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A primeira apresentação pública do TEUC realizou-se em 27 de Junho de 1938,

ainda com a designação de Grupo Cénico da Secção de Fado Académico de Coimbra, no


contexto de uma noite vicentina que compreendia a Farsa de Inês Pereira, o quadro
Todo o Mundo e Ninguém do “Auto da Lusitânia”, o quadro Os Quatro Irmãos da “Farsa
do Juiz da Beira” e a Súplica de Cananeia, com encenação do Professor Paulo Quintela.
Durante os seus primeiros trinta anos de existência, a actividade do TEUC foi marcada
pela direcção artística do Professor Paulo Quintela, tendo durante esse período sido
encenados autores do Teatro Clássico Grego, como Eurípides, Sófocles e Ésquilo,
clássicos do Teatro Mundial como Molière, Goethe e Calderón de La Barca, autores
modernos como Tchékov e García Lorca, e, finalmente, autores portugueses, desde Luís
de Camões a autores contemporâneos como Miguel Torga, Raúl Brandão e José Régio.
Mas estas três décadas foram marcadas sobretudo pela representação de numerosos
textos do chamado “pai” do teatro português, Gil Vicente. No final da década de 40 e
início da década de 50, o TEUC assumiu também o forte empreendimento de levar as
suas peças ao público lusófono além-fronteiras, desde África até ao Brasil, dinamizando
as relações culturais entre Portugal e estes povos.
A partir da última metade da década de 60, a orientação artística do grupo sofre uma
grande mudança, marcada pelo trabalho com novos encenadores, como Luís de Lima e
Júlio Castronuovo, e o nascimento de uma secção dentro do TEUC vocacionada para o
Teatro Infantil, responsável por uma prolífera actividade que se estende pelas décadas
de 70 e 80, em prol de um público jovem, mas tão carente de produtos artísticos como
o adulto.
Com a chegada do 25 de Abril, termina um período marcado pela censura e pela
tentativa de tornear as limitações por ela impostas; é altura de fazer chegar a todo o
público a ideia de concretização da liberdade, através do teatro de intervenção social:
Portugal com P de Povo, Arraia Miúda, A Excepção e a Regra; é altura de levar à cena
autores polémicos como Bertolt Brecht e Dario Fo, de experimentar novas formas de
linguagem com encenadores como Fernando Gusmão, José Oliveira Barata e Adolfo
Gutkin. Também a formação assume um papel crucial neste período, assumindo-se
como a base imprescindível de qualquer actividade criativa.
A década que se segue é caracterizada pelo experimentalismo e aposta em propostas
diferentes do que se fazia até então, em encenações de Adolfo Gutkin, Ricardo Pais,
Andrzej Kowalsky, Rogério de Carvalho e Manuel Sardinha, entre outros. Encenam-se
autores que nunca tinham aqui sido abordados: Enrique Buenaventura, Alberto
Adelach, Frank Wedekind, Boris Vian, Cervantes, Marguerite Duras, August Strindberg.
Também data desta altura a edição da então única revista de Teatro em Portugal – a
TeatrUniversitário – e a criação da Semana Internacional de Teatro Universitário
(SITU), que reuniu em Coimbra o Teatro Universitário que se fazia pela Europa, e
simultaneamente divulgou o Teatro português extra fronteiras.
O início da década de 90 é marcado pela apresentação de espectáculos que se tornaram
uma referência no panorama do teatro português de então: Platonov, de Anton Tchékov,
encenado por Rogério de Carvalho, Grupo de Vanguarda, de Vicente Sanches encenado
por Ricardo Pais, India Song, de Marguerite Duras, encenado por Manuel Sardinha. A
actividade prossegue com novos criadores, alguns dos quais realizam no TEUC as suas
primeiras encenações - Jorge Fraga, Paulo Castro, João Grosso, José Neves, Tiago Torres
da Silva - mantendo-se o contacto com outros que já aqui haviam encenado - Rogério de
Carvalho, Manuel Sardinha. Trabalham-se autores bastante conhecidos do público,
como António Patrício, Luigi Pirandello, Federico García Lorca e Peter Handke, outros
ainda pouco divulgados entre nós, como Fernando Arrabal e Clarice Lispector, e novos
valores da escrita portuguesa, como Jacinto Lucas Pires.
Entrámos no novo século com a apresentação de Sonho de Uma Noite de Verão de
William Shakespeare, dirigida por António Mercado, encenador de renome
internacional.
No princípio de 2002 regressámos a Lorca. Clóvis Levi encenou a nossa primeira
produção de 2002 – Mulheres de Lorca.
Como segunda produção de 2002, levámos à cena Talk the Talk and the Jay, de Pedro
Malacas, um espectáculo de criação colectiva. Passados quinze anos desde a última
apresentação de uma criação colectiva do TEUC, este espectáculo surgiu como um
desafio, conduzindo o grupo a viver uma experiência teatral há muito relegada.
Em 2003 sentimos a necessidade de afirmar o Teatro Universitário como teatro de valor
social e crítico. Desta forma convidámos Tiago Rodrigues, jovem encenador e actor com
experiência internacional, para encenar Calígula de Albert Camus.
Como Exercício Final do Curso de Formação Teatral 2003/04, o TEUC explora, no
primeiro semestre de 2004, o texto “O Rinoceronte” de Ionesco e apresenta o
espectáculo Rinocerontes, encenado por Manuel Sardinha.
Já no segundo semestre do mesmo ano, o TEUC apresenta O Teatro Ambulante
Chopalovitch, com encenação de Pedro Matos.
O ano de 2005 iniciou-se com o projecto Contos Tontos - teatro para a infância, no
âmbito da VIIª Semana cultural da Universidade de Coimbra, subordinada ao tema
“Abraço Lusófono”.
Ainda neste ano somos levados para o universo de Edward Bond com a peça Os Homens
das Latas, com encenação a cargo de Luís Mestre.
Mais tarde, no segundo semestre, tem início o curso de Formação Teatral 2005/06, que
culmina com a apresentação do exercício final Ensaio Antígona, encenado por
A.Kowalski, a partir do texto de Sófocles.
Em Dezembro de 2006, estreia Hamlet(s), no Teatro Académico de Gil Vicente, uma
grande produção que voltou a cena em Janeiro do ano seguinte, encenada por Nicolau
Antunes, com base no texto de William Shakespeare.
O TEUC decide, em 2007, abordar um novo método de escolha de encenadores e/ou
peças a realizar. No âmbito do concurso Palco a novos encenadores, lançado em Outubro
de 2006, é levada a cena a proposta vencedora de Ricardo Correia. Projecto Müller, a
partir de um estudo da obra de Heiner Müller, estreia em Março no Teatro de Bolso do
TEUC e também no XI Ciclo de Teatro Universitário da Beira Interior, tendo sido
galardoada com o prémio do Júri.
Ainda em 2007, no mês de Junho, é levada a cena uma Co-produção entre a Camaleão e
o TEUC, O Fazedor de Teatro, de Thomas Bernard, encenada por Pedro Malacas.
Por ocasião do 70º aniversário do Teatro dos Estudantes da Universidade de Coimbra
A Cantora Careca, de Eugène Ionesco, com encenação de António Durães e O Sonho, de
August Strindberg, com encenação de Pedro Matos, no Teatro de Bolso do TEUC e ainda
Oresteia - Fragmentos de Agamemnón e Coéforas, de Ésquilo, com encenação de
Rogério de Carvalho, em Dezembro de 2008 no Teatro Académico Gil Vicente.
Em 2009 o TEUC iniciou a sua actividade chamando ao palco, novamente, um antigo
elemento da sua família para encenar, Pedro Malacas. A sua proposta, “PoPo”, a partir
de “Leôncio e Lena” de Georg Buchner, foi bem acolhida pelo grupo resultando na
apresentação ao público conimbricense em Junho e na participação no conceituado
Festival Anual de Teatro Académico de Lisboa (FATAL), abrindo o mesmo, no dia 7 de
Junho.
Ainda em 2009 este organismo abriu as portas do seu espaço para oferecer, a todos
aqueles que têm vontade e disponibilidade de aprender e partilhar, e sobretudo, aos que
como nós amam “a arte da palavra e a cultura e a arte teatral”, o Curso Bianual de Teatro
do TEUC. Passando por várias formações e culminando na apresentação a público de um
exercício final, 20 formandos percorrem assim o caminho para integrar o organismo. A
Narrativa Fidedigna da Grande catástrofe ocorrida no Teatro Baquet, foi o espectáculo
criado por este curso de formação, encenados por Carlos Marques, apresentaram-no no
Teatro de Bolso do TEUC em Abril e Maio de 2010, e foram em digressão ao FATAL de
onde vieram com uma menção honrosa.
Seguiu-se a encenação do Auto da Barca do Inferno, por Ricardo Correia, um espectáculo
criado no seguimento de um convite ao TEUC de integrar a programação do Festival das
Artes de Coimbra, financiado pela Quinta das Lágrimas. Este espectáculo esteve em cena
no Teatro da Cerca de S. Bernardo em Julho e Setembro de 2010, tendo sido apresentado
tanto no Festival, como ao público em geral e ainda a escolas.
Com o início de um novo ano lectivo, o TEUC aposta em dar oportunidade a novos
encenadores e lança, assim, a 2ª Edição do Concurso Palco a Novos Encenadores, e elege
como projecto vencedor o de Ricardo Vaz Trindade, com a encenação de DEUS, uma
peça, de Woody Allen. Este espectáculo estreou e esteve uma temporada no Teatro de
Bolso em Coimbra em Dezembro de 2010, tendo sido um sucesso e feito casa cheia todos
os dias, percorreu várias cidades do país, embora não tenha participado em nenhum
festival. Foi por fim reposto em Coimbra, no Teatro académico Gil Vicente já em Maio de
2011.
No início de 2011 o TEUC volta a explorar o processo da criação colectiva, chamando
Nuno Pino Custódio para encenar. Este espectáculo com dramaturgia de Hélder
Wasterlain e música ao vivo de Ricardo Pinto, surgiu de uma análise crítica do mundo
actual mais particularmente da situação do nosso país, e da nossa situação no nosso
país. As personagens, o texto, a ideia foi criada pelos actores, numa base de
improvisação guiada pelo encenador e de acordo com a técnica por este explorada. Na
base da improvisação e de “não nos tornarmos maquinais” o texto não foi fixado, tendo
sido uma nova experiência não só para os actores mas para o próprio TEUC, que tem
por hábito trabalhar textos escritos. Em Abril de 2011, o Dia de Raiva estreou no Teatro
de Bolso do TEUC, onde se manteve apenas por três espectáculos, mas foi ainda ao
FATAL, festival do qual trouxe o primeiro prémio.
O Curso de Formação Bianual do TEUC abriu mais uma vez com o início de mais um ano
lectivo, 2011/12 em Coimbra. Culminou com a apresentação ao público do Exercício
Final - Vosch-Vusch, um bosque em marcha. Esta criação colectiva, sob a encenação de
Catarina Santana e Joana Pupo, procurou afastar-se de um cunho clássico, tendo lugar
sob o signo da escuta, da atenção ao outro, segundo as palavras de um dos formandos:
"nisso só tivemos vantagem (...), os que ali estavam tinham garra, pathos, um vulcão no
peito. Desaguámos num mar comum."
Paralelamente a esta produção a Associação Arte à Parte convidou o TEUC a embarcar
num projecto comum, a XV Semana Cultural da Universidade de Coimbra deu o mote:
Ser da Água. O resultado foi Escorbuto, uma comédia absurda, uma ficção subjectiva e
subjugada ao absurdo e ao grotesco, construção num regime de colaboração criativa
com o encenador Ricardo Vaz Trindade. A par da estreia, que decorreu no espaço do
também parceiro TAGV, foi editado um livro com o texto original apresentado em cena,
bem como um primeiro texto escrito por Pedro e Rodrigo Monteiro. Mercê do sucesso
da primeira parceria, o TEUC recebe um novo convite. Desta feita do TAGV: para
promover e integrar a 1ª Edição da Mostra de Teatro Universitário da Universidade de
Coimbra, juntamente com o próprio TAGV, os organismos CITAC e GEFAC, e ainda o
Grupo de Teatro da Faculdade de Letras da UC, o Thíasos.
O ano de 2012 chegou ao fim com o TEUC na Ribalta. Nesta produção, o encenador David
Pereira Bastos, desafiou os actores a improvisar numa situação de espera, a fim de
despertar a consciência corporal do actor perante essa mesma espera, munindo-os de
diversos textos clássicos, desde Beckett, passando por Shakespeare e Tchekhov, até
Handke. O espectáculo reflecte invariavelmente a base que presidiu à sua criação: o
contínuo esforço do actor perante a Ribalta: "O actor (...) leva impulsos, ferramentas e
coragem e com eles enfrenta a luz forte da ribalta. É só isto, o que não é pouco", palavras
do assistente de encenação, Ricardo Vaz Trindade.
O TEUC comemora, em 2013 o seu 75º aniversário, sendo assim o grupo de teatro
universitário mais antigo da Europa em actividade contínua. Para abrir as
comemorações desta ocasião tão especial lançou-se numa co-criação TEUC e Joana
Providência, coreógrafa contemporânea de renome nacional e internacional. Este
trabalho contou assistência coreográfica de Leonor Barata, apelidada de "a dança
contemporânea em Coimbra”, e apoio vocal de Sofia Lobo, ambas sócias antigas do
TEUC. No projecto H sete actores do TEUC descobrem o seu caminho através do
movimento, inspirados nas obras do pintor americano Edward Hopper, e nas palavras
de Paul Auster n' O Caderno Vermelho. A obra do pintor transmite um misto de realismo
e estranheza, inspirando a criação do espectáculo feito de suspensões instantâneas,
quase fotográficas, do ritmo quotidiano: "motivou-nos este sentimento de interioridade
e de silêncio, onde a luz cria espaço, e o espaço é percorrido pela luz, criando um
território mental de contemplação. É neste contexto que procurámos desenvolver os
materiais." Joana Providência.
Há marcos na vida que nos obrigam a olhar para trás, a rever a história que nos precede,
para nos redescobrirmos; para redescobrirmos aquilo que outros antes construíram, o
que hoje nos é legado e, na qualidade de herdeiros, reinventamos. E as razões que nos
prendem ao que fazemos, ao palco, aos bastidores, às luzes e à plateia, aos aplausos e
aos silêncios, às costas doridas, pernas pisadas e noites perdidas. Chegados aqui, aos
seus 75 anos, o Teatro dos Estudantes da Universidade de Coimbra convida a uma
retrospectiva, recente e longínqua, procurando nesta novas respostas para velhas
perguntas, numa tentativa de fazer do teatro o que ele é, na sua permanência e
efemeridade. Com o projecto H, o TEUC foi até Espanha, Ourense à 18ª Edição do MITEU
- Festival Internacional de Teatro Universitário de Ourense, onde foi contemplado com
uma menção Honrosa. Foi também à 14ª Edição do FATAL - Festival de Teatro
Académico de Lisboa, onde foi premiado com o Prémio FATAL. Em Coimbra, este
projecto integra, ainda a Mostra de Teatro Universitário, promovida pelo TAGV, abrindo
a 2ª edição do Festival.
Ainda em jeito de comemoração das bodas de diamante do TEUC e a partir desta fusão
entre o teatro e a dança, o TEUC convida o Projecto D para criar uma co-produção,
dirigida por Leonor Barata, que vá beber às origens do nosso grupo e se manifeste na
reinvenção inerente ao grupo, a dança. Assim, Vitral, tem a sua estreia agendada para 7
de Outubro de 2013 no Teatro de Bolso do TEUC. Inspirados na obra de Gil Vicente, 6
actores dançam o universo medieval numa viagem entre mundos vicentinos.

2019, 20, e 21 tem sido anos de muita dificuldade mas apesar de todas as
contrapartidas, da perda de financiamento e da situação de crise em que se encontra o
panorama do teatro universitário nacional, ambicionamos sempre, com nossos
projetos, lutar contra esta situação e manter o organismo ativo. Desta vez, fomos
convidados a participar do 17º FESTECA (Festival Internacional de Teatro do Cazenga),
que se realiza de 7 a 17 de Julho, em Luanda. Iremos apresentar a peça que temos vindo
a trabalhar nos últimos meses: uma adaptação do clássico de Nicolai Gógol, “O Inspetor
Geral”, dirigido por Hugo Inácio, artista português que nos conduziu a um projeto coeso
e único do qual nos orgulhamos e acreditamos representar a identidade do TEUC de
hoje: espelho de inquietações atuais, diverso e multicultural, ainda que honrando os
seus 84 anos de existência.

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