Você está na página 1de 116

Capítulo 1

Mensagem
(Fernando Pessoa)

Resumo por palavras

1. Poesia épico-lírica; 2. Modernismo; 3. Portugal; 4. Luta; 5. Esoterismo; 6.


Brasão; 7. Mar português; 8. O encoberto; 9. Passado; 10. Presente; 11. Futuro;
12. Simbolismo.

A presente leitura obrigatória da Fuvest, em linhas gerais, é a única produção


literária editada e publicada por Fernando Pessoa ainda em vida. Segundo os
críticos do autor, a obra Mensagem é o resultado de vinte e um anos de trabalho
artístico intenso.
Ao longo do livro, Fernando Pessoa deixa perceber uma intensa necessidade
de incitar, reagir contra os infortúnios da vida, não temer o afrontamento diante de
modismos e, mormente, posicionar-se enfaticamente a favor daquilo em que se
acredita. De início, utiliza o poeta a imagem de uma mulher representando a Europa,
estendida ao chão com os cotovelos como apoio e, cada um deles, a representar
pontos geográficos. No da direita, a Inglaterra e, no da esquerda, a península
italiana. Por extensão, Portugal é sugerido pelo rosto a contemplar o oceano à
frente.
Diante desse quadro, já se insinua metonimicamente a importância da nação
lusitana, cabeça da Europa, cuja faixa oceânica que circunda o seu olhar sugere
uma dimensão universalista. Nesse sentido, cumpre destacar que o livro, como um
todo portador de sentido, dispõem de uma tese – centralizada na classe dos nobres;
uma antítese – o domínio dos oceanos; e uma síntese – a vindoura civilização
dominadora da inteligência.
A utilização de simbolismos e referências a rituais também compõe o material
a ser deslindado pelo leitor, isso porque novas visões de mundo podem ser
encontradas. Era muito caro a Fernando Pessoa o ocultismo, deixando ver uma
intuição apurada e, dessa forma, trazendo inteligentemente nova compreensão para
a vida por meio de figuras como O Grande Arquiteto do Universo ou O Superior
Incógnito.
No que concerne à estrutura da obra, o livro foi organizado como uma
epopeia segmentada, pretendendo trazer no todo da significação uma forma para se
louvar Portugal. Fernando Pessoa reconstrói o percurso histórico lusitano a partir de
uma visão de mundo místico-nacionalista, ainda baseada no sebastianismo.
A obra é dividida em três partes distintas: na primeira, O brasão, tem-se a
utilização simbólica da nobreza lusitana como ideia fundamental. Na segunda, O
mar português, a ação é desenvolvida temporalmente no passado. E, por fim, na
terceira, O encoberto, a ação é visualizada em um futuro desejável, já que o
presente se mostra incerto.
Com vistas a esmiuçar cada uma das divisões da obra, cita-se inicialmente
que nO brasão as glórias portuguesas são celebradas. Além disso, há uma nova
segmentação em duas partes independentes, sugerindo o emblema lusitano: uma
com sete castelos da realeza e, a outra, com cinco quinas a representar as chagas
de Cristo. Na parte superior da heráldica lusa, encontra-se a coroa e o timbre,
deixando ver um grifo (mitologicamente, ser alado com cabeça de leão). Também
são apresentados grandes vultos da história de Portugal: como os de Dom Henrique,
Dona Tareja, Dom Afonso Henriques, Dom Henrique e Afonso de Albuquerque, por
exemplo. Ainda se encontra o mito de Ulisses, representando o início de tudo no que
tange à fundação da pátria portuguesa.
No segundo segmento, O mar português, são colocadas em cena as viagens
e as conquistas de Portugal no passado período das grandes navegações. A nação
lusitana, durante os séculos XV e XVI, transformou-se em uma das principais
potências econômicas mundiais, além de disputar a hegemonia e o controle da
Europa contra a Espanha.
Na terceira e última parte, O encoberto, recupera o mito sebastianista e,
consequentemente, um retorno aos tempos em que Portugal dominava o cenário
europeu política e economicamente. O misticismo gravita em torno da figura do
lendário rei lusitano D. Sebastião, vitimado pelos mouros em batalha no ano de
1578. Para tanto, as previsões do Padre Antônio Vieira e as do sapateiro de
Bandarra, por exemplo, a respeito do retorno do Rei pretendem, em boa medida,
tornar Portugal à condição de grande nação e criar também o Quinto Império para,
assim, cravar a terra lusitana como suprema.

Quadro geral dos poemas


Brasão – Os campos – O dos castelos abre a primeira parte
Primeiro – “Brasão”, a simbolizar uma origem patriótica e
corroboração de Portugal, enquanto terra cujo
povo foi escolhido por Deus. Em relação à
expressão “Os campos”, pode remeter tanto a
um espaço rico em vida como à monarquia
lusitana. No poema, miticamente, figura
Portugal enquanto lugar grandioso e
importante já que é o rosto da Europa.
Brasão – Os campos – O das quinas alude o poema a necessidade
Segundo – de Portugal realizar uma divina missão. Nesse
sentido, as ‘quinas’ podem sugerir as cinco
chagas de Cristo e um desejo divino
manifestado para que o país seja a terra
escolhida a acomodar homens superiores,
ainda que em suas vitórias desgraças tenham
ocorrido, mas há que suportá-las assim como
Jesus também o fez. Alude-se ao homem
português pela sua grandeza, encabeçando
um desfile de heróis a se conhecer.
Brasão – Os castelos – Ulisses inicia o segmento “Os castelos”,
Primeiro – simbolizando a proteção à nação e as
conquistas dos heróis lusitanos. No poema,
tem-se a referência ao mito de fundação de
Lisboa, a qual, há muito tempo, era conhecida
como Ofiúsa, a Terra das Serpentes. Nela,
governava uma rainha metade mulher, metade
cobra, dita amável, mas que seduzia os
viajantes que aportavam em seus domínios.
Com o passar do tempo, a terra foi
considerada maldita e os que caiam nos
braços da monarca não mais eram vistos. Não
obstante, um dia Ulisses e sua tripulação
aportam em Ofiúsa e deslumbram-se com a
beleza da localidade, decidindo, assim,
ficarem por mais alguns dias. Ao conhecer
Ulisses, a rainha se apaixonou perdidamente
e o pediu em casamento, e caso não
aceitasse sua tropa seria morta. Sem
alternativa de salvação, Ulisses aceita o
pedido, mas apenas para evitar tragédia maior
com o intuito não revelado de descansar e
carregar os navios com suprimentos para
prosseguir viagem. Ulisses, no entanto,
encantou-se pela terra e decidiu conquistá-la e
torná-la o centro do mundo, Ulisseia. Mas,
quando foi possível, Ulisses fugiu da rainha e
ela, enfurecida pelo engano, saltou da colina
na água à procura do amado. Os braços da
rainha serpentearam em busca do herói,
formando setes colinas na cidade de Lisboa e
quando ela atingiu o mar, já sem forças,
desistiu da perseguição.
Brasão – Os castelos – Viriato cravou seu nome ao edificar a
Segundo – Lusitânia, a “luz que precede a madrugada”
lusa, sugerindo, assim, a existência de um
povo guerreiro que viria, no futuro, ainda que
humilde e corajoso como ele próprio, a tornar-
se heroico.
Brasão – Os castelos – O Conde D. Henrique fundou o Condado
Terceiro – Portucalense, enfrentando em batalha os
mouros, e erigiu um modelar reino em que o
cristianismo se tornou um de seus pilares.
Brasão – Os castelos – D. Tareja é vulto que dá início à primeira
Quarto – dinastia de Borgonha. O eu lírico a reconhece
como mãe e protetora de Portugal, clamando
por sua defesa ante a necessidade de se
construir uma novo país, principalmente por já
se ter conscientizado das possibilidades
graças às experiências lusitanas no passado.
Brasão – Os castelos – D. Afonso Henriques figura no poema como
Quinto – fundador do primeiro reino lusitano,
engendrando um projeto de nação e
simbolizando a força e a coragem do homem
português.
Brasão – Os castelos – D. Dinis é apresentado no poema como o
Sexto – primeiro lusitano a desejar os descobrimentos
de novos mundos, por meio das próprias
trovas. Marca também, por outro lado, o início
do uso das letras e da cultura.
Brasão – Os castelos – D. João o primeiro é reconhecido como o pai
Sétimo (I) da Ínclita (ilustre, famosa) Geração e iniciador
da dinastia de Avis. Também é metaforizado
como instrumento da vontade de Deus.
Brasão – Os castelos – D. Filipa de Lencastre é figura histórica
Sétimo (II) reconhecida como a mãe da Ínclita Geração, a
“Madrinha de Portugal”.
Brasão – As quinas – D. Duarte, Rei de Portugal abre o segmento
Primeira “As quinas” com vistas a representar,
inicialmente, as cinco chagas de Cristo e, no
contexto da obra, a bandeira nacional
portuguesa e o sofrimento para se chegar à
libertação por meio de cinco figuras históricas.
O vulto evocado foi o primogênito de D. João I
e representou a sujeição à vontade de Deus.
Brasão – As quinas – D. Fernando, infante de Portugal é
Segunda reconhecido como herói, mártir e santo por ter
resistido a inúmeras adversidades em nome
da fé. Era o filho mais novo de D. João I.
Brasão – As quinas – D. Pedro, regente de Portugal simboliza o
Terceira pensamento, a vontade e o sentimento
lusitanos. Também representa o equilíbrio
entre o ser e o querer, com decisões lúcidas a
benefício de Portugal, material e
espiritualmente.
Brasão – As quinas – D. João, infante de Portugal, embora não
Quarta tenha alcançado tanta fama como os irmãos,
conseguiu o seu lugar no mundo e cravou o
seu nome na história.
Brasão – As quinas – D. Sebastião, rei de Portugal representa
Quinta mitologicamente o Messias, isso porque foi o
responsável pela construção do Quinto
Império.
Brasão – A coroa Nun’Álvares Pereira é o único poema do
segmento a ‘coroa’, em que se manifesta o
símbolo da realeza. Em relação à figura
humana, Nun’Álvares Pereira representa o
período Medieval, anterior às grandes
descobertas lusitanas. O homem foi fidalgo,
herói, santo, por se enquadrar no ideal de
cavalaria medievo. Recupera-se também a
figuração da espada, como elemento para
lutar contra o mal e orientar a humanidade na
busca de uma pretensa verdade.
Brasão – O timbre – A O infante D. Henrique abre o segmento “O
cabeça do grifo timbre”, por sua vez, sugerindo significados
como a marca pessoal de alguém, um sinal
e/ou o simbolismo de um poder que se
legitima. Para tanto, utiliza-se a imagem de um
grifo, ser mitológico com cabeça e asas de
águia e corpo de leão, a representar a
suprema potência natural. Especificamente,
aqui, no primeiro poema, a cabeça alude a
figuração histórica daquele que se registra
como o responsável pela construção do
império português. Entre lucidez e idealização,
é tido como um ser divino e conhecedor do
mundo, capaz de construir caminhos pretéritos
e futuros.
Brasão – O timbre – Uma D. João, o segundo representa, por meio do
asa do grifo simbolismo da asa, o início da concretização
de um sonho e a primeira pista para o
desvelamento de um mistério.
Brasão – O timbre – A Afonso de Albuquerque simboliza o homem
outra asa do grifo que age, ou seja, aquele que concretizou o
império lusitano, despreocupado do preço a se
pagar, mas empenhado em transformar o
mundo.
Mar português – Primeiro O infante inicia a segunda parte, com vistas a
representar a ação épica base de Os lusíadas.
Citado como homem escolhido por Deus, cuja
função é cumprir missão grandiosa. Para
tanto, o domínio do mar é fundamental, assim
como meio para aproximar os povos. Falta, no
entanto, concretizar a construção de um
império espiritual.
Mar português – Segundo Horizonte recupera o período das grandes
descobertas marítimas de Portugal: a
invocação ao mar; as terras a serem
descobertas; a nova visão de mundo; o sonho
como mola propulsora.
Mar português – Terceiro Padrão, por meio da voz de Diogo Cão, em
primeira pessoa, diz ser pequeno ante a
grandiosidade do esforço. Também aponta
para a propriedade da terra e os cristãos.
Mar português – Quarto O mostrengo recupera a ancestralidade no
que diz respeito aos medos provocados pelo
mar, simultânea e simbolicamente, evoca
também a coragem, isso porque o povo
lusitano, mesmo derrotado, conseguiu revelar
um mundo novo. O “homem do leme” tornou-
se o povo corajoso de el-rei D. João II.
Mar português – Quinto Epitáfio de Bartolomeu Dias retoma a figura
do capitão que conseguiu dobrar o Cabo das
Tormentas e, assim, abrir o caminho para o
Oriente.
Mar português – Sexto Os Colombos retoma as históricas presenças
marcantes de Cristóvão Colombo, registrado
como o descobridor oficial do continente
americano, e um de seus filhos, Fernando
Colombo.
Mar português – Sétimo O Ocidente recupera a histórica descoberta
do Brasil enquanto resultado conjunto da ação
humana e da divina, cujas mãos descerraram
o véu do desconhecido.
Mar português – Oitavo Fernão de Magalhães aborda a viagem de
circum-navegação, realizada a mando de
Carlos V de Espanha, que culminou na morte
do navegador vítima dos nativos das ilhas
Molucas, mais especificamente em Mactán.
Mar português – Nono Ascensão de Vasco da Gama deixa ver que
os titãs estão convencidos de serem
derrotados, marcando-se, dessa forma, o
apreço por um novo período regido pelo
cristianismo e pela racionalidade científica. O
navegador é o escolhido para aventurar-se
pelo desconhecido na tentativa ‘dourada’ de
unir o ocidente ao oriente.
Mar português – Décimo Mar português retoma os feitos obtidos nos
descobrimentos que, por sua vez, renderam a
Portugal a identidade histórica e cultural do
país, isto é, a fama. Para tanto, foi necessário
o enfrentamento de inúmeros perigos, a dor, o
sofrimento e, principalmente, conquistar o
desconhecido.
Mar português – Décimo A última nau constrói a imagem de um sonho
primeiro que não se concretizou, já que o tão esperado
regresso do rei, provavelmente D. Sebastião,
nunca se realizou e, assim, o império ficou
incompleto.
Mar português – Décimo Prece deixa ver que o passado foi apenas um
segundo sonho, o qual resta somente a saudade e, por
isso, também a inquietação pelo mar ‘infinito’
conquistado. Para o presente, há esperança
e, nesse sentido, a prece torna-se um pedido
feito a Deus com o objetivo de se concretizar o
império português, ainda que espiritual.
O encoberto – Os D. Sebastião é o poema que abre a terceira
símbolos – Primeiro parte do livro, segmento esse que deixa
perceber uma sensação de descontentamento
com o atual cenário vivido por Portugal. Ainda
traz a ideia de que a morte não é o fim,
havendo esperança na ressureição. Dessa
forma, assume-se o tom messiânico e
sebastianista com o pretenso império
espiritual, isto é, o Quinto Império.
O encoberto – Os O quinto império alude à construção de um
símbolos – Segundo novo e grandioso império português, no futuro.
O encoberto – Os O desejado uma vez mais recupera a figura
símbolos – Terceiro do rei D. Sebastião, mas colocado, no
presente da escrita, como o novo Messias
onde quer que esse esteja.
O encoberto – Os As ilhas afortunadas representam um mundo
símbolos – Quarto pleno em justiça e paz, a ser testemunhado
quando erigido o Quinto Império.
O encoberto – Os O encoberto sintetiza, simbolicamente, o
símbolos – Quinto desejo de concretizar a construção do Quinto
Império.
O encoberto – Os avisos O bandarra abre o segmento dos avisos em
– Primeiro que desfilam três nomes anunciadores do
Quinto Império. No primeiro, faz-se presente o
autor de versos os quais profetizam o futuro
lusitano.
O encoberto – Os avisos Antônio Vieira é o anunciador da chegada do
– Segundo Quinto Império, a ser concretizado pela
afirmação da língua e da cultura portuguesa,
por meio das obras História do Futuro e
Chave dos Profetas, cuja voz e mensagem
religiosa são similares as de Cristo deixadas
aos homens.
O encoberto – Os avisos Screvo meu livro à beira-mágoa é o poema,
– Terceiro cujo título original deveria apresentar o nome
de Fernando Pessoa, constando a sua vida e
a sua obra dedicadas à reconstrução de
Portugal.
O encoberto – Os tempos A noite inaugura o segmento final, os tempos,
– Primeiro anunciador da chegada do Quinto Império a
partir da decadência de Portugal, em 1578,
com a morte de D. Sebastião e a perda da
independência do país em 1580. Em três
partes, marca exatamente o início da
derrocada do império lusitano.
O encoberto – Os tempos Tormenta apresenta a imagem de Portugal
– Segundo mergulhado no abismo.
O encoberto – Os tempos Calma preanuncia a retomada do Império
– Terceiro português, no que tange ao plano espiritual.
O encoberto – Os tempos Antemanhã sugere que ultrapassados os
– Quarto obstáculos e vencidas as dificuldades, um
novo Portugal está surgindo no horizonte.
O encoberto – Os tempos Nevoeiro marca o período da dúvida, em que
– Quinto se vê como necessário planejar um novo rumo
à nação portuguesa, mas ainda indefinido.

1.1 Agora é a sua vez!

Texto para responder as próximas 2 questões:

O QUINTO IMPÉRIO

Triste de quem vive em casa,


Contente com o seu lar,
Sem que um sonho, no erguer de asa,
Faça até mais rubra a brasa
Da lareira a abandonar!

Triste de quem é feliz!


Vive porque a vida dura.
Nada na alma lhe diz
Mais que a lição da raiz —
Ter por vida a sepultura.

Eras sobre eras se somem


No tempo que em eras vem.
Ser descontente é ser homem.
Que as forças cegas se domem
Pela visão que a alma tem!

E assim, passados os quatro


Tempos do ser que sonhou,
A terra será teatro
Do dia claro, que no atro
Da erma noite começou.

Grécia, Roma, Cristandade,


Europa — os quatro se vão
Para onde vai toda idade.
Quem vem viver a verdade
Que morreu D. Sebastião?
Fernando Pessoa. Mensagem.
T1. (Fuvest) De acordo com o texto, a ideia de felicidade, também nuclear em outros
poemas de Mensagem,
A) alimenta as aspirações humanas.
B) compreende-se como superação da morte.
C) identifica-se com o destino heroico.
D) compõe a mediocridade cotidiana.
E) situa-se como finalidade da existência.

T2. (Fuvest) Mensagem reconduz a história de Portugal a partir de uma


reinterpretação do tempo histórico. No poema, o tempo é encarado segundo uma
concepção
A) nostálgica, devido à presença de modelos situados no passado.
B) materialista, por efeito da aspiração burguesa de um lar confortável.
C) mística, em razão do prognóstico de um futuro metafísico.
D) biológica, por mérito da aceitação do ciclo natural da existência.
E) psicológica, em virtude da referência ao substantivo “sonho”.

T3. (Fuvest)
Nun´Álvares Pereira

Que auréola te cerca?


É a espada que, volteando,
Faz que o ar alto perca
Seu azul negro e brando.

Mas que espada é que, erguida,


Faz esse halo no céu?
É Excalibur, a ungida,
Que o Rei Artur te deu.

´Sperança consumada,
S. Portugal em ser,
Ergue a luz da tua espada
Para a estrada se ver!
Fernando Pessoa. In: “A Coroa”, Parte I, Mensagem.

A primeira parte de Mensagem, organizada como um correlativo poético do Brasão


das Armas de Portugal, perfila uma série de figuras míticas e históricas que teriam
sido responsáveis pela formação nacional portuguesa. A seleção de Nun´Álvares
Pereira para ocupar o lugar da Coroa:
A) sugere, pela imagem do halo de luz, que a verdadeira nobreza é de espírito.
B) destaca, através da referência ao mito arturiano, o seu sangue bretão.
C) distingue, por meio do substantivo “´sperança”, um regente digno de seu posto.
D) enaltece, pela repetição da palavra espada, a guerra como estrada para o futuro.
E) indica, associada ao adjetivo “consumada”, uma visão desenganada da história.

Capítulo 2
Angústia
(Graciliano Ramos)

Resumo por palavras

1. Romance; 2. Regionalismo; 3. Intelectual fracassado; 4. Existencialismo; 5.


Burguesia; 6. Cronotopo do presente e do passado; 7. Traição; 8. Fluxo de
consciência; 9. Circularidade; 10. Degradação; 11. Crítica social; 12. Castração.

A presente leitura obrigatória da Fuvest, em linhas gerais, foi escrita sob a


forma de romance, narrado em primeira pessoa, cujo narrador-personagem desvela
um primeiro mundo a partir das próprias vivências, na condição de intelectual
limitado pela condição financeira e frustrado graças à irrealização de um desejado
casamento. Angústia oferece ainda a possibilidade de se adentrar em contato com
um segundo mundo, de traços fortemente vinculados ao psicologismo. Para tanto, o
recurso da circularidade em que o fim da narrativa é conectado ao seu início cria as
condições necessárias para a intersecção desses dois cosmos.
Luís Pereira da Silva, protagonista e narrador, mais conhecido como Luís da
Silva, desempenha a mera ocupação de funcionário público, escrevendo textos em
que a sua opinião é suplantada, mas devendo atender às demandas do governo.
Sua condição financeira, no início da narrativa, é humilde e suficiente apenas para
sobreviver em uma empobrecida parte de Maceió. À medida que se apaixona por
Marina e procura agradá-la com mimos, endivida-se, atrasa o aluguel e chega a
tomar empréstimos.
Com a aparição de Julião Tavares na narrativa, a vida do protagonista Luís da
Silva transforma-se significativamente. Julião é filho de um comerciante bem-
sucedido e tal condição favorece a conquista junto às mulheres da localidade,
desguarnecidas pela pobreza. O que de fato também ocorre com Marina,
gradativamente, seduzida por Julião graças aos presentes ofertados e à esperança
de estabilização pecuniária, sujeitando o seu ‘noivo’, Luís da Silva, a conviver
constantemente com o ciúme e despertando, por outro lado, um homem perturbado.
O triângulo amoroso é desfeito em favor de Julião Tavares, conduzindo,
dessa forma, Luís da Silva a um estado de alma singular, já que o traído passa a
reproduzir hábitos estranhos como perseguir Marina, ouvir a intimidade dos vizinhos
e, principalmente, mesclar narrativas da sua vida adulta a outros acontecimentos
que datam desde a época de seu avô, Trajano Pereira de Aquino Cavalcante e
Silva.
O protagonista da narrativa também deixa entrever a sua irrealização e
frustração sexual, para tanto a recorrente presença de símbolos que se voltam ao
universo fálico, como é o caso da cobra, dos canos de água e da corda, guardam
em seus sentidos mais profundos tais nuances. E neste quadro psicológico de
castração repousa, ainda, pelos sentidos incrustrados na figura dos ratos e da
sujidade, um desejo que vai se agigantando no íntimo de Luís, isto é, dar cabo da
vida de seu rival Julião Tavares.
Tomada a decisão, Luís da Silva consuma o ato, mas, ainda assim, algo de
surpreendente envolve a narrativa desse fato: o corpo de Julião Tavares é deixado
de tal maneira na cena do crime, intentando-se obliterar o assassinato e
engendrando-se ali um álibi salvador, já que o suicídio isenta judicialmente
responsabilidades a outros. Contudo, ao leitor mais atento, a mania de lavar as
mãos que passa a acompanhar Luís da Silva é índice de culpa e de contínuo receio
de ser detido a qualquer momento, desde que fosse notado por uma autoridade
mais perspicaz, diga-se de passagem.
Vale destacar que o assassinato soa ao seu realizador como uma espécie de
ato a ser heroicizado, posto que Julião Tavares já se aproveitara de algumas
mulheres do local. Mas, no caso de Marina, ao ser abandonada grávida, Luís toma
partido, motivado após perseguir sua ex-noiva até a casa em que se faz abortos.
Nesse sentido, a morte de Julião ganha também tons enquanto ato de justiça com
os menos favorecidos.
Em suma, Angústia insere-se no contexto de uma obra modernista de
segunda fase, regionalista por excelência, em que a vida humana é marcada por
contrastes e invariavelmente pessoas pobres são oprimidas por ricos e/ou por
sistemas, como é o caso do livro em estudo, ao lançar mordaz crítica ao Estado.
Nesse sentido, em grande parte das narrativas desse período da literatura brasileira,
traços socialistas, comunistas e/ou anarquistas podem aparecer mais ou menos
evidentes.
Por fim, no que tange às personagens e/ou pessoas que habitam o universo
da obra tem-se:
a) Acrísio: velho, com cachimbo na boca, amigo do pai de Luís Pereira da Silva,
que dava as notícias pela janela da casa;

b) Adélia: mãe de Marina;

c) Albertina: dona da casa de abortos;

d) Amaro: vaqueiro;

e) André Laerte: barbeiro, usa avental manchado de sangue, com bigodinho ralo e
contemporâneo ao protagonista;
f) Antônia: criada de D. Rosália;

g) Antônio Justino: dono da primeira escola em que Luís da Silva foi ‘desasnar’;

h) Batista: passeia com as mãos atrás das costas;

i) Berta: alemãzinha, bonita, unhas pintadas e pontiagudas, primeira mulher com


que o protagonista se relacionou;

j) Camilo Pereira da Silva: pai do protagonista;

k) Chico Cobra: curandeiro que andava com um cabaço cheio de jararacas;

l) Conceição: esposa de Teotoninho Sabiá, prepara milho para xerém;

m) Dagoberto: estudante e repórter;

n) Datilógrafa dos olhos verdes: mulher que o protagonista encontrou no bonde;

o) Domingos: ex-escravo pertencente ao avô de Luís da Silva, sujeito respeitável;

p) Dona Aurora: proprietária de uma pensão, já fechada no presente da narrativa,


em que o protagonista morava anteriormente;

q) Dr. Gouveia: proprietário da casa em que Luís da Silva mora no presente da


narrativa;

r) Evaristo: suicida que se enforcou em uma árvore, fora rico, mas empobreceu;

s) Fabrício: amigo e compadre do pai do protagonista, cangaceiro vítima de


assassinato;

t) Filipe Benigno: negociante e contemporâneo a Luís da Silva;

u) Ivo: amigo do protagonista, caboclo, visitante faminto e silencioso;

v) Joaquim Sabiá: vizinho do pai de Luís da Silva;

w) José Baía: matador de aluguel e contemporâneo do avô do protagonista;

x) José da Luz: ocupa o posto de cabo, da força militar;

y) Julião Tavares: principal desafeto de Luís da Silva, de família rica de negociantes


e galanteador;

z) Lobisomem: vizinho misterioso do protagonista, pai de três filhas e acusado de


estuprá-las;
a1) Luís Pereira da Silva: narrador-personagem e protagonista, funcionário público,
assassino e marcado pelas frustrações profissional e amorosa, preso a sentimentos
que o corroem aos poucos;

b1) Maria: vizinha do pai do protagonista, filha de D. Conceição;

c1) Marina: noiva de Luís da Silva, de família pobre, cede aos galanteios de Julião
Tavares;

d1) Mercedes: espanhola, vizinha do protagonista e amigada em segredo com uma


personagem oficial;

e1) Moisés: um dos vários credores de Luís da Silva e companheiro do jornal;

f1) Moqueca: cachorra pertencente à família do protagonista;

g1) Padre Inácio: religioso contemporâneo do pai de Luís da Silva;

h1) Pimentel: superior imediato do protagonista no serviço público;

i1) Quitéria: negra que trabalhava na cozinha e era amante do avô do protagonista;

j1) Ramalho: pai de Marina, calado, sério, asmático e eletricista;

k1) Rosália: vizinha do protagonista, que tem o marido sempre ausente;

l1) Rosenda: lavadeira, negra, contemporânea do pai de Luís Pereira da Silva;

m1) Sinha Germana: avó de Luís da Silva;

n1) Sinha Terta: responsável pelos abortos na época do avô do protagonista;

o1) Trajano Pereira de Aquino Cavalcante e Silva: avô de Luís Pereira da Silva e
fazendeiro decadente;

p1) Teotoninho Sabiá: dono de bar no tempo do avô do protagonista;

q1) Teresa: vizinha do pai de Luís da Silva, filha de D. Conceição;

r1) Vitória: senhora que trabalha nos serviços doméstico na casa do protagonista e
possui hábito de pegar dinheiro alheio.

2.1 Agora é a sua vez!

TEXTOS PARA AS QUESTÕES DE 1 a 3

Os textos literários são obras de discurso, a que falta a imediata referencialidade da


linguagem corrente; poéticos, abolem, “destroem” o mundo circundante, cotidiano,
graças à função irrealizante da imaginação que os constrói. E prendem-nos na teia
de sua linguagem, a que devem o poder de apelo estético que nos enleia; seduz-nos
o mundo outro, irreal, neles configurado (...). No entanto, da adesão a esse “mundo
de papel”, quando retornamos ao real, nossa experiência, ampliada e renovada pela
experiência da obra, à luz do que nos revelou, possibilita redescobrir, sentindo-o e
pensando-o de maneira diferente e nova. A ilusão, a mentira, o fingimento da ficção,
aclara o real ao desligar-se dele, transfigurando-o; e aclara-o já pelo
insight que em nós provocou.
Benedito Nunes, “Ética e leitura”, de Crivo de Papel.

O que eu precisava era ler um romance fantástico, um romance besta, em que os


homens e as mulheres fossem criações absurdas, não andassem magoando-se,
traindo-se. Histórias fáceis, sem almas complicadas. Infelizmente essas leituras já
não me comovem.
Graciliano Ramos, Angústia.

Romance desagradável, abafado, ambiente sujo, povoado de ratos, cheio de


podridões, de lixo. Nenhuma concessão ao gosto do público. Solilóquio doido,
enervante.
Graciliano Ramos, Memórias do Cárcere, em nota a respeito de seu livro Angústia

T1. (Fuvest) O argumento de Benedito Nunes, em torno da natureza artística da


literatura, leva a considerar que a obra só assume função transformadora se:
A) estabelece um contraponto entre a fantasia e o mundo.
B) utiliza a linguagem para informar sobre o mundo.
C) instiga no leitor uma atitude reflexiva diante do mundo.
D) oferece ao leitor uma compensação anestesiante do mundo.
E) conduz o leitor a ignorar o mundo real.

T2. (Fuvest) Se o discurso literário “aclara o real ao desligar‐se dele,


transfigurando-o, pode se dizer que Luís da Silva, o narrador-
protagonista de Angústia, já não se comove com a leitura de
“histórias fáceis, sem almas complicadas” porque:
A) rejeita, como jornalista, a escrita de ficção.
B) prefere alienar-se com narrativas épicas.
C) é indiferente às histórias de fundo sentimental.
D) está engajado na militância política.
E) se afunda na negatividade própria do fracassado.

T3. (Fuvest) Para Graciliano Ramos, Angústia não faz concessão ao gosto do
público na medida em que compõe uma atmosfera:
A) dramática, ao representar as tensões de seu tempo.
B) grotesca, ao eliminar a expressão individual.
C) satírica, ao reduzir os eventos ao plano do riso.
D) ingênua, ao simular o equilíbrio entre sujeito e mundo.
E) alegórica, ao exaltar as imagens de sujeira.

Leia o fragmento a seguir:

(…) Sem dúvida o meu aspecto era desagradável, inspirava repugnância. E a gente
da casa se impacientava. Minha mãe tinha a franqueza de manifestar-me viva
antipatia. Dava-me dois apelidos: bezerro-encourado e cabra-cega. (…) Devo o
apodo ao meu desarranjo, à feiura, ao desengonço. Não havia roupa que me
assentasse no corpo: a camisa tufava na barriga, as mangas se encurtavam ou
alongavam, o paletó se alargava nas costas, enchia-se como um balão. (…)
Zanguei-me permanecendo exteriormente calmo, depois serenei. Ninguém tinha
culpa do meu desalinho, daqueles modos horríveis de cambembe. Censurando-me a
inferioridade, talvez quisessem corrigir-me. (…)

T4. (Fuvest) O trecho acima, narrado em 1ª pessoa, foi extraído do livro Infância, de
Graciliano Ramos. O autorretrato lido permite identificarmos uma das personagens
importantes do livro Angústia, do mesmo autor. Indique-a.
A) Camilo Pereira da Silva.
B) Moisés.
C) Seu Ivo.
D) Julião Tavares.
E) Luís da Silva.

T5. (Fuvest) Leve em consideração o mesmo trecho da questão anterior:


O último período do texto fornece com perfeição um traço da personalidade do
narrador de Angústia, encontrado na alternativa:
A) Intensa rebeldia contra seus próprios familiares.
B) Autocrítica levando à baixa autoestima.
C) Despreocupação com a opinião alheia a seu próprio respeito.
D) Humor negro sobre o comportamento humano.
E) Discordância sistemática da opinião de terceiros.

T6. “Mas não medimos os tempos que passam, quando os medimos pela
sensibilidade. Quem pode medir os tempos passados que já não existem ou os
futuros que ainda não chegaram? Só se alguém se atrever a dizer que pode medir o
que não existe! Quando está decorrendo o tempo, pode percebê-lo e medi-lo.
Quando, porém, já estiver decorrido, não o pode perceber nem medir, porque esse
tempo já não existe”.
Santo Agostinho. Confissões.

O tempo físico e o tempo psicológico se diferenciam na medida em que o primeiro


se firma na objetividade e o segundo, na subjetividade. De acordo com os
argumentos de Santo Agostinho, pode-se dizer que, no romance Angústia, de
Graciliano Ramos, a passagem que melhor exprime a duração interior é:
A) “– 1910. Minto, 1911. 1911, Manuel?”
B) “Os galos marcavam o tempo, importunavam mais que os relógios.”
C) “Julião Tavares ia afastar-se, dissipar-se, virar neblina.”
D) “Mas no tempo não havia horas.”
E) “O espírito de Deus boiava sobre as águas.”
Capítulo 3

Alguma poesia

(Carlos Drummond de Andrade)

Resumo por palavras

1. Poesia; 2. Geração de 22; 3. Poema-piada; 4. Coloquialismos; 5. Cotidiano; 6.


Comum; 7. Repúdio ao Parnasianismo; 8. Repúdio ao Simbolismo; 9.
Procedimentos modernistas; 10. Inovação; 11. Grupos temáticos; 12. Nove
classificações.

Para a presente leitura obrigatória da Fuvest, deve-se considerar,


inicialmente, a alta qualidade literária da obra de Carlos Drummond de Andrade,
dividida em três momentos distintos: no primeiro, recorre à irreverência e ao humor,
típico do primeiro modernismo brasileiro, encontra-se também a melancolia (gauche)
com predomínio do poema curto e do verso livre; no segundo, gravita em torno dos
conflitos sociais, próprios da década de 30 e, por fim, na terceira, mais complexa e
erudita, assume um tom filosofante e formal.
O livro Alguma poesia é o primeiro livro publicado por Drummond.
Originalmente, foi lançado em 1930, contendo quarenta e nove poemas, escritos
entre os anos de 1925 e 1930. Apresenta traços da geração de 22, como a utilização
do poema-piada, de coloquialismos tipicamente brasileiros que foram acrescidos à
estética modernista, de poesia sobre o cotidiano e o comum e, obviamente, o
repúdio às estéticas parnasianas e simbolistas, contemporâneas e mais destacadas
até então.
Quadro geral dos poemas
Poema de sete faces Aborda, por meio de emotividade contraditória
e em tom confessional, a fragilidade humana.
Afirma o eu lírico ser pessoa tortuosa,
misteriosa e gauche, ou seja, um tipo de anti-
herói. O número sete, referente à quantidade
de estrofes do poema, pode assumir novos
sentidos como, por exemplo, as múltiplas
facetas do mundo e/ou de um mesmo sujeito,
uma espécie de quadro cubista então. Bem
como a irregularidade das estrofes pode
sugerir a fragmentação humana, já que, na
modernidade, o homem não possui mais
certezas e, amiúde, não se sente integrado
em seu próprio meio. Por fim, a crítica é
adensada pelas rimas e diante de tanto
pessimismo e melancolia, apenas a ingestão
da bebida serve como meio para escapar à
realidade vivida. Na última estrofe repousa
uma intertextualidade com Tomás Antônio
Gonzaga, em “Eu tenho um coração maior
que o mundo”.
Infância Reconhecido em identidade infantil, o eu lírico
assiste à saída do pai em direção ao campo,
consolando-se com a leitura de Robinson
Crusoé. Já adulto, percebe que a sua própria
história era melhor do que a da personagem
da obra literária. Ainda, valora mais a mãe e o
pai do que a ficção lida, dando margem à
interpretação de que o passado reavaliado é
mais importante em relação ao presente.
Casamento do Céu e do Em intertextualidade à obra homônima do
Inferno precursor do Romantismo inglês William
Blake, o eu lírico expõe no cenário a figura do
Diabo que, por sua vez, incita o ato sexual de
um casal desconhecido, enquanto São Pedro
dorme. Nesse sentido, concebe-se a
sexualidade, contraditoriamente, como índice
de pecaminosidade ainda que recoberta por
laços matrimoniais, excetuando as figuras de
Laura e Beatriz.
Também já fui brasileiro No verso “moreno como vocês”, escrito em
redondilha menor, está contido a essência do
brasileirismo, típica da fala popular e aludindo
também à miscigenação. Nega-se a ortografia
da marca americana “Ford”, abrasileirando-a
para “forde”, com letra inicial em minúsculo. O
bar e a música aclimatam o poema, dando
origem a um microcosmo fantástico em que se
valida o nacionalismo, mas a duração é
limitada já que o bar tem hora para fechar. Na
segunda estrofe, o eu lírico afasta-se do
passado da literatura e a modernidade, por
sua vez, gera um novo cenário. Com versos
octossílabos, o eu lírico narra, por
metalinguagem, o ato de fazer poesia, de
forma provocativa, já que constrói um verso
eneassílabo. E na parte final do poema, em
tom de ironia e de negação, engendra-se uma
contradição: ser brasileiro e poeta.
Construção Poema curto em que o eu lírico testemunha
incialmente um grito, oriundo de um ponto em
que se observam andaimes. Ao fundo, a luz
solar marca o contraste com a presença de
um sorveteiro que atravessa a rua. E, por fim,
o bigode do construtor é importunado e
bagunçado pelo vento.
Toada do amor Por meio de tal poema é iniciado o segmento
em que se aborda sobre o amor, mas pela
perspectiva da frustração. O termo ‘toada’
sugere uma repetição monótona e,
simultaneamente, de variabilidade, ou seja,
harmônico e desarmônico. Dessa forma, o
amor, cotidiano, tanto pode ser agradável
como responsável por gerar incômodo.
Contudo, o eu lírico insiste na necessidade de
amar, isso porque a existência humana o
exige, por sua brevidade, mas se esquece
disso, restando apenas a poesia enquanto
lembrança.
Europa, França e Bahia Inicia o eu lírico advertindo sobre a sua
condição de brasileiro que sonha exotismos.
E, panoramicamente, cita-se Paris, a torre
Eiffel em comparação a um caranguejo, com
cais bolorentos de livros judeus e, ainda, tem
a água mencionada como suja do Sena que
escorre sabedoria. Na segunda estrofe, tem-
se a Inglaterra, a partir do Canal da Mancha,
docas, bancos, fábricas e a monarquia, mas
cobertos por um luar melancolicamente
equiparável ao remorso. Na terceira, são
referenciadas a Alemanha, com submarinos
inúteis, a Itália, pelos vulcões extintos, bem
como a figura de Mussolini, e a Suíça, pelos
seus postais dos Alpes. Na quarta, com
apenas um verso, confessa o eu lírico o seu
enjoamento pela Europa. Ainda são
referenciadas a Turquia, pela sua inexistência
atual, e a Rússia, vermelha e branca, por meio
de um filme bolchevista e Lênin. Por fim,
elevando o tom de descontentamento,
referencia-se a “Canção do exílio”, mas com
aparente dificuldade para lembrar de tal
poema, isto é, crítica evidente ao Romantismo
e à sua visão de mundo no que tange ao
social.
Lanterna mágica: I – Belo A rigor, o título do poema sugere uma
Horizonte projeção de imagens, enquanto postais dos
pontos turísticos do mundo. No primeiro, “Belo
Horizonte”, em nítida alusão ao extenso
poema “Noturno de Belo Horizonte”, de Mário
de Andrade, a cidade é reproduzida lírica e
melancolicamente, assim como recupera uma
importante figura de linguagem para os
modernistas, isto é, o contrataste, instaurado,
aqui, entre o solene e tradicional e o banal e
moderno.
II – Sabará No segundo, que apresenta a cidade de
“Sabará”, é perceptível a tentativa de o eu
lírico assumir identidade textual própria.
Predomina o embate entre o passado e o
contemporâneo. É dado ao ambiente a
condição de ser tomado como personagem,
por meio de ações que são praticadas por
elementos inanimados. Contudo, repousa um
impasse: é a cidadezinha que tem vergonha
de ser vista pelo trem ou se envergonha da
máquina. Por fim, a dúvida deixada recupera
estratégia cara aos modernistas, ao ironizar o
passado, mas no caso de Drummond a ironia
é duplicada.
III – Caeté Apresenta-se a imagem de uma igreja que
está virada para o trem, sugerindo, nesse
sentido, o fechamento e um retorno a um
passado obscurecido pela religiosidade
exacerbada. Finda-se o poema alertando
sobre uma voz que sobe o morro da cidade.
IV – Itabira Há, inicialmente, uma tentativa de se criar um
ambiente universalizante, já que o eu lírico
afirma que cada um de nós tem seu pedaço
no pico do Cauê. Questiona-se o fato de em
Itabira haver homens com postura singular:
olharem para o chão apenas. Também está
posto o porquê do minério de ferro como o
motivo que caracteriza a cidade, bem como,
ao ser retirado, fazer Itabira desaparecer. Por
fim, deve-se perceber que os elementos
naturais e a condição de cidade do interior
fornecem o material literário para que o eu
lírico assuma visão própria e singular, no que
tange à visão de mundo do homem simples e
interiorano.
V – São João del-Rei Pontua-se que os moradores de tal localidade
figuram como entes sobrenaturais, citando
Aleijadinho e a mula-sem-cabeça. Também se
registra que a cidade é imóvel diante do sol,
assim como os velhos, mas esses últimos pelo
pretexto terapêutico.
VI – Nova Friburgo Em tom enigmático, registra-se que a
localidade não oferece nenhuma imagem
visível. Isso porque, por meio de
questionamentos, um ramo de flores não foi
entregue e um desejo não se realizou
misteriosamente.
VII – Rio de Janeiro Inicialmente, é apresentada a cidade pela
noção de perigo, graças aos fios expostos e
às faíscas. Compara-se o dia a dia da
metrópole carioca com o de Minas Gerais,
prevalecendo a violência no grande centro
urbano do Rio de Janeiro. Alerta-se, ainda,
para a postura medrosa do homem do interior
frente à esperteza dos homens da cidade
grande. Dessa forma, é possível perceber que
o eu lírico experencia o choque com a
modernidade. Isso porque o Rio, à época,
representava essa realidade. Também vale
destacar a percepção do efêmero, por meio da
figura das flores, e das novidades, ou seja,
das mercadorias a serem consumidas
incessantemente.
VIII – Bahia Em relação à Bahia, afirma ironicamente o eu
lírico ser necessário fazer um poema sobre a
localidade, já que nunca foi até lá.
A rua diferente O poema trata sobre as mudanças que
ocorrem na cidade. Para tanto, a sonorização
reforça tal ideia, com sons retirando a paz do
dia a dia dos moradores, bem como sugerindo
a transformação do cenário: construções,
corte de árvores, trilhos sendo instalados, a
construção de casas etc. Nesse sentido, o
artificial substitui o natural, mas o eu lírico
aceita essa mudança e consegue projetar que
a destruição da natureza se reverte na
construção do progresso.
Lagoa O poema já deixa perceber a partir de seu
título a temática a ser abordada
prioritariamente. Marca-se no primeiro verso
uma oposição entre a lagoa e o mar, por meio
de uma relação antitética entre o não e o sim,
na primeira e segunda estrofes. Na terceira,
apresenta-se nova composição: enquanto nas
duas primeiras há quartetos, a terceira
apresenta sete versos. Nesse sentido, alinha-
se a mudança nos versos à sugestão de um
arco-íris projetado na lagoa. Portanto, mais
uma vez, assim como em Poema de sete
faces, associa-se forma e conteúdo.
Cantiga de viúvo O poema sugere a aproximação entre a morte
e o erotismo, marcando, dessa forma, uma
característica presente na obra, ou seja, o
grotesco. Há um insólito encontro entre o eu
lírico e a amada falecida, em meio a uma
noite, superando o distanciamento entre o
físico e o espiritual, provavelmente, graças ao
amor. Pela impossibilidade de reaver o corpo
de sua esposa, evidencia-se a presença do
desejo, ainda que fantasmagórico.
O que fizeram do Natal Resgata o sentimento que marca a data,
diferentemente do que se projeta na
contemporaneidade da escrita do poema.
Assim, fica posto uma diferença entre o
passado e o presente no que tange à vivência
do Natal. Para uns reza e compaixão
(passado), para outros, compras e festas
(presente).
Política literária São metaforizadas disputas eleitorais, nos
âmbitos municipal e estadual, que tratam a
respeito da possibilidade da tomada do poder,
antes que aqueles que já o detém possam
perceber que outro o quer.
Sentimental Em meio a uma refeição, o eu lírico escreve,
com letras de macarrão, o nome de sua
amada, à exceção de uma letra para
completar, mas é advertido por uma voz que
alega não ser o momento de sonhar, pois a
sopa pode esfriar. E, dessa forma, pelo tom de
reprovação, o eu lírico finaliza, por meio da
palavra de outro, que “neste país é proibido
sonhar, em provável alusão ao Brasil,
marcado à época pela imposição.
No meio do caminho É nítida a intenção assumida no poema
referente à condição humana, por meio irônico
e até sarcástico. Há intertextualidade com o
poema de Olavo Bilac Nel mezzo del camin.
As pedras podem referenciar às dificuldades
que as pessoas vivem ao longo da vida, por
sua vez, constada como o “caminho”. A rigor,
os impedimentos/pedras podem travar o
sujeito de seguir adiante, isto é, os problemas.
Dessa forma, a confessar o eu lírico que
nunca esquecerá de um acontecimento na
vida de retinas tão cansadas fica posto a
condição extenuada, diante desse quadro,
cada citação feita à palavra pedra pode
assumir a ideia de uma nova dificuldade.
Acredita-se que o poema seja autobiográfico,
pois em 1927 nasceu o primeiro filho de
Drummond, Carlos Flávio, que tragicamente
sobreviveu por apenas meia hora. Também
vale considerar que a palavra pedra tem o
mesmo número de letras da palavra perda, ou
seja, uma hipértese. E, assim, o poema seria,
então, uma espécie de
homenagem/ensinamento do autor.
Igreja Na primeira estrofe, o eu lírico apresenta os
materiais utilizados para uma construção
ininterrupta, bem como o processo para que,
ao final do texto, se veja o que já é aludido no
título – uma igreja – por meio de
metalinguagem cubista. Ainda na primeira
estrofe é citado o elemento “torre”, cabendo
aludir a de Babel, cujo propósito era o de
chegar ao céu, mas a de Drummond será o
canto dos trabalhadores que está cada vez
mais próximo dele. Na segunda estrofe, está
obliterado o riso feito às igrejas e aos seus
fiéis, já que estão todo domingo invocando
repetitivamente nas suas orações a presença
de Deus. Ao passo que, para o padre, o
inferno parece estar em sua predileção,
embora não o conheça, segundo o eu lírico.
Também está presente uma crítica ao pré-
julgamento, isso porque destinos distintos são
dados àquelas boas ou más pessoas. Ainda
se deve reiterar a percepção irônica do eu
lírico quanto ao destino desconhecido dos
homens. E, por fim, a linguagem reproduz
onomatopaicamente os sinos da igreja, com a
expressão “Bem bão! Bem bão!”, assim como
recupera a ideia do dia de descanso aos fiéis.
Poema que aconteceu Apresenta-se o domingo como o dia em que a
rotina é deixada de lado, já que se tem como
momento do descanso. Assim, a ausência de
desejos, de problemas, uma verdade espécie
de sensação de que o mundo parou, bem
como a humanidade, já que o domingo é
longo pela ausência de rotina. Não obstante,
tudo é registrado, metonimicamente, pela mão
que vai escrevendo sem saber do que ocorre,
mas, caso soubesse, também não se
importaria.
Esperteza No poema tem-se uma forma de inteligência
sob suspeita, uma vez que a sua duração é
curta e serve ao propósito de atender o
imediatismo, algo de curto prazo. Nesse
sentido, por detrás da ideia do amor, rompe-se
com o ideário romântico, já que o sentimento,
aqui, é tomado como mera prática esportiva e
de curta duração. O eu lírico reconstitui o
amor como um brinquedo e/ou um jogo, não
reconhecendo, portanto, grande importância
também por ser fugaz. Entra a modernidade
em cena com a referência à mulher loura,
provavelmente oriunda do cinema, a ficar
espantada com a esperteza do eu lírico, ou
seja, obter o prazer e sair de cena.
Política Na primeira estrofe, tem-se a figura do “chefe
político” que, embora passivo, é o pivô do
desajustamento a que reclama o eu lírico, por
sua vez, apresentado como detentor de uma
vida completamente distinta, no período o qual
existia entre ele e o poder pacificidade. Nesse
sentido, a ausência de ‘glória’, pela condição
social, só encontra na bebida uma
possibilidade de amenização, ou seja, a
autoestima é destituída, seja pela censura
pública ou decadências pessoal e econômica.
A palavra aqui serve ao propósito de
representar a realidade, mas plena em
prosaísmo, ou seja, por um discurso simples.
Presentifica-se ainda a fuga da realidade, em
direção aos carnavais. Isso porque o corpo
(carnaval – rio) desencaminhou o eu lírico,
deixando ver também a angústia humana ante
sua existência.
Poema do jornal Em linhas gerais, trata o poema de narrar um
crime e os seus desdobramentos, com vistas à
elucidação dos fatos.
Sweet home Em linhas gerais, trata da tranquilidade e do
conforto tedioso que se encontram em uma
casa burguesa. Contudo, o tom empregado
por Drummond é satírico, já que o mundo está
se modernizando e, dessa forma, ameaça
iminente do sossego antigo. Ressalta-se que o
burguês procura por aventuras, no entanto,
são as do jornal que o satisfazem. Livres,
portanto, de qualquer ameaça e totalmente
controladas. A rigor, o burguês quer é o
conforto do seu chá com torradas em sua
poltrona, enquanto faz a leitura matinal do seu
jornal.
Nota social Há uma desmistificação da figura romântica
do poeta, mas não pela consagrada ironia
moderna e sim pela melancolia. Nos primeiros
versos, emprega-se uma mecânica repetitiva
na definição sobre o fazedor de versos. Há
uma possível menção à comitiva formada por
Blaise Cendrars, Mário, Oswald e Tarsila que
visitou Minas em 1924. Finda-se com a
imagem de, possivelmente, duas cigarras
cantando escondidas na cidade, talvez o
próprio Drummond e Mário que se tornaram
grandes amigos e semelhantes na timidez.
Coração numeroso Aborda o conflito que se estabelece quando o
homem do interior se depara com a agitação
da cidade grande, no caso do Rio de Janeiro.
Deixa ver ainda o caos, isso porque o
migrante está solitário e angustiado. A cidade
é descrita como maravilhosa pela natureza e,
simultaneamente, caótica pela agitação o que
ativa o sentimento nostálgico do eu lírico por
sua cidadezinha do interior de Minas, já que
acredita ser a brisa morna oriunda de lá. O
isolamento dá origem ao desejo de morrer, da
parte do eu lírico. Contudo, a beleza e a
sedução oferecidas pela cidade afastam a
possibilidade do suicídio.
Poesia Por meio da metalinguagem, apresenta o ato
do fazer poético sem a necessidade das
palavras, isso porque a ideia já imprime a arte.
Festa no brejo Recupera a crítica estabelecida ao
Parnasianismo, feita por Manuel Bandeira, no
poema “Os sapos”, recitado em 1922, na
Semana de Arte Moderna. Assume um tom
bem-humorado, quase infantil, em função do
vocabulário simples escolhido por Drummond.
Mas não deixa de estabelecer a sua crítica ao
passado, no que tange às estéticas literárias.
Jardim da Praça da No ano de 1920, o Jardim da Praça da
Liberdade Liberdade ganhou uma reforma graças à visita
do rei da Bélgica a Belo Horizonte, seguindo
um padrão estético francês (geometrização do
espaço), fato esse que desagradou o iniciático
poeta, como se registra no poema. O espaço
é extremamente significativo, pois foi, ali,
centro político, governamental e
administrativo. Drummond o representa sob
uma ótica contrastante: a aparência
parnasiana, pela superfície bucólica e a alma
crítica modernista, até mesmo revolucionária.
Nesse sentido, faz-se presente o nacionalismo
crítico, os ideais da primeira geração
modernista, a consciência e a sensibilidade. O
eu lírico não aceita o pragmatismo do
planejamento e a artificialidade da construção,
que abstrairia a humanidade. Compara-se a
formalidade da praça aos versos rigidamente
parnasianos. Por fim, o espaço evoca ainda
uma sensação de censura, logo mais a ser
verdadeiramente vivida com a ditadura de
Getúlio Vargas e o nome do lugar mostra-se
enquanto ironia polida e indiferente às
desigualdades que ocorrem pelo mundo.
Cidadezinha qualquer Apresenta-se um modelo de vida provinciana
e sem grande acontecimento em uma
pequena e monótona cidade do interior.
Expressões sugerindo o tédio são ato
contínuo, justamente pela ausência de
novidades como deixa perceber o último verso
“Eta vida besta, meu Deus”.
Fuga A fuga feita pode a ser a do próprio poeta,
enquanto possibilidade aventada e que, agora,
é passível de riso (piada), como uma ação
libertadora frente a uma fantasia imprópria. A
referência a Anatole France realmente
corresponde a uma admiração de Drummond.
Contudo, a Europa é apenas um passado
pleno em evasões, que o afastavam de um
Brasil pleno em barbáries.
Sinal de apito Em boa medida, remete o poema à imagem
do agente de trânsito, graças à descrição dos
sinais sonoros. Nesse sentido, parodia o
discurso original, por meio do destaque que se
faz ao automatismo, à mecanização humana
no que diz respeito ao ato contínuo da
submissão para com uma autoridade, e o
condicionamento provocado pelos “agentes da
autoridade”.
Papai Noel às avessas Inicialmente, sob o tom do bom humor, relata
que o Papai Noel entrou pela porta dos fundos
e não, como de costume se tem, pela
chaminé. Já aí é possível perceber a sugestão
para o fim do tradicionalismo. Ainda é citado
que o bom velhinho retirou um cigarro do
bolso, comeu queijo na casa e roubou o
quarto da criança ao levar o que foi possível
em sua touca. A essa altura, portanto, a figura
apresentada é diametralmente oposta à que
se tem por costume, construindo a denúncia
para um mundo, no mínimo, absurdo.
Quadrilha Vale destacar que o título do poema pode
sugerir a tradicional dança das festas juninas
brasileiras. Em redondilha maior sem rimas e
sílabas métricas, metaforiza-se o amor como
uma forma de dança, com uma contínua troca
de pares. Praticamente todas as personagens
citadas amam outra pessoa, mas não há
correspondência do sentimento e não perdura
a relação. Sob essa ótica, o pessimismo está
instaurado e o amor reflete a imagem de um
jogo cuja lógica é a sorte para vencer ou, pelo
menos, uma aparente convenção impossível
de se conseguir para uns.
Família Como sugerido pelo título, é apresentada a
mãe, como dona de casa, três filhos, duas
filhas, a cozinheira e a copeira. O espaço
ocupado pela família enquanto moradia é o
campo. O centro desse pequeno microcosmo
é a mulher, já que organiza a casa, é guardiã
da educação e assistência aos filhos, bem
como ao marido.
O sobrevivente Já está sugerida pelo título uma perspectiva
comumente adotada ao longo do século XX,
ou seja, a do sobrevivente, com a intenção de
registrar as violentas e traumáticas
hecatombes humanas. Mas, no caso de
Drummond, pela perspectiva da ampliação do
termo e não a da experiência. O eu lírico está
em luto pela humanidade e pela arte. Cita,
prosaicamente, a morte da poesia como
percepção do declínio, mas não apenas
enquanto mero resultado da comercialização
do sentimento, como se colocou ao final do
século XIX. Surge, aqui, o trauma da guerra e
a sua ação negativa sobre a sensibilidade do
artista. De forma despojada, afirma-se que
sobreviver é necessário a um tempo em que a
subjetividade e a memória estão sendo
solapadas. São cinco estrofes. Na última,
apenas um verso a compõe. Cumpre salientar
que é nessa última estrofe que há um
afastamento da temática tratada, pois
engendra um comentário autorreflexivo, já que
o poema já foi concluído na estrofe anterior.
Por fim, não há esquemas métricos regulares
e as rimas são esporádicas.
Moça e soldado Em versos livres e linguagem que se aproxima
da fala, o eu lírico deixa ver que “as moças
bonitas feitas para namorar” estão,
paralelamente e talvez, à disposição dos
“soldados barbudos feitos para brigar”.
Ambienta-se, assim, um período de forte
controle político por meio da força. Ainda,
compara-se a marcha das pessoas na rua a
“tambores e clarins”, em direção às brigas e
aos namoros. Por fim, eu lírico diz ser apenas
ele avesso a essas duas formas de provar a
masculinidade e, por isso, o tom da inveja,
embora estão os soldados e as moças em um
mundo animalizado.
Anedota búlgara Está marcado o poema pela sua brevidade,
mas é extremamente mordaz. Distribuído em
cinco versos de extensões distintas e um final
surpreendente: “achou uma barbaridade”, em
que se valoriza a ironia. Também toca o
choque social, humoristicamente, que esteve
presente na primeira fase do modernismo.
Música Cita a música de Chopin como triste,
acompanhando a imagem de uma mulher de
“dentadura dura” no fundo de uma sala.
Ironicamente, pensa o eu lírico nas contas a
serem pagas, enquanto caminhava. Por fim,
enquadrou o Chopin na tristeza e na
dentadura amarela e, agora, preta e
esqueceu-se das obrigações.
Cota zero Caracteriza-se como um poema-minuto,
devido à curta extensão e simplicidade. Leva à
reflexão sobre a contínua dependência que a
humanidade passou a ter sobre a tecnologia
nos tempo modernos. Portanto, a primeira
palavra-verso “Stop” pode sugerir, pelo
idioma, tanto o local em que tudo começou,
como o descabido da ordem em terras em que
o português é o idioma falado.
Iniciação amorosa Inicialmente, apresenta-se um quadro formado
por um dia quente, sem vento, ensolarado e
uma rede na sombra de duas mangueiras.
Nele, o eu lírico está desejando as pernas da
lavadeira. Na segunda estrofe, perde-se a
referência temporal, mas aumenta a
movimentação graças aos verbos “enroscar”,
“dar”, “virar” e afundar”. Dessa forma, fica a
sugestão de um sujeito que saiu do mundo da
fantasia e mergulha, agora, na realidade
delirante, ou seja, a consumação da
sexualidade.
Balada do amor através Poema disposto em cinco estrofes,
das idades representando distintos períodos da história
humana em que o amor é objeto de desejo.
No entanto, tudo é feito a partir de
contradições. Na antiguidade, o eu lírico é
grego e a amada troiana. Em seguida, o
narrador se transforma em um soldado
romano e a amada, cristã. Ambos devorados
por um felino em plena arena. Na Idade
Média, apresentam-se um pirata mouro e uma
cristã, e o final é trágico novamente. Na quarta
estrofe, representando a modernidade, se
apresentam como casal um cortesão e uma
freira, mas são guilhotinados e, por fim, na
quinta e última estrofe, o ‘moço moderno’ e a
‘loira notável’ estão mais próximos de
realizarem o amor, contudo o pai da moça não
aprova o relacionamento. E, assim, finda-se o
poema com a virtualização do amor como uma
ficção.
Cabaré mineiro Variando com versos entre dez e doze
sílabas, registra-se que a dançarina é
espanhola e de Montes Claros. O que permite
duas possibilidades de leitura: uma dançarina
espanhola que residia/trabalhava em Montes
Claros ou uma dançarina copiando as
espanholas, mas sendo essa oriunda de
Montes Claros. Vale destacar que, ao final do
poema, os montes claros podem ser uma
alusão aos seios em “balanço doce e mole”. A
mulher está em uma “sala mestiça”, com “cem
olhos morenos”, como plateia. Em seguida, o
eu lírico passa a descrever minuciosamente o
corpo da dançarina: gordo e com muitas
marcas de picadas de mosquito. Rebaixa-se,
então, a arte e o seu canal (a mulher) como
defeituosos. Faz-se referência ainda a “um
sinal de bala na coxa direita” da dançarina o
que sugere um passado, no mínimo, perigoso.
Até porque as pernas para a dançarina são a
sua ferramenta para o desenvolvimento de
sua arte. Na continuidade, busca-se o rosto da
mulher em que está posto um “riso postiço de
um dente de ouro”, sendo o termo postiço
colocado sob ambiguidade novamente: no
sentido de falso enquanto ação de sorrir, ou
artificial enquanto parte do corpo. Mas ainda
assim é tomada como uma mulher, ainda que
relativizada a beleza por vezes. Por fim, vê-se
a caricatura (Salomé) da sensualidade em que
os olhos plenos em libido não enxergam a
realidade, mas apenas o que desejam.
Quero me casar Sob o tom da brincadeira, trata-se de um tema
sentimental, ou mais ironicamente o amor com
humor. A perspectiva assumida é de que o
sentimento é incompreendido ao longo da
história por meio de uma receita em que a
madureza serve como componente a evitar a
corrosão sentimental ou o envenenamento. O
amor, nesse sentido, é tratado de forma séria
e tipicamente moderno, com pressa.
Epigrama para Emílio O poema remete a um olhar que é visto como
Moura desperado, graças à realidade. Os sonhos
estão fraturados como folhas em um Brasil,
misteriosamente, sem outono. Não se deve
comprar o amor, como um objeto qualquer. É
preciso conquistá-lo, ser merecedor. Contudo,
o desespero alheio é captado pelo olhar que
se entristece e, dessa forma, o mundo
acondiciona um segredo: a vida não tem
sentido, embora todo o mundo já saiba disso.
Sociedade Já no título do poema percebe-se a leitura
social que se espera do mesmo. Assim, os
comportamentos do casal anfitrião e do casal
visitante se tornam extremamente relevantes e
representativos de toda a sociedade. A ironia
já parte da ideia de que abrir as portas da
casa é um sinal de amizade, contudo não há
reciprocidade. O casal demonstra falsidade
em sua relação, mas continua a visitar o
“amigo” regularmente. No entanto, o casal
anfitrião não devolve a visita, sugerindo assim
a hipocrisia das relações e da amizade.
Elegia do rei de Sião Inicialmente, deve-se atentar que a elegia é
um gênero poético que se caracteriza não
pela forma, mas por assuntos como a tristeza
de amores interrompidos pela morte ou pela
infidelidade. No poema em tela, cita-se a
morte do rei de Sião por desgosto ao não ter
conseguido um filho homem, enquanto o rei
de Bangkok, pequenino, morreu para “nos
comover”.
Sesta O poema coloca em prática a vida “besta” em
uma família patriarcal. A ação é totalmente
controlada e centralizada pelas figuras
masculinas, enquanto a ação feminina passa
desapercebida. O tom do poema remete à
simplicidade da vida cotidiana.
Outubro 1930 O poema é uma clara referência ao período
em que ocorreu o movimento que levou
Getúlio Vargas à presidência do Brasil, após a
deposição do presidente Washington Luís.
Carlos Drummond era contrário a qualquer
tipo de ditadura, embora tenha estado ao lado
do governo varguista por conta de ser
funcionário dele à epoca.
Explicação Apresenta uma explicação para o próprio
poeta do que venha a ser o trabalho de fazer
poesia.
Romaria Em mordaz crítica à religiosidade, procura
desestabilizar os motivos religiosos que
impulsionam o fiel ir à busca de Deus. O
desencontro entre o fiel e a religião é
ironicamente tenso, tal como já se havia
detectado no estilo barroco de Gregório de
Matos. A propósito, o poema traz cena
parecida, mas distinguindo no que tange à
motivação. No de Gregório, o sujeito está
entre a culpa e o perdão, no de Drummond,
entre a culpa e o favor. No poema em tela, há
uma verticalidade a ser vencida para chegar a
Cristo, culminando em uma horizontalidade
terrena durante o encontro. Há uma
contradição em que se apresentam de um
lado o martírio do corpo que sobe a ladeira e
os dos leprosos também, e do outro, as coxas
das romeiras que são desejadas e os vícios
que cercam o mundo. Dessa forma, a
religiosidade é representada por dois corpos
distintos, um sagrado e um profano.
Poema da purificação Poema que encerra a obra, tratando de um
dos principais problemas que tocam a
humanidade, a guerra. A rigor, referencia uma
disputa entre o bem e o mal, por meio das
figuras de dois anjos. O anjo do bem mata o
anjo mal, não obstante surge uma luz para o
vencedor e ele reflete sobre a sua ação que
retirou a vida do anjo morto, cujo corpo caído
em um rio, indiretamente, é responsável pelas
mortes dos peixes.

3.1 Agora é a sua vez!

T1. (Upf) Leia as seguintes afirmações sobre Carlos Drummond de Andrade.

I. Em seus poemas, há lugar para o lirismo e o sentimentalismo, mas não para o


humor e a ironia.
II. Na obra Alguma poesia, há poemas em que as descrições são espelhos da vida
cotidiana que, por vezes, assumem a condição de símbolo.
III. Desde sua estreia, com Alguma poesia, o escritor se afirmou como poeta
moderno por valorizar o prosaico e o irônico.

Está correto apenas o que se afirma em:


A) I.
B) II.
C) I e III.
D) I e II.
E) II e III.

T2. (Fuvest) Chega!


Meus olhos brasileiros se fecham saudosos.
Minha boca procura a "Canção do Exílio".
Como era mesmo a "Canção do Exílio"?
Eu tão esquecido de minha terra...
Ai terra que tem palmeiras
onde canta o sabiá!
(Carlos Drummond de Andrade, "Europa, França e Bahia", ALGUMA POESIA)

Neste excerto, a citação e a presença de trechos.............. constituem um caso


de..............
Os espaços pontilhados da frase acima deverão ser preenchidos, respectivamente,
com o que está em:
A) do famoso poema de Álvares de Azevedo / discurso indireto.
B) da conhecida canção de Noel Rosa / paródia.
C) do célebre poema de Gonçalves Dias/ intertextualidade.
D) da célebre composição de Villa-Lobos/ ironia.
E) do famoso poema de Mário de Andrade / metalinguagem.

T3. Família

Três meninos e duas meninas,


sendo uma ainda de colo.
A cozinheira preta, a copeira mulata,
o papagaio, o gato, o cachorro,
as galinhas gordas no palmo de horta
e a mulher que trata de tudo.

A espreguiçadeira, a cama, a gangorra,


o cigarro, o trabalho, a reza,
a goiabada na sobremesa de domingo,
o palito nos dentes contentes,
o gramofone rouco toda noite
e a mulher que trata de tudo.

O agiota, o leiteiro, o turco,


o médico uma vez por mês,
o bilhete todas as semanas
branco! mas a esperança sempre verde.
A mulher que trata de tudo
e a felicidade.
Carlos Drummond de Andrade. Alguma poesia.

No poema de Drummond,
A) a hierarquização dos substantivos que compõem a primeira estrofe tem a função
de situar essa família na sociedade escravagista do século XIX.
B) a repetição de um verbo de ação, em contraste com o caráter nominal dos
versos, destaca a serventia da figura feminina na organização familiar.
C) a ausência de menção direta ao homem produz um retrato reativo à família
patriarcal, por salientar o protagonismo social da mulher.
D) o modo como os elementos que compõem a terceira estrofe estão relacionados
permite inferir a prosperidade econômica familiar.
E) o enquadramento da mulher no ambiente doméstico lança luz sobre um regime
social que favorece a realização plena das potencialidades femininas.

T4. (Fuvest) Refere-se corretamente a ALGUMA POESIA, de Drummond, a seguinte


afirmação:
A) A imagem do poeta como "gauche" revela a sua militância na poesia engajada e
participante, de esquerda.
B) As oposições sujeito-mundo e província-metrópole são fundamentais em
vários poemas.
C) A filiação modernista do livro liberou o poeta das preocupações com a elaboração
formal dos poemas.
D) O livro não contém textos metalinguísticos, o que caracteriza a primeira fase do
autor.
E) A ironia e o humor evitam que o eu-lírico se distancie ou se isole, proporcionando-
lhe a comunhão com o mundo exterior.

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


ROMARIA

Os romeiros sobem a ladeira


cheia de espinhos, cheia de pedras,
sobem a ladeira que leva a Deus
e vão deixando culpas no caminho.

Os sinos tocam, chamam os romeiros:


Vinde lavar os vossos pecados.
Já estamos puros, sino, obrigados,
mas trazemos flores, prendas e rezas.
......................................................................

Jesus no lenho expira magoado.


Faz tanto calor, há tanta algazarra.
Nos olhos do santo há sangue que escorre.
Ninguém não percebe, o dia é de festa.

No adro da janela há pinga, café,


imagens, fenômenos, baralhos, cigarros
e um sol imenso que lambuza de ouro
o pó das feridas e o pó das muletas.

Meu Bom Jesus que tudo podeis,


humildemente te peço uma graça.
Sarai-me, Senhor, e não desta lepra,
do amor que eu tenho e que ninguém me tem.
......................................................................

Jesus meu Deus pregado na cruz,


me dá coragem pra eu matar
um que me amola de dia e de noite
e diz gracinhas a minha mulher
......................................................................

Os romeiros pedem com os olhos,


pedem com a boca, pedem com as mãos.
Jesus já cansado de tanto pedido
dorme sonhando com outra humanidade.
(Carlos Drummond de Andrade)

T5. (Cesgranrio) O poema “Romaria” insere-se no livro ALGUMA POESIA, que


Drummond publicou em 1930. Esta data marca, no Modernismo, o início de uma
fase caracterizada pela(o):
A) Era Vargas, com uma literatura mais construtiva e mais politizada na prosa -
José Lins do Rego, Graciliano Ramos.
B) redemocratização do país e fim do Estado Novo, com o regionalismo abordando
problemas humanos universais - João Guimarães Rosa.
C) anarquia, com manifestos que rejeitavam as estruturas do passado,
predominando, na poesia, o verso livre.
D) preocupação dos poetas com o policiamento da expressão e com a estética -
João Cabral de Mello Neto, Ferreira Gullar.
E) nacionalismo exacerbado, com uma poesia mais voltada para as causas sociais,
cultivando o rigor na rima e na métrica.
Capítulo 4

Romanceiro da Inconfidência
(Cecília Meireles)

Resumo por palavras

1. Poesia; 2. Regionalismo; 3. Minas Gerais; 4. Inconfidência Mineira; 5.


Modernismo; 6. Arcadismo; 7. Traição; 8. Tiradentes; 9. Cláudio Manuel da Costa;
10. Tomás Antônio Gonzaga; 11. Tragédia; 12. História x Literatura.

A presente leitura obrigatória da Fuvest, em linhas gerais, traz uma


excepcional reunião de dados históricos complementados com elementos ficcionais:
relatos, monólogos e diálogos. A preocupação central dos romances (tipo de poesia
medieval, em redondilha maior) não permite que a ação sobrepuje a conscientização
vista como necessária pela autora. Nesse sentido, embora tenha sido construída
como obra panorâmica, é possível definir claramente uma divisão composta por
cinco partes em pleno equilíbrio.
Na primeira parte da obra, compreendida entre os romances I até XX, inicia-
se com a evocação do sacrifício de Tiradentes e por um retrospecto do cenário em
que surgiu a Inconfidência Mineira. São destacadas ainda nesse segmento
temáticas secundárias, mas não menos relevantes: por exemplo, a descoberta do
ouro, o trabalho servil e o espírito aventureiro. Também é digno de nota da parte de
Cecília Meireles os episódios da donzela assassinada pelo pai, a destruição de Ouro
Podre, a troca dos “quintos”, a solicitação feita pelo ouvidor Bacelar que sedimentam
um caminho para que se assista à efervescência das ideias libertárias.
O encadeamento dos fatos deixa perceber uma forte necessidade de reavaliar
a história, consagrada como verdade inquestionável, seja pela diluição de
determinadas figuras tomadas como inocentes ou encobrir determinados vultos.
Para tanto, a história do abastado contratador João Fernandes e de Chica da Silva,
conduzidos à ruína pela cobiça do Conde de Valadares, bem demonstra tal
ocupação da autora na composição da obra.
Na segunda parte, entre os romances XXI a XLVII, com várias indicações
espaciais, a conspiração é apresentada, juntamente à sensação de mal agouro e
antevisão frente às desgraças que se sucederão na vida dos conjuradores. Incitados
pelo desejo da conspiração, ou melhor, desejosos por colocarem em prática as
ideias liberais então em voga, as reuniões antecedentes à conjura, as ações de
Tiradentes para conseguir mais aliados, a delação e as medidas contrárias passam
a ser narradas. Por meio da figura do Alferes, personagem central do fato histórico,
são apresentados diversos motivos ficcionais com o propósito de valorar ainda mais,
como pode ser percebido na fala dos velhos, na ironia dos tropeiros, nos presságios
do cigano e no mistério dos seguidores embuçados. Ainda, desfilam testemunhas e
delatores, travando uma verdadeira batalha de versões, sugerindo, por outro lado, o
caos em que apontados como traidores se encontrariam logo mais. Por fim, na
utilização da apóstrofe que encerra o segundo segmento repousa forte crítica
àqueles que testemunharam sem ter visto e àqueles que falaram sem ter ouvido.
No terceiro segmento, as mortes de Cláudio Manuel da Costa e de Joaquim
da Silva Xavier, o Tiradentes, constituem a sua relevância, com os romances XLVIII
a LXIV. A tragédia é anunciada pela imagem de um jogo de cartas que abre o
capítulo; há o mistério em torno do suicídio de Cláudio, viabilizando a discussão
sobre a veracidade do fato e ambientando caoticamente os conspiradores. No
monólogo do carcereiro, antecipa-se o destino trágico que será dado a Tiradentes.
No intervalo entre a morte de Cláudio e o enforcamento de Tiradentes, surgem os
romances dedicados a Tomás Antônio Gonzaga, ilustrando a aflitiva espera dos
prisioneiros ante o destino que será dado aos mesmos; o enxoval da noiva, que o
poeta bordava, interrompido assim como a vida desse; os recursos judiciários sem
efeito graças aos poderosos, como explica o poeta em um de seus versos: “Daqui
nem ouro quero”. Ainda devem ser lembrados os romances que mostram a agonia e
a morte de Tiradentes: a madrugada anterior, o caminho da forca, o contraste entre
o destino do condenado e o ambiente de festa que se forma, a evolução do bêbedo
que viu o enforcado e a tentativa de se reconstituírem emocionalmente os instantes
finais de amargura, abandono e solidão do foragido.
Na quarta parte, compreendida entre os romances LXV a LXXX, inicia-se com
a apresentação de um “cenário” em que Tomás Antônio Gonzaga viveu, em seguida,
mostra-se o caos o qual a vida do poeta se transformou: a difamação dos
pequeninos, a antevisão do exílio na África e a despedida de Marília.
São relevantes também a ascensão e a derrocada de Alvarenga Peixoto, o
insólito sinal que orientava a sua família e que se tornam temas abordados por
Cecília Meireles: como a fidalguia de Bárbara Heliodora, mulher do inconfidente,
morte da filha, Maria Ifigênia, a “princesa do Brasil” e o imponente funeral de
Heliodora. Finaliza-se o segmento com a figuração de Marília, aos oitenta anos de
idade, dirigindo-se à paróquia de Antônio Dias.
Na quinta e última parte do Romanceiro da Inconfidência tem-se exposto um
novo plano temporal: direto e curto, tratando de D. Maria I, a mesma figura da
realeza que vinte anos antes lavrara as sentenças de morte e de degredo a
contemplar com olhos de loucura a terra onde aconteceu o drama de soldados,
poetas e doutores. Predomina a sensação de que os remorsos atormentam muito a
vida da mulher até o instante de sua morte.
A exaltação feita aos “cavalos da Inconfidência”, simultaneamente à
apresentação da descrença, denota uma preocupação sociológica interessante: a
participação do animal na vida brasileira do período.
Com o testamento de Marília, temática abordada no romance LXXXV,
distancia-se a perspectiva dramática, findando-se a obra com majestosa “fala aos
inconfidentes mortos”.
Por fim, no que tange às personagens e/ou pessoas que habitam o universo
da obra tem-se:
a) Conde de Assumar: D. Pedro de Almeida, governador de Minas Gerais, em julho
de 1720, entrou em Vila Rica (Ouro Preto) e mandou que as casas dos principais
chefes da rebelião fossem incendiadas.

b) Filipe dos Santos: chefe rebelde, enforcado e esquartejado.

c) Bárbara Heliodora: mulher do inconfidente Inácio José de Alvarenga Peixoto.

d) Sapateiro Capanema: denunciado e preso em virtude de espalhar rumores


alusivos à expulsão dos portugueses.

e) Cláudio Manuel da Costa: acusado de ser um dos líderes da fracassada rebelião


de 1789, enforcou-se poucos dias depois de ser preso; há tese que atribui à sua
morte causa criminosa.

f) Domingos Fernandes Cruz: dono da casa em que foi preso, no Rio de Janeiro, o
Tiradentes.

g) Domingos Rodrigues Neves: encarregado de conduzir para Minas Gerais os


espólios de Tiradentes.

h) Domingos da Silva dos Santos Domingos Xavier Fernandes: pai do


mártir/herói da Inconfidência.

i) Domingos Xavier Fernandes: avô de Tiradentes.


j) Inácio José de Alvarenga Peixoto: considerado como um dos principais chefes
da conspiração; foi exilado para terras africanas; era tenente-coronel de cavalaria e
poeta de grandes méritos.

k) João Fernandes: rico contratador de diamantes, a quem muito perseguiu o


Conde de Valadares; tornou-se célebre pelas atenções dadas aos mais insólitos
desejos de sua amante, Chica da Silva.

l) Joaquim José da Silva Xavier: mais conhecido como Tiradentes, representou o


principal papel na Inconfidência Mineira, aliciando cúmplices, propagando ideias de
libertação e buscando o apoio da força armada; foi enforcado, tendo sido seu corpo
esquartejado e posto em exibição pelos lugares em que pregou suas ideias; foi
também alferes de cavalaria; tornou-se a figura de maior significação histórica no
drama da Inconfidência.

m) Joaquim Silvério dos Reis: tornou-se o vilão da Inconfidência, em virtude de ter


sido o denunciante, junto ao Visconde de Barbacena, dos planos de rebeldia que se
tramavam em Vila Rica.

n) Juliana de Mascarenhas: jovem de Moçambique, que veio a casar-se com o


poeta Tomás Antônio Gonzaga.

o) D. Maria I. Rainha de Portugal: no seu reinado tramou-se a insurreição,


prontamente abortada, que passou à história com o nome de Inconfidência Mineira
(1789); determinou as penas a serem impostas aos conjurados; em 1808 chegava
às terras brasileiras, acompanhando o Príncipe Regente D. João, que fugia à
invasão de Portugal pelos franceses; morreu louca, ainda no Brasil.

p) Marília: Maria Joaquina Doroteia de Seixas; foi cantada em versos sob o nome de
Marília, pelo noivo Tomás Antônio Gonzaga, que se chamava poeticamente Dirceu.

q) Maria Ifigênia: filha de Inácio José de Alvarenga Peixoto e Bárbara Heliodora,


homenageada em versos, pelo pai, “Princesa do Brasil”.

r) Mestre Pascoal: Pascoal da Silva Guimarães, português, figura notória na Guerra


dos Emboabas (derrota dos bandeirantes paulistas em relação aos portugueses e a
outros migrantes brasileiros, foi de 1707 até 1709), mascate, trouxe a notícia de um
método novo de extração do ouro, o primeiro a ter utilizado tal método de extração
em “Ouro Podre”.

s) Padre Rolim: implicado como um dos principais fomentadores do movimento de


rebeldia contra a dominação portuguesa; foi recolhido preso em Lisboa.

t) Padre Toledo: teve o mesmo destino do padre Rolim, em vista de ser apontado
como partidário da insurreição.

u) Tomás Antônio Gonzaga: estudioso, figura de relevo na magistratura de Minas


Gerais; foi denunciado como um dos elementos de maior projeção na conjura que se
preparava contra a Coroa portuguesa; pelos estudos históricos mais recentes, é
visto como uma vítima de inimigos poderosos, e não um rebelde; noivo de Marília;
exilado para Moçambique, lá se casou com Juliana de Mascarenhas, bela jovem
nativa.

v) Vicente da Mota: passou à História como um dos acusadores de Tiradentes.

w) Alferes Vitoriano Veloso: preso como cúmplice na tentativa de rebelião, por


tentar passar recados.

Quadro geral dos romances


Há um emissor que diz conhecer a narrativa
Cenário I de Tiradentes, com as respectivas paisagens
de Minas Gerais, recuperando, assim, um
passado histórico e literário: Vila Rica, o
Arcadismo – com suas musas e pastores – e,
por fim, o principal Inconfidente, o qual se
despede dos que assistem à cena.
Romance I ou da Revelação do ouro: aborda a
descoberta do ouro na época da fundação da
cidade de Ouro Preto e da avidez pela riqueza
que predominou a sociedade do período.
Romance II ou do Ouro incansável: relata sobre a
extração do ouro, os seus problemas e as
mortes decorrentes, as condições de trabalho
dos escravos e deixa perceber uma visão
pessimista oriunda das relações sociais
criadas a partir da comercialização do metal
precioso.
Romance III ou do Caçador feliz: deixa ver o cenário da
época, em que um caçador, simbolizando o
homem à procura do ouro, encontra
fartamente pedras preciosas e, assim, mostra-
se bastante feliz.
Romance IV ou da Donzela assassinada: ecoa a voz de
uma personagem relatando a sua verídica e
fatídica história, no ano de 1720: era uma
moça aristocrata e rica, assassinada pelo
próprio pai, o qual conjecturava que ela estaria
namorando um rapaz menos abastado
economicamente e desprovido da
possibilidade de ascender na sociedade.
Romance V ou da Destruição de Ouro Podre narra o
levante de Felipe dos Santos, em 1720, um
dos mentores da Inconfidência Mineira, e a
ação do Conde de Assumar, em represália
aos insurgentes, que ordena incendiar as
casas dos revolucionários e executa o líder
Felipe dos Santos.
Romance VI ou da Transmutação dos Metais relata um
episódio vergonhoso, pós-descoberta de ouro
em Mato Grosso e em Goiás, no ano de 1725.
Oito arrobas de ouro, pertencentes aos
quintos reais, foram enviados de Cuiabá a
Lisboa e o rei D. João ordenou a preparação
de uma festividade para abrir o precioso
volume, no entanto, para sua surpresa,
verificou que havia apenas chumbo no pacote.
A troca, a rigor, foi feita por Sebastião
Fernandes do Rego, empregado fiscal, que
chegou a ser preso, mas foi solto por falta de
provas. No romance, ainda são citados
casamentos comemorados em 1729 – do
futuro rei de Portugal, D. José com Mariana
Vitória, filha de Felipe V da Espanha; e de D.
Fernando, herdeiro do trono Espanhol, com a
infanta portuguesa Maria Bárbara. Vale
destacar que a citação a tais acontecimentos
se deve ao fato de D. Maria I, a “Rainha
Louca”, ser filha do casal D. José e Mariana
Vitória, a “Marianinha” filha de Felipe V, a
quem Cecília Meireles responsabiliza, amiúde,
como responsável pela desgraça dos
inconfidentes.
Romance VII ou do Negro nas catas torna visualizável o
trabalho do negro na extração do ouro, o seu
sofrimento com a escravidão e a sua
esperança de liberdade, para tanto um
diamante deveria ser encontrado com
tamanho acima da média.
Romance VIII ou do Chico-Rei recupera uma parábola com
referências históricas, já que Francisco foi
realmente expedido com outros membros de
sua tribo africana para Vila Rica. Durante a
navegação, viu morrer esposa e filhos,
restando-lhe um único sobrevivente. Na
tentativa de se conformar, trabalhou, ganhou a
própria liberdade, a do filho e a de seu povo.
Em Vila Rica, Francisco construiu um reino
para o seu governo.
Romance IX ou de Vira-e-Sai, a respeito da irmandade de
negros, também presente no romance VIII,
recupera a imagem patronal de Santa Ifigênia
e o nascimento de forte rito oferecido à tal
figura. Protagoniza no romance a santa,
graças ao ânimo que concede aos escravos e,
enquanto prodígio miraculoso, transforma uma
montanha em ouro. A referência “Vira-e-Sai”,
provavelmente, recupera um famigerado
episódio de Ouro Preto, isto é, o dos bandidos
Vira-Saias, que roubavam ouro das caravanas
responsáveis por abastecerem os cofres da
Coroa Portuguesa. Antônio Alves, negociante
conhecido na época, na verdade, estava do
lado dos assaltantes, utilizando como
estratégia a troca na posição da santa para os
comparsas se direcionarem corretamente até
o ponto em que a caravana com o ouro
estaria. Por isso, como tese, é que a ladeira
de Santa Ifigênia passou a ser nomeada como
a de Vira-Saia.
Romance X ou da Donzelinha pobre retoma o que já foi
contado no “Romance IV ou da Donzela
Assassinada”, mas sem a voz feminina
contando versão própria. Pontua-se a força do
homem sobre as mulheres.
Romance XI ou do Punhal e da flor aborda o episódio,
ocorrido no ano de 1752, em que o Ouvidor
Bacelar lança uma flor em direção a uma
moça que se encontrava na igreja do Tejuco
(hoje, cidade de Diamantina), fato esse
interpretado como vexatório e pecaminoso,
rendendo ao Ouvidor uma agressão oriunda
de Felisberto, parente da jovem, que quase dá
cabo da vida do primeiro.
Romance XII ou de Nossa Senhora da Ajuda deixa ver
sete crianças rezando na Capela do Pombal,
uma delas é Tiradentes. Na continuidade,
destacam-se profecias dadas a respeito da
sina do menino Joaquim José. Inicia-se, aqui,
o emprego de simbolização cristã à imagem
de Tiradentes. Vale ressaltar que o poema,
por referenciar a cidade de Tejuco,
cronologicamente está em compasso com a
vida de seu maior Inconfidente,
contemporâneo, portanto, já que Joaquim
José tinha em, 1752, seis anos de idade.
Romance XIII ou do Contratador Fernandes relata a
história de um contratador de diamantes da
região de Diamantina, que atuou entre 1753 e
1770. Ganhou projeção pela fortuna que
possuía e pelo seu envolvimento amoroso, à
época um verdadeiro escândalo, com a
escrava alforriada Francisca da Silva de
Oliveira, mais conhecida como Chica da Silva.
Romance XIV ou da Chica da Silva tem-se a escrava
alforriada como mulher ativa, rica e
protagonizando ações modelarmente à frente
de seu tempo.
Romance XV ou das Cismas da Chica da Silva é patente a
inteligência e perspicácia feminina ao
perceber os verdadeiros propósitos do Conde
de Valadares. Aparentemente, o Conde não
demonstra ser pessoa ambiciosa e ardil, mas
Chica da Silva tenta provar ao companheiro
Contratador Fernandes o contrário.
Romance XVI ou da Traição do conde atesta como correta
a desconfiança de Chica pelas ações do
Conde que, por sua vez, trai João Fernandes,
obrigando-o retornar a Portugal.
Romance XVII ou das Lamentações no Tejuco aborda as
queixas dos moradores de Tejuco, no que
tange à prisão de João Fernandes e ao futuro
de Chica da Silva. Citam-se ainda as mazelas
que o ouro trouxe.
Romance XVIII ou dos Velhos no Tejuco trata a respeito do
declínio social de Chica da Silva.
Romance XIX ou dos Maus presságios, findando a primeira
parte da obra, “Gênese do ouro e do
diamante”, recupera momentos anteriormente
relatados e apresenta índices dos fatos que
ocorrerão na sequência.
Cenário II Nele, o eu-lírico põe em relevo a névoa como
indicativo de que a inconfidência ganha corpo,
mas os resultados não serão exitosos.
Fala à antiga Vila Rica O poema está direcionado à cidade que foi
palco dos acontecimentos, por meio de uma
voz que vai dialogando com Vila Rica e
inquirindo a razão de não lutar contra as
injustiças, não obstante, aceita a sina dos
‘traidores’.
Romance XX ou do País da arcádia estabelece um
contraponto entre a atmosfera pastoril da
Arcádia, na Grécia, e a atmosfera aflitiva que
pairará sobre Vila Rica.
Romance XXI ou das Ideias ganha vigorosa descrição a
rotina diária da então agitada Vila Rica, com
foco em sua localidade, sua sociedade, sua
escravidão, sua aristocracia, seu clero e sua
arte literária. Cumpre destacar a intenção do
uso contínuo da expressão “as ideias”,
findando cada estrofe, enquanto retomada do
ambiente da conjuração.
Romance XXII ou do Diamante extraviado, assim como no
poema dedicado aos nomes de Chica da Silva
e de Chico-Rei, apresenta um negro vencedor,
menos fabuloso, no entanto. Reconstrói-se a
denúncia contida nos Autos da Devassa, em
que um negro vendeu pedras
contrabandeadas a dois moradores de
Mariana.
Romance XXIII ou das Exéquias do Príncipe reconstitui o
luto oficial, promulgado em 20 de fevereiro de
1789, pela morte do herdeiro do trono de
Portugal vítima de varíola, D. José Francisco
Xavier de Paula Domingos Antônio Agostinho
Anastácio de Bragança, ocorrida em 11 de
setembro de 1788.
Romance XXIV ou da Bandeira da Inconfidência reproduz
um diálogo entre a história, a memória e a
poesia, para tanto deixa ver a conjunção dos
inconfidentes. Percebe-se um clima muito
tenso.
Romance XXV ou do Aviso anônimo aborda as delações
contidas em carta anônima, advertindo sobre
uma potencial retaliação da corte portuguesa.
Romance XXVI ou da Semana Santa de 1789 tem-se duas
presenças, alternando falas, em um cenário
sacralizado. As quadras representam os
inconfidentes, enquanto os tercetos anunciam
cenas do futuro. Aborda-se, ainda, o mistério
da Eucaristia e, novamente, Cecília equipara
Tiradentes a Cristo.
Romance XXVII ou do Animoso alferes narra a viagem final
de Tiradentes, saindo de Vila Rica em direção
ao Rio de Janeiro, no ano de 1789, com o
intuito de que o Vice-Rei lhe concedesse a
responsabilidade pela condução das obras de
canalização de água, na cidade do Rio de
Janeiro. Ainda se exalta Tiradentes por suas
habilidades de cura, índole ilibada e visão
comunitária. A figura do traidor Joaquim
Silvério dos Reis é construída como negro
demônio, já que este também se dirigiu ao
Rio, para prender Tiradentes. Por fim, coloca-
se Tiradentes estimulado e efusivo
cavalgando pelo céu.
Romance XXVIII ou da Denúncia de Joaquim Silvério constrói
a imagem do ‘negro demônio’, delator de
Tiradentes.
Romance XXIX ou das Velhas Piedosas traz novamente a
figura do delator Joaquim Silvério, o negro
demônio, como ser de imagem execrável.
Romance XXX ou do Riso dos tropeiros marca o início da
viagem de Tiradentes ao Rio, relatando fatos
ocorridos durante a travessia.
Romance XXXI ou de Mais tropeiros segue relatando fatos
ocorridos durante a travessia, mas ganha
relevo a afirmação de que a prisão do
conjurado foi decorrente de cartas entregues
ao Vice-Rei e ao Visconde.
Romance XXXII ou das Pilatas trata da saída efetiva de
Tiradentes da cidade de Vila Rica.
Romance XXXIII ou do Cigano que viu chegar o alferes
repercute a entrada de Tiradentes no Rio de
Janeiro, visualizada por um cigano, cuja voz
projeta o futuro fatal do inconfidente.
Romance XXXIV ou de Joaquim Silvério traz a figura do
suposto traidor de Tiradentes comparado à
imagem de Judas.
Romance XXXV ou do Suspiroso alferes apresenta
Tiradentes imerso no ‘fundo de águas podres’,
representando, por sua vez, um negativado
contexto social de Minas Gerais. Além disso,
sugere a ideia de que Tiradentes acredita ter
companheiros trabalhando na mesma causa
em prol da libertação brasileira frente ao
controle da coroa portuguesa.
Romance XXXVI ou das Sentinelas apresenta o isolamento de
Tiradentes, por sua condição de recluso e
julgamento incerto por acontecer.
Romance XXXVII ou de Maio de 1789 deixa ver os momentos
mais relevantes que resultaram na derrota dos
inconfidentes: a ida de Joaquim Silvério no
encalço de Tiradentes, em primeiro de maio,
na estrada que levava ao Rio de Janeiro; nova
perseguição, já na cidade do Rio de Janeiro,
em nove de maio, posterior à delação de
Joaquim Silvério; a captura do Inconfidente,
em dez de maio; e, ao fim do mês, o
desmantelamento completo da horda de
traidores da Coroa portuguesa.
Romance XXXVIII ou do Embuçado traz uma pessoa, sem
identidade revelada, trazendo misteriosa
informação a Tiradentes.
Romance XXXIX ou de Francisco Antônio trata da pena dada
ao conjurado Francisco Antônio de Oliveira
Lopes, preso e expatriado.
Romance XL ou do Alferes Vitoriano aborda a captura do
alferes Vitoriano Veloso, que recebeu a ordem
do Coronel Francisco Antônio, esse foragido
ou morto, de entregar uma carta de aviso, mas
ambos não chegaram ao destino.
Romance XLI ou dos Delatores apresenta os inverídicos
argumentos utilizados para que se decretasse
a prisão dos potenciais traidores.
Romance XLII ou do Sapateiro Capanema narra a prisão do
mesmo sob a acusação de ser integrante do
grupo dos traidores.
Romance XLIII ou das Conversas indignadas deixa perceber
a força daquele que está no poder em
contraposição ao que está subordinado e, por
isso, esse último é continuamente punido.
Exemplifica tal modelo social a figura de
Tiradentes, já que foi escolhido como único
réu a pagar com a própria vida pelas
contravenções de todos os demais
conspiradores.
Romance XLIV ou da Testemunha falsa são apresentados as
versões e os argumentos de uma suposta
pessoa conhecedora dos delitos cometidos,
que opta por criar mentiras para salvar a
própria pele, a dizer uma pretensa verdade e,
assim, inocentar os acusados.
Romance XLV ou do Padre Rolim aventa o envolvimento de
tal figura religiosa com os Inconfidentes e, por
isso, ter gerado uma crise no clero.
Romance XLVI ou do Caixeiro Vicente aborda a traição
cometida por Vicente Vieira da Mota em
relação a Tiradentes.
Romance XLVII ou dos Sequestros relata a existência de um
comando dado aos meirinhos da época:
apreender de Tiradentes tudo o que lhe
pertencia, principalmente os seus bens
materiais.
Fala aos pusilânimes Critica mordazmente os que se omitiram de
lutar por liberdade, responsabilizando-lhes
como os verdadeiros traidores e por
desencadearem a generalizadora opressão da
coroa lusitana.
Romance XLVIII ou do Jogo de cartas metaforiza a história
como um jogo, em que os homens
representam as próprias figuras do baralho. O
eu lírico relata que a sorte dos inconfidentes
exemplifica uma “lei universal”, isto é, a
utilização dos homens por uma força maior – a
do poder.
Romance XLIX ou de Cláudio Manuel da Costa retrata a
misteriosa morte do poeta árcade.
Romance L ou de Inácio Pamplona trata do misterioso
desaparecimento de Inácio, ocorrido na
mesma data da morte do poeta Cláudio
Manuel da Costa.
Romance LI ou das Sentenças trata do julgamento e das
articulações para a construção das sentenças
judiciais dos inconfidentes.
Romance LII ou do Carcereiro reproduz o monólogo de um
guarda de prisão que conjectura uma possível
execução para o crime cometido por
Tiradentes.
Romance LIII ou das Palavras aéreas exalta, por meio de
uma voz enunciadora, o poder e a força das
palavras, que podem gerar a destruição da
vida de qualquer pessoa, assim como
construir o sonho de cada um.
Romance LIV ou do Enxoval interrompido trata do noivado
de Tomás Antônio Gonzaga e de sua amada
Marília, bem como a suspensão do sonhado
casamento entre eles.
Romance LV ou de Um preso chamado Gonzaga tem-se a
reconstrução da angústia do poeta árcade
condenado à prisão.
Romance LVI ou da Arrematação dos bens do alferes
reproduz a ocorrência de um leilão para que
os bens tomados de Tiradentes fossem
comprados.
Romance LVII ou dos Vãos embargos apresenta a recusa
do embargo judicial em favor da pessoa de
Tiradentes.
Romance LVIII ou da Grande Madrugada relata o sofrimento
de Tiradentes, na véspera da execução de
seu enforcamento.
Romance LIX ou da Reflexão dos justos deixar perceber
que Tiradentes não foi devidamente
reconhecido pelos seus atos.
Romance LX ou do Caminho da forca descreve o cenário
em que se deu o enforcamento de Tiradentes,
sendo esse transformado em modelo de
homem a não ser seguido.
Romance LXI ou dos Domingos do alferes apresenta um
jogo discursivo, por meio da palavra
“Domingos”, aludindo à família de Tiradentes
por meio do primeiro dia da semana.
Romance LXII ou do Bêbado descrente permite ouvir o
discurso de um homem do povo,
supostamente na condição de testemunha do
enforcamento do Inconfidente Joaquim José
da Silva Xavier, relatando o episódio como
uma grande festa popular.
Romance LXIII ou do Silêncio do alferes descreve o que
aconteceu com Tiradentes em sua última
viagem ao Rio de Janeiro e a sua morte.
Romance LXIV ou de uma Pedra crisólita registra o fato de
Tiradentes ter deixado uma pedra crisólita
para ser polida em um lapidário no Rio de
Janeiro, contudo retornou com ela sem polir.
Cenário III Com a função de inaugurar a parte final da
obra, é apresentado o jardim de Gonzaga,
enquanto novo cenário, para deixar ver a
solidão e a tristeza que passaram a
acompanhar o poeta após a sua prisão.
Romance LXV ou dos Maldizentes reproduz o exílio do poeta
Tomás Antônio Gonzaga para Moçambique,
conforme foi sentenciado em seu julgamento.
Romance LXVI ou de Outros maldizentes apresenta
Moçambique como cela a céu aberto e triste
morada ao exilado.
Romance LXVII ou da África do setecentos continua a
apresentação de Moçambique como cela a
céu aberto e triste morada para o poeta
Tomás Antônio Gonzaga.
Romance LXVIII ou de Outro maio fatal aborda a tristeza de
Tomás Antônio Gonzaga por ter que
abandonar a sua Vila Rica, bem como sua
amada Marília.
Romance LXIX ou do Exílio de Moçambique relata a vida de
Tomás Antônio Gonzaga em solo
moçambicano.
Romance LXX ou do Lenço do exílio narra a angústia de
Marília, enquanto essa bordava um lenço para
o amado Tomás Antônio Gonzaga, na
esperança de seu retorno.
Romance LXXI ou de Juliana de Mascarenhas apresenta o
início do relacionamento entre a fazendeira e
o poeta Gonzaga, durante o exílio desse em
Moçambique.
Imaginária serenata Relata uma vez mais a angústia de Marília e a
sua esperança no retorno de seu amado.
Romance LXXII ou de Maio no Oriente trata do casamento do
poeta Tomás Antônio Gonzaga com a
fazendeira Juliana Mascarenhas.
Romance LXXIII ou da Inconformada Marília aborda
novamente sobre os sentimentos angustiantes
que a corroem.
Romance LXXIV ou da Rainha prisioneira analisa criticamente
uma ação comandada pela rainha D. Maria I,
isto é, a execução dos inconfidentes. Segundo
o eu lírico, após tal evento, a monarca perde a
sanidade mental.
Fala à comarca do Rio Retrata também um clima de plena tristeza,
das Mortes mediante a tragédia ocorrida nas vidas de
alguns, a destruição dos campos e das
cidades. O eu lírico exemplifica ao relatar os
reveses vividos por Bárbara Heliodora, cujo
esposo, o poeta Alvarenga Peixoto, foi exilado
para a África.
Romance LXXV ou de Dona Bárbara Heliodora também traz
à cena as lágrimas e a tristeza provocadas por
uma sina desditosa.
Romance LXXVI ou do Ouro fala aborda novamente sobre a
vida de Dona Bárbara Heliodora, comparada
aqui como uma pretensa rainha ou santa, e a
sua tristeza, por um lado graças ao degredo
do marido, e por outro provocada pela
ganância humana do ouro.
Romance LXXVII ou da Música de Maria Ifigênia antecipa o eu
lírico, de forma poética, o fim trágico da filha
de Bárbara Heliodora e Alvarenga Peixoto.
Romance LXXVIII ou de Um tal Alvarenga relata sobre a vida
do poeta e doutor em leis Alvarenga Peixoto.
Além do seu enlace amoroso com Bárbara
Heliodora, a sua riqueza provinda das lavras
de ouro. Contudo, talvez por inveja da riqueza
e de esposa tão bela, foi acusado como traidor
da Coroa, julgado e exilado para a África.
Romance LXXIX ou da Morte de Maria Ifigênia trata a
possibilidade de a jovem ter sido a princesa do
Brasil e de sua morte precoce aos quinze
anos de idade, resultado de uma queda de
cavalo.
Do enterro de Bárbara Registra inicialmente o sepultamento de
Heliodora Bárbara e são relembrados os seus
sofrimentos: a separação do marido, o
inconfidente Alvarenga Peixoto, e a sua
prisão. Por fim, o eu lírico cobra a sua
perpetuação, ainda que seja em outros
mundos.
Retrato de Marília em Deixa ver a figura de Marília, agora
Antônio Dias envelhecida e muito distinta em relação ao
que se registrou nos poemas de seu amado
Gonzaga, prestes a adentrar em sua
sepultura.
Cenário IV Por meio do quarto e último, ambienta-se a
Rainha, Dona Maria I, sentada a observar uma
cidade, refletindo sobre o que provocou a
assinatura dada por ela e que resultou na
morte dos inconfidentes. É insinuado ao leitor
que a rainha tenha ficado louca pelo remorso
de tal sentenciamento.
Romance LXXXI ou dos Ilustres assassinos relata o eu lírico,
por meio de evocação, a necessidade de
criticar aqueles que condenaram inocentes,
sem provas, outorgando-lhes a pecha de
assassinos.
Romance LXXXII ou dos Passeios da rainha louca, em uma
cidade incerta, testemunha a rainha o trágico
resultado de sua ação e um provável
arrependimento que paira sobre ela.
Romance LXXXIII ou da Rainha morta trata, ainda, da loucura e
do remorso de D. Maria I.
Romance LXXXIV ou dos Cavalos da Inconfidência estabelece
uma comparação entre os animais
apresentados e os homens que atuaram no
episódio da Inconfidência Mineira.
Romance LXXXV ou do Testamento de Marília alude ao
testamento em que Marília, por sua própria
perspectiva, deixa ver como os fatos passados
foram desastrosamente tristes.
Fala aos Inconfidentes Encerra o livro, trazendo reflexões do eu lírico
mortos. como a de que o silêncio predomina e que a
memória sobre os participantes da conjuração
está se perdendo, graças à força do tempo.
Diante desse quadro, recupera-se a “Fala
Inicial, no que tange às questões pontuais
como obliteradoras dos reais fatos ocorridos, e
assim extirpando a lembrança do passado.

4.1 Agora é a sua vez!

Texto para responder às questões 1 e 2.

Romance XXXIV ou de Joaquim Silvério

Melhor negócio que Judas


fazes tu, Joaquim Silvério:
que ele traiu Jesus Cristo,
tu trais um simples Alferes.
Recebeu trinta dinheiros...
-- e tu muitas coisas pedes:
pensão para toda a vida,
perdão para quanto deves,
comenda para o pescoço,
honras, glória, privilégios.
E andas tão bem na cobrança
que quase tudo recebes!
Melhor negócio que Judas
fazes tu, Joaquim Silvério!
Pois ele encontra remorso,
coisa que não te acomete.
Ele topa uma figueira,
tu calmamente envelheces,
orgulhoso impenitente,
com teus sombrios mistérios.
(Pelos caminhos do mundo,
nenhum destino se perde:
há os grandes sonhos dos homens,
e a surda força dos vermes.)

(Cecília Meirelles, Romanceiro da Inconfidência.)

T1. (FATEC) Considere as seguintes afirmações sobre o texto.


I. O emissor assume postura argumentativa ao exprimir juízos de valor sobre as
ações de ambos os traidores célebres.
II. A significação do texto constrói-se com base numa ampla comparação, na qual se
destaca crítica mais contundente à traição praticada por Joaquim Silvério.
III. O emissor enfatiza as vantagens obtidas pelos atos de Joaquim Silvério, como
forma de expor sua vileza.
IV. Os versos finais, postos entre parênteses, contêm um comentário de natureza
ética e generalizante que expressa o tema do texto.

Estão corretas as afirmações:


A) I e III, apenas.
B) II e IV, apenas.
C) I, III e IV, apenas.
D) II, III e IV, apenas.
E) I, II, III e IV.

T2. (FATEC) À vista dos traços estilísticos, é correto afirmar que o texto de Cecília
Meirelles:
A) representa grande inovação na construção dos versos, marcando-se sua obra por
experimentalismo radical da linguagem e referência a fontes vivas da língua popular.
B) é despida de sentimentalismo e pautada pelo culto formal expresso na riqueza
das rimas e na temática de cunho social.
C) simula um diálogo, adotando linguagem na qual predomina a função
apelativa, e opta por versos brancos, de ritmo popular (caso dos versos de
sete sílabas métricas).
D) expressa sua eloquência na escolha de temática greco-romana e nas tendências
conservadoras típicas do rigor formal de sua linguagem.
E) é de tendência descritiva e heroica, adotando a sátira para expressar a crítica às
instituições sociais falidas.

T3. (FUVEST) Como o próprio título indica, no Romanceiro da Inconfidência, de


Cecília Meireles, os romances têm como referência nuclear a já frustrada rebelião na
Vila Rica do Século XVIII. No entanto, deve-se reconhecer que:
A) A base histórica utilizada no poema converte-se no lirismo transcendente e
amargo que caracteriza as outras obras da autora.
B) As intenções ideológicas da autora e a estrutura narrativa do poema emprestam
ao texto as virtudes de uma elaborada prosa poética.
C) A imaginação poética dá à autora a possibilidade de interferir no curso dos
episódios essenciais da rebelião, alterando-lhes o rumo.
D) A matéria histórica tanto alimenta a expressão poética no desenvolvimento
dos fatos centrais quanto motiva o lirismo reflexivo.
E) A preocupação com a fidedignidade histórica e com o tom épico atenua o
sentimento dramático da vida, habitual na poesia da autora.

4.2 ENEM é difícil!

Ai, palavras, ai, palavras


que estranha potência a vossa!
Todo o sentido da vida
principia a vossa porta:
o mel do amor cristaliza
seu perfume em vossa rosa;
sois o sonho e sois a audácia,
calúnia, fúria, derrota...
A liberdade das almas,
ai! Com letras se elabora...
E dos venenos humanos
sois a mais fina retorta:
frágil, frágil, como o vidro
e mais que o aço poderosa!
Reis, impérios, povos, tempos,
pelo vosso impulso rodam...

MEIRELES, C. Obra poética. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1985 (fragmento).

T1. (ENEM) O fragmento destacado foi transcrito do Romanceiro da Inconfidência,


de Cecília Meireles. Centralizada no episódio histórico da Inconfidência Mineira, a
obra, no entanto, elabora uma reflexão mais ampla sobre a seguinte relação entre o
homem e a linguagem:
A) A força e a resistência humanas superam os danos provocados pelo poder
corrosivo das palavras.
B) As relações humanas, em suas múltiplas esferas, têm seu equilíbrio
vinculado ao significado das palavras.
C) O significado dos nomes não expressa de forma justa e completa a grandeza da
luta do homem pela vida.
D) Renovando o significado das palavras, o tempo permite às gerações perpetuar
seus valores e suas crenças.
E) Como produto da criatividade humana, a linguagem tem seu alcance limitado
pelas intenções e gestos.

Capítulo 5

Campo Geral

(João Guimarães Rosa)

Resumo por palavras


1. Romance divido em duas partes; 2. Regionalismo universalista; 3. Infância; 4.
Sertão de Minas Gerais; 5. Tempo psicológico; 6. Amor; 7. Amizade; 8. Violência;
9. Fé; 10. Hipocrisia; 11. Maldade; 12. Biografia.

A presente leitura obrigatória da Fuvest, em linhas gerais, compõe uma obra


maior denominada Manuelzão e Miguilim. Em Campo Geral, predomina a visão de
mundo pautada em referências infantis, sensíveis e emocionantes que, segundo a
crítica sobre o autor, podem ser tomadas como uma espécie de autobiografia de
João Guimarães Rosa. O protagonismo da narrativa é desempenhado pela
personagem Miguilim, que mora juntamente com sua família, em ponto remoto do
sertão mineiro, denominado Mutum.
A narração é conduzida em terceira pessoa, por meio de narrador onisciente.
Não obstante, vale destacar que o ponto de vista do menino Miguilim prevalece na
condução da história. O mundo infantil se constitui a partir das vivências de uma
criança especial, seja pela sensibilidade, delicadeza ou mesmo pela inteligência ao
dar significado às pessoas e ao que está gravitando à sua volta.
No que tange ao tempo, predomina o psicológico, isso porque o narrador
explora os pensamentos da criança, apresentando um mundo em que o tempo
passa vagarosamente, sem preocupação com o seu registro cronológico, apenas a
prevalência da palavra sensível seja do protagonista ou mesmo sobre as pessoas
que gravitam em seu entorno a registrarem, dessa forma, uma sequência de ações
crível.
A narrativa retrata longínqua região mineira, e o protagonista, aos oito anos
de idade, tem retomado um ano anterior de sua vida. Nesse período, está o garoto
incomodado com a sua nova residência, no Mutum. Ouve, enquanto se locomove
para ser crismado, que tal lugar era muito bonito. Diante desse relato, mostra-se feliz
e anseia por contar a novidade para a sua mãe, Nhãnina, na esperança de amenizar
a tristeza dela com a mudança de casa.
Miguilim mostra-se afoito ao dirigir-se à mãe, sem perceber a presença do pai
no mesmo lugar, Nhô Bero, e este último fica bastante nervoso. A cena descrita
deixa perceber o famigerado complexo de Édipo, justamente pela vinculação
tamanha a qual o garoto tem pela sua mãe, assim como expõe as dificuldades no
relacionamento que já se apresentam com o pai e, na continuidade da narrativa,
serão agravadas. O pai castiga o menino ao impedi-lo de ir a uma pescaria no dia
seguinte. Diante desse fato, o tio, Terez, com a intenção de consolar, ensina o
garoto a pegar passarinhos com armadilhas especiais e construídas manualmente.
Na continuidade da narrativa, coloca-se a cena em que o pai do protagonista
está batendo em sua esposa, mas o garoto intercede em favor da mãe e, por isso, é
castigado “no alto do tamborete”. Nesse lugar, começa a pensar na vida, nas
agressões sofridas, na ferocidade do pai e compara-se à história de João e Maria,
perdidos, segundo a narrativa infantil.
Miguilim é vedado de conversar com qualquer um que se aproximasse por
ordens do pai, quando esse sai, recebe a notícia do tio Terez que uma grande chuva
se aproxima. No entanto, Vovó Izidra expulsa o homem com as palavras “Caim que
matou Abel”, gerando no leitor a desconfiança sobre algo que ainda não foi revelado
até o presente momento na narrativa.
Surge a personagem Seo Deográcias, conhecedor de fórmulas medicinais,
acompanhado de seu filho Patori, o qual Miguilim não se dá muito bem, com o intuito
de cobrar uma dívida que o pai de Miguilim ainda não saldara. Aproveitando a
ocasião, Seo Deográcias diagnostica que o menino precisa tomar infusões com
ervas, pois o curandeiro julgava a fraqueza e a magreza do menino índices de
doença.
Temendo a morte, Miguilim pede às pessoas da casa que rezem por ele.
Ainda aflito, procura o menino fazer um trato com Deus: caso não morresse em um
prazo de dias, Deus não poderia o levar mais. Contudo, no nono dia, o temor
retorna, pois não consegue fazer o que prometeu a Deus – uma novena.
No décimo dia, o garoto não sai da cama, aguardando a famigerada morte
chegar. Tranquilizado por sua irmã, Drelina, que segura a mão do menino até que
Seo Aristeo viesse, o qual convence Miguilim de que não iria morrer ainda.
Alegre pela possibilidade de viver mais, o protagonista é recompensado pelo
pai com o serviço de levar comida para ele na roça, também começa a perceber que
o pai passa a brigar menos. No retorno do trabalho, Miguilim é interceptado pelo seu
tio Terez que pede ao menino que esse entregue um bilhete à sua mãe. Pesa a
consciência do garoto quanto à correção do ato, até porque prometeu ao tio fazê-lo.
Refletindo, ainda, se deve fazer ou não a entrega solicitada, pergunta ao Dito,
seu irmão mais novo, “como é que a gente sabe certo como não deve de fazer
alguma coisa, mesmo os outros não estando vendo?”. Prontamente respondido: “A
gente sabe, pronto”. A rigor, o menino continua na dúvida e passa a perguntar para
outras pessoas, mas sem obter resposta convincente e termina o dia por esquecer
do problema.
Antes de ir para a cama, o menino procura conservar o bilhete intacto,
conferindo a sua presença no bolso da calça. No dia seguinte, reencontra o tio e
confessa a impossibilidade de realizar o pedido dele, o que o leva às lágrimas.
Comovido, o tio perdoa o garoto. No retorno da roça, Miguilim fica apavorado
com figurações humanas incertas que levam o almoço do pai. Recorre a Luisaltino,
empregado da família, para investigarem o furto e terminam por descobrir que os
gatunos eram, na verdade, macacos. A história passa a ser motivo de risos e
degradação do garoto.
Em outro episódio, Miguilim conversa com Dito a respeito de rezas e outros
assuntos, enquanto forte chuva despenca no Mutum. Corre a notícia de que Patori
havia matado um rapaz e estava foragido. Surge também a personagem Grivo,
menino muito pobre, que passa a ser amigo de Dito e Miguilim.
É apresentada na narrativa a personagem Siarlinda, mulher do vaqueiro
Saluz, que em visita à família do garoto conta várias histórias que encantam,
mormente as de assombração. É a essa altura que o protagonista passa a criar as
próprias histórias.
Retorna à obra o nome de Patori, encontrado morto. A família realiza um
passeio no alto de um dos vários morros do Mutum, em plena noite de lua cheia.
Não obstante, o menino não recebe atenção devida da mãe e ainda a afronta ao
dizer que “queria ver o mar, só para não ter essa tristeza”. A bem da verdade, a mãe
do garoto só se ocupava com a presença de Luisaltino e por sua beleza.
No dia seguinte, o papagaio da família, Papaco-o-Paco, passa a ser o centro
das atenções de todos os membros, pois começou a pronunciar as primeiras
palavras “Miguilim, me dá um beijim”.
Em uma espécie de divisor de águas na narrativa e na vida das pessoas que
gravitam em torno do menino, notícias ruins passam a ser conhecidas também pelo
leitor: Siarlanda briga com o vaqueiro Saluz, ficando esse último com dor de dentes
e crise de hemorroidas; Julim, o cachorro, é morto por um tamanduá; Nhô Bero fica
muito doente; Tomezinho é atacado por um marimbondo; Miguilim é ferido na mão
pelo Touro Rio Negro e, pela dor provocada, sem querer o menino bate no irmão
que vinha em seu socorro. Voluntariamente Miguilim se coloca de castigo no
tamborete.
Adiante, tem-se a cena em que Maria Pretinha foge com o vaqueiro Jé. O
macaco da família também está foragido e, na procura, o irmão Dito corta o pé
profundamente. Para curá-lo, ervas foram colocadas no local da ferida, não surtindo
o efeito desejado, pois sempre é visto amuado na rede de balanço. Miguilim passa a
servir como informante do irmão mais novo, já que esse não melhora e, ainda mais,
com o avanço do tétano não consegue mais se levantar da cama, o que leva Vovó
Izidra a rezar um terço.
Durante as festividades do Natal, Dito ainda se mostra assaz doente e triste
por não poder montar o presépio com a família. Miguilim fica ao lado do irmão
doente e passa a contar várias histórias para entretê-lo. A doença vai se agravando
sorrateiramente. Miguilim e a irmã tentam ensinar ao papagaio pronunciar o nome
do garoto Dito.
Recorre a família a buscar Seo Deográcias e Seo Aristeo. A mãe está ao lado
de Dito, mas esse pede pela presença de Miguilim e para que lhe conte a história da
cachorrinha Cuca Pingo-de-Ouro. Miguilim não o faz e recebe uma instrução
derradeira do irmão: “Miguilim, Miguilim, eu vou ensinar o que agorinha eu sei,
demais: é que a gente pode ficar sempre alegre, alegre, mesmo com toda coisa ruim
que acontece acontecendo. A gente deve de poder ficar mais alegre, mais alegre,
por dentro!”. Miguilim não suporta a tristeza, sai à procura de Mãitina para que essa
fizesse um feitiço e o irmão não morresse. Conscientiza-se o menino da
impossibilidade e chora muito. Ao retornar ao quarto, observa a tristeza da mãe com
a morte do irmão que cada vez mais se aproxima. Passam os dias e a saudade e o
desejo do retorno do irmão vão tomando o menino. Miguilim procura interpelar as
outras pessoas sobre como viam o irmão, pois esse “queria como algum sinal do
Dito morto no Dito vivo, ou do Dito vivo mesmo no Dito morto”. É construído para o
menino um simulacro de túmulo do irmão no quintal.
Papaco-o-Paco grita, de repente: “Dito, Expedito! Dito, Expedito!” e tal cena
se torna o sinal para uma comoção geral da família, a ponto do pai de Miguilim levá-
lo para trabalhar com o propósito de fazê-lo esquecer tamanho sofrimento.
Miguilim é acometido de um estado depressivo e passa a dizer “tudo de
repente se acaba em nada”. Soma-se a isso o aumento da violência que o pai
pratica e as suas palavras cortantes que quem deveria ter morrido não era o Dito,
mas sim Miguilim.
Em data não precisa, aparece em visita de uns quinze dias, tio Osmindo
Cessim e o outro irmão de Miguilim, Liovaldo. Este último mostra-se agressivo e
passa a bater em Grivo, que recebe a defesa de Miguilim, espancando o seu irmão
mais velho. No entanto, o pai do menino o agride com uma grande surra e, receosa
do pior, a sua mãe o coloca na casa do Vaqueiro Saluz por três dias. É iniciado pelo
próprio filho um plano para assassinar o pai. Ao lado do vaqueiro, Miguilim fica
contente, mas sente saudades da irmã e da mãe.
No retorno à sua casa, enfrenta o pai, que vingativamente solta os
passarinhos e quebra as gaiolas de Miguilim. Novamente revoltado, o menino
quebra todos os seus brinquedos no quintal.
Repentinamente, Miguilim adoece e começa a sentir fortes dores na nuca,
vômitos e fraqueza. Pela atenção dedicada do pai, Miguilim compreende que é
amado de uma maneira singular. A doença se agrava e o menino passa a dormir
muito até acordar com uma gritaria: Nhô Bero matando Luisaltino. No dia seguinte,
recebe a notícia de que o pai se enforcara em um cipó.
Vagarosamente, a doença vai sendo dissipada. Miguilim é questionado pela
mãe sobre sua aprovação em um possível casamento com Tio Terez, mas o menino
mostra-se indiferente, pois só pensava no irmão Dito.
Como cena final, Miguilim é examinado pelo Dr. Lourenço que indica óculos
ao menino, já que ele era míope e, a partir daí, há um encantamento com o mundo
que passa a ver, pela primeira vez. São iniciados os preparativos para Miguilim ir
embora, uma vez mais pede os óculos do doutor: enxerga o Mutum, acha o tio
parecido com o pai, fica admirado com a beleza da mãe, recebe os beijos dela,
doces de Rosa e parte.
Por fim, no que tange às personagens e/ou pessoas que habitam o universo
da obra tem-se:
a) Chica: irmã de Miguilim; possuía cabelos pretos como os da mãe.

b) Dito: irmão mais novo de Miguilim, ruivo, parecia mais com o pai, era o mais
novo, mostrava-se responsável; morreu de tétano.

c) Drelina: apelido dado à irmã mais velha de Miguilim; Maria Adrelina Cessim Caz;
jovem bonita e de cabelos compridos.

d) Grivo: menino muito pobre que é defendido por Miguilim quando é agredido ou
humilhado por Liovaldo.

e) Jé: empregado que foge com outra empregada, Maria Pretinha.

f) Liovaldo: irmão mais velho de Miguilim, mas que não morava com a família no
Mutum.

g) Luisaltino: último empregado contratado por Nhô Bero; é assassinado pelo


patrão, já que se tornou amante de sua esposa, Nhãnina.

h) Mãitina: empregada da casa, idade avançada, afrodescendente (preta, como


consta na narrativa); consumidora assídua de cachaça; cultuava rituais pagãos
africanos.

i) Miguilim: menino de cabelo preto como o da mãe, parece-se mais com ela; possui
grande sensibilidade e demonstra interesse por contar histórias; suas dificuldades
são causadas pela limitação visual.

j) Nhãnina: mãe de Miguilim, era muito bonita, não gostava do Mutum, sentia muita
tristeza em ter que viver ali. Não dava muita importância para a fidelidade conjugal
pois traiu o marido com o próprio irmão e depois com Luisaltino.

k) Nhô Béro (Bernardo Caz): pai de Miguilim; homem rude que parece ter
implicância com o filho, mas de quem gosta, embora não saiba demonstrar.
l) Patori: menino mal caráter; filho de Deográcias; desperta a antipatia de Miguilim.

m) Saluz: vaqueiro de Nhô Bero; homem correto e casado com Siarlinda.

n) Siarlinda: esposa de Saluz, personagem que sabe contar histórias e que


desperta o interesse de tal habilidade em Miguilim.

o) Tio Terêz: tio e amigo de Miguilim; foi expulso de casa por Vovó Izidra em razão
do relacionamento adúltero com Nhãnina.

p) Tomezinho (Tomé de Jesus Casseim Caz), ruivo como o pai, menino de quatro
anos, tinha mania de esconder tudo o que encontrava.

q) Vó Benvinda: mãe de Nhãnina e, portanto, legítima avó de Miguilim.

r) Vovó Izidra: idosa que se zangava com todos; não gostava que batessem em
Miguilim; sempre estava vestida com roupas pretas.

5.1 Agora é a sua vez!

“De repente lá vinha um homem a cavalo. Eram dois. Um senhor de fora, o claro de
roupa. Miguilim saudou, pedindo a bênção. O homem trouxe o cavalo cá bem junto.
Ele era de óculos, corado, alto, com um chapéu diferente, mesmo. — Deus te
abençoe, pequenino. Como é teu nome? — Miguilim. Eu sou irmão do Dito. — E o
seu irmão Dito é o dono daqui? — Não, meu senhor. O Ditinho está em glória. O
homem esbarrava o avanço do cavalo, que era zelado, manteúdo, formoso como
nenhum outro. Redizia: — Ah, não sabia, não. Deus o tenha em sua guarda... Mas
que é que há, Miguilim? Miguilim queria ver se o homem estava mesmo sorrindo
para ele, por isso é que o encarava. — Por que você aperta os olhos assim? Você
não é limpo de vista? Vamos até lá. Quem é que está em tua casa? — É Mãe, e os
meninos... Estava Mãe, estava tio Terez, estavam todos. O senhor alto e claro se
apeou. O outro, que vinha com ele, era um camarada. O senhor perguntava à Mãe
muitas coisas do Miguilim. Depois perguntava a ele mesmo: –– Miguilim, espia daí:
quantos dedos da minha mão você está enxergando? E agora?”

ROSA, João Guimarães. Manuelzão e Miguilim. 9ª ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1984.

T1. Esta história, com narrador observador em terceira pessoa, apresenta os


acontecimentos da perspectiva de Miguilim. O fato de o ponto de vista do narrador
ter Miguilim como referência, inclusive espacial, fica explicitado em:
A) “O homem trouxe o cavalo cá bem junto.”
B) “Ele era de óculos, corado, alto (...)”
C) “O homem esbarrava o avanço do cavalo, (...)”
D) “Miguilim queria ver se o homem estava mesmo sorrindo para ele, (...)”
E) “Estava Mãe, estava tio Terez, estavam todos”

T2. (UFG) Diversos motivos narrativos compõem a trama de “Campo Geral”, texto
da obra Manuelzão e Miguilim, de Guimarães Rosa. Qual o motivo narrativo principal
para a composição do enredo desse conto?
A) As desavenças entre Mãitina e a avó de Miguilim.
B) A instabilidade sentimental da mãe de Miguilim.
C) A observação do mundo pela ótica de Miguilim.
D) A rivalidade entre Tio Terez e o pai de Miguilim.
E) A solidariedade entre os irmãos de Miguilim.

T3. (FELUMA – Medicina) Assinale a alternativa INCORRETA em relação à narrativa


de Guimarães Rosa.
A) A dimensão mítica da estória é acentuada pela presença de seu Aristeu, figura
solar, que reconhece Miguilim como sujeito virtual da aquisição de sua sabedoria.
B) A partir da morte de Dito, Miguilim tem motivação para inventar estórias,
evadindo-se, assim, da triste realidade de pobreza e de perda.
C) O desejo de saber o certo, de separar o bom do mau é um aspecto que pontua a
trajetória psicológica do protagonista Miguilim.
D) Os conflitos entre os pais de Miguilim remetem a aspectos bíblicos e trágicos,
intensificando o caráter universalista da narrativa.

T4.“Voltando mais ao início da narrativa, é interessante notar que Miguilim se lembra


de algumas passagens, na condição de menino ainda menor, de forma embaraçada,
misturando tudo por sua ótica desordenada, não sabendo discernir o vivido do
imaginado.” (RESENDE, Vânia Maria. O menino na literatura brasileira. São Paulo:
Editora Perspectiva, 1988, p.31.)

Assinale a alternativa que traz a passagem da narrativa que confirma a opinião da


ensaísta.
A) “[...] se recordava de sumidas coisas, lembranças que ainda hoje o
assustavam. [...] Naquele quintal estava um peru, que gruziava brabo e abria
roda, se passeando, pufo-pufo – o peru era a coisa mais vistosa do mundo,
importante de repente, como uma estória.[...] Do Pau-Roxo conservava outras
recordações, tão fugidas, tão afastadas, que até formavam sonho.”
B) “O gato Sossõe, certa hora, entrava. Ele vinha sutil para o paiol, para a tulha,
censeando os ratos, com o ar. Mas, daí, rodeando como quem não quer, o gato
Sossõe principiava a se esfregar em Miguilim, depois deitava perto, se prazia de ser,
com aquela ronqueirinha que era a alegria dele, e olhava, olhava, engrossava o
ronco, os olhos de um verde tão menos vazio – era uma luz dentro de outra, dentro
doutra, dentro outra, até não ter fim.”
C) “Traziam o tatu, que guinchava, e com a faca matavam o tatu, para o sangue
escorrer por cima do corpo dele para dentro da bacia [...] e a mãe confirmava: dizia
que ele tinha estado muito fraco, saído de doença, e que o banho no sangue vivo do
tatu fora para ele poder vingar.”
D) “[...] – ‘Que é que você está pensando, Miguilim?’ – Tio Terêz perguntava.
[...]Relembrável era o Bispo – creio para ser bom, tão rico nas cores daqueles trajes,
até as meias dele eram vermelhas, com fivelas nos sapatos, e o anel, milagroso, que
a gente não tinha tempo de ver, mas que de joelhos se beijava.”

T5. “Especificamente sobre o tétano, Rosa deixou um relato emocionado, quando


descreve a morte de Expedito, o Dito. Sempre fiel aos fatos médicos, registrou a
evolução da doença, de sua origem ao óbito.” (GOULART, Eugênio Marcos
Andrade. O viés médico na literatura de Guimarães Rosa. Belo Horizonte: Faculdade
de Medicina da UFMG, 2011, p.80-82. Texto adaptado.)
Abaixo estão transcritos trechos que enfocam a doença de Dito.
I.“A febre era mais muita, testa de Dito quente que pelava. [...] Tudo endurecia, no
corpo dele. – ‘Miguilim, espera, eu estou com a nuca tesa, não tenho cabeça pra
abaixar...’”
II.“Mãe segurava com jeito o pezinho machucado doente, como caso pudesse doer
ainda no Dito, se o pé batesse na beira da bacia. O carinho da mão de Mãe
segurando aquele pezinho do Dito era a coisa mais forte neste mundo.”
III.“Mas foi aí que o Dito pisou sem ver num caco de pote, cortou o pé: na cova-do-
pé, um talho enorme, descia de um lado, cortava por baixo, subia da outra banda.”
IV.“O Dito não podia caminhar só podia pulando num pé só, mas doía, porque o
corte tinha apostemado muito, criando matéria.”

Assinale a alternativa que apresenta a sequência cronológica da enfermidade.


A) II-I-IV-III
B) IV-III-II-I
C) III-II-I-IV
D) III-IV-I-II

5.2 ENEM é difícil!

“Quem é pobre, pouco se apega, é um giro-o-giro no vago dos gerais, que nem os
pássaros de rios e lagoas. O senhor vê: o Zé-Zim, o melhor meeiro meu aqui,
risonho e habilidoso. Pergunto: — Zé-Zim, por que é que você não cria galinhas-
d‘angola, como todo o mundo faz? — Quero criar nada não... — me deu resposta:
— Eu gosto muito de mudar... [...] Belo um dia, ele tora. Ninguém discrepa. Eu,
tantas, mesmo digo. Eu dou proteção. [...] Essa não faltou também à minha mãe,
quando eu era menino, no sertãozinho de minha terra. [...] Gente melhor do lugar
eram todos dessa família Guedes, Jidião Guedes; quando saíram de lá, nos
trouxeram junto, minha mãe e eu. Ficamos existindo em território baixio da Sirga, da
outra banda, ali onde o de-Janeiro vai no São Francisco, o senhor sabe.”
ROSA, J. G. Grande Sertão: Veredas. Rio de Janeiro: José Olympio (fragmento).

T1. Na passagem citada, Riobaldo expõe uma situação decorrente de uma


desigualdade social típica das áreas rurais brasileiras marcadas pela concentração
de terras e pela relação de dependência entre agregados e fazendeiros. No texto,
destaca-se essa relação porque o personagem-narrador
A) relata a seu interlocutor a história de Zé-Zim, demonstrando sua pouca disposição
em ajudar seus agregados, uma vez que superou essa condição graças à sua força
de trabalho.
B) descreve o processo de transformação de um meeiro — espécie de agregado —
em proprietário de terra.
C) denuncia a falta de compromisso e a desocupação dos moradores, que pouco se
envolvem no trabalho da terra.
D) mostra como a condição material da vida do sertanejo é dificultada pela sua
dupla condição de homem livre e, ao mesmo tempo, dependente.
E) mantém o distanciamento narrativo condizente com sua posição social, de
proprietário de terras.

Leia:
Famigerado

“Com arranco, [o sertanejo] calou-se. Como arrependido de ter começado


assim, de evidente. Contra que aí estava com o fígado em más margens; pensava,
pensava. Cabismeditado. Do que, se resolveu. Levantou as feições. Se é que se riu:
aquela crueldade de dentes. Encarar, não me encarava, só se fito à meia esguelha.
Latejava-lhe um orgulho indeciso. Redigiu seu monologar.
O que frouxo falava: de outras, diversas pessoas e coisas, da Serra, do São
Ão, travados assuntos, insequentes, como dificultação. A conversa era para teias de
aranha. Eu tinha de entender-lhe as mínimas entonações, seguir seus propósitos e
silêncios. Assim no fechar-se com o jogo, sonso, no me iludir, ele enigmava. E, pá:
— Vosmecê agora me faça a boa obra de querer me ensinar o que é mesmo
que é: fasmisgerado… faz-me-gerado… falmisgeraldo… familhas-gerado…?”
ROSA, J. G. Primeiras estórias. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1988

A linguagem peculiar é um dos aspectos que conferem a Guimarães Rosa um lugar


de destaque na literatura brasileira. No fragmento lido, a tensão entre a personagem
e o narrador se estabelece porque:
A) o narrador se cala, pensa e monologa, tentando assim evitar a perigosa pergunta
de seu interlocutor.
B) o sertanejo um discurso cifrado, com enigmas, como se vê em “a conversa era
para teias de aranhas”.
C) entre os dois homens cria-se uma comunicação impossível, decorrente de suas
diferenças socioculturais.
D) a fala do sertanejo é interrompida pelo gesto de impaciência do narrador,
decidido a mudar o assunto da conversa.
E) a palavra desconhecida adquire o poder de gerar conflito e separar as
personagens em planos incomunicáveis.
Capítulo 6

Nós matamos o cão tinhoso!

(Luís Bernardo Honwana)


Resumo por palavras

1. Literatura africana; 2. Conto; 3. Moçambique; 4. Colonização; 5. Obra polêmica;


6. Opressão; 7. Metrópole; 8. Portugal; 9. Experiência; 10. Forma; 11. Crianças;
12. Trabalhadores.

A presente leitura obrigatória da Fuvest, em linhas gerais, apresenta sete


contos que retratam uma Moçambique ainda sob a condição de colônia portuguesa.
Ao ser publicada, a obra foi lida e interpretada como polêmica, pelo lado dos que
defendiam o colonialismo português, ao passo que, para os que defendiam a
liberdade do país, foi tomada como fundamental.
Os temas abordados pelas narrativas se voltam para um mesmo eixo, ou
seja, a complexa realidade de um país que vive sob o colonialismo e que tem nas
diversas experiências humanas retratadas a marca profunda da opressão. Nesse
sentido, a linha de força do livro se encontra nas diversas formas de contar,
utilizando para tanto diversas vozes e recursos expressivos. As crianças ganham
relevo na obra do autor, assim como diversos modelos de trabalhadores.
O primeiro conto do livro é Nós matamos o cão tinhoso!. Nele, a narração é
realizada em 1ª pessoa, pelo menino Ginho. Ganham destaque os comportamentos
de algumas crianças incumbidas de matar um cachorro adoentado que se
encontrava pleno em feridas, conhecido por todos como ‘Cão Tinhoso’, cuja
presença doentia era insuportavelmente nojenta e desconfortável aos moradores de
uma pequena vila. O animal perambulava pelas cercanias da escola em que o
garoto Ginho frequentava, além de alimentar o imaginário de alguns para criarem
histórias que justificassem as feridas do animal. Portador de uma pele velha, com
inúmeros pelos brancos, várias cicatrizes, feridas e enrugado, o animal era apenas
bem-quisto pela menina Isaura, o único ser humano que sentia algo bom pelo
cachorro, a ponto de dividir o que comia com ele. O veterinário da localidade recebe
a ordem de eliminar o cachorro, mas repassa o ‘trabalho’ a um grupo formado por
doze garotos. Embora Ginho integre a malta, ele não quer matar o cão, mas teme
alguma represália caso não esteja com os demais garotos que tanto gostam de
brincar com armas de fogo. O resultado é inevitável, assim como o retorno à
normalidade.
No segundo, Inventário de imóveis e jacentes, tem-se a narração conduzida
em primeira pessoa por um menino que inventaria os bens da família durante uma
noite, tempo esse em que está insone. Cinco pessoas estão dormindo na residência
e, aos poucos, são descritos os parentes e os cômodos da propriedade, por meio de
um olhar inocente, tipicamente infantil. Nas camadas profunda do texto, tem-se uma
invenção do real e de si criados pela criança por meio de recursos que mesclam a
realidade com a ficção. A rigor, não há morte que justifique o inventário e, dessa
forma, serve o texto a atender o desejo do menino (re)criador. Pelo detalhamento
exacerbado da casa e dos bens gera-se desconfiança em relação à verdade ou ao
limite entre ela e a ficção. Sequestra a atenção a quantidade de livros da casa,
sugerindo uma escolarização da família, ou mais dada ao pai “Há ainda mais três
caixotes com livros. Debaixo da cama em que está o Papá há mais caixotes com
livros”, mas que é avesso às revistas estrangeiras da mãe, assim como o menino
também afirma sê-lo. Contudo, há uma estante em que os livros estão cobertos, e
outros estão armazenados em caixotes de madeira. A rigor, pela presença de
objetos diversos e, principalmente às várias malas de viagem, a família parece
possuir boa condição financeira. Talvez, por isso, o garoto seja dono material de
desenho e pintura – “Debaixo desta cama está guardado o meu material”, o qual
serve também ao propósito de recriar realidades em cores e formas, antes e,ou
depois de fazer o mesmo com as palavras.
O terceiro conto é denominado Dina. O narrador, em terceira pessoa,
apresenta ao leitor um dia na machamba (lavoura), cujas condições de trabalho são
desumanas ao protagonista, o velho Madala. Os demais trabalhadores sofrem
também pelos abusos praticados por um capataz. Segundo a narrativa, o feitor
branco conscientemente demora a liberá-los para o almoço (o dina), sugerindo-se,
dessa forma, a opressão do colonizador sob o colonizado. Embora o narrador esteja
distanciado, em alguns momentos, percebe-se sua parcialidade frente algumas
personagens, mediante a exploração que sofrem. É insalubre o trabalho, como deixa
ver a cena em que Madala, após arrancar uma planta do chão, depara-se com um
escorpião, levando-o a imaginar a possibilidade de ser picado, adoecer e falecer ao
quarto dia. Coopera com a noção de perigo, a lembrança do protagonista em relação
à morte de Pitarrossi, picado por uma cobra. Com os trabalhadores dispensados
para o almoço, o capataz é seguido por um grupo até o acampamento, onde já
estavam outros (os do desbravamento, os da horta e os do curral) agora juntos com
os da machamba. O calor era intenso e Madala procurou por uma sombra, próximo
aos do curral que interromperam a conversa em respeito ao velho. Questionado
sobre as condições de seu labor, o ancião fala a um rapaz que o branco era ruim.
Djimo surge na narrativa convidando Madala para comer, mas, a rigor, a intenção
era ver a filha do velho, Maria. O rapaz gosta muito da moça, mas para ele não seria
possível um relacionamento, já que ela era conhecida por sua volubilidade amorosa.
Os demais trabalhadores a olham libidinosamente. Djimo convida Maria para comer,
quando entra em cena o capataz fumando. A partir desse instante, o jovem tenta
retirar Maria do alcance do capataz, mas foi em vão. Ao vê-la, o branco se dirige
com desprezo por acreditar que ela estava ali para se relacionar sexualmente com
Madala. Na continuidade, o velho almoça enquanto avista sua filha próxima a um
celeiro. Madala não vê a conversa entre o capaz e Maria, e quando ela segue o
branco. Ao terminar a refeição, o ancião procura um lugar para descansar e ouve de
um rapaz que sua filha estava “conversando” com o branco nos matos. Madala tem
um impulso de revolta, demonstrado pelo punho cerrado que arranca uma planta do
chão. No entanto, não leva adiante a sua revolta/luta contra o branco pois ainda não
seria o momento mais adequado, segundo ele próprio. Maria, dominada pelo
capataz após breve luta, ainda que já se prostituísse, é violenta. Simultaneamente,
Madala chora e esmaga as folhas de uma planta imaginaria. Após uma discussão,
Maria revela ser filha de Madala ao branco que, surpreso, sai de cena. Ao voltar, o
capataz ordena aos trabalhadores que voltem à ocupação e oferece uma garrafa de
vinho ao velho. Os trabalhadores não cumprem a ordem e são insultados de forma
racista pelo branco, ao que um dos do curral parece querer iniciar uma guerra,
somente esperando o sim de Madala, mas que ao receber a garrafa do capataz
esmaece a fúria do jovem do curral que, por sua vez, cospe nos pés do protagonista.
No quarto, A velhota, tem-se a narração conduzida em primeira pessoa por
um rapaz que decide ir à casa de sua mãe e dos seus irmãos mais novos, após ter
sido agredido. A personagem não é nominada, assim como não se refere à
agressão, mas é possível ser uma referência à tortura a que muitos moçambicanos
e inclusive o autor sofreram. Adentrando no pensamento da personagem, há um
impasse quanto à possibilidade de se contar aos irmãos menores sobre a
brutalidade vivida e esperar um futuro melhor e promissor a eles, sem revoltas como
as que ele sentia toda a vez que era humilhado, ou mesmo que o atual tempo fosse
melhor, sem tantas degradações humanas sofridas. Para tanto, o silencio que se
assume na narrativa é sempre entrecortado pelos questionamentos da velha mãe e,
vez ou outra, pelos irmãos menores. Ao iniciar o relato da experiência, conscientiza-
se de que seria melhor se a humilhação fosse esquecida, mas não se realiza e
inicia-se uma espécie de animalização. Quando se levantou do chão, a dor que
sentia não era a da surra, mas a da perda da dignidade. E contar o vivido é assumir
duplamente a humilhação, daí o silêncio como menos dolorido. Além de evitar o
sofrimento da mãe e continuidade de sua hombridade após ter saído do bar. Embora
valorizado pela família, o lado externo da casa era um espaço, agora, em que o
protagonista não mais valorizava. Ou seja, lá seria apenas um animal qualquer. Por
isso, não queria comer, estava apático e, quando a mãe o abraçou, enterrou-se nos
seios dela, como homem/menino. A rigor, as dores psicológicas eram profundas e o
problemas não estava na ferida, mas na atitude dos agressores, isso é, o que se fala
era proibido. Em não expondo os agressores, tem-se também os limites do contexto
a que está circunscrita a obra, realizando uma denúncia quanto ao silêncio forçado.
Calar o fato aos irmãos era uma forma de não alimentar o desejo de luta, revolta,
isso é, aceitar a opressão do colonizador sobre o colonizado
O quinto conto é denominado Papá, cobra e eu. Nele, o narrador em primeira
pessoa assume a identidade de uma criança novamente. No local em que mora,
uma cobra está matando as galinhas que pertencem à família. A figura da mãe deixa
ver um impasse linguístico, já que ora fala com o marido e o filho em português, ora
com os funcionários da casa em ronga. O menino Ginho percebe um beliscão que o
trabalhador Madunana dá em Sartina, outra trabalhadora da casa, e serve a cena
para que a mãe do garoto faça uma advertência para que não ocorra vergonhas ali.
Em seguida, o cão do sr. Castro, o Lobo, aparece na propriedade para brincar com o
Totó, cão da família de Ginho, contudo quando uma cobra foi encontrada o cão
pertencente ao português avançou para atacá-la, no entanto sofreu um ataque
mortal da mamba no peito, esperneando no chão convulsivamente. Na continuidade,
levantou-se o Lobo e, em disparada, esse retorna para a sua casa. Em seguida,
Madunana e Ginho matam a cobra. Após ter chegado do trabalho, o pai de Ginho
avista o sr. Castro em sua casa. Tchembene é cobrado como responsável pela
morte de Lobo. Alega o branco que os seus pretos viram quando o seu melhor
perdigueiro veio daquela casa e responsabiliza o moçambicano por isso, ameaçando
que se não fosse paga uma indenização de setecentos paus iria à Administracao
prestar uma queixa. Depois da saída do sr. Castro, o Papá xinga o homem e Ginho
lhe pergunta por que não fez aquilo na frente do português. Por fim, após o jantar, a
família reza e Papá não revela à esposa o porquê da visita do sr. Castro. Ginho
pergunta porque ele reza quando está nervoso, ao que é respondido que recebe
conselhos para que haja uma esperança, ainda que seja falsa. Ginho alega que
podia ter evitado o ocorrido, mas Papá fala que não havia importância e alega ainda
bem que Lobo foi mordido. Riram, sem que a mãe entendesse e ela diz que os dois
estavam doidos e Papá responde que sim, já era chegado o tempo de serem. A
Mamã sem entender ainda resmunga e parte em direção a Ginho. Papá interrompe
a mulher dizendo que o filho acha que ninguém monta em cavalos doidos, e que nos
famintos e mansos é onde se faz isso mais fácil. O doido dá-se um tiro e se resolve
o problema, enquanto o manso mata-se todos os dias. Papá ainda diz que Ginho
teria visto o tratamento que ele, em nome dos moçambicanos, recebe do sr. Castro
(os portugueses). Já na sua cama, Ginho pensa em Sartina para evitar lembrar de
cobras e cães.
No sexto, As mãos dos pretos, tem-se a narração conduzida em primeira
pessoa por um garoto que procura respostas para uma questão: Por que os pretos
têm as palmas das mãos brancas? Na procura pela resolução do mistério, algumas
respostas são colhidas de diversos interlocutores. A do Senhor Professor,
representante do saber científico, diz que os avós deles, dos pretos, andavam com
as mãos apoiadas sobre o chão tais quais bichos do mato, não as expondo ao sol,
ao passo que o sol ia lhes escurecendo o corpo. A do Senhor Padre, enquanto
discurso religioso, traz que os pretos, às escondidas, andavam sempre com as mãos
postas rezando. A de Dona Dores, testemunha da escravidão, apresenta a versão
de que Deus fez as mãos dos pretos mais claras para que eles não sujem a comida
que preparam para os seus patrões ou outra atividade em que a limpeza é exigida. A
do Senhor Antunes da Coca-Cola, representante do imperialismo econômico, diz
que Deus, Jesus Cristo, a Virgem Maria, São Pedro e muitos outros santos que,
agora estavam no céu, reuniram-se e decidiram fazer pretos. Para tanto, pegaram
barro e o depositaram em moldes para cozê-lo, colocaram em fornos celestes e, em
função da pressa e por não haver mais lugar no braseiro, penduraram na chaminés.
Como consequência do contado com o fumo, eis os escurinhos como carvões. E as
mãos deles ficaram brancas pois eles tiveram de se agarrar enquanto o barro deles
cozia. A do Senhor Frias dizia que Deus havia feito os homens e os tinha mandado
tomar banho em um lago no céu, tendo ficado branquinhas. Já os pretos, por terem
sido feitos de madrugada e, por esse horário a água estar muito fria, apenas
molharam as palmas das mãos e as plantas dos pés antes de se vestirem e virem
ao mundo. A de um livro, enquanto representação do saber autorizado, atestava que
os pretos têm as mãos mais claras por viverem encurvados, na colheita do algodão
branco de Virgínia e de outros lugares desconhecidos. A de dona Estefânia evoca
docotomicamente pureza/impureza, pois elas desbotaram à força de tão lavadas.
Não obstante, o narrador acredita que apenas a versão de sua mãe é crível,
apresentando uma dimensão social, diz que Deus fez os pretos por que os tinha de
fazer, mas arrependeu-se porque outros homens riram de sua criação e ainda os
escravizaram e fizeram-lhe outros males. E como naõ havia mais o que fazer, ou
seja,m todos ficarem brancos porque já se tinham habituados a velos negros, tornou
as palmas brancas assim como as dos outros homens que ainda dão graças a Deus
por não serem pretos.
O quinto conto é denominado Nhinguitimo.

6.1 Agora é a sua vez!

T1.
Capítulo 7

Dois irmãos

(Milton Hatoum)
Resumo por palavras

1. Romance; 2. Pós-modernidade; 3. Brasil; 4. Amazonas; 5. Manaus; 6.


Inimizade; 7. Intertextualidade; 8. Imigração; 9. Comércio; 10. Decadentismo; 11.
Economia; 12. Cultura (século XX).

A presente leitura obrigatória da Fuvest, em linhas gerais, oferece ao leitor a


problemática e conflituosa relação dos irmãos gêmeos Omar e Yaqub. O cenário
ambientado é Manaus, mas a família é imigrante do Líbano.
Cumpre destacar que a narrativa recupera um canônico tema da literatura, ou
seja, a inimizade entre irmãos. Intertextualiza-se, nesse sentido, a bíblica luta
envolvendo Caim e Abel. Assim como a referência à obra de Machado de Assis,
“Esaú e Jacó”, é feita de forma mais que direta. O autor se apropria integralmente do
texto de Machado (ao descrever a personagem Flora, a qual se apaixona
simultaneamente por Pedro e Paulo) para construir a personagem Rânia, também
amante dos irmãos.
O contexto do livro oferece ao leitor a imagem de imigrantes dedicados ao
comércio, em uma cidade decadente, após um período de efervescências
econômica e cultural, no início do século XX. Focaliza-se com destaque Manaus e o
narrador conta a história considerando o desenvolvimento dessa cidade à medida
que também avança o leitor na trama. Nesse sentido, a vida da personagem Halim

se conecta à cidade, bem como a de outras personagens.


É importante destacar que a cidade-cenário literalmente vai sendo destruída
para, na continuidade da obra, se reerguer em um período de trinta anos. Há uma
procura da parte do narrador por uma cidade nos tempos de sua infância, mas que,
a rigor, ficou apenas como lembrança. Para tanto, focaliza-se em boa parte da
narrativa o processo que trouxe o fim da cidade flutuante, como explicação para a
tristeza da personagem Halim, que mantinha muitas lembranças felizes desse lugar
sobre as águas do Rio Negro. A rigor, simultaneamente ao desaparecimento da
flutuante Manaus, o mesmo ocorre com a família de Halim e com ele próprio.
A narração é conduzida pelo narrador-personagem, Nael, filho de Domingas.
O que o motiva a contar a história dos irmãos Yaqub e Omar é descobrir a

identidade de seu pai. Nael, ao longo da narrativa, tenta persuadir o leitor e

conquistá-lo, para que se aceite a sua visão mundo. A estratégia empregada se


constitui em utilizar um discurso centrado na racionalidade, sob um tom de

veracidade e abstraindo-se do sentimentalismo. Não obstante, o narrador assume o


ponto de vista do filho da empregada, a qual foi muito explorada e abusada. Vale
destacar que Nael se sente inconformado pelo fato de não ser reconhecido por

Halim como pertencente à família, embora soubessem quem ele realmente fosse.
Nesse sentido, os dizeres do narrador podem ser interpretados como resultado de
uma perspectiva distorcida da realidade.
A obra se desenvolve temporalmente por meio de avanços e recuos, não

havendo uma cronologia linear, portanto. À medida que o narrador se recorda de


alguns episódios, enigmas são apresentados ao leitor.
O enredo é iniciado com a morte da personagem Zana, mãe dos irmãos

gêmeos, em um tom angustiante. Na cena apontada, a resposta à pergunta “Meus


filhos já fizeram as pazes?” não é respondida e o silêncio, negativamente, é
simultâneo ao término do dia.
No primeiro capítulo, tem-se o retorno de Yaqub da viagem forçada que fez

ao Líbano. A ação se passa provavelmente em 1945, no fim da II Guerra Mundial,


isso porque o porto do Rio de Janeiro está “apinhado de parentes de pracinhas e
oficiais que regressavam da Itália”. Se explica a viagem de Yaqub como forma de
separação e, assim, evitar maiores atritos com Omar.
À medida que estão crescendo, apesar de gêmeos, as diferenças entre eles
vão se tornando mais evidentes.

Por fim, no que tange às personagens e/ou pessoas que habitam o universo
da obra tem-se:
a) Manoel Perna: um narrador ficcional que convive com Buell Quain nove noites
durante sua estada no Brasil.

b) Buell Halvor Quain: etnólogo americano que veio ao Brasil para estudos, mas
misteriosamente cometeu suicídio entre os índios Krahô.

c) Cildo Meireles: inspetor do Serviço de Proteção aos Índios.

d) Ruth Benedict: orientadora da pesquisa de Buell Quain, na Universidade


Columbia, em Nova Iorque.

e) Heloísa Alberto Torres: diretora do Museu Nacional do Rio de Janeiro.

f) Ângelo Sampaio: delegado de polícia na cidade de Carolina.

g) Eric P. Quain: pai do jovem etnólogo e suicida americano, médico.

h) Thomas Young: missionário americano instalado com a mulher em Taunay, Mato


Grosso.
i) Charles C. Kaiser: cunhado de Buell, casado com Marion.

j) Charles Wagley: amigo de Buell Quain, estudante e orientando de Ruth Benedict.

k) Ruth Landes: amiga de Buell Quain, estudante e orientanda de Ruth Benedict.

l) William Lipkind: amigo de Buell Quain, estudante de etnologia e orientando de


Ruth Benedict.

m) Fannie Dunn Quain: mãe do jovem etnólogo e suicida americano, médica.

n) João: índio que testemunhou a morte de Buell Quain.

o) Ismael: índio que testemunhou a morte de Buell Quain.

p) Professor Castro Faria: ilustre antropólogo nascido em São João da Barra e que
também conviveu com Buell Quain.

r) Lévi-Strauss: ilustre antropólogo belga, mas erradicado na França que conviveu


com Buell Quain.

6.1 Agora é a sua vez!

T1. A partir da leitura da obra Nove noites, é INCORRETO afirmar que:


A) O relato do narrador-jornalista desdobra-se em três tempos diferentes articulados
pelo enigma da morte de Buell Quain.
B) O narrador-epistolar apresenta uma escrita fidedigna com relação aos
depoimentos do antropólogo americano.
C) O engenheiro sertanejo escreve em meados dos anos 40, quando pressente a
iminência da própria morte e relembra as “nove noites” em que estivera com o
etnólogo.
D) O jornalista que escreve em 2002 não é o único a ocupar a posição de narrador.
E) n.d.a.

T2. Todas as alternativas apresentam características de Nove noites, de Bernardo


Carvalho, EXCETO:
A) Virtualmente, o “você” a quem a carta se dirige inclui não apenas o esperado
amante de Quain, como também qualquer um que esteja em posição de lê-la.
B) Nessa narrativa tudo é ou se torna suspeito; todas as personagens aparentam
saber mais do que dizem e toda a investigação parece estar fadada a não descobrir
e sim e encobrir.
C) O narrador-jornalista é o único personagem que apresenta um discurso
verossímil, isento de suspeitas e de motivos secretos.
D) Esse romance retrata a morte violenta e inexplicável que se impôs o jovem
antropólogo Buell Quain.
E) n.d.a.

T3. Com base na leitura de Nove noites, de Bernardo Carvalho, é INCORRETO


afirmar que, nessa obra, a linguagem:
A) Reflete uma alternância de fragmentos jornalísticos e tons memorialísticos.
B) Manifesta-se através de tempos que coexistem, num ritmo quebrado e não linear.
C) Apresenta-se em diversas passagens como descritiva e objetiva.
D) Afirma-se na teatralidade que veicula o comportamento das personagens.
E) n.d.a.

T4. A partir da leitura da obra Nove noites, de Bernardo Carvalho, é INCORRETO


afirmar que:
A) O suicídio de Buell Quain trata-se do ponto de partida dessa narrativa: um caso
trágico, perdido nos anos e na memória.
B) O autor insere fotos e personagens da década de 30 na história, como
pessoas reais e de um fato real e registrado.
C) Buell Quain é personagem do mundo real, etnólogo reconhecido que deixou
estudos antropológicos e documentação importante sobre a língua Krahô, falada por
indígenas brasileiros.
D) Buell Quain conviveu com os mais ilustres antropólogos que lhe foram
contemporâneos, como o Professor Castro Faria e Lévi-Strauss.
E) n.d.a.

T5. Sobre a narrativa Nove noites, é INCORRETO afirmar que:


A) Os três tempos do relato do narrador-jornalista não absorvem aspectos que
marcam a vida do antropólogo americano.
B) Em seu primeiro parágrafo uma advertência ao leitor ou ao pesquisador que
decidiu investigar as razões do suicídio do antropólogo: trata-se de um território do
indiferenciado, em que falso e verdadeiro combinam.
C) O narrador-repórter, em busca de respostas sobre a morte de Quain, entrevistou
parentes e antropólogos, pesquisou documentos e concluiu que imigrar do
jornalismo para a ficção era uma saída honrosa.
D) Ao procurar traços da identidade de Quain, o narrador-jornalista expõe a própria
intimidade e os mecanismos da criação literária.
E) n.d.a.

Capítulo 8
Marília de Dirceu

(Tomás Antônio Gonzaga)

Resumo por palavras

1. Poesia; 2. Arcadismo; 3. Amor; 4. Exílio; 5. Casamento impedido; 6. Tragédia


amorosa; 7. Segmentos (três); 8. Liberdade; 9. Prisão; 10. Inconfidência; 11.
Exílio; 12. Moçambique.

A presente leitura obrigatória da Fuvest, em linhas gerais, expõe as figuras de


Maria Doroteia Joaquina de Seixas Brandão e a do próprio autor. Para tanto, é
preciso reconhecê-los nos pseudônimos Marília e Dirceu, respectivamente.
Embora pertencente à estética arcadista, destaca-se em Marília de Dirceu o
tom amoroso assumido por seu autor, mormente em seu segundo segmento. Como
explicação a esse fenômeno, que será amplamente abordado durante o
Romantismo, tem-se o fato de que Tomás Antônio Gonzaga foi exilado
compulsoriamente para Moçambique. Sob a acusação de fazer parte da
Inconfidência Mineira, Gonzaga foi separado de sua noiva Maria Doroteia, a qual
ficou no Brasil.
Já em terras moçambicanas, Tomás Antônio Gonzaga reconstruiu sua vida ao
se casar com dona Juliana de Sousa, filha de um traficante de escravos muito rico.
Enquanto isso, Marília (a ex-noiva Maria Doroteia) aguardava ansiosamente pelo
retorno do noivo, perambulando pelas ruas de Vila Rica, até os seus noventa anos
de idade. Nesse sentido, um tom dramático subjaz às cenas amorosas.
A obra Marília de Dirceu pode ser segmentada em distintas partes. Na
primeira, publicada em 1792 e contendo trinta e três liras, comparece a liberdade
enquanto tema a ser abordado prioritariamente ao longo dos poemas. Além disso, o
eu lírico e pastor Dirceu exalta a sua própria pessoa tomando como parâmetro a

riqueza que possui, a inteligência que manifesta e a beleza que transparece. O eu


lírico exalta também a beleza física de sua noiva, a pastora Marília.
Cumpre salientar que o cenário da obra é plenamente bucólico e, no que
tange à forma dos poemas, tem-se a estética árcade representada pela presença do
pastoralismo, a simplicidade formal, o apreço aos valores da cultura Greco-romana e
pela defesa de alguns lemas tão caros a essa escola literária (Aurea mediocritas,
Inutilia truncat, Fugere urbem, Locus amoenus, Fugere tempus e Carpe diem).
Na segunda parte, publicada em 1799 e composta por trinta e oito liras, tem-
se, como pano de fundo, a prisão de Gonzaga, acusado de ser um dos membros
participantes da Inconfidência mineira. Ao longo dos poemas, autobiográficos, o eu
lírico deixa perceber o pessimismo, a melancolia e, principalmente, a saudade que o

invade pela ausência de sua amada, dentro dos limites impostos pelo Arcadismo.

No entanto, vê-se que, a essa altura da obra, a objetividade cede lugar ao


subjetivismo, revelando um poeta amargurado e triste, fato esse que pode ser

tomado como pré-anúncio do Romantismo. Aqui, o cenário é comparável a uma


masmorra funérea, diga-se de passagem, bastante distinta em relação ao bucolismo
continuamente empregado pelos poetas árcades.
Por fim, na terceira, publicada em 1812 e composta por nove liras e treze
sonetos, aborda-se o exílio do autor (Dirceu) em Moçambique. Isso porque, embora
estivesse casado com dona Juliana de Sousa e tendo recebido uma nova
oportunidade de vida em outro país, Tomás Antônio Gonzaga continua pensando,
sentindo saudade, ponto alto dessa parte, e escrevendo por Marília.

Quadro geral dos poemas


Primeira parte – Lira I O eu lírico manifesta a sua paixão por Marília
ainda que utilizando palavras singelas.
Embora seja um campesino, nega, por outro
lado, ser um pastor qualquer, isso porque os
seus bens estão a serviço da troca a qualquer
momento, se obtido o amor da amada.
Primeira parte – Lira II Descreve-se a singularidade de Marília, em
função de sua beleza e de seu corpo feminino.
É confessada também uma admiração que
sente pela amada, já que o eu lírico foi ferido
pela seta do Cupido, ou seja, está
completamente apaixonado.
Primeira parte – Lira III O eu lírico se dedica a falar sobre os Deuses
do amor: Jove (Zeus disfarçado), Vênus e
Afrodite. Para Dirceu, o amor é sentimento
único para os que o estão vivendo, ainda que
seja dedicado à perfeição e aos valores, até
mesmo para os Deuses.
Primeira parte – Lira IV Cita-se que ninguém pode se livrar de sentir
amor, ainda que exista alguém frio e bruto, um
dia essa pessoa será invadida por esse
sentimento e, inevitavelmente, será vítima das
artimanhas de Cupido.
Primeira parte – Lira V O eu lírico confessa existir um lugar que
deixou de ser mera pastagem, com seus
pastores e rebanhos, desde que ele, não
sendo mais a mesma pessoa, conheceu
Marília e, por isso, o lugar passou a ser
singular por seu encanto e tranquilidade. A
natureza se torna, assim, uma representação
da amada.
Primeira parte – Lira VI Cita-se um momento difícil pelo qual passa
Alceste, em uma época de guerras em que o
povo também está lutando por direitos, e esse
filho perdeu a herança que o pai deixara-lhe
em um jogo de dados. Em seguida, sob o
argumento da livre escolha, Dirceu diz preferir
ver Marília e, com tal ação, alegrar-se e
esquecer do que está ocorrendo, enquanto a
vê.
Primeira parte – Lira VII Projeta-se Marília em uma superioridade,
quando comparada aos lírios, jasmins, rosas,
pérolas e corais. No entanto, ainda maior é o
amor que Dirceu sente e que também é capaz
de vencer a tudo. Uma vez mais, singulariza-
se a amada, agora, por sua cor, já que nem as
do céu seriam suficientes para retratá-la. Por
fim, pede o eu lírico que o amor entre na vida
dos dois e que ninguém seja capaz de
enfrentar esse sentimento tão intenso.
Primeira parte – Lira VIII Utilizando diversas comparações, o eu lírico
questiona a amada pelo fato de não querer
amar. Ambienta-se um momento difícil na
relação e, por isso, a tentativa de convencê-la
que amar é um processo natural à vida. Para
tanto, exemplifica-se com vários animais, em
destaque aos peixes. Ou seja, mesmo em mar
bravio, eles se amam. Procura-se entender o
porquê de Marília se isentar do amor, já que
ninguém pode se privar desse sentimento. Por
fim, Dirceu exige que Marília desista de resistir
a amar.
Primeira parte – Lira IX Uma vez mais, Dirceu confessa em seus
versos uma declaração de amor para Marília,
contudo o poeta receia que a amada não
corresponda a esse sentimento amoroso.
Primeira parte – Lira X O eu lírico luta contra o amor que sente por
Marília, não obstante é em vão, pois o
sentimento não será vencido. Dirceu cogita
que cada um deveria ter um pouco de tirania e
rudeza em si, em uma imaginária forma de
não se entregar a sentimentos. Revela-se que
Marília é inconsciente do que causa ao poeta,
embora sua beleza e aparente inofensividade
sejam eficientes golpes ao coração dele. Em
suma, a luta é inútil, pois a razão sucumbe ao
sentimento.
Primeira parte – Lira XI Em relevo, por meio de intertextualidade,
apresentam-se valores e elementos da cultura
clássica.
Primeira parte – Lira XII O eu lírico entra em conflito com Cupido, ao
observar que o Deus está em um momento de
fragilidade. Ao vê-lo, Dirceu ira-se por se sentir
subjugado e, por isso, é iniciado um confronto
entre os dois, até que Dirceu saia vencedor e
se recolha da batalha, contudo a guerra ainda
é longa já que Marília sempre está entre os
contendores. E, dessa forma, a guerra não
tem fim, nem vencedor.
Primeira parte – Lira XIII Aponta Dirceu à amada Marília o risco que é
estar preso a alguém por sentimento. Em
citações várias às entidades mitológicas,
coloca-se também como herói capaz de
romper mares, ir ao inferno ou subir ao céu
por amor.
Primeira parte – Lira XIV Sob a influência da atitude “Carpe diem”,
Dirceu propõe à amada que esta aproveite
cada instante de sua vida, antes que a velhice
tome seu corpo e que, simultaneamente, a
formosura se esvaia juntamente com suas
forças.
Primeira parte – Lira XV Expõe-se a beleza física e inconfundível de
Marília. Dirceu se predispõe a qualquer ação
para ao menos obter uma das belezas da
amada. Ainda se comenta sobre o verdadeiro
amor, que não está relacionado a tesouros,
mas a bens que têm valor tanto na terra
quanto no céu. Dirceu relata a Alceu a pureza
de seus sentimentos por Marília. E, por fim,
afirma o poeta sobre os bens que valem sobre
a terra, e que têm valor no céu.
Primeira parte – Lira XVI Evidencia-se, mais uma vez, a quão bela é
Marília, sobrepujando as suas características
externas que a definem como mulher única.
Além disso, à sua beleza também coopera a
sua sensibilidade e calma.
Primeira parte – Lira XVII Relata-se que alguém irritou Marília e Dirceu
também se encontra no mesmo estado ao vê-
la dessa forma. Na continuidade, cita o poeta
em que todos os lugares há pessoas que
namoram e, por isso, ele se coloca sempre a
protegê-la, também de supostos rivais. Isso
porque, como ela é pessoa singular, todos os
homens a desejariam, e nenhuma mulher se
equipara. Embora Marília possa vê-lo galante
com outra mulher, tal ação é por mero
cavalheirismo, ou seja, não precisa a donzela
ficar enciumada pois ele já está sob a sua
posse.
Primeira parte – Lira XVIII Aborda-se principalmente a fatalidade da
morte e o poder do tempo. Dirceu exemplifica
colocando-se como um idoso, ao final da vida,
ante a impiedade do tempo, contudo Marília,
certamente, cuidará dele. Na continuidade, em
um olhar ao longe, Dirceu recordará do dia em
que conhecera Marília e, por isso, se comove.
Por fim, discorre o eu lírico que o tempo será
responsável por sua morte, contudo morrerá
feliz pois estará nos braços da amada, a qual
fechará os olhos do amado.
Primeira Parte – Lira XIX Apresenta-se a imagem de fêmeas com seus
filhotes, enquanto representação do amor que
sentem. Ainda que sejam animais irracionais,
e por isso sofrerem, são capazes de
reconhecer a prole. Menciona-se o cuidado de
uma mãe com o seu filho, em equiparação ao
que se tratou anteriormente, mas distinto pela
perspectiva de se ver a cria e tê-lo em sua
posse. Por fim, serve o mote enquanto
inspiração para um grande e único amor.
Primeira parte – Lira XX Reverencia-se a paisagem, o amor, e o
cuidado a ser tomado com a pessoa que se
ama. Por outro lado, acentua-se a dor,
questionando, para tanto, o choro e a
compaixão humanas. Isso porque a diferença
de idade entre os apaixonados gera em
Dirceu, bem mais velho do que Marília, uma
ansiedade.
Primeira parte – Lira XXI Demonstra o eu lírico estar preocupado ante
suas ações decorrentes do sentimento que o
toma, assim como sobre as noites
interrompidas. Segue o tom de desabafo e o
temor de não possuir a amada, já que a
família de Marília não concorda com o
casamento da jovem com um homem mais
velho e mais pobre. Por fim, aborda Dirceu
quanto ao ciúme que sente por ela e o temor
de perdê-la.
Primeira parte – Lira XXII Autoelogia-se o eu lírico, com uso de
metalinguagem, a sua capacidade de eternizar
a amada em suas palavras. Ainda refuta
outras belezas, mesmo avassaladoras, pois a
de Marília, embora simples, é melhor, já que
se tornara a musa do poeta. Apresentam-se o
presente passageiro, em que a beleza escapa,
e a eternidade poética das palavras.
Primeira parte – Lira XXIII Marília se diverte com a canção que Dirceu
toca para ela. Não obstante, Cupido, ao ver a
atitude da jovem, se irrita e diz que a canção
de Dirceu é a própria canção dele Cupido,
uma vez que ele é o mestre de todos os
apaixonados e, assim, evidencia que ela deve
valorizar o trabalho de Dirceu, já que é
inspirado no próprio nome dela.
Primeira parte – Lira XXIV Segundo Dirceu, Deus criou inúmeros animais
sobre a terra, nos rios e nos mares. Ainda, o
criador ofertou a possibilidade às criações de
sobreviverem por meio de suas próprias
armas. Ao homem, o Criador concedeu o
trabalho, a força e a persuasão, enquanto às
mulheres, além da inteligência e da forma
física, a beleza e a pureza, pois somente elas
podem mudar o caráter das pessoas. Na
finalização do texto, em alusão à cultura
grega, afirma-se que as mulheres podem tudo,
graças ao rosto que possuem.
Primeira parte – Lira XXV Apresenta uma luta entre Cupido e Dirceu,
tendo este último coração duro e difícil de ser
trespassado pela flecha daquele. Contudo, a
insistência da entidade se faz sucesso quando
as novas armas que manda buscar atingem o
peito do pastor que se apaixona por sua
pastora.
Primeira parte – Lira XXVI Evoca o eu lírico a natureza, contudo adota
uma postura defensiva ante a sua posição
social em comparação com a de Marília.
Retrata Minas Gerais, no século XVIII,
enquanto lugar pleno em amores proibidos e
sociedade absolutista monárquica.
Primeira parte – Lira Desvela o eu lírico, ao ensinar a sua amada,
XXVII habilidade pedagógica sobre a temática do
herói árcade almejado enquanto projeto
literário. Ganha relevo a comparação
estabelecida do verdadeiro herói, concebido
por Dirceu, e o guerreiro e vencedor
constituído pela História. Tem-se o heroísmo
não vinculado a figuras destemidas, capazes
de obter o que se pretende pela força, mas ao
sujeito que pode levar uma vida galante:
simples, justa e dedicada à amada.
Primeira parte – Lira Permanece o eu lírico a ressaltar a beleza de
XXVIII Marília em plena ocorrência de uma confusão
entres entidades mitológicas, Faunos, e o
deus Cupido, o qual se irrita constantemente
com tais criaturas.
Primeira parte – Lira XXIX Personifica-se o sentimento amoroso que, por
sua vez, convida liricamente o eu lírico a
abandonar a vida triste por uma plena em
sentimento amoroso.
Primeira parte – Lira XXX Enquanto a mãe do amor, Vênus, adormece,
Cupido a confunde, por vê-la à longa
distância, com outra pessoa. Na continuidade,
Cupido beija a deusa, pensando ser essa
Marília, e quando ela acordou mostrou-se
irritada, e o deus sentindo-se arrependido pela
ousadia, pede-lhe desculpas, alegando ser
fácil confundi-la por sua beleza à filha, Marília.
Primeira parte – Lira XXXI Em pleno desenvolvimento de uma atividade
emancipatória, o eu lírico apresenta juras de
amor à amada Marília, simultaneamente, ao
ato de falar de si, já que a beleza dela será
lembrada apenas porque ele, sob orientação
do deus do amor, foi o único capaz de cantar
essa feminina formosura.
Primeira parte – Lira Ao revisitar antigas composições, o eu lírico se
XXXII depara com textos avaliados como sem
delicadeza e, por isso, resolve atear fogo
neles. Não obstante, o “Deus Cego” o
questiona quanto a impossibilidade de o
passado ser apagado, bem como os amores
antigos, inspirados por Cupido, serem
esquecidos. Dirceu não quer ouvir as palavras
do “Deus Cego” (metáfora para o amor) e
alega que é o sentimento amoroso que gera o
fogo, o qual queimará as composições,
excetuando as que foram dedicadas à amada
Marília.
Primeira parte – Lira Pede Dirceu, valendo-se de metalinguagem,
XXXIII ao poeta e amigo Glauceste (Cláudio Manuel
da Costa) que cante e pinte a figura de
Marília. Não obstante, a reprodução fiel da
realidade, palavra e imagem, contraria, para o
eu lírico, aquilo que Marília o enquanto mulher
e pessoa.

Segunda parte – Lira I Sob o tom da tristeza, da ausência de


inspiração e da angústia, canta o eu lírico a
saudade que sente por Marília. Contudo, a
beleza dela está fixada na sua memória, só
saindo de lá, caso ocorra a morte dele. Nesse
sentido, tem-se claro que a distância do
grande amor aflora o desejo de tê-la próximo
novamente.
Segunda parte – Lira II Cumpre lembrar que o autor foi ouvidor e juiz
de Vila Rica antes de ser preso em 1789. Em
seguida, foi enviado ao Rio de Janeiro onde
ficou preso até 1792, ano que foi exilado para
Moçambique pela acusação de ser um dos
Inconfidentes. Sob a influência da
independência dos EUA e contrário ao
confisco da maior parte do ouro da colônia
brasileira, percebe-se que Dirceu se coloca
como um pastor abastado, cultivando o ideal
da vida campesina. No entanto, o tom do
discurso poético altera-se a partir do presente
segmento. Vive-se, agora, juntamente com
sofrimentos na cadeia, espaço que abre a
possibilidade de criação de uma série de
reflexões, que vão desde a justiça dos
homens, até o trilhar do destino e a dor de
amar Marília sem tê-la.
Segunda parte – Lira III Ganha destaque a angústia que se reflete
ante as contínuas mudanças testemunhadas
na vida e que ele, Dirceu, se encontra
injustamente em claustro. Por isso, o
questionamento feito a Marília quanto à
possibilidade de se mudar a sua sorte.
Cumpre ressaltar que Gonzaga, em 1799,
está preso, na Ilha das Cobras, Rio de Janeiro
e, portanto, longe de sua amada.
Segunda parte – Lira IV O eu lírico ressalta mudanças que vêm
percebendo ao longo do tempo, contudo o
amor sentido por Marília, permanece igual
apesar dos pesares. Para tanto, as imagens
das estações do ano são utilizadas enquanto
marcas de mudanças, mas que ao final do
ciclo completo, retornam ao ponto de início, ou
seja, a uma condição que se repete. Os
sentimentos por Marília são advindos das
lembranças que Dirceu possui dela. No
entanto, o pessimismo ante a injustiça a que
sente ter sofrido, a solidão e o incerto futuro
ganham corpo e o forçam à desesperança.
Segunda parte – Lira V Em referência à localidade em que se
encontrava preso, descreve o eu lírico o que
era parcamente visto por ele. Em tom
confessional aborda sobre a iniciativa do
governo português o prender pelo seu suposto
vínculo à Inconfidência. Alega que a prisão é
desconfortável e a imensa saudade que sente
de Marília, ansiado por sua saída e reencontro
com a amada.
Segunda parte – Lira VI Enquanto aguarda o seu interrogatório, em
que será defrontado também por seus
denunciantes e falsos amigos, a poesia
arrefece as mágoas do eu lírico e oferece-lhe
possibilidade de se evadir sentimentalmente.
Segunda parte – Lira VII O eu lírico pede socorro ao amigo Glauceste,
Cláudio Manoel da Costa, mas é ciente de que
ele não aparecerá montado em um pégaso
para eliminar, matar, a calúnia que o mantém
aprisionado. Em seguida, pede-lhe que cante
para Marília e cita Orfeu, um herói cujo canto
ajudou-o a entrar no reino de Plutão (ou
Hades), o Inferno, para salvar a sua amada.
Cita ainda Anfíon, um dos filhos de Zeus, que
cresceu entre pastores. Finaliza-se a lira com
a afirmação de Glauceste é tão bom, ou
melhor, no canto e na lira quanto esses heróis
e diz-lhe que para a salvação não é preciso
que enfrente nenhuma fera, basta que
conforte Marília e assim Dirceu também o será
consolado.
Segunda parte – Lira VIII Após inúmeras noites de primavera e de verão
sem rever a amada, o eu lírico assume a sua
condição de homem sem sorte, ansiando, não
obstante, pela possibilidade de estar diante de
Marília uma vez mais.
Segunda parte – Lira IX

Interpretação:
Esta lira narra os sentimentos de um homem completamente
sozinho, frustrado com saudade de sua Marília, e com
sentimento de injustiça, um temor do futuro e perspectiva da
morte rompendo constantemente o equilíbrio da vida. Como
todas as liras de Dirceu contempla a natureza e os costumes
de sua terra natal Minas Gerais.

Características do Arcadismo:
É utilizada um forma de linguagem cujos membros adotam
nomes poéticos pastoris, em homenagem à vida simples dos
pastores, em comunhão com a natureza. Destaca-se à forma
de vocabulário simples frases na ordem direta, ausência quase
total de figuras de linguagem, manutenção de versos
decassílabos, do soneto e de outras formas clássicas. Mostra o
Arcadismo quanto ao conteúdo pastoralismo, bucolismo,
convencionalismo amoroso, idealização amorosa,
racionalismo, idéias iluministas.

Características da Lira:
Encontramos aí as características românticas. O sentimento
da injustiça, da solidão. As convenções, embora ainda
presentes, não sustentam o equilíbrio neoclássico. O tom
confessional e o pessimismo prenunciam o emocionalismo
romântico. Nesta 2ª parte das liras, há o emprego do verbo no
passado: o poeta vive de lembranças e recordações passadas.
Segunda parte – Lira X O que me impressionou nessa lira foi a presença de um
certo diálogo, entre o cupido e Thomás sobre uma peça
pregada pelo cupido segundo ele Marília ja era de Thomás
só que ele tentou entrar para outros amores com outra
mulher, o que ele julgou obra do cupido.
O contexto histórico, ele ainda estava livre assim como na
ultima lira que comentei.
Características do Arcadismo:Idealização da mulher
amada e objetividade.Essas foram as que percebi.
Glossário> Açoite:s.m. Instrumento de tiras de couro para
punir,chicote.
Zombaria:s.f. Ato ou efeito de zombar,caçoada;troça.
Thiago Soares Silva; 1°E; N°37
Segunda parte – Lira XI Interpretação:
Nesta lira, o autor sita a mitologia greco-romana,
sita as fúrias. Diz para Marília que ele não
desperdiça a sua vida com bobagens. Diz
também que está cercado de não só das fúrias,
mas também de vários outros monstros. Que
os abutres o mordem, que sente vários abutres,
mas sente um dos mais cruéis que devora o seu
coração, o abutre da saudade de Marília.

Características do Arcadismo:
Usa-se termos simples em suas liras,
objetividade, idealização da mulher amada,
valorização da vida no campo, o uso de
pseudônimos com frequência.

Situação Histórica:
Passa-se em meados do século XVIII, Tomás
Antônio Gonzaga luta pela liberdade do Brasil,
para o Brasil deixar de ser colônia de Portugal.
Mas acaba sendo preso em uma ilha.
Segunda parte – Lira XII
A lira XII da parte II do livro Marília de Dirceu, de
Tomás Antônio Gonzaga, tem como tema as lembranças
e saudades do eu lírico. Durante toda a lira ele cita suas
lembranças do tempo que não estava preso, porém estas
citações são todas voltadas à Marília. Ele lamenta a
situação em que ele e Marília se encontram, separados,
dizendo que sente saudades de estar em sua companhia
e de seu amor. Porém, o eu lírico expõe suas saudades de
uma forma um tanto peculiar, pois ele visualiza uma
“visita” de Marília ao sítio onde costumavam ficar juntos
e a partir deste fato imagina o que ela veria ao passo que
explica suas saudades. Um outro momento interessante
dessa lira é quando ele fala da saudade que sente de seu
amigo Glauceste (na quarta estrofe), que é Cláudio
Manuel da Costa (introdutor do Arcadismo no Brasil),
também inconfidente. O estado de melancolia do eu
lírico é visível, principalmente, na última estrofe e no
refrão da lira, que pode ser causado não somente pelas
saudades que sentia, mas também pela injustiça a qual
foi submetido.

O bucolismo é utilizado na lira, porém, de forma


sutil, quando ele se lembra com saudades de seu sítio e
amigos (além de Marília, é claro!). Ocorre um uso
intenso da razão e a simplicidade na linguagem (inutilia
truncat) é visível, sendo esta a característica arcádica
mais presente nesta lira.
Tomás Antônio Gonzaga escreveu essa lira quando
estava preso e distante de sua amada, assim como em
quase todas as outras liras da parte II do livro. Tomás foi
preso em 1789, em regime de incomunicabilidade e por
esse motivo não soube do suicídio de Cláudio Manuel da
Costa, o qual cita em muitas de suas liras desta segunda
parte do livro. Nesta lira, o eu lírico revela um momento
de sua história onde sente angustiado pela separação de
Marília e seus amigos, além do horrível sentimento de
ter sido injustiçado.

Segunda parte – Lira XIII Na lira Tomás Antônio Gonzaga relata a


Marília sua esperança e alívio por estar preso.
Alívio porque podia está morto, como muitos que
participaram da inconfidência mineira, assim
como o cordeiro e o novilho citados na lira que
foram forçados à morte, sendo que nasceram
para serem livres. Gonzaga se sentia como José,
muitos também queriam sua morte, mas por
obra do Destino estava preso. Tomás tem a
esperança de que Este o ajude a sair livre,
inocente e triunfante apenas por defender seu
ideal, assim como José que ,aos poucos, se
tornou quase Rei do Egito.

Situação histórica

Estamos nos meados do século XVIII


( 1789), o Brasil ainda era colônia de Portugal e
sofria bastante com as enormes taxas de
impostos, violência e desrespeito. Cansados das
injustiças, o grupo que era liderado por
Tiradentes (Joaquim José da Silva Xavier) e
pelos seus confidentes, estando entre eles Tomás
Antônio Gonzaga, lutam para conquistar a
liberdade e a implantação de um novo sistema
republicano em nosso país junto com boa parte
da população. Porém não obteve sucesso,
resultando no enforcamento de Tiradentes e
prisão dos confidentes.
Segunda parte – Lira XIV Em tom melancólico o eu lírico se reporta a
laguem, Marília, que sente e chora por um
herói que n~çao resiste ao ferro e ao fogo,
muito menos ao muro.
Segunda parte – Lira XV Na Lira XV da segunda parte de Marília de Dirceu,
o eu lírico fala aberta e claramente sobre a perda
de seus bens que antes o colocavam em uma
condição social mais elevada. Os versos da
primeira estrofe "Tiraram-me o casal e o manso
gado,/ Nem tenho, a que me encoste, um só
cajado." explicitam toda essa perda e, não só isso,
deixam uma leve impressão de uma valorização
dos bens materiais (o que iria contra a filosofia de
vida aurea mediocritas: valorização das coisas
simples). Isso é logo explicado na estrofe seguinte,
onde fica claro que Dirceu só queria ainda ser
dono de um grande rebanho para ter o que dar à
Marília e que ele valoriza muito mais a amada que
qualquer riqueza. Outra situação enfatizada é a de
que Dirceu não se importava com as pequenas
perdas, já que podia estar perto de sua Marília,
porém, agora que tudo perdeu, ele nem sequer
pode vê-la, afinal de contas, um homem sem bens
não era considerado digno de cortejar a amada. O
eu lírico chega a atribuir ao Céu a não realização
de todos os planos que este havia feito para uma
vida com Marília. Até aqui a lira assumiu um
caráter melancólico, lamentoso até, que logo é
substituído por promessas que serão cumpridas
caso a Fortuna volte. Daí em diante, Dirceu se
mostra mais esperançoso e imerge em um mundo
de planos para um futuro simples, alegre e
promissor com a amada, que vai desde ovelhas
compradas fiadas à filhos. Termina coma
promessa de que viverão contentes desta sorte,
até que a morte os separe. Fica claro que, mesmo
em meio à esta situação desagradável, ele ainda é
capaz de sonhar, admirar Marília e aspirar à toda
uma vida com ela.
Segunda parte – Lira XVI Este poema, em minha opinião é um desabafo de Tomás
Antonio Gonzaga, onde ele retrata as suas terras e seus
trabalhadores que lá ficaram sem o seu senhor. Além de
mencionar a saudade que sente de Marília e de culpar o
Cupido e Jove por isso. E ele sofre por tudo isso e pelo
fato de não ter sua amada por perto.

CARACTERÍSTICAS DO ARCADISMO NA LIRA

Como sabemos, as características do arcadismo são a


linguagem simples, a exaltação da natureza, o
bucolismo, a igualdade, a mudança de nomes no poema
e etc... Na lira XVI encontramos as seguintes
características: a linguagem de fácil compreensão e se
estende até o pré-romantismo.

SITUAÇÃO HISTÓRICA

Nesta II parte de livro Marília de Dirceu, Tomás Antônio


Gonzaga está preso por estar envolvido na Inconfidência
Mineira. Ele está sofrendo e neste tempo na prisão ele
faz poemas se referindo a Marília, a saudade que sente
da moça e a dor de estar aprisionado.

Segunda parte – Lira XVII Essa é a Lira XVII da parte II de


Marília de Dirceu, de Tomás Luiz
Gonzaga. Nela podemos perceber
nitidamente algumas características
principais do arcadismo.
Há um forte intertexto entre a
lira e a mitologia grega : há menção
ao Cérbero, o cão de três cabeças
que guarda os portões do mundo
inferior, as parcas e às fúrias.
Na lira,Dirceu acaba de falecer,
e vai para o mundo inferior, onde as
almas são julgadas. Lá ele apresenta
sua história para os juízes dos
mortos, e todas as criaturas param
para escutar. Quando termina de
contar sua história, Dirceu vai para
os Campos Elísios, onde as boas
almas são recompensadas.
Na descrição dos Campos
Elísios há uma exaltação da beleza e
da pureza deste lugar, o que é
chamado de bucolismo, que também
é uma característica do arcadismo.

Segunda parte – Lira Nesta lira, novamente o autor, Tomaz Antonio Gonzaga,
XVIII falando como Dirceu, mostra seu amor profundo amor
por Marília e exalta a beleza da mesma, comparando-a a
deusa Vênus, da mitologia romana. E se mostra forte,
afirmando que não esta em prantos por não estar junto à
sua amada, e acrescentando que esta guardando a
tristeza.
Entre as características do arcadismo presentes nesta lira
estão a idealização da mulher amada e o uso de
pseudônimos.
Foi escrita na prisão da ilha das Cobras, a lira exprime a
tristeza e solidão de Gonzaga, há também o uso de verbos
no passado porque o autor esta falando de lembranças.
Glossário: masmorra= aposento triste; Jove= deus romano
equivalente a Júpiter ou Zeus na mitologia grega; Vênus=
deusa grega equivalente a Afrodite na mitologia grega.
Citações: contexto historico da lira baseado na analise do
site
Segunda parte – Lira XIX A Lira XIX retrata um fragmento de um amor que não
pôde ser concretizado, onde nesta fase, o eu lírico
encontra-se preso e distante de sua amada. Neste, o
poeta declara sua dor, suas tristezas, angústias,
sentimento de abandono e melancolias causadas pela
árdua saudade que sente de Marília. Pode-se notar que
Dirceu se encontra a deriva de suas forças, pois a dor
que sente está consumindo sua vontade de viver,
porém ao passo que suas vitalidades vão se esgotando,
estas são recobradas, através do Amor que o estimula a
viver e enfrentar a situação existente.
Características do arcadismo na lira:
As principais características do arcadismo são a
simplicidade da linguagem no contexto geral, frases na
ordem direta e ausência quase total de figuras de
linguagem, porém o poeta utiliza-se de algumas figuras
como no caso da prosopopéia em alguns versos,
quando atribui capacidades ao Amor que somente a
um ser vivo poderiam ser atribuídas.

Glossário:
Masmorra: Prisão subterrânea.
Semivivo: Quase sem vida.
Sepultura: Túmulo.
Vulto: Sombra, figura.
Enternecer: Comover; sensibilizar.
Pranto: Lamentação; choro.
Verter: Fazer correr; derramar.

Situação Histórica:
A 2ª parte foi escrita na prisão, os poemas exprimem a
solidão de Dirceu. Entende-se aqui que as
características pré-românticas estão mais presentes. O
sentimento de injustiça, solidão, da saudade de Marília,
o temor do futuro e a perspectiva da morte rompem
constantemente o equilíbrio clássico. O tom de
pessimismo prenunciam o emocionalismo romântico.
Nesta parte das liras, há o emprego do verbo no
passado: o poeta vive de lembranças e recordações
passadas.
Segunda parte – Lira XX QUE O TOMÁS ANTÓNIO GONZAGA FALA MUITO
DDO CABELOS DE MARÍLIA E QUE ELA É BELA,QUE
DEPOIS ELES VÃO COMER AI ELE FALA QUE
MARÍLIA O SOL SE POIS E VEIO A MEMÓRIA DELE
QUE ELE VIU A MARÍLIA NA JANELA ELE VAI
DORMIR AI ELE FALA QUE ELR QUER SONHOAR
COM A SUA AMADA PARA ESQUERCER DA SUAS
TRISTEZAS.

CARACTERÍSTICAS DO ARCADISMO NA LIRA


É QUE ELE É MUITO APAIXONADO POR MARÍLIA E
NUMCA QUER ESQUECER DA SUA AMADA.

GLOSSÁRIO
MASMORRA:PRISÃO SUBTERRÂNEA
CEDERA:ASSENTO OU BANCO
ENFADAR:ENFASTIAR,ABORRECER,AGASTAR-SE
ATAR:APERTAR ,AMARRAR,LIGAR,UNIR
OBSÉQUIO:FAVOR
Segunda parte – Lira XXI Esta lira, que pertence à segunda parte de Marília
de Dirceu, reflete o drama vivido pelo poeta
quando prisioneiro. Que estrofe comprova essa
afirmação?

3. Segunda estrofe, Dirceu refere-se a Glauceste.


Glauceste é o pseudônimo pastoril de que poeta?

4. Que tipo de competição havia entre Dirceu e


Glauceste?

5. Além de comporem versos as suas musas, o


que pretendiam o eu lírico e Glauceste? Que
versos justificam sua resposta?

6. Que ambiente contrasta com o cenário bucólico


do poema?

7. Do ponto de vista afetivo, por que podemos


afirmar que Glauceste monstra-se em
desvantagem? Que adjetivos melhor exemplificam
tal afirmação?

8. De que maneira o eu lírico faz passar a ideia de


que seus versos e os de Glauceste eram de
altíssima qualidade?

9. Exemplifique, com versos de Dirceu, três


características do Arcadismo.
Segunda parte – Lira XXII Interpretação: Certamente escrita da prisão, com
características pré-românticas, sentindo-se injustiçado e em
profunda solidão, fala da morte como seu breve futuro. Vive
também as recordações e lembranças passadas.

Característica do arcadismo: As
características dessa 2º parte das liras tendem para o pré-
romantismo, a todo o momento a emoção rompe a estilização
arcádica. Pela presença de saudade, ganha a sua poesia maior
dose de individualidade e naturalidade, podendo muitas liras
ser arroladas no pré-romantismo.

Característica do arcadismo na
Lira 22: O arcadismo aqui não está evidenciado, pois
nessa lira, escrita na prisão, tinha apenas como companhia a
solidão.

Glossário:
-Reputo: Considerar; Tomar em conta; Julgar;
-Crer Delitos: Crime; Transgressão; Violação.

Situação Histórica: Essa Lira foi escrita da


prisão da Ilha das Cobras. Na 2º parte de suas Liras, estão,
como muitos consideram, as melhores poesias de Gonzaga.
Nelas refletem a dura realidade que enfrentara, traduzindo o
estado de espírito do tempo que passou na prisão que traziam
doces lembranças de Marília.
Segunda parte – Lira Em tom de consolo 0o eu lírico se reporta a
XXIII amada para que essa não pragueje por sua
prisão já que a juystica cdeve realmente punir
os erros, contudo no caso dele, foi apenas
delação a um inovcente caluniadop e
denegrido, outrora acredita na possibilidade
de ser tido inocente.
Segunda parte – Lira Eu lírico em seus delírios, numa trova e luta com um
XXIV leão, que seria a vida se esvaindo anunciando a
morte" mas sem nunca esquecer de sua Marília"
Segunda parte – Lira Metaforicamente o eu lírico trata de um
XXV passarinho a quem foi roubada ovos e nhinho
em clara alusão a si mesmo, finge a chorar e
logo voa de tal lugar, contudo se uma vaca
perde na sua vitela vai atras de sua cria, mas
em poucos dias se esquece, e o tempo
também pode fazer o mesmo com marilia em
relação a ele Dirceu, contudo ele não poderá
dizer e fazer o mesmo.
Segunda parte – Lira Entre CONCEITOS DE cegueira e a visão, o
XXVI eu lírico reclama da sua sorte, POIS
MESMO HONRANDO AS LEIS DO IMPERIO,
SE ENCOBTRA PRESO, E CONFESSA A
MARILIA QUE SOMENTE ZEUSM,
DIRFARCADO COMO JOVE PODERIA
SABER DA VERDADE, POIS HÁ MUITOS
CEGOS E ASSIM, POR PARECER
DESGRACADO E QUE SE TORNAM MAIS
HONROSOS,
Segunda parte – Lira Na Lira XXVII da 2ª parte da obra Marília de
XXVII Dirceu, o eu lírico utiliza períodos curtos e faz
muitos elogios à sua amada, sendo eles
sensuais e com cores vivas, na qual a
aparência de Marília fica exaltada e com
brilho. O autor compara sua amada como a
mais formosa que o branco lírio, ou seja,
caracteriza Marília como a mais bonita. Ele
também elogia seus cabelos e seu belo rosto
afirmando que não existe nada comparável.
Marília também é apresentada como morena e
como loira, enfim, em todos os versos Dirceu a
elogia fazendo um lindíssimo retrato dela.
Nessa parte da obra, Dirceu foi preso por se
envolver na Inconfidência Mineira e foi
mandado para a prisão da Ilha das Cobras em
1789. Mesmo estando longe e saudoso de
Marília, o autor continua expressando seus
sentimentos a ela.
Segunda parte – Lira Em tom de advertência o eu lírico exige de
XXVIII um vil humano que o mesmo não o
prejudique, mas sim o mate logo.
Principalmente por ser portador de vevevo
entre os dentes que se econtram as
serpentes e assim por estar acostumado a
tal pratca, embora tambwem esteja a
morrer certamente
Segunda parte – Lira Em clara auto citação enquanto gentil
XXIX mancebo e loiro, o eu lírico exige que pare
de tanto sentir porque o peito esta cansado
, embora ainda assim louva marilia com um
instrumento, porem a dor não cessa e, por
fim, restitui apolo o instrumento para
continuar a falar dela.
Segunda parte – Lira XXX Em auto citação como pai das musas e pastor
loiro, Dirceu canta a marilia comm sua lira,
cujas cordas se elemam em notas ao ceu em
alusão aos cabelos da amada, os olhos que
fazem guerra a outros, na cova do sorriso, no
peioto ornado por cupido, e assim se co0mpoe
como musica a imagem de marilia.
Segunda parte – Lira Um poema triste, escrito por Tomás enquanto ele
XXXI estava preso, longe de sua amada. Essa lira foi escrita
após Tomás receber uma carta de sua amada o
liberando para viver sua vida, afinal, depois da Ilha das
Cobras, era certo que Tomás iria para outro lugar,
nunca mais para Minas. O sofrimento de Tomás, ao
escrever essa lira, é facilmente perceptível. É um
poema que demonstra o quando ele sofria por estar
preso naquela masmorra e acima disso, por estar longe
de sua amada, por não poder vê-la, não poder ver sua
face graciosa, seus cabelos soltos e suas mãos
mimosas. Apenas ver suas letras formando palavras de
adeus, pois não poderiam mais ficar juntos. No trecho
da lira a seguir, podemos identificar facilmente esse
sofrimento de Tomás:

“Não ouço as tuas vozes magoadas,


Com ardentes suspiros
Às vezes mal formadas.

Mas vejo, ó cara, as tuas letras belas,


Uma por um beijo,
E choro então sobre elas.

Tu me dizes que siga o meu destino;


Que o teu amor na ausência
Será leal, e fino.

De novo a carta ao coração aperto,


De novo a molha o pranto,
Que de ternura verto.”
Segunda parte – Lira A lira mostra todo o sofrimento ,dor e amargura de
XXXII Dirceu por estar preso e longe de sua amada , a dura
saudade que sente dela . Também demonstra a tristeza
de seus amigos e familiares por estar nessa dolorosa
situação . No entanto ,as lembranças que Dirceu tem
de Marília o fazem ,recobrar suas forças e resistir a
aquela terrível dor .
Segunda parte – Lira Dirceu começa falando sobre sua morte,
XXXIII não morte física, e sim morte de mente,
porém não foi ela (a morte) que
machucou seu coração, e que não sente
mais a vida. Fala para ela da injustiça,
da falsa acusação depravada, e da sua
inocência. Ainda não vê o lugar de sua
morte coberto pelo luto e cita o seu
estado físico mostrando fraqueza e
cansaço.

Arcadismo:

Nesta lira não encontramos muitas


figuras de linguagem por ser um lado
meio escuro da história. Dirceu está
sofrendo sem muitas esperanças. Porém
ainda encontramos a simplicidade na
linguagem e a divulgação de uma
sociedade mais igualitária e justa.

Situação histórica:
Em 8 de junho de 1789, no Rio de
Janeiro, no calabouço da Fortaleza da
Ilha das Cobras. Tomás Antônio
aguardava respostas sobre o seu
destino, fraco, magro, e sozinho, então
agarra-se ao seu amor por Marilia para
sobreviver e escreve-a liras que pensava
estar sendo entregue a sua amada,
porém não estavam pois sua família
impedia que as cartas chegassem a ela.
Dirceu estava entristecendo sempre
mais pois pensava que Marília teria
silenciado para ele, e Marília o mesmo,
pensava que seu amado teria esquecido
dela

Segunda parte – Lira Interpretação da lira:


XXXIV Ele esta falando sobre o que esta fazendo fora
do Brasil onde ele só consegue dormi com a
ajuda do Deus dos sonhos e o Morfeu, ele fala
sobre um sonho dele, onde pintava na igreja, e
pintavam seus amigos e fala que o seu amor ia
caindo em um leito feito flores caindo
suavimente, ele também pinta um quadro
retratando a paisagem do Bahia onde sente
saudades e pede desculpa a Marília por não
sonhar só com ela, e ele demonstra ter medo da
sua morte.
Segunda parte – Lira Em tom confessional, Dirceu alerta marpuilia
XXXV que caso ouça genidos tristes, serãom os dele
e que os acolha junto aos dela. Virão pelos
ventos a mando de cupido, já que o Céu é
contra o pastor. Nos lamentosos genidos se
encontram as perdas de Dirceu, mas um dia
talvez a verdade virá a tona, para livr=a-lo por
ser inocente, e quando isso acontecer se
rencontrarão um no abraço do outro.
Segunda parte – Lira Interpretação:
XXXVI Nesta lira Tomas fala para sua amada não se
preocupar, pois ele tinha à esperança de voltar e de
ficarem juntos.
Ele também cita a época em que trabalhou para o
governo (no segundo verso), e da sua participação na
Inconfidência Mineira.

Características do Arcadismo:
Linguagem simples, objetividade e convencionalismo
amoroso.

Comentário sobre a situação histórica:


Quando Tomas escreveu esta lira ele já estava preso e
com saudade da sua amada .

Glossário
Apreço: admiração, afeto.
Aspirar: desejar algo.
Infames: que tem má fama; vil; torpe.
Mosquete: é uma das primeiras armas de fogo usadas
pela infantaria entre os séculos XVI e XVIII.
Ré: mulher ou entidade demandada em ação judicial de
natureza cível.

Segunda parte – Lira Esta obra tem como base o reflexo de idéias do
XXXVII Iluminismo, o autor voltava-se para a racionalidade
e clareza. A Lira XXXVII tem a localização
geográfica da casa de Marília tornando o poema
mais realista pela citação do Estado de Minas
Gerais e da cidade de Vila Rica quebrando assim
a convenção árcade de natureza convencional da
Arcádia, é no entanto, um verso doce e
compreensivo de se ler. De início o eu lírico
mostra-se incomodado ao ouvir o passarinho
cantando, apesar de ser um lindo canto isso lhe
atormenta pois lhe faz lembrar de Marília. Ele
então segue dizendo o quão deslumbrante é esse
passarinho e por qual trajetória esse passarinho
percorre, onde acaba pousando-se ao pé da porta
de uma rasgada janela da sala, de onde Marília
está. O eu lírico a partir daí diz os gestos,
detalhes, suas feições e modos de Marília, para
bem conhece-la, '' O seu semblante é
redondo,/Sobrancelhas arqueadas,/Negros e finos
cabelos,/Carnes de neve formadas./A boca
risonha, e breve,/Suas faces cor-de-rosa ''. Dirceu
finaliza dizendo o que gostaria de dizer a Marília
ao '' pé do ouvido '', a quem queria ser dono, onde
é prisioneiro desta paixão e quer encontrar uma
saída para viver com sua amada, sem sofrimento e
sem dor.
Segunda parte – Lira Nesta lira Dirceu não é
XXXVIII destinada a Marília, só
pequenas partes que ele refere-
se a ela. Ele tras outras Deusas
como Astreia, que é
personificação da justiça, filha
de Zeus com Temis. A segunda
parte foi escrita na prisão, por
isso ele faz referência à outras
Deusas.
Gonzaga insulta tirandentes e
chama-o, até, de louco, pobre e
sem respeito. Além disso fala
sobre minas o que evidencia a
Inconfidência Mineira.
Quando ele fala sobre o bem tão
contingente e o bem já certo,
ele quer se referir a
independência e a Marília, ou
seja, ele não é tão pouco
esperto de trocar o certo pelo
duvido. No caso o "certo" seria
Marília e o duvidoso a
Independência.
Silvério dos Reis supostamente
fez uma denuncia que resultou
na prisão dos poetas Claúdio
Manuel da Costa e Alvarenga
Peixoto, além do Alferes
Joaquim José da Silva Xavier o
famoso Tiradentes e, claro, o
Antônio Gonzaga. Supostamente
Silvério dos Reis era
apaixonado por Marília e a
prisão foi uma forma de separar
Gonzaga de sua amada, porém
isso não foi páreo para que o
poeta abandonasse a obra
dedicada a sua amada, Marília.

Terceira parte – Lira I Esta lira faz alusão a vários contos e mitos da
história, por exemplo, quando ele fala do cisne se
refere a lenda de Leda a quem Júpiter possuiu
quando era um cisne, outro exemplo é Cleópatra
filha de Ptolomeu XIII e rainha do Egito, seduziu
sucessivamente a César e a Marco Antônio, quando
Marco Antonio foi derrotado por Otávio a rainha
suicidou-se, deixando se picar por uma cobra. Toda
a lira retrata momentos de traição, desencontros, e
de muita decepção, por fim o amor vence e ele se
arrende ao perdão dado a sua amada, ou pelo menos
o prometido perdão.

CARACTERÍSTICAS DO ARCADISMO:

Uma das mais exploradas características foi, sem


dúvida, a suntuosidade e, de certo modo, a
complicação, principalmente da forma exterior
(cultismo), além de perturbar a sinceridade e lógica
clássica. Daí o sentido pejorativo. Um dos
postulados básicos de Neoclassicismo é exatamente
a reação ao preciosismo e confusão do estilo
barroco, ou seja, o Neoclassicismo significou antes
de tudo, como a própria palavra explicita
um retorno ao equilíbrio, à simplicidade da
linguagem e de ideias da literatura. A imitação dos
modelos clássicos volta à tona, e a razão, mais uma
vez, tem dias de glória. Esse racionalismo, essa
fundamentação racionalista, na literatura
configurada na aceitação e volta ao pensamento e
cultura clássica. É explicito o bucolismo, onde o
autor regressa ao seu passado constantemente.

CARACTERÍSTICAS DA LIRA:

Esta lira tem uma linguagem estereotipada da


mitologia, do retrato da mulher ideal que, no fundo,
são decorrências do imperativo da razão e da
lógica. Temos manifestações pré românticas que
é fato incontestável o caráter transitório do
Arcadismo. Assim ao mesmo tempo em que se
busca o primado absoluto da razão, cultiva-se o
sentimento, a sensibilidade, o irracionalismo,
características tipicamente românticas. Falam de
amores, desenganos e traições, porém a figura da
pastora não mais se encontra presente com tanta
intensidade são dedicadas não apenas a Marília,
mas também a outras pastoras.

Terceira parte – Lira II Interpretação

Na lira II da terceira parte do livro Marília de Dirceu, Tomás


Antônio Gonzaga retrata o momento de sua vida, em que
Vênus ( deusa do amor e da beleza) como é definida Marília,
diz que sua amada deseja notícias suas saber. No poema fala
do filho que foge para os braços de sua mãe, onde ninguém
poderá encontrá-lo, pois todos pensam que a mãe não o quer
pelos aborrecimentos do passado, mas como uma fera, ela o
acolhe. Diferente não seria a fera protegendo sua cria.

Características do Arcadismo

As características do arcadismo são a oposição ao barroco que


faz uma proposta de linguagem simples, de frases na ordem
direta e de palavreado de uso popular, ou seja, o contrário das
pregações do seiscentismo. Os versos brancos que ao
contrário do Barroco, o poeta árcade pode usar o verso branco
( sem rima ) , numa atitude que simboliza liberdade na
criação, e a a poesia como imitação da natureza que os
árcades copiavam os modelos clássicos ou renascentistas,
numa flagrante falta de originalidade, o poeta buscava na
natureza, os modelos de beleza, bondade e perfeição.

Características do Arcadismo na Lira

Na lira possui uma linguagem mitológica como é citado,


Vênus ( deusa do amor e da beleza), mas não possui o
bucolismo como a maioria das liras no livro Marília de
Dirceu, e sim uma linguagem direta e que evita o
rebuscamento.
Terceira parte – Lira III Interpretação:
Na primeira e na segunda estrofe predomina o trabalho
escravo nas atividades econômicas, na terceira estrofe
predomina o trabalho pré-industrial na produção do açúcar e
do fumo.
Nas outras ele demonstra sua condição modesta, faz elogio
desta vida simples e tranquila que levara a dois. A felicidade
conjugal está evidente na “gostosa companhia”, ou seja, na
satisfação e no prazer que a amada levaria Dirceu.
Na ultima o eu lírico propõe que a beleza de Marília seja
eternizada. Em uma vida irreal de casados (o sonho do
casamento que ainda não se concretizou), o eu lírico não
enaltece só Marília, mas também a si próprio.
Essa lira está ligada a paisagem física e humana do Brasil
daquela época.

Características do Arcadismo na Lira:


As características do arcadismo presente na lira é a aurea
mediocritas(o culto da vida simples) e o pastoralismo que é a
exaltação da vida no campo.
Situação Histórica:
Foi escrita,provavelmente depois do seu degredo,pois não foi
encontrado nenhum relato histórico.
Terceira parte – Lira IV NTERPRETAÇÃO:essa lira fala mas do amor dele para com
ela, ele fala que ele se snte muito bem quando ele estar com
ela ,eles rinham e abracam e eles tem cada um o seu gosto.
Na lira Dirceu fala sobre um sonho que ele
teve com o amor e com a morte
Que eles andavam lado a lado. E a morte deu
um tiro no amor ferindo-o.
E que ele sofre pelo amor e pela morte. Dirceu
fala para Marilia que sua alma é atormentada
morte.

Terceira parte – Lira V A lira V da terceira parte do livro Marília de Dirceu é


muito parecida com a lira I da primeira parte do mesmo
livro e, por esse motivo, há que diga quem diga que esta
lira é a primeira versão da lira apresentada da parte I.
Há duas possíveis interpretações possíveis para a lira V,
quando pesquisamos sobre a lira, uma delas diz que ela
"teria sido composta no Brasil, embora seus versos
estejam dirigidos não a Marília mas a uma Nise" (como
proposto por Rodrigues Lapa/ fonte:
www.dominiopublico.gov.br/ );e, a segunda seria a de
que Nise poderia ser um outro pseudônimo pra Maria
Dorotéia. Porém em qualquer uma que seja a
interpretação, na lira o poeta traça seu perfil, assim
como na lira I (parte I), mostra desprezo por quem
contempla o dinheiro que nem mesmo seria de sua
propriedade, querendo demonstrar, ao mesmo tempo,
não ser assim. Deseja demonstrar além de tudo sua
humildade, caráter e amor.

O bucolismo não é encontrado na lira ( diferentemente


do que ocorre na lira I da parte I). A linguagem não é
rebuscada, é simples e utiliza um vocabulário de fácil
compreensão, além de haver a utilização de figuras
mitológicas no decorrer da lira.

Não se tem certeza sobre a situação histórica da lira,


mas acredita-se que possa ter sido escrita no Brasil,
segundo a primeira possível interpretação, ou quando
estava exilado já que não escreveu após seu degredo.

Terceira parte – Lira VI Interpretação: Envolve 8 liras que não


configuraram nas partes anteriores da obra e textos que teriam
sido escritos ante do envolvimento amoroso com Maria
Dorotéia. Nsta terceira parte, a autenticidade é contestada por
alguns críticos. A presença de Maria Dorotéia Joaquina de
Seixas - sob o nome pastoril de Marília - é fato. O lirismo
amoroso e idílico tecido à volta de uma experiência concreta -
a paixão, o noivado, a separação - é igualmente fato inegável.
O tema do livro é, pois, Marília, sinônimo de Amor - fonte
inspiradora do poeta, quer como mulher física e
concretamente sentida, quer como uma vaga pastorinha.
Características do Arcadismo: Temas
poéticos e pastoris utilizando de palavras simples, mostrando
um conteúdo pastoril, bucólico e amoroso.

Características do Arcadismo na
Lira: Nesta Lira, o arcadismo retoma seu lugar. Com uma
leitura vagarosa, você é capaz de passear nos bosques junto
com o autor, demonstrando também um ar bucólico.
Terceira parte – Lira VII INTERPRETAÇÃO

O poema VII da terceira parte Tomás Antônio Gonzaga


escreve a Marília para que deixe os campos e venha até
ele atravessando os mares. Ele pede a ela que seja
novamente a sua direção (segunda estrofe) e venha até
ele. E quando chegar ele irá dizer que não tem riquezas
mas que traz o seu maior tesouro que em minha opinião
é o seu amor.

CARACTERÍSTICAS DO ARCADISMO NA LIRA

Muitos não consideram os poemas da III parte como


realmente parte do livro porém, a lira VII ainda
apresenta as características do arcadismo como a
linguagem simples, a utilização das figuras mitológicas e
a caracterização de um lugar ameno onde eles irão se
encontrar (locus amoenos) que é típico dos poemas de
Tomás Antonio Gonzaga.

SITUAÇÃO HISTÓRICA

Não se tem certeza da situação histórica, mas


provavelmente foi escrita depois de seu degredo.

Terceira parte – Lira VIII Em clara alusão ao mundo dos sonhos, o


eu lírico se ve junto a amada em uma nau
em partida provavelmente da africa em
direção as cidades portuguesas , em vistas
do pai. Contudo ao acordar ve que não
possui a mada e não está em Portugal.
Terceira parte – Lira IX – A Lira IX (também intitulada A uma despedida)
A uma despedida da terceira parte do livro Marília de Dirceu traz
à tona um sentimento de tristeza do eu lírico
por ter de deixar a amada. Esse sentimento é
notável no decorrer de toda a lira. Logo na
primeira estrofe há uma comparação profunda
sobre o dia em que Dirceu teve de partir:
"Chegou-se o dia mais triste/ Que o dia da
morte feia", evidenciando assim o tamanho do
seu amor por Marília e o tamanho da sua
tristeza, uma vez que, para algo ser
considerado pior que a morte, tem de ser
realmente ruim.
A lira possui um refrão saudoso, que dá
ênfase ao descontentamento de Dirceu a cada
estrofe: "Ah! não posso, não, não posso/
Dizer-te, meu bem, adeus!"; vale reparar que,
no refrão, ele nega por três vezes a sua
capacidade de despedir-se. Neste poema o eu
lírico refere-se à amada como Dirceia; não
mais usa o vocativo Marília, como nas liras
anteriores. Entende-se que Dirceia é um nome
referente a Dirceu (de Dirceu). Na segunda
estrofe, o eu lírico descreve a separação como
um ímpio fado, um destino cruel, difícil de
suportar... Para ele, será como um castigo
ficar distante dos olhos da amada.
Na terceira estrofe, Dirceu toma a decisão de
partir sem vê-la, pois chega à conclusão de
que, nesse momento, o semblante de Marília
seria entristecedor aos olhos dele e, no refrão,
é reafirmado que ele não pode dizer adeus.
A partir da quarta estrofe é dado um destaque
especial aos olhos de Dirceia: olhos
engraçados, que transformaram os dias de
Dirceu, olhos divinos, olhos ternos e
sossegados, olhos tão profundos e
determinados que poderiam domar tigres
valentes... É desses olhos que ele não
consegue despedir-se, e é desses olhos que
ele sentirá falta.
Na nona estrofe, o eu lírico começa a usar de
uma ideia metafórica: diz que está partindo, e
que os suspiros dele irão buscá-la, porém,
talvez eles não cheguem, mas pede que, se
eles chegarem, ela os abrigue no peito, junto
com os suspiros dela. Isso pode ser
interpretado como uma súplica, um pedido
desesperado de que ela não o esqueça, mas
guarde-o no coração.
A última estrofe do poema vem com uma
pitada de esperança, amenizando o clima
melancólico e saudoso estabelecido até aqui.
É nesta estrofe que pode-se notar que Dirceu
ainda espera poder voltar a ver Marília, estar
junto dela, entre os suspiros que eles darão de
felicidade. Ele diz que, quando isso acontecer,
ela irá devolver-lhe seus suspiros. Os suspiros
podem ser entendidos, aqui, como a alegria
de viver: quando eles se reencontrarem, todo
o gosto pela vida que ele perdeu enquanto
estava longe da amada voltará.

Terceira parte – Lira X – Em tom de frustração amorosos, Diz o eu


Canção lírico que Alceu sofre por Elvira, mas esta
se oculta daquele que a ama ou,
inconsciente, ao rir para outro provoca o
ciúme e por isso é apontado por outros
pastores como modelo singular de amador,
fracassado.
Terceira parte – soneto I Podemos perceber neste soneto a presença
de pelo menos duas mulheres, ou seja, pelo
menos duas pastoras a quem Gonzaga se
refere.
Na primeira estrofe vemos que ele se refere a
Altéia, que segundo o autor, tem o rosto
gracioso e uma modéstia que não tem como
não levar em conta.Observa-se também que
Altéia é uma mulher cujo sua beleza e seu
modo de ser inspiram mais do que a beleza do
toque do vento no puro trigo:'' [...] As graças, a
modéstia de seu rosto/Inspiram no meu peito
maior gosto/Que ver o próprio trigo quando
ondeia.’’
Na segunda estrofe, Dirceu admite que algo
que Dircéia fez , acabou sujeitando-o a ela
novamente e, o eu lírico considera isso
engraçado, já que ele tinha a opção de não o
fazer.Nota-se que o eu lírico refere-se à
amada como Dircéia; não mais usa o vocativo
Marília, como nas liras anteriores. Entende-se
que Dircéia é um nome referente a Dirceu (de
Dirceu).
Quando analisa-se as duas últimas estrofes
vê-se que o poeta termina seu soneto
demonstrando seu desespero e por último
fazendo uma súplica ao Cupido, pedindo-o
que resolva sua situação, separando o casal
definitivamente ou unindo-os como
simplesmente um.

Características:

Observa-se neste soneto a presença de duas


características árcades distintas:
Imitação dos antigos, onde os greco-romanos,
que são considerados modelos perfeitos de
equilíbrio, beleza e simplicidade são imitados,
diretamente ou através do Renascimento.
Essa imitação diz respeito aos temas, ao uso
da mitologia como podemos ver no seguinte
verso ‘’ Cupido, se tens dó de um triste
amante [...]’’ e, sobretudo às regras de
composição, que devem ser rigorosamente
cumpridas (versos decassílabos e a rima
optativa).
Distanciamento amoroso, onde a mulher é
vista como um ser superior, inalcançável e
imaterial.

Comentário sobre a situação histórica:


Não se têm muitas informações com relação à
última parte do livro Marília de Dirceu, já que é
uma publicação confusa, pois não se sabe ao
certo quem a escreveu.
O que podemos levar em conta é que esta
parte foi escrita após o exílio do poeta para
Moçambique devido sua participação na
Inconfidência Mineira. Apesar dos sofrimentos
passados na prisão – conforme os tristes
versos escritos no cárcere -, Gonzaga levou
uma vida quase normal, casando-se,
enriquecendo e envolvendo-se na política
local. O poeta casou-se com a filha de um
comerciante de escravos chamada Juliana de
Sousa Mascarenhas, de 18 anos, o que é
muito contraditório já que este era contra a
escravidão. O que se pode garantir é que
Gonzaga não deixou apenas sua prole, suas
liras e seus sonetos, o grande Dr.Tomás
Antônio Gonzaga e o pastor Dirceu deixaram
para nós um enigma, que cabe a cada um
resolver.

Terceira parte – soneto II Interpretação


Neste Soneto, Gonzaga dava saltadas de
férias na casa de seus irmãos e tios, que
moravam no Porto. Nota-se que nos primeiros
versos:
“Num fértil campo do soberbo Douro
Dormindo sobre a relva, descansava...”
O eu lírico demonstra-se satisfeito por estar
em meio de sua família e estar descansando
em um produtivo campo, que no soneto não
deixa bem claro em qual campo, por isso inicia
utilizando o termo informal “Num”.
Ele cita também a felicidade material como a
Fortuna que lhe chega às mãos, como nos
versos:

“Quando vi que a Fortuna me mostrava,


Com alegre semblante o seu tesouro”.
Nos últimos versos pode-se perceber que o
autor cita o termo “ventura”, ou seja, logo nota
que sua sorte “Nunca chega a passar de ser
sonhada”.

Características do Arcadismo e da Lira


Pode-se notar que neste Soneto as
características estão menos presentes do que
nas liras anteriormente. Porém algo que
permanece presente são os fatos citados da
natureza como a felicidade, a beleza e a
tranquilidade no campo.
Nota-se também que o autor tematiza uma
situação convencional, assim como outros
poetas árcades, como o uso de termos Greco
Romano e Renascentista.
Assim, nesse Soneto, pode-se observar que
aos poucos Dirceu vai esquecendo Marília, e
mais adiante por não ter seu amor começa a
imaginá-la como se a tivesse.

Comentário sobre a situação histórica


A terceira parte da obra Marília de Dirceu, de
Tomás Antônio Gonzaga não é muito
esclarecida, pois nessa parte da obra o autor
sente muitas saudades de sua amada, pois
nunca pode tê-la. Portanto Marília, presente
ou não, povoa o cotidiano de Dirceu, já que o
mesmo a cultiva em seus pensamentos. Há
indícios de que alguns de seus sonetos foram
feitos depois de ter sido libertado em
Moçambique. Mais tarde casa-se com Juliana
de Souza Mascarenhas, filha de um traficante
de escravos, com quem tivera dois filhos.

Terceira parte – soneto III Interpretação


Esta análise do Soneto 03, é um dos sonetos mais
compreensivos de Dirceu. Está claro que este
soneto foi elaborado a respeito do fim de toda sua
história amorosa com Marília, onde ele lamenta
por ter se iludido a respeito desse amor que foi
impossível, onde continua a exaltar a beleza
grandiosa por sua amada, demonstrando ainda
emoção e sentimento por ela. O eu lirico segue
dramaticamente triste, dizendo que ao menos
conheceu quem não deveria ter se apaixonado, ou
seja, pelo menos toda essa história de amor lhe
serviu como lição, a quem pensava pôr-lhe as
mãos em uma prazerosa pessoa inocente e
sossegada. '' Enganei-me, enganei-me –
paciência!/ Ao menos conheci que não devia/ Pôr
nas mãos de uma externa galhardia/ O prazer, o
sossego e a inocência. '' Enganado ainda Dirceu
diz dessa crueldade que está passando por estar
ainda envolvido nesse romance, mas que apesar
de estar mal, a quem ele desistiu supõe-se que
quem sairá perdendo será Marília, por não ter se
comprometido a esse amor verdadeiro.

Características
Exalta-se principalmente e logicamentente a
tomada de posição retratada a uma verdadeira
repulsa aos excessos preconizados pela arte
barroca. Dessa forma, os representantes árcades
optam pela simplicidade, pela ordem direta da
linguagem e pela clareza. Partindo do pressuposto
de que a simplicidade se revelava como elemento
preponderante, outras características demarcaram
a arte neoclássica, notadamente expressa
pela arte greco-romana, considerada modelo de
perfeição, equilíbrio, beleza e simplicidade,
exercendo forte influência aos moldes
neoclassicistas no que se refere à temática, às
regras de composição e ao predomínio de figuras
mitológicas.

Comentário sobre a situação histórica


Podendo levar em conta ao que sabemos sobre a
ultima parte do livro é que foi escrita sobre a ajuda
do poeta Moçambique. Sobre minha concepção é
que por toda a trajetória da vida de Dirceu fez com
que mesmo com uma certa idade já elevada, lhe
fez refletir e amadurecer sobre esse romance tão
impossível, onde muda de idéias e pensamentos
sobre Marília. É no entanto um certo mistério sua
essa situação histórica final do livro, mas ao meu
ponto de ver, interessante.
Terceira parte – soneto IV No soneto 04 Dirceu fala que ainda que Laura
esteja ausente a chama há de acender no peito do
amante. Gonzaga ver coisas ele se sente sozinho
e na segunda estrofe ele fala que tudo o que ele
esta vendo não se passa de uma ilusão. Ele não
consegue esquecer sua nova paixão, de qualquer
formar ele tenta lembrar o rosto de Laura .

Característica:

No soneto Gonzaga abusa do uso da linguagem


simples. Ele foi bem direto na ideologia de Laura
sua amada.

Situação histórica:

A única coisa que posso falar é que na época


Tomas havia sido deportado para a
África ( Moçambique).
Terceira parte – soneto V Interpretação:
Ele faz uma concordância com o tempo que ele
passou na prisão e com a saudade de sua bela
Marília, ele fala de traições, desenganos, amores
não correspondidos, que inclusive não são mais
dedicados somente a Marília que já não aparece
com tanta freqüência. Essa parte parece evidenciar
uma tentativa de superação por parte de Dirceu.

Características do arcadismo:

É utilizada uma forma de linguagem poética


pastoris, em homenagem à vida simples dos
pastores, em comunhão com a natureza. Destaca-se
à forma de vocabulário simples frases na ordem
direta, ausência quase total de figuras de
linguagem. Mostra o Arcadismo quanto ao
conteúdo pastoralismo, bucolismo,
convencionalismo amoroso, idealização amorosa,
racionalismo, idéias iluministas.

Característica da lira:
Características românticas. O sentimento da
injustiça, da solidão. O tom confessional e o
pessimismo expressam o emocionalismo
romântico. Nesta parte há o emprego do verbo no
passado: o poeta vive de lembranças e recordações
passadas.

Situação Histórica:

Na terceira parte provavelmente o autor a escreve


após o exílio, e retrata um momento de desapego
com a vida, de busca por uma motivação.

Tewrceira parte – soneto Em pedido às pedra para que esta mostre a flor
VI de açucena em atenas, pede o eu lírico para
beijar a mão daqulea que removeu a saudosa
idolatria e assim libertyo da morte ve-se mai
próximo do colo de uma alma que protesta pela
morte de Maria.
Terceira parte – soneto A partir da terceira parte há uma quebra na linha de
VII raciocínio e acontecimentos que se desenvolve no
decorrer do livro Marília de Dirceu. Nesse soneto o eu
lírico faz referência a uma mulher chamada Lidora, a
qual não podemos afirmar com certeza se veio depois de
Marília ou antes, mas a meu ver foi depois de ter sido
exilado e consequentemente separado de sua amada,
porém não creio que esta seja a mulher com a qual se
casou, que conheceu depois de um bom tempo longe de
Marília. Este soneto nos revela claramente uma
desilusão amorosa do eu lírico, onde ele chama Lidora
de traidora e diz não acreditar mais nas mulheres depois
que esta o traiu, e, exatamente por ele escrever que não
acreditaria mais nas mulheres que acho que ele se
envolveu com Lidora depois de Marília, seu grande
amor.

Não se tem comprovações sobre a autoria desses


sonetos. Mas provavelmente, Tomás Antônio Gonzaga
escreveu-os após seu exílio, retrata um momento de
profunda tristeza.

As características do Arcadismo se existirem são


apresentadas de forma muito sutil, pois a única
característica marcante desse período que encontro
nesse soneto é a simplicidade na linguagem, onde não
ocorre do rebuscamento. Porém podem ser encontradas
algumas características de um outro período que é o
Romantismo.

Terceira parte – soneto ituação Histórica


VIII Foi escrita na prisão da ilha das Cobras, e os poemas
exprimem a solidão, neste Soneto, já não fala mais em
Marília.

Características do Arcadismo
As principais características das obras do arcadismo são:
valorização da vida no campo, crítica a vida nos centros
urbanos (fugere urbem = fuga da cidade), uso de apelidos,
objetividade, idealização da mulher amada, abordagem de
temas épicos, linguagem simples, pastoralismo e fingimento
poético.

Característica do Arcadismo no Soneto


Encontramos uma simplicidade neoclássica, ou seja, uma
dicção aparentemente direta e espontânea, cheia de imagens
graciosas e de alegorias mitológicas.
Terceira parte – Soneto Neste soneto, concluímos que ele relata sobre
IX uma história relacionada à alguém que iria ser rico
e com poder. Tomás Antônio cita que ele nascerá
em um berço com muita riqueza, onde teria coisas
que o rodam, dando ideia que seria possíveis
súditos. Ao citar sobre um tronco também há ideia
que ele está seguro porque o tronco representa
algo forte e confiável e que isso é uma natureza
deve acontecer. Ele que esse dever de seguir
pode ser muito mais que só obrigação apesar de
vim sangue, de família é bom, com virtude,
adorado e prezado.

Dirceu procura nos deixar a ideia continua que isso


é algo bom, plausível e que ter sangue de nobre
trás benefícios, e que essas coisas acabam
tonando pessoas imortais por seus legados. Dirceu
procura no soneto defender totalmente a ideia que
poder é algo muito importante, foca que é algo
extraordinariamente importante, riqueza que hoje
em dia é mais encontrado em forma de dinheiro
necessário. Um jeito plausível, no século XXI
poder e riqueza, algo que tem muita influência até
hoje, e que é reconhecido como status social,
posição em relação aos outros. E nos dias de hoje
conseguem indivíduos conseguem mais facilmente
conseguir riqueza que o poder, e que o poder de
hoje é mais consequência da riqueza porém é
mais alcançado como herança de família. Além do
ter herdado bens valiosos herdou trabalho de por
para frente ideias, e cuidar para que nada seja
acabado apenas seja mantido, reconhecido e
jamais esquecido.

Uma característica do texto que Tomás Antônio


tem é a facilidade do entendimento. Quando ele
cita palavras simples, claro que percebemos um
toque de exagero ao relatar sobre bens e
influências, mas ele também procura focar na
família ao relatar sobre tronco com o intuito de
mostrar a importância. E sempre procurando
buscar o duplo sentindo em relatar coisas sobre o
soneto, usando figuras de linguagem.

Tomás também não se preocupou em relatar


sobre importância da existência de sentimentos
necessários em seu soneto. Apesar de ter falado
superficialmente sobre família citando sobre o
legado e ideias que possivelmente trazidas, porém
foi o único tema que ele desenvolveu que seria
para valorizar as ideias familiares presentes no
soneto. Por último o soneto tem como intuito o
relato sobre o que está para acontecer, poderia ser
posto também como uma carta para alguém
relatando tudo que esse ser será e coisas que irá
realizar por obrigação, deverá fazer e coisas que
serão realmente boas, prazerosas, apesar de ser
posto como algo.
Terceira parte – Soneto X Neste soneto o eu lírico faz referência a uma
mulher chamada Lidora, deixa transparecer
sua indignação e revolta.Podemos perceber
claramente nesse soneto que o eu lírico sofreu
uma desilusão amorosa, e que ele deixará que
sua “vingança” seja feita por Deus.( Vingai, ó
justos céus..., mas ah!)
Características do Arcadismo
Consigo identificar à presença do pastoralismo e
espontaneidade dos sentimentos.
Contexto histórico
Não é possível saber se essa mulher que o
soneto faz referência, teve algo com Dirceu
antes ou depois do exílio. Há dúvidas sobre a
terceira parte do livro, ou seja, não temos
certeza de quem escreveu-a.

Terceira parte – Soneto Interpretação/ Situação Histórica:


XI
Dirceu está se despedindo da sua terra, da sua
vida aqui no Brasil, pois à possibilidade de que
neste soneto ele esteja a caminho de
Moçambique na África, pois ele despede-se
também da sua linda e amada pastora, sua
Marília. Fala do seu "destino consagrado", que
pode ser interpretado como a sentença que lhe
foi imposta, que se fosse perguntado algo sobre
ele, que ela não falasse nada .
Terceira parte – Soneto A princípio, o soneto traz uma linha de
XII pensamento melancólica e lamentosa. O eu
lírico afirma que, preso, ele não mais escutava
as vozes da razão, que estava esquecido dos
céus, dele próprio e dos homens. Então ele
diz que se viu sepultado nas trevas, por causa
do amor. Entende-se, nessa passagem, que a
tristeza dele é tão grande que pode ser
comparada às trevas. Na segunda estrofe,
Dirceu afirma que era ali que a sua
inquietação era aliviada, mesmo com alguns
gemidos (de dor) soltados às vezes. Logo
depois, o eu lírico reclama que o tempo o
transforma em uma pessoa infeliz, nas trevas.
A terceira estrofe traz um novo assunto: a
falsidade de Laura. O eu lírico vivia no escuro,
triste, sem escutar a voz da razão até que a
falsidade dela fez por ele, em um breve dia, o
que a razão não havia feito em um bom
tempo: libertou-lhe.
As questões que restam agora são "Quem é
Laura?" e "Por que a falsidade dela libertou-
lhe?". Deve-se levar em conta que essas são
duas questões difíceis de serem respondidas,
tanto devido à carência de informações sobre
essa parte da vida do autor quanto à
complexidade da linha de raciocínio do
mesmo. Laura é, segundo algumas fontes, um
pseudônimo usado para uma amante de
Tomás Antônio Gonzaga, Maria Joaquina
Anselma de Figueiredo. Há, até mesmo,
alguns pesquisadores e críticos que acreditam
ser esta a verdadeira Marília de Dirceu. Há
informações de que Maria Joaquina teria
afirmado que Gonzaga era pai de seu filho, o
qual o poeta não teria assumido. De acordo
com o contexto do soneto, Laura fez algo
realmente ruim que fez com que Dirceu
abrisse os olhos e se libertasse da prisão
analógica, vindo a gozar da liberdade, mesmo
que esta tenha vindo por meio da traição.
Quanto a esse acontecimento, não foram
encontradas fontes que o relatem, deixando-
nos assim a tarefa de imaginá-lo.

Características do Arcadismo e do soneto

Neste soneto, as características árcades já


estão bem mais apagadas que nas liras
anteriormente analisadas. No entanto, ainda é
notável uma certa valorização da razão: a
época em que ele não estava ouvindo a voz
da razão é considerada (indiretamente) uma
época de trevas. Como já foi dito antes, há o
uso do pseudônimo, usado, no Arcadismo,
para cortar relações com as origens nobres ou
plebeias das pessoas citadas. A linguagem
pode ser considerada simples, se comparada
ao Barroco. Não há nem exaltação da
natureza, nem referências aos seres da
mitologia greco-romana. Pode-se notar
também algumas características pré-
românticas, como o pessimismo (melancolia),
o emocionalismo e a valorização da liberdade.

Comentário sobre a situação histórica

A terceira parte do livro Marília de Dirceu é


uma publicação confusa, irregular e, por isso,
não muito trabalhada. Não é à toa que muitos
críticos se questionam se esta parte é
realmente da autoria de Tomás Antônio
Gonzaga, uma vez que há uma diferença
considerável entre as duas primeiras partes da
obra e a terceira. Esta última provavelmente
foi escrita após o degredo de Gonzaga devido
a sua participação na Inconfidência Mineira.
No final 1800, a Gazeta de Lisboa publicou
esta notícia: "Saiu à luz: Terceira parte da
obra poética Marília de Dirceu, composta por
Tomás Antônio Gonzaga.". Hoje em dia, esta
terceira parte está presente na maioria das
edições de Marília de Dirceu, porém, é a parte
do livro sobre a qual é mais difícil encontrar
informações.
Um aspecto a ser mencionado é que a ideia
que se tem sobre Marília é de uma mocinha
que, às vésperas de seu casamento (uma
semana antes), teve seu noivo levado preso e
esperou para sempre pelo seu retorno. Uma
das questões sobre o tema que mais levanta
discussões é a de que Maria Doroteia
permaneceu fiel ao amado pelo resto de sua
vida. Seria realmente possível? O fato é que,
exilado, o poeta casou-se com Juliana de
Sousa Mascarenhas, de 18 anos, com quem
teve dois filhos: Ana e Alexandre
Mascarenhas Gonzaga. Alexandre faleceu
solteiro, sem descendência, mas Ana teve
filhos de dois casamentos e há ainda hoje, em
Moçambique, numerosos descendentes de
Tomás Antônio Gonzaga.

Terceira parte – Soneto GLOSSARIO


XIII meguiava:a luz que meguia e bem mas forte do que os olhos
que mi cercam.
farte:bolo composto de açúcar de amêndoas,envolta em capa
de farinha:veio pão,farte trigo passado.
agouro:previsão do futuro baseado na observação de voo de
aves.
pio:intrumento de sopro ou assubio que imita o pio.

INTERPRETAÇÃO
nesta parte do soneto 12,ele esta falando que ele vai dar uma
vida melhor para os seus filhos e deixar a fortuna para cada
um deles ,e o que ele faz ele quer deixa para que os filhos e
os netos para sempre leva para sempre o que ele faz.

Terceira parte – Soneto Interpretação


XIV Na primeira estrofe, se fala a respeito de um
português que penteia a barba com grosseria.
Na segunda estrofe, é brevemente citada a história
de Nuno Álvares Pereira, um condestável que lutou
contra seus próprios irmãos, e a história de D. João
de Castro, que para conseguir reconstruir as
fortalezas de Diu, pediu um empréstimo aos
vereadores e juízes de Goa e para provar sua boa fé,
enviou sua própria barba junto com a carta.
Na terceira estrofe, fala de como as mulheres eram
protegidas, pela lei, do alvoroço das cidades, vistas
como sexo frágil.
Para concluir o soneto, Dirceu faz uma saudação às
pessoas e fatos que foram citados nas estrofes
anteriores, dizendo que assim eram as coisas na
época em que o reino era de Luso, e que isso se
perdeu.

Características do Arcadismo
O arcadismo neste soneto se faz bastante claro, pois
faz inúmeras referencias aos Lusíadas, pois todos
os heróis citados neste soneto - Nuno, João, Luso –
foram homenageados anteriormente no clássico de
Camões. Essa “imitação” de Camões, que era um
poeta da escola literária Classicismo, torna o soneto
completamente Neoclassicista.
Além disso, a sequência lógica que o soneto segue
se encaixa no Racionalismo, outra característica
árcade. A linguagem é simples e não apresenta
exageros e assim é composto o arcadismo no
poema.

Comentário sobre a situação histórica


A situação histórica desse soneto é bastante incerta,
feita basicamente de deduções, pois os sonetos não
têm uma cronologia certa, além do fato de que, para
muitos estudiosos essa parte não é sequer da autoria
de Gonzaga, pelo estilo deste poema é possível
deduzir a época mais provável em que foi escrito,
mas ainda assim não é uma certeza absoluta.
Assim, é provável que Gonzaga, a esta altura, já
havia superado sua enorme paixão por sua amada,
visto que Marília não é sequer citada no poema,
mas isso não quer dizer necessariamente que ele
tenha deixado de amá-la.
Também se pode deduzir que este soneto foi escrito
depois que Gonzaga foi libertado, na época que
morou em Moçambique e conheceu Juliana
Mascarenhas com quem teve dois filhos, Ana
Mascarenhas e Alexandre Mascarenhas.

Terceira parte – Soneto Este último, em poema dedicado a elogiar a reforma


XV promovida pelo Marquês na Universidade de Coimbra,
dizia: Ignoramos se o Marquês tomou conhecimento
dos versos encomiásticos a ele dirigidos por Cláudio
Manuel, deste poema e dos outros que lhe foram
dedicados.
Terceira parte – Soneto Utilizando da imagem de um pássaro que se lanca em
XVI seus primeiros vvos para fora do ninho, completa-se a
imagem de evolução ao conseguir se firmnar no pé e
segurar no bico um ramo. O corpo se enrijece e, assim,
anime-se também por igualdsade salício para que a
fama honre os altares.

8.1 Agora é a sua vez!

T1. 17. (UFPA) A pastora Marília, conforme nos é apresentada nas liras de Tomás
Antônio Gonzaga, carece de unidade de enfoques; por isso é muito difícil precisar,
por exemplo, seu tipo físico. Esta imprecisão da pastora:

a. é suficiente para seu autor ser apontado como pré-romântico.


b. é fundamental para situar o leitor dentro do drama amoroso do
autor.

c. reflete o caráter genérico e impessoal que a poesia neoclássica


deveria assumir.

d. é responsável pela atmosfera de mistério, essencial para a poesia


neoclássica.

e. mostra a intenção do autor em não revelar o objeto do seu amor.

T2. 33. (CENTEC-BAHIA) Assinale a alternativa correta.

"Minha bela Marília, tudo passa;

a sorte deste mundo é mal segura;

se vem depois dos males a ventura,

vem depois dos prazeres a desgraça.

Estão os mesmos deuses

sujeitos ao poder do ímpio fado:

Apolo já fugiu do céu brilhante,

já foi pastor de gado."

A única idéia não expressa pelo poeta, nesse texto, é:

a. a vida é breve e a felicidade inconstante.

b. os prazeres da vida vêm, sempre, seguidos da desventura.

c. os homens e os deuses estão sujeitos às mesmas leis.

d. destino determina a existência humana.

e. a existência é considerada sob o prisma da religiosidade.

T3. 35. (UFMG) Todas as alternativas, sobre Marília de Dirceu, estão corretas,
EXCETO

a. Em alguns poemas, contrapõe-se um passado feliz a um presente


doloroso.

b. Em determinados poemas, Gonzaga mescla à sua desgraça alguns


elementos de humor.
c. Na obra, a intensidade de sentimentos convive com um forte sentido
de realidade.

d. No conjunto da obra, Gonzaga tematiza tanto o seu amor por Marília


quanto a infidelidade dela.

e. No livro, uma das temáticas recorrentes é o amor inabalável do poeta


por sua musa.

T4. UFMS PASSE - 1ª Etapa 2021-2023

 Literatura
 Literatura brasileira
 Escolas Literárias
 Sugira

Leia o trecho de Marília de Dirceu, do poeta Tomás Antonio Gonzaga.

“Com os anos, Marília, o gosto falta,


E se entorpece o corpo já cansado:
Triste, o velho cordeiro está deitado,
E o leve filho, sempre alegre, salta.
A mesma formosura
É dote que só goza a mocidade:
Rugam-se as faces, o cabelo alveja,
Mal chega a longa idade.

Que havemos de esperar, Marília bela?


Que vão passando os florescentes dias?
As glórias que vêm tarde, já vêm frias,
E pode, enfim, mudar-se a nossa estrela.
Ah! Não, minha Marília,
Aproveite-se o tempo, antes que faça
O estrado de roubar ao corpo as forças,
E ao semblante a graça!”
(RONCARI, Luiz. Literatura Brasileira – dos primeiros cronistas aos últimos românticos. São
Paulo: Edusp, 2014. p. 265-266)

Na poesia árcade, era comum que os poetas retomassem temas que foram
cultivados pelos poetas da Antiguidade Clássica. Os lemas árcades
consistem na composição de expressões que remetem aos ideais da
valorização da simplicidade, aspecto importante dessa escola literária. Cada
um dos temas carrega um tipo de filosofia de vida.

Qual é o tema que o eu lírico desenvolve no trecho lido?


a)

Tempus fugit – fugacidade do tempo.


b)

Locus amoenus – exaltação de lugares amenos, tendo como única


preocupação a realização amorosa.
c)

Fugere urbem – abandono da conturbada e artificial vida urbana.


d)

Aurea mediocritas – viver com moderação, sem excessos, sem ambição.


e)

Inutillia truncat – afastar-se de todo apego material.

T5. 6. (UFRS - RS) Assinale a alternativa correta em relação a Marília de Dirceu, de


Tomás Antônio Gonzaga.

a) No livro, é estabelecido um contraste entre a paisagem, bucólica e amena, e o cenário da


masmorra, opressivo e triste.
b) Trata-se de um conjunto de cartas de amor, enviadas por Marília, de Minas Gerais, a
Dirceu, que se encontra em Moçambique.
c) Na obra, o pensamento racional é anulado em favor do sentimentalismo romântico.
d) Nas liras de Gonzaga, Marília é uma mulher irreal, incorpórea, imaginada pelo pastor
Dirceu.
e) Trata-se de um livro satírico, carregado de termos pejorativos em relação às convenções
da época.

T6. 20.(MACKENZIE/SP-2006) Tomás Antônio Gonzaga, outro


poeta árcade brasileiro, assim expressa o sentimento amoroso: Se
não lhe desse, / compadecido, / tanto socorro / o deus Cupido; / se
não vivera / uma esperança / no peito seu, / já morto estava / o bom
Dirceu.

Nesses versos, encontram-se índices que apontam para o fato de que


a poesia brasileira do século XVIII

I.preservou da cultura clássica as referências mitológicas.

II.adotou explicitamente o “fingimento” poético, ao desenvolver


motivos pastoris.
III. apoiou-se também em padrões métricos mais populares, como o
verso tetrassílabo.

Assinale:

a) se apenas a afirmação I estiver correta. d) se apenas a


afirmação II estiver correta.

b) se apenas a afirmação III estiver correta. e) se apenas as


afirmações I e II estiverem corretas.

c) se todas as afirmações estiverem corretas.


8.2 ENEM é difícil!

(Enem 2008)
Torno a ver-vos, ó montes; o destino (verso 1)
Aqui me torna a pôr nestes outeiros,
Onde um tempo os gabões deixei grosseiros
Pelo traje da Corte, rico e fino. (verso 4)
Aqui estou entre Almendro, entre Corino,
Os meus fiéis, meus doces companheiros,
Vendo correr os míseros vaqueiros (verso 7)
Atrás de seu cansado desatino.
Se o bem desta choupana pode tanto,
Que chega a ter mais preço, e mais valia (verso 10)
Que, da Cidade, o lisonjeiro encanto,
Aqui descanse a louca fantasia,
E o que até agora se tornava em pranto (verso 13)
Se converta em afetos de alegria.
Cláudio Manoel da Costa. In: Domício Proença Filho. A poesia dos inconfidentes.
Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2002, p. 78-9.
Considerando o soneto de Cláudio Manoel da Costa e os elementos constitutivos do
Arcadismo brasileiro, assinale a opção correta acerca da relação entre o poema e o
momento histórico de sua produção.
a) Os “montes” e “outeiros”, mencionados na primeira estrofe, são imagens
relacionadas à Metrópole, ou seja, ao lugar onde o poeta se vestiu com traje “rico e
fino”.

b) A oposição entre a Colônia e a Metrópole, como núcleo do poema, revela uma


contradição vivenciada pelo poeta, dividido entre a civilidade do mundo urbano da
Metrópole e a rusticidade da terra da Colônia.

c) O bucolismo presente nas imagens do poema é elemento estético do Arcadismo que


evidencia a preocupação do poeta árcade em realizar uma representação literária realista
da vida nacional.
d) A relação de vantagem da “choupana” sobre a “Cidade”, na terceira estrofe, é
formulação literária que reproduz a condição histórica paradoxalmente vantajosa da
Colônia sobre a Metrópole.

e) A realidade de atraso social, político e econômico do Brasil Colônia está representada


esteticamente no poema pela referência, na última estrofe, à transformação do pranto em
alegria.

Capítulo 9

Quincas Borba
(Machado de Assis)
Resumo por palavras

1. Romance; 2. Realismo; 3. Ironia; 4. Dinheiro; 5. Ciclo de amizades; 6. Crítica ao


Romantismo; 7. Humanitismo; 8. Interior versus Capital; 9. Casamento por
interesse; 10. Sociedade; 11. Aparências; 12. Loucura.

A presente leitura obrigatória da Fuvest, em linhas gerais, é contada em


terceira pessoa, por meio de narrador onisciente, mas que interfere na história
tecendo pequenos comentários e dirigindo-se ao leitor.
A narrativa centra sua atenção na personagem Rubião. Após a morte de seu
amigo Quincas Borba e em reconhecimento aos cuidados prestados no período em
que se encontrava acamado, Rubião recebe uma fortuna milionária, nomeado como
herdeiro universal, passa a ter direito sobre bens especificados como dinheiro, casas
na corte, uma em Barbacena, escravos, apólices, ações do Banco do Brasil e de
outras instituições e joias. Para tanto, uma condição foi imposta pelo amigo Quincas
Borba em seu testamento, a de que o cachorro, também chamado Quincas Borba,
fosse tratado com muito esmero.
Enfastiado com a vida sem ostentação em Barbacena, Rubião opta pela
mudança para uma cidade grande, o Rio de Janeiro. Durante a viagem de trem,
conhece o casal Cristiano Palha e Sofia, que ao reconhecerem um homem rico e
ingênuo, se oferecem a apresentar-lhe a corte e proteger-lhe para que não fosse
ludibriado por pessoas desonestas. Assim, o casal Palha consegue estabelecer uma
relação de amizade com Rubião.
Decidido pela permanência no Rio de Janeiro, Rubião quer comprar um
palacete e, por isso, a sua relação com Sofia fica mais intensa. Sob a imagem de
ajudar o ex-professor, a bela Sofia auxilia na contratação de empregados, escolha
de enfeites para o palacete, isto é, estreita laços de convivência e desperta a paixão
no recém-milionário. Da parte de Rubião, um amor é idealizado e declarado durante
um baile oferecido por Cristiano Palha em sua casa. No entanto, Sofia não retribui o
sentimento amoroso e, ainda, delata ao marido a tentativa de Rubião. Por sua vez,
Cristiano, já devendo a Rubião por ter tomado alguns empréstimos, tenta apaziguar
a indignação de sua esposa, sugerindo, vergonhosamente, que ela não se mostre
mais nervosa e alimente as esperanças amorosas com vistas a explorarem o
inocente rico.
Ao perceber que não realizaria sua empreitada amorosa, Rubião opta por
retornar a Minas Gerais. Não obstante, Cristiano preocupa-se com o quadro, já que
a ‘sua galinha dos ovos de ouro’ estaria em outro terreiro. Dessa forma, procura
influenciar o ‘amigo’, utilizando da promessa de que Sofia o acompanharia mais.
Vale ressaltar, a essa altura da narrativa, a presença da personagem Camacho, que
também tira vantagens do dinheiro alheio, no financiamento de um jornal. Ludibriado
uma vez mais, o ingênuo Rubião fica no Rio de Janeiro.
A vinculação entre Rubião e Cristiano aumenta à medida que se tornam
sócios em uma importadora denominada Palha & Cia. Cristiano, agora assumindo a
posição de capitalista, administra todos os bens e a fortuna de Rubião.
Ironicamente, a condição financeira do casal Palha cresce. Rubião ainda é mantido
como amigo, contudo passa a convier com o ciúmes, já que o jovem Carlos Maria
passa a sequestrar a atenção de Sofia. Esse, na verdade, é o motivo que tornará
Rubião um homem cada vez mais possessivo, a ponto de fantasiar a traição de
Sofia com Carlos Maria. Sofia reverte a situação, ‘limpa’ a sua imagem junto a
Rubião e, ainda, é corresponsável pelo casamento de sua prima Maria Benedita,
moça que veio do interior para arranjar um bom casamento na cidade.
Em seguida, Cristiano rompe a sociedade com Rubião, pois diz pretender
assumir cargos no sistema financeiro. A rigor, já havia conseguido dinheiro
suficiente, embora alheio, para administrar um negócio próprio. No mesmo sentido, a
relação entre Sofia e Rubião passa por uma crise, já que Sofia se mostra indiferente
aos convites feitos para que os dois passeassem.
À beira da loucura, pelo desejo amoroso castrado, Rubião vai ao encontro de
Sofia, mas a encontra de saída. Enquanto a moça entra na carruagem, ele também
o faz e, repentinamente, baixando as cortinas, declarando-se amante novamente,
mas com uma singularidade: diz ser Napoleão III e Sofia, sua amante.
A notícia referente à loucura de Rubião passa a ser conhecida por todos na
cidade. A frequência dos delírios vai aumentando significativamente e, de forma
irônica outra vez, o seu patrimônio encolhe. Pela influência de amigos, o casal Palha
assume os cuidados do doente, internando-o prontamente em estabelecimento
próprio, o hospício.
Por fim, Rubião foge do manicômio, retorna à cidade de Barbacena de posse
do cachorro Quincas Borba. Não possui, a essa altura, propriedades ou amigos que
pudesse prestar o favor da hospedagem e, por isso, dorme na rua com o recém-
descoberto amigo cachorro. Fica desprotegido da chuva, contrai pneumonia e
falece, crendo ainda ser Napoleão. O cachorro Quincas Borba também vai a óbito,
três dias após a morte do falido dono.
Em suma, vale destacar que a obra conduz o leitor a perceber que as
relações sociais não são verdadeiras, assim como o amor, já que tudo passa pelo
crivo do interesse financeiro. Assim, a filosofia criada pelo filósofo Quincas Borba, o
Humanitismo, enquanto princípio de que somente os vencedores devam ser
lembrados, prova ser verdadeira, já que o livro traz personagens que conseguiram a
glória. Por outro lado, ironiza-se o sucesso com a ação das mesmas personagens, já
que as respectivas vitórias só ocorreram graças à prática do engano, da traição ou
do ludíbrio.
No que tange às personagens e/ou pessoas que habitam o universo da obra
tem-se:
a) Rubião: ex-professor em Barbacena, torna-se milionário por receber a herança
de Quincas Borba, interesseiro.

b) Sofia Palha: esposa e cúmplice de Cristiano, alimenta os sentimentos de Rubião


para tomar-lhe a fortuna, possuidora de “olhos de convite”.

c) Cristiano Palha: marido de Sofia, falso amigo de Rubião, responsável por furtar
toda a herança do ingênuo Rubião.

d) Quincas Borba (homem): filósofo, velho, sem herdeiros, amigo de Rubião e


dono de um cachorro/cão, cujo nome também era Quincas Borba.

e) Carlos Maria: jovem, prepotente, soberbo, galanteador, casa-se com Maria


Benedita e é parente de D. Fernanda.
f) Maria Benedita: jovem oriunda do interior – roça – , prima de Sofia, torna-se
esposa de Carlos Maria, aprende bons costumes com a prima para se tornar
aprazível a um noivo interessado.

g) Camacho: advogado, político, falso jornalista e dono do jornal Atalaia, que


divulga o caso Deolindo, também se aproveita da fortuna de Rubião, deseja eleger
Rubião como deputado, defende e ataca o governo.

h) Quincas Borba (cão): fiel e generoso, por suas atitudes lembra o seu antigo
dono.

i) Major Siqueira: representa, juntamente com a filha, Tonica, o desejo de ascender


socialmente, perdedor.

j) Tonica: filha do Major Siqueira, solteirona, quarentona, interessada em Rubião,


perdedora.

k) D. Fernanda: mulher muito respeitada na alta sociedade, rica, parente de Carlos


Maria.

9.1 Agora é a sua vez!

Leia o fragmento para responder às questões:

“Supõe tu um campo de batatas e duas tribos famintas. As batatas apenas chegam para alimentar
uma das tribos, que assim adquire forças para transpor a montanha e ir à outra vertente, onde há
batatas em abundância; mas, se as duas tribos dividem em paz as batatas do campo, não chegam a
nutrir-se suficientemente e morrem de inanição. A paz, nesse caso, é a destruição; a guerra é a
conservação. Uma das tribos extermina a outra e recolhe os despojos. Daí a alegria da vitória, os
hinos, aclamações, recompensas públicas e todos os demais efeitos das ações bélicas. Se a guerra
não fosse isso, tais demonstrações não chegariam a dar-se, pelo motivo real de que o homem só
comemora e ama o que lhe é aprazível ou vantajoso, e pelo motivo racional de que nenhuma pessoa
canoniza uma ação que virtualmente a destrói. Ao vencido, ódio ou compaixão; ao vencedor, as
batatas.”

(ASSIS, Joaquim Maria Machado de. Quincas Borba. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1997. p. 648-649.)

T1. (UEL) Nessa passagem, quem fala é Quincas Borba, o filósofo. Suas palavras
são dirigidas a Rubião, ex-professor, futuro capitalista, mas, no momento, apenas
enfermeiro de Quincas Borba. É correto afirmar que a maneira como constrói esse
discurso revela preocupação com:
A) A clareza e a objetividade, uma vez que visa à compreensão de Rubião da
filosofia por ele criada, o Humanitismo.
B) A emotividade de suas palavras, dado objetivar despertar em Rubião piedade
pelos vencidos e ódio pelos vencedores.
C) A informação a ser transmitida, pois Rubião, sendo seu herdeiro universal, deverá
aperfeiçoar o Humanitismo.
D) O envolvimento de Rubião com a filosofia por ele criada, o Humanitismo, dada a
urgência em arregimentar novos adeptos.
E) O estabelecimento de contato com Rubião, uma vez que o mesmo possui
carisma para perpetuar as novas ideias.
T2. (UEL) Com base nas palavras de Quincas Borba, considere as afirmativas a
seguir:
I. As duas tribos existem separadamente uma da outra.
II. A necessidade de alimentação determina os termos do relacionamento entre as
duas tribos.
III. O relacionamento entre as duas tribos pode ser amistoso (“dividem entre si as
batatas”) ou competitivo (“uma das tribos extermina a outra”).
IV. O campo de batatas determina a vitória ou a derrota de cada uma das tribos.

Estão corretas apenas as afirmativas:


A) I e IV.
B) II e III.
C) III e IV.
D) I, II e III.
E) I, II e IV.

T3. (UEL) O Humanitismo, filosofia criada por Quincas Borba, é revelador:


A) Do posicionamento crítico de Machado de Assis aos muitos “ismos”
surgidos no século XIX: darwinismo, positivismo, evolucionismo.
B) Da admiração de Machado de Assis pelos muitos “ismos” surgidos no início do
século XX: futurismo, impressionismo, dadaísmo.
C) Da capacidade de Machado de Assis em antever os muitos “ismos” que surgiriam
no século XIX: darwinismo, positivismo, evolucionismo.
D) Da preocupação didática de Machado de Assis com a transmissão de
conhecimentos filosóficos consolidados na época.
E) Da competência de Machado de Assis em antecipar a estética surrealista surgida
no século XX.

T4. (CEFET-PR) A filosofia de Quincas Borba é explicada nos primeiros capítulos do


romance. Posteriormente, em alguns momentos de delírio, Rubião recorda-se dos
ensinamentos do mestre e os sintetiza na frase: “Ao vencedor, as batatas”. A versão
completa da máxima, enunciada por Quincas a Rubião no cap. 6, é esta: “Ao
vencido, ódio ou compaixão; ao vencedor, as batatas”.
A filosofia inventada por Quincas Borba pode ser comprovada com os seguintes
acontecimentos do romance, EXCETO:
A) a organização da comissão das Alagoas.
B) a morte da avó de Quincas, atropelada por carro puxado a cavalos.
C) o tipo de relação estabelecida entre Camacho e Rubião.
D) o empenho de D. Fernanda em casar Maria Benedita.
E) o gesto de Rubião de salvar de um atropelamento o menino Deolindo

T5. (ITA) Em 1891, Machado de Assis publicou o romance Quincas Borba, no qual
um dos temas centrais do Realismo, o triângulo amoroso (formado, a princípio, pelos
personagens Palha-Sofia-Rubião), cede lugar a uma equação dramática mais
complexa e com diversos desdobramentos. Isso se explica porque:
A) o que levava Sofia a trair Palha era apenas o interesse na fortuna de Rubião, pois
ela amava muito o marido.
B) Palha sabia que Sofia era amante de Rubião, mas fingia não saber, pois
dependia financeiramente dele.
C) Sofia não era amante de Rubião, como pensava seu marido, mas sim de Carlos
Maria, de quem Palha não tinha suspeita alguma.
D) Sofia não era amante de Rubião, mas se interessou por Carlos Maria,
casado com uma prima de Sofia, e este por Sofia.
E) Sofia não se envolvia efetivamente com Rubião, pois se sentia atraída por Carlos
Maria, que a seduziu e depois a rejeitou.

T6. (UFT) Rubião conheceu-o também; e respondeu-lhe que não era nada.
Capturara o rei da Prússia, não sabendo ainda se o mandaria fuzilar ou não; era
certo, porém, que exigiria uma indenização pecuniária enorme, — cinco biliões de
francos. — Ao vencedor, as batatas! concluiu rindo.
MACHADO DE ASSIS, J. M. Quincas Borba. In: Obras completas.
Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2004. v. I, p. 806.

Com base na leitura de Quincas Borba, é CORRETO afirmar que, nesse trecho, o
autor:
A) apresenta o personagem em seus últimos momentos, num estágio
avançado de delírio.
B) indica que Rubião, personagem marcado pela derrota, ao final alcançou seus
objetivos.
C) mostra como a vitória de Rubião sobre o rei é uma metáfora de seu sucesso
como escritor.
D) revela que o vencedor se autoironiza, pois aceita a indenização em francos ou
batatas.

9.2 ENEM é difícil!

Joaquim Maria Machado de Assis, cronista, contista, dramaturgo, jornalista, poeta, novelista,
romancista, crítico e ensaísta, nasceu na cidade do Rio de Janeiro em 21 de junho de 1839. Filho de
um operário mestiço de negro e português, Francisco José de Assis, e de D. Maria Leopoldina
Machado de Assis, aquele que viria a tornar-se o maior escritor do país e um mestre da língua, perde
a mãe muito cedo e é criado pela madrasta, Maria Inês, também mulata, que se dedica ao menino e
o matricula na escola pública, única que frequentou o autodidata Machado de Assis.
(Disponível em: http://www.passeiweb.com. Acesso em: 1 maio 2009).

T1. Considerando os seus conhecimentos sobre os gêneros textuais, o texto citado


constitui-se de:
A) fatos ficcionais, relacionados a outros de caráter realista, relativos à vida de um
renomado escritor.
B) representações generalizadas acerca da vida de membros da sociedade por seus
trabalhos e vida cotidiana.
C) explicações da vida de um renomado escritor, com estrutura argumentativa,
destacando como tema seus principais feitos.
D) questões controversas e fatos diversos da vida de personalidade histórica,
ressaltando sua intimidade familiar em detrimento de seus feitos públicos.
E) apresentação da vida de uma personalidade, organizada sobretudo pela
ordem tipológica da narração, com um estilo marcado por linguagem objetiva.

Leia o texto a seguir:

Talvez pareça excessivo o escrúpulo do Cotrim, a quem não souber que ele possuía um caráter
ferozmente honrado. Eu mesmo fui injusto com ele durante os anos que se seguiram ao inventário de
meu pai. Reconheço que era um modelo. Arguíam-no de avareza, e cuido que tinham razão; mas a
avareza é apenas a exageração de uma virtude, e as virtudes devem ser como os orçamentos:
melhor é o saldo que o déficit. Como era muito seco de maneiras, tinha inimigos que chegavam
a acusá-lo de bárbaro. O único fato alegado neste particular era o de mandar com frequência
escravos ao calabouço, donde eles desciam a escorrer sangue; mas, além de que ele só mandava os
perversos e os fujões, ocorre que, tendo longamente contrabandeado em escravos, habituara-se
de certo modo ao trato um pouco mais duro que esse gênero de negócio requeria, e não se pode
honestamente atribuir à índole original de um homem o que é puro efeito de relações sociais. A prova
de que o Cotrim tinha
sentimentos pios encontrava-se no seu amor aos filhos, e na dor que padeceu quando morreu Sara,
dali a alguns meses; prova irrefutável, acho eu, e não única. Era tesoureiro de uma confraria, e irmão
de várias irmandades, e até irmão remido de uma destas, o que não se coaduna muito com a
reputação da avareza; verdade é que o benefício não caíra no chão: a irmandade (de que ele fora
juiz) mandara-lhe tirar o retrato a óleo.

ASSIS, M. Memórias Póstumas de Brás Cubas.Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1992.

T2. Obra que inaugura o Realismo na literatura brasileira, Memórias Póstumas de


Brás Cubas condensa uma expressividade que caracterizaria o estilo machadiano: a
ironia. Descrevendo a moral de seu cunhado, Cotrim, o narrador-personagem Brás
Cubas refina a percepção irônica ao:
A) acusar o cunhado de ser avarento para confessar-se injustiçado na divisão da
herança paterna.
B) atribuir a “efeito de relações sociais” a naturalidade com que Cotrim
prendia e torturava os escravos.
C) considerar os “sentimentos pios” demonstrados pelo personagem quando da
perda da filha Sara.
D) menosprezar Cotrim por ser tesoureiro de uma confraria e membro remido de
várias irmandades.
E) insinuar que o cunhado era um homem vaidoso e egocêntrico, contemplado com
um retrato a óleo.

Bibliografia

ANDRADE, Carlos Drummond de. Alguma poesia. In: Poesia completa e prosa. Rio
de Janeiro: Companhia José Aguilar Editora, 1973.

ASSIS, Machado de. Quincas Borba. São Paulo: Editora Klick, 2005.

HONWANA, Luís Bernardo. Nós matamos o cão tinhoso!.

MEIRELES, Cecília. Romanceiro da Inconfidência. In: Obra poética em um só


volume. Rio de Janeiro: Editora Nova Aguilar, 1987.

COUTO, Mia. Terra sonâmbula. São Paulo: Companhia das Letras, 2007.

PESSOA, Fernando. Mensagem. In: Obra poética. Rio de Janeiro: Nova Aguilar,
2001.

RAMOS, Graciliano Ramos. Angústia. 19ª ed. São Paulo: Record, 1978.
ROSA, João Guimarães. Campo Geral. In: Manuelzão e Miguilim: São Paulo:
Editora Nova Fronteira, 2015.

WISNIK, José Miguel (seleção e organização). Poemas escolhidos de Gregório de


Matos. São Paulo: Companhia das Letras, 2010.

Você também pode gostar