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29/11/23, 13:36 Documentos de identificação e de perícia: laudo pericial

Documentos de identificação e de perícia: laudo


pericial
Prof. Marco Antonio dos Santos Rodrigues

Descrição

O desenvolvimento da documentoscopia e sua prática no campo do


conhecimento da criminologia.

Propósito

Conhecer os aspectos que envolvem a elaboração de uma perícia


grafotécnica, o que é de fundamental importância para os alunos que
atuarão no campo do saber jurídico, pois fornecerá uma visão geral e
específica das leis que fundamentam o exame pericial, permitindo uma
real compreensão dos limites de atuação e das possibilidades de
conclusões dos peritos, nos casos de fraudes documentais.

Preparação

Antes de iniciar a leitura do conteúdo, tenha em mãos o Código de


Processo Civil, que será útil para o seu estudo.

Objetivos

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Módulo 1

Documentos de identificação e de
perícia
Reconhecer os conceitos básicos sobre a perícia documentoscópica.

Módulo 2

Laudo pericial
Analisar a fundamentação legal sobre os exames periciais e os
principais elementos de um laudo pericial.

meeting_room
Introdução
Fraudes e falsificações são práticas realizadas desde os
primórdios da humanidade. Suas causas são diversas, como
desvio de personalidade, poder, vaidade, dentre outras. Mas este
não será o objeto do nosso estudo. Neste curso, você terá
contato com uma gama de conhecimentos que são utilizados
para auxiliar a Justiça na identificação dos tipos de fraudes e
identificação de autenticidade e autoria de falsificadores.

No primeiro módulo, você será apresentado aos conceitos


inerentes à criação gráfica, como a morfogênese, que é o
mecanismo fundamental das operações que produzem o
grafismo, bem como ao gesto gráfico e a seu desenvolvimento e
variantes, e às fases de evolução do grafismo. Em seguida, serão
abordados os princípios, os postulados e as leis que
fundamentam cientificamente todo o trabalho realizado pelo
perito grafotécnico. Finalizando o primeiro módulo, trataremos

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das principais causas de modificação do grafismo e dos tipos


mais comuns de falsificações.

No segundo módulo, você conhecerá os aspectos legais


referentes aos exames periciais e as partes constituintes do
laudo pericial bem como os procedimentos que os peritos devem
adotar na análise das peças questionadas e na coleta dos
padrões a serem analisados.

1 - Documentos de identificação e de perícia


Ao final deste módulo, esperamos que você reconheça os conceitos básicos
sobre a perícia documentoscópica.

Criação gráfica
Iniciação e produção do grafismo
Morfogênese
O estudo da morfogênese está fundamentado nas atividades dos
órgãos centrais do sistema nervoso, no qual o cérebro e a medula
comandam alguns sistemas de nervos, entre eles os que atuam
principalmente na criação do grafismo.

O sistema nervoso periférico é o que age com grande importância na


criação do grafismo, através de duas espécies de nervos: os sensitivos e

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os motores. Os sensitivos levam informações ao cérebro por meio dos


cinco sentidos, e os motores conduzem as instruções do cérebro aos
músculos para a execução dos movimentos. Na criação do grafismo, os
respectivos nervos atuam da seguinte forma:

O sistema nervoso periférico e a criação do grafismo.

Podemos dizer então que a morfogênese é o mecanismo fundamental


das operações que produzem o grafismo. A morfogênese se estrutura
da seguinte forma:

translate Morfologia
Mentalização ou ideação da linguagem gráfica.

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translate Gênese
Planejamento ou criação de um conjunto gráfico.

translate Sinergia
Associação de diversos órgãos para a execução de
um grafismo.

Gesto gráfico
É o movimento coordenado dos músculos na execução de um grafismo.
Veremos a seguir como o gesto gráfico é dividido:

Coordenação dos movimentos


É o fenômeno de adaptação, pelo qual os músculos se contraem e se
distendem para, em combinação com os demais elementos anatômicos,
produzirem grafismo. Quando a coordenação é normal e desenvolvida,
produz ritmo, criando imagem gráfica rítmica, enquanto a coordenação
anormal ou confusa produz escrita com alterações involuntárias
afastando a grafia do seu tipo ideal. A coordenação regular do
movimento atinge seu máximo com o exercício continuado. Contudo,
estudos têm demonstrado que esse desenvolvimento máximo está em
íntima relação com as condições individuais, tais como o temperamento
mais ou menos nervoso; a reação intelectual mais ou menos pronta; a
maior ou menor sensibilidade, entre outros aspectos.

Rapidez dos movimentos


São variações de velocidade ocorridas no gesto gráfico e transmitidas
ao grafismo. Experiências demonstram que a rapidez dos movimentos
obedece a um desenvolvimento do gesto gráfico, crescente e
decrescente, em que a maior intensidade se localiza na porção mediana
do grafismo. Dessa forma, podemos afirmar que todo o movimento
começa e termina em uma progressão crescente e decrescente de
velocidade; cada mudança de sentido, ainda que seja graduada,
geralmente provoca uma parada parcial, diminuindo a rapidez do
movimento, como observaremos na imagem em seguida:

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Análise de rapidez do movimento do grafismo.

Precisão dos movimentos


Está nitidamente condicionada à coordenação e à sensibilidade, sendo
esta representada pela visão e pelo tato. Se, por um lado, a coordenação
imprime ao registro um ritmo, por outro, a sensibilidade, através da
visão, participa da harmonia do movimento na sua expressão final, e o
tato colabora regulando a extensão e a direção do movimento.

Influência motora das emoções e ideias


É a divergência que existe entre o tempo de planejamento no cérebro e o
tempo de execução dos músculos na produção do grafismo. A ideia é
muito mais rápida que a mão que escreve. Bastaria esse fato para
afirmarmos que não haverá duas assinaturas iguais, mesmo que sejam
do mesmo indivíduo. Haverá, sim, elementos genéticos ou individuais
coincidentes. A ausência de variações (entre duas assinaturas) é indício
seguro de falsificação por cópia transparente ou reprodução mecânica.
Sempre haverá um símbolo ou mesmo um traço indicativo de qualquer
diferença entre dois padrões de autenticidade indiscutível. Analise agora
as figuras seguintes, que exemplificam duas assinaturas produzidas
pela mesma pessoa em momentos distintos:

Assinatura autêntica aposta no cartão de registro provisório do CREA n° 881038947/AP emitido


em 09/11/1988.

Apesar de divergências formais, os peritos irão buscar elementos


genéticos específicos em cada uma das assinaturas para conformação
da autenticidade, como analisaremos também na imagem seguinte:

Assinatura autêntica aposta na carteira de trabalho n° 82151 série 053 RJ aposta em 23/05/1987.

Fases
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A fase gráfica ou idade gráfica é o ciclo de evolução escritural. Sua


classificação será decorrente da capacidade de evocação
(mentalização), ideação (planejamento) e execução (sinergia). Observe
a seguir como essas três fases estão divididas:

Fase primária expand_more

Nos estágios iniciais de aprendizado, todos passam pela fase


primária da escrita, quando, por diferença de natureza
psicográfica ou caligráfica, deixamos registrados indícios desses
estágios, que são:

Simbólica: quando a escrita é produzida por escritor que,


ignorando o alfabeto, supre essa lacuna valendo-se de símbolos
(cruzes, círculos, secantes, signo de Salomão etc.) como
representação gráfica.

Analfabetos: quando a escrita não possui um tipo próprio; os


escritores copiam, imitam e, às vezes, representam por símbolos.

Semialfabetizados: quando a escrita resulta de punho que está


se iniciando na escrita. São os tipos escolares: canhestros e
rústicos.

Fase secundária expand_more

É fruto da perfeita conjugação das três fases de produção do


grafismo, representa a maturidade gráfica. É nessa fase que se
revelam, na plenitude de suas infinitas caracterizações, os
elementos de ordem genético-formal ou se individualiza o traço,
tais como: as relações de proporcionalidade, as marcas típicas
do peso da escrita, as constantes linhas de projeção gráfica e a
tendência. Pode-se dizer que a pessoa possui o punho
automatizado.

Fase terciária expand_more

É a fase em que o escrito se apresenta em decadência. Divide-se


em:

Senil: face à diminuição natural da energia vital, os elementos


motores deixam de responder, de pronto e com fidelidade, aos

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impulsos emanados do cérebro. Essa deficiência provoca


alterações nos movimentos voluntários do gesto gráfico, dando
origem a tremores e claudicações, conforme se verifica
constantemente.

Patológica: escrita que apresenta alterações pela saúde


deficiente do escritor. Resultado de falhas em qualquer fase da
produção do gesto gráfico, oferece deformações caligráficas,
psicográficas, ou ambas, cumulativamente. Como exemplo,
podemos citar a doença de Parkinson.

Veja, na tabela a seguir, um resumo das principais características de


cada uma das fases apresentadas:

Fases gráficas Principais características

Lentidão na execução do registro:


velocidade uniforme.

Primária
Os símbolosapresentam formas
rústicas.

Confusão literal.

Desaparecimentodos tremores e
claudicações.

Proporcionalidade no tamanho dos


símbolos (calibre) e nos
espaçamentos entre esses, bem como
Secundária entre as palavras.

O escrito apresenta diferentes


velocidades na sua execução.

É definida no escrito uma linha de


base em relação à pauta.

Terciária Aglutinação dos símbolos.

Aparecimento de traços sem formas


definidas.

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Fases gráficas Principais características

Dificuldade em manter o instrumento


sobre a superfície.

Os escritos se apresentam
desalinhados em relação à pauta.

Tabela: Principais características das fases gráficas.

Sentido
É a orientação dada pelo escritor na manifestação do gesto gráfico. A
verificação pode ser resumida na observação de onde se origina o
movimento e para onde ele se destina. Os sentidos mais facilmente
identificados são:

Ascendente: quando o gesto gráfico se desloca no sentido de


ascender.

Descendente: quando o gesto gráfico se desloca no sentido


descendente.

Dextrovolvente: quando o gesto gráfico se desloca da esquerda


para a direita no sentido de envolver.

Sinistrovolvente: quando o gesto gráfico se desloca da direita para


a esquerda no sentido de envolver.

Princípio fundamental –
postulado e leis do grafismo
Noções gerais
Grafística – grafotecnia ou perícia gráfica – é o capítulo da
Documentoscopia que tem por objetivo verificar a autenticidade ou
determinar a autoria dos grafismos.

Solange Pellat (1930) dividiu o estudo da escrita em dois campos


distintos, como observaremos em seguida:

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Grafonomia Grafotécnica
A escrita seria estudada Aqui, seria tratada a sua
teoricamente, como nas aplicação prática, para
suas causas, as revelação das
características,
close qualidades
modificações etc. temperamentais do
escritor. Nesse caso, ela
se confundiria com o
conceito generalizado
da grafologia.

Antes de abordamos as leis do grafismo, faz-se necessário fixar o


conceito de escrita e de grafismo.

Em geral, a escrita é definida como a representação gráfica do


pensamento. Em conceito amplo, abrange as mecanografias e até
mesmo a pintura. Em sentido mais restrito, quando se trata daquela
escrita resultante do gesto executado pelo homem na fixação de suas
ideias, trata-se de “grafismo” ou “manuscrito”.

Como salienta Del Picchia Filho et al. (2016, p. 126), “para o


grafotécnico, porém, não basta um sinal gráfico representar uma ideia
para se julgar diante de um grafismo. Será indispensável que as
representações gráficas contenham características suficientes à sua
identificação.”

A profunda observação do funcionamento do mecanismo fundamental


das operações que produzem o grafismo permitiu a Solange Pellat
(1930), que procurou demonstrar, a partir de Les Lois de L´écriture, a
existência de várias leis que regem os grafismos. Foi estabelecido um
postulado geral e quatro leis básicas.

video_library
Grafotecnia
Neste vídeo, o especialista discorre sobre o que é a grafotecnia e sobre
os diversos aspectos do grafismo e suas leis.

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Princípio geral de Pellat


Segundo Del Picchia Filho et. al (2016, p.126 ), a escrita é individual e
inconfundível e suas leis independentes do alfabeto utilizado para a sua
produção.

O enunciado desse princípio é perfeitamente válido, sabendo-se que,


para o estudo de escrito, necessário se torna a análise das qualidades
intrínsecas do traço, e não exclusivamente de sua forma. Desse
princípio emana a universalidade das leis do grafismo, como veremos a
seguir:

Primeira lei

O gesto gráfico está sob a influência imediata do cérebro. A sua


forma não é modificada se o órgão que aciona o instrumento
escritor se encontra suficientemente adaptado a sua função.
(DEL PICCHIA FILHO et al., 2016, p. 126).

Segunda lei

Quando alguém escreve, o seu “EU” está em ação, mas o


sentimento quase inconsciente dessa ação, passa por
alternativas contínuas de intensidade, entre o máximo, onde
existe um esforço a fazer, e o mínimo, quando esse esforço
segue o impulso adquirido. (DEL PICCHIA FILHO et al., 2016, p.
126).

Terceira lei

O grafismo natural não pode ser modificado voluntariamente


senão pela introdução, no traçado de características de esforço
dispendido. (DEL PICCHIA FILHO et al., 2016, p. 127).

Quarta lei

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Quando, por quaisquer circunstâncias, o ato de escrever se torna


particularmente difícil, o escritor instintivamente dá às letras as
formas que lhe são mais familiares e mais simples,
esquematizando-as, de modo que lhe seja mais fácil executar.
(DEL PICCHIA FILHO et al., 2016, p. 127).

Em decorrência do princípio geral, pode-se afirmar que não existem dois


grafismos iguais, podendo um sempre ser distinguido do outro, não
obstante existam classes de grafismos em que as escritas se mostram
muito mais estereotipadas. A individualidade gráfica é princípio que
decorre não só de razões teóricas, como constitui afirmação prática,
como relata Del Picchia Filho et al. (2016, p. 128).

As leis dos grafismos são aplicáveis a qualquer tipo de alfabeto utilizado


pelas diferentes culturas. Del Picchia Filho et al. (2016, p. 129) registra
que “os alfabetos são criações do espírito humano”. A sua
individualização pode ser desafiadora em alguns, mas, em todos, ela
existe, aplicando-se as leis do grafismo. Desta forma, não importa o
alfabeto utilizado pelo homem para que se possa reconhecer e
individualizar sua escrita.

Brewester (1933), autor do livro Contested documents, relata inúmeros


casos de falsificações de escritas em diversos alfabetos indianos. Para
os peritos daquele país, familiarizados com os referidos alfabetos, a
tarefa de identificação resultante é simples. Para nós, seria desafiadora.
Por conseguinte, a familiarização com o alfabeto é exigência necessária
para casos de determinação de autoria como afirma Del Picchia Filho et
al. (2016).

Como interpretar ou valorar determinadas características, sem saber se


peculiares ao indivíduo ou pertinentes à própria esquematização curial.
A seguir, observe alguns exemplos do que acabamos de abordar:

Assinatura hebraica – Questionada.

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Assinatura hebraica.

Padrão: material gráfico.

Agora, veremos dois exemplos, em que a primeira imagem é um


exemplo de assinatura de chinês cuja autenticidade foi determinada
sem quaisquer ressalvas, vendo-se a absoluta conformidade em todos
os componentes grafocinéticos relevantes com os paradigmas da
segunda imagem, observe a seguir:

Del Picchia Filho et al., 2016, p. 131.

Del Picchia Filho et al., 2016, p. 131.

Primeira imagem – assinatura questionada. Segunda imagem –


Padrão.

Modificações no grafismo
A escrita, quanto à sua forma, pode sofrer modificações por três
espécies de causas:

create
involuntárias
create
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voluntárias
create
patológicas
As causas involuntárias se distribuem por dois grupos: os normais e os
acidentais. As modificações formais decorrentes das causas
involuntárias normais são as que dizem respeito à própria evolução e
posterior involução do gesto gráfico.

A escrita, do início do aprendizado até sua plena efetivação,


formalmente, passa por vários patamares, como o da escrita canhestra,
que constitui mais uma cópia de modelos do que propriamente escrita;
o da escrita escolar, quando o escritor já abandona os modelos e
escreve, ainda com relativa morosidade, caligrafando as formas e,
finalmente, o da automatização, quando o escritor redige com grande
dinamismo, emprestando ao gesto gráfico sua própria individualidade.

A partir dessa última fase, que constitui o apogeu da escrita, com a


idade avançada, perde-se a tonicidade somática do órgão escritor e,
com a maior lentidão dos reflexos, a escrita involui, aproximando-se, às
vezes, da primária. É a escrita senil.

A escrita pode ser alterada em função de causas que


independem da vontade do escritor. Essas causas são
de duas naturezas: as intrínsecas e as extrínsecas.

Entre as causas intrínsecas, as emoções, alterando o comportamento


psicossomático, motivam modificações mais ou menos profundas no
grafismo, como observaremos a seguir:

Euforia expand_more

Aumentando com a aceleração da circulação e,


consequentemente, com maior irrigação no cérebro, aumenta
também, geralmente, a velocidade do lançamento.

Depressão expand_more

Em contraposição à euforia, relaxando o sistema muscular e


cerebral, às vezes, dependendo da pessoa, determina redução no

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dinamismo gráfico.

Pavor expand_more

Aumentando a tensão nervosa, resulta em uma escrita pesada,


de grande extensão, podendo serem desprezadas as ligações
entre os caracteres.

Atenção expand_more

A atenção no ato de escrever pode ter maior ou menor


intensidade e influi no gesto gráfico. Quando se presta muita
atenção no ato de escrever, a escrita tem velocidade menor do
que a habitual, as formas são bem-feitas e lançadas com
firmeza. Diminuindo a atenção, a escrita já se torna mais rápida,
como se o escritor tivesse pressa em terminar o texto e, com
isso, as formas ficam seriamente prejudicadas, chegando a
ponto do lançamento se tornar ilegível.

Ira expand_more

Derramamento forte de adrenalina na corrente sanguínea altera


as condições dos sistemas somáticos e cerebrais. Em razão
disso, a escrita é feita com traços fortes; com grande pressão do
punho, eles são amplos, e as ligações podem desaparecer.

Embriaguez expand_more

Modificando o comportamento físico e mental do escritor,


provoca alterações mais ou menos graves na forma gráfica. Nos
casos mais agudos, o escritor sequer tem possibilidade de
escrever.

As causas extrínsecas são as alheias ao sistema produtor da escrita


cerebral e muscular. São inúmeras as causas desse tipo, razão pela qual
serão citadas as mais frequentes:

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Mau estado do instrumento escrevente: obrigando o escritor a


fazer grande esforço para escrever.

Posição incômoda no ato de escrever: há pessoas, por exemplo,


que não sabem escrever em pé.

Suporte inadequado: escritas feitas em superfícies ásperas ou


irregulares, como paredes, ou em suporte de tamanho reduzido, que
obriga a aglutinação dos lançamentos.

Iluminação inadequada: obrigando o escritor a um esforço visual


muito grande.

O calor: gerando um relaxamento da musculatura.

O frio: provocando a perda da elasticidade do sistema somático.

As causas voluntárias são as modificações que, propositadamente, o


autor introduz na sua escrita habitual, seja quando disfarça, seja quando
imita a escrita de terceiros.

As causas patológicas acarretam deformações na estrutura da escrita e


podem ser passageiras ou irreversíveis, dependendo da natureza e da
intensidade do morbo. O assunto foi estudado pela primeira vez, de
modo mais sistemático, por Rogues de Fursac, em seu livro Les écrits et
les dessins dans les maladies nerveuses et mentales (1905). Neste
sentido, o autor distingue dois tipos de alterações nas escritas em
consequência de moléstias nervosas:

Alterações da Alterações da
função motriz função psíquica
Proveniente da close Proveniente do cérebro.
mecânica muscular.

No primeiro caso, encontram-se as modificações provocadas pela


choreia ou coreia. O termo Choreia deriva da palavra grega χορεία
(dança). A choreia é caracterizada por movimentos involuntários e
rápidos que se assemelham a uma dança, fazendo parte do grupo de
desordens neurológicas denominadas discinesia (BHIDAYASIRI;
TRUONG, 2004). Tais movimentos deformam a grafia e, dependendo do
grau de intensidade, pode até levar à impossibilidade de escrever, à
agrafia.

A ataxia, nome dado a uma disfunção motora, altera a função


coordenadora e afeta o domínio do movimento. A escrita perde o ritmo e

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apresenta caracteres de proporções desmedidas. Surgem tremores


verticais e horizontais.

O tremor vertical é próprio do alcoolismo crônico. O tremor horizontal é


típico das escritas envelhecidas e da doença conhecida como Mal de
Parkinson, que causa a diminuição do calibre das letras, na tentativa de
o paciente evitar os tremores.

As alterações de ordem psíquica são o esquecimento das imagens


gráficas, a regressão da qualidade do grafismo e a morfologia
extravagante. O esquecimento dos moldes gráficos ocorre nos casos de
demência e de epilepsia. Já na regressão, a escrita se desproporciona,
se despersonaliza e volta aos moldes primários colegiais.

Sob a influência da excitação cerebral, a escrita, em certas doenças


mentais, pode ser rápida e dinâmica. Na depressão, ao contrário, lenta e
arrastada.

Segundo os grafopatologistas, as doenças que afetam


o estômago, o fígado, o sistema gastrointestinal, o
coração e o útero têm reflexos na forma da escrita.
Essas alterações, todavia, na maioria dos casos, são
passageiras, perduram apenas durante a enfermidade.
Desaparecidas as causas, cessam os efeitos. Essas
manifestações têm uma característica especial,
inerente à enfermidade, que não provocam nos seus
grafismos as mesmas circunstâncias que podem
ocorrer nas das pessoas normais.

Pellat, em suas obras Les lois de L´escriture (1930) e L´education guidée


par la graphologie (1906), sintetizou os seguintes fenômenos, como
incidentes no gesto gráfico de pessoas em quadros mórbidos,
somáticos ou mentais:

Agrafia expand_more

É a perda da faculdade escritural.

Paragrafia expand_more

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É o registro de palavras inadequadas ou desconexas.

Mogigrafia expand_more

É a impossibilidade de escrever durante um espasmo.

Grafofobia expand_more

É a aversão à escrita, comum em casos de depressão


melancólica.

Tartamudez gráfica expand_more

É a desfiguração das palavras pela repetição ou modificação das


letras.

Micrografia expand_more

É a redução do tamanho das letras, frequente nos portadores de


mal de Parkinson e da encefalite letárgica.

Acatagrafia expand_more

É a escrita dos histéricos – caracteriza-se pelo registro incorreto


das palavras, que predominam em certos traços no início de
letras.

Escrita em espelho expand_more

É o au mirroir, que é o lançamento feito de trás para a frente, com


letras invertidas, tornando a leitura possível através de um

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espelho.

Grafomania expand_more

É também denominada “graforreia”, pessoa que escreve


continuamente, até expressões desconexas, ou produz rabiscos
em qualquer papel, falando ao telefone, por exemplo, como se o
gesto gráfico fosse uma imperiosa necessidade psicossomática.

Anonimografia expand_more

É o fenômeno semelhante em que a pessoa escreve cartas


anônimas até para pessoas desconhecidas. Tem como
característica não confessar a autoria (n´a vous jamais) e,
quando desmascarada, a anomalia se exterioriza sob outra
forma, não mais escrevendo cartas anônimas.

Tipos de falsificações
A falsificação é um tipo de fraude documental, que se subdivide, como
assevera Del Picchia Filho et al. (2016), em cinco tipos básicos, como
enumerados a seguir:

falsificações sem imitação;

falsificações de memória;

falsificação por imitação servil, ou com modelo à vista;

falsificação por decalque;

falsificação por imitação livre ou exercitada.

Falsificação sem imitação


A falsificação sem imitação é a reprodução de assinatura, sem se
procurar dar a forma da legítima, que se desconhece. É o processo de
falsificação usado por falsários eventuais ou primários. O falsário pode
lançar o nome de outrem, quer escrevendo-o com sua grafia corrente,

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quer disfarçando-a. São as chamadas “falsificações sem imitação e


sem disfarce”, ou “falsificações sem imitação, com disfarce”. Essa
distinção interessa apenas quando se indaga da autoria gráfica e não
para determinar a falsidade.

Para se cogitar da eventualidade da falsificação sem imitação, será


necessário, em primeiro lugar, que haja integral dessemelhança formal
entre as assinaturas questionadas e os padrões autênticos. As
divergências morfológicas caracterizam a falta de imitação. Não são
suficientes, porém, para permitir a conclusão de falsidade. Esta terá que
se apoiar em outros elementos, tais como:

border_color Cinetismo
É obrigatoriamente distinto. Ainda que possam
aparecer analogias acidentais, predominarão,
acentuadamente, característicos grafocinéticos
antagônicos.

border_color Qualidade do traçado


Em regra, as características dessa natureza
manifestar-se-ão em antagonismo; somente
quando, por acaso, o falsificador possuir grafismo
da mesma classe do da vítima, aparecerão
convergências nesse particular.

border_color Qualidade gerais do grafismo


É na maioria dos casos o predomínio franco das
divergências. Algumas características dessa
natureza, porém, podem ser encontradas dentro do
quadro das semelhanças. Isso ocorrerá quando as
analogias, por coincidência, repetem-se nos
grafismos do falsário e da vítima.

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Geralmente, as falsificações sem imitação oferecem quadro de integral


diferenciação, quer nos elementos de ordem morfocinética, quer nos
característicos específicos do traçado, quer nas qualidades gerais.
Essas características podem ser observadas nas figuras seguintes:

Na imagem, observamos uma falsificação sem imitação.

Na imagem, observamos uma assinatura autêntica-padrão.

Na imagem, observamos uma falsidade sem imitação (falsa,


acima; padrão, abaixo).

Falsificação de memória
A falsificação de memória é aquela em que o falsário, estando
familiarizado com a assinatura de sua vítima, procura reproduzi-la sem
ver o modelo, valendo-se da memória.

Neste tipo, o falsário guarda de memória os gestos mais aparentes da


assinatura que vai reproduzir, como as letras iniciais, maiúsculas, as
cetras – traços ornamentais que arrematam as assinaturas –, mas não

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memorizam o conjunto todo. As falhas dos falsários são de duas


naturezas:

Morfológicas Ortográficas
Alguns feitios gravam- Outras vezes, o
se na mente do falsificador não guardou
falsificador, e ele os bem a ortografia do
reproduz. Outros, escritor-vítima. Daí o
porém, são esquecidos. emprego de palavras ou
A substituição se assinaturas com
processa com emprego close ortografias distintas.
de formas diferentes. Tais erros são
Coexistem, assim, frequentes nos
semelhanças e vocábulos de
diferenças consoantes geminadas.
morfológicas. Às vezes, até prenomes
ou sobrenomes são
suprimidos.

O traçado dessas falsificações é híbrido, há traços morosos, aqueles


que estão sendo reproduzidos pela memória e outros mais rápidos, que
são resultantes da própria escrita do falsário. Para que uma assinatura
falsificada possa ser classificada como falsidade de memória, será
indispensável que:

1. as formas gráficas mostrem, concomitantemente, semelhanças e


diferenças;

2. a gênese gráfica divirja;

3. a qualidade do traçado, na grande maioria dos casos, seja


antagônica; só em alguns casos excepcionais, e por mera
coincidência, haveria correspondência;

4. em regra, predominem divergências nas características de ordem


geral, podendo, contudo, haver um ou mais de um semelhante. Em
casos excepcionalíssimos, a concordância de todos os elementos
genéricos seria admissível, sem qualquer prejuízo do diagnóstico.

Como exemplos de falsificação de memória, apresentamos as figuras a


seguir:

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Falsa (imitação de memória).

Falsa (imitação de memória).

Veja outro exemplo de falsificação de memória, agora com a assinatura


padrão:

Assinatura padrão.

Falsificação por imitação servil


A falsificação por imitação servil é o mais pobre dos processos: o
falsário, fiel a um modelo, o reproduz no documento que está forjando.
O imitador fica escravizado ao modelo. Daí a qualificação “servil”. Outros
especialistas a denominam de “falsificação com modelo a vista”.

A tarefa de copiar um lançamento não é fácil. Depois de cada gesto


produzido, o falsário é obrigado a parar e olhar o modelo, voltando a
fazer outro trecho do lançamento. Nesse tipo de falsificação, deverão
ser observadas as seguintes características:

Semelhanças formais

II

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Diferenças grafocinéticas

III

Defeitos aparentes no traçado

IV

Semelhanças e diferenças no traçado

Como consequência desse fato, além do lançamento ficar moroso e


arrastado, pode-se observar a parada do instrumento escrevente em
sítios que no modelo não ocorrem. Para realizar alguns movimentos, o
falsário vacila, resultando um traço hesitante e trêmulo.

A comparação do produto de uma imitação servil com a assinatura


legítima mostra fragrante diferença na qualidade do traçado e tal
discrepância dos elementos genéticos. Em geral, diferem: 1) a
velocidade; 2) a pressão; 3) o ritmo; e 4) o dinamismo. Também podem
apresentar modificações: 1) no andamento gráfico; 2) nos
espaçamentos; 3) nas relações de proporcionalidade gramática; 4) nas
limitações gramáticas; 5) na inclinação de alguns eixos gramáticos; e 6)
em alguns valores angulares e curvilíneos. A inclinação geral da escrita
e a calibragem quase sempre estão em correspondência. Nas figuras
seguintes podemos observar um pouco dessas alterações:

Evidências de tremores

Agora, analise o levantamento em local que, por si só, chama atenção e


tem feições de anormalidade:

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Imagem ampliada.

Imagem ampliada em detalhe.

Analise na imagem a seguir a falsificação por imitação servil e padrões:

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Falsificação.

Duas assinaturas padrões.

Em regra, não se costuma realizar levantamentos no meio dos traços


descendentes ou ascendentes. Esses serão lugares frequentes de
levantamentos anormais como a seguir:

Levantamento em locais improváveis.

Analise a seguinte imagem com assinalamentos das interrupções


anormais detectadas em trecho de uma firma forjada:

Imagem ampliada em detalhe.

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Agora, note a seguir as inúmeras interrupções:

Imagem ampliada.

Imagem ampliada em detalhe.

Observamos nas imagens anteriores que as ampliações com luz rasante


servem para confirmar e demonstrar as evidências desta natureza.
Particularmente, definem as paradas, uma vez que podem salientar os
poços de maior pressionamento, dentro do leito dos traços, efetivados

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com o instrumento estático, imóvel. Analise, em seguida, a ilustração de


pontos de parada em virtude do poço de pressão do bico parado da
esferográfica:

Foto do verso de trecho da assinatura de emissão.

Falsificação por decalque


Consiste em produzir, por meio de lápis, carbono ou ponta seca, um
esboço do escrito e, depois de afastada a matriz, recobrir com tinta o
debuxo orientador. Caracteriza-se pela uniformidade de pressão,
irregularidade rítmica, vagarosidade no andamento e presença de
tremores e interrupções anormais.

Quando realizadas em série, são constatadas pelo dimensionamento


exato de todas as reproduções, o que contraria o fenômeno da variação
natural, resultante da involuntariedade do gesto gráfico. Daí afirma-se
que, quando dois escritos são absolutamente iguais, um é cópia do
outro, ou ambos, de um terceiro. Os decalques podem ocorrer de duas
formas:

Direta Indireta
A matriz é colocada no A matriz é colocada
verso do documento em sobre o documento com
contato íntimo. Com um material de
forte foco luminoso por transparência
baixo, a imagem da intermediário, em regra,
escrita, por papel carbono. Usa-se,
transparência, passará close também, grafite, com
para o anverso da folha. esfregaços no verso da
Recobre-se, então, essa matriz. Colocada trecho
imagem, consumando- adequado, faz-se
se o decalque. pressão sobre o
traçado, com auxílio de
ponta lisa resistente.

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Veja a seguir os exemplos de diferentes decalques diretos e indiretos:

Decalque direto.

Matriz.

Agora, veja, na prática, como a prova de superposição confirma que


ninguém consegue executar duas assinaturas exatamente iguais entre
si:

Prova de superposição.

Em seguida, analise como essa figura reforça a inexistência de duas


assinaturas autenticas iguais:

Pontos de divergências assinalados.

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Sobreposição, deslocamentos decorrentes da tentativa de empreender velocidade.

Analise também as seguintes imagens:

Decalque indireto.

Matriz.

Falsificação exercitada
Este é o tipo mais perigoso e difícil de falsificação. O falsário se apossa
de um modelo autêntico e, depois de cuidadoso treino, o reproduz.
Dependendo da habilidade do falsário, ele consegue um lançamento
mais ou menos veloz.

O confronto de uma falsificação exercitada com o modelo mostra


relativa coincidência na qualidade do traço, mas discrepâncias nos
elementos genéticos. Quanto aos elementos formais, pode haver certas
semelhanças, sobretudo, nos gestos mais aparentes.

Cabe salientar que alguns fatos gráficos, embora possam parecer ao


leigo indicadores de falsidade, informam justamente o contrário. Entre
os mais comuns, estão:

Instrumento gráfico defeituoso expand_more

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O falsário procura munir-se de instrumentos gráficos em boas


condições, que não lhe dificultem a delicada tarefa de imitar
grafismos estranhos. Assim, quando os defeitos derivam das
condições precárias do instrumento gráfico, grande será a
probabilidade da escrita ser autêntica.

Tintas apagadas ou muito pastosas expand_more

O falsificador não gosta de chamar a atenção sobre seu trabalho.


Por isso, busca imprimir aspecto normal à escrita, não
reclamando para ela esforço maior de leitura; instrumento
gráfico e tintas extravagantes – o emprego de tinta vermelha, ou
de lápis, não se justifica em alguns documentos. Sua utilização
revela descuido, quase inadmissível no trabalho de um falsário.

Borrões e borraduras expand_more

O falsificador revela incúria incomum, pois borrões e borraduras


são praticamente inadmissíveis em um trabalho fraudulento.

Retoques ostensivos e recoberturas descuidadas expand_more

Como dito anteriormente, o falsário também deve evitar retoques


ostensivos e recoberturas descuidadas para não despertar
atenção e mascarar a fraude o quanto possível.

Repetição inútil da firma expand_more

Não havendo necessidade, o falsário dificilmente executaria esse


trabalho; indicações como cruzetas ou ponto do lugar onde
assinar – em regra, o falsário sabe bem onde assinar, sem
precisar de indicação.

Firma em lugares impróprios expand_more

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O falsificador normalmente sabe onde apor as assinaturas, não


as colocando em pontos inadequados.

Anteriormente vimos sobre as firmas em lugares impróprios, por isso,


analise agora as figuras que exemplificam esta modalidade de
falsificação:

Imitação livre ou exercitada.

Firma padrão.

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Falta pouco para atingir seus objetivos.

Vamos praticar alguns conceitos?

Questão 1

Situação problema: O perito Heráclito Manuel, foi convocado pelo


Magistrado da 15° Vara Cível do Município de Sumaré, interior de
São Paulo, para atuar como perito do Juiz em um caso de possível
falsificação de assinatura aposta em um contrato de compra e
venda de uma propriedade rural em nome de José Aquino Ferraz,
em 15 de maio de 2010. O senhor José Aquino Ferraz faleceu em
23 de agosto de 2010 de complicações cardíacas. Os herdeiros
ajuizaram a ação alegando que a assinatura de José Aquino Ferraz
foi falsificada e pedem a anulação do contrato de compra e venda e
a reintegração da respectiva propriedade ao patrimônio da família.
A parte promotora da ação alega que a assinatura aposta no
contrato é idêntica a uma outra assinatura aposta em outro
contrato assinado e reconhecido em cartório dois anos antes do
fato em lide.

A partir da situação problema relatada e com base nas leis do


grafismo, podemos afirmar que

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em decorrência do Postulado Geral, pode-se afirmar


que não existe dois grafismos iguais, de modo que o
A
perito pode distinguir um do outro, e, no presente
caso, estamos diante de um caso de falsidade.

em decorrência da 1° Lei de Solange Pellat, pode-se


B afirmar que é difícil distinguir um grafismo do outro
se foram produzidos pelo mesmo punho escritor.

em virtude da impossibilidade de coleta de padrão,


C por estar o autor morto, a perícia poderá ser
inconclusiva.

em decorrência da 2° Lei de Solange Pellat, pode-se


afirmar que não existe dois grafismos iguais, de
D modo que o perito pode distinguir um do outro, e, no
presente caso, estamos diante de um caso de
falsidade servil.

em decorrência da 4° Lei de Solange Pellat, pode-se


dizer que não existe dois grafismos iguais, de modo
E que o perito pode distinguir um do outro, contudo,
pela impossibilidade de coleta de padrão, a perícia
pode ser inconclusiva.

Parabéns! A alternativa A está correta.

O princípio geral de Solange Pellat afirma que “a escrita é individual


e inconfundível e suas leis independentes do alfabeto utilizado para
a sua produção”. Em decorrência deste princípio, não existe duas
assinaturas iguais, cabendo ao perito apresentar as diferenças
características do grafismo. Caso as diferenças não existam, isso
quer dizer que uma das assinaturas é falsa.

Questão 2

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Em relação ao tipo de falsificação apresentado na situação


problema, pode-se afirmar que estamos diante de um caso de
falsificação

A sem imitação.

B de memória.

C por imitação servil.

D por decalque.

E por imitação livre.

Parabéns! A alternativa D está correta.

A falsificação por decalque, quando realizada em série, é


constatada pelo dimensionamento exato de todas as reproduções,
o que contraria o fenômeno da variação natural, resultante da
involuntariedade do gesto gráfico. Dessa forma, pode-se afirmar
que, quando dois escritos são absolutamente iguais, um é cópia do
outro, ou ambos, de um terceiro.

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2 - Laudo pericial
Ao final deste módulo, esperamos que você analise a fundamentação legal
sobre os exames periciais e os principais elementos de um laudo pericial.

Aspectos legais do laudo


pericial
De uma forma geral, a prova pericial, segundo o Código de Processo
Civil, consiste em exame, vistoria ou avaliação e poderá ser determinada
por ofício ou requerimento das partes. Será indeferida:

do_not_disturb_on quando não houver a necessidade de conhecimento


especial de técnico para prova do fato;

check_circle quando o fato já estiver comprovado por outros


meios de prova;

do_not_disturb_on quando a verificação for impraticável (art. 464, § 1°,


CPC).

Caso o objeto da perícia envolva aspectos de maior complexidade,


abarcando várias áreas do saber, o juiz nomeará mais de um perito, haja
vista a necessidade de que cada um seja especializado em sua
respectiva área de conhecimento (art. 475, CPC).

A produção da prova pericial poderá ser dispensada quando as partes,


na inicial e na contestação, apresentarem, sobre as questões de fato,
pareceres técnicos ou documentos elucidativos que forem considerados
suficientes pelo magistrado (art. 472, CPC).

O laudo deverá ser entregue no prazo fixado pelo juiz,


com pelo menos vinte dias de antecedência à data da

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audiência de instrução e julgamento (art. 477, CPC).


Havendo justo motivo, o perito poderá requerer ao juiz
uma única vez, a prorrogação do prazo para entrega do
laudo, o que não excederá a metade do prazo
originariamente assinado (art. 476, CPC).

Pretti (2017) ressalta que, caso a parte seja beneficiada pela gratuidade
da justiça, e a perícia fique a cargo de órgãos e repartições oficiais, o
Código de Processo Civil não flexibiliza o prazo para cumprimento do
encargo, devendo a determinação judicial para realização da perícia ser
cumprida “com preferência, no prazo estabelecido” (art. 478, §1° CPC).
Ou seja, caberá aos referidos órgãos e repartições oficiais, dentre as
suas atividades, darem preferência à realização da perícia de modo a
concluí-la dentro do prazo judicialmente estabelecido. Em eventual
prorrogação de prazo (art. 478, § 2°, CPC), deverá ser observado o limite
do art. 476.

video_library
Conteúdo do laudo pericia
Neste vídeo, o especialista explica o conteúdo do laudo pericial e seus
diversos elementos.

Em relação à estruturação do laudo pericial, Pretti (2017) relata que o


art. 473 do Código de Processo Civil exige que o perito judicial
apresente:

A exposição do objetivo da perícia expand_more

O perito deve fazer uma explanação clara sobre os elementos


que integram o objeto da perícia, destacando as principais
questões a serem esclarecidas pelo trabalho pericial.

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A análise técnica ou científica realizada expand_more

O perito deve relatar detalhadamente e através de linguagem


simples como desenvolveu o trabalho técnico ou científico, de
modo a permitir que o juiz, as partes e o Ministério Público
compreendam todos os fundamentos que o levaram a uma
determinada conclusão.

A indicação do método utilizado expand_more

O perito deve indicar e esclarecer o método utilizado para


alcançar suas conclusões, comprovando qual metodologia é a
predominantemente aceita pelos especialistas dessa área do
saber, esclarecendo e demonstrando se o método é
predominantemente aceito pelos especialistas da área do
conhecimento da qual se originou – além de relatar a “análise
técnica ou científica realizada”.

Respostas conclusivas expand_more

No laudo, o perito tem o dever de apresentar “respostas


conclusivas” a todos os quesitos apresentados pelo juiz, pelas
partes e pelo Ministério Público. Somente não deverá responder
aos quesitos impertinentes indeferidos pelo magistrado.
Também não terá o dever de apresentar, no laudo, respostas aos
quesitos suplementares formulados pelas partes durante o
trabalho pericial, podendo optar por respondê-los apenas na
audiência de instrução e julgamento (art. 469, CPC).

A legislação prevê que, em caso de caracterização de deficiência no


exame pericial, evidenciado por um laudo inconclusivo, o juiz
determinará, de ofício ou a requerimento da parte, a realização de nova
perícia (art. 480, CPC), que será regida pelas mesmas disposições
estabelecidas para a perícia que a antecedeu (art. 480, § 2°, CPC).

Pretti (2017, p. 78) afirma que “a segunda perícia terá por objeto os
mesmos fatos sobre os quais recaiu a primeira, suprindo omissões ou
corrigindo inexatidões dos resultados decorrentes do trabalho pericial

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anterior”, conforme previsto pelos legisladores no Código de Processo


Civil (art. 480, §1°).

Cabe ainda um olhar esclarecedor sobre essa questão, pois a previsão


legal contida no art. 480, § 3°, do CPC, estabelece que “a segunda
perícia não substituirá a primeira, cabendo ao juiz apreciar o valor de
uma e de outra”. Os especialistas corroboram que a aplicação desta
regra somente se concretizará quando os vícios forem sanáveis. Pois,
no caso de o trabalho pericial vier a ser considerado nulo, não há como
se cogitar sua valorização pelo juiz, hipótese na qual a segunda perícia
certamente é realizada em substituição à primeira, como afirma Pretti
(2017).

Podemos observar que inúmeras disposições regram a forma de


realização do trabalho pericial e a confecção do respectivo laudo,
possibilitada, inclusive, a determinação de nova perícia. Desta forma,
nas próximas seções iremos abordar e descrever o laudo pericial, de
forma prática e com exemplos.

De uma forma geral, como afirma os peritos Falat e Rebello Filho (2021),
o laudo pericial pode ser dividido nas seguintes partes:

introdução;

objetivos;

descrição da peça de exame;

descrição do documento padrão;

exames realizados;

parecer;

anexos.

Essa divisão apresentada compõe as partes essenciais, é claro que


cada perito tem a liberdade de adequar a forma, em virtude do tipo de
perícia realizada e da própria expertise do profissional.

Introdução da perícia
No conteúdo da introdução do trabalho pericial, deverão ser inseridas
informações tais como: perito responsável pela elaboração do trabalho,
data da realização da perícia, identificação da parte contratante e, ainda,
especificação do tipo de laudo pericial a ser apresentado.

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A introdução é um comunicado breve às partes interessadas no trabalho


pericial e destaca o assunto que será abordado no exame pericial.

Nessa etapa do trabalho pericial não é necessário um aprofundamento


conceitual sobre o tipo de laudo que será realizado, basta somente
classificar de forma generalista, por exemplo: laudo pericial
grafotécnico, laudo pericial documentoscópico, parecer técnico em
documentoscopia etc.

Nos casos em que os trabalhos sejam destinados ao âmbito judicial,


devemos incluir na introdução os dados que identifiquem os autos que
deram origem à perícia e as partes envolvidas.

A seguir, será ilustrado um modelo de introdução utilizada para


elaboração de laudo pericial grafotécnico/documentoscópico destinado
às vias judiciais:

MODELO DE INTRODUÇÃO

Aos vinte e oito dias do mês de março do ano de dois mil e nove,
na Cidade do Rio de Janeiro, o perito infra-assinado, Marcio
Pereira Basilio, atendendo à nomeação do douto Juízo da Vara
Cível de.... – Estado do Rio de Janeiro, passa a realizar exames
nas grafias objetos de questionamentos contido junto aos Autos
n.° 0000/0000, onde constam como REQUERENTE....... e
REQUERIDO....... os quais estão descritos em tópico seguinte
desta perícia.

Após análise detalhada das peças em questão e utilização de


todos os recursos necessários para o melhor desempenho de
nossas funções, apresentamos a seguir o resultado obtido
mediante o presente Laudo Pericial Grafotécnico:

(...)

Tabela: Modelo de introdução.


Adaptado de Falat e Rebello Filho, 2021, p. 15-16.

Exemplo de introdução utilizada para elaboração de Laudo


pericial/Parecer técnico grafotécnico/documentoscópico destinado às
vias particulares, quando o perito é contratado para atuar com
assistente técnico, ou realiza algum trabalho de consultoria.

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MODELO DE INTRODUÇÃO

Aos vinte e quatro dias do mês de janeiro do ano de dois mil e


sete, na Cidade do Rio de Janeiro, o perito infra-assinado, Marcio
Pereira Basilio, iniciou o exame de análise de autenticidade
gráfica, em atendimento à solicitação do Sr. ........., passando a
realizar exames dos documentos descritos em tópico seguinte
deste parecer técnico. Esgotados todos os recursos possíveis
para melhor condução e elaboração do parecer técnico
grafotécnico/documentoscópico, passo a apresentar os
resultados obtidos.

(...)

Tabela: Modelo de introdução.


Adaptado de Falat e Rebello Filho, 2021, p. 16.

Os textos utilizados para a composição das introduções são bastantes


abrangentes, inclusive não especificando as grafias ou documentos que
serão objetos de análise, haja vista o detalhamento ocorrer no tópico
referente à peça questionada.

Objetivo da perícia
Nesta parte do laudo, o perito identificará e mencionará os objetivos a
serem atingidos pela perícia. Dentro dos objetivos estabelecidos para
confecção do trabalho pericial, podemos encontrar duas ramificações:
as perícias que detêm um objetivo amplo e as que possuem objetivos
específicos, predeterminados, ou seja, com quesitos a serem
respondidos.

Em relação a essa questão, os especialistas classificam pelo tipo de


solicitante do serviço pericial, que podem ser por qualquer terceiro, ou
por vias judiciais, como veremos a seguir:

plagiarism Na contratação de um perito por terceiro qualquer,


a fim de estabelecer a falsidade ou a autenticidade
do grafismo, a adulteração de documentos, ou
qualquer outra ação não especifica com finalidade
abrangente, entende-se que o objetivo se torna

l l ã ti d ti t
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amplo em relação ao tipo de questionamento.
Nesse caso, caberá ao perito responsável pelo
trabalho acrescentar ao conteúdo do mesmo todas
as considerações do documento analisado.

plagiarism Nas análises periciais advindas das vias judiciais, o


objetivo é específico, predeterminado, ou seja, está
compreendido entre os quesitos formulados. Cabe
ressaltar que nem sempre a totalidade das
observações efetuadas pelo profissional faz parte
do objetivo da perícia. Dessa forma, a finalidade da
perícia passa a ser entendida como a resposta aos
quesitos formulados.

Apesar das definições anteriores, lembramos que todas as observações


efetuadas pelos profissionais responsáveis pelas análises fazem parte
do escopo da perícia, porém podem não ser os seus objetivos
principais. A seguir, apresentaremos alguns exemplos de construção de
objetivos da perícia:

Exemplo Objetivo da Perícia

“Consiste na análise e pronunciamento


acerca das assinaturas contidas nos
Caso 1 documentos inseridos junto à página
00 dos Anexos, conforme descrição
em tópico seguinte.”

“Consiste na análise e pronunciamento


acerca das assinaturas contidas nos
documentos inseridos junto à página
Caso 2
72 dos Autos 2002.80.00.006538-2,
conforme descrição em tópico
seguinte: (...)”

Caso 3 “Depreende-se do exame no


documento contido junto à página 00
dos Autos 2022.70.00.005423-8
descrito em tópico adiante, visando ao
pronunciamento acerca da

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Exemplo Objetivo da Perícia

possibilidade de alterações no
mesmo.”

“Pronunciar-se a respeito dos quesitos


001 a 005 formulados pela parte
Caso 4 requerida, conforme documento de
número 000 contido junto aos Autos
0000/0000”

“O presente parecer tem o escopo


precípuo de verificar a autoria do
lançamento gráfico à guisa de
Caso 5
assinatura aposto ao final da peça
apresentada para exame, e que se
encontra descrita no capítulo abaixo.”

Tabela: Exemplos de construção de objetivos da perícia.

Descrição das peças de


análise
Descrição da peça questionada
O trabalho efetivo da perícia inicia-se com a descrição detalhada da
peça de exame, ou peça questionada; nessa fase do exame pericial, o
perito grafotécnico deve ter o máximo de cuidado e atenção.

Para procedermos à correta e completa descrição sobre a peça


questionada, devem ser utilizados todos os recursos disponíveis para
análise do documento, com o intuito de visualizar toda e qualquer
alteração ocorrida. Nesse momento, os comentários deverão ser feitos
tanto no papel-suporte quanto no grafismo a ser analisado.

De acordo com Falat e Rebello Filho (2021), geralmente os especialistas


orientam segmentar a descrição da peça questionada em duas etapas
distintas.

A primeira refere-se ao momento em que abordamos somente o


grafismo inserido na peça questionada, ou seja, nossas atenções
estarão voltadas exclusivamente para as alterações ocorridas no
grafismo.

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29/11/23, 13:36 Documentos de identificação e de perícia: laudo pericial

Observa-se a existência de recoberturas, borrões, emendas, raspagens,


tipo de instrumento escritor, tipo de massa de tinta ou tinta líquida
utilizada para lançar o grafismo e, ainda, os aspectos gerais e genéricos
empregados na execução da escrita.

Nessa etapa, como assevera os peritos Falat e Rebello Filho (2021, p.


19), “os comentários a serem efetuados sobre o grafismo deverão ser
abordados de maneira superficial e genérica visando unicamente à
descrição do documento questionado”.

As considerações referentes ao exame propriamente dito, ou seja, à


efetiva análise do documento, abordarão minunciosamente todos os
aspectos encontrados, os quais deverão ser comentados somente em
tópicos específicos.

Posteriormente, em relação às considerações efetuadas quanto ao


grafismo, a análise deverá abranger o estado físico do documento
apresentado, observando-se características como: alteração de
pigmentação em um segmento do papel, coloração do papel-suporte,
dobras, recortes ou rasgaduras, desfibramento ou raspagens,
recoberturas, colagens, utilização de papel carbono, sulcos no
documento questionado. São itens que deverão fazer parte da descrição
do papel-suporte, porém, conforme mencionado anteriormente, de
maneira superficial, demonstrando apenas a identificação de tais
características.

A descrição do conteúdo visual da peça questionada, ou de exame,


abrangerá ainda os aspectos mecânicos, manuscritos, carimbos,
corretivos e qualquer tipo de ilustração que possa estar contida no

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documento, como também as características especificas dele, tais


como: valor, data de emissão, número.

Observe o exemplo de parecer técnico a seguir e depois analise a


descrição:

Documento questionado 1.

Partindo da ilustração, considerando ser ela a peça questionada,


exemplificamos a seguir a descrição do documento:

Atenção!
“A peça de exame apresentada para análise trata-se de uma declaração
manuscrita, em uma folha de papel A4, com instrumento escritor de
tinta azul, datada em 16 de setembro de 2005, e supostamente assinada
por Renata Cristina Salles Santos, na qual consta o recebimento da
quantia de R$ 1.674,72, referente à rescisão de contrato de trabalho
temporário prestado a empresa WR Terceirização Ltda., conforme
ilustrado na foto anterior.”

Descrição da peça padrão


De uma forma geral, os especialistas em perícia documentoscopia
orientam que a obtenção de padrões contemporâneos aos
apresentados através da peça questionada é de suma importância para
a realização do trabalho, haja vista a evolução encontrada no grafismo
ao decorrer do tempo. Tal afirmação prende-se ao fato de obtermos
padrões originários de uma mesma época, enriquecendo, dessa

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maneira, a análise a ser efetuada, como afirma Falat e Rebello Filho


(2021).

A inexistência de padrões contemporâneos não inviabiliza a realização


da perícia, considerando que, ainda que ocorra a evolução do grafismo,
encontram-se preservadas as características gráficas.

A análise pericial deve ser precedida por uma


quantidade satisfatória de padrões a serem
confrontados, cabendo ao perito efetuar tantas
diligências quantas forem necessárias para a obtenção
de tais espécimes. Quanto maior for o número de
padrões ofertados ao confronto, maior será a
capacidade de observação das alternâncias naturais
ocorridas no grafismo.

As diligências não se limitam a documentos de posse das partes. O


perito deve buscar documentos que os envolvidos possam ter
produzidos em instituições em que tenham exercido algum tipo de
atividade, além de documentos emitidos por meio de órgãos oficiais,
tais como: carteira de identidade, certificado de reservista, carteira de
trabalho, título de eleitor etc.

Atenção!
Uma atenção especial deve ser dada aos padrões fornecidos
espontaneamente por terceiros, pois, obrigatoriamente, deve ter sua
autenticidade confirmada por confronto prévio.

O trabalho de análise pericial deve ser iniciado pelas peças padrões. O


perito deve observar, identificar e relatar as características gráficas
generalizadas do grafismo, encontradas nos documentos utilizados
como padrão, abordando seus aspectos de legitimidade e unicidade.
Neste momento, os peritos analisam documentos produzidos antes e
após a produção da peça de exame que deu origem à necessidade de
exame pericial.

Dos tipos de assinaturas questionadas


No decorrer dos exames grafotécnicos, vários tipos de grafias serão
objeto do trabalho pericial. Dessa forma, passamos a abordar alguns
tipos de assinaturas mais comumente encontradas em laudos
grafotécnicos, descrevendo os cuidados e a forma de serem analisadas
durante o trabalho pericial.

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Assinaturas simplificadas
Uma das dificuldades constatadas é com as assinaturas simplificadas,
ou seja, aquelas em que os autores se utilizam de “rabiscos” como
sinais gráficos.

Em situações desse tipo, afirmam Falat e Rebello Filho (2021, p. 26-27):


“o perito sempre deverá aprofundar a sua análise nos movimentos
peculiares do punho escritor, ou seja, como o punho escritor
desenvolveu o ponto de início da escrita, a trajetória observada no traço
inicial, se os traços apresentam tendência a curvaturas ou a
movimentos retilíneos, como foi empregado o dinamismo, ou seja, a
força e a velocidade contida nos traços, bem como a qualidade geral
empregada. Torna-se necessário também o confronto das proporções
longitudinais e angulares dos espaçamentos internos dos gramas”. Para
entender melhor o conceito, analise o exemplo a seguir:

Exemplo de aspecto da escrita.

No modelo que analisamos, podemos destacar as seguintes


observações do perito identificadas pelos números 1 a 4:

O punho escritor efetuou um repouso do instrumento escritor


sobre a superfície do papel-suporte antes da execução do
movimento da escrita.

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2

O punho escritor parece ter a tendência de efetuar movimentos


em curvaturas mais fechadas na base e mais aberto na parte
superior.

A grafia analisada apresenta uma visível inclinação destra.

O punho escritor apresenta hábito na produção de remates em


forma desvanecência.

No exemplo apresentado anteriormente, em relação ao dinamismo,


constata-se que o punho escritor parece utilizar-se de movimentos com
maior velocidade nas zonas medianas das figuras, refreando na
execução dos movimentos que invertem os sentidos.

Nesse tipo de firma, o sucesso da conclusão pericial vai depender dos


modelos padrões utilizados. Dessa forma, a cautela e os devidos
cuidados no momento da coleta de padrão devem ser adotados.

Assinaturas com sobreposições de traços


Um outro desafio enfrentado pelos especialistas em grafotécnica
encontra-se nas firmas com sobreposições dos traçados. Nessa
situação, o perito deverá examinar cuidadosamente as trajetórias,
principalmente quando o foco em questão for o dinamismo empregado.

Nesse tipo de assinatura, o perito deve ter atenção aos pontos escuros
ou grossos da escrita imediatamente posterior a movimentos virtuais,
ou seja, aqueles em que o escritor emprega muita velocidade, e o
instrumento escritor passa a não tocar na superfície do papel suporte. A
figura seguinte exemplifica tal situação:

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Exemplo de assinaturas com sobreposições de traços.

Conforme exemplificado na figura anterior, a despeito de os traços


mostrarem-se escuros, deve-se atentar que os movimentos de pouca
pressão sobrepostos entre si também podem dar ideia de que o punho
escritor utilizou-se de mais pressão, alterando, com isso, o parecer do
perito quanto ao dinamismo empregado na realização da assinatura.

Para análise do dinamismo empregado no primeiro símbolo, o perito


deverá primeiro ter em mãos os padrões gráficos a serem utilizados,
porquanto deverá observar aqueles traços com os padrões a serem
utilizados.

Assinatura cursiva, legível e evoluída


A despeito de serem facilmente identificadas, as letras alfabéticas que
compõem tais assinaturas são as que apresentam maiores dificuldades
para serem falsificadas, principalmente em função de que uma
assinatura com essa característica, não produzida pelo punho escritor,
normalmente acarretaria alterações facilmente detectadas pelo perito
em documentoscopia, conforme a figura a seguir:

Exemplo de assinatura cursiva legível e evoluída.

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Assinatura cursiva legível e não evoluída


O tipo de assinatura cursiva legível não evoluída normalmente ocorre
com pessoas de pouca habilidade gráfica, ou seja, aquelas que não
possuem o hábito da escrita. Sendo assim, a assinatura é desenvolvida
de forma lenta e arrastada, normalmente com indícios de tremores,
paradas em pontos não habituais ou claudicações, tornando-se, muitas
vezes fácil de serem reproduzidas por outro, dificultando, desta forma,
que o perito possa distingui-la de uma falsificação. Veja como a figura
seguinte representa este tipo de assinatura:

Exemplo de assinatura cursiva legível e não evoluída.

Assinaturas não legíveis


As assinaturas não legíveis, normalmente, são caracterizadas por
símbolos gráficos indefinidos, de modo que o trabalho pericial exigirá do
perito uma análise prévia da peça questionada, mesmo antes da coleta
de padrões, conforme orientam os especialistas Falat e Rebello Filho
(2021). Nessa fase do trabalho pericial, o profissional em grafotecnia
deverá familiarizar-se com o gesto gráfico do punho escritor, tendo em
mente que, em caso de tentativa de dissimulação por parte do autor de
uma assinatura questionada no momento da coleta de padrões, o perito
poderá ainda redirecionar a metodologia para essa etapa do trabalho
pericial.

Considerando um caso de dissimulação, o perito deve


procurar ter em mãos outras palavras que possuam
elementos correspondentes ao da peça questionada, a
coleta dos padrões deve ocorrer de forma intervalada,
e os padrões coletados anteriormente devem ser
cobertos ou tirados da vista da parte que fornece o
padrão, pois isso dificultará a tentativa de
dissimulação.

O exemplo seguinte apresenta a formação de colchete no início da


formação do primeiro grama (01), com movimento na base dos não
passantes e remate em estilo infinito (02). De acordo com o exemplo
apresentado, tem-se que as características enunciadas são inerentes ao

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gesto gráfico e que os padrões utilizados para confrontos deverão


apresentar correspondências nesses itens. Analise a seguir:

Exemplo de assinatura não legível.

Coleta de padrões
Uma das principais ações a serem tomadas para a correta condução e
estabelecimento da conclusão pericial é a realização da coleta de
padrões com as técnicas adequadas. A importância desse tópico deve-
se ao fato de que todo o trabalho pericial se fundamenta na qualidade
dos padrões coletados pelo perito, com exceção dos casos em que as
peças a serem cotejadas encontram-se junto aos autos.

As considerações lançadas a seguir têm por objetivo capturar padrões


gráficos de qualidade satisfatória, atendendo dessa maneira à
necessidade dos peritos na realização do trabalho.

Inicialmente, o perito deve preferencialmente utilizar o papel suporte de


cor branca. É aconselhado pelos especialistas, sobrepor algumas folhas
do mesmo papel, a fim de se registrar com maior eficiência a dinâmica
empregada no lançamento do grafismo. Essa técnica permite evidenciar,
com maior facilidade, as oscilações do grafismo. Uma outra vantagem
da sobreposição de folhas para a coleta é que reduz as ondulações ou
depressões da superfície de apoio, evitando, dessa forma, acidentes
gráficos durante o percurso do instrumento escritor.

A posição adequada para coleta de padrões deve


constar como umas das preocupações do perito. Para
um melhor desenvolvimento do grafismo, o escritor
precisa adotar uma atitude postural correta.

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Falat e Rebello Filho (2021) orienta que a pessoa que lttançará o


grafismo deverá postar-se sentado de maneira confortável, estando seu
membro superior escritor com uma angulação aproximada de 45° em
relação ao tronco, e com cotovelo apoiado. O grafismo poderá ser
lançado nas mais variadas posições, porém ao adotarmos uma postura
correta e confortável para tal, inibe-se qualquer influência externa
advinda de mal-estar postural.

Atualmente, no mercado nacional e até mesmo pela facilidade de


importação, encontramos uma diversidade de instrumentos escritores.
Dentre os tipos mais utilizados, podemos citar:

Esferográfica

Hidrográfica

Tinteiro
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Cada instrumento escritor reage fisicamente de maneira diferenciada


em relação à deposição de tinta no papel-suporte, alterando assim a
visualização das características do grafismo.

Por exemplo, a caneta-tinteiro possui duas hastes ligeiramente flexíveis


que, ao sofrerem pressão sobre o papel-suporte, afastam-se, permitindo
a passagem da tinta líquida. Conforme a pressão empregada ocorre
nessa qualidade de caneta, a deposição de maior ou menor quantidade
de tinta, caracterizando-se dessa forma o hábito gráfico no dinamismo
utilizado pelo punho escritor.

Quando se trata de caneta esferográfica a tendência é de se observar


sulcos na superfície do papel suporte. Outra variação encontrada é a
qualidade da substância utilizada em seu interior, massa de tinta. Uma
terceira característica bastante comum quando se escreve com canetas
esferográficas é a formação de esquírolas. Com mecanismo
semelhante ao utilizado na caneta esferográfica, encontramos a caneta
roller-ball, a qual diferencia-se da esferográfica apenas na qualidade de
tinta utilizada, tinta líquida. Com esse tipo de instrumento escritor, em
virtude do contato mais prolongado com a superfície de papel,
observamos a formação de entintamento.

No momento da coleta de padrões, o perito responsável pelo trabalho


deverá se ater a alguns fatores importantes que podem influenciar na
boa qualidade dos padrões obtidos. O grafismo poderá sofrer
influências de aspectos motor e psicológicos, o que poderá dificultar
sobre maneira a análise gráfica a ser efetuada. Diante disto, alguns
cuidados deverão ser adotados:

Esquírolas
Esquírolas são borras ou acúmulos de massa depositadas no traço de uma
esferográfica, especialmente após a inversão rápida da direção do traçado
(DEL PICCHIA FILHO et al., 2016).

dashboard_customize Disponibilidade em fornecer


corretamente os padrões para
confronto
Deverá ser observada atenciosamente a fim de não
causar à musculatura um esforço excessivo e
consequente fadiga muscular, o que acarretará uma
debilidade nas funções motoras. A ocorrência de
fadiga muscular poderá acarretar alterações no

fi i fl i d t
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grafismo, influenciando aspectos como a
espontaneidade e o dinamismo.

dashboard Padrões coletados para confronto


Deverá analisar a disponibilidade do indíviduo em
fornecer corretamente tais padrões. Sentimento de
culpa e medo interferirá sobre o lançamento do
grafismo, tendendo a mascarar as características
pessoais. Os peritos devem utilizar expressões que
contenham a mesma sequência de símbolos
gráficos em palavras divergentes, pois desvia-se a
atenção sobre a peça questionada, enfocando o
gesto gráfico natural através de outros símbolos.

Em alguns casos, a análise gráfica recai sobre peças questionadas,


lançadas há décadas, as quais, devido à evolução do grafismo,
dificultam a análise a ser efetuada. Além da evolução do grafismo,
poderão ocorrer alterações propositais após o fato gerador do
questionamento; para tal, será necessário efetuar uma busca por
padrões contemporâneos, até mesmo anteriores à ocorrência. A busca
por padrões contemporâneos encontra fundamento no artigo 434 do
Código de Processo Civil. Assinaturas lançadas ao longo do tempo são
geralmente encontradas em instituições como: bancos, cartórios, junta
comercial, departamento de trânsito, contadores, dentre outras.

Os peritos também devem estar atentos no momento da coleta de


padrões e observar se o escritor não foi acometido por alguma
patologia, principalmente as que afetam o sistema nervoso central,
ocasionando disfunções psíquicas ou motoras.

Art. 434 do Código de Processo Civil


Incumbe à parte instruir a petição inicial ou a contestação com os
documentos destinados a provar suas alegações. Parágrafo único. Quando
o documento consistir em reprodução cinematográfica ou fonográfica, a
parte deverá trazê-lo nos termos do caput, mas sua exposição será
realizada em audiência, intimando-se previamente as partes.

Exemplo

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Mal de Parkinson, AVC, Isquemias etc. Nos casos mais graves, poderão
ocorrer perdas de sensibilidade, perda de motricidade, atrofias, flacidez,
ausência de coordenação e, ainda, padrões posturais que impeçam o
lançamento do grafismo. Nesses casos, o melhor seria a busca por
padrões contemporâneos.

Ainda relacionado à coleta de padrões, entende-se que quanto mais


próximos os padrões coletados estiverem das peças questionadas,
referindo-se a tipo de papel, caneta, tinta, gestos gráficos e
contemporaneidade, mais subsídios teremos para efetuar uma análise
minuciosa do material questionado, e, por conseguinte, mais precisa e
fundamentada será nossa conclusão.

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Falta pouco para atingir seus objetivos.

Vamos praticar alguns conceitos?

Questão 1

Situação problema: O perito Bresciani Joubert, foi convocado pelo


Magistrado da 14° Vara Cível do Município de Passo Fundo, interior
de Rio Grande do Sul, para atuar como perito do Juiz no processo n°
123564/2345-2005. A peça de exame apresentada para análise
tratava-se de uma declaração manuscrita, em uma folha de papel
A4, com instrumento escritor de tinta azul, datada em 16 de
setembro de 2005, e supostamente assinada por Renata Cristina
Salles Gomes, na qual consta o recebimento da quantia de R$
1.674,72, referente à rescisão de contrato de trabalho temporário
prestado à empresa TR4 Terceirização Ltda. Em 15 de março de
2007, o perito convocou a Sra. Renata Cristina para realização de
coleta de padrão. Antes de iniciar a coleta, o Perito observou que a
Sra. Renata apresentava uma paralisia do seu lado direito do corpo.
Indagada, ela afirmou e comprovou por exames que em julho de
2006 sofrera um AVC e ficou com todo o seu lado direito paralisado,
tendo passado, a partir de então, a escrever com sua mão
esquerda.

Com base na situação problema relatada, que procedimentos o


perito deve adotar para ter padrões adequados para análise?

O perito deve, preferencialmente, utilizar o papel


A
suporte de cor branca.

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A posição adequada para coleta de padrões deve


constar como umas das preocupações do perito.

Deverá ser observada, atenciosamente, a


C
quantidade de padrões coletados.

Ele deve analisar a disponibilidade do indivíduo em


D
fornecer corretamente os padrões para confronto.

E O perito deve buscar por padrões contemporâneos.

Parabéns! A alternativa E está correta.

A busca por padrões contemporâneos encontra fundamento no


artigo 434 do Código de Processo Civil. No caso específico, o
personagem que forneceria o padrão para confronto apresentava
uma patologia que comprometia sua capacidade motora e de
produção de grafismo. Nesse caso, a coleta de padrão
contemporâneo seria perfeitamente adequada. As demais
alternativas apresentavam técnicas de coleta em situações
normais.

Questão 2

Com base no CPC, o perito tem o dever de responder a todos os


quesitos apresentados pelo magistrado e pelas partes. No caso de
uma perícia inconclusiva, qual deve ser o proceder nesse caso?

A O juiz arquivará o processo.

O juiz determinará de ofício a realização de nova


B
perícia.

C A segunda perícia substituirá a primeira.

D A segunda perícia substituirá a primeira.

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A nova perícia terá condições diferenciadas da


E
primeira.

Parabéns! A alternativa B está correta.

A fundamentação encontra-se no artigo 480 do Código de Processo


Civil, no qual o juiz determinará de ofício a realização de nova
perícia, mantidas as condições da primeira, sendo que a segunda
não substituirá a primeira perícia, cabendo ao juiz avaliar ambas em
conjunto.

Considerações finais
Como vimos, o ímpeto e os motivos que levam o ser humano a realizar
falsificações e adulterações são os mais diversos. Da mesma forma, as
técnicas e os métodos de identificação e distinção entre falsidade e
autenticidade têm sido desenvolvidos e aprimorados ao longo dos
tempos.

Neste conteúdo, estudamos como o gesto gráfico é produzido e quais


variáveis e condições o influenciam. Podemos observar as causas mais
recorrentes de alteração do grafismo e como as patologias produzem
alteração no gesto gráfico do indivíduo.

Você também conheceu as leis e enunciados que regem toda análise do


grafismo e sua importância para o trabalho do perito grafotécnico. No
final do primeiro módulo, apresentamos a classificação dos principais
tipos de falsificações com que os peritos se deparam no cotidiano de
suas atividades.

No módulo 2, tratamos do laudo pericial. Inicialmente, foi feita uma


contextualização à luz do Código de Processo Civil brasileiro e, em
seguida, abordamos as principais partes de um laudo pericial,
fornecendo exemplos de ilustração de cada uma das partes bem como
indicando os principais cuidados que um perito deve adotar no
momento da coleta de padrões e análise de confronto.

Esperamos que os conhecimentos apresentados possam contribuir para


sua formação e atividade profissional.

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headset
Podcast
Para encerrar, ouça sobre os principais cuidados que devem ser
tomados na produção de um laudo pericial.

Explore +
Para conhecer sobre os elementos de segurança do dólar, acesse o site
do Bureau of Engraving and Printing, do Departamento do Tesouro dos
Estados Unidos.

Para conhecer sobre os elementos de segurança do euro, acesse o site


do European Central Bank, ou Banco Central Europeu.

Para conhecer sobre os elementos de segurança do real, acesse o site


do Banco Central do Brasil.

Para ler uma discussão sobre como as patologias afetam o gesto


gráfico, leia o livro Les écrits et les dessins dans les maladies
nerveuses et mentales: Essai clinique, de Joseph Rogues de Fursac,
disponível em PDF no site Internet Archive.

Para ler uma discussão sobre o Exame grafotécnico, leia o livro Forensic
Examination of Signatures, de Linton A. Mohammed, disponível no site
Science Direct.

Referências

https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03267/index.html# 59/61
29/11/23, 13:36 Documentos de identificação e de perícia: laudo pericial

BRASIL, Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015. Institui o Código de


Processo Civil. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 17 março 2015.
Consultado na internet em: 28 maio 2022.

BELLEZZA, P. Solange PELLAT, E. Les Lois de l'écriture. Scientia, v. 24, n.


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BELENSKY, Radostin. Forensic Examination of Signatures. [S.l.]:


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BREWESTER, F. Contested Documents and Forgeries. Harvard Law


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BUQUET, Alain. L´Expertise des écritures. Paris: CNRS, 2001.

BUQUET, Alain. Les documents constestés et pour expertise. Québec:


Yvon Blais, 1997.

DE FURSAC, Joseph Rogues. Les écrits et les dessins dans e maladies


nerveuses et mentales. Paris: Massoin et Cie. Éditeurs – Libraires de
L'Académie de Médecine, 1905. Consultado na internet em: 28 maio
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DEL PICCHIA FILHO, J.; DEL PICCHIA, C. M. R.; DEL PICCHIA, A. M. G.


Tratado de documentoscopia: da falsidade documental. 3. ed. São
Paulo: Pillares, 2016.

FALAT, L. R. F.; REBELLO FILHO, H. M. Entendendo o laudo pericial


grafotécnico & a grafoscopia. 1. ed. Curitiba: Juruá, 2021.

PARODI, L. Falsificação de documentos em processos eletrônicos. Rio


de Janeiro: Brasport, 2018.

PERIOT, Maurice; BROSSON, Paul. Morpho-Physiologie de L´Écriture.


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PELLAT, Solange. L’Éducation aidée par la graphologie. In: La revue


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PRETTI, Gleibe. Perícia grafotécnica na prática. 1. ed. São Paulo: Ícone,


2017.

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