a falta de
estabeleceu, a sociedade da informação flexibilidade e adaptabilidade de alguns
(SI), também conhecida como sociedade professores.
do conhecimento, cuja principal
Para que ocorra uma mudança real, é
característica é a capacidade de acessar
preciso primeiro analisar, questionar e
uma grande quantidade de informações,

58
compreender plenamente que as TICs, na igualdade, oportunidade e sem
educação, além de serem um meio de discriminação, na medida da nova
resolver problemas, significam melhorar a sociedade da informação, evidenciando a
qualidade da educação, por conta das necessidade de uma mudança
novas exigências da sociedade da educacional. Nesse desenvolvimento, as
informação. tecnologias de informação e comunicação
desempenham um papel fundamental
Integrar as TICs no sistema educativo
porque se tornaram ferramentas para as
pode ser um desafio, pode ser uma
mudanças que a sociedade da informação
provocação, mas, hoje, em todas as
trouxe no campo da educação.
perspetivas (social, relacional, pessoal,
profissional) é essencial que os jovens De forma geral, instituições, governos
prosperem nessa nova sociedade. e professores têm a consciência de que o
uso das TICs nos sistemas de ensino e
Algumas escolas podem adotar as
aprendizagem, muitas vezes, leva a uma
TICs, mas é muito necessário questionar e
melhoria da qualidade. No entanto, a
analisar se o fazem inteiramente do ponto
utilização das TICs, na sala de aula, não
de vista técnico ou se o fazem também do
deve limitar-se apenas ao ensino da
ponto de vista pedagógico. Se Isso já é feito
tecnologia em si, mas das competências
do ponto de vista pedagógico, vale a pena
necessárias para prosperar na sociedade
verificar até que ponto isso foi feito.
da informação. Precisamos ir além e
Talvez a questão mais importante ao
entender que usar as TICs, na sala de aula,
integrar as TICs nas escolas seja que não
deve significar escolher algumas das
só elas devem ensinar novas tecnologias,
ferramentas que nos são dadas e usá-las
não só as disciplinas tradicionais devem
na sala de aula em uma perspectiva real
continuar a ser ensinadas através das TIC,
em vez de ser apenas um complemento do
mas as TIC devem também fazer parte do
sistema de ensino tradicional. A
ensino, da própria escola e do seu
incorporação da tecnologia no ensino deve
ambiente.
ser capaz de melhorar o processo de
O ambiente social em que vivemos ensino, bem como o progresso dos alunos.
hoje, caracterizado por novos padrões
Deve-se incluir não apenas a
familiares, novos ambientes profissionais e
substituição de cadernos e lápis por
uma maior diversidade de alunos, exige o
computadores e impressoras mas também
desenvolvimento de um novo sistema
o uso de novos dispositivos. Considerando
educacional baseado no princípio da

59
que essa evolução do sistema educacional podem ser negados. A educação global
não consiste no uso de novas tecnologias requer mudanças significativas nas
ao lado de métodos tradicionais, essa pessoas, bem como mudanças políticas
integração deve ser feita por meio da nas instituições de ensino.
interação, criando novos quadros
As informações que precisam ser
relacionais, incentivando a colaboração e,
transmitidas aos alunos não podem ser
acima de tudo, oferecendo estratégias
acompanhadas apenas pelo professor em
criativas e flexíveis para a prática do
sala de aula. A abordagem centrada no
conhecimento em rede de trabalho digital.
ensino é obsoleta agora que os recursos
A s s i m , n e s s a n o v a p e r s p e ti v a educacionais existentes podem ser
pedagógica, defende-se a utilização da encontrados e distribuídos entre os alunos
tecnologia não como um fim, mas como um no dia a dia em qualquer lugar do mundo. A
meio para melhorar a aprendizagem. É educação está fora da escola, crianças e
importante a utilização adequada das adultos aprendem e se formam todos os
novas ferramentas disponibilizadas pelas dias, em casa, na rua, na televisão, no
TICs, bem como compreender o papel do trabalho e na internet.
docente não mais como único detentor do
Os benefícios mais notáveis da mídia
conhecimento, mas quem o deve mediar
para a sociedade incluem o acesso à
com valores e reflexões para mobilização
cultura e à educação, o progresso
de competências.
tecnológico e os benefícios da era da
Hoje, mais do que nunca, estamos comunicação em que vivemos. No entanto,
conscientes das limitações de um sistema alguns especialistas insistem que deve
de ensino tradicional ou formal, centrado haver uma conexão entre as informações
no ensino, centrado em aulas presenciais e fornecidas e a capacidade das pessoas de
com professor presente. Sempre que for absorvê-las.
possível ao aluno conhecer outras
A disseminação das tecnologias de
situações e pessoas, como vivem, o que
informação e comunicação é uma grande
pensam, que problemas têm, quão
oportunidade e uma fronteira crítica para a
semelhantes ou diferentes são com ele,
escola. Esta é a revolução dos tempos, não
descobrirá como é fácil conseguir isso
um simples aumento nos métodos de
pelas TICs. O poder e o valor educacional
aprendizagem. As escolas não têm mais o
de uma ferramenta simples como o e-mail
monopólio da informação e dos métodos
para comunicar e integrar pessoas não
de aprendizagem.

60
AVALIAÇÃO DE APRENDIZAGEM

A
avaliação deve ser um observação e adaptação às necessidades
procedimento constante na individuais de cada aluno, direcionando-os
vida de uma pessoa. Desde para analisar o que está acontecendo em
a infância, deve-se aprender a valorizar sala de aula, tomar decisões caso a caso e
tudo o que faz ou deixa de fazer, para que reorientar ou transformar o trabalho.
se sinta responsável por seus atos. É assim
É conveniente que os professores
que distinguimos entre o que é prejudicial e
aprendam a confiar nas habilidades dos
o que é benéfico. A avaliação é
alunos e aceitá-los em situações
principalmente uma atividade para se
tradicionais, para as quais a nova
refletir. Na prática pedagógica não param
abordagem pedagógica oferece escolhas
de surgir questionamentos e dúvidas sobre
muito mais consistentes ao conhecimento
a avaliação e seu papel nos diversos
do indivíduo. É possível que, em algum
momentos do ensino.
momento, os professores sintam-se muito
Do ponto de vista da nova abordagem inseguros para descartar os tradicionais
educacional, a avaliação não pode mais conceitos sobre o assunto. A sua
ser considerada como uma forma de saber realização, com todas as suas
quem passa e quem reprova, ou como uma consequências, deve exigir grandes
ferramenta de sanção e qualificação que progressos para cada aluno e para todos
mede conteúdos memorizados. A como um grupo. Essa atitude significa que
avaliação permite que você se concentre eles estão envolvidos de forma muito direta
no potencial individual de cada aluno. no processo reflexivo, que envolve a
avaliação de conhecimentos, habilidades e
Nessa perspectiva, a avaliação
atitudes. Promover o desenvolvimento
corresponde a uma forma de olhar, ouvir,
dessas habilidades exige que os
saber, sem esquecer as expectativas dos
professores olhem profundamente para
professores ou o progresso de seus
dentro de si e para as relações que mantêm
alunos, acompanhando-os em suas formas
em sala de aula e na escola. Essa
específicas de aprender. Isso exige que os
aprendizagem não se centra apenas na
professores desenvolvam atitudes de

61
aquisição de competências mas também Art. 13. Os currículos e propostas
no controle da inclusão de diferentes pedagógicas devem prever medidas que
valores (felicidade, solidariedade, assegurem aos estudantes um percurso
responsabilidade, capacidade de contínuo de aprendizagens ao longo do
trabalhar). Os professores precisam deixar Ensino Fundamental, promovendo
bem claro que seus alunos são pessoas integração nos nove anos desta etapa da
cujas atitudes e valores estão sendo Educação Básica, evitando a ruptura no
estimulados a desenvolver e isso é processo e garantindo o desenvolvimento
conseguido com a ajuda de suas famílias, integral e autonomia.
escola e comunidade.
No entanto, ainda se cresce o olhar à
Os valores são específicos de cada avaliação aos valores das pessoas e a
pessoa, sociedade, de sua forma de sociedade em que permeiam. A avaliação
pensar e agir. Não devemos esquecer que, tem sido usada como instrumento para
assim como é importante continuar o apenas classificar os alunos,
desenvolvimento da ciência e da discriminando-os um ante os outros.
tecnologia, também é importante alcançar
Nesse sentido, fala-se da avaliação
esse sucesso em condições cada vez mais
na perspectiva classificatória, que tem
humanas. Isso depende de cada agente
como foco a disciplina e a punição e,
formador.
portanto, não permite a reflexão sobre a
A avaliação em uma proposta construção do conhecimento dos alunos e
educacional integrada é um processo com o processo de aprendizagem, e a avaliação
análise e reflexão de aliados importantes, em si não ajuda a superar erros e
autorreflexão, reflexão sobre o outro, sobre dificuldades, portanto, os alunos são
a sociedade, sobre o que está sendo classificados e aprovados pelos
ensinado, aprender por que ensinar ou professores com uso de “[...] notas,
aprender determinados conteúdos, conceitos, estrelinhas, carimbos, [...]”
atividades, progressos e principalmente (Hoffmann, 1993) , ou seja, apenas
erros. determinam se o aluno é bom, certo ou
errado.
Quando pensamos em ensino
integrador e avaliação, pensamos em Hoffmann (1993) lamenta que a
educação integral. Nesse sentido, a BNCC avaliação tenha tradicionalmente sido
(2017) afirma explicitamente seu sinônimo de disciplina, punição e
compromisso com a educação holística. discriminação, resultado da ação corretiva

62
do professor e as declarações feitas por ele recebem as informações transmitidas pelo
sobre essa correção. Por isso, critica o uso docente, cujo conteúdo está desconectado
de notas, conceitos, cartas, carimbos e de sua realidade. Para Luckesi (2002,
outras menções nos trabalhos dos alunos. p.81), a avaliação deve:
As crianças comparam as tarefas entre si, o
[...] ser assumida como um
número de estrelas, elas próprias se
instrumento de compreensão do estágio de
classificam, não havendo uma avaliação
aprendizagem em que se encontra o aluno,
construtiva, de fato, para a aprendizagem.
tendo em vista tomar decisões suficientes e
Dessa forma, Hoffman (2001, p.41) satisfatórias para que possa avançar no
declara que o processo avaliativo: seu processo de aprendizagem. Se é
importante aprender aquilo que se ensina
“não deve estar centrado no
na escola, a função da avaliação será
entendimento imediato pelo aluno das
possibilitar ao educador condições de
noções em estudo, ou no entendimento de
compreensão do estágio em que o aluno se
todos em tempos equivalentes.
encontra, tendo em vista poder trabalhar
Essencialmente, por que não há paradas
com ele para que saia do estágio defasado
ou retrocessos nos caminhos da
em que se encontra e possa avançar em
aprendizagem. Todos os aprendizes estão
termos dos conhecimentos [...].
sempre evoluindo, mas em diferentes
ritmos e por caminhos singulares e únicos. Quanto a Perrenoud (1993), a
O olhar do professor precisará abranger a avaliação é um processo que auxilia o
diversidade de traçados, provocando-os a aluno a aprender e o professor a ensinar. A
progredir sempre.” aprendizagem nunca é linear, procede-se
através de experimentos, tentativas e
A avaliação classificatória é muito
erros, hipóteses, falhas e progressos. Uma
comum no ensino tradicional. Para Luckesi
pessoa aprende melhor quando seu
(2003), esse tipo de ensino traz a avaliação
ambiente pode lhe dar respostas e
em forma de prática de exames, onde são
adaptações de diferentes maneiras. A
verificados apenas os resultados obtidos
avaliação não se limita apenas a avaliar a
por meio de testes orais ou escritos e,
aprendizagem de cada aluno mas também
portanto, os aspectos cognitivos são
a saber constantemente em que nível se
avaliados com ênfase na memorização do
encontra numa mesma disciplina e ter
conteúdo. Assim sendo, o ensino centra-se
consciência das suas limitações e
no professor, deixando os alunos na
necessidade de melhorias.
posição de receptores passivos que

63
A avaliação de valores, também que significa aprender o que o professor
chamada de avaliação formativa deve sugere, e para que o aluno aprenda de
utilizar diferentes instrumentos que forma significativa, são feitas sugestões de
permitam ao aluno conhecer o seu avaliação diferencial e mecânicas que
desenvolvimento quotidiano como pessoa. provavelmente serão mais úteis tanto para
Os próprios alunos, professores, pais, os alunos quanto para o professor.
diretor e outras autoridades participam do
A avaliação diferencial leva em
processo de avaliação. Na avaliação
consideração a diversidade dos alunos,
formativa, os alunos aprendem por si
que é inerente à natureza humana. O
mesmos como adquirem valores por meio
professor, enquanto aluno e mediador da
de diferentes estratégias. Ela consiste na
informação, tem em conta a diversidade
avaliação da aprendizagem e aquisição de
dos alunos e das situações, o que por
conhecimentos na sua trajetória e também
vezes o obriga a desafiar, orientar os
no trabalho do professor, permitindo
outros, ou também sugerir e confrontar,
analisar frequente e interativamente o
porque os alunos e as situações em que
progresso dos alunos, determinando o que
eles precisam aprender são diferentes.
eles aprenderam ou não. Loch (2000) diz
A interação entre alunos e professor
que avaliar não é apenas dar notas,
facilita a observação dos processos
calcular médias, aprovar ou reprovar os
realizados pelos alunos em sala de aula e
alunos, enfatizando apenas o aspecto
proporciona uma intervenção diferenciada
quantitativo da avaliação, em vez do
adequada para sua manifestação. Nesse
qualitativo. Do ponto de vista da avaliação
sentido, é necessária uma organização
formativa, a avaliação é um compromisso
que possibilite a interação em diferentes
com o futuro, uma mudança baseada no
níveis: tanto em relação a um grande
conhecimento da realidade, pois tendo o
grupo, com um grupo menor, quanto
conhecimento, relacionando-se com a
através da interação bidirecional para
qualidade da aprendizagem, ambos,
permitir a observação, que é um dos
professor e aluno, buscam formas de
suportes sobre o qual ela se apoia.
enfrentar a dificuldade que encontram.
Deve-se ter o cuidado de adequar as
Aprender requer esforço. Nem tudo se
propostas às possibilidades reais de cada
aprende com ajuda especial da mesma
aluno. Esta necessidade de uma variada e
forma, ao mesmo tempo ou com o mesmo
dosada suficiência de provocações obriga-
trabalho. Nesse sentido, se pensarmos no
nos a questionar a pretendida

64
homogeneidade das propostas, que diversidade dos processos de
facilmente pode excluir aqueles que não aprendizagem. Para realizar uma
encontram sentido num processo que, avaliação diferenciada e adequada aos
assim apresentado, os leva à frustração. diferentes ritmos e estilos de
Versatilidade e dosagem se estendem à aprendizagem, o professor deve ter um
forma como diferentes alunos respondem: diagnóstico, respondendo, por exemplo, às
alguns são mais independentes, outros seguintes questões: o que meus alunos
precisam de ajuda ou ajuda podem aprender? Quais são os interesses
qualitativamente diferente. de cada aluno? Quais são os
conhecimentos de vida dos alunos? Como
Deve-se ter o cuidado de adequar as
eles aprendem melhor?
propostas às possibilidades reais de cada
aluno. Essa necessidade de uma variada e Nessa fase, a avaliação torna-se um
dosada suficiência de provocações obriga- processo que começa por saber o que cada
nos a questionar a pretendida aluno pode fazer e conseguir, ou seja,
homogeneidade de propostas, que fazer, ser e conviver, e também o processo
facilmente pode excluir aqueles que não pelo qual esta aprendizagem se dá.
encontram sentido num processo que, Responder a essas perguntas significa que
assim apresentado, os leva à frustração. a participação dos professores no
Versatilidade e dosagem se estendem à processo de aprendizagem tem variáveis
forma como diferentes alunos respondem: que se adaptam às necessidades dos
alguns são mais independentes, outros alunos. Essas variáveis são convertidas
precisam de uma ajuda qualitativamente em atividades, tarefas, conteúdos, formas
diferente. de agrupamento, tempo alocado, material,
etc.
Uma das principais tarefas da escola é
oferecer aos alunos a alegria de aprender e A avaliação, que é um processo
o reconhecimento pelo progresso e a auto- dinâmico, flexível, abrangente e
satisfação por alcançá-lo. Isso garante sua sistemático, ocorre durante o processo de
confiança em sua capacidade de aprender aprendizagem. Não é de forma alguma
e c r i a r. S a b e r c o m o s e p r o d u z a separada do todo. Nesse sentido, pode-se
aprendizagem revela a singularidade dizer que somente na medida em que se
desses processos. As experiências vividas conhece a utilidade da avaliação, ela pode
são o principal valor de todo aprendizado; ser acreditada e utilizada da melhor forma.
portanto, obrigam a considerar a A avaliação inicial é, assim, utilizada

65
quando queremos saber que do plano inicialmente previsto, o professor
conhecimentos e experiências anteriores deve estar atento às reações dos seus
dos alunos trazem para o centro de alunos, aos ajustes, às intervenções,
formação as estratégias mais relevantes introduzindo ou retirando novas estratégias
para iniciarmos todo o processo de e atividades.
aprendizagem.
Na comunicação desses resultados, é
É claro que cada aluno chega à escola importante considerar alunos, pais e
com uma bagagem própria e diferente autoridades para que todos se sintam
relacionada às experiências de acordo com envolvidos no processo de aprendizagem,
o ambiente sociocultural, afetivo e familiar para que a sala de aula não se torne o único
em que se vive e de acordo com suas local onde se mede o desempenho
características. Portanto, é necessário acadêmico dos alunos. Os pais devem
fazer aos alunos algumas perguntas: que entender que são os principais educadores
experiências de vida você teve? Quais são de seus filhos e devem participar, pois, da
seus interesses e necessidades? Quais sua educação. A comunidade em geral
são seus níveis e estilos de aprendizagem? também deve assumir suas
O que você já sabe sobre o que se lhe está responsabilidades.
sendo ensinado? O que você sabe sobre o
A avaliação da aprendizagem deve
que se deve aprender?
ser entendida como um processo de
O conhecimento do que cada aluno análise, reflexão e investigação da prática
sabe, pode fazer e como trabalha é o ponto pedagógica, que permite ao professor
de partida para a definição de atividades e formular estratégias e, ao aluno, refletir
tarefas que promovam a aprendizagem. sobre a sua aprendizagem: tempo
Em outras palavras, fornece diretrizes para despendido, utilidade, provável utilização
determinar a primeira aproximação, em outras situações, estratégias utilizadas
organizando atividades e estratégias que para a aprendizagem. A partir disso, você
se adaptam às circunstâncias de se qualifica, você se avalia: “O que eu
aprendizagem de cada aluno. aprendi faz parte da minha prática diária?”.

Falamos de avaliação de processo Cada prática de avaliação cria um


quando se trata de acompanhar todo o vínculo entre as expectativas de progresso
processo de aquisição de competências e os processos de aprendizagem
por meio das atividades de aprendizagem necessários para alcançar esse progresso.
oferecidas aos alunos. Na concretização Para isso, devem ser levados em conta os

66
métodos de aprendizagem (através da observação, socialização, manuseio de materiais
específicos, leitura, experimentação, pesquisa, elaboração de diagramas, matrizes, tabelas,
mapas conceituais, etc.), ritmos de aprendizagem. aprendizagem (multifacetada), a
capacidade de usar o que foi aprendido e as formas de aprender.

Com base na aplicação de várias técnicas e instrumentos de avaliação, o professor faz


uma avaliação de valor e toma decisões para melhorar, iniciar ou aprofundar a aprendizagem,
o que exige conhecer e aplicar novas estratégias de ensino. A ideia é que todos os alunos
recebam o aprendizado que esperam, dadas as limitações de sua capacidade e julgamento.

REFERÊNCIAS

HOFFMANN, Jussara. Avaliação mediadora: uma prática em construção da pré-escola


à universidade. Porto Alegre: Mediação, 1993

LOCH, Jussara M. de Paula. Avaliação: uma perspectiva emancipatória. In: Química na


Escola, nº 12, novembro, 2000, p.31.

LUCKESI, C.C. Avaliação da aprendizagem escolar. 14. ed. São Paulo: Cortez, 2002.

PERRENOUD, Philippe. Não mexam na minha avaliação! Para uma aprendizagem


sistêmica da mudança pedagógica. In: ESTRELA, A.; NÓVOA, A. Avaliações em educação:
novas perspectivas. Porto, Pt: Porto Editora, 1993, p.173.

67
EDUCAÇÃO MEDIADA POR ANIMAIS
NO PROCESSO DE APRENDIZAGEM

O
uso de animais na vida pode trazer novas dinâmicas, estímulos,
humana sempre existiu de conquistas. Como tal, pode alterar o estado
uma forma ou de outra. Os funcional e potencialmente melhorar a
primeiros indícios concretos de uma auto-estima e o progresso cognitivo,
relação humano-animal datam 12.000 proporcionar o estímulo à independência e
anos atrás, são os restos fossilizados de melhorar, consequentemente, a qualidade
uma mulher abraçada a um filhote de cão, de vida. Ampliar novas intervenções para
na região onde hoje fica Israel. alunos com e sem deficiência requer uma
compreensão dos processos através dos
Ao longo do tempo, o homem se
quais a aprendizagem é vista como integral
beneficiou com o que os animais
e em um processo de construção contínuo.
proporcionam ao seu bem-estar físico,
emocional e social. Aos poucos, os animais A convivência com animais pode
foram levados para suas fazendas e trazer envolvimento emocional e estímulo
agricultura, que logo passaram a dividir o às atividades, sejam elas terapêuticas ou
mesmo espaço de convivência. Os animais educativas. É importante lembrar que a
atraem, seduzem, mudam atitudes e criam terapia mediada por animais é utilizada há
vínculos terapêuticos, aprimorando, assim, muito tempo e traz benefícios de diversas
as habilidades e competências. formas, sendo que a mera presença do
animal pode causar mudanças claras e
Reconhece-se que a Educação
perceptíveis nos sujeitos. Além disso, pode
Mediada por Animais proporciona muitos
ser simplesmente uma resposta a uma
benefícios em muitas áreas do
necessidade emocional a um conflito
desenvolvimento humano, especialmente
interno da criança ou adolescente. Através
cognitivo e emocional, e pode promover a
do contato com os animais, é mais fácil
inclusão do aluno porque é uma maneira
para as crianças aprenderem sobre a vida,
muito útil e eficaz de reforçar a disciplina
reprodução, nascimento, morte e
em diversas situações de deficiência e
acidentes, e desenvolverem
transtornos, já que essa forma de trabalhar

68
comportamentos sociais positivos. sensibilização da importância da posse e
guarda responsável”. Assim, desde o
Diversos estudos analisados, como o
decreto, já tem ocorrido adoção de animais
de Barker e Wolen (2008), corroboram a
por algumas unidades escolas.
ideia de que pessoas com animais de
estimação apresentam menor risco de As crianças são fascinadas por tudo
doenças cardiovasculares e, quando já que tem vida e, quando não tem, elas
tiveram infarto do miocárdio, menor risco personificam, imaginando, por exemplo,
de morrer do que pessoas sem animais de q u e u ma á rvo re p o ssa fa l a r e te r
estimação , além de apresentar melhor sentimentos. Por isso, o contato com seres
tratamento adesão durante a reabilitação vivos reais pode ser mágico e despertar
cardíaca. Isso é devido ao baixo nível de centenas de curiosidades munidas de
estresse que ter um animal proporciona. emoções, como medo do diferente. Ao lidar
com esses sentimentos durante o contato
Desta forma, a disponibilidade de
com um novo animal, a criança desperta-se
animais no ambiente educativo, auxilia no
na busca do conhecimento, da
desenvolvimento da educação integral, por
investigação e da ciência.
submeter o aluno à reflexão sobre valores e
cuidados, reduzindo o estresse e As escolas precisam buscar meios de
ansiedade que podem provenientes da proporcionar esse contato dos alunos com
pressão familiar, social, comunitária ou, às os animais, gerando a competência de
vezes, da própria escola. respeito à fauna municipal e brasileira,
respeito aos direitos dos animais.
A adoção e resgate de animais
abandonados já tem sido prática de Para o contato com a fauna municipal,
algumas escolas. No entanto, em junho de o projeto Asas Abertas oferece visitas
2022, em Araras, publicou-se o Decreto nº guiadas dos alunos para conhecer as
7.034 incentivando essa prática, araras da cidade. O objetivo do projeto é
autorizando às unidades escolares a aumentar a transparência do trabalho
adotar animais resgatados pelo canil realizado pelo CRAS Pró-Arara, além de
municipal, que fornece alimentos e proporcionar ao público a oportunidade de
assistência veterinária . Segundo a conhecer as atividades realizadas pelo
consideração do decreto, “(...) a adoção de centro e os animais resgatados e
animais domésticos por escolas e reabilitados. Além de tirar dúvidas sobre o
entidades promove ações de educação trabalho do CRAS e a importância da
ambiental para a conscientização e fauna, o passeio pelas instalações ocorre

69
para os visitantes que poderão ver de perto as aves reabilitadas.

A dosagem frequente de natureza é essencial, principalmente para crianças que vivem e


movimentam-se somente pelas áreas urbanas. O contato com animais silvestres deve ser
feito refletindo sobre a importância do cuidado e relacionando os animais como um membro
do sistema do meio ambiente, com funções importantíssimas para o equilíbrio natural. Livros
de histórias e filmes também valorizam esse papel de reflexão, estimulando o aluno a pensar
sobre o papel de relação entre ele e os animais.

Animal de estimação adotado pela escola EMEF Leonaldo Zornoff.

REFERÊNCIAS

Barker, S.B., & Wolen, A.R. (2008). The benefits of human-companion animal
interaction: A review. Journal of Veterinary Medical Education, 35, 487-495.

70
EDUCAÇÃO ESPECIAL E INCLUSIVA

I
nclusão na educação gera uma educacional às pessoas com deficiência
discussão importante para com base no disposto na Lei Nacional de
identificar meios que propiciem a Orientação e Instituições Educacionais -
integração dos alunos com deficiência no LDBEN, Lei nº 4.024/61, que relembra o
sistema educacional. Há um longo histórico direito aos "excepcionais" na educação,
de progresso para que tenhamos, como preferencialmente na rede geral de ensino:
hoje, um resultado mais inclusivo do que Art. 88. A educação de excepcionais,
comparado há décadas atrás. Começando deve, no que fôr possível, enquadrar-se
em 1988, já havia um sinal da implantação no sistema geral de educação, a fim de
da educação inclusiva no Brasil. O artigo integrá-los na comunidade.(BRASIL,
208, III, estabelece que “o dever do Estado 1961)
com a educação será efetivado mediante a O objetivo principal da Constituição
garantia de atendimento educacional Federal de 1988 é “promover o bem de
especializado aos portadores de todos, sem preconceitos de origem, raça,
deficiência, preferencialmente na rede sexo, cor, idade e quaisquer outras formas
regular de ensino”. de discriminação” (art.3º, inciso IV). No
O atendimento às pessoas com artigo 206, estabelece-se que o ensino seja
deficiência, no Brasil, começou logo no ministrado no princípio de “igualdade de
Império, no Rio de Janeiro: o Imperial condições para o acesso e permanência na
Instituto dos Meninos Cegos (1854) e o escola”.
Instituto dos Surdos Mudos (1857); ambos O artigo 55 da Lei da Criança e do
ainda existem com os respectivos nomes: Adolescente - ECA, Lei 8.069/90, reforça
Instituto Benjamin Constant e Instituto os dispositivos legais anteriores ao
Nacional da Educação dos Surdos. Em estabelecer que “os paisou responsáveis
1954, cria-se a primeira Associação de têm a obrigação de matricular seus filhos
Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE). ou pupilos na rede regular de ensino".
Em 1961, iniciou-se o atendimento Ainda nessa década, documentos como a

71
Declaração Mundial de Educação para consultados sobre a forma de
To d o s ( 1 9 9 0 ) e a D e c l a r a ç ã o d e educação mais apropriada às

Salamanca (1994) passaram a influenciar necessidades, circunstâncias e

a formulação de políticas públicas de aspirações de suas crianças.

educação inclusiva. O documento da Em 2004, o Ministério Público


Declaração de Salamanca (1994), Federal publicou o documento “O Acesso
introduz sobre a importância de centrar-se de Alunos com Deficiência às Escolas e
aos anseios e necessidades dos alunos Classes Comuns da Rede Regular” com o
portadores de deficiência: objetivo de difundir o conceito e as normas

O direito de cada criança à educação é de inclusão pelo mundo, e enfatizar os


proclamado na Declaração Universal direitos e interesses dos alunos
de Direitos Humanos e foi fortemente portadores de deficiência para frequentar
reconfirmado pela Declaração Mundial a escola em sala regular no ensino regular.
sobre Educação para Todos. Qualquer Esse documento, O Acesso de Alunos com
pessoa portadora de deficiência tem o Deficiência às Escolas e Classes Comuns
direito de expressar seus desejos com da Rede Regular (2004), prevê as
relação à sua educação, tanto quanto
seguintes sugestões de atuação das
estes possam ser realizados. Pais
instituições:
possuem o direito inerente de serem

SUGESTÕES DE ATUAÇÃO DAS INSTITUIÇÕES


► para crianças de zero a seis anos: oferecer atendimento educacional especializado,
que pode envolver formas específicas de comunicação, apenas quando este atendimento
não ocorrer nas escolas comuns de Educação Infantil. Proporcionar, quando necessário,
atendimentos clínicos, que não dispensam atendimentos individualizados. De acordo com
o Estatuto da Criança e do Adolescente, esses atendimentos não podem ser oferecidos de
modo a impedir o acesso à Educação Infantil comum, devendo este ser incentivado pela
instituição como forma de garantir a inclusão da criança;

► para crianças e jovens de sete a 14 anos: o atendimento educacional especializado


é sempre complementar e não substitutivo da escolarização em salas de aula de ensino
comum. Quando necessário, esses alunos devem ter providenciado o atendimento
educacional especializado na instituição, em horário distinto daquele em que freqüentam
a escola comum;

72
► para adultos e adolescentes maiores de 14 anos que não estiverem aptos a
frequentar o ensino médio: além dos cursos profissionalizantes e outros oferecidos,
as instituições especializadas O acesso de alunos com deficiência às escolas e classes
comuns da rede regular devem incentivar as matrículas desses alunos em instituições
regulares de Educação Profissional, realizar convênios com cursos profissionalizantes
e/ou para Educação de Jovens e Adultos, de forma a possibilitar sua inclusão social e
escolar, podendo oferecer, como complemento, o atendimento educacional
especializado que se fizer necessário a cada caso;

► para adolescentes e adultos com idade para o trabalho: é importante facilitar a


inserção efetiva dessas pessoas no mercado de trabalho, através de capacitação e do
apoio jurídico em casos que necessitarem de interdição judicial, incentivando sempre
que possível a interdição parcial, para que a pessoa possa continuar exercendo atos de
cidadania;

► para garantir maior qualidade no processo de inclusão de seus alunos, a instituição


especializada pode celebrar acordos de cooperação com escolas comuns do ensino
regular, públicas ou privadas, de maneira que estas matriculem as crianças e
adolescentes em idade de Ensino Infantil e Fundamental atualmente atendidas nos
espaços educacionais especiais, desde que esses acordos não substituam a educação
escolar em todos os seus níveis;

► A Organização das Nações Unidas, 2006 aprova a Convenção sobre os Direitos das
Pessoas com Deficiência, que conceitua a deficiência como o resultado da interação das
pessoas com barreiras, atitudes e condições que as impedem de participar plenamente
da sociedade em igualdade de condições com os demais. Essa Convenção sobre os
Direitos das Pessoas com Deficiência (2007) assegura as proposições a seguir:

► O pleno desenvolvimento do potencial humano e do senso de dignidade e auto-estima,


além do fortalecimento do respeito pelos direitos humanos, pelas liberdades
fundamentais e pela diversidade humana;

► O máximo desenvolvimento possível da personalidade, dos talentos e da criatividade


das pessoas com deficiência, assim como de suas habilidades físicas e intelectuais;

► As pessoas com deficiência não sejam excluídas do sistema educacional geral sob
alegação de deficiência e que as crianças com deficiência não sejam excluídas do
ensino primário gratuito e compulsório ou do ensino secundário, sob alegação de

73
deficiência;

► As pessoas com deficiência possam ter acesso ao ensino primário inclusivo, de qualidade
e gratuito, e ao ensino secundário, em igualdade de condições com as demais pessoas na
comunidade em que vivem;

► Adaptações razoáveis de acordo com as necessidades individuais sejam providenciadas;

► As pessoas com deficiência recebam o apoio necessário, no âmbito do sistema


educacional geral, com vistas a facilitar sua efetiva educação;

► Medidas de apoio individualizadas e efetivas sejam adotadas em ambientes que


maximizem o desenvolvimento acadêmico e social, de acordo com a meta de inclusão
plena.

Existem duas formas principais de deficiência, transtornos globais do


conseguir propiciar a integração dos desenvolvimento e altas habilidades ou
alunos com deficiência no sistema superdotação”.
educacional: educação especial e
Essa modalidade de educação
educação inclusiva. Embora esses dois
desenvolve-se em torno da igualdade de
termos sejam diferentes, eles são
oportunidades, atendendo às diferenças
essenciais para garantir a igualdade de
individuais de cada criança através de
acesso à educação para todos.
uma adaptação do sistema educativo.
A educação especial é um ramo da Dessa forma, todos os educandos podem
educação que visa cuidar e educar ter acesso a uma educação capaz de
pessoas com deficiência. responder às suas necessidades.
Preferencialmente em instituição de
Ao contrário da educação inclusiva, a
ensino regular ou especializada (como
educação especial assume várias formas,
escola para surdos, cegos ou deficientes
incluindo escolas privadas, pequenas
mentais). Entende-se por educação
unidades e a inclusão de crianças com
especial, segundo a Lei de Diretrizes e
apoio especial. É um conceito educacional
Bases da Educação Nacional (LDB),” a
contemporâneo que visa proteger o direito
modalidade de educação escolar
de todos à educação. Baseia-se no
oferecida preferencialmente na rede
respeito pelas diferenças humanas, tendo,
regular de ensino, para educandos com
assim, em conta as diferenças raciais,

74
sociais, culturais, intelectuais, físicas, práticas dentro delas. A evasão escolar é
sensoriais e de género entre as pessoas, um grande problema na educação,
entre outras. Implica fomentar a cultura, principalmente na de crianças com
as práticas e as políticas atuais nas deficiência. Se os alunos não se sentem
escolas e nos sistemas educacionais para acolhidos e suas diferenças não são
garantir o acesso, a participação, o respeitadas, as chances de eles
desenvolvimento e a aprendizagem de permanecerem na escola e concluírem
todos, sem exceção. seus estudos são muito reduzidas. Desta
forma, Morin (2011, p. 49-50) diz que cabe
No ponto de vista da inclusão, o aluno
à educação do futuro:
deve estar integrado ao meio social de
forma a estabelecer vínculos, evocando (...) cuidar para que a ideia de unidade
significados e criando vínculos sociais, de da espécie humana não apague a
modo que a inclusão desse estudante ideia de diversidade, e que a da sua

aluno com deficiência, na sala de aula diversidade não apague a da unidade.


Há uma unidade humana. Há uma
regular, permita o acesso e a interação o
diversidade humana. A unidade não
resto da turma, potencializando ensino e
está apenas nos traços biológicos da
inclusão social, o que ajudará no processo
espécie Homo sapiens. A diversidade
de aprendizagem e educação integral de
não está apenas nos traços
todos os alunos. Professores, alunos e
psicológicos, culturais, sociais do ser
toda a sociedade interessada humano. Existe também diversidade
desempenham um papel importante no propriamente biológica no seio da
processo de integração sociopedagógica unidade humana; não apenas existe
e unidade cerebral, mas mental,
psíquica, afetiva, intelectual; além
Diz-se que a sociedade vive no
disso, as mais diversas culturas e
quadro da construção de um modelo
sociedades têm princípios geradores
inclusivo porque, embora seja válido como
ou organizacionais comuns. É a
legislação, ainda vivemos dentro de uma unidade humana que traz em si os
prática nem sempre integradora. Pode-se princípios de suas múltiplas
constatar sua coexistência com iniciativas diversidades. Compreender o humano
de inclusão na educação, pois alunos com é compreender sua unidade na
deficiência têm maior acesso ao ensino diversidade, sua diversidade na
geral nas escolas comuns, mas isso unidade. É preciso conceber a unidade
raramente se reflete nas mudanças de do múltiplo, a multiplicidade do uno.

75
As escolas inclusivas oferecem mais como ensinam. Às vezes, é necessário
do que uma educação regular. Atua no considerar as pressões sociais e
desenvolvimento emocional e social de emocionais comuns aos alunos, dando-
cada aluno, o que lhe permite alcançar a lhes um tempo para recuperar-se em um
autonomia fundamental para garantir a ambiente que possam recuperar o seu
dinâmica necessária ao seu próprio controle, como biblioteca ou
desenvolvimento não só na escola, mas ambiente com árvores. O professor
também na idade adulta. Por ser um consegue manter os alunos com
evento inclusivo, os benefícios para os necessidades especiais mais seguros e
alunos são inúmeros como criar um senso acolhidos sempre que há regras claras de
de comunidade; melhorar a empatia; como todos devem comportar-se.
motivação para a participar; criar cenário Tornando explícito, assim, que insultos,
de sucesso aos alunos. Não somente a piadas vulgares, brincadeiras de mau
alfabetização é mais propícia em um gosto ou outras atividades nocivas não
ambiente de aprendizagem inclusivo, mas são permitidos, explicando e
também o bem-estar e harmonia dos demonstrando que a harmonia só é
alunos. superada na base do respeito. Além de
acreditar que os alunos são competentes,
Um ambiente de aprendizagem
o professor deve tornar seu trabalho como
inclusivo é importante não apenas para a
uma tarefa abrangente, pensando sempre
alfabetização e harmonia em sala de aula,
na modificação da sua prática docente
mas também para o bem-estar emocional
ante os desafios que são, igualmente,
dos alunos, não apenas daqueles com
modificados constantemente. Inclusão é
necessidades especiais e minorias.
respeito e atitude de mudança. As pessoas
Aqui, a função do educador é dar
desenvolvem empatia pelas necessidades
atenção especial a cada tipo de
dos outros, tornando práticas de ensino e
necessidade, garantindo assim que todos
experiências educativas benéficas para
da turma alcancem o mesmo nível. Pode-
todos. Assim posto, segundo Sacristán
se aproveitar qualquer momento propício
(1995, p.76):
para o aprendizado, pois seus planos
A mudança em educação não depende
podem mudar rapidamente em contextos
diretamente do conhecimento, porque
de necessidades especiais. Os alunos
a prática educativa é uma prática
aprendem com mais facilidade à medida
histórica e social que não se constrói a
que os professores ajustam a maneira partir de um conhecimento científico,

76
como se se tratasse de uma aplicação abandonem a escola. Portanto, as
tecnológica. A dialética entre instituições de ensino devem investir no
conhecimento e acção tem lugar em fortalecimento da relação entre
todos os contextos onde a prática professores e pais. Uma opção é usar a
acontece.
tecnologia para permitir que as famílias
Uma das melhores maneiras de acompanhem as atividades escolares e
impulsionar a inclusão em sala é ajudem a planejar e implementar novas
desenvolvendo propostas pedagógicas ideias. O objetivo é encontrar artifícios
que incluam todos os alunos como o para os obstáculos educacionais
trabalho colaborativo e diversificado. cotidianos.
Trabalhos cooperativos proporcionam o
O professor regular não deve
aprendizado e a experiência entre grupos
conceber que adaptação é tornar o
de alunos, pois estimulam o clima de
envolvimento pedagógico mais fácil, com
cooperação, o senso de produção
menos desafio, pois desconsiderar o
coletiva, o reconhecimento do talento e da
potencial do aluno, um sujeito munido de
diversidade, o sentimento de
conhecimentos e experiências que pode
pertencimento de grupo, em que os seus
cumprir com desafios, é excluir a ele
conhecimentos, experiências e
oportunidades de aprendizagem e
competências estão interligados à
transformação de si mesmo. A adaptação
contextualização social, e a promoção do
não deve ser apenas voltada aos alunos
trabalho coletivo. Para tanto, é preciso,
especiais, ela deve ser uma prática
antes de tudo, demonstrar a importância
constante sempre que se percebe que
da colaboração. É possível, como
houve dificuldades na turma. A adaptação
exemplo de estratégia, tornar o desafio de
pode, por exemplo, ser um modelo visual
aprendizagem mais fácil para um aluno e
para que se compreenda o que se espera
mais difícil a outro, encorajando que haja a
dele. Outra maneira é separar os objetivos
comunicação e troca de mobilização de
para que se cumpra um por vez, pois, na
competência entre eles para resultar na
prática pedagógica, as atividades são
cooperação inclusiva.
cheias de objetivos, mobilizando várias
É importante, claramente, intensificar habilidades de uma vez. Quando se trata
as relações entre as famílias e a escola de aluno especial, a colaboração com o
para construir redes de apoio social e trabalho de adaptação com os
evitar que essas crianças e adolescentes especialistas dessa área é primordial.

77
A colaboração entre professores complementa e/ou suplementa a
especialistas em educação especial e formação dos alunos com vistas à

professores regulares ocupa um lugar de autonomia e independência na escola

destaque. A educação especial, que no e fora dela. O atendimento educacional


especializado disponibiliza programas
passado era uma alternativa, é
de enriquecimento curricular, o ensino
complementada no modelo de educação
de linguagens e códigos específicos de
inclusiva. O aluno não apenas será
comunicação e sinalização, ajudas
incluído na aula, mas terá o direito de
técnicas e tecnologia assistiva, dentre
aprender o mesmo conteúdo que os outros. Ao longo de todo processo de
demais alunos de forma adaptativa por escolarização, esse atendimento deve
meio de recursos educacionais de estar articulado com a proposta
aprendizagem adaptados a cada pedagógica do ensino comum.
necessidade específica. A Política
Tradicionalmente, os professores do
Nacional de Educação Especial na
regular e especial tendiam em trabalhar
Perspectiva da Educação Inclusiva
separadamente, devido ao modelo
(BRASIL, 2007, p. 16) descreve as
desmembrado e discriminatório aos
atribuições do professor de educação
alunos com deficiência. Contudo, hoje a
especial, concluindo que,
literatura enfatiza a colaboração como um
complementando a formação dos alunos,
meio eficaz de construir escolas
deve apoiar e trabalhar articuladamente
inclusivas. O desafio é criar modelos
com o professor regular:
colaborativos nos quais educadores
O atendimento educacional gerais com experiência em ensino e
especializado identifica, elabora e gestão de sala de aula e educadores
organiza recursos pedagógicos e de especializados com experiência em
acessibilidade que eliminem as
ambientes específicos para deficiências
barreiras para a plena participação dos
combinem esse conhecimento para
alunos, considerando as suas
facilitar o desenvolvimento e a
necessidades específicas. As
aprendizagem do estudante.
atividades desenvolvidas no
atendimento educacional Em comparação com a maioria das
especializado diferenciam-se outras profissões, a taxa de esgotamento
daquelas realizadas na sala de aula de professores com necessidades
comum, não sendo substitutivas à
especiais é extremamente alta, isso é
escolarização. Esse atendimento
patente em conversações informais nesse

78
meio e pela quantidade de queixas. O famílias e das escolas, também existem
ensino é uma carreira séria, pois pode ser objetivos e responsabilidades comuns em
difícil e estressante por si só, mas a ambos os ambientes. Proporcionar às
educação especial acrescenta uma crianças um ambiente favorável é um dos
camada extra de dificuldade, justamente objetivos mais comuns compartilhados por
de compulsar o professor a visualizar a ambas as organizações. Ambos têm efeito
individualidade dos alunos, não sendo, e auxiliam na evolução na vida das
portanto, possível considerar a turma crianças, razão pela qual a associação
como homogênea .Por isso, os entre escola e família é considerada
educadores precisam reconhecer que é complementar e não distinta ou separada.
necessário diferenciar a visão genérica de Partindo da crença de que é importante
seu trabalho e verificar, diagnosticamente, respeitar o valor da relação escola-família,
as dificuldades que terá para organizar um independentemente da estrutura familiar,
plano de ensino que rompa o máximo de pode-se pensar como essa relação pode
obstáculos possíveis. Alguns dos maiores ser cultivada.
desafios com os quais a escola pode
encontrar ao trabalhar com alunos com Documentação
necessidades especiais podem ser os Cada criança com necessidades
seguintes: especiais precisa de relatórios para
Falta de apoio dos pais. Mesmo análise do desenvolvimento cognitivo
colocando o coração e a alma nos (raciocínio e linguagem), motor e
esforços como professor de educação comportamental. Esses relatórios não
especial, todo o trabalho pode ser em vão apenas levam tempo para serem
se os pais não estiverem na mesma desenvolvidos, mas também há muita
linguagem para com o desenvolvimento documentação necessária. Isso tudo está
integral da criança.Ter um relacionamento no topo de suas funções regulares de
positivo com os pais de seus alunos é ensino, que incluem planejamento,
essencial. Consequentemente, orientar, acompanhamento de progresso.
com clareza, os pais sobre o trabalho com A ficha de acompanhamento aliada à
a criança desenvolvido, negociando como ficha do conselho com detalhamentos
o trabalho pode ser aprimorado em casa. relevantes podem reduzir bastante a
Apesar de existirem inúmeras quantia de trabalho burocrático. Nessa
diferenças entre as obrigações das ficha de conselho, enriquece-se a análise,

79
para estratégias de planejamento, os Coloque o relacionamento
olhares de outros profissionais (monitores,
professores especialistas) que trabalham
antes do rigor acadêmico
com esses alunos, detalhando como se Os professores têm um certo número
comporta a criança na realização de de minutos de instrução e um
atividades em diversos formatos de aula. planejamento de conhecimentos para
cumprir, não querendo, certamente, que
Agendamento e desafios as crianças sejam academicamente
Muitos alunos com necessidades prejudicadas, especialmente quando já há
especiais têm horários especiais para o crianças com defasagem acadêmica.
dia escolar, dependendo das aulas que Assim, a tentação natural é focar nos
podem frequentar e levando em estudos e no cumprimento das tarefas do
consideração suas necessidades de ensino, mesmo quando os alunos já
serviços adicionais extraescolares como estejam sob algum estresse. no entanto,
terapia ocupacional, equoterapia, no processo de ensino, é importante
psicologia e fonoaudiologia, que podem sempre lembrar que cérebros estressados
ser mediadas pelo direito de ou emocionalmente abalados não
temporalidade, ou seja, o aluno frequenta aprendem bem. Quando as escolas se
uma carga horária reduzida, e serviços concentram primeiro em seu bem-estar
internos da escola como sala de recurso. social e emocional, os alunos são mais
propensos a se envolver no trabalho.
Tr a b a l h a r c o m o u t r o s
De fato, para alunos com dificuldades
professores. de aprendizagem, um dos principais
fatores para o sucesso acadêmico é ter
Como professor de educação
sistemas de apoio, como adultos
especial, deve-se desenvolver seu próprio
atenciosos que os ajudam a enfrentar os
plano de ensino para seus alunos, mas
desafios que enfrentam.
também precisa conhecer o currículo de
educação geral para poder trabalhar com A boa notícia é que os educadores
seus alunos para ajudá-los em suas aulas podem ser uma dose diária de proteção
regulares. Colaborar com outros para crianças com necessidades
professores pode ser muito difícil, especiais, apenas conectando-se
especialmente se eles não entenderem os pessoalmente com seus alunos. Quando
desafios da educação especial. os alunos, e até mesmo os adultos,

80
sentem-se seguros, vistos e apoiados, antes do trabalho independente para
eles experimentam emoções mais garantir que os alunos saibam o que
positivas, o que aumenta os recursos esperar na sala e tenham a oportunidade
cognitivos para a aprendizagem. de fazer perguntas esclarecedoras,
evitando etapas que podem surpreendê-
los de maneira que os submetam à
ansiedade. Instruções sobre como
Muitos alunos com necessidades modificar o trabalho para o nível correto
especiais enfrentam desafios com a também podem ser comunicadas nesse
aprendizagem independente. Eles momento. Por exemplo, os alunos podem
geralmente precisam de orientação receber tarefas de leitura em seu nível de
especializada e suporte mais estruturado, ano escolar, tarefas alternativas que
como dividir as tarefas para eles em partes atendem aos mesmos objetivos de
mais gerenciáveis, recursos visuais e aprendizado ou tarefas mais curtas que
verificações frequentes para garantir que enfatizam a qualidade em detrimento da
estejam no caminho certo. quantidade.

Os alunos também precisam ter Outra estratégia para alunos com


acesso a adultos, tanto professor regular deficiências que afetam a concentração ou
quanto especialista do especial e outros a autorregulação emocional é fornecer
envolvidos, que ensinam as habilidades espaços que permitam que o cérebro dos
necessárias para se concentrar, resolver alunos se estabilize na zona de equilíbrio
problemas e se autorregular emocional ou emocional para aprender repleta de
comportamentalmente. Esse acesso deve estratégias calmantes para crianças que
fornecer às crianças com necessidades precisam de pausas cerebrais, atividades
especiais orientação adicional, incentivo e de meditação e atenção plena. Os
apoio para ajudá-las com tarefas que professores oferecem isso aos alunos que
talvez não sejam capazes de realizar em parecem estar com dificuldades por
grandes grupos ou de forma inquietação e agitação como uma
independente. Esse suporte adicional estratégia proativa para evitar ficar
pode ser um período de tempo mais longo sobrecarregado em primeiro lugar.
para trabalharem juntos em toda a tarefa
Dessa forma, forneça oportunidades
ou um breve gancho ou revisão dos itens
para fazer uma pausa. Leia uma história,
necessários para realização das tarefas,
jogue um jogo curto, levante-se e alongue-

81
se ou converse casualmente. Às vezes, escolas, principalmente aquelas com
uma oportunidade de se levantar e andar prédios antigos e espaço limitado. No
pela sala pode ser muito calmante para a entanto, é preciso lembrar que a sala de
criança no espectro do autismo, por aula deve ser democrática e atender às
exemplo. Tentar ficar atento aos sinais de necessidades de todos os alunos,
que seu aluno pode precisar de uma inclusive os portadores de necessidades
pequena pausa. especiais.

É necessário concentrar-se nos Como recurso de acessibilidade, as


pontos fortes do aluno. Se uma criança TICs têm possibilitado avanços mais
está interessada em dinossauros, futebol, significativos como sistema auxiliar de
cachorros ou esportes aquáticos, ela comunicação. Elas, como auxílio
precisa da oportunidade de demonstrar tecnológico, também servem para
conhecimento nesse assunto. Alunos com controlar o ambiente, permitindo que
autismo, por exemplo, prosperam quando pessoas com deficiência motora
estão estudando um plano de aula que foi controlem remotamente objetos como
formatado especificamente para eles. eletrodomésticos, televisão, acendam e
apaguem luzes, abram e fechem portas,
Estar ciente dos gatilhos ambientais é
que tenham maior controle e maior
importante. Barulhos altos, luzes
autonomia. Muitas pessoas com
brilhantes e temperaturas quentes ou frias
necessidades especiais que passam por
podem atrapalhar o padrão de
dificuldades no processo de
pensamento de uma criança e causar uma
desenvolvimento da aprendizagem
explosão emocional desnecessária na
encontram ajuda eficaz na utilização das
sala de aula. Esteja atento a esses gatilhos
TICs. As adaptações pelas TICs podem
ambientais e elimine-os sempre que
ser com tela sensível ao toque ou sopro,
possível.
reconhecimento de voz , leitor de texto,
Um tema bastante delicado recai na
etc.).
acessibilidade, merecendo prudência
excepcional pelas instituições de ensino.
Inclusão significa criar um ambiente REFERÊNCIAS
perfeitamente adaptado às necessidades
BRASIL. Ministério da Educação. Lei
dos alunos, e isso inclui modificações
de Diretrizes e Bases da Educação
arquitetônicas e funcionais. Este é, sem
Nacional. LDB 4.024, de 20 de dezembro
dúvida, um dos maiores desafios das

82
de 1961.

______. Ministério da Educação. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. LDB


9.394, de 20 de dezembro de 1996.

______. Política de Educação Especial na perspectiva da Educação Inclusiva.


Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/arquivos/pdf/politicaeducespecial.pdf. Ministério
da ducação/ Secretaria de Educação Especial. 2007>. Acesso em: 15 dez. 2022.

MORIN, E. Os sete saberes necessários à educação do futuro. São Paulo: Cortez;


Brasília, DF: UNESCO, 2011.

SACRISTÁN, J. G. Consciência e acção sobre a prática como libertação profissional


dos professores. In: NÓVOA, A. Profissão Professor. Portugal: Porto Editora, 1995.

83
ENSINO FUNDAMENTAL
O ensino e a aprendizagem acontecem de forma contínua e permanente, e diversos conhecimentos são
acumulados ao longo da história, através do processo de observação, pesquisa, organização, adaptação,
adaptação e respeito à privacidade de cada criança de forma a facilitar a sua adaptação à escola.

No processo de transição da criança da pré-escola para o ensino fundamental, devemos nos


lembrarmos de que em ambos segmentos há conhecimento e dedicação, conhecimentos e valores, cuidado e
atenção, seriedade e risadas, cuidado, atenção e aceitação; Alegria e brincadeira estão presentes na educação
infantil. Com a prática, as crianças aprendem. Eles adoram aprender. No ensino infantil e fundamental, o
objetivo é a liberdade de movimento para que todos possam adquirir e acumular conhecimento. A educação
infantil visa garantir que todas as pessoas que desejam frequentar creches, pré-escola e escola tenham acesso
a oportunidades, tratando as crianças como sujeitos culturais e históricos, e sujeitos sociais. De acordo com a
BNCC (p. 53), a transição entre essas duas etapas da Educação Básica:

requer muita atenção, para que haja equilíbrio entre as mudanças introduzidas,
garantindo integração e continuidade dos processos de aprendizagens das crianças,
respeitando suas singularidades e as diferentes relações que elas estabelecem com os
conhecimentos, assim como a natureza das mediações de cada etapa. Torna-se
necessário estabelecer estratégias de acolhimento e adaptação tanto para as crianças
quanto para os docentes, de modo que a nova etapa se construa com base no que a
criança sabe e é capaz de fazer, em uma perspectiva de continuidade de seu percurso
educativo.

Existe uma lacuna entre a educação infantil e o ensino fundamental, no sentido de reduzir ou mesmo
suprir essa descontinuidade, demonstrar que os direitos da criança são garantidos sem interferências, e
entender a educação como um processo contínuo. O processo de diagnóstico e referencial educacional cria
relações e interações entre diferentes áreas do conhecimento, percebendo que a criança está em uma
estrutura social permanente. Assim, as mudanças envolvidas nessa transição refletem também nas práticas
pedagógicas, tornando o processo de transição prazeroso ao aliar brincadeira, cuidado, educação e interação,
pois esses conceitos fazem parte do desenvolvimento da criança, tanto na educação infantil quanto no ensino
fundamental.

Vygotsky (2007) diz que o brincar está intimamente relacionado ao desenvolvimento do indivíduo do
ponto de vista psicológico, cognitivo e sociocultural. Nessa perspectiva, os espaços lúdicos e de vivência
oferecem a possibilidade de criação e recriação de saberes e experiências, bem como a aquisição de vivências
culturais. À medida que a criança cresce, muda a sua forma de brincar e de se comportar na presença dos
brinquedos, criam-se outros tipos de situações imaginárias e outras formas de autorrealização. Portanto, o
diferencial da mudança de um segmento a outro é o modo de observar dos professores.

84
As idades de 5 a 8 anos são um período de transição desenvolvimental, com mudanças qualitativas que
marcam uma nova etapa. Do ponto de vista cognitivo, a criança faz a transição entre o que Piaget chamou de
estágio pré-operacional e o estágio operacional concreto, o que garante a possibilidade de reflexão e
transmissão do pensamento. Antes, no estágio pré-operacional, a criança possui uma inteligência pré-lógica,
para se adaptar a novas situações, ela utiliza mecanismos intuitivos. Esse mecanismo envolve uma
assimilação simples da percepção e do movimento, na forma de imagens representacionais e experiências
mentais, que expandem os padrões sensoriais.

A estrutura dessas representações internas da realidade é rígida e irreversível. No estágio


pré-operatório, a mente tende a confundir aparência com realidade, só consegue se concentrar em um aspecto
da realidade por vez e é egocêntrica porque a criança não pode iniciar com o outro e, portanto, ela pensa que
todos os outros pensam como ela. Durante o período de transição da educação infantil para o ensino
fundamental, a criança encontra-se em um delicado percurso entre as fases pré-operacional concreta e
operacional; Aos poucos, estruturas axiomáticas, rígidas e irreversíveis tornam-se móveis, mais flexíveis,
descentralizadas e reversíveis.

As crianças começam a pensar sobre as coisas de mais maneiras do que ou podem se lembrar de uma
característica de uma situação e compará-la com outra. As crianças são cada vez mais capazes de distinguir a
aparência da realidade, considerar vários lados de um problema simultaneamente, desenvolver a teoria da
mente e perceber as perspectivas dos outros.

● Nessa etapa de desenvolvimento, as metas que podem ser definidas para esta etapa na escola são as
seguintes:
● A aquisição de habilidades de leitura, escrita e matemática.
● Expansão da linguagem e maior enfoque na sua componente oral. A aquisição de conceitos
matemáticos fundamentais.
● Observação e estudo do ambiente a partir de uma perspectiva concreta.
● O desenvolvimento de diferentes métodos de expressão oral, artística, musical e física.
● Melhor coexistência e hábitos sociais, bem como uma integração no ambiente social.

Essa fase já é marcada por um grau crescente de exigência intelectual e acadêmica, é nessa fase que ocorrem
os primeiros casos de reprovação escolar, por enquanto o percentual ainda não costuma ser significativo. Pode
ser atribuída a outras causas como manifestação tardia de apego ao ambiente familiar. Outras vezes, a
rejeição é um mecanismo de defesa da criança contra seu fracasso escolar ou o que ela percebe como tal.
Também pode sugerir a presença de problemas no ambiente familiar. As crianças que são rejeitadas na escola
têm uma atitude inativa, que ora é generalizada e afeta todas as suas atividades escolares, ora é focada em
uma determinada matéria ou tarefa.

Outros sintomas comuns incluem a chamada inibição intelectual, que é um bloqueio intelectual causado por um
foco excessivo em fazer as tarefas corretamente, ou as crianças discordantes, que estão associadas a vários
distúrbios de caráter.

Emocionalmente, o período dos 9 a 10 anos, pelo menos na aparência, é menos conflituoso do que outras
partes da vida da criança, antes ou depois. Muitas crianças, de fato, têm uma atitude mais descontraída tanto

85
na sala de aula quanto em casa, e não têm grandes conflitos. Frequentemente, porém, essa aparente
normalidade mascara um estado emocional complexo e contraditório, pois não expressam seus sentimentos ou
frustrações com a mesma espontaneidade das fases anteriores.

Durante esta fase, a criança aumenta seu pensamento lógico-concreto. Ela perdeu muito de seu egoísmo e
sua compreensão do mundo não se limita mais a suas próprias perspectivas. Ela contrasta e chega a uma
conclusão. No entanto, as funções do pensamento concreto limitam-se ao que ele pode manipular diretamente,
ou seja, não é capaz de desenvolver raciocínios verbais abstratos.

Durante esses dois anos, a criança aperfeiçoará sua linguagem e dominará os processos de leitura e escrita.
Com relação aos conceitos lógico-matemáticos, os exercícios de ordenação e classificação de objetos se
tornarão mais difíceis, a criança aprenderá a agrupar tanto por suas semelhanças quanto por suas diferenças.
Você terá mais fluidez em cálculos relacionados a operações e começará a entender os conceitos
fundamentais de números, conjuntos e propriedades.

No campo das ciências sociais e naturais, você terá a oportunidade de utilizar a observação e a
experimentação. Além disso, você aprenderá diferentes métodos de emprego necessários para desenvolver
essas habilidades.

Entrar no primeiro ano do ensino fundamental é o início de uma nova fase psicossocial particularmente
sensível a influências que afetam o senso de produtividade. Não surpreende, portanto, que haja experiências
escolares iniciais impactando no processo de aprendizagem ao longo do ensino fundamental. Na realidade,
essa experiência pode levar a diferentes caminhos de desenvolvimento, dependendo de como afeta os
sentimentos de competência e produtividade. O papel da família é definido em dois níveis: estabelecido ao
longo dos anos e suporte durante a transição.

Ao desenvolver habilidades para enfrentar os desafios do ensino fundamental, crianças pequenas e


pré-escolares podem se beneficiar muito com encontros diários com adultos. Atividades como contar histórias,
fatos, comentar sobre o mundo exterior, estar pronto para responder e fazer perguntas e usar palavras que a
criança sabe ou logo saberá são experiências relevantes para o seu desenvolvimento. Tais experiências são
benéficas para o desenvolvimento da reciprocidade pela disposição do adulto à iniciativa da criança; a
diversidade de conteúdo; a criança como sujeito ativo, o adulto como facilitador, arquitetando experiências
enriquecedoras.

A atuação em diversas atividades compartilhadas com os pais ou outros adultos têm um impacto
significativo no desempenho acadêmico, pois combina fatores que promovem o desenvolvimento cognitivo,
social e emocional., combinando, para tanto, a capacidade de interação com adultos e maturidade para
apresentação de argumentos na comunicação. Essas atividades diversificadas podem ser, como exemplos,
viagens, visitas a museus, idas ao circo e até mesmo experiências inócuas como caminhar pelo centro da
cidade ou pegar um ônibus pelo bairro. Este componente gera a capacidade da criança de ampliar o seu
conhecimento de mundo sob a mediação de um adulto. Tal conhecimento de mundo é um elemento de
enriquecimento cultural que permite que as crianças aprendam conteúdos na escola e ainda as ajuda a
aprender a ler, aproveitando a linguagem verbal cotidiana na sociedade, como placas de aviso, outdoor,
cartazes, horários de ônibus etc.

86
Certas situações em sala de aula podem prender a atenção das crianças do ensino fundamental e
incentivá-las a aprender cada vez mais. Uma delas é investir no trabalho em equipe. Essa abordagem promove
uma série de habilidades, como liderança, tomada de decisão, diálogo e compreensão. Reunir pessoas com
ideias diferentes para construir algo é uma excelente forma de motivar os alunos. Eles podem aprender
compartilhando experiências com seus colegas e refletindo sobre o que foi ensinado em sala de aula.

O professor pode tentar, ao máximo, entender os interesses e características de seus alunos, e de sua
sala em geral. Procure também adaptar as atividades a esta situação e encontre formas de motivar os alunos a
aprender. Se a turma tiver uma linha mais prática, escolha tarefas que estimulem a criatividade e estimulem os
alunos a fazê-lo. É válido incentivar os seus alunos a pensar sobre os tópicos que estão sendo ensinados,
pedindo-lhes que parem e pensem no que aprenderam para que possam relacioná-lo com outras experiências.
Além disso, é necessário ajudar os alunos a definir suas próprias metas ao longo do percurso de aprendizagem
para que fiquem mais motivados a continuar aprendendo,

Nessa etapa inicial do ensino fundamental, o desenvolvimento do conhecimento envolve o reforço das
aprendizagens anteriores e a ampliação da prática de linguagem e das experiências estéticas e culturais da
criança, levando em consideração seus interesses, expectativas e o que ela ainda precisa aprender. Ao focar
em situações lúdicas de aprendizagem, demonstra-se uma conexão valorizada com as experiências vividas na
educação infantil. Essa junção devem antecipar a organização progressiva dessas experiências da educação
infantil, valorizando o desenvolvimento de novas formas de relação do aluno com o mundo, assim como novas
oportunidades para ler e formular hipóteses fenomenológicas, verificá-las e refutá-las e aprofundar as
conclusões e atitudes progressivas que constroem conhecimento. A autonomia intelectual, a consciência das
normas da vida social e a compreensão dos interesses são ampliadas para que possam se relacionar com
sistemas mais amplos envolvendo as relações entre os sujeitos e com a natureza, história, cultura, tecnologia e
meio ambiente.

Medidas devem ser tomadas para garantir que os alunos sigam a rota de aprendizagem contínua entre
as duas etapas da educação básica para promover maior integração entre elas. Afinal, essa transição é
marcada não somente pelas mudanças pedagógicas mas também na estrutura educacional, uma vez que há
diferenciação, principalmente, dos componentes curriculares.

Antigamente, a relação entre o primeiro e o último ano do ensino fundamental começou na distinção
desde a criação das escolas das primeiras letras (1827) e a fundação da escola primária (1854) e o exame de
admissão para acesso ao ginásio (1930). A juntura do ensino primário e do ginásio só veio ocorrer em 1996
com a nomenclatura atual de ensino fundamental. Em 2004, a mais recente modificação, mas não a última: o
ensino fundamental de nove anos. Em 2004, estabelecem-se as Diretrizes Curriculares Nacionais para o
Ensino Fundamental em 9 anos, que, o Artigo 29 da Resolução CNE/CEB n.º 7/2010, versa sobre a
importância da articulação entre as etapas dos anos iniciais com os anos finais, assim como as mudanças que
o compõe na transição:

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“os alunos, ao mudarem do professor generalista dos anos iniciais para os
professores especialistas dos diferentes componentes curriculares, costumam se ressentir
diante das muitas exigências que têm de atender, feitas pelo grande número de docentes
dos anos finais” (BRASIL, 2010)

Isso significa que há diferenças na organização da escola e nos referenciais utilizados no processo
educativo. Essa mudança tem um impacto direto na aprendizagem dos alunos, aumentando as taxas de
reprovação e o viés idade/série. Dessa forma, fazer os ajustes e expressões necessários no 5º e 6º anos para
apoiar os alunos nessa transição evita interrupções no processo de aprendizagem e garante melhores
condições de sucesso.

As novas redes de pensamento desenvolvidas pelos alunos nessa fase dos anos finais constituem uma
importante base para ampliar e aprofundar os conhecimentos e competências adquiridos nos anos iniciais,
constituindo uma compreensão facilitadora da sua realidade e do seu funcionamento, e permitindo obter
maturidade pessoal, interpessoal e autonomia para trilhar seu desenvolvimento à pesquisa e estudos.

Durante o 5º ao 6º ano, os alunos vivem experiências no dia a dia da escola completamente diferentes
da rotina dos anos iniciais, pois há um significante aumento do número de professores, havendo interação com
os professores de disciplinas específicas de cada área, exigências diferentes, maior responsabilidade, estilo de
interação e organização pedagógica das salas de aula diferentes, etc. , uma composição mais próxima da
estrutura escolar utilizada no Ensino Médio.

Os anos escolares de 11 a 12 anos são caracterizados por uma variedade de abordagens diferentes.
Em muitos casos, eles mantêm seu entusiasmo, flexibilidade e natureza disciplinada, mas alguns alunos têm
dificuldades durante esse período. Nesse cenário, é fundamental que o professor, educador ou adulto que
convive com crianças que apresentam problemas de desenvolvimento devido à fase de crescimento, mantenha
o interesse pela aprendizagem e pelas realidades que as cercam.

Nessa idade, as crianças são extremamente ativas na sala de aula, fazem muitas bagunças, por isso é
conveniente que tenham períodos de liberdade de movimento, mantendo algum grau de organização e ordem.
Se o professor tem a capacidade de proceder com uma determinada habilidade, não é difícil para os alunos se
interessarem pelos assuntos estudados. Normalmente, as crianças dessa idade tendem a ser honestas e
proativas, elas pedem ajuda quando necessário.

Segundo Piaget, entre os 11 e 12 anos, a criança inicia a fase do desenvolvimento intelectual, que
corresponde à fase das operações formais. Como vimos, este é o caso. O atributo primário desta fase é a
melhoria qualitativa significativa nos processos de raciocínio, que antes só eram capazes de operar com
objetos e realidades concretas, agora também são aplicáveis a conceitos abstratos e julgamentos hipotéticos.
Os alunos dessa faixa etária geralmente estão ansiosos para aprender coisas novas, têm uma compreensão
básica da aprendizagem instrumental e chegarão a esse estágio para solidificar e sistematizar seus
conhecimentos. Por outro lado, a escola exigirá deles mais empenho e maior responsabilidade. Agora não
bastará simplesmente assistir às aulas e tentar fazer o máximo possível dos exercícios. Ao voltar para casa,
devem dedicar mais tempo aos seus afazeres pessoais e dedicar mais do que o tempo simbólico ao estudo.

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O adolescente na faixa de treze a quatorze anos está na posse de uma maturidade recém-adquirida, e
desta perspectiva contempla com ar de superioridade as brincadeiras e atitudes das crianças do grupo etário
anterior, embora não renuncie a elas em determinados momentos. É mais organizado para trabalhar em
classe, possui mais autodomínio e pode possuir uma notável capacidade de concentração. Exibe em geral um
comportamento responsável, mas não gosta de ver-se submetido pelo princípio de autoridade e procura
conservar a máxima capacidade de decisão.

Neste ponto, os jovens começam a fazer os primeiros progressos significativos para o desenvolvimento
da inteligência lógico-formal, esta inteligência possui várias características: o desenvolvimento do pensamento
hipotético-dedutivo, a capacidade de passar do conhecimento dos fenômenos às leis e princípios que regem, o
desenvolvimento de um espírito propício à experimentação, etc.

Essa fase exige que os adolescentes tenham uma grande renda, eles devem dedicar uma parcela
significativa de seu tempo aos estudos. As tarefas são mais simples para eles, desde que tenham sido capazes
de internalizar as técnicas de estudo adequadas nos cursos anteriores: preparação de esquemas, esquemas,
sinopses, etc.

Professores e educadores devem levar em conta a idade dos alunos para empregar uma abordagem
didática que leve à plena integração dos alunos no processo educacional. Somente se puderem participar das
atividades da escola terão um impacto significativo nos resultados almejados.

De todo o ensino fundamental, a etapa mais alarmante é dos anos finais, já que onde se encontra a
maior parte dos alunos reprovados e, consequentemente, de abandono. Segundo a divulgação do Censo 2021
da INEP:

As taxas de aprovação dos anos finais do ensino fundamental caíram em todas as


dependências administrativas da rede pública. A rede municipal foi a que teve a maior
queda, com 94,7% dos alunos aprovados (em 2020 eram 98,0%). A rede privada
manteve-se praticamente estável, com um crescimento de apenas 0,1 p.p.

Já as taxas de reprovação nos anos finais aumentaram em todas as redes, com


destaque para a municipal, cujo aumento foi de 2,2 p.p. A taxa de abandono da rede
pública cresceu 0,9 p.p., passando de 1,2%, em 2020, para 2,1%, em 2021; já a rede
privada apresentou queda de 0,6 p.p., passando de 0,8% para 0,2%. (INEP)

A reprovação é o resultado de múltiplos fatores relacionados a características do aluno, da família,


práticas escolares, aspectos sociais, econômicos e políticos. É um sinal de fracasso acadêmico e pode afetar
negativamente o desenvolvimento social, emocional e acadêmico do aluno. Conclui-se que o baixo
desempenho acadêmico devido a dificuldades no processo educacional pode fazer com que os alunos percam
o interesse em aprender, o que leva ao fracasso ou mesmo ao abandono escolar. Portanto, esse fenômeno
pode representar um perigo para o desenvolvimento humano no futuro.

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Para reverter esse cenário, a escola deve ser um lugar onde o conhecimento possa ser visto, discutido,
construído e reconstruído sem ameaças. Devemos revisar as avaliações de aprendizagem e rotinas escolares
para criar espaços inclusivos onde todos tenham direito a um sucesso acadêmico. Ver a escola como um
ambiente democrático significa estar atento aos diferentes saberes em sala de aula. Os educadores e a
sociedade devem estar preparados para enfrentar essa realidade se quisermos continuar a oferecer mais
oportunidades educativas para todos.

Em nível municipal, a aprovação das escolas municipais atingem um patamar muito mais que
satisfatório, acima da média nacional:

Dependê
Taxa de Aprovação
Localiz ncia Ensino Fundamental de 8 e 9 anos
ação Administr
Anos Anos
ativa
Total Iniciais Finais 1º Ano 2º Ano 3º Ano 4º Ano 5º Ano 6º Ano 7º Ano 8º Ano 9º Ano
Total Municipal 99,5 99,8 98,8 100 100 99,2 99,9 99,8 99,4 99,2 98 98,7
Urban
a Municipal 99,4 99,8 98,8 100 100 99,2 99,9 99,8 99,3 99,2 97,9 98,7
Rural Municipal 100 100 100 100 100 100 100 100 100 100 100 100

No entanto, não é possível esquecer que há a problemática do rendimento incerto dos alunos aos anos
finais do ensino fundamental por conta da pandemia da Covid-19. É comum, na rede pública, encontrar alunos
que migraram aos anos finais sem os conhecimentos básicos esperados dos anos iniciais. No entanto, não se
trata apenas de recuperar o que não foi aprendido corretamente, pois a maioria dos alunos nem aprendeu o
que foi planejado para 2020 e 2021. Embora já se façam alguns anos desde o ensino remoto, as
consequências ainda perduram nos anos finais. A urgência exige ações rápidas e estratégias além de restaurar
e melhorar o aprendizado dos alunos.

Depois de feito um diagnóstico, o próximo passo é flexibilizar o organizador curricular. Os


conhecimentos necessários para o pleno desenvolvimento das competências podem estar presentes em todos
os anos finais. Em outras palavras, quando desenvolvemos uma competência, devemos reunir várias das
habilidades que tornam possível o domínio de um determinado contexto de aprendizagem. Portanto, algumas
das habilidades que se espera que um aluno do sexto ano desenvolva são muito importantes para que ele
aprenda no oitavo ano também, de maneira inicial ou aprofundada, de acordo com o seu nível diagnosticado.

De acordo com a BNCC, nos anos finais, é a hora de fortalecer e consolidar os conhecimentos e a
autonomia dos alunos, fornecendo ferramentas e condições para acessar e interagir criticamente com os mais
diversos conhecimentos e informações. Com a homologação do documento, a estrutura curricular do Ensino
Fundamental (anos iniciais e anos finais) começou a organizar-se em cinco grande áreas de conhecimento:

● a área de Linguagens;
● a área de Matemática;
● a área de Ciências da Natureza;
● a área de Ciências Humanas;

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● a área de Ensino Religioso.

Em cada área do conhecimento, compõem os componentes curriculares. Os Componentes Curriculares


são todos os elementos que compõem a integração do currículo. Os componentes são disciplinas ou atividades
que percorrem o curso e são de natureza teórica e/ou prática. A distinção entre disciplina e componentes
curriculares é que o termo componente é mais amplo e pode envolver atividades acadêmicas não diretamente
ligadas à divisão de matérias, estando associado ao desenvolvimento de competências, enquanto disciplina
foca-se na formação de conhecimentos, sem praticá-los concretamente.

No Ensino Fundamental, os componentes curriculares obrigatórios da educação básica são divididos


em:

Linguagens

● Língua Portuguesa;
● Arte;
● Educação Física;
● Língua Inglesa.

Matemática

● Matemática.

Ciências da Natureza

● Ciências.

Ciências Humanas

● Geografia;
● História.

Ensino Religioso

● Ensino Religioso.

Assim, essas disciplinas estão presentes na segunda etapa do Ensino Fundamental do ensino básico
(do 6.º ao 9.º ano) com o objetivo de contribuir para o desenho dos projetos de vida do aluno, não só para
comunicar com as aspirações futuras desses jovens mas também com os procedimentos para construir esse
futuro com a continuidade dos estudos e apto à complexidade da vida social. Do ponto de vista da
aprendizagem, este é um momento muito importante para a consolidação de conhecimentos que farão parte do
cotidiano do aluno ao longo de sua vida, aquele gosto por alguma área específica que começa a florar e aguçar
ainda mais no ensino médio.

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OS COMPONENTES CURRICULARES E ESTRUTURA DO ORGANIZADOR CURRICULAR

Para cada componente curricular, há um quadro organizador curricular, ou matriz curricular,


contemplando as unidades temáticas, os objetos de conhecimento e as habilidades.

Conforme a classificação da BNCC,

“cada componente curricular apresenta um conjunto de habilidades. Essas habilidades estão


relacionadas a diferentes objetos de conhecimento – aqui entendidos como conteúdos, conceitos e processos
–, que, por sua vez, são organizados em unidades temáticas. Respeitando as muitas possibilidades de
organização do conhecimento escolar, as unidades temáticas definem um arranjo dos objetos de conhecimento
ao longo do Ensino Fundamental adequado às especificidades dos diferentes componentes curriculares. Cada
unidade temática contempla uma gama maior ou menor de objetos de conhecimento, assim como cada objeto
de conhecimento se relaciona a um número variável de habilidades(...).”

As habilidades são ordenadas e representadas pelo código alfanumérico:

As habilidades não são dissociadas uma das outras, uma vez que é possível mobilizar diversas, ao
mesmo tempo, durante práticas cognitivas e socioemocionais na interação ou vivência educativa. Além disso,
elas, por si só, embora representem como unidade mínima das competências específicas, não contemplam,
por si só, o alcance absoluto da promoção das 10 competências gerais da BNCC A habilidade tem um valor
mais prático e tangível, enquanto a competência é mais subjetiva e pessoal, pois procede conceitos e
procedimentos. Dessa forma, de nada adianta, na interação educativa, evocar habilidades sobre etnia, mas as
falas e posicionamento dos sujeitos nesse espaço não for condizentes com a proposta da competência
Repertório Cultural.

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LÍNGUA INGLESA

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105
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Presença da língua inglesa
no cotidiano

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VARIAÇÃO LINGUÍSTICA

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122
Impacto de aspectos culturais
na comunicação

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