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UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS

FACULDADE DE HISTÓRIA
LICENCIATURA EM HISTÓRIA

THIAGO ALECRIM DE SOUZA

ROTEIRO DO SEMINÁRIO
“Sobre as mulheres, um silêncio que gritava”: duas décadas da primeira obra historiográfica
sobre mulheres e Ditadura Militar no Brasil, entrevista com a professora Dra. Ana Maria
Colling - Ary Albuquerque Cavalcanti Júnior.

GOIÂNIA,
2023
THIAGO ALECRIM DE SOUZA

ROTEIRO DO SEMINÁRIO
“Sobre as mulheres, um silêncio que gritava”: duas décadas da primeira obra historiográfica
sobre mulheres e Ditadura Militar no Brasil, entrevista com a professora Dra. Ana Maria
Colling - Ary Albuquerque Cavalcanti Júnior.

Roteiro de apresentação do seminário apresentado ao curso


de Licenciatura em História para a disciplina de História do
Brasil IV, que irá compor a nota final da disciplina.

Docente: Profa. Dra. Alcilene Cavalcante de Oliveira

GOIÂNIA,
2023
“Sobre as mulheres, um silêncio que gritava”: duas décadas da primeira obra historiográfica
sobre mulheres e Ditadura Militar no Brasil, entrevista com a professora Dra. Ana Maria
Colling - Ary Albuquerque Cavalcanti Júnior.

Síntese da discussão historiográfica

Ana Maria Colling, a princípio, expõe os resultados de sua análise sobre o discurso
militar que foi criado sobre as “mulheres subversivas”. No início da análise, a autora destaca
as punições relacionadas aos desvios aos papéis sociais historicamente estabelecidos como
“femininos”:
[...] muitas, descritas como desalmadas, por terem abandonado seus lares, seus
filhos. Sempre como elementos desviantes dos papeis sociais, pois lugar de mulher
não é na política. Elas são descritas como mal educadas pela família, mal amadas ou
homossexuais. Apêndice dos homens, sem vontade própria, como marionetes.”
(CAVALCANTI JÚNIOR, 2021, p.220).

Dessa forma, a tese que diz respeito às continuidades começa a se tornar mais evidente. Por
conseguinte, as acusações morais relacionadas à violência de gênero também se destacam. Se
pensarmos nas figuras masculinas, termos como “comunista” eram suficientes para que suas
figuras fossem rebaixadas. Já no caso das mulheres, termos como “prostitutas” ou “putas
comunistas” eram comuns. Assim, notamos que para além da violência sofrida por se oporem
à ditadura civil-militar, essas mulheres eram violentadas pela justificativa de estarem se
desviando de seus lugares tidos como “naturais”. Desse modo, muitas vezes elas eram
retratadas como se estivessem em busca de homens ou como se fossem homossexuais (se
aproximando dos papéis dos homens).
Em segundo lugar, a autora enfatiza a violência física e mental sofrida por essas
mulheres. A tortura, tanto física, como psicológica, também possuíam especificidades quando
eram direcionadas às figuras femininas. Nesse ponto, a autora ressalta que o poder sobre o
corpo da mulher também é algo histórico que acompanha toda a História do Brasil, até a
contemporaneidade. Entretanto, no período ditatorial há a radicalização dessas violências.
Além disso, a autora ainda aponta a longevidade destes discursos, já que entende que houve
uma diferença dos tratamentos dados aos homens e às mulheres no pós-ditadura. Visto que o
primeiro grupo, no contexto em que a obra foi produzida, chegava a ocupar cargos públicos e
tinham um grande destaque na mídia. Já as mulheres, vistas nesse papel secundário, tinham
suas histórias silenciadas.
Colling, dessa forma, caracteriza esses documentos escritos militares como
insuficientes para seus propósitos de pesquisa, e encontrou na história oral, a chave para a
ampliação das vozes destas mulheres e, consequentemente, os seus empoderamentos: “Ao
colocar um gravador entre eu e minhas entrevistadas (cada uma separadamente) elas falaram.
Ao falarem, apesar das marcas profundas, das lágrimas provocadas pelas suas memórias,
perceberam, pela primeira vez, que possuíam uma história.” ( CAVALCANTI JÚNIOR, 2021,
p. 220). Assim, foram realizadas diversas entrevistas com ex-militantes que atuaram e foram
violentadas em decorrência de suas oposições ao regime vigente.
É interessante pensarmos, como também aponta Colling, nos recortes sociais e raciais
na violência deste contexto. Uma das mulheres entrevistadas pela historiadora, era uma
mulher negra de classe baixa, e afirma ter sido a mais violentada dentre o grupo entrevistado
para a produção da obra. Para a análise da questão racial, o trabalho de Tauana Gomes Silva é
essencial. “Mulheres negras nos movimentos de esquerda durante a ditadura no Brasil
(1964-1985)” (2019), sua tese de mestrado, apresenta entrevistas realizadas com 9 mulheres
negras que se oporam ao regime militar e que, em alguns casos, foram violentadas pelo
Estado. O nome de Maria Diva de Faria se destaca; a enfermeira goiana foi presa no DOPS de
São Paulo, devido às suas ações de acolhida de militantes ativos na luta anti-ditatorial em sua
residência privada. A questão verbal é destacada pela mulher que enfatiza que o termo
“negra” era utilizado como forma de desqualificar a sua identidade (SILVA, 2019, p. 350).
Outrossim, as artes audiovisuais se tornam importantes para a difusão desses relatos.
Assim, destacamos o documentário “Brazil: A Report on Torture (1971), que expõe diversos
relatos de pessoas que haviam sido presas na ditadura civil-militar, mas que foram soltas em
decorrência da troca do embaixador suíço Giovanni Bucher, que fora sequestrado pela
guerrilha armada VPR, foram exilados no Chile. Dentre os depoimentos, enfocamos no de
Maria Auxiliadora Lara Barcelos, presa política que, em decorrência dos traumas da tortura,
cometeu suicídio ainda nos anos 19701. Ademais, a novela “Amor e Revolução”, do Sistema
Brasileiro de Televisão (SBT) apresentou ao fim de cada capítulo, relatos reais de vítimas da
ditadura. Destaca-se Criméia Almeida, presa que mesmo grávida, sofreu com diversas
violências, principalmente psicológicas. Almeida também apresenta o preconceito racial dos
militares, que afirmavam, em tom de ameaça, que só adotariam seu filho, se ele fosse um
homem branco.

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Luiz Alberto Sanz e Lars Säfström analisam a trajetória da militante no documentário “Quando chegar o
momento (Dora)”, de 1978 (LEANDRO, 2015).
Argumentos
Desse modo, os argumentos principais da historiadora são: a insuficiência do discurso
militar para retratar o papel de oposição das mulheres ao regime militar; os discursos
violentos foram criados e possuem reflexos até a contemporaneidade; há uma continuidade e
uma radicalização de uma violência que é histórica e a história oral aparece como forma de
ampliação das narrativas e tentativa de romper com o silêncio a partir de relatos das próprias
atuantes na luta contra a ditadura civil-militar.

Conclusão
A autora finaliza a exposição de suas ideias utilizando o conceito de “lugares de
memória”, de Pierre Nora. Assim, a autora enfatiza que a história não é igual a memória, há
uma espécie de jogo entre estes dois objetos ao longo do tempo. Assim, na
contemporaneidade há lutas contra o esquecimento dessas personagens históricas femininas e
de seus impactos em seus contextos e nos destinos do Brasil.

Questões para debate

Ao analisarmos os últimos anos da história política brasileira é possível notar o ressurgimento


da difusão de ideias negacionistas. Dessa forma, como essas tendências afetam a preservação
da história das mulheres na Ditadura Militar, especialmente diante da negação de crimes com
teores traumáticos?

Espera-se que haja a discussão em que a História Oral possa ser definida como uma
forma de produção historiográfica ligada à realização de entrevistas com indivíduos que
vivenciaram acontecimentos que são objetos de pesquisa de historiadoras e historiadores..
Dessa forma, o uso da História Oral possibilita que as narrativas de indivíduos que foram
subalternizados e que, consequentemente, não se enquadraram historicamente em um
“discurso oficial”, sejam expostas e divulgadas. Promovendo a ampliação dos discursos e a
manutenção de novas memórias. Também é esperado que os discentes possam realizar
comparações da importância da História Oral em outros contextos distintos, como o do
holocausto.

Quais são as aproximações e os distanciamentos da violência de gênero entre períodos


democráticos e ditatoriais na História do Brasil?
A partir do pensamento central de Ana Maria Colling, espera-se que haja o
entendimento de que, no período de vigência do governo ditatorial civil-militar no Brasil,
houve uma radicalização de uma violência contra a mulher que foi e ainda é presente na
sociedade brasileira. Dessa forma, os períodos democráticos e ditatoriais convergem no
sentido da existência de uma violência de gênero, porém, no último caso, há a radicalização
dos discursos e das práticas.

Referências bibliográficas

CAVALCANTI JÚNIOR, Ary. “Sobre as mulheres, um silêncio que gritava”: duas décadas
da primeira obra historiográfica sobre mulheres e Ditadura Militar no Brasil, entrevista com a
professora Dra. Ana Maria Colling. Em Tempos de Histórias. Brasília-DF, n. 38, p. 213-224,
jan./jun. 2021.

LEANDRO, Anita. Cinema do exílio. Entrevista com Lars Safstrom e Luiz Alberto Sanz.
Aniki: Revista Portuguesa da Imagem em Movimento, v. 2, n. 2, p. 349-359, 2015.

DE OLIVEIRA ROVAI, Marta Gouveia. Aprendendo a ouvir: a história oral testemunhal


contra a indiferença. História oral, v. 16, n. 2, p. 129-148, 2013.

SILVA, Tauana Olívia Gomes. Mulheres negras nos movimentos de esquerda durante a
ditadura no Brasil (1964-1985), 2019.

Referências audiovisuais

AMOR E REVOLUÇÃO. Site YouTube.com. Depoimento de Criméia Almeida. Disponível


em: https://www.youtube.com/watch?v=rz0ekhjmvRc. Acesso em: 11 dez 2023.

Brazil, a report on torture (Brasil, relato de uma tortura). Haskell Wexler e Saul Landau.
Chile, 1971. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=6aUu-zGGg08&t=3103s.
Acesso em: 11 dez 2023.

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