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Da lenda à história

A cidade de Ulisses
Para fugir ao destino que os oráculos anunciam, a deusa Tétis, mãe de Aquiles,
envia o filho para muito longe do cenário de morte de Tróia. Mais tarde Ulisses é
enviado, por mares conhecidos e desconhecidos, em sua procura. Vai encontrá-lo
num templo de vestais, á beira de um esteiro do rio Tejo. Assim descoberto,
Aquiles volta para Tróia, levando consigo, como precioso auxílio de uma guerra
que não tem fim, muitos dos cavalos que por ali viviam, velozes como nunca houve
memória de outros iguais. Quanto a Ulisses, uma vez destruída Tróia, irá
regressar a casa. Mas, a meio da viagem para Ítaca, deixa-se seduzir pela
recordação da brisa amena dessas paragens longínquas onde encontrara Aquiles,
pela lembrança da doçura e da claridade do ar, o ouro das águas do rio - e decide
lá voltar. E, no monte que ficava diante do estuário desse rio imenso, fundou uma
cidade a que deu o seu nome e no alto da colina ergueu um templo a Palas Atenea.
Durante muitos anos, assim se contou a história da fundação da cidade de
Lisboa, como se de verdade histórica se tratasse. O primeiro a dar Ulisses como
fundador de Lisboa terá sido Caio Júlio Solino, no séc. III d.C., baseando-se, ao
que parece, numa errada interpretação de escritos de Estrabão. A tese é, no
entanto, aliciante, e rapidamente ganha adeptos. No séc. XVI, Damião de Góis, na
sua Descrição da Cidade de Lisboa, embora não o afirme categoricamente, cita
testemunhos que considera idóneos para dar força à teoria, entre eles um tal
Asclipíades Merlianoque no séc.1 a.C., presidira na Turdetânea a um certame
literário e escrevera depois uma obra sobre os povos da península:
«Diz ele que em Lisboa se encontravam então, pendurados no templo de
Minerva, determinados objectos, tais como escudos, festões e esporões de
navios, alusivos às viagens de Ulisses.»
Admitindo poderem não ser provas suficientes da presença de Ulisses na
cidade, Damião de Góis confessa, no entanto, agradar-lhe mais "aderir ao
testemunho de tão ilustre escritor, do que adoptar as opiniões dos que
escarnecem disso sem qualquer argumento indiscutível ".

Lenda de Lisboa
Diz a lenda que outrora existia aqui um reino chamado Ofiusa, o reino das
serpentes, ao qual veio aportar, com os seus companheiros, o herói navegador
Ulisses. As serpentes tinham a sua rainha meio mulher, meio serpente, com
graças e jeitos de menina, para melhor seduzir. O Ulisses porém, não o conseguiu
ela. O famoso guerreiro fingiu-se enamorado para que a estranha rainha, desse
modo, permitisse que os seus companheiros desembarcassem e se instalassem em
terra. Com eles desembarcaram material e ferramentas para se começar a
erguer a cidade. Depois de realizados os seus intentos, Ulisses iludiu-a e fugiu.
Num grande esforço para alcançar o enganador, a rainha das serpentes quis
aglomerar-se sobre a cidade, até ao rio, até ao mar. E daí ficaram as sete colinas,
único resultado das contorções finais da pobre rainha ludibriada.
Camões, no canto III dos Lusíadas também se refere a Ulisses:
Ulisses é o que faz a santa casa
à deusa que lhe dá língua facunda;
que se lá na Ásia Tróia insigne abrasa,
cá na Europa Lisboa ingente funda.

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