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Odisseia - Apontamentos

31 de dezembro de 2023 02:42

Resumo Dos Acontecimentos:


- Canto I - Concilio dos Deuses:
- É neste concilio que nos é revelado a localização do divino Odisseu, preso há vários anos em Ogígia, a
ilha da ninfa Calipso. É face a este cenário e pelo carinho que a deusa nutre pelo herói que Atena sugere
que se envie Hermes, o mensageiro dos deuses, para que este informe a ninfa da bela cabeleira do plano
que as divindades do Olimpo conceberam para o ardiloso Ulisses;

- Cantos I a IV - Telemaquia:
- Canto III - Viagem a Pilos; Audiência com Nestor; Revelação do destino de Agamémnon; Partida junto
de Pisístrato (Filho de Nestor);
- Canto IV - Viagem a Esparta; Audiência com Menelau e Helena; Vislumbre do grande luxo do Palácio
do Atrida; Demonstração dos princípios de hospitalidade e ancestralidade;
- Revelação do estado em que se encontra Ítaca (Reino de Odisseu);
- Preparação de uma tentativa de assassinato contra Telémaco por parte dos pretendentes;

- Cantos V a VIII:
- Canto V - Odisseu parte de Ogígia, vendo-se assim solto das amarras de Calipso;
- Canto V - Posídon, furioso com Ulisses por este ter cegado Polifemo, filho do Sacudidor da Terra,
destrói a jangada do filho de Laertes, sendo este salvo por Leucoteia, acabando por naufragar na ilha dos
Feaces (Já no Canto VI);
- Canto VI a VIII - Nova demonstração dos princípios de hospitalidade. Antes mesmo de se revelar rei de
Ítaca, Odisseu é muito bem recebido pelo rei Alcínoo, a rainha Arete e a princesa Nausícaa, esta última
que fora a primeira a o auxiliar; São então organizados diversas festividades em nome do estrangeiro e
um enorme banquete;
- Canto VIII - Após ouvir um aedo cantar a história do saque de Troia, em que o protagonista é
precisamente Ulisses, o herói vê-se incapaz de conter as lágrimas, estas nas quais repara o rei Alcínoo;
- Canto VIII - Terminadas as festividades e o banquete, Odisseu revela a sua verdadeira identidade a
pedido do rei, dando assim início ao relato (a analepse) das anteriores "Viagens (Ou Errâncias) de
Ulisses", estas que o detiveram de regressar à sua pátria e família por dez longos anos;

- Cantos IX a XII - Errâncias de Odisseu:


- Canto IX - Encontro com os Cícones;
- Canto IX - Chegada à terra dos Lotófagos, povo que se alimentava de flores e frutos doces como o mel.
Os companheiros de Odisseu, após provarem o fruto do lótus, este que provocava o esquecimento,
abandonam o desejo de regressar a casa, pondo assim um fim às suas jornadas;
- Canto IX - Desembarque na ilha dos Ciclopes. Aqui, Ulisses e os seus companheiros encontram o
gigante Polifemo, filho de Posídon, que os toma como prisioneiros e devora dois dos que se
encontravam presentes. Para escapar à fúria do monstro antropófago, Odisseu faz uso do seu título de
"Homem dos mil ardis". Depois de se apresentar como um homem cujo nome era "Ninguém", o herói de
Troia oferece a Polifemo um vinho que havia trazido consigo, sem o misturar, com esperança que o
gigante adormecesse. Assim que Polifemo fechou o olho, Ulisses fechou-o de vez, cegando então o filho
de Posídon, que sai disparado da gruta, gritando que "Ninguém o tinha cegado". Por fim, Odisseu,
juntamente com o restante dos seus companheiros de viagem, consegue escapar da gruta, amarrando-
se à barriga dos cordeiros que Polifemo inspecionava à saída, para que assim o Ciclope não os detetasse;
- Canto X - Paragem em Eólia, a ilha de Éolo, o guardião dos ventos. Éolo oferece ao filho de Laertes o
saco dos ventos, porém, os seus companheiros, ao pensarem que dentro do saco se encontrava uma
enorme quantidade de ouro e riquezas, abrem-no, afastando-os assim ainda mais da já muito longínqua
pátria;
- Canto X - Viagem até Telépilo, a ilha dos Lestrígones, uma espécie de gigantes antropófagos que, além
de destruírem inúmeras das embarcações de Odisseu, comem ainda alguns dos seus homens no

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de destruírem inúmeras das embarcações de Odisseu, comem ainda alguns dos seus homens no
processo;
- Canto X - Odisseu e o restante dos seus companheiros partem então para a ilha de Circe, onde, uma
vez mais, Ulisses perde alguns dos homens que o acompanhavam. Após comerem da refeição que lhes
havia oferecido, a feiticeira transforma os companheiros do homem de mil ardis em porcos, sendo que,
depois de Odisseu se mostrar imune aos seus feitiços (graças a Hermes), Circe reverte o feitiço e o herói
de Troia é obrigado a ficar um ano inteiro a seu lado na ilha;
- Canto XI - Passagem no Submundo de Hades. Odisseu parte rumo ao "Reino dos Mortos", onde se
encontra com Tirésias, um falecido profeta que o informa de como o itacense conseguirá ultrapassar os
restantes obstáculos que se avizinham até que retorne, finalmente, à pátria amada. Na "bolorenta
mansão de Hades", Ulisses encontra-se ainda com Aquiles e Agamémnon, e com a sua mãe, Anticleia,
avistando ainda muitas outras figuras da mitologia grega, como Héracles, Sísifo e Tântalo;
- Canto XII - Travessia pela ilha das Sereias. Seguindo os conselhos que anteriormente ouvira, Odisseu
ordena que os seus companheiros tapem os ouvidos com cera para que não ouçam o canto das
criaturas, e que o amarrem ao mastro, de forma que ele, ainda que encantado pela divina melodia das
Sereias, não vá de encontro a elas;
- Canto XII - Passagem pelo estreito limitado por dois gigantescos monstros. De um lado, encontramos a
tenebrosa Scylla, e do outro, o imponente Caríbdis. Aqui morrem, uma vez mais, alguns dos tripulantes
que seguem viagem junto de Ulisses, devorados pelas criaturas;
- Canto XII - Chegam assim à ilha de Hélios, o Deus do Sol, onde pastava o gado sagrado da divindade,
gado este que Tirésias relembrara, em específico, serem sagradas e, portanto, restritas aos dentes dos
mortais. No entanto, após um mês inteiro de tempestades que os impediam de abandonar a ilha, e já
com pouco ou quase nada para comer, os companheiros de Odisseu foram incapazes de resistirem à
tentação e, aproveitando o facto de o filho de Laertes se encontrar ausente, mataram as vacas do Deus
do Sol, garantindo, em simultâneo, a morte dos animais e a sua, já que Hélios não tardou em exigir a sua
vingança. O deus clamou por um pagamento adequado a Zeus, ao que o Crónida anuiu, lançando de
seguida um relâmpago que transformou o navio e aqueles que nele se encontravam em pedra, sendo
Ulisses, por somente ele não ter atacado as vacas, o único que escapou ao castigo divino, ficando assim,
por fim, condenado à solidão;
- Odisseu chega por fim à ilha de Calipso, onde tantos anos passou e onde muitos mais teria passado se
tivesse aceitado a proposta da ninfa, esta que o tornaria imortal;

- Cantos XIII a XXIV - Regresso e Vingança de Odisseu:


- Canto XIII - Com a ajuda dos Feaces, Ulisses retorna finalmente a Ítaca, mas, por terem ajudado o
herói na sua viagem de regresso, esses primeiros são castigados pelos deuses. Dá-se assim início à
vingança de Odisseu;
- Ao ouvir os conselhos de Atenas, esta que o recebera na praia, o filho de Laertes percebe que não
poderá simplesmente aparecer no palácio e reclamar o que era seu por direito. Com a ajuda da deusa do
escudo, o herói disfarça-se assim de mendigo, para que ninguém o reconhecesse. Ulisses dirige-se então
para a casa de Eumeu, o seu porqueiro que, ao longo de vinte anos, não tinha por uma única vez posto
em causa a soberania do seu rei. Deste modo, o porqueiro recebe-o, sob a forma de "estrangeiro";
- Canto XVI - É precisamente no casebre de Eumeu que se reúnem, ao fim de tantos anos, pai e filho,
após Telémaco ter regressado da sua viagem. Os dois começam então a preparar um plano de vingança
contra os pretendentes de Penélope, para que assim Odisseu possa regressar ao trono como o devido rei
de Ítaca. Odisseu, ainda sem revelar a sua identidade a ninguém fora o filho e o velho porqueiro,
regressa ao palácio, sendo acompanhado por Telémaco. Já em casa, Ulisses é injuriado e maltratado
pelos pretendentes, indo assim contra os devidos princípios de hospitalidade da Grécia Antiga. - Canto
XVII - O herói avista também o velho Argos, o companheiro canino que ele havia criado e que não via
fazia duas décadas. O animal é o primeiro a reconhecer Odisseu, mal este entra no palácio, mas esta
felicidade dura pouco, pois logo de seguida, a Moira da morte negra põe um fim à vida do fiel Argos;
- Penélope, ao decidir pôr um fim ao que por muito tempo se prolongou, propõe uma competição que
determinará o seu novo esposo. Deste desafio, sairá vitorioso aquele que pelo orifício de 12 machados
conseguir disparar uma flecha. Para a conclusão desta empreitada, a rainha de Ítaca traz o velho arco de
Odisseu que, com grande dificuldade, todos o tentam manobrar sem sucesso. Todos menos o estranho
estrangeiro que, não só não se vê, de todo, incapaz de manejar o arco, como é o único a cumprir o
desafio;
- Canto XXII - Depois desta vitória, o herói revela a sua identidade, iniciando de seguida uma verdadeira
chacina que marcará, em simultâneo, o fim do parasitismo e dos abusos dos pretendentes e o fim das

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chacina que marcará, em simultâneo, o fim do parasitismo e dos abusos dos pretendentes e o fim das
suas vidas. Terminado o massacre, Ulisses revela-se a Penélope, não sem que antes a rainha duvide da
veracidade do que afirma aquele "mendigo". - Canto XXIII - Para comprovar a informação, a soberana
decide então testar o homem, questionando-o sobre conhecimento que só Odisseu poderia ter: como
era o leito nupcial que aos dois pertencia e onde estava ele localizado. O herói passa com sucesso o teste
que lhe fora incumbido, assim comprovando a sua identidade e cimentando o seu regresso como o
verdadeiro e digno rei de Ítaca, agora com a esposa e o filho nos seus braços;
- Canto XXIV - No dia seguinte, Odisseu visita o seu pai, Laertes, cuja saúde se tem vindo a deteriorar
depois da morte de Anticleia, sua esposa. É assim que termina a narrativa desta obra, apesar de,
curiosamente, tudo levar a crer que se iniciará de seguida um novo capítulo quando, do exterior da casa
de Laertes, se reúnem todas as famílias dos antigos pretendentes que haviam sido chacinados pelo
herói, exigindo vingança. No entanto, de forma a apaziguar o espirito furioso das famílias, aparece a
divina Atena, evitando assim um novo conflito, cuja ausência marca o fim da Odisseia;

Conceitos Presentes Na Obra:

- Nostos:
- A Odisseia é talvez o maior representante do conceito de Nostos, ideia grega associada ao
regresso de um herói, após uma longa jornada repleta de desafios e adversidades. Apesar da
narrativa deste Poema Homérico se focar, em especial, na viagem de retorno de Odisseu até Ítaca,
o filho de Laertes não é o único exemplo de representação deste conceito ao longo da obra,
apesar de ser, indubitavelmente, o que mais obstáculos e impasses enfrentou. No entanto, ao
longo do poema deparamo-nos com outras histórias de viagens de outros heróis, também eles já
conhecidos para o leitor da Ilíada. São exemplos disso as viagens dos dois Atridas, Agamémnon e
Menelau, também elas marcadas pelas suas próprias dificuldades: Menelau, apesar de agora
reunido com Helena, sua esposa, ao fim de dez anos a lutar por ela, navegou durante sete anos,
perdido, também ele sem saber como regressar à sua pátria; e Agamémnon que, apesar de ter
realizado a sua viagem de retorno sem grandes contratempos, acaba assassinado pelas mãos da
sua própria esposa e do amante desta;

- Xenia:
- O conceito de Xenia, associado aos princípios de hospitalidade e ancestralidade, era quase que
indissociável da cultura helénica. Xenia determina que todos devem ser recebidos com
generosidade e simpatia, sejam eles reis, estrangeiros ou mendigos. Ao longo da Odisseia,
encontramos diversas exemplares representações deste conceito, desde Calipso a Nestor,
destacando-se, no entanto, os Feaces, onde é de realçar os esforços individuais tanto do rei
Alcínoo como da sua filha, a princesa Nausícaa. É ainda de salientar, em Ítaca, a ação do porqueiro
Eumeu que, mesmo sendo muito mais pobre quando comparado a reis como Alcínoo, Nestor ou
Menelau, acolhe o estrangeiro, disponibilizando tudo o que tem para oferecer, mesmo sabendo
dos custos que teria de carregar consigo no futuro. Por fim, temos ainda de referir um outro
exemplo, não de boa hospitalidade, mas precisamente do contrário. No palácio de Odisseu, os
pretendentes abusam da generosidade de Penélope, gastando a riqueza dos soberanos daquelas
terras em festas, jogos e banquetes que apenas a si mesmos beneficiam;

Semelhanças e Diferenças:
- Ao comparar a Odisseia face à Ilíada - quer entendamos que ambos possuem o mesmo autor,
quer não -, percebemos que muitas são as semelhanças entre os dois poemas, mas as diferenças
também não são despiciendas.
Entre as semelhanças, podemos apontar que o respeito pelos suplicantes, os hóspedes e as
tradições, as normas de convívio social e os conceitos éticos são idênticos. Já o fundo arqueológico
e linguístico presente em ambas as obras é muito parecido. Por fim, os processos literários são
exatamente os mesmos; tanto num como no outro é comum a maneira quase visual de descrever
as mais simples ações.
Quanto às divergências - para além da diversidade do tema, esta que não se pode deixar de
assinalar -, estas são de caráter religioso, ideológico, arqueológico e linguístico.

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assinalar -, estas são de caráter religioso, ideológico, arqueológico e linguístico.
Na Odisseia, os deuses afastam-se da humanidade, deixam de representar os mais profundos
traços e características humanas e interferem menos nos conflitos dos homens. Os deuses são
agora justiceiros, punem a insolência e insensatez e reúnem-se em concílios, desta vez, marcados
pela serenidade e diplomacia.
Outra novidade é a presença de uma personagem em desenvolvimento pessoal e progressão de
personalidade, estes que notamos em Telémaco, filho de Odisseu.
Tanto o prazer e destaque na contemplação da natureza, como a evolução na relação com os
animais são outras diferenças de menos importância, mas bastante significativas. Por um lado
temos os Jardins de Alcínoo e a descrição da ilha de Calipso, locais de uma beleza indescritível e
muito aprazíveis. Por outro, enquanto que na Ilíada o cavalo já era visto como o companheiro do
homem e passível de possuir elevada inteligência e excelência, o cão já era o animal selvagem,
pronto a dilacerar os cadáveres juntamente com as aves de rapina. Na Odisseia, porém, o poeta
mostra-nos também este animal como companheiro do homem num episódio inesquecível do
Canto XVII: ao chegar ao seu palácio, ao fim de vinte anos de ausência, o único ser vivo que
reconhece Odisseu é Argos, o seu companheiro canino que ele deixara ficar à partida para Troia, e
que agora, ao vê-lo, apenas pode abanar a cauda e baixar as orelhas, sem força para se aproximar,
e logo cai morto. O dono enxuga furtivamente uma lágrima, de modo a que Eumeu, este que o
acompanhava, não se aperceba daquele pequeno drama.
No que toca ao ponto de vista linguístico, é de referir a presença de um maior número de
abstratos, além de se notar a preferência de certas fórmulas e sufixos. Todos estes pontos levam a
crer que os dois poemas se distanciam algumas décadas no tempo, facto este que os antigos
explicavam, dizendo que Homero compusera a Ilíada na juventude e a Odisseia na velhice.
Por fim, é ainda importante salientar o conceito de Nostos, estando este apenas presente na
Odisseia, já que o conceito se encontra inerentemente associado à ideia grega do regresso de um
herói, após uma jornada repleta de advertências e desafios, sendo este o tema principal da
narrativa deste Poema Homérico;

Homero Enquanto Educador Da Grécia:


Para além do valor intrínseco dos Poemas Homéricos, estes representam um importante marco
na história, não só ocidental, mas mundial, por toda influência que exerceram, e que é tão grande
que se torna impossível compreender a cultura grega sem o mínimo conhecimento destas
sublimes obras.
A princípio eram transmitidos oralmente e escutados em ocasiões festivas. Para isso, eram
imprescindíveis os aedos e os rapsodos, estes que cantavam os poemas épicos e celebravam as
suas gloriosas histórias. Mais tarde, começaram a ser aprendidos nas escolas e recitados
integralmente em concursos e outras ocasiões. Por tudo isto é que Platão, na República, dá como
opinião corrente no seu tempo que Homero fora o educador da Grécia. Já Aristóteles declara na
Poética, que é na Ilíada e Odisseia que se encontra o embrião da tragédia. E Pausânias, no século
II, refere-se constantemente a ele como autoridade suprema em qualquer assunto.
Deixando de parte estes testemunhos, temos de reconhecer que a sua influência sobre a cultura
grega, donde passa à latina, e desta a todas as culturas ocidentais dela derivadas, é um facto que
não é de mais sublinhar. Muito resumidamente, podemos dizer que ela abrange os seguintes
domínios:
- Religião (Onde os testemunhos já citados são bem elucidativos);
- Poesia (São o modelo, direto ou indireto, de toda a poesia épica subsequente e influem
consideravelmente na lírica; os processos literários que usam, como os epítetos, os símiles, a
apóstrofe, o lançar a narrativa in medias res, precedendo-a de proposição e invocação, nunca mais
desapareceram das epopeias que se seguiram);
- Língua (Embora compostos numa linguagem artificial, os termos homéricos podem sempre
encontrar-se em qualquer poesia de outro género, sobretudo no elegíaco e lírico);
- Costumes e Ideias (O respeito pelas normas da súplica e da hospitalidade, que se manteve em
toda a Antiguidade grega);

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