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Psicologia: Ciência e Profissão 2021 v. 41 (n.spe 3), e192765, 1-17.

https://doi.org/10.1590/1982-3703003192765 Artigo

Estresse e Estratégias de Enfrentamento em Crianças e


Adolescentes em Acolhimento Institucional em Casas Lares

Luiz Henrique Fortunato Rodrigues1 Helena Bazanelli Prebianchi1


1
Pontifícia Universidade Católica de Campinas, SP, Brasil. Pontifícia Universidade Católica de Campinas, SP, Brasil.
1

Resumo: O estresse infantil está relacionado com a falta de repertório da criança e do


adolescente para lidar com situações que causam irritação ou medo. Embora o acolhimento
institucional temporário seja uma medida de proteção prevista pelo Estatuto da Criança e
do Adolescente (ECA), também é fonte causadora de mudanças significativas na vida dessas
pessoas, que, para lidar com esses eventos, utilizam estratégias de enfrentamento a fim de
regular suas ações sob estresse. Esta pesquisa foi realizada com o objetivo de descrever o
estresse e as estratégias de enfrentamento utilizadas por crianças e adolescentes acolhidos em
casas lares. Participaram 4 crianças e 11 adolescentes, com idades entre 8 e 17 anos e 11 meses,
em situação de acolhimento institucional em uma cidade do interior de São Paulo. Além da
caracterização sociodemográfica dos participantes, foram utilizados os seguintes instrumentos:
Escala de Stress Infantil (ESI), Escala de Stress Adolescente (ESA) e entrevista semiestruturada
para identificação das estratégias de enfrentamento. Os resultados indicaram que o tempo de
acolhimento dos participantes é superior aos dois anos determinados pela legislação, que os
níveis de estresse foram baixos para os participantes, sendo menores para aqueles acolhidos
há mais tempo, e que as principais estratégias de enfrentamento utilizadas foram a busca
por apoio e a oposição. Recomendam-se outros estudos, considerando que o vínculo afetivo
estabelecido entre as crianças e adolescentes com os funcionários mais próximos aparenta
colaborar positivamente no uso de estratégia de coping adaptativo e o acolhimento de crianças
e adolescentes é um possível fator protetor contra o estresse.
Palavras-Chave: Estresse, Estratégias de Enfrentamento, Coping, Criança Institucionalizada,
Desenvolvimento Humano.

Stress and Coping Strategies in Sheltered Children and Adolescents

Abstract: Childhood stress is related to the lack of repertory on the part of children and
adolescents in dealing with situations that cause anger or fear. Although a protective action
provided for by the Child and Adolescent Statute (ECA), temporary shelters can cause
significant changes in the lives of these people, who adopt a series of coping strategies
to regulate their actions under stress. This research aimed to describe stress and coping
strategies adopted by sheltered children and adolescents. The study was conducted with
four children and 11 adolescents aged between eight and 17 years and 11 months who were
living in a shelter in the countryside of São Paulo. Data comprised the sociodemographic
characteristics of participants and the coping strategies employed by them, collected using
the following instruments: the Child Stress Scale (ESI), the Adolescent Stress Scale (ESA),
and a semi-structured interview. The results indicate that participants’ stay within the shelter
exceed the two years determined by the legislation. Participants also presented low stress
levels, especially those sheltered longer. Moreover, support seeking and opposition were the
main coping strategies adopted. Considering that the affective bond established between

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sheltered children and adolescents with the closest employees seems to corroborate in the
use of adaptive coping strategies and that shelter may be a stress protective factor, further
studies addressing the theme are suggested.
Keywords: Stress, Coping Strategy, Coping, Child Institutionalized, Human Development.

Estrés y Estrategias de Enfrentamiento en Niños y


Adolescentes en Acogimiento Institucional en Casas Lares

Resumen: El estrés infantil está relacionado con la falta de repertorio de niños y adolescentes al
enfrentar situaciones que le causan ira o miedo. Aunque el albergue es una medida de protección
disponible por el Estatuto de Niños y Adolescentes (ECA), puede causar cambios significativos
en la vida de estas personas, y para hacer frente a estos eventos, se utilizan estrategias de
enfrentamiento para regular sus acciones bajo estrés. Esta investigación pretende describir
el estrés y las estrategias de enfrentamiento utilizadas por los niños y adolescentes acogidos.
Participaron cuatro niños y 11 adolescentes, con edades de entre 8 y 17 años y 11 meses, que viven
en situación de albergue en una ciudad del estado de São Paulo. Además de la caracterización
sociodemográfica de los participantes, se utilizaron los siguientes instrumentos: la Escala de
Estrés Infantil (ESI), la Escala de Stress para Adolescente (ESA) y una entrevista semiestructurada
para identificar estrategias de enfrentamiento. Los resultados indicaron que los participantes
permanecieron más tiempo en el albergue que los dos años según lo determinado por la
legislación, que los niveles de estrés fueron bajos para los participantes y menores para los
que estuvieron más tiempo acogidos y que las principales estrategias de supervivencia fueron
la búsqueda de apoyo y la oposición. Se recomiendan otros estudios, considerando que el
vínculo afectivo establecido de los niños y adolescentes con los empleados más cercanos parece
colaborar positivamente en el uso de una estrategia de coping adaptativa, y que el acogimiento
institucional puede ser un factor protectivo de estrés.
Palabras clave: Estrés, Estrategias de Enfrentamiento, Coping, Niño Institucionalizado,
Desarrollo Humano.

Introdução marginalização, pois a imagem que a população tinha


A construção de um sistema de atendimento à do Serviço de Assistência a Menores (SAM) era a de
infância e à adolescência em situação de abandono uma escola do crime, e seus internos ou egressos eram
teve início no Brasil colônia e passou por diversas vistos como indivíduos de alta periculosidade (Muniz
mudanças ao longo do tempo. A responsabilidade por Neto et al., 2014; Princeswal, 2013). Desde o código de
esse atendimento foi atribuída a princípio à Igreja, 1927 o Estado passou a usar o expediente da internação
depois às entidades filantrópicas e, atualmente, para proteger o menor abandonado, enquanto as famí-
ao Estado (Marcilio, 2016). lias com menor condição financeira viram nela a opor-
Ao longo da história, diversas legislações espe- tunidade de prover estudos e alimentação adequada
cíficas para crianças e adolescentes, ainda que bus- para seus filhos (Rizzini & Rizzini, 2004; Siqueira, 2012).
cassem sua proteção, acabaram por marginalizar A nova Constituição do Brasil cita o dever do
aqueles abandonados e/ou acolhidos (Almeida, 2013; Estado de proteger e assegurar os direitos das crian-
Baptista, 2006; Muniz Neto, Lima, Miranda, & ças e adolescentes (Constituição Federal, 1988). Além
França, 2014; Silva & Mello, 2004). O fato de as ins- disso, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA)
tituições para menores abandonados e para meno- de 1990 busca garantir a proteção integral da criança e
res infratores serem as mesmas contribuiu para essa do adolescente por meio da preservação dos vínculos

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Rodrigues, L. H. F., & Prebianchi, H. B. (2021). Estresse e Estratégias de Enfrentamento em Crianças e Adolescentes.

familiares e comunitários, conforme previsto no Alguns estudos mostram que crianças e adoles-
artigo 19, e atribui a condição de criança a todos os centes acolhidos institucionalmente passaram por
indivíduos com até 12 anos incompletos de idade, quantidade maior de eventos estressores quando
e de adolescente às pessoas com idade entre 12 e comparados com pares que moravam com suas famí-
18 anos (Lei n. 8.069, 1990). lias, além da questão da imagem social depreciada
Em caso de ameaça ou violação de direitos de (Poletto et al., 2009; Wathier & Dell’Aglio, 2007; Zappe
crianças e adolescentes, o ECA estabelece, dentre et al., 2016). O fato de serem acolhidos institucional-
outras medidas, que as autoridades competen- mente pode acarretar profundos impactos na vida
tes podem determinar o acolhimento em enti- desses indivíduos, levando a problemas emocionais
dade (Lei n. 8.069, 1990). Ressalta-se que “o abrigo devido às relações que devem ser construídas nessa
é medida provisória e excepcional, utilizável como nova situação (Fernandes et al., 2015).
forma de transição para a colocação em família subs- O estresse é um desgaste do organismo ao reagir
tituta, não implicando em privação de liberdade” a situações ou estímulos que causam irritação, medo,
(Lei n. 8.069, 1990, p. 20), e que o tempo máximo de excitação ou felicidade extrema, provocando um dese-
permanência no acolhimento institucional deve ser quilíbrio na homeostase (Lipp, 2000). Ocorre tanto em
de dois anos, período no qual todos os esforços devem nível bioquímico e fisiológico como em nível psicoló-
ser realizados para reintegrar o acolhido com a famí- gico, e depende da interpretação que o indivíduo faz
lia nuclear, extensa ou substituta (Conselho Nacional sobre a situação ou estímulo ao qual está sendo sub-
dos Direitos da Criança e do Adolescente [Conanda] & metido (Lipp, 2000).
Conselho Nacional de Assistência Social [CNAS], 2009; Selye estabeleceu o estresse como uma con-
Lei n. 8.069, 1990). dição trifásica, conceituada na Síndrome Geral de
Conforme a legislação vigente, existem as seguin- Adaptação (SGA), composta pelas fases de alerta,
tes modalidades de serviços de acolhimento institu- de resistência e de exaustão (Selye, 1998). A fase de
cional: a) abrigo institucional; b) casas lares; c) famílias quase exaustão foi acrescida após estudos para padro-
acolhedoras; e d) repúblicas (Conanda & CNAS, 2009). nização do Inventário de Sintomas de Estresse para
As casas lares, nas quais deve residir ao menos um Adultos de Lipp (ISSL), quando Lipp e Guevara (1994)
educador/cuidador, atendem até 10 crianças e ado- perceberam, tanto clínica quanto estatisticamente,
lescentes, com idades entre 0 e 18 anos. Essa popula- que há uma quarta fase entre a fase de resistência e a
ção deve estar sob medida protetiva de acolhimento, de exaustão propostas por Selye.
em função de abandono, e/ou por suas famílias/res- O estresse infantil é considerado como seme-
ponsáveis estarem temporariamente impossibilitados lhante ao estresse adulto (Bargas & Lipp, 2013) e,
de cumprir sua função de cuidado e proteção. assim como nos adultos, pode ser iniciado quando a
A casa lar se diferencia do abrigo institucional criança não tem repertório suficiente para lidar com
pela quantidade de crianças atendidas, já que no os eventos estressores. As fontes de estresse infantil
abrigo permite-se o atendimento de até 20 crianças e podem ser internas e externas, tendo como caracte-
adolescentes e inexiste a figura do educador/cuidador rística as necessidades de adaptação a uma nova situ-
residente. Distingue-se ainda das famílias acolhedo- ação, com um dispêndio de energia.
ras por estas serem de caráter provisório até que seja Consideram-se fontes externas tudo o que ocorre
definido se haverá reintegração familiar ou adoção. na vida do indivíduo e que venha de fora de seu corpo,
Por sua vez, a diferença em relação à república está no como a mudança de residência ou de escola, o excesso
fato de esta ser voltada para aqueles com idade entre de atividades escolares e extraescolares, a morte de
18 e 21 anos (Conanda & CNAS, 2009). parentes, a separação dos pais, entre outras (Bargas &
Estar ou ter sido acolhido institucionalmente Lipp, 2013; Lipp, 2000). Nesse sentido, considerando
acarreta um grande peso social, pois se cria tanto uma o peso social do abrigamento, tanto sobre o indivíduo
marca na vida desses indivíduos, que podem ser vistos quanto sobre sua família, a quantidade de eventos
como um risco à sociedade, passando de jovens acolhi- estressores a que são submetidos ao serem acolhidos
dos a jovens transgressores, como uma imagem social e a necessidade de construção de novas relações emo-
negativa para as famílias que têm seus filhos acolhidos cionais no novo contexto, o acolhimento institucional
(Arpini, 2003; Zappe, Yunes, & Dell’Aglio, 2016). das crianças e adolescentes se constitui em evento

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estressor (Abaid, Dell’Aglio, & Koller, 2010; Fernandes, ameaça, com a perda da suposta fonte de proteção
Oliveira-Monteiro, Spadari-Bratfisch, Nascimento, & devido à quebra do vínculo com seus adultos signi-
Montesano, 2015; Poletto, Koller, & Dell’Aglio, 2009). ficativos (Sadeh, 1996). Alguns autores consideram
De acordo com o Conselho Nacional de Justiça possível que o acolhimento institucional seja parte
(Conselho Nacional de Justiça, 2013) as causas de da rede de apoio social e afetivo da criança e do ado-
acolhimento institucional (70% das vezes em casas lescente e, como tal, propicie ao indivíduo a possibili-
lares) são: a) pais ou responsáveis dependentes quí- dade de desenvolver a capacidade de enfrentar situa-
micos ou alcoolistas; b) negligência; e c) abandono ções adversas, bem como o estresse (Dell’Aglio, 2000;
dos pais ou responsáveis. É significativo também que Moré & Sperancetta, 2010, Siqueira & Dell’Aglio, 2006).
a violência doméstica contribui com 53% dos moti- As fontes internas de estresse estão ligadas
vos de acolhimento levantados neste estudo. Difere diretamente à maneira pela qual o indivíduo cons-
em parte dos dados do Levantamento Nacional das truiu seu modo de ser e agir, suas crenças e valores,
Crianças e Adolescentes em Serviço de Acolhimento, seu modo de ver o mundo e de reagir aos desafios
no qual os principais motivos que levam ao acolhi- propostos (Lipp, 2000). Para fazer frente aos eventos
mento em instituições são: a) negligência e aban- estressantes, as crianças e adolescentes (bem como
dono; b) dependência química ou alcoólica dos pais os adultos) utilizam estratégias para regular os níveis
ou responsáveis; c) frequência de violência domés- de estresse do dia a dia.
tica física e sexual; d) carência de recursos dos res- Skinner e Zimmer-Gembeck (2016) definem o
ponsáveis; e e) situação de rua (Constantino, Assis, & coping como a ação reguladora sob estresse e como a
Mesquita, 2013). Outros estudos, além de corroborar forma pela qual as pessoas mobilizam, guiam, geren-
os principais motivos já apresentados, incluem ainda ciam, energizam e direcionam os comportamentos,
os maus-tratos como uma das principais causas de emoções e orientação, ou como falham em fazê-lo,
acolhimento (Cavalcante, Magalhães, & Reis, 2014; sendo essa a base da teoria motivacional do coping
Ferreira, 2014; Furlan & Souza, 2013; Monteiro & (TMC). A TMC é uma conceitualização desenvolvimen-
Alberto, 2016; Serrano, 2011; Zappe et al., 2016). tista do coping que, diferentemente das teorias transa-
A negligência se caracteriza pela deficiência cionais, como a de Lazarus e Folkman (1984), considera
daquele que está a cargo de cuidar de um menor as diferentes etapas do ciclo vital. Nesse sentido, a TMC
em fornecer o essencial para seu desenvolvimento apresenta uma relação recíproca entre coping e desen-
sadio, podendo ser desde a falha em prover alimen- volvimento, ou seja, o desenvolvimento influencia as
tação ou vestuário, incluindo remédios e educa- estratégias de enfrentamento, baseado não apenas em
ção, até a falta de apoio emocional e psicológico diferenças individuais, mas também nas experiências
(Constantino et al., 2013; Papalia, 2006; Schumacher, vividas pelas crianças e adolescentes, ao mesmo tempo
Slep, & Heyman, 2001). O abandono se caracteriza pela que influencia as estratégias para lidar com o estresse
privação do cuidado pelos responsáveis, podendo ser: e com os desafios que impactam seu desenvolvimento
a) abandono parcial, quando a criança é exposta a ris- (Skinner & Zimmer-Gembeck, 2016).
cos pela ausência temporária; ou b) abandono total, Na TMC, procura-se regular ao mesmo tempo
quando a criança é exposta a toda sorte de perigo, o comportamento, a atenção, a emoção, a fisiologia,
uma vez que fica afastada do grupo familiar por ini- a cognição e a motivação, de forma que, trabalhando
ciativa dele (Silva, Souza, & Santos, 2007). sinergicamente, produzam as ações de coping. Estas
As mudanças de outros adultos importantes com- ações serão adaptativas ou não adaptativas e fazem
plementam esse quadro de abandono, sejam elas sig- parte do desenvolvimento da capacidade de regulação
nificativas ou constantes, como de professores, amigos e da resiliência no dia a dia (Aldwin, 2007; Skinner &
e outros cuidadores, quando por ocasião de troca de Zimmer-Gembeck, 2016).
escola ou moradia, bem como conflitos, exigências ou As estratégias de enfrentamento são separadas
rejeição de colegas ou irmãos (Lipp, 2004). em dois diferentes níveis: as instâncias de coping e as
Com relação à permanência no acolhimento ins- famílias de coping (Skinner & Zimmer-Gembeck, 2016).
titucional, a ausência dos pais, seja física, seja emo- As instâncias de coping são as inúmeras mudanças em
cional, é considerada estressante, uma vez que essa tempo real que as pessoas fazem ao lidar com situa-
situação desencadeia na criança uma sensação de ções estressantes e que podem ser obtidas por meio

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Rodrigues, L. H. F., & Prebianchi, H. B. (2021). Estresse e Estratégias de Enfrentamento em Crianças e Adolescentes.

do autorrelato, de comportamentos de coping ou por Método


observação em tempo real. As famílias de coping são Trata-se de pesquisa transversal e descritiva,
os conjuntos de processos adaptativos que se colo- realizada em duas casas lares localizadas em um muni-
cam entre o estresse e suas consequências fisiológicas, cípio no interior do estado de São Paulo, organizadas
psicológicas e interpessoais, sendo este o nível da estra- conforme encontrado no Manual de orientações téc-
tégia de adaptação (Skinner & Zimmer-Gembeck, 2016). nicas: serviços de acolhimento para crianças e adoles-
A TMC propõe um sistema das 12 famílias de centes (Conanda & CNAS, 2009).
coping, que são usadas para classificar todas as estra-
tégias de enfrentamento. Estas foram organizadas por
sua função adaptativa e incluem todas as estratégias de
Participantes
Os participantes foram 15 crianças e adolescen-
enfrentamento que atendem a essa função adaptativa,
tes moradores das casas lares durante a realização
estando agrupadas (Skinner & Zimmer-Gembeck, 2016)
da seguinte forma: para o processo adaptativo de coor- da pesquisa, com idade entre 8 e 17 anos e 11 meses.
denar ações e contingências no ambiente, as famílias Por envolver crianças e adolescentes que estavam em
“resolução de problemas” e “busca de informação” são acolhimento institucional (portanto, com o poder
consideradas como adaptativas, e as famílias “desam- familiar suspenso judicialmente), o responsável pela
paro” e “fuga” como desadaptativas. casa lar era quem detinha legalmente a guarda desses
O processo adaptativo de coordenar a con- indivíduos, devendo garantir todos os direitos asse-
fiança e a disponibilidade de recursos sociais tem gurados pela legislação brasileira (Lei n. 8.069, 1990;
como famílias de coping adaptativas a autoconfiança Silva & Aquino, 2005).
e a busca por apoio, enquanto são consideradas Os participantes estavam distribuídos nas casas
desadaptativas a delegação e o isolamento social. lares da seguinte forma: duas crianças do sexo mascu-
Finalmente, o processo adaptativo de coordenar pre- lino e seis adolescentes, sendo dois do sexo masculino
ferências e opções disponíveis possui como famílias e quatro do sexo feminino na casa lar I. Na casa lar II
adaptativas a acomodação e a negociação, e como havia outras três crianças do sexo masculino, além de
famílias desadaptativas a submissão e a oposição outros cinco adolescentes, sendo três do sexo mascu-
(Skinner & Zimmer-Gembeck, 2016). lino e duas do sexo feminino.
Este estudo, diferentemente de outros tra- Dos participantes da pesquisa, 60% eram do sexo
balhos na área (Abaid, Dell’Aglio, & Koller, 2010; masculino (n = 9) e 40% do sexo feminino (n = 6);
Alexandre & Vieira, 2004; Arpini, 2003; Batista, Silva, & 27% eram crianças com idade entre 8 e 11 anos e
Reppold, 2010; Dell’Aglio, 2000; Fernandes et al., 11 meses (n = 4) e 73% adolescentes com idade de 12 a
2015; Kristensen, Schaefer, & Busnello, 2010; Poletto, 17 anos e 11 meses (n = 11). As crianças eram todas do
Koller, & Dell’Aglio, 2009; Siqueira & Dell’Aglio, 2006), sexo masculino (n = 4), enquanto entre os adolescen-
foi realizado a partir de referencial teórico ainda não tes 45% eram do sexo masculino (n = 5) e 55% do sexo
explorado no contexto do acolhimento institucional feminino (n = 6). A idade média dos participantes foi
infantojuvenil, isto é, uma teoria desenvolvimentista de aproximadamente 14 anos e 2 meses; as crianças
de coping (TMC). Além disso, foram utilizados instru- apresentaram idade média de 10 anos e os adolescen-
mentos padronizados para avaliação do estresse das tes tiveram como idade média 15 anos e 7 meses.
crianças e dos adolescentes. Dessa forma, acredita-se Com referência à escolaridade, 93% dos partici-
poder contribuir para a ampliação do conhecimento pantes estavam matriculados e frequentavam a escola.
sobre as características da população acolhida em As crianças frequentavam o ensino fundamental:
casas lares, constituindo também uma nova perspec- dentre elas uma estava matriculada no terceiro ano e
tiva de avaliação e abordagem desse contexto. três no quinto. Entre os adolescentes, um era semia-
O objetivo deste estudo foi descrever as carac- nalfabeto e não estava matriculado na escola por falta
terísticas sociodemográficas, o nível de estresse e as de vaga na rede pública quando do acolhimento ins-
estratégias de enfrentamento das crianças e adoles- titucional, um estava no sexto, um no sétimo e um no
centes com idade entre 8 e 17 anos e 11 meses acolhi- nono ano do ensino fundamental. Todos os demais
dos institucionalmente nas casas lares em uma cidade estavam matriculados no ensino médio, sendo um no
do interior de São Paulo durante 2017. primeiro, quatro no segundo e dois no terceiro ano.

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Instrumentos Todas as entrevistas foram transcritas, preser-


Os instrumentos utilizados foram: a) caracte- vando a identidade do entrevistado. As respostas dos
rização sociodemográfica, preenchida tanto com entrevistados foram tabuladas, de forma que cada
dados dos prontuários como com dados relatados uma das situações abordadas na entrevista fosse cate-
pelos participantes; b) dois instrumentos padro- gorizada conforme as 12 famílias de coping. A aloca-
nizados para avaliação de estresse infantil e ado- ção da situação descrita para uma família de coping
lescente, respectivamente, sendo a Escala de Stress levou em conta tanto a resposta emocional/cognitiva
Infantil (ESI) e a Escala de Stress Adolescente (ESA); do entrevistado como sua resposta comportamental/
e c) uma entrevista semiestruturada para explora- motora. Essa análise foi realizada pelo pesquisador
ção das estratégias de coping utilizadas pelos par- e, na sequência, submetida a um juiz para validação,
ticipantes, conforme as categorias definidas pela obtendo, depois de realizada, 100% de concordância
literatura (resolução de problemas, busca de infor- entre pesquisador e juiz.
mação, desamparo, fuga, autoconfiança, busca por
apoio, delegação, isolamento social, acomodação, Resultados
negociação, submissão, oposição), em situações posi- A Tabela 1 informa o tempo de acolhimento nas
tivas dentro e fora da casa lar, em situações negativas casas lares pesquisadas e o tempo total resultante
dentro e fora da casa lar e em duas situações hipo- desse acolhimento, juntamente ao de outros ser-
téticas: a) obrigação de estudar ao chegar da escola; viços de acolhimento. Considerando o tempo total
e b) a proibição de encontro com os pais. de acolhimento, 50% das crianças (n = 2) e 64% dos
adolescentes (n = 7) tinham sido acolhidos institucio-
Procedimentos nalmente por até 24 meses, enquanto os demais por
A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética mais de dois anos. Dos participantes acolhidos entre
em Pesquisa Humana na PUC-Campinas (parecer 13 e 24 meses, a maioria fora acolhida há 23 meses e
n. 2.093.013.). Por se tratar de uma pesquisa desen- não tinha perspectiva de retorno à família de origem,
volvida com crianças e adolescentes em situação de estendida ou substituta.
acolhimento institucional temporário, foi obtido, No geral, 40% das crianças e adolescentes estavam
previamente, o consentimento do juiz da Vara de em seu primeiro acolhimento (n = 6), 20% se encontra-
Infância e Juventude responsável pelo processo do pro- vam no segundo (n = 3) e terceiro acolhimentos (n = 3).
vável participante. O Termo de Consentimento Livre e Dentre os participantes, 13% (n = 2) estavam no quarto
Esclarecido (TCLE) foi assinado pelo responsável pela acolhimento e 7% no quinto acolhimento (n = 1).
casa lar e o Termo de Assentimento Livre e Esclarecido A média foi de 2,50 acolhimentos para as crianças e de
(Tale) pelas crianças e adolescentes participantes. 2,18 acolhimentos para os adolescentes.
A coleta de dados foi realizada individualmente Conforme dados dos prontuários, 80% tinham
com cada um dos participantes em um único encon- vínculos familiares (n = 12), entre os quais 60% já
tro. O conteúdo da ficha sociodemográfica foi expli- haviam estado com a família e voltaram para o serviço
cado no início do encontro e preenchido a seguir. de acolhimento (n = 9). As respostas dos participantes
Na sequência foram lidas as instruções do instru- mostraram um resultado oposto: 40% afirmaram ter
mento ESI ou ESA, e o pesquisador se colocou à dis- retornado às famílias e depois voltado ao acolhimento
posição para esclarecer dúvidas quanto ao entendi- institucional (n = 6), enquanto 60% disseram nunca
mento dos instrumentos. A parte final do encontro terem retornado às famílias (n = 9).
foi dedicada à entrevista, seguindo o roteiro previa- Com relação aos motivos para o acolhimento ins-
mente definido. titucional, os resultados apresentados na Tabela 2 mos-
Os dados obtidos a partir dos instrumentos ESI tram que pode haver mais de um deles. Constatou-se
e ESA foram analisados conforme os protocolos defi- ainda que as crianças e adolescentes nem sempre têm
nidos pelos próprios instrumentos. Para os dados conhecimento dos motivos que os levaram ao acolhi-
colhidos com a ficha sociodemográfica, foram reali- mento, tendo em vista a discrepância entre os dados
zadas análises estatísticas descritivas como frequên- nos prontuários relatados pelos participantes e a fre-
cias e médias. quência com que dizem não saber (25%).

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Rodrigues, L. H. F., & Prebianchi, H. B. (2021). Estresse e Estratégias de Enfrentamento em Crianças e Adolescentes.

Tabela 1
Tempo de acolhimento institucional: prontuário e relatado.
Acolhimento Atual Acolhimento Total
na Casa Lar (em todos os serviços)
Tempo de Acolhimento
Prontuário Relatado Prontuário Relatado
n Freq. n Freq. n Freq. n Freq.
1-6 meses 7 47% 6 *
40% 7 47% 6*
40%
7-12 meses 2 13% 2 13% 1 7%
13-24 meses 6 40% 6 40% 1 7% 1 7%
25-120 meses 1 7% 5 33%
Maior do que 120 meses 5 33% 2 13%
Um dos participantes disse não saber há quanto tempo estava no acolhimento atual (7%).
*

Tabela 2
Motivos do acolhimento segundo os prontuários e relatos.
Prontuários Relatado
Motivos do Acolhimento
N Frequência N Frequência
Negligência 9 25%
Uso de drogas dos genitores 6 17% 1 6%
Maus-tratos 5 14%
Conflitos no ambiente familiar 4 11% 1 6%
Abuso físico e psicológico 4 11%
Abandono de pais ou responsáveis 3 8%
Agressão física e psicológica (agressão física) 2 6% 2 13%
Carências de recursos materiais da família ou
responsáveis (sem condições de cuidar ou pais que não 1 3% 6 38%
tinham condições financeiras de cuidar)
Pais presos 1 3%
Situação de rua 1 3% 1 6%
Não sabe 4 25%
Motivos da mãe 1 6%

A fim de preservar a identidade das crianças dos seis participantes, inclusive para os três partici-
e adolescentes, os nomes dos participantes foram pantes com baixo escore total.
alterados para uma identificação “A” seguida de um A Tabela 4 apresenta os resultados da aplicação
numeral sequencial, iniciado em “1”. Os resultados do instrumento ESA nos adolescentes com entre 14 e
levaram em conta as metodologias propostas pelos 17 anos e 11 meses de idade. Três adolescentes foram
instrumentos e, por isso, não consideram as ida- classificados com estresse, de acordo com os critérios
des propostas pelo ECA para crianças (até 12 anos propostos pelo instrumento.
incompletos) e adolescentes (a partir de 12 anos e até Ao realizar o cruzamento das escalas de estresse
17 anos e 11 meses de idade). utilizadas (ESI e ESA) com o tempo total de acolhi-
A Tabela 3 apresenta os resultados individuais da mento, considerando todos os serviços de acolhi-
aplicação do instrumento ESI para as crianças com mento, constata-se que: a) dentre as crianças e adoles-
idade entre 8 e 13 anos e 11 meses. Dentre as crianças centes que haviam sido acolhidos há seis meses, quatro
pesquisadas, apenas uma não apresentou classifica- atingiram a pontuação de estresse do instrumento uti-
ção do estresse em nível de quase exaustão. O critério lizado, sendo duas na fase de quase exaustão e duas em
para determinação de estresse (total de círculos pre- fase de exaustão; b) os participantes acolhidos entre
enchidos) atingiu níveis de quase exaustão em cinco 7 e 12 meses e entre 13 e 24 meses apresentaram estresse

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Psicologia: Ciência e Profissão 2021 v. 41 (n.spe 3), e192765, 1-17.

na fase de quase exaustão; c) o acolhido que estava nos acolhidos, três participantes não atingiram as faixas
serviços de acolhimento entre 25 e 120 meses foi iden- de corte e foram classificados como “sem estresse”,
tificado com estresse em fase de resistência; e d) dentre e dois obtiveram resultados que os classificaram como
aqueles que permaneciam há mais de 120 meses “com estresse” e na fase de quase exaustão.

Tabela 3
Resultados do Instrumento Escala Stress Infantil: ESI (n = 6).
Determinação Estresse e Reações A1 A2 A3 A4 A5 A6
Reações físicas 20 8 12 6 21 8
Reações psicológicas 25 22 26 14 19 13
Reações psicológicas com
29 10 13 14 31 9
componente depressivo
Reações psicofisiológicas 21 10 19 14 16 19
Nota total da escala 95 50 70 48 87 49
Total de círculos preenchidos 16 8 12 8 12 3
Resistência Resistência Alerta +
Quase Quase
Classificação do estresse + Quase + Quase Quase Resistência
exaustão exaustão
Exaustão exaustão exaustão

Tabela 4
Resultados do Instrumento Escala Stress Adolescente: ESA (n = 9).
Determinação Sintoma Determinação Fase
Part. Sint. Predominante Fase Predominante Class. Estresse
Psi. Cog. Fis. Int. Al. Res. QE Ex.
A7 2,02 2,13 1,17 2,89 1,00 2,07 2,74 1,00 2,18 1,20 Sem Estresse
A8 1,89 2,00 2,67 1,44 1,20 2,73 2,74 2,11 2,45 4,40 Sem Estresse
Com Estresse;
A9 3,45 3,71 2,50 3,78 2,80 2,73 2,32 3,11 2,64 3,80 Sintoma Fisiológico
Fase Exaustão
A10 3,07 3,29 3,67 3,22 1,00 3,09 3,32 3,11 2,73 3,00 Sem Estresse
A11 1,89 1,33 3,33 2,56 1,60 1,98 1,32 1,89 2,00 4,60 Sem Estresse
Com Estresse;
A12 4,64 4,79 3,83 4,67 4,80 3,41 3,68 3,00 3,36 3,20 Sintoma Interpessoal
Fase Quase Exaustão
A13 2,32 2,50 3,00 1,89 1,40 2,64 2,68 1,89 2,45 4,20 Sem Estresse
Com Estresse;
A14 3,14 3,63 3,00 1,56 3,80 2,80 3,16 3,00 1,55 3,80 Sintoma Interpessoal
Fase Exaustão
A15 2,39 2,46 2,67 2,11 2,20 1,66 1,53 2,00 1,73 1,40 Sem Estresse
Nota. Part. = Participante; Sint. = Determinação Stress – Sintomas; Psi. = Psicológico; Cog. = Cognitivo; Fis. = Fisiológico;
Int. = Interpessoal; Fase. = Determinação da Fase Predominante; Al. = Alerta; Res. Resistência; QE. = Quase-Exaustão;
Ex. = Exaustão; Class Stress = Classificação de Estresse conforme critérios ESA.

A análise das entrevistas possibilitou a identifi- moradores; c) relacionamento com os funcionários da


cação de quatro domínios, para os quais as respostas casa lar; e d) relacionamento com outros grupos.
dos participantes convergiram. São eles: a) relaciona- Para 33% dos participantes os contextos positivos
mentos com familiares; b) relacionamento com outros diziam respeito aos relacionamentos com familiares

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Rodrigues, L. H. F., & Prebianchi, H. B. (2021). Estresse e Estratégias de Enfrentamento em Crianças e Adolescentes.

(n = 11) e 30% se referiram ao relacionamento com Tanto para as crianças como para os
funcionários da casa lar (n = 10); em 21% dos casos ao adolescentes, foram identificadas mais estratégias
relacionamento com outros grupos (n = 7) e para 15% de coping adaptativas do que não adaptativas. A mais
estavam ligados ao relacionamento com outros mora- usada pelas crianças foi a busca por apoio, caracte-
dores (n = 5). Por sua vez, os contextos negativos se rizada principalmente pela busca por contato e con-
referiam aos relacionamentos com outros grupos em forto, e por ligação social, igualmente distribuída
41% dos casos (n = 13), ao relacionamento com outros entre os domínios relacionamento com a família,
moradores da casa lar para 38% das respostas (n = 12), relacionamento com outros moradores e relaciona-
às relações com os familiares em 13% das situações mento com funcionários da casa lar. Para os adoles-
(n = 4), e em 9% dos casos ao relacionamento com os centes, tratou-se da autoconfiança, que está rela-
funcionários (n = 3). cionada à proteção dos recursos sociais disponíveis,
A Tabela 5 apresenta a consolidação das respos- sendo estes concentrados em relacionamentos com
tas dos participantes para as questões, identifica- sua família de origem e em outros relacionamentos,
das em uma ou mais famílias de coping, conforme a como escola e amigos.
função adaptativa no contexto proposto. Os proces- As estratégias não adaptativas das crianças não
sos adaptativos mais frequentemente identificados, apresentaram concentração em uma única família
com 42% das respostas em ambas, foram os de coor- de coping, sendo distribuídas pelas famílias desam-
denar a confiança e a disponibilidade de recursos paro, fuga, isolamento social, submissão e oposição
(n = 41) e o de coordenar preferências e opções dis- de forma igualitária. Os adolescentes, por outro lado,
poníveis (n = 41). As famílias de coping mais utilizadas concentraram as respostas na família de coping oposi-
foram a oposição (n = 21), com 21%, a autoconfiança ção, principalmente com o uso da agressão, seja ela ver-
(n = 16), com 16%, a busca por apoio (n = 15), com 15%, bal, seja física, e em um segundo plano a fuga, caracte-
e a acomodação (n = 14), com 14% das respostas. rizada principalmente pela evitação comportamental.

Tabela 5
Famílias de coping identificadas nas situações propostas.
Situações Propostas
Positiva Positiva Negativa Negativa Estudar ao Proibição
Processo Família de
dentro da fora da dentro da fora da chegar da de ver os
Adaptativo Coping
casa lar casa lar casa lar a casa lar b escola pais
n % n % n % n % n % n %
Resolução de
4 21%
Coordenar Problema
ações e Busca de
1 8%
contingências Informação
no ambiente Desamparo 1 6% 1 5% 1 6%
Fuga 3 16% 3 25% 2 10%
Autoconfiança 3 20% 9 56% 2 17% 1 5% 1 6%
Coordenar a Busca por
confiança e a 11 73% 2 13% 2 17%
apoio
disponibilidade
de recursos Delegação 1 6% 1 5% 1 8%
sociais Isolamento
3 19% 3 16% 1 8%
Social
Coordenar Acomodação 1 7% 10 50% 3 19%
preferências Negociação 1 5% 1 5% 1 6%
e opções Submissão 2 11% 1 6%
disponíveis Oposição 5 26% 2 17% 5 25% 9 56%
Nota. a Um participante não relatou nenhuma situação negativa dentro da casa lar; b Cinco participantes não relataram
nenhuma situação negativa fora da casa lar.

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Psicologia: Ciência e Profissão 2021 v. 41 (n.spe 3), e192765, 1-17.

Discussão adolescentes permanecem em serviços de acolhi-


Os resultados sociodemográficos identifica- mento por período superior a dois anos, inclusive
ram semelhanças entre o perfil das crianças e ado- com tempo de acolhimento superior a cinco anos
lescentes pesquisados e aqueles encontrados no (Cavalcante et al., 2014; Oliveira, 2006).
Levantamento Nacional das Crianças e Adolescentes Os riscos advindos dessa permanência prolongada
em Serviço de Acolhimento, e em outros trabalhos estão associados à dificuldade de formar relaciona-
com a mesma temática, por exemplo, as popu- mentos afetivos duradouros (Cavalcante, Magalhães, &
lações estudadas em várias partes do país, como Pontes, 2007), à sociabilidade (Siqueira, 2006) ou à
Pará, São Paulo, Santa Catarina e Minas Gerais possibilidade de desenvolver distúrbios psiquiátricos
(Alexandre & Vieira, 2004; Barros & Fiamenghi, 2007; e de personalidade pela falha na elaboração de vín-
Cavalcante et al., 2014; Cortez & Manfrin, 2017). culos afetivos estáveis (Cuneo, 2009). Entre os pron-
Entretanto, foram distintos dos resultados encontra- tuários e as falas dos participantes foram constatadas
dos em pesquisa (Batista, Silva & Reppold, 2010) rea- discrepâncias referentes ao tempo de acolhimento na
lizada na região Sul do Brasil, em que o tempo médio casa lar e ao tempo total de acolhimento nos diversos
de acolhimento foi de 10 meses. serviços. Supõe-se que retirar crianças e adolescentes
Com referência à escolaridade, apenas um de suas casas e colocá-los em uma situação de acolhi-
dos participantes não estava matriculado e fre- mento institucional pode causar uma perda na noção
quentando a escola, e metade das crianças e ado- de tempo, tanto naqueles que ainda estão se adaptando
lescentes apresentaram defasagem de até um ano quanto nos casos de longo acolhimento. Segundo os
na escola. Esses resultados se mostraram superio- participantes, ao responderem sobre essa questão na
res aos encontrados no Levantamento Nacional pesquisa: “. . . faz tanto tempo (que estou abrigado)
das Crianças e Adolescentes em Serviço de que já nem me lembro mais . . .” ou “(estou abrigado)
Acolhimento, em que mais de 75% frequentavam desde sempre”. Esse achado encontra eco no estudo
a escola, e mais de 80% apresentavam distorção de de Batista, Silva e Reppold (2010), em que metade da
até dois anos escolares (Constantino et al., 2013). população afirmou não saber há quanto tempo estava
Além disso, parece ser diferente do que apontam acolhida institucionalmente.
outros estudos, que inferem que haverá problemas Em diversos estudos (Barros & Fiamenghi, 2007;
na escola devido à institucionalização das crianças Cavalcante et al., 2007; Cavalcante et al.,
(Cavalcante et al., 2014; Ferreira, 2014; Furlan & 2014; Cortez & Manfrin, 2017; Dell’Aglio, 2000;
Souza, 2013; Zappe et al., 2016). Ferreira, 2014; Furlan & Souza, 2013; Monteiro &
Embora não fosse objetivo deste trabalho Alberto, 2016; Oliveira, 2006; Serrano, 2011; Zappe
avaliar o papel da escolaridade sobre o estresse, et al., 2016) os motivos que mais levaram ao aco-
ela parece contribuir com os baixos índices de estresse, lhimento institucional foram a negligência, o aban-
talvez pelo fato de nesse ambiente se desenvolverem dono, os maus-tratos, o alcoolismo e o consumo
modelos adequados em termos de comportamento. de drogas dos pais e/ou responsáveis. Esses moti-
Acreditamos assim que essa seja uma relação a ser vos estão afinados com a legislação e corroboram
mais bem examinada. os dados encontrados nesta pesquisa, indicando a
Conforme previsto na legislação, o acolhimento negligência, o uso de drogas pelos genitores e os
institucional deve ter um período máximo de 24 meses maus-tratos como as três causas principais de aco-
(Conanda & CNAS, 2009). Nesta pesquisa, todos os lhimento institucional, correspondendo a mais da
participantes haviam sido acolhidos institucional- metade dos motivos apontados nos prontuários.
mente dentro desse período, porém, a instituição Ainda que vetado pelo ECA, a carência de recur-
tinha 23 meses de existência quando da realização sos figura entre as causas de acolhimento institucio-
da pesquisa, e cinco participantes estavam acolhi- nal na população desta pesquisa, assim como o apre-
dos desde o início das atividades, sem qualquer pers- sentado no Levantamento Nacional das Crianças e
pectiva de saída no mês subsequente. Essa situação Adolescentes em Serviço de Acolhimento e em outros
evidenciou que o prazo máximo de acolhimento não estudos em que as crianças e adolescentes eram
seria respeitado nesses casos, o que está em linha com acolhidos por essa razão (Barros & Fiamenghi, 2007;
achados de outras pesquisas, nas quais as crianças e Cavalcante et al., 2014; Constantino et al. 2013;

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Rodrigues, L. H. F., & Prebianchi, H. B. (2021). Estresse e Estratégias de Enfrentamento em Crianças e Adolescentes.

Ferreira, 2014; Oliveira; 2006). Tanto as causas mais prevista no ECA, outras ações, também especifica-
comuns de acolhimento institucional quanto o aco- das na legislação, tais como as “políticas e programas
lhimento por insuficiência de recursos estão ligados destinados a prevenir ou abreviar o período de afas-
a uma situação de precariedade das políticas públi- tamento do convívio familiar e a garantir o efetivo
cas no que tange a condições de habitação, emprego, exercício do direito à convivência familiar de crianças
saúde e educação de uma forma generalizada, e adolescentes” (Lei n. 8.069, 1990 p. 17), não estão
impedindo as famílias de terem acesso às demandas sendo devidamente cumpridas.
mais básicas da população. A convivência familiar é um direito garantido pelo
Existe discordância entre o que consta nos pron- ECA e, em geral, a medida protetiva de acolhimento
tuários e os relatos dos participantes quanto aos moti- institucional é tomada devido à situação extrema em
vos do acolhimento institucional. Pode-se pensar que tanto a criança quanto o adolescente se encon-
que as crianças e adolescentes pesquisados não têm tram, buscando a proteção contra os riscos imedia-
acesso a essa informação ou que não a compreendem. tos a que estão submetidos (Moreira, 2014). O fato de
Entretanto, dado o alto índice de frequência escolar manterem os vínculos familiares não significou para os
em séries coerentes com suas faixas etárias, a hipótese participantes que eles tenham encontrado, no retorno
de incompreensão, ao menos do ponto de vista cogni- à família, as condições adequadas para sua proteção e
tivo, parece pouco provável. seu desenvolvimento. Como apontam Iannelli, Assis e
A falta de informação ou a resposta “não sei” à Pinto (2015), a reinserção não é simples e, muitas vezes,
pergunta sobre o motivo do acolhimento pode ser as causas originárias do acolhimento permanecem.
uma forma de evitação para não entrar em contato Há riscos para o desenvolvimento inicial
com a realidade, isto é, perceber que os pais não fize- da criança, apontados em estudos (Cavalcante
ram o papel que era deles esperado, embora o resul- et al., 2014; Ferreira, 2014; Furlan & Souza, 2013),
tado esteja em linha com o encontrado no estudo de devido à privação emocional, por conta do afasta-
Batista, Silva e Reppold (2010), em que 40% das crian- mento da convivência familiar ou por causa do estigma
ças foram encaminhadas ao acolhimento institucio- que paira sobre ser acolhido. Se estamos postulando
nal sem conhecer a razão. com a TMC que o desenvolvimento da criança afeta
Por ser a principal causa de acolhimento no país, a escolha de estratégias de enfrentamento (Skinner &
é pertinente que se faça uma reflexão a respeito da Zimmer-Gembeck, 2016), quanto maior o risco para o
negligência. Para que uma família seja considerada desenvolvimento inicial da criança, maior será a inca-
negligente, deve haver uma total falta de cuidados pacidade de lidar com o estresse e com as situações
de quem cuida para em relação a quem é cuidado, cotidianas no futuro.
seja em termos de alimentação, vestuário, educa- Estudos de coping infantil, tanto na perspec-
ção, seja apoio emocional e psicológico (Constantino tiva transacional como na desenvolvimentista, são
et al., 2013; Papalia, 2006; Schumacher, Slep, & escassos em nossa literatura (Crepaldi, Zanini, &
Heyman, 2001). Para que haja negligência, deve haver Marturano, 2017; Fernandes et al., 2015), principal-
antes um modelo de cuidado, de atenção e de pro- mente em situação de acolhimento institucional em
teção, que deve ser quebrado para que a negligência que não foram encontrados estudos que relacionas-
apareça (Nascimento, 2012). O que alguns conside- sem a TMC a esse contexto. Um estudo de revisão de
ram proteção pode ser considerado negligência em literatura sobre o coping mostrou que ainda são poucos
outra situação. Deixar um filho em casa para trabalhar os grupos de pesquisa que utilizam o modelo teórico
pode ser visto como abandono ou como necessidade da TMC, e que os estudos estão associados principal-
de conseguir sustento. Essa tese encontra eco no tra- mente às áreas de internação hospitalar, tratamento
balho de Nascimento (2012), que diz não ser a pobreza ambulatorial e escolar (Oliveira & Enumo, 2015).
a causa da retirada, mas sim a negligência. Porém, Os resultados desta pesquisa mostraram que
são os pobres que são considerados negligentes. o estresse na população estudada não era comum
Quem julga o fato o faz com base em seus pró- a todos. De fato, a maior frequência de estresse foi
prios modelos de mundo, em seus conceitos, tendo encontrada entre os participantes de 8 a 13 anos e
em vista a proteção da criança ou adolescente. 11 meses, e em menos da metade dos participantes
Embora decidam pelo afastamento da família, ação com idade entre 14 e 17 anos e 11 meses.

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Psicologia: Ciência e Profissão 2021 v. 41 (n.spe 3), e192765, 1-17.

Um estudo realizado em Porto Alegre utilizando A busca por apoio esteve principalmente relacio-
o ESI e um inventário de estratégias de coping de nada às situações positivas dentro da casa lar. É pos-
Lazarus e Folkman (1984) mostrou que havia uma sível apontar uma relação com a literatura, uma vez
tendência entre aqueles que apresentaram mais que as situações positivas na casa lar quase sempre se
sintomas de estresse de utilizar as estratégias de referiram ao relacionamento afetuoso e comprometido
coping fuga e esquiva, suporte social, confronto e das monitoras no dia a dia da casa lar. Essa busca pode
afastamento (Kristensen et al., 2010), enquanto o estar relacionada ainda com a carência afetiva desses
observado nesta pesquisa mostrou que as princi- participantes, de forma que acabam por se apegar a
pais estratégias de coping foram a busca por apoio, seus cuidadores (Ayres et al., 2014), ou ainda à neces-
sidade do ser humano de se vincular afetivamente a
a autoconfiança e a oposição.
alguém, que em geral é a mãe ou o pai, mas que podem
Diferentemente deste estudo, que utilizou uma
ser substituídos por um outro significativo e que os aju-
teoria desenvolvimentista de coping (TMC) para
dem com suas interações nos ambientes sociais e em
identificar estratégias de enfrentamento para lidar
seu desenvolvimento (Rossetti-Ferreira et al., 2012).
com eventos estressores em situações abrangentes e
O fato de grande parte dos adolescentes preferir
em casos hipotéticos, os demais estudos encontra-
a família de coping oposição nas situações negativas
dos usavam outras teorias de coping, além de terem
parece apontar para o modelo de mundo que eles
eventos estressores definidos, ou buscavam conhe- vivenciaram com suas famílias. Conforme pudemos
cer os eventos estressores e a intensidade de estresse notar, pelos motivos do acolhimento institucional,
em situações de acolhimento institucional, ou ainda, a maioria viveu a negligência, os maus-tratos e os
buscavam definir estratégias de coping a partir de um abusos físicos e psicológicos, acabando por reprodu-
contexto definido (Batista, Silva, & Reppold, 2010; zir esses comportamentos quando submetidos a situ-
Dell’Aglio, 2000; Fernandes et al., 2015; Poletto, ações potencialmente estressantes. Esse fato guarda
Koller, & Dell’Aglio, 2009). Devido a esse cenário, alguma relação com o apontado por Kristensen et al.
torna-se complexa a comparação dos resultados aqui (2010), que apontaram que, quanto maiores os sinto-
obtidos com os de outras pesquisas. mas de estresse, maior o uso de confronto como estra-
As diferentes fases do desenvolvimento impac- tégia de enfrentamento.
tam a seleção e o uso de estratégias de coping, além de A oposição foi a estratégia de enfrentamento pre-
haver diferenças nos padrões de estratégias de enfren- ferencialmente identificada nas situações negativas
tamento entre as faixas etárias. Skinner e Zimmer- dentro da casa lar na questão sobre a obrigação de
Gembeck (2016) chegaram à conclusão de que as estudar ao chegar da escola, e principalmente sobre a
estratégias mais comuns às crianças e adolescentes proibição de ver os pais. Esse resultado, por um lado,
eram: a) a resolução de problemas, iniciando o uso contraria a literatura, que diz ser a oposição a estra-
no começo da infância e aumentando a frequência e a tégia preferencial (incomum na maioria dos estudos),
e que é mais frequente em crianças de 36 a 69 meses,
qualidade com o passar do tempo; b) a distração cog-
decrescendo com o avanço da idade até se estabilizar
nitiva e comportamental, pertencente à acomodação,
nos adolescentes, de 12 anos em diante (Zimmer-
usada principalmente ao lidar com eventos conside-
Gembeck & Skinner, 2011).
rados inevitáveis ou incontroláveis; e c) a busca por
Entretanto, é possível considerar que, uma vez
apoio, mais usada por crianças com menos de 9 anos,
que as crianças e adolescentes já sofreram abusos
e que permanece com o passar do tempo pela infân-
físicos, verbais e psicológicos, pode-se inferir que
cia e adolescência, sendo usada quando os estressores
essa estratégia seja adotada por ter sido aprendida no
são percebidos como incontroláveis ou quando existe ambiente familiar, sendo reproduzida em interação
um adulto percebido como autoridade. social (Bandura, 1977; Batista, Silva, & Reppold, 2010).
Neste estudo, contrariando a literatura, a resolu- Em geral, aqueles que utilizam a oposição como estra-
ção de problemas foi uma das estratégias de enfren- tégia de enfrentamento estão reagindo de maneira
tamento menos utilizadas. A distração cognitiva e agressiva ao estresse, buscando eliminar o obstáculo
comportamental apareceu, conforme predito pela de maneira hostil ou raivosa (Skinner & Zimmer-
literatura, em situações incontroláveis ou inevitáveis, Gembeck, 2016), ou reagindo a uma situação de
tais como a situação de ter que estudar ao chegar da estresse tóxico pontual (Shonkoff, Richter, Van der
escola, ou a proibição de ver os pais. Gaag, & Bhutta, 2012).

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Rodrigues, L. H. F., & Prebianchi, H. B. (2021). Estresse e Estratégias de Enfrentamento em Crianças e Adolescentes.

Parece ser uma construção comum acreditar têm acesso (Arpini, 2003; Dell’Aglio, 2000; Pasian &
que não há formação de vínculos saudáveis para Jacquemin, 1999; Siqueira & Dell’Aglio, 2006). Deve-se
além do núcleo familiar (Janczura, 2005; Rizzini & considerar que a maneira pela qual o evento estressor
Rizzini, 2004). Mesmo profissionais que trabalham é percebido altera a forma como a situação é mane-
nos serviços de acolhimento, algumas vezes, afirmam jada e, por isso, pode-se dizer que, em alguns casos,
não ser ideal que a criança que deixou o acolhimento estar em acolhimento institucional é melhor do que
institucional mantenha contato com essa fase da vida, estar com a família. Por exemplo, nas palavras de A7:
seja com os educadores ou com as outras crianças e “. . . minha convivência em casa, era péssima”;
adolescentes (Ayres, Coutinho, Sá, & Albernaz, 2010; ou o caso contado por A13, que disse que: “prefiro
Vectore & Carvalho, 2008). Entretanto, um estudo rea- morar na rua do que viver lá, com ela me batendo e
lizado em Porto Alegre mostrou que mesmo crianças me xingando”. É possível supor que, embora o acolhi-
negligenciadas indicaram as responsáveis pelos cui- mento institucional gere situações adversas, elas são
dados na instituição como referência em sua infância potencialmente menos estressantes do que perma-
(Dalbem & Dell’Aglio, 2008). Neste estudo, uma par- necer com a família em situação de negligência e/ou
cela significativa dos participantes apontou o rela- de violência. Esse achado está em consonância com
cionamento com os funcionários como algo positivo o que apontam Poletto, Koller e Dell’Aglio (2009) em
dentro da casa lar. seu estudo, em que afirmam que o ambiente será tão
Chamou a atenção o fato de os participantes com protetor quanto as interações puderem ser descritas
baixo índice de estresse serem aqueles com maior como recíprocas, com equilíbrio de poderes e perme-
tempo de permanência nos serviços de acolhimento, ada por afetos positivos.
e os que estavam em fase de quase exaustão aqueles
com o menor tempo de acolhimento institucional Considerações finais
na casa lar. Pode-se observar ainda, no discurso dos Ao final deste estudo, pode-se concluir que o
participantes acolhidos há mais de 90 meses, que as tempo de acolhimento institucional dos participan-
estratégias de enfrentamento preferidas pela maioria tes é superior aos dois anos determinados pela legis-
foram a busca por apoio na situação positiva dentro lação, que os níveis de estresse foram baixos para
da casa lar, momento no qual o apego às monitoras as crianças e adolescentes da amostra e que foram
ficou mais evidente. menores para aqueles participantes acolhidos há
Esse resultado está de acordo com estudo rea- mais tempo. As principais estratégias de enfrenta-
lizado no Sul do Brasil, que aponta a relação entre mento utilizadas pelos participantes foram a busca
monitores e acolhidos como de fundamental impor- por apoio e a oposição.
tância na vida dos acolhidos, já que os monitores assu- Deve-se mencionar as limitações deste estudo,
mem papel de orientação e de proteção (Siqueira & como o tamanho reduzido da amostra, a dificul-
Dell’Aglio, 2006). As razões que levam os acolhidos dade de interlocução com outros estudos (deter-
a se apegarem aos monitores passam pela carência minada pela carência da área) e a complexidade
afetiva (Ayres et al., 2014) e por estarem em situações técnico-metodológica e ética da utilização de entre-
de vulnerabilidade. Assim, a busca por alguém que vistas com crianças e adolescentes. Alguns aspectos
possa fornecer apego se constitui em fator protetivo e, asseguraram sua relevância, como as entrevistas
nessas situações, os cuidadores se tornam referências se mostrarem uma alternativa viável à exploração
importantes durante a infância (Carlos, Ferriani, Silva, das estratégias de coping, conforme compreendi-
Roque, & Vendruscolo, 2013; Cavalcante et al., 2007; das pela TMC, e a significância clínica dos resulta-
Dalbem & Dell’Aglio, 2008). dos, que permitem questionamentos sobre outros
A partir desses resultados é possível conjectu- aspectos psicológicos, como competência social,
rar que o tempo de acolhimento institucional exerce ansiedade, identificação e expressão de sentimentos,
algum tipo de influência positiva no resultado do formação de vínculos.
estresse, baseado em achados de outros estudos que Os resultados apontam a necessidade de estudos
apontam os serviços de acolhimento como fator futuros, uma vez que indicam tanto a possibilidade
de proteção, uma vez que ele representa o ponto de o acolhimento institucional de crianças e adoles-
de apoio social mais próximo a que os acolhidos centes ser um fator protetor contra o estresse como o

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Psicologia: Ciência e Profissão 2021 v. 41 (n.spe 3), e192765, 1-17.

tempo de acolhimento institucional ser uma variável O conhecimento adquirido por meio deste e de
que pode afetar o nível de estresse. Indicam ainda que futuros estudos é crucial para assegurar medidas de
o vínculo afetivo estabelecido entre as crianças e ado- atenção à saúde e desenvolvimento de crianças e ado-
lescentes com os funcionários mais próximos pode lescentes acolhidos, influenciando políticas públicas
interferir na estratégia de coping adaptativo (marca- e aumentando o arsenal técnico-científico da psicolo-
damente a busca por apoio). gia clínica e da saúde.

Referências

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institucionalizados. Universitas Psychologica, 9(1), 199-212.
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Luiz Henrique Fortunato Rodrigues


Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Psicologia como Profissão e Ciência da Pontifícia Universidade
Católica de Campinas (PUC-Campinas), Campinas – SP. Brasil.
E-mail: luizfort@gmail.com
https://orcid.org/0000-0001-6463-7236

Helena Bazanelli Prebianchi


Professora doutora do Programa de Pós-Graduação em Psicologia como Profissão e Ciência da Pontifícia
Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), Campinas – SP. Brasil.
E-mail: helenaprebianchi@gmail.com
https://orcid.org/0000-0002-3838-8413

Endereço para correspondência:


Rua Imperador Domiciano, 139, Jardim Imperador. CEP: 13479-801. Americana – SP. Brasil.

Recebido 12/03/2018
Aceito 07/05/2019

Received 03/12/2018
Approved 05/07/2019

Recibido 12/03/2018
Aceptado 07/05/2019

Como citar: Rodrigues, L. H. F., & Prebianchi, H. B. (2021). Estresse e estratégias de enfrentamento em crianças e
adolescentes em acolhimento institucional em casas lares. Psicologia: Ciência e Profissão, 41 (n.spe 3), 1-17.
https://doi.org/10.1590/1982-3703003192765

How to cite: Rodrigues, L. H. F., & Prebianchi, H. B. (2021). Stress and coping strategies in sheltered children and
adolescents. Psicologia: Ciência e Profissão, 41 (n.spe 3), 1-17. https://doi.org/10.1590/1982-3703003192765

Cómo citar: Rodrigues, L. H. F., & Prebianchi, H. B. (2021). Estrés y estrategias de enfrentamiento en niños y
adolescentes en acogimiento institucional en casas lares. Psicologia: Ciência e Profissão, 41 (n.spe 3), 1-17.
https://doi.org/10.1590/1982-3703003192765

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