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Drops da música clássica

Johan Sebastian Bach


Ludwig Van
Beethoven
Franz Shubert
Iohannes Branhms
Robert Schuman
Giuseppe Verdi
Franz liszit
Frederic Chopin
Hector Berlioz
Portr Ilych Tchaickovsky
Wolfgang Amadeus Mozart
Richard Wagner
Johann Sebastian Bach

Durante uma aula de música, em Leipzig, na Alemanha, o professor pede aos alunos que
toquem um determinado trecho. Tocam. Algo sai errado. O professor pede que repitam. Novo
erro. Por várias vezes a pequena orquestra tenta acertar a passagem, mas um dos alunos
continua errando, sem demonstrar o mínimo esforço para acertar. Exasperado, o professor tira
sua peruca e atira-a no aluno indolente, gritando: "Por que você não vai ser sapateiro?". O nome
do medíocre aluno perdeu-se. O professor chama-se Johann Sebastian Bach.

Johann Sebastian Bach nasceu em 1685 em Eisnach, uma pequena cidade da Turíngia, na
Alemanha. Naquela época, a Alemanha não era um país, mas uma reunião de pequenas cidades,
condados, ducados e principados, cada um deles com um governo próprio.
Descendente de uma família de músicos – havia pelo menos meia dúzia de Bachs cujas
atividades eram ligadas à música – ao mesmo tempo que desenvolvia estudos elementares,
Johann principiou seus estudos musicais com seu pai, Ambrosius.
Ficou órfão aos dez anos, indo morar com um irmão mais velho. Sempre interessado em
aprender mais e mais, o pequeno Sebastian nõa poupava esforços para decifrar os segredos da
arte musical. Para aperfeiçoar seu conhecimento, Bach precisava de um livro que o irmão
guardava a sete chaves. Argumentou o quanto pode, mas o irmão permaneceu intransigente,
proibindo Johann de utilizar seu livro. Para contornar o problema, ele resolveu copiar o livro à
mão. Todas as noites, após todos se deitarem, Sebastian pegava o livro de música e varava
madrugadas estudando. Como não podia acender velas para não chamar a atenção do irmão, por
muito tempo estudou tendo como única claridade a luz da lua. Esse esforço certamente
contribuiu para os problemas de visão que o acometeriam mais tarde.
Em 1703 torna-se organista na igreja luterana de Arnstadt. Apesar da pouca idade, já é um
mestre em seu ofício. Não precisa mais de mestres. Todavia, problemas burocráticos acabam
fazendo com que ele abandone o cargo. Entre esses problemas está ter introduzido no coral da
Igreja Luterana da cidade uma jovem chamada Maria Bárbara, sua prima, com quem se casou
em 1707. Ela lhe dá sete filhos durante os treze anos em que estiveram casados. Todavia,
durante uma viagem do marido, Maria Bárbara subitamente adoece e morre.
Um ano depois, Bach torna a casar-se com Anna Madalena Wilken. Ele tem 36, ela 20. A nos
de diferença de idade não impede que eles formem o mais perfeito casal que a história da
música registra. Anna-Madalena é a autora de um dos mais sinceros testemunhos de admiração
por alguém, a "Crônica de Anna-Madalena". Esse livro de memórias é, do início ao fim, um
elogio à pessoa e ao gênio de Johann Sebastian.
Bach passou grande parte de sua vida alternando cargos de organista com o de "mestre-de-
capela", ou seja, responsável pela vida musical de algum principado. Morou em diversas
cidades alemãs: Mühlhausen (1707), Weimar (1708), Köthen (1717) até fixar residência
definitiva em Leipzig, onde morreu a 28 de julho de 1750.
Especial: A atividade de J.S.Bach como professor: um precursor de
técnicas modernas

Ludwig Van Beethoven

Durante a Segunda Guerra Mundial, os países ocupados pela Alemanha eram proibídos de ouvir
outras rádios que não as indicadas pelo III Reich. Todavia, muitas pessoas desafiavam a
proibição para escutar a BBC de Londres, que durante a guerra usou como prefixo as notas
iniciais da V Sinfonia de Beethoven, cujas notas - três curtas e uma longa - correspondem a letra
"V" - vitória - em código morse. Nesta, como em outras ocasiões, a liberdade foi associada a
Beethoven.
Ludwig Van Beethoven nasceu em 17 dezembro de 1770 na cidade de Bonn, na Alemanha, à
beira do Reno. Seu pai, Johann Van Beethoven, era músico, trabalhando a serviço do príncipe
local. De ascendência holandesa, o músico Johann, que já havia perdido vários filhos, só tinha
uma ambição: que seu filho Ludwig fosse um novo Mozart.
Desde pequeno fez o filho estudar música, a ponto de fazê-lo negligenciar outros estudos,
apenas para poder exibí-lo como um novo prodígio na Europa, tal como Mozart anos antes. Para
tanto, deixou o ensino musical do filho confiado ao professor Christian
Gottlob Neefe, organista da corte de Bonn. Extravagante, entregue ao álcool, o pai de Ludwig
forçava-o a tocar nas horas mais estranhas, muitas vezes tirando o menino da cama de
madrugada para exercitar-se ao piano.
A primeira ocupação oficial de Beethoven foi como assistente de Neefe, cumprindo as funções
de organista e tocando na orquestra do príncipe eleitor Maximiliano Francisco. Aos 17 anos
viajou para Viena, onde parece ter se encontrado com Mozart, embora não esteja provado que
chegou a tomar aulas com ele. Embora pretendesse ficare em Viena, a morte de sua mãe o levou
de volta a Bonn.
A família de Beethoven, nessa época, estava em franca decadência. Seu pai, vencido pelo
alcoolismo, mantinha-se autoritário, irascível e violento. Os irmãos Karl e Johann, que ainda
dariam muito trabalho à Beethoven, eram pequenos. Ludwig tomou a frente da situação,
requerendo às autoridades metade do salário de seu pai, para poder sustentar os irmãos.
Nos anos seguintes Beethoven trabalhou na orquestra do príncipe, escrevendo obras
encomendadas pela nobreza local e reforçando, desse modo, seus vínculos com a aristocracia.
Entre seus amigos estava o conde de Wallenstein, que muito contribuiria para o sucesso de
Beethoven.
Viena
A palavra do conde, por exemplo, teve influência na decisão de Beethoven, aos 21 anos, de
partir para Viena para estudar com Haydn. Chegava, desta maneira, a sua segunda e definitiva
cidade.Os estudos com Haydn duraram pouco tempo, e Beethoven estabeleceu-se na capital
austríaca como concertista e compositor, ao mesmo tempo que prosseguia seus estudos musicais
com outros professores.
Jovem, respeitado como um bom músico, tudo se encaminhava para que Beethoven se tornasse
mais um dos inumeráveis compositores que viviam em Viena na mesma época. Todavia, algo se
abatia sobre o jovem compositor: ele estava ficando surdo.
A partir daí surge o Beethoven quase mítico que conhecemos. O drama da surdez, que o músico
procura esconder a princípio, ganha proporções assustadoras na vida do jovem quando descobre
que seu mal é incurável. Pouco a pouco, afasta-se do convívio social, no auge de sua fama,
passando a viver como compositor e professor. É dessa época o famoso Testamento de
Heilligenstadt, no qual Beethoven afirma sua convicção na música como única redentora de
todos os males. É o legado metafísico de um homem desencantado com o mundo, mas ao qual
não pode subtrair-se pois tem consciência de suas tarefas. E, paradoxalmente, sua fama, já nesta
época considerável, aumenta a cada obra sua que é publicada.
O vida particular, por outro lado, parece afastar-se cada vez mais da esperança de felicidade.
Seus vários relacionamentos amorosos terminam de maneira mais ou menos dolorosa, deixando
profundas marcas no espírito do compositor, que se ve envelhecer antes do tempo. Os nomes se
sucedem, imortalizados nas obras que o mestre lhes dedicou: Julie Guiccardi, Therese e
Josephine Von Brunswick, Bettina Brentano e muitas outras, cuja paixão do solitário músico
inspirava mais compaixão que verdadeiramente amor. Há, neste particular, uma curiosidade:
quem terá sido a "amada
imortal" à quem Beethoven dedicou uma belíssima carta de amor que nunca foi entregue?
Impossível saber.
Beethoven não se deixa abater. Decide "segurar o destino pelo focinho", segundo suas próprias
palavras. Nasce o mito do herói que luta, com sua arte, através das dificuldades para satisfazer
seu próprio ideal estético.
Artistas de todo o mundo vinham conhecê-lo, trazendo partituras para que ele desse um parecer.
Rossini, Liszt e Schubert, entre outros, foram recebidos com cordialidade e afabilidade pelo
músico.
Ao mesmo tempo, suas composições, criadas sem a menor preocupação em respeitar as regras
até então seguidas, são aclamadas. Beethoven inaugura a tradição do compositor livre, que
escrevia música para si, sem estar vinculado a um príncipe ou nobre. Tudo, em Beethoven, traz
a marca da liberdade; era solitário, não tinha vínculos e responsabilidades com ninguém senão
consigo mesmo.
Tal situação somente se alterou com a morte de seu irmão Karl, que o havia nomeado tutor do
sobrinho do mesmo nome. O processo que Ludwig disputou com a cunhada pela guarda do
sobrinho foi o primeiro de uma série de desgostos que o acompanhariam pelo resto de sua vida,
culminando com a tentativa de suicídio de seu sobrinho, anos depois. A surdez de Beethoven
piorava. Um de seus concertos em Viena, justamente na estréia de sua Quinta Sinfonia, foi um
fiasco total. O músico, sem distinguir uma só nota, insistiu em reger a orquestra, que,
desorientada, não conseguiu tocar bem a partitura.
No final, o triunfo
Em 1823, Beethoven colocou o ponto final em uma obre que lhe demandara mais trabalho, e
que lhe era das mais caras: a Nona Sinfonia. Preocupado com a possível má recepção do público
vienense, Beethoven pretendia estreá-la em Berlim. A notícia, sabe-se lá como, foi espalhada
pela cidade. Imediatamente as cabeças pensantes de Viena endereçaram um pedido, quase uma
súplica, para que ele estreasse sua obra lá.
Foi programado um concerto, no Kärtnetor-Theater, em 7 de maio de 1824. Além da IX
Sinfonia, foram apresentados trechos da Missa Solene e outras obras. Beethoven foi dissuadido
de aceitar a regência, mas teve direito a um lugar especial junto ao maestro.
Ainda no terceiro movimento da sinfonia irromperam palmas. Terminado o quarto movimento,
o triunfo: a platéia vienense o aclamava. Entrementes, Beethoven não ouvia nada, observando
calmamente a partitura da sinfonia. Foi preciso que um contralto, Caroline Unger, o tomasse
pela manga e o mostrasse a o público delirante.
Depois desse triunfo, Beethoven ainda compôs suas obras mais complexas, os últimos quartetos
de cordas, muito apreciados na virada do século. Sua saúde, porém, começava a sedeteriorar.
Em 1827, no dia 26 de março, às 17h45, durante uma tempestade, Beethoven morreu, vitimado
por cirrose crônica - herdada, talvez, do pai - brandindo a mão fechada contra o céu, num último
gesto de rebeldia.
Obras
Sinfonias
É difícil recomendar obras de Beethoven; as mais famosas nem sempre são as melhores, mas
podem servir como introdução a sua vasta obra. Excusamo-nos de recomendar as obras mais
batidas, como a Pour Elise, op. 59 (usada como música de caminhão de gás...) e a Quinta
Sinfonia, op.67. Todos os seres humanos já as ouviram pelo menos uma vez.
Uma boa introdução ao gênio beethoveniano são as sinfonias, que atingiram sua maturidade
com ele. A Nona Sinfonia, op.125, pode ser uma experiência estética inesquecível, desde que
sob uma boa batuta, como Karajan, Bernstein ou Walter. Essa famosa sinfonia inclui em seu
movimento final a "Ode à Alegria", de Schiller, cantada por um coral a 4 vozes. É aprimeira vez
que isso acontece na história da sinfonia, sendo posteriormente adotada por diversos
compositores - e encontrando, na Oitava Sinfonia de Mahler seu máximo desenvolvimento.
A Sexta, op.68, chamada de Pastoral, ou a Terceira, a Heróica, op. 55, dedicada a Napoleão
Bonaparte, e a Sétima, op.92 são obras igualmente boas, tornando-se inócua qualquer disputa
sobre qual é a melhor. Enfim, a Primeira, op. 21, Segunda op. 36, Quarta, op. 60 e a Oitava
op. 93, apesar de negligenciadas nas salas de concerto e mesmo pelo público, não são, de
maneira nenhuma, obras menores. A primeira, inclusive, traz uma série de inovações
harmônicas que mostram como Beethoven soube se libertar das regras que regiam a composição
musical.
Sonatas
Dentre as sonatas, outro gênero no qual Beethoven foi mestre, recomendamos as mais famosas:
a Sonata Patética, op 13, a Sonata ao Luar - Quasi una fantasia, op. 27 e a Sonata
Waldstein, op. 53, e a Sonata op.2 n 1, dedicada a Haydn. Sem dúvida, encontram-se
excelentes trabalhos além destes; a gravação de Fritz Jankl é recomendada, embora outras
excelentes estajam à disposição no mercado.
Concertos
O Concerto para Piano n5, op. 73 é justificadamente mais famoso concerto de Beethoven. O
subtítulo habitual, porém apócrifo, é "Imperador", e todo um ímpeto de majestade percorre todo
o concerto. Em segundo lugar, mas com a mesma qualidade, está o Concerto n 3, op. 37, mais
grave no tom. Nas gravações, é difícil encontrar um excelente maestro regendo um excelente
pianista.Por suas capacidades individuais excepcionais, as dificuldades de acertar são várias, o
que não exclui essa hipótese.
Bibliografia
Além da biografia escrita por Emil Ludwig, temos como obra de referência a biografia da série
"The New Grove", que traz uma quantidade considerável de dados. A biografia de Romain
Rolland, editada de forma resumida no Brasil, é um bom começo. Quem gosta de biografias
romanceadas, pode achar - mas apenas em sebos - uma edição do romance Jean-Christophe,
também de Romain Rolland. O livro é um pouco comprido1226 páginas - mas vale a pena.

Franz Schubert

Numa taberna vienense, um grupo animado de jovens conversa, brinca, bebe cerveja. De
repente, um deles pega o cardápio e escreve algo na parte de trás. No final da noite, todos vão
saindo quando um outro jovem lembra-se do cardápio. Pega-o e no verso vê algumas notas
musicais traçadas com rapidez. Se este jovem não tivesse lembrado do cardápio, hoje o mundo
talvez não conhecesse a famosa Serenata . O distraído autor da música é Franz Schubert, cujo
bicentenário de nascimento foi comemorado em 1997.
Franz Seraph Peter Schubert é conhecido mundialmente pela sua famosa e misteriosa Sinfonia
Inacabada. Escrita em 1822, esta sinfonia é "inacabada" por ter apenas duas partes. Naquela
época o usual era que as sinfonias tivessem quatro partes ou movimentos.
Por que a Inacabada tem apenas dois? Impossível saber. A morte de Schubert, aos 31 anos não
foi a causa, pois depois da Inacabada ele ainda escreveu mais uma sinfonia, num total de nove.
Ele também não quis deliberadamente quebrar as regras vigentes. Prova é que chegou a escrever
os oito primeiros compassos de um terceiro movimento.
Schubert, durante toda a sua vida, jamais desfrutou de fama. Mesmo nos dias atuais ele não é
tão conhecido popularmente como Beethoven. Não obstante, sua contribuição à música é quase
tão importante quanto a de Mozart e Beethoven. Aliás, pode-se considerar a música de Schubert
como uma perfeita transição, uma ponte, entre os dois compositores. Era herdeiro do
classicismo de Mozart, mas tinha já o espírio de renovação que levaria ao Romantismo.
Dezoito anos e 203 músicas
Nascido num subúrbio de Viena, em 31 de janeiro de 1797, Schubert foi menino-cantor no Coro
da Capela Imperial, onde ficou por 6 anos. Depois, trabalhou como professor na escola de seu
pai. Mas não por muito tempo: como entender um professor que, de repente, pega o caderno de
um aluno, escreve uma música e devolve?
Depois de brigar com o pai, vai morar na casa de amigos, levando uma vida de boêmia. Nunca
se casou. Sua única aventura amorosa lhe transmitiu sífilis. Escrevia música pela manhã,
passeava pela tarde e a noite ia para a casa de algum amigo apresentar suas novas obras.
Sua vida, transcorrida toda em Viena, não tem lances espetaculares, amores fulminantes ou
triunfos memoráveis. Foi simples, despretensiosa, preocupado apenas em fazer música. Viva
nas casas dos amigos, tocando esporadicamente em algum lugar, compondo uma ou outra peça
por encomenda.
E novas obras musicais é o que não faltam: aos 18 anos, já tinha escrito 203 músicas. Escrevia
de tudo: sinfonias, sonatas, peças para piano, lieder. O que é lieder? Lied (singular de Lieder) é
uma expressão que pode ser grosseiramente traduzida como canção, mas refere-se à um tipo
muito particular de canção. Do mesmo modo que é impossível explicar com palavras o que é
uma Modinha ou uma Seresta brasileira, por terem características marcadamente regionais, o
lied alemão também não pode ser explicado.
Schubert foi sobretudo mestre desse gênero. Escreveu cerca de 600 lieder, sobre textos dos mais
diversos autores, desde Shakespeare e Goethe a alguns obscuros poetas austríacos, conhecidos
hoje apenas por terem seus versos musicados por Schubert. Em seus lieder, escritos para voz e
piano, o piano não aparece apenas como acompanhamento: é parte integrante da ação, narrador
e comentarista.
Segundo relatos da época, Schubert escrevia como que em transe, em qualquer lugar, a qualquer
hora. Mesmo durante a noite: dormia de óculos para anotar mais rápido as idéias que tivesse.
Apesar de escrever belas canções, nunca se destacou escrevendo óperas. A mais popular foi
apresentada 12 vezes. Suas sinfonias, então, não chegaram sequer a ser apresentadas durante sua
vida. O próprio manuscrito da Inacabada foi encontrado por acaso, 43 anos depois de sua
composição. Schubert pouco se importava com o que escrevia. Freqüentemente esquecia
manuscritos em bancos de jardim, casas de amigos, tavernas ou em qualquer lugar que
estivesse.
Duas Vidas
Embora não tenha realmente sido amado por nenhuma mulher e ter vivido numa pobreza
constante, o temperamento de Schubert era sempre lembrado por seus amigos como muito
alegre. Melancolia? Só na música.
Muitos autores se referem as "duas vidas" de Schubert. E não deixa de ser assim: a vida real,
pobre e tristonha, e a vida artística, onde Schubert se realizava. Não por acaso, a grande paixão
de sua vida foi uma das primeiras intérpretes de suas obras, a soprano Thérese Grob.
A parcial obscuridade em que se encontra a música de Schubert deve-se ao fato de que ele não
foi nenhum revolucionário. Pelo contrário, soube perfeitamente aprender a linguagem musical
de seu tempo.
E as limitações ao artista no século XIX eram muitas. Para se escrever uma música, por
exemplo, havia uma série de regras de composição que deviam ser respeitadas. Beethoven
ignorou essas regras, Schubert aceitou-as. E ambos são geniais.
Repertório Básico
Para quem não está familiarizado, uma boa abordagem inicial da música de Schubert é a
Sinfonia nº 8 em si menor, a Inacabada. Essa música resume muitos aspectos do compositor:
melancólica, enérgica e muito melodiosa. Na primeira audição já é possível assobiar suas
melodias. A orquestração não traz efeitos espetaculares, mas o espetacular nunca foi o forte de
Schubert.
É no gênero mais intimista que estão as suas maiores realizações: os lieder, onde Schubert foi
um mestre. Para começar, o melhor são os "Ciclos de Lieder", conjunto de canções para voz e
piano que contam uma história. A Bela Moleira é uma obra-prima. A Viagem de Inverno,
outro ciclo de canções, é mais melancólico, mas igualmente belo. De ambas as obras existem
muitas gravações disponíveis no mercado.
Quem quiser se aprofundar um pouco mais, pode tentar a música de câmara. O Quinteto em lá
maior op.114, "A Truta", mostra como Schubert soube ser original sem ser revolucionário. O
nome deve-se ao fato de o 3º movimento ter sido feito sobre um lied chamado "A Truta" .
Johannes Brahms

Em 1854, um jovem compositor de Hamburgo chegou à Bonn para visitar Robert Schumann. O
famoso compositor alemão não estava em casa, e o jovem teve de voltar outro dia. A acolhida
no primeiro encontro não foi das melhores. Mas, quando o jovem visitante começou a tocar sua
Sonata para Piano em Dó Maior, Schumann ficou estático, maravilhado. Não contente, foi para
o interior da casa chamar sua esposa, Clara, também pianista, para conhecer o recém-chegado.
Esse foi o primeiro encontro entre Clara Schumann e o jovem pianista, Johannes Brahms.
Johannes Brahms nasceu em 7 de maio de 1833 na cidade portuária de Hamburgo, no norte frio
e congelado da Alemanha. Seu pai era um músico pobre, mas deterinado a fazer o melhor por
suas crianças, não importa o que custasse. Já aos seis anos o pequeno Johannes demonstrava um
talento incomum, sendo encorajado por seus pais para seguir a carreira musical. Além disso,
desde pequeno foi colocado em contato com a literatura inglesa e francesa, e, ponto
determinante, a literatura romântica alemã.
Sua educação musical também data dessa época: depois das aulas na escola, tinha lições de
piano com Otto F. W. Cossel. O progresso do filho na música fez com que o pai de Brahms se
sentisse tentado a partir para os Estados Unidos para tentar repetir o sucesso de Mozart na
infância. Cosnciente do perigo que isso representava para a educação do jovem, Cassel
conseguiu que Eduard Marxsen, melhor professor da cidade, aceitasse Brahms como aluno, sob
a condição de não viajarem.
Naquela época Hamburgo era o principal porto da Alemanha, e, devido às despesas familiares,
Brahms, ainda adolescente, começou a tocar piano profissionalmente nos bares próximos ao
porto. A freqüência era a pior possível, mas a experiência de ficar tocando horas seguidas
naquele ambiente foi tão importante para Brahms quanto seria para os Beatles um século e meio
depois.
Obviamente sues estudos sérios de música continuavam. Há algum tempo que ele também
escrevia música, e, ao lado das apresentações nos bares, também apresentava-se para a alta
sociedade. Em abril de 1849 ele deu um recital no qual tocou a sonata Waldstein, de Beethoven,
uma Fantasia de Thalberg, e, encerrando, uma Fantasia sobre uma Valsa Favorita, de sua
autoria.
Jovem, bonito, com uma grande capacidade de trabalho, Brahms em quatro anos tornou-se um
dos mais famosos músicos da cidade. Apresentava-se em concertos com algumas estrelas da
música alemã, em especial um violinista chamado Joseph Joachim, intérprete de sucesso na
época, que sugeriu ao jovem Brahms que deixasse Hamburgo para procurar novos ares em
algum lugar da Alemanha.
O primeiro lugar onde parou foi Weimar, cidade de Goethe, onde Liszt estabelecera os novos
padrões da música alemã. Apesar da recepção entusiástica de Liszt, o provinciano Brahms ficou
desapontado com a verdadeira corte que cercava o músico. Além disso, em termos musicais,
suas preferências não combinavam: consta que Liszt, quando conheceu Brahms, tocou para ele
sua nova peça, a Sonata em Si Menor. A despeito dos efeitos grandiosos da obra, ao final Liszt
viu que seu visitante adormecera na poltrona.
A próxima parada foi Bonn, onde conheceu o casal Schumann. Em pouco tempo passou a morar
na casa de Robert, tornando-se um membro da família. Quando Schumann, em uma crise de
loucura, atirou-se ao Reno, Brahms, como um filho mais velho, tomou sobre si as
responsabilidades da casa. Clara, esposa de Robert, tornou-se sua grande amiga e companheira,
representando para ele, de certa forma, o que Nadeja Von Meck foi para Tchaikovsky. Muito se
especulou se a amizade de ambos foi apenas amizade ou algo mais, mas, no final, todos os
autores concordam que Brahms e Clara jamais se apaixonaram. Robert Schumann logo deixou
claro para Brahms que não tinha nada para lhe ensinar. Brahms continuou morando com os
Schumann (e se apaixonou por Julie, uma das filhas do casal) até 1856, quando Robert morreu.
Morto seu amigo, Brahms iniciou uma peregrinação por toda a Europa, apresentando-se em
concertos e procurando um emprego fixo. Durante esse tempo não deixou de compor: esboçou
uma sinfonia, criou várias peças menores e, em 1958, escreveu seu Primeiro Concerto para
Piano, que estrou no ano seguinte, para uma fria audiência, em Hanôver. Em 1862 excursionou
pela primeira vez à Viena, onde encontrou o ambiente que queria: uma vida musical florescente,
a sombra de Beethoven pairando alto e, por que não dizer, boa comida.
Apesar de preferir trabalhar por conta - e assumir os riscos dessa posição - Brahms aceitou, em
1864, o posto de Diretor da Singakademie de Viena.
Sua posição como compositor, inscrevendo-se na descendência direta de Beethoven e, de certa
forma, contra a "Nova Escola" alemã representada por Wagner e Liszt, fez com que Brahms
logo fosse alçado como o antagonista por excelência de Wagner (em especial por Edouard
Hanslick, um crítico musical), quando na verdade Brahms só estava sendo fiel aos princípios
nos quais acreditava, chegando mesmo, em algumas ocasiões, a expressar sua admiração por
determinadas obras de Wagner.
Em Viena tornou-se uma figura quase folclórica: com seu corpo pesado, coroado por uma
cabeça leonina e uma grande barba branca, davam-lhe um ar sério e risonho ao mesmo tempo.
Sua amizade com Clara Schumann vencia o tempo e as dificuldades, continuando até a morte
dela, em 1896. Sozinho - nunca se casou, apesar do sucesso que fazia com as mulheres em sua
juventude - e sem sua grande amiga, Brahms escreveu ainda algumas obras, falecendo em 3 de
abril de 1897.

Obras:

Brahms não é um compositor de efeitos especiais, como Liszt ou Wagner. Ao contrário, sua
música está mais próxima de Schubert e Mozart do que qualquer um de seus contemporâneos.
Sem ter a pretensão de ser um revolucionário, Brahms desenvolveu com perfeição as formas
musicais já estabelecidas. Detalhe: apesar de ser um grande compositor de canções, Brahms
nunca compês óperas.

Sinfonias e Concertos:

Sinfonia n. 3 - Influenciada por Beethoven e Schumann, esta obra é uma das mais fáceis do
repertório de Brahms. A abertura traz, na notação por letras usada na Alemanha, Inglaterra e
E.U.A, a divisa de Brahms: F.A.F - "Livre, mas solitário". Após o arrebatador primeiro
movimento e um pequeno Scherzo, o terceiro movimento destaca-se como um trecho
meditativo, triste e deprimida, do qual já foram feitos arranjos para todos os tipos de
instrumentos. Não se deixe enganar: o original é sempre o melhor.
Os dois Concertos para Piano são muito bonitos, mas não alcançam o nível da terceira sinfonia.
Já o Concerto Duplo para Violino e Violoncelo e as Variações sobre um Tema de Haydn são
excelentes obras que servem, especialmente esta última, para familiarizar o ouvinte com o
universo de Brahms.

Obras para piano e órgão

Duas pequenas coletâneas, as Peças para Piano op. 76 e os Três Intermezzos, op. 117, são a
melhor introdução ao estilo pianístico de Brahms. São peças tristes, calmas e de certa maneira
deprimidas - exatamente o estado de espírito do compositor na época em que as criou, e, de
resto, por toda a sua vida. Os Onze Corais, op. 93, para órgão, seguem o mesmo estilo, mas sob
a influência inegável de J.S.Bach.
Robert Schumann

Era uma vez dois jovens artistas, um compositor e uma pianista. Conheciam-se há muito
tempo, e estavam apaixonados.
Ele era advogado, culto, editor da Allgemeine Zeitscrhift, uma revista musical, ela era
famosa por toda a Europa por seus concertos. Ele foi um dos pais do Romantismo
Alemão, amigo de Heirich Heine, Franz Liszt, Fredéric Chopin. Ela foi amiga do
famoso violinista Joseph Joachim e confidente de Johannes Brahms.Ele havia sido
destinado pela mãe ao Direito, mas, uma vez formado, aplicou seu genial talento à
música. Ela foi criada para ser concertista de piano, mas renunciou a isto para ser sua
mulher.
Tudo começou quando o jovem, recém-formado
em Direito, resolveu estudar música, arte que o
atraía desde a infância. Procurando um professor,
foi à Leipzig, no norte, procurar o mais renomado
professor de música da Alemanha, o sr. Frederich
Wieck, pai da pianista, Clara Wieck. O rapaz, que
o procurara para ter lições de piano, era um
desconhecido estudante de Zwickau, na Saxônia,
chamado Robert Schumann. Nascido em 8 de
junho de 1810, Schumann sempre manifestou
igual interesse pela música e pela literatura.
Proveniente de uma família culta - seu pai era
livreiro - o moço é incentivado a estudar.
Primeiramente encaminha-se para a faculdade
de direito, mas logo que a deixa opta por
estudar música.
Quando conheceu a filha do professor, Clara,
ela ainda era uma menina. A natureza de
Schumann, as histórias folclóricas - algumas
inventadas por ele, quem sabe - prendem a
atenção da garota, e tornam-se bons amigos.
Todavia, algo há de anormal no jovem. Suas A jovem Clara Wieck.
histórias são sempre fantásticas, irreais, cheias Linda, não?
de "duplos", "sósias", "duplas
personalidades"... Ele mesmo parece ter duas
naturezas conflitantes, uma arrebatadora e
vigorosa, a outra calma e meditativa...
Apesar de estar um pouco velho para tentar a carreira de concertista, o Schumann se
esforça. Na ânsia de progredir, inventa um aparelho para exercitar os dedos. Como
consequência, consegue uma paralisia nas mãos que o força a abandonar as ambições
pianísticas. Morre o concertista, nasce o compositor.
Seus problemas continuam. Ele mesmo escreve, em seus diários, que teme "perder a
razão". Batiza, ele mesmo, duas diversas personalidades: Eusébio, Florestan, Meister
Raro, usando-as como pseudônimos em seus artigos musicais, que escreve para a Nova
Gazeta Musical. Consulta um médico, que, sem entender a natureza de seus problemas,
o aconselha a casar-se. Surge em sua vida a jovem Ernestine Von Friecken, por quem
Schumann nutrirá uma grande afeição. Tornam-se namorados, logo estão noivos.
De repente, sem nada que pudesse explicar, Schumann rompe seu relacionamento com
Ernestine, a quem havia dedicado várias de suas obras. Ernestine, resignada, lhe diz:
"sempre soube que em toda a sua vida você só poderia amar Clara". Schumann é
tomado de surpresa. Sabe que a ex-noiva tem razão, e abre-se com o pai de Clara, o
prof. Wieck.
Este, que o tratava como um filho, torna-se inimigo mortal. Por quê? Ninguém sabe ao
certo. Talvez não quisesse ver a filha, que ele tanto preparou para a carreira de
concertista, ligada definitivamente a alguém. Talvez quisesse um partido melhor que
aquele compositor sem recursos. Talvez já notasse que por trás das crises de depressão
de Schumann havia o prenúncio de algo mais grave.
Clara e Robert começam a batalha para conseguirem se casar. Clara é mandada pelo pai
numa turnê de concertos pela Europa; os jovens são proibídos de se encontrarem ou se
corresponderem; Wieck acusa Schumann de alcoolismo, difama-o, acusa-o de várias
maneiras, sob os mais variados pretextos. Apenas quando Clara faz 21 anos, tornando-
se legalmente maior, eles conseguem se casar, não sem antes enfrentarem um último
processo de Wieck.
Tem início uma convivência excepcionalmente harmoniosa. Os dois mantém um diário
em comum, fato único na história da música. Com o nascimento do primeiro filho,
reconcilia-se com o professor Wieck, e sua vida assume os contornos de uma existência
normal.
Mas nem tudo vai bem. Como compositor, Schumann não
granjeia a fama que lhe é devida; várias vezes viu o nome
da mulher maior que o seu, era abordado como o "marido
da pianista", não como um compositor autônomo.
Finalmente, após vários empregos insatisfatórios, é
escolhido para diretor musical de Düsseldorf em 1850. As
crises de melancolia de Schumann tornam-se mais fortes e
mais frequentes. Ele tem alucinações, crises de depressão,
pouco poder de concentração. Como compositor, ainda
está no auge de sua capacidade, mas sua mente declina aos
poucos, condenando-o à loucura, mais cedo ou mais tarde.
Em 1853, um jovem vem procurar Schumann para mostrar-lhe suas composições.
Recebido entusiasticamente, o jovem Johannes Brahms tornou-se um membro da
família Schumann, fiel até a morte. Mas, apesar de sua dedicação à família Schumann,
Brahms não estava presente quando, em 27 de fevereiro de 1854, Schumann atira-se ao
Reno. Salvo pelos amigos, é internado em um santório para loucos, onde morre em 29
de julho de 1856.
Obras
Schumann dedicou a maior parte de suas obras ao piano, e são justamente essas peças
que garantem sua imortalidade. Um bom começo para se familiarizar com sua música é
o Traumerei ou Revêrie, uma pequena música que faz parte de um conjunto maior, as
Cenas Infantis, op. 15. As Cenas trazem o melhor do lado "contador de histórias" que
foi Schumann. Apesar de Traumerei ser a peça mais famosa, é recomendável ouvir todo
o conjunto. O mesmo se aplica ao Carnaval, op. 9. Nesse intrigante conjunto de peças
para piano, Schumann retrata um baile de carnaval, por onde passam Arlequim, Pierrot,
Colombina, Chopin, Paganini, Ernestine Von Frieken e Clara Schumann - ainda Wieck,
na época. Cada um é retratado em uma das 29 peças que compõe o Carnaval. As
diversas personalidades de Schumann também estão presentes, nas peças Eusébios e
Florestan. As Pappillons op. 2 merecem sair do esquecimento em que estão.
Sua obra maior, porém, é o Concerto em Piano em Lá Maior, op.
54. Escrito como um presente para Clara, foi iniciado em 1841,
como uma simples Fantasia de um movimento. Retomado em
1845, foram acrescidos os movimentos finais. É uma das obras
básicas do repertório pianístico. O melhor de Schumann está nessa
obra. Como dissemos, há uma profusão de boas gravações no
mercado. Recomendamos a que tem Leonard Bernstein como
regente, embora não seja a única boa.
As sinfonias de Schumann não são suas melhores obras.
Ainda assim, não podemos ignorar a beleza da Sinfonia n 3, a
Renana, op. 97, escrita em 1850. Cada um de seus 5
movimentos é uma homenagem ao famoso rio alemão e
cidades próximas. O 4o. movimento, em especial, retrata a
Clara, já esposa de
Catedral de Colônia. As outras três também são boas, mas o
Robert
Schumann da melhor safra está realmente na Renana.
Novamente recomendamos aqui a versão de Bernstein.
Schumann foi um grande compositor de lieder. Descendente, nesse particular, de
Schubert, Robert Schumann conseguia adequar perfeitamente os poemas que utlizava a
suas melodias, utilizando o piano, muitas vezes, para ilustrar as imagens sugeridas pelos
poemas. Seus melhores lieder estão agrupados em coletâneas, que, para ter sentido,
precisam ser ouvidas integralmente. Dentre as mais famosas estão Mirthos, op. 25,
sobre textos de poetas diversos, Amor e Vida de uma mulher, op. 42 sobre textos de
Adalbert Von Chamisso, O Amor do Poeta, op. 48, coletânea que usa os versos do
genial Heirich Heine, e LiederKreis, op. 39, usando textos de Joseph Von Eichendorff.
Boas gravações são as de Dietrich Fischer-Dieskau, barítono.

Giuseppe Verdi

A missa seguia normalmente na igreja da cidadezinha italiana de Roncole. Em um determinado


momento, o padre pediu ao coroinha que lhe passasse a água benta. O menino, distraído com a
música que do organista, esqueceu-se de passar a água. Irritado, o sacerdote deu-lhe um
pontapé, lançando-o fora do altar. Ao ser socorrido, o menino simplesmente disse: "Deixem-me
estudar música!". Nascido em 1813, o pequeno Giuseppe Fortunino Francesco Verdi já havia
escolhido sua carreira.
Cedendo ao apelo, seu pai, proprietário de uma pequena estalagem, comprou uma espineta e
permitiu que o filho estudasse. Em poucos anos tornou-se organista da igreja de sua cidade
natal. Para prosseguir seus estudos, o menino, agora com 12 anos, partiu para a cidade vizinha,
Busseto, onde se tornou protegido de Antonio Barezzi, rico comerciante que lhe financiou os
estudos de música. Aos dezoito anos, o jovem Verdi partiu para Milão, buscando uma vaga no
famoso Conservatório dessa cidade. O conservatório, porém, só aceitava alunos com menos de
14 anos. Verdi, que não tinha nenhum talento especial, tampouco era um virtuose como
instrumentista, foi rejeitado. Sem desanimar, arranjou um professor particular e prosseguiu em
seus estudos musicais por três anos.
Novamente chamado à Busseto, onde foi indicado para Mestre-de-Capela e maestro da banda da
cidade, Verdi enfrentou a ferrenha oposição de partidários de outros músicos, que não viam com
bons olhos seus progressos. O próprio compositor resolveu a situação: sempre contando com o
apoio de Barezzi, partiu definitivamente para Milão, onde esperava fazer sucesso com suas
óperas. Não partia sozinho: Margarida Barezzi, agora Margarida Verdi, filha de seu protetor,
acompanhou-o para a nova cidade.
Após muitos problemas e dificuldades, Verdi finalmente conseguiu, em 1839, sua ópera Oberto,
Conde di San Bonifácio fosse montada no Scala de Milão. O grande sucesso fez com que o
editor Ricordi não apenas comprasse a partitura, mas também encomendasse mais três óperas.
Mas os ventos ainda não estavam a favor do compositor. Em menos de um ano, sua mulher e
seus dois filhos morreram. Para completar, sua ópera Un giorno di regno foi um fracasso.
Deprimido, Verdi jurou nunca mais compor.
Sua resolução não conveceu o diretor do Scala, Bartolomeo Morelli, que meses depois entregou
ao compositor um novo libretto, mas sem nenhum compromisso. Verdi leu o texto,
impressionando-se à medida que avançava. Em pouco tempo o libretto estava completamente
musicado, e Nabucco, um de seus maiores sucessos, estava pronto.
Essa ópera refletia os anseios de liberdade do povo italiano, dominado por franceses e
austríacos. A platéia identificou os sofrimentos da Itália aos do povo hebreu, e o coro "Vá
pensiero" tornou-se uma espécie de símbolo. Consagrava-se o nome de Giuseppe Verdi, não
apenas como compositor, mas como um dedicado nacionalista.
Os anos que se seguiram entraram numa espécie de rotina, que o próprio compositor chamava
de "anos nas galés". Uma após outra, suas óperas tornavam-se sucessos que divulgavam seu
nome por todo o mundo, de Buenos Aires a São Petersburgo. São desta época Ernani, Il
Trovatore, Rigoletto, Un Ballo in Maschera e Don Carlos. Um de seus poucos fracassos foi
justamente o de La Traviata, que viria a se tornar um de seus maiores sucessos. Após a morte de
sua primeira mulher, Verdi passou a viver com Giuseppina Strepponi, com quem se casou
depois de dez anos de vida comum. Aclamado como compositor, era visto por seus
compatriotas como um defensor Itália. Por uma feliz coincidência, mesmo seu nome facilitava
as coisas: quando o povo gritava "Viva Verdi", queria na verdade dizer "Vittorio Emmanuele,
Re D’Itália" . Com a unificação da Itália, o compositor foi nomeado deputado e depois senador,
mas não tinha inclinação para as longas discussões políticas no parlamento, preferindo a
tranquilidade de sua Villa, em Santa Agata.
Sua criatividade não estava esgotada: em 1871 escreveu Aida, para comemorar a abertura do
canal de Suez. Com a ajuda de um jovem poeta e compositor, Verdi ainda escreveria duas
óperas, Otello e Falstaff baseadas em Shaekespeare, e algumas peças religiosas.
Em 1901 sofreu um ataque cardíaco, que o levou em 27 de janeiro. Toda a Itália ficou de luto
por seu amado compositor e patriota.
Obras
Se você detesta ópera, não sei o que está fazendo aqui. Em todo caso, recomendamos vivamente
os trechos mais famosos, que são uma excelente introdução ao estilo de Verdi. La Donna é
Móbile, de Rigolletto, o Coro dos Ferreiros e o Miserere, de Il Trovatore, Un dí felice eterea
e Libiamo, libiamo, de La Traviata, bem como a Marcha Triunfal de Aída são o que Verdi
tem de mais popular, parte do ele sabia fazer de melhor: melodias agradáveis, difíceis de
esquecer.
Franz Liszt

Contam que certa vez, durante uma recepção em um palácio, o chapéu de Liszt caiu, rolando
escada abaixo. Uma princesa russa, aproximando-se de Lizst, exclamou: "Oh, seu chapeu caiu,
senhor!". Ele respondeu: "Deixe! Por cause de seu encanto já perdi a cabeça, de modo que o
chapéu não me serve mais".
Assim era Liszt. Amado pelas mulheres, admirado pelos homens, Franz - ou Ferenc, em
húngaro - nasceu a 22 de outubro de 1811, em Haiding, na Hungria. Seu pai era administrador
da famosa família Esterházy, para que o músico Joseph Haydn trabalhou toda sua vida.
Seu talento precoce ao piano surpreendeu a nobreza local. Ao tentar entrar para o conservatório
de Paris, foi impedido pelo diretor "por ser estrangeiro". O diretor era o italiano (?) Luigi
Cherubinni... Sem se abater, estuda com professores particulares. Festejado como virtuose, foi
para Viena, a fim de aperfeiçoar seus conhecimentos. Estudou com Antonio Salieri e Carl
Czerny, este último, por sua vez, aluno de Beethoven.
Decide ficar em Paris, onde seu talento como virtuose destaca-se. Sua técnica ao piano é
insuperável. Executa à primeira vista partituras dificílimas. Suas próprias músicas são também
de extrema dificuldade. Seu pai morre em Paris, mas Liszt decide ficar na cidade. Em pouco
tempo, torna-se presença constante nos meios artísticos e intelectuais da cidade-luz. Entre seus
amigos encontramos Chopin, Berlioz, Schumann, Victor Hugo, Lamartine, Heinrich Heine e
outros grandes nomes do movimento Romântico, do qual Liszt é um dos expoentes máximos
Em 1842 vai para Weimar, assumindo o cargo de mestre-capela (uma espécie de diretor
musical). Essa mudança é fundamental em sua vida: passa a ter um crescente interesse pela
música orquestral e pela ópera italiana. Nessa época conhece um músico que ainda terá grande
importância: Richard Wagner
Ao mesmo tempo que o Liszt pianista era amado pelos artistas da europa, o Liszt homem não
foi esquecido pelas mulheres. De um encontro na casa de Chopin nasceu a paixão pela condessa
Marie d'Agoult, com quem teve três filhos: Blandine-Rachel, Daniel e Cósima - futura esposa
de Wagner.
Sob seus auspícios, Weimar destaca-se como centro de peregrinação musical. Inúmeros
compositores vêm até essa cidade, sequisos de conhecer o famoso pianista húngaro. Mas nem
tudo vai bem. Após alguns anos de convívio comum, Lizst rompe com a condessa d'Agoult. Em
1861, Lizst deixa a corte deWeimar, partindo para Roma, com a intenção explícita de se tornar
padre. Recebe as ordens menores em 1865, mas não chega a ser sagrado padre.
Logo está de volta a sua vida normal: turnês de concertos e novos casos amorosos. O último
deles, com a princesa Carolina Von Saint-Wittgenstein, termina com a recusa do Papa em
legalizar sua união. O "abade" Liszt, como gostava de ser chamado, entra na última fase de sua
vida.

.
Verá ainda sua filha Cosima, após uma série de problemas, abandonar seu marido, o ex-aluno
de Lizst Hans Von Bellow em favor de Wagner. Presenciará, em Bayreuth, o triunfo de seu
genro. Falece nesta mesma cidade, em 31 de julho de 1886
Obras
As principais composições de Lizst, assim como as de Chopin, estão voltadas para o piano.
Todavia, além das incontáveis obras dedicadas a esse instrumento, Liszt foi o criador de uma
forma musical que seria adotada por dezenas de outros compositores: o Poema Sinfônico.
Todavia, o que garante a fama atual de Lizst e sua divulgação á públicos mais amplos são suas
rapsódias húngaras - cuja número dois era muito utilizada em desenhos animados.
Podemos destacar, dessa maneira: o Concerto para Piano em mi Bemol, os poemas sinfônicos
Os Prelúdios, Orfeu, Mazzepa, As Rapsódias Húngaras números 2 e 5 - que, embora
escritas para piano, são melhores em sua transcrição para orquestra, feitas pelo próprio Lizst -, a
Dança Macabra, para piano e orquestra, e a brilhante Fantasia Húngara, também para piano e
orquestra.
Infelizmente as duas sinfonias de Liszt não tem o destaque que merecem em sua produção.
Tanto a Sinfonia Fausto quanto a Sinfonia Dante são na verdade grandes poemas sinfônicos,
inspiradas, respectivamente, no Fausto de Goethe e na "Divina Comédia" de Dante. Essa
inspiração sinfônica é descendente direta da Sinfonia Fantástica de Berlioz, obra que Liszt
muito admirava. Um detalhe: no Brasil, até onde sei, não existe nenhuma loja que tenha a Dante
Sinfonia em CD. Se alguém achar, avise-me.
Frederic Chopin

Em 1831, o jovem Frederic Chopin, chegava em Paris. Nascido em 22 de fevereiro de 1810,


trazia na bagagem meia dúzia de suas melhores obras e um amor inabalável pela Polônia, sua
terra natal. Pianista talentoso desde criança, estava em excursão pela Europa, especificamente
em Viena, onde já estivera quando menino, mostrando seu virtuosismo aos habitantes da capital
austríaca.
Começou a estudar música com apenas 4 anos, alcançando rapidamente o sucesso não apenas
em sua cidade, mas por toda a Polônia e mesmo na Rússia. Na primeira vez que esteve em
. Viena, em 1829, o público e a crítica o aclamaram. Mas, desta vez, a cidade não se mostrou
tão receptiva. Haviam dezenas de virtuoses como ele.
Para completar sua má sorte, surpreende-o a notícia de que houve uma insurreição em Varsóvia.
A revolta é sufocada brutalmente pelos soldados russos. Milhares de pessoas são exiladas,
outras são proibidas de voltar à pátria. As cartas que enviava à sua família não eram
respondidas. Resolve partir para Paris, passando antes pela Alemanha, onde encontra
Schumann.
Contam que na primeira vez que visitou a casa do compositor ele não estava em casa. Sua
esposa, Clara, o recebeu. Ela não falava francês, Chopin não falava alemão. Diz a história que
ele se sentou ao piano e tocou algumas composições suas. Clara fez o mesmo com as músicas
do marido.
Se isso é verdade ou não não se sabe. O que há de concreto é um artigo e Schumann na Nova
Gazeta Musical, que dizia, a respeito de Chopin: "Tirem os chapéus, senhores, um gênio".
Em Paris, encontra rapidamente a fama e o sucesso. Fino, elegante, gentil, ele possui todos os
predicados para ser aceito na sociedade francesa. Além disso, os poloneses contam com a
simpatia do povo francês, o que lhe facilita ainda mais a estadia em seu novo país.
Tímido e reservado, de maneiras aristocráticas, Chopin destacou-se primeriamente como
concertista de piano e professor, no que era muito requisitado pelas famílias ricas. Seu
virtuosismo ao piano, somado ao seu aspecto doentio, contribuíam para a difusão da imagem do
gênio. Em Paris torna-se amigo de Franz Liszt, Berlioz, Vitor Hugo e toda a plêiade de artistas
que estão na capital francesa nessa época.
Chopin teve um grande caso de amor na juventude, com uma jovem chamada Maria
Wodzinska. A história terminou por imposição da mãe da moça, que não permitiu mais o
relacionamento. Se a incipiente tuberculose de Chopin foi ou não a causa, é discutível. Só não
há dúvida do efeito que a decisão teve no espírito do compositor, que reuniu todas as cartas
enviadas por Maria em um pacote intitulado Moja Bieda, "minha desgraça". Antes dela, Chopin
havia se apaixonado por Constantia Gladskowa, uma famosa soprano, muito cortejada. O tímido
Chopin jamais se declarou a ela, mas dedicou-lhe o adágio de seu Concerto em Concerto em Fá
Menor, op.21.
Jovem, solteiro, rico e bem posicionado na capital francesa, a popularidade de Chopin era
enorme. Todavia, continuava a morar sozinho. Em 1837, porém, essa situação mudou.
Conheceu Aurore Dudevant, uma estranha mulher que assinava seus escritos com o nome de
Georges Sand, e tinha o estranho hábito de se vestir de homem. Pois foi justamente com ela que
Chopin passou a viver. Os parisienses se escandalizaram com a relação, mas Chopin continuou
a ser cortejado
Sua saúde piorava dia a dia. Uma de suas irmãs já havia morrido de tuberculose. O "mal do
século" também o atingira, e, em busca de tratamento, esteve com Georges Sand na ilha
espanhola de Majorca. Excursionou também pela Inglaterra, onde seus concertos não lhe
trouxeram vantagens pecuniárias.
Estava pobre. Todo o dinheiro que havia ganho ele gastou, e dependia agora de amigos para
viver. Esse era seu maior problema, viver. Seus amigos não tiveram de esperar muito. Em 17 de
outubro de 1849, a tuberculose o matou.
Em seu enterro, um punhado de terra polonesa foi lançada sobre seu caixão: era sua última
vontade e sua última declaração de amor à Polônia.
Obras
Falar em Chopin é falar em piano. A maioria esmagadora de suas obras são para esse
instrumento, e mesmo suas obras orquestrais o incluem.
Suas músicas mais famosas pertencem ao período parisiense do compositor. Um detalhe no que
se refere às músicas de Chopin: suas obras mais populares são realmente brilhantes. Portanto,
não precisamos ter escrúpulos de ouvir pela milésima vez o Noturno op. 9 n 2, a Valsa op. 81
n1 - Grande Valsa Brilhante, o Impromptu Op. 66 - Fantasie-Improptu, o Estudo op 10 n
12, - Revolucionário, escrito no calor da revolução polonesa, o Tristesse op. 10 n 1, o
Prelúdio op. 28 n 15, da Gota d'Água, a Poloneise op. 93 e Mazurka op. op.7 n 1.
São essas obras breves que garantem a imortalidade de Chopin, não apenas por sua profusão de
belas melodias, mas também por suas harmonias inovadoras e utilização de todos os recursos do
piano, explorado como o mais lírico dos instrumentos.
Apesar de não serem suas melhores obras, seus dois concertos para a piano, em Fá Menor op.
21 e em Mi menor op.11, escritos em 1830, servem como curiosidade, apenas para quem já
está mais familiarizado com sua obra. Ao contrário, suas sonatas para piano são bons exemplos
de como Chopin soube cultivar as grandes formas sem perder o brilho. A famosa Marcha
Fúnebre é o segundo movimento da Sonata n 2, que precisa ser ouvida inteira para obter seu
total efeito.
Hector Berlioz

"Paris, rua de Rivoli, Hotel du Congrés


Se você não almeja minha morte, em nome da piedade (não ouso dizer do amor), faça-me saber
quando poderei vê-la. Imploro-lhe graça, perdão... de joelhos, com lágrimas!!! Oh!, infeliz
como sou, não acreditei merecer tudo quanto sofro, mas bendigo os golpes provindos de sua
mão. Espero sua resposta como a sentença de um juiz.
H. Berlioz"
O desequilibrado e desesperado autor dessa carta é o compositor Heitor Berlioz. A destinatária
era a atriz irlandesa Harriet Smithson, por quem ele estava perdidamente apaixonado. A atriz,
que a princípio pouca atenção dispensa a seu esquisito pretendente, era muito famosa.
Consagrada nos palcos de Londres e Paris - poderíamos compará-la, em termos de fama, com as
atrizes da Rede Globo de Televisão. De repente, num golpe de sorte, perde toda sua fortuna.
Como se isso não bastasse, sofre um acidente e fratura uma das pernas. Berlioz não perde a
chance de ajudá-la: lança uma campanha de apoio à amada, da qual participam Liszt e Chopin,
entre outros artistas.
O esforço vale a pena: a 3 de outubro de 1833 Berlioz e Harriet casam-se em Paris. Ninguém
precisa estudar psicologia para imaginar que é impossível conviver com um biruta como
Berlioz. Em pouco tempo o casamento desmorona. Mais uma cena teatral, desta vez com a atriz
implorando que ele não a abandone. Surdo aos apelos de sua ex-paixão, Berlioz continua sua
vida de altos e baixos.
Situações dramáticas parecem ser uma constante em sua vida. Nascido em 11 de dezembro de
1813, em uma cidade próxima a Lyon, na França, Berlioz, após preparar-se para o bacharelado
em letras, é mandado à Paris para estudar medicina. Sem a mínima vocação para a coisa, decide
de uma vez por todas largar os estudos de medicina e dedicar-se integralmente à música. Isso
causa o rompimento com o pai - rompimento para lá de questionável, uma vez que continuaram
amigos e o pai continuou sustentando Berlioz em Paris.
Após alguns estudos no Conservatório de Paris, uma de suas primeiras composições, uma
Missa, obtém muito sucesso na estréia, em 1825. O pai o autoriza formalmente a seguir a
carreira musical, desde que o filho concorra ao "Prêmio de Roma", uma espécie de bolsa de
estudos da CAPES ou do CNPq, que permitia ao aluno estudar em Roma. Quinze meses depois,
ao voltar de Roma, já é um célebre compositor em Paris.
Nesse meio tempo, inspirado por seu amor impossível por Harriet, escreveu a obra que mantém
seu nome célebre nas paradas de sucesso até hoje: a Sinfonia Fantástica. Essa curiosa obra faz
muito sucesso, mas não o suficiente para que a atriz o aceite.
Sua vida prosseguiu cheia de incidentes, tanto pessoais quanto profissionais. Após separar-se de
Harriet, teve um duradouro e atormentado romance com uma cantora espanhola, Maria Recio.
Mesmo esse caso principal foi entremeado de diversos casos secundários.
Profissionalmente, obteve muitos triunfos no exterior, especialmente na Alemanhã, enquanto a
França apenas o decepcionava. Poucas de suas obras eram reconhecidas em Paris. E elas se
sucediam em profusão: após a Sinfonia Fantástica, escreveu ainda várias óperas (A Danação de
Fausto, Os Troianos, Benvenutto Cellini, Beatriz e Benedito), outras sinfonias (Sinfonia
Fúnebre e Triunfal, Sinfonia Romeu e Julieta, Lélio) e cantatas (A morte de Cleópatra, A
Infância de Cristo). Ao contrário da maioria de seus contemporâneos, nunca escreveu concertos
ou obras para determinado instrumento. Seu instrumento era a orquestra, com a qual atingiu um
virtuosismo que seria ultrapassado apenas por Rimski-Korsakow, 50 anos depois.
Morreu em 8 de março de 1869. Seu enterro, no cemitério de Montmartre, foi no melhor estilo
berlioziano: pompa, multidões em prantos - assim como ele previra em seu Réquiem, sua missa
fúnebre de proporções descomunais.
Obras
Sem rodeios: Berlioz é mundialmente conhecido por sua maior obra, a Sinfonia Fantástica.
Essa estranha obra é o primeiro Poema Sinfônico do qual se tem notícia. Dividida em cinco
movimentos, ela representa um "episódio da vida de um artista" - não por acaso, subtítulo da
obra. Para entender a obra, devemos nos lembrar que, ao escrevê-la, Berlioz estava apaixonado
por Harriet - ele é "artista" do subtítulo. Cada movimento traz uma explicação:
1 - Devaneios e Paixões: no primeiro movimento o artista descobre-se apaixonado. Pensa na
amada, vê a amada em todos os cantos, não pode viver sem ela, transforma-a em uma idéia fixa.
Essa idéia fixa é expressa em música na forma de um tema, tocado pelas clarinetas, que
representa sua amada.
Obs: Esse procedimento é de fundamental importância na história da música: associar um
personagem a um determinado tema musical e usar esse tema cada vez que a personagem
aparece será a base dos Poemas Sinfônicos de Liszt e dos Leitmotifs de Wagner. Simplificando
um pouco a história, é como a música-tema de uma determinada personagem nas novelas.
2 - Um baile: durante um baile da alta roda parisiense, o compositor vê - ou pensa que vê - sua
amada entre os casais que rodopiam. Esse movimento, em ritmo de valsa, faz um uso bastante
interessante da harpa.
3 - Cena nos campos: para esquecer a mulher amada, o artista vai para o campo. Todavia, não
consegue recuperar sua serenidade. A imagem de sua paixão, na forma da "idéia fixa" volta a
atormentá-lo.
4 - Marcha rumo ao cadafalso: o artista fuma ópio (tava achando que essa história de artista
drogado é coisa nova?) e sonha que matou a amada, sendo condenado à morte. Esse movimento
termina com sua decapitação.
5 - Sabá das Feiticeiras: a mulher que ele amava transformou-se, depois de morta, em uma
bruxa. Tem início um sabá infernal, no qual Berlioz coloca à prova todos os recursos da
orquestra moderna. Rápida e estrondosa conclusão.

Piotr Ilych Tchaikovsky

No século XIX, o Império Russo era uma organização burrocrática de enorme proporções, de
fazer inveja à qualquer tentativa brasileira de inchar o estado com funcionários públicos. Em
uma modesta repartição pública de Moscou trabalhava um funcionário de nome Piotr - Pedro,
em português. Homem gentil, amável e educado, mas sempre meio desligado e com estranhas
manias. Uma delas, por exemplo, era o hábito de rasgar pedaços de documentos oficiais para
fazer bolinhas de papel para mascar. Certa vez, por distração, mascou um documento inteiro. O
nome completo do funcionário? Pyotr Illich Tchaikovsky.
Tchaikovsky nasceu em Vyatka, na Rússia, em 7 de maio de 1840, segundo de uma família de
cinco filhos. Ainda criança foi estudar na capital do Império, São Petersburgo, acompanhado
por sua mãe. Sua personalidade já tinha as características que viriam a marcar sua vida adulta:
muito inteligente e emotivo, embora bastante impetuoso.
Já nessa época de estudante apresentava uma auto-crítica que, no futuro, o faria rasgar muitas de
suas partituras, insatisfeito com seu desenvolvimento.
Em sua juventude, por insistência da família, foi estudar Direito e conseguiu um emprego no
Ministério da Justiça.
Com pouco mais de vinte anos, porém, mandou a família às favas e foi estudar música no
Conservatório de São Petersburgo. Qualquer pessoa nessa idade é considerada, pelos
entendidos, como "velha demais" para estudar música. O caso de Tchaikovsky não fugiu à
regra. Com vinte e um anos, apesar de conhecer e gostar de Mozart, não sabia quem era
Schumann e não tinha a menor idéia de quantas sinfonias Beethoven havia escrito. Todavia, em
um gigantesco esforço de trabalho, coordenado por seu professor Anton Rubinstein, fez com
que o aluno progredisse rapidamente. Um exemplo: certa vez, Rubinstein pediu-lhe que
escrevesse variações sobre um tema de Beethoven. Tchaikovsky passou a noite trabalhando e na
manhã seguinte apresentou duzentas.
Seus progressos foram visíveis: em 1866 foi convidado por Nicholas Rubinstein, irmão de
Anton, para ser professor no Novo Conservatório de Moscou, cidade para onde se mudou.
Datam desse período suas primeiras composições sérias, em especial a Primeira Sinfonia,
intitulada "Sonhos de Inverno". O poético título não escondia uma melancolia sempre presente,
que nas obras posteriores se transformaria em desespero. Desespero, porém, presente durante o
período de composição da sinfonia: o ritmo de trabalho foi tão estafante que Tchaikovsky
chegou a ter alucinações, crises nervosas e dores de cabeça a tal ponto que jurou a si mesmo
nunca mais escrever música de noite.
Os primeiros dez anos em Moscou foram particularmente difícieis para ele: além das constantes
crises de depressão, não obtinha o sucesso desejado. Teve oportunidade de conhecer alguns de
seus grandes contemporâneos - Liszt, Tolstoi, Wagner - e desenvolver sua carreira de
compositor.
Quarteros de Cordas (1871, 1874 e 1876), Sinfonias (No.2, 1872, and No.3 1875) óperas
Francesca da Rimini (1876), Romeo e Julieta (1869), e o famosíssimo Concerto para Piano em
Si Bemol Menor de 1874.
Há uma anedota interessante sobre esse concerto, que viria a tornar o nome de Tchaikovsky
mundialmente famoso. A obra foi dedicada à Nicholas Rubinstein, que, quando a ouviu pela
primeira vez, disse que "duas ou três páginas poderiam se salvar", mas que "o resto tinha de ser
refeito". Tchaikovsky não mudou uma linha da partitura, exceto a dedicatória, que foi
transferida para o pianista e Maestro Hasn Von Bullow, casado com Cósima Wagner.
Para tentar resolver alguns de seus problemas, decidiu que a melhor solução era casar. Antonina
Ivanovana Milyukoff era uma jovem russa que, impressionada pela música de Tchaikovsky,
escreveu-lhe uma carta dizendo-se apaixonada. O compositor não pensou duas vezes: casou-se
em 6 de julho de 1877, separando-se em menos de um mês.
Sua situação não poderia ser pior: se sua vida pessoal estava em ruínas, tampouco sua vida
profissional estava em seus melhores dias: o emprego no conservatório não lhe rendia o
esperado.
De repente, do meio do nada, uma carta mudou completamente essa situação. Nadejda
Fillaretovna von Meck, uma milionária da alta aristocracia russa enviava-lhe uma carta
expressando sua admiração por sua música e sua intenção de patrocinar o compositor com um
subsídio de cerca de 6.000 rublos por ano. (Não, não imagino quanto seja isso em reais, mas
deve ser uma tremenda grana).
Nadeja era nove anos mais velha que Tchaikóvsky, viúva e muito, muito rica. O contrato de
patrocínio especificava que os dois jamais poderiam se encontrar. Apesar de estranha, essa
situação salvou o compositor do desespero total. Avesso às relações pessoais, a amizade
de Nadeja era uma válvula de escape para a personalidade ao mesmo tempo nervosa e
expansiva de Tchaikovsky.
Nadeja tornou-se amiga e confidente de Tchaikovsky. O fato de não se conhecerem
pessoalmente não os impediu de se tornarem amigos íntimos: trocavam cartas e mais
cartas, às vezes seis por dia, dividindo esperanças, sonhos e música, muita música.
A produção do compositor crescia, junto com sua fama: a Quarta Sinfonia - já marcada por um
tema recorrente simbolizando o "Destino"- de 1878, Eugene Onegin, sua ópera mais famosa, no
mesmo ano. O Concerto para Violino, e a ópera Manfredo em 1885; a Quinta Sinfonia em
1888; Pique Dame, outra ópera de sucesso, em 1890; O Quebra-Nozes, ballet de 1891 ainda
hoje um de seus sucessos;
Sua fama atravessou a fronteira do país, e ele visitou todas as grnades capitais da Europa dando
concertos e regendo suas próprias obras. Esses anos felizes terminaram em 1890, quando, já
tendo dispensado há algum tempo o subsídio de Nadeja Von Meck, rompeu com ela. A amizade
chegou a o fim, e a vida do compositor também: três anos depois, em sua propriedade rural, na
cidade de Klin, completou sua mais fantasmagórica obra, a Sexta Sinfonia, conhecida como
"Patética". Dias depois da estréia, Tchaikovsky tomou um copo de água não filtrada (talvez
intencionalmente) e morreu de cólera em 6 de Novembro de 1893.
Obras

Tchaikovsky teve uma produção bastante diversificada, mas seus trabalhos mais conhecidos são
para orquestra. Se ele não teve o mesmo brilho de seus colegas russos (como Rimsky-
Korsakow) no que tange à orquestração, soube usar bem os recursos da moderna orquestra
sinfônica, já estabelecidos por Beethoven.
Concertos e Sinfonias
Concerto para Piano n. 1, em Si Bemol Menor - Uma das jóias do repertório pianístico, inicia-
se com um arrebatamento majestoso nas trompas que não deixa dúvidas quanto ao que vem por
aí. O primeiro movimento, em especial, é uma excelente introdução à obra de Tchaikovsky.

Sinfonia n. 5 - A partir da Sinfonia N. 4, as obras de Tchaikovsky passaram a ser marcadas pelo


tema do destino cruel, à que todas as criaturas devem se submeter, sem esperança. Essa situação
é desenvolvida na Sinfonia N. 5, mas ainda com esperança de vitória. O segundo movimento,
Adagio, tem um belíssimo solo de trompa (que já foi transformado em balada por - bleargh -
Waldo de Los Rios) e, no festivo último movimento, a vitória completa sobre o mal.
Sinfonia n. 6 - Vitória bastante discutível, uma vez que na sinfonia seguinte toda e qualquer
esperança é aniquilada sob o efeito mortal da falta de sentido perante e vida. (Ou eu paro por
aqui ou vou começar a falar de Kierkegaard e Sartre). Dessa obra destacam-se, para o iniciante,
o segundo movimento, uma estranha valsa em 5/4, e o último, de onde a sinfonia tirou seu
título.
Ballets

O Quebra-Nozes - Baseado em um conto de fadas sobre o soldadinho de chumbo que se


apaixona pela bailarina, este balé resume toda a riqueza de orquestração de Tchaicovsky. Para
os novatos, a Suíte extraída do balé completo é uma boa introdução.
A Bela Adormecida - Lembra do filme da Disney, com as três fadas boazinhas, a bruxa
malvada, a Bela Adormecida e o Príncipe? Pois é: sabia que toda a trilha sonora é extraída do
Ballet de Tchaikovsky? Sem detalhes: vá até a locadora e ouça o filme. É o melhor resumo que
posso oferecer.
Wolfgang Amadeus Mozart

O concerto prosseguia. Toda a realeza estava atenta, esperando que o músico terminasse de
executar suas mais novas criações. Suas mãos corriam ágeis pelo teclado, demonstrando uma
técnica fora dos padrões. No final, todos aplaudem calorosamente o músico: é um garoto, com
menos de dez anos. Ao agradecer, porém, tropeça e cai, sendo amparado por uma das princesas
presentes - a futura rainha Maria Antonieta. O pequeno músico, sem ligar a mínima para o
protocolo, beija a princesa e diz:
-Você é a melhor de todas estas. Quando crescer quero me casar com você!
Por mais genial que fosse, Mozart era uma criança. Infelizmente nem sempre sua vida foi o
conto de fadas que parece. Ao contrário, vários dissabores marcaram a vida de Johannes
Chrysostomus Wolfgangus Theophilus Mozart - que mais tarde abreviaria seu nome para
Wolfgang Amadeus Mozart.
Certa vez, ao voltar de seu trabalho como violinista da corte do Arcebispo de Salzburg, Leopold
Mozart encontrou seu filho Wolfgang muito concentrado sobre uma folha de papel
pentagramado. A curiosidade logo cedeu seu lugar ao espanto, quando o pai viu do que se
tratava: aos cinco anos de idade, mal sabendo ainda manejar uma pena, escreveu sua primeira
obra, o Minueto e Trio em Sol Maior, para cravo. O entusiasmo do pai não teve limites. O filho
seguia sua carreira espontaneamente, e com um brilhantismo fora do comum. Era - e
infelizmente temos que recorrer ao lugar-comum - uma criança-prodígio, na mais correta
acepção da palavra. Um gênio de cinco anos de idade.
Para felicidade de Leopold Mozart, Wolfgang não era o único filho músico: sua irmã, Marianne,
também demonstrava um gosto excepcional para música, e não tardou para que os dois
estudassem música com regularidade, aperfeiçoando, assim, seus dons inatos.
Naquele tempo, havia uma condição essencial para a fama e o reconhecimento público. Assim
como hoje é a televisão que define a fama e o prestígio de qualquer artista, no século XVIII
estes atributos advinham da aprovação ou não dos governantes locais - príncipes, duques,
condes e mesmo membros do clero, como bispos e arcebispos. No caso de Mozart, era preciso
ser apresentado ao arcebispo de Salzburgo, o que aconteceu, com grande êxito.
Os sucessos iniciais encorajaram Leopold Mozart a maiores ambições. Era preciso que seu filho
fosse conhecido, ficasse famoso e obtivesse, na infância, sucesso o bastante para ser conhecido
- e empregado - quando adulto. Teve início, assim, uma série de viagens por toda a Europa.
Correndo a Europa
Áustria, França, Inglaterra, Itália, Holanda. Por onde quer que passasse, a família Mozart, com
seu menino-prodígio (santo lugar-comum, Batman!) impressionavam profundamente todos
aqueles que os viam. Todas as cortes européias - reis, princesas, duques, marqueses - que o
viam ficavam impressionadas por seu talento e sua juventude. Era impossível não ficar
maravilhado com o garoto de dez anos que tocava cravo com perfeição, era um virtuose no
violino e, como se não bastasse, já era autor de diversas obras, entre concertos, sinfonias e
inúmeras peças para cravo. Não apenas o público real, em geral leigo em matéria de música,
mas também outros gênios, como um jovem poeta de catorze anos, Johann Von Goethe.
As viagens do pequeno Mozart eram interrompidas, às vezes, por doenças mais ou menos sérias,
que, embora atrasassem o percurso, nunca chegaram a comprometer seriamente a saúde do
menino. Havia, porém, um problema irremediável, para o qual não existe cura: o tempo. Os
anos se passaram, e o menino Mozart tornou-se o homem Mozart. Era ainda um compositor de
certo sucesso, mas, desaparecido o impacto de sua pouca idade, desapareceu em grande parte o
interesse das cortes européias por ele. Era apenas mais um músico, como centenas de outros
músicos que haviam na Europa. Além disso, suas prolongadas viagens começaram a atrair para
si o ódio de seus conterrâneos, que achavam que o jovem músico deveria ficar mais tempo em
sua terra.
Durante os anos de viagem, a relação de Mozart com seus pais foi a melhor possível. Todavia,
já homem feito, surgiram alguns atritos com seu pai. Wolfgang considerava-se já apto a tomar
suas próprias decisões. A influência paterna, todavia, era grande: foi por sua causa que
Wolfgang abandonou a jovem Aloysia Weber, uma cantora pela qual havia se apaixonado.
A morte da mãe, em 1778, deu-lhe certa liberdade. Ele estava em Paris, e nessa cidade viveu
algum tempo como professor e recitais. Em 1782 casou-se com Constanze Weber, irmã de
Aloysia. O casamento, caso raro em se tratando de músicos, foi absolutamente perfeito. Até o
fim da vida Mozart permaneceu apaixonado pela esposa, como atestam as inúmeras cartas que
lha enviava durante as constantes viagens.
A encomenda feita pela morte
Os compromisso com a família - não tardaram a chegar filhos - levaram o compositor a procurar
uma existência mais calma. Estabeleceu-se em Viena, como professor ocasional e compositor.
Era apenas mais um mestre da música, entre dezenas de outros, como o italiano Antonio Salieri
- acusado injustamente de ter envenenado Mozart. Dessa época datam as grandes obras
operísticas, como As Bodas de Fígaro e A Flauta Mágica.
Não faltaram também reveses: a morte de um de seus filhos, as frequentes doenças da esposa,
problemas diversos com o público. Além disso, sua saúde, frágil desde a infância, também se
deteriorava com o passar dos anos. Apesar disso, Mozart mantinha o ânimo e continuava
compondo. Uma de suas últimas obras foi justamente um Requiem, encomendado pelo conde
Franz von Walsegg. Mozart, todavia, já em seus últimos dias, acreditava que o Réquiem havia
sido encomendado por ninguém menos que a própria Morte.
Em 4 de dezembro de 1791 seu estado de saúde piorou. Pediu à sua esposa e seu aluno
Süssmayer que cantassem seu Réquiem. Quando chegaram ao "Lacrymosa", a partitura escapou
das mãos do compositor. Horas depois, à uma da madrugada de 5 de dezembro, Mozart morreu.
Ao amanhecer, o caixão foi levado ao cemitério sob forte chuva. A tempestade impediu seus
poucos amigos e mesmo sua mulher de acompanhar o enterro, e não havia ninguém, além dos
coveiros, no momento em que ele foi enterrado. No dia seguinte, quando Constanze foi tentar
encontrar o túmulo do marido, ninguém sabia onde estava o caixão. Até hoje ninguém sabe
onde está enterrado Wolfgang Amadeus Mozart.
Obras
O catálogo das obras de Mozart, como o de Bach, não obedece ao critério de "opus". As obras
foram catalogadas postumamente pelo pesquisador austríaco Ludwig Koechel. Assim, as
músicas de Mozar são acompanhadas das letras I.K. e o número atribuído pelo musicólogo. Na
imensa produção de Mozart, selecionamos apenas uma mínima parcela, o suficiente para o leitor
conhecer as diversas facetas do compositor.
Sinfonias:
Embora as sinfonias de juventude tenham inúmeros atrativos, são as obras da maturidade as
mais populares. As Sinfonias n. 35, "Haffner" e 36 "Linz" são particularmente belas - esta
última com a particularidade de ter sido composta em meros 3 dias! As duas últimas sinfonias,
de n.40 em sol menor e a 41 em dó maior, "Jupiter" são precursoras do que viria a ser a
grande sinfonia alemã do período romântico. Altamente recomendadas, não apenas por suas
qualidades instrínsecas, mas por serem o apogeu de uma forma, a da sinfonia clássica - que seria
rompida, poucos anos depois, por Beethoven.
Óperas:
Não se pode ignorar que, na época de Mozart, ópera e Itália eram a mesma coisa. Todavia,
mesmo a influência dos grandes mestres italianos da música vocal não impediram Mozart de
desenvolver um estilo próprio, acrescentando ao modelo italiano características germânicas. Há
mesmo quem afirme ser Mozart o criador da ópera alemã. Assim, O Rapto no Serralho, K.
384, inicia esse ciclo de grandes obras operísticas, seguindo-se As Bodas de Fígaro, K. 492,
Don Giovanni, K. 527 e a fantástica A Flauta Mágica, K. 620, já bem distante do bel-canto
italiano. Para o ouvinte iniciante, o ideal seria uma audição completa de "Don Giovanni" - há
uma versão em vídeo, muito boa, que introduz o ouvinte ao universo mozartiano. Outra
alternativa, menos recomendável, é comprar algum CD com "trechos escolhidos" de suas
óperas. Se você realmente detesta ópera, isso não é motivo para se privar das excelentes
Aberturas ou Prelúdios dessas mesmas obras, que, sendo curtas e puramente orquestrais, ainda
assim transmitem a real dimensão do gênio de Mozart.
Outras obras:
Usada como trilha sonora para comercial de desodorante, Uma pequena serenata noturna
sofre o mesmo destino de Pour Elise, de Beethoven: embora seja uma obra de excepcionais
qualidades de invenção melódica, está associada a um produto, como a obra do compositor
alemão está associada aos caminhões de gás.
"Encomendada pela morte", na verdade um nobre, o Réquiem K. 626 é uma das obras máximas
de Mozart. Escrito conforme o esquema tradicional, possui uma força expressiva tal como
raramente é encontrada na produção mozartiana. Ao contrário dos monumentais Réquiens de
Berlioz ou Verdi, onde multidões suplicantes aguardam o julgamento, a obra de Mozart é mais
íntima, pessoal, testemunho de alguém que tinha consciência do trabalho realizado. No mesmo
estilo, a miniatura Ave Verum Corpus K. 618 é uma obra correlata, de igual inspiração
religiosa - Mozart da melhor qualidade.
Richard Wagner

Um multidão de fãs, animados com um fervor quase religioso, sobe as pequenas e estreitas ruas
da cidade de Bayreuth, na Alemanha, em direção ao teatro localizado no alo de uma colina.
Estão dispostos a qualquer sacrifício para participar de um festival de música. Realmente não é
fácil: os ingressos precisam ser reservados com nada menos de cinco anos de antecedência. Não
há cambistas, e as bilheterias só vendem um ingresso por pessoa. O motivo desta peregrinação
não é nenhum grupo de rock'n'roll ou algum artista pop. Ao contrário, Bayreuth é um templo da
arte erudita, e todo o movimento ao seu redor é motivado por um único nome: Richard Wagner.
Wilhelm Richard Wagner é um nome que desperta os mais contraditórios sentimentos, exceto
indiferença. Criador do Drama Musical, também chamado, por ele mesmo, de "obra de arte
total", Wagner lançou as bases para a dissolução do sistema harmônico tonal. Ao mesmo tempo,
seus escritos sobre arte, cultura e política causaram uma seleuma jamais vista. Foi
revolucionário e monarquista; era anti-semita, o que não o impedia de ter amigos judeus;
admirava a arte musical italiana, mas criou um tipo de música que derrubou a supremacia da
ópera italiana na música vocal. Megalomaníaco, não hesitou, em sua autobiografia, para criar
uma imagem heróica, à beira da perfeição. Acreditava que depois de sua obra a música nunca
mais seria a mesma - e estava certo.
O primeiro paradoxo de Richard Wagner é justamente seu nascimento. É curioso notar que o
compositor preferido de Hitler, aquele cujas músicas eram a trilha sonora das reuniões do
Partido Nazista em Nuremberg, talvez tenha sido filho de um judeu. A questão é deveras
complicada, e não existe, nem entre os mais eminentes biógrafos, uma resposta conclusiva.
Além disso, toda a questão transcorre muito rapidamente, no intervalo de pouco mais de um
ano:
Richard Wagner nasceu a 22 de maio de 1813, em Leipzig, filho, ao que tudo indica, de Karl
Friedrich Wilhelm Wagner. Todavia, este faleceu poucos meses depois, em 23 de novem bro.
Quase imediatamente sua mãe se casa com o ator e pintor Ludwig Geyer. Alguns autores
insinuam que Johanna, mãe de Wagner, já era amante de Geyer, de modo que seu filho Richard
Wagner seria na realidade filho de Geyer. Existem provas suficientes tanto para provar como
para refutar essa hipótese mas, fato curioso, Wager, até os quinze anos de idade, usava o nome
de Richard Geyer.
Entre a música e o teatro
Desde pequeno Wagner mostrava um duplo pendor artístico, voltanto-se tanto para o teatro
quanto para a música. Não é de estranhar, portanto, que sua obra tenha sido uma fusão dessas
duas formas. Decidiu-se pela música, sem no entanto abandonar a literatura e o teatro. Não foi
um garoto prodígio, mas sua inteligência e capacidade dinâmica revelaram-se desde pequeno,
quando montava pequenas peças com a própria família. Além disso, o sentido teatral nunca lhe
escapou, e Wagner não perdia uma oportunidade de, mesmo em seus escritos, apresentar-se
como o herói - como em uma ópera.

Aos onze anos começou a estudar música; um pouco tarde para ser um instrumentista, mas
ainda a tempo de se tornar um compositor. Com dezoito anos já escrevia suas primeiras peças
musicais, e aos 21 completou sua primeira ópera, "As Fadas". Todavia, foi seu segundo
trabalho operístico, "A proibição de amar" o primeiro a ser levado à cena, em 1836. Nesse
mesmo ano casou-se com a cantora Christine Planner, conhecida como "Minna". O casamento,
turbulento, atribulado e marcado por infidelidades de ambos os lados, sustentou-se por um
longo tempo.
Pouco depois do casamento, Wagner aceitou o posto de mestre-de-capela na pequena cidade de
Riga, na Rússia. Ficou lá até 1839, quando decidiu tentar a sorte na França. Em sua bagagem,
levava os manuscritos de sua primeira obra importante, Rienzi, para ser encenada na capital
francesa. Todavia, apenas desgostos o esperavam: suas obras não fizeram o menor sucesso, e ele
retornou, em 1842, à Alemanha. Estabeleceu-se em Dresden, no posto de diretor artístico.
O apoio real à um anarquista
Enquanto esteve nesse posto, Wagner começou a colocar em prática suas idéias estéticas e
musicais, o que pouco a pouco exasperou as autoridades musicais do principado. Além disso,
Wagner estava ligado a grupos anarquistas, o que contribuía para que ele fosse pouco querido
pela nobreza local. A gota d'água foi a Revolução de 1848, à qual o músico esteve diretamente
ligado. Suas relações com os rebeldes resultaram em um exílio de doze anos.
A atribulada vida pessoal não o impedia de criar. Assim, vagando pela Europa ou estabelecido
em algum lugar, continuava compondo as obras que lhe garantiriam lugar na posteridade: O
Navio Fantasma, 1843, Tannhauser, 1845, Lohengrin, 1850, Tristão e Isolda, 1865. Os Mestres
Cantores de Nuremberg, 1868. Fora isso, desde 1848 vinha trabalhando em um projeto
grandioso: quatro óperas interligadas, em um gigantesco ciclo conhecido como "O Anel dos
Nibelungos", cuja composição arrastou-se por quase trinta anos, resultando em nada menos que
dezoito horas de música.
Em seu exílio, na Suiça, apaixonou-se por Mathild Wesendonck, mulher de Otto Wesendonk, na
casa de quem vivia. Há muito rompera com Minna, mas esta não lhe dava sossego. Em 1859 foi
novamente para Paris, onde ficou até 1862. Essa segunda temporada em nada contribuiu para
melhorar a imagem que tinha dos franceses. Uma excursão pela Rússia garantiu-lhe meios de
sobreviver, mas a situação continuava crítica.
Um lance teatral, bem ao gosto de Wagner, viria reverter toda essa situação. Em 1864, quando
suas dívidas chegavam ao auge e ele não tinha mais para onde fugir, recebeu uma mensagem do
rei Ludwig II da Baviera, oferecendo-lhe proteção, uma vida estável e tranquila. Como num
passe de mágica, todos os problemas se acabaram.
A Casa dos Festivais
Livre de dívidas e preocupações, Wagner pode dedicar-se ao projeto do "Anel", que estreou em
1876. Entrementes, surgiram problemas com a corte da Baviera, que censurava o rei por sua
prodigalidade com Wagner. No campo pessoal, Minna havia morrido, mas o compositor estava
apaixonado por Cósima Von Buelow, filha de Liszt, e esposa do famoso maestro Hans Von
Buelow. O ruidoso caso levou Wagner a deixar a Baviera, mas Ludwig II não se esqueceu dele,
e o compositor pode continuar levando uma vida tranquila.
Uma vida tranquila, porém, não
satisfazia Wagner. Ele queria
mais. E resolveu colocar em
prática uma antiga idéia:
construir um teatro para a
execução de suas próprias obras.
Com o apoio de Ludwig II e de
inúmeras "sociedades wagner"
fundadas por toda a Europa, o
músico construiu, na pequena
cidade de Bayreuth, a meio
caminho entre a Baviera e a
Prússia, foi escolhida para sediar
a "Casa dos Festivais".
Finalmente, em 1876, realizou-
se o I Festival de Bayreuth, que
continuam, até hoje, atraindo
multidões. Na estréia estavam A Bayreuth Festpielhaus, Casa dos Festivais de Wagner
presentes, além de Ludwig II, o
Kaiser Guilherme e o Imperador
do Brasil, um dos mais cultos e
eruditos monarcas de seu tempo,
D. Pedro II.
Após a consagração, Wagner diminuiu seu ritmo, mas não abandonou o trabalho: em 1882
estreou sua última obra, Parsifal. Viajou para a Itália, de férias, e estava em Veneza, cidade que
muito admirava, quando uma síncope o matou, em 13 de fevereiro de 1883.
Obras
Para o ouvinte iniciante, não há como deixar de recomendar algum CD que reúna as principais
aberturas e prelúdios de Wagner. Certamente o ideal seria conhecer a ópera completa, de
preferência com um libretto traduzido, ou, na pior das hipóteses, uma boa sinopse. Mas, como
isso é meio difícil, uma coletânea de aberturas e prelúdios já basta. Obrigatoriamente devem
constar as aberturas de O Navio Fantasma, Tannhauser, Lohengrin, Tristão e Isolda, Os
Mestres Cantores de Nuremberg e Parsifal.
Em muitas lojas é possível encontrar "Highlights", "Trechos Selecionados" ou "Trechos
Escolhidos" de alguns dramas musicais. O ideal, mais uma vez, seria evitar esse tipo de
mutilação, mas, na falta de coisa melhor, serve.
É preciso notar o seguinte: enquanto na ópera tradicional existe uma divisão clara entre os
números que a compõe - "ária X", "coro Y", "balé z" - em Wagner essa divisão inexiste. Suas
obras - que ele preferia chamar de Dramas Musicais, e não de óperas - são contínuas, não são
divididas, de modo que é muito difícil separar a contento uma "ária tal" ou "coro tal". Como é
impossível indicar todos as gravações disponíveis nesses excertos, limito-me a indicar bons
maestros. O insuperável regente de Wagner foi Mahler, mas não existem gravações dele. Assim,
sobra Karajan, ainda hoje um clássico imbatível, Furtwangler, e, atualmente, Daniel Baremboin.
Mas, de qualquer forma, fica ao gosto pessoal do ouvinte.
Maceió segunda-feira, 26 de fevereiro de 20248 20:10:29
 JJJ

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