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Conselhos pra Vida

Estudos na carta de Tiago

Estudo 02: Praticando o que sabemos

Tiago 1.19-27
Meus amados irmãos, tenham isto em mente: Sejam todos prontos para ouvir, tardios para
falar e tardios para irar-se, pois a ira do homem não produz a justiça de Deus.
Portanto, livrem-se de toda impureza moral e da maldade que prevalece, e aceitem
humildemente a palavra implantada em vocês, a qual é poderosa para salvá-los.
Sejam praticantes da palavra, e não apenas ouvintes, enganando-se a si mesmos.
Aquele que ouve a palavra, mas não a põe em prática, é semelhante a um homem que olha a
sua face num espelho e, depois de olhar para si mesmo, sai e logo esquece a sua aparência.
Mas o homem que observa atentamente a lei perfeita que traz a liberdade, e persevera na
prática dessa lei, não esquecendo o que ouviu, mas praticando-o, será feliz naquilo que fizer.
Se alguém se considera religioso, mas não refreia a sua língua, engana-se a si mesmo.
Sua religião não tem valor algum! A religião que Deus, o nosso Pai aceita como pura e
imaculada é esta: cuidar dos órfãos e das viúvas em suas dificuldades e não se deixar
corromper pelo mundo.

Introdução
Nesse conjunto de versículos Tiago escreve sobre o cristianismo de forma prática,
apresentando uma série de atitudes que devem ser tomadas para que a verdadeira religião
seja alcançada, sendo estas, estar prontos para ouvir e tardios ao falar, livrar-se da impureza
moral e da maldade e observar atentamente a lei, que é perfeita. Ele fala da necessidade de
aceitarmos a palavra de Deus com humildade, sendo praticantes e não apenas ouvintes.
A prática resulta em felicidade, mas requer a manifestação de amor, pelo cuidado com os
outros.
Esse trecho está relacionado com o trecho anterior, em que o apóstolo apresenta a
necessidade de livrar-se de toda a maldade e receber a palavra já implantada (v. 21), o que
diz respeito a conhecer a Palavra, mas também vivê-la intensamente. Conhecer a Palavra não
é o objetivo maior. Para o apóstolo, o mais importante é que haja conversão (mudança) ante
aos ensinos da Palavra. A questão central, então, refere-se à prática do evangelho, pois não
basta crer na Palavra.
Toda a mensagem poderia ser sintetizada nesta expressão do texto: "Sejam praticantes da
palavra" (v.22). Os seus escritos pretendiam alcançar cristãos dispersos em um mundo onde
a presença e o testemunho deles poderiam gerar muitos frutos.

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O mundo precisa mais do que palavras; precisa ver nos cristãos, atitudes que façam a
diferença, pois palavras apenas não convencem: nem ao mundo, nem a nós mesmos e muito
menos a Deus.

1. OS PASSOS PARA A PRÁTICA DO EVANGELHO


Inicialmente, o apóstolo ensina a importância de se dar alguns passos para se praticar o
evangelho. São etapas sequenciais, bastante práticas, que devem ser observadas por todos
os que desejam viver plenamente o evangelho. Consideremos, então, as orientações
oferecidas por Tiago, as quais estabelecem ações concretas:
1.1. Prontidão para ouvir (v.19) - Não são poucos os que querem ministrar a Palavra antes
de ouvi-la. Para o apóstolo, é fundamental aplicar tempo ao estudo da Palavra. Isso é
semelhante ao aprendizado do motorista que, antes das aulas práticas dirigindo um carro,
precisa conhecer primeiro as leis de trânsito. Só podem andar com segurança, os que primeiro
aprendem as leis. Isso demanda tempo de estudo e preparação;

1.2. Calma para falar (v.19) - Mesmo após ouvir, não se deve ser precipitado para ensinar.
Primeiro, devemos ser alunos, para somente depois sermos mestres. Jesus, o Mestre por
excelência, não se precipitava para falar aos seus inquiridores. O seu método, bastante
didático por sinal, incluía perguntas e terminava com frases curtas, bem formuladas e sem
pressa. Um bom exemplo disso é a experiência no Calvário, quando ele pronunciou apenas as
"Sete Palavras da Cruz", as quais ecoam até hoje. Nosso Senhor nos ensina a permanecer
calados, mesmo diante das provocações, usando a língua para dizer somente o estritamente
necessário (Marcos 14.60-62).
A realidade é que temos dificuldade em ouvir a voz de Deus, pois apenas queremos falar.
Nossa realidade é que falta diálogo entre as pessoas, ou não sabemos dialogar. Somos
impacientes, apressados, irados e não querermos gastar tempo para resolver os problemas,
não conversarmos de forma produtiva. Precisamos estar atentos sobre o que falamos, como
falamos, quando falamos, com quem falamos e por que falamos.
A comunicação é algo precioso em qualquer relacionamento, seja no namoro, casamento,
trabalho, família e tantas outras áreas. Mas, de forma impulsiva, falamos antes de pensar, de
ouvir, de orar, e de mediras consequências (Salmos141.3), e com isso causamos desastres.

1.3. Demora para se irar (v.19) - Mesmo a ira legítima ou autorizada precisa ser devidamente
administrada para não ferir ou prejudicar as pessoas (Provérbios 17.27; Eclesiastes 7.8 e 9).
Tiago condena o temperamento irrefletido e descontrolado dos que, em nome da verdade,
da justiça, e até da Palavra, utilizam termos ásperos, nocivos e irrecuperáveis, os quais, em
vez de ajudar, terminam por ferir as pessoas. Como observa Alan Pallister, em “Os Radicais”,
"não nos é fácil ser tardios para falar e prontos para ouvir o ponto de vista do outro. Não é
fácil deixar a ira.
Precisamos tomar cuidado com a ira explosiva (destruidora) e com a ira implosiva (que se não
for cuidada, pode gerar fofocas, com o intuito de buscar justiça própria ou ser considerada
inocente na história). Quem não tem domínio próprio fere e machuca quem está ao seu redor.
A ira do homem não produz justiça perfeita (ações corretas, que dá o que cada um merece).
Ela, possivelmente, causa mais problemas, pois a justiça do homem está sob influência
pecado, e produz ainda mais pecado.
Como cristãos temos que nos convencer que não faz muito sentido continuar a reagir assim.
Se nos falta sabedoria para conseguir reagir bem, devemos pedir a Deus e ele nos dará.

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Quando tivermos o grande privilégio de ver outras pessoas modificadas pelo processo
contínuo da justiça de Deus nelas, nós aprenderemos a descansar na confiança de que ele
sabe o que está a fazer. Não tentaremos precipitar o processo com o instrumento ridículo
que é a nossa ira porque teremos a certeza de que Deus faz muito melhor.";

1.4. Acolhimento da Palavra (v.21) - A palavra já implantada precisa ser acolhida e


processada. Ser salvo ou alcançado pela Palavra não é o fim, mas o início da vida com Deus,
tal qual anunciou o profeta: "Colocarei minha lei na sua mente e a escreverei em seu
coração..." (Jeremias 31.33). A Palavra que se encontra na mente deve alcançar o coração
(a vontade), tornando-se parte de nós mesmos. Para isso, ensina Tiago, é preciso "livrar-se"
de toda maldade. É preciso abrir-se para Deus e, pela ação do Espírito Santo, remover toda a
maldade que prejudica a comunhão com Deus e o crescimento espiritual;

1.5. Prática da Palavra (v.22-25) - Os que ouvem e não praticam a Palavra, sofrem de uma
ilusão perigosa e fatal, pois estão enganando a si mesmos. Somos desafiados a ser operosos
perseverantes na prática do evangelho. Jesus ensina: "Mais felizes são os que ouvem a palavra
de Deus e a põem em prática." (Lucas 11.28). Paulo adverte: "Porque os simples ouvidores da
lei não são justos diante de Deus, mas os que praticam a lei hão de ser justificados." (Romanos
2.13).
Tiago nos mostra que o ouvinte engana a si mesmo, enquanto o praticante edifica a si mesmo
e aos outros. Ele observa atentamente, persevera na prática e não esquece o que ouviu, e o
resultado desta atitude é que ele será feliz naquilo que fizer.
O ouvinte e o praticante devem viver uma vida onde o discurso não se separa da prática.
Na verdade, o que falta aos leitores da Bíblia é a obediência que, segundo João Calvino,
é "a mãe do verdadeiro conhecimento de Deus". De nada adianta ler ou estudar a Bíblia, se o
que aprendemos não interferir de forma profunda em nosso caráter e em nossa maneira de
viver.

Tiago está fazendo um comparativo de uma pessoa que vê a sua imagem no espelho,
se contempla e logo se esquece do que viu. Ele está querendo mostrar o tipo de pessoa que
ouve a mensagem, se encanta com ela, mas logo se esquece daquilo que ouviu. (Foi puro
emocionalismo).
Um estudo realizado nos Estados Unidos comprovou que se uma mensagem que provoca
reflexão, que traz uma verdade, e nos faz refletir a respeito da vida e nossos hábitos, nos
influenciar apenas por 48h, ela provocou apenas um emocionalismo e logo pode ser
esquecida. Para ser verdadeira ela precisa ser uma presença constante, não algo de horas,
mas de uma vida inteira.

Perguntas: Pense em uma situação especifica na qual você não ficou satisfeito com a forma
como prestava atenção enquanto alguém falava. Pense em outra situação na qual você não
ficou contente com a maneira como alguém o escutava. Por que é tão difícil ser um bom
ouvinte? Como estar pronto para ouvir e tardio para falar podem nos ajudar a ser tardios para
nos irar (versículo 19)?

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2. AS IMPLICAÇÕES PRÁTICAS DA VERDADEIRA RELIGIÃO
Buscando ser prático em sua mensagem aliás, uma forte característica da Epístola de Tiago,
o apóstolo apresenta exemplos concretos de como é a verdadeira religião. Mais do que
palavras e expressões, a verdadeira religião se apresenta em atitudes visíveis que confirmam
a fé. Afinal, quais são as implicações mencionadas por Tiago? Recomenda o apóstolo os
seguintes cuidados:

2.1. Cuidados com a fala (v.26) - Aquilo que falamos é de grande importância em nossa
experiência de fé. Posteriormente retornaremos a esse assunto, quando estudarmos o
capítulo 3. Por hora, vale atentar a recomendação que diz respeito ao freio da língua - algo
que traz grande diferença na demonstração de nossa fé!

2.2. Cuidados para com os necessitados (v.27) - Tiago menciona as viúvas e os órfãos, que
representavam pessoas abandonadas, marginalizadas e esquecidas. A atenção aos
necessitados é uma das evidências da verdadeira religião. Hoje, precisamos identificar todos
aqueles que representam os órfãos e viúvas dos tempos passados, estendendo-lhes a mão e
mostrando que a nossa religião é mais do que mera teoria. O já citado Alan Pallister afirma
que "o que realmente garante perante os outros que a fé professada é real, é a nossa maneira
de viver. As pessoas sem Deus não sabem apreciar os pontos sutis da doutrina e avaliá-los
biblicamente. Não se deixam impressionar pelo aspecto exterior do nosso lugar de culto
porque há lugares mais bonitos e organizações mais perfeitas no mundo secular. Para eles a
única 'religião' que convence é a nossa vida";

2.3. Cuidado pessoal (v.27) – Muitas vezes, as pessoas se preocupam tanto com os outros e
com as ocupações da vida, que terminam por se esquecerem de si mesmas.
Paulo tinha consciência do risco de pregar a tantos, vindo ele mesmo a ser desqualificado (1
Coríntios 9.26,27). Ele recomendou a Timóteo: "Tem cuidado de ti mesmo e da doutrina..."
(1 Timóteo 4.16).
Douglas Moo adverte: "o verdadeiro teste de qualquer confissão religiosa não é o ritual
externo de adoração, no qual muitos impensadamente e sem um compromisso sincero se
envolvem. Não, a verdadeira prova de uma religião é a obediência - sem ela, a religião é vã:
vazia, inútil e infrutífera."

Tiago encerra o capitulo nos dizendo que não podemos ser pessoas que muito falam e pouco
fazem. O discurso não pode estar longe da ação. Gramaticalmente entendemos tudo sobre o
evangelho, mas o distorcemos com a vida. Fazemos o caminho contrário de um discípulo de
Cristo, e caminhamos como os fariseus, que aparentavam e falavam coisas bonitas, mas o
caráter estava longe de ser bonito, era deformado e vazio. Porém, a religião pura e imaculada
que Deus requer, é o amor ao próximo e a Deus (não se corrompendo com o mundo e seus
modismos, nem com seus “ápices” de desejos e satisfação enganosa).
Dietrich Bonhoeffer, teólogo alemão disse: "A resposta do discípulo não é uma confissão oral
da fé em Jesus, mas sim um ato de obediência."

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CONCLUSÃO
O evangelho não é uma teoria nem tampouco uma ideia bem formulada. Evangelho é vida!
Ser cristão é imitar a Jesus, agindo como ele agiu. Não basta crer na Palavra de Deus; é preciso
praticá-la de forma coerente e perseverante. Negligenciar a prática do evangelho é enganar
a si mesmo. O conhecimento da Palavra impõe a sua pratica. Ser cristão é praticar o
evangelho; e praticar o evangelho é a prova da verdadeira religião.
A forma de lidarmos com a nossa ira e nosso senso de justiça própria, é reconhecer que o que
sentimos não vai resolver problema nenhum. Devemos colocar nosso coração diante de Deus,
apresentar a causa, nossa dor, nossa raiva e indignação a Deus, procurando tirar da nossa
mente qualquer pensamento voltado à impureza moral e ao desejo do mal.
Devemos aceitar a verdade de Deus em atitude de fé e aguardar sua justiça, que é poderosa
para solucionar tudo.

DESAFIOS
ü Ouça: Pratique a escuta atenciosa de pessoas que estão perto de você. Ouça a voz de
Deus por meio de sua palavra.

ü Acolha: Reserve algum tempo nos próximos dias ou semanas para lembrar as palavras e
mensagens que estão em sua mente e escreva-as. Peça a Deus que o ajude a evitar o que
o afasta dele e para abrir a sua mente e o ajudar a se concentrar em sua Palavra e a acolhe-
la.

ü Pratique: Ouvir a palavra e não praticar é infantilidade espiritual.

BIBLIOGRAFIA
- Bíblia Sagrada: Acesse a versão online da Youversion: https://www.bible.com/pt/
- Sabedoria Para a Vida: Estudos na Epístola de Tiago. João Cruz. Versão em eBook, 2018.
- Tiago - A fé prática em ação. Red. Estudos para grupos pequenos, 2022.
- Fé e Vida: A pertinente mensagem da Carta de Tiago. Didaquê Publicações, 2017.

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