Você está na página 1de 6

UTILIZAÇÃO DA FIBRA DE CARNAÚBA NA

CONSTRUÇÃO DE UM TIJOLO DE SOLO-CIMENTO


FUNCIONAL
S.K.S.S. Queiroz1,2, M.J. Diniz², P.Celestino1,2, I.B. Almeida¹
¹Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte, Mossoró,
Brasil
²Universidade Federal Rural do Semi-Àrido, Centro de Engenharias, Mossoró, Brasil
e-mail: stefanykariny94@gmail.com

Resumo: Atualmente o modelo de construção praticado em nosso país, em toda sua cadeia de
produção, vem ocasionando vários prejuízos ao meio ambiente. Dentre eles, podemos
destacar: a ampla utilização de matéria-prima não renovável da natureza, o grande consumo
de energia, tanto na extração quanto no transporte e no processamento de insumos e por fim a
geração de grande quantidade de resíduos. O tijolo de solo-cimento com adição de fibras
surge como mais uma alternativa sustentável para se buscar um desenvolvimento econômico
menos agressivo ao meio ambiente. Foram confeccionados 3 tijolos de solo-cimento com
adição de fibras de carnaúba, onde foi analisado a sua resistência à compressão simples e
depois foram comparados aos tijolos de solo-cimento convencionais. Na composição dos
tijolos foram utilizados o Cimento Portland tipo CP II Z-32 e um solo argiloso previamente
caracterizado. Todos os procedimentos para sua confecção ocorreram de acordo com os
procedimentos descritos na NBR 10832.Com o ensaio realizado foi possível produzir tijolos
de solo-cimento com adição de fibra de carnaúba com uma boa resistência mecânica. Dessa
forma, verificando que a adição da fibra da carnaúba trouxe contribuições positivas ao tijolo
de solo-cimento.
Palavras-Chave: Materiais alternativos, Tijolo de solo-cimento, Fibra de carnaúba

Introdução
Hoje enfrentamos a falta de recursos naturais, a poluição, as mudanças do clima etc. Tudo
isso teve um aumento acelerado desde a Revolução Industrial, onde se teve um processo de
industrialização desmedido. Para se chegar a um modelo de construção civil mais adequada
aos princípios sustentáveis é necessária a adoção de novos paradigmas, buscando meios e
medidas que consigam suprir as necessidades do desenvolvimento da sociedade, mas
respeitando o meio ambiente. O tijolo de solo-cimento com adição de fibras surge como mais
uma alternativa sustentável para se buscar um desenvolvimento econômico menos agressivo
ao meio ambiente. Dessa forma, o tijolo produzido com o reforço de fibras da carnaúba,
torna-se uma alternativa bastante viável, uma vez que, traz os benefícios do tijolo de solo-
cimento e ainda pode agregar mais resistência mecânica com o reforço da fibra vegetal.
Este trabalho tem como objetivo a confecção do tijolo de solo-cimento com a adição da fibra
da carnaúba em sua composição e posteriormente a confecção fazer uma análise e
comparação da resistência mecânica desse tijolo com o tijolo de solo-cimento sem adição de
fibras. Dessa forma, verificando se a adição da fibra da carnaúba trará contribuições positivas
ao tijolo de solo-cimento.
Procedimento Experimental
O material solo-argiloso foi retirado do campus sede da Universidade Federal Rural do Semi-
Árido – UFERSA, localizado em Mossoró – RN. O solo foi coletado de três diferentes
profundidades: 0,05 – 0,45m, 0,48m – 0,85 e 0,90 -1,90m. O solo foi classificado como solo
argiloso segundo a Sociedade de Ciência de Solo SBCS, (EMBRAPA SOLOS, 2013). Já o
cimento utilizado foi o cimento Portland Composto, tipo CP II Z-32, recomendado pela
ABCP para a confecção de artefatos de cimento para desforma rápida e curados por aspersão
de água.
Foram fabricados dois tipos de tijolos, o primeiro lote (Lote 1) foi o tijolo de solo-cimento
com adição da fibra da carnaúba e o segundo lote (Lote 2) foi o tijolo de solo-cimento sem
adição de fibras, que teve a finalidade de ser comparado ao tijolo fabricado com fibra.
A produção de tijolos de solo-cimento com e sem adição da fibra da carnaúba, utilizando a
prensa manual ocorreu de acordo com os procedimentos descritos na NBR 10832. O solo, o
cimento e as fibras foram pesados para serem realizadas as misturas em massa. As proporções
em volume do traço foram (para os tijolos com fibra): 90% de solo, que equivale a 10kg de
solo; 8% de cimento, que equivale a 0,889 kg de cimento; 2% de fibra de carnaúba, que
equivale a 0,22 kg de fibra. Já para o tijolo sem fibras, foi utilizado o traço 1:10
(cimento:solo), ou seja, 90% de solo, equivalendo a 9 kg de solo e 10% de cimento,
equivalendo a 1 kg de cimento.
Para o Lote 1, inicialmente o solo foi homogeneizado com o cimento e logo após foram
adicionadas as fibras. Em seguida, foi adicionada água a mistura. Observou-se a umidade da
mistura, pois caso o teor de umidade seja muito elevado, desfavorece a compactação do tijolo
devido a tensão superficial da água. Já para o Lote 2, inicialmente o solo foi homogeneizado
com o cimento. Em seguida, foi adicionada água a mistura.
Os blocos de solo-cimento, com adição de fibras e sem adição, foram confeccionados a partir
de uma prensa manual, como mostra a Figura 10 e Figura 11, respectivamente. A matriz
utilizada na máquina de prensagem tem as dimensões: (12,5 x 7,0 x 25) cm, com capacidade
de prensagem de 2 MPa que ocorre no sentido uniaxial.
Após a prensagem, os tijolos foram armazenados em um local fechado e protegidos do sol e
de chuva, para que a cura fosse realizada ao longo dos 7 dias seguintes. Como pode ser
observado a seguir na Figura 1.

(a) (b)

Figura 1 – (a) Armazenamento dos tijolos de solo-cimento com adição de fibras e (b) dos
tijolos de solo-cimento

Para a fabricação dos corpos-de-prova de ambos os lotes foram realizados os seguintes


passos: o tijolo foi cortado ao meio perpendicularmente à sua maior dimensão e após o corte,
as duas metades obtidas foram colocadas uma sobre a outra, por suas faces maiores, sendo
ligadas as duas por uma nata de cimento Portland, com uma espessura de 2 a 3 mm. Como é
mostrado na Figura 2.

(a) (b)

Figura 2 – (a) Fabricação dos corpos-de-prova do tijolo de solo-cimento com adição de fibras
e (b) do tijolo de solo-cimento

Foi realizado um ensaio de determinação de resistência à compressão onde os corpos-de-


prova foram rompidos aos 14 dias, para os tijolos com adição de fibra e 18 dias para os tijolos
sem adição de fibras.

Resultado e Discussão
Durante o processo de cura, realizou-se uma inspeção visual nos tijolos e observou-se o
aparecimento de algumas rachaduras nas superfícies de menor dimensão dos tijolos de solo-
cimento com adição de fibras de carnaúba, como mostra a Figura 3 a seguir.

Figura 3 – Rachaduras do tijolo de solo-cimento com adição de fibras

Comparando com os tijolos de solo-cimento sem adição de fibras, pode-se afirmar que as
fibras de carnaúba, tiveram um efeito negativo na ligação entre os elementos da mistura. Isto
pode ser devido ao fato de que a fibra de carnaúba utilizada não passou por nenhum processo
de beneficiamento.
Os resultados obtidos nos ensaios de resistência à compressão de ambos os tijolos de solo-
cimento, são mostrados a seguir nos gráficos de Força x Deformação do tijolo, para cada
tijolo e na tabela com os valores máximos e médios das resistências à compressão. Todos os
valores obtidos de tensão máxima suportada (MPa) e os gráficos, foram dados obtidos
diretamente da máquina de ensaio de resistência à compressão.
Nessas análises o Tijolo 2 foi desconsiderado, pois antes do ensaio de resistência à
compressão ele estava muito danificado, o que fez com apresentasse resultados bastante
distintos dos outros dois tijolos. Como pôde ser observado no Gráfico 1 e na Tabela 1,os
outros dois tijolos apresentaram um comportamento semelhante.

Gráfico 2 – Gráfico da Força x Deformação, para os tijolos de solo-cimento com adição de


fibras de carnaúba

Tabela 4 – Tensão Máxima e Média Suportada e Deformação Máxima e Média dos tijolos de
solo-cimento com adição de fibras de carnaúba.

Tensão Máxima Deformação


Tijolos
Suportada (Mpa) Máxima (mm)
1 3 8
2 0 4
3 3 9
Média 3 8,5

Gráfico 3 – Gráfico da Força x Deformação, para os tijolos de solo-cimento sem adição de


fibras

Tabela 5 – Tensão Máxima e Média Suportada e Deformação Máxima e Média dos


tijolos de solo-cimento sem adição de fibras

Tensão Máxima Deformação


Tijolos
Suportada (Mpa) Máxima (mm)
1 4 4
2 5 3
3 5 4
4 6 4
Média 5 3,75
Os quatros tijolos sem adição de fibras apresentaram um comportamento semelhante, porém,
sendo um pouco mais resistente que os demais o quarto tijolo.
Comparando os gráficos dos tijolos com e sem adição de fibras de carnaúba, percebeu-se que
apresentaram um comportamento um pouco diferente. Esta discrepância pode ser devida aos
constituintes da cera, que interferiram na adesão da fibra com o solo-cimento.
Apesar dessa discrepância, pode-se observar que a Tensão obtida para os tijolos de solo-
cimento com adição de fibra de carnaúba, estão dentro do estabelecido pela norma, que requer
uma tensão de 2 Mpa, aos 14 dias.

Conclusão
A disponibilidade da fibra vegetal de carnaúba faz com que o seu uso seja bastante viável em
produções em maiores escalas. A partir dos resultados encontrados, pode-se concluir que os
tijolos de solo-cimento com adição de fibra de carnaúba, além de serem tijolos mais
sustentáveis que os tijolos convencionais, apresentaram uma boa resistência mecânica, se
comparado ao tijolo de solo-cimento sem adição de fibras.
A partir da pesquisa realizada neste trabalho, pôde-se observar que a fibra da carnaúba, é uma
fibra vegetal ainda pouco utilizada em tijolos, em geral, como reforço. Apesar de vários
outros tipos de fibras, sejam elas vegetais ou sintéticas, já serem utilizadas como reforço.

Referências
[1] AMON LTDA. Fabricação de tijolo de solo cimento. Disponível em:
http://www.amon.com.br/sustentabilidade/tijolo-solo-cimento.html. Acesso em: 30 abr. 2016.
[2] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE CIMENTO PORTLAND. Dosagem das misturas de
solo-cimento: normas de dosagem e métodos de ensaio. Publicações ABCP, São Paulo. 1980.
[3] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE CIMENTO PORTLAND. Fabricação de tijolos de
solo-cimento com a utilização de prensas manuais. 3ª ed. São Paulo, 2000. 19 p. BT-111.
[4] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE CIMENTO PORTLAND. Boletim Técnico: Guia
básico de utilização do cimento Portland. 6 ed. São Paulo, 2002. 28 p. Bt-106.
[5] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 10833. Fabricação de
tijolo e bloco de solo-cimento com utilização de prensa manual ou hidráulica - Procedimento.
Rio de Janeiro. 2012.
[6] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 8492. Tijolo maciço de
solo-cimento: determinação da resistência à compressão. Rio de Janeiro. 1984.
[7] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 8491. Tijolo maciço de
solo-cimento. Rio de Janeiro. 1984.
[8] HUMBERTO GONÇALVES DOS SANTOS. . Sistema Brasileiro de Classificação de
Solos. Embrapa, Brasília, v. 1, n. 3, p.1-353, dez. 2013.

Escolha sua forma de apresentação preferida:


( ) Oral
(X) Pôster

Você também pode gostar