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Universidade de São Paulo - Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas -

depto. de História
Professora: Dr. Stella Maris Scatena Franco
Mulheres e relações de gênero na América Latina - FLH0132 (2023-2)
Aluna: Bruna Koerich Reitz (brunakoerichreitz@usp.br)
Nº USP: 11324583 - Noturno

CÓRDOVA PLAZA, Rosío. “Por no haber una mujer que no sea una berdadera insurgenta”.
Hacia una historia de la participación femenina en la Guerra de Independencia”. In:
GUZMÁN PEREZ, Moisés et. al. Mujeres insurgentes. México D. F.: Siglo XXI, 2010.(p.
99-145).

“No solo el amor es el móvil de las acciones de las mujeres”: Vozes femininas na guerra
de independência do México

O texto "’Por no haber una mujer que no sea una berdadera insurgenta’. Hacia una
historia de la participación femenina en la Guerra de Independencia", escrito por Rosío
Córdova Plaza, oferece uma análise crítica destinada a elucidar as razões por trás da
invisibilidade da participação das mulheres na insurgência que levou à independência do
México. A autora direciona seu olhar para as mudanças que ocorreram nas vidas das
mulheres no rescaldo da guerra de independência, destacando esse período como um
momento extraordinário de transformação.
Inicialmente, a autora empreende uma investigação minuciosa e apresenta evidências
concretas que confirmam a inclusão das mulheres nas lutas emancipacionistas. Ao fazer isso,
ela busca reivindicar o papel ativo e muitas vezes esquecido que as mulheres desempenharam
nesse movimento histórico. Em seguida, a autora explora a situação social das mulheres no
início da luta pela independência, delineando os impactos gerados pelo declínio da
monarquia. Essa análise permite compreender a forma como as mulheres foram afetadas por
esse período de instabilidade política e como isso contribuiu para a mudança de suas posições
sociais e aspirações. A obra também destaca as atividades e as diversas formas de
participação das mulheres durante as guerras de independência, ilustrando o amplo espectro
de contribuições femininas, que vão desde o fornecimento de apoio e recursos até o
engajamento direto nas batalhas. Por fim, a autora traça um caminho para compreender por
que as mobilizações femininas resultaram em transformações relativamente limitadas após o
término das guerras. Ela explora as barreiras sociais e culturais que impediram a construção
de uma consciência cívica duradoura entre as mulheres ao longo da primeira metade do
século XIX.
O texto combina erudição com clareza, análise rigorosa com empatia e um
compromisso com a complexidade histórica e social. Isso cria uma experiência de leitura
enriquecedora, que desafia e convida os leitores a mergulharem profundamente na história e
nas narrativas das mulheres que participaram na insurgência pela independência do México.
Plaza demonstra um compromisso com a pesquisa detalhada, evidente na maneira como ela
apresenta suas análises e argumentos apoiados por uma ampla gama de fontes primárias e
secundárias, além das análises de caso, construindo um arcabouço confiável e uma base
sólida para sua narrativa. Na análise de caso da carta de Leona Vicario a Lucas Alamán,
Rosío Córdova Plaza ilumina uma faceta essencial da participação feminina na luta pela
independência do México. A narrativa de Leona Vicario, uma figura proeminente e
respeitada, destaca que as nobres aspirações de pátria e liberdade não se restringiam por
gênero “No solo el amor es el móvil de las acciones de las mujeres: que ellas son capaces de
todos los entusiasmos, y que los deseos de la gloria y de la libertad de la patria no les son
unos sentimientos estraños”. Entretanto, a análise de Córdova não se limita a figuras ilustres,
indo além para abordar a sombria desigualdade na repercussão das ações femininas com base
em classe social e etnia. Isso lança um olhar crítico sobre as disparidades no tratamento e na
visibilidade no seio do movimento insurgente. As mulheres de origens populares e grupos
étnicos não hegemônicos eram as mais severamente punidas e enfrentavam barreiras
significativas em sua busca por participação ativa. Isso evidencia como as lutas das mulheres
eram profundamente entrelaçadas com desigualdades de gênero, socioeconômicas e étnicas,
ressaltando a interseccionalidade dessas batalhas históricas.
Em tempos de guerra, as estruturas de ordem e hierarquia social muitas vezes se
metamorfoseiam, resultando em cenários complexos onde as relações de gênero se redefinem
continuamente através de negociações constantes. Essas transformações, embora algumas
vezes sutis, eram coletivamente significativas e envolveram não apenas as figuras mais
proeminentes, mas também aquelas frequentemente não reconhecidas pela história, rejeitando
a “Sindrome de la gran mujer”. As mulheres encontravam maneiras diversas e únicas de
participação e autodefesa, inclusive através da maternidade e da passionalidade que permeava
o matrimônio. No entanto, ao final da guerra, o retorno ao lar era frequentemente a realidade,
visto que as mulheres careciam dos instrumentos históricos para se conceberem como sujeitos
políticos. Esse processo só se concretizaria muitos anos depois, ao longo de um século.
Portanto, a análise minuciosa de Rosío Córdova Plaza nos ensina que as transformações em
tempos de conflito frequentemente transcenderam as narrativas convencionais, com as
mulheres desempenhando papéis variados e, muitas vezes, sutis, mas coletivamente
impactantes, à medida que elas moldavam e eram moldadas pelas complexas realidades da
luta pela independência.

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