O que é um avanço?
Já
Ou ainda, quando temos que deixar as coisas
claras.
Preciso começar esse diálogo estabelecendo
uma definição importante. Segundo um bom
dicionário, avanço é o ato ou efeito de avançar. O
verbo avançar, por sua vez, possui determinados
significados, dos quais destaco: fazer andar para
diante; progredir; atacar; ultrapassar.
Como se pode notar, ao dizer que avanço não
desejo expressar uma conotação estática, de
imobilidade ou manutenção do estado atual de coisas.
Para nossa ruína, nos corações e mentes de uma
representação patronal, a palavra avanço não passa
de simples perfumaria. O que me surpreendeu, dessa
vez, foi a manifestação de alegria de nossa
representação, com os seguintes dizeres: “O sindicato
considerou um grande avanço a permanência do NEI
Pioneiros”
Numa cidade em que os indicadores
demográficos só fazem registrar crescimento
populacional - bem acima da média do país, diga-se
de passagem - é de se esperar um crescimento
constante dos serviços prestados pelo Estado. Assim,
devem ser construídos e ampliados constantemente
hospitais, postos de saúde, parques e outras áreas de
lazer, serviços de segurança, administração do
patrimônio público, escolas.
“Para nossa ruína, nos corações e
mentes de uma representação
patronal, a palavra avanço não
passa de simples perfumaria.”
Ao crescer a população, se ampliam o
comércio, os serviços, o número de postos de
trabalho, a arrecadação municipal; mas também
deveriam crescer os investimentos públicos, o
número de servidores, sua infraestrutura.
Não posso crer ser normal, esta cidade com
pretensões megalomaníacas - querer ser comparada a
Luxemburgo? (renda per capita mais elevada do
planeta) - permanecer durante sete longos anos sem
construir nenhuma unidade educacional, ainda que
sua população tenha aumentado. E o que é pior, tenha
fechado uma unidade. Segundo dados do censo,
Balneário Camboriú ganhou 31 mil novos habitantes
desde o último recenseamento: quantos destes em
idade escolar? Em 2017 tínhamos pouco mais de
13.400 matrículas, em 2022 já eram mais de 15.500.
O problema não é novo.
foi posta em prática a “solução” de
introduzir crianças de 5 anos no
ensino fundamental, por falta de
vagas em pré-escolas. Rechaçada
pelo judiciário, outro expediente
bem mais danoso foi adotado:
aluguel de vagas, com recursos
públicos, em instituições privadas. Como colocar
mais crianças no mesmo número de instituições?
Simples: superlotação.
Primeiro baixa-se uma “resolução
normativa” que aumenta o número de estudantes por
sala. Depois criam-se, por mera imposição, salas que
não existem, em espaços inapropriados e
inadequados. Afinal, basta ter um quadro para ser
chamada “sala de aula”. Outrora tínhamos salas de
informática, espaços de dança, de atendimento com
fonoaudiólogas e psicólogas, salas de vídeo, de
leitura, anfiteatro, salas para orientação e supervisão
separadas, para reforço escolar, etc. Agora temos
salas. E o que ainda não for sala, sala será!
Hoje, quando chove, temos infiltração. Se
chover forte, alagamento. Temos fiação exposta,
tomada de dois pinos, janelas quebradas, ou ar
condicionado ou energia elétrica. As aulas começam
em fevereiro, os uniformes em junho, bolacha todas
as segundas (ou será de segunda?). Não temos mais
diário impresso, mas também não temos internet,
nem celular, nem computador, nem treinamento para
usar o software. Ah, também não temos mais plano
de carreira.
Mas isso é só mais do mesmo. Tudo que foi
relatado neste desabafo está expresso ali, no NEI
Pioneiros. E a permanência dessa realidade é
considerada um avanço. Sim, “permanência” e
“avanço”, na mesma frase.
Fazer andar para adiante, nessa estranha
relação prefeitura-sindicato, é esperar que num futuro
hipotético a iniciativa privada, com seus acordos e
interesses privados, venha salvar o NEI de sua
precária situação. Progredir, entre comadres, é
permitir mais estudantes por sala, mais aulas por
semana, menos direitos, aluguel de vaga,
terceirização. Atacar, somente quem se organiza para
cobrar ações e respostas, jamais molestar a gestão
atual. Ultrapassar, entre parceiros, apenas os limites
da compreensão, em reuniões sem fim, que não
chegam a resultado prático algum.
Avanço e retrocesso, nas manifestações que
leio, parecem sinônimos.