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1. INTRODUÇÃO
As alterações do clima vêm ampliando a preocupação e o debate global, devido aos seus
possíveis efeitos e impactos para a sociedade e as organizações. Assim as mudanças climáticas
têm se tornado um importante desafio para governantes e líderes mundiais, os quais buscam
estabelecer políticas de gerenciamento e minimizar as consequências para o ecossistema
representados pelos inúmeros riscos à saúde humana (RIFKIN et al., 2018), a produção
agrícola, a segurança alimentar, a economia e o desenvolvimento dos países (EEKHOUT; DE
VENTE, 2019; CHEN et al., 2020).
Linnenluecke, Griffiths e Mumby (2015), indicam que a partir de evidências
científicas sobre mudanças climáticas, há oportunidades para envolver o setor de negócios e,
assim, incentivar ações de adaptação. Os autores constatam que há dificuldade para os gestores
identificarem os impactos das mudanças climáticas em suas empresas em um curto período de
tempo e espaço, a mudanças climática tende a ser tratada juntamente com uma infinidade de
outras responsabilidades sociais corporativas.
Conforme Nikolaou et al. (2015) as mudanças climáticas provavelmente têm um forte
efeito no desempenho econômico das empresas, devido aos seus riscos físicos, que podem
aumentar significativamente os custos. Paralelamente os autores afirmam que ao adotar
estratégias para responder as mudanças climáticas as empresas tendem a aumentar seus custos
totais, no entanto quando essas estratégias estão alinhas à inovações, pode haver também
impactos positivos na imagem e reputação das empresas para vários stakeholders, podendo
assim obter uma vantagem competitiva de mercado.
Verifica-se assim, a necessidade dos setores econômicos se adaptarem à essas
mudanças, buscando integrar em suas estratégias e gestão, políticas e ações que busquem
minimizar os efeitos das mudanças climáticas. Entre os setores, destaca-se a indústria,
responsável por grande parte das emissões de gases de efeito estufa (GEE).
Dessa forma, visto a relevância da temática e os desafios das organizações em adaptar-
se as mudanças climáticas integrando-a estrategicamente visando à obtenção de vantagem
competitiva e maior desempenho empresarial elabora-se a questão fundamental da presente
pesquisa: De que forma a gestão das mudanças climáticas se relacionam com o desempenho
das empresas industriais?
Seles et al (2018) ressaltam que é fundamental investigar os desafios e as
oportunidades geradas a partir da crise climática e como as organizações estão respondendo,
principalmente em países em desenvolvimento como a América do Sul. Além disso, os autores
ressaltam a importância de estudos que analisem como as organizações desenvolvem os
recursos internos para lidar com desafios apresentados pelas mudanças climáticas, bem como a
eficiência de práticas de gestão de operações de baixo carbono adotadas e a relação entre a
adoção de estratégias, ações e práticas para mitigar ou adaptar-se às mudanças climáticas e as
melhorias nas operações organizacionais desempenho internacional.
Conforme o exposto, este estudo se torna relevante no sentido de identificar de que
forma as indústrias estão realizando a gestão das mudanças climáticas, as práticas de mitigação
e adaptação adotadas e suas possíveis relações com o desempenho empresarial. Assim, espera-
se a partir dos resultados, contribuir para o avanço dos estudos acadêmicos em relação as
mudanças climáticas, sendo essa uma temática emergente e de grandes impactos no contexto
econômico e social.
Definição Autores
Riscos Impactos negativos e ameaças das Seles et al. (2018); FGV (2015) Gasbarro et al.
mudanças climáticas para a operação da (2017); Demertzidis et al. (2015)
empresa.
Oportunidades Possibilidade de ganhos a partir das Hoffman (2004); FGV (2015); Gasbarro et al.
mudanças climáticas. (2017); MNA (2016)
Barreiras Aspectos que impedem a eficiência da Herrmann e Guenther (2017); Paul et al. (2017);
gestão das mudanças climáticas. Abuzeinab, Arif e Qadri (2017); Klein et al. (2014)
Envolvimento Formas de envolvimento da empresa Kolk e Pinkse (2009); Sprengel e Busch (2011);
político e em atividades políticas, engajamento Andrew e Cortese (2011), FGV (2015); Hickmann
stakeholders dos seus stakeholders e comunicação. (2017); Wang, Cui e Peng (2018)
Práticas de Ações que objetivam a redução de Forouli et al. (2019); Damert et al. (2017);
mitigação emissões de gases de efeito estufa Michailidou et al. (2016), Cadez e Czerny (2016)
(GEE) e/ou melhoram os sumidouros IPCC (2014b); Fischedick et al. (2014); Fujimori
de GEE. et al. (2014) Rao e Thamizhvanan, (2014); Halady
e Rao (2010)
Práticas de Ações em resposta aos impactos atuais Debels et al. (2009); Agrawala et al. (2011); May e
adaptação e potenciais da mudança do clima, Vinha (2012); West et al. (2013) Rao e
buscando minimizar possíveis danos e Thamizhvanan, (2014); IPCC (2014a);
aproveitar as oportunidades potenciais. Alkaya et al. (2015); ECLA (2015); MNA (2016)
A busca por processos eficientes e uma gestão preocupada com os aspectos ambientais,
sociais e econômicos são fundamentais no cenário competitivo dos negócios. Conforme Shad
et al. (2019) medir o desempenho da organização possibilita identificar informações sobre os
objetivos organizacionais e quão bem eles foram alcançados. Para os autores, o desempenho de
uma empresa é um fator estratégico e monitorado pelos investidores, e é conforme ele que
muitos investidores tomam suas decisões de investimentos.
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Os indicadores são considerados ferramentas essenciais na mensuração de
desempenho, visto que conseguem demonstrar se os objetivos estabelecidos foram atingidos,
tendo em vista que buscam informar sobre um determinado fenômeno, bem como comunicar
aspectos peculiares ao desenvolvimento de alguma atividade (SILVA; CÂNDIDO, 2012).
Segundo Souza e Lopes (2010),o Global Reporting Initiative - GRI é u m s i s t e m a
d e i n d i c a d o r e s d e d e s e m p e n h o q u e s e destaca-se dos demais indicadores,
devido a o seu objetivo de satisfazer a necessidade das organizações de terem uma
comunicação clara e transparente, de forma que o compartilhamento de estruturas de
conceitos tenha uma linguagem coerente e que seja global, ou seja, propõe um padrão de
comunicação global sobre ações empresariais sustentáveis. O GRI considera em seus relatórios
três dimensões para mensurar o desempenho sustentável, são elas: a econômica, ambiental e
financeira. A dimensão econômica refere-se aos impactos da organização sobre as condições
econômicas de seus stakeholders em nível local, nacional e global, essa dimensão se divide em
variáveis de desempenho econômico, presença no mercado e impactos econômicos indiretos
(GRI, 2006).
Outras temáticas, como a questão da inovação, também estão sendo relacionados ao
desempenho das organizações. Gunday et al. (2011) desenvolveram um estudo com o intuito
de explorar os efeitos das inovações organizacionais, de processo, de produto e marketing nos
diferentes aspectos do desempenho da empresa. Para tal, Gunday et al. (2011) evidenciam
quatro indicadores de desempenho relacionadas aos efeitos da inovação sendo elas:
desempenho financeiro (Rentabilidade geral da empresa; Retorno sobre as vendas; Retorno
sobre o ativo; Fluxo de caixa), desempenho inovador (Renovação do sistema administrativo em
sintonia com o ambiente de empresa. Percentagem de novos produtos presentes no portfólio de
produtos existente. Número de inovações sob a proteção da propriedade intelectual. Inovações
introduzidas em processos de trabalho e métodos. Qualidade dos novos produtos e serviços
introduzidos. Número de novos projetos em produtos e serviços.), desempenho de produção
(Flexibilidade de produção (volume); Produção e velocidade de entrega; Qualidade e
conformidade; Custo de produção.) e desempenho de mercado (Participação de mercado.
Satisfação dos clientes. Vendas Totais).
Assim, Gunday et al., (2011) concluem em seu estudo que as inovações realizadas nas
empresas significativas têm impactos significativos no desempenho inovador, principalmente
a inovação de produto, além disso as variáveis financeiras, de produção e mercado tem relação
direta com o desempenho. Nesse sentido os autores acreditam que os gestores das empresas
devem investir e apoir inovações, pois parece ser o principal instrumento para alcançar um
poder competitivo sustentável, ao melhorar sua capacidade inovadora espera-se também uma
melhoria de sua produção, de mercado e de retornos financeiros.
Nessa perspectiva, Papadopoulos e Martín (2010) apresentam uma importante medida
para avaliar o desempenho empresarial, no âmbito das exportações. A partir desse estudo, os
autores fundamentam e validam indicadores de performance sob duas dimensões empresariais,
a econômica (Vendas de exportação; - Lucratividade Exportadora) e a estratégia (- Apoio
recebido para a entrada no mercado de exportação. - Ações para aumentar a conscientização
social e ambiental dos produtos/empresa - Mecanismos de resposta à pressão do competidor. -
Melhorias trazidas a partir de expansão em mercados estrangeiros - Aumento na rentabilidade
da empresa - Impactos advindos da diversificação de clientes/consumidores - Aumento de
oferta no portfólio de produtos).
A partir da compreensão dos diferentes indicadores de desempenho empresarial, será
apresentado na próxima seção a influência que as mudanças climáticas podem ter nestes
indicadores.
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3. METODOLOGIA
Fonte: Desenvolvido pela autora com base em Gasbarro et al. (2017); Herrmann e Guenther (2017);
FGV (2015); Sprengel e Busch (2011); IPCC (2014b); Damert et al. (2017); MMA (2016); Kneipp (2016);Gunday
et al. (2011); Papadopoulos e Martín (2010).
Dessa forma, para atender o objetivo proposto pelo estudo, foram realizadas quatro
entrevistas em empresas brasileiras do setor industrial e que possuíam indícios de práticas
sustentáveis no âmbito das mudanças climáticas. As entrevistas foram gravadas com a
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autorização dos respondentes e posteriormente transcritas, para melhor compreensão das
informações.
Foram seguidas as recomendações de Godoy (2006) que destaca que o registro das
entrevistas pode ser realizado por meio de gravação e/ou anotações consentidas pelo
entrevistado. Foram entrevistados os gestores responsáveis pela área de sustentabilidade, no
período de novembro de 2019 a janeiro de 2020 com duração média de 40 minutos cada.
Buscando complementar os resultados, foram realizadas análise de documentos, como os
relatórios de sustentabilidade e de gestão das empresas participantes.
Como método de análise foi utilizado a análise de conteúdo, que, conforme Bardin
(2011), refere-se ao desvendamento de significações de diferentes tipos de discursos, baseando-
se na inferência ou dedução, mas que, simultaneamente, respeita critérios específicos
propiciadores de dados em frequência, em estruturas temáticas, entre outros.
Além disso, na análise dos relatórios e documentos foram examinadas evidências
que abordaram a questão das mudanças climáticas e sustentabilidade, corroborando assim com
a análise das entrevistas. Para apoio das análises, foi utilizado o Software Nvivo, buscando
categorizar e organizar os dados para apresentação dos resultados.
4. RESULTADOS
Localização Sumaré (SP) Brasil, Estados Unidos, Sorriso (MT) Tijucas (SC)
Alemanha e México
Tipo de ISO 9001 e ISO ISO 9001, ISO 14001, ISO 9001 e ISO ISO 9001
certificações 14001 OHSAS-18001, Verdes, 14001
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ISO/TS 16949, RCMS, ISO
17025, ISO 50001
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competitividade da indústria, o que corrobora com as práticas de mitigação destacadas pelas
empresas industriais participantes deste estudo.
A partir das evidências coletadas, observa-se que as práticas de adaptação parecem ser
moderadas se comparadas as práticas de mitigação. Há uma predisposição para práticas de
adaptação relacionadas principalmente a questão dos recursos hídricos, assim como nas práticas
de mitigação, no entanto parecem ser ainda práticas reativas aos cenários de riscos. A
predominância de práticas relacionadas a questão da água fica evidente e parece estar em
conformidade com os estudos de May e Vinha (2012), Agrawala et al. (2011), Alkaya et al
(2015), os quais destacam que ações encontradas em setores industriais estão relacionadas a
fatores como escassez de água.
É importante destacar que a empresa Beta parece estar em um estágio mais avançado
de práticas se comparada as demais, além das práticas de mitigação, a empresa realiza um plano
de adaptação a partir do mapeamento e monitoramento dos riscos climáticos, seguindo todos as
dimensões do Plano Nacional de Adaptação à Mudança do Clima (2016). A empresa Beta,
ainda, se destaca em estratégias pró-ativas, buscando novos pontos de capitação e a
possibilidade de dessalinização da água do mar.
Fica evidente que as empresas industriais estudadas possuem pontos convergentes no
que se refere a percepção e enfrentamento das mudanças climáticas. Apesar disso, também há
particularidades quanto ao setor e a abrangência das ações de mitigação e adaptação. Verifica-
se que existe uma consciência em prol de um desenvolvimento sustentável em todas as
empresas estudadas, mas ainda parece haver uma carência no que se refere as questões
climáticas no âmbito estratégico.
Na próxima seção será discutida a dimensão desempenho empresarial.
5. CONCLUSÃO
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A partir do modelo conceitual, fundamentado nos estudos de Gasbarro et al. (2017), Herrmann
e Guenther (2017), Damert et al. (2017), IPCC (2014b), MMA(2016) Kneipp (2016) com base
em Gunday et al. (2011), Papadopoulos e Martín (2010), pode-se compreender como as
empresas industriais brasileiras estão se posicionando e adotando práticas como respostas para
enfrentar o cenário de mudanças climáticas. Além disso foi possível verificar como a gestão de
práticas orientada às mudanças climáticas pode se relacionar com o desempenho empresarial
nas indústrias. Apresenta-se a seguir o Quadro 4, com o resumo das evidências qualitativas.
Quadro 4 – Resumo das evidências qualitativas
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