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*O BEETHOVEN PROFANO E O BEETHOVEN MAÇÔNICO*

(Desconheço a autoria. Recebido por e-mail em 25/03/2014)

Ludwig Van Beethoven (1770 – 1827), alemão com ascendência holandesa, o nome da
família derivado do nome de aldeia na Holanda e seu avô originário da Bélgica. O
pai de Beethoven, também músico, entregou-se ao alcoolismo. Desde os treze anos
o jovem gênio já ajudava na casa, atuando como organista, cravista, ensaiador do
teatro, músico de orquestra e professor, assumindo a chefia da família. Ainda
adolescente, através do Conde Waldstein, foi aluno do mestre Mozart em Viena,
mas parece que Mozart, embora reconhecendo seu talento não lhe deu a devida
atenção. Em Bonn, começou a fazer cursos de literatura, já que saíra da escola
com apenas 11 anos, e teve seus primeiros contatos com as idéias da Revolução
Francesa, com as idéias do Iluminismo, e com a literatura alemã, principalmente
de Goethe e Schiller. Esses ideais se tornariam fundamentais na arte de
Beethoven. Em 1792, partiria definitivamente para Viena. Novamente por
intermédio do Conde Waldstein, foi aceito como aluno de Haydn, outro grande
mestre da época.

Era pianista virtuose e fazia sucesso na sociedade vienense, mas acreditava nos
ideais revolucionários franceses. Surgiram os primeiros sintomas da surdez. Em
1796, começou a queixar-se e escondeu o problema. Somente após dez anos,
revelou, em uma frase anotada em uma obra: “Não guardes mais o segredo de tua
surdez, nem mesmo em tua arte!”. Em 1802, escreveu seu documento mais famoso: o
Testamento de Heilingenstadt. Trata-se de uma carta, destinada aos dois irmãos,
que nunca foi enviada, onde reflete sobre a tragédia da surdez, sobre sua vida e
sua arte. Para Beethoven, sua música era uma verdadeira missão. A Sinfonia no.
3, Eroica, sua primeira obra monumental surge em seguida a essa crise. No
terreno sentimental, outra carta sua, a Carta à Bem-Amada Imortal, escrita em
1812. Nela o compositor se derrama em sentimentos a uma “Bem-Amada Imortal”:
“Meu anjo, meu tudo, meu próprio ser! Podes mudar o fato de que és inteiramente
minha e eu inteiramente teu? Fica calma, que só contemplando nossa existência
com olhos atentos e tranquilos podemos atingir nosso objetivo de viver juntos.
Continua a me amar, não duvida nunca do fidelíssimo coração de teu amado L.,
eternamente teu, eternamente minha, eternamente nossos”. A identidade da “Bem-
Amada Imortal” nunca ficou muito clara e suscitou grande enigma entre os
biógrafos de Beethoven.

Apesar de a surdez tê-lo dificultado o convívio social levando-o a um sofrimento


profundo, apesar do comportamento esquisito, os últimos dez anos de sua vida
foram de grandes obras-primas: as últimas Sonatas para piano, as Variações
Diabelli, a Missa Solene, a Nona Sinfonia e, principalmente, os últimos
Quartetos de cordas. Foi nesse momento que ficou seriamente doente falecendo em
26 de março de 1827.

Beethoven é reconhecido como o grande elemento de transição entre o Classicismo


e o Romantismo. É clássico como Haydn e Mozart, mas repassa também o barroco de
Bach e de Handel, que vieram antes dele, mas já adianta também o romantismo dos
compositores que se seguirão. “Saída do coração, que chegue ao coração”, disse
certa vez sobre sua música. Toda a obra beethoveniana possui uma forte
personalidade, vai além do seu tempo.

O Beethoven Maçônico

Segundo o respeitado Roger Cotte, no seu livro Música e Simbolismo (1997), a


ligação de Beethoven com a maçonaria é dita, presentemente, por bastante
provável, ou mesmo demonstrada. À falta de documentos maçônicos irrefutáveis,
numerosos testemunhos indiretos o deixam entender, e muito mais ainda o número
de suas partituras: passagem do segundo ato da ópera Fidélio, Adágio do Sétimo
Quarteto, Opferlied, Pequena marcha em mi bemol, Nona sinfonia com coros sobre
poema de Schiller tirado de uma compilação de cantos maçônicos, seu Bundeslied
(canto para um elo de união) com coro masculino acompanhado da coluna de
harmonia escrito sobre um poema de outro maçom famoso Goethe, e os fúnebres
Equáles. A Fantasia para piano, orquestra, solistas e coro também parece
responder a uma preocupação de ordem maçônica. Trata-se de uma composição
ritual, excluindo as vozes femininas. Ainda segundo Cotte, foram maçons os
mestres de Beethoven na música como Mozart, Neef, Haydn, Salieri, Shumppanizigh.
Maçons foram também seus ilustres amigos e companheiros em trabalhos musicais
como os escritores Schiller – o autor do poema da Ode à Alegria da Nona Sinfonia
e Goethe – o autor do drama Egmont, cuja música foi composta por Beethoven.

Segundo Lewis Lockood no seu livro Beethoven: a Música e a Vida (2005), o


documento mais conhecido sobre sua surdez é o Testamento de Heiligenstadt, uma
das declarações mais comoventes feitas por um artista. Beethoven escreveu o
documento no outono de 1802. “Estou preparado. Forçado a me tornar um filósofo
aos 28 anos – embora não seja fácil, e para o artista seja muito mais difícil
que para qualquer outra pessoa. Deus Todo-poderoso, que olhais no mais íntimo de
minha alma, sabeis que ela está repleta de amor pela humanidade e do desejo de
fazer o bem”. A Flauta Mágica de Mozart reverberou na consciência de Beethoven
como um ensaio sobre a fraternidade humana. Se Beethoven chegou a ingressar numa
loja maçônica não sabemos; vários amigos seus de Bonn seguramente ingressaram.
Mas a última parte de seu testamento está repleto de resoluções para enfrentar
as provações e a adversidade com elementos essenciais do ideal maçônico.

Segundo Zaly Barros de Araújo no seu livro Coluna de Harmonia (1997), “o


musicólogo Alberto Basso enfrenta o caminho percorrido por Beethoven para compor
a Nona Sinfonia, grande intenção do gênio beethoviano e que pode ser considerada
obra maçônica. Foi a Sociedade Filarmônica de Londres que encomendou a Beethoven
a criação de uma nova sinfonia. A Sociedade Filarmônica de Londres, desde sua
origem, era integrada por maçons e se caracterizava pela maneira maçônica de
tocar. “Significativo – escreve Basso, a respeito da origem maçônica da
iniciativa que motivou Beethoven – é o fato de que nos casos em que a Sociedade
Filarmônica de Londres resolveu encomendar uma obra original, fê-lo quase sempre
recorrendo a músicos adeptos da maçonaria. Dentre os casos importantes –
acrescenta ele – tão clamorosos quanto o da nona sinfonia, posso citar Cherubini
(Sinfonia em ré maior, 1815), Mendelsohn (Quarta Sinfonia, Italiana, 1833),
Hummel (Concerto para piano, 1833), Dvorak (Sétima Sinfonia, 1865), Saint Saens
(Terceira Sinfonia, 1886)”. É a pura verdade – prossegue Basso – que não há
documentos concretos da filiação de Beethoven mas a extratificacão cultural do
compositor da nona sinfonia foi inteiramente maçônica. A essência da Nona
Sinfonia é a parte final; uma oratória de invencível potência e força de
persuasão, o músico deixa seu testamento, a sua mensagem, a sua advertência; uma
lição de fé, de esperança, de caridade, em suma, uma glorificante síntese das
virtudes e, finalmente, um admirável reflexo do imperativo da Maçonaria:
“Virtude e universal benevolência”. (ALDO S. MOLA – REVISTA HIRAM n. 3 –
junho/1981 – GRANDE ORIENTE DA ITÁLIA – artigo citado no livro COLUNA DE
HARMONIA – ZALY BARROS DE ARAÚJO – ED. MAÇÔNICA “A TROLHA” – 1997 – LONDRINA).

Citamos também obras como a abertura para orquestra sinfônica “A Consagração da


Casa”, a Marcha em si bemol maior – usada na ritualística maçônica para entrada
dos dignatários no Templo, e uma Canção para tenor e piano com texto do maçom
Wegeler – música executada em iniciação ao primeiro grau e com alusão ao
simbolismo dos quatro elementos e à conquista da liberdade. Possuem conotação
maçônica, além da Nona Sinfonia, também a Terceira Sinfonia – a “Eróica”, a
Quinta Sinfonia – chamada de “Sinfonia do Destino”, a Sétima Sinfonia – já
definida como “A Apoteose da Dança”.

Apesar dos textos analisados e de Beethoven ser citado como maçom em páginas da
internet de Grandes Lojas da América do Norte e da Europa, não podemos asseverar
se foi um profano com profunda identificação com a maçonaria ou se foi
verdadeiramente um maçom. O que realmente importa é o que disse Otto Maria
Carpeaux no seu livro Uma nova história da música (1950) dizendo que “música,
como a entendemos, é um fenômeno específico da civilização ocidental” e, também,
que, em nenhuma outra civilização ocupa um compositor a posição central que
Beethoven tem na história da nossa civilização.

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